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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS

HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE
Guilherme Antônio Lopes de Oliveira
Maria dos Remédios Magalhães Santos
Daniel da Costa Araújo
(Organizadores)

DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS


HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE

1.ª edição

MATO GROSSO DO SUL


EDITORA INOVAR
2023
Copyright © dos autores e das autoras.

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tribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que sem fins comerciais e que o
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tive Commons Internacional (CC BY- NC 4.0).

Guilherme Antônio Lopes de Oliveira; Maria dos Remédios Magalhães Santos; Daniel
da Costa Araújo (Organizadores). Diálogos: educação, saúde e direitos humanos na
contemporaneidade. Campo Grande: Editora Inovar, 2023. 825p. PDF

Áreas temáticas: Diversos autores.


ISBN: 978-65-5388-133-4
DOI: doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4

1. Educação. 2. Saúde. 3. Direitos Humanos. I. Oliveira, Guilherme Antônio Lopes


de. II. Santos, Maria dos Remédios Magalhães. III. Araújo, Daniel da Costa. IV. Autores.
CDD – 340

Editora-chefe: Liliane Pereira de Souza


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Capa: Juliana Pinheiro de Souza
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dade exclusiva dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da editora ou do conse-
lho editorial.
APRESENTAÇÃO

A obra “Diálogos: Educação, Saúde e Direitos Humanos na


Contemporaneidade”, vem trazendo em seu bojo resultados de acha-
dos inovadores no que se refere às pesquisas na contemporaneida-
de. Dialogar sobre os temas aqui expostos proporciona maiores refle-
xões sobre a melhoria da qualidade de vida da sociedade, uma vez
que este tripé traz conceitos basilares para que se tenha um melhor
entendimento.
São falares que se inter-relacionam em busca do mesmo fim,
ou seja, tratam do que se tem de mais sublime que é os cidadãos ten-
do conhecimento dos seus direitos e deveres e sabendo ir em bus-
ca destes benefícios com respeito e dignidade. Nesse rol, tratando-se
de Educação e Saúde, sabe-se que todos devem ter esse acesso ou,
pelo menos, conhecer as vias para ir em busca desse fim.
Refletindo sobre as propostas aqui colocadas se chegou ao
tema descrito na capa deste livro que conta com a contribuição de
muitos que, por meio de suas inquietações, conseguem trazer exce-
lentes resultados de investigação. Todos os escritos apresentados
nesta obra são resultados de pesquisas científicas e ao serem analisa-
dos trazem interpretações concisas sobre Educação, Saúde e Direitos
humanos. Como produto final, espera-se que ao ler estes textos, todos
tenham condições de evoluir como cidadãos atuantes na sociedade.
Uma boa leitura!

Profa. Me. Maria dos Remédios Magalhães Santos


(Organizadora do livro)
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 22
A APLICAÇÃO DA GUARDA COMPARTILHADA COMO INS-
TRUMENTO COIBIDOR DAS PRÁTICAS DE ALIENAÇÃO PA-
RENTAL
Allyne Aguiar Lustosa Pereira
Maria Aparecida de Sousa
Renata Rezende Pinheiro Castro
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_001

CAPÍTULO 2 38
A FAMÍLIA POLIAFETIVA E O REFLEXO NOS DIREITOS SU-
CESSÓRIO: UMA ANÁLISE REFLEXIVA
Bernardo de Souza Brandão Neto
Deyla Lima de Castro
Maria do Carmo Amaral Brito
Maria dos Remédios Magalhães Santos
Maria Lustosa de Melo
Thalisson Reinaldo Pereira Lima
Domingos Sávio Do Nascimento
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_002

CAPÍTULO 3 51
A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA E O DIREITO DE SUCESSÃO
Francisco das Chagas de Sousa Carvalho Neto
Mayra Shammya Araujo da Silva
Geilson Silva Pereira
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_003

CAPÍTULO 4 59
A FISIOTERAPIA PÉLVICA NO TRATAMENTO DAS DISFUN-
ÇÕES SEXUAIS FEMININAS NA TERCEIRA IDADE: UM ESTU-
DO DE REVISÃO
Maristella de Oliveira Machado Araujo
Ana Clara de Assis Sousa Christus
Iluska de Freitas Soares
Ana Lúcia Carvalho de Aguiar
Antonia Mykaele Cordeiro Brandão
Sandra Raquel dos Santos Sousa de Lucena
Quézia Maria da Silva Nascimento
Rute Costa Verçosa
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_004

CAPÍTULO 5 69
A IMPORTÂNCIA DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA PARA DIA-
LÓGOS SOBRE ESPECIFICIDADES DOS POVOS E POPULA-
ÇÕES DA AMAZÔNIA: BREVES REFLEXÕES
Nádile Juliane Costa de Castro
Dayanne de Nazaré dos Santos
Ezequiel Sakew Wai Wai
Letícia Barbosa de Sousa
Nyvia Cristina dos Santos Lima
Adaíde de Sousa Gomes
Ananda do Socorro Espíndola Palheta
Iago Sérgio de Castro Farias
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_005

CAPÍTULO 6 83
A IMPORTÂNCIA DOS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO
DE CONFLITOS: UMA ANÁLISE DOS PROCESSOS QUE TRAMI-
TARAM NO CEJUSC DE PIRIPIRI-PI NOS ANOS DE 2020 A 2022
Adailton Vieira do Nascimento Júnior
Gustavo Pereira Leitão
Daniel da Costa Araújo
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_006

CAPÍTULO 7 94
A INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS NO ENSINO REGULAR
Raimunda Sousa dos Santos
Ebenezer Santos da Silva
Joelma Silva Amaral Vieira
Josina Sampaio da Silva
Carolinna Martins Ferreira
Chirlene Rodovalho de Lima Viana
Elizeu de Aragão Pereira
Genilda M. da Silva de Morais
Palloma Moreira Cabral
Wérica Sousa Veloso
Silveria Maria Santos da Silva
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_007

CAPÍTULO 8 112
A INCOMPATIBILIDADE DA TEORIA DA CEGUEIRA DELIBE-
RADA COM O ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO
Paulo Gabriel Ramos Meneses
David Cerqueira
Geilson Silva Pereira
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_008

CAPÍTULO 9 126
A INFLUÊNCIA DO CRISTIANISMO NA CRIMINALIZAÇÃO DO
ABORTO
Rebeca Maria Galvão Benício Andrade
Thalia Alves Castro Oliveira
Maria Eduarda Mendes Brandão
Maria Lustosa De Melo
Thatiany Gonçalves de Melo
Renata Resende Pinheiro Castro
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_009

CAPÍTULO 10 145
A REFORMA TRABALHISTA DE 2017: UMAANÁLISE CRÍTICA
SOBRE AS NOVAS FORMAS DE CONTRATO DE TRABALHO
Flaviano Ferreira de Araújo
Marlene da Silva Cunha
Geilson Silva Pereira
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_010

CAPÍTULO 11 165
A RELEVÂNCIA DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS PARA AS FAMÍ-
LIAS BRASILEIRAS NOS TEMPOS ATUAIS: DE BENS SEMO-
VENTES A SUJEITOS DE DIREITO SEGUNDO A JURISDIÇÃO
BRASILEIRA
Gilson do Nascimento Reis Junior
Kettely Glauciely Alves Pereira
Daniel da Costa Araújo
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_011
CAPÍTULO 12 182
A RESPONSABILIDADE PENAL DO PSICOPATA A LUZ DO OR-
DENAMENTOJURÍDICO BRASILEIRO
Ana Júlia dos Santos Sousa
Rháyla de Sousa Ferreira
Daniel da Costa Araujo
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_012

CAPÍTULO 13 193
ABUSO SEXUAL INFANTIL NO AMBIENTE INTRAFAMILIAR E A
APLICAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Mikaele Santos Viana
Igor Douglas do Nascimento
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_013

CAPÍTULO 14 206
ACEITAÇÃO À INTRODUÇÃO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS
NA ALIMENTAÇÃO DOS ALUNOS DE 6º E 8º ANO DA ESCOLA
MUNICIPAL LUIZA ELISA DE MELO
Alana da Silva dos Santos
Cleidiane de Paula Silva
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_014

CAPÍTULO 15 217
ADOLEQUÊ: PROMOÇÃO DA SAÚDE POR MÍDIAS SOCIAIS
PARA ADOLESCENTES.
Gisele Monteiro Viana
Jonathan Rodrigo Santos da Silva
Ingred Costa de Lima
Evilyn Lilian Sampaio de Paiva
Domingos Pinto Pimentel
Danrley Roberto Lima Carvalho
Fabricio Viana Prestes
Vanessa Jhulyana Alves Nascimento
Erica Souza da Silva
Tarciso Feijó da Silva
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_015
CAPÍTULO 16 232
AS AUDIÊNCIAS NA PANDEMIA E O JUÍZO 100% DIGITAL
Antônio Pedro do Nascimento Medeiros
Aryellen Fernandes Brito Vasconcelos
João Victor Araújo Barros
Thatiany Gonçalves de Melo
Luana da Cunha Lopes
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_016

CAPÍTULO 17 243
AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DE ACESSO AO BPC IDOSO
NO INSS DIGITAL
Ellen Camyla da Silva
Maria Jakelline Silva Alves
Renata Rezende Pinheiro Castro
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_017

CAPÍTULO 18 257
ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO DA DIABETES MELLITUS
Messias de Carvalho Borges
Erick Patrick Silva Souza
Francisco Adalberto da Rocha Filho
José Willyam Fontenele de Moraes
Larissa Kawany Silva Mariano
Emília Vittoria Oliveira Gomes
Francisco Alves Pessoa Júnior
Maria Eduarda Soares de Sousa
Victor Manuel Fernandes Fontenele
Breno Carvalho da Silva
Guilherme Antônio Lopes de Oliveira
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_018

CAPÍTULO 19 268
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA: A IMPORTÂNCIA E EFICÁCIA DA
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA NO COMBATE AO ABUSO DE AU-
TORIDADE
Estevan Luís Silva
João Borges de Carvalho Amorim
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_019
CAPÍTULO 20 284
BPC: REQUISITOS OU CONDIÇÕES PARA CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA PARA PESSOAS
COM AUTISMO
Lígia Maria dos Santos
Noádia Silva do Nascimento
Renata Pinheiro Rezende
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_020

CAPÍTULO 21 296
CONSEQUÊNCIAS DAS SAÍDAS TEMPORÁRIAS DOS DETEN-
TOS EM DATAS COMEMORATIVAS E SUAS REPERCUSSÕES
PERANTE A SOCIEDADE
Irlla Maria Alves de Carvalho
Nubia de Sousa Batista
Lucelia Keila Bitencourt Gomes
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_021

CAPÍTULO 22 306
CRIME ORGANIZADO E SEUS IMPACTOS
Évelyn Jessamine Alves Furtado
Felipe Rodrigues Melo
Patrícia Nascimento
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_022

CAPÍTULO 23 317
CULTURA DO CANCELAMENTO: UMA ANÁLISE JURÍDICA
ACERCA DOS LINCHAMENTOS VIRTUAIS DENTRO DAS RE-
DES SOCIAIS BRASILEIRAS
Ítalo Jorge dos Reis Castro
Rafael Artur Carvalho Silva
João de Deus Carvalho Filho
Lucélia Keila Bitencourt Gomes
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_023
CAPÍTULO 24 333
DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA À PRESUNÇÃO DE CULPA:
UMA ANÁLISE ATRAVÉS DO ANIME PSYCHO-PASS E A CUL-
TURA DO CANCELAMENTO NA INTERNET
Álvaro Augusto Naum Gomes Custódio
José Lucas de Melo Abreu
Francisco Eugênio Carvalho Galvão
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_024

CAPÍTULO 25 345
DIREITO DO TRABALHO: O REFLEXO DO NÃO RECONHECI-
MENTO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO PARA O TRABALHA-
DOR EMPREGADO
Vitória Maria Coêlho Ribeiro
Vandelice Morais Rocha
Geilson Silva Pereira
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_025

CAPÍTULO 26 361
DIREITO PREVIDENCIÁRIO: O INSTITUTO DA CARÊNCIA E
SUA PROBLEMÁTICA
Carmem Gean Veras de Meneses
Francisco Antônio dos Santos
Jailson Lima dos Santos
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_026

CAPÍTULO 27 376
DIREITOS DA COMUNIDADE LGBTQIAP+ NO SISTEMA CAR-
CERÁRIO BRASILEIRO: ATUAÇÃO DO ESTADO NA GARAN-
TIA DOS DIREITOS DOS EXCLUÍDOS
Iago Francisco Queiroz Rabelo
Vitor Manoel Costa de Sousa
Tiago Castelo Branco Ribeiro
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_027

CAPÍTULO 28 390
DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Aline Pimenta Motta
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_028
CAPÍTULO 29 401
DOCÊNCIA, PRECARIZAÇÃO E SAÚDE MENTAL NA PANDE-
MIA: OUTRA FACE DO MESMO PROBLEMA
Ewelem Silva de Sousa
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_029

CAPÍTULO 30 412
EFEITOS DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS NA PROPAGAÇÃO
DAS MICOSES SUPERFICIAIS
Erick Patrick Silva e Sousa
Francisco Adalberto da Rocha Filho
Jacob Mateus Santos e Silva
José Willyam Fontenele de Moraes
Matheus Oliveira Carvalho Sousa
Messias de Carvalho Borges
Walter Fabrício
Wellington Lopes Barroso de Araújo
Wilbert Alves de Oliveira
Guilherme Antônio Lopes de Oliveira
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_030

CAPÍTULO 31 421
EXCESSO DE BARULHO NAS IGREJAS EVANGÉLICAS: UM
DEBATE ENTRE O DIREITO AO SOSSEGO E A LIBERDADE
RELIGIOSA
Aluísio Francisco Oliveira de Sousa
Lucélia Keila Bitencourt Gomes
João de Deus Carvalho Filho
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_031

CAPÍTULO 32 436
EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA: A EXPERIÊNCIA DO
SEMINÁRIO INTEGRADO DE INCLUSÃO
Ana Isabel Reis Nascimento
Valdirene Santos Rocha Sousa
Emile Assis Miranda Oliveira
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_032
CAPÍTULO 33 453
FONOAUDIOLOGIA E A ATUAÇÃO ESCOLAR
Luís Augusto Antunes
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_033

CAPÍTULO 34 463
INVESTIGAÇÃO PELA DEFESA: É POSSÍVEL A INSTITUCIO-
NALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO PELA DEFESA DO DIREITO
BRASILEIRO?
Rita Melissa Araujo Silva
Ana Beatriz de Andrade Martins
Estela de Oliveira da Silva
Francisco das Chagas Gomes Ferreira
Mayra Dakielly de Jesus Oliveira
Carlos Henrique Sousa
Beatriz Fontenele Santos
Taynan Temistocles Fernandes de Lima
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_034

CAPÍTULO 35 476
JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE PÓS-PANDEMIA:
UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DO DIREITO
Iza Maria Carmo Lins
Lariza Késsia Ximendes Pereira.
Lucélia Keila Bitencourt Gomes
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_035

CAPÍTULO 36 492
JUSTIÇA RESTAURATIVA NO ÂMBITO DO DIREITO DE FAMÍ-
LIA: AS POTENCIALIDADES E DESAFIOS DAS POLÍTICAS DE
PACIFICAÇÃO SOBRE A PENSÃO ALIMENTÍCIA
Alane Oliveira Lima
Maura Jeane Monteiro de Araújo
Sérgio Roberto Araújo
Francisco Eugênio Carvalho Galvão
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_036
CAPÍTULO 37 509
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E SEUS LIMITES NO BRASIL:
UMA ANÁLISE DOS CASOS DANIEL SILVEIRA E ROBERTO
JEFFERSON (2021-2022)
Carlos Eduardo Moraes de Meneses
Rômulo Oliveira Paz
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_037

CAPÍTULO 38 525
MASTITE BOVINA: NATUREZA INFECCIOSA E IMPACTOS NA
PRODUÇÃO LEITEIRA
João Inácio Ferreira de Sousa Neto
Guilherme Antônio Lopes de Oliveira
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_038

CAPÍTULO 39 539
O ACESSO E A PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES NEGROS
NOS CURSOS DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO TOCANTINS (2014-2021)
Larissa Oliveira Sousa
Rafaela Brito da Silva
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_039

CAPÍTULO 40 555
O ANALFABETISMO DIGITAL COMO UM OBSTÁCULO PARA O
SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
Pedro Carneiro Brasil
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_040

CAPÍTULO 41 572
O ATO INTERDISCIPLINAR: PRÁTICAS EDUCACIONAIS DA
ESCOLA DO CAMPO
Ebenezer Santos da Silva
Raimunda Sousa dos Santos
Joelma Silva Amaral Vieira- UEMA
Josina Sampaio da Silva
Carolinna Martins Ferreira
Chirlene Rodovalho de Lima Viana
Elizeu de Aragão Pereira
Genilda M. da Silva de Morais
Palloma Moreira Cabral
Wérica Sousa Veloso
Silveria Maria Santos da Silva
Francisca Patrícia Pereira Teles
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_041

CAPÍTULO 42 590
O AUMENTO NOS NÚMEROS DE CASOS DE DIVÓRCIO DU-
RANTE A PANDEMIA DA COVID-19 NO CEJUSC DE PIRIPIRI – PI
Francisco Vinicio Oliveira Ferreira
Jefferson Silva
Geilson da Silva Pereira
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_042

CAPÍTULO 43 607
O IMPACTO DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL APLI-
CADO À COMARCA DE ESPERANTINA -PI
Jônatas Rodrigues Valério
Pablo Kevin Santos Silva
Tiago Castelo Branco Ribeiro
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_043

CAPÍTULO 44 623
O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA NO PROCESSO ADMINISTRATI-
VO PREVIDENCIÁRIO
Marielza Ruani Silva de Araújo
Manoel Gabriel Pereira Melo
Renata Rezende Pinheiro Castro
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_044

CAPÍTULO 45 641
O TRATAMENTO PENAL AO CRIME DE ASSÉDIO SEXUAL, E
A SUA INOBSERVÂNCIA AO PRÍNCIPIO DA PROPORCIONA-
LIDADE DAS PENAS: O CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO
COMO GENÊSIS DO PROBLEMA
Carlos Eduardo Isaias Sousa
Sandro Lúcio da Silva Paulino
Patrícia Pereira do Nascimento
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_045
CAPÍTULO 46 655
OS IMPASSES DA ACADEMIA: CLIENTELISMO E AUTORITA-
RISMO DA PRÁTICA DOCENTE NA PÓS-GRADUAÇÃO STRIC-
TO SENSU
Maxmiliano Martins Pinheiro
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_046

CAPÍTULO 47 665
PACIENTE COM INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO COM POS-
SÍVEL FARMACODERMIA INTERNADO EM UM HOSPITAL DE
REFERÊNCIA CARDIOVASCULAR: UM RELATO DE CASO
Gabriel Nojosa Oliveira
Maria Carolina Marinho de Andrade Gonçalves
Gabriela Miranda de Castro
Lorena Vasconcelos Viana
Paula Burlamaqui Castello Branco Melo
Wiviane Aparecida Dias Lopes
Maria Jhéssica Almeida Carneiro
Juarez Alves de Souza Neto
Mônica de Vanessa Miranda de Castro
Kenneth Candeira Sampaio
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_047

CAPÍTULO 48 674
PERCEPÇÃO DOS IDOSOS ACERCA DO ENVELHECIMENTO
NA CONTEMPORANEIDADE
Francisco Airton Ramos da Silva
Raimunda Nonata da Silva
Sabrina Beatriz Mendes Nery
Guilherme Antônio Lopes de Oliveira
Carliane Maria de Araujo Souza
Evaldo Sales Leal
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_048

CAPÍTULO 49 689
PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO: A IMPORTÂNCIA DO TESTA-
MENTO NOS DIAS ATUAIS
Bernardo de Souza Brandão Neto
Deyla Lima de Castro
Maria do Carmo Amaral Brito
Maria dos Remédios Magalhães Santos
Maria Lustosa de Melo
Patrícia Pereira do Nascimento
Thalisson Reinaldo Pereira Lima
Domingos Sávio Do Nascimento
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_049

CAPÍTULO 50 706
PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ESCOLA PARA ADOLESCENTES
DA REGIÃO NORTE DO BRASIL
Gisele Monteiro Viana
Arthur Filocreão dos Santos Oliveira
Ingred Costa de Lima
Evilyn Lilian Sampaio de Paiva
Domingos Pinto Pimentel
Danrley Roberto Lima Carvalho
Armindo de Jesus Andrade Neto
Fabricio Viana Prestes
Vanessa Jhulyana Alves Nascimento
Tarciso Feijó da Silva
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_050

CAPÍTULO 51 720
PRÓ-SAÚDE: GINÁSTICA RÍTMICA
Camile Baldoni de Oliveira
Gisele Costas dos Santos
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_051

CAPÍTULO 52 729
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Jaqueline Rodrigues Barroso
William Silva Sampaio do Nascimento
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_052
CAPÍTULO 53 743
SAÚDE MENTAL DO PROFESSOR EM TESES E DISSERTA-
ÇÕES EM PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCA-
ÇÃO NO BRASIL: UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
Maria Jenuzia Rodrigues Barros
Thaysa Santos Oliveira
Adilson Rocha Ferreira
Deise Juliana Francisco
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_053

CAPÍTULO 54 760
TERAPIA OU TORTURA: CONSEQUÊNCIAS PSICOJURÍDI-
CAS DA PRÁTICA DE CONVERSÃO SEXUAL OU CURA GAY
NO BRASIL
Aluísio Francisco Oliveira de Sousa
Iara Maria Damasceno Fontenele
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_054

CAPÍTULO 55 772
UMA VISÃO JURÍDICA E SOCIAL DA ENTREGA VOLUNTÁRIA
DE CRIANÇAS PARA ADOÇÃO LEGAL NO BRASIL
Juliana Maria de Oliveira
Victória Cristina de Oliveira Gomes
Daniel da Costa Araújo
Maria dos Remédios Magalhães Santos
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_055

CAPÍTULO 56 788
UNIÃO ESTÁVEL E SEUS EFEITOS SUCESSÓRIOS
Milton Magalhães Silva
Francisco Eduardo Escorcio Gomes
Luana da Cunha Lopes
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_056
CAPÍTULO 57 804
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E IDENTIDADE: AS EXPERIÊNCIAS
PERPASSADAS PELAS MULHERES INDÍGENAS E IMPOSSIBI-
LIDADES DISCURSIVAS SOBRE A QUESTÃO
Rafael Vieira de Britto Paulino
Maria Luciene da Silva
Danielle da Silva Santos
doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-133-4_057

SOBRE OS ORGANIZADORES 819

ÍNDICE REMISSIVO 822


DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 22

CAPÍTULO 1

A APLICAÇÃO DA GUARDA COMPARTILHADA


COMO INSTRUMENTO COIBIDOR DAS PRÁTICAS
DE ALIENAÇÃO PARENTAL

THE USE OF SHARED CUSTODY AS AN INSTRUMENT


TO PREVENT PARENTAL ALIENATION PRACTICES

Allyne Aguiar Lustosa Pereira


Christus Faculdade do Piauí
Piripiri - Piauí
allyne-aguiar@hotmail.com
ORCID: 0009-0001-6039-3745

Maria Aparecida de Sousa


Christus Faculdade do Piauí
Piripiri - Piauí
aparecida.maria.sousaaaaa@gmail.com
ORCID: 0009-0006-9686-519X

Renata Rezende Pinheiro Castro


Christus Faculdade do Piauí
Piripiri - Piauí
rezenderenata@hotmail.com
ORCID: 0000-0002-9099-3020

RESUMO
A alienação parental constitui uma prática humana bastante obser-
vada com o fim dos relacionamentos, prejudicando em maior grau a
criança e adolescente que é alienado. A problemática que norteou a
presente pesquisa concentra-se em entender como a guarda compar-
tilhada auxilia no processo de combate à alienação parental. O obje-
tivo central deste estudo é compreender a relação existente entre a
aplicação do sistema de guarda compartilhada e o controle das práti-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 23

cas de alienação parental. Já especificadamente, objetiva-se analisar


a indicação dos benefícios do sistema de guarda compartilhada, com-
parar os sistemas de guarda compartilhada e unilateral, bem como
também compreender como se dá a proteção do sistema de guar-
da pelo ordenamento pátrio brasileiro. A metodologia empregada para
este estudo constitui em uma análise bibliográfica. Observou-se que a
manutenção de uma convivência mútua por meio da guarda comparti-
lhada fortalece o desenvolvimento dos filhos, bem como também pre-
serva o senso de responsabilidade dos pais e constitui uma excelente
estratégia para combater as práticas de alienação parental, garantin-
do ainda o melhor interesse dos filhos.
Palavras-chave: Alienação Parental; Guarda Compartilhada; Melhor
Interesse; Criança; Adolescente;

ABSTRACT
Parental alienation is a human practice quite observed with the end
of relationships, harming to a greater degree the child and adolescent
who is alienated. The problem that guided this research focuses on un-
derstanding how shared custody helps in the process of combating pa-
rental alienation. The main objective of this study is to understand the
relationship between the application of the shared custody system and
the control of parental alienation practices. Specifically, the objective is
to analyze the indication of the benefits of the shared custody system,
to compare the shared and unilateral custody systems, as well as to
understand how the protection of the custody systems by the Brazilian
national order takes place. The methodology used for this study consti-
tutes a bibliographical analysis. It was observed that the maintenance
of a mutual coexistence through shared custody strengthens the de-
velopment of the children, as well as preserving the sense of respon-
sibility of the parents and constitutes an excellent strategy to combat
the practices of parental alienation, still guaranteeing the best interest
of the children.
Keywords: Parental Alienation; Shared Guard; Best Interest; Child;
Adolescent
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 24

1 Introdução

Com o passar dos anos, o conceito de família sofreu grandes


mudanças na busca de acompanhar a evolução da sociedade, que
deixou de enxergá-la apenas como uma união formada através do ca-
samento heteroafetivo, passando a integrar, na contemporaneidade,
os mais diversos arranjos familiares. Antes da Constituição Federal de
1988, o vínculo biológico era indispensável para o reconhecimento da
existência da família, entretanto após o advento dela, abriu-se espaço
para que o vínculo da afetividade passasse a fazer parte da definição
do que se entende por família.
Contudo, muito embora as composições familiares tenham se
ampliado com objetivos harmônicos, persistem, ainda, os problemas
que versam sobre o seio familiar, em decorrência de relações que não
são pautadas no amor, respeito e afeto. Assim, observa-se que inúme-
ros são os conflitos oriundos dessa problemática relacional, principal-
mente, quando a sociedade conjugal é dissolvida, ou seja, quando a li-
berdade de autodeterminação afetiva de ambos é priorizada e a união
é desfeita. (MONTENUZA e PEREIRA, 2017).
Neste cenário de dissolução da sociedade conjugal, vários são
os problemas a serem combatidos pelos integrantes da família. A títu-
lo de exemplificação, cita-se a alienação parental, como sendo este o
objeto central de análise do presente estudo. De acordo com Katari-
ne Vanderlei Toso:

A alienação parental é consequência de uma ruptura da


vida comum, que por algum motivo, trouxe para um dos
cônjuges um sentimento de traição, de raiva, ou vingan-
ça, instigando uma cruzada difamatória para que o filho
do casal alimente em si toda a frustração e impotência
diante do término do casamento. (2002, p. 1).

Assim sendo, pode-se observar que existem práticas de aliena-


ção nas situações em que um dos cônjuges ou até mesmo os avós e
demais parentes envolvidos, passam a aderir às práticas de alienação
parental e desta forma acabam colocando os filhos no meio das dis-
putas. Ainda de acordo com TOSO (2002), a criança ou adolescente
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 25

passa a ser visto como moeda de troca dos sentimentos de inveja, ci-
úmes, raiva e possessão que ainda perduram sobre o relacionamento
findado entre os seus pais.
Nesse contexto, e com o objetivo de minimizar os danos sofri-
dos pelo menor alienado, bem como também pelos seus pais ou res-
ponsáveis, o legislador pátrio se utiliza de ferramentas como a lei n
12.318/2010, investida com o título de lei da alienação parental e do
instituto da guarda compartilhada, sendo este último considerado um
meio bastante eficaz quando implantado de maneira racional e coe-
rente, tendo em vista que possibilita que o menor tenha uma convi-
vência familiar saudável com ambos os pais e demais familiares res-
ponsáveis ou não, e desta forma conserva-se os vínculos afetivos e
de intimidade.
Entende-se por “guarda de filhos”, com base nos ensinamentos
de Farias e Rosenvald (2022), como sendo um poder-dever de preser-
var a criança ou adolescente no aconchego do lar, enquanto são me-
nores e desde que não sejam emancipados, provendo ainda, uma as-
sistência efetiva de cunho moral, material e educacional.
A esse respeito, a legislação civil em vigência institui como mo-
delos de guarda civil de menores, a guarda unilateral e a compartilha-
da. De forma bem sugestiva, os termos referem-se, respectivamente,
a um sistema de guarda onde o menor é mantido e recebe assistên-
cia ininterrupta por um dos seus responsáveis, enquanto o outro se
traduz em um sistema de revezamento das responsabilidades de for-
ma constante e organizado, o que promove ao menor uma dupla con-
vivência contínua com aqueles que são os seus responsáveis legais.
(FARIAS, 2022).
Mediante ao exposto, indaga-se: Como a guarda compartilha-
da auxilia no processo de combate à alienação parental? De certa for-
ma, presume-se que a alternância de convivência proporcionada pelo
sistema de guarda compartilhada proporciona um desenvolvimento da
criança ou adolescente de forma mais saudável e livre de práticas de
alienação, bem como considera-se uma aplicação engessada do sis-
tema de guarda, aquela que emprega rigidez no aspecto unilateral, ge-
rando o seu potencial o risco de retardar o desenvolvimento pleno da
criança ou adolescente.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 26

Entende-se por objetivo geral de um estudo, aquele que é o


alvo central de alcance de todas as reflexões e análise dos dados co-
letados realizados. Para o presente estudo, o objetivo central se vin-
culou ao interesse de compreender a relação existente entre a aplica-
ção do sistema de guarda compartilhada e o controle das práticas de
alienação parental.
Ademais, observa-se que várias podem ser as ramificações de-
correntes do aprofundamento no tema escolhido para este trabalho.
Ainda, de forma específica, pode-se dizer que se almeja analisar a re-
lação de causa e efeito das práticas de alienação parental, a indicação
dos benefícios do sistema de guarda compartilhada, comparar os sis-
temas de guarda compartilhada e unilateral, bem como também, com-
preender como se dá a proteção dos sistemas de guarda pelo ordena-
mento pátrio brasileiro.
No que concerne à justificativa do estudo, compreende-se que
a função social da presente pesquisa é trazer à baila, assuntos de âm-
bito familiar que constantemente são colocados em pauta nas discus-
sões sociais como um todo, desde as mais informais, compreendida
nas discussões havidas internamente no seio familiar, como também
aos ambientes mais formais existentes na sociedade, como por exem-
plo, o Poder Judiciário, os projetos de lei levados ao Poder Legislati-
vo, as ações do Poder Executivo e as conferências e instituições na-
cionais e internacionais que versam sobre direitos humanos, proteção
e direitos da criança e do adolescente.
A presente pesquisa inclui uma análise bibliográfica direcionada
ao Direito de Família, aprofundando-se na análise dos institutos da guar-
da compartilhada e da alienação parental. Nesta esteira, para alcançar
tais objetivos, utilizou-se da doutrina (incluindo autores clássicos e mo-
dernos), legislações vigentes e mais antigas que versem sobre a maté-
ria, as decisões, os julgados e demais elementos jurisprudenciais relati-
vos ao tema, artigos e resumos críticos disponíveis em sítios eletrônicos
de revistas jurídicas ou de demais áreas das ciências humanas. Ademais,
sobre o uso de tais fontes para pesquisas científicas, têm-se o seguinte:

A pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias, abran-


ge toda bibliografia já tornada pública em relação ao
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 27

tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jor-


nais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, ma-
terial cartográfico etc., até meios de comunicação orais:
rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes
e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em
contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado
sobre determinado assunto, inclusive conferências segui-
das de debates que tenham sido transcritos por alguma
forma, querem publicadas, quer gravadas. (LAKATOS,
2003, p. 183)

Logo, a pesquisa de cunho bibliográfico mostra sua importân-


cia quando aprofunda a análise de institutos específicos, como é o
caso proposto no presente trabalho.
Embora existam vários estudos já publicados, o tema não se
esgota, uma vez que a liberdade acadêmica possibilita a análise de te-
mas já analisados de forma diferente, com novas descobertas e novas
interpretações, fazendo-se uso de escritos e registros de outros pes-
quisadores e estudiosos da área jurídica.

2 A Proteção da Família no Ordenamento Jurídico Brasileiro

A ciência do direito ganhou mais efetividade prática quando fo-


ram superadas as prisões do pensamento positivista. O momento do
pós-positivismo marcou o Direito pela necessidade de valorizar mais
as questões sociais fáticas que não necessariamente estão descritas
nos ordenamentos.  Em termos diretos, pode-se dizer que o alcance
da função social é essencial para todos os institutos jurídicos definidos
por lei, não sendo diferente com o direito de família. (FARIAS e RO-
SENVALD, 2022).
A esse respeito, cita-se: “A aplicação da norma familiarista tem
de estar sintonizada com o tom garantidor e solidário da Constituição
Federal, garantindo a funcionalidade de seus institutos”. (FARIAS e
ROSENVALD, 2022, p. 136). É certo que com o advento do novo mo-
delo constitucional de 1988, várias foram as mudanças positivas em
todas as searas do direito brasileiro. No Direito Civil, acrescenta-se,
ainda, o Código Civil de 2002, que teve a sorte de ser investido pela
nova constituição. Tamanha repercussão positiva pode ser vista pela
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 28

preocupação do código civil em vigência no tocante à dignidade da


pessoa humana. 
Neste mesmo sentido, cita-se o artigo 1.589 do atual Código
Civil, in verbis: “o direito de visita estende-se a qualquer dos avós, a
critério do juiz, observando os interesses da criança ou do adolescen-
te”. Tamanha maturidade trazida pela nova norma cível pode ser clara-
mente observada pela defesa dos direitos dos avós, da realização de
visitas avoengas, o que melhorou a realidade de milhares de crianças
e adolescentes. (BRASIL, 2002).
Além disso, a ordem de garantia da dignidade humana tam-
bém é bem vista com a garantia da gratuidade na habilitação do casa-
mento, instituída pela lei cível vigente, que de acordo com Silvio Rodri-
gues, tal medida de desonerar os pobres de quaisquer custas para o
casamento é essencial em um país onde a desigualdade financeira é
gritante, visto que isso não incentiva ninguém a casar, mas tão somen-
te garante, aos que querem e que são miseráveis na forma da lei, que
possam ter os seus direitos mínimos, garantidos. (2000, p.10).  
Maior exemplo pode-se dar ainda, com a possibilidade de ca-
samento de pessoas do mesmo sexo, bem como também de conces-
são de adoção de crianças e adolescentes a casais homoafetivos. 
Além destes, cita-se o artigo 227 da Carta Magna dispõe que: 

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar


à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prio-
ridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educa-
ção, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comu-
nitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negli-
gência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.  (BRASIL, 1988). 

O artigo supracitado adveio da Emenda Popular nº 65 de 2010,


que reforçou o pacto constitucional de proteção integral do infanto-
-juvenil. É certo mencionar também, que movimentos internacionais
como a Convenção Internacional dos Direitos da Criança (acolhida
pelo Brasil) reafirmaram tal propósito.
Portanto, nota-se expressiva a evolução do ordenamento pátrio
sobre direito de família ao longo dos tempos, expressivamente após
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 29

o final do século XX, mudança positiva essa que resultou de um novo


modelo constitucional moderno, que prioriza a dignidade humana, aci-
ma de tudo. Dessa forma, é muito importante que os institutos jurídi-
cos vinculados ao Direito de Família também evoluam os seus concei-
tos e regras, priorizando pela garantia da dignidade humana e aten-
dendo aos interesses da norma orientadora, como ocorreu com o insti-
tuto da guarda, que teve as suas regras modificadas ao longo do tem-
po, sendo esta a temática abordada por este estudo.

3 A Guarda Compartilhada

O termo “guarda” no ordenamento brasileiro possui duplo senti-


do, a depender da situação ensejadora, podendo se tratar de guarda de
filhos e guarda de terceiros, sendo esta última, comumente tratada por
colocação de menor sob a guarda de família substituta. Independente-
mente de qual seja a modalidade, é válido pontuar que o Ministério Pú-
blico tem legitimidade ativa para defesa dos menores, por força do prin-
cípio da intervenção precoce do Estado nas questões que envolvem di-
reitos de crianças e adolescentes. (FARIAS e ROSENVALD, 2022).
Perfeitamente, já se posicionou sobre o tema, o Ministro Antô-
nio Carlos Ferreira, quando definiu em decisão judicial que: “Importante
destacar que a guarda representa mais que um direito dos pais em ter
filhos próximos. Revela-se, sobretudo, como um dever de cuidar, de vi-
giar e de proteger os filhos próximos, em todos os sentidos, enquanto
necessária tal proteção”. (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2015). 
Especificamente, o direito civil brasileiro atual estabelece duas
espécies de guarda de menores, a unilateral e a compartilhada. Im-
portante salientar que a guarda compartilhada não foi introduzida em
2002 pelo novo código civil, mas apenas em 2008, pela lei 11.698 e re-
gulamentou acerca da matéria relativa ao compartilhamento da guar-
da dos menores pelos pais em razão da separação.
Como os termos já sugerem, a guarda unilateral é aquela exer-
cida por apenas um dos pais, prestando os cuidados com o menor de
forma exclusiva, de modo que o outro pai ou mãe responsável man-
terá a qualidade de alimentante, provendo a parte material de forma
mais acentuada que o primeiro, podendo também realizar visitas, sen-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 30

do estas programadas e de forma eventual. Em ambos os casos, a es-


colha do modelo deve levar em conta, primordialmente, a garantia do
melhor interesse do menor. Ao contrário do que muitos falam informal-
mente, nenhum modelo de guarda gera a perda do poder de família a
nenhum dos pais. (FARIAS e ROSENVALD, 2022, p. 136).
Observa-se então, que a escolha do modelo de guarda não será
feita com base na situação litigiosa ou pacífica dos pais do menor após
dissolução da entidade conjugal. Ressalta-se que o modelo de guarda
é escolhido com base no melhor interesse da criança ou adolescente. A
guarda é do menor e para o menor. Como bem pontua Waldyr Grisard Fi-
lho, “não é o litígio que impede a guarda compartilhada”. (2002, p. 205). 
Assim, pode-se observar que o modelo de guarda compartilha-
da é uma oportunidade valiosa da criança ou adolescente permanecer
convivendo com toda a sua família mesmo após a cessação da união
de seus pais, vez que os laços familiares não cessam, portanto, preci-
sam ser alimentados, e isso se faz por meio de uma boa convivência e
aproximação com a família inteira, o que faz bastante diferença no de-
senvolvimento intelectual e emocional.
A bela canção “Pra você guardei o amor” de José Fernando
Gomes dos Reis reforça bem sobre a afetividade familiar:

Pra você guardei o amor que aprendi vendo os meus


pais, o amor que tive e recebi, e hoje posso dar livre e
feliz, céu cheiro e ar na cor que arco-íris, risca ao levitar
(REIS, 2009). 

Logo, é inquestionável que a família seja a primeira escola de


todo ser humano. Os ensinamentos de casa repercutem durante toda a
vida e desenvolvimento das pessoas. A moral, os valores e bons costu-
mes, e o respeito são as lições humanas mais importantes, e é no ber-
ço familiar que todas essas questões são trabalhadas e repassadas.

4 A Alienação Parental

Ao abordar o tema alienação parental, é importante pontuar


que as primeiras manifestações sobre tal tema foram feitas pelo psi-
quiatra norte-americano de nome Gardner. Pelos seus estudos, foi
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 31

identificado que os casais, muitas vezes, não conseguem lidar muito


bem com o divórcio, e que quando os conflitos e discussões são corri-
queiras, um dos pais ou ambos tendem a fazer campanha de rejeição
contra o outro, no sentido de promover a sua negativação perante os
filhos menores. Com base nesta análise, o pesquisador caracterizou
como a Síndrome da Alienação Parental, considerando os efeitos ge-
rados aos menores. (MONTEZUMA, PEREIRA, MELO, 2017, p.1206).
Dessa maneira, o avanço do direito de família, no tocante às
novas definições de guarda de crianças e adolescentes, teve forte in-
fluência dos fatores psicossociais que envolvem a convivência entre
pais e filhos. Tal preocupação ganhou amparo pelo ordenamento, que
como já mencionado, preocupa-se com a socialização e a garantia do
melhor interesse do menor, enquanto pessoa em desenvolvimento.
Por meio da lei n º 12.318 de 2010, a temática da alienação pa-
rental ganhou uma tutela especial, vez estarem positivados os com-
portamentos que são considerados atos de alienação parental. Gros-
so modo, pode-se dizer que são todos aqueles que interferem na for-
mação psicológica do menor, promovida ou induzida por um dos pais,
pelos avós ou pelos que tenham a guarda da criança ou adolescen-
te ou vigilância, para que repudie o genitor ou que cause prejuízos ao
relacionamento e vínculos com este. O artigo 2º da referida lei definiu
em um rol exemplificativo as situações de alienação:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de aliena-


ção parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou
constatados por perícia, praticados diretamente ou com
auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualifi-
cação da conduta do genitor no exercício da paternida-
de ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade
parental; III - dificultar contato de criança ou adolescen-
te com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regu-
lamentado de convivência familiar; V - omitir deliberada-
mente a genitor informações pessoais relevantes sobre
a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas
e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denún-
cia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós,
para obstar ou dificultar a convivência deles com a crian-
ça ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local dis-
tante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 32

da criança ou adolescente com o outro genitor, com fami-


liares deste ou com avós. (BRASIL, 2010).

Conforme determinado pela legislação, várias são as práticas


capazes de gerar a alienação parental, bem como também várias são
as consequências que podem ser desencadeadas com tais práticas.
“Na alienação parental um dos genitores tenta afastar o filho do outro,
por raiva ou vingança, podendo resultar em problemas emocionais,
psicológicos e mudanças comportamentais, tais como, atitudes violen-
tas e depressão”. (SOUSA, 2017, p. 23).
Nesse contexto, é imprescindível que a sociedade, como um
todo, esteja sempre atenta às práticas de alienação, uma vez que con-
forme discutido, estas são capazes de gerar efeitos muito maiores do
que se espera, desde uma simples repulsa ao outro genitor ou família,
até a tomada de decisões e atitudes agressivas e violentas, manifes-
tadas durante qualquer fase da vida.

5 A relação entre a Guarda Compartilhada na Redução das Con-


dutas de Alienação Parental

Conforme é previsto pela legislação vigente, “o juiz, a requeri-


mento ou de ofício, em ação autônoma ou incidental, com a participa-
ção do Ministério Público, deve tomar as medidas necessárias, bus-
cando a proteção do menor no caso concreto”. (VENOSA, 2017, p.
341). Várias são as ponderações que podem ser feitas pelos magis-
trados na busca pelo melhor interesse das crianças e adolescentes
em processos judiciais, dentre elas, a correta indicação da modalida-
de da guarda.
O fim de relacionamento é, na grande maioria das vezes, um
período conturbado, podendo gerar diversas repercussões na vida
das partes envolvidas. A existência de filhos torna todo esse processo
mais complicado, uma vez que os ex-cônjuges ou companheiros não
poderão se desvincular por completo, em uma espécie de recomeço,
uma vez que daquela relação findada ainda se necessita do diálogo,
compreensão e respeito para a condução e criação dos filhos, quan-
do estes ainda são crianças ou adolescentes. (SOUSA, 2017, p. 27).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 33

Para Madaleno, é ideal que as relações de amor, cuidado e afe-


to dos genitores para com os filhos sigam íntegras, mesmo após a se-
paração do casal. (2017). As decisões de separação assumidas pelos
adultos não podem interferir na relação destes com os filhos, uma vez
que as paternais e maternais devem ser preservadas, pois são mui-
to importantes para o desenvolvimento pessoal das crianças e adoles-
centes.
Diferente disso, caso os genitores assumam uma postura de
vingança e remorso, podem acabar prejudicando o desenvolvimen-
to dos filhos, além de incorrerem em práticas de alienação parental,
das quais a maior vítima da história será sempre a criança ou adoles-
cente. O ordenamento jurídico reafirma o uso da guarda compartilha-
da como método capaz de preservar a criança e ao adolescente, mi-
nimizando potencialmente as práticas de alienação parental, uma vez
que o amor e o respeito entre pais e filhos é preservado pela frequen-
te convivência.
A lei 11.698 de 2008 aconselhava o Magistrado para a aplicação
da guarda compartilhada sempre que possível, no entanto a condiciona-
va à aceitação mediante acordo dos pais, ou seja, o critério final era sem-
pre a conveniência e interesse dos pais. Por outro lado, e mais recente, a
lei 13.058 de 2014 modificou o entendimento sobre essa matéria, indican-
do que a guarda compartilhada deve ser aplicada independentemente do
consentimento dos pais, desde que haja possibilidade e que seja compro-
vada que esta é a melhor escolha para a criação dos filhos.
Vários questionamentos já se desdobraram acerca da referida
alteração normativa, tanto pela doutrina como pela jurisprudência. A
desvinculação do consentimento dos pais para a aplicação da guarda
compartilhada é um fator que possui muita repercussão em processos
judiciais de guarda, e não apresenta soluções objetivas, uma vez que a
realidade dos pais sempre interfere na aplicação e definição da guarda.

O direito não tem o condão de impor condutas ao psi-


quismo humano e não pode obrigar o indivíduo a pen-
sar, agir ou nutrir sentimentos dessa ou daquela maneira;
mas pode corrigir distorções nas relações jurídicas e vin-
cular os atores sociais ao respeito à norma jurídica (DU-
QUE e PEDRA, 2012, p. 36).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 34

Interessante é o posicionamento supracitado, uma vez que


através dele é possível concluir que o intuito do legislador brasileiro
quando da edição da Lei nº 13.058 de 2014 não é exigir a preserva-
ção do amor e afeto entre pais e filhos, mas sim, evitar que crianças e
adolescentes sejam vítimas de práticas configuradas como alienação
parental, resultantes da adoção de um sistema de guarda que aprisio-
na os filhos a uma realidade, ideia e convivência limitante e prejudicial
ao seu desenvolvimento. Ainda sobre a importância de compartilhar os
cuidados dos filhos, tem-se que:

[...] compartilhar a custódia é seguir pura e simplesmen-


te exercendo suas funções como pais, da mesma forma
como faziam quando coabitavam e exerciam os atos pró-
prios e inerentes ao poder familiar, com a diferença de
que estando os pais separados passam a existir dois do-
micílios, mas, de qualquer forma, a essência da guarda
compartilhada nunca partiu da ideia de dividir os filhos
em igual proporção de tempo, mas, sim, de que os pais
cobrissem as necessidades dos filhos exercendo sem so-
lução de continuidade o seu papel de progenitores. (MA-
DALENO e MADALENO, 2016, p. 112).

A rotatividade ou alternância faz com que ambos os pais desem-


penhem suas responsabilidades e propiciem um melhor desenvolvi-
mento para os filhos, ressalvadas as situações em que algum dos côn-
juges não possua condições físicas e psicológicas de acompanhá-los.
De acordo com Maria Berenice Dias:

Compartilhar a guarda de um filho diz muito mais com a


garantia de que ele terá pais igualmente engajados no
atendimento aos deveres inerentes ao poder familiar,
bem como aos direitos que tal poder lhe confere. A guar-
da compartilhada deve ser tomada, antes de tudo, como
uma postura, como o reflexo de uma mentalidade, segun-
do a qual pai e mãe são igualmente importantes para os
filhos de qualquer idade e, portanto, essas relações de-
vem ser preservadas para a garantia de que o adequa-
do desenvolvimento fisiopsíquico das crianças ou adoles-
centes envolvidos venha a ocorrer. (2016, p. 517).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 35

Assim, é com base nesse entendimento que se deve analisar a


importância da guarda compartilhada e como esta medida é eficiente
no controle das posturas alienantes, uma vez que preservado o con-
vívio, o diálogo e a participação direta de ambos os pais na vida dos
filhos, bem como também presumida a manutenção de uma relação
pautada no amor e no afeto, nas suas mais diversas manifestações.

5 Considerações Finais

Por meio do presente estudo, pôde-se extrair que a convivên-


cia mútua dos filhos com ambos os genitores é algo que sempre deve
ser priorizado, uma vez que corresponde ao melhor interesse, que por
sua vez é um mandamento principiológico que norteia a tomada de de-
cisões que repercutem na vida de crianças e adolescentes.
Outrossim, a alienação parental é um problema comumente
presente nas relações conflituosas de genitores separados ou divor-
ciados. Como bem pontuado por este estudo, a disputa nasce com o
fim dos relacionamentos, e os filhos são utilizados como moedas de
troca para as ofensas. Assim, são os filhos as maiores vítimas des-
sa prática, uma vez que são pessoas em desenvolvimento e forma-
ção de caráter.
Por fim, observou-se a adoção do regime de guarda comparti-
lhada, além de ser a preferência pelo atual ordenamento jurídico brasi-
leiro, é considerada como uma forte arma de combate à alienação pa-
rental, como bem pontuado por meio da doutrina e exemplificado pe-
los diversos estudos e pesquisas acerca da temática. A manutenção
de uma convivência mútua por meio da guarda compartilhada fortale-
ce o desenvolvimento dos filhos, bem como também preserva o senso
de responsabilidade dos pais, que independente de não estarem mais
unidos na forma de casal, possuem um compromisso que não cessa
com a separação, que constitui o direito e dever de cuidar da prole.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil Brasilei-


ro. Diário Oficial da União. Brasília-DF, 2002. Disponível em < http://
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 36

www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm > Aces-


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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 38

CAPÍTULO 2

A FAMÍLIA POLIAFETIVA E O REFLEXO NOS


DIREITOS SUCESSÓRIO: UMA ANÁLISE REFLEXIVA

THE POLIAFECTIVE FAMILY AND THE REFLECTION


ON INHERITANCE RIGHTS: A REFLECTIVE ANALYSIS

Bernardo de Souza Brandão Neto


UNIFACCAMP - Centro Universitário Campo Limpo Paulista
São Luís - Maranhão
https://orcid.org/0009-0008-0900-4952
bernardo@bernardobrandao.me

Deyla Lima de Castro


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0009-0002-6447-438X
deylacastro554@gmail.com

Maria do Carmo Amaral Brito


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0000-0003-3424-2158
docarmobrito@yahoo.com.br

Maria dos Remédios Magalhães Santos


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0000-0002-7066-5011
magalhaesantosjl@gmail.com

Maria Lustosa de Melo


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
http://lattes.cnpq.br/5429692759216779
marialustosa@chrisfapi.com.br
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 39

Thalisson Reinaldo Pereira Lima


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0009-0001-8491-0014
thalissonreinaldo10@gmail.com

Domingos Sávio Do Nascimento


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0000-0002-8580-8783
saviomatem@yahoo.com.br

RESUMO
Em meio ao atual cenário evolutivo do corpo social brasileiro, um tema
tem crescido proporcionalmente a esta evolução: as novas modalida-
des de família. Todavia, as chamadas relações poliafetivas têm rece-
bido pouco destaque no âmbito jurídico, sofrendo com carências le-
gislativas que regularizem e reconheçam esse novo fato social. Ante o
exposto, indaga-se quais as causas do tendente crescimento dos la-
ços poliafetivos e como o Direito Sucessório lida com essas questões?
O presente artigo científico tem como finalidade precípua salientar a
importância da discussão da temática. Ademais, traz o debate para
o campo de estudo e reflexivo, objetivando analisar meios de ampa-
ro legal no Direito das Sucessões que essa modalidade de união dis-
põe. Do mesmo modo, a presente análise busca a compreensão da
ótica jurídica das convivências poliafetivas e suas consequências no
âmbito sucessório por intermédio de pesquisa bibliográfica, trazendo
como enfoque os principais fatores do aumento das relações poligâ-
micas, tal como a ausência de garantias jurídicas para essas catego-
rias de relacionamento, como a transmissão de bens, direitos e obri-
gações em razão do evento morte. Em síntese, ressalta-se as causas
fundamentais que influenciam a visão marginalizada que a socieda-
de e o sistema jurídico possuem em relação ao assunto, corolário dos
costumes conservadores enraizados socialmente, tal como deve se
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 40

dar a instrução do processo no Direito Sucessório diante desses ca-


sos, a fim de despertar a atenção do legislativo, acadêmicos e, enfim,
a sociedade.
Palavras-chave: Sucessório; Relacionamento; Morte; Poliafetivas;
Família.

ABSTRACT
In the midst of the current evolutionary scenario of the Brazilian social
body, a theme has grown proportionally to this evolution: the new fam-
ily modalities. However, the so-called polyaffective relationships have
received little attention in the legal field, suffering from legislative defi-
ciencies that regularize and recognize this new social fact. In view of
the above, we ask what are the causes of the tending growth of polyaf-
fective ties and how does Succession Law deal with these issues?
The main purpose of this scientific article is to emphasize the impor-
tance of discussing the theme. In addition, it brings the debate to the
field of study and reflection, aiming to analyze means of legal protec-
tion in the Law of Inheritance that this type of union has. In the same
way, this analysis seeks to understand the legal perspective of polyam-
orous relationships and their consequences in the sphere of succes-
sion through bibliographical research, focusing on the main factors of
the increase in polygamous relationships, such as the absence of le-
gal guarantees for these categories relationship, such as the transmis-
sion of goods, rights and obligations due to the death event. In sum-
mary, the fundamental causes that influence the marginalized view that
society and the legal system have in relation to the subject are high-
lighted, a corollary of socially rooted conservative customs, as should
the instruction of the process in Succession Law in these cases, in or-
der to arouse the attention of the legislature, academics and, ultimate-
ly, society.
Key-words: Succession; Relationship; Death; Polyaffective; Family.

1 INTRODUÇÃO

Hodiernamente, tem-se presenciado no cenário social, uma


evidente mudança na modalidade de relacionamento, em que cada
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 41

vez mais pessoas têm-se desvinculado da ideia – dita por muitos – ar-
caica: o modelo monogâmico.
Diante disso, nos dias atuais é perceptível o evidente aumento
em optar por essa modalidade de relacionamento aberto em que am-
bas as partes se comprometem em vive-lo, cada um seguindo as re-
gras estabelecidas pelos entes da relação. Conquanto, o Direito não
protege exclusivamente essa modalidade, deixando carente de diver-
sos direitos e deveres, como no caso da partilha de bens por morte de
algum dos companheiros. Frente ao problema, em meio à evolução
sociocultural, existe um ponto de interrogação nessas questões so-
ciais que surgem, como o que se pretende trazer em pauta: a manei-
ra como o judiciário brasileiro no âmbito sucessório, encara esses no-
vos fatos. Desse modo, surgiu o seguinte problema: quais as causas
do tendente crescimento dos vínculos poliafetivos e como o Direito Su-
cessório lida com essas questões?
O que se busca com este artigo acadêmico é pôr em foco a im-
portância da discussão desse crescente novo fato social, e para que
a pauta alcance horizontes além dos limites da Instituição de Ensino
Superior (IES), chegando à sociedade e levantando um olhar atencio-
so da esfera política. Destarte, é inegável que esse hodierno cenário
necessita de atenção jurídica, pelo fato de cada um dos entes da re-
lação possuírem responsabilidade afetiva, tendo direitos e deveres de
forma igualitária, assim como ocorre nos relacionamentos regulados
pelo Estado brasileiro – os monogâmicos.
É de interesse primário que este trabalho alcance a população
geral, a comunidade acadêmica e o âmbito político, para que o assun-
to se torne notório e estimule mais desenvolvimentos acerca do que se
discute e na proposta do artigo. Desse modo, a problemática ganhará
atenção necessária para que os empecilhos e carências sejam venci-
dos, mas, antes de tudo, estudados e analisados, com a finalidade de
atender ao interesse comum diante dos novos fatos sociais.

2 OBJETIVO

O presente artigo tem como objetivo precípuo analisar meios


legais de se sobressair às lacunas e deficiências que existem na juris-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 42

dição do Brasil no que tange, especialmente, o Direito Sucessório. Da


mesma forma, levar ao corpo social do Estado a relevância de discu-
tir esse tema tão crescente que, inevitavelmente, trará consequências
a longo prazo devido a inexistência de uma regulação específica para
tratar dessas novas entidades familiares.

3 METODOLOGIA

Para depreender essas questões, o presente artigo projeta-se à


luz da metodologia bibliográfica, onde o trabalho utilizou-se de pesquisas
já produzidas, com intuito de aperfeiçoar a óptica do conteúdo explanado.
Segundo Macedo (1994, p. 13), a pesquisa bibliográfica “é o
primeiro passo em qualquer tipo de pesquisa científica, com o fim de
revisar a literatura existente e não redundar no tema de estudo ou
experimentação”. Em outros termos, por intermédio de uma imersão
científica de obras já publicadas, a pesquisa bibliográfica tem a finali-
dade de aprimoramento e atualização do conhecimento. Desta forma,
vale ainda destacar o que aponta Almeida (2011), quando este ponde-
ra que “a pesquisa bibliográfica é uma busca entre relações de concei-
tos, ideias e características, muitas vezes unindo dois ou mais temas”.
Destarte, pode-se definir esses conceitos, ideias e característi-
cas como um conjunto de dados e informações contidos em documen-
tos impressos – e digitais –, dissertações, livros publicados, artigos;
todo esse material textual e as informações são fontes precípuas para
o alicerce teórico eivado na investigação e na pesquisa desenvolvida
dos estudos desse material, com a finalidade de que estes possam be-
neficiar e enriquecer o trabalho árduo da pesquisa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante muito tempo, a ideia de casamento era baseada na


procriação. Sendo assim, as famílias do campo passavam de geração
essa tradição: o princípio monogâmico da união de duas pessoas com
o intuito de construir uma família.
Para o doutrinador Clóvis Beviláqua (2011, p. 52), o “casamen-
to é um contrato bilateral e solene, pelo qual um homem e uma mulher
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 43

se unem indissoluvelmente”, legitimando por ele suas relações sexu-


ais; estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e de interesses
e comprometendo-se a criar e educar a prole que de ambos nascer.
Porém, com a chegada da Revolução Industrial e, posterior-
mente, o processo de constitucionalização, o homem e a mulher pas-
saram a ter direitos e obrigações iguais, surgindo, dessa forma, os re-
lacionamentos poligâmicos construídos com o alicerce “amor”, que-
brando paradigmas, após a abertura do pensamento coletivo para no-
vos moldes e estilos de vida, embora ainda tímidos. Todavia, nosso
sistema jurídico regulamenta o casamento tradicional monogâmico,
porquanto as relações poligâmicas enfrentam dificuldades no que se
refere ao reconhecimento dos direitos, como casamento e no âmbito
da sucessão.
Faz-se mister estudar e acompanhar o conceito de poliafeti-
vidade, que segundo Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Fi-
lho (2013, p. 38), trata-se da possibilidade de existir duas ou mais uni-
ões afetivas paralelas em que seus partícipes se conhecem e aceitam
uns aos outros, em uma relação múltipla e aberta, pois o que os man-
têm unidos emocionalmente é a honestidade, lealdade e amor entre
os membros.
Nesse contexto, é importante apresentar o conceito no Direito
civil, que destaca tal temática como inválida no ponto de vista do negó-
cio jurídico, dado que esta não preenche os requisitos do contrato de
matrimônio. O casamento, conforme expresso em lei no artigo 1.577
do Código Civil, é um contrato celebrado entre duas pessoas que pre-
tendem constituir família mediante plena comunhão de vida.
Ademais, em uma visão unificadora, afirma Vigo (2015, p.16)
que a união poliafetiva pode ser equiparada à união estável, quando
se configura e contempla os seguintes requisitos: convivência públi-
ca, contínua e duradoura e objetivando construir família. Portanto, tal
modelo poliafetivo surgiu da contribuição da Constituição Federal de
1988, quando o Estado sanciona leis fundamentais e institucionais a
favor de múltiplas formas de amar.
No outro ponto da discussão, o Direito trabalha o caso da su-
cessão do cônjuge sobrevivente na modalidade conjugal monogâmi-
ca de várias formas, como afirma o doutrinador Christiano Cassettari
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 44

(2014), quando este divide a sucessão em título universal, título singu-


lar, sucessão por determinação legal, sucessão por vontade das par-
tes, sucessão inter vivos e sucessão mortis causa. No caso de faleci-
mento de algum dos cônjuges, os bens devem ser repassados para
um representante titular que são os herdeiros, que têm o dever de
prosseguir com os projetos de vida deixados pelos de cujus.
Embora haja reconhecimento doutrinário da existência, o judi-
ciário cobre os olhos diante dessas novas modalidades familiares. Há,
porquanto, o desamparo legal no que se refere a direitos que ainda
pertence apenas àqueles entes familiares da monogamia, como o ca-
samento e a sucessão, por exemplo.
Ante ao exposto, percebe-se que a poligamia tem sido crescente,
dado que o amor é o fator determinante na construção da família, assim
como ocorre no recente reconhecimento das relações homoafetivas. Es-
sas relações têm igualdade de direitos tutelados pelo sistema judiciário,
quando este entende que no elo estável homossexual, por exemplo, con-
sidera-se família pela razão de possuir a característica afetiva. Anos de
evolução e luta social foram necessários para a obtenção do reconheci-
mento da validade do casamento entre pessoas do mesmo sexo, porém
ainda persiste o modelo monogâmico, mesmo nesses casos.
É possível, portanto, a celebração de casamento homoafetivo
com efeitos civis. O casamento nada mais é do que um contrato laico,
firmado com base na autonomia da vontade, entre pessoas maiores
e capazes. Não faz sentido que, ante o reconhecimento pelo STF da
união estável homoafetiva e seus respectivos efeitos jurídicos, se ne-
gue a sua averbação no Registro Civil. O que ocorre nas relações po-
ligâmicas foi decidido pelo Ministro João Otávio de Noronha, apontan-
do que os tabeliães sejam vedados de efetuarem a escritura do casa-
mento de uniões poligâmicas. Segundo este, a própria sociedade dis-
crimina essa união poligâmica, pois contraria os bons costumes pré-
-históricos, éticos e sociológicos.
É fato que a bigamia é crime previsto em lei no Código Penal,
logo, uma mudança dessa magnitude demandaria uma revisão geral
no sistema judiciário brasileiro.
Ainda assim, é perceptível que o poliamor atualmente é rotula-
do pelos juristas como uma mera relação conjugal, devido a união de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 45

mais de dois parceiros que estabelecem regras entre si como a convi-


vência, fidelidade e responsabilidade afetiva. Desse modo, as jurispru-
dências impedem o reconhecimento da escritura do casamento, pelo
fato da modalidade poder se configurar uma possível união estável e
posterior a de concubinato considerado, como define o Código Civil de
2002 no art.1.727 e art. 1.723.

Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e


a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união
estável entre o homem e a mulher, configurada na convi-
vência pública, contínua e duradoura e estabelecida com
o objetivo de constituição de família.

É necessário ressaltar que não existe legislação específica ou


doutrinária que regule direitos da poliafetividade, tampouco no âmbito
sucessório e a possível partilha de bens nas relações poliamorosas,
uma vez que ainda predomina a discriminação por parte da socieda-
de, que descreve esse fato social como ato delituoso e imoral. Diante
dessa situação delicada, faz-se necessário o amparo do Estado fren-
te à vulnerabilidade e carência vivenciadas, especialmente no que se
refere aos artigos 1.829 e 1.790 do Código Civil.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem se-


guinte: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide
Recurso Extraordinário nº 878.694)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge so-
brevivente, salvo se casado este com o falecido no regi-
me da comunhão universal, ou no da separação obriga-
tória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regi-
me da comunhão parcial, o autor da herança não houver
deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará
da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onero-
samente na vigência da união estável, nas condições se-
guintes: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide
Recurso Extraordinário nº 878.694)
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 46

I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma


quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da heran-
ça, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um da-
queles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá
direito a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à to-
talidade da herança.

Diante dos impasses e lacunas da lei, uma pergunta faz-se im-


prescindível ante à problemática discutida: há meios legais que sejam
relativos – ou próximos – a esses novos modelos de convívio? Exis-
tem meios de subverter a falta de legislação que ampare os herdeiros
de um grupo poliamorista?
A priori, é importante destacar que não existe vedação perti-
nente ao poliamor como fato social. Existe, no entanto, uma proibição
dessa relação enquanto fato jurídico, como casamento nessa modali-
dade. Ainda assim, o progresso natural e inerente da sociedade permi-
tiu certos avanços. Uma teoria ascendente que pode suprir, não o re-
conhecimento dessas uniões, mas a filiação dos herdeiros.
Maria Berenice Dias (2015) assevera sobre o que é a teoria da
multiparentalidade, afirmando que

a concretização desse direito – de ordem fundamental


e personalíssima – somente é possível com o reconhe-
cimento judicial da família multiparental, mediante a fiel
reprodução desta realidade no registro de nascimento.
Atentando para esta realidade, decisões Brasil afora pas-
saram a admitir a inserção do nome de mais de um pai ou
de mais de uma mãe no registro de nascimento do filho,
sem a exclusão do nome do genitor biológico. As hipóte-
ses mais recorrentes são quando, depois da morte de um
dos genitores, se consolida vínculo de filiação socioafe-
tiva com quem passou a exercer as funções parentais.

