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Luciana S. Oliveira
Psicologia no SUS: dos impasses e das potencialidades – João Leite Ferreira Neto
❑ 1962: quando a psicologia é reconhecida como profissão, suas 3 áreas de atuação eram as
psicoterapias, dentro do modelo liberal-privado do consultório; a organizacional e a educacional
→ a saúde pública ainda não era pensada como campo de atuação relevante para a psicologia.
❑ 1980: início da entrada massiva de psicólogos no SUS, com um crescimento notável para uma profissão sem
histórico anterior significativo na área da saúde → a psicologia é hoje reconhecidamente, uma das profissões da
área da saúde, sendo o SUS o maior contratante de sua força de trabalho.
❑ A entrada da psicologia no campo da saúde pública está diretamente ligado ao processo de lutas sociais no bojo
da Reforma Psiquiátrica, com a criação do campo chamado Saúde Mental → como esse crescimento ocorreu
no contexto da crítica ao modelo asilar, com a criação do programa de saúde mental, por vezes a reflexão sobre a
atuação do psicólogo na saúde fica reduzida ao campo da saúde mental, negligenciando-se assim outras
contribuições que a profissão pode trazer ao campo.
❑Esse modo de inserção da Psicologia no SUS, via reforma psiquiátrica, gerou uma série de efeitos,
destacando-se a modificação consistente das discussões sobre atuação clínica na formação do psicólogo –
modelo prevalecente nos cursos de graduação era voltado para uma atuação clínica e individual num contexto
de endogamia social.
Psicologia no SUS: dos impasses e das potencialidades – João Leite Ferreira Neto
REFORMA SANITÁRIA E REFORMA PSIQUIÁTRICA:
▪ Movim. de Reforma Sanitária: se consolidou na década de 1970 como um dos vários movimentos sociais que
faziam frente ao regime militar na luta pela redemocratização e por melhor condições de vida da população;
▪ Movim. da Reforma Psiquiátrica: teve início em 1978, com o surgimento do Movim. de Trabalhadores em
Saúde Mental, de base paraestatal, com ligação c/ movimentos internacionais e c/ o mov. da Reforma Sanitária.
➢ A relação entre as duas reformas se deu numa trajetória pendular de afastamento/disjução e
aproximação/conjunção entre saúde mental e saúde pública, e de relações distintas com a máquina estatal;
➢Atualmente temos uma conjunção entre as reformas, a partir da transformação em leis das propostas do
movimento, fortalecendo-se os laços com relação ao aparato estatal e enfraquecendo-os em relação aos
movimentos sociais: temos a institucionalização da reforma psiquiátrica, com a consolidação de um
modelo de atenção substitutivo ao manicômio, que é incrementada pela ampliação da Estratégia Saúde da
Família, reorientando o modelo assistencial do SUS em todos os níveis, c/ marcada ênfase na Atenção Básica.
A progressiva implementação dessa estratégia tem operado mudanças em todo o SUS, inclusive na organização do
processo de trabalho em saúde mental, que passa a ser responsável pelo apoio matricial às equipes da atenção
básica, por meio de constantes parcerias de trabalho conjunto e de corresponsabilização pela clientela em comum.
Psicologia no SUS: dos impasses e das potencialidades – João Leite Ferreira Neto
▪ Déc. 1990 – Antimanicominal: modo de trabalho comprometido com a luta antimanicomial, permitindo a
organização dos processos de trabalho de modo a favorecer os atendimentos de pacientes graves nos serviços
substitutivos (CERSAM, Centros de Convivência, Serviços Residenciais Terapêuticos, Cooperativas, entc.).
→Nenhuma das categorias profissionais da saúde mental, detinha formação prévia adequada para sua
atuação no SUS: esse trabalho ensinou a psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, o manejo
ambulatorial dos casos.
Psicologia no SUS: dos impasses e das potencialidades – João Leite Ferreira Neto
• A transformação da Assistência Social em política pública é um desafio que deve ser enfrentado
por todos, já que a história política do Brasil tem sua trajetória marcada por políticas
assistencialistas e caritativas.
• O SUAS trouxe muitas inovações conceituais sobre a questão da pobreza e das vulnerabilidades,
que nele ultrapassam a abordagem estrita da carência material para incluir situações de
violação de direitos e fragilização de vínculos sociais, em uma acepção mais ampla e diversa.
• O SUAS é um sistema onde se articulam diferentes níveis de proteção social, com suas
especificidades, demandas e articulações, sendo dividido em dois grandes níveis de proteção social:
Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE).
A Psicologia no SUAS - Maria Lucia M. Afonso et. al.
Proteção Social Básica - PSB:
• Tanto o CRAS, como o CREAS são equipamentos com um espaço privilegiado de atuação do Psicólogo,
seja na promoção das famílias e coletivos na comunidade, seja nos casos em que existe violação de direito.
• Nesse contexto, a associação entre subjetividade e cidadania é uma diretriz básica para atuação dos
profissionais psi no SUAS, uma política pública baseada em direitos.
➢ Pesquisas afirmam que existem saberes e práticas psi propícios à atuação no SUAS, destacando o campo
teórico e prático da Psicologia Social, da Psicologia Comunitária e da Psicologia Institucional, em que
encontramos referenciais para a mudança do paradigma assistencialista para a promoção da cidadania,
como:
as pesquisas ação, participante e intervenção; o processo grupal; as teorias de identidade; a mobilização
comunitária; a análise de preconceitos e estigmas sociais; a metodologia de Paulo Freire, dentre outros.
