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Salus J Health Sci. 2017; 3 (2): 58-65 DOI: https://dx.doi.org10.5935/2447-7826.

20170016

ARTIGO ORIGINAL

Saúde da mulher enquanto Políticas Públicas


Helaine Marla Ferreira1; Maria Diana Cerqueira Sales²

Trabalho Submetido em 09/08/2016


Aprovado: 17/03/2017

Palavras Resumo
Chaves
O estudo tem por objetivo abordar sobre a saúde da mulher e sua
trajetória enquanto política pública. No Brasil, a política de assistência
Políticas à saúde da mulher continua sendo construída, e ainda se faz necessário
públicas de a ocorrência de uma mobilização dos mais variados agentes públicos e
saúde, Saúde sociais, visando implementar novas políticas públicas de saúde
da mulher, dirigidas às mulheres no país, levando-se em consideração como foi
Infecção do construída a trajetória que atualmente a caracteriza. No âmbito da
trato urinário. infecção do trato urinário, não há programas de políticas públicas
específicos, tem-se como proposta, desenvolver um protocolo
multidisciplinar visando promover nas unidades de pronto atendimento
e/ou unidades de saúde, ações efetivas e coordenadas para atendimento
dos casos de infecção urinária desde o diagnóstico, dando continuidade
nas primeiras medidas realizadas pela enfermagem, prontidão
laboratorial e farmacêutica, até o tratamento e transferência do paciente
para um hospital ou seguimento na Atenção Primária à Saúde.

*Autor para correspondência: helainemarlaf@gmail.com

1Aluna do Mestrado em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local, na Escola Superior de Ciências da Santa Casa de
Misericórdia de Vitória (EMESCAM).
²Doutorado em Biotecnologia pela UFES/ Renorbio - (Professora da Escola Superior da Santa Casa de Misericórdia de Vitória
- EMESCAM).
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INTRODUÇÃO Na história das políticas públicas de saúde


no Brasil, a atenção à saúde da mulher, tem
Em 1948, a Organização Mundial da Saúde sido reduzida, na maior parte, aos
(OMS) definiu saúde não apenas como parâmetros da atenção materno-infantil e,
ausência de doença ou enfermidade, mas mesmo assim, é frequentemente, relegada a
também como um bem estar físico, psíquico segundo plano2. Os programas maternos
e social. Portanto, mesmo sendo um infantis foram elaborados nas décadas de
conceito multidimensional ainda se baseia 1930, 50 e 70, traduzindo-se em uma visão
num modelo biomédico1. restrita sobre a mulher, baseada na
especificidade biológica da mesma, e no seu
Com a nova contextualização no conceito papel social como mãe e doméstica,
de saúde, foi durante o século XX que as responsável pela criação dos filhos,
políticas públicas de saúde no país, educação e cuidado, não só do filho, mas da
passaram por importantes mudanças, saindo família no geral3.
de uma simples assistência médica a direito
à saúde, preconizado pela Carta Magna de Na década de 1950, as ações de saúde
1988, e passando por vários conflitos e sofriam significativa influência nos
interesses, que sempre estiveram presentes chamados “Estados de Bem Estar Social”
na construção do setor de saúde. (Welfare State), proveniente da Europa, que
se direcionavam a grupos vulneráveis. No
A trajetória das políticas públicas de saúde Brasil, no que tange à saúde da mulher, o
vai desde o sanitarismo campanhista, do propósito era fazer das mulheres as
início do século até 1965, seguido pelo “melhores mães”, assim a maternidade era
modelo médico assistencial privatista, até o papel mais relevante da mulher na
chegar, em fins dos anos 1980 até o modelo sociedade, até maior em relação ao
atual, revelando a determinação econômica desenvolvimento econômico3.
e a concepção de saúde com a qual cada
período operou socialmente. As mulheres, desde 1960, já vinham
processando a ruptura com o papel social
No âmbito da mulher, a política de que lhes foi atribuído, introduzindo-se ao
assistência à saúde continua sendo mercado de trabalho e ampliando suas
construída, e ainda se faz necessário a aspirações de cidadania. O controle da
ocorrência de uma mobilização dos mais fecundidade e a prática da anticoncepção
variados agentes públicos e sociais, visando passam a ser uma aspiração das mulheres. A
implementar novas políticas públicas de sexualidade plena e os novos padrões
saúde dirigidas às mulheres no país, comportamentais desvincularam a
levando-se em consideração como foi maternidade do desejo e da vida sexual.
construída a trajetória que atualmente a Essa condição implicou na necessidade de
caracteriza. É nesse pretexto que o presente políticas de acesso aos métodos
estudo tem por objetivo abordar sobre a contraceptivos4.
saúde da mulher e sua trajetória enquanto
políticas públicas. Segundo Santos5 a partir de 1963, foi
levantada a questão da municipalização dos
serviços de saúde, na II Conferência
Nacional de Saúde, o pensamento de uma
2 HISTÓRIA DA LUTA PELA reforma no sistema de saúde foi crescendo.
CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS DE Várias forças sociais continuaram na luta
SAÚDE PARA MULHERES: ANTES pela Reforma Sanitária nas décadas que se
DO SUS seguiram, contribuindo significativamente