Em outros termos, a teoria da multiparentalidade é a possibili-


dade de constar na certidão de nascimento o nome de dois pais – ou
duas mães –, ou seja, um duplo vínculo: o biológico e o vínculo afeti-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 47

vo. Nessa perspectiva, vale destacar que não é uma forma de regu-
larizar as uniões aqui discorridas, no entanto, se depreender o afeto
como definição fundamental para o estabelecimento de vínculos fami-
liares. Tal mudança é corolário da alteração dos conceitos doutrinários
e jurisprudências na esfera do Direito de Família, que passou a admi-
tir essa modificação antes impensável.
Conquanto, uma questão ainda permanece inquieta: como a
teoria da multiparentalidade influencia na poliafetividade? Sabe-se
que o objeto de constituição parental é o que caracteriza o conceito
de entidade familiar, conforme disposto em lei no Código Civil. Nada
mais justo que dar luz à ideia. Uma união composta por mais de duas
pessoas não pode, em tese, registar um filho proveniente dessa rela-
ção. Porém, a teoria da multiparentalidade permite quando, por inter-
médio da afetividade, nasce o desejo do interessado em ter o nome
daquele que lhe originou – o biológico – e aquele que lhe deu amor –
filiação afetiva.
Através dessa análise, pode-se considerar que se tem teste-
munhado, provavelmente, os primórdios da poliafetividade na esfe-
ra jurídica. Casais que vivem nessas ligações podem, se quiserem, e
com o desejo do interessado (o filho), buscar a égide dessa teoria a
fim de ter algo próximo àquilo que se esperaria em lei, caso houvesse
legislação para tal modelo.
Fica ainda pendente como esses casais poderiam buscar am-
paro jurídico no que se refere à sucessão. E a resposta vem em um
tema obscuro para parte da população, que é a ideia de testamen-
to. As novelas e filmes de época consolidaram a ideia de testamento
como algo voltado apenas aos que têm muito dinheiro.
Pacheco (2018, p. 234) define em poucos termos os preceitos
estabelecidos em lei sobre o testamento, afirmando que

pelo testamento, podem-se instituir herdeiros ou legatá-


rios, ou seja, sucessores a título universal ou singular.
Na sucessão universal, transmite-se a herança como um
todo, ou uma sua fração aritmética; na singular transmi-
tem-se bens individuados. No primeiro caso, por causa
de morte, o adquirente é o herdeiro; no segundo, é o le-
gatário. Portanto, o herdeiro sucede a título universal, en-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 48

quanto o legatário sucede a título singular, motivo por que


tem de pedir a entrega da coisa legada e, por outro lado,
não responde pelas dívidas da herança.

Dessa forma, pode-se dizer que, na falta de legislação que pro-


teja a sucessão dessas novas categorias de família, o testamento su-
pre a carência, podendo os casais se sobressaírem às faltas presen-
tes no Direito Sucessório. Dado que, com o testamento, estes podem
definir bem como querem que ocorra a partilha dos bens após o even-
to morte, respeitando o que está previsto em lei para garantir a harmo-
nia social, enquanto não há amparo específico.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por intermédio dos estudos bibliográficos realizados e uma


análise empírica no atual pensamento social, constatou-se que, tendo
em vista as mudanças no corpo social, pode-se imaginar que uma das
hipóteses para tal crescimento seja a necessidade de liberdade e des-
construção do modelo tradicional estabelecido – o monogâmico. Em
consonância, assegurar a fidelidade conjugal entre eles pode estabe-
lecer um sentimento ímpar entre os membros do relacionamento. Ade-
mais, a quebra do tabu – os paradigmas da sociedade – e o constan-
te questionamento ao que é estabelecido.
É importante recapitular que o ordenamento jurídico não veda
essa modalidade de relacionamento pluriafetivo, no entanto cita em
leis distintas os requisitos necessários para formalização da união que
deveriam ocasionar no reconhecimento das relações poliafetivas, vis-
to que o Estado tem o dever de proteger e se preocupar em valer a
vontade do povo, dando maior acessibilidade e garantia na proteção
social, devendo reconhecer a boa-fé e o amor como fatores essenciais
para comprovar a construção de uma entidade familiar como também
base da sociedade que está em constante evolução.
Pode-se frisar que a sociedade está em constante mudança
sendo necessário que o ordenamento jurídico reconheça direitos das
famílias poliafetivas alinhados aos princípios fundamentais como o da
pessoa humana e da igualdade previstas pela Constituição Federal
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 49

promulgada em 1988, com o objetivo de garantir aos brasileiros uma


vida igualitária, livre e digna e para que haja uma celeridade na reso-
lução de conflitos.
Desse modo, chegou-se à conclusão que para vencer as lacu-
nas e deficiências do Estado em relação à proteção das uniões forma-
das por mais de duas pessoas, é necessário utilizar-se da teoria da
multiparentalidade quando, havendo filhos da relação, quiserem fazer
constar na certidão de nascimento o nome dos pais ou mães. Para al-
cançar esse resultado, faz-se imprescindível o requisito fundamental
para tal: a afetividade. Com isso, tem-se uma consequência esperada
de uma lei que permitisse e regulasse esses vínculos. Ao passo que,
no Direito das Sucessões, fica disponível a possibilidade de testamen-
to, uma vez que faltam subsídios jurídicos que regulem, por força da
lei, a sucessão de herdeiros advindos destas.
Espera-se que, por meio desta pesquisa, que a coletividade –
acadêmica ou não – note a importância da discussão da referente te-
mática, e que os adeptos desse modelo conjugal tenham compreen-
dido os meios legais para sobressair-se às lacunas e ausências jurídi-
cas. Da mesma forma, que o cenário político volte o olhar a fim de fi-
tar essas questões sociais, para que surjam leis que enfim regulem e
abracem as novas formas de amor.

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vel em: < www.mariaberenicedias.com.br >. Acesso em 29 de agos-
to de 2022.
GRADOWSKI, Raisa Wendhausen. A união poliafetiva e o desa-
fio de seu reconhecimento como entidade familiar. Curitiba, 2018.
HAAS, Maiara Francieli. O reconhecimento das uniões poliafeti-
vas pelo ordenamento jurídico brasileiro e os efeitos decorrentes
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 50

da dissolução inter vivos, 2021. IBDFAM. Disponível em: <https://


ibdfam.org.br/artigos/1645/O+reconhecimento+das+uniões+poliafeti-
vas+pelo+ordenamento+jurídico+brasileiro+e+os+efeitos+decorren-
tes+da+dissolução+inter+vivos>. Acesso em 29 de agosto de 2022.
MACEDO, N. D. Iniciação à pesquisa bibliográfica: guia do estu-
dante para a fundamentação do trabalho de pesquisa. São Paulo,
SP: Edições Loyola,1994.
NOGUEIRA, Jose Augusto De Mello. Ministro do STJ defende res-
trições ao reconhecimento legal da união poliafetiva, 2021. Agên-
cia Câmara de Notícias. Disponível em < www.camara.leg.br/noticias/
765665-ministro-do-stj-defende-restricoes-ao-reconhecimento-legal-
-da-uniao-poliafetiva/ >. Acesso em 29 de agosto de 2022.
PACHECO, José da Silva. Inventários e partilhas: na sucessão le-
gítima e testamentária – 20. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2018.
VIGO, F. M. S. Famílias poliafetivas e a sucessão legítima. Rio de
Janeiro, 2015. Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/58673/fami-
lias-poliafetivas-e-a-sucessao-legitima >. Acesso em: 29 de agosto de
2022.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 51

CAPÍTULO 3

A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA E O DIREITO DE SUCESSÃO

SOCIO-AFFECTIVE AFFILIATION AND THE RIGHT OF SUCCESSION

Francisco das Chagas de Sousa Carvalho Neto


Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi Piracuruca - Piauí
fcarvalhoneto1911@gmail.com
Orcid: 0009-0006-9214-4547

Mayra Shammya Araujo da Silva


Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi Piracuruca - Piauí
mayrashammya1@gmail.com
Orcid: 0009-0005-7287-8669

Geilson Silva Pereira


Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi Piracuruca - Piauí
geilsonsp@hotmail.com
Orcid: 0000-0002-0278-0077

RESUMO
É notório que ao longo dos anos o conceito de família vem se alteran-
do cada vez mais, e que a cada dia novos modelos de família vão sur-
gindo dentro da nossa sociedade, dessa forma, à medida que essas
relações familiares evoluem, o direito deve evoluir em conjunto. Den-
tro desse cenário, podemos identificar e destacar um modelo de famí-
lia não baseado no vínculo biológico, mas sim, nas relações afetivas
desenvolvidas pelos seus integrantes. Tendo em consideração a im-
portância e a presença da afetividade dentro das relações obtidas pelo
ser humano, faz-se necessário que os ordenamentos jurídicos pos-
sam reconhecer e regular os efeitos advindos das relações socioafeti-
vas, principalmente dentro do ramo do direito de sucessão. O presen-
te artigo tem como objetivo geral analisar os efeitos jurídicos trazidos
pela filiação socioafetiva dentro do direito sucessório, quando o filho
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 52

afetivo não foi reconhecido legalmente. Na elaboração desse artigo


foi utilizado o método dogmático e indutivo, tendo como procedimento
técnico a pesquisa bibliográfica. Esse estudo concluiu que os filhos so-
cioafetivos possuem a chance de serem incluídos dentro da sucessão,
segundo Provimento número 63/2017 do CNJ, e Provimento número
83/2019 do CNJ, sem necessidade de análise pelo Poder Judiciário.
Palavras-chave: Família; Filiação; Socioafetividade; Afeto; Direito Su-
cessório.

ABSTRACT
It is notorious that over the years the concept of family has been chang-
ing more and more, and that every day new models of family are emerg-
ing within our society, thus, as these family relationships evolve, the law
must evolve in set. Within this scenario, we can identify and highlight a
family model not based on the biological bond, but on the affective rela-
tionships developed by its members. Taking into account the importance
and presence of affectivity within the relationships obtained by human
beings, it is necessary for legal systems to recognize and regulate the
effects arising from socio-affective relationships, mainly within the field
of succession law. This article has the general objective of analyzing the
legal effects brought about by socio-affective affiliation within inheritance
law, when the affective child was not legally recognized. In the prepa-
ration of this article, the dogmatic and inductive method was used, with
bibliographical research as a technical procedure. This study concluded
that socio-affective children have a chance of being included within the
succession, according to CNJ Provision number 63/2017, and CNJ Pro-
vision number 83/2019, without the need for analysis by the Judiciary.
Keywords: Family; Filiation; Socioaffectivity; Affection; Succession
Law.

Introdução

É notório que ao longo dos anos o conceito de família vem se


alterando cada vez mais, e que a cada dia novos modelos de família
vão surgindo dentro da nossa sociedade, dessa forma, à medida que
essas relações familiares evoluem, o direito deve evoluir em conjunto.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 53

Dentro desse cenário, podemos identificar e destacar um mo-


delo de família não baseado no vínculo biológico, mas sim, nas rela-
ções afetivas desenvolvidas pelos seus integrantes.
Tendo em consideração a importância e a presença da afetivi-
dade dentro das relações obtidas pelo ser humano, faz-se necessá-
rio que os ordenamentos jurídicos possam reconhecer e regular os
efeitos advindos das relações socioafetivas, principalmente dentro do
ramo do direito de sucessão.
Ante o que fora exposto, tem-se como problemática identificar
como o filho socioafetivo não reconhecido legalmente se encaixa na li-
nha sucessória post mortem.
Tendo como base a personalização desta modalidade familiar
dentro do campo do Direito Civil, tem-se como hipótese a flexibilidade
no reconhecimento de uma relação de filiação socioafetiva, por meios
de vínculos afetivos e costumes familiares presentes na sociedade
brasileira.
O objetivo geral deste artigo é, na falta de legislação específica
que regule a situação do filho socioafetivo no momento da sucessão
post mortem, explicitar como esse filho fica amparado dentro do âmbi-
to jurídico, para que possa então ter a possibilidade de ser reconheci-
damente um herdeiro legítimo dentro da linha de sucessão.
A fim de ajudar a chegar ao objetivo geral, como objetivos es-
pecíficos esse artigo irá analisar o reconhecimento de direitos e obri-
gações do filho socioafetivo na linha sucessória post mortem; explicar
a evolução do conceito e modelo de família, além de descobrir como
o ordenamento jurídico lida com a possibilidade de sucessão em re-
lação ao vínculo afetivo e identificar se o filho socioafetivo não reco-
nhecido legalmente ficaria ou não provido de herança no momento da
partilha de bens.
O presente artigo baseia-se inicialmente no ensino do direito de
sucessão, e na evolução do conceito do que seria uma base familiar,
principalmente no quanto as relações afetivas podem interferir dentro
desse âmbito sucessório, visto que a afetividade vem ganhando muito
espaço quando se trata dos novos modelos de família.
Este artigo se torna relevante e se justifica á medida que há a
necessidade de regulamentar essas relações parentais que nascem
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 54

a partir do vínculo socioafetivo, compreendendo as mudanças ocorri-


das dentro do direito de família, levando em consideração a importân-
cia da afetividade na filiação socioafetiva e como isso se reflete den-
tro do Direito Sucessório.

Aspectos metodológicos da pesquisa

Este estudo baseou-se em uma estratégia bibliográfica de pes-


quisa, por meio de uma pesquisa e leituras em bibliotecas. Neste capí-
tulo, pretende-se demonstrar os procedimentos metodológicos do tipo
de pesquisa utilizado. Será abordado também os critérios para a cons-
trução do universo de estudo, o método de coleta de informações, a
forma de tratamento desses dados e, por fim, as limitações do méto-
do escolhido.
Pesquisa bibliográfica: Os conceitos analisados foram: “Como
ocorre a filiação socioafetiva na sociedade brasileira”, “Fator histórico
e social do reconhecimento do direito sucessório do filho socioafetivo”.
Com grande pesquisa e investigação nos livros dos autores aqui cita-
dos O principal autor que contribuiu com o trabalho foi: Mario Roberto
Carvalho de Faria (2001).
Pois bem Para Gil (1999), o método científico é um conjunto de
procedimentos intelectuais e técnicos utilizados para atingir o conhe-
cimento.

A Inclusão do Afeto na Relação Familiar

Partindo para a inclusão do afeto no seio familiar, Rolf Mada-


leno (2015, p.36) faz um comentário muito importante sobre as muta-
ções ocorridas no que se refere ao conceito tradicional de família:

A família matrimonializada, patriarcal, hierarquizada, he-


teroparental, biológica, institucional vista como unidade
de produção cedeu lugar para uma família pluralizada,
democrática, igualitária, hetero ou homoparental, biológi-
ca ou socioafetiva, construída com base na afetividade e
de caráter instrumental.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 55

Observando isso, faz se pensar que, ao lembrar-se de família,


automaticamente nos vem a imagem do modelo denominado como
patriarcal e tradicional, que por longo período de tempo foi o conceito
base do que seria uma relação familiar, mas, atualmente podem se ver
novos modelos de família que surgem através da multiparentalidade,
um exemplo disso seria a família baseada em uma relação homoafeti-
va, demonstrando assim, a pluralização do conceito familiar.
Tendo em vista que antigamente a comprovação da filiação so-
cioafetiva era mais complexa, por questões culturais citadas a cima,
ressaltando a religiosidade e as crenças de época que dificultavam
esse meio, caso alguém quisesse que um filho socioafetivo tivesse a
proteção judicial, teria que ser pelo famoso ``jeitinho brasileiro´´, sen-
do registrado como sanguíneo.
É importante validar a diferença existente entre a adoção e a
socioafetividade, mas um grande fator que é crucial na caracteriza-
ção da formação do vínculo familiar, é o amor existente capaz de criar
essas relações, diferente da adoção, que tem como característica a
desvinculação de um indivíduo de determinada família, para que ele
seja ingressado em outra, que muitas vezes não tem vínculo afetivo
com a nova família que foi ingresso, onde por determinadas vezes não
conseguir se encaixar, é devolvido para o lar de adoção, gerando um
grande desgaste e abalo emocional nas partes envolvidas.
Nas relações familiares advindas da socioafetividade, esse “não
encaixe” não ocorre, pois a base e o que move essa relação é o afeto que
as pessoas envolvidas nesse ciclo familiar possuem entre si, sobressain-
do o vínculo consanguíneo. Assim, como diz Farias (2004, p. 11):

A entidade familiar deve ser entendida, hoje, como grupo


social fundado, essencialmente, em laços de afetividade,
pois a outra conclusão não se pode chegar à luz do tex-
to constitucional, especialmente do art.1º, III, que preco-
niza a dignidade da pessoa humana como princípio vetor
da República Federativa do Brasil. Nesta linha de intelec-
ção, fácil detectar que a família da pós- modernidade é
forjada em laços de afetividade, sendo estes sua causa
originária e final, com o propósito de servir de motor de
impulsão para a afirmação da dignidade das pessoas de
seus componentes.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 56

Dessa forma, faz-se necessário reconhecer a pluralidade do


modelo familiar, abrigando suas mais diversas formações, buscando
dentro da dignidade da pessoa humana não um conceito do que seria
uma família, mas sim uma identificação que possa englobar esses vín-
culos vindos da afetividade dos pais para com os filhos, independente-
mente da sua formação. Dias (2009, p. 42-43) diz que o rosto da famí-
lia moderna mudou, e que seu papel principal é dar suporte emocional
ao individuo, existindo mais flexibilidade e intensidade no que diz res-
peito aos laços afetivos.

O Direito Sucessório do Filho Socioafetivo

É importante ressaltar que o Direito de Sucessão surgiu decor-


rente do Direito de Família, onde os bens permaneciam sob a tutela
da família e iam sendo repassados aos devidos herdeiros ao ocorrer
o evento morte.
Quando se trata de sucessão no direito brasileiro, se fala no
quanto uma pessoa está apta a receber determinada herança deixa-
da pelo de cujus, graças a evolução social, para que os socioafetivos
sejam abrangidos por normas legislativas, basta que a comprovação
por meios de provas que demonstrem o vínculo afetivo e de proteção
entre as partes e que a relação mentida dos mesmos sempre foi de
cunho público, de longa duração e consolidada.
Uma grande dúvida que persegue a sociedade é como se dá o
direito sucessório do filho socioafetivo, pois bem, por grande tempo, fi-
cou de lado, mas atualmente com o planejamento sucessório, que é
fundamental para garantir os direitos de todos que fazem parte do vín-
culo familiar e com o princípio da isonomia , são possuidores dos mes-
mo direitos e deveres, independentemente da natureza da filiação, sen-
do completamente possível adquirir sua parte na sucessão por parte do
indivíduo que o tornou filho, devido aso laços afetivos já citados a cima.
Ainda mais, devemos deixar bem fixado que o socioafetivida-
de é conhecida popularmente como adoção a brasileira, tento em vis-
ta o número considerável de genitores que praticam o abandono afe-
tivo em desfavor dos seus descentes em processo de divórcio ou sim-
ples separação de união estável, observando ainda fatos cotidianos
que por muitas vezes viram rotineiros.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 57

Não há como descartar uma situação: um grande número de


pessoas que foram criadas por padrastos e madrastas sem que tenha
registros e por muitas vezes são verdadeiros pais e mães que tem um
grande nível de responsabilidade e carinho que muitos lares familiares
com vinculo biológico não tem.
E por isso, com o enorme carinho recebido, não manifestam
sequer o mínimo de interesse em conhecer sua família biológica, po-
rém, tendem a oficializar a verdade real: pleiteiam o reconhecimen-
to do padrasto ou da madrasta como pais socioafetivos. Agora nesse
momento, deve-se estar pensando, qual norma legaliza esse fato, pois
bem, segue o provimento de número 63, de 14 de novembro de 2017
[Corregedoria, DJe/CNJ nº 63, de 14 de novembro de 2017].
Onde ele reconhece o parentesco advindo de outra origem e
também o reconhecimento voluntario da paternidade e maternidade
sociafetiva, perante o oficinal do registro civil de pessoas naturais, em
observação do princípio da igualdade jurídica e de filiação.
Outro que tem um grande destaque a ser mencionado é o pro-
vimento de número 83, de 14 de agosto de 2019 [corregedoria,DJe/
CNJ nº 191,alteração Provimento n. 83, de 14 de agosto de 2019], que
fez grandes mudanças na seção II do provimento citado a cima, princi-
palmente no reconhecimento da paternidade ou maternidade socioa-
fetiva de pessoas que tem uma idade a cima de 12 anos, que tem uma
facilidade em poder ser feita de forma extrajucialmente perante as pre-
senças dos oficiais de registros cíveis e que dever ser comprovada por
meio de sua exteriorização e estabilidade, como já explicada e bastan-
te citado nas linhas acimas.
Após o oficial de registro realizar todo o tramite citado a cima,
irá oferecer ao ministério público, onde ser for do seu entendimento,
dará o seu parecer favorável, também adicionando, que por ser assun-
to de maior relevância, o Poder Judiciário tem a legitimidade para de-
cidir sobre esse pedido.

Considerações finais

Espera-se ter explicitado como esse filho fica amparado den-


tro do âmbito jurídico, para que possa então ter a possibilidade de ser
reconhecidamente um herdeiro legítimo dentro da linha de sucessão.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 58

Ter analisado o reconhecimento de direitos e obrigações do fi-


lho socioafetivo na linha sucessória
Espera-se ter;
1) Explicado a evolução do conceito e modelo de família, além
de descobrindo como o ordenamento jurídico lida com a possibilidade
de sucessão em relação ao vínculo afetivo;
2) Identificado se o filho socioafetivo não reconhecido legal-
mente fica ou não provido de herança no momento da partilha de
bens. ucessória post mortem.

Referências Bibliográficas

BAPTISTA, Silvio Mendes. Manual de direito de família. 3 ed. Recife:


Bagaço, 2014.
DIAS, 2002, p 42-42 Op. Cit.
FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito à família. Revista Jurídica, 2004.
Disponível em: https://bit.ly/2lxb1oe. Acesso em: 31 out. 2022 p 11.
FARIA, Mario Roberto Carvalho de. (livro de 2001,7º edição)
LASSORI. Direito de família, Artigo, 2020. Disponível em: https://www.
lassori.com.br/filho-socioafetivo
MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2015
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 59

CAPÍTULO 4

A FISIOTERAPIA PÉLVICA NO TRATAMENTO DAS


DISFUNÇÕES SEXUAIS FEMININAS NA TERCEIRA
IDADE: UM ESTUDO DE REVISÃO

PELVIC PHYSIOTHERAPY IN THE TREATMENT OF FEMALE


SEXUAL DYSFUNCTIONS IN THE THIRD AGE: A REVIEW STUDY

Maristella de Oliveira Machado Araujo


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
maristellamachadoaraujo@hotmail.com.

Ana Clara de Assis Sousa Christus


Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
aninhaacs093@gmail.com.

Iluska de Freitas Soares


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
iluska995@gmail.com.

Ana Lúcia Carvalho de Aguiar


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
analucia.aguiar@hotmail.com.

Antonia Mykaele Cordeiro Brandão


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
mykaelecordeiro@yahoo.com.br.

Sandra Raquel dos Santos Sousa de Lucena


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
Sandrarsantos007@gmail.com

Quézia Maria da Silva Nascimento


Lagoa de São Francisco – Piauí
Kesya.sillva@hotmail.com

Rute Costa Verçosa


Barras – Piauí rutec608@gmail.com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 60

RESUMO
O envelhecimento é inerente a todo ser humano, apresentando várias
faces no ciclo de vida, implicando diretamente nas áreas psíquica, so-
cial, motora e sexual. O público feminino pela sua própria fisiologia so-
fre mais com o processo de senescência Objetivo: Abordar e discutir
sobre a atuação da fisioterapia pélvica no tratamento das disfunções
sexuais femininas na terceira idade. Metodologia: Trata-se de uma
pesquisa de revisão retrospectiva da literatura, realizada em agosto de
2022, tendo como bases de dados: PEDro, Medline, PubMed, Scielo,
como critérios de inclusão foram utilizados artigos livres, entre os anos
de 2015 a 2022. Resultados: Os resultados apontam para uma rela-
ção direta entre sexualidade e distúrbios geniturinários, a desarmonia
entre esses aspectos compromete a qualidade de vida na terceira ida-
de. Conclusão: A fisioterapia pélvica contribui para que essa popula-
ção possa atuar de forma sadia, de acordo com suas vontades e de-
sejos promovendo uma melhor qualidade de vida.
Palavras-chave: Fisioterapia Pélvica; Terceira Idade; Disfunções Se-
xuais.

ABSTRACT
Aging is inherent to every human being,presenting several faces in the
life cycle, directly implicating in the psychic, social, motor and sexual
areas. The female public due to its own physiology suffers more from
the senescence process. Objective: To approach and discuss the per-
formance of pelvic physiotherapy in the treatment of female sexual
dysfunctions in the third idade. Methodology: This is a retrospective
literature review research, conducted in August 2022, with the follow-
ing databases: PEDro, Medline, PubMed, Scielo, as inclusion criteria,
free articles were used between the years 2015 to 2022. Results: The
results point to a direct relationship between sexuality and genitouri-
nary disorders, the disharmony between these aspects compromises
the quality of life in the elderly. Conclusion: Pelvic physiotherapy con-
tributes so that this population can act healthily, according to their wish-
es and desires promoting a better quality of life.
Keywords: Pelvic Physiotherapy; Senior; Sexual dysfunctions.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 61

INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo dinâmico, universal e ineren-


te a todos os seres humanos, que apresenta várias faces no ciclo de
vida humano, e implica diretamente em várias áreas como psíquica,
social, motora e sexual. Além das dificuldades em encarar essa nova
etapa, os preconceitos enraizados criam nesse indivíduo uma sensa-
ção de incapacidade frente às adversidades. (MACHADO et al., 2022).
No público feminino os problemas relacionados ao processo
de senescência são potencializados quando falamos dos estigmas
em volta de sua sexualidade, isso leva a diversas disfunções como
incontinência urinária, incontinência fecal, anorgasmia, vaginismo e
dispareunia, o somatório dessas alterações sexuais geram descon-
tentamento, sendo decorrentes do enfraquecimento da musculatura
do assoalho pélvico que por sua vez são essenciais na função se-
xual. (BARRETO et al., 2018) (MACHADO et al., 2022). A área de fi-
sioterapia na geriatria tem papel importante na prevenção, inibição
e evolução das disfunções causadas pelo enfraquecimento do asso-
alho pélvico, mantendo a qualidade de vida do idoso. A fisioterapia
pélvica utiliza técnicas de exercícios para aquisição do fortalecimen-
to muscular, reeducação da musculatura do assoalho pélvico e for-
talecimento, utilizando eletroestimulação neuromuscular, cinesiote-
rapia, cones vaginais, modificação comportamental e biofeedback.
(FUNATSU et al., 2018).
Este estudo tem como objetivo abordar e discutir sobre a atu-
ação da fisioterapia pélvica no tratamento das disfunções sexuais fe-
mininas na terceira idade, tendo por base ensaios clínicos randomiza-
dos controlados.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de revisão retrospectiva da literatu-


ra, realizada em agosto de 2022, tendo como bases de dados: PEDro,
Medline, PubMed, Scielo, incluindo estudos selecionados e analisa-
dos que correspondem ao lapso temporal de 2015 a 2022.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 62

Com objetivo de responder à pergunta norteadora: “Qual im-


portância da fisioterapia pélvica no tratamento das disfunções geni-
tourinarias em mulheres na terceira idade?” Foi realizada busca de ar-
tigos nas bases de dados PEDro, Medline, PubMed, Scielo. A estraté-
gia de busca foi realizada com os seguintes termos: Fisioterapia Pélvi-
ca. Terceira Idade. Disfunções Sexuais.
Como critérios de inclusão foram utilizados artigos livres, que
estivessem na abrangência temporal entre os anos de 2015 a 2022,
nas línguas portuguesa e inglesa e que abordassem a temática da fi-
sioterapia pélvica e disfunções sexuais na terceira idade. Os critérios
de exclusão aplicados foram artigos pagos, duplicados nas bases de
dados e artigos que fugiram da temática desejada.
Durante a análise foram identificados 12 artigos, 3 artigos não
estavam dentro dos critérios de inclusão e 9 estavam dentro dos cri-
térios, sendo estes últimos os selecionados para a revisão. (Fluxogra-
ma 1). A execução deste estudo seguiu as seguintes etapas: 1- Elabo-
ração de pergunta norteadora; 2- Busca na literatura; 3- Revisão da li-
teratura de forma criteriosa; 4- Análise crítica dos estudos incluídos; 5-
Discussão dos resultados; e 6- Apresentação dos resultados obtidos.

Fluxograma 1 – Fluxograma do processo de identificação e seleção


dos artigos selecionados nas bases de dados.

Fonte: autoria do próprio autor (2022).


DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 63

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O quadro 1 representa uma visão geral dos resultados obtidos


na pesquisa quanto ao título do artigo, nome do autor e ano de publi-
cação, objetivo, metodologia e resultados.

Quadro 1 – Quadro demonstrativo quanto ao título do artigo, nome do


autor e ano publicação, objetivo, metodologia e síntese de resultados.
Autor e
Título Objetivo Metodologia Resultados
ano
Trata-se de estudo trans-
versal, do qual participaram
Entre as idosas, 20% apresen-
Correlação 35 idosas ≥60 anos. Foram
Estabele- taram ambas as disfunções
entre inconti- aplicados a ficha diagnósti-
cer a rela- dos MAP. No total, 17 (48,6%)
nência uriná- ca e os questionários Inter-
ção entre a apresentavam IU e 16 (45,7%)
ria, disfunção national Consultation on In-
IU, a DSF DSF. Observou-se diferença
sexual e ava- continence Questionnaire
MAZO et e a contra- significativa no número de par-
liação subjeti- – Short Form (ICIQ-UI-SF)
al., 2021 ção muscu- tos vaginais (p=0,028) e no
va da contra- e Female Sexual Function
lar perine- item rapidez do esquema per-
ção muscular Index (FSFI). Em seguida
al em idosas fect (p=0,033) entre as idosas
perineal em avaliados os músculos do
ativas fisica- com e sem DSF. Não houve
idosas fisica- assoalho pélvico (MAP) por
mente. diferença estatística entre os
mente ativas. meio do toque vaginal, de
grupos com e sem IU.
acordo com o que propõe o
esquema perfect.
A prevalência de disfunção se-
Foi realizado um estu-
O objetivo xual encontrada foi de 78% das
do descritivo e analítico de
deste estudo idosas com dor crônica, com
corte-transversal, com indi-
foi apurar a pontuação média de 7. A princi-
víduos acima de 80 anos,
Sexualidade prevalência pal causa da inatividade sexu-
do gênero feminino. Fo-
e dor crônica de disfun- al foi a ausência de um parcei-
ram coletados dados só-
em idosas lon- SANTOS ção sexual ro. Em cerca de 28,1% obser-
cio-demográficos, de co-
gevas: descri- et al., entre as ido- vou-se que a dor crônica inter-
morbidades e uso de fár-
ção de fato- 2015 sas longevas feria na sexualidade. Também
macos, além da avaliação
res interferen- com dor crô- se observou que nenhuma ido-
e mensuração da dor crô-
ciais. nica, e des- sa fora abordada anteriormente
nica e apuração das dis-
crever os fa- quanto a sua sexualidade, ape-
funções sexuais através do
tores de in- sar de 68,8% delas terem afir-
Short Personal Experien-
terferência. mado que gostariam de já ter
ces Questionnaire
sido abordadas.
A sexualidade não está atribu-
ída apenas ao ato sexual, se
Trata-se de uma revisão bi- baseia no afeto, no carinho.
Analisar os
bliográfica, descritiva explo- Porém a sociedade é precon-
aspectos so-
A atuação do ratória. A pesquisa deu-se ceituosa em relação à sexuali-
bre a sexua-
fisioterapeuta MACHA- nos meses de fevereiro a dade do idoso, com uma visão
lidade na ter-
na sexualida- DO et abril de 2022. Os dados co- de que ele é frágil e incapaz,
ceira idade
de da terceira al., 2022 letados foram na platafor- desta forma há a proibição do
e a interven-
idade. ma virtual PUBMED, SciE- idoso manter-se sexualmente
ção do fisio-
LO, no período de 2015 ativo. Esse tema ainda é pouco
terapeuta.
a 2020. explorado pelos profissionais
da saúde. A atuação do fisiote-
rapeuta ainda é recente.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 64

A prevalência de disfunção se-


xual para mulheres com DFP,
é de 50% a 83%. Os principais
O objetivo
fatores citados para a redu-
desse es- Trata-se de uma pesquisa
ção da experiência sexual da
tudo é revi- na literatura que foi realiza-
Disfunção do mulher incluíram a preocupa-
sar a literatu- da usando a base de da-
assoalho pél- ção com a imagem de sua vagi-
VER- ra atual so- dos PubMed usando pala-
vico e seu na para mulheres com prolapso
BEEK et bre disfun- vras-chave, incluindo dis-
efeito na qua- de órgãos pélvicos, dispareunia
al., 2019 ção sexual função sexual, prolapso, in-
lidade de vida e incontinência coital em mu-
relacionada continência, disfunção do
sexual. lheres com incontinência uriná-
à disfunção assoalho pélvico e reparo
ria e medo de se sujar ao lidar
do assoalho cirúrgico.
com incontinência anal. O trei-
pélvico.
namento muscular do assoalho
pélvico tem sido associado a
uma melhora na função sexual.
O trabalho foi uma revisão A abordagem fisioterapêuti-
A fisioterapia de literatura utilizando ar- ca na IU se baseia em técnicas
no tratamento tigos científicos e referên- de exercícios para a reeduca-
Analisar e
da incontinên- cias bibliográficas publica- ção da musculatura do assoa-
FUNAT- descrever os
cia urinária dos no período de 2007 a lho pélvico e seu fortalecimen-
SU et al., benefícios
em mulheres 2018. Como bases de da- to, utilizando a eletroestimula-
2018 da fisiotera-
idosas: uma dos foram selecionados ar- ção neuromuscular, cinesiote-
pia na IU.
revisão de lite- tigos como BIREME, SCIE- rapia, cones vaginais, modifi-
ratura LO, MEDLINE e PUBMED cação comportamental e bio-
e Google Acadêmico. feedback.
O presente estudo apre-
senta caráter transver-
A maioria foi classifica-
sal analítico e foi realiza-
da com Fisioterapia Brasil
do em um hospital regio-
O presente 2021;22(3):425-441 426 impac-
nal do Nordeste do Bra-
estudo obje- to muito grave (76,6%) na qua-
Força mus- sil. A amostra foi composta
tivou avaliar lidade de vida relacionada à in-
cular do as- por mulheres que atende-
a força mus- continência, 41 (24,6%) apre-
soalho pélvi- CARVA- ram aos seguintes critérios
cular do as- sentaram contração muscu-
co em mulhe- LHO et de inclusão: ter 18 anos ou
soalho pélvi- lar não sustentada e 7 (4,2%)
res com quei- al.,2021. mais, queixar-se de disfun-
co de mulhe- apresentaram contração. As-
xas de disfun- ção da musculatura do as-
res com dis- sociações significativas fo-
ção pélvica soalho pélvico, ser atendi-
função pél- ram identificadas entre força
da no ambulatório de gine-
vica. muscular pélvica e idade (p =
cologia do hospital e apre-
0,025), menopausa (p = 0,039)
sentar encaminhamento
e histerectomia (p = 0,026).
médico para avaliação fi-
sioterapêutica.
Pesquisa quantitativa e Observou-se que quanto ao
prospectiva, realizada com Quociente Sexual – Femini-
34 mulheres entre 20 a 40 no, 3% (1 mulher) foi classifica-
anos, com vida sexual ati- da com desempenho desfavo-
va e sem patologias neu- rável a regular, 62% (21 mulhe-
Analisar a
Treinamento rológicas associadas. Re- res) com desempenho de regu-
função mus-
da força mus- alizado em Fortaleza-CE. lar a bom, e 35% (12 mulheres)
cular do as-
cular do asso- Utilizou-se um questioná- com desempenho de bom a
BARRE- soalho pélvi-
alho pélvico e rio e uma avaliação da fun- excelente. Quanto a avaliação
TO et al., co e os seus
os seus efei- ção dos músculos do as- de força da musculatura do as-
2018. efeitos nas
tos nas disfun- soalho pélvico, utilizando o soalho pélvico as mulheres fo-
disfunções
ções sexuais equipamento PERINA 996- ram assim classificadas: 9% (3
sexuais fe-
femininas. 2® e foi utilizada a escala mulheres) se enquadram na or-
mininas.
de força B do equipamen- dem de desfavorável a regular,
to, com ajuste de tempo de 53% (18 mulheres) ficaram na
contração de 6 segundos, ordem de regular a bom e 38%
com o dobro do tempo de (13 mulheres) na ordem bom a
repouso. excelente.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 65

No processo de envelhecimento o ser humano passa por diver-


sas alterações que são relacionadas a fatores biológicos, psicológi-
cos, sociais e culturais, dessa forma as mulheres idosas são acometi-
das por diversas patologias como disfunções do assoalho pélvico, in-
continência urinaria e fecal e prolapso dos órgãos pélvicos, e estas,
por sua vez trazem limitações e diferentes implicações, sejam elas fí-
sicas ou psicológicas, influenciando diretamente na sua sexualidade.
Segundo MACHADO et al., 2022, sexualidade na terceira idade gera
um sentimento negativo na sociedade e no idoso, e isso ocorre devido
falta de informação que influencia a visão da sexualidade nessa etapa
da vida, pois há uma imposição aos idosos de abster-se dos desejos
sexuais e da própria sexualidade, dando lugar a sentimentos como:
vergonha, retração e sentimento de culpa.
Em concórdia SANTOS et al., 2015, aborda o tabu em volta do
tema entre idosos mais longevos que atrapalha o possível tratamen-
to, desencadeando outras doenças como a ansiedade que leva a qua-
dros de diminuição do fluxo sanguíneo para a região vaginal. Essa di-
minuição da lubrificação provoca irritação e friabilidade do tecido, po-
dendo resultar em dor ou desconforto abdominal.
Atrelado às disfunções sexuais MAZO et al., 2021, destaca o
surgimento de problemas de origem urinários, entre os mais comuns à
incontinência urinária, muito recorrente nessa faixa etária, pois a mu-
lher passa a perder a capacidade de armazenamento da urina, pas-
sando de 500-600ml para 250- 300ml, levando ao medo de ter rela-
ções sexuais e durante ela ter escape de urina ou odor desagradável.
De acordo com CARVALHO, et al., 2021 a idade das mulhe-
res que sofrem incontinência urinária é fator recorrente e discutido na
literatura. Em geral, mulheres a partir dos 40 anos estão propicias a
esta afecção; especialmente após climatério/menopausa. A menopau-
sa está intimamente relacionada à diminuição dos níveis dos hormô-
nios estrogênio e progesterona. Esses hormônios têm grande influên-
cia nas etapas essenciais da vida da mulher, na relação direta com a
maturação e manutenção dos órgãos sexuais. Essa disfunção é res-
ponsável por prejuízos físicos, psicológicos e sociais, e existem diver-
sos fatores sociodemográficos, obstétricos e comportamentais asso-
ciados a sua gênese.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 66

Em concórdia VERBEEK et al., 2019, relata que mulheres ido-


sas que sofrem com distúrbios do assoalho pélvico, como incontinên-
cia urinaria, incontinência fecal e prolapso dos órgãos pélvicos, ainda
enfrentam grandes estigmas sociais e vergonha causando grande im-
pacto na vida sexual dessas mulheres.
MACHADO et al., 2022 afirma que a sexualidade é um fator im-
portante na qualidade de vida dos idosos, pois são diferentes percep-
ções que o individuo experimenta no decorrer de toda a vida, sendo
ela um misto de emoções e sensações, não estando relacionado ape-
nas ao ato sexual, mas também a corporeidade envolvendo os senti-
mentos.
Com isso FUNATSU et al.; 2018 afirma que exercícios físicos
como o fortalecimento do assoalho pélvico, as contrações corretas
dos músculos perineais em concomitância com a respiração adequa-
da é de grande importância, pois a fisioterapia mostra-se eficaz na
sustentação dos órgãos pélvicos e reforça a resistência uretral, dan-
do condições para o equilíbrio do grupo muscular. Com uso de es-
tratégias e procedimentos em conjunto tanto invasivos e não invasi-
vo, sendo os cones vaginais, cinesioterapia, estimulação elétrica e
biofeedback.
BARRETO et al., 2018 aponta uma relação direta, entre a for-
ça da musculatura do assoalho pélvico, pois quanto mais eficiente for,
maior será a percepção da intensidade de satisfação na atividade se-
xual, influenciando as continências fecais e urinárias. Salienta que os
pontos pertinentes são a reabilitação e o fortalecimento desses mús-
culos. A utilização de biofeedback vai calcular os efeitos fisiológicos in-
ternos e até as condições físicas estimulando uma maior propriocep-
ção e que a intenção não é só para tratamento da dor, mas também
para o incremento de seu próprio prazer sexual.
Outrora, frente ao aumento contínuo da população idosa faz-
-se necessário esse olhar mais comprometido a atender suas carên-
cias e necessidades, principalmente quando falamos do público femi-
nino que por sua própria fisiologia sofre mais com o processo de se-
nescência, seja de forma física ou psicológica.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 67

CONCLUSÃO

A fisioterapia pélvica na terceira idade contribui para que essa


população possa atuar de forma sadia, de acordo com suas vontades
e desejos promovendo assim uma melhor qualidade de vida, tendo em
vista que esse profissional trabalhará nos problemas funcionais que
podem afetar principalmente a atividade sexual. Dessa forma, diante
da literatura é perceptível à carência de publicações sobre o tema e
a normalização da sexualidade como algo intrínseco ao ser humano,
pois sem ela há um desequilíbrio corporal que provoca diversos distúr-
bios como os geniturinários.

REFERÊNCIAS

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pélvico e os seus efeitos nas disfunções sexuais femininas. Motrici-
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ano 2021, v. 22, n. 3, 15 jul. 2022. Caderno Uro- ginecologia, p. 290-
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LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. DE A. Metodologia do trabalho
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-v11i5.28815. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/ar-
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MAZO, Giovana; SANTOS, Keyla; FREITAS, Caroline; CIELO, Adria-
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VERBEEK, Michelle et al. Disfunção do assoalho pélvico e seu efei-
to na qualidade de vida sexual. Sexual Medicine Reviews, [s. l.], v.
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em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31351916/. Acesso em: 30 ago.
2022.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 69

CAPÍTULO 5

A IMPORTÂNCIA DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA PARA


DIALÓGOS SOBRE ESPECIFICIDADES DOS POVOS E
POPULAÇÕES DA AMAZÔNIA: BREVES REFLEXÕES

Nádile Juliane Costa de Castro


Universidade Federal do Pará
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Belém - Pará
https://orcid.org/0000-0002-7675-5106
nadile1984@gmail.com

Dayanne de Nazaré dos Santos


Faculdade da Amazônia
Programa de pós-graduação em Enfermagem (UEPA)
Belém - Pará
https://orcid.org/0000-0002-6389-7287
enfdayannesantos@yahoo.com.br

Ezequiel Sakew Wai Wai


Universidade Federal do Pará
Faculdade de Enfermagem
Belém - Pará
https://orcid.org/0000-0001-7408-2668
ezequielwaiwai08@gmail.com

Letícia Barbosa de Sousa


Universidade Federal do Pará
Faculdade de Enfermagem
Belém - Pará
https://orcid.org/0009-0002-9352-0381
carvalhobarbosale@gmail.com

Nyvia Cristina dos Santos Lima


Universidade Federal do Pará
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA)
Belém - Pará
https://orcid.org/0000-0002-4335-6715
enfnyviacristina@gmail.com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 70

Adaíde de Sousa Gomes


Universidade Federal do Pará
Faculdade de Enfermagem
Mocajuba - Pará
https://orcid.org/0000-0001-6792-5735
adaide.gomes@ics.ufpa.br

Ananda do Socorro Espíndola Palheta


Secretaria municipal de saúde de São Domingos do Capim
Vigilância em Saúde
São Domingos do Capim – Pará
https://orcid.org/0000-0002-5930-9999
Viganandapalheta@gmail.com

Iago Sérgio de Castro Farias


Universidade Federal do Pará
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem/UFPA
Belém - Pará
https://orcid.org/0000-0003-0027-1268
Iagoscfarias@gmail.com

RESUMO
Objetivo: Fazer reflexões iniciais sobre a papel da extensão universi-
tária para o diálogo sobre as especificidades dos povos e populações
da Amazônia. Método: Estudo teórico-reflexivo baseado nas experi-
ências dos autores e ancorado na literatura. Foi realizado entre feve-
reiro e maio de 2023, nas bases da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS),
Brasil Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Google Acadêmi-
co, considerando teses, dissertações e artigos publicados entre 2019
a 2023. Resultados: Emergiu-se dois eixos temáticos: a extensão uni-
versitária e seus benefícios e; a inclusão das especificidades e o en-
contro com as necessidades regionais. Considerações finais: As di-
versidades de modalidades podem envolver instituições e organiza-
ções locais amazônicas e possibilitam trabalhar com temáticas rela-
cionadas aos povos e populações no percurso da formação, inserin-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 71

do temáticas sobre indígenas, quilombolas ou ribeirinhos, permitindo


troca de conhecimentos e saberes, e a aproximação da universidade
com as comunidades locais.
Palavras-chave: Capacitação de recursos humanos em saúde; Habi-
lidades sociais; Relações comunidade-instituição.

ABSTRACT
Objective: To make initial reflections about the role of university exten-
sion for the dialogue about the specificities of the peoples and popu-
lations of the Amazon. Method: A theoretical-reflexive study based on
the authors’ experiences and anchored in the literature. It was carried
out between February and May 2023, in the bases of the Virtual Health
Library (BVS), Brazil Scientific Electronic Library Online (SciELO) and
Google Academic, considering theses, dissertations and articles pub-
lished between 2019 and 2023. Results: Two thematic axes emerged:
university extension and its benefits and; the inclusion of specificities
and meeting regional needs. Final considerations: The diversity of
modalities can involve institutions and local Amazonian organizations
and make it possible to work with themes related to the peoples and
populations during the course of education, inserting themes about
indigenous, quilombolas or river dwellers, allowing the exchange of
knowledge and wisdom, and the approximation of the university with
local communities.
Keywords: Training of human resources in health; Social skills; com-
munity-institution relations.

Introdução

A extensão universitária é um conjunto de atividades que po-


dem ser efetivadas em espaços acadêmicos, culturais e sociais, es-
treitamente relacionados a dinâmicas de interação entre a universida-
de e a sociedade (GADOTTI, 2017). Essa aproximação com a socie-
dade é fundamental para a aprendizagem, pois permite aos estudan-
tes uma maior compreensão da realidade social (GADOTTI, 2017; SIL-
VA, 2020). Ao participar de projetos de extensão, os estudantes têm
a oportunidade de desenvolver habilidades e competências importan-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 72

tes para sua formação, principalmente as que vão ao encontro da prá-


tica social (GADOTTI, 2017; SILVA, 2020; RODRIGUES et al, 2013).
Enquanto prática social, a extensão universitária estimula a in-
teração entre academia e sociedade promovendo o desenvolvimen-
to social, cultural e econômico das comunidades, na busca da com-
preensão das demandas e necessidades, trazendo por meio de suas
ações soluções mais eficazes e sustentáveis. A extensão universitá-
ria, além difundir o conhecimento de forma mais ampla e democrática,
promove mudanças significativas como a inclusão social, o combate
à desigualdade e a valorização da cultura e da diversidade (RODRI-
GUES et al, 2013; PAULA, 2013).
Compreende-se, portanto, que a extensão universitária proporcio-
na aos estudantes a oportunidade de contribuir para a ações que propi-
ciem a melhoria das condições de vida de indivíduos e famílias. Ações
que podem ser aplicadas por projetos de impacto social, ambiental e eco-
nômico, de acordo com os objetivos propostos. Nota-se que é uma ferra-
menta importante para a formação integral e por meio de iniciativas so-
ciais, educacionais ou sócio-políticas, potencializam a construção do ca-
ráter cidadão (SILVA, 2020; RODRIGUES et al, 2013; PAULA, 2013).
Um aspecto importante acerca da extensão universitária é a
sua efetivação por meio da extensão curricular, ou seja, a inclusão nos
currículos, pois, para sua melhor aplicabilidade é necessário que ela
seja inserida à matriz curricular dos cursos de graduação como par-
te do processo. Observa-se que essa ação integra a extensão ao pla-
no de ensino, fazendo parte da carga horária obrigatória dos cursos, o
que possibilita que as suas atividades sejam transversalmente aplica-
das por meio de planejamento prévio, coordenada pelo professor e em
parceria com as entidades diversas (ALMEIDA e BARBOSA, 2020).
Estudos apontam que essa iniciativa poderá contribuir para o
desenvolvimento intelectual, para socialização e o aprendizado criati-
vo. Além disso, a dinamicidade envolvida trás significantes ações que
para um processo de aprendizagem motivador no percurso da forma-
ção. Oportunizam saberes, trocas e colocam em prática os conheci-
mentos adquiridos em sala de aula, permitindo o desenvolvimento de
habilidades e competências, principalmente as comunicacionais e so-
ciais (SILVA, 2020; CAVALCANTE et al, 2019).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 73

Na realidade da Amazônia pode desempenhar um papel funda-


mental na promoção dos saberes e fazeres dos povos e populações
da região, contribuindo para a valorização e conservação da biodiver-
sidade por meio de iniciativas que visam a conscientização e mobiliza-
ção da população para a importância da preservação dos ambientes,
sociedade e de suas relações. Além disso, pode atuar no desenvolvi-
mento de tecnologias e práticas sustentáveis em consonância com as
necessidades das comunidades locais, desenvolvendo capacitação e
formação profissional para a promoção da inclusão social e valoriza-
ção da cultura das populações tradicionais da Amazônia, como indíge-
nas, quilombolas e ribeirinhos (CRISTOFOLETTI e SERAFIM, 2020;
CHAVES, 2023; CARVALHO et al, 2022).
Portanto, a extensão universitária pode ser um importante ins-
trumento para a contribuir para uma formação que valorize as especi-
ficidades regionais. Nesse sentido, o estudo tem como objetivo fazer
reflexões iniciais sobre a papel da extensão universitária para o diálo-
go sobre as especificidades dos povos e populações tradicionais da
Amazônia.

Método

Estudo reflexivo, que propõe reflexões iniciais sobre o papel da


extensão universitária para o diálogo acerca das especificidades dos
povos e populações da Amazônia. Para tanto, realizou-se busca de
estudos de forma não sistemática, orientados pelo tema extensão uni-
versitária na Amazônia. Buscou discutir a partir da literatura e experi-
ências pessoais dos autores reflexões e aprendizados em relação a
determinado assunto, com o objetivo de contribuir para a compreen-
são e aprofundamento do tema, assim como promover a reflexão crí-
tica e a construção do conhecimento que ainda são insipientes em re-
lação ao grupo abordado. Do estudo emergiu os subtemas: a exten-
são universitária e seus benefícios e a inclusão das especificidades e
o encontro com as necessidades regionais.
Foi realizado entre fevereiro e maio de 2023, nas bases da Bi-
blioteca Virtual de Saúde (BVS) e Brasil Scientific Electronic Library
Online (SciELO), por meio das seguintes palavras-chave extensão
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 74

universitária e indígenas, extensão universitária e quilombolas e in-


tegração ensino comunidade e extensão. Foram considerados o total
de 04 estudos, organizados para leitura, sendo posteriormente ficha-
dos com título e resumos a fim de selecionar achados relevantes para
a discussão. Considerou-se estudos realizados entre os anos de 2019
a 2023 em português.
Na qualidade de estudo teórico-reflexivo com base em levan-
tamento bibliográfico e vivência dos autores, foi dispensada a aprova-
ção em Comitê de Ética em Pesquisa.

Desenvolvimento

A extensão universitária e seus benefícios

A extensão universitária foi a última dimensão constitutiva das


universidades, e possui natureza interdisciplinar ampliada e político-
-social4,10. Pode ser classificada de acordo com suas finalidades: pro-
jetos, programas, cursos, eventos e extensão curricular, sendo uma
das formas mais significativas de inserção social das universidades e
uma importante ferramenta para a construção de uma sociedade mais
justa, inclusiva, democrática e com benefícios mútuos em virtude da
interação entre comunidade e universidade (GADOTTI, 2017; RODRI-
GUES et al, 2013; PAULA, 2013).
Enquanto modalidade, os projetos de extensão são atividades,
em geral, em parceria com a comunidade, com o objetivo de atender
às demandas sociais e promover a inclusão social, cultural, científica
e tecnológica (SILVA e VASCONCELOS, 2006; CASTRO et al, 2021).
Já os Programas de extensão que são de caráter mais amplo, que en-
volvem diferentes projetos e ações integradas, com o objetivo de aten-
der a demandas mais complexas e de longo prazo (CRISTOFOLETTI
e SERAFIM, 2020; SILVA e VASCONCELOS, 2006).
Há também os cursos de extensão que são atividades de for-
mação complementar, oferecidos tanto para estudantes da própria ins-
tituição de ensino como para pessoas da comunidade em geral. Os
eventos de extensão de caráter pontual, como palestras, workshops,
seminários, feiras, entre outros, que têm como objetivo disseminar co-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 75

nhecimentos e promover a discussão sobre temas relevantes para a


comunidade. E finalmente, a extensão curricular é um conjunto de ati-
vidades complementares obrigatórias ou optativas, que são integra-
das à grade curricular de um curso de graduação ou pós-graduação,
com o objetivo de ampliar a formação (CRISTOFOLETTI e SERAFIM,
2020; SILVA e VASCONCELOS, 2006).
É de suma importância compreender que modalidades, essen-
cialmente de programas e projetos de extensão, são atividades de na-
tureza voluntária, desenvolvidas por professores, pesquisadores e es-
tudantes (SILVA e VASCONCELOS, 2006). Sobretudo quando de ca-
ráter integrado ou quando desenvolvidos fora da grade curricular, visto
que possuem autonomia para definir suas metas e objetivos, podendo
ser de curta ou longa duração (RODRIGUES et al, 2013; (CRISTOFO-
LETTI e SERAFIM, 2020; SILVA e VASCONCELOS, 2006).
Quanto a integração, seja eletiva ou optativa, podem ser ofer-
tadas em conjunto com disciplinas curriculares, com inclusão dos pro-
jetos de extensão como atividades complementares para os estudan-
tes, integrando ações de projetos de extensão e disciplinas regulares
dos cursos, com o objetivo de ampliar a interdisciplinaridade e o diálo-
go entre diferentes áreas de conhecimento (GADOTTI, 2017; SILVA e
VASCONCELOS, 2006).
A discussão sobre a inclusão da extensão no currículo vem
sendo observado ao longo dos tempos, com destaque na década de
1960, em virtude de questões conceituais sinalizados por Paulo Frei-
re (PAULA, 2013). Outrora deve ser compreendido em diferentes mo-
mentos políticos e educacionais, inclusive do fazer extensão e seus
objetivos (RODRIGUES et al, 2013; PAULA, 2013). A inclusão da ex-
tensão curricular, por sua vez, também tem sido uma pauta importan-
te em diversas discussões sobre a reforma curricular e a renovação
dos modelos de ensino (GADOTTI, 2017; SILVA e VASCONCELOS,
2006).
Podem ser inseridos nos currículos dos cursos de graduação
de diferentes formas, dependendo das políticas de cada instituição de
ensino superior. Algumas das formas mais comuns são: Disciplinas de
extensão, que são regulares do curso de graduação, com uma abor-
dagem voltada para a prática e a aplicação dos conhecimentos inte-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 76

gradas à matriz curricular do curso e têm uma carga horária específica


e; Como atividades complementares, sendo necessário cumprir uma
carga horária mínima (SILVA e VASCONCELOS, 2006).
A inserção curricular traz muitos benefícios para a formação
universitária, incluindo aprendizado prático, por meio de resolução de
problemas e desafios reais, para o desenvolvimento de habilidades e
competências, conhecimento da realidade social, formação cidadã, in-
tegração com a comunidade e networking e oportunidades profissio-
nais de modo contínuo ao longo da disponibilidade dos eixos ou ativi-
dades curriculares (GADOTTI, 2017; PAULA, 2013).
A inserção quando desenvolvida por meio de realidades so-
ciais oportuniza conhecer os desafios enfrentados pelas comunida-
des, contribuindo para uma formação mais crítica e humana (ALMEI-
DA e BARBOSA, 2020).O engajamento dos estudantes é essencial
para a formação de cidadãos mais conscientes e comprometidos com
a transformação social, identificando demandas e promovendo inclu-
são (PAULA, 2013; RODRIGUES et al, 2013). Ademais, essa parce-
ria fortalece as relações entre os segmentos envolvidos e é um espa-
ço para rompimento de barreiras do ensino tradicional (CAVALCANTE
et al, 2019).
É uma oportunidade diferenciada em que os estudantes po-
dem desenvolver habilidades de comunicação, pois treina uma boa
comunicação com a equipe e com a comunidade envolvida, além de
uma postura colaborativa e proativa, que favorece o trabalho em equi-
pe (CHAVES, 2023). Há também, a oportunidade de liderar equipes e
projetos, o que os ajuda a desenvolver habilidades de liderança, como
delegação, tomada de decisões, resolução de conflitos, além de com-
petências culturais para mediar conflitos de cultura por meio de uma
educação emancipatória. Para mais, pode ser uma oportunidade va-
liosa para adquirir conhecimentos e experiências práticas complemen-
tares ao currículo obrigatório, vivenciando situações reais da prática
profissional, além de aprimorar habilidades já citadas (RODRIGUES et
al, 2013; CAVALCANTE et al, 2019; CASTRO et al, 2021).
Destaca-se que no caso das competências sobre comunica-
ção, essencialmente a produção de conteúdo para diferentes mídias,
como blogs, vídeos e redes sociais, o desenvolvimento de habilidades
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 77

de escrita, oratória e argumentação, corroborando para a construção


de habilidades sociais, como do diálogo, escuta ativa e a empatia. Es-
tudos apontam como esses processos podem ser desenvolvidos, con-
siderando eventos e interação a partir de diversidades (ARAÚJO et al,
2022; SILVA e VASCONCELOS, 2006).
Há também, a participação na organização de eventos, como
conferências e palestras, relacionadas a habilidades de relações in-
terpessoais, negociação, gestão de tempo, comunicação verbal e não
verbal. Além da produção científica, que exigem a elaboração de rela-
tórios, estudos e apresentações, estimulando e capacitando os estu-
dantes para a reflexão das especificidades de povos e populações da
Amazônia (MUSSE et al, 2021).

Inclusão das especificidades e o encontro com as necessidades


regionais

O encontro com as necessidades regionais significa desenvol-


ver atividades que atendam às demandas da população, contribuindo
para o enfrentamento dos desafios e problemas específicos de cada
região e grupo (CHAVES, 2023; CARVALHO et al, 2022; MUSSE et
al, 2021). Isso pode incluir a realização de projetos e programas de
extensão que visem a melhoria da qualidade de vida da população
(MUSSE et al, 2021; ROCHA e COELHO, 2021). No entanto, é funda-
mental que as atividades de extensão sejam desenvolvidas em parce-
ria com as comunidades locais, valorizando suas particularidades com
participação ativas das lideranças.
Ressalta-se que a inclusão das especificidades e necessidades
regionais é um princípio fundamental previsto na legislação brasileira,
que orientam a atuação das instituições de ensino superior na promo-
ção do desenvolvimento regional. O primeiro indicativo é a Constitui-
ção Federal de 1988 que estabelece como um dos objetivos funda-
mentais a promoção do desenvolvimento regional, com base na redu-
ção das desigualdades regionais e sociais. Logo, a extensão universi-
tária é um importante instrumento para efetivação, contribuindo para a
redução destas, promovendo diálogo que vai ao encontro de uma for-
mação cidadã (RODRIGUES et al, 2013).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 78

Importante destacar a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080/1990)


pelo princípio da equidade, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 9.394/1996) pela previsão da necessidade de articula-
ção da extensão com o ensino e a pesquisa, orientada pelos princípios
da indissociabilidade, da promoção do desenvolvimento regional e da
inclusão social. Há ainda, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN)
que estabelecem as normas e diretrizes para a organização dos cursos
de graduação e pós-graduação que sinaliza a necessidade de conside-
rar na implementação das DCNs às particularidades de cada região, em
função das competências a serem desenvolvidas para atender às de-
mandas de cada região e as diversidades de povos e populações.
Além disso, a Política Nacional de Extensão Universitária, insti-
tuída pela Portaria MEC nº 2.519/2016, estabelece como um dos prin-
cípios da extensão universitária a inclusão social e a promoção da cida-
dania, com ênfase nas especificidades e demandas das populações e
regiões atendidas. Portanto, a inclusão das especificidades e o encon-
tro com as necessidades regionais são princípios orientadores da ex-
tensão universitária previstos na legislação brasileira, que visam a pro-
moção e a melhoria da qualidade de vida das populações locais (CHA-
VES, 2023; CARVALHO et al, 2022; LUNA et al, 2019; GARCEZ, 2019).
Nesses termos, a inclusão de especificidades de povos e po-
pulações na formação de profissionais atuantes na Amazônia é funda-
mental para a formação de profissionais capacitados a atender às ne-
cessidades da população local de forma mais adequada, abrangente
e eficaz (RODRIGUES et al, 2013; MUSSE et al, 2021; ROCHA e CO-
ELHO, 2019). A região amazônica possui uma grande diversidade ét-
nica e cultural, e é composta por diversas populações indígenas, qui-
lombolas, ribeirinhas e outras comunidades tradicionais, que possuem
características e necessidades específicas de que pode ser discutidas
no âmbito da extensão (ARAÚJO et al, 2022; GARCEZ, 2019).
A discussão das especificidades é fundamental e significa con-
siderar as características de cada região, as demandas e necessida-
des específicas dos grupos. Isso permite que as atividades de exten-
são sejam mais relevantes e próximas da realidade dos envolvidos,
sobretudo quanto de uma formação equânime e baseada em uma prá-
tica social (RODRIGUES et al, 2013).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 79

Esses processos podem ser realizados por meio da inclusão


de conteúdos relacionados à saúde indígena, saúde quilombola, saú-
de da população ribeirinha por meio ações estratégicas no qual os alu-
nos têm a oportunidade de vivenciar a realidade da população local
e aprender com as particularidades do atendimento nesses locais de
forma mais humanizada, respeitando as diferenças culturais e sociais
e considerando as necessidades específicas de cada grupo popula-
cional (CHAVES, 2023; CARVALHO et al, 2022; LUNA et al, 2019).
Além disso, essa inclusão contribui para a promoção da equidade e
justiça social na área da saúde na região, pois reconhece a importân-
cia de atender as necessidades das populações mais vulneráveis e
marginalizadas (RODRIGUES et al, 2013).
Portanto, é essencial para a formação de profissionais mais pre-
parados para atuar em diferentes contextos e com diferentes grupos po-
pulacionais, contribuindo para a promoção da saúde e do bem-estar da
população amazônica de forma mais justa e equitativa (RODRIGUES et
al, 2013; LUNA et al, 2019). Evidentemente é necessário superar os de-
safios como o conhecimento tradicional e toda a realidade que envolve
o modo de vida relacionadas a estes grupos (GARCEZ, 2019).
Nota-se que a extensão universitária voltada a povos e popula-
ções da Amazônia pode oferecer aos estudantes a oportunidade de co-
nhecer suas realidades, e aprender sobre suas culturas e modos de vida
(LUNA et al, 2019; GARCEZ, 2019). Assim como aprender a comunicar-
-se de forma mais clara e eficaz com essas comunidades, superando bar-
reiras culturais e linguísticas que possam existir (LUNA et al, 2019). Além
disso, a participação em projetos que envolvem a produção de conteú-
do sobre a Amazônia, como vídeos, reportagens e materiais educativos,
pode ajudar os estudantes a desenvolverem habilidades que os permitam
abordar com sensibilidade e conhecimento de causas importantes rela-
cionados à região (ARAÚJO et al, 2022; CASTRO et al; 2021).

Considerações finais

A extensão universitária pode se concretizada de diversas for-


mas, e por isso possibilita dialogar sobre as especificidades e neces-
sidades regionais conforme modalidade e objetivo. Algumas modalida-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 80

des são mais conhecidas e outras continuam sendo discutidas e im-


plementadas. De todo modo, os formatos podem envolver instituições
e organizações locais amazônicas e possibilitam trabalhar com temá-
ticas relacionadas aos povos e populações, como dos indígenas, qui-
lombolas ou ribeirinhos, permitindo troca de conhecimentos e saberes,
e a aproximação da universidade com as comunidades locais.
Para tanto, a universidade deve desenvolver iniciativas de ex-
tensão universitária que busquem compreender as demandas e ne-
cessidades desses grupos, bem como desenvolver soluções e inter-
venções que proporcionem melhoria da qualidade de vida com a par-
ticipação direta das lideranças das comunidades.
Para além dos benefícios, é necessário ressaltar as limitações
durante a prática como restrição de recursos, deslocamento para lo-
calidades isoladas e a limitação da integração com a grade curricular
do curso, fatos poucos explorados na literatura científica. Para tanto,
é necessário realizar estudos que identifiquem os impactos das mo-
dalidades na formação e nas comunidades, sobretudo quando de po-
vos indígenas e comunidades tradicionais amazônicas, assim como
na formação universitária.

