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A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DA

MULHER

Adriana Bentes da Silva de Souza


Acadêmica do 8° período do Curso de Serviço Social,
da Faculdade Salesiana Dom Bosco – FSDB

Beatriz Gama de Alencar


Acadêmica do 8° período do Curso de Serviço Social,
da Faculdade Salesiana Dom Bosco – FSDB

Hildelene Assis das Neves Simões


Professora orientadora da Faculdade
Salesiana Dom Bosco – FSDB.

RESUMO
O presente artigo aborda sobre saúde da mulher, levando em consideração que
essa é resultado dos fatores biológicos, sociais, econômicos, culturais e
históricos. Dessa forma, procuramos contribuir para o debate acerca do acesso
da mulher à saúde. O sujeito da pesquisa é o assistente social que atua na área
da saúde. Nesse sentido, busca conhecer as estratégias utilizadas pelos
profissionais para a promoção da saúde da mulher. A pesquisa comportará um
referencial teórico pautado na perspectiva crítica a fim de buscar compreender o
objeto, dentro da realidade social. A pesquisa teve como objetivo geral analisar
a importância da atuação do assistente social na promoção da saúde da mulher,
e os objetivos específicos, abordar sobre as políticas públicas voltadas para a
saúde da mulher, o perfil socioeconômico das usuárias do SUS, e conhecer os
programas e projetos desenvolvidos pelo Serviço Social voltados para a saúde
da mulher. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, documental, descritiva e
qualitativa. Os resultados da pesquisa demonstram a importância do trabalho do
profissional nas ações e políticas públicas voltadas para a saúde da mulher.
Portanto, o profissional que atua na atenção à saúde da mulher visa desenvolver
a autonomia das usuárias, trabalhando o fortalecimento e garantia dos direitos
sociais, e incentivando a promoção do autocuidado.

Palavras-chave: Serviço Social; Saúde; Saúde da Mulher

ABSTRACT
This article addresses women's health, taking into account that it is the result of
biological, social, economic, cultural and historical factors. In this way, we seek
to contribute to the debate about women's access to health. The research subject
is the social worker who works in the health area, in this sense, he seeks to know
the strategies used by professionals to promote women's health. The research
will include a theoretical framework based on a critical perspective in order to
seek to understand the object, within the social reality. The general objective of

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the research was to analyze the importance of the role of the social worker in
promoting women's health, and the specific objectives, to address public policies
aimed at women's health, the socioeconomic profile of SUS users, and to learn
about the programs and projects developed by the Social Service aimed at
women's health. It is a bibliographic, documentary, descriptive, qualitative
research. The survey results demonstrate the importance of the professional's
work in actions and public policies aimed at women's health. Therefore, the
professional who works in women's health care aims to develop the autonomy of
users, working to strengthen and guarantee social rights, and encourage the
promotion of self-care.

Words - key: Social Work; Healt; Women Health

INTRODUÇÃO
A mulher por muito tempo foi limitada a sua função reprodutiva, enquanto
as questões femininas eram ignoradas. O assunto era visto de forma
conservadora e preconceituosa, assim a mulher não tinha direitos sobre o seu
corpo. Com o passar dos anos, as pressões do movimento feminista por políticas
públicas voltadas para a saúde da mulher possibilitaram um grande avanço na
garantia dos direitos das mulheres o que culminou na criação da Política de
Saúde da mulher que garante assistência desde a adolescência até a velhice,
com humanização e qualidade.
Apesar dos grandes avanços conquistados no que diz respeito a saúde
da mulher, ainda temos muito a fazer para efetivar e consolidar esse importante
direito para as mulheres. Por isso, debater a temática é importante, considerando
que ela tem muito a contribuir tanto para o meio social quanto para o acadêmico,
pois vem trazer um rico debate sobre o direito da saúde das mulheres, que por
muito tempo foram alijados.
As mulheres são consideradas a maioria quando se trata de população
usuária do SUS, podemos encontrá-las facilmente nos espaços de saúde, seja
como paciente, acompanhantes ou cuidadoras, às mulheres são atribuídas
diversas funções, como o cuidado dos filhos, o trabalho doméstico, o trabalho
profissional, entre outros, esse acumulo de funções acaba se tornando uma
sobrecarga que vai impactar diretamente na sua saúde.
Logo, se faz necessário o debate em torno da temática saúde da mulher,
uma vez que, a atual conjuntura de nossa sociedade não é favorável para a
qualidade de vida das mulheres, assim, pensar e elaborar estratégias positivas