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para a formação de uma consciência Segundo Souza e Costa6, a partir daí, a


sanitária no país. saúde passou a ser uma meta social mundial
e, para sua realização, deveria haver uma
Em 1966 foi criado o Instituto Nacional de integração com os vários setores sociais e
Previdência Social (INPS), instituído no econômicos. Ressalva Giffin2 (p.133) que:
momento de consolidação do modelo “A ampliação do conceito de saúde,
médico-assistencial privatista quando refletida parcialmente nestas mudanças, faz
enfrentava grave crise econômico- parte das reivindicações do movimento de
financeira, devida às mudanças no âmbito mulheres, que vem participando da
da prestação de serviços5. Em 1975 foi promoção da saúde da mulher em todos os
promulgada a Lei n. 6.229, criando o níveis”.
Sistema Nacional de Saúde, que estabeleceu
para o Ministério da Saúde (MS) ações No início dos anos 1980, ocorreram
voltadas para o atendimento de interesse importantes mudanças econômicas e
coletivo e para o Ministério da Previdência políticas, determinando o esgotamento do
e Assistência Social, principalmente, o modelo médico-assistencial privatista e sua
atendimento médico e assistencial substituição por outro modelo de atenção à
individualizado4,6. saúde5. Com isso, ressurgiram os
movimentos sociais que forçaram o
Fins da década de 1970, mesmo com várias processo de redemocratização no Brasil,
medidas propostas para a assistência à marcado por conquistas relevantes,
saúde, não houve melhora na saúde e nem destacando-se o movimento sanitário7.
no padrão de vida da população. Foram
poucos os investimentos na rede pública de O movimento sanitarista foi um dos mais
saúde, o que refletia a crise na previdência, resistentes núcleos quanto à implantação de
agravada devida a capitalização da programas de controle demográfico, e parte
medicina, que exigia quantias cada vez desse movimento, subsidiou-se a
maiores para cobrir os serviços prestados sustentação técnica e política conferida ao
pela rede privada7. Programa de Assistência Integral à Saúde
da Mulher (PAISM), que ocorreu em 19838.
Ainda nos anos 1970, as iniciativas do MS Em seguida, foram se definindo alianças
relacionadas ao controle de natalidade, estratégicas envolvendo setores
sofreram oposição a vários e difusos governamentais, em particular o Conselho
setores, desde os movimentos à esquerda Nacional dos Direitos das Mulheres,
até os mais conservadores, incluindo nesse juntamente com o MS e do movimento
rol, a Igreja católica4. feminista4.