Referências bibliográficas

1 - GADOTTI, Moacir. Extensão universitária: para quê. Instituto Pau-


lo Freire, v. 15, p. 1-18, 2017.
2 - SILVA, Wagner Pires. Extensão universitária: um conceito em cons-
trução. Revista Extensão & Sociedade, v. 11, n. 2, 2020.
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universitária na sociedade. Caderno de Graduação-Ciências Huma-
nas e Sociais-UNIT-SERGIPE, v. 1, n. 2, p. 141-148, 2013.
4 - PAULA, João Antônio. A extensão universitária: história, conceito
e propostas. Interfaces-Revista de Extensão da UFMG, v. 1, n. 1, p.
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5 - ALMEIDA, Sinara Monica Vitalino de; BARBOSA, Larissa Marcel-
le Vaz. Curricularização da extensão universitária no ensino médico: o
encontro das gerações para humanização da formação. Revista Bra-
sileira de Educação Médica, v. 43, p. 672-680, 2020.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 81

6 - CAVALCANTE, Yanka Alcântara et al. Extensão Universitária como


ferramenta no processo de ensino e aprendizagem na formação do en-
fermeiro. Revista Kairós-Gerontologia, v. 22, n. 1, p. 463-475, 2019.
7 - CRISTOFOLETTI, Evandro Coggo; SERAFIM, Milena Pavan. Di-
mensões metodológicas e analíticas da extensão universitária. Edu-
cação e Realidade, v. 45, n. 1, 2020.
8 – CHAVES, Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues. Experiência de
extensão universitária em Serviço Social na Amazônia. Textos & Con-
textos (Porto Alegre), v. 22, n. 1, p. e43251-e43251, 2023.
9 - CARVALHO, Joelma et al. EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CO-
MUNIDADE INDÍGENA: Diálogos e Saberes ancestrais, um relato de
experiências em tempo de pandemia, Manaus-Amazonas. Revista
Extensão, v. 22, n. 1, p. 135-141, 2022.
10 - SILVA, Maria Do Socorro; VASCONCELOS, Simão Dias. Exten-
são universitária e formação profissional: avaliação da experiência das
Ciências Biológicas na Universidade Federal de Pernambuco. Estu-
dos em avaliação educacional, v. 17, n. 33, p. 119-136, 2006.
11 - ARAÚJO, Jainara de Souza et al. Public policy for social inclusion
in higher education and extension practices with ethnic groups. Revis-
ta Brasileira de Enfermagem, v. 75, 2022.
12 - CASTRO, Nádile Juliane Costa et al. Development of digital
communication and information technologies in the training of indige-
nous and quilombola nurses. Rev Enferm UFPI, v. 10, n. 1, 2021.
13 - LUNA, Willian Fernandes et al. Projeto de Extensão Iandé Guatá:
vivências de estudantes de Medicina com indígenas Potiguara. Inter-
face-Comunicação, Saúde, Educação, v. 23, 2019.
14 - MUSSE, Jamilly Oliveira et al. Extensão universitária e formação
em saúde: experiências de um grupo tutorial do PET-Saúde Interpro-
fissionalidade. Revista Brasileira de Extensão Universitária, v. 12,
n. 1, p. 103-112, 2021.
15 - GARCEZ, Lilyanne Rocha. Desafios, peculiaridades e limitações:
a valorização da academia no desenvolvimento de ações extensionis-
tas na Amazônia. Revista Ciência em Extensão, v. 15, n. 4, p. 165-
183, 2019.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 82

16 - ROCHA, Damião; COELHO, Marcos Irondes. Currículos e curri-


cularização da formação docente contemporânea nos mestrados em
educação da UFPA, UEPA, UFT na/da Amazônia brasileira. Revista
Exitus, v. 11, 2021.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 83

CAPÍTULO 6

A IMPORTÂNCIA DOS MEIOS ALTERNATIVOS DE


RESOLUÇÃO DE CONFLITOS: UMA ANÁLISE DOS
PROCESSOS QUE TRAMITARAM NO CEJUSC
DE PIRIPIRI-PI NOS ANOS DE 2020 A 2022

THE IMPORTANCE OF ALTERNATIVE CONFLICT RESOLUTION


MEANS: AN ANALYSIS OF THE PROCEEDINGS THAT WENT
THROUGH THE PIRIPIRI-PI CEJUSC IN THE YEARS
FROM 2020 TO 2022

Adailton Vieira do Nascimento Júnior


Christus Faculdade do Piauí – Chrisfapi
Piripiri-PI
https://orcid.org/0009-0007-2902-6828
adailtonjr09@gmail.com

Gustavo Pereira Leitão


Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi
Piripiri-PI
https://orcid.org/0009-0007-2863-5373
gustavopereira0997@gmail.com

Daniel da Costa Araújo


Professor Orientador
Professor Especialista e Docente
na faculdade CHRISFAPI
Piripiri-PI
https://orcid.org/0000-0002-4917-9385
daniel_costa_araujo@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo tem como finalidade demonstrar os benefícios que
a autocomposição leva a esfera processual cível. Para tanto, o referi-
do traz a seguinte indagação: Qual a importância dessas autocomposi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 84

ções nos processos que tramitaram no CEJUSC de Piripiri-PI nos anos


de 2020 a 2022 no que tange a resolução de conflitos? Para o alcance
do intento, todo o trabalho se dará através de uma pesquisa bibliográfi-
ca enriquecida com pesquisa de campo. Este estudo está voltado a es-
fera da análise de dados presentes no Conciliare, onde busca compre-
ender os conceitos e a forma de aplicação da mediação e conciliação
no CEJUSC. Para tal análise foram utilizados como arcabouço teórico
livros, artigos, notícias, bem como a legislação pertinente.
Palavras-Chave: Autocomposição; Conciliação; Mediação

ABSTRACT
The purpose of this article is to demonstrate the benefits that self-com-
position brings to the civil procedural sphere. To this end, the afore-
mentioned brings the following question: What is the importance of
these self-compositions in the processes that were processed at the
CEJUSC of Piripiri-PI in the years 2020 to 2022 with regard to con-
flict resolution? To reach the intent, all the work will be done through a
bibliographical research enriched with field research. This study is fo-
cused on the sphere of analysis of data present in Conciliare, where it
seeks to understand the concepts and the form of application of me-
diation and conciliation in CEJUSC. For such an analysis, books, arti-
cles, news, as well as the relevant legislation were used as a theoret-
ical framework.
Keywords: Self-composition; Conciliation; Mediation

INTRODUÇÃO

A autocomposição sempre fez parte da história humana. Des-


de os primórdios, o homem como ser político, necessita viver em meio
social, entretanto, essas relações muitas vezes tendem a levar ao con-
flito de ideias e interesses. Logo, esse convívio mútuo, necessaria-
mente, gera efeitos em relação as outras pessoas, e isso muitas vezes
resulta naquilo denominado conflito social. Dessa forma, com o avan-
ço do dinamismo social e o advento do Estado democrático de direito,
fez-se necessário que o mesmo criasse formas pacíficas, legais e cé-
leres de resolução de lides.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 85

Partindo deste raciocínio, institutos legais como o Novo Código


de Processo Civil e a Lei nº 13.140/2015, colocaram a Mediação e a
Conciliação como importantes formas de dirimir esses conflitos, princi-
palmente no âmbito dos CEJUSCs, que tiveram como embrião a Re-
solução nº 125 do CNJ. Nesse sentido, é de extrema importância iden-
tificar a utilização desses institutos, tomando por base os processos
que tramitaram no CEJUSC de Piripiri-PI nos anos de 2020 a 2022, no
que tange a resolução de conflitos.
Com isso, mesmo com os avanços em matéria processual cita-
dos, sua forma de processamento de ações assim como seus efeitos
ainda geram dúvidas para aqueles que não estão habituados com o
mundo jurídico. Dessa forma, surge o seguinte questionamento: Qual
a importância dessas autocomposições nos processos que tramitaram
no CEJUSC de Piripiri-PI nos anos de 2020 a 2022 no que tange a re-
solução de conflitos?
Neste trabalho, temos como objetivo, através de uma análise
de dados, expressar a importância e a aplicação da Mediação e da
Conciliação no cotidiano jurídico, mais especificadamente no CEJUSC
de Piripiri-PI, contribuindo para que se aprimore seu conhecimento e
sua efetivação na resolução dos conflitos jurídicos.
Este trabalho foi desenvolvido através de uma pesquisa biblio-
gráfica incrementada com pesquisa de campo, pois a mesma funda-
menta-se na utilização de dados previstos na plataforma do Tribunal
de Justiça, assim como, trabalhados em documentos, notícias, arti-
gos, livros, dentre outros.
Logo, visto a importância dos institutos da mediação e da conci-
liação, através dos dados obtidos, o presente trabalho vem demonstrar
os conceitos e a importância desses institutos em relação à solução pa-
cífica e autônoma de conflitos, analisando os processos que ocorreram
no CEJUSC de Piripiri-PI nos anos de 2020 a 2022. Para que assim, a
sociedade possa perceber o impacto dos supracitados institutos no que
concerne a sua efetividade e o empoderamento das partes. O presente
projeto também apresenta grande relevância para a comunidade aca-
dêmica, uma vez que servirá como fonte de pesquisa.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 86

CONCEITOS E FORMA DE PROCESSAMENTO

Primeiramente, a fim de localizar o leitor quanto aos institutos


trabalhados, cabe analisar que tanto a conciliação como a mediação
se utilizam de instrumentos para chegar à resolução dos conflitos pre-
sentes no cotidiano social.
Nesse sentido, o Art. 165 do NCPC, afirma em seu § 2º, que a
conciliação será utilizada nos casos onde as partes não possuem vín-
culo anterior, ademais, o conciliador poderá a qualquer momento dizer
sugestões a fim de solucionar o litigio. Logo, é utilizada nas relações
onde venham existir lides entre partes distintas, como exemplo as au-
tocomposições que podem ocorrer no âmbito comercial e empresarial
(BRASIL, 2015)
Já em relação ao §3º do artigo citado, a mediação será utilizada
nos casos onde as partes já possuem um vínculo anterior, e diferente-
mente do primeiro instituto, o mediador não poderá sugerir soluções,
pois entende-se que o papel deste é auxiliar as partes a interpretarem
o caso de uma forma mais compreensível, para que possam chegar
por si próprios a uma solução consensual. Tanto que é algo mais vol-
tado as demandas de âmbito familiar, tais como os divórcios e ações
de guarda. (BRASIL, 2015).
Partindo disso, cabe analisar ainda que, os conciliadores e me-
diadores tem sua figura voltada a importância de um terceiro no confli-
to que irá buscar o entendimento entre os indivíduos através do diálo-
go e da compreensão dos interesses da relação. É este terceiro que,
através de técnicas irá contribuir para o restabelecimento da comuni-
cação e retirar a desigualdade presente com o acordo.
Logo, tem-se que a função destes institutos é a busca pelo
restabelecimento das relações que se demonstram desgastadas,
e como consequência disso, evitar o prosseguimento das deman-
das no poder judiciário. Dessa forma, conforme previsto no Art. 166,
caput do CPC/15, é garantido aos conciliadores e mediadores prin-
cípios como da decisão informada, da informalidade, da autonomia
de vontade das partes, da independência, da imparcialidade, dentre
outros, a fim de que se alcance a pacificação desses conflitos (BRA-
SIL, 2015).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 87

Vale lembrar que, partindo dessa ideia, na mediação destacam-


-se os princípios da autonomia de vontade e da informalidade, presen-
tes no Art. 2º, V e VI, da Lei 13.140/2015 e o Art. 166, §4º do Novo Có-
digo de Processo Civil, onde preveem que a atuação dos mediadores
não está vinculada a uma forma preestabelecida em lei, diferentemen-
te do que ocorre nas audiências de instrução e julgamento presentes
no rito ordinário, onde a ausência de certas formalidades pode resul-
tar na anulação do ato.
Nesse sentido, as partes serão responsáveis por apresentar
sua lide e definir seu mediador para ajudar na busca de consenso. E
este, terá como uma de suas funções explicar as partes sobre regras e
princípios que envolvem a imparcialidade e a confidencialidade do ato.
Vale ressaltar que, em respeito ao Art. 166, §2º, do CPC/15, aquilo que
for tratado nas sessões não poderá ser utilizado posteriormente como
matéria probatória em processo diverso (BRASIL, 2015).
Não obstante a isso, o Art. 166, §4º do Novo Código de Proces-
so Civil permite que, caso seja de comum acordo entre as partes, a
sessão poderá ocorrer até mesmo em lugares diversos da sala de au-
diências (Brasil, 2015). Vale salientar ainda que, na mediação, além
dos princípios que irão instruir o profissional a obter êxito na retoma-
da do diálogo em caráter processual, existem certas técnicas que au-
xiliam os mediadores a obterem este fim no âmbito prático.
Segundo Pires (2019), uma dessas técnicas é o Caucus, onde
o mediador, em obediência ao princípio da isonomia das partes versa-
do no Art. 2º, II da Lei nº 13.140/15, poderá reuni-las de forma indivi-
dual ou conjunta em intervalos iguais, para buscar uma melhor aproxi-
mação entre as partes e o profissional, a fim de entender o que os le-
vou a necessidade de realizar aquela sessão (BRASIL, 2015). 
Dessa forma, diante dos princípios e técnicas supramenciona-
dos, recorrentemente, perante ao poder judiciário aparecem conflitos
que podem ser resolvidos de forma rápida e fácil, logo, a utilização
dessas autocomposições no cotidiano jurídico e social garante aos li-
tigantes a oportunidade de chegarem ao consenso sem necessidade
de um trâmite processual definido por lei.
Partindo desse raciocínio, Marques (p. 124) aponta em seu co-
mentário do Art. 20 da Lei de Mediação que “Essa política, mais do
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 88

que apenas reduzir o enorme volume de processos em trâmite no Po-


der Judiciário, tem por objetivo mudar a cultura do nosso povo que,
nestes anos de democracia e de busca por facilitar o acesso à justiça,
aprendeu a ser extremamente litigante”.
Visto a importância destes dois institutos, os debates acabaram
por levar o poder legislativo a criação da lei 13.140 de junho de 2015
e a inclusão no Código de Processo Civil de 2015 de artigos para tra-
tar sobre o tema, bem como a resolução 125 de 2010 do CNJ para a
consolidação desses institutos, fixando o marco da legislação atual do
direito brasileiro.  

CEJUSCs

Tendo por base os conceitos acima delineados, em 2010, com


a instituição da Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça - CNJ,
houve uma alteração impactante nos paradigmas norteadores da juris-
dição e resolução de conflitos. Importância tamanha que, futuramente
iria ter lugar de destaque na criação do Novo Código de Processo Civil
brasileiro e a edição da Lei nº 13.140/15 (Lei de mediação).
A partir dessa resolução, as autocomposições deixaram de ser
consideradas uma exceção, para algo recorrente dentro do cotidiano
jurídico. Além disso, determinou em seu Art. 12, §2º da Res. 125/2010,
do CNJ, a criação de cursos de formação e reciclagem, a fim de criar
parâmetros mínimos de preparação e avaliação dos profissionais atu-
antes, com a finalidade de tornar o sistema dinâmico (BRASIL, 2010).
Diante disso, pode-se destacar que a sua contribuição mais mar-
cante está presente na Seção II, Art. 8º da Resolução, onde trouxe que:

“Art. 8º Para atender aos Juízos, Juizados ou Varas com


competência nas áreas cíveis, fazendária, previdenciária,
de família ou dos Juizados Especiais Cíveis, Criminais e
Fazendários, os Tribunais deverão criar os Centros Judi-
ciários de Solução de Conflitos e Cidadania («Centros»),
unidades do Poder Judiciário, preferencialmente, respon-
sáveis pela realização das sessões e audiências de con-
ciliação e mediação que estejam a cargo de conciliado-
res e mediadores, bem como pelo atendimento e orien-
tação ao cidadão”
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 89

Nesse sentido, a principal função desses centros é fornecer à


sociedade, através dos institutos tratados previamente, um lugar ade-
quado para solucionar conflitos. Vale lembrar ainda, que este serviço
não traz custo às partes e poderá ser utilizado em qualquer momen-
to da fase processual ou até mesmo nos casos onde não há processo
estabelecido (TT, 2020).
No caso dessa última hipótese, a parte deverá direcionar-se
até o Centro e informar seus dados e os dados do outro polo, após,
o serventuário irá enviar uma carta convite para participação da au-
diência de mediação ou conciliação. Caso seja fruto dessa audiência
um acordo, as partes poderão pedir que aquele termo seja homologa-
do pelo magistrado, fazendo com que este adquira qualidade de título
executivo judicial (TJES, S.D.).

METODOLOGIA

Visto os conceitos estabelecidos, utilizou-se como metodologia


para conceituação dos institutos mencionados no presente trabalho a
pesquisa em artigos, notícias, a legislação pertinente e livros. Já em
relação aos números colhidos, foram retirados do Conciliare, que se
apresentava como a plataforma responsável pela coordenação e uti-
lização das sessões de autocomposições pelos serventuários da jus-
tiça do estado do Piauí, mais especificadamente, do CEJUSC da Co-
marca de Piripiri-PI, entre os anos de 2020 e 2022.7

ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÕES

O ano de 2020 foi marcado pela crise sanitária que assolou o


mundo e surpreendeu a todos, tal fato prejudicou não só o Brasil, mas
vários países e seus ordenamentos jurídicos, principalmente, em rela-
ção a direitos básicos. Dentre estes, destaca-se o livre acesso à jus-
tiça, disposto no Art. 5º, XXXV da CF/88, pois grande parte dos atos
processuais eram realizados de forma presencial (BRASIL, 1988).
Tendo em vista essa crise sanitária, em 2020, no município de
Piripiri-PI houveram um total de 396 sessões de mediação ou conci-
liação. Ao tomar por base tal números e o fato narrado, ressalta-se
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 90

que fevereiro foi o mês mais expressivo com 60 audiências realiza-


das. Ademais, vale lembrar que o primeiro caso de Corona Virus noti-
ciado no Brasil deu-se em 26 de fevereiro de 2020 (RESENDE, 2022).
Contudo, apenas em março do referido ano começou-se a mo-
vimentação do poder executivo estadual a fim de tomar medidas sobre
o aumento no número de casos (GOVERNO DO PIAUÍ, S.D.)
Com base nisso, ainda persistia no citado mês a utilização de
audiências presenciais, o que garantia uma melhor eficácia do méto-
do pela população e contribuía para um melhor desenvolvimento das
sessões pelos mediadores ou conciliadores.
Diferentemente de seu antecessor, em 2021, o Brasil já possuía
uma série de adaptações estruturais e jurídicas, dentre estas, desta-
ca-se a realização de atos processuais de forma remota que possibili-
taram um melhor enfrentamento da pandemia, seja nas esferas esta-
duais ou municipais.
Desta feita, os serventuários da justiça, em home office, pas-
saram a aceitar com mais frequência outras formas de comunicação,
seja via WhatsApp, telefone, e-mails e até o recebimento de protoco-
los por essa via, comunicando os atos processuais e criando soluções
até pouco tempo inimagináveis (TISO, 2021).
Nesse sentido, em obediência ao Art. 334, §7º do CPC/15 e
a Portaria nº 1295/2020 (CGJ/TJ-PI, 2020), um desses métodos que
mais se destacou, foi a realização de audiências remotas. Principal-
mente através de plataformas como, Google Meet, Microsoft Teams,
Webex Meetings e o Zoom.
Logo, surgiu a preocupação que isso impactasse negativamen-
te a forma como o Direito era tratado na realidade, tendo em vista que,
tal ramo era, e ainda é marcado pelo contato presencial entre às partes.
Partindo dessa análise, o contato entre os litigantes que se fa-
zia importante não só na Instrução Processual, teria um impacto mui-
to maior quando o tópico fosse a tentativa na retomada do diálogo en-
tre os polos. Uma vez que, às partes possuem uma maior predisposi-
ção em conciliar quando estão em contato direto.
Diante dessa discussão, no ano de 2021, houve um total de
420 sessões de mediação ou conciliação. Demonstrando que, mes-
mo diante dos empecilhos apresentados, verificou-se um aumento nos
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 91

números e consequentemente uma maior procura por esses centros


especializados.
Por fim, em 2022, com a maioria dos estados e municípios de-
cretando o fim das restrições sanitárias e o mundo voltando ao normal
outra vez. Formava-se o ambiente perfeito para identificar a importân-
cia dos CEJUSCs.
Diante disso, no ano supracitado, houveram um total de total
de 481 audiências. Vale ressaltar que, nos meses de novembro e de-
zembro do citado ano, houve a migração do sistema Conciliare para o
atual PJe (Processo Judicial Eletrônico), o que inviabilizou a contabili-
zação das sessões que foram realizadas nos referidos meses. Nesse
sentido, ainda foi possível a realização e o registro de 6 audiências no
mês de novembro, até sua total migração em dezembro.

CONCLUSÃO

Diante das discussões apresentadas, chegou-se à conclusão


de que a conciliação e a mediação são importantes formas de resolu-
ção de conflitos frutos de um longo processo de adaptação legislativa,
e que quando aplicadas nos CEJUSCs, resultam em uma das mais efi-
cazes formas de autocomposição da atualidade.
Ademais, atingiu-se com o presente artigo a conceituação dos
institutos mencionados, seus princípios, sua forma de utilização e aci-
ma de tudo os dados que comprovaram o desenvolvimento destes no
CEJUSC de Piripiri-PI no passar dos anos trabalhados.
Apesar do desconhecimento por uma parte da população, não
só das autocomposições tratadas, mas como também da própria exis-
tência do CEJUSC. Foi possível observar que durante o lapso tem-
poral apresentado. Os dados concretizaram que há um constante au-
mento na busca destes Centros, mesmo com os empecilhos trazidos
pela pandemia do COVID-19.
Nesse sentido, a principal contribuição adquirida com o presen-
te trabalho foi identificar que, diferentemente do que algumas pesso-
as que possuem menos contato com a seara jurídica, e até mesmo al-
guns profissionais do direito pensam os CEJUSCs vieram para propi-
ciar à sociedade um ambiente de empoderamento as partes, onde es-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 92

tas, através de um terceiro imparcial, poderão de forma rápida, sim-


ples e gratuita procurar uma melhor solução para aquela lide.
Contudo, observou-se que a presença de instabilidades na Pla-
taforma Conciliare levou a grande parte das limitações encontradas
na pesquisa, pois, em certas semanas o sistema ficava fora do ar por
dias. Além disso, os dados só poderiam ser colhidos através do com-
putador de acesso de um serventuário utilizador do sistema. Levando
os pesquisadores a se direcionarem ao Tribunal de Justiça da Comar-
ca de Piripiri constantemente.
Por fim, tomando por base tudo aquilo trabalhado até então.
Sugere-se a produção de uma pesquisa mais elaborada, mas em ní-
vel nacional, utilizando-se dos mesmos métodos apresentados no pre-
sente trabalho. Para que assim, a mensagem de empoderamento das
partes trazida pelo presente artigo, possa chegar a cada vez mais pes-
soas.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federati-


va do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponí-
vel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao-
compilado.htm.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de
Processo Civil., Brasília, DF, 2015, Disponível em: https://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
BRASIL. Presidente do Conselho Nacional de Justiça. Resolução
nº125/2010, de 29 de novembro de 2010. Dispõe sobre a Política Ju-
diciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses
no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências. Disponível
em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2011/02/Resolucao_n_
125-GP.pdf.
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VÍRUS. S.D. Disponível em: https://www.pi.gov.br/decretos-estaduais-
-novo-coronavirus/.
MARQUES, Hildebrando da Costa, et al. Lei de Mediação comenta-
da artigo por artigo. São Paulo: Editora Foco, 2018.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 93

PIRES, Gustavo. 5 técnicas de mediação de conflitos que você


precisa conhecer. 2019. Disponível em: https://camarademediacaorj.
com.br/5-tecnicas-de-mediacao-de-conflitos-que-voce-precisa-conhe-
cer/.
RESENDE, Rodrigo. Dois anos do primeiro caso de coronavírus no
Brasil. 2022. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/radio/1/no-
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TISO. Gleicy Michella de Souza Lima. Os impactos da pandemia no
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depeso/348777/os-impactos-da-pandemia-no-mundo-juridico
TJES. Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania –
CEJUSCS. S.D. Disponível em: http://www.tjes.jus.br/institucional/nu-
cleos/nupemec/centros-judiciarios-de-solucao-de-conflitos-e-cidada-
nia-cejuscs/duvidas-frequentes-cejusc/.
TT. Você sabe o que faz um CEJUSC - Centro Judiciário de Solu-
ção de Conflitos e Cidadania?. 2020. Disponível em: https://www.tj-
dft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2020/novembro/voce-sabe-o-
-que-faz-um-cejusc.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 94

CAPÍTULO 7

A INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS


NO ENSINO REGULAR

THE INCLUSION OF DEAF STUDENTS


IN REGULAR EDUCATION

Raimunda Sousa dos Santos


UNIPLAN - Docente
raisousantos@gmail.com

Ebenezer Santos da Silva


UNIPLAN – Docente - Bacabal – MA
ebenezer1946@hotmail.com

Joelma Silva Amaral Vieira


UEMA – Bacabal - MA
Joelmasilvaamaralvieirajoelma@gmail.com

Josina Sampaio da Silva


UEMA - Bacabal – MA
josinasampaio1@gmail.com

Carolinna Martins Ferreira


UEMA - Bacabal –MA
carolinnamartinsferreira@gmail.com

Chirlene Rodovalho de Lima Viana


UEMA - Bacabal –MA
chirlenerodovalho@gmail.com

Elizeu de Aragão Pereira


INTA - Bacabal –MA
elizeuhistoriador1@gmail.com

Genilda M. da Silva de Morais


UEMA - Bacabal – MA
genyldademorais@gmail.com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 95

Palloma Moreira Cabral


UEMA - Bacabal – MA
palloma_moreira@outlook.com

Wérica Sousa Veloso


IFMA Dom Pedro – MA
werikveloso@hotmail.com

Silveria Maria Santos da Silva


UNIASSELV - São Luis – MA
silv.educacao@gmail.com

RESUMO
Partindo do pressuposto de que a educação escolar é um direito de to-
dos, servindo como instrumento para o exercício da cidadania, o pre-
sente estudo objetiva investigar a inclusão do surdo nos anos iniciais
na escola regular. Desta curiosidade em saber como funciona a inclu-
são na rede regular de ensino para alunos surdos, discutiremos ainda
os papéis dos sujeitos educacionais na promoção da inclusão e o au-
xílio de um intérprete como agentes participativos desta inclusão, reco-
nhecendo seu papel neste processo como mediador na construção de
saberes. Considera o fato de a escola estar sempre preocupada com o
que o aluno aprende e não de que maneira está sendo ensinado, tor-
nando a temática relevante para os educadores e sociedade de modo
geral, pois contribui para sensibilização de que o aluno surdo não deve
ser rotulado com um indivíduo incapaz de aprender. Para obtenção dos
dados desenvolveu-se uma pesquisa exploratória descritiva de cunho
qualitativo e quantitativo, pautado na análise de artigos científicos, livros
e periódicos, bem como pesquisa de campo realizadas acerca da temá-
tica, como bases para o desenvolvimento da pesquisa. Nos resultados,
constatou-se que o conhecimento teórico e prático dos docentes pes-
quisados acerca desta temática é insuficiente para que se desenvolva
de fato a inclusão, é preciso mais empenho das escolas, valorização da
formação continuada para que assim seja possível buscar possibilida-
des e tornar possível a inclusão do surdo na escola regular.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 96

Palavras-chave: Inclusão escolar. Prática pedagógica. Intérprete. Alu-


no surdo.

ABSTRACT
On the assumption that the school education is a right of everyone be-
ing a toll for the exercise of the citizenship. The present study aims in-
vestigate the inclusion of the deaf in the initial years into the regular
school. The starting point was curiosity into know how does it work the
inclusion on the regular academic system to deaf students for this we
will discuss yet the roles of the educational subjects in promoting of the
inclusion and assistance from an interpreter as participatory agent of
this inclusion recognizing your role in this process as mediator in the
construction of knowledge. Taking into consideration the fact that the
school is always concerned with what the student learn and not how
is being taught, taking the relevant theme to the students and the so-
ciety in general, because contributes to awareness of the deaf stu-
dent should not be labeled as an individual incapable of learning. To
obtain the data developed a descriptive exploratory study of quanti-
tative and qualitative nature founded on the analysis of scientific arti-
cles, books and periodicals, as well as field research conducted on the
theme which served as a great value for the development of research.
In the results, it was found that the theoretical and practical knowledge
of teaching staff surveyed on of this theme is insufficient for it to devel-
op in fact the inclusion, it takes more effort of the schools, appreciation
of the continued formation for it so be possible seek possibilities and
make possible the inclusion of the deaf in regular schools.
Keywords: Scholar inclusion. Pedagogical practice. Interpreter. Deaf
student.

INTRODUÇÃO

A história da educação brasileira é marcada pelo grande núme-


ro de situações de fracasso, evasão e marginalização, representadas
principalmente por alunos pobres que foram e continuam sendo víti-
mas de seus pais, professores e da sociedade que ainda não encon-
traram uma saídas para superar as causas iniciais deste fracasso que
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 97

tanto afeta o aluno, embora a escola relute em aceitá-lo como sendo


também o se próprio fracasso. Partindo dessa perspectiva, o presen-
te estudo tem como principal enfoque investigar a inclusão dos surdos
no Ensino Fundamental. Para isso, é importante verificar a interação e
a aprendizagem do aluno surdo enquanto cidadão sujeito de formação
plena no campo da inclusão, investigando sua relação com os ouvin-
tes. Este trabalho teve como objetivos específicos discutir os papéis
dos sujeitos educacionais na promoção da inclusão de alunos surdos
nos anos iniciais. Assim, foi analisada a relação entre os alunos sur-
dos com seus professores e o auxílio de um intérprete como agentes
participativos do exercício e desenvolvimento da aprendizagem, con-
siderando a existência de teorias suficientes para sustentar que o co-
nhecimento adquirido pelos surdos no ensino regular é relevante e im-
portante para sua educação. A metodologia empregada classifica esta
pesquisa como sendo de caráter exploratória descritiva e cunho qua-
litativo e quantitativo, com referencial bibliográfico e delimitada a pes-
quisa de campo à uma escola pertencente à rede pública de ensino
municipal.
Para visualizar e manter contato direto com o contexto pes-
quisado, foram utilizadas técnicas de coleta de dados, como: obser-
vação sistemática, questionário e fotografias. O interesse pelo tema
nasceu da necessidade de aprofundar conhecimentos e construir no-
vos saberes sobre como funciona a inclusão na rede regular de ensino
para alunos surdos durante as aulas da disciplina de Educação Inclu-
siva. Neste caso, a inclusão pressupõe uma escola comum, tornando-
-se um espaço aberto para a introdução de todos os alunos no mundo
social, cultural e científico. Se o mundo é de todos, a escola não pode
ser de alguns.

ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS NO MUNDO

À margem das questões sociais e educacionais, os surdos não


são vistos pela sociedade por suas potencialidades, mas principal-
mente pelas suas limitações impostas por sua condição, frequente-
mente considerados ineducáveis. Para entendermos a real situação
educacional que hoje se encontra a comunidade surda é preciso re-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 98

correr a História e investigar as situações de exclusão que estes pas-


saram ao longo do tempo. É importante conhecer a história e as filo-
sofias educacionais a eles dirigidos para então, compreender a atua-
lidade. A intenção é traçar um breve percurso desta história e tentar
compreendê-la nos seus aspectos mais importantes para este traba-
lho e não fazer um histórico detalhado sobre a história do surdo, sua
educação e todos os aspectos que determinam a sua atual condição.
A história da educação de surdos no Brasil é um pequeno capítulo que
faz parte da longa história em todo mundo. Nas civilizações gregas e
romanas, por exemplo, as pessoas surdas não eram perdoadas, sua
condição custava-lhes a vida. Aristóteles, ensinava que os que nas-
ciam surdos, por não possuírem linguagem, não eram capazes de ra-
ciocinar. Conforme Radutzky (1992), Rômulo, o fundador de Roma,
por volta de 753 a. C. decretou que todos os surdos recém-nascidos
e crianças até os três anos de idade teriam de ser sacrificados, por-
que eram um peso e problema para o Estado. Essa crença, comum na
época, fazia com que na Grécia, por exemplo, os surdos não recebes-
sem educação escolar. A concepção filosófica greco-romana era per-
versa, pois deixa bem explícita que não deixariam cidadãos com de-
formidades incluídos no âmbito social, portanto, ordenava que o pró-
prio pai matasse seu filho que nascesse nessas condições.
A nomenclatura “surdo-mudo”, segundo Skliar (1997, p. 16),
tem origem na Grécia, utilizada para significar condição de falta, va-
zio. De acordo com esse autor, a palavra “surdo” (kofós) foi utilizada
para expressar o “sentido de falta e de deficiente” e a palavra “mudo”
(eneós) para se referir a “qualidade de vazio”. Assim, entendido como
um indivíduo que não fala, por não se considerar a linguagem dos si-
nais, o surdo foi durante muito tempo chamado de “surdo-mudo”, ex-
pressão ainda muito utilizada.
O advento do Cristianismo elevou o significado da surdez e do
surdo, defendendo que este era uma pessoa como qualquer outra e
que também precisava de Deus. Há registro histórico do Antigo Tes-
tamento sendo atribuído a Moisés. Embora, durante a Idade Média,
a Igreja considerasse a surdez como um castigo e o surdo um indiví-
duo impossibilitado de receber os sacramentos, privados do catecis-
mo, das escrituras e de participar da igreja. Assim:
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 99

[...] o cristianismo modifica o status do deficiente que,


desde os primeiros séculos da propagação do cristianis-
mo na Europa, passa de coisa a pessoa. Mas a igualda-
de de status moral ou teológico não corresponderá, até
a época do iluminismo, a uma igualdade civil, de direitos.
Dotado de alma e beneficiado pela redenção de Cristo,
o deficiente mental passa a ser acolhido caritativamen-
te em conventos ou igrejas, onde ganha a sobrevivên-
cia, possivelmente em troca de pequenos serviços à ins-
tituição ou à pessoa ‘benemérita’ que o abriga (PESSOT-
TI, 1984, p. 4).

Em 685 d. C., o bispo John of Hagulstat ensina um surdo a fa-


lar de forma clara, e o acontecimento é considerado um milagre. No
entanto, assim como a autoria de muitas metodologias e técnicas fica-
ram perdidas no tempo, esta também se perde, e a igreja toma para si
a autonomia do feito. Segundo Lacerda (1998), “durante a Antiguidade
e por quase toda a Idade Média, pensava-se que os surdos não fos-
sem educáveis. No início do século XVI que se começou a admitir que
os surdos pudessem aprender através de determinados procedimen-
tos pedagógicos”. Nessa perspectiva, Soares (1999) afirma que nos
meados do séc. XVI, Gerolamo Cardamo (1501-1576) propôs um con-
junto de princípios que prometia uma ajuda educacional e social para
os surdos, afirmando que podiam ser pensantes e poderiam aprender
e o melhor seria por meio da escrita. Neste período, surgiram os pri-
meiros educadores de surdos. Buscando na história da educação in-
formações significativas sobre a educação dos surdos pode-se cons-
tatar que até o século XVIII tudo que se referia ao surdo era basica-
mente ligada ao misticismo e ocultismo, sem nenhuma base científica
para o desenvolvimento de noções realísticas.
O início da educação do surdo surge com Pedro Ponce de Léon
(1520- 1584), considerado o primeiro professor de surdos na história.
A maior parte de sua vida foi dedicada a educar os surdos que eram
filhos de nobres.
Conforme Moura (2000, p. 17):

As famílias se interessavam em entregar seus filhos a


Ponce de León, que tinha a preocupação de ensinar os
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 100

surdos a falar, porque o mudo não era uma pessoa fren-


te a lei. [...] A possibilidade do surdo falar implica no seu
reconhecimento como cidadão e consequentemente no
seu direito de receber a fortuna e o título familiar.

Em seus métodos de ensino eram utilizados sinais, treino de


voz e leitura de lábios. Ele ensinou-os a falar, ler, escrever, rezar e co-
nhecer as doutrinas cristãs. Alguns aprenderam latim, outros italiano
através do grego e do latim, cujo trabalho serviu de base para diver-
sos outros educadores surdos. Ponce de Léon (apud Lodi, 2005, p. 4)
acreditava que “à escrita cabia a chave do conhecimento, ou seja, ela
era tida como a natureza primeira da linguagem; a fala era apenas um
instrumento que a traduzia. À escrita, fora atribuído, assim, um signo
de poder”. Tem-se o 15 início da preocupação de olhar e cuidar das
pessoas surdas. Desta forma ele demonstrou a falsidade de todas as
crenças religiosas, filosóficas ou médicas existentes até aquele mo-
mento sobre os surdos.

Vê-se, portanto, que esta perda de poderes pesava mais


do que as implicações religiosas ou filosóficas no desen-
volvimento de técnicas para a oralização do surdo. A for-
ça do poder financeiro e dos títulos é que pode ser con-
siderado um dos primeiros impulsionadores do oralismo
que, de alguma forma, começava a se implantar neste
momento e que estende até os nossos dias. (MOURA,
2000, p. 18).

Nesse sentido é que em meados do século XVI:

Se começa a admitir que os surdos possam aprender


através de procedimentos pedagógicos e diversos peda-
gogos colocaram-se à disposição para fazer este traba-
lho, apresentando várias práticas pedagógicas e, conse-
quentemente, vários resultados. Contudo, tinham um úni-
co propósito, desenvolver o pensamento, adquirir conhe-
cimentos e fazer com que o surdo se comunicasse com
o mundo ouvinte. Para tal, procurava-se ensiná-los a fa-
lar e a compreender a língua falada, mas a fala era con-
siderada uma estratégia, em meio a outras, de se alcan-
çar tais objetivos (COMANDOLLI, 2006, apud CONFOR-
TO, p. 16).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 101

A história moderna do surdo e da surdez tem seu marco a par-


tir de 1620 com a publicação do livro “Reducción de las Letras y Arte
para Enseñar à Hablar los Mudos” (Redução das letras e arte de ensi-
nar a falar os mudos), grifo nosso. Escrito por Juan Pablo Bonet base-
ado nas técnicas de Ponce de León, este livro trata da arte de ensinar
o surdo a falar por meio da leitura orofacial e do reconhecimento dos
fonemas lexicais, com o apoio do alfabeto digital (datilológico) e da es-
crita para ensiná-los a ler. Defendia em seus trabalhos a metodologia
dos oralistas. Anos depois, na França, Pereire usou o mesmo alfabe-
to digital de Bonet sendo o pioneiro na alfabetização do surdo naque-
le País, servindo como instrução, explicação lexical durante as aulas,
embora não abrisse mão da oralização dos surdos.

Podemos perceber, nas histórias acima apresentadas,


que o oralismo tinha como argumentação, aparente a ne-
cessidade de humanização do Surdo, mas que, na ver-
dade, escondia outras necessidades particulares de seus
defensores que visavam o lucro e o prestígio social. A ex-
periência de muitos destes educadores de surdos mos-
trou com passar do tempo, que a Língua de Sinais era a
linguagem natural dos surdos e que deveria ser usada
para a sua educação, mas o pressuposto básico que o
surdo só seria um ser humano normal se falasse já havia
espalhado e muitas escolas foram fundadas defendendo
a oralização do surdo cada vez mais com um elemento
necessário para sua integração. (MOURA, 2000, p. 22).

No século XVIII após a morte do monge beneditino Espanhol


Ponce de León, surgem os primeiros educadores de surdos: Juan
Pablo Bonet (1579- 1629), Jacob Rodrigues Pereire (1715-1780), o
abade francês Charles Michel de L’Epée (1712-1789) e o inglês Tho-
mas Braidwood (1715-1806). Esses autores desenvolveram diferentes
metodologias para a educação da pessoa surda. Em 1755, em Paris,
o abade L’Epée funda a primeira escola pública para o ensino da pes-
soa surda, onde adaptou o método gestual que era a fusão da língua
de sinais com a gramática sinalizada.
Sobre L’Epée, Moura (2000 p. 23) afirma:

A importância de L´Epée não está somente no fato dele


ter desenvolvido um método novo na educação dos sur-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 102

dos, mas de ter tido a humildade de aprender a Língua


de Sinais com os surdos para poder, através desta lín-
gua, montar seu próprio sistema para educá-los. Ele foi o
primeiro a considerar que os surdos tinham uma língua,
ainda que a considerasse falha para ser usada como mé-
todo de ensino. Através desta visão, em que a língua dos
surdos era reconhecida, ele colocou os surdos na cate-
goria humana.

L’Epée foi o criador do Instituto Nacional para Surdos-Mudos


em Paris no ano de 1775, sendo a primeira escola pública de surdos
no mundo. Começou a ensiná-los por razões religiosas, tendo inicia-
do seu trabalho com duas irmãs gêmeas, surdas. Nesta escola L´Epee
ensinava os surdos a falar, ler, escrever, fazer contas e orar. Essa edu-
cação era voltada para surdos pobres. O abade L’Epée inventou o mé-
todo dos sinais, uma proposta pedagógica difundida em vários países.
Surge então na França a língua de sinais, inicialmente representada
como abordagem gestualista destinado a completar o alfabeto manu-
al, bem como a designar muitos objetos que não podem ser percebi-
dos pelos sentidos, favorecendo o ensino da língua falada através do
canal viso-gestual. Sua obra mais importante cujo título: A verdadeira
maneira de instruir os surdos-mudos, publicada em 1776.
L’Epée escreveu no seu livro “Institution des Sourds-Muets par
la Voie des Signes Méthodics” de 1776, part. 1, cap. IV, p. 36, citado
por Lane (1989 apud Moura,2000, p. 23):

Todo Surdo-Mudo enviado a nós já tem uma linguagem...


Ele tem o hábito de usá-la e compreende os outros que
o fazem. Com ela ele expressa suas necessidades, de-
sejos, dúvidas, dores etc. e não erra quando os outros se
expressam da mesma forma. Nós desejamos instruí-los
e assim ensiná-los o Francês. Qual é o método mais sim-
ples e mais curto? Adotando sua língua e fazendo com
que ela se adapte a regras claras, nós não seríamos ca-
pazes de conduzir a sua instrução como desejamos?

Partindo dessa linguagem gestual, desenvolveu um método edu-


cacional e denominou esse sistema de “sinais metódicos” seguindo de
acordo com a linguagem da comunidade do surdo. Defendia que os
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 103

educadores deveriam aprender tais sinais para se comunicar com os


surdos, pois na sua tese os sinais metódicos são concebidos como a
língua natural dos surdos e veículo adequado para desenvolver o pen-
samento e sua comunicação. Colocou os surdos na categoria humana,
podendo realizar tarefas que eram designadas apenas aos ouvintes.
Esse método acabou disseminando por toda a Europa e nos Estados
Unidos, possibilitando a criação de várias escolas para surdos.

Com esse propósito, ele ensinava primeiro o alfabeto ma-


nual, representando para cada letra em francês uma for-
ma da mão e, em seguida, os surdos aprendiam a “so-
letrar” e escrever palavras em francês, conjugar verbos,
associar sinais com a escrita de palavras em francês até
avançar para a formação de sentenças, que levavam a
um crescimento cada vez maior do repertório de pala-
vras, verbos e sinais metódicos (LANE, 1984, p. 62).

Nessa perspectiva, a educação do surdo passou por uma leve


transformação facilitando a comunicação destes alunos no ambiente
escolar. Para Sacks (1990, p. 37), L’Epée criou a partir da:

[...] linguagem de ação, uma arte metódica, simples e


fácil, pela qual transmitia a seus pupilos ideias de todos
os tipos e até mesmo, ouso dizer, ideias mais precisas
do que as geralmente adquiridas através da audição. En-
quanto a criança ouvinte está reduzida a julgar o signifi-
cado de palavras ouvidas, e isto acontece com frequên-
cia, elas aprendem apenas o significado aproximado; e
ficam satisfeitas com essa aproximação por toda a vida.
É diferente com os surdos ensinados por L’Epée. Ele só
tem um meio de transmitir ideias sensoriais: é analisar e
fazer o pupilo analisar com ele. Assim, ele os conduz de
ideias sensoriais a abstratas; podemos avaliar como a
linguagem de ação de L’Epée é vantajosa sobre os sons
da fala de nossas governantas e tutores.

Pereire foi contra os métodos usados por L’Epée e por anos


mantiveram longa discussão por acreditar que os surdos só consegui-
ria se relacionar com os outros na sociedade através do oralismo, em-
bora Pereire utilizasse o alfabeto digital e os sinais em seu trabalho.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 104

O discurso em favor do oralismo, tem a proibição do uso da Língua de


Sinais, partindo da ideia que o uso do oralismo faz com que o surdo se
torne mais humano e saudável.
Os esforços de L’Epée, assim como outros estudiosos da épo-
ca na criação de Institutos para surdos pobres priorizava a formação
profissional de cada aluno e sua inserção ao meio social. Pois, conso-
lidavam-se em meios a novos ideais burgueses liberais e universais,
diferente do ensino elitista que outros ofereciam aos surdos.
A Itália e a França tiveram um papel principal nas decisões
sobre a educação do surdo, durante todo o Congresso de Milão. Na
França, o Instituto Nacional de Surdos- Mudos, após o mandato de
L’Epée (que defendia a Língua de Sinais), pois este havia falecido em
1789, quando a França passava por momentos tumultuados. Em 1790
Abbé Sicard é nomeado diretos do Instituto de Surdo-mudo, no lugar
de L’Epée, onde começou a realizar experiências com oralismo den-
tro do Instituto causando conflitos com as concepções já adotada pela
Instituição, o que provocou anos mais tarde sua decadência.
Buscava o oralismo para os surdos do Instituto de Surdo-mudo
por questão política, com a possibilidade de existir um grupo com uma
identidade linguística, pois para os franceses era mais importante que
os surdos tivessem uma identidade comum aos falantes, ou seja, que
tivesse domínio da fala, isto é, os surdos deveriam aprender a Língua
Francesa.
Porém, na Itália o clima era de unificação de linguagem devido
a sua divisão geográfica e, com a formação de um Estado único em
1870, o governo faz uma campanha para promover a alfabetização no
País, embora a língua de Sinais já existisse e predominava entre vá-
rios grupos de Surdos, em prol de unificação dialética enquanto nação
adotam o oralismo e abolem a Língua de sinais, pois ela não favorecia
em nada os objetivos políticos naquele momento.
Depois de tanta controvérsia pedagógica em busca da propos-
ta ideal para educação do surdo na escolha entre a língua oral que
predominava sobre a língua de sinais e também o uso da língua mista
(língua de sinais e o oral), na idade contemporânea faz-se necessário
discutir em congresso uma unidade linguística.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 105

Os temas propostos foram: vantagens e desvantagens


do internato, tempo de instrução, número de alunos por
classe, trabalhos mais apropriados aos surdos, enfermi-
dades, medidas, medidas curativas e preventivas, etc.
Apesar da variedade de temas, as discussões voltaram-
-se às questões do oralismo e da língua de sinais. (BOR-
NE, 2002, p. 51)

Em 1880 foi o ano do clímax para a educação do surdo quan-


do, na Itália, entre os dias 6 a 11 de setembro, ocorre o Congresso In-
ternacional de Educadores de Surdos, conhecido popularmente como
Congresso de Milão, em Madri. Reuniu cento e oitenta e duas pesso-
as, na sua ampla maioria ouvintes. O congresso não contou com a
participação de mais de um surdo.

O ALUNO SURDO NO ENSINO REGULAR

Para entendermos o longo processo pelo qual o surdo passou


para chegar até a atualidade no quesito de escolaridade e a participa-
ção no ensino regular é necessário voltarmos a História mais precisa-
mente no ano de 1990 onde ocorreu na Tailândia o primeiro evento re-
ferido a educação especial mais conhecido por: a Conferência Mun-
dial de Educação para Todos, nesse evento discutiu-se a importân-
cia de serviços que atendessem aos alunos, tanto aqueles considera-
dos normais, quanto aqueles com necessidades especiais. Mas, para
que de fato possamos entender a importância do aluno surdo no en-
sino regular é preciso conhecer o objetivo da escola e seu papel para
a sociedade.
A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o de-
senvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos
alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos,
habilidades, procedimentos, atitudes, valores), para tornarem-se cida-
dãos participativos na sociedade em que vivem. O objetivo primordial
da escola é, portanto, o ensino e a aprendizagem dos alunos, tarefa e
cargo da atividade docente.
O momento político para a inclusão do surdo dá-se desde de
1948 até meados de 1961 quando foi tomado por estudos em torno da
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 106

Lei de Diretrizes e Bases Nacional – LDBEN, Lei nº 4.024/61, onde se


discutia sobre a descentralização da educação entre as escolas públi-
cas e privada enquadrando a educação para os surdos dentro das Po-
líticas de Educação Especial em seu artigo 88. A educação formal dos
surdos é marcada pelas concepções clinicas e a sociocultural.
A primeira à visão médica considera a surdez uma incapacida-
de tinham por meta curar o surdo, proporcionando o desenvolvimento
da fala. A outra via a surdez como uma deficiência a ser sanada atra-
vés da língua de sinais, sendo reconhecida como a primeira língua
para o surdo aprender. Nos períodos que vai de 1957 a 1993 inicia-se
as campanhas voltadas para educação inclusiva por todo o país. A pri-
meira a ser instituída foi a Campanha para a Educação do Surdo Bra-
sileiro (CESB), pelo Decreto Federal n° 42.728, de 03 de dezembro
de 1957, que tinha por “finalidade promover, por todos os meios a seu
alcance, as medidas necessárias à educação e assistência, no mais
amplo sentido, em todo o Território Nacional”. Com a Lei 8.069, de 13
de julho de 1990 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) des-
taca, em seus parágrafos 1º e 2º que: “a criança e o adolescente por-
tadores de deficiências receberão atendimento especializado” e que a
eles será garantido o fornecimento gratuito de medicamentos, próte-
ses e outros recursos para tratamento, habilitação ou reabilitação, re-
fere-se também em seu IV Capítulo à educação estabelece a partir da-
quele momento proteção ao que se refere o Artigo 54:

Art.54. É dever do Estado assegurar à criança e ao ado-


lescente:
III- atendimento educacional especializado aos portado-
res de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino;
IV- atendimento em creche e pré-escola às crianças de
zero a seis anos de idade.

O marco histórico da inclusão no Brasil foi em 1989, quando a


Lei 7.853 assinada pelo presidente da República obriga todas as es-
colas a aceitar matrículas de alunos com deficiência. Em junho de
1994, elaborou-se a Declaração de Salamanca, Espanha, realizada
pela UNESCO na Conferência Mundial Sobre Necessidades Educati-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 107

vas Especiais: Acesso e Qualidade, assinada por 92 países, que tem


como princípio fundamental que: “todos os alunos devem aprender
juntos, sempre que possível, independente das dificuldades e diferen-
ças que apresentem”.
Partindo deste princípio de que a educação é um direito de to-
dos, isso inclui também as pessoas com deficiências. Sobre esta di-
ferença é que ressalta Santos (1996, p. 318): “Temos o direito de ser-
mos iguais, quando a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser-
mos diferentes, quando a igualdade descaracteriza”.
A inclusão do surdo na escola regular vem quebrar o paradig-
ma arcaico e formalismo por em muitos casos não estarem prepara-
dos para de fato receber o aluno. Em muitas “escolas inclusivas” da
rede regular de ensino, a atual inclusão dos alunos surdos se faz por
intermédio de um intérprete conforme a necessidade, cuja função é
traduzir para a língua de sinais o que o professor está falando. Nes-
te sentido, o professor continua explicando o conteúdo para os alunos
ouvintes enquanto o intérprete faz o seu trabalho para que os alunos
surdos sejam incluídos e aprendizagem seja satisfatória.
As pessoas com surdez não podem ser reduzidas isoladamen-
te ao chamado mundo surdo, com sua identidade e uma cultura sur-
da. No entanto, para Facion (2009, p. 118), “não é o aluno que deve
adaptar-se à escola, mas sim é esta que deve tornar-se um espaço in-
clusivo, a fim de cumprir seu papel social e pedagógico na busca pela
educação na diversidade”. Podese conceber cada pessoa com surdez
com um ser biopsicossocial, cognitivo, cultural, não somente na cons-
tituição de sua subjetividade, mas também de leitura e escrita, e de
fala se desejarem.
Para que o aluno surdo construa o seu conhecimento em uma
sala de aula regular, ele deve ser estimulado a pensar e raciocinar, as-
sim como os alunos ouvintes. Portanto, o professor deve desenvolver
estratégias pedagógicas que despertam interesse do aluno surdo. Se-
gundo, Freire (1994, p. 23):

Quem forma se forma e reforma e quem é formado for-


ma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que en-
sinar não é transferir conhecimento, estilo ou alma a um
corpo indeciso e acomodado. Não há decência, as duas
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 108

se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que


os contam, não se reduzem à condição de objeto um do
outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende
ensina ao aprender.

Muitos desafios precisam ser enfrentados e as propostas edu-


cacionais revistas, conduzindo a uma tomada de posição que resulte
em novas práticas de ensino e aprendizagem consistentes e produti-
vas para a educação de pessoas com surdez, nas escolas públicas e
particulares. Pensar e construir uma prática pedagógica que assuma a
inclusão de verdade e se volte para o desenvolvimento das potencia-
lidades das pessoas com surdez na escola é fazer com que esta insti-
tuição esteja preparada para compreender cada pessoa em suas po-
tencialidades, singularidades e diferenças em seus contextos de vida.
Conforme descrita anteriormente, embora se reconheça a comple-
xidade da inclusão dos alunos surdos na escola regular de ensino acredi-
ta-se que a mudança é possível, necessária e urgente, exige estudos, in-
vestimentos e esforços contínuos sobre o ato educativo fazendo com que
a inclusão seja compreendida diante das mudanças que são exigidas.
Segundo Libâneo (2003, p. 239), “sendo a escola uma institui-
ção social, é necessário sempre considerar que as concepções estão
vinculadas a necessidades e demandas do contexto econômico, polí-
tico, social e cultural de uma sociedade e a interesses de grupos so-
ciais”. O aluno com surdez na escola regular, estabelece como ponto
de partida a compreensão e o reconhecimento do seu potencial.
Com o AEE os alunos são reconhecidos e assegurados por
dispositivos legais, que determinam o direito a uma educação bilín-
gue, em todo o processo educativo. Como adverte Baptista (2002),
“vai exigir transformações que transcendem ao nível da didática e exi-
gem uma discussão ética sobre possibilidades e limites.do ato de en-
sinar e aprender”. Nessa perspectiva, a escola precisa adotar medidas
que vá de encontro com a diferença, partindo das grandes linhas até
seus pormenores. Para Mantoan (2006, p. 27):

A escola comum é o ambiente mais adequado para ga-


rantir o relacionamento entre os alunos com ou sem defi-
ciência e de mesma idade cronológica, bem como a que-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 109

bra de qualquer ação discriminatória e todo tipo de inte-


ração que possa beneficiar o desenvolvimento cognitivo,
social, motor e afetivo dos alunos em geral.

Diante dessas reflexões, a inclusão dos alunos surdo na esco-


la regular requer muito mais do que uma presença física e obrigação
de matrícula. Requer uma preparação de todos os professores, alunos
ouvintes, alunos surdos, ILS, pais e gestores. Isso implica reciprocida-
de fazendo com que a inclusão de fato seja compreendida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sobre as várias dificuldades encontradas na inclusão, profes-


sores relataram que são a falta de conhecimento, materiais adequa-
dos e melhores condições de trabalho enquanto alunos assinalaram
que faltam melhores condições de aprendizagem. Portanto, o desafio
pedagógico que a inclusão nos apresenta é muito mais amplo do que
aquilo que se revela no íntimo da escola. Requer organização do es-
paço escolar, formação especifica do docente, adaptação curricular,
estratégias de ensino além de gestores pré-dispostos a quebrar pre-
conceitos e tabus e a dialogar com a comunidade escolar.
Portanto, é imprescindível que docentes, gestores e toda co-
munidade escolar faça uma reavaliação de seus métodos e técnicas;
flexibilização no seu currículo, na convivência tornando a escola um
ambiente propicio de mudanças de atitudes e valores, respeitando a
diversidade garantindo uma escola cidadã e bilíngue. Ao diagnosticar
o problema, percebeu-se que é de relevância para a escola e para os
profissionais da educação reavaliarem suas práticas e metodologias,
uma vez que a escola passa ser um ambiente inclusivo onde as pes-
soas devem se desenvolver e aprender juntas, tendo cada uma aten-
didas suas necessidades específicas, exercendo o seu verdadeiro pa-
pel, promotora de uma educação de todos. É indispensável que os do-
centes ao lidarem com os alunos surdos tenham a sensibilidade de
perceber e sentir por qual caminho este aluno consegue aprender me-
lhor, procurando assim, uma escola mais criativa, autônoma, compar-
tilhada, colaborativa, independente e produtiva.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 110

REFERÊNCIAS

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2002.
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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 111

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 112

CAPÍTULO 8

A INCOMPATIBILIDADE DA TEORIA DA CEGUEIRA


DELIBERADA COM O ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO

THE INCOMPATIBILITY OF THE THEORY OF DELIBERATE


BLINDNESS WITH THE BRAZILIAN LEGAL ORDER

Paulo Gabriel Ramos Meneses


CHRISTUS FACULDADE DO PIAUÍ
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0009-0007-9638-0245
paulog.ramos@hotmail.com

David Cerqueira
CHRISTUS FACULDADE DO PIAUÍ
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0009-0000-8070-1402
davidmelo.aaf@gmail.com

Geilson Silva Pereira


CHRISTUS FACULDADE DO PIAUÍ
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0000-0002-0278-0077
geilsonsp@hotmail.com

RESUMO
Este documento pretende demonstrar a viabilidade da aplicação da
chamada Teoria da Cegueira Intencional, também conhecida como ig-
norância voluntária ou teoria da avestruz, de uma perspectiva extrale-
gal e jurídica no sistema jurídico nacional. Assim, é feita uma argu-
mentação sobre a legislação atual, especialmente no que diz respeito
aos elementos subjetivos do delito criminal. A teoria, o foco deste es-
tudo, que tem origem no direito americano, baseado no direito consue-
tudinário, não é adaptável aos sistemas jurídicos de muitos países la-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 113

tino-americanos que dão prioridade ao direito positivo, incluindo o sis-


tema jurídico brasileiro. Por conseguinte, é demonstrado que a anexa-
ção desta doutrina para a sua aplicação efetiva exigiria uma alteração
legislativa drástica ou uma interpretação demasiado arbitrária das leis
existentes, uma manobra não autorizada pelo Direito Penal, que visa
proteger as garantias individuais dos cidadãos.
Palavras-chave: Intenção Penal Condicional; Intenção legal; Respon-
sabilidade criminal; Doutrina da Cegueira Intencional; Fato de erro;

ABSTRACT
This paper aims to demonstrate the feasibility of applying the so-called
Theory of Willful Blindness, also known as willful ignorance or ostrich the-
ory, from an extralegal and legal perspective in the national legal system.
Thus, an argument is made about the current legislation, especially re-
garding the subjective elements of the criminal offense. The theory, the fo-
cus of this study, which originates from American law, based on customary
law, is not adaptable to the legal systems of many Latin American coun-
tries that prioritize positive law, including the Brazilian legal system. There-
fore, it will be shown that the annexation of this doctrine for its effective ap-
plication would require a drastic legislative amendment or an overly arbi-
trary interpretation of existing laws, a maneuver not authorized by Criminal
Law, which aims to protect the individual guarantees of citizens.
Keywords:. Conditional Intent Criminal Intent; Legal order Intenrtion;
Criminal Liability; Willful Blindness doctrine Strict Liability; Error facti.

Introdução

A teoria da cegueira deliberada pode ser entendida como a


vontade consciente que o indivíduo apresenta de não reconhecer de-
terminadas situações ou evidências que logicamente são verdadeiras,
pois tais evidências não agradam ou vão ao desencontro das suas
crenças e convicções de mundo.
Tal conduta de se manter na cegueira tem ganhado muita força
hodiernamente com as mídias e as chamadas “Fake News”, de forma
que, com informações falsas, cada vez mais, grupos específicos têm
se fortalecido, e causado transtornos ao redor do mundo.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 114

Essa teoria aplica-se aos mais variados contextos, desde as re-


lações interpessoais, até estudos filosóficos complexos. É também co-
nhecida como “teoria do avestruz”, uma vez que a ave quando em si-
tuação de perigo, esconde sua cabeça em um buraco, analogia usada
aos indivíduos que não querem deliberadamente entender suas ações.
Denota se que essa teoria se aplica em diversas áreas do direi-
to, como o direito penal, em que a cegueira deliberada pode ser con-
siderada uma forma de culpa consciente. Isso significa que, se uma
pessoa conscientemente se recusa a tomar conhecimento de informa-
ções que poderiam levar a consequências criminais, ela pode ser con-
siderada culpada pelo crime cometido.
Um exemplo comum de cegueira deliberada no direito penal é
quando um empresário conscientemente fecha os olhos para ativida-
des ilegais realizadas por seus funcionários. Nesse caso, o empresá-
rio pode ser considerado culpado por associação criminosa ou por ou-
tra forma de delito, mesmo que ele alegue que não tinha conhecimen-
to das ações criminosas.
Além disso, a cegueira deliberada também pode ser aplicada em
outras áreas do direito, como o direito ambiental e o direito do consumi-
dor. No direito ambiental, a cegueira deliberada pode ocorrer quando uma
empresa ignora informações sobre os impactos negativos de suas ativi-
dades no meio ambiente. Já no direito do consumidor a cegueira delibera-
da pode ocorrer quando uma empresa não investiga devidamente as ale-
gações de seus clientes sobre produtos defeituosos ou perigosos.
Entretanto, evidencia-se que tal teoria ainda é um tema forte-
mente controverso no ordenamento jurídico brasileiro, pelo fato de ser
difícil provar quando uma pessoa de forma consciente se coloca na si-
tuação de cegueira sobre situações relevantes da conduta criminal.
Outro fato importante é que há preocupação por parte de julgadores
sobre julgamentos injustos ou abuso de poder, se a teoria não for bem
discutida e entendida de forma cabal.
Diante disso, questiona-se: qual a consequência da aplicação
da teoria da cegueira deliberada pelo judiciário, mesmo não estando
positivada no ordenamento jurídico pátrio? Na busca de responder tal
demanda, encontram-se alguns fundamentos a princípio, como: a glo-
balização das informações, influência na absorção de práticas, condu-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 115

tas e teorias de outras culturas; a rápida resposta que o judiciário tem


de apresentar aos fatos concretos facilita o uso de artefatos inovado-
res, ainda não positivados; a demora e burocracia necessária às alte-
rações legislativas de assuntos e matérias de competência da união;
Ainda assim, é possível analisar que o direito brasileiro, assim
como a esmagadora maioria do ocidente foi influenciado pelo direito ro-
mano, que exercia muita influência no passado. Nos tempos hodiernos
tal influência é exercida pelos Estados Unidos da América no mundo.
Algumas técnicas e institutos adentraram o ordenamento pá-
trio, depois de mudanças legislativas, mas a presente teoria trabalha-
da ainda não se encontra positivada, fato que objetiva analisar a teo-
ria da cegueira deliberada e demais problemas prático-normativos pe-
rante sua aplicabilidade no ordenamento jurídico antes de mudanças
legislativas que a positivem, tendo como base a análise de elementos
cognitivos do dolo e o problema da responsabilidade penal objetiva.
O presente trabalho foi desenvolvido através de uma pesqui-
sa bibliográfica, tendo como base a leitura de livros, revistas, artigos,
monografias, e sites especializados. Seguiu-se uma linha de pesquisa
voltada para a comparação da aplicação da teoria da cegueira delibe-
rada, de modo comparado aos países que têm como sistema jurídico
o sistema civil law e o sistema comow law. A dada teoria busca escla-
recer os casos em que o indivíduo comete um crime se abstendo, con-
tudo, de dados penalmente importantes à sua conduta.
Nesse sentido, pode-se analisar que a força dessa teoria está em
responsabilizar aqueles que deliberadamente se abstêm de adquirir um
conhecimento competente para subsidiar a imputação dolosa de um cri-
me específico, tratando-os como se tivessem tal conhecimento. Assim
sendo, torna-se imprescindível examinar como o sistema jurídico brasilei-
ro tem aplicado essa teoria em casos práticos ocorridos no Brasil.