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que visem a promoção da saúde da mulher, uma vez que é preciso levar em
consideração o conceito ampliado de saúde que vai muito além da cura das
patologias, abrange a preservação da saúde, com ações educativas que visem
o empoderamento das mulheres.
A pesquisa teve como objetivo geral analisar a importância da atuação do
assistente social na promoção da saúde da mulher e os objetivos específicos,
abordar sobre as políticas públicas voltadas para a saúde da mulher, o perfil
socioeconômico das usuárias do SUS e conhecer os programas e projetos
desenvolvidos pelo Serviço Social voltados para a saúde da mulher. Trata-se de
uma pesquisa bibliográfica e descritiva, qualitativa, de base investigativa
hipotético-dedutivo.
Nesse sentido, o presente artigo procurou caracterizar a atuação do
assistente social na área da saúde da mulher, através de uma trajetória histórica
da saúde no Brasil, da saúde da mulher, buscando apreender sobre o papel do
Serviço Social na saúde e, principalmente, ressaltar a contribuição do assistente
social na promoção da saúde da mulher.
Sendo assim, o sujeito da pesquisa é o assistente social que atua na área
da saúde, dessa forma busca se conhecer as estratégias utilizadas pelos
profissionais para a promoção da saúde da mulher. Frente as demandas das
mulheres os assistentes sociais vão atuar na promoção da humanização e da
qualidade da atenção nos serviços prestados as usuárias com vistas a fortalecer
a autonomia das mulheres, empoderar para que desenvolvam as suas
potencialidades, informar para que conheçam e lutem por seus direitos e,
principalmente, incentivar a promoção do autocuidado.
Assim, este estudo foi elaborado a partir de uma reflexão crítica sobre a
atuação do assistente social na promoção da saúde da mulher, o artigo está
divido em dois tópicos e dois subtópicos cada: o primeiro tópico vai iniciar com
um breve histórico da saúde, destacando as mudanças ocorridas na política, e a
trajetória das políticas públicas voltadas à saúde da mulher, e apontar o perfil
socioeconômico das usuárias do Sistema Único de Saúde – SUS, na sequência,
o segundo tópico vai descrever a inserção do serviço social na saúde e, as
principais ações desenvolvidas pelos profissionais na promoção da saúde da
mulher, assim como os desafios enfrentados.

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1. O DIREITO À SAUDE: UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A POLÍTICA DE
SAÚDE DA MULHER NO BRASIL

A partir da Constituição Federal de 1988 a saúde passou a ser um direito


de todos e dever do Estado, com o objetivo de garantir a população o acesso
aos serviços de promoção, prevenção, proteção, tratamento e recuperação da
saúde. Mas nem sempre foi assim, até a década de 1930 a saúde pública não
era uma pauta de interesse para o Estado, portanto só tinha acesso ao
atendimento médico as pessoas que possuíam condições financeiras, os menos
favorecidos dificilmente sobreviviam às doenças.
A assistência médica no século XVIII era pautada na filantropia e caridade.
O Estado só vai intervir na saúde no século XIX, mais precisamente na década
de 1930. Nesse período a saúde surge como fruto da reinvindicação dos
trabalhadores. Nesse sentido, surgem as políticas sociais para responder as
expressões da questão social, uma vez que o desenvolvimento da
industrialização teve como consequência o processo de urbanização, o aumento
da classe trabalhadora que deixava a área rural em direção a área urbana. Essas
mudanças provocaram péssimas condições de vida, moradia, saúde, e higiene,
devido à falta de infraestrutura, saneamento básico, água potável e esgoto.
(BRAVO, 2009)
A Política de Saúde criada nesse período tinha caráter nacional e foi
predominante até meados da década de 60. As ações da saúde pública eram
voltadas para a criação de melhores condições sanitárias para a população
urbana e também rural, o foco era nas campanhas sanitárias. Já a medicina
previdenciária que surgiu na década de 30, com os IAPs, era voltada para os
trabalhadores urbanos como uma resposta as suas reivindicações. (BRAVO,
2009)
Segundo Bravo (2009) a partir da década de 1960 a política de saúde
passou por um declínio, pois neste período o Estado se utilizou da intervenção
repressiva e assistencialista crescendo apenas a medicina previdenciária devido
as mudanças ocorridas no setor da saúde.
Na década de 1980 a saúde teve a participação de novos sujeitos na
discussão e elaboração de propostas para a melhoria das condições de vida da
classe trabalhadora. Diante disso, a saúde deixa de ser apenas do interesse de
alguns para ser do interesse público. Podemos citar alguns atores sociais que

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se destacaram na luta pela saúde pública: profissionais da saúde, partidos
políticos e movimentos sociais. (BRAVO, 2009)
As principais propostas debatidas por esses sujeitos coletivos foram a
universalização do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever do
Estado; a reestruturação do setor através da estratégia do sistema Unificado de
Saúde, visando um profundo reordenamento setorial com um novo olhar sobre
a saúde individual e coletiva; a descentralização do processo decisório para as
esferas estadual e municipal, o financiamento efetivo e a democratização do
poder local através de novos mecanismos de gestão – os Conselhos de Saúde.
(BRAVO,2009, p.87)
Assim, em 1986 foi realizada a 8ª Conferência Nacional de Saúde,
considerada um marco para a saúde pública, uma vez que, possibilitou a
discussão sobre a Saúde como direito do cidadão e dever do Estado. A
conferência contou com a participação de mais de quatro mil pessoas sendo
usuários e entidades representativas que se uniram para discutir a pauta: A
saúde no Brasil. O debate em torno da saúde resultou na elaboração de um
conceito mais abrangente para à saúde. Dessa forma, a saúde passa a ser vista
sob um novo olhar, ou seja, as condições vivenciadas pelos usuários vão
influenciar na sua saúde, como o trabalho, a alimentação, a educação, a
moradia, o meio ambiente, entre outros. Esse processo importante, participativo
e democrático originou as bases para a criação do Sistema Único de Saúde
(SUS) e a implantação da Reforma Sanitária.
Em 1988 a promulgação da Constituição Federal significou a afirmação e
legitimação dos direitos sociais para o povo brasileiro, apesar do cenário de crise
econômica enfrentado pelo país (a crise dos anos 80), que teve como
consequências, uma dívida para o Brasil e o acirramento das expressões da
questão social, pois o Estado não dava conta dos problemas sociais existentes,
como o crescimento das desigualdades sociais e a precarização do trabalho
(BRAVO, 2009).
A Carta Magna com relação à saúde atendeu as reivindicações do
movimento sanitário que tinha como propostas: o acesso universal à saúde, a
saúde como direito e dever do Estado, a saúde como pauta relevante ao Poder
Público, a criação de órgãos desregulamentação, fiscalização e controle e o
financiamento setorial.