Com a Conferência Internacional sobre os No MS em 1984, visando atender às


Cuidados Primários de Saúde, em 1978, reivindicações do movimento de mulheres,
realizada em Alma-Ata, no Cazaquistão, elaborou o PAISM. Nesse momento,
antiga União Soviética, ficou estabelecido rompeu-se no aspecto conceitual, os
em âmbito mundial, através do documento princípios norteadores da política de saúde
final do evento, que a saúde do povo seria das mulheres e os critérios para eleição de
acolhida, por meio da promoção de políticas prioridades nesse campo9.
de saúde, em prol do bem-estar físico,
mental e social, como direitos fundamentais A criação do PAISM, em 198310:
dos seus habitantes, enfatizando-se representou um marco na histórica
principalmente os cuidados primários6. das políticas públicas voltadas para as
mulheres, pois, pela primeira vez: (...)
ampliou-se a visão de integralidade,

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presente nas formalizações do significativo no processo de construção da


movimento sanitário, para incorporar estratégia e tática pela democratização da
a noção de mulher como sujeito, que saúde em toda sua história. Foi a partir daí,
ultrapassava sua especificidade que o governo reconheceu a necessidade de
reprodutiva, para assumir uma reestruturação do Sistema Nacional de
perspectiva holística de saúde Saúde, com a criação do Sistema Único de
(p.165). Saúde (SUS)7.

O PAISM reconheceu que as pessoas têm o A Constituição Federal de 1988 instituiu o


direito à livre escolha dos padrões de Sistema Único de Saúde (SUS), definindo o
reprodução que lhes convenham, como planejamento familiar como de livre
indivíduos ou casais7, e rompeu o arbítrio das pessoas. Abrangendo um
paradigma materno-infantil elaborados nas conjunto de princípios e diretrizes
décadas de 1930, 50 e 70, onde a mulher era programáticas, o PAISM, contempla as
vista como produtora e reprodutora de força várias etapas, ciclos de vida e situações de
de trabalho10. saúde das mulheres, incluindo, os assuntos
reprodutivos4.
Para que o direito à livre escolha aos
padrões de reprodução pudesse ser A Constituição de 1988 reconheceu a saúde
exercido, os indivíduos deveriam ter como7:
conhecimento das possibilidades de influir “direito de todos e dever do Estado” e
no ritmo da procriação, e ter acesso às contemplou a descentralização das
informações e aos meios para que possam ações e serviços de saúde entre os três
intervir, se assim desejar, para separar o níveis de governo, através do SUS. Ao
exercício da sexualidade da função iniciar-se o governo de Collor, havia no
reprodutiva e, consequentemente, ter Brasil, um novo arcabouço jurídico que
plenitude ao planejamento da prole7. orientava o Sistema de Saúde, tendo
como referência, a Constituição
Federal.
2.1 POLÍTICAS DE SAÚDE PARA
MULHERES: APÓS O SUS A criação do SUS na década de 1990 foi o
maior movimento de inclusão social já
A redemocratização do Brasil permitiu a ocorrido na história do Brasil,
idealização da criação de um Sistema Único representando, em termos constitucionais,
de Saúde, e que fosse discutida uma afirmação política de compromisso do
publicamente, fortalecendo o governo de Estado para com os direitos dos seus
João Figueiredo, ao lado de conquistas cidadãos6. O SUS foi orientado e capacitado
políticas como a anistia e a eleição direta para a atenção integral à mulher, numa
para governadores em 1982. A 7ª perspectiva que contemple a promoção à
Conferência Nacional de Saúde (CNS) foi saúde, as necessidades de saúde da mulher,
rumo a essa direção, assumindo caráter de o controle de patologias mais prevalentes e
reforma Política Nacional de Saúde, que a garantia do direito à saúde11.
preconizavam os temas: universalização da
cobertura, atenção primária, hierarquização Com o surgimento do SUS, e consequente
e regionalização, visando diminuir as municipalização e reorganização da atenção
divergências entre o governo e o básica, o PAISM ganhou força, mesmo que
Movimento Sanitário7. as ações no campo da saúde reprodutiva
tenham sido privilegiadas, demonstrando
A Reforma Sanitária culminou a 8ª CNS, ainda a visão de saúde materna nas práticas
em 1986, e foi considerada o evento mais desenvolvidas10.