Desenvolvimento

Buscar o problema do dolo frente à teoria

A maior afirmação da existência da teoria é o risco assumido


da provação proibitiva de um resultado penal, ou seja, dolo eventual.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 116

Seria assim a abstração de forma proposital da consciência de quem


o pratica, em um eventual momento de relevância penal da aceitação
de fazer. Desta forma, a discordância é debatível na ótica legal e auto-
ritária, por ir de encontro à atual legislação. Seria necessária uma ex-
planação excessivamente ampla deste conceito, embora já tipificado
e definido no âmbito jurídico nacional.
Visando dirimir o assunto, passa-se a narrar a teoria do dolo as-
sumido no arranjo jurídico brasileiro para que seja analisada a capaci-
dade da incompatibilidade frente à teoria da cegueira deliberada que
assemelhasse ao lapso de conhecimento com o dolo eventual.
Note-se que, embora os manuais brasileiros não sejam claros e
precisos ao lidar com esta teoria, Luís Greco adverte que a Teoria Voli-
tiva adotada pelo Código Penal Brasileiro “não é nem a mais atual nem
a mais importante, estando humildemente ao lado de muitas outras”.
É importante salientar que este estudo não aborda os vários
tipos de teorias volitivas e cognitivas que existem. Contudo, nota-se
que, apesar das críticas à teoria adotada na ordem jurídica brasileira -
principalmente como lege ferenda -, o legislador adotou expressamen-
te a teoria do consentimento, positivando-a na parte geral do Código
Penal. Assim, partindo deste tipo de crime, analisou-se a viabilidade
da adoção da Teoria da Cegueira Vontade, no que diz respeito ao prin-
cípio da legalidade em sentido lato.
Como ponto de partida, é importante registrar que a teoria da
vontade adotada pela ordem jurídica brasileira requer conhecimento
para a caracterização da intenção, tal como extraído do artigo 20º do
Código Penal brasileiro, que trata do erro de tipo. Este conhecimento
- ou a falta dele - é determinante para a análise da viabilidade da ado-
ção da Teoria da Cegueira Intencional.

Abranger a incerteza dos elementos cognitivos do dolo, o proble-


ma da responsabilidade penal objetiva

Aqueles que aplicam a teoria da cegueira deliberada sustentam


que o agente que, de forma deliberada, se coloca em uma situação de
ignorância em relação a um fato penalmente relevante, pode ser res-
ponsabilizado por dolo eventual, em decorrência de sua conduta.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 117

Porém, independentemente da motivação, o agente que age


ignorando algumas condições de fato típicas, assume uma alta pre-
sunção de que eventos fáticos penais relevantes podem ocorrer, em-
bora não necessariamente de forma concreta. Desta forma, o gerador
será responsabilizado por toda e qualquer relutância da conduta do
conhecimento deliberado.
Observa-se que a aplicação da teoria da cegueira deliberada
permite a abertura de inúmeras possibilidades e relutâncias em rela-
ção aos elementos típicos. Muitas vezes, tais elementos passam des-
percebidos pelo agente, mesmo que esteja ciente de sua expectativa.
No entanto, a eficácia dessa teoria, em alguns momentos, reforça a
discussão já enfrentada há muito tempo pelo direito penal acerca da
atribuição objetiva de responsabilidade.
No Brasil, incontáveis agentes vêm recebendo condenação e
outros seguem em resposta a processo criminal concomitantemente
no que concerne à operação lava-jato, por inúmeras infrações contra
a administração pública e da esfera empresarial em função da aplica-
bilidade de tal teoria.
Desta maneira, frequentemente os protetores da teoria da ce-
gueira deliberada por desassociar o fervor a determinação do tipo ob-
jetivo não exploram interessantemente a diversidade dos injustos fazí-
veis que podem se afirmar, nem constitui de diferenciações necessá-
rias dentre a variedade que não é homogênea.
Dessa forma, entende-se que “a previsão ou representação
deve abranger correta e completamente todos os elementos essen-
ciais e constitutivos do tipo, sejam eles descritivos ou normativos”.
Segundo o autor, a consciência engloba a compreensão dos
aspectos descritivos e normativos, a conexão causal e o acontecimen-
to em questão (no caso de crimes materiais), os danos ao bem jurí-
dico, os elementos de autoria e participação, os elementos objetivos
de circunstâncias agravantes e atenuantes que afetam a gravidade do
ato ilícito (como no caso de tipos qualificados ou privilegiados), e os
elementos acidentais de tipo objetivo.
O Professor Cezar Roberto Bitencourt sintetiza o conceito de
dolo como “a vontade de realizar o tipo objetivo, orientada pelo conhe-
cimento de seus elementares no caso concreto”.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 118

Teoria da cegueira deliberada e demais problemas práticos e nor-


mativos

Frente ao assunto abordado, por mais esplendorosa que seja


a finalidade de notoriedade da teoria da cegueira deliberada para ar-
ranjo jurídico nacional, especialmente na atuação relacionada às ha-
bituais lides de impunidade em momentos em que tornasse comple-
xa a elucidação certa do dolo, não se pode esquecer que tratasse de
uma teoria diferente quando comparada ao pleno ordenamento atual.
Além do mais, é irrefutável que se falar de uma teoria essencial-
mente nova frente aos tribunais brasileiros estimula inconsistências ir-
regulares e instáveis em relação a fundamentos para a praticabilidade.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a introdução de uma nova
teoria, como a teoria da cegueira deliberada, em um ordenamento ju-
rídico já estabelecido pode enfrentar dificuldades de adaptação, assim
como uma nova espécie em um novo ecossistema. É importante con-
siderar que essa teoria pode ser desafiadora quando inserida em sis-
temas jurídicos que afirmam ter seus princípios positivados.

A teoria da cegueira deliberada sobre a perspectiva da presunção


de inocência, a inversão do ônus da prova

A dada a teoria, traz inclinações a favor do possuidor na medi-


da em que se torna descabida a prova concreta do fator subjetivo do
detentor. A aplicabilidade desta traz a arguição que seria valorada com
base em um falso suporte fático, que fatalmente formaria uma proba-
tória carga inversa.
De início o órgão arguidor deve nessa situação, o Estado, por
intermédio do Ministério Público nos atos de ações penais públicas, fa-
zer-se concreto da permanência do fato, bem como do dado subjetivo
do feitor, para a concessão condenatória decretada.
Todavia, nos casos de aplicabilidade da teoria, o agente desco-
nhecendo a proporção fática da ação, o crime será respondido de for-
ma dolosa, no mínimo que prove ou tenha mão um contra indício de
desconhecer tal fato. Portanto, essa teoria não exime o agente de res-
ponsabilidade criminal, a menos que ele possa provar que desconhe-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 119

cia o fato de forma genuína e não apenas por falta de vontade ou de-
sinteresse em saber.
Desta forma, nota-se uma autêntica conjectura de dolo que re-
cai em malbarato do agente, ficando assim ao mesmo fazer a argui-
ção de que não teria turvado ou abstido por conta própria de ver uma
evidente realidade aparente.
Dá-se, no entanto, que além da mudança probatória do ônus
expressamente taxativo que se afirma, afastando do órgão acusador
a elaboração do ônus da prova da culpa do acusado em sentido am-
plo, a eventual absolvição do acusado por ausência de dolo fica condi-
cionada à produção de prova, por parte do mesmo, para demonstrar a
inexistência de dolo, visto que se trata de uma negativa.”
Dessa maneira, acontece que a teoria determina deixando a
condenação de um agente de forma dolosa sem que o órgão neces-
site pôr a prova do recurso subjetivo, sendo o bastante a confirmação
de uma provável provocação voluntaria de cegueira a veracidade que
decide penalmente importante.

Teoria da cegueira deliberada, uma incompatível solução eficaz

Ainda que a teoria tenha incongruências com direito brasilei-


ro essencialmente em sua configuração legal não se pode esquecer
que se fala de uma teoria que deve ser melhor estudada, até mesmo
no que se refere à possibilidade de uma futura e corriqueira ideia de
inserção também em argumento de sua evidente irrefutabilidade e in-
compatibilidade às atitudes moralmente debatíveis de desinformação
intencional, pelo executor, em que às vezes ocorre a pretensão de se
desobrigar de uma possível obrigação criminal.
Tem-se ciência que em face do crescimento e fortalecimento
criminal, os mecanismos de procura de provas e teorias retrógadas
a respeito do dolo vêm se mostrando a cada instante mais ineficiente
no combate à criminalidade. Nota-se esta incompetência, sobretudo,
quando se fala de crime organizado, quando se faz uso da aparelha-
gem estatal ou mesmo de grandes empresas para cometer os delitos.
Desta forma, é comum que aqueles que detêm a capacidade
de comandar e gerir outras pessoas, com a expectativa de consumar
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 120

um ato ilícito, enfrentem maior complexidade na imputação de dolo a


esses agentes.
Nesse contexto de criminalidade, é comum que os perpetrado-
res não sejam os mesmos indivíduos que gerem e executam direta-
mente os atos típicos, o que representa um desafio extensivo na iden-
tificação e elucidação de suas condutas.
Assim, a teoria da cegueira deliberada seria de considerável fa-
vorecimento para o arranjo jurídico, em virtude da certeira diminuição
com a implantação, agindo evidentemente como simplificador para jus
puniendi da ferramenta estatal ou ainda na acusação latu sensu.
A tese também auxiliaria na persecução penal dos nominados
delitos omissivos impróprios, nos quais o feitor tem o dever legal de fa-
zer e agir nominados ainda de delitos comissivos por omissão, assim
também nas infrações de agente que portam o dever de informação,
pois na ocasião demonstrada o feiro se olvidou no momento que teria
de tomar uma decisão legal ou procurar ter sapiência, argumentando
a falta de conhecimento do que se devia ter entendimento em alega-
ção de seu cargo, oficio ou função.
Dessa forma, esta teoria agiria como moderador de reprovação
criminal, até mesmo a título de dolo eventual, o qual na ação acertada-
mente ensejaria em iniquidades. A teoria aspira completar as brechas
legais sobre as imputações subjetivas, podendo haver punição para o
indivíduo com até mesmo o nível básico de sapiência sobre pontos do
próprio comportamento.
Abdicam conhecer mais do que já se sabia ou imaginava, aqui-
lo na atuação não se tem previsão legal ao tributo de qualquer que
seja a forma punitiva aplicada, sendo a exemplo de dolo eventual ou
imprudência.
De qualquer maneira, apesar de não se assemelhar à melhor
saída para aprimorar a existência real efetiva da perseguição estatal,
dado que ainda não existe um esboço certo dos limites de aplicação
da teoria, notoriamente servirá como motor para o surgimento de ou-
tras modificações legislativas no ordenamento do direito penal.
André Callegari argumenta que os indivíduos em posições di-
retivas que exigem conhecimento e informação não podem alegar ig-
norância, e que aqueles que intencionalmente não procuram informa-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 121

ção relevante assumem o risco dos resultados, no caso de um fato cri-


minalmente relevante.
A Teoria visa preencher as lacunas legais relativas às imputa-
ções subjetivas para que a punição possa ser imposta a indivíduos
que, mesmo com um nível básico de conhecimento sobre as caracte-
rísticas do seu comportamento, renunciam a saber mais sobre o que já
sabiam ou suspeitavam. Contudo, na prática, não existe qualquer dis-
posição legal sobre qual a forma de punição a aplicar, quer seja por in-
tenção eventual ou imprudência.
No entanto, embora possa ainda não parecer a melhor solução
para melhorar a eficácia da perseguição estatal, uma vez que ainda
não existe uma delimitação exata dos limites de incidência desta teo-
ria, ela pode servir de fonte de inspiração para futuras mudanças le-
gislativas no domínio do Direito Penal.

Proposta de implementação, uma possibilidade de lege ferenda

Apesar da problemática extralegal da teoria da cegueira delibe-


rada exaustivamente abordada anteriormente, é inegável que as enor-
mes barreiras da teoria residem na figura legal, principalmente no con-
ceito restrito de dolo de acordo com a visão da teoria da vontade e do
conhecimento utilizada no âmbito jurídico brasileiro, e na antecipação
do erro de tipo como lapso de conhecimento sobre cada elemento pe-
nal, independentemente da motivação dessa ignorância
À vista disso, por tratar-se de uma barreira legal, tem-se ciên-
cia de que qualquer modificação, exigiria uma movimentação da dis-
posição por parte de legislativo, o qual possui o monopólio constitucio-
nal da edição ou modificação das leis.
Não obstante, no que concerne à pureza da tripartida de pode-
res de Montesquieu o que se analisa é um assíduo ativismo judicial,
onde apresenta-se modificando conceitos e levando para longe deter-
minações legais com errônea intenção de conceder mais indutibilida-
de às persecuções penais.
Em todo caso, se for de interesse autêntico da progressiva im-
plementação dos dispositivos da teoria no arranjo jurídico pátrio, po-
de-se apresentar a título da lege ferenda algumas possibilidades, sem
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 122

detrimento da necessidade do desenvolvimento jurisprudencial para


rodear os obstáculos extralegais já expostos, como a responsabilida-
de objetiva e ônus probatório penal.

Considerações finais

A teoria da cegueira intencional encontra nomeadamente resis-


tência no sistema jurídico brasileiro, particularmente no que diz respei-
to ao seu apoio normativo. Parece que a invocação desta teoria surge
do desejo de dar maior eficácia à ação penal do Estado, principalmen-
te para superar a falta de provas sobre o elemento subjetivo do agen-
te, neste caso, a intenção.
No entanto, independentemente de quão interessante e eficaz
possa ser uma teoria, a sua viabilidade de aplicação no sistema jurí-
dico deve ser analisada, cujos limites de qualquer eventual aplicação
serão dados pelo próprio sistema (normas e princípios reguladores).
Entretanto, não é raro depararmo-nos com aplicações de teo-
rias estrangeiras pelo Poder Judiciário, a fim de reforçar ou apoiar uma
determinada decisão. Exemplos incluem a Teoria do Crime de Mas-
termind, a Doutrina dos Frutos da Árvore Venenosa, e mais recente-
mente, a aplicação frequente da Teoria da Cegueira Forçada, que, tal
como a Doutrina dos Frutos da Árvore Venenosa, também foi importa-
da do sistema legal norte-americano.
É inegável que esta é uma tendência derivada da proliferação
de crimes globais, que acabam por conduzir, como afirma Feijoo Sán-
ches, a uma «americanização do Direito Penal» (branqueamento de
capitais, terrorismo, corrupção, transações internacionais). Portanto,
apesar da relevância doutrinal destas teorias e do interesse do Poder
Judiciário em tomar a melhor decisão em cada caso para combater a
impunidade, é indiscutível que por vezes a aplicação de certas teorias
acaba por ser errada, quer devido à interpretação errónea da teoria,
quer devido à ausência de sustentabilidade normativa ou prática para
a sua aplicação.
Qualquer teoria importada de outros sistemas jurídicos só terá
lugar no sistema jurídico brasileiro se for compatível com os critérios
estabelecidos nas normas constitucionais e infraconstitucionais, es-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 123

pecialmente quando se trata de teorias que geram uma perigosa vi-


são expansiva na intervenção criminal (expansão do conceito de in-
tenção), sob pena de violação irreversível do princípio da legalidade
ou, mais especificamente, do princípio nullum crimen nulla poena sine
lege.
Parece ser um equacionamento errado pela jurisprudência en-
tre eventual intenção e cegueira intencional. Afinal, se fosse apenas
uma teoria que fomenta a existência de uma eventual intenção, não
haveria necessidade de gastar tanto tempo debatendo este “elemen-
to estrangeiro” que se está se expandindo cada vez mais na condena-
ção de sentenças penais.
Assim, observa-se que a hipótese inicial do trabalho se confir-
ma na medida em que a utilização desta teoria não só se apresenta
como um terreno perigoso e instável no âmbito normativo (princípio da
legalidade), gerando uma enorme dose de insegurança jurídica e ar-
bitrariedade que apenas viola direitos e garantias fundamentais, mas
também implica riscos e consequências indesejáveis no âmbito práti-
co (inversão do ónus da prova, dificuldades em confirmar o elemento
subjetivo, etc.).
Por conseguinte, nada impede a maturação desta teoria peran-
te os tribunais brasileiros. No entanto, é indiscutível que deve haver
inicialmente uma alteração legal que forneça apoio normativo para a
sua implementação no sistema jurídico brasileiro.
Não se nega, contudo, que apesar dos numerosos problemas
extralegais presentes na Teoria da Cegueira Forçada, é uma teoria in-
teressante que deve ser mais estudada para que, num futuro próximo,
se possa promover uma melhor delimitação das suas características
e consequências à luz do sistema jurídico atual, a fim de tornar possí-
vel, efetiva e razoável, a sua utilização na luta incessante contra a im-
punidade.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 126

CAPÍTULO 9

A INFLUÊNCIA DO CRISTIANISMO NA
CRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO

THE INFLUENCE OF CHRISTIANITY IN THE


CRIMINALIZATION OF ABORTION

Rebeca Maria Galvão Benício Andrade


Christus Faculdade do Piauí- Chrisfapi
Campos Piripiri- pi
ORCID 0009000920404831
rebecandradee@outlook.com

Thalia Alves Castro Oliveira


Christus Faculdade do Piauí- Chrisfapi
Campos Piripiri- pi
ORCID 0009000743595912
thaliaalvescastro@gmail.com

Maria Eduarda Mendes Brandão


ORCID 0000000151183538
meduarda.mbrandao@.com

Maria Lustosa De Melo


ORCID 0000000217756336
mariamlustosa@gmail.com

Thatiany Gonçalves de Melo


ORCID 0009000578742455
thatiany.melo123@gmail.com

Renata Resende Pinheiro Castro


ORCID 0000000290993020
rezenderenata@hotmail.com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 127

RESUMO
Apesar de o aborto ser algo comumente realizado na atualidade, ele
ainda é visualizado de forma maléfica pela maior parte da população,
constituindo uma matéria altamente polêmica. Por esta razão, a maio-
ria deles é realizada de maneira clandestina, o que provoca uma es-
timativa de 47.000 óbitos de mulheres anualmente todos os anos em
todo o planeta, conforme a Organização Mundial de Saúde. Tem-se
que a religião cristã teve uma forte influencia, conforme salienta o au-
tor Kalsing, em relação as questões legislativas no Brasil, porque no
início da formação de Estado não havia separação entre Estado e
Igreja. Diante desta realidade, este projeto busca responder a seguin-
te problemática: A manutenção da criminalização do aborto está vin-
culada à influência cristã na sociedade brasileira? E em prol de res-
ponder esta questão tem-se como objetivo primário Analisar a Influên-
cia Cristã na Manutenção do Crime de Aborto. Por fim, essa pesqui-
sa apresenta-se importante, pois a mesma visa compreender o conte-
údo e aplicação das leis. As presentes pesquisadoras enquanto estu-
diosas e futuras profissionais da área, apresentam essa pesquisa que
servirar como material de reflexão para melhorias no entendimento
das aplicações das sanções.
Palavras-chave: Aborto; Criminalização; Influência cristã.

ABSTRACT
Despite the fact that abortion is something commonly performed to-
day, it is still seen as bad eyes by most of the population, constituting
a highly controversial matter. For this reason, most of them are carried
out clandestinely, which causes an estimated 47,000 deaths of wom-
en annually all over the planet, according to the World Health Organi-
zation. Faced with this reality, this pre-project seeks to answer the fol-
lowing problem: Is the maintenance of the criminalization of abortion
linked to the Christian influence in Brazilian society? And in order to an-
swer this question, the primary objective is to present the consequenc-
es of the legalization of abortion in the face of society. Finally, this re-
search is important when we think that we should better understand
the content and application of laws and, thinking that we should soon
act in the area, the research can serve as material for reflection for im-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 128

provements in the understanding of the applications of sanctions.


Keywords: Abortion; Criminalization; Christian influence.

1. INTRODUÇÃO

O aborto é um fato existente na sociedade e que, na maioria das


vezes, acontece à margem da lei e pondo em risco a vida das mulhe-
res que a ele se sujeitam. Para alguns, é um direito à vida, para outros,
é um direito da mulher em decidir sobre seu próprio corpo. Diante dis-
so, discutir sobre a legalidade do aborto não é uma tarefa fácil, uma vez
que o aborto implica tanto em questões legais, mas implica também em
questões individuais como: moral, religião, cultura, ciência, entre outros.
A discussão em torno do tema é um dos temas mais debatidos
no Brasil, devido as decisões judiciais para realização dele em algu-
mas situações e por conta dos casos já previstos em lei, como é quan-
do há risco de morte da mãe causado pela gravidez, quando esse é
resultante de um estupro e se o feto for anencéfalo. Destarte, é óbvia
a complexidade do aborto, que acarreta um impacto negativo na saú-
de pública, mas implicam também em discussões sociais como: moral
e religião, que já possuem seus entendimentos diante do tema.
A Igreja Católica era que ditava as regras e o papa figurava
como uma espécie de governador, sendo que as leis eram funda-
mentadas nos princípios do catolicismo e, mesmo com o decorrer dos
anos, ela ficou fortemente conhecida como uma espécie de protetora
da moral.Tendo em vista que, a Igreja Católica é a religião mais segui-
da e embasada por uma perspectiva de mundo que é reconhecida for-
temente, o que mostra a sua potência, especialmente em conflitos de
cunho político como o aborto.
A legislação brasileira nos mostra sobre a inviolabilidade do di-
reito à vida que é um direito constitucional, e qualquer lei que viole
esse direito é uma lei inconstitucional, é uma lei nula, que não pode
ser cumprida. O artigo 2º do Código Civil brasileiro diz que “a persona-
lidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe
a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. Diante disso, o
trabalho traz a seguinte indagação: A manutenção da criminalização
do aborto está vinculada à influência cristã na sociedade brasileira?
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 129

Isto posto, o presente trabalho tem como objetivo analisar a in-


fluência cristã na manutenção do crime de aborto, para tanto, preten-
de -se entender a perspectiva cristã em torno do tema, compreender a
legislação a respeito do aborto, esquadrinhar mais sobre o tema atra-
vés de uma pesquisa bibliográfica e apresentar uma visão religiosa so-
bre a legislação brasileira com relação a temática, sobre a perspecti-
va religiosa.
Tal estudo funda-se na compreensão da relação entre a proi-
bição do aborto com a influência da doutrina cristã e sua forma de in-
fluenciar às questões sociais, políticas e legais. O presente trabalho se
justifica no âmbito acadêmico, pois visa agregar com o que tem sido
construído, de forma que avance as possibilidades para refletir e con-
sequentemente melhore a clareza e a relevância do tema na socieda-
de. Ainda poderá ser relevante na esfera social, já que as instituições
utilizam trabalhos e pesquisas desenvolvidas no seio da Universida-
de para melhor refletir suas práticas, bem como promover uma análi-
se mais proveitosa particularmente no âmbito jurídico.
No que se refere a relevância enquanto estudante de direito,
esta pesquisa se apresenta importante quando pensa-se em melhor
entender o conteúdo e aplicação das leis e, pois enquanto estudan-
tes e futuras profissionais na área, a pesquisa poderá servir como ma-
terial de reflexão para melhorias no entendimento das aplicações das
sanções.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A temática adotada analisa toda a conjuntura social com propó-


sito de argumentar a postura da influência do Cristianismo diante da
legalização do aborto, tratando o presente estudo como uma verten-
te proibitiva na visão religiosa. Faz-se ainda entender a perspectiva da
Igreja Cristã e do Estado laico brasileiro, na aplicação legal diante da
temática.
Mediante outra perspectiva, cita-se ainda o artigo 4 da CF/1988,
que defende e garante a todos o direito e o respeito pela a vida. Traz
ainda a citação do autor Walmir Celso Kooppe, que diz: “Não existe o
direito à vida sem o direito à defesa da vida.”
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 130

3. METODOLOGIA

Neste estudo adotou-se a pesquisa bibliográfica que trata-se


da análise e discussão de fontes documentais e bibliográficas que pro-
curam oferecer os necessários argumentos para solucionar o proble-
ma de pesquisa previamente definido para a devida comprovação das
hipóteses do trabalho e, na maior parte dos casos, não necessita de
interferência de dados coletados em campo (GIL, 2017).
Essa modalidade de pesquisa tem como finalidade precípua
explicar um problema com base em referências teóricas associadas
à área específica do tema e ainda pode ser executada como parte da
pesquisa experimental ou descritiva.
A pesquisa bibliográfica é meio de formação por excelência e
constitui o procedimento básico para os estudos monográficos, pelos
quais se busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema.
Como trabalho científico 20 original, constitui a pesquisa propriamente
dita na área das ciências humanas. [...] Constitui geralmente o primei-
ro passo de qualquer pesquisa científica (CERVO; BERVIAN, 2002,
p. 66).
No que se refere à coleta de dados, foi realizada por intermédio
de fontes diferentes tais quais documentos eletrônicos, publicações
periódicas (revistas e jornais) e impressos diversos, sobretudo livros
de autores renomados que versam sobre a matéria aborto.

4. DESENVOLVIMENTO

4.1 Legislação do aborto no Direito Brasileiro

É relevante primeiramente enfatizar o artigo 2º do Código Civil, o


qual prevê que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento
com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nas-
cituro” (BRASIL, CC, 2019). Mendonça (2016, p. 1) conceitua nascituro,
afirmando que “[...] é aquele que irá nascer que foi gerado, porém não
nasceu ainda. Em outras palavras, o está no ventre materno”.
Portanto, segundo o autor, mesmo ainda estando no ventre da
mãe, o nascituro já tem direitos, inclusive garantidos pela Carta Mag-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 131

na, haja vista que, conforme Mendonça (2016), o nascituro é ainda


possuidor do direito à vida, de maneira que fica a cargo do Estado a
sua tutela, sem tirar, obviamente, a responsabilidade da genitora de
lhe proteger, de maneira que, não atente contra a vida do feto, o que
viria a interromper a vida que está se desenvolvendo em seu útero.
No que tange à tutela da vida do nascituro na Constituição Fe-
deral, Cavalcante e Xavier (2006) lecionam que não tem como deba-
ter a questão da legalização do aborto sem discutir o problema da tu-
tela jurídica da vida humana intra-uterina. Em verdade, caso a inter-
rupção voluntária da gestação implicar em eliminação dessa vida, é
necessário constatar-se, e até qual ponto, ela recebe proteção da or-
dem constitucional pátria.
Segundo Carvalho (2015, p. 1): A proteção constitucional do
nascituro e o direito à reparação de danos são decorrentes da neces-
sidade de tutelar os direitos do ser ainda não nascido, essa proteção
pode ser visualizado [sic] na Carta Magna, no código civil e até mesmo
em decisões, o que se ver [sic] hoje é que o direito deve abarcar todas
as situações capazes de gerar dano ao ser humano, pois inconcebí-
vel diante de tantas evoluções no âmbito do direito constitucionalizado
que defende o direito das gentes não considerar o nascituro como ser
capaz de sofrer violação.
A tese defendida por Cavalcante e Xavier (2006) é no sentido de
que a vida do embrião é, sim, em verdade amparada pela Carta Mag-
na, rp esse amparo não possui a igual força e intensidade do que a pro-
teção concedida a um indivíduo que já tenha nascido. Defendem, tam-
bém, que a tutela conferida ao nascituro não é igual em todo o período
gestacional, tendo em vista que, conforme as autoras, a tutela vai cres-
cendo de forma gradativa na proporção em que o nascituro vai se de-
senvolvendo, consequentemente “o tempo de gestação é, portanto, um
fator de extrema relevância na mensuração do nível de proteção consti-
tucional atribuído à vida pré-natal” (CAVALCANTE; XAVIER 2006).
Vale citar, também, que o direito à vida, que está preconizado no
artigo 5º da Constituição Federal não é absoluto. Pode-se observar que
o ordenamento jurídico brasileiro define exceções, tais quais citadas no
artigo 128 do Código Penal, que será transcrito logo a seguir (RODRI-
GUES; TOLEDANO, 2018, p.1). Portanto, fica claro que o direito à vida
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 132

do nascituro, está assegurado pela legislação nacional e a sua tutela


pode ser vista no Código Penal, no Código Civil e na Carta Magna.
O Código Penal de 1940 está ainda em vigor no Brasil. Em alu-
dida legislação, o aborto é considerado uma ação criminosa, aplican-
do-se penas distintas, a depender da situação que tenha acontecido.
Segundo Greco (2017), para fins de tutela por meio da lei penal, a vida
somente terá importância jurídica depois da nidação, que faz alusão à
implantação do óvulo já fecundado no útero da mãe, o que acontece
catorze dias depois da fecundação.
Portanto, o autor frisa que a partir da nidação, qualquer condu-
ta em prol de interromper gestação será tida como aborto, podendo
ser no su formato consumado ou tentado.
Dessa maneira, Greco (2017) ensina que o parto põe fim à
chances de realização do aborto, passando o óbito do nascituro a ser
considerado homicídio ou infanticídio, a depender do caso. Para este
autor (2014, p. 140), o parto começa com “a) dilatação do colo do úte-
ro, b) com o rompimento da membrana amniótica ou, c) tratando-se de
parto cesariana, com a incisão das camadas abdominais”.
Em primeiro lugar, é interessante destacar que, no Brasil, o
acesso ao aborto é proibido pela legislação nacional, sendo autoriza-
do apenas nas hipóteses de estupro, caso a grávida esteja com até
vinte e duas semanas de gestação, em hipótese de gravidez ser de
risco de morte para o bebê ou para a mãe e, também, em situação de
diagnóstico de getos com anencefalia (MOREIRA, 2019).
Em igual sentido, tem-se o entendimento de Torres (2012) que
defende que o Brasil mantém a criminalização do aborto, com somen-
te três exceções, duas preconizadas na lei penal, mais precisamente
no artigo 128 do Código Penal quando inexiste outra maneira para sal-
var a vida da grávida e a gestação oriunda de crimes contra a dignida-
de sexual e a terceira, aceita em decisões judiciais, como é o caso da
má formação fetal não compatível com a vida extrauterina.
Assim tipifica o Código Penal:

Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que


outrem ,lho provoque: Pena – detenção, de 1 (um) a 3
(três) anos.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 133

Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da ges-


tante: Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da ges-
tante: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Pará-
grafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a ges-
tante não é maior de 14 (quatorze) anos, ou é alienada
ou débil mental, ou se o consentimento é obtido median-
te fraude, grave ameaça ou violência.
Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anteriores
são aumentadas de um terço se, em consequência do
aborto ou dos meios empregados para provoca-lo, a ges-
tante sofre lesão corporal de natureza grave; e são dupli-
cadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte (BRASIL, 1940).

No artigo 125 do Código Penal o crime é executado por terceiro,


sem o consentimento da grávida. Portanto, qualquer indivíduo pode ser
sujeito ativo do delito, uma vez que o crime não requer qualquer quali-
dade especial. Nesta hipótese, o sujeito passivo constitui o produto da
concepção, e de uma forma secundária, a grávida (GRECO, 2017).
Já o artigo 126 e seu parágrafo único apresentam a previsão
do aborto ocasionado com o consentimento da gestante.Já seu pará-
grafo único traz a previsão do aborto provocado com o consentimento
da gestante. A última espécie que está prevista no artigo 126 do Códi-
go Penal, que constituem os casos nos quais o aborto é praticado por
terceiro, porém com a anuência da grávida. Nessa modalidade, o su-
jeito ativo pode ser qualquer indivíduo.
O sujeito passivo trata-se do produto da concepção e, diante
da concordância da grávida com o aborto, esta não pode ser configu-
rada como vítima. Contudo, existindo graves lesões ou o óbito da ges-
tante, esta irá figurar também no polo passivo, levando em conta a in-
viabilidade de seu consentimento, mediante a gravidade dos resulta-
dos (GRECO, 2017).
O art. 127, por sua vez, traz as formas qualificadas aplicáveis
em caso de superveniência de lesões graves ou de óbito da gestan-
te. Para Mirabete (2009), referido artigo faz referência ao crime pre-
terdoloso, no qual o agente não queria o resultado da lesão grave ou
da morte.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 134

Dessa forma, nota-se que o bem protegido juridicamente no cri-


me de aborto é a vida do ser humano em desenvolvimento, segundo
ensina Greco (2017). No que tange ao tipo subjetivo, o aborto consti-
tui um crime doloso, sendo preciso que o agente almeje o resultado ou
então assuma o risco de gerá-lo, portanto, inexiste tipificação de de-
lito de aborto culposo, sendo que não é passível de punição a impru-
dência de mulher gestante de provocar a interrupção da gestação (MI-
RABETE, 2009).
Segundo o artigo 128 do Código Penal, todavia, existe dois ca-
sos que é possível a execução do aborto, denominado também de
aborto legal, que constituem as hipóteses do aborto necessário, que
é viável quando a grávida corre risco de morte e o aborto sentimen-
tal, por causa da gestação decorrente de estupro (MIRABETE, 2009).
Para finalizar, como cita Marcão (2001), o artigo 128 prevê os casos
de não punição de aborto realizado por médico.
Há várias modalidades de métodos que são usados para a in-
terrupção da gravidez, consequentemente, trazendo o óbito do feto,
como a ingestão de medicamentos que são específicos para o come-
timento da prática abortiva, a curetagem, a raspagem ou a sucção.
É relevante frisar que, caso no momento do aborto verificar-se
que o feto já não possuía mais vida, não se caracterizará como crime
a prática executada, haja vista que, será tido como crime impossível
(ALVES, 2018).
Quanto à Constituição Federal, no que se refere ao aborto, Sar-
mento (2005, p. 59) evidencia que: Assim, quando a gestante correr
risco de morte ou quando a gravidez resultar de estupro, a legislação
penal permite a realização do aborto. Ainda, há um terceiro caso em
que o aborto não é criminalizado no Brasil, que se trata dos casos em
que o feto é anencefálico.
Para Greco (2017), muito se debateu sobre a possibilidade do
aborto no caso do feto anencefálico. As decisões tinham caráter con-
flitante e isso ocasionava insegurança jurídica. Ainda segundo este
autor, o artigo 1.249 do Código Penal versa sobre o auto-aborto, que
é o caso no qual a própria grávida o realiza. Nesta hipótese, apenas
a gestante é o sujeito ativo do crime, isto é, nesta situação, apenas
a gestante sofrerá punição. O sujeito passivo, por sua vez, conforme
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 135

Greco (2017, p. 242) é “o óvulo fecundado, embrião ou feto, ou seja, o


produto da concepção, protegido em suas várias etapas de desenvol-
vimento”. Da mesma maneira, pune o aborto causado por terceiro sem
o consentimento da grávida.
Sendo assim, “em 17 de junho de 2004, a Confederação Nacio-
nal dos Trabalhadores da Saúde (CNTS), propôs a Ação de Arguição
de Descumprimento de Preceito Fundamental14 (ADPF 54)” (GRE-
CO, 2017, p. 264). Em referida ação, foi indagada sobre a aplicação
dos artigos 12.415, 12.616 e 12.817 do Código Penal no que se refe-
re ao feto anencefálico.
Depois de oito anos, em média, vale afirmar, no dia 12 de abril
de 2012, o Supremo Tribunal Federal decidiu a questão por maioria e
nos termos do voto do Relator, Ministro Marco Aurélio, em prol de de-
clarar a não constitucinalidade da interpretação conforme a qual a in-
terrupção da gestação de feto anencéfalo é conduta tipificada nos arti-
gos 124, 126, 128, I e II, todos do diploma repressivo, conforme já dis-
corrido acima (GRECO, 2017, p. 264).
Portanto, “o STF julgou procedente a Arguição (12.04.2012) no
sentido de ser permitida a antecipação do parto em casos de gravidez
de feto anencefálico (malformação congênita de feto, por ausência de
crânio” (FARAH, 2015, p. 04). Sendo assim, além dos casos do aborto
legal necessário e o o de gravidez oriundo de estupro, é permitido tam-
bém o aborto por feto anencefálico, segundo decisão do STF.
A Carta Magna não tratou, de forma expressa, do aborto volun-
tário, seja para proibi-lo, seja para autorizá-lo,. Isto não quer dizer, ob-
viamente, que o tema da interrupção voluntária da gestação seja um
“indiferente” constitucional”. Muito pelo contrário, o assunto está alta-
mente impregnado de conteúdo constitucional, ao tempo que engloba
o manejo de princípios e valores de máxima relevância consagrados
na Carta Magna.

a. Perspectiva cristã sobre o aborto

Em primeiro plano, é importante destacar que, para aqueles


defensores da criminalização, houve a obrigação de desvincularem-se
dos argumentos claramente religiosos, usados na questão do aborto,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 136

levando em consideração que o Estado é laico e, sendo assim, não


deve apoiar nenhuma religião (BARSTED, 2019). Portanto, segundo
Kalsing (2002), o Estado deve ser laico, não aceitando que valores re-
ligiosos e morais particulares sejam sobrepostos como regras de con-
duta no interior de uma sociedade.
É relevante realizar uma retrospectiva sobre o porquê de a re-
ligião ser tão forte em lides políticas. Serra (2018) entende que, nos
tempos antigos, não havia separação entre os poderes do Estado e a
Igreja Católica. A Igreja Católica era que ditava as regras e o papa fi-
gurava como uma espécie de governador, sendo que as leis eram fun-
damentadas nos princípios do catolicismo e, mesmo com o decorrer
dos anos, ela ficou fortemente conhecida como uma espécie de pro-
tetora da moral.
Sobremaneira, a Igreja Católica é a religião mais seguida e em-
basada por uma perspectiva de mundo que é reconhecida fortemente,
o que mostra a sua potência, especialmente em conflitos de cunho po-
lítico (KALSING, 2002). Cavalcante e Xavier (2006) ensinam que nem
se torna necessário recordar o drástico posicionamento que a Igreja
Católica assume sobre o aborto, condenando o ato em qualquer situ-
ação, inclusive nas circunstâncias que já foram aceitas pela legisla-
ção pátria.
Os autores entendem, também, que o catolicismo constitui a
religião prevalente no Brasil, a Igreja Católica e a maior parte das reli-
giões defendem que o aborto trata-se de um crime e está tipificado na
Carta Magna, mais precisamente no artigo 5º que assegura a imutabi-
lidade do referido direito fundamental.
Segundo os cristãos, o aborto trata-se do crime mais grave que
pode existir, haja vista que é praticado contra um ser que não pode se
defender, sendo completamente dependente do corpo da mãe. A Igre-
ja, portanto, baseia-se em princípios que defendem o valor da vida
(KALSING, 2002).
Em contrapartida, Serra (2018), defende que, conforme Garcia
(2018), o aborto não é tratado na Bíblia como um delito, tendo em vis-
ta que, nos tempos antigos, nem tratado como crime e pecado era.
Há um texto bíblico que é bem usado por aqueles que são contra des-
criminalização do aborto, o qual estabelece que não se deve matar,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 137

haja vista que aquele que matar deverá responder mediante um tribu-
nal. Sendo assim, é preciso compreender que há um contexto históri-
co que, antigamente, a lei não era para todos, tendo em vista que não
englobava, por exemplo, os inimigos de Israel e as mulheres que eram
tidas como infiéis.
Várias pessoas não estavam incluídas na lei do ‘não matarás’.
Não dá para pegar um texto bíblico antigo e transportá-lo para o pre-
sente, fora do seu contexto, sem fazer nenhum trabalho histórico, de
interpretação de textos religiosos. É uma regra fundamental. Quando
isso ocorre, há uma manipulação para servir a um propósito (GARCIA,
2018 apud SERRA, 2018, p. 1)
No que tange à oposição ao aborto, Kalsing (2019) entende
que a Igreja Católica se posiciona contra a prática menos nas hipóte-
ses já aceitas por lei, o fundamento principal para tal posicionamen-
to está em que “[...] não se deve decretar a pena de morte ao nasci-
turo, já que o mesmo não se faz com o estuprador. E, ainda, se a mu-
lher estuprada não tiver condições de criar o filho, ela deve entregá-lo
à adoção” (KALSING, 2002).
É preciso, também, citar o que Campos (2019) entende em rela-
ção à legalização do aborto quando se trata de situações de feto anen-
céfalo. Para o autor, os representantes da Conferência Nacional dos Bis-
pos do Brasil defenderam sobre a humanização do feto, mesmo como
má- formação, bem como defenderam a expectativa de vida, o que evi-
dencia que o Estado não possui o direito de julgar o valor da vida.
Serra (2018), contudo, entende que, segundo José (2018) a coi-
sa mais violenta e absurda é dizer para uma mulher: ‘Tenha a criança e
depois dê’. Como se ter uma criança fosse algo simples, como se a mu-
lher fosse um animal reprodutor. O que é isso? Respeitem as mulheres!”
Vanzolini (2018) adiciona que caso a religião possua como re-
gra tão clara a defesa da vida, ela deveria estar devidamente aberta
para compreender quais são as formas mais efetivas de realizar isso,
que não é desamparando a mulher ou lhe punindo quando escolhe
pelo aborto (apud SERRA, 2018).
Mas, neste sentido, é preciso frisar que não são todos os católicos
que são defensores de que não se deve realizar o aborto, pois há grupos
de mulheres que acompanham a religião e, contudo, não são de acor-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 138

do com a concepção religiosa que possui como propósito punir e limitar


a sexualidade humana, o que faz uso, inclusive, de argumentos religio-
sos para confortar as mulheres que praticam o ato, possui como objetivo
atentar alentar aquelas que decidem por interromper a gestação.
Um dos argumentos que é usado para esse conforto é que, na
Igreja, lecionam que as pessoas devem sempre seguir o julgamento
da consciência humana, haja vista que Deus não vai realizar seu jul-
gamento baseado em saber se as pessoas seguem ou não os ensina-
mentos das normas ou das leis, porém, sim, pelo seguimento da cons-
ciência de cada um (OROZCO, 2014).
Por sua vez, Ribeiro (2007), entende que não é competência
da Igreja a condenação ou não prática do aborto e que, sem do assim,
não fica a cargo da legislação considerar como crime o ato com fun-
damentos em convicções religiosas. O autor entende, também, que é
obrigação da lei propiciar às pessoas o direito de escolha.
No caso específico do aborto, impor a uma mulher, mesmo ca-
tólica, ou fiel de qualquer outro credo religioso, uma norma que restrin-
ge sua liberdade é impedi- la de exercer direitos de cidadania. É des-
respeitar sua capacidade moral de julgamento e decisão. É negar-lhe
sua humanidade (CAVALCANTE; XAVIER, 2010, p. 38).
Na concepção de Moura, qualquer indivíduo que é realmente
religioso, provavelmente será completamente contra a prática do abor-
to. Pode ser um mulçumano, um espírita, um católico, um budista, isto
é, qualquer um que creia em um Deus de que possua ao menos um
pouco de medo da justiça divina, tendo em vista que têm conhecimen-
to de que há grandes riscos em tirar uma vida.
É importante ressaltar que, para estas religiões, sempre há
vida, mesmo se o bebê nascer morto. Isso porque acreditam que o
fato de o bebê estar se mexendo, no interior da barriga da mãe, já
constitui prova de que em algum momento houve vida.
Para referidas religiões, abortar uma criança é retirar a vida de
um indivíduo, e isso possui a mesma proporção do que tirar a vida de
um ser humano já na Terra. Para estas religiões, são vários os meios
para não engravidar, sendo que, hoje em dia, há preservativos, anti-
concepcionais e pílulas do doa seguinte, isto é, são diversos os meios
de não engravidar, portanto, não há justificativa para abortar (2010).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 139

Segundo Portello, Arantes e Marizo (2019, p.12) “o Cristianis-


mo, religião predominante no Brasil e no mundo, se divide basicamen-
te em Católicos Romanos e Protestantes. Ambos discordam do abor-
to e condenam tal prática”. Para os que defendem o direito à vida,
há uma explicação religiosa que convence, para eles: a Bíblia discor-
re que “Deus formou o homem a partir do pó do barro e soprou sobre
ele o fôlego de vida” (PORTELLO; ARANTES; MARIZO, 2019, p. 1), e
conforme esse fundamento, a vida trata-se de um dom de Deus que
foi concedido aos homens.
Sendo assim, apenas Deus possui o poder de conceder ou ti-
rar essa vida. Portanto, não obedecer ao que está na Bíblia e praticar
o aborto constitui tirar a vida de outra pessoa, e isto é tido como um
ato completamente contrário aos ensinamentos Assim sendo, somen-
te Deus tem o poder de dar ou tirar essa vida. Portanto, desobedecer
ao que está na bíblia e cometer a prática do aborto é tirar a vida de ou-
tra pessoa e isso é considerado um ato totalmente contrário aos en-
sinamentos de Deus (PORTELLO; ARANTES; MARIZO, 2019, p. 1)
Dois elementos que integram argumentos de ordem religiosa,
moral e biológica são fundamentais para sustentar a posição da ins-
tituição religiosa: a sacralidade da vida humana e a condição de pes-
soa do embrião. A condenação do aborto se encontra fundamentada
em uma proposição de fé - vida humana tem caráter sagrado porque é
um dom divino e a crença na existência de uma pessoa humana des-
de a fecundação, como afirma magistério da Igreja, torna o aborto um
ato moralmente inaceitável e condenável. Um atentado contra a vida e
contra Deus, um pecado gravíssimo (TALIB, 2006, p. 3).
Westphal (2011, p. 7) entende que mesmo que a Igreja consi-
dere o aborto um pecado mortal tal fundamento não faz com que as
mulheres parem de abortar de forma clandestina, isto é, o argumento
religioso faz com que as mulheres pratiquem o aborto em casos pre-
cários, pondo suas vidas em risco.

b. Bancada Religiosa no Congresso Nacional

É fático que a criminalização do aborto põe em risco direitos


fundamentais definidos em tratados de direitos humanos, tendo res-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 140

paldo na Constituição Federal de 1988 onde é assegurado o direi-


to à vida.
Na presente, vale ressaltar também a proteção ao estado lai-
co, assim como a proteção à liberdade regiliosa, essa que preza na li-
vre crença pelas leis divinas que são postas em prática pelos cristãos.
Sobretudo, existe um debate com a relação entre igreja e esta-
do, com o maior embate fixado em não ultrapassar as limitações des-
sa relação. Diante da existência de uma Frente Parlamentar Evangé-
lica no Congresso Nacional acaba por ensejar a ênfase ao estado lai-
co, tendo em vista que sendo país pluralista deve se conduzir sem in-
terferência religiosa.
Destarde, como ressalta-se o direito à vida e a liberdade religio-
sa, se torna impossível para os que possuem a crença cristã não fa-
zer essa correlação durante seus julgamentos. A própria frente parla-
mentar evangélica se faz presente não para impor ou diminuir as de-
mais religiões, mas para resguardar os direitos cristãos e garantir re-
cursos para pessoas em situação de vulnerabilidade, valorando seus
princípios e os buscando de forma que comporte dentro de um juizo
constitucional.
Diante disso, é evidente a força e amplitude que o Congres-
so Nacional tem dentro do meio social brasileiro. Sendo fiscalizando
ou/e legislando as atribuições que lhes são impostas, de acordo com o
seus ordenamentos, regimentos adotados e principalmente pela carta
magna, sendo debates estes voltados a sociedade atual, é inegável a
discursão em torno do aborto, visto que, tem grande proporção mun-
dial, onde nem todos os pais adotam tais práticas em torno de deter-
minado assunto.
No Brasil, atualmente o aborto é legal, caso deseja decorrente
de estrupo, quando há risco a vida da gestante ou quando há um diag-
nóstico de ancefalia do feto, sendo o último caso, uma garantia dada
pelo STF (Supremo tribunal federal) em 2012.
De acordo com o relatório “mulheres e resistência do congres-
so nacional”, cerca de 22% dos projetos que chegam ao CN são volta-
dos para o aborto, sendo esta uma balança feita no primeiro semestre
de 2021, ganhando destaque na Câmara dos Deputados, em Brasília,
e nas Câmaras Municipais.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 141

A deputada federal, eleita no Rio de Janeiro (RJ) em 2018,


Chris Tonieta (PSL/RJ) advogada e católica, segue na câmara dos
deputados sendo uma opositora fiel aos direitos das mulheres, traba-
lhando para que qualquer tipo de aborto seja proibido dentro daque-
le estado.
Em Recife (PE), por exemplo, a vereadora Michele Collin (PP) vi-
sou constituir no calendário municipal a “semana municipal de combate
ao aborto”, mas foi rejeitado por por 20 votos contrários e 9 favoraveis.
O prefeito Sarto Nogueira (PDT), ginecologista e evangélico,
sancionou uma lei, em fortaleza (CE), em tramitação desde 2017, que
cria a “Semana pela Vida”, onde permite campanhas publicitárias e in-
formativas contra o aborto e o uso de anticoncepcionais.
De acordo com os levantamentos do Centro Feminista de Es-
tudos e Assessoria (Cfemea), no primeiro semestre de 2021, foram
apresentados 7 projetos de lei na Câmara dos Deputados, o conteúdo
de tais projetos são em torno de buscar impedir e criar barreiras para
a interrupção da gravidez mesmo nos casos autorizados em lei, por
meio da criminalização, criação de impeditivos e/ou aumento de penas
para abortos provocados pela mulher ou terceiros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, é nítida a influência da religião e sua eficiência


enquanto instrumento de controle social, principalmente com os ensi-
namentos cristãos de fé, amor, tolerância, e solidariedade.
No próprio preâmbulo da CF/88 pode-se identificar essa in-
fluencia ( ...“sob a proteção de Deus”...), fazendo referência a impor-
tância de uma crença que atribua sentido para a vida e para as coisas.
Apesar de a Bíblia não abordar de forma direta sobre o abor-
to, se é utilizada diferentes interpretações onde se tem como ressal-
va o valor da vida humana, “aquela chamada por Deus antes mesmo
de que ela esteja dentro do útero materno”, defende o padre Renato
Gonçalves da Silva, mestre em teologia com ênfase em sacra escritu-
ra pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Esse entedimento gira em torno de que Deus é o dono e cria-
dor da vida desde o momento de sua fecundação, constado nos pró-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 142

prios mandamentos, que se encontra no livro biblico de Êxodo 20:13:


“Não matarás”, dando a Ele o poder de dar e tirar a vida.
Dessa forma, o Direito tenta se aproximar mais de colocar em
prática os valores mais importantes, assim como cristianismo. En-
quanto vigente, o aborto permance repudiado, salvo os casos espe-
cíficos, e o cristianimo defende o direito a vida, não havendo neutra-
lidade nesse debate, porque nele estão em colisão duas concepções
morais frontalmente contrárias sobre o valor e a proteção que à vida
humana, devendo buscar apenas honestidade ao lidar com os fatos e
com os pensamentos divergentes.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 145

CAPÍTULO 10

A REFORMA TRABALHISTA DE 2017: UMA


ANÁLISE CRÍTICA SOBRE AS NOVAS
FORMAS DE CONTRATO DE TRABALHO

THE 2017 LABOR REFORM: A CRITICAL ANALYSIS OF


THE NEW FORMS OF EMPLOYMENT CONTRACTS

Flaviano Ferreira de Araújo


Graduando em Direito
flaviano-araujo@hotmail.com

Marlene da Silva Cunha


Graduanda em Direito
marlenecunha10@gmail.com

Geilson Silva Pereira


Christus Faculdade do Piauí
Piripiri – Piauí
https://orcid.org/0000-0002-0278-0077
geilsonsp@hotmail.com

RESUMO
Esse projeto traz como tema as novas modalidades de contratos de
trabalho: uma visão crítica sobre as relações formalizadas. Tem a fi-
nalidade de analisar os principais modelos de contratos de trabalhos
dispostos pela reforma trabalhista. Desse modo faz a seguinte inda-
gação: a reforma trabalhista ajudou ou prejudicou as relações formais
através dos novos modelos de contratações? Para atingir o objetivo na
sua totalidade o trabalho se dará através de uma pesquisa bibliográfi-
ca do tipo exploratória, e abordagem qualitativa. Os critérios de sele-
ção, optamos por livros e artigos científicos com publicação nos últi-
mos seis anos, feitos com base nos descritores: Reforma Trabalhista;
Relações de Trabalho; Desemprego, no ambiente natural ou da reali-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 146

dade onde acontecem os fatos. Esse planeamento traz algumas hipó-


teses que serão trabalhadas na realização do presente projeto, quais
sejam, a reforma trabalhista trouxe benefícios aos empresários atra-
vés dos novos modelos de contratos; a formalização dos trabalhos
proporciona mais riscos sociais aos trabalhadores; a flexibilização das
relações se processa pelas formas de contratação da classe trabalha-
dora. A pesquisa justifica-se, pois se demonstra vantajosa dentro de
um contexto de cunho social, com políticas sobre os modelos de con-
tratos trabalhistas dispostos pela reforma trabalhista, envolvendo tan-
to o empregado como o empregador, que de certo modo, abrange a
cultura já vivenciada nas modalidades de vínculo na prestação de ser-
viços. Tem uma relevância para a comunidade acadêmica, pois propi-
cia um estudo mais apurado do tema em questão.
Palavras-Chave: Reforma Trabalhista; Relações de Trabalho; De-
semprego;

ABSTRAT
This project has as its theme the new modalities of employment con-
tracts: a critical view of formalized relationships. It has the purpose of
analyzing the main models of employment contracts arranged by the
labor reform. In this way, he asks the following question: did the labor
reform help or harm formal relations through the new hiring models?
To achieve the objective in its entirety, the work will be done through an
exploratory bibliographical research, and a qualitative approach. The
selection criteria, we opted for books and scientific articles published in
the last six years, made based on the descriptors: Labor Reform; Work
relationships; Unemployment, in the natural environment or the reality
where the facts take place. This planning brings some hypotheses that
will be worked on in the realization of this project, namely, the labor re-
form has brought benefits to entrepreneurs through the new contract
models; the formalization of work provides more social risks to work-
ers; the flexibilization of relations is processed through the forms of hir-
ing of the working class. The research is justified, as it proves to be ad-
vantageous within a social context, with policies on the models of labor
contracts arranged by the labor reform, involving both the employee
and the employer, which, in a way, encompasses the culture already
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 147

experienced in the modalities of bonding in the provision of services. It


has a relevance for the academic community, as it provides a more ac-
curate study of the subject in question.
Keywords: Labor Reform; Work relationships; Unemployment;

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo, traz como tema A Reforma Trabalhista de


2017: Uma análise crítica sobre as novas formas de contrato de tra-
balho, estabelecidas pela Lei 13.467, de 13 de julho de 2017 – Refor-
ma Trabalhista. A pesquisa tem relevância, pois se demonstra vanta-
josa dentro de um contexto de cunha social, com políticas sobre os
modelos de contratos de trabalho disposto pela reforma trabalhista. É
de grande importância tal pesquisa, pois questiona-se: a reforma tra-
balhista ajudou ou prejudicou as relações formais, através dos novos
modelos de contratações? Analisar os principais modelos de contratos
disposto pela reforma trabalhista é o objetivo geral. Para atingir o ob-
jetivo na sua totalidade o trabalho se dará através de uma pesquisa bi-
bliográfica do tipo exploratória, e abordagem qualitativa.
Os critérios de seleção, optamos por livros e artigos científicos
com publicação nos últimos seis anos feitos com base nos descrito-
res: Reforma Trabalhista; Relações de Trabalho; Desemprego. O es-
tudo justifica-se, pois se demonstra vantajosa dentro de um contexto
de cunho social, com políticas sobre os modelos de contratos de tra-
balhos dispostos pela reforma trabalhista, envolvendo tanto o empre-
gado como o empregador, que de certo modo, abrange a cultura já
vivenciada nas modalidades de vínculo na prestação de serviços. O
tema abordado tem uma relevância para a comunidade acadêmica,
pois propicia um estudo mais apurado do tema em questão. A Refor-
ma Trabalhista, como é famigerada a lei 13.467/2017, não contempla
novidade no estatuto do trabalho, mas fez alterações basilares funda-
mentais no regulamentário vigente. Tais mudanças fez com que sur-
gissem pontos de vista diversos e contraditórios, com impactação di-
reta nas relações de trabalho.
Entre as prescrições contidas na nova lei laboral, as essenciais
estão apontadas para o direito peculiar do trabalho, que incorpora te-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 148

mas análogos a jornada de trabalho, salário, férias, benefícios, paga-


mento de horas extras, as novas tendências de acordos contratuais
envolvendo empregado e empregador, dentre outras tantas. O princi-
pal objetivo dessas mudanças era diminuir os custos do empregado
para o empregador, para tanto, a Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT), teve que adequar-se a nova lei, que “possibilitou” uma maior
maleabilidade nas jornadas laborais e mutações no funcionamento da
mesma.
Na década dos anos de 1990, após 10(dez)anos, isso em 2000,
foram estabelecidas algumas mudanças na legislatura nacional, po-
rém sem alterar o ordenamento da carta magna. Após a aprovação da
lei 13.467/2017 em julho do referido ano, o país se incorporou na lista
das nações que efetuaram reformas trabalhistas nos últimos dez anos.
Seus propagadores utilizaram o momento crítico da econômica eclodi-
da em 2015 para obrigar e suadir o Congresso Nacional de que tal me-
dida colocaria um freio, no aumento do desemprego, como comprova
o Parecer que solidificou a reforma:

Escudada no mantra da proteção do emprego, o que ve-


mos, na maioria das vezes, é a legislação trabalhista
como geradora de injustiças, estimulando o desemprego
e a informalidade. Temos, assim, plena convicção de que
essa reforma contribuirá para gerar mais empregos for-
mais e para movimentar a economia ( Parecer da Refor-
ma, 2017, p.20). ´

Desse modo, tomando por base o Parecer mencionado, evi-


dencia-se que os defensores da Reforma visaram, sobretudo, a redu-
ção dos dispêndios corporativos com o holerite, onde o mercado de
trabalho teria regulação cabal, impedir o ádito do empregado à justi-
ça do trabalho e iniciativas de togados não patronais, e reprimir a as-
cendência dos movimentos de sindicalistas, tidos como hostilizadores,
materializando tremenda modificação nos liames de lavor e empre-
go, particularmente naquele trecho que intervém nas configurações de
acepção do itinerário de trabalho e de serventia, de contratação, e de
provento da força de trabalho. O que se observa é que existe no aglo-
merado da lei 13.467/2017, uma congruência que visa amortecer, no
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 149

linde do direito trabalhista no Brasil, o entendimento de que a negocia-


ção da força de trabalho como artefato, trata-se de um entrosamento
entre pessoas, trocando-as por uma visão que versa sobre o assunto.
Modificações de gigantesca amplitude dificultam a faina de se
prenunciar suas implicações. Sistematicamente, diferentes mecanis-
mos podem operar em direções contrárias, bloqueando que se prog-
nostique a ilação conclusiva do conjunto. Isso é em particular legítimo
para a reforma trabalhista, que, em razão de sua lépida tramitação e
espaçosa ampliação de seu propósito, deixa a desejar por sua impre-
cisão na organização estrutural.
No que tange os moldes s contratuais, a reforma veio com no-
vidades nas formas contratuais, como dita o artigo 443 que faz surgir
a figura do trabalho intermitente e determina:

Art. 443 § 3o Considera-se como intermitente o contrato


de trabalho no qual a prestação de serviços, com subor-
dinação, não é contínua, ocorrendo com alternância de
períodos de prestação de serviços e de inatividade, de-
terminados em horas, dias ou meses, independentemen-
te do tipo de atividade do empregado e do empregador,
exceto para os aeronautas, regidos por legislação pró-
pria (Brasil, 2017).

Assim sendo, os novos modelos de contrato, ficam determi-


nado no Artigo 452-A, mas com um entender meio vago. Não indica
como se suscitaria a intermitência do trabalho estipulado em horas,
não se bani a possibilidade que o trabalho intermitente seja determi-
nado a partir de poucos dias no decorrer do mês ou ano, ou seja, qual
deve ser uma equivalência mínima entre período de ociosidade e de
prestação laboral para que se qualifique emprego intermitente. Porém,
no § 5o deste artigo, estabelece: § 5o O período de inatividade não
será considerado tempo à disposição do empregador, podendo o tra-
balhador prestar serviços a outros contratantes (Brasil, 2017).
Este ponto predomina logicidade que lida a mercadoria força
laboral como se fosse um bem qualquer, que carecesse ser pago sim-
plesmente como arrendamento de serviços, independentemente das
urgências da pessoa que realizou o serviço no tempo hábil em que ele
não é atribuído para a conclusão- do mesmo.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 150

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 A FORMALIZAÇÃO DO VÍNCULO LABORAL

O artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho, traz o con-


ceito de empregado de uma forma que todos entendam a didática, ra-
tificando que: considera-se empregado, toda pessoa física que traba-
lha de modo não eventual a empregador, sob a dependência deste e
em troca receba salário. Esse recorte da norma nos leva a refletir so-
bre os requisitos para se caracterizar e definir um empregado, pois se-
gundo a normativa, empregado tem que ser uma pessoa física, a na-
tureza do serviço é não pode ser eventual, tem que haver a dependên-
cia do empregador sobre este, dependência aqui se entende que as
normas da atividade a ser desempenhada é de iniciativa dele empre-
gador e por fim, a atividade deve ser onerosa, ou seja, mediante uma
contraprestação salarial.
No Brasil, as relações laborais que esteja descrita de acordo
com o dispositivo supracitado, deve ser formalizada mediante um do-
cumento, identificado por Contrato de Trabalho. Para comprovar essa
compreensão passaremos a examinar em verbis o artigo 29 da Con-
solidação das Leis do Trabalho:

Art. 29. O empregador terá o prazo de 5 (cinco) dias úteis


para anotar na CTPS, em relação aos trabalhadores que
admitir, a data de admissão, a remuneração e as condi-
ções especiais, se houver, facultada a adoção de siste-
ma manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções
a serem expedidas pelo Ministério da Economia. (Reda-
ção dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

A lei é singular quando assevera que o empregador terá um


prazo de 05(cinco) dias para tomar nota na Carteira de Trabalho e Pre-
vidência Social, em relação aqueles trabalhadores que ela contratar,
a data da real admissão, a remuneração e alguma condição especial,
caso haja. É importante salientar que a Lei não traduz uma faculdade
ao empregador, mas um imperativo obrigacional para que a relação
seja formalizada em um contrato.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 151

2.2 Relação de trabalho e relação de emprego

No Brasil as relações que se desenvolvem no setor privado são


regidas pelas normas constantes na Consolidação da Leis do Traba-
lho – CLT. Ocorre que, em primeiro lugar, é extremamente necessário
fazermos uma diferenciação entre, relação de trabalho e relação de
emprego, a fim de compreender melhor as tratativas deste trabalho.
O difere entre a relação de trabalho e a relação de emprego é o vín-
culo de emprego estipulado ou contrato de trabalho. No primeiro exis-
te uma dependência de salário e o trabalhador tem maior liberdade
para exercer as suas funções, dentro do que foi acordado. Já a rela-
ção de emprego estabelece uma atividade em tempo integral, com di-
reitos previstos na CLT.
As relações de emprego, conforme já explicitado, são relações
onde há a necessidade de um pacto laboral, ou seja, o acerto bilate-
ral onde se define as condições, o tempo e a remuneração para exe-
cução de um determinado serviço. O caput do artigo 13 da CLT, diz
que a Carteira de Trabalho e Previdência Social é obrigatória para o
exercício de qualquer emprego, inclusive de natureza rural, ainda que
em caráter temporário, e para o exercício por conta própria de ativida-
de profissional remunerada. Portanto, os contratos são, em regra, ma-
terializados por meio da Carteira de Trabalho e Previdência Social –
CTPS do trabalhador.
No artigo 442 da CLT, tem-se a definição de contrato de traba-
lho, quais seja, “Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou
expresso, correspondente à relação de emprego”. Por esse entendi-
mento legal, é importante verificar que o contrato pode ser um acordo
tácito, ou seja, um contrato de trabalho estabelecido de forma verbal,
sem nenhuma documentação para comprovar o vínculo empregatício.
Desse modo, a base desse tipo de acordo é a confiança entre ambas
as partes. Pode ainda, ser expresso, que é aquele representado pelo
contrato de trabalho, que deve conter as obrigações e os deveres do
contratado e do contratante.
Regra geral, as empresas contratam empregados utilizando o
contrato do tipo expresso, onde há uma definição clara e objetiva dos
direitos e obrigações entre empregador e empregado, já que essa re-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 152

lação tem que obedecer, o que consta na CLT. Para a legislação per-
tinente o vínculo deve ser formalizado através do contrato expresso,
pois essas são fiscalizadas pelo Estado, aqui sendo representado pelo
Ministério do Trabalho e pelo sindicato da categoria correspondente. O
Professor Renato Saraiva (SARAIVA, 2010, p.21) afirma que:

Contrato individual de trabalho é o acordo de vontades,


tácito ou expresso, pelo qual uma pessoa física, denomi-
nada empregado, compromete-se, mediante o pagamen-
to de uma contraprestação salarial, a prestar trabalho
não-eventual e subordinado em proveito de outra pes-
soa, física ou jurídica, denominado empregador.

Portanto, as relações de emprego são formalizadas, em regra


geral, por meio de contrato de natureza expressa, onde se oficializa
o pacto laboral entre empregador e empregado. Isso traz uma certa
segurança para ambas as partes, pois em bojo, há um rol de normas
a serem cumpridas, conforma já colocado, tendo em vista que esses
contratos são regidos pela CLT.