A Psicologia no SUAS - Maria Lucia M. Afonso et. al.
• Embora diversos saberes e técnicas tenham sido identificados como úteis para a atuação no SUAS, não se pode
ignorar o impacto das condições de trabalho e da implementação do serviço sobre a atuação
profissional;
• É fundamental indagar também sobre como fazer a correlação entre essas práticas e os objetivos de
superação de vulnerabilidades, de desenvolvimento de autonomia, de promoção de direitos.
• Não é suficiente simplesmente identificar as práticas psi e desloca-las para o campo das políticas sociais;
• Trata-se de promover a adequação dos saberes e fazeres psi aos objetivos da política, a sua apropriação
no contexto da prática e, principalmente, a sua sustentabilidade dentro do sistema.
• Existe um duplo trabalho: de adequação dos saberes às questões da política pública e de produção de novos
saberes e práticas a partir dela.
• Nesse sentido, as autoras do artigo “A psicologia no Sistema Único de Assistência Social”, propõem duas
questões/direções úteis para referenciar o trabalho...
A Psicologia no SUAS - Maria Lucia M. Afonso et. al.
1. O entrelaçamento entre a escuta social (dos fatores socio-econômico-culturais que precisam ser
trabalhados) e a escuta clínica (dos fatores subjetivos e relacionais que precisam ser trabalhados) na
proteção social e na promoção dos direitos:
- a escuta clínica atravessa o fazer da psicologia no SUAS, mesmo que não seja na forma de
psicoterapia;
- mesmo em espaços em que a atuação da psicologia seja mais associada a saberes e práticas baseadas na
clínica (como a PSE), trata-se de uma clínica diferenciada, na qual o setting não é o consultório e
cuja escuta também é atravessada pela Psicologia Social;
- o diálogo entre a escuta social e a clínica, correlaciona subjetividade e política;
- necessidade de desenvolver um processo de implicação cidadã (reconhecer-se cidadão, mapear a rede,
saber o que esperar do Estado e das instituições), que se dá junto com a implicação subjetiva (a
responsabilidade que o sujeito deve assumir diante de seus próprios conflitos e escolhas, uma vez que é
sujeito ativo e participativo em seu conjunto de relações).
A Psicologia no SUAS - Maria Lucia M. Afonso et. al.
2. A efetivação da interdisciplinaridade e da intersetorialidade como estratégia de
sustentação do SUAS e setting para a ação dos psicólogos no SUAS:
- A PNAS exige metodologia de trabalho interdisciplinar e intersetorial;
▪ Para que as políticas sociais cumpram o seu papel de reduzir as desigualdades socais e
estabelecer uma realidade melhor do que a anterior, devem envolver as fases de:
formulação (planejamento), gestão, execução, monitoramento e avaliação.
• Porém, ampliando nosso olhar, percebemos que a psicologia tem muito a contribuir em
todas as fases da política pública...
A psicologia frente às políticas públicas – Márcia Mansur
A atuação da psicologia nesses espaços pode se dar a partir de duas visões:
Visão mais tradicional: Visão que busca a gênese dos fenômenos a serem
modificados na realidade sócio histórica que os
- Indivíduo é abordado de forma descontextualizada, constituiu:
por meio de perspectivas universais;
- Práticas voltadas para a promoção dos sujeitos, a partir
- Intervenção implica em prática normativa, reguladora de sua própria participação e envolvimento nas ações
e acomodativa; realizadas de acordo com o seu contexto, história e
vivências, buscando a transformação social;
- Intervenções padrões, que geralmente reproduzem o
- Concepção da psicologia como instrumento de
modelo clínico tradicional descontextualizado da
transformação social, baseada em teorias do campo das
realidade social. “Psicologias Sociais Críticas”, que se preocupam com a
interação entre o social e o individual e criticam
[suposição de que esse pode ser o único modelo conhecido ideologias e práticas presentes na psicologia que
pelo psicólogo em sua formação, de modo que ele tem a contribuem para gerar desigualdades.
mesma atuação independente do contexto e das
demandas e especificidades locais]
A psicologia frente às políticas públicas – Márcia Mansur
Alguns pressupostos importantes a serem observados na prática de um psicólogo comprometido com a
transformação da sociedade [pistas, bússolas orientadoras]:
2. Combater a pobreza política, entendida como a dificuldade histórica do pobre superar a condição de objeto
manipulado, para atingir a de sujeito consciente e organizado (falta de informação, educação escassa, falta de
cultura política e de organização da sociedade civil são indicadores de pobreza política).
3. Incentivo do protagonismo social nas ações e princípios dos psicólogos envolvidos com as políticas públicas.
◦ Capacitação de atores sociais (educadores, agentes de saúde, lideranças comunitárias, técnicos): busca de
uma atuação mais qualitativa na sociedade;
◦ Articulação: trabalhar a articulação entre setores e atores diversos em nossa sociedade, efetivando as
noções de rede, complementaridade e intersetorialidade.
◦ Perguntar-se sempre: a quem a psicologia está servindo naquele contexto? → assim, podemos
ter uma posição crítica e política a favor dos excluídos na busca da igualdade social,
◦ Trabalhar no cotidiano social dos sujeitos e atores envolvidos na política torna-se fundamental,
bem como o diálogo entre teoria e prática, sempre levando em conta o contexto social e o
envolvimento dos atores sociais;