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Entretanto, o projeto de reforma sanitária está sendo deixado de lado e
dando lugar ao projeto privatista, onde as propostas que criaram a proteção
Social por meio da Seguridade Social agora são substituídas pelas ações
focalizadas para os “pobres”, e pelo incentivo a saúde privada (BRAVO, 2009).
Em vista disso, procura-se oferecer o mínimo pra quem não pode pagar,
sendo, portanto, um desrespeito com o princípio da universalidade que afirma
que os serviços de saúde devem atender à todos e não ser focalizados para a
população em situação de vulnerabilidade social (CONASS,2003).
Na década de 90 o Brasil enfrenta a reforma do Estado decorrente da
política neoliberal, processo que significou um retrocesso para a seguridade
social preconizada pela Constituição Federal de 1988, visto que, o Estado
passou a apoiar o capital e minimizar o social, o resultado foi a fragilização e
focalização das políticas sociais.
Diante disso, cabe aos profissionais da saúde e a população lutarem pela
efetivação e consolidação do SUS, bem como, pelo fortalecimento do projeto da
reforma sanitária. A partir do exposto, considera-se que essa não é uma tarefa
fácil, uma vez que colocar em prática o projeto ético político seja um grande
desafio. No entanto o/a profissional de serviço social não pode se deixar intimidar
pelos obstáculos que se apresentam no dia a dia, encarando os desafios e
lutando pela defesa dos direitos sociais e pela efetivação das políticas públicas.
E é nesse contexto de lutas pelo direito à saúde que iremos destacar o caminho
percorrido para a garantia da saúde da mulher.

1.1- As Políticas Públicas de Atenção à Saúde da mulher

Ao abordar a saúde da mulher é necessário analisar o papel da mulher na


sociedade que até pouco tempo estava limitado, o corpo feminino era reduzido
a sua capacidade reprodutiva, as mulheres não tinham direitos, muito menos
podiam decidir sobre seu corpo. Os cuidados que temos hoje com o corpo eram
tratados de forma conservadora.
Portanto, houve a necessidade de se criar políticas sociais e programas
voltados para as questões femininas. (PNAISM,2004) Mas foi somente a partir
dos anos 70 com o fortalecimento do movimento feminista no Brasil que foi
possível incorporar a perspectiva de gênero nas políticas públicas, a fim de

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estabelecer políticas específicas para as mulheres. O movimento social criou
condições para a legitimação da mulher como objeto de estudo. Dessa forma,
procurou-se estudar a condição saúde e doença, assim como o papel da mulher
na sociedade. (PNAISM, 2004)
Até a década de 1980 as Políticas de Saúde da mulher são voltadas para
os problemas relacionados a gravidez e ao parto, tendo como objetivo descobrir
as causas de mortalidade materna e a desnutrição infantil, sendo, portanto a
maternidade o papel mais relevante da mulher. As primeiras ações realizadas
pela Política de Saúde da Mulher são os programas de Saúde materno-infantil e
do leite (PNAISM, 2004).
Assim, podemos destacar que as pressões por políticas públicas, tanto
por parte das mulheres (movimento feminista) como pelo movimento da Reforma
Sanitária foram de extrema importância para a criação do Programa de
Assistência Integral da Mulher (PAISM) em 1986 cujo objetivo era o
fortalecimento da mulher como sujeito de saúde e, assim, dar respostas aos
problemas relacionados à saúde feminina, estabelecendo as diretrizes para a
assistência médica da mulher, estas que, vão direcionar as várias atividades
voltadas para a integralidade do sujeito, preconizando o direito à saúde.
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher criada em
2004, é fruto da parceria e luta dos movimentos de mulheres e o movimento da
Reforma Sanitária que incorporou a temática de gênero nas políticas públicas,
destacando que a saúde da mulher não está ligada apenas às questões
reprodutivas e sexuais, mas também aos aspectos socioculturais, sendo assim,
a saúde da mulher precisa ser apreendida em todos os aspectos, social,
econômico, cultural e político.
Portanto, essa política vem representar o compromisso com a saúde da
mulher, na garantia de seus direitos, e reduzindo assim, os problemas de saúde
enfrentados pelas usuárias, promovendo ações educativas sobre temas de
interesse feminino, como planejamento familiar, aborto, gravidez na
adolescência, combate a violência doméstica, entre outros.
Nesse sentido, ao analisar a Política Nacional de Atenção Integral a
Saúde da Mulher (PNAISM) implantada no século XX, podemos observar a sua
evolução, pois concebe a mulher como sujeita de direito, levando em conta suas
necessidades para além da gravidez e do parto, promovendo ações que visam