2.2 A REFORMA TRABALHISTA DE 2017

A sociedade sofre alterações com o passar do tempo, desse


modo, como trata-se do envolvimento de pessoas, a CLT que é um
documento que traz as normas contratuais para as relações de traba-
lho dentro do território brasileiro, passou por muitas mudanças e cor-
reções em sua estrutura normativa com o passar do tempo.
Como vimos as relações de emprego são reguladas pelo con-
trato de trabalho descrito na CLT. A lei n° 13.467, de 13 de julho de
2017, promoveu diversas alterações na CLT e apresentou alguns no-
vos modelos de contrato de trabalho. Essa lei foi publicada pelo go-
verno Michel Temer, com o objetivo de gerar mais empregos e estimu-
lar a economia do país. Para José Dari e Ana Paula (2019), a reforma
trabalhista se sustenta sobre um tripé:

(...) promove o desmantelamento da proteção social: o


aprofundamento do processo de flexibilização dos aspec-
tos que regem a relação de emprego; a fragilização das
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 153

instituições públicas e da organização sindical; e a indi-


vidualização do risco, condenando os trabalhadores e as
trabalhadoras brasileiras à vulnerabilidade social.

A ótica que se busca é que os tipos de contrato de trabalhos


dispostos no citado instrumento jurídico, promoveu fragilização do em-
pregado no processo de formalização contratual e um fortalecimen-
to das bases empresariais. Ou seja, em contexto de hipossuficiência
foram criados meios para o fortalecimento da classe empresarial em
contratar mão-de-obra mais baratos e com uma proteção social bem
menor para o trabalhador.
O que se observa é uma forma de contratação mais flexível,
que deprecia a segurança social do trabalhador ao criar formas de
contratos com situações de vantagem para as empresas, como por
exemplo o teletrabalho, onde o risco da atividade acaba por recair no
trabalhador, uma vez que esse trabalho é realizado no âmbito da resi-
dência do empregado, sendo que por lei, o risco da atividade econômi-
ca é exclusivo do empregador. A reforma, que incialmente, foi pensa-
da para incrementar a empregabilidade e melhorar o contexto econô-
mico, não produziu os frutos esperados, trazendo uma forma travesti-
da de benefícios pra classe empresarial.
Uma reforma seria necessária sim, porém não agressiva aos
direitos consubstanciadas na CLT, que as duras lutas foram estabe-
lecidos na tentativa de resguardar a proteção ao trabalhador, frente a
poder persuasivo do empregador. As formas de contratos foram esta-
belecidas, atendendo aos interesses das classes dominantes, aos do-
nos do capital. O governo Temer deixou uma herança boa ao empre-
sariado brasileiro e uma sórdida legislação aplicada aos trabalhadores
brasileiros. A lei 13.467/2017, apresentou novas modalidades de tra-
balho, revisou normativas e fez alterações significativas no direito indi-
vidual e coletivo do trabalho.

2.2.1 A reforma segundo os seus objetivos práticos

A Reforma Trabalhista, trouxe mudanças significativas na le-


gislação trabalhista brasileira. Seu objetivo principal foi a moderniza-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 154

ção das leis trabalhista nacional, a flexibilização das relações laborais


e o aumento da empregabilidade, desse modo, “promover” um espaço
mais adequado para os negócios e o emprego, assim como a conso-
lidação de direitos e o implemento da segurança jurídica nas relações
formais. Tais mudanças foram concretizadas, buscando trazer mais
“versatilidade” às relações contratuais.
A possibilidade de negociamento entre empregados e empre-
gador, configura como sendo primordial, dentre as mudanças ocorri-
das para adaptar as condições de trabalho, a partir do momento em
que não agrida direitos constitucionais já adquiridos. Segundo a jor-
nalista Marta Cavallini (Portal G1), afirma que a promessa de aumen-
to na geração de empregos de carteira assinada, continua aquém da
prevista e que um dos objetivos que a reforma conseguiu alcançar foi
a redução do número de reclamações trabalhistas.
Na prática, após 3 anos em vigor, a Lei 13.467/2017, segundo
dados estatísticos, a reforma não conseguiu de forma objetiva aumen-
tar a empregabilidade, pois os dados no quadro abaixo comprovam:

Quadro 1- Taxa média de desemprego em 2020, por Unidade da Fe-


deração
Bahia 19,8% Amapá 14,9%
Alagoas 18,6% Distrito Federal 14,8%
Sergipe 18,4% Paraíba 14,6%
Rio de Janeiro 17,4% São Paulo 13,9%
Pernambuco 16,8% Brasil 13,5%
Roraima 16,4% Ceará 13,2%
Maranhão 15,9% Piauí 12,8%
Amazonas 15,8% Espírito Santos 12,7%
Rio grande do Norte 15,8% Minas Gerais 12,5%
Acre 15,1% Goiás 12,4%
Fonte:IBGE

2.2.2 A proteção social segundo a reforma

Com a anuência da lei 13.467/2017, que positivou a reforma tra-


balhista em diversas regras, expôs o Princípio da proteção social a um
risco quanto a sua aplicabilidade, modificando-o para padrões econômi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 155

cos e sociais mais atualizados. Isso porque é através do trabalho que


homem supri as suas necessidades familiares. Quando o que foi pro-
gramado não se concretiza há um desalento por parte do trabalhador.
Desse modo, o princípio laborativo se interliga a essa veracida-
de colocada, aderindo aos atuais contornos e gerando um protecionis-
mo diligente ou instável em vez de estático. Segundo Azevedo (CNPL,
2020), os trabalhadores encaram um delicado momento com a cons-
tância da recente legislação trabalhista. Neste ínterim a lei ordinária
retira direitos, posterga a soberania da Constituição e ainda esmaece
a proteção social dos empregados, o governo propaga um falso pa-
norama de abastança nacional e de crescimento da empregabilidade.
Essa flexibilização permitida através de acordos ou conven-
ções, envolvendo empregadores e seus lacaios, na maioria das vezes
resultará em um desequilíbrio, com predominância daquele mais forte,
ou seja, o empregador, por questões óbvias.
Assim sendo, os trabalhadores deixam de ter a segurança jurí-
dica, em meio a esse desdobramento industrial, ficam cada vez mais
ameaçados, com tais flexibilizações, onde ao aceitar, o empregado
acaba aumentando a desigualdade no seu ambiente de trabalho. Se-
gundo Gusmão (2016) afirma:

Diz-se que a intervenção do Estado nas relações traba-


lhistas é óbice ao desenvolvimento da atividade econômi-
ca das empresas. O direito do trabalho nunca teve como
prioridade o propósito de fomentar o desenvolvimento eco-
nômico. Este deve sim ser buscado, mas com desonera-
ção fiscal e não com a precarização do trabalho humano.

Desse modo, com a fala de Gusmão (2016), o que se percebe é


que com a reforme, o que diminuiu foram as reclamações trabalhistas
junto ao órgão compete, pois com as mudanças, existem a cobrança de
horários sucumbência para ambos os lados em caso de perda da lide.

2.3 A TIPIFICAÇÃO DOS CONTRATOS SEGUNDA E REFORMA


TRABALHISTA DE 2017

A reforma trabalhista promovida pela Lei nº 13.467/2017, esta-


beleceu alterações significativas para a Consolidação das Leis do Tra-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 156

balho - CLT e o resultado foi reflexo direto na vida dos trabalhadores


brasileiros. Como a intenção deste trabalho é apenas fazer uma aná-
lise crítica dos novos modelos de contratos de trabalho, não iremos
abordar temáticas alheia a esse conteúdo. Tendo em vista que os ob-
jetivos eram de aumentar o número de postos de trabalho e a formali-
zação dos vínculos no Brasil, seria pertinente uma análise dos novos
modelos de contrato de trabalho, um vez que são tais modelos é que
irão regular as relações e de certa formar, promover a justiça social.

2.3.1 As novas modalidades contratuais

Partindo do pressuposto que a formalização se dá de manei-


ra expressa, a reforma trabalhista inovou e flexibilizou as formas de
contratação que, a grosso modo, poderemos verificar uma bonifica-
ção para classe empresarial. Segue abaixo o quadro demonstrando
alguns desses modelos de contratos, promovido por tal instituto:

Novo modelos de contratos, segundo a Lei 13.467/2017:


Amparo Legal na Lei 13.467/2017 Tipo de Contrato
Trabalho em regime de tempos parcial: 26 e
Artigo 58-A
30 horas.
Artigos: 75-A, 75-B, 75-C, 75-D e 75-E Teletrabalho.

Artigo 443 Intermitente.


Fonte: Próprio autor 2023

2.3.2 Os efeitos contratuais na prática

Agora seguiremos com uma explanação prática dos novos mo-


delos que a reforma estabeleceu, isso é importante para entender a
aplicação prática dos mesmos. Na opinião de muitos, não foi uma sim-
ples reforma, pois mais 201 artigos da Consolidação das Leis do Tra-
balho foram modificados. Segundo Teixeira (2019) afirma que:

Nesse cenário, o excesso de rigidez do mercado de tra-


balho é visto como um obstáculo à retomada dos investi-
mentos; os precursores da reforma desprezam a realida-
de do mercado de trabalho estruturalmente desigual, fle-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 157

xível em que predominam os trabalhos precários e em-


pregos vulneráveis. Sob estes mesmos argumentos, as
primeiras tentativas de flexibilização ocorreram já na dé-
cada de 1990, por meio de mudanças pontuais introduzi-
das no conjunto da legislação trabalhista sem, contudo,
alterar o contexto econômico desfavorável de baixa ex-
pansão da produção e elevado desemprego que se man-
teve até o início dos anos 2000.

A rigidez do mercado e a forma de contratação impacta na vida


do trabalhador, uma vez que é ele quem vai nortear a atividade labo-
ral. Na pratica os novos modelos de contratos não estimularam a con-
tratação de novos trabalhadores, mas tem ajudado as empresas a di-
minuir os seus custos operacionais pagamento mesmos e com uma
mão de obra muito mais barata.
Nesse sentido Schiavi assevera (2017, 411):

A Lei é polêmica, pois, em diversos dispositivos, mui-


tos apontam precarização das condições de trabalho e
restrição ao acesso do trabalhador ao Judiciário. Outros
aplaudem o texto, argumentando que a nova Lei cria-
rá novos postos de trabalho e reduzirá a litigiosidade na
Justiça do Trabalho.

A aplicação prática irá facilitar o entendimento sobre a opera-


cionalização dos novos modelos de contrato e assim entender como
eles se desenrolam.

2.3.3 Trabalho em regime de tempo parcial

De acordo com a Lei 13.467/2017 (que alterou o art. 58-A da


CLT) o trabalho em regime de tempo parcial passou a ser válido da se-
guinte forma:

a) aquele em que a duração não exceda a 30 (trinta) horas sema-


nais, sem a possibilidade de horas adicionais semanais;
b) aquele cuja duração não exceda a 26 (vinte e seis) horas se-
manais, com a possibilidade de acréscimo de até 06 (seis) ho-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 158

ras suplementares semanais. No direito material do trabalho o


supracitado artigo aduz que:

Art. 58-A. Considera-se trabalho em regime de tempo


parcial aquele cuja duração não exceda a trinta horas se-
manais, sem a possibilidade de horas suplementares se-
manais, ou, ainda, aquele cuja duração não exceda a vin-
te e seis horas semanais, com a possibilidade de acrés-
cimo de até seis horas suplementares semanais. (Reda-
ção dada pela Lei nº 13.467, de 2017)
§ 1o O salário a ser pago aos empregados sob o regime
de tempo parcial será proporcional à sua jornada, em re-
lação aos empregados que cumprem, nas mesmas fun-
ções, tempo integral. (Incluído pela Medida Provisória nº
2.164-41, de 2001)

Cunha (2020) faz uma importante observação sobre esse tipo


de contrato:

Para o Departamento Intersindical de Estatísticas e Es-


tudos Socioeconômicos - DIEESE, essa alteração da jor-
nada de trabalho tenderia a estimular a troca de trabalha-
dores em tempo integral por contratos de tempo parcial.
O receio é que “a fixação do limite do contrato em tempo
parcial em 30 horas semanais possa precarizar os con-
tratos de trabalho de categorias que têm jornadas inferio-
res a 40 horas semanais” (DIEESE, 2017, p. 3).

A crítica que podemos fazer a esse tipo de contrato é que, com a


flexibilização das horas trabalhadas semanais, o trabalhador vai ser re-
munerado de forma proporcional a quantidade de horas laboradas e isso
vai propiciar remunerações menor que o salário mínimo. Dependo do tipo
de contrato, se de 26 ou 30 horas, essa remuneração pode ser de apro-
ximadamente, R$ 600,00 (seiscentos reais) e isso causa uma deprecia-
ção no salário do trabalhador que por sua hipossuficiência, aceita as con-
dições impostas, mesmo sendo prejudicial ao seu sustento familiar.
A flexibilização da jornada de trabalho é uma constante na re-
forma trabalhista, para CARVALHO (2017) o artigo 611-A trás uma in-
forma bastante importante:
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 159

Artigo 611-A já permite que sejam negociados acordos


que flexibilizem a jornada de trabalho, o uso do banco de
horas (nota-se que não há dispositivo na proposta que li-
mite a negociação do prazo para a compensação das ho-
ras extras, que atualmente é de um ano), permite redu-
zir o intervalo em jornadas de mais de seis horas de uma
para meia hora e ampliar a jornada em ambientes insa-
lubres. Entretanto, há outros pontos da reforma que ele-
vam a flexibilização da jornada de trabalho e que inde-
pendem da necessidade de acordos coletivos.

Dessa forma fica claro e eviendete que quando promove a fle-


xibilização da jornada de trabalho sem a necessidade de acordo cole-
tivo, se pormove uma insegurança juridica para o trabalhador, que fica
desprotegido de um dispositvo indispensável que é os acordos forma-
tizados entre o laboral e patronal.

2.3.4 Teletrabalho

O teletrabalho regulamentado pelos artigos 75-A, 75-B, 75-C,


75-D e 75-E da Lei nº 13.467/2017, ficou definido como sendo a pres-
tação de serviço fora das dependências da empresa, de maneira pre-
ponderante ou híbrida, que, por sua natureza, não pode ser caracte-
rizada como trabalho externo. O labor desenvolvido nessa modalida-
de deverá constar expressamente do contrato individual de trabalho.
O detalhe importante desse tipo de contrato a ser considerado
é a questão da assunção do risco da atividade econômica, uma vez
que esse trabalho é para ser desenvolvido dentro do ambiente domici-
liar do contratado, o que de certa forma, acaba que assumindo alguns
riscos típico da atividade operacional da empresa contratante.
Vejamos o que diz a CLT, no artigo 2º, fala sobre o risco da ati-
vidade econômica: Art. 2º - “Considera-se empregadora empresa indi-
vidual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica,
admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço”.
Ou seja, assumindo o risco da atividade econômico a empre-
sa vai direcionar a atividades a serem realizadas e quando esse la-
bor é executado dentro do ambiente familiar do empregado, acaba por
assumir alguns custos e riscos que não lhes são devidos, como por
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 160

exemplo, internet, energia, material de expediente, depreciação dos


equipamentos, risco de acidente dentro do local de trabalho, dentre
outros.
Segundo Cunha (2021), o Departamento Intersindical de Esta-
tísticas e Estudos Socioeconômicos – DIEESE teve um entendimen-
to contrário, pois o texto proposto não estabeleceu limites à jornada e
por transferir custos fixos com estrutura do home office para o traba-
lhador, além de responsabilizá-lo por possíveis ocorrências de aciden-
tes ou doenças de trabalho.
A lei é vaga com relação a proteção desse tipo de contrato,
uma vez que não deixa claro quem deve assumir ou quem deve ban-
car custos e riscos inerente a essa tipologia de contratação. A transfe-
rência de reponsabilidade factual, não impede demandas jurídicas em
ralação ao direito tolhido no curso da execução da atividade laboral.

2.3.5 Trabalho intermitente

Descrito no artigo 443 da Consolidação das Leis do Trabalho –


CLT, o trabalho intermitente é a prestação de serviço não continuada,
ou seja, de forma esporádica ou infrequente. A modalidade de traba-
lho intermitente, também estabelece um vínculo de subordinação e o
trabalhador tem os demais direitos do trabalho garantidos com exce-
ção seguro-desemprego. É o modelo de vínculo de emprego que ocor-
re de forma descontinuada e tais períodos de atividade são estableci-
dos em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de ativida-
de que a empresa desenvolve.
Nesse caso reza o artigo 443 que:

Art. 443 § 3o CLT Considera-se como intermitente o con-


trato de trabalho no qual a prestação de serviços, com
subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternân-
cia de períodos de prestação de serviços e de inativida-
de, determinados em horas, dias ou meses, independen-
temente do tipo de atividade do empregado e do empre-
gador, exceto para os aeronautas, regidos por legislação
própria (Brasil, 2017).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 161

Para Carvalho (2017), o entendimento é que prevalece a lógi-


ca que trata a “mercadoria força de trabalho” como se fosse um obje-
to qualquer, que devesse ser remunerada meramente como um alu-
guel de serviços, independentemente das necessidades do colabora-
dor que realiza o serviço durante o período em que ele não é prestado.
A partir da convocação realizada pelo empregador, o colabora-
dor intermitente atende ou não ao chamado, e, prestando o serviço,
ele é devidamente remunerado por esse período de atividade, acom-
panhado do pagamento proporcional dos diversos direitos e garan-
tias trabalhistas, tais como remuneração de férias, 13º salário, além
do depósito do FGTS devido e contribuição para a previdência social.
Assim, o colaborador tem a liberdade de realizar outros serviços para
empregadores distintos. Cunha (2020) destaca que:

A jornada intermitente buscou oficializar a forma de con-


tratação por hora trabalhada, pois, sob o argumento de
adaptação às inovações tecnológicas, tornaria a forma
de contratação e de rescisão mais flexíveis e reduziria o
custo com pagamento por tempo de trabalho não utiliza-
do, já que a remuneração é proporcional às horas de tra-
balho efetivo.

Porém, não é difícil de entender que é bastante cômodo para o


empregador ter a sua disposição um trabalhador, que irá atender aos
seus chamados quando da efetiva necessidade e que a sua remune-
ração vai ser de acordo como o trabalho realizado, caso não realize
não será remunerado. O que é importante, é ter em mente que, com
esses tipos de contratos existem um tolhimento de uma remuneração
digna, uma apropriação indevida dos direitos socias e uma flexibiliza-
ção considerável para os donos do capital, tronando-se a desigualda-
de econômica e social ainda mais contende em nosso país.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muito embora não se tenha tantas obras que versam sobre o


tema em epígrafe, foi possível analisar vários artigos e a parte que tra-
ta do direito material do trabalho, citado em alguns casos, foram pes-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 162

quisados em livros sempre buscando manter o foco no tema e priman-


do por obrar atuais, a fim de prover um trabalho que realmente pudes-
se contribuir de forma positiva com outros pesquisadores sobre a te-
mática em questão. Ao mesmo tempo, verificou-se que a reforma não
conseguiu atingir um de seus objetivos primordiais, que seria o au-
mento da empregabilidade.
Dos modelos analisados, o de tempo parcial demonstra uma
flexibilização tamanha que chega a diminuir o salário do trabalhador,
promovendo um empobrecimento do mesmo e desonerando a opera-
cionalização das empresas. Isso porque a remuneração desse tipo de
contrato é sempre proporcional ao tempo trabalhado. A justiça social
se faz com trabalho digno, porém com remuneração que possam pro-
ver a vida pessoal dos trabalhadores, dessa forma o contrato desvia-
-se de uma das suas finalidades que seria a bilateralidade, e aqui se
entende como bilateralidade uma relação boa e equilibrada para am-
bas as partes. Cunha destaca que governo brasileiro criou uma pro-
posta de reforma trabalhista claramente unilateral, apoiada em teses
amplamente criticadas e refutadas por muitos.
Outro modelo de contrato pesquisado e que merece destaque
seria o teletrabalho, que de forma sinistra transfere ao trabalhador o
risco da atividade econômica do empreendimento e deixa o custo da
operação sob sua responsabilidade. Isso demonstra uma legislação
tendenciosa ao público patronal, onde o mesmo contrata um serviço,
dirige o serviço, mas não assume o risco e nem arca com os custos da
operação, porque a lei é omissa quanto a esse aspecto. A hipossufici-
ência do colaborador induz ao pacto laboral, porém não contribui com
o desenvolvimento social do mesmo, porque não remunera e nem pro-
move as condições para isso ocorra.
Assim a análise feita por essa pesquisa demonstra, de forma
clara e objetiva, que os novos modelos de contrato de trabalho pro-
posto pela Reforma Trabalhista de 2017, foi pensada com um pano de
fundo para beneficiar a classe patronal, com a desculpa de que tería-
mos uma flexibilização das relações e com isso viria uma empregabi-
lidade bem maior, o que não ocorreu na prática. A depreciação do sa-
lário do obreiro, a subutilização do tempo seu disponível para produ-
zir foi subtraído da sua força de trabalho e a proteção social deste, foi
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 163

fragilizada com “modernização das relações” apontadas na Reforma.


Diante do exposto, é fácil responder a seguinte pergunta: Os novos
modelos de contratos de trabalho listados na Reforma Trabalhista de
2017, ajudou ou prejudicou o trabalhador brasileiro?

REFERÊNCIAS

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balhador e precisa ser respeitada. Disponível em: https://www.cnpl.
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BRASIL. Lei Nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Dispõe sobre Altera
a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-
-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis n º 6.019, de 3 de ja-
neiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho
de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho.
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CARVALHO, Sandro Sacchet de. Uma visão geral sobre a reforma tra-
balhista. Mercado de trabalho: conjuntura e análise / Instituto de Pes-
quisa Econômica Aplicada; Ministério do Trabalho. V. 63 outubro de
2017 .- Brasília: Ipea: Ministério do Trabalho, 2017.
CAVALLINI, Marta. Reforma trabalhista completa 5 anos reduzindo
processos, mas com criação de vagas abaixo do esperado. G1,
2022. Disponível em: https://g1.globo.com. Acesso em: 27.04.2023 ás
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CUNHA, S. F. da, Silva, A. M. da, Souza Filho, R. F. de, Carvalho, J. G.
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cologia Social Do Trabalho, 24(1), 103-117. https://doi.org/10.11606/
issn.1981-0490.v24i1p103-117
DECRETO-LEI Nº 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943 - CLT- BRASIL.
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra re-
vista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações
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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 164

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aproposta-de- reforma-trabalhista . Publicado em 01/09/2016. Acesso
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SCHIAVI, Mauro. Prescrição trabalhista: o que muda com as novas
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balhista. Campinas, São Paulo. Curt Nimuendajú, 2019.
VADE mecum. 33ª.ed. São Paulo: Saraiva, 2022
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 165

CAPÍTULO 11

A RELEVÂNCIA DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS PARA


AS FAMÍLIAS BRASILEIRAS NOS TEMPOS ATUAIS:
DE BENS SEMOVENTES A SUJEITOS DE DIREITO
SEGUNDO A JURISDIÇÃO BRASILEIRA

THE RELEVANCE OF DOMESTIC ANIMALS FOR BRAZILIAN


FAMILIES IN THE CURRENT TIMES: FROM MOVING PROPERTY
TO SUBJECTS OF LAW ACCORDING TO BRAZILIAN JURISDICTION

Gilson do Nascimento Reis Junior


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
Gilsonj27@gmail.com

Kettely Glauciely Alves Pereira


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
https://orcid.org/0009-0005-3596-7275
Kettelyalves0703@gmail.com

Daniel da Costa Araújo


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
daniel_costa_araujo@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo tem por objetivo principal a descoberta dos momen-
tos em que houve uma mudança na relação jurídica entre seres huma-
nos e animais. Discute-se também a história da domesticação, a fim
de entender a relação interespécies e sua codependência. Para isso,
recorreu-se à visão de alguns doutrinadores, artigos científicos, leis,
jurisprudências e ao entendimento dos tribunais, por meio de pesqui-
sas bibliográficas, abrangendo desde o desenvolvimento antropológi-
co até a legislação vigente. Dessa forma, procurou-se trazer entendi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 166

mento à sociedade de como o direito evoluiu e evoluirá sob o assunto,


em novos casos concretos. A relação entre os animais domésticos e
os seres humanos passou por anos de evolução para chegar ao que é
atualmente. Eles deixaram de ser vistos apenas como objetos de caça
e protetores do lar e hoje são reconhecidos como seres sensíveis que
devem ser protegidos por seus tutores e pelo Estado. A importância de
leis que punem agressões e maus-tratos a esses seres vem sendo re-
conhecida lentamente, mas de forma progressiva.
Palavras-Chave: Animais Domésticos; Famílias Brasileiras; Vínculo
socioafetivo; Proteção; Direito.

ABSTRACT
The main objective of this article was to discover the moments in which
there was a change in the legal relationship between animals and hu-
man beings and how the domestication of these occurred. Studying the
interspecies relationship and its codependency, with the vision of some
scholars, scientific articles, laws, jurisprudence and understanding of
the courts. Aiming from its anthropological development to current leg-
islation. Being developed through bibliographic research. Bringing un-
derstanding to society of how law has evolved and will evolve under the
subject, in new concrete cases. The relationship between domestic an-
imals and man needed years of evolution to reach what it is today, no
longer seen only as hunting objects and protectors of the home, today
being seen as sensitive beings that must be protected by their guard-
ians and by the State. Slowly getting more voice for the importance of
laws that punish aggression and mistreatment of these beings.
Keywords: Domestic Animals; Brazilian Families; Socio-affective
bond; Protection; Law.

1 INTRODUÇÃO

No que tange ao contexto evolutivo do ser humano, a comuni-


dade científica, junto aos historiadores, afirma que a aproximação dos
animais se deu no momento em que os povos antigos se uniram em
grupos com a finalidade de ajuda mútua. Um grande fator presente
nesses grupos foi, sem dúvidas, a presença de animais, que aos pou-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 167

cos passaram a ser domesticados, até que fosse alcançado o nível de


convivência ideal, mantendo-os como fonte de proteção, auxílio nas
caças e alimentação fácil.
Outrossim, na atualidade esses seres ganharam papéis impor-
tantes e quase indispensáveis na vida de milhares de famílias brasilei-
ras. A junção entre a grande capacidade desses animais de se adapta-
rem para sua sobrevivência e o desejo de ter consigo uma companhia
por parte dos humanos tornou essa correlação satisfatória para am-
bos. Deste modo, animais domesticados passaram do estado de ape-
nas pets para parte da família.
Dessa maneira, o presente trabalho tem como objetivo bus-
car entender a transformação no meio jurídico antropológico, a qual
descaracterizou os animais de simples bens, inicialmente sem a de-
vida tutela, e, em momento posterior passando a ter proteção jurídi-
ca e sendo tidos como objetos de estudo social. Da mesma forma,
buscou-se analisar as mudanças que impactaram o comportamen-
to humano no âmbito atual, especialmente como a esfera judiciária
e legislativa está lidando com essas modificações e avanços abrup-
tos, principalmente advindos de um período posterior à Pandemia do
COVID-19.
Os mamíferos, classe animal em que os seres humanos se en-
contram, têm como uma de suas características a necessidade de
companhia. Assim, é possível afirmar que o ser humano é um ser so-
cial, e que a vida fora da sociedade seria difícil. Isto posto, pode-se su-
por que para responder ao questionamento inicial, acerca da valora-
ção dos animais a ponto de inclui-los no rol de bens a serem tutelados
pelo direito, tem como fator primordial a grande dependência do ser
humano em ter companhia, a qual pode substitui-la temporariamente
por animais. Com base nisso, respondendo ao questionamento inicial,
pode-se inferir que a valorização dos animais a ponto de incluí-los no
rol de bens a serem tutelados pelo direito se deve, em grande parte,
à dependência do ser humano em ter companhia, que muitas vezes é
suprida por meio da relação com os animais.
Ademais, com a grande aproximação dos animais com as fa-
mílias brasileiras, surge o questionamento se esses seres estavam
aptos a serem reconhecidos como sujeitos de direito, devido à gran-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 168

de valoração afetiva entre os humanos e os animais domesticados,


surgindo a preocupação em criar leis que assegurem o direito e bem-
-estar dos pets. Desse modo, faz-se necessário entender em que
momento histórico houve a mudança da proteção e tutela dos ani-
mais, transformando-os de bens semoventes à sujeitos com prote-
ções e garantias.
Para tal valoração, pode-se afirmar que o reconhecimento de
vínculo afetivo para o Direito é uma grande evolução no ordenamen-
to jurídico brasileiro, visto o condão de assegurar os direitos do indiví-
duo. De tal forma, tem-se por objetivo, descobrir em que momento os
animais domésticos passaram a ser considerados membros da famí-
lia e entender como a presença de animais impacta as famílias brasi-
leiras e suas decisões. Por fim, comentar os efeitos jurídicos ineren-
tes aos animais, tais como a regulamentação de guarda e a possibili-
dade da partilha de bens.
É fato que o Direito evolui à medida que a sociedade evolui, fa-
zendo com que eventos pontuais venham acontecendo com mais fre-
quência. Deste modo surge a necessidade do Direito em estabelecer
normas que conduzam tais eventos. Destaca-se, dentre estas mudan-
ças, a inclusão no meio familiar dos animais como entes próximos e
queridos a serem protegidos.
Diante disso, é preciso buscar e entender as motivações que
levaram a sociedade, em específico a brasileira, a adotar essa inclu-
são e substituição dos filhos convencionais e humanos, evitando até
mesmo o instituto da adoção e buscando “pets” para criarem e cuida-
rem como se filhos fossem. Da mesma forma, pesquisar sobre quais
direitos e institutos civis os animais podem ser inclusos, seja por juris-
prudência ou entendimento, em especial o instituto da guarda/alimen-
tos/visita e sucessão de bens do seu dono. Por fim, elencar os prin-
cipais pontos e mudanças feitas pela legislação brasileira acerca de
tal evolução social, demonstrando a evolução histórica e social da in-
clusão de direitos aos animais, a forma como são mencionados e tra-
tados na legislação atual assim como as possíveis mudanças e inclu-
sões legislativas a fim do direito brasileiro adaptar-se aos possíveis
novos sujeitos de direito.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 169

2 EVOLUÇÃO HUMANA EM CONJUNTO COM OS ANIMAIS E SEU


IMPACTO COMPORTAMENTAL

Inicialmente, a fim de se compreender como a sociedade atual


tem tamanha empatia pelos animais, deve-se buscar a origem desse
convívio, que, de alguma forma, enraizou-se no subconsciente do ho-
mem, que tem muitas vezes mais empatia e companheirismo por ani-
mais do que com seu semelhante. Diante de tal dúvida, tem-se como
principal fonte de resposta a Antropologia – Estudo das Origens Ca-
racterísticas do Ser Humano.
Segundo o Professor Yuval Noah Harari (2018), em seu livro
Sapiens: uma breve história da humanidade, o primeiro animal a ser
domesticado pelo Homo Sapiens foi o cão, que à época aproveitava-
-se dos restos deixados pela caça e limpa de animais, predados pelos
homens. Conforme narram os registros históricos, o início da domesti-
cação desses animais ocorreu há cerca de 15 (quinze) mil anos. Mas
há possibilidade de essa união ter se consumado milhares de anos an-
tes. Esses animais, segundo o entendimento majoritário dos historia-
dores, eram usados principalmente para a caça e também como alar-
me contra invasores humanos ou animais selvagens.
Com o avanço do tempo, as duas espécies, humanos e ani-
mais evoluíram, permitindo a intimidade e a compreensão dos dese-
jos um do outro, resultando em laços afetivos muito mais profundo en-
tre o homem e o cão que qualquer outro animal para com os humanos,
chegando ao ponto de, em alguns casos, haver cerimônias fúnebres
para cães mortos, similares às realizadas para os humanos da época.
Em sequência dos atos da evolução humana, avançando um
pouco para o que fora denominado como “Sociedades Agrícolas”, en-
tende-se que os primeiros passos rumo à agricultura moderna foram
dados a partir do pensamento do Homem em agrupar os animais em
bando, guiá-los junto à sua tribo. Contudo, devido à inserção de outros
animais em seu meio, o ser humano acabou ficando suscetível a inú-
meras doenças infecciosas em decorrência da maneira em que viviam
e da proximidade com os demais animais domesticados.
De tal modo, percebe-se que a valorização da companhia do
animal por parte do ser humano data antes das primeiras civilizações
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 170

com registro da humanidade, dando a entender que houve, em algum


ponto, o início desta valoração da companhia de outra espécie muito
antes do surgimento da escrita e fala.

3 ANIMAIS COMO BENS TUTELADOS DO ESTADO

Em análise, ao passar dos milênios de construção da sociedade


humana, com a ascensão e queda de impérios houve em algum ponto
o conceito de coisa pública e coisa privada. Neste diapasão, há nos re-
gistros históricos a definição de que os animais inicialmente foram con-
siderados bens coletivos de interesse do povoado dos quais eles faziam
parte. Com os avanços sociais, e aplicação do conceito privado, os ani-
mais acabaram sendo integrados aos patrimônios familiares.
Dentre os avanços do homem, sem dúvida está a fala e a escri-
ta, a quais permitiram a unificação das obras e leis, principalmente a do
povo romano, a qual teve um importante avanço na legislação, utiliza-
da como base do ocidente até os dias atuais. Nessa narrativa, nas Leis
de Roma encontram-se registros da inserção da taxação na lei dos con-
ceitos dos patrimônios e nela é incluído os animais, tendo eles a mes-
ma tutela e proteção de bens inanimados, com cita De Plácido e Silva
(2016, p.153): “quando em poder do homem, o animal se constitui como
bem seu, e assim dele pode dispor, vendê-lo ou trocá-lo, desde que te-
nha qualidade e capacidade para alienar os bens que lhe pertençam”.
Seguindo a mesma linha, tem-se, também, a classificação de
animais como coisa de ninguém, a qual pode ser apropriada por parte
de qualquer pessoa, desde que não seja comprovada a posse por par-
te de outrem. Assim, permitindo que os animais que já foram domesti-
cados e que por algum motivo abandonados pelo dono anterior ou que
emplacaram fuga pudessem ser integrados ao patrimônio de outro.
Na legislação brasileira, existiu um dispositivo legal que sofreu
grande influência do direito romano, senão vejamos o que ditava no
art. 593 do Código Civil de 1916 trazia o seguinte dispositivo:

“Art. 593 São coisas sem dono e sujeitas à apro-


priação:
I – Os animais bravios, enquanto entregues à sua
natural liberdade.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 171

II – Os mansos e domesticados que não forem as-


sinalados, se tiverem perdido o hábito de voltar ao
lugar onde costumam recolher-se, salvo a hipóte-
se do art. 596.
III – Os enxames de abelhas, anteriormente apropriados,
se o dono da colmeia, a que pertenciam, os não reclamar
imediatamente.
IV – As pedras, conchas e outras substâncias minerais,
vegetais ou animais arrojados às praias pelo mar, se não
apresentarem sinal de domínio anterior. (BRASIL, 1916)”.

Com a breve leitura do referido artigo, é perceptível que o le-


gislador da época não teve o zelo de vislumbrar as consequências da
vigência. Pois mesmo levando em consideração os animais e sua ca-
pacidade de se deslocar do ambiente em que fora posto, ao concei-
tuar a possibilidade da inserção do animal que porventura emplacou
fuga, ser integrado ao patrimônio de outro no inciso II do referido ar-
tigo, estaria permitindo abertamente o furto e a tomada desses bens,
afastando a tutela do Estado e ajudando os mais poderosos e influen-
tes da época.
Contudo, devido ao desenvolvimento da legislação penal e aos
avanços mercantis junto à possibilidade e facilidade da criação de ani-
mais em pequeno porte, seja para consumo familiar ou para comércio
local, a antiga legislação caiu em desuso, e, com a vigência da Lei nº
5.197 de 1967 passou-se a vigorar o seguinte dispositivo:

“Art. 1º Os animais de quaisquer espécies, em qualquer


fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente
fora do cativeiro, constituído a fauna silvestre, bem como
seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são proprieda-
des do Estado, sendo proibida a sua utilização, persegui-
ção, destruição, caça ou apanha (BRASIL, 1967)”.

Com isso, os animais saíram de uma definição especial de


bens que poderiam simplesmente serem tomados e integrados ao pa-
trimônio de outrem, devido a sua capacidade de livre locomoção, para
bens a serem tutelados pelo estado, tendo no mesmo dispositivo a de-
vida proteção especial, proibindo a caça e por meio do Código Penal,
a apropriação indébita desse bem.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 172

Ainda no ordenamento jurídico brasileiro, após a revolução so-


cial advinda na Carta Magna Cidadã de 1988, como fruto do compro-
misso brasileiro com as cartilhas da ONU, surgiu a necessidade de
atualizar a proteção aos animais por meio da Lei nº 9.605 de 1998.
Acerca da referida lei, foi julgada a Ação de Descumprimen-
to de Preceito Fundamental – ADPF nº 640, a qual modificou grande
parte da estrutura da lei. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal
– STF vedou o abate de animais silvestres, domésticos ou domesti-
cados, nativos ou exóticos, apreendidos em situação de maus-tratos.
Tal decisão fora tomada por entender a inconstitucionalidade
de quaisquer interpretações conferidas aos art. 25, §§ 1º e 2º de Lei nº
9.605, os quais permitiam a interpretação de que os animais apreen-
didos teriam como meios legais serem liberados em seus habitats na-
turais ou poderiam ser entregues a jardins zoológicos, fundações ou
entidades assemelhadas, dando como opção alternativa o sacrifício.
Ainda acerca das alterações recentes sobre a tutela do Estado
para com os animais, tem-se a nova redação dada pela ADPF 640 jun-
to à Lei nº 14.064 de 2020. Destaca-se, dentro da referida lei, a penali-
dade para aquele que pratica qualquer forma de maus-tratos contra os
animais, contida no art. 32 da lei 9.605/98, senão vejamos:

“Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou muti-


lar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nati-
vos ou exóticos: (Vide ADPF 640)
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência
dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins di-
dáticos ou científicos, quando existirem recursos alterna-
tivos. (Vide ADPF 640)
§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as
condutas descritas no caput deste artigo será de reclu-
são, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da
guarda. (Incluído pela Lei nº 14.064, de 2020)
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se
ocorre morte do animal.”

Outro fator importante é a determinação aos municípios do con-


trole de zoonose, que é feito através de vacinação e controle de nata-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 173

lidade de cães e gatos. E, para que isso acontecesse, entre os anos


de 2020 e 2021 foram repassados aos municípios do estado de São
Paulo R$ 7,8 milhões para financiar ações de castração e microchipa-
gem de cães e gatos.
Ademais, além da Lei vigente no estado de São Paulo, os pets
tiveram mais uma Lei, desta vez, sancionada no Pará, devido aos inú-
meros incidentes ocorridos por conta dos barulhos de queima de fogos
de artifício, fazendo com que muitos animaizinhos fugissem de seus la-
res. Assim, foi criada a Lei 17.389/2021, que os protegeria dos fogos de
artifício que tanto os prejudicam, por terem sensibilidade a altos ruídos.
Com esse cuidado do judiciário em relação aos animais do-
mésticos, não é difícil perceber que o Direito está acompanhando a
sociedade atual, visto que houve um grande aumento de número de
adoções de animais por parte das famílias brasileiras, e em quase 30
anos o STJ (Superior Tribunal de Justiça) vem julgando um grande
número de processos envolvendo animais como parte da família, evi-
denciando a grande importância deles para as pessoas, corroborando
com a informação do aumento de adoções.
Em 1977, a Liga Internacional dos Direitos dos Animais criou a
Declaração Universal dos Direitos dos Animais. No entanto, ela foi so-
mente proclamada pela UNESCO em sessão realizada em Bruxelas
na Bélgica, em 27 de janeiro de 1978. Pode-se notar que com a cria-
ção desta, os animais ganharam um grande respaldo jurídico que as-
segura seus direitos fundamentais, reconhecendo-os e os protegendo
de possíveis danos à sua integridade física e mental.
A Criação da Declaração veio em um período histórico pós-
-guerra, mais precisamente após as duas Grandes Guerras que ocor-
reram na Europa no início do Século XX, quando foi tornada comum
a prática de guerrilha com animais treinados. Mesmo que os cavalos
tenham sido retirados das linhas de frente durante as guerras do iní-
cio do século, eles ainda eram utilizados como transporte nos terre-
nos irregulares e acidentados da guerrilha, e os animais mais utiliza-
dos para os confrontos acabaram sendo os cães, que foram utilizados
tanto para a proteção como para o combate ativo.
De tal modo, após a descoberta de experimentos feitos em hu-
manos, surgiu a necessidade de proteger inicialmente o homem de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 174

sua própria maldade, contudo, com a descoberta da utilização de for-


ma errônea de animais, junto à diminuição da população de animais
domésticos e domesticados como prática de guerras, houve a neces-
sidade de também protegê-los. Entretanto, a falta de conhecimento
desta declaração ainda fez e faz com que muitos animais passem por
situações deploráveis e degradantes. Ainda que existam pessoas que
os consideram como sendo da família, a parcela de indivíduos que pe-
gam animais apenas para maltratar e tirar vantagem dessas pobres
criaturas ainda é grande.
É possível ter uma ideia de números de maus tratos com os da-
dos da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mi-
nas Gerais (Sejusp), que, de janeiro a abril do ano de 2021, registrou
cerca de 360 registros de denúncias de infrações de maus tratos aos
animais. Ademais, neste ano houve um crescimento de 69,16%, indo
para 609 denúncias. Ao comparar com o ano de 2020 e 2021, foi pos-
sível vislumbrar o aumento de 124%. No decurso do ano de 2020, ob-
teve um registro de 634 denúncias em consonância às 1.425 em 2021.
Outrossim, a Declaração foi criada para buscar proteger essas
criaturas, para que assim possam ter uma vida digna e segura perante
os outros animais, como é o ser humano, considerado um animal ra-
cional. O 2º artigo diz:

“Art. 2º
1. Todo o animal tem o direito a ser respeitado.
2. O homem, como espécie animal, não pode extermi-
nar os outros animais ou explorá-los violando esse direi-
to; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao servi-
ço dos animais.
3. Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e
à proteção do homem.”

Dessa maneira, nota-se que atualmente o meio jurídico está


dando a devida importância aos animais. Reconhecendo-os como su-
jeitos de Direito, e dando por obrigação às pessoas em praticar o bem
para com estes.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 175

4 JURISPRUDÊNCIAS

Com o aumento dos casos no Judiciário acerca de litígios ma-


trimoniais, como divórcios e dissolução de uniões estáveis, é possí-
vel vislumbrar situações em que os pets são motivos de grande dispu-
ta entre as partes, para definir a guarda e alimentos desses bichinhos.
Algo que antes seria motivo de riso por muitos, hoje está sendo assun-
to muito debatido por julgadores no país.
Ademais, com esse impasse, pode-se demonstrar como exem-
plos as Jurisprudências dos tribunais superiores em que não só aco-
lhem animais domésticos de modo geral, quanto também animais sil-
vestres domesticados, que, por passar longos períodos de tempo do-
mesticados fora de seu habitat natural, resulta em uma inviabilidade
em ser devolvido à natureza, sendo possível a possibilidade de per-
manecer com seus donos.
Nesse diapasão, segue julgado:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. DISSOLUÇÃO


DE UNIÃO ESTÁVEL. ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. AQUI-
SIÇÃO NA CONSTÂNCIA DO RELACIONAMENTO. IN-
TENSO AFETO DOS COMPANHEIROS PELO ANIMAL.
DIREITO DE VISITAS. POSSIBILIDADE, A DEPENDER
DO CASO CONCRETO.
(STJ - REsp: 1713167 SP 2017/0239804-9, Relator: Mi-
nistro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento:
19/06/2018, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 09/10/2018)

Como se pode analisar, o STJ Órgão de cúpula Máximo da Jus-


tiça Brasileira, passa a entender que de fato existe a necessidade de
um enfoque jurídico acerca do direito dos pets.
Reconhecem, portanto, o valor afetivo agregado aos animais,
tendo segundo eles um “valor subjetivo único e peculiar”. Da mesma
forma, há o entendimento que o regramento jurídico que trata os ani-
mais como meros bens não é o suficiente para resolver esse tipo de
demanda. Assim, a ordem jurídica não pode, simplesmente, despre-
zar a relevância afetiva aplicada na relação do homem para com seu
animal de estimação.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 176

Do mesmo modo, pode-se mencionar também julgado acerca


da guarda compartilhada de animais domésticos, quando cada parte
ficará com os animais por quinze dias consecutivos, de acordo com o
entendimento da 29ª Câmara de Direito Privado do tribunal de justiça
de São Paulo, vide:

COMPETÊNCIA - Ação de regulamentação de guarda


compartilhada de animais de estimação proposta contra
convivente - Casal separado de fato - Decisão de primei-
ro grau que defere pedido de tutela de urgência e de-
termina que cada parte permaneça pelo prazo de quin-
ze dias consecutivos com os animais - Agravo interposto
pelo réu - Distribuição livre à 1ª Câmara de Direito Priva-
do - Competência declinada com fundamento na compe-
tência da Terceira Subseção da Seção de Direito Privado
- Discussão acerca da guarda compartilhada de animais
de estimação adquiridos no curso da união estável a ser
dissolvida - Competência recursal de uma das Câmaras
da Primeira Subseção, da Seção de Direito Privado (1ª a
10ª) - Artigo 5º, incisos I.9, da Resolução nº 623/2013 -
Conflito de competência suscitado nos termos do artigo
200, combinado com o artigo 32, § 1º, ambos do Regi-
mento Interno - Agravo não conhecido
(TJ-SP - AI: 20399305920218260000 SP 2039930-
59.2021.8.26.0000,
Relator: Carlos Henrique Miguel Trevisan, Data de Julga-
mento: 08/03/2021, 29ª Câmara de Direito Privado, Data
de Publicação: 08/03/2021)

Ademais, os gastos referentes aos animais domésticos podem


ser divididos entre os ex-companheiros, conforme entendimento do
Superior tribunal de justiça, Terceira turma:

RECURSO ESPECIAL. 1. AÇÃO PROMOVIDA, APÓS


QUASE 5 (CINCO) ANOS DO FIM DA UNIÃO ESTÁVEL
(E DA PARTILHA DE BENS), POR EX-COMPANHEIRA
DESTINADA A COMPELIR O EX-COMPANHEIRO A PA-
GAR TODAS AS DESPESAS, NA PROPORÇÃO DE ME-
TADE, DOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO ADQUIRIDOS
DURANTE A UNIÃO ESTÁVEL, ASSIM COMO A RES-
SARCIR OS GASTOS EXPENDIDOS COM A SUBSIS-
TÊNCIA DESTES, APÓS O FIM DA RELAÇÃO CONVI-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 177

VENCIAL. 2. RELAÇÃO JURÍDICA INSERIDA NO DIREI-


TO DE PROPRIEDADE E NO DIREITO DAS COISAS,
COM O CORRESPONDENTE REFLEXO NAS NOR-
MAS QUE DEFINEM O REGIME DE BENS. 3. DESPE-
SAS COM O CUSTEIO DA SUBSISTÊNCIA DOS ANI-
MAIS SÃO OBRIGAÇÕES INERENTES À CONDIÇÃO
DE DONO. DISSOLVIDA A UNIÃO ESTÁVEL, OS EX-
-COMPANHEIROS POSSUEM ABSOLUTA LIBERDA-
DE PARA ACOMODAR A TITULARIDADE DOS ANI-
MAIS DA FORMA COMO MELHOR LHES FOR CONVE-
NIENTE. SUBSISTÊNCIA DE CONDOMÍNIO ENTRE OS
BENS HAURIDOS DURANTE A UNIÃO ESTÁVEL ATÉ,
NO MÁXIMO, A REALIZAÇÃO DA PARTILHA. O CON-
DOMÍNIO, ANTES DA PARTILHA, RESTRINGE-SE AOS
BENS QUE SE ENCONTREM EM ESTADO DE MANCO-
MUNHÃO, DO QUE NÃO SE COGITA NA ESPÉCIE EM
RELAÇÃO AOS ANIMAIS. 4. DEFINIÇÃO PELAS PAR-
TES, POR SUAS CONDUTAS DELIBERADAS, DE ATRI-
BUIR A PROPRIEDADE DOS ANIMAIS EXCLUSIVA-
MENTE À DEMANDANTE. 5. PRESCRIÇÃO. PRETEN-
SÃO DE RESSARCIMENTO DE ENRIQUECIMENTO
SEM CAUSA. PRAZO PRESCRICIONAL DE 3 (TRÊS)
ANOS. PRETENSÃO DE COBRAR OS CUSTOS DAS
DESPESAS DOS ANIMAIS RELATIVA AO PERÍODO NO
QUAL EXERCEU EXCLUSIVAMENTE A TITULARIDADE
DOS PETS. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DE DIREITO
QUE DARIA LASTRO À PRETENSÃO INDENIZATÓRIA
PRESCRITA. 6. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
(STJ - REsp: 1944228 SP 2021/0082785-0, Data de Jul-
gamento: 18/10/2022, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 07/11/2022)

Como vislumbrado, entende-se que a guarda e os alimentos


em relação aos animais domésticos se tornaram uma preocupação re-
corrente e importante àqueles casais que porventura romperam seu
relacionamento, visto que o amor e o afeto pelos pets não acabam de
forma instantânea com o fim do relacionamento.

5 METODOLOGIA

O presente artigo é formado a partir de pesquisas em artigos


científicos já publicados referentes ao assunto principal do projeto e
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 178

em livros que contêm o conteúdo similar. Assim, pode-se dizer que a


pesquisa adotada para desenvolver o trabalho em questão é a biblio-
gráfica. Deste modo, recorreu-se a várias fontes de pesquisa para o
enriquecimento de conhecimento contido neste texto, a fim de estabe-
lecer dados de pesquisa verídicos.
Além dos artigos e livros, o presente projeto foi baseado em leis
vigentes e entendimento dos tribunais superiores, com a finalidade de
corroborar com a tese ao longo do texto, trazendo o mundo jurídico à
pesquisa e alcançando um dos objetivos do texto, que seria trazer res-
paldo jurídico para o mesmo.
Ademais, sendo um trabalho de grandes desafios, por se tra-
tar de um assunto ainda em desenvolvimento, fez-se necessário bus-
car em mais de uma fonte a mesma informação para cruzar os dados
e trazer consigo um texto direto e conciso.
Por fim, acerca da pesquisa bibliográfica, é necessário conhe-
cer as palavras do Professor Macedo (1994, p. 13): “trata-se do primei-
ro passo em qualquer tipo de pesquisa científica, com o fim de revisar
a literatura existente e não redundar o tema de estudo ou experimen-
tação”. Dito isto, a seguinte pesquisa foi desenvolvida de forma metó-
dica, reunindo textos importantes sobre o assunto, a fim de enriquecer
o conteúdo através das obras já existentes.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese da pesquisa, junto às abordagens acima mencio-


nadas, entendeu-se o comportamento humano ao longo desse traje-
to histórico de proteger e tutelar um bem que ganhou um valor muito
íntimo e sentimental nos últimos anos. Outrossim, foi descoberto que
a relação entre animais e os seres humanos sempre existiu, seguin-
do uma linha cronológica de descoberta entre as espécies à ajudantes
de caça, tendo, por conseguinte o estreitamento das relações, tornan-
do-os animais domésticos e considerados como membros da família.
Ademais, com o passar dos anos, houve mudança profunda da
proteção judicial e tutela dos animais, sendo possível abordar a pri-
meira forma de proteção aos pets, fazendo uma analogia às proteções
jurídicas atuais em vigência. Com a pesquisa, foi possível vislumbrar
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 179

os principais pontos de surgimento dessa prática e como o direito se


comportou com essa repentina mudança da tutela e proteção desses
bens tão importantes.
Entendeu-se também como a presença de animais impacta as
famílias brasileiras e suas decisões, no sentido de melhorar as condi-
ções de saúde mental e física, em melhorar as capacidades de pensar
e a criação de um senso de responsabilidade. Buscou-se o entendi-
mento da represália da sociedade a casos de maus-tratos com os ani-
mais, e, junto às novas penalidades por tais práticas que atualmente
geram uma enorme comoção na população.
Destarte, comentou-se e preocupou-se em explicar os novos
efeitos jurídicos inerentes aos animais, tais como a regulamentação
de guarda para casos de casais que entram em processo de separa-
ção, e ambos pretendem ter a tutela do animal. Dessa forma, buscou-
-se entender como a justiça brasileira lida com essa problemática, re-
solvendo o conflito tomando como base nos princípios gerais do direi-
to e realizando analogia às leis existentes sobre o tema de guarda e
alimentos para menores, tornando o tema um entendimento unificado.
E, por fim, constatou-se que só existe a possibilidade de deixar
bens para o animal nos casos de sucessões e partilhas de forma in-
direta, sendo necessário deixar o animal amparado por um tutor, que
terá a responsabilidade de manter o estilo de vida que o animal tinha
com o de cujus. Afinal, o direito brasileiro não legalizou a prática de su-
cessão direta para animais.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 182

CAPÍTULO 12

A RESPONSABILIDADE PENAL DO PSICOPATA A


LUZ DO ORDENAMENTOJURÍDICO BRASILEIRO

Ana Júlia dos Santos Sousa


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI

Rháyla de Sousa Ferreira


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI

Daniel da Costa Araujo


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI

RESUMO
O principal objetivo deste artigo é examinar a visibilidade e o status
dos psicopatas à luz do direito penal no contexto dos crimes cometi-
dos por tais indivíduos. Nesse sentido, faz-se necessário analisar o re-
ferencial do psicopata perante o direito penal. Analisando as caracte-
rísticas comportamentais, a psicologia nos guia por definições e con-
ceitos previamente criados com o objetivo de descobrir se tal indiví-
duo pode ser classificado como doente mental devido a tais doenças.
Assim, ao examinar a legislação vigente, é possível descobrir que os
psicopatas são considerados doentes mentais, mesmo que suas habi-
lidades cognitivas sejam completamente normais, não recebendo com
isso o tratamento adequado, o que não atinge a eficácia desejada, e
o leva à recaída de cometer crimes. No entanto, nosso ordenamen-
to jurídico parece ser omisso quanto à responsabilidade penal do psi-
copata, o que acarreta muitas divergências legais e doutrinárias, não
havendo, portanto, legislação específica que regule a aplicação de tal
responsabilidade. Assim, diferentes abordagens aplicadas pela legis-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 183

lação estrangeira a esses indivíduos são utilizadas e comparadas com


a legislação brasileira, com o objetivo de encontrar medidas mais pre-
cisas e adequadas no direito penal nacional e os efeitos negativos da
negligência nacional com essas pessoas em mente.
Palavras-chave: Psicopata. Culpabilidade. Responsabilidade penal

1. INTRODUÇÃO

A questão da responsabilização criminal de indivíduos com


diagnóstico de psicopatia é de fato complexa e apresenta desafios
tanto no campo do direito quanto da psicologia. É importante reconhe-
cer que a psicopatia não é considerada uma condição legalmente de-
finida no sistema jurídico brasileiro. No entanto, o transtorno de perso-
nalidade antissocial, que possui algumas características semelhantes
à psicopatia, é reconhecido e pode influenciar a avaliação de respon-
sabilidade penal.
A lacuna existente no ordenamento jurídico brasileiro em rela-
ção aos psicopatas tem gerado divergências doutrinárias e inseguran-
ça jurídica na classificação e punição desses indivíduos. A falta de di-
retrizes específicas para lidar com criminosos psicopatas pode resul-
tar em sua inclusão em presídios comuns, onde podem representar
riscos tanto para os presos comuns quanto para si mesmos.
Para enfrentar essas questões, é necessário um estudo apro-
fundado da legislação nacional e uma análise comparativa das práti-
cas adotadas em outros países. A pesquisa bibliográfica, incluindo li-
vros, artigos e estudos de casos específicos, pode fornecer uma base
sólida para compreender os desafios envolvidos na responsabilização
criminal de psicopatas e propor medidas mais precisas e adequadas
para o sistema jurídico brasileiro.
É importante considerar a contribuição da psiquiatria nesse
contexto, uma vez que a avaliação pericial desempenha um papel re-
levante na identificação e diagnóstico dos transtornos psicopáticos. A
utilização de evidências periciais objetivas pode contribuir para uma
análise mais eficaz e menos suscetível a influências subjetivas.
O objetivo principal deve ser comprovar a responsabilidade cri-
minal dos psicopatas, levando em consideração o diagnóstico indivi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 184

dual de cada pessoa e as medidas exigidas pela legislação brasileira.


Além disso, é necessário abordar as más condições prisionais enfren-
tadas pelos psicopatas, levando em consideração taxas de reincidên-
cia criminal e prevalência na sociedade.
No entanto, é fundamental ter em mente que a psicopatia não
justifica nem desculpa a prática de crimes. O objetivo da abordagem
diferenciada para indivíduos com diagnóstico de psicopatia é garantir
o tratamento adequado e a segurança da sociedade, sem comprome-
ter os direitos e a dignidade dessas pessoas.
Em resumo, a responsabilidade penal de psicopatas é um as-
sunto complexo que requer uma análise aprofundada do perfil de cada
indivíduo e das normas jurídicas vigentes. Através de estudos multi-
disciplinares e da análise comparativa de legislações estrangeiras, é
possível buscar soluções mais eficazes para lidar com essa questão
no contexto do sistema penal brasileiro, visando à segurança da so-
ciedade e ao tratamento adequado dos indivíduos com diagnóstico de
psicopatia.

2. O PSICOPATA

2.1 O conceito de psicopatia

Pode-se dizer que as pesquisas e estudos referentes à psico-


patia ainda não são conclusivos, haja vista que, por sua especificida-
de, ainda é objeto de pesquisas de médicos e cientistas.
O conceito de psicopatia à luz do direito penal pode variar de
acordo com a jurisdição e o sistema legal em vigor. No entanto, geral-
mente é importante distinguir entre a psicopatia como uma condição
médica e a responsabilidade criminal.
A psicopatia é uma condição psiquiátrica caracterizada por tra-
ços de personalidade específicos, como falta de empatia, manipula-
ção, comportamento antissocial, impulsividade e dificuldade em seguir
normas sociais. Essas características podem levar um indivíduo com
psicopatia a cometer atos criminosos.
Segundo o Robert D. Hare (HARE, 2013) a psicopatia é um
transtorno da personalidade definido por um conjunto específico de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 185

comportamentos e traços de personalidade, a maioria dos quais é vis-


ta pejorativamente pela sociedade. Portanto, não é fácil diagnosticar
um psicopata. Assim como em qualquer outro transtorno psiquiátrico,
o diagnóstico é baseado na observação de evidências acumuladas no
indivíduo, a fim de atender aos critérios mínimos exigidos.
No entanto, no direito penal, o foco principal é a avaliação da res-
ponsabilidade criminal de um indivíduo, independentemente de ter ou não
uma condição psiquiátrica. Os sistemas legais geralmente se baseiam no
conceito de culpabilidade, que implica a capacidade de entender a natu-
reza ilícita de um ato e de agir de acordo com essa compreensão.
Em muitas jurisdições, a presença de uma condição psiquiátri-
ca, como a psicopatia, pode ser considerada em relação à responsa-
bilidade penal. Se um indivíduo é diagnosticado como psicopata, isso
pode ser levado em consideração ao determinar sua capacidade de
compreender a natureza ilícita de seus atos ou de agir de acordo com
essa compreensão. Em alguns casos, isso pode resultar em um julga-
mento de inimputabilidade, onde a pessoa é considerada incapaz de
ser responsabilizada criminalmente por suas ações e, em vez disso,
pode ser submetida a tratamento psiquiátrico ou medidas corretivas.
É importante ressaltar que a psicopatia por si só não é uma de-
fesa legal para a criminalidade, e o sistema legal ainda busca respon-
sabilizar os indivíduos por seus atos. O diagnóstico de psicopatia pode
ser um fator a ser considerado no processo legal, mas não isenta auto-
maticamente o indivíduo de suas responsabilidades criminais. O trata-
mento da psicopatia no contexto jurídico é complexo e pode variar de
acordo com as leis e políticas de cada jurisdição específica.
Um dos pioneiros sobre a descrição de psicopatia e médico
francês, Phillipe Pinel, em 1809, (PINEL, 2007):

“A análise do comportamento dos pacientes, chega-se à


conclusão de que mesmo com o comportamento violen-
to, eles possuem perfeito entendimento do caráter irra-
cional de suas ações, assim não são consideradas pes-
soas delirantes como inicialmente acredita-se.”

Considerando o que foi dito anteriormente, transtorno de per-


sonalidade, comportamento antissocial e psicopatia são conceitos que
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 186

dominam e provocam alterações em nossos laços sociais. Isso porque


esses indivíduos possuem grandes poderes de persuasão e manipu-
lação, são capazes de agir normalmente e de forma adequada na so-
ciedade, buscando sempre alcançar o resultado desejado.

2.2Níveis da psicopatia

É importante mencionar que a classificação dos níveis de psi-


copatia em leve, moderado e grave pode variar de acordo com diferen-
tes abordagens e critérios utilizados por profissionais da saúde men-
tal. Não existe um consenso absoluto sobre essa classificação, e dife-
rentes teorias e modelos podem adotar categorizações distintas.
No entanto, é verdade que a psicopatia está associada a ca-
racterísticas como frieza emocional, propensão à mentira e falta de
empatia. Essas características podem ser mais acentuadas em casos
classificados como moderados ou graves.
Quando se trata do sistema penitenciário e da necessidade de
uma atenção especial para psicopatas assassinos, é preciso conside-
rar o risco que esses indivíduos representam para si mesmos e para
os outros. Psicopatas com um perfil mais agressivo e com maior pro-
pensão para comportamentos violentos exigem medidas de seguran-
ça adicionais e intervenções específicas para minimizar os riscos.
É importante que o sistema penitenciário esteja preparado
para lidar com as necessidades e características específicas dos psi-
copatas, considerando sua propensão à manipulação, falta de empa-
tia e risco potencial de recidiva. Isso pode incluir a implementação de
programas de tratamento adequados, avaliação de risco de violên-
cia, acompanhamento psiquiátrico e psicológico especializado, além
de medidas de segurança apropriadas para garantir a segurança dos
presos e da sociedade em geral.
É fundamental que as políticas e práticas do sistema penitenci-
ário considerem a complexidade da psicopatia e busquem abordagens
individualizadas e adaptadas às características e necessidades espe-
cíficas de cada indivíduo. Isso requer uma colaboração entre profissio-
nais de diferentes áreas, como direito, psicologia, psiquiatria e servi-
ços penitenciários, para desenvolver estratégias eficazes e garantir a
segurança pública.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 187

3. O PSICOPATA E O CÓDIGO PENAL

Hodiernamente não há lei específica para criminosos que pos-


suem tal condição. Conformetrata Renê Gonçalves Estrela Magnoler
(MAGNOLER ,2017)

“Existe a diferença entre responsabilidade penal e impu-


tabilidade. Enquanto a primeira se trata da obrigação ju-
rídica de responder pelo ato delituoso, a segunda se tra-
tada condição pessoal do agente.”

Dessa forma, o próprio Código Penal Brasileiro (CP) carrega


em seu art. 26 a possibilidade deinimputabilidade do agente criminoso
psicopata. Consta em tal:

“É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar- se de
acordo com esse entendimento.”

Desse modo é notório que a lei é muito abrangente, não trata


o psicopata de forma isolada, deixandoassim uma lacuna a ser pre-
enchida.
O sistema penal brasileiro adota medidas de segurança para li-
dar com indivíduos diagnosticados como psicopatas, visando sua re-
abilitação e possível reinserção na sociedade. Essas medidas podem
incluir tratamentos ambulatoriais, terapêuticos ou psicossociais, de-
pendendo do caso específico. Segundo Rogério Greco (2011, p.659)
disserta sobre o tema que:

“Ao inimputável que pratica um injusto penal o Estado re-


servou a medida de segurança, cuja finalidade será levar
a efeito o seu tratamento. Não podemos afastar da medi-
da de segurança, além da sua finalidade curativa, aque-
la de natureza preventiva especial, pois, tratando o doen-
te, o Estado espera que este não volte a praticar qualquer
fato típico e ilícito.”
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 188

No entanto, é importante ressaltar que a psicopatia não é con-


siderada uma condição passível de “cura” completa. Embora o trata-
mento possa ajudar a gerenciar certos aspectos do comportamento e
melhorar a qualidade de vida do indivíduo, as características essen-
ciais da psicopatia tendem a ser persistentes ao longo do tempo.
Cada caso de psicopatia é único, e o tratamento deve ser adap-
tado às necessidades individuais do paciente. O objetivo principal é re-
duzir o risco de comportamentos antissociais e proporcionar um am-
biente que limite o impacto negativo na sociedade, mas é importante
reconhecer que a psicopatia apresenta desafios significativos no con-
texto do sistema penal e da reintegração social.

3.1 Responsabilização penal do psicopata

Hoje, o Brasil não possui uma lei específica que trate especi-
ficamente da punição de crimes cometidos por psicopatas, ou sejam
eles combinados como imputáveis, inimputáveis ou parcialmente im-
putáveis. Quando os inocentes se associam ao doente mental e não
reagem a ele, o júri penal no Brasil deve se adequar para dar mais se-
gurança e respaldo jurídico ao problema atual.
Ainda no art. 26, CP em seu parágrafo único trás:

“A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agen-


te, em virtude de perturbação de saúde mental ou por de-
senvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.”