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Nos anos 1980, a integração das ações no


2.2 POLÍTICAS DA SAÚDE DA Atendimento Primário à Saúde (APAS)
MULHER: PROGRAMAS COM DADOS começou a ser discutida, para que os
DO MINISTÉRIO DA SAÚDE NA ginecologistas, acostumados a lidar com a
ATUALIDADE mulher num todo, passasse a atender em
prol das necessidades de planejamento
Na atualidade busca-se por uma política familiar em separado. Passou-se então a
pública voltada para a integralidade. A redefinir a saúde reprodutiva, que encerrou
integralidade é conceituada por Souto10 com ênfase apenas na gestante ou nos
(p.163) como sendo: programas de controle de natalidade,
priorizando a mulher da adolescência à
[...] um conceito polissêmico e possui terceira idade, de maneira mais abrangente
diferentes analisadores, e um deles e com prioridades estabelecidas em bases
encontra-se (...) como: Costumo dizer epidemiologicamente adequadas5.
que a integralidade tem duas
dimensões: a vertical e a horizontal. A Em 2006 surgiu o Pacto pela Saúde, que é o
vertical inclui a visão do ser humano documento das Diretrizes do Pacto pela
como um todo, único e indivisível. E a Saúde, que contempla entre os gestores,
horizontal é a dimensão da ação da atenção em três dimensões: pela vida, em
saúde em todos os campos e níveis. defesa do SUS e de gestão. No que se refere
à prioridade em prol da mulher, o Pacto pela
A atenção integral à mulher refere-se a um Vida tem como objetivos e metas, o
conjunto de ações de promoção, proteção, controle do câncer do colo do útero.
assistência e recuperação da saúde,
executadas nos diferentes níveis de atenção O câncer do colo do útero caracteriza-se
à saúde11. A política pública voltada para a pela replicação desordenada do epitélio de
integralidade é aquele estabelecido para um revestimento do órgão, comprometendo o
grupo específico da sociedade, que tecido subjacente (estroma) e podendo
necessita de considerar ambas as invadir estruturas e órgãos contíguos ou a
dimensões, ou seja, a totalidade humana: o distância. Existem duas categorias
físico, o mental, o afetivo e o espiritual. principais de carcinomas invasores do colo
Essa totalidade deve ter como objeto o do útero, dependendo da origem do epitélio
cuidado em saúde e a existência de práticas comprometido: o carcinoma epidermoide,
e saberes de saúde acumulados e tipo mais incidente e que acomete o epitélio
organizados em redes de serviços que escamoso (representa cerca de 80% dos
produzem ações em saúde10. casos), e o adenocarcinoma, tipo mais raro
e que acomete o epitélio glandular12.
Acrescenta Santos5 que a atenção integral à
saúde da mulher foi redimensionada para o O programa visa dar cobertura de 80% para
corpo feminino no contexto social, o exame preventivo do câncer do colo do
expressando a mudança de posição das útero, e incentivar a realização de cirurgias
mulheres na sociedade. Com isso foi de alta frequência, técnica que utiliza um
implantado o PAISM, que tem como instrumental especial para a retirada de
diretrizes a atenção primária, segundo o lesões ou parte do colo uterino
conceito da integralidade de assistência e comprometido, com menor dano possível,
envolvem toda a fase de vida da mulher, que pode ser realizado em ambulatório, com
desde a adolescência até a velhice, pagamento diferenciado3.
respeitando a especificidade de cada fase.
Para a redução da mortalidade infantil,
objetiva-se reduzir a mortalidade neonatal