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a melhoria da qualidade de vida e saúde das usuárias, abrangendo todos os
ciclos e perfis das mulheres.
Salienta-se que até a implantação da Política Nacional de Atenção à
Saúde da Mulher (PNAISM) estas questões femininas eram ignoradas. No
entanto, o acirramento das expressões da questão social como a alta taxa de
pobreza e o agravamento da morbidade e mortalidade materna, bem como a
degradação dos serviços de saúde, impulsionaram as mudanças nas políticas
de saúde.
Assim, a saúde da mulher é uma questão relevante, uma vez que, as
mulheres vivenciam vários problemas no seu cotidiano que vão influenciar
diretamente na sua saúde como a precarização dos serviços, baixos salários,
longa jornadas de trabalho, péssimas condições de trabalhos, além da falta de
divisão sexual do trabalho que acaba por sobrecarregar as mulheres de forma
física e psicológica (GAMA, 2012).
Deste modo, cabem aos profissionais da saúde promover o acesso dos
serviços as mulheres, orientando sobre seus direitos e incentivando a
participação das mesmas na elaboração das políticas públicas voltadas para as
questões femininas. Considerando que, “possibilitar o gozo da saúde reprodutiva
e sexual das mulheres como parte da sua saúde integral também é um objetivo
das políticas de saúde [...]” (GAMA, 2012, p.94).
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher estabelece a
humanização e a qualidade como princípios para a promoção da saúde da
mulher:
A humanização e a qualidade da atenção em saúde são condições
essenciais para que as ações de saúde se traduzam na resolução dos
problemas identificados, na satisfação das usuárias, no fortalecimento
da capacidade das mulheres frente à identificação de suas demandas,
no reconhecimento e reivindicação de seus direitos e na promoção do
autocuidado. (PNAISM,2004)

Em síntese, podemos ver que muito se avançou no que diz respeito aos
direitos da saúde da mulher, no entanto, ainda se faz necessário lutar pela sua
efetivação e consolidação dos direitos preconizados pela PNAISM.
Atualmente a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da mulher
garante a assistência materna, ginecológica, ao parto e puerpério, planejamento
familiar, climatério e menopausa. Assim como, o controle e prevenção de IST,
câncer de mama e uterino. Dessa forma, a Política Nacional de Atenção Integral

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à Saúde da mulher vem atuar no fortalecimento da promoção e prevenção da
saúde da mulher, priorizando todas as suas singularidades e aspectos
socioculturais. (PNAISM, 2004)
Em suma, as políticas públicas de atenção à saúde da mulher apontam
aspectos importantes que devem ser levados em conta quando se trata da saúde
feminina, como suas condições sociais, raciais/étnicas, culturais e de gênero, ou
seja, um perfil das mulheres usuárias do SUS, uma vez que as diferenças e o
contexto social que cada uma se insere é fator importante para adequar as
políticas públicas.

1.2 O perfil socioeconômico das usuárias do SUS

Em 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em


parceria com o Ministério da Saúde realizou a Pesquisa Nacional de Saúde
(PNS) onde traz os dados dos usuários do Sistema Único de Saúde que
avaliaram positivamente a qualidade dos serviços, os serviços da Atenção
Primaria à Saúde. A pesquisa aponta os dados socioeconômicos dos usuários,
como idade, sexo, cor ou raça, estado civil, renda per capita e dados sobre a
saúde, além de abordar temas importantes como a saúde da mulher.
Da população usuária do Sistema Único de Saúde (SUS) a sua maioria é
composta por mulheres, de acordo com os dados coletados pela Pesquisa
Nacional de Saúde (PNS) em 2019, onde dos 17,3 milhões de pessoas com
idade igual ou superior a 18 que procuraram os serviços de Atenção Primária a
Saúde, 69,9% eram mulheres.
De acordo com o os dados apontados pela Pesquisa Nacional Saúde em
2019, as mulheres são as principais usuárias do SUS, pois correspondem a
52,2% da população Brasileira. A pesquisa sobre a Saúde da mulher foi realizada
com mulheres de 15 anos ou mais de idade a fim de investigar o processo de
realização dos cuidados com a saúde.
Dessa forma, a pesquisa foi de extrema importância, pois os dados
coletados possibilitam uma melhor compreensão das demandas das usuárias,
visto que, conhecer o perfil das usuárias é essencial para a elaboração e
efetivação das políticas públicas voltadas para a Saúde das Mulheres.

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A pesquisa apontou que as mulheres que possui um grau de instrução
mais elevado, dão uma atenção maior aos cuidados com a saúde, uma vez que
elas realizam os exames de preventivos dentro do prazo estipulado, como o
exame do colo do útero e exame de mamas, fazem o planejamento familiar, bem
como o Pré-Natal corretamente.
Sobre o grau de escolaridade, GONÇALVES, SOARES e BERBERIAN
(2014) em sua pesquisa sobre o perfil das usuárias da Unidade de Saúde Mãe
Curitibana do Sistema Único de Saúde apresentaram o seguinte resultado,
51,1% das mulheres que participam das ações de saúde possuem o Ensino
médio ou Ensino Superior incompleto ou completo, reforçando, assim, que o grau
de escolaridade das usuárias é considerado um indicador positivo quando se
trata do acesso aos serviços de saúde. Sabemos que a educação tem um papel
transformador e é primordial para o exercício da cidadania, pois possibilita o
conhecimento, a informação e a melhoria da qualidade de vida. O conhecimento
acerca da saúde contribui tanto para a prevenção de doenças, quanto para a
promoção da saúde e isso depende de uma população bem informada (SOUZA,
2011).

Gráfico 1 – Escolaridade

3,7
Ensino Fundamental incompleto
2,9 7,6 24,2 Ensino Fundamental completo
Ensino Médio incompleto
Ensino Médio completo

37% Curso tecnico completo


23,7 Ensino Suoerior incompleto
0,22 Ensino Superior completo

Fonte: Gonçalves, Soares e Berberian, 2014.

