No artigo base, é proposta uma análise da atuação da terapia
ocupacional na atenção básica à saúde. Promulgada em 1998, a Constituição
Federal, em seu artigo 196, possui o intuito de efetivar o direito à saúde a todos e como dever do Estado, bem como o acesso unitário a serviços de saúde que visem a prevenção e promoção da saúde. A institucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), porém, veio muito tempo depois do processo de ditadura militar no Brasil, esta que trouxe diversos impactos na esfera social, assim como a forma na qual as pessoas enxergavam a terapia ocupacional nesta época, existia uma perspectiva médico-militar na área da saúde que ditava o papel da terapia ocupacional apenas como assistência médica em instituições hospitalares, asilares e psiquiátricas. Por sua vez, a Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde, propôs pela primeira vez em 1979, uma estratégia de transformação da atenção primária em um conjunto de ações para ampliar o acesso à saúde de forma igualitária, proporcionando ações de promoção da saúde, dessa forma, era essencial que os profissionais desse nível de atenção atuassem na participação e relação social com os indivíduos e familiares, e não apenas um diagnóstico clínico individual. Em virtude da Declaração de Alma-Ata, a implantação destes serviços de atenção primária no Brasil contextualizaram o desenvolvimento do SUS pela realidade do sistema de saúde da sociedade brasileira, além da criação de outros programas de ampliação do acesso à saúde a partir da década de 90, baseado na atenção básica, estes programas limitavam-se a populações pobres, as quais não possuem acesso à saúde, tampouco as condições necessárias para a prevenção de doenças, como o saneamento básico. A busca por uma maior interação entre o profissional e a população atendida gerou possibilitou a atuação da terapia ocupacional com profissionais das equipes de saúde, com o intuito de ampliar a relação de atenção com os usuários. Com isso, os terapeutas ocupacionais foram progressivamente inseridos na atenção básica, este fator se relaciona com o crescimento dos movimentos sociais promovidos pela TO no processo de ditadura militar, já que desde àquela época o foco na garantia de direitos básicos priorizando o contexto de vida dos indivíduos já era existente nos contextos de representações sociais. O estudo realizado neste artigo reuniu diversos conhecimentos científicos com o foco em ações gerais da terapia ocupacional na atenção básica, contando com o maior número de publicações nas regiões Nordeste e Sudeste, onde há maior concentração de terapeutas ocupacionais no contexto dos programas brasileiros criados após a Declaração de Alma-Ata. Em uma perspectiva geral, a partir da seleção de estudos, é notório que a ação da terapia ocupacional na atenção básica possui diversas possibilidades de atuação. Em muitas delas, nota-se que os principais fatores gerais de todos os estudos são a autonomia e a relação da equipe com a comunidade, e a relação do indivíduo com a comunidade com o intuito de ampliar a oferta dos serviços de saúde dentro dos grupos sociais. A importância de um terapeuta ocupacional atuando na área da atenção primária reforça principalmente a maneira como se deve lidar com a cultura e o conhecimento de cada contexto social, assim, o processo de atendimento contará com melhorias na participação social e nos projetos e práticas de vida. Quando um ambiente de confiança é criado, é possível realizar uma análise das atividades diárias, na qual o objetivo do profissional é o fortalecimento entre a sua equipe de saúde e a comunidade no sentido de favorecer o autoconhecimento e a criatividade do indivíduo. Apesar da criação de programas de promoção da saúde a partir da década de 1990, os terapeutas ocupacionais não recebem o impulso e recursos do Estado para sua atuação, com isso, a profissão carece de divulgação das ações realizadas neste campo, e pouca parcela da população compreende a importância desses programas para a melhoria das condições de vida, sendo assim, o acesso ainda é limitado para muitos indivíduos.