Assim sendo, vale relembrar que o psicopata possui total no-


ção de estar cometendo um ato ilícito, toda via, não possui sentimen-
to algum de arrependimento ou culpa. Possui sim uma condição psí-
quica incurável, o que traz a ele a ausência de empatia ou de qualquer
sentimento atrelado ao próximo.
Caso este seja considerado imputável, terá uma pena privati-
va de liberdade, o que segundo psicólogos e psiquiatras não é o ade-
quado, visto que, portadores dessa patologia devem ficar separados
de presos comuns, o que não ocorre.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 189

A inimputabilidade é exposta, da seguinte forma, por Damásio


E. de Jesus (1999, p. 499):

“Não havendo a imputabilidade, primeiro elemento da


culpabilidade, não há culpabilidade e, em consequên-
cia, não há pena. Assim, em caso de inimputabilidade,
o agente que praticou ofato típico e antijurídico deve ser
absolvido, aplicando-se medida de segurança.”

Dito isto, é nítida a necessidade de uma perícia técnica bem


feita para diagnosticar de forma correta o indivíduo, e dessa forma
ser definida sua imputabilidade, inimputabilidade ou semi- imputabi-
lidade.
Por se tratar de uma condição que não possui cura, caso um
indivíduo seja diagnosticado com tal patologia a medida de seguran-
ça implicará na permanência deste em tratamento psiquiátrico e hospi-
tal de custódia. Tendo em vista que tal doença não possui cura, prova-
velmente este não demonstrará capacidade de conviver em socieda-
de, tendo que passar avida inteira sob tal medida de segurança o que
se equipara, de forma indireta, a prisão perpétua, que é vedada pela
Constituição Federal de 1988.

3.2 Comparação da punição aplicada em outros países

A análise comparativa das abordagens e tratamentos dados


aos psicopatas criminosos em outros países é relevante para entender
como diferentes sistemas jurídicos lidam com essa questão. A aplica-
ção do instrumento de identificação de psicopatia, como o Psychopa-
thy Checklist (PCL-R), em países como Estados Unidos, Austrália, Ho-
landa, Noruega e China, tem-se mostrado eficaz na redução da reinci-
dência criminal desses indivíduos.
No entanto, é importante ressaltar que cada país tem suas pró-
prias peculiaridades legais e culturais, e nem todas as medidas adota-
das em outros lugares podem ser facilmente aplicadas no Brasil. Por
exemplo, a castração química, utilizada em países como Alemanha,
Suécia e Dinamarca para reduzir a libido sexual de psicopatas conde-
nados por crimes sexuais, enfrentaria desafios legais e éticos no con-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 190

texto brasileiro, devido aos princípios constitucionais e aos debates


em torno dos direitos humanos.
Da mesma forma, a aplicação de penas como a prisão perpé-
tua com isolamento, presente em países como Estados Unidos e Ca-
nadá, não seria possível no Brasil sem uma mudança significativa na
legislação e nas estruturas do sistema penitenciário, considerando os
princípios constitucionais vigentes.
Diante dessas limitações, é necessário buscar soluções que
sejam adequadas ao contexto brasileiro, respeitando os direitos fun-
damentais dos indivíduos, mas também levando em consideração a
necessidade de proteger a sociedade e promover a reintegração dos
psicopatas à vida em sociedade, quando possível, isso implica na im-
plementação de medidas alternativas, como a criação de programas
de tratamento especializados, com profissionais capacitados em psi-
quiatria forense, psicologia e direito, que possam avaliar o perfil de
cada psicopata e desenvolver estratégias de intervenção e reabilita-
ção personalizadas.
Além disso, é fundamental fortalecer a pesquisa e a discussão
acadêmica no Brasil sobre a psicopatia e sua abordagem no sistema
penal, a fim de aprimorar o entendimento e buscar soluções mais efi-
cazes para lidar com esse desafio complexo.
Em suma, embora seja importante analisar as práticas adota-
das em outros países, é fundamental adaptar as medidas ao contex-
to brasileiro, levando em consideração os princípios constitucionais e
os direitos humanos, ao mesmo tempo em que se busca proteger a
sociedade e garantir o tratamento adequado para os psicopatas crimi-
nosos.

4. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para elaboração do presente artigo em


epígrafe possui embasamento no estudo aprofundado através da lei-
tura e análise de trabalhos, bibliografias, livros e dados que abordam
o presente tema, além da captura de informações através do estudo
de diferentes nichos além do direito, como a psicologia e a psiquiatria.
O material utilizado foram livros e notebook.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 191

5. CONCLUSÃO

Ante o exposto conclui-se que, atualmente, o ordenamento ju-


rídico brasileiro deixa muito a desejar no que tange ao tratamento indi-
vidualizado do psicopata perante o código penal. Tendo em vista que,
nada trás em seus artigos sobre a especificação da psicopatia, muito
menos sobre o seu tratamento de forma distinta tanto na penalização
quanto na forma do cumprimento desta pena.
Além disso, insta salientar que, por conta de tal lacuna no or-
denamento jurídico brasileiro, as medidas tomadas são ineficazes, ge-
rando, dessa forma insegurança jurídica para a sociedade, tendo em
vista que, apesar de tais indivíduos não possuírem capacidade para
conviver em sociedade, faltam leis que os mantenham em uma condi-
ção que não ofereçam risco para a população.
Em se tratando de psicopatas que cumprem pena restritiva de
liberdade, ficam, juntamente com presos comuns, dentro dos presí-
dios, onde não possuem aparato para tratarem ou impedirem que esta
patologia evolua, tornando o psicopata ainda mais perigoso e tornan-
do o indivíduo cada vez mais um risco social, tanto dentro quanto fora
dos presídios.
Observa-se ainda que o Brasil, em relação aos demais países
está bastante atrasado quando se fala em tratamento jurisdicional ade-
quado para psicopatas, ressalta-se que em países, como por exemplo
os Estados Unidos, possuem uma maneira adequada para averiguar se
o indivíduo é ou não psicopata e a partir de então fornecer a punição e/
ou tratamento adequado. É utilizado para identificar o nível de psicopa-
tia a escala hare, que atualmente é a mais confiável para tal.

REFERÊNCIAS

DECRETO - Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal.


JESUS, Damásio E. de Direito penal, volume 1: parte geral. 28 ed. rev.
– São Paulo: Saraiva, 2007.
OLIVEIRA, Priscyla. Direito Comparado e a punibilidade do psicopa-
ta homicida.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 192

REZENDE, Bruna Falco. Personalidade Psicopática. 2011. 49 f. Mo-


nografia (Graduação em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade
Presidente Antônio Carlos, Barbacena, 2011.
Sem Consciência: O Mundo Perturbador dos Psicopatas que Vivem
Entre Nós. 2013. Robert D.Hare.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao
lado. Rio de Janeiro:Editora Fontanar, 2010.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal – Parte Geral. 13ª Ed. Re-
vista, ampliada e atualizada até1º de janeiro de 2011. Volume 1. Ni-
terói: Impetus, 2011
PINEL, P. Tratado médico filosófico sobre a alienação mental ou a ma-
nia. (Trabalho original publicado em 1801), Porto Alegre: Editora da
UFRGS. 2007
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 193

CAPÍTULO 13

ABUSO SEXUAL INFANTIL NO AMBIENTE


INTRAFAMILIAR E A APLICAÇÃO DO ESTATUTO
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

CHILD SEXUAL ABUSE IN THE INTRAFAMILY


ENVIRONMENT AND THE APPLICATION OF THE
CHILD AND ADOLESCENT STATUTE

Mikaele Santos Viana


Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi
Piripiri - Piauí
Orcid: 0009-0004-1571-6287
mikaele.viana99@gmail.com

Igor Douglas do Nascimento


Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi
Piripiri - Piauí
igordouglas788@gmail.com

RESUMO
O objetivo desta pesquisa consistiu em analisar o abuso sexual infan-
til no âmbito familiar e examinar a efetivação da Lei nº 8.069/1990, Lei
da Criança e do Adolescente, enfatizando as implicações para a vida
da vítima e destacando a aplicação da lei em casos específicos. Con-
siderado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma das
maiores questões de saúde pública, o abuso sexual infantil necessi-
ta de uma reflexão acerca do problema para que se torne possível
uma identificação mais precisa. Segundo dados, a maioria das situa-
ções de violência sexual ocorrem no ambiente familiar, com o abusa-
dor sendo um membro da família, tornando difícil detectar os casos de
abuso. Por serem seres em desenvolvimento físico e emocional, as
crianças são consideradas, pela lei, inimputáveis até certa idade. Por-
tanto, é essencial ter uma legislação específica para a proteção dos
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 194

menores de idade, conforme estabelecido pelo Estatuto da Criança e


do Adolescente.
Palavras-chave: Abuso sexual; Infantil; Intrafamiliar; ECA

ABSTRACT
The objective of this research was to analyze child sexual abuse with-
in the family and examine the implementation of Law nº 8.069/1990,
Law for Children and Adolescents, emphasizing the implications for the
victim’s life and highlighting the application of the law in specific cas-
es. Considered by the WHO (World Health Organization) as one of the
biggest public health issues, child sexual abuse needs a reflection on
the problem so that a more accurate identification becomes possible.
According to data, most situations of sexual violence occur in the fam-
ily environment, with the abuser being a family member, making it dif-
ficult to detect cases of abuse. Because they are beings in physical
and emotional development, children are considered, by law, unimput-
able until a certain age. Therefore, it is essential to have specific legis-
lation for the protection of minors, as established by the Child and Ad-
olescent Statute.
Keywords: Sexual abuse; Child; Intrafamilial; ECA

1 Introdução

O sexo do meu pai sobre o meu priva-me de toda a hu-


manidade, eu já não existo. É ele quem comanda meus
gestos, não posso resistir, já estou morta. Roubou-me os
comandos do meu cérebro. Já não sei mais dizer não a
um homem. Basta uma palavra, um olhar de autoridade
para eu me tornar dócil, submissa. Sou prisioneira do de-
sejo do outro, presa fácil, sem defesa” (SAFFIOTI, 1995).

A pesquisa deste referido trabalho acadêmico teve como tema


de estudo uma análise do abuso sexual infantil no ambiente intrafa-
miliar e a aplicação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente),
onde sabe-se que até determinada idade crianças e adolescentes são
indivíduos em desenvolvimento físico e emocional, precisando de me-
didas de proteção específicas e afetivas que assegurem seus direi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 195

tos. Com isso, o problema do estudo foi pensado em: como identificar
o abuso sexual infantil nos ambientes frequentados pela criança? Fe-
z-se esta indagação por acreditar que o abuso infantil é um dos prin-
cipais desafios enfrentados pela sociedade atualmente, uma vez que
essa forma de comportamento coercitivo por parte de adultos pode
ocorrer em diversos aspectos da vida da vítima. Indivíduos de ambos
os sexos podem ser vítimas de abuso sexual, no entanto, a maioria
das pesquisas indica que a ocorrência de abuso em meninas é pelo
menos 3 vezes mais frequente do que em meninos: já no início do sé-
culo XXI, cerca de uma em cada três a quatro meninas e um em cada
seis a dez meninos são vítimas de alguma forma de abuso sexual an-
tes de atingirem a idade de 18 anos. (AZEVEDO; GUERRA, 2000).
O objetivo geral deste estudo esteve em analisar medidas que
devem ser adotadas para evitar o abuso sexual infantil. Como objeti-
vos específicos, pesquisar a importância dessas ações para a segu-
rança da criança, caracterizar o comportamento da criança quando
essa situação acontece; identificar estratégias voltadas para momen-
tos de crise quando a criança passa por isso. A razão para a realiza-
ção deste estudo é a necessidade de evidenciar a natureza explora-
tória da utilização de crianças em situações como prostituição, partici-
pação em conteúdo pornográfico, bem como outras práticas sexuais.
Esse adaptação se constitui uma ferramenta fundamental, com a qual
a sociedade pode movimentar-se de uma maneira para evitar essas
situações o máximo possível, o que irá formar uma margem de segu-
rança para as crianças e familiares. Este trabalho será como uma fon-
te alternativa de pesquisa para leitores e profissionais da área, servin-
do como uma fonte de atualização de conhecimentos.
O estudo foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfi-
ca utilizando-se de determinados autores que possuem trabalhos nas
áreas de conhecimentos sobre o tema abordado. A pesquisa em ques-
tão terá um teor qualitativo e explicativo. Até determinada idade, crian-
ças e adolescentes são indivíduos em desenvolvimento físico e emo-
cional, precisando de medidas de proteção específicas e afetivas que
assegurem sua proteção. A Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de
1990, mais conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente,
que estabelece a regulamentação do artigo 227 estabelecido da Cons-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 196

tituição Federal de 1988, estipula que as crianças são indivíduos em


fase de desenvolvimento, assim como os adolescentes, com necessi-
dades especiais de proteção integral e prioridade por parte da família,
sociedade e Estado. Este que representa um marco na consolidação
dos direitos dos menores de idade em nosso país, em um procedimen-
to que foi iniciado pela Constituição Federal.
Nesse sentido, o abuso sexual infantil pode ser caracterizado
como uma conduta na qual um indivíduo usa uma criança ou adoles-
cente para atender necessidades sexuais, sem levar em considera-
ção o bem-estar ou os direitos da vítima. Esse é um ato contra um in-
divíduo de mentalidade ainda não formada, incapaz de compreender
e até mesmo de consentir determinado ato contra si. O abuso sexual
é toda ação que busca atender ou satisfazer as necessidades sexu-
ais de outra pessoa, inclusive através da indução ou coerção de uma
criança para participar de atividades sexuais ilegais. Isso pode envol-
ver práticas exploratórias, como o uso de crianças em situações de
prostituição ou em materiais pornográficos, assim como outras ativi-
dades sexuais. A maior parte desses abusos ocorre dentro do ambien-
te familiar, onde o abusador tem acesso com maior facilidade a crian-
ça, que geralmente são sobrinhas, filhas, irmãs, vizinhas. Essa violên-
cia sexual existe em todas as sociedades, podendo esse comporta-
mento coercitivo por parte dos adultos ocorrer em qualquer parte da
vida da criança.
Contudo, a maior parte das pesquisas aponta que a frequência
de abuso é significativamente maior em meninas do que em meninos,
chegando a ser três vezes mais comum em alguns casos. “Em relação
ao sexo da vítima, 85,5% são meninas, mas meninos também são víti-
mas1” (BRASIL, 2022). No entanto, pesquisas demonstram de manei-
ra consistente que, independentemente do gênero, a maioria esmaga-
dora dos perpetradores de abuso sexual é do sexo masculino e possui
algum tipo de relação prévia com a vítima. Aproximadamente 70% das
vítimas de abuso sexual infantil são meninas. Em crianças de 1 a 4
anos, o agressor mais frequente é o pai, conforme pesquisa da Secre-
taria Estadual de Saúde, a partir de dados de atendimentos de crian-
ças e adolescentes vítimas de violência sexual.
1 Dados relativos ao Anuário brasileiro de segurança pública de 2022.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 197

2 O estatuto da criança e adolescente (lei 8.069/1990)

Promulgada em 1990, a Lei nº 8.069/1990, Lei da Criança e do


Adolescente foi promulgada em 1990, trazendo no corpo do seu texto
o objetivo proteger os direitos tanto das crianças quanto dos adoles-
centes, bem como garantir a sua integridade física, moral e psicológi-
ca. Considerada pela doutrina uma lei avançada, que se preocupa em
assegurar a dignidade dos menores de idade em todos os aspectos,
seja na área da saúde, da educação, da assistência social, da cultura,
do lazer, entre outros, esta lei prevê medidas de proteção para casos
de violência, abuso, exploração e negligência. A Lei 8.069/1990 tam-
bém estabelece que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de
proteger e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes, bem
como promover o seu desenvolvimento de forma integral. Isso signi-
fica que é importante que todos os envolvidos, incluindo a família, a
escola, os profissionais de saúde e assistência social, e a comunida-
de em geral, trabalhem juntos para garantir o bem-estar e o desenvol-
vimento saudável das mesmas. O ECA ainda prevê a criação de con-
selhos tutelares em cada município do país, que têm como função ze-
lar pelos direitos das crianças e atuar em situações de risco e viola-
ção desses direitos. Em suma, o ECA é uma lei fundamental para pro-
teger e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes no Esta-
do Brasileiro.
A lei em questão reflete uma Constituição que busca valorizar
a infância e a juventude, com o foco maior na proteção individual de
cada criança e jovem brasileiro. A Constituição Federal adotou, no ar-
tigo 227, a Doutrina da Proteção Integral, que traz a garantia da prio-
ridade absoluta às crianças e aos adolescentes, ou seja, é dever da
família, da sociedade e do Estado o dever de proteção. O ECA incor-
porou em seus dispositivos o Estatuto da Primeira Infância, que fora
sancionado em 2016, tratando este não somente em relação a prote-
ção contra abuso sexual infantil, mas também sobre diretrizes para a
promoção e garantia dos direitos das crianças na primeira infância (0
a 6 anos), com o objetivo de assegurar a preservação da vida e bem-
-estar da criança, especialmente durante essa fase em que ela é mais
vulnerável e dependente, além de promover o desenvolvimento físico,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 198

intelectual e psíquico. O estatuto reconhece a importância dessa fase


da vida para o desenvolvimento humano e estabelece medidas para a
sua proteção integral.
Nesse sentido, está previsto no art. 2º da lei 8.069/1990 que
se considera como criança aqueles que têm até 12 anos de idade in-
completos, e como adolescente aqueles que têm entre 12 e 18 anos
de idade. É previsto, também, no art. 7ª desta lei o reforço do direito
à preservação à vida e à saúde do adolescente, por meio de políticas
públicas que resguardem o direito do nascimento, desenvolvimento
sadio e condições dignas de existência.

3 Doutrina da proteção integral e o art. 227 da constituição federal

A doutrina da proteção integral é um princípio fundamental do


Direito da Infância e da Juventude. Ela foi consagrada pela Consti-
tuição Federal de 1988 e tem como objetivo assegurar que crianças
e adolescentes sejam tratados como sujeitos de direitos, garantindo-
-lhes uma proteção integral, ou seja, não apenas física, mas também
psicológica, social, cultural e moral. A proteção integral parte do pres-
suposto de que esses jovens são pessoas em desenvolvimento e, por
isso, precisam de cuidados especiais para que possam se desenvol-
ver plenamente e se tornarem cidadãos ativos e responsáveis.
A doutrina da proteção integral é um marco na história da pro-
teção dos direitos das crianças e adolescentes no Brasil e no mundo.
Ela representa uma mudança de paradigma, pois antes dela, as crian-
ças eram vistas apenas como objetos de proteção e não como sujeitos
de direitos. Com a proteção integral, a criança é vista como um indiví-
duo em formação, com suas necessidades e desejos próprios, e não
mais como um ser passivo a ser tutelado. Essa doutrina está presen-
te em todas as políticas públicas voltadas para a infância e juventude,
incluindo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Além disso, a
doutrina também reconhece que a responsabilidade de proteger os di-
reitos das crianças e adolescentes é compartilhada entre a própria fa-
mília da criança bem como o Estado. Assim, cabe ao Estado criar po-
líticas públicas que garantam a efetivação desses direitos, bem como
fiscalizar e punir violações. Por sua vez, cabe à família cuidar e prote-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 199

ger seus filhos, e à sociedade em geral zelar pelo bem-estar das crian-
ças e adolescentes e denunciar qualquer forma de violação dos seus
direitos. Dessa forma, a doutrina da proteção integral busca assegurar
que crianças e adolescentes tenham um desenvolvimento saudável e
pleno, livre de violência, exploração e qualquer outra forma de viola-
ção dos seus direitos.
Conforme destaca o art. 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com ab-
soluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimenta-
ção, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência fa-
miliar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violên-
cia, crueldade e opressão.

O artigo acima citado é um dispositivo legal que estabelece a


proteção integral como um dever da família, da sociedade e do Esta-
do. Segundo o texto, torna-se dever da família, da sociedade e do Es-
tado garantir às crianças o direito à vida, à educação, à cultura, à dig-
nidade, ao respeito e à liberdade com prioridade absoluta. Esse dispo-
sitivo foi incorporado à Constituição em 1988, representando um mo-
mento histórico na defesa dos direitos das crianças no país. O artigo
227 também preconiza que a promoção desses direitos deve ser feita
de maneira articulada entre as diferentes entidades e instituições en-
carregadas da proteção da criança e do adolescente, e que qualquer
violação desses direitos deve ser sancionada nos termos da lei. O Es-
tatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que é a principal lei brasi-
leira que trata dos direitos das crianças e adolescentes, foi criado em
1990 como uma forma de regulamentar o que está previsto no artigo
227 e garantir a sua efetivação. O artigo 227 e o ECA são considera-
dos marcos legais na proteção dos direitos das crianças e adolescen-
tes no Brasil e são referências para outras legislações e políticas pú-
blicas em todo o mundo.
Conforme Maciel (2013), esse artigo representa um avanço no
reconhecimento dos direitos das crianças e adolescentes como direi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 200

tos fundamentais, garantindo-lhes uma proteção especial e integral. É


exigido uma mudança de paradigma na relação entre a sociedade e
as crianças e adolescentes, uma vez que os reconhece como titulares
de direitos, e não mais como objetos de proteção. Para Maciel (2013),
essa mudança é fundamental para garantir que a infância e a juventu-
de sejam protegidas de forma efetiva e para promover uma sociedade
mais justa e igualitária.

4 ECA e a sociedade contemporânea

O foco do ECA é garantir que nenhuma criança passe por qual-


quer forma de abuso, embora seja uma legislação essencial, mas, o
que ocorre é que tal documento reflete concepções e visões da épo-
ca. Acontece que em 30 anos a sociedade muda e a forma como se
organizam podem mudar completamente, e, assim, leis do passado
podem não ter a mesma eficácia para atender às demandas atuais. O
ECA traz em seu dispositivo a necessidade clara de priorizar as crian-
ças e suas demandas, todavia no Brasil ainda há falhas em desenvol-
ver e aplicar dispositivos para que assim sejam reconhecidos e aplica-
dos em todos os locais.
Porém, mais do que existir uma lei é preciso que ela se cumpra
integralmente, caso contrário perde a efetividade e o valor para o pú-
blico que deveria estar sob proteção do Estado e da sociedade de for-
ma geral. Um exemplo recente que podemos utilizar para falar a res-
peito dessa eficácia, é o caso de uma menina de 11 anos moradora da
zona rural de Teresina, no Piauí, que foi novamente vítima de estupro
dentro da própria casa na qual residia com sua família, e está grávida
pela segunda vez. Em 2021, ela engravidou após sofrer violência se-
xual, momento este que a criança deveria estar sob proteção e cuida-
dos de sua família, que até então agiu com negligência e ocasionou
em um cenário negativo onde a criança novamente passou pela mes-
ma situação de abuso, causando reflexo negativo a respeito dos direi-
tos e proteção da criança e do adolescente no ambiente familiar.
Além de causar grande impacto social, casos como esse são
frequentes em uma sociedade que não vê a criança como indivíduo
com direitos e proteção estadual, podendo sofrer com abusos cons-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 201

tantes, influenciando em todos os âmbitos da vida. Crianças e adoles-


centes necessitam de proteção estadual, social e familiar, por terem
idade e desenvolvimento incompletos, estando suscetíveis a qualquer
evento que lhes possa acontecer. Essa proteção permite que as ge-
rações futuras se tornem mais preparadas para seu papel social en-
quanto cidadãos, porém, no Brasil, apenas uma legislação não é o su-
ficiente para isso. Portanto, faz-se necessário que as políticas públicas
vejam, de fato, que esse grupo precisa de todos os esforços para que
sejam protegidos e preparados para a vida futura.

5 A lei e a garantia da proteção contra o abuso sexual infantil

A proteção contra o abuso sexual infantil é garantida por diver-


sas leis e dispositivos legais no Brasil. O Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (ECA) é principal delas, pois prevê a obrigatoriedade da no-
tificação às autoridades competentes em caso de suspeita ou confir-
mação de violência sexual contra crianças. O ECA também estabele-
ce medidas protetivas para garantir a segurança da vítima e a respon-
sabilização dos agressores, além de prever a assistência psicológica e
social às vítimas de abuso sexual e de seus familiares. Além do ECA,
outras leis também contribuem para a proteção das crianças e adoles-
centes contra o abuso sexual. A Lei nº 12.015/2009, por exemplo, al-
terou o Código Penal Brasileiro e ampliou a definição de crimes sexu-
ais, tornando mais abrangente e grave a punição para esses delitos. A
Lei nº 13.431/2017 institui o sistema de proteção integral à criança ví-
tima ou até mesmo testemunha da violência, que prevê a formação de
uma rede de proteção e atendimento especializado. Além disso, vale
ressaltar que a denúncia de abuso sexual infantil é fundamental para a
garantia da proteção legal às vítimas. A Lei nº 13.431/2017, por exem-
plo, prevê a garantia do sigilo e da privacidade da vítima durante o pro-
cesso de denúncia e investigação, além de estabelecer a necessida-
de de uma escuta especializada e acolhedora por parte dos profissio-
nais envolvidos no atendimento às vítimas. Em suma, as leis brasilei-
ras garantem a proteção legal das crianças e adolescentes contra o
abuso sexual e preveem medidas para garantir a segurança e o bem-
-estar dessas vítimas.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 202

A Constituição Federal de 1988 foi a única dentre as outras


constituições que trouxe em seu texto o entendimento de que os me-
nores têm direito e que são dignos de proteção, de responsabilida-
de da família e Estado como um todo, incluindo a própria sociedade.
Na redação constitucional, mais precisamente no art. 227, é expres-
so o dever da família e do Estado quanto à seguridade à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, do direito à vida, à saúde, à li-
berdade e à convivência familiar e comunitária, bem como protegê-
-los de toda forma de negligência, exploração, violência, crueldade e
discriminação. Ainda, prevê a punição rigorosa para os casos de abu-
so, violência e exploração sexual dessas crianças. Já no Código Pe-
nal, o abuso sexual infantil é tipificado como crime contra a dignida-
de sexual, previsto no art. 217-A. A pena prevista para o crime de es-
tupro de vulnerável pode variar entre 8 a 15 anos de reclusão, poden-
do ser agravada em caso de violência física, ameaça ou a vítima sen-
do menor de 14 anos.
O artigo 7º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) es-
tabelece que a proteção à vida e à saúde é um direito fundamental das
crianças e adolescentes, garantido pela efetivação de políticas sociais
públicas que possibilitem um nascimento e desenvolvimento saudá-
veis, em condições dignas de vida. Esse artigo trata sobre os direitos
das criança e dos adolescentes, ressaltando o direito à proteção à vida
e à saude, sendo dever do Estado e da sociedade como idealizadores
de políticas sociais públicas garantir um desenvolvimento digno e sau-
dável. Além disso, é importante destacar que a Lei 13.431/2017 trou-
xe a tipificação da violência sexual como uma das formas de violência
praticadas contra crianças e adolescentes, tratando-a como uma vio-
lação aos direitos humanos.
No artigo 2º da lei 13.431/2017 é estabelecido que as crianças
e adolescentes possuem direitos fundamentais como qualquer outra
pessoa, devendo receber proteção integral e ter oportunidades e fa-
cilidades para viver sem violência, preservando tanto a saúde física
como a mental, bem como o desenvolvimento moral, intelectual e so-
cial. Além disso, esses indivíduos possuem direitos específicos em
sua condição de vítima ou testemunha. O parágrafo único do mesmo
artigo determina que os órgãos governamentais devem desenvolver
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 203

políticas integradas e coordenadas para garantir os direitos humanos


da criança e do adolescente em todas as relações domésticas, familia-
res e sociais, protegendo-os de qualquer tipo de violência, abuso, ne-
gligência, crueldade, opressão e exploração.
Com esta lei, foram estabelecidas diretrizes para o atendimen-
to e proteção integral à criança, sendo ela vítima ou testemunha de
qualquer violência, incluindo a violência sexual. Dessa forma, é fun-
damental que o abuso sexual infantil seja tipificado de forma precisa e
transparente, para que possa ser combatido e punido de acordo com
a lei. A tipificação do abuso sexual infantil é necessária para garantir a
proteção da vítima e a punição do agressor, além de enviar uma men-
sagem clara de que esse tipo de crime é inaceitável e deve ser com-
batido em todas as esferas da sociedade.

6 Considerações Finais

Desde a promulgação da Constituição Federal Brasileira em


1988, foram observados avanços significativos na garantia da prote-
ção de crianças e adolescentes, sobretudo com a aprovação do ECA
em 1990. O termo “abuso sexual intrafamiliar” refere-se ao abuso se-
xual que ocorre dentro da família. Na maioria das vezes, esse tipo
de abuso em crianças e adolescentes está ligado à família, onde os
agressores são geralmente os pais ou outros familiares. Com base nis-
so, este artigo busca compreender a aplicação do Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente em casos de estupro que ocorrem no ambiente
familiar.
Conforme mencionado, podemos concluir que o índice de abu-
so sexual cometido por parentes é muito frequente, sendo eles o pró-
prio pai, padrasto, tios e até mesmo vizinhos da família. Apesar dos
avanços na legislação para a proteção de crianças e adolescentes,
ainda há obstáculos a serem enfrentados para que essa proteção seja
efetiva. Além da falta de políticas públicas adequadas, muitas vezes a
própria família do menor negligencia sua responsabilidade em prote-
gê-lo, deixando a criança vulnerável ao agressor, que pode continuar
a agredi-lo a qualquer momento. Antigamente, crianças e adolescen-
tes eram tratados como objetos de tutela e não possuíam garantias de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 204

direitos e cidadania. Entretanto, após a promulgação da Constituição


Federal Brasileira de 1988 e mais tarde com a elaboração do Estatuto
da Criança e do Adolescente em 1990, houve uma grande evolução,
reconhecendo esses indivíduos como sujeitos de direitos e cidadania.
É imprescindível que estejamos embasados nos princípios da
Dignidade Humana, Prioridade Absoluta e Melhor Interesse, para sal-
vaguardar e proteger a integridade psicológica e física de nossas crian-
ças e adolescentes, já que não devemos nos preocupar apenas com
o futuro que eles terão, mas também com o presente, pois as crian-
ças de hoje necessitam de proteção garantida. Diante disso, é possí-
vel concluir que o abuso sexual infantil deve ser uma questão prioritá-
ria nas políticas públicas, já que é um fenômeno global que afeta toda
a sociedade. A prevenção e a erradicação dessa violência são um de-
safio constante para os profissionais das áreas sociais, de saúde e de
educação, bem como para todos os interessados e envolvidos na te-
mática. Nesse sentido, não basta apenas criar programas, mas é fun-
damental comprometer-se com estudos e análises rigorosas das cau-
sas e consequências desse problema, bem como dos danos morais
e sociais sofridos por crianças e adolescentes vítimas da barbaridade
que é a violência sexual.

REFERÊNCIAS

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guranca.org.br/wp-content/uploads/2022/06/anuario- 2022.pdf?v=4 >.
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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 206

CAPÍTULO 14

ACEITAÇÃO À INTRODUÇÃO DE ALIMENTOS


ORGÂNICOS NA ALIMENTAÇÃO DOS ALUNOS
DE 6º E 8º ANO DA ESCOLA MUNICIPAL
LUIZA ELISA DE MELO

ACCEPTANGE OF THE INTRODUCTION OF ORGANIC


FOODS IN THE FOOD OF STUDENTS IN THE 6TH AND
8TH YEARS AL SCHOOL MUNICIPAL LUIZA ELISA DE MELO

Alana da Silva dos Santos


Bióloga pela Universidade Estadual do Piauí
Especialista em Ciências da Natureza, suas tecnologias
e o mundo do trabalho pela Universidade Federal do Piauí
Barras-Piauí
E-mail: alanasilvasantos97@gmail.com

Cleidiane de Paula Silva


Bióloga pela Universidade Estadual do Piauí
Barras-Piauí
E-mail: cleidipaulla8@gmail.com

RESUMO
O presente artigo propôs a introdução de alimentos orgânicos na ali-
mentação escolar como uma das mais importantes iniciativas para a
produção e consumo sustentável em busca de uma vida saudável,
tendo como alternativa a aceitabilidade e a prática da agricultura or-
gânica. Este trabalho teve o objetivo de investigar a aceitação dos ali-
mentos orgânicos na escola Municipal Luiza Elisa de Melo de Barras-
-PI. Para a realização deste trabalho foram feitas entrevistas verifican-
do a aceitabilidade em relação ao consumo dos produtos orgânicos.
Para finalizar foi feita a análise dos dados organizados em gráficos e
disponibilizados a comunidade escolar, introduzindo palestra com o
objetivo de encontrar soluções, através da conscientização em man-
ter um cardápio saudável.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 207

Palavras-chave: Agricultura ecológica. Produtos orgânicos. Alimenta-


ção saudável.

ABSTRACT
The present article proposed the introduction of organic foods in school
feeding as one of the most important initiatives for the production and
sustainable consumption in search of a healthy life, having as an alter-
native the acceptability and practice of organic agriculture. This work
had the objective of investigating the acceptance of organic foods in the
Municipal School Luiza Elisa de Melo de Barras-PI. For the accomplish-
ment of this work interviews were carried out verifying the acceptability in
relation to the consumption of the organic products. Finally, the analysis
of the data organized in graphs and made available to the school com-
munity was made, introducing a lecture with the objective of finding solu-
tions, through the awareness in maintaining a healthy menu.
Key words: Organic agriculture, organic products, healthy food.

1. Introdução

A concepção de uma “agricultura sustentável” antes de tudo, a


gradativa insatisfação do estado atual da agricultura moderna. Indica
o querer social de procedimentos produtivos que conjuntamente pre-
servem os recursos naturais e forneçam alimentos propícios sem com-
prometer os padrões tecnológicos já obtidos de segurança alimentar.
Resulta de emergentes pressões sociais por um cultivo que não atra-
palhe o meio ambiente e a saúde. (BEZERRA E VEIGA, 2000).
A educação ambiental é considerada de grande importância
aos indivíduos, onde a escola é fundamental nesse processo de in-
centivo na colaboração das tomadas de decisões sobre os problemas
da sociedade (SILVEIRA-FILHO, 2012).
Segundo AZEVEDO:

“A introdução de alimentos de origem familiar orgânica


na alimentação escolar dos sistemas públicos estaduais
e municipais se configura como uma das mais promis-
soras iniciativas para incentivar a produção sustentável
de alimentos e para revitalizar o meio rural” (AZEVEDO,
2012, P.189).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 208

A produção orgânica é fundamentada no principio do equilíbrio


biológico da natureza, que tem proporcionado à subsistência da vida
no universo. Esse sistema viabiliza bons níveis de produtividade, li-
vrando os riscos de contaminação química do agricultor, dos consu-
midores e do meio ambiente. Todavia encontra-se incorporada com
a modernidade da ciência, estimula a ação criativa dos agricultores,
aceitando seus saberes culturais (LUCON E CHAVES, 2004).
A produção de alimentos de modo orgânico é o setor que mais
se amplifica dentro do processo. Demonstrando uma notável possibi-
lidade para os micros produtores, uma vez que acontece uma valori-
zação dos produtos pelo mercado consumidor, tendente a pagar mais
por alimentos aprovados como mais propícios e com contaminação
praticamente nula por substâncias químicas. (RESENDE E JÚNIOR,
2011).
A complexidade no cultivo de alimentos orgânicos vai além da
eliminação de produtos químicos. O processo em consonância as exi-
gências cabíveis, deve cumprir regras referente aos aspectos cultu-
rais, sociais, econômicos e ambientais, protegendo de forma cons-
ciente o uso do solo, da água, do ar e de outros recursos naturais. (SE-
PLAG E CODEPLAN, 2015).
Uma prática pedagógica importante é a implantação de uma
horta orgânica no ambiente escolar. Esta atividade pode atrair a aten-
ção para a implantação de um local na escola, onde a comunidade es-
colar encontre a reconstrução e o desfecho de seus respectivos obs-
táculos, por meio da harmonia, com a compreensão da sociedade.
(TERSO, 2013).
O objetivo deste trabalho foi verificar e analisar a aceitabilidade
do consumo de alimentos orgânicos com alunos de 6º e 8º ano do En-
sino Fundamental. Com a finalidade de melhorar a qualidade nos há-
bitos alimentares com a introdução de produtos orgânicos.

2. Desenvolvimento (procedimentos metodológicos)

A referida pesquisa foi realizada através da coleta de informa-


ções, com o intuito de estimular o consumo de alimentos orgânicos da
escola Municipal Luiza Elisa de Melo situada na localidade Mata fria,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 209

município de Barras PI. A referida Instituição de ensino foi fundada em


1987, a mesma atende as modalidades de Educação Infantil ao 8º ano
do Ensino Fundamental, distribuídas nos turnos manhã e tarde. Sendo
que pela manhã funciona das 7h às 11h horas e a tarde de 1h às 5:20.
Totalizando 120 alunos. Tendo como corpo docente 01 diretora, 01 su-
pervisor, 01 coordenador pedagógico, 18 professores, 01 digitador, 01
zelador e 02 merendeiras.
Os procedimentos metodológicos utilizados dividiram-se em
duas etapas: (1ª) aplicação do questionário e a (2ª) análise dos da-
dos coletados. Para a realização da pesquisa de campo aplicou-se
um questionário com 05 (cinco) questões para 17 (dezessete) alunos,
sendo estes do 6º e 8º ano do Ensino Fundamental, onde forneceram
todas as informações sobre a aceitabilidade com relação ao consumo
de produtos orgânicos. No segundo momento foram analisados os da-
dos coletados e discutidos com a comunidade escolar através de pa-
lestra educativa, demonstrando os resultados em gráficos com a inten-
ção de levar conhecimentos sobre os produtos orgânicos e inserção
dos mesmos na alimentação.

3. Resultados e discussão

O presente trabalho foi distribuído da seguinte forma: 47% dos


alunos de 6º ano e 53% dos alunos de 8º ano do ensino fundamental,
onde foi proposto um questionário como forma de obtenção dos dados
sobre a aceitação da alimentação orgânica na escola.
De acordo com os resultados obtidos na questão, observa-se
que 59% dos alunos apresentam pouco conhecimento sobre os pro-
dutos orgânicos, enquanto 41% demonstram conhecer estes produ-
tos (Gráfico 01).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 210

Gráfico 01: Conhecimento sobre produtos orgânicos

Fonte: (Pesquisa Direta/2019)

Diferentemente do exposto por Casemiro e Trevizan (2009) em


sua pesquisa mais ampla com 204 pessoas no município de Vitória da
Conquista, BA. A maior parte dos entrevistados conheciam os alimen-
tos orgânicos, representados por 90% e os que não têm conhecimen-
to 10%. Nesse sentido, nota-se que os produtos orgânicos precisam
ser mais trabalhados dentro do ambiente escolar para que haja enten-
dimento por parte de todos que compõem o ambiente escolar.
Mediante o questionamento sobre quais métodos são utiliza-
dos para produzir alimentos orgânicos apenas 24% dos discentes re-
lataram conhecer meios e procedimentos para a produção dos produ-
tos. Entretanto, a maioria 76% declarou não identificar estes métodos.
(gráfico 02)
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 211

Gráfico 02: Métodos utilizados na produção de alimentos orgânicos

Fonte: (Pesquisa Direta/2019)

Conforme LIMA E SABINO:

Os métodos e técnicas de agricultura de base ecológica


supõem a elaboração de planos de manejos do agrossis-
tema para a atividade produtiva, sendo todas as ações de
caráter preventivo, ou seja, são ações que visem reduzir
os efeitos que contribuem para a proliferação e descon-
trole de “pragas” e ou doenças. (LIMA E SABINO, 2010,
p.31).

Dessa forma, é de extrema importância compreender métodos


e técnicas antes de produzir e consumir orgânicos. Procurar fontes de
pesquisas é a melhor estratégia para quem desejar cultivar de forma
correta ou até mesmo alimentar-se com produtos de qualidade.
Para Rosar (2013) o contato com a terra e de cultivos de ali-
mentos possibilita aos discentes observar todo desenvolvimento, as
necessidades do plantio ate o período de colher e que a falta de cui-
dados pode atrapalhar a plantação. Os alunos também poderão utili-
zar os alimentos, sendo estimulados a provar verduras e legumes que
eles mesmos cultivaram, experimentando alimentação saudável.
Na ocasião que os alunos foram entrevistados sobre alimenta-
ção escolar acompanhada por um nutricionista obteve-se como per-
centual 59% disseram que a alimentação fornecida à escola conta
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 212

com o auxilio de um especialista em nutrição. Todavia 41% manifesta-


ram que a mesma não tem assistência de um profissional da área grá-
fico (03).

Gráfico 03: Alimentação escolar acompanhada por um nutricionista

Fonte: (Pesquisa Direta/2019)

De acordo com Paiva (2012) observa-se que nas instituições


de ensino, onde há especialista em nutrição envolvido na preparação
do cardápio tem maior presença de frutas, verduras e legumes, e me-
nor oferta de alimentos no grupo de gorduras e sacaroses.
Destaca-se a importância do profissional para a escolha dos
alimentos adequados, proporcionando satisfação na qualidade no âm-
bito alimentação saudável, partindo do ambiente escolar para vida em
sociedade.
Para Rosar (2013) é considerável estimular a introdução edu-
cação alimentar e nutricional no currículo e na rotina dos métodos edu-
cacionais, determinando o trabalho educativo dinâmico, participativo,
agradável e pluridisciplinar.
No que se refere à pergunta acerca de espaço disponível para
executar horta orgânica 88% dos interrogados pronunciaram possuir
recinto para plantio. Apesar disso, 12% contravieram não haver local
para a plantação (gráfico 04).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 213

Gráfico 04: Espaço para fazer horta orgânica

Fonte: (Pesquisa Direta/2019)

A horta introduzida no ambiente escolar viabiliza oficina que


oportuniza o progresso de várias ações educativas em educação am-
biental unificando teoria e pratica de maneira contextualizada, ajudan-
do no procedimento de ensino aprendizagem e estreitando vínculos
por intermédio do incentivo ao trabalho em equipe e cooperando en-
tre os agentes sociais empenhados. (MORGADO, 2006) A escola que
tem horta consente determinar uma ligação diferenciada com os ali-
mentos, através do despertar atenção para sua produção por meio do
saber da cadeia alimenta e a origem dos produtos. (COELHO E BÓ-
GUS, 2016).
Portanto, a inserção de horta no ambiente escolar é extrema-
mente relevante tanto para o estímulo no consumo destes alimentos
como também ferramentas enriquecedoras, tendo assim melhor com-
preensão em conteúdos escolares que envolvam o tema.
No que diz respeito a questão sobre quais os benefícios dos ali-
mentos para a vitalidade humana, 35% testemunharam compreender
as vantagens dos alimentos. Entretanto, 65% salientaram desconhe-
cer as utilidades dos produtos para a saúde (gráfico 05).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 214

Gráfico 05: Benefícios dos alimentos orgânicos para a saúde

Fonte: (Pesquisa Direta/2019)

LOSS E ROMAGNHA afirma:

Como no meio ambiente a saúde também é beneficia-


da no cultivo orgânico. Os agricultores associam alimen-
tação orgânica à qualidade de vida, pois com o consumo
de produtos os riscos de contaminação com agrotóxicos
são reduzidos, permitindo assim uma saúde mais segu-
ra. (LOSS E ROMAGNHA, 2008, p. 82).

Nessa perspectiva o consumidor deve atentar-se aos múltiplos


benefícios oferecidos pelos produtos orgânicos, tanto ao ser humano
ao absorver os alimentos como para o meio ambiente em não ser da-
nificado pelo uso de produtos químicos.

4. Considerações finais

Mediante os resultados adquiridos com a coleta de dados po-


de-se concluir que a maioria dos discentes pouco conhece o alimento
pelo termo “orgânico”, mesmo mencionar consumirem esses tipos de
produtos, sendo que os mesmos apresentam pouco conhecimento de
como são produzidos.
Em relação horta na escola, a esta poderia contribuir tanto no
âmbito da alimentação saudável como proporcionar o aprendizado,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 215

mas os professores descartam as hortas com um recurso didático no


ambiente escolar, quando poderia abordar a temática sobre orgânicos
de forma prática. Eles preferem manter aulas tradicionais deixando de
lado um recurso existente no espaço escolar.
Diante disso, conclui-se que é necessária a iniciativa por par-
te da equipe escolar planejar e colocar em prática o manuseio da hor-
ta como método didático que promova aprendizado a todos os envol-
vidos no processo de ensino e aprendizagem.
Portanto, a horta na escola é fundamental, pois colabora de
maneira positiva, abrindo espaço para o cultivo sustentável, além de
possibilitar aprendizado contínuo em relação consumo de qualidade.

REFERÊNCIAS

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 217

CAPÍTULO 15

ADOLEQUÊ: PROMOÇÃO DA SAÚDE POR


MÍDIAS SOCIAIS PARA ADOLESCENTES.

ADOLEQUÊ: HEALTH PROMOTION THROUGH


SOCIAL MEDIA FOR TEENAGERS.

Gisele Monteiro Viana


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém - PA
https://orcid.org/0000-0002-0524-2012
gisele.viana@ics.ufpa.br

Jonathan Rodrigo Santos da Silva


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém - PA
https://orcid.org/0009-0000-3339-9618
jonathan.silva@ics.ufpa.br

Ingred Costa de Lima


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0009-0005-1054-8816
ingred.lima@ics.ufpa.br

Evilyn Lilian Sampaio de Paiva


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0009-0004-8720-2007
evilyn.paiva@ics.ufpa.br
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 218

Domingos Pinto Pimentel


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0000-0001-9466-0461
domingos.pimentel@ics.ufpa.br

Danrley Roberto Lima Carvalho


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0009-0006-2074-0518
danrley.carvalho@ics.ufpa.br

Fabricio Viana Prestes


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciência da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0009-0004-4896-0710
fabricio.prestes@ics.ufpa.br

Vanessa Jhulyana Alves Nascimento


Universidade Federal do Pará
Instituto Ciências da Saúde
Belém - PA
https://orcid.org/0009-0002-0798-2951
vanessa.nascimento@ics.ufpa.br

Erica Souza da Silva


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém-PA
https://orcid.org/0009-0006-4909-0774
erica.silva@ics.ufpa.br

Tarciso Feijó da Silva


Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Faculdade de Enfermagem
Rio de Janeiro-RJ
https://orcid.org/0000-0002-5623-7475
tarcisofeijo@yahoo.com.br
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 219

RESUMO
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera adolescen-
te a pessoa que possui entre 12 e 18 anos de idade. A adolescên-
cia representa um período de transição que envolve além da matu-
ração sexual, outras mudanças físicas, psicológicas e sociais. Dian-
te das particularidades apresentadas nessa faixa etária, a atenção in-
tegral à saúde dos adolescentes torna-se fundamental para garantir
promoção de saúde e prevenção de agravos para os jovens. O pre-
sente trabalho tem como objetivo relatar a experiência de acadêmicos
de enfermagem no desenvolvimento de conteúdos de uma mídia so-
cial para divulgação de conteúdo sobre a promoção da saúde e pre-
venção de doenças para o público adolescente. As temáticas aborda-
das envolvem crescimento e desenvolvimento saudável, alimentação
e nutrição, exercícios físicos, prevenção de violência, bullying, racis-
mo, infecções sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescên-
cia. A promoção da saúde para os adolescentes visa a melhoraria da
qualidade de vida e tomada de decisão pautada na informação. Assim,
as ações de saúde repercutem a longo prazo por meio da ferramenta
criada pelos discentes, denominada ‘AdoleQUÊ’. Com a plataforma in-
terativa diferentes dúvidas podem ser sanadas, ocorre a ampliação e
circulação do conhecimento e é possível um maior alcance de conteú-
dos que versam sobre educação em saúde e que são relevantes para
a formação cidadã, crítica e reflexiva dos adolescentes.
Palavras-chave: Enfermagem; Saúde do Adolescente; Educadores
em Saúde.

ABSTRACT
The Child and Adolescent Statute (ECA) considers an adolescent to
be a person between the ages of 12 and 18. Adolescence represents
a period of transition that involves, in addition to sexual maturation,
other physical, psychological, and social changes. Given the particu-
larities presented in this age group, comprehensive adolescent health
care becomes essential to ensure health promotion and disease pre-
vention for young people. This paper aims to report the experience of
nursing students in developing the content of a social media for dis-
semination of content on health promotion and disease prevention for
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 220

adolescents. The themes addressed involve healthy growth and de-


velopment, food and nutrition, physical exercise, violence prevention,
bullying, racism, sexually transmitted infections, and teen pregnan-
cy. Health promotion for adolescents aims to improve their quality of
life and decision-making based on information. Thus, health actions
have long-term repercussions through the tool created by the students,
called ‘AdoleQUÊ’. With the interactive platform different questions can
be answered, the expansion and circulation of knowledge occurs, and
it is possible a greater reach of content from different themes that deal
with health education and are relevant to the civic, critical and reflec-
tive education of adolescents.
Keywords: Nursing; Adolescent Health; Health Educators.

Introdução

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera que a


adolescência inicia aos doze (12) anos completos e estende-se até os
dezoito (18) anos de idade (BRASIL, 1990). Dentre as fases da vida, a
mais turbulenta para muitos é esse período, marcado por várias transi-
ções psicológicas e fisiológicas, além de estar ligado a mudanças rela-
cionais, faz parte da construção da identidade e influência, em alguns
casos, na formação de conflitos que estão diretamente relacionados
ao comportamento de desse indivíduo (FREITAS, 2021).
A adolescência, vai muito além de uma fase de transição na
qual tem seu período de início logo após o fim da infância, nela ocorre
um período de desenvolvimento, de mudanças físicas e psicológicas
na qual chamamos de puberdade. Nos meninos, a puberdade ocorre
normalmente entre 9 e 14 anos, nas meninas entre 8 e 13 anos. A pu-
berdade está quase que inteiramente ligada a processos hormonais,
para que ocorra faz-se necessário o acontecimento de dois eventos
hormonais, a gonadarca e a adrenarca. O primeiro é responsável pe-
las transformações físicas da puberdade e o desenvolvimento de ca-
racteres sexuais secundários, já o segundo está relacionado a pubar-
ca, crescimento de pelos, surgimento de acnes, odor corporal, e é im-
portante destacar que são eventos fisiologicamente diferentes e inde-
pendentes. (MDSAÚDE, 2022).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 221

Morais et al. (2020) afirma que a adolescência vai além da


transformação física, ele fala sobre alterações emocionais e sociais, é
a fase que o adolescente tem um mar de descobertas e dificuldades.
Visto que nessa fase ocorrem muitos conflitos familiares que podem
decorrer devido ao início da curiosidade e descobertas sexuais, se tor-
nando vulneráveis a Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s),
da pressão que a sociedade coloca neles para o amadurecimento, iní-
cio de contato de coisas novas, que antes na sua infância não tinham
conhecimento. É nessa fase também que ocorre a modelação e for-
mação de atitudes, valores e comportamento, resultando em caracte-
rísticas pessoais tais como a responsabilidade e futuro nos estudos e
carreira.
De acordo com o Sistema Nacional de Atendimento Socioedu-
cativo (SINASE), instituído em 2012, a atenção integral à saúde dos
adolescentes garante a inclusão de ações para promoção da saúde
do adolescente como a prevenção de agravos e doenças, saúde men-
tal, saúde sexual, além de garantir acesso a todos os níveis de aten-
ção à saúde e capacitação dos profissionais para melhor atendimen-
to voltada para os jovens e suas famílias. A produção do cuidado do
adolescente deve ocorrer nas unidades de Atenção Primária à Saú-
de (APS). Neste cenário, o profissional deve ter um olhar atento às di-
versas particularidades que envolvem a adolescência a qual, garan-
tindo a singularidade, o respeito e a atenção que este público neces-
sita. Para evitar estigmas sobre determinados comportamentos orien-
ta-se construção de vínculo e relações horizontais, de tal forma a evi-
tar estranhamentos e afastamento dos adolescentes e profissionais
de saúde. Neste aspecto, o acolhimento emerge como estratégia que
viabiliza uma prática de construção de vínculos entre o profissional, o
adolescente e sua família. Permeado pela escuta ativa e qualificada
é possível realizar atividades de promoção da saúde que sejam capa-
zes de integrar, humanizar e responder às reais necessidades de edu-
cação em saúde identificadas. (SILVA et al., 2020).
Nesse contexto, a escola, por exemplo, passa a ser um im-
portante espaço para atividades de promoção à saúde, já que neste
ambiente ocorrem processos de socialização e é possível evidenciar
questões sociais, sexuais, nutricionais, emocionais, de violência ou de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 222

gênero afetas aos adolescentes e que implicam no seu desenvolvi-


mento. Este cenário é um ambiente oportuno para inserção de ações,
cujo foco deve ter como objetivo a garantia da integralidade, aprendi-
zados significativos e mudanças de comportamento. Incorre em pen-
sar que a atenção ao adolescente deve levar em conta os aspectos
sociais, culturais internacionais e o entendimento que os mesmos têm
da vida, da saúde e do mundo. A falta de cuidado em tempo oportu-
no pode ser uma barreira para qualidade das informações que o ado-
lescente detém e que são importantes para que ele identifique possí-
veis problemas ou situações que podem ser prejudiciais para sua saú-
de (WASHINGTON, 2022).
Segundo Bastos et al. (2022) a implementação de tecnologias
educativas fortalece o desempenho das escolas no trabalho com a
promoção da saúde e prevenção de doenças, gera resultados diretos
na saúde dos jovens, como por exemplo o estímulo à prevenção de in-
fecções sexuais. No percurso que envolve a prevenção de doenças, é
de extrema importância estabelecer um vínculo harmonioso com o in-
divíduo, principalmente por se tratar de uma fase de desenvolvimento
e de tantas incertezas, visando o cuidado centrado na criança e ado-
lescente, buscando, também, envolver a família neste processo. Por-
tanto, é dever do profissional da saúde trabalhar a prevenção de do-
enças de forma integral e pautada na confiança, seja através dos pro-
gramas ofertados nas unidades de saúde, como a consulta de Enfer-
magem ou as salas de vacinas, mas, também, através de momentos
oportunos, criados pelo profissional ou por demanda espontânea, em
que se faz possível, assim como em consultas, investigar sinais físi-
cos, emocionais ou relacionados a um estilo de vida que pode ser pre-
judicial a curto ou longo prazo (SIMÕES, 2021).
A internet e todas as plataformas que a partir dela são possí-
veis mobilizar, evoluíram o acesso tem sido garantido nas diferentes
regiões do Brasil (ainda que em algumas de forma incipiente) e na atu-
alidade a depender do que se pretende construir é possível a criação
colaborativa. Onde antes só era possível acessar determinadas infor-
mações, agora é possível criar e recriar novas informações, contribuir
e colaborar. Ainda nesse contexto, as mídias de informação e comuni-
cação oferecem múltiplos caminhos pedagógicos e a internet tem se
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 223

mostrado uma alternativa viável para se chegar a tais caminhos (JA-


COBI, 2019; SOUSA, 2018).
A chegada da inovação tecnológica juntamente com os disposi-
tivos móveis, sem dúvidas, alterou a forma de pensar, de se comunicar
e se relacionar deixando a interação mais fluida e transparente, além
de romper as barreiras geográficas. Nas redes sociais, o repasse de
informações não é mais frontal ou linear do tipo emissor-receptor. Em
relação ao ensino-aprendizagem, a internet e as mídias sociais, cons-
tituem-se ferramentas importantes de apoio ao letramento informacio-
nal e ao aprender, além de serem conteúdos de aprendizagem neces-
sários aos aprendizes. Para muitos indivíduos, as mídias sociais são
a principal fonte de informação e eles precisam saber usá-las efetiva-
mente e de forma crítica (GASQUE, 2016).
Nesta vertente, uma das estratégias viáveis para atingir os ado-
lescentes na perspectiva da promoção da saúde é a internet e as di-
ferentes mídias sociais existentes. As mídias sociais tornaram-se as
principais ferramentas que são utilizadas no que se refere à transmis-
são de informações aos adolescentes. Nesse ínterim, o seu uso pode
encurtar as distâncias e proporcionar um maior alcance do público
adolescente em qualquer lugar, levando conhecimento acerca de as-
suntos indispensáveis que os envolvem nos dias atuais.
Desta forma, este trabalho tem por objetivo relatar a experiên-
cia de acadêmicos de enfermagem no desenvolvimento de conteúdos
de uma mídia social para divulgação de conteúdo sobre promoção da
saúde e prevenção de doenças para o público adolescente.

Desenvolvimento

O AdoleQUÊ é uma página no Instagram que tem por objetivo


abordar de forma lúdica as principais temáticas e dúvidas sobre o pe-
ríodo da adolescência e puberdade, com foco na promoção da saú-
de, na prevenção de doenças, no esclarecimento sobre o crescimen-
to e o desenvolvimento saudável, na integração do adolescente com
os serviços de saúde e na consolidação de parcerias que contribuam
para a ampliação do acesso à informação e a integralidade do cuida-
do (Figura 1).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 224

Figura 1 - Página “principal” da mídia social AdoleQUÊ

Fonte: @adoleque, 2023.

A ideia da criação da página surgiu com o objetivo de sanar dú-


vidas e levar questões que muitas vezes não são abordadas com o
adolescente no âmbito familiar e escolar. A forma de abordar essas
questões por meio de uma rede social se torna extremamente impor-
tante, já que esse modo de trabalho é de fácil acesso e permite utiliza-
ção de estratégias didáticas.
A escolha do nome AdoleQUÊ foi pensada pela transição da in-
fância para a adolescência. A parte inicial ‘Adole’ faz uma mistura des-
ses momentos da vida. A primeira seria a Adoleta, que é uma brinca-
deira infantil brasileira onde os participantes fazem formação em roda,
batem a mão do outro participante e cantam a música. O segundo se-
ria de Adolescente, uma etapa da nossa vida em que há um amadu-
recimento, é um período de transição no desenvolvimento físico e psi-
cológico, em que o ser humano deixa de ser criança e entra na idade
adulta. A parte final ‘Quê’ está relacionada a dúvidas, medos, sensa-
ções que todos passamos durante esse período e são essas questões
que a página tem como objetivo esclarecer.
A divulgação ocorreu de duas formas principais, inicialmente
dentro da rede social escolhida pelos alunos da equipe procurando al-
cançar outros projetos dentro da própria faculdade de enfermagem,
assim como, através da distribuição de um folder com o objetivo do
AdoleQUÊ em escolas públicas que possuem adolescentes matricula-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 225

dos circunscritas à unidade de APS. A ideia dos acadêmicos é avançar


em seguida com a divulgação para demais escolas públicas e priva-
das, utilizando para isso a própria mídia social construída, lives, chats
e outras ferramentas.
A proposta apresentada tem a pretensão futura de desenvol-
ver parcerias interinstitucionais, por meio de transmissões ao vivo, in-
dicações de filmes/séries/livros que abordam temáticas sobre a ado-
lescência, planejar ações de promoção da saúde e prevenção de do-
enças com apoio de escolas do município e do estado, assim como
iniciar o processo de construção de podcast que tenha como finalida-
de discutir as principais temáticas e necessidades apresentadas pe-
los adolescentes, valorizando as questões sociais, econômicas e cul-
turais da região ao qual estão inseridos.
Por meio da divulgação científica em redes sociais é possível
desenvolver e aprofundar temas já abordados em atividades de pro-
moção da saúde e prevenção de doenças, tanto no campo da saúde,
como no campo da educação. Assim, depreende-se que esta pode ser
uma forma oportuna de apresentar aos alunos informações relevantes
sobre temáticas tão necessárias para o período de vida que estão vi-
venciando e que são fundamentais para que tenham um crescimento
e desenvolvimento saudáveis.
A página possui informações pautadas na ciência e já aborda
diferentes temas (Quadro 1), estando aberta às sugestões dos pró-
prios adolescentes e outros seguidores. As postagens apresentam um
design próprio criado pela equipe, composto pela capa, texto introdu-
tório para a postagem (Figura 2), página inicial da teoria abordando
perguntas e respostas para o tema escolhido e páginas de continua-
ção da teoria.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 226

Quadro 1 - Relação de “temas abordados” na mídia social AdoleQUÊ.


Adolescência e puberdade
Vacinação
Prática de exercícios físicos
Saúde mental
Consulta Integral de Saúde do Adolescente
Caderneta de Saúde do Adolescente
Alimentação saudável
Uso de álcool e tabaco
Bullying e violência
Crescimento e desenvolvimento
Racismo
Violência intrapessoal e interpessoal
Fonte: @adoleque, 2023.

Figura 2 - Postagem sobre “Bullying” na mídia social AdoleQUÉ

Fonte: @adoleque 2023.

Além das postagens supracitadas, a página contém também


outros tipos de conteúdos que agregam conhecimento ao processo de
ensino, aprendizagem/conhecimento e que podem ser utilizados como
material de apoio por educadores e profissionais de saúde dentre eles:
“Adolescentes Notáveis” que são publicações com histórias inspirado-
ras de adolescentes que decidiram fazer coisas incríveis para o mun-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 227

do (Figura 3); “Ações”, onde são apresentadas atividades presenciais


realizadas em ambiente escolar e da saúde, com foco na promoção da
saúde e prevenção de doenças, assim como feiras, rodas de conversa
e reuniões da equipe; “Dicas” através dos stories trazemos indicações
de filmes, séries, músicas, livros,guias telefones e sites úteis para os
adolescentes; e “Quiz” por meio dos stories são abertas caixas de per-
guntas e respostas que dialogam com as postagens e conteúdos dis-
ponibilizados. Esses, tem por objetivo atrair o público jovem e também
fazer com que esse conhecimento seja fixado (Figura 4).

Figura 3 - Publicação “Adolescentes Notáveis”

Fonte: @adoleque, 2023

Figura 4 - “Ações, Dicas e Quiz” da Mídia Social AdoleQUÊ

Fonte: @adoleque, 2023.


DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 228

Discussão

À vista disso, trabalhar com os jovens na perspectiva de pro-


mover sua saúde integral significa investir em ações e estratégias va-
riadas que podem melhorar sua qualidade de vida: comunicação, es-
porte, cultura, lazer, educação, assistência e segurança. O investi-
mento na saúde dessa população repercute tanto no presente quanto
no futuro, uma vez que os comportamentos iniciados nessa fase são
cruciais para o restante da vida. O planejamento e o desenvolvimento
de ações de promoção e proteção da saúde são fortalecidos na APS
(BRASIL, 2013).
Pode-se ressaltar, que a promoção da saúde é um processo
educativo que envolve as relações entre os profissionais de saúde, os
gestores que apoiam esses profissionais e a população que necessi-
ta construir seus conhecimentos e aumentar sua autonomia nos cui-
dados individuais e coletivamente. Assim, visa o desenvolvimento crí-
tico e reflexivo do indivíduo sobre sua saúde, capacitando-o para opi-
nar nas decisões sobre ela (LIMA, et al., 2021). As mídias sociais têm
se apresentado como uma ferramenta de fácil acesso e que contribui
para a disseminação de informações de qualidade, sendo utilizadas
para trocas de conhecimento (LIMA, et al., 2021). Com isso, o Adole-
QUÊ além de ser uma página de divulgação do conhecimento, busca
ser uma plataforma interativa, sanando dúvidas tanto dos adolescen-
tes, quanto dos pais, educadores e profissionais de saúde que podem
necessitar de uma orientação e/ou apoio acerca de temáticas especí-
ficas que envolvem este público.
A Internet tem-se tornado um ambiente interacional privilegia-
do, capaz de provocar mudanças profundas no comportamento es-
trutural social, derrubando barreiras geográficas, culturais e religiosas
(SOUSA, 2018). Isso tudo para aproximar as pessoas dos eventos co-
tidianos, e interpretá-los de forma que se possa tirar disso lições para
aprimoramento do senso crítico (SOUSA, 2018).
Com isso, as Diretrizes de Política para a Aprendizagem Móvel, di-
vulgada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura (UNESCO) em 2014, expõe os motivos para o incentivo do uso
das tecnologias móveis isoladamente ou em combinação com outras TIC,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 229

a fim de permitir a aprendizagem em qualquer hora e em qualquer lugar.