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É por meio da educação que se dá a participação social dos usuários, o
conhecimento empodera, liberta, apresenta oportunidades, muda o
comportamento, cria novas ideias. A educação possibilita aos usuários
[...] Assumir uma nova posição frente as às situações do seu cotidiano,
desenvolvendo potencialidades, muitas vezes adormecidas, novas
habilidades, além de acionar a capacidade crítica de organização e luta
pela garantia de direitos [...] (LOBATO, 2012, p. 157)

Outro indicador importante para a saúde da mulher é a situação


econômica, uma vez que a renda vai influenciar no acesso aos serviços de
saúde, ou seja, o fato de a mulher exercer uma atividade laboral, vai implicar
diretamente na qualidade de sua saúde. De acordo com o gráfico 2, referente a
renda familiar, podemos perceber que a maioria das mulheres, 64,7% possuem
renda inferior a um salário mínimo.

Gráfico 2 – Renda Familiar

inferior a um salário mínimo


32,30%
1 a 3 salarios minimos

64,70%

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Saúde, 2019

Diante desse cenário, podemos constatar que a maioria das usuárias


analisadas é oriunda de famílias de baixa renda, pois, nota-se um alto índice de
mulheres que possuem uma renda familiar considerada insuficiente para a sua
subsistência.
As mulheres que dependem exclusivamente do SUS para cuidar da sua
saúde vão enfrentar muitos obstáculos, como as burocracias no acesso aos
serviços de saúde, a precarização dos serviços e da estrutura dos espaços de

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saúde, o preconceito, a falta de humanização no atendimento, o despreparo dos
profissionais, entre outros que:
[...]Acompanham as mulheres com suas negações, seus medos, suas
incertezas, suas diferentes formas de subordinação, sua dupla moral
sexual e suas vivencias de violência, física, psicológica ou sexual,
dentro ou fora de casa. A isso se soma as dificuldades operacionais e
financeiras da maioria das mulheres que procuram o sistema público
de saúde. (GAMA, 2012, p.95)

Sabe-se que todos esses fatores, como a renda, as longas jornadas de


trabalho (e a sobrecarga dele) e o meio ambiente vão influenciar diretamente na
saúde das mulheres e até dificultar o acesso aos serviços de saúde.
Sobre isso, Cardoso, Souza e Guimarães (2010 p. 259) afirmam que “os
cuidados preventivos, antes de ser um traço cultural, parecem estar relacionados
tanto as condições de trabalho e acesso aos serviços de saúde quanto à
possibilidade e disponibilidade de tempo para a sua procura. ”
Ainda sobre a renda das usuárias, podemos pensar a respeito da situação
das mulheres que possuem melhores salários, aonde vimos que apenas 32,3%
das usuárias possuem de 1 a 3 salários mínimos, aqui cabe a reflexão que essas
mulheres enquanto trabalhadoras assalariadas tendem a procurar menos os
serviços de saúde devido a diversos fatores como: a falta de tempo, devido à
sobrecarga atribuídas as mulheres, principalmente quando se trata das mulheres
inseridas no mercado de trabalho. Pois, além das longas jornadas de trabalhos
as mulheres também são responsáveis pelos afazeres da casa, dos filhos, dos
estudos. E esses acúmulos de tarefas têm acarretado em muitos problemas de
saúde, devido ao aumento do estresse físico e mental (GODINHO E MAMERI,
2002).
Sobre isso, Ávila (2002, p.41) destaca que as mulheres inseridas no
mundo do trabalho se encontram em situação de sobrecarga por terem que dá
conta do trabalho profissional e do trabalho doméstico, sujeitas a desigualdades
e pobreza, sendo a principal delas a “pobreza de tempo”.
Outro fator importante sobre a saúde da mulher é a questão racial, uma
vez que, para o acesso igualitário das mulheres aos serviços de saúde é
necessário que “o Estado e suas/seus agentes considerem a realidade das
mulheres negras e suas demandas especificas” (DEFENSORIA PÚBLICA DO
ESTADO DE SÃO PAULO, 2020, p. 3)

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Sabemos que a saúde é um direito assegurado pela Constituição, no
entanto, uma boa parte da sociedade, que é considerada marginalizada
historicamente, por conta dos longos anos de escravidão, enfrentam barreiras
na busca pelos serviços de saúde. Assim, as desigualdades raciais se tornam
um entrave na efetivação do direito à saúde das mulheres negras.
Para tanto, ter um olhar diferenciado e humanizado para as mulheres
negras é essencial, afim de romper com as barreiras das desigualdades que
dificultam o acesso das mulheres negras aos serviços de saúde. Portanto, é
necessário falar sobre o preconceito, sobre o racismo institucional, como um
problema real, que vai impactar profundamente na vida da população negra, afim
de que as políticas públicas, os programas, projetos e serviços sejam ofertados
de forma igual para a população.
O gráfico abaixo demonstra que o quantitativo das mulheres negras e/ou
pardas é superior aos das mulheres brancas usuárias do Sistema de Saúde,
reforçando, portanto, um índice negativo, visto que, a população negra sempre
se encontra com os piores índices quando se trata das condições de vida e
saúde devido as desigualdades sociais.