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em 5%, reduzir em 50% os óbitos por de mamografias, conforme protocolo, e,


doença diarréica e 20% por pneumonia, realizar a punção em 100% dos casos
apoiar a elaboração de propostas de necessários.
intervenção para a qualificação da atenção
às doenças prevalentes, e, criação de 2.2.2 Gravidez de alto risco
comitês de vigilância do óbito em 80% dos
municípios com população acima de 80.000 O atendimento ou acompanhamento do
habitantes3. ciclo gravídico puerperal realizado nas
Unidades de Saúde da Família caracteriza
As metas e objetivos em prol da redução da em infinitas possibilidades de ações que
mortalidade materna definiu-se pelo Pacto fomentem pré-natal de qualidade e atenção
da Saúde: reduzir em 5% a razão da humanizada a mulher e aos seus familiares3.
mortalidade materna, garantir insumos e
medicamentos para o tratamento das No que se refere à atenção a puérpera, em
síndromes hipertensivas no parto e específico, recomenda-se que, após a alta
qualificar os pontos de distribuição de hospitalar, a mulher seja acompanhada
sangue para que atendam às necessidades juntamente com seu recém-nascido pela
das maternidades e outros locais de parto3. equipe da Unidade de Saúde. O Ministério
da Saúde preconiza que a mãe e bebê
A Política Nacional de Integração à Saúde recebam uma visita domiciliar ainda na
da Mulher, elaborado em 2007, adotou os primeira semana de puerpério. O retorno da
princípios da humanização e da qualidade mãe e do recém-nascido no puerpério deve
da atenção em saúde; objetivando reforçar o ser incentivado pela equipe desde o pré-
PAISM4. Com essa política3: natal, durante as consultas ou atividades de
educação em saúde, e também pela equipe
O Ministério da Saúde propõe da Unidade de Saúde da Família3.
diretrizes para a humanização e a
qualidade do atendimento. Toma como 2.2.3 Planejamento familiar
base os dados epidemiológicos e as
reivindicações de diversos segmentos O planejamento familiar foi criado em 2007
sociais para apresentar os princípios e e é garantido pela Constituição Federal de
diretrizes da Política Nacional de 1988 e pela Lei n. 9.263/96, e consiste em
Atenção Integral à Saúde da Mulher um conjunto de ações que auxiliam as
(p.10). pessoas que pretendem ter filhos, e aquelas
que preferem adiar o aumento da família4.
A Política Nacional de Integração à Saúde O número de filhos, o espaçamento entre
da Mulher preconizou condições eles e a escolha do método anticoncepcional
imprescindíveis para que as ações de saúde mais adequado são questões de livre arbítrio
se traduzam na resolução de problemas das pessoas, e que toda mulher, homem e/ou
identificados; na satisfação das usuárias, no casal devem ter o direito de escolher de
fortalecimento da capacidade das mulheres maneira livre e por meio da informação,
diante da identificação de suas demandas, sem discriminação, coerção ou violência3,4.
no reconhecimento e respeito aos seus
direitos e na promoção do auto cuidado11. A Política Nacional de Planejamento
Familiar envolve oferta de oito métodos
2.2.1 Câncer de mama contraceptivos gratuitos e também a venda
de anticoncepcionais a preços reduzidos na
O Pacto pela Saúde, segundo Garcia3, rede “Farmácia Popular”. Segundo dados da
contempla a meta para o controle do câncer Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde
de mama, ampliando para 60% a cobertura da Criança e da Mulher (PNDS), feita em