(FRANÇA et al., 2019). Portanto, se evidencia a importância da divulga-
ção dessas informações para o público-alvo, atendendo as necessidades
dos adolescentes, coletando informações que nem sempre são conver-
sadas com os pais e/ou responsáveis, e se necessário, o comparecimen-
to a uma unidade básica para um melhor atendimento.
Na atualidade, mais que nunca, faz-se necessário a construção
de plataformas cujo conteúdo seja pautado na ciência e que tenham
diretrizes sólidas pautadas na ética e segurança dos nossos jovens.
Os recursos tecnológicos estimulam a construção de novos conheci-
mentos e de forma participativa, assim pode-se fazer o uso da tecno-
logia de forma crítica, a fim de facilitar o processo de construção do
conhecimento e para treinamento de competências diversas, orienta-
das por elementos que devem ser inseridos para alcance do objetivo
da aprendizagem. (ARAÚJO et al., 2022)
O uso de mídias sociais na formação de enfermeiros deve ser
observado a partir de competências de tecnologias, metodologias que
abraçam os recursos digitais e competências humanas, sendo um po-
tencial instrumento para o processo de ensino em saúde no campo da
enfermagem. (ARAÚJO et al., 2022)

Considerações Finais

Diante disso, o trabalho desenvolvido tem desempenhado um


papel crucial para a atenção integral à saúde dos adolescentes, já que
a adolescência representa uma fase de constantes transformações in-
ternas e externas. Por isso, na plataforma “Instagram”, por meio do
perfil “AdoleQUÊ”, pode-se difundir conhecimentos científicos e trocar
experiências com os adolescentes, pais, comunidade escolar e acadê-
mica, amigos e familiares e qualquer usuário que se interesse pela te-
mática para que possa sanar as dúvidas acerca do processo da ado-
lescência, além de sugerir conteúdos para enriquecer o conhecimen-
tos dos seguidores, por meio de divulgação de informações culturais,
dicas de sites e livros para promover saúde e prevenir doenças.
Nessa perspectiva, a partir dessas medidas eficientes, busca-
-se o alcance do maior número de indivíduos nas redes sociais e a
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 230

contribuição com trabalhos científicos para que possa ser esclarecido


o viés do desenvolvimento do público adolescente, suas característi-
cas, desafios, formas de integração aos serviços de saúde e alterna-
tivas saudáveis para amenizar as incertezas que surgem nessa fase
da vida.

Referências

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 232

CAPÍTULO 16

AS AUDIÊNCIAS NA PANDEMIA
E O JUÍZO 100% DIGITAL

AUDIENCES IN THE PANDEMIC AND


THE 100% DIGITAL JUDGMENT

Antônio Pedro do Nascimento Medeiros


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
https://orcid.org/0009-0000-3532-9648
antoniopedronascimento20@gmail.com

Aryellen Fernandes Brito Vasconcelos


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
https://orcid.org/0009-0002-1890-0560
ary.fbv@gmail.com

João Victor Araújo Barros


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
https://orcid.org/0009-0008-3633-2142
araujovito922@gmail.com

Thatiany Gonçalves de Melo


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
https://orcid.org/0009-0005-7874-2455
thatiany.melo123@gmail.com

Luana da Cunha Lopes


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Docente (CHRISFAPI)
Piripiri-PI
https://orcid.org/0000-0001-9343-9685
luanahlopes@hotmail.com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 233

RESUMO
O presente artigo representa um estudo acerca da aplicação tecnoló-
gica nas práticas das audiências, desde o período de pandemia, com a
implementação do juízo 100% digital. O objetivo geral é mostrar como
a atualização tecnológica trazida pela pandemia no âmbito judiciário
que altera o cenário processual. Em sequência se vem discutir a eficá-
cia da implementação tecnológica na dinâmica jurisdicional. Hodierna-
mente, o profissional de direito e sua relação com a tecnologia frente
a aplicação do juízo 100% digital, passa por processos de adaptações
para a nova rotina de trabalho no Poder Judiciário. A metodologia utili-
zada foi uma pesquisa bibliográfica utilizando livros, artigos científicos
e materiais que sejam pertinentes ao assunto. O trabalho se direciona
ao âmbito do Direito Processual e possui relevância para outros tra-
balhos acadêmicos futuramente. Vale frisar que a temática ainda deve
ser aprimorada com capacitações para os profissionais que trabalham
diretamente com essas atividades jurisdicionais.
Palavras-chave: Tecnologia; Justiça; Celeridade.

ABSTRACT
The present article represents a study about the technological applica-
tion in the practices of the audiences, since the pandemic period, with
the implementation of the 100% digital judgment. The general objec-
tive is to show how the technological update brought by the pandemic
in the judiciary that changes the procedural scenario. Next, the effec-
tiveness of technological implementation in jurisdictional dynamics is
discussed. Nowadays, the legal professional and his relationship with
technology in the face of the application of 100% digital judgment, un-
dergoes adaptation processes for the new work routine in the Judicia-
ry. The methodology used was a bibliographical research using books,
scientific articles and materials that are relevant to the subject. The
work is directed to the scope of Procedural Law and has relevance for
other academic works in the future. It is worth emphasizing that the
theme still needs to be improved with training for professionals who
work directly with these jurisdictional activities.
Keywords: Technology; Justice; Celerity.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 234

1 INTRODUÇÃO

O atual trabalho tem a pretensão de mostrar como a atualiza-


ção tecnológica trazida pela pandemia, no âmbito judiciário, de forma
objetiva, altera o cenário processual. Da mesma forma, tem como ob-
jetivo discutir a implementação tecnológica da nova dinâmica proces-
sual e jurisdicional aplicada no sistema jurídico brasileiro.
O tema escolhido tem-se por relevância o sentido de que, com
o processo pandêmico que passamos a um tempo atrás, a tecnologia
foi crucial para o bom desenvolvimento das lides processuais no Bra-
sil. O atual estudo abrange a Resolução 345 do ano de 2020, no qual
versa sobre o Juízo 100% Digital e especificamente fala se tal atuali-
zação mostra-se eficiente no combate a procrastinação de processos.
Propõe-se também, a analisar como os juristas estão se adaptando ao
novo modelo online de serviços judiciários dentro do direito brasileiro.
Trazendo dessa forma uma importante problemática: quais os
principais motivos que justificam o fluxo virtual dos processos judiciais
atualmente. Sendo discutido de maneira geral a implementação tecno-
lógica na nova dinâmica processual e jurisdicional aplicada no sistema
jurídico brasileiro com a Pandemia do COVID 19.
Para este estudo, será utilizada a doutrina de vários autores, ar-
tigos científicos, revistas eletrônicas, publicações, manuais, anuários,
sites, leis descentralizadas, legislação, jurisprudência, enfim, todo ins-
trumento promulgado, então será realizada uma pesquisa bibliográfi-
ca de forma oportuna, regular e razoável, levando em consideração o
assunto que será discutido.
A temática abordada é recente no direito brasileiro, mas, possui
repercussão em áreas específicas do direito, como, por exemplo, Direi-
to Processual Civil e Direito Processual Trabalhista. Entender a pesqui-
sa é a forma de aquisição do conhecimento que resolve o problema e,
é, portanto, de extrema importância demonstrar como a tecnologia no
meio judiciário facilitou, deu acessibilidade e celeridade aos processos.

2 O SURGIMENTO DO JUÍZO 100% DIGITAL

Inicialmente, falar-se-á sobre a terrível pandemia da COVID-19


que asolou todo o mundo, tirou milhares de vidas e cerceou o direi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 235

to de ir e vir das pessoas, pelo fato de ser uma doença extremamen-


te contagiosa.
Então, por causa desse caso furtuito ou de força maior, o Juí-
zo 100% Digital foi idealizado e posteriormente criado como possibili-
dade de o individuo acessar a justiça com o auxilio da tecnologia sem
ter que comparecer presencialmente nos fóruns, já que, nesse modelo
digital todos os atos processuais são praticados unicamente por meio
eletrônico e remoto, ou seja, usando a internet.
Entretanto, quais processos podem tramitar pelo Juízo 100%
Digital? Os processos que podem tramitar são aqueles das varas e
dos juizados que adotarem o “Juízo 100% Digital”, seja qual for a es-
pécie. Logo, pode ser trabalhista, ou da área cível, de família, previ-
denciária, dentre outras.
Como preconizado pelo CNJ, o Juízo 100% Digital traz um gran-
de avanço para a tramitação dos processos, podendo se considerar que
é o aparecimento de uma nova justiça e é exatamente sobre isso que
o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – TJDFT falou:

O Juízo 100% Digital só foi possível graças à implemen-


tação do Processo Judicial Eletrônico - PJe, que marca o
início de uma nova Justiça.

O judiciário ampliou o rol de atividades remotas, adotando um sis-


tema de teletrabalho para magistrados e funcionários públicos. A maior
diferença foi a transformação das audiências judiciais diárias, corriquei-
ras e numerosas, no mundo pré-pandemia, em audiências onlines, com
juízes, servidores, partes e advogados usando uma plataforma tecnoló-
gica para transmissão em tempo real de sons e imagens.
As audiências e julgamentos são realizados integralmente por
videoconferência, tornando o processo em andamento mais rápido, o
qual não precisa parar, pois essas ações não precisarão ser realiza-
das na presença física dos litigantes envolvidos.
Ou seja, o sistema de audiência online pode ser empoderado
e tem interesse em uma análise prática da Resolução nº 345/2020 do
Conselho Nacional de Justiça, o Juízo 100% Digital, discutindo sua im-
plantação e funcionamento no judiciário brasileiro.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 236

2.1 O NOVO NORMAL

A Corregedoria Geral da Justiça, no mês de outubro no ano de


2020, autorizou a realização de audiências virtuais durante o período
pandêmico do Coronavírus. Pórem, cada tribunal tem suas regras es-
pecíficas para as audiências em sua região, ou seja, os procedimen-
tos podem variar um pouco de um tribunal para outro. Daí em diante,
várias etapas foram feitas para trazer melhoras nesse serviço remoto,
como por exemplo: uma audiência de teste para tratar de dúvidas, um
processo detalhado para audiências virtuais e o Manual da Plataforma
Cisco Webex - uma ferramenta para o funcionamento de tais audiên-
cias, a partir do ano de 2021.
Todavia, nada voltará ao “normal”. Este é o início de uma nova
era, deve-se aprender com o “novo normal” a sair dos tempos de crise.
Algumas mudanças, embora reversíveis, irão influenciar muito a cultu-
ra e os costumes jurídicos de advogados e defensores, magistrados e
juízes, deputados e funcionários públicos, e assim essa forma se tor-
nará permanente.
Para os envolvidos na audiência, a economia do simples fato
de as partes não precisarem mais se reunir no mesmo local é um dos
principais aspectos positivos que os promotores de justiça destacam
em sua experiência de audiência virtual. Economiza-se tempo e recur-
sos quando, por exemplo: não há necessidade de transferir presos,
veículos e policiais para o tribunal ou usar grandes espaços para es-
pectadores, ar condicionado e iluminação.
A segurança de todos os participantes das audiências é outro
dos aspectos positivos da videoconferência. Lembrando que, na me-
dida em que as pessoas não têm a necessidade de se deslocar até o
fórum, ficam mais seguras em suas casas ou se dirigindo até o escri-
tório do advogado. Acrescenta-se, sobre esse ponto, o fato de que a
testemunha não precisa ficar em frente, às vezes, dos próprios acusa-
dos, algo que gera insegurança para as partes.
É importante frisar, que não haverá mudança do juízo em que
tramita a ação, e que, mesmo após a adesão, as partes poderão se re-
tratar da opção, por única vez, até a prolação da sentença, permane-
cendo válidos os atos processuais já praticados. O Juízo 100% Digital
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 237

só foi possível graças à implementação do Processo Judicial Eletrôni-


co - PJE, que marca o início de uma nova Justiça.

2.2 RESOLUÇÃO N° 345 DE 2020

Observa-se que por meio da Resolução 378, de 3 de setembro


de 2021, o CNJ aprimorou a Resolução 345/2020 e incorporou dispo-
sitivos do artigo primeiro, esclarecimento a conduta pessoal (ou não
eletrônica) também é permitida, se necessário. Requeridas essas pro-
jeções, inseridas na resolução 378/2021, são sinérgicas e incentivam
as partes, magistrados e juízes a adotarem o “Juízo 100% Digital”, ad-
vogados, pois demonstraram flexibilidade no que diz respeito ao apa-
rente dever de se engajar inteiramente na conduta eletrônica, espe-
cialmente quando tal conduta prática é inerentemente impossível.
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a ex-
plicação de o que é e como realmente funciona o “Juízo 100% Digi-
tal”, está a seguir:

É a possibilidade de o cidadão valer-se da tecnologia


para ter acesso à Justiça sem precisar comparecer fisi-
camente nos Fóruns, uma vez que, no “Juízo 100% Di-
gital”, todos os atos processuais serão praticados exclu-
sivamente por meio eletrônico e remoto, pela Internet.
Isso vale, também, para as audiências e sessões de jul-
gamento, que vão ocorrer exclusivamente por videocon-
ferência. (CARTILHA “JUÍZO 100% DIGITAL DO CNJ).

A abrangência do processo por meio do “Juízo 100% Digital”


não se limita à celeridade, mas atinge também a noção de que o bom
andamento deve ser proporcionado pela alavancagem dos recursos
técnicos existentes no processo judicial. Cumprir o “Juízo 100% Digi-
tal” é uma escolha das partes, o requerente faz escolhas e expressa
seus desejos ao fazer uma reclamação.
O autor ao ajuizar a ação, anúncia que pretende conduzir o pro-
cesso de forma eletrônica e remota. O requerido pode aceitar, ou expres-
sar sua vontade de participar do “Juízo 100% Digital” ou mostrar sua re-
jeição em relação a isso.Conforme o artigo 3º da Resolução 345/2020:
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 238

Art. 3º A escolha pelo “Juízo 100% Digital” é facultativa


e será exercida pela parte demandante no momento da
distribuição da ação, podendo a parte demandada opor-
-se a essa opção até o momento da contestação.

A redação atual da Resolução nº 345/2020 do CNJ limita a


ocorrência das audiências e sessões no “Juízo 100% Digital” ao am-
biente da unidade judiciária – o que sabidamente não é o intuito da
norma. Essa conclusão é alcançada da leitura do parágrafo único do
mesmo artigo, que faculta às partes requerer ao juízo a participação
na audiência em sala disponibilizada pelo Poder Judiciário.
Isso significa dizer que as partes não estão obrigadas a com-
parecer à audiência em ambiente do Poder Judiciário (videoconferên-
cia – art. 2º, I, da Resolução nº 354/2020 do CNJ), pois podem estar
em qualquer outro lugar.
A intenção da norma é que na hipótese das partes não terem
acesso a equipamentos de transmissão de dados, voz e imagem em
tempo real, possam participar da audiência com equipamentos dispo-
nibilizados pelo Poder Judiciário em ambiente indicado por ele. Isso se
mostra na Resolução nº378/21, Art. 4°, Parágrafo único:

Art. 4º. Parágrafo único. Resolução Nº 378/21:  O “Juí-


zo 100% Digital” deverá prestar atendimento remoto du-
rante o horário de atendimento ao público por telefone,
por e-mail, por vídeo chamadas, por aplicativos digitais
ou por outros meios de comunicação que venham a ser
definidos pelo tribunal, inclusive por intermédio do “Bal-
cão Virtual”, nos termos da Resolução CNJ nº 372/2021”.

Ou seja, tal formato remoto trouxe inúmeras inovações, mas


para que toda a população tenha condições de utilizar essa novidade
o tribunal deve auxiliar disponibilizando o que for necessário para a re-
alização de todos os atos.

2.3 OS BENEFÍCIOS E OS MALEFÍCIOS DO JUÍZO 100% DIGITAL

Existem muitas vantagens que surgiram com o implementar do


juízo 100% digital: como evitar atrasos causados ​​pela prática de atos
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 239

físico através do uso da tecnologia, trouxe velocidade do progresso


técnico nos fórum, ocasionou a economia financeira das partes e do
espaço físico do judiciário, protegendo assim o meio ambiente pois,
terá menos carros nas ruas, menos impressão de documentos, menos
energia sendo utilizada, etc.
Porém, cabe resaltar que, de acordo com o artigo 5°, paragrá-
fo único, da Resolução CNJ Nº 345, DE 9/10/2020:

Art. 5. As audiências e sessões no “Juízo 100% Digital”


ocorrerão exclusivamente por videoconferência. Pará-
grafo único. As partes poderão requerer ao juízo a parti-
cipação na audiência por videoconferência em sala dis-
ponibilizada pelo Poder Judiciário.

Como salientado pelo presidente do CNJ, ministro Luiz Fux, a


tramitação de processos em meio eletrônico promove celeridade e o
aumento da eficiência na resposta da Justiça ao cidadão.
Mas mesmo com tantos pontos positivos, será se esse novo
modelo de audiência compensa para todos os processos? Alguns es-
tudiosos, como o professor Pedro Paulo Teixeira Manus, doutrinam
que o maior malefício desta inovação tecnológica é propriamente o
fato de o juízo estar longe fisicamente das partes, o que pode afastar a
necessária sensibilidade do julgador para a resolução dos processos.
Outra desvantagem desta novidade tecnológica é a possibilida-
de de que as partes e as testemunhas sejam persuadidas ou, até mes-
mo, informadas a respeito do que “devem” ou não “falar” em audiência.
Entretanto, tal hipótese não deve ser apontada como uma ver-
dadeira desvantagem, já que não se pode presumir que as partes ou
testemunhas estejam agindo de má-fé!

3 METODOLOGIA

O trabalho em questão envolverá pesquisa bibliográfica, ou


seja, procura esclarecer questões teóricas de livros, publicações, arti-
gos, manuais, anuários, mídia eletrônica, enciclopédias, portanto, tor-
nam-se imprescindíveis para se conhecer e avaliar as principais con-
tribuições teóricas para um determinado tópico.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 240

Considerando que os métodos atuais são suficientemente re-


levantes para torná-los, os objetivos traçados foram alcançados. Para
Fachim (2001, p. 123) a pesquisa bibliográfica “é um procedimento in-
telectual para adquirir conhecimentos pela investigação de uma reali-
dade e busca de novas verdades sobre um fato”.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como fato social, a pandemia do COVID-19 mudou a forma de


realização dos atos processuais. O espaço virtual tornou-se o principal
local para a realização de audiências e atos processuais.
O atual estudo objetivou tratar das audiências judiciais, do con-
ceito do Juízo 100% Digital e da evolução de sua estrutura, na qual
é possível perceber uma grande atualização, trazendo a tecnologia
como uma mola propulsora para solucionar casos no judiciário e prin-
cipalmente dar celeridade e fluidez nessa área da sociedade que é tão
complexa.
No contexto atual e conceitual a temática em abordagem é de
grande relevância para o estudo da sociedade e suas peculiaridades
de modo geral, haja vista que as alterações no cenário do Judiciário
acontecem com grande frequência e isso afeta diretamente nas rela-
ções jurídicas de modo pontual.
Assim, é possível concluir que com as modificações dentro do
contexto social o direito também se modifica, para atender todas as
necessidades sociais.

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dade-e-eficiencia.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 243

CAPÍTULO 17

AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DE ACESSO


AO BPC IDOSO NO INSS DIGITAL

MAIN DIFFICULTIES IN ACCESSING THE ELDERLY


BPC IN THE DIGITAL INSS

Ellen Camyla da Silva


Christus Faculdade Do Piauí – CHRISFAPI
Piripiri – PI
https://orcid.org/009-0009-6163-8220
ellencamyla301@gmail.com

Maria Jakelline Silva Alves


https://orcid.org/0009-0004-3965-1289
mariajakellines@gmail.com
Christus Faculdade Do Piauí – CHRISFAPI
Piripiri – PI

Renata Rezende Pinheiro Castro


Christus Faculdade do Piauí – CHRISFAPI
Piripiri – PI
https://orcid.org/0000-0002-9099-3020
rezenderenata@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo apresenta as principais dificuldades de acesso ao
BPC idoso no INSS digital. Logo, aborda suas características desta-
cando em especial, o requisito idoso. O seguinte artigo teve como pro-
blemática demonstrar quais as maiores dificuldades que uma pessoa
idosa enfrenta ao longo do caminho até chegar a última etapa para a
aprovação do benefício após a digitalização do INSS. Tendo em vista
que, a Lei nº 8.742. Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) garan-
te um salário mínimo por mês ao idoso com idade igual ou superior a
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 244

65 anos. O trabalho mostrou os obstáculos para concessão do benefí-


cio e a facilidade para novas concessões. Teve como Objetivo estudar
a doutrina e compreender as dificuldades. Para o alcance do entendi-
mento a metodologia utilizada foi de pesquisa bibliográfica. O estudo
foi direcionado a área do Direito Previdenciário. Para tal análise foram
utilizados como arcabouço a norma brasileira vigente, bem como a le-
gislação pertinente. Postula-se que através dos procedimentos anali-
sados foi possível chegar a comprovação das dificuldades pertinentes
da pessoa idosa.
Palavras-Chave: BPC; INSS Digital; Pessoa Idosa; Dificuldades.

ABSTRACT
This article presents the main difficulties in accessing elderly BPC in
the digital INSS. Therefore, it addresses its characteristics, highlighting
in particular the elderly requirement. The following article was problem-
atic to demonstrate the greatest difficulties that an elderly person faces
along the way until reaching the last step for the approval of the benefit
after digitalization of the INSS. Bearing in mind that Law nº 8.742. Or-
ganic Law of Social Assistance (LOAS) guarantees a minimum wage
per month to the elderly aged 65 or over. The work showed the obsta-
cles for granting the benefit and the ease for new concessions. Its ob-
jective was to study the doctrine and understand the difficulties. For the
reach of the understanding the methodology used was of bibliograph-
ical research. The study was directed to the area of ​​Social Security
Law. For this analysis, the current Brazilian norm was used as a frame-
work, as well as the relevant legislation. It is postulated that through
the analyzed procedures it was possible to prove the relevant difficul-
ties of the elderly person.
Keywords: BPC; Digital INSS; Elderly; Difficulties.

1.INTRODUÇÃO

Este trabalho toma como ponto de partida as principais dificul-


dades de acesso ao BPC Idoso no INSS Digital. Embora ao longo dos
anos a lei tenha obtido melhorias para atender melhor o público alvo
do BPC, observa-se que as mesmas não poderão suprir as necessi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 245

dades dos idosos na concessão de tal benefício, pois os mesmos en-


contram uma maior complexidade na hora de solicitá-lo. Por esse mo-
tivo, torna-se um momento crucial para se estudar e analisar o BPC
em suas significativas legais, abordando sua evolução legislativa e as-
sim descrever seus requisitos e características atuais.
O Benefício de Prestação Continuada (BPC), é um benefício
previsto na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) Lei n° 8.742,
dando a garantia de um salário-mínimo por mês ao idoso com idade
igual ou superior a 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer
idade (OLIVEIRA, Renan. 2023). Logo, uma das finalidades da Assis-
tência Social, constituída no artigo 203, inciso V da CF/88, é determi-
nar os critérios para o recebimento de um salário-mínimo as pesso-
as com deficiência e aos idosos que comprovem não possuir renda.
Seu objetivo é justamente firmar a assistência social como um direito
das pessoas necessitadas, respeitando a dignidade da pessoa huma-
na, princípio fundamental da nossa República conforme o artigo 1º da
nossa carta maior.
A autarquia responsável pela operacionalização do BPC é
o INSS(Instituto Nacional do Seguro Social) que com o decreto no
8.539/2015 passou por um processo de digitalização, criando o INSS
digital, aquele que dispõe sobre o uso de meio eletrônico para reali-
zar processos administrativos. Ademais, o INSS Digital tem como mis-
são, viabilizar a aplicação de tecnologia da informação com a efetiva-
ção de políticas públicas.
O decreto é um estudo extensivo dos processos de atendimen-
to propostos. Sob diferentes perspectivas e visando celeridade, efici-
ência e efetividade na prestação de seus serviços. Tem como objeti-
vos: Fixação de requerimento eletrônico, ampliar protocolos a comu-
nicação com os cidadãos e ente federativo, aumentar os números de
atendimentos remoto, reduzir o tempo de espera para agendamento e
atendimento e distribuir a demanda.
Diante do exposto, segue a seguinte problemática, quais as
maiores dificuldades que uma pessoa idosa enfrenta ao longo do ca-
minho até chegar a última etapa para a aprovação do benefício após
a digitalização do INSS? Para tanto, este trabalho, tem como objeti-
vo principal analisar as principais dificuldades que a pessoa idosa vem
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 246

enfrentando, desde 2015 com a introdução do INSS digital, para con-


seguir a concessão do BPC idoso. E assim, demonstrar a evolução e
características do benefício.
Com esse propósito, será realizado um levantamento histórico
acerca da evolução do benefício, pontuando cada uma de suas condi-
ções, especialmente no tocante a renda e a idade, já que o intuito da
pesquisa será voltada de forma mais específica para o beneficio con-
cedido pela pessoa idosa. Diante disso, o BPC é um benefício ope-
racionalizado pelo INSS, que é a maior autarquia do poder executivo
federal. Logo, tem o objetivo garantir proteção aos cidadãos por meio
do reconhecimento de seus direitos, com o propósito de proporcionan-
do o bem-estar social. No qual, recentemente passou por um proces-
so de digitalização.
Este trabalho foi desenvolvido através de cunho bibliográfico,
que irá conter o objetivo de exemplificar e construir hipóteses acer-
ca do problema abordado. A pesquisa bibliográfica é feita a partir do
levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por
meio escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas
de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa
bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estu-
dou sobre o assunto (FONSECA, 2002, p. 32). Aprimorando as ideias
e fundamentando o assunto em questão. Fundamentando-se através
de livros, artigos científicos e páginas na web.

2.Seguridade Social no Brasil: Uma breve evolução histórica

Principalmente a partir do início do século passado, sentiu-se a


necessidade da existência de mecanismo que atuasse no âmbito pre-
videnciário no Brasil. Com a aprovação da Lei Eloy Chaves (Decreto
Legislativo nº 4.682/1923), o Brasil começou sua atuação no sistema
previdenciário, que era estruturado pelas Caixas de Aposentadorias e
Pensões. Esta lei tratava exatamente das empresas ferroviárias. Que
tinha como objetivo apoiar esses trabalhadores durante o período de
inatividade.
Entretanto, nesse cenário com o passar dos anos, foram acon-
tecendo alterações na sociedade, como o crescimento da população
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 247

urbana, nesse contexto os sindicatos que já atuavam, tiveram uma


tendência de organização previdenciária por categoria profissional,
que a partir desse momento começaram a surgir os Institutos de Apo-
sentadorias e Pensões.
Em 26 de agosto de 1960, foi publicada a Lei n° 3.807 respon-
sável por criar a Lei Orgânica de Previdência Social, que foi respon-
sável por unificar a legislação pertinente aos Institutos de Aposenta-
dorias e Pensões. Posteriormente, o decreto- LEI n° 72. de 21 de no-
vembro de 1966 estabeleceu o Instituto Nacional de Previdência So-
cial, que uniu os seis Institutos de Aposentadorias e Pensões já em vi-
gência. Esse Instituto, agregou as ações da previdência para os tra-
balhadores do setor privado, com exceção dos trabalhadores domés-
ticos e rural.
Somente com a promulgação da Constituição de 1988 foi cria-
do o conceito de Seguridade Social, que é englobar as ações integra-
da iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado a asse-
gurar o direito relativo à saúde, à previdência e à assistência social. O
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) foi implementado na ges-
tão do Presidente Fernando Collor de Melo no dia 27 de julho de 1990,
assim firmado pelo decreto n° 99.350, com a fusão do Instituto de Ad-
ministração Financeira da Previdência e Assistência Social com o Ins-
tituto Nacional de Previdência Social, como autarquia vinculada ao Mi-
nistério da Previdência e Assistência Social, atual Ministério do Traba-
lho e Previdência- MTP.
É competência do INSS a fiscalização dos direitos dos contri-
buintes do Regime Geral de Previdência Social e os Regimes Próprios
de Previdência Social. E embora não esteja na previdência, o Benefí-
cio de prestação continuada é operacionalizado pelo mesmo. No art.
201 da Carta magna Brasileira, descreve a organização do RGPS, que
tem natureza contributiva e de filiação obrigatória, e onde adequa-se a
atuação do INSS, respeitando assim, as políticas advindas dos órgãos
hierarquicamente superiores, como o MPS.
Portanto, o INSS se caracteriza, uma organização pública pres-
tadora de serviços previdenciários, sendo a maior autarquia do Poder
Executivo federal. Logo, tem o objetivo garantir proteção aos cidadãos
por meio do reconhecimento de seus direitos, proporcionando o bem-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 248

-estar social. Para tal fim, busca o reconhecimento dos direitos sociais
dos filiados ao Regime Geral de Previdência social (RGPS), como es-
tabelece a Constituição Federal de 88.
A partir de 2015, com o decreto no 8.539/2015, foi desenvolvido
um novo modelo de atendimento conhecido como INSS Digital como
forma de facilitador pela a falta de atendimento presencial ao públi-
co nas agências do INSS. Essa nova modalidade de atendimento to-
mou bastante conhecimento na pandemia do novo coronavírus, cau-
sador da Covid-19, em função das recomendações de distanciamento
social, assim uns dos principais benefícios que a plataforma trouxe de
ganhos para contribuir para o acesso dos benefícios, proporcionando
mudanças na adoção da plataforma.
Essa nova modalidade de atendimento é uma nova realidade
em território nacional, aonde o usuário vai á agencia somente após
agendamento do serviço ou até mesmo será atendido totalmente em
ambiente virtual, com a promessa de agilidade, pois ocorre a tramita-
ção eletrônica de todo processo. Outra possibilidade é a concessão
automática de benefício, onde o usuário não precisa de deslocar até
uma agência, caso já tenha atingido todos os critérios.
Entretanto, há de se contestar, diante de uma sociedade capi-
talista que mostra-se um cenário de desigualdade. Não há como negar
que avanços tecnológicos possam sim ser facilitador de serviços para
uma grande parte da sociedade, mas falando de desigualdade, tal in-
formação rebate diretamente no acesso aos atendimentos, pois, trata
principalmente nas dificuldades para determinado público.
Desde o início das civilizações ocorreu a preocupação com o
futuro, o que tem se tornado uma pauta a ser questionada por todos
tornando assim, uma prioridade. E não é de hoje que se procuram ma-
neiras para enfrentar momentos dos desafios da vida, como doenças,
velhice e fome. (ALVES, Andréa M. 2007).
Desse modo, a lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991 determina
que Seguridade Social segue atualmente o modelo de a atribuição do
Estado da responsabilidade por ações universais e conjuntas na área
de Assistência, Previdência Social e Saúde.
Assim sendo, a proteção social se desenvolve para outras áre-
as além da previdência social, abranger a Saúde e a Assistência So-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 249

cial. É nessa hipótese que a Assistência Social deixa o âmbito de ser


apenas assistência e começa a ser considerada preocupação familiar
ou caridade com as pessoas necessitadas, passando a ser vista como
um direito fundamental, descrito no artigo 5° da carta magna.
É nessa hipótese que nasce o benefício de prestação continu-
ada (BPC), ordenado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS),
como uma das finalidades da Assistência Social, art 203, V, CF/88, de-
termina os critérios para o recebimento de um salário mínimo aos por-
tadores de deficiência e aos idosos que comprovem não possui ren-
da. Seu objetivo é firmar a assistência social como um direito das pes-
soas necessitadas.
Diante disso, com a portaria conjunta nº 3, de 21 de setembro
de 2018 pode-se salientar que o BPC tem o propósito proteger as pes-
soas idosas e as pessoas com deficiência, em face de desamparados
decorrentes da velhice e da deficiência, que favorece o sustento e o
acesso às políticas públicas.

3.BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC): Aspectos


gerais e procedimentais

O Benefício de Prestação Continuada (BPC), conforme já dito,


é um beneficio previsto na Lei Orgânica da Assistência (LOAS), dan-
do a garantia de um salário mínimo por mês ao idoso com idade igual
ou superior a 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer idade.
Desta forma, este refúgio social está tipificado na esfera da As-
sistência Social, tendo sua fundamentação originária na Carta Magna
brasileira (artigo 203, inciso V da CF) que prevê a concessão ao em-
bolso mensal de um salário mínimo a quem, na redação da lei, quali-
fica-se como pessoa com deficiência ou idoso e, quando constatado,
não porta vias de produzir a sua subsistência, assim sendo, está em
condição de vulnerabilidade econômica.
Foram estabelecidos nas leis orgânicas de assistência social
lei Nº 8.742/1993, dois benefícios assistencial: Um para o suporte so-
cial designado ao idoso e um para o auxílio social à pessoa com defi-
ciência. Cabe salientar, que a concessão destes benefícios apresen-
tava um determinado prazo para ser concedido.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 250

Daí em diante, o velho benefício de renda mensal vitalícia, com


escopo previdenciário, foi trocado pelos benefícios assistenciais de
suporte social ao idoso e deficiente. Os benefícios assistenciais de
prestação continuada a pessoa com deficiência e a pessoa idosa, re-
gulamentado com os novos prazos pela lei dos processos Administra-
tivos nº 9.784/1999, determina que o INSS tem 30 dias prorrogáveis
por mais 30 após o protocolo para conceder ou negar o seu requeri-
mento.
O BPC dispõe de particularidades resultantes do seu individu-
alismo lícito. Denominados como características, pois, estão interliga-
das formalmente, a regência jurídica do benefício, mostrando sua sin-
gularidade e os diferenciando, por exemplo, dos benefícios previden-
ciários. De acordo com (Andrielly Ribeiro, 2020) a Seguridade Social e
a Previdência Social não se confundem. Enquanto a Seguridade So-
cial é um sistema amplo, composto pela saúde, previdência e assis-
tência social, a Previdência Social é um dos pilares do Sistema de Se-
guridade Social Brasileiro.
Em primeiro momento, percebe-se que o LOAS, como também
é conhecido, devido à lei que o regulamenta, é um benefício de renda
básica no valor de 01 (um) salário-mínimo. Logo, tratando-se de renda
básica, não tem previsão de pagamento do 13º salário e nem gera pen-
são por morte como acontece nos benefícios previdenciários, em regra.
Todavia, reconhece a capacidade de acumulação com auxílios
que pertença ao governo de transferência de renda, como auxílio Bra-
sil. Neste molde, o montante recolhido por este programa é eliminado
do cálculo da renda per capita familiar, um dos requisitos para a sua
concessão. Evidência, que o Estatuto do Idoso Lei 10.741/2003 esta-
belece a não contagem do cálculo da renda per capita familiar de outro
BPC ao idoso, caso facultado a outro membro do grupo familiar. Des-
sa forma, o benefício concedido a um dos membros de um casal ido-
so não impede a concessão para o outro. Junto com a lei 13.982/2020
que estabelece que é viável dois BPC no mesmo grupo familiar já que
um BPC não entra na contagem para o recebimento de outro benefí-
cio para a pessoa idosa.
Outrossim, o BPC é um benefício individual e indelegável, que
cessa no evento morte do beneficiário ou com a alteração do quesito
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 251

renda, que até então formulava sua concessão. Diante disso, o bene-
ficiário não deixará pensão por morte aos seus sucessores e depen-
dentes. Contudo, o valor não recebido em vida pelo beneficiário será
pago para sua prole.
Desta forma, tem-se que o BPC é ofertado ao idoso e à pes-
soa deficiente de acordo com o texto normativo. Em ambas as cate-
gorias, este benefício destina-se a pessoas necessitadas economica-
mente, ou seja, se requisita um cenário para sua concessão. É neces-
sário o solicitante evidencie que não tem meios para fornecer sua sub-
sistência ou de tê-lo produzindo por algum integrante de sua família.
Diante dos fatos, a norma brasileira estipula como condição
para concessão do benefício que o requerente possua renda men-
sal per capita inferior ou igual a 1/4 (um quarto) do salário mínimo
por componente familiar. Descrito no Art 20º, §3º da Lei nº 14.176, de
2021.
Este método é muito discutido na esfera judicial, onde em al-
guns casos tem diferenciado diante das características do caso ana-
lisado. O STF tem o entendimento, que o referido critério é constitu-
cional, a jurisprudência, optou através da portaria mc nº 769, de 29 de
abril de 2022 pela tese no qual o critério do 1/4 (um quarto) do salário
mínimo como renda per capita mensal não pode ser levado como úni-
co parâmetro de hipossuficiência do solicitante, nem pode ser aceito
como método absoluto.
Neste sentido, pouco se ver divergência no entendimento dou-
trinário. Haja visto, é necessário entender que este requisito tem que
ser agregado com o outro método já verificado, uma vez que apenas
o idoso economicamente hipossuficiente com idade de 65 (sessenta
e cinco) anos, como descreve o Estatuto do Idoso, que poderá solici-
tar à prestação assistencial pecuniária. Logo, a Carta magna, sancio-
na o direito ao amparo social do idoso que não tenha disposição de
promover o sua subsistência, nem de tê-lo provido por outra pessoa
de sua família.
Para a comprovação da idade é preciso apresentar os docu-
mentos comprobatórios, como, certidão de nascimento, RG, CPF e
que tenha a data de nascimento do solicitante. Verificada a idade, não
há o que contornar, posto que a sua demonstração é algo objetivo.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 252

Ante o exposto, observa-se que foi realizado um avanço do as-


sistencialismo como uma das regras da seguridade social onde a mes-
ma atingiu o grau de direito fundamental da segunda dimensão ao ser
prevista na Constituição Federal de 1988. Desse modo, se tem o direi-
to com características individuais que o distingue das demais presta-
ções da Seguridade Social.
Observou-se que as políticas públicas de assistência às pesso-
as não assistidas, iniciaram como medidas espontâneas até finalizar
no momento atual em que a mesma é conhecida pela sua subjetivida-
de fundamental e uma consequência da cidadania, ou seja, entende-
-se desse modo, que ocorreu a antecipação do benefício à pessoa ido-
sa e ao deficiente desde que comprove sua hipossuficiência.
Adentrando no procedimento a Portaria Conjunta nº 3, de 21 de
setembro de 2018, do Ministério do Desenvolvimento Social, publica-
do no Diário Oficial da União nº 184, de 24 de setembro de 2018, dis-
põe sobre regras e procedimentos de requerimento, concessão, ma-
nutenção e revisão do Benefício de Prestação Continuada da Assis-
tência Social – BPC. Dando ênfase nas etapas operacionais, requeri-
mento, concessão, manutenção e revista.

4.PRINCIPAIS DIFICULDADES DO IDOSO EM RELAÇÃO AO


ACESSO AO BPC- NO ÂMBITO DIGITAL

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-


ticas (IBGE), a taxa representa cerca de 11 milhões de pessoas, em
números absolutos, que não sabem ler e escrever. Vale ressaltar que
esse seria o principal público com as principais dificuldades em aces-
sar os serviços digitais disponibilizados pelo INSS. Cabe entender que
nem todos os usuários dos serviços terão produtos tecnológicos para
ter a demanda do serviço atendida.
Atualmente o envelhecimento da população no mundo vem
crescendo significativamente. Conforme a Organização das Nações
Unidas (ONU), em seu último relatório técnico “Previsões sobre a po-
pulação mundial” Programa-se que, no ano de 2030, o número de ido-
sos poderá chegar a setenta milhões nos países desenvolvidos. No
Brasil, as projeções para o ano de 2025, indicam que a população to-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 253

tal poderá aumentará cinco vezes em relação à de 1950. Segundo da-


dos do Ministério da Saúde, a população brasileira idosa, em 1996,
era de 7,8 milhões e entre 1950 e 2020 esta estatística crescerá 16
vezes o número de pessoas acima de sessenta anos de idade no país
(LACOURT; MARINI,2006).
Consoante Passerino e Pasqualotti (2006), com a velhice hu-
mana compreende-se os processos de alterações do organismo, tan-
to no aspecto físicos quanto social e psicológicos. Principalmente mo-
dificações na memória, que nos idosos, que é constatada mais lentas
e incertas. Por outro ponto, os idosos podem ser experientes, mas no
quesito de memória, o desempenho dos idosos é, em geral, prejudi-
cado.
Entretanto, observa-se que além dessas alterações das trans-
formações que colocam os idosos em um grupo etário emergente, vê-
-se a proliferação das tecnologias de comunicação e de informação. E
isso tem despertado um grande interesse entre os mais velhos quando
se fala no aprendizado da informática, acarretando os benefícios que
ela pode oferecer às suas vidas (KREIS et al., 2007).
Todavia, ao mesmo tempo em que essas pessoas tenham o
objetivo utilizar-se de uma plataforma de acesso as tecnologias digi-
tais, que poderá ser manuseada por um público que tenha acesso aos
meios digitais e à instrução, por outro lado, pode ocasionar uma exclu-
são silenciosa, onde os indivíduos ficam sem acesso aos direitos so-
ciais, por não conseguirem utilizar os serviços e resolver suas deman-
das, por falta de escolaridade e instrução.
Outrossim, o uso do computador foi crescendo diariamente de
modo rápido e contínuo. Logo, utilização da informática e o conheci-
mento sobre o computador passaram a sérum marco da cultura con-
temporânea. Atualmente, sua utilidade independe da idade (PAPALIA,
2003).
Ademais, observa-se que existem servidores aposentando que
não são substituídos, resultando assim, na sobrecarga dos demais
servidores. Dessa forma, outro aspecto referente à informatização dos
atendimentos no INSS digital é a restrição de informações e orienta-
ção quanto á agilidade virtual, o que ocasiona prejuízo aos cidadãos,
que sem informações poderão ter seu benefício não concedido, por
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 254

não deter de toda documentação comprobatória. Além disso, no aten-


dimento presencial, era realizado orientação prévia ao cidadão.
Além de que, a educação inclusiva estrutura-se na perspectiva
de cidadania, disciplinada nos princípios de liberdade humana, e indi-
víduos independente diferenças Físicas, culturais, religiosas, econô-
micas, o que significa educar para a prática da democracia. Pode-se
afirmar com a Lei 8.842/94, da Política Nacional do Idoso.
Segundo Carvalho (2007), pode-se considerar como barreiras
no que diz respeito às exigências que são determinadas através das
normas estabelecidas como requisitos obrigatórios para a concessão
do BPC, a ausência de forma geral ou parcial de informações por parte
da pessoa idosa ao se inserir na busca do direito, podendo participar
de forma ativa na estruturação da cidadania e na efetivação do direito.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com todo caminho de pesquisa percorrido, fazendo o devido


uso dos instrumentos de investigação, pode-se concluir que foi eficaz
a busca do objetivo principal sobre as principais dificuldades que o ido-
so enfrenta no decorrer do acesso ao BPC idoso no INSS digital.
Onde teria sido abordado a seguinte problemática, quais as
maiores dificuldades que uma pessoa idosa enfrenta ao longo do ca-
minho até chegar a ultima etapa para a aprovação do benefício? Dian-
te da pesquisa acerca dessas dificuldades foram encontradas a falta
de informações sobre o INSS digital como a nova modalidade, desta-
cando principalmente a vulnerabilidade desses idosos na era digital.
Foi utilizado as hipóteses do difícil acesso a informações ade-
quadas e a comprovação da renda, como ao todo foi eficaz para o de-
senvolvimento do trabalho, foi respondido todas as dúvidas que foram
surgindo durante o desenvolvimento. Com o objetivo de compreender
a dificuldade que a pessoa idosa vem enfrentando nos últimos anos,
para conseguir a concessão do BPC idoso. E assim, foi possível de-
monstrar a evolução e características do benefício.
Cabendo destacar que a principal dificuldade que os idosos
vem enfrentando nos últimos anos é a falta de informação, com a fal-
ta de aprendizado que não tiveram no decorrer dos anos de vida. Com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 255

essa nova modalidade digital, há de se contestar, diante de uma socie-


dade capitalista mostra-se um cenário de desigualdade. Não há como
negar que avanços tecnológicos possam sim ser facilitador de servi-
ços para uma grande parte da sociedade, mas falando de desigualda-
de, tal informação rebate diretamente no acesso aos atendimentos,
pois, trata principalmente nas dificuldades da pessoa idosa.
Com os objetivos secundários que permitiu que chegasse a con-
clusão dessa pesquisa onde foi estudado doutrina que falavam princi-
palmente desses benefícios, e assim destacando e demonstrando as di-
ficuldades da pessoa idosa para a concessão do benefício, foi possível
analisar as principais mudanças do benefício ao longo dos anos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa


do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988.
BRASIL, Lei nº 8.742. Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Bra-
sília: DF, 7 de dezembro de 1993.
FONSECA, J.J.S. Metodologia da Pesquisa Científica. Fortaleza,CE:
uec, 2002.
Portaria Conjunta/MC/MTP/INSS nº 14, de 7 de outubro de 2021, que
dispõe sobre regras e procedimentos de requerimento, concessão,
manutenção e revisão do Benefício de Prestação Continuada da As-
sistência Social (BPC).
BRASIL, Lei nº 10.741. Estatuto da Pessoa Idosa. Brasília:DF, 1º de
outubro de 2003.
BRASIL. Decreto nº 8.539, de 8 de Outubro de 2015. Dispõe sobre o
uso do meio eletrônico para a realização do processo administrativo
no âmbito dos órgãos e das entidades da administração pública fede-
ral direta, autárquica e fundacional.
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 20. ed. Ni-
terói: Impetus, 2015
DECRETO-LEI Nº 72, DE 21 DE NOVEMBRO DE 1966.Unifica os Ins-
titutos de Aposentadoria e Pensões e cria o Instituto Nacional de Pre-
vidência Social. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , usando da atribui-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 256

ção que lhe é conferida pelo art. 30 do Ato Institucional nº 2, de 27 de


outubro de 1965, combinado com o art.
PORTARIA CONJUNTA Nº 3, DE 21 DE SETEMBRO DE 2018. Dis-
põe sobre regras e procedimentos de requerimento, concessão, ma-
nutenção e revisão do Benefício de Prestação Continuada da Assis-
tência Social - BPC. Art.
PORTARIA MC Nº 769, DE 29 DE ABRIL DE 2022.Estabelece crité-
rios, procedimentos e ações para o apoio à gestão e execução des-
centralizada do Programa Auxílio Brasil e do Cadastro Único para Pro-
gramas Sociais do Governo Federal, no âmbito dos estados, Distrito
Federal e municípios, e dá outras providências.
LACOURT; MARINI, 2006; FILHO et al., 2006).
KREIS et al., 2007.
Lei 8.842/94, da Política Nacional do Idoso.
ALVES, Andréa M. Os idosos, as redes de relações sociais e as rela-
ções familiares. In:NERI, Anita L. (org.). Idosos no Brasil: vivências,
desafios e expectativas na Terceira Idade.São Paulo: Fundação Per-
seu Abramo, 2007.
PORTARIA CONJUNTA Nº 3, DE 21 DE SETEMBRO DE 2018. Dis-
põe sobre regras e procedimentos de requerimento, concessão, ma-
nutenção e revisão do Benefício de Prestação Continuada da Assis-
tência Social - BPC. Art.
DECRETO Nº 99.350, DE 27 DE JUNHO DE 1990. Cria o Instituto Na-
cional do Seguro Social (INSS) define sua estrutura básica e o Quadro
Distributivo de Cargos e Funções do Grupo-Direção e Assessoramen-
to Superiores de suas Unidades Centrais e dá outras providências.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 257

CAPÍTULO 18

ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO


DA DIABETES MELLITUS

CLINICAL ASPECTS AND DIAGNOSIS


OF DIABETES MELLITUS

Messias de Carvalho Borges


Christus faculdade do Piauí – CHRISFAPI Piripiri – PI
messiascb2004@gmail.com

Erick Patrick Silva Souza


Christus faculdade do Piauí – CHRISFAPI Piripiri – PI
patrickerick@gmail.com

Francisco Adalberto da Rocha Filho


Christus faculdade do Piauí – CHRISFAPI Piripiri – PI
filhoadalberto421@gmail.com

José Willyam Fontenele de Moraes


Christus faculdade do Piauí – CHRISFAPI Piripiri – PI
willyamjose25@gmail.com

Larissa Kawany Silva Mariano


Christus faculdade do Piauí – CHRISFAPI Piripiri – PI
larissakawanysilva@gmail.com

Emília Vittoria Oliveira Gomes


Christus faculdade do Piauí – CHRISFAPI Piripiri – PI
Emiliavittoria76@gmail.com

Francisco Alves Pessoa Júnior


Christus faculdade do Piauí – CHRISFAPI
Piripiri – PI
Ja616233@gmail.com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 258

Maria Eduarda Soares de Sousa


Christus faculdade do Piauí – CHRISFAPI Piripiri – PI
dudasoares0718@gmail.com

Victor Manuel Fernandes Fontenele


Christus faculdade do Piauí – CHRISFAPI Piripiri – PI
Victormanuellm10@gmail.com

Breno Carvalho da Silva


Christus faculdade do Piauí – CHRISFAPI Piripiri – PI
Carvalhosilva3344@gmail.com

Guilherme Antônio Lopes de Oliveira


Orientador Piripiri- pi
Guilhermelopes@live.com

RESUMO
O diabetes caracteriza-se pelo aumento dos níveis de glicose no san-
gue, a hiperglicemia. Se não controlado, pode causar problemas renais,
cardiovasculares, cegueira e até amputações. Assim sendo um distúr-
bio metabólico que apresenta aumento de glicose no sangue periférico,
pois o organismo não libera insulina de forma adequada ou a sua ação
não ocorre no receptor de insulina das células causando vários distúr-
bios crônicos. Para descobrir a diabetes ou saber a gravidade na qual a
doença se encontra tem exames que podem ser solicitados, a Glicemia
de Jejum que é realizado através de uma única coleta de sangue com
8 horas de jejum, Hemoglobina glicada (HbA1c) que é realizado através
de uma única coleta de sangue e não necessita de jejum. A vantagem
deste exame é que o resultado representa os níveis de glicose dos últi-
mos 3 a 4 meses e sofre menor variabilidade dia a dia.
Palavras chaves: Diabetes. Tratamento. Diagnóstico

ABSTRACT
Diabetes is characterized by increased blood glucose levels, hypergly-
cemia. If not controlled, it can cause kidney, cardiovascular, blindness
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 259

and even amputations. Thus being a metabolic disorder that presents


an increase in glucose in the peripheral blood, because the body does
not release insulin properly or its action does not occur in the insu-
lin receptor of the cells causing several chronic disorders. To find out
about diabetes or to know the severity of the disease, there are tests
that can be requested, Fasting Glycemia, which is performed through
a single blood collection with 8 hours of fasting, Glycated Hemoglobin
(HbA1c) that is performed through a single blood draw and does not
require fasting. The advantage of this test is that the result represents
the glucose levels of the last 3 to 4 months and suffers less variability
from day to day.
Keywords: Diabetes. Treatment. Diagnosis

INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus é uma doença com prevalência mundial,


muito comum e sua incidência tem aumentado ao longo dos anos. Dia-
betes é uma doença metabólica que causa aumento dos níveis de açú-
car no sangue chamada hiperglicemia. A fisiopatologia do DM pode ser
classificada em dois tipos comuns. No Diabetes Mellitus tipo 1, há in-
disponibilidade do hormônio insulina no sangue do paciente e para su-
prir essa falta, é necessário a injeção de insulina (TESTON et al., 2017).
O diabetes mellitus destaca-se, atualmente, como uma impor-
tante causa de morbidade e mortalidade. O envelhecimento da popula-
ção, a crescente prevalência da obesidade e do sedentarismo, e os pro-
cessos de urbanização são considerados os principais fatores respon-
sáveis pelo aumento da incidência e prevalência (MUZY et al., 2022).
A diabetes mellitus (DM) é um distúrbio metabólico caracteriza-
do por hiperglicemia, resultante de defeitos na secreção ou ação da
insulina, que pode causar uma variedade de complicações metabóli-
cas, neurológicas e vasculares. Estima-se que 1 em cada 11 indivídu-
os no mundo tenha diabetes, sendo o Brasil o quarto país em núme-
ro de pessoas acometidas entre 20-79 anos, com 14,3 milhões. A dia-
betes mellitus tipo 2 é a mais comum, representando cerca de 90% de
todos os casos da doença, acometendo principalmente indivíduos de
meia- idade e idosos.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 260

Um dos principais exames bioclínicos, usados para diagnosticar o


nível na qual se encontra a diabetes é a Frutosamida, que mede as pro-
teínas Glicadas no plasma. Quando a glicose se encontram em um nível
elevado de glicose as moléculas se ligam as proteínas em um processo
chamado Glicoção. As principais proteínas que sofrem essa ligação são
as Albuminas que é a principal proteína plasmática e a Hemoglobina que
é encontrada no interior das hemácias (Ferreira et al., 2016).
Devido à sua natureza silenciosa, 50% dos diabéticos desco-
nhecem a doença, portanto, o rastreamento de pacientes com DM e
grupos de alto risco pelo exame é uma das principais medidas de pre-
venção, diagnóstico precoce e tratamento. O rastreamento e preven-
ção do DM devem ser realizados pelo principal portal AB do SUS or-
ganizado de forma municipal. Portanto, é importante ter uma forma de
avaliar a adequação dos cuidados prestados às pessoas com diabe-
tes, com o maior nível de classificação possível (Muzy et al., 2022).
A falta de controle glicêmico adequado leva a múltiplas compli-
cações agudas (hipoglicemia, estados hiperglicêmicos hiperosmola-
res e cetoacidose diabética), bem como doenças crônicas (pé diabé-
tico, retinopatia, cardiopatia, nefropatia, neuropatia, doença cerebro-
vascular e vascular periférica), diabetes do pé é uma das principais
complicações do diabetes e importante causa de morbidade, que pode
ser evitada por meio de ações de educação em saúde que estimulem
o autocuidado com os pés.
Dessa forma, o pé diabético é definido como infecção, ulcera-
ção ou a destruição de tecidos profundos e está associado a anorma-
lidades neurológicas, doença vascular periférica dos membros inferio-
res em graus variados e controle glicêmico deficiente. O risco de de-
senvolver úlceras nos pés em pessoas com DM é de aproximadamen-
te 25%, e a taxa de mortalidade 5 anos após a ulceração é de 43% a
55% (LIMA et al., 2021).

METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado por base de pesquisas de arti-


gos científicas, sendo realizadas durante o mês de maio de 2023. Foram
consultadas as bases de dados eletrônicas PubMed e SciELO, sendo
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 261

incluídos os artigos escritos em português, inglês e espanhol compre-


endidos no recorte temporal de 2017 a 2023 disponíveis para download.
Os descritores utilizados, foram consultados inicialmente no
site dos descritores da saúde (DeCS), da biblioteca virtual em saúde
sendo definidos os seguintes termos associados: “Measue glucose le-
vel”, “Diabetic and monitoring”, “Hyperglycemia”, “Diabetes and diag-
nosis”, “Diabetes and treatment”, “Exames bioclinicos and diabetes”.
Em seguida, foram selecionados para análise, leituras de resu-
mos e títulos de artigos científicos que mencionava a importância dos
exames utilizados para investigar os possíveis casos de diabetes e
para o controle da doença.
Dessa forma, a pesquisa proporcionou uma maior familiaridade
com o problema, pois o levantamento bibliográfico fornece e estimu-
la uma melhor compreensão das situações. Este estudo, com a des-
crição e a exploração recaem sobre a contribuição da experimentação
para o entendimento dos exames bioclinicos da diabetes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram incluídos 15 artigos que contemplavam, exames bioclini-


cos da diabetes mellitus. Os artigos pertencem aos seguintes periódicos:
Revista CEFAC; revista saúde em debate; Revista EAM; Revista de La
sociedad española de medicina de urgências y emergery; Revista CBC;
Revista cadernos saúde coletiva; Revista ACTA; revista indiana de oftal-
mologia; Revista THIEME OPEM ACCESS; revista ciência da saúde co-
letiva; Revista jornal vascular brasileiro; Revista REBEn. Os artigos incluí-
dos nesta revisão foram caracterizados segundo título, autoria, ano, pais,
delineamento metodológico, objetivos e nível de evidência.

Titulo Autor Objetivo Tipo de Revista Data


estudo publicada
Caracterís ticas Identificar as carac-
Validação de
audiológic as de MOTA et al., terístic as audiólogi- Revista
conteúdo por 10/06/2016
Pacientes com dia- 2016 ca de pacientes com CEFAC
opinião
betes miellitus 2 diabetes
A pesquisa objetivou
Criança diabética
escrever a reper-
do tipo 1 e o conví- HERMES. Estudo quali- Revista
cussão do convívio
vio familiar: reper- T.S.V. et al., tativo e des- Saúde em 30/07/2018
familiar da criança
cussões no manejo 2018 critivo debate
diabética no manejo
da doença
da doença.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 262

Helenice
Letrament o funcio- de moura Avaliar o letramento
nal em saúde de scortegag funcional em saúde
idosos hipertenso s na; Simor de idosos hiperten- Transvers al e
Revista EAN 25/04/2021
e diabéticos aten- santos; Oli- sos e diabéticos avaliativo
dido na estratégia veira santos; adscritos a estratégia
saúde na família Portela, saúde familiar
2021
Avaliação do im-
pacto glicêmico de AMIGÓ- Avaliar o impacto Revista de
uma formulaçã o TADÍN. M; glicêmico da admi- Estudo La sociedad
líquida de carvão PANÉ- VILA. nistraçã o do carvão descritivo, española de
03/02/2020
ativado em pacien- A; NOGUÉ- ativado em pacientes transversa l e medicina de
tes com intoxicaçã XARAU. S, com intoxicação analítico urgencias y
o medicame ntosa 2020 aguda por drogas. emergenci as
aguda
Avaliar o controle
glicêmico em pacien-
Acompanh amento tes diabéticos tipo
de pacientes diabé- 2 desde o início da Estudo
Elmehrao. pandemia de “covid Annals of
ticos tipo 2 durante descritivo,
O. et al., 19” comparando medicina and 25/04/2022
a pandemia “covid transversa l e
2022 seus perfis glicêmico surgery
19” por telecon- e degenerativ o nos analítico
sulta períodos pré-confina-
ment o e pós-confi-
namento
Caracteriz ar o Observaci
Hábito alimentar de
Moura et al., hábito alimentar de onal, prospec-
idoso diabéticos e Revista CBC 03/05/2018
2018 idosos diabéticos tiv o, quanti-
não diabéticos
com 65 anos tativ o
Interpretar os senti-
A gestante e o pro- MACHAD dos e significados da Cadernos
Estudo quali-
cesso de viver com O. R.C.M. et gestação com diabe- saúde cole- 10/08/2020
tativo
diabetes mellitus al., 2021 tes, sob a perspecti- tiva
va das gestantes
Conhecer a vivência
Vivência de ado-
de adolescente s
lescent es com Moura da Observaci
com diabetes melli- Revista
diabetes mellitus Cruz et al., onal e quanti- 03/05/2018
tus tipo 1 na pers- ACTA
na perspectiv a da 2018 tativ o
pectiva da ética da
ética da alteridade
alteridade
Revisar o desenvol-
vim ento e progres-
são da catarata, bem
como a cirurgia de
Cirurgia de catarata
catarata e seus resul- Revista
no diabetes melli- Kelkar. A. et Revisão da
tados em pacientes Indiana de 01/05/2018
tus: uma revisão al., 2018 literatura
diabéticos com ênfa- oftalmologi a
sistemática
se na relação entre
cirurgia de catarata e
progressão da retino-
patia diabética.
Comparaç ão de
Comparar os des-
desfechos mater-
fechos maternos e Observaci
nos e fetais entre Moura da Revista THIE-
fetais das parturien- onal, retros-
parturiente s com e Cruz et al., ME OPEN 15/07/2019
tes com e sem diag- pecti vo e
sem diagnóstic os 2018 ACCESS
nósticos de diabetes quantitativo
de diabetes gesta-
gestacional
cional
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 263

Analisar conjuntame
Oferta e demanda
nte a demanda por
de procedime Observaci
cuidado ao diabético Revista Ciên-
ntos atribuíveis ao Muzy et al., onal, pros-
segundo parâmetros cia da saúde 04/06/2021
diabetes mellitus e 2021 pectiv o e
estabelecido s em coletiva
suas complicaç ões avaliativo
oferta de serviço de
no Brasil
saúde
Avaliar a prática
de medidas de
Junia Lopes
Avaliação do au- autocuidado com os
de Lima;
tocuida do com os pés, segundo sexo Revista Jor-
Rodrigues Revisão da
pés entre pacientes e escolaridade, em nal Vascular 19/11/2021
Lopes; Lima literatura
portadores de dia- pacientes portadores Brasileiro
Botelho; Ce-
bestes mellitos de DM na região
con, 2021
nordeste no estado
da Bahia
Consulta de enfer- Verifica o efeito da
mage m e controle consulta de enfer-
cardiomet abólico Teston et al., magem sobre o perfil Revisão a Revista
01/09/2016
de diabético: en- 2016 cardiometab ólico de literatura REBEn
saio clínicos rando- pessoas com Diabe-
miza do tes Mellitus

Em artigos pesquisados entre havia de diversos pais, Brasil,


Marrocos e Índia, verificou-se o Brasil se destacou como o pais de
maior número de publicação, sobre os exames bioclinicos da diabetes,
com mais 85% dos artigos brasileiros, isso mostra que problemas com
pacientes diabéticos e muito frequente na nação entre jovens e adul-
tos, cada um deles tem que se comporta de maneira diferente em re-
lação ao tipo de gravidade da doença.
Após análise dos estudos incluídos na revisão integrativa foi
possível observar a relação da diabetes com pessoas de qualquer ida-
de, com a forma de lidar com falta de conhecimentos de idosos diabé-
ticos, a forma de tratamento de pessoas de acordo com sua faixa etá-
ria, e a forma de combater a doença e de se alimentar para ter uma ro-
tina alimentar sob regras, afim do controle do corpo. Portanto conclui-
-se que a diabetes e uma doença que 70% da população mundial seja
portador, incluído de crianças aos idosos.
Assim observa-se que a diabetes mellitus causa perda auditiva,
por prejudicar células externas da cóclea podendo causar uma possí-
vel neuropatia auditiva (Mota et al., 2016).
Ao ser analisado, a alimentação saudável para um diabético 1
para idosos na faixa etária de 65 anos de idade, a mesma age como
forma de proteção de diabetes tipo 2, entre 13.649 idosos, 27% e dia-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 264

béticos, nesses pacientes o maior erro e, na alimentação ingerida dia-


riamente como: Hortaliça crua, doces, refrigerantes e leite desnatado,
os fatores de maior influência da diabetes (Moura et al., 2018).
O letramento funcional inadequado e prejudiciais para os ido-
sos com diabetes, esse fator e bem relevante sobre a falta de conhe-
cimento das pessoas velhas em relação a saúde, que não toma cer-
tos cuidados no dia a dia para poder tratar a doença e acaba levan-
do a agravação do problema. Portanto o letramento inadequado e o
maior impulsionador da das mortes de pessoas idosas com diabetes
(SCORTEGAGNA et al., 2021).
A convivência de adolescentes com diabetes, e necessário que
os pais ou responsável assumam a responsabilidade de cuidar dos fi-
lhos e oferecê-los sempre a segurança, para manter o alto estimas
dos adolescentes sempre acima de tudo, afim de um domínio que o
adolescente deve ter em relação ao controle da doença (Cruz et al.,
2018).
A diabetes em mulheres gestantes e influenciada principalmen-
te por peso acima da média, faixa etária de 35 anos de idade e histó-
rico familiar de diabetes, com todas essas características a diabetes e
associada via parto (Cruz et al., 2018).
As condições crônicas de saúde dificultam o tratamento da dia-
betes em crianças, pois toda a família deve assumir novos hábitos ali-
mentares, além de apoiá-la para que possa se adaptar mais a doen-
ça; porém na maioria das vezes não ocorre isso e é exatamente nes-
se momento que a atenção primária à saúde deve auxiliar na gestão
do caso e promover projetos terapêuticos em conjunto com os familia-
res da criança para assim se obter uma melhor adesão ao tratamento
(HERMES et al., 2018).
A administração do carvão ativo (CA) induz um aumento esta-
tisticamente significativo da glicemia, mas sem relevância clínica em
comparação ao observado após o café da manhã. Dados mostram
que 82% de 55 pacientes com intoxicação medicamentosa aguda ob-
tiveram um aumento da taxa glicêmica após a administração de CA (a
média glicêmica antes do carvão foi de 98,2 mg/dL e 124,2 mg/dL uma
hora depois). Já no grupo controle (n=23) a glicemia aumentou em
82,6% dos casos (o nível médio de glicose antes do café da manhã e
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 265

uma hora depois foram de 117,1 mg/dL e 152,0 mg/dL) (AMIGÓ-TA-


DÍN. M, PANÉ-VILA. A, NOGUÉ-XARAU. S 2020).
O estudo de Machado et al., (2021), mostra sobre a perspectiva
da gestante como lidar com uma “ gestação adoecida”. A mulher nesse
período se encontra muito fragilizado e propicia a se abalar com qualquer
discussão ou preocupação familiar; e piora a situação quando é diagnos-
ticada com DM (Diabetes Mellitus) durante a gestação; nesse momento
elas se encontram cheias de dúvidas e com uma carga enorme de cren-
ças, que no decorrer das consultas serão sanadas pelos os profissionais
da saúde. Durante o pré-natal medidas e cuidados serão tomados para
que mãe e o bebê se encontre em perfeitas condições até o dia do parto.
O monitoramento dos pacientes com diabetes tipo 2 em meio a
pandemia do covid 19, foram feitas através da telecomunicação. Ape-
sar das dificuldades pode-se observar que o confinamento propiciou
um aumento de maus hábitos alimentares das pessoas, devido ao es-
tilo de vida que tiveram que se adaptar. Dessa forma os pacientes com
diabetes tipo 2 tiveram uma dificuldade maior de controlar suas taxas
glicêmica. Dados mostram que cerca de 7,2% dos pacientes iniciaram
tratamento com insulina terapia e 9,4% intensificaram a dose de insu-
lina durante a pandemia (ELMEHRAOUI et al., 2022).
A cirurgia de catarata em pessoas diabéticas é algo muito com-
plicada e delicada. Deve-se ter um cuidado especial antes, durante e
após a cirurgia para que o paciente não obtenha sequelas ou até mes-
mo perca a visão. Kelkar et al., (2018) ressaltam que a cirurgia de ca-
tarata precoce em pacientes diabéticos resulta na melhora considerá-
vel da visão do paciente, pois é possível identificar e tratar o edema
macular diabético (EMD) antes do procedimento cirúrgico; porém para
se conseguir esse êxito se faz necessário aconselhamentos pré- ope-
ratório, o paciente deve ter um bom controle glicêmico e nenhuma evi-
dência de infecção ocular ou periocular; daí a necessidade de fazer to-
dos os exames pedidos pelo médico.