Gráfico 3 - Cor/raça/etnia

38%

Branco
preto ou pardo

62%

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Saúde, 2019

A partir dos dados apresentados é possível fazer uma reflexão sobre o


racismo institucional enfrentados pelas mulheres negras nos espaços de saúde.
Uma vez que, as desigualdades raciais e o racismo enfrentado pelas usuárias

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são “uma barreira ao acesso aos serviços preventivos para a saúde das
mulheres negras. E que essas desigualdades são determinantes sociais que
impactam as condições de vida e o processo de adoecimento” (GOES,
NASCIMENTO, 2013, p.8)
Diante do exposto, podemos perceber que ainda existem muitos entraves
para a consolidação da política de saúde da mulher. Talvez uma das maiores
preocupações diante desse contexto seja o fortalecimento da política de saúde
da mulher como um direito e a conscientização da mulher sobre a promoção do
autocuidado, do autoconhecimento sobre seu corpo, em busca da qualidade de
vida e bem estar, de acordo com o conceito ampliado de saúde.
Corroborando com o que foi explanado, enfatiza-se que o profissional (a)
que trabalha na promoção da saúde da mulher visa contribuir para uma melhor
qualidade de vida e saúde, por meio da garantia dos direitos, da ampliação e
acesso aos serviços, da redução dos índices de morbidade e mortalidade
feminina, e ampliando a atenção e humanização no atendimento às mulheres
(PNAISM,2004).

2. A CAMINHADA DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE: CONTRIBUIÇÕES


DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROMOÇÃO DA SAUDE DA MULHER

2.1. O papel do assistente social na promoção à saúde da mulher

O Serviço Social no Brasil surge na década de 1930 como uma profissão


ligadas às mazelas sociais, visto que, a profissão nasce das reivindicações da
classe trabalhadora que exigiu um posicionamento do Estado, este por sua vez,
cria o serviço social como uma estratégia de controle da classe trabalhadora,
juntamente com a Igreja e a burguesia. Dessa forma, o objetivo inicial da
profissão era minimizar os conflitos sociais entre a classe trabalhadora e a
burguesia.
Na década de 60, a profissão passa por profundas transformações, o
serviço social passa por um processo de Reconceituação e modernização que
exigiu a renovação da profissão, a fim de atender aos interesses da classe
trabalhadora que sofria com os efeitos da ditadura militar (BRAVO, 2009).
De acordo com Matos (2013) na década de 1980, o Serviço Social passa
por processo de maioridade intelectual, pois a profissão se aproxima e se

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compromete com a teoria marxista. A profissão sofre influências do movimento
da Reforma Sanitária que vinha sendo construído desde a década de 70, no
entanto, não é possível identificar a relação concreta com o movimento.
Na década de 90, a profissão ganha maior proporção, período que se
configurou a hegemonia do Projeto Ético-Político da Profissão e posteriormente
o Código de Ética Profissional. Que dão subsídios para uma atuação profissional
comprometida com a defesa dos direitos da classe trabalhadora, bem como o
posicionamento em favor da equidade, justiça social e a universalização de
acesso aos bens e serviços ofertados pelas políticas sociais (CFESS,1993).
Segundo Matos (2013, p. 57) a inserção do Serviço Social na Saúde se
deu a partir da criação do novo conceito de saúde elaborado em 1948 e a busca
por outros profissionais para atuar no setor e assistente social passou a atuar na
área da saúde “como aquele que podia contribuir para o aperfeiçoamento do
trabalho do médico”
Desse modo, o assistente social na saúde vai atuar diretamente na
promoção e prevenção da saúde, mas levando em consideração também as
condições de vida dos usuários e buscando respostas aos problemas
vivenciados pela população. Visto que, “os assistentes sociais trabalham com as
múltiplas dimensões da questão social tal como se expressam na vida dos
indivíduos sociais, a partir das políticas sociais e das formas de organização da
sociedade civil na luta por direitos” (IAMAMOTO,2008, p.160).
O assistente Social como profissional da saúde de acordo com a
Resolução do CFESS nº 383, de 29/03/1999 vai atuar na promoção e prevenção
da saúde, em particular na saúde da mulher. O Serviço Social é uma profissão
regulamentada pela Lei nº 8.662/93 que estabelece as competências e
atribuições profissionais e norteadas pelo Código de Ética Profissional que é a
resolução 273/93.
Assim, o assistente social na saúde é capacitado para acolher, informar e
orientar os usuários e seus acompanhantes sobre seus direitos, acompanhar
e/ou encaminhar de acordo com a demanda, bem como incentivar a participação
social nos Conselhos de Saúde, na elaboração das políticas de Saúde.
O profissional de Serviço Social que trabalha com a saúde feminina vai
perceber que são muitos os desafios enfrentados pelas usuárias como

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problemas relacionados ao trabalho, a violência, vulnerabilidades sociais entre
outros.
Diante disso, o assistente social precisa utilizar de sua capacidade crítica
e reflexiva para observar, interpretar e, assim, compreender a realidade social,
a fim de criar uma estratégia que possibilite a inserção das mulheres na política
de saúde. Nesse sentido, destacam-se alguns serviços realizados pelo
profissional na promoção da saúde da mulher: atendimentos diretos as usuárias,
ações socioeducativas e socioassistenciais, ações de articulação com a equipe
de saúde, mobilização, participação e controle social, investigação,
planejamento e gestão dos projetos realizados pelo setor (CFESS, 2010).
A atuação do assistente social na saúde visa garantir melhoria da
qualidade de vida das usuárias, com compromisso com os direitos da população,
bem como o fortalecimento do SUS:
– Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres
brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente constituídos e
ampliação do acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção,
assistência e recuperação da saúde em todo território brasileiro.

– Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no


Brasil, especialmente, por causas evitáveis, em todos os ciclos de vida
e nos diversos grupos populacionais, sem discriminação de qualquer
espécie.

– Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher


no Sistema Único de Saúde (PNAISM, 2004).