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2006, financiada pelo Ministério da Saúde, situação, é importante que redobrem os


a política de distribuição de meios esforços para pressionar o governo para que
anticonceptivos, gerou importante redução seja efetivado ao PAISM no país, sendo esta
no número de gravidezes indesejadas. Esse tarefa relacionada a todos aqueles que têm
fator pode ter contribuído com a queda nos interesse em promover um melhor
índices de abortos inseguros e, por atendimento às mulheres brasileiras.
conseguinte, na mortalidade.
No Brasil não há programas de políticas
A partir dessas premissas básicas, fica públicas específicos para infecção do trato
explícita a importância do trabalho da urinário, tem-se como proposta,
equipe da Estratégia de Saúde da Família desenvolver um protocolo multidisciplinar
(ESF) junto às ações de Planejamento visando promover nas unidades de pronto
Familiar. As ações da equipe devem seguir atendimento e/ou unidades de saúde, ações
na direção de dois blocos fundamentais efetivas e coordenadas para atendimento
apontados pela Política Nacional de dos casos de infecção urinária desde o
Planejamento Familiar e pelas diagnóstico, dando continuidade nas
recomendações técnicas do Ministério da primeiras medidas realizadas pela
Saúde: ações dirigidas para assistência à enfermagem, prontidão laboratorial e
anticoncepção e ações dirigidas para farmacêutica, até o tratamento até
assistência à infertilidade conjugal11. transferência do paciente para um hospital
ou seguimento na Atenção Primária à
Saúde.
No caso da Infecção Urinária, podendo ser
sintomática e assintomática, é um
importante problema de saúde por ser uma
das infecções mais frequentes na prática
clínica. No ambiente hospitalar são 4 REFERÊNCIAS
responsáveis por 40% de todas as infecções,
1. Mori, ME; Coelho, VLD; Estrella,
sendo também uma das fontes importantes
RCN. Sistema Único de Saúde e
de sepse13-15.
políticas públicas: atendimento
A maioria dos quadros de cistite e psicológico à mulher na menopausa
pielonefrite são consideradas não no Distrito Federal, Brasil. Cad
complicadas em mulheres adultas, Saúde Púb. 2006; 22(9): 1825-1833.
premenopáusicas, hígidas e não grávidas. 2. Giffin, KM. Mulher e Saúde.
No Brasil não há uma política pública Caderno de Saúde Pública, 1991;
voltada para o atendimento a infecção 7(2): 133-134.
urinária. 3. Garcia, PT. Saúde da Mulher Geral.
Brasília: UNA-SUS-Universidade
Aberta do SUS. 2013.
3 CONCLUSÃO 4. Costa, AM. Participação social na
conquista das políticas de saúde para
No discorrer do contexto, foi constatado mulheres no Brasil. Ciências &
que as políticas públicas caracterizam-se de Saúde Coletiva. 2009; 14(4): 1073-
uma luta de classes e, mesmo que foi 1083.
proposto benefícios sociais, nem sempre 5. Santos, J. Assistência à saúde da
garantem, na prática uma eficácia. Na mulher no Brasil. II Jornada
atualidade ainda prevalece o consenso de Internacional de Políticas Públicas.
que os avanços conquistados em prol da 2005. Maranhão, Brasil. São Luis:
saúde da mulher, ainda está longe de ser Universidade Federal do Maranhão.
apontado como aceitável. Diante dessa
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Programa de pós-graduação em demora: resultados da bacteriúria e


Políticas Públicas. da microbiota estudadas. Rev Col
6. Souza, GCA; Costa, ICC. O SUS Bras. 2008; 35(1): 28-33.
nos seus 20 anos: reflexões num
contexto de mudanças. Saúde e
Sociedade. 2010; 19(3): 509-517.
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ATM. O planejamento familiar no
Brasil no contexto das políticas
públicas de saúde: determinantes
históricos. Revista da Escola de
Enfermagem. 2000; 34(1): 26-36.
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abordagem da saúde reprodutiva no
Brasil. Caderno de Saúde Pública.
1998; 14(Supl 1): 25-32.
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integral à saúde da mulher à política
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bactérias causadoras de infecções
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Kobaz, AK; Silva, MNP; Lima, AR,
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urinário relacionada com a
utilização do cateter vesical de

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