Assim, o exercício profissional do Assistente Social na saúde impõe


inúmeros desafios, como a efetivação da Política de Humanização que visa
romper com as práticas conservadoras, de cunho moralizante e assistencialista
e a mediação de das tensões e conflitos, buscando potencializar a autonomia
dos usuários na luta pelos seus direitos como aponta Costa (2009).
Sendo assim, a superação dos desafios vai exigir do profissional
capacidade crítica e reflexiva, competência teórico-metodológica, técnico-
operativa e ético-política a fim de analisar e apreender as demandas dos
usuários, prestando um atendimento com qualidade e criatividade, com postura,
comprometimento e responsabilidade no atendimento dos usuários, com base
nos princípios do Código de Ética para dar uma resposta positiva aos cidadãos
(IAMAMOTO, 2008).

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Nesse sentido, Guerra (2000, p.12) vem contribuir afirmando que a
instrumentalidade do serviço é “campo de mediações que porta a capacidade
tanto de articular estas dimensões quanto de ser o conduto pela qual as mesmas
traduzem-se em respostas profissionais”, ou seja, o assistente social é um
profissional capacitado para construir estratégias de superação dos problemas
apresentados.
Sendo assim, o/a assistente social que atua na área da saúde, em
especial, com a saúde da mulher, assim como, em outras áreas vai atuar frente
as demandas da “questão social cujas expressões históricas e contemporâneas
personificam o acirramento das desigualdades sociais e da pobreza na
sociedade capitalista brasileira”, (COSTA, 2009, p. 254), buscando
incansavelmente pôr em prática o projeto ético político do serviço social que
dispõe de pressupostos teóricos que vão nortear a atuação do profissional, ou
seja, vai contribuir para a viabilização dos direitos dos usuários, bem como, a
luta por uma sociedade mais justa.
Portanto, o (a) assistente social na área da saúde, visando a garantia e a
viabilização dos direitos das usuárias vai desenvolver diversas ações de saúde
por meio de programas e projetos.

2.2. Os programas e projetos desenvolvidos pelo Serviço Social voltados


para a promoção da saúde da mulher

Os profissionais de Serviço Social enquanto autores, executores e


gestores de programas e projetos uma vez inseridos na área da saúde atuam no
desenvolvimento de práticas educativas em saúde, nesse caso em especial,
destaca-se o trabalho realizado com as mulheres. As práticas são desenvolvidas
pelos assistentes sociais em parceria com outros profissionais, ou seja, as ações
são desenvolvidas por meio de uma equipe multiprofissional visando integrar
saberes e práticas voltadas à construção de novas possibilidades de pensar e
agir em saúde.
Segundo Raichelis (2009), as inúmeras demandas apresentadas ao
Serviço Social vão exigir respostas qualificadas e estratégicas dos profissionais,
com base na realidade dos sujeitos, daí surge a importância do planejamento e
elaboração de projetos e programas, considerando os usuários, a comunidade,
o tipo de abordagem, a fim de alcançar objetivos estabelecidos.

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Ainda segundo os autores, os programas na área da saúde são um
conjunto de atividades realizadas com foco na prevenção ou promoção da
saúde. Assim, os assistentes sociais inseridos nas instituições de saúde, podem
atuar nos programas já disponibilizados pelo Ministério da Saúde, fazendo os
ajustes de acordo com as demandas de seus usuários ou pode elaborar projetos
próprios de acordo com o seu lócus de trabalho. Já o projeto social é outro
instrumental muito utilizado pelo Serviço Social, pois possibilita o planejamento,
o conhecimento da realidade, a elaboração de estratégias, metas e,
principalmente, a execução das atividades.
Diante disso, Mourão et al (2006) apresenta alguns projetos e programas
desenvolvidos pelo Serviço Social em conjunto com outros profissionais voltados
a promoção da saúde da mulher.
Projetos como DST/AIDS – Na Mira da Prevenção é um exemplo de
projeto desenvolvido por assistentes sociais em conjunto com enfermeiros e
psicólogos que tem como finalidade trabalhar temas como sexualidade, gênero,
IST’S, promovendo por meio de oficinas o acesso à informação, a integração de
pacientes e acompanhantes internados. Visando o esclarecimento da população
usuária sobre as doenças sexualmente transmissíveis e, principalmente, a
superação dos preconceitos e tabus sobre o tema, como aponta Costa (2009, p.
328).
Esse tipo de atividade demanda que os assistentes sociais articulem,
organizem, coordenem e realizem palestras; bem como distribuam
material educativo e de divulgação – cartazes, folhetos e folders
informativos; apresentações de slides e vídeos relativos as formas de
prevenção e controle das doenças; bem como coordenam eventos e
discussões sobre tabus, preconceitos e atitudes prejudiciais à saúde,
como: hábitos alimentares, de higiene etc.

Entretanto, para a realização desse trabalho o assistente social precisa


conhecer as normas e portarias da instituição, ter conhecimento das legislações
sociais referente ao público alvo, conhecer sobre o tema abordado, ou seja,
precisa ser um profissional atualizado, informado e atento as mudanças que
ocorrem na instituição e no âmbito da saúde. Dessa forma, pode assegurar o
acesso das usuárias aos serviços de saúde.
Outro projeto de destaque é o Fala Mulher, um espaço de troca de
saberes entre usuárias e profissionais sobre a saúde da mulher, durante as
reuniões com as pacientes e acompanhantes é possível abordar temas

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importantes que envolvem a saúde feminina. O projeto é desenvolvido pelos
profissionais de serviço social, enfermagem e psicologia.
Nesse sentido, o projeto visa oferecer as mulheres qualidade na atenção
à saúde, abrangendo todos os aspectos socioculturais e emocionais que
implicam na saúde das usuárias. Sendo assim, é um espaço importante, onde
as mulheres podem se sentir seguras para falarem sobre seus medos, negações,
incertezas, dificuldades e violências vivenciadas dentro e fora de casa. Criando
assim, condições para a transformação social, e política das mulheres (GAMA,
2012).
Ainda sobre projetos voltados para a saúde da mulher podemos destacar
o Controle do tabagismo, o objetivo deste projeto é promover um espaço de
diálogo sobre a dependência do tabaco. Assim, a equipe multiprofissional
composta por assistentes sociais, enfermeiros, médicos, e psicólogos procuram
apontar os malefícios que uso da substância causa a saúde feminina. Destarte,
procura-se diminuir as taxas de fumantes, uma vez que as mulheres também
são alvos da indústria do tabaco.
De Peito Aberto é um programa que tem por finalidade proporcionar a
prevenção e acompanhamento das mulheres com câncer de mama. As ações
desenvolvidas pelos profissionais de serviço social, enfermagem, fisioterapia,
medicina e psicologia visam prestar assistência às pacientes e suas famílias
sobre a prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer.
Como afirma Costa (2009, p.321)
Essa atividade deve auxiliar na busca de alternativas para assegurar o
diagnóstico e o tratamento em nível ambulatorial, evitando, assim,
internamentos, contribuindo igualmente nos casos de urgência, para
agilizar internamentos, na tentativa de evitar possíveis óbitos.

Desse modo, ao profissional de Serviço Social é atribuída a


responsabilidade de sensibilizar as usuárias e seus acompanhantes, quanto a
sua participação social nas ações de saúde, ressaltando a importância da
realização dos exames, e do tratamento das doenças.
Segundo Costa (2009), o Serviço Social vai ser o responsável por assumir
o papel de elo, com os demais setores e profissionais, articulando e realizando
ações que ampliem a participação e comunicação entre os profissionais.
Orientando as usuárias, visando a defesa da autonomia e emancipação das

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mulheres, enquanto sujeitos de direitos. Assim sendo, seu grande desafio é
justamente criar um ambiente que foque no fortalecimento de práticas que
potencializem a participação social dessas usuárias na elaboração e aplicação
dos projetos, assim como, na construção de políticas públicas que promovam
condições dignas de atendimento, viabilização e efetivação dos direitos já
conquistados e direitos que ainda não foram conquistados.
Em suma, o assistente social que trabalha com a saúde da mulher se
configura como uma ponte entre a Política de Saúde e a usuária, assegurando
a integralidade das ações e o acesso das cidadãs aos serviços de saúde.
Possibilitando a prevenção e promoção da saúde por meio de ações educativas
garantindo o direito das usuárias à saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As políticas públicas voltadas para a saúde da mulher representam um


grande avanço na garantia de direitos, uma vez que, promove assistência
humanizada a mulher em todos os períodos de sua vida. Porém, ainda tem-se
um árduo caminho percorrer no que diz respeito a consolidação e efetivação do
direito à saúde da mulher. Dessa forma, é necessária a discussão sobre a
temática, compreender as necessidades femininas, conhecer os desafios
enfrentados pelos profissionais que trabalham com as mulheres e analisar de
que forma podem contribuir para a formulação e efetivação de políticas públicas
que visem a superação das desigualdades de gênero e possibilitem a promoção
da saúde da mulher, levando em consideração os aspectos social, econômico,
cultural e político.
Observou-se que o acesso a saúde ainda se encontra relativamente
burocrático e precarizado no que diz respeito ao atendimento de mulheres com
baixa renda, uma vez que a falta de condições dignas para a subsistência é um
dos principais problemas que influenciam a saúde da mulher. A sobrecarga física
e emocional correlacionada com os problemas econômicos, a demora do acesso
e o preconceito são fatores primordiais que vão influenciar na vida e no processo
de adoecimento dessas mulheres, contribuindo, assim, para que elas estejam a
frente nas pesquisas de forma negativa.

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Nesse sentido, o assistente social visa garantir os direitos já instituídos,
contribuindo para uma melhor qualidade de vida das usuárias, assumindo esse
compromisso com a autonomia dos direitos da população. Além de contribuir
para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde, através de programas e
projetos desenvolvidos, o profissional é capaz de construir estratégias de
superação dos problemas apresentados.
Assim, o assistente social como autor, executor e gestor de políticas
públicas é responsável por pensar e elaborar estratégias que se traduzam em
respostas qualificadas para as demandas apresentadas por cada usuária.
Trabalhando desta forma a prevenção e promoção da saúde, bem como pensar
novas possibilidades de intervenção.
Dessa forma, com o desenvolvimento do estudo chegamos à conclusão
de que as desigualdades sociais e de gênero ainda permeiam as práticas
cotidianas de atendimento, dificultando o acesso das mulheres aos bens e
serviços ofertados na rede pública de saúde.
Portanto, a escuta humanizada, a qualidade no atendimento oferecido e
o olhar diferenciado do profissional de serviço social trazem uma nova
abordagem de atendimento e oferece a essas mulheres possibilidades de se
verem como um sujeito de direitos, além de abrir caminhos de modo efetivo ao
empoderamento feminino. Essas práticas fortalecem não apenas os vínculos
entre si, mas se torna um facilitador para a construção de um novo olhar para a
saúde, com uma nova prática, sob uma nova ética que tem como objetivo acolher
e assistir essas mulheres de uma forma que elas se sintam seguras.

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