CONCLUSÃO

Por meio deste estudo pode-se entender que o diagnóstico pre-


coce do Diabetes Mellitus é de suma importância para a construção
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 266

de um programa de tratamento adequado a cada pessoa, o que reduz


o risco de complicações micro e macrovasculares. Contudo, além de
medidas terapêuticas adequadas é fundamental a realização dos exa-
mes laboratoriais de controle para melhorar a qualidade de vida des-
ses indivíduos.
Além dos exames para controle de tratamento do diabetes
mellitus, outras intervenções são de extrema importância como modi-
ficações dietéticas, perda de peso ou uso de fármacos orais. Outro fa-
tor de prevenção e auxílio no tratamento do diabetes e da diminuição
das complicações associadas é o exercício físico que contribui para
uma melhor qualidade de vida ao paciente diabético.

REFERÊNCIAS

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org/10.1590/1413-81232022274.05612021>. ISSN 1678-4561. ht-
tps://doi.org/10.1590/1413-81232022274.05612021.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 268

CAPÍTULO 19

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA: A IMPORTÂNCIA


E EFICÁCIA DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
NO COMBATE AO ABUSO DE AUTORIDADE

CUSTODY HEARINGS: THE IMPORTANCE AND


EFFECTIVENESS OF THE CUSTODY HEARING
IN COMBATING ABUSE OF AUTHORITY

Estevan Luís Silva


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
estevariala@gmail.com

João Borges de Carvalho Amorim


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
Jonhs2525@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho pauta-se no estudo da audiência de custódia, sua
eficácia e importância no combate ao abuso de autoridade no sistema
criminal brasileiro. A audiência de custódia está prevista em tratados
internacionais como a Convenção Americana de Direitos Humanos, na
Resolução 213/2015 do CNJ, e advinda ao Código de Processo Penal
brasileiro pela lei n.º 13.964/2019. Com isso, a audiência de custódia
consiste na imediata apresentação do preso em flagrante à autoridade
judicial competente, para que essa proceda à avaliação da legalida-
de formal e material do auto de prisão e, ainda, para que decida acer-
ca da necessidade de sua manutenção, adequação de outra medida
cautelar ou concessão da liberdade provisória, além de proceder com
a averiguação de irregulares ou abuso de autoridade na efetuação da
prisão e tratamento da pessoa. Não obstante, o presente estudo, teve
como fundamento a análise da função, eficácia e importância da au-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 269

diência de custódia, na atual conjuntura do sistema criminal brasileiro.


Para isso, avaliaram-se suas características e seu impacto social, em
contraposição ao abuso de autoridade no sistema criminal atual. Ain-
da, observou-se a efetividade da audiência de custódia e da garantia
dos Direitos Fundamentais que o instituto resguarda, verificando se re-
almente é capaz de evitar prisões irregulares e esclarecendo o cará-
ter do instituto quanto à identificação de indícios de abusos e de tortu-
ra policial. Por fim, serão examinaram-se as consequências da não re-
alização da audiência de custódia, estabelecendo a sua eficácia e im-
portância no combate ao abuso de autoridade, determinando, ainda,
seu impacto social e jurídico.
Palavras-Chave: Audiência de custódia; legalidade; efetividade.

ABSTRACT
The present work is based on the study of the custody hearing, its ef-
fectiveness and importance in combating the abuse of authority in the
Brazilian criminal system. The custody hearing is provided for in inter-
national treaties such as the American Convention on Human Rights,
in Resolution 213/2015 of the CNJ, and arising from the Brazilian Code
of Criminal Procedure by Law No. 13,964/2019. With this, the custo-
dy hearing consists of the immediate presentation of the prisoner in
flagrance to the competent judicial authority, so that it proceeds to the
evaluation of the formal and material legality of the arrest report and,
also, to decide on the need for its maintenance, adequacy of anoth-
er precautionary measure or granting of provisional freedom, in addi-
tion to proceeding with the investigation of irregularities or abuse of au-
thority in the execution of the arrest and treatment of the person. In this
context, the present study was based on the analysis of the function,
effectiveness and importance of the custody hearing in the current sit-
uation of the Brazilian criminal system. For this, its characteristics and
its social impact were evaluated, in contrast to the abuse of authority in
the current criminal system. It was also observed the effectiveness of
the custody hearing and the guarantee of the Fundamental Rights that
the institute safeguards, verifying if it is really able to avoid irregular ar-
rests and clarifying the character of the institute regarding the identi-
fication of indications of abuses and police torture. Finally, the conse-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 270

quences of not holding the custody hearing were analyzed, establish-


ing its effectiveness and importance in combating the abuse of author-
ity, and determining its social and legal impact.
Key words: Custody hearing; legality; effectiveness.

1 INTRODUÇÃO

A audiência de custódia tem como fundamento primordial a


apresentação imediata do preso em flagrante à autoridade judiciária
competente, para que esta proceda à avaliação da legalidade da pri-
são, bem como decida se é necessária sua manutenção, aplicação
das medidas cautelares diversas da prisão ou se é cabível a liberdade
provisória, sendo a última a regra, não a exceção.
Desse modo, conforme evidenciado por Manoel Maria Antunes
de Melo, 2019, a apresentação imediata da pessoa presa ou detida
ante uma autoridade judicial, imparcial, afirma a garantia de integrida-
de e conformidade de um sistema de justiça criminal com fundamento
na Dignidade da Pessoa Humana.
Por conseguinte, o presente trabalho volta-se para o estudo de
como a audiência de custódia atua no combate ao abuso de autorida-
de no sistema criminal brasileiro. Tendo em vista que, analisando as
circunstâncias do rito processual penal canarinho, a pessoa detida há
se ter poucas possibilidades para relatar um possível abuso de auto-
ridade ou maus-tratos no momento da prisão ou de sua trajetória até
o momento da audiência de custódia. Nesse sentido, é na audiência
de custódia, onde há presença de um juiz, de um promotor e da de-
fensoria pública, que o custodiado possui a firmeza de relatar os abu-
sos sofridos.
Nesse enfoque, Aury Lopes Júnior, 2020, dispõe que a audiên-
cia de custódia humaniza o ato da prisão, além de permitir um melhor
controle da legalidade do flagrante, assim, a audiência de custódia se
consagra como ferramenta de garantia dos direitos constitucionais do
custodiado. Aury Lopes Júnior, complementa, ainda, que o controle de
legalidade por meio da audiência de custódia gera melhores condi-
ções para o magistrado avaliar a situação e a necessidade ou não da
prisão cautelar.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 271

Nessa ótica, e levando em consideração que a audiência de


custódia é um instituto recém-chegado nos procedimentos processu-
ais penais nacionais, iniciando-se em 2015, e, mediante o grande im-
pacto do referido instituto no sistema criminal canarinho, surgem ques-
tionamentos acerca de sua efetivação e importância no combate ao
abuso de autoridade. Destarte, o presente trabalho buscou estimar a
importância e eficácia da audiência de custódia no combate ao abu-
so de autoridade.
Acerca da criação da audiência de custódia, Manoel Maria,
2019, pontua que a audiência de custódia surgiu da necessidade
acautelatória dos direitos fundamentais da pessoa custodiada, pessoa
essa que muito já viam sofrendo com os abusos e maus tratos duran-
te a suas idas e vindas pelo “sistema”.
Não obstante, em observância à situação do sistema prisional do
país e ao surgimento da audiência de custódia como via de salvaguar-
da contra prisões ilegais ou desnecessárias, e a civilização do processo
penal, o intuito deste trabalho é transmitir uma análise desse instituto,
suas vantagens e aplicação no contexto do ordenamento pátrio.
Tendo o presente estudo se fundamentado em pesquisas e le-
vantamentos bibliográficos, frisando o estudo da doutrina pátria e da
comunidade científica. Não obstante, foi realizado análises de juris-
prudências, entendimentos dos tribunais brasileiros e posicionamen-
to dos órgãos de controle e fiscalização do sistema criminal canari-
nho. Trilhando um raciocínio voltado para os Direitos Fundamentais
e visando fixação da relevância do instituto na garantia de tais direi-
tos e no combate ao abuso de autoridade. Partindo das áreas do Di-
reito Constitucional, Processual Penal e Penal, além das demais fon-
tes do Direito.

2 O ABUSO DE AUTORIDADE NO SISTEMA CRIMINAL BRASILEIRO

O conceito de abuso de autoridade fundamenta-se na obten-


ção dos meios que possibilitam a imposição das vontades particulares
do agente público. Com isso, o agente público atua de forma contrária
ao interesse coletivo, ou seja, vai contra o interesse público, promo-
vendo um desvio de finalidade pública de sua própria função.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 272

Portanto, o abuso de autoridade ocorre quando uma autorida-


de pública, no uso de suas atribuições legais, vai contra as garantias
transindividuais e individuais da pessoa humana, violando o princípio
da garantia da pessoa humana, base da sociedade e do Estado.
Conforme elenca Manoel Maria Antunes de Melo:

A coisificação do ser humano, no âmbito de um proces-


so judicial, é fruto da violência institucional que promana
das próprias estruturas judiciais. E esse fenômeno ocor-
re porque as instituições de um Estado são o espelho
da própria sociedade de cujo seio vicejam, reproduzindo,
não necessariamente de forma deliberada e consciente,
as mesmas práticas e valores que permeiam a vida em
sociedade. (MELO, 2019, p. 125)

Assim, devido ao ambiente que se estruturou o sistema pena-


lizante brasileiro, a incidência de tais situações era corriqueira face à
falta de acesso às informações e a precariedade em sua dissemina-
ção. Assim, criou-se um pré-conceito por uma parte da população em
face às instituições e suas atuações, principalmente em face a Polícia.
Incessantemente, no intuito de combater essa mazela social e
cultural, houve a formulação da nova lei de abuso de autoridade, lei
13.869/19, no qual dispõe sobre as condutas que constituem crime de
abuso de autoridade, sejam elas praticadas pelo agente com a finali-
dade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo, ou a
terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.
Nesse âmbito, o agente público é aquele que está em exercício
de função pública, até mesmo as de forma transitória, remunerada ou
não, basta ser um cargo público. Portanto, tal agente pode ter sido in-
vestido na função por meio de eleição, nomeação, designação, contra-
tação ou outra maneira. Não obstante, também é agente público aque-
le que está cumprindo mandato, cargo, emprego ou função em órgão,
ou entidade da qual trata a lei 13.869/19, (BRASIL, 2019).
Por conseguinte, quando no âmbito da justiça criminal, as arbi-
trariedades que mais se destacam, tanto pela frequência, quanto pela
sua gravidade, são as policiais. Tais arbitrariedades ocorrem devido à
atividade policial ser a mais direta em termos de contato com o públi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 273

co, e por serem os profissionais responsáveis pelo controle social e


manutenção da ordem pública.
Nesse sentido é o agente policial quem deve promover o maior
respaldo e garantia de legalidade e dos direitos humanos, tornando-se
exemplo para a população e transmitindo a ordem social e pública em
meio a sociedade, mediante o estabelecido pela lei. Portanto, tal atua-
ção de prestígio e de suma relevância social não deveria ter uma ima-
gem maculada em meio a uma parcela da sociedade. Entretanto, tal
desprezo ocorre devido ao despreparo moral, ético e profissional de
poucos agentes que utilizam da função para causar arbitrariedades,
maculando a imagem de toda a instituição.
Magalhães (2018), dispõe em sua obra que é fácil localizar nas
redes sociais e em outros veículos de comunicação, vídeos e imagens
de flagrantes de abordagens policiais inadequadas ou inapropriadas,
que evidenciam a falta de profissionalismo das autoridades policiais
em todo o Brasil.
Com isso, qualquer conduta do rol dos artigos 9.º e 38.º da Lei
n.º 13.869, (BRASIL, 2019), realizada pelo agente policial no exercício
de suas funções, configura o cometimento de abuso de autoridade e
representa violação dos direitos e garantias fundamentais.
Assim, surge a audiência de custódia como meio de garantia
dos direitos fundamentais, controle constitucional e fiscalização da
atuação pública, em especial, da conduta policial.

3 AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

As audiências de custódia estão descritas nos pactos e


tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Bra-
sil, como o Pacto San José da Costa Rica (Brasil, 1992), onde
dispõe em seu art. 7.º “5” que:

Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem


demora, à presença de um juiz ou outra autoridade auto-
rizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a
ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta
em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 274

Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que as-


segurem o seu comparecimento em juízo. (Brasil, decre-
to n.º 678, 1992, art. 7.5).

Nesse sentido, a audiência de custódia, foi implementada, pri-


mordialmente, pela regulamentação disposta na resolução nº 213 do
CNJ (2015), no qual disciplinava que com a efetivação da prisão de-
veria ser realizada a apresentação do preso à autoridade judicial, tan-
to na incidência da prisão em flagrante, como também no cumprimen-
to de mandado de prisão preventiva, temporária e definitiva.
A posteriori, o pacote anticrime, lei n.º 13.964/2019, modificou
o art. 310, caput, do CPP (Código de Processo Penal Brasileiro de
1941), à medida que esse veio a disciplinar e regularizar a realização
da audiência de custódia no sistema da justiça criminal brasileira.
Não obstante, as audiências de custódia ganharam força e vi-
sibilidade no país, após a confirmação da legitimidade para a realiza-
ção das mesmas pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar, ao impor
seu entendimento na ADI 5240, (STF, 2015); e na ADPF 347, (STF,
2015).
Por conseguinte, conforme bem desenvolvido por Manoel Ma-
ria Antunes de Melo (MELO, 2019), a finalidade primordial da audiên-
cia de custódia é a garantia dos direitos transindividuais e humanitá-
rios da pessoa custodiada, meio este que frisa a garantia da oitiva do
preso pela Autoridade Judicial competente, na finalidade de ser ana-
lisada às condições da prisão e a efetividade das garantias dos Direi-
tos da pessoa humana.
A finalidade desse remédio constitucional, está no contato ime-
diato do juiz com o preso, com o intuito de repassar ao julgador o mo-
tivo por qual foi a pessoa foi presa e para ele poder verificar as condi-
ções que se encontra a pessoa custodiada.
Portanto, audiência de custódia surgiu da necessidade de ga-
rantia dos direitos fundamentais da pessoa custodiada, pessoa essa
que, conforme Manoel Maria (2019), muito já viam sofrendo com os
abusos e maus tratos durante a suas idas e vindas pelo “sistema”.
Destarte, com a regularização e aplicação do instituto da audi-
ência de custódia, o ambiente de torturas e abusos deixou de ser algo
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 275

recorrente no sistema criminal canarinho, face à garantia da pessoa


custodiada relatar e externar os abusos para à Autoridade Judicial.
Hodiernamente, a audiência de custódia possui sua previsão
descrita no art. 310, caput, do CPP, onde determina que após a ciên-
cia da prisão em flagrante o juiz deve realizar, no prazo de 24 horas,
a audiência de custódia. Entretanto, o art. 310, no seu §4º, do mesmo
diploma legal, dispõe que o prazo máximo, na realidade, é 48 horas.
Pois, conforme descrito na legislação, só ensejará na ilegalidade da
prisão caso se tenha transcorrido o prazo de 24 horas depois do fim do
prazo inicial definido no caput do art. 310 do CPP, sem motivação idô-
nea para a não realização da audiência de custódia, (BRASIL, 1941).
Conforme desenvolvido pelo Manual sobre Tomada de Decisão
na Audiência de Custódia do CNJ (2020), a garantia do princípio da
ampla defesa do custodiado frisa-se no requisito imposto pela legis-
lação no art. 310, caput, do CPP, onde (após a apresentação do cus-
todiado à Autoridade Judicial), o juiz promoverá a realização da audi-
ência de custódia com a presença obrigatória do próprio juiz, do re-
presentante do Ministério Público – Promotor de Justiça, e a presen-
ça do advogado do custodiado ou, não havendo esse, Defensor Pú-
blico. Garantida a defesa e apoio jurídico à pessoa custodiada, (BRA-
SIL, 1941).
À vista disso, o CNJ na Resolução n.º 213 (2015), dispõe aos
juízes, no seu art. 8.º, como deverão proceder face à realização da au-
diência de custódia. Momento esse que a Autoridade Judicial irá en-
trevistar a pessoa presa, devendo se ater aos fatos circunstanciados
da prisão e enaltecer o objetivo da audiência de custódia e o que será
analisado.
Com isso, após a efetivação das garantias da pessoa presa e
da coleta de informações acerca da legalidade da prisão, a Autorida-
de Judicial passará a palavra na ordem do art. 8.º, § 1.º, da Resolução
n.º 213 (2015), e, por fim, decidirá acerca da prisão, podendo proce-
der com o relaxamento da prisão em flagrante; a concessão da liber-
dade provisória sem ou com aplicação de medida cautelar diversa da
prisão; a decretação de prisão preventiva; ou com a adoção de outras
medidas necessárias à preservação de direitos da pessoa presa. vide
art. 310 do CPP, (BRASIL, 1941).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 276

Entretanto, existia dúvida acerca do alcance da audiência de


custódia e em qual modalidades de prisão deveria ser aplicada, sen-
do enaltecida pelo STJ através do julgamento do recurso em habe-
as corpus n.º RHC 148.839/SP (AgRg no RHC 148.839/SP, Rel. Mi-
nistro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA TURMA, julgado em
22/02/2022, DJe 24/02/2022), em que a corte entendeu que a audiên-
cia de custódia só deveria ser realizada para presos em flagrante, tra-
tando-se de única hipótese prevista.
Todavia, conforme já decidido pelo Pretório Excelso no julga-
mento da RCL 29303, de relatoria do Min. Edson Fachin, julgado em
03/03/2023, Sessão Virtual de 24.02.2023 a 03.03.2023, a audiência
de custódia deve ser realizada em todas as modalidades prisionais, in-
clusive prisões preventivas, temporárias, preventivas para fins de ex-
tradição, decorrentes de descumprimento de medidas cautelares di-
versas, de violação de monitoramento eletrônico e definitivas para fins
de execução da pena.
Portanto, deve-se deixar claro que a audiência de custódia não
está restrita à prisão em flagrante: pois o legislador alterou a redação
do art. 287 do CPP, passando a dispor que, no caso de prisão decre-
tada, a falta de exibição do mandado não obstará a prisão, e o preso
em tal caso, será imediatamente apresentado ao juiz que tiver expe-
dido o mandado, para a realização de audiência de custódia, (BRA-
SIL, 1941).
Nesse sentido, leciona Aury Lopes Júnior que:

Mas um detalhe: a audiência de custódia não se limita


aos casos de prisão em flagrante, senão que terá apli-
cação em toda e qualquer prisão, detenção ou retenção
(dicção do art. 7.5 da CADH), sendo, portanto, exigível na
prisão temporária e também na prisão preventiva. (LO-
PES JUNIOR, 2020, p. 967-968)

Com isso, o art. 13 da Resolução n.º 213 (2015), dispõe que a


apresentação da pessoa presa à Autoridade Policial para realização
da audiência de custódia, também será assegurada às pessoas pre-
sas em decorrência de cumprimento de mandado de prisão cautelar
ou definitiva.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 277

Não obstante, em esfera estadual, o Tribunal de Justiça do


Piauí por meio da Resolução n.º 128/2019 (TJPI, 2019), estabelece no
seu art. 1.º que “no âmbito do Poder Judiciário do Estado do Piauí, as
audiências de custódia serão realizadas de modo regionalizado, dia-
riamente, inclusive aos sábados, domingos e feriados, abrangendo as
prisões cautelares e definitivas.”
Ainda, conforme o artigo 3.º, §3.º, da Resolução n° 128/2019
(TJPI, 2019), no interior do estado, onde não houver instalado o Nú-
cleo de Audiência de Custódia, cabe ao juízo competente realizar a
audiência de custódia no primeiro dia útil subsequente ao fim do plan-
tão, para verificação de ilegalidades e abusos na prisão, não ficando
restrito ao que decidido pelo juízo plantonista.
Nesse ínterim, fica claro que a audiência de custódia deve ser
realizada em decorrência de todas as modalidades prisionais, possibi-
litando a apresentação do preso à Autoridade Judicial competente, na
presença de um defensor e do Ministério Público.
Por fim, a efetividade da audiência de custódia está intrinseca-
mente ligada ao Ministério Público e aos órgãos de controle externo
da atividade policial de cada ente federativo, como o GACEP no Es-
tado do Piauí.
É por meio dos órgãos de controle externo como, p. ex., o GA-
CEP, que o Ministério Público apura os relatos em audiência de custó-
dia de abusos de autoridade e maus-tratos. Tal órgão possibilita o apri-
moramento e a capacitação da atuação policial.
Além disso, compete ao Ministério Público atuar repressiva-
mente diante da prática de ilegalidades, abuso de poder, improbida-
de administrativa, ou de omissões os integrantes das forças policiais e
equiparados (art. 144, da Constituição Federal de 1988), promovendo
a responsabilização, nas esferas civil, administrativa e criminal.
Com isso, havendo a existência de indícios de abuso de auto-
ridade, cabe ao Ministério Público promover a responsabilização dos
agentes, por todas as vias cabíeis.

4 METODOLOGIA

Conforme bem esclarecido por Antonio Henriques e João Bos-


co Medeiros (2017), acerca da pesquisa qualitativa:
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 278

Os postulados positivistas, apoiados na quantificação,


ocupam-se, nos domínios da natureza, da investigação
de regularidades e de relações causais e explicativas dos
fenômenos, visando descobrir leis que governam os fe-
nômenos. Nas Ciências Humanas e Sociais, no entan-
to, esse modelo de pesquisa enfrenta enorme resistên-
cia. A complexidade, a singularidade, a imprevisibilidade
e a originalidade das relações interpessoais e sociais re-
quisitam outros métodos que não a quantificação, méto-
dos mais relacionados com a interpretação, propriamente
dita, métodos que valorizam aspectos qualitativos. (HEN-
RIQUES e MEDEIROS, 2017, p. 105)

Por conseguinte, a pesquisa qualitativa é apropriada para a


busca do entendimento de fenômenos complexos específicos, em pro-
fundidade, de natureza social e cultural, por meio de descrições, inter-
pretações e comparações, não levando em consideração os seus as-
pectos numéricos em termos de regras matemáticas e estatísticas.
Dessa forma, o presente trabalho utilizou-se do caráter de pes-
quisa qualitativa devido, focado na análise social e jurídica do tema
exemplificado, com a descrição e reconstrução estrutural dele.
Nesse sentido, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, pois ela,
nas palavras de Antonio Henriques e João Bosco Medeiros (2017):

[...] Consiste basicamente em selecionar informações bi-


bliográficas (livros, dicionários, artigos científicos, docu-
mentos) que possam contribuir para explicar o problema
objeto da investigação. Esse tipo de pesquisa visa co-
nhecer e analisar as contribuições teóricas fundamen-
tais sobre um tema ou problema, o que faz dela um ins-
trumento indispensável para qualquer tipo de pesquisa.
(HENRIQUES e MEDEIROS, 2017, p. 106)

Destarte, a pesquisa em apreço se fixou na coleta de dados por


meio da pesquisa bibliográfica, tendo o pressuposto da visão analíti-
ca, crítica e reflexiva, utilizando-se do estudo da doutrina pátria, de ar-
tigos da comunidade científica acerca do tema, com o estudo de juris-
prudências, entendimentos e posicionamento dos órgãos de contro-
le e fiscalização do sistema criminal canarinho, por meio de documen-
tos e materiais disponibilizados na internet, já devidamente publicados
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 279

e catalogados. Destarte, tais instrumentos foram utilizados para fun-


damentar e contrapor as hipóteses e questões levantadas no presen-
te trabalho.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destarte, evidencia-se que a audiência de custódia já se en-


contrava previstas nos pactos e tratados internacionais de direitos hu-
manos ratificados pelo Brasil. Entretanto, não havia normatização de
como ela deveria ocorrer ou obrigatoriedade em sua realização. Com
isso, havia impunidade em relação ao cometimento de abusos de au-
toridade ou maus-tratos.
Hodiernamente, ainda é perceptível os abusos de autoridade e
maus-tratos, principalmente na realização da prisão ou na condução
do custodiado até a audiência de custódia, sendo possível vislumbrar
tais acontecimentos por meio de notícias e repercussões no meio so-
cial e jurídico. Todavia, nota-se a grande redução das ocorrências de
abusos de autoridade e maus-tratos com o avanço da aplicação da au-
diência de custódia, restando casos isolados de condutas que acabam
ferindo todo o corpo institucional.
Nesse contexto, pontua-se a necessidade de manutenção e
aplicação da audiência de custódia, haja vista a sua característica de
salvaguarda dos direitos fundamentais da pessoal humana. Não obs-
tante, é por meio da audiência de custódia que o custodiado ganha es-
paço para se defender e relatar as agressões e abusos sofridos, ten-
do em vista a obrigatoriedade do Ministério Público em zelar pela ple-
na aplicação das garantias e normativas constitucionais, em especial,
pelo princípio da integridade física e moral, conforme os art. 5.º, III e
XLIX da Constituição Federal de 1988.
Com isso, a audiência de custódia passa ao custodiado um am-
biente de segurança. Ainda, possibilita a reponsabilização dos agen-
tes que cometeram ou venham a cometer abusos de autoridade, ser-
vindo como aviso e forma de prevenção dessas ocorrências.
Tendo em vista a ampla aplicação da audiência de custódia,
fica evidente sua capacidade de garantia dos direitos fundamentais e
combate ao abuso de autoridade.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 280

Destarte, fixa-se a importância da audiência de custódia no sis-


tema criminal brasileiro, sendo um instituto basilar na aplicações das
garantias constitucionais da pessoa presa. Restando-se, indubitável
sua eficiência em relação às suas premissas de garantia e respaldo
constitucional.
Por fim, a audiência de custódia possui base jurídica e social,
tendo hodiernamente uma importância indiscutível. Ainda, em conti-
nuidade à realização da audiência de custódia, o Ministério Público
possui mecanismos para a responsabilização de possíveis abusos de
autoridade, e órgãos direcionados para essa finalidade. Nesse senti-
do, a audiência de custódia tem sua eficácia na possibilidade de ins-
tauração de procedimento de apuração de abuso de autoridade pelo
Ministério Público, tendo apoio e mecanismos de atuação nos órgãos
de controle externo da atividade policial.
Conclui-se que a audiência de custódia trouxe uma enorme con-
tribuição na luta pelas garantias constitucionais da pessoa presa, além
de possibilitar com que inúmeras situações de prisão cautelar sem ne-
cessidade deixassem de ocorrer, devido à possibilidade do magistrado
de colher as informações acerca da prisão diretamente da pessoa pre-
sa, não ficando restrito apenas aos documentos que acompanham o
preso. Além disso, a audiência de custódia retirou o ar de completa im-
punidade dos agentes públicos pelo cometimento de abuso de autori-
dade, promovendo uma queda nas ocorrências de abuso de autorida-
de devido a sua alta repreensão e reprovabilidade, sendo a audiência
de custódia um grande marco social do ordenamento jurídico hodierno.

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CAPÍTULO 20

BPC: REQUISITOS OU CONDIÇÕES PARA


CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO
CONTINUADA PARA PESSOAS COM AUTISMO

Lígia Maria dos Santos


Estudante do 9° período do Curso de
Ciências Contábeis pela CHRISFAPI

Noádia Silva do Nascimento


Estudante do 9° período do Curso de
Ciências Contábeis pela CHRISFAPI

Renata Pinheiro Rezende


Professora Mestra e Docente
na faculdade CHRISFAPI

RESUMO
O presente trabalho tem por escopo analisar as condições que en-
sejam a concessão do BPC – Benefício de Prestação Continuada de
pessoas que apresentam autismo. A proteção jurídica a indivíduos
com Transtorno do Espectro Autista – TEA passa a ganhar bastan-
te relevância com o advento da Lei Berenice Piena, enumerada Lei nº
12.476/2012, pois, com o seu advento, as pessoas com espectro au-
tista foram consideradas como pessoas com deficiência (PCD), abrin-
do-se uma maior possibilidade de acesso ao recebimento do BPC
deficiente. Assim, surgiu a seguinte problemática: Quais os requisi-
tos para que uma pessoa com transtorno do espectro autista receba
BPC? Tendo sido utilizada, neste estudo, a pesquisa bibliográfica em
livros, artigos e decisões judiciais. Percebeu-se que as pessoas com
autismo terão a concessão do seu benefício a depender da análise do
caso concreto, em que a autarquia responsável, INSS, irá analisar se
o requente se enquadra nos critérios estabelecidos na lei.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 285

Palavras-Chave: Autismo; Benefício de Prestação Continuada; Deci-


sões judiciais.

Introdução

A proteção jurídica a indivíduos com Transtorno do Espectro


Autista – TEA passa a ganhar bastante relevância com o advento da
Lei Berenice Piena, enumerada Lei nº 12.476/2012. No entanto, até
que essa conquista fosse alcançada, muito se lutou para isso. A partir
do advento da aludida lei, tiveram algumas implicações no âmbito ju-
rídico, dentre elas foi o fato da compreensão legal de que os incluídos
no espectro autista são considerados como pessoas com deficiência
(PCD), abrindo-se uma maior possibilidade de acesso ao recebimento
do Benefício de Prestação Continuada – BPC deficiente.
Tem-se que o BPC consiste em um benefício instituído pela Lei
n° 8.743/93, conhecida como LOAS (Lei Orgânica da Assistência So-
cial), que, dentre uma das suas atribuições, está a regulamentação do
aludido benefício em respeito ao art. 203,V, da CF. Tem-se que o be-
nefício busca auxiliar pessoas de baixa renda idosas e com deficiên-
cia a manterem seu sustento e o de sua família, conforme detalha-se
adiante.
Percebe-se, dessa forma, que o Benefício de Prestação Con-
tinuada tem a possibilidade de mudar a vida das pessoas que vivem
em situação de vulnerabilidade social, diante disso, surgiu o seguinte
questionamento: Quais os requisitos para que uma pessoa com trans-
torno do espectro autista receba BPC?
Por isso, o presente trabalho buscou analisar as condições que
ensejam a concessão do BPC de pessoas que apresentam autismo.
Para tanto, pautou-se nos seguintes objetivos específicos: compreen-
der o espectro autista e identificar algumas das proteções legais que
as pessoas diagnosticadas com essa condição apresentam, compre-
ender o procedimento no âmbito administrativo do Benefício de Pres-
tação Continuada – BPC deficiente, por fim, analisar como os Tribu-
nais Superiores vêm decidindo sobre a temática.
A metodologia usada no presente trabalho foi de pesquisa bi-
bliográfica, com auxílio de livros e artigos científicos que abordam a
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 286

temática sobre autismo e o BPC, bem como a procura em sítios da in-


ternet para pesquisas sobre algumas nomenclaturas e conceitos. Se-
gundo Núbia M. Garcia Bastos (2006, p. 31), classifica-se como pes-
quisa bibliográfica a análise de literatura já publicada, como livros, en-
saios e artigos científicos.
Para o estudo desta temática, fez-se necessário encontrar am-
paro na lei e em estudos feitos por outros pesquisadores sobre o tema,
a fim de compreender a pesquisa e enriquecer o presente trabalho.
Nesse sentido, serão apresentados a seguir alguns conceitos relacio-
nados ao tema.

2 O Transtorno do Espectro Autista como pessoas com deficiên-


cia (PCD)

Autismo ou Transtorno do Espectro Autista – TEA é caracteri-


zado com um transtorno e está vinculado ao cérebro, podendo inter-
ferir nas relações sociais e sensoriais do indivíduo. O transtorno reú-
ne desordens neurológicas que começam a se manifestar ainda na in-
fância, prologando-se em todas as etapas da vida. Segundo Renata
Lima (2017, p.26), “há vários graus de deficiência em 3 áreas: Rela-
cionamento social, comunicação e comportamentos repetitivos e ina-
dequadas”.
Adentrando-se nas áreas ou graus de deficiência, o relacio-
namento social evidencia-se pela dificuldade nas interações sociais,
como manter contato visual, diferença nas expressões sociais, gestos
peculiares e diferentes formas de expressar emoções próprias e fazer
amizade. A dificuldade na comunicação é demonstrada pelo uso re-
petitivo de expressões e linguagem, bem como dificuldade em come-
çar ou manter um diálogo. Já os comportamentos repetitivos, são ma-
nifestados em apego excessivo a uma rotina, ações e comportamen-
tos que se repetem bem mais que o comum, além de interesse inten-
so em coisas específicas e sensibilidade sensorial em maior ou menor
intensidade (AMARAL, 2023).
O transtorno está posto no DSM-V – Manual de Diagnósticos e
Estatísticas de Transtornos Mentais; com ele, pode-se observar como
é feito o diagnostico da deficiência, bem como o seu tratamento. O
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 287

DSM é usado em todo o mundo para unificar patologias e definir diag-


nósticos uniformes, buscando uma igualdade quanto à busca de trata-
mento. Ao longo dos anos, o Manual tem sido constantemente atuali-
zado para incluir novas descobertas feitas sobre o autismo, contribuin-
do para o aprimoramento dos tratamentos. Entretanto, ainda há muito
que se evoluir, segundo Fernandes Bueno (2021, p. 21).
Como forma de rotular esse distúrbio como um espectro, o Ma-
nual coloca que ele pode se manifestar em diversos níveis de intensi-
dade. Pessoas com grau 1 (um) podem apresentar alguns prejuízos le-
ves, que não impedem de trabalhar, estudar e praticar outras atividades.
Já pessoas com grau 2 (dois), por exemplo, têm necessidade de auxílio
para a prática de atividades cotidianas, como preparar refeições e cui-
dar da higiene. Pessoas com grau 3 (três) manifestam dificuldades gra-
ves e costumam necessitar de apoio ao longo de toda a vida.

Os indivíduos com espectro podem demonstrar habilida-


des impressionantes, embora o transtorno seja neuroló-
gico, não impedindo que tenham facilidade para aprender
de forma visual, muito detalhistas, memória acima da mé-
dia e grande capacidade de concentração em algo que
interessem, por um longo período de tempo.” (MORAL,
2021, p. 20).

As pessoas com espectro tendem a ter comportamentos dife-


rentes das pessoas neurotípicas, que são aquelas que não possuem
transtornos mentais. No entanto, para as pessoas com TEA, esses
comportamentos fazem parte da sua forma de expressão, tais ações
podem ser consideradas como respostas a estímulos do mundo ex-
terior. Essas estereotipias, como são denominadas pelos médicos as
ações repetitivas ou ritualísticas oriundas de movimento, postura ou
fala, podem ser acontecer quando o autista se sente em situação de
vulnerabilidade ou estranheza, sendo usadas para acalmar seu inte-
rior, de acordo com a psicóloga Fernanda Orsati.
Muitas vezes, atitudes como balançar o corpo, girar objetos, fa-
zer sons repetitivos ou repetir diversas vezes as mesmas palavras ou
sílabas, tende a ser prazeroso para eles, no entanto, as pessoas neu-
rotípicas não veem isso com bons olhos, o que pode causar aversão e,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 288

até mesmo, repulsão, trazendo um afastamento da pessoa com TEA


do convívio social, conforme a psiquiatra Sumiya (2021, p. 23). A pró-
pria família se sente discriminada pela falta de entendimento e empa-
tia das pessoas que não conhecem o transtorno. Tratam as pessoas
que tem autismo como “loucos”, fazendo com que a inclusão seja ain-
da mais difícil para as pessoas que precisam de acolhimento e com-
preensão.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC, que
consiste em uma agência de Departamento de Saúde e Serviços Hu-
manos do Estados Unidos, com sede na Geórgia, que pesquisa e for-
nece informações de saúde em várias áreas, apontou que o número
de diagnósticos de pessoas com TEA vem aumentando de 2004 até
os dias atuais. Em sua última publicação, feita em 2020, mostrou que
de 54 (cinquenta e quatro) crianças de 08 (oito) anos, uma tem autis-
mo, o que demonstra um forte avanço na rapidez do diagnóstico e o
aumento da qualidade de informações por parte dos profissionais da
saúde (FERREIRA, 2023, p. 5).
De acordo com a pesquisa feita pelo CDC em 2020, foi cons-
tatado um resultado de que para cada menina com TEA, há prevalên-
cia de 4 meninos. Embora não existam pesquisas concretas que expli-
quem essa predominância, não há diferenças entre etnias ou grupos
socioeconômicos, o que sugere que o TEA não apresenta distinções e
pode atingir pessoas de qualquer raça ou poder aquisitivo.
Havia especulações que diferenças entre etnias podiam ser en-
contradas. No entanto, posteriormente foi esclarecido que isso não
era real. Na verdade, o que acontecia era que pessoas com espectro
e com melhores condições socioeconômicas podiam ter acesso a um
diagnóstico mais rápido e preciso. Por outro lado, pessoas menos fa-
vorecidas não tinham o mesmo privilégio. No entanto, segundo Adria-
na Moral (2021, p. 10), após um aumento gradativo de informações,
pesquisas e capacitações, as pessoas menos abastardas puderam ter
acesso gratuito ao diagnóstico. Conforme mencionado anteriormente,
o avanço da informação e estudos quanto ao TEA tem trazido espe-
rança e informação às pessoas que vivem às margens da sociedade.
Vale ressaltar a importância da Lei nº 12.764/2012, nomeada
Lei Berenice Piana, que foi a responsável por reconhecer aquele com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 289

espectro autista como pessoa com deficiência, como aponta seu pa-
rágrafo segundo, do artigo primeiro: “§ 2º A pessoa com transtorno do
espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os
efeitos legais.” (BRASIL, 2012, art. 1º)
O advento da Lei foi um marco histórico na proteção das pesso-
as com autismo, ela passou a regulamentar diretrizes e autorizar aten-
dimento preferencial, bem como uso de carteirinhas por pessoas com
espectro para facilitar a inclusão social, atendimento especializado por
núcleos de apoio, além de proporcionar os mesmos direitos postos no
Estatuto da Pessoa com Deficiência, sob a Lei n° 13.146/2015.
A Lei Berenice Piana surge quando, segundo a Fundação Ca-
tarinense de Educação Especial (2013), Berenice, mãe de um menino
com autismo, após receber o diagnóstico, passou a estudar sobre o
assunto e sugerir implementações de políticas públicas para melhorar
a qualidade de vida dos autistas, passando a dar palestras sobre o as-
sunto. Com tantas ideias, chegou ao Congresso Nacional com a cau-
sa, a qual originou a Lei mencionada anteriormente.

3 Benefício de Prestação Continuada – BPC por deficiência

O BPC por deficiência consiste em um benefício assistencial


de um salário mínimo, concedido pelo Governo Federal por meio do
INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) à pessoa com deficiência e
ao idoso, atestados de não ter meios para prover a própria manuten-
ção ou de tê-la provida por sua família. Apresenta sua fundamentação
a partir do art. 20, da Lei nº 8.742/93, conhecida como LOAS (Lei Or-
gânica da Assistência Social), os quais estão postos os requisitos para
ter o benefício assistencial concedido, regulamentando o art. 203, in-
ciso V, da Carta Magna, que aduz:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela


necessitar, independentemente de contribuição à seguri-
dade social, e tem por objetivos:
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal
à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que com-
provem não possuir meios de prover à própria manuten-
ção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispu-
ser a lei.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 290

Além da previsão constitucional e da LOAS, o BPC por defici-


ência também é regulamentado pelo Decreto nº 6.214/07, com reda-
ção dada pelo Decreto nº 7.617/11.

3.1 Requisitos do Benefício de Prestação Continuada – BPC

Para iniciar uma demonstração clara e objetiva, é necessário


entender quais os requisitos a serem cumpridos para que uma pessoa
com autismo venha a ter o seu beneficio concedido. A lei relata que
tem direito a pessoa com deficiência ou idosa com 65 anos ou mais,
comprovando não possuir meios de prover a própria manutenção e
nem a ter provida pela família, cabendo salientar que esses elemen-
tos são cumulativos. Desse modo, vale destacar o que vem a ser de-
ficiência pelo conceito legal do art. 2º, da Lei nº 13.146/2015 (Estatuto
da Pessoa com Deficiência), assim, dispõe-se:

Art. 2º. Considera-se pessoa com deficiência aquela


que tem impedimento de longo prazo de natureza físi-
ca, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação
com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participa-
ção plena e efetiva na sociedade em igualdade de condi-
ções com as demais pessoas.

Não sendo necessário que a avaliação da deficiência seja es-


tritamente médica, sendo permitido pela própria lei alhures que sejam
analisados fatores biopsicossociais da deficiência, a própria LOAS es-
tabelece que a avaliação ficará sujeita à perícia realizada por médicos
e visitas por assistentes sociais do Instituto Nacional de Seguro So-
cial – INSS. Após essa análise, se houver discordância quanto a qual-
quer um desses critérios, caberá recurso administrativo contra a deci-
são que negar o benefício. Ademais, é possível pleiteá-lo de forma ju-
dicial sem prejuízo. (CENTRAL LAW, 2021).
O critério de renda é algo que também merece destaque, pois,
como preconiza o parágrafo 3º, do art. 20, da LOAS, a renda mensal
per capita deve ser igual ou inferior a ¼ do salário-mínimo, somando-
-se toda a renda bruta familiar do requerente e dividindo-se pelo nú-
mero de membros. Tendo como definição de família para o BPC o re-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 291

querente, seu cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um


deles, a madrasta ou padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e ente-
ados solteiros e menores tutelados. Todos esses critérios específicos
trazidos pela lei são analisados de forma administrativa por um servi-
dor do INSS, dando a possibilidade de o requerente postular adminis-
trativamente sozinho pelo Meu INSS digital, ou com o auxílio de um
advogado.
Em 2018, a Portaria Conjunta número 3 trouxe, em alguns de
seus artigos, os procedimentos necessários para requerer o BPC. Po-
de-se demonstrar o acesso ao requerido benefício da seguinte manei-
ra: ao iniciar, será necessário fazer login no site ou aplicativo do “Meu
INSS”, caso não possua cadastro, deverá efetuá-lo. Em seguida, cli-
car em “agendamentos/solicitações”, depois, em “novo requerimento”,
devendo selecionar o serviço de BPC deficiente, atualizar e, em se-
guida, preencher os dados necessários, conferi-los e concluir o pedi-
do. É necessário que tenha em mão os documentos das pessoas da
família que moram na mesma casa que o requerente. Pode-se reque-
rer, também, pelo atendimento do telefone, no número 135. A solicita-
ção será analisada pela Autarquia Federal e marcado perícia médica
automaticamente, podendo ser tudo acompanhado pelo aplicativo ou
sítio do “Meu INSS”

4. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

Para o tema em questão, pode-se citar o princípio da dignida-


de da pessoa humana como ponto basilar do BPC, em que o benefí-
cio assistencial vem para auxiliar a parcela mais vulnerável da popu-
lação. Tal princípio vem apoiado no texto da Constituição Federal de
1988, mais precisamente, em seu art. 5º, “todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Tais questões demonstram o dever do Estado em promover
uma vida digna a todos os cidadãos, independentemente de quem se-
jam. É válido ressaltar que as pessoas com deficiência merecem uma
atenção redobrada, já que muitas vezes estão à margem da socieda-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 292

de, sofrem preconceito, têm dificuldade de inclusão e têm seus direi-


tos suprimidos por falta de informação.
O princípio da dignidade da pessoa humana é a base de todo
Estado Democrático de Direito. Com ele, deu-se abertura para que se
fosse possível falar em igualdade. Marcelo Novelino Camargo (2006)
esclarece que o princípio da igualdade traz profunda simbiose com o
da dignidade da pessoa humana. Para ele, tratar indivíduos diferentes
de maneira igual e indivíduos iguais de maneira diferente seria uma
afronta direta ao princípio da dignidade da pessoa humana.
A Constituição Federal (1988) traz importantes artigos sobre
o tema, dentre eles, o art. 3°, tratando sobre os objetivos fundamen-
tais da República Federativa do Brasil, que inclui a “erradicação da
pobreza e da marginalização, bem como redução das desigualdades
sociais e regionais”, além do disposto no inciso IV do referido artigo,
que determina a promoção do bem de todos, sem preconceito de ori-
gem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discrimina-
ção. Além desse, ainda há o art. 5º, I, XXXII, LXXIV, o art. 7º, XXX e
XXXI, o art. 170, VII, e o art. 196, todos tratando sobre o princípio da
igualdade.

5. Como os Tribunais vêm decidindo

O critério adotado pelo legislador no artigo 20, parágrafo 3º da


LOAS, acabou por deixar engessado as decisões, em que a presun-
ção de renda per capita de ¼ do salário-mínimo por pessoa fosse su-
ficiente para assegurar um bem-estar para a família da pessoa com
TEA. Nesse entendimento, a decisão está longe de ser uma realida-
de, visto que o recebimento do BPC ou a falta dele pode proporcionar
um contexto diferente na vida da pessoa com autismo.
Não por acaso que os Tribunais vêm recebendo inúmeras
ações judiciais com essa temática, além de ser tema para diversos
debates doutrinários. Segundo o Central Law (2021), com o aumen-
to das demandas sobre o critério de renda trazido pela LOAS, o Poder
Judiciário, em demanda de repercussão geral no ano de 2012, o STF
acabou por reconhecer a inconstitucionalidade do parágrafo 3º, do ar-
tigo 20, de modo que o juiz poderá usar de seu livre convencimento,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 293

em análise ao caso concreto, para conceder ou não o benefício ao re-


querente, podendo, por exemplo, avaliar as despesas com médicos,
medicamentos, alimentação especial, entre outras despesas devida-
mente comprovadas ao longo do processo, trazendo uma maior possi-
bilidade de pessoas com TEA obterem melhor qualidade de vida com
o auxílio assistencial.
Pode-se citar, por exemplo, a importante decisão proferida pelo
Tribunal Regional Federal, da 2ª Região TRF-2, acerca da negativa da
Autarquia Federal em conceder o BPC para uma pessoa com espectro
que procurou a via administrativa para pleitear o benefício, que logo re-
correu à justiça para poder ter acesso ao seu direito, conforme se obser-
va na pontuação do Relator Marcello Ferreira de Souza Granado:

“Ausência dos requisitos. Recursos não providos. 1. Por


atribuição constitucional, presta-se a reclamação para
preservar a competência do STF e garantir a autoridade
de suas decisões (art. 102, inciso I, alínea l, CF/88), bem
como para resguardar a correta aplicação de súmula vin-
culante (art. 103-A, § 3º, CF/88). 2. A jurisprudência des-
ta Corte desenvolveu parâmetros para a utilização des-
sa figura jurídica, dentre os quais se destaca a aderência
estrita do objeto do ato reclamado ao conteúdo das de-
cisões paradigmáticas do STF. 3. A definição dos crité-
rios a serem observados para a concessão do bene-
fício assistencial depende de apurado estudo e deve
ser verificada de acordo com as reais condições so-
ciais e econômicas de cada candidato à beneficiário,
não sendo o critério objetivo de renda per capta o
único legítimo para se aferir a condição de misera-
bilidade.”

Considerações finais

Espera-se que este artigo venha a esclarecer um pouco sobre


o autismo e a importância de sua compreensão no âmbito acadêmico,
especialmente nas relações jurídicas. Muitos profissionais da área têm
pouco conhecimento sobre o tema e, quando se deparam com a cau-
sa, acabam por não conseguirem abordar de maneira efetiva e inter-
vir na busca do direito de pessoas que tanto necessitam do BPC para
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 294

terem acesso a uma vida digna e terem as barreiras que a deficiência


traz rompidas.
Seguindo a linha de raciocínio apresentada por Thiago Helton
(2021) sobre a temática, pode-se observar que muitas pessoas tive-
ram seus pedidos negados ou barrados em virtude do rigor legislati-
vo quanto aos critérios a serem preenchidos. Entretanto, em um país
com tantas desigualdades e necessidades, acaba-se por desfavore-
cer as minorias. Nesse momento, é importante que haja conhecimen-
to a respeito das diversidades e que se decida a partir da análise de
cada caso.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 296

CAPÍTULO 21

CONSEQUÊNCIAS DAS SAÍDAS TEMPORÁRIAS


DOS DETENTOS EM DATAS COMEMORATIVAS E
SUAS REPERCUSSÕES PERANTE A SOCIEDADE

CONSEQUENCES OF THE TEMPORARY DEPARTURES OF


DETAILS ON COMMEMORATIVE DATES AND ITS
REPERCUSSIONS ON SOCIETY

Irlla Maria Alves de Carvalho


Estudante de Direito do IX período na faculdade
Christus Faculdade do Piauí (CHRISFAPI),
natural de Barras (PI), com endereço
eletrônico em irlla.maryiia@gmail.com

Nubia de Sousa Batista


Estudante de Direito do IX período na faculdade
Christus Faculdade do Piauí (CHRISFAPI),
natural de Campo Maior (PI), com endereço
eletrônico em sousabatistanubia@gmail.com

Lucelia Keila Bitencourt Gomes


Graduação em Direito pela Universidade
Estadual do Piauí, Especialista em Direito Penal e
Processo Penal pela Chrisfapi, Especialista em
Supervisão e Gestão Escolar pela Chrisfapi, Mestra
em ciências das Religiões pela Faculdade
Unida de Vitória – ES, natural de Piripiri (PI), com
endereço eletrônico em luceliakeila@gmail.com

RESUMO
O presente artigo teve como objetivo explicar os principais aspectos e
incidências provocadas pelas saídas temporárias dos detentos em da-
tas comemorativas e suas repercussões perante a sociedade, desta-
cando os riscos iminentes de cometimento de novos crimes. Além dis-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 297

so, foi realizada uma análise do contexto histórico, juntamente com o


entendimento doutrinário vigente e casos que ilustram a realidade so-
cial. Um dos benefícios mais emblemáticos concedidos aos detentos
são as saídas temporárias em datas comemorativas, que apresentam
diversas contradições à sua eficácia, provocando inquietude e revolta
na população. O presente artigo buscou apresentar as incidências do
benefício concedido em datas comemorativas, bem como os impactos
na sociedade. Foi discutido em consonância com as novas decisões
referentes ao tema na câmara dos deputados, que resultaram em vo-
tos favoráveis à extinção deste direito. Destacou-se a necessidade de
adequação da Lei de Execução Penal para estabelecer critérios impe-
ditivos para a concessão desse tipo de benefício.
Palavras-Chave: Saídas temporárias; Consequências; Lei; Sociedade.

ABSTRACT
The article in question aims to explain the main aspects and incidenc-
es caused by the temporary departures of detainees on commemora-
tive dates and their repercussions on society, which poses imminent
dangers to new crimes. In addition, an analysis of the historical context
was carried out, together with the doctrinal understanding that is cur-
rently in force and cases that show the social reality. One of the most
emblematic benefits granted to detainees are temporary releases on
commemorative dates, which present several contradictions to their ef-
fectiveness, causing concern and revolt in the population. This article
seeks to present the incidences of the benefit granted on commemo-
rative dates, present the impacts on society, in line with the new deci-
sions regarding the subject in the Chamber of Deputies that motivat-
ed positive votes in relation to the extinction of this right with the need
to adapt the Law of Criminal Execution to establish criteria that impede
grants of this type.
Keywords: Temporary departures; Consequences; Law; Society.

Introdução

A criminalidade no Brasil é atualmente objeto de preocupação


na sociedade, visto que tem se tornado cada vez mais extensiva. Ape-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 298

sar de existirem sanções penais cabíveis para atos ilícitos, com a in-
tenção de intimidar o delinquente e promover sua punição para desen-
corajar a reincidência, e de a lei de execução penal ser aplicada, ten-
do como pena máxima a privação de liberdade, é importante ressaltar
que tais medidas não têm sido suficientes para alcançar a efetiva res-
socialização almejada.
Na terapia comportamental, existe um recurso chamado refor-
ço positivo e negativo. O reforço positivo consiste em adicionar um es-
tímulo ao indivíduo visando uma resposta favorável, enquanto o refor-
ço negativo envolve a retirada de algo do indivíduo visando uma res-
posta ao estímulo. Sob essa perspectiva, no sistema prisional brasilei-
ro, quando um réu primário apresenta bom comportamento, está em
regime semiaberto e cumpre um sexto da pena total, ou um quarto da
pena no caso de reincidência, passa a ter direito a saídas temporárias
em datas comemorativas. Essa é uma forma de reforço positivo, pois
um benefício é concedido ao detento.
Portanto, nesta fase de liberação coincidentemente o índice de
criminalidade tem aumentado, levando à preocupação da população
e autoridades, acreditando que neste processo de ressocialização há
diversas falhas, visto que muitos detentos recém liberados voltam a
praticar crimes. Diante disso, no ano de 2022, no dia três de agosto,
a câmara dos deputados aprovou o projeto de lei número 6.573/13,
que busca dificultar as saídas temporárias dos presos. Caso a propos-
ta seja aprovada, o detento só terá direito à saída temporária uma vez
ao ano por prazo inferior a sete dias, sendo réu primário e ter cumpri-
do mais de um sexto da pena e apresentar comportamento adequado
dentro da unidade prisional.
Diante do exposto, é evidente que as saídas temporárias dos
detentos provocam instabilidades dentro da sociedade, uma vez que
provocam problemas como a fuga e o aumento da criminalidade, tor-
nando insuficiente a segurança da população. Dessa forma, quais as
consequências que as saídas temporárias dos detentos em datas co-
memorativas provocam perante a população brasileira?
Sabe-se que a criminalidade no Brasil tem aumentado no de-
correr dos tempos, seja pela falta de segurança ou pela falta de recur-
sos que garantem essa segurança para com a população. Logo, este
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 299

trabalho teve como objetivo explanar os motivos que acarretam esse


aumento, que consequentemente provém das saídas temporárias ga-
rantidas aos detentos, quando geralmente acontece o aumento da cri-
minalidade e a fuga desses condenados.
A justificativa deste artigo encontra-se na relevância da discussão
do tema, podendo servir como fonte de pesquisa para estudantes de Di-
reito, como também para futuras decisões dos tribunais acerca do assun-
to supracitado. Fundamenta-se nas consequências das saídas temporá-
rias de detentos e as consequências para a sociedade. Este é um cenário
atual e vigente que gera inúmeras preocupações, uma vez que acarreta
riscos para a população brasileira, seja pelo aumento da criminalidade ou
pelas recorrentes fugas de criminosos ao longo do tempo.
Entendendo que este trabalho foi desenvolvido através da pes-
quisa descritiva e explicativa, pode-se dizer que a pesquisa adotada
que será desenvolvida no decorrer do trabalho em comento será a bi-
bliográfica, com a finalidade de coletar informações através de fontes
bibliográficas mediante autores, artigos virtuais atualizados, sites e li-
vros com o intuito de analisar e comparar o objeto de estudo, a fim de
compreender as consequências causadas acerca do tema proposto.
Este trabalho foi desenvolvido com base em uma abordagem
de pesquisa descritiva e explicativa, e a metodologia de pesquisa ado-
tada foi a revisão bibliográfica. A revisão bibliográfica consiste na co-
leta de informações a partir de fontes bibliográficas, como autores re-
nomados, artigos atualizados, sites e livros relevantes, com o objetivo
de analisar e comparar o objeto de estudo proposto. Essa abordagem
permite uma compreensão mais aprofundada das consequências as-
sociadas ao tema em questão.
Antônio Carlos Gil (1999) descreve a metodologia científica como
um conjunto de procedimentos técnicos e intelectuais que têm como ob-
jetivo a busca do conhecimento, com a definição clara dos passos a se-
rem seguidos e a determinação do método que embasa essa busca.

Contexto Histórico do sistema carcerário brasileiro

O descaso referente ao sistema carcerário brasileiro perdura


por muitos anos, havendo uma deficiência em relação à infraestrutu-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 300

ra, ausência de assistência jurídica e vagas disponíveis para acomo-


dação dos detentos, ocasionando superlotação de muitos presídios,
dentre outros problemas, que apontam para a forma como as políticas
públicas lidam com tais fatos.
Um exemplo a ser dado é a forma como são aplicados os bene-
fícios elencados na Lei de Execução Penal, que se opõe diretamente
ao objetivo pelo qual foi criada, ou seja, a meta é proporcionar meios
que levem o condenado a se integrar socialmente de forma harmônica
e fixar as sentenças condenatórias. Porém, perante o descaso apre-
sentado em relação aos presídios brasileiros, infelizmente a proposta
legal torna-se impossibilitada.
Neste viés, torna-se necessário relembrar situações marcantes
que influenciaram na estrutura atual do sistema carcerário brasileiro.
Vale ressaltar que o conceito de prisão atual é recente, sendo criado
após o século XVII com o reajuste do Direito Penal visualizando san-
ções mais humanizadas, pois até então o Estado punia os delinquen-
tes de forma cruel, como por exemplo usando a tortura, o desmem-
bramento e a pena de morte. Com a reforma, a restrição de liberdade
passa a ser a sanção mais gravosa e formas crueis param de ser vi-
goradas.
De acordo com o site Uol, na matéria Mundo Educação, hou-
ve uma reforma no sistema punitivo brasileiro, com a criação da nova
Constituição Federal brasileira de 1988, a qual bane as penas de tor-
tura e exige que as cadeias sejam seguras, limpas, e bem arejadas,
com a possibilidade de separação entre os condenados, levando em
consideração a natureza do crime. No entanto, foi um processo demo-
rado até que as normas vigentes buscassem proporcionar ao deten-
to uma readaptação à sociedade durante o período de encarceramen-
to, em vez de apenas ser uma forma de punição pelos seus crimes.
Atualmente, a Constituição Federal de 1988 garante a toda a
sociedade diversos direitos fundamentais, referentes à dignidade da
pessoa humana, porém quem está encarcerado vê esses direitos sen-
do privados. Um exemplo é a prisão temporária e preventiva, que ob-
jetiva impedir que o agente possa interferir na investigação de modo
a atrapalhá-la. Por isso, restringe-se a liberdade do sujeito, infringin-
do assim a garantia do direito à liberdade fornecido pela constituição.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 301

Vale ressaltar ainda que, atualmente as penitenciárias no Bra-


sil são vistas como um local ao qual está em desconformidade com o
que é imposta na constituição federal no que diz aos direitos humanos,
sendo um local de completa calamidade e violência, retratando uma
realidade a qual torna-se impossível de assegurar a dignidade da pes-
soa humana e a possibilidade de ressocialização do detento.
Conforme o último dado divulgado pelo Departamento Peniten-
ciário no site Pastoral Carcerária, a população encarcerada é de mais
de 900 mil presos, sendo um elevado número de detentos, o que difi-
culta na possibilidade de ressocializar o preso e como consequência
a diminuição das taxas de criminalidade no país. Sendo assim, mui-
tas vezes não se sabe ao certo se o detento está em condições psi-
cológicas para ter o convívio com a sociedade durante as saídas tem-
porárias, sendo capaz de voltar a fornecer risco a população enquan-
to está liberado temporariamente, levando em conta a falta de fiscali-
zação por parte da polícia.

Entendimento doutrinário atual

De acordo com a legislação vigente atual, o preso que cumprir


pena dentro do regime semiaberto, que tenha cumprido até 1/6 de sua
pena total, até a data de sua saída, sendo este primário, ou de 1/4 se
for réu reincidente, além de ter o bom comportamento prisional, terá
direito à saída temporária. Dessa forma, a Lei de Execução Penal (Lei
nº 7.210, de 11 de julho de 1984) de acordo com o artigo 122, prevê
essa autorização como forma de reintegrar o apenado à sociedade.
Ainda segundo a mesma Lei, a conceção das saídas temporá-
rias se dá em relação às visitas familiares, frequentação a cursos su-
pletivos profissionais, seja de 2° grau ou superior dentro da Comarca
do Juízo de Execução e a colaboração em atividades que proporcio-
nem a volta para o convívio social.
Quanto à fiscalização das saídas dos detentos em datas come-
morativas se dá de forma indireta, uma vez que há a possibilidade de
aplicação do monitoramento eletrônico para os casos que necessitam
de uma maior demanda cautelosa, dado que a lei não permite a escol-
ta de forma direta.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 302

Diante desse benefício, o direito às saídas temporárias em da-


tas comemorativas ocorre principalmente no Ano Novo, Dia das Crian-
ças, Dia das Mães, Dia dos Pais, Páscoa e no Natal, sendo regula-
mentada pela LEP. Logo, a liberação é concedida em até 7 dias, du-
rante 5 vezes ao ano.

Casos e consequências

Para que o apenado consiga o benefício da saída temporária


deve-se cumprir diversos requisitos. Porém, para a sociedade somen-
te o cumprimento de tais requisitos não basta para que o réu seja co-
locado em liberdade por um período determinado, visto que a falta de
fiscalização direta envolvendo o preso em questão torna comum que
sujeitos com índole reprovável voltem a praticar outros delitos e não
retornem à prisão na data pré-estabelecida. Deste modo, a população
se vê em estado de insegurança, principalmente nas datas em que
são permitidas as saídas temporárias.
É observado que tem se tornado cada vez mais evidente, por
meio da imprensa, a coincidência entre o aumento de delitos em gran-
des cidades do Brasil e centros urbanos com as datas dos benefícios.
Logo, nota-se que nem todos os presos utilizam-se deste benefício
para ressocializar, mas sim como um meio de fraudar o sistema judici-
ário, renunciando assim a demais privilégios que poderiam conseguir
caso seguissem as normas determinadas.
Segundo o site Senado Notícias, um caso bastante emblemá-
tico que gera discursão acerca da liberação de detentos em datas co-
memorativas é o Caso Lázaro Barbosa, que cometeu delitos no ano
de 2010. Mais adiante, em 2013 recebeu a progressão de pena e pas-
sou a usufruir do benefício da saída temporária da pascoa no ano de
2018, o mesmo não retornou a prisão e voltou a cometer crimes, as-
sassinou quatro pessoas de uma mesma família no ano de 2021, ga-
nhando bastante notoriedade por seu delito.
Lázaro Barbosa em 2021 se tornou um dos criminosos mais
procurados no Brasil. Casos como esse serviram de pauta para muitas
discussões, visto que o delinquente não estava preparado para retor-
nar ao convívio com a sociedade por mais que tivesse cumprindo pena
em regime semiaberto, estando no seu direito de gozar do benefício,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 303

o mesmo não detinha das condições psicológicas para ser liberado e


utilizou-se de sua má índole para cometer novos crimes.
Diante das diversas reflexões acerca do assunto, outro caso a
ser exemplificado e bastante emblemático, em conformidade com o
site Correio, é o caso Von Richtfhofen, que tomou uma repercussão
imensa no país, no ano de 2002. A filha Suzane Von Richthofen foi a
responsável por arquitetar a morte dos pais, sendo condenada a 39
anos de prisão. Atualmente, a mesma encontra-se em regime semia-
berto. No ano de 2021 conseguiu uma vaga em uma faculdade parti-
cular e está cursando Farmácia no período noturno. Desse modo, ela
pode sair da penitenciária às 17h e retornar às 23h55.
Essa liberação é um dos métodos utilizados para reintegrar o de-
tento na sociedade, porém o que muitos criticam é o direito que a mes-
ma tem de benefício em saídas temporárias em datas comemorativas,
como, por exemplo, dia dos pais e dia das mães, visto que a mesma foi
a responsável pelo falecimento deles. Apesar de Suzane nunca ter co-
metido crimes durante sua liberação, a mesma é bastante criticada não
só pela mídia como pela sociedade, por ter esse benefício.
É importante frisar, segundo a Lei de Execução Penal (Lei nº
7.210, de 11 de julho de 1984), que as saídas temporárias só são apli-
cadas em casos específicos, regime semiaberto, quando o condena-
do já tem cumprido um sexto da pena se for réu primário e, caso seja
reincidente, tenha cumprido um quarto e que apresente bom compor-
tamento. Mas como pode-se notar nem sempre essa fiscalização refe-
rente ao comportamento do detento é eficaz o suficiente para colocar
em convívio com a sociedade somente aqueles que estão aptos a se-
guir as regras de retornar ao presidio na data requisitada e de não co-
meter novos crimes. Desse modo, muitas vezes a população encon-
tra-se desprotegida pois não há uma fiscalização atenuada em cima
de todos os detentos liberados. Por essas questões, a sociedade inco-
moda-se diante da concessão do benefício.

Considerações finais

Considerando os fatos mencionados sobre as consequências


das saídas temporárias de detentos em datas comemorativas e suas
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 304

repercussões na sociedade, é importante ressaltar que, historicamen-


te, a prioridade era punir os detentos, mas atualmente busca-se a res-
socialização dos mesmos.
É válido ressaltar que, em muitos casos, a lei não tem se mos-
trado eficaz na garantia da segurança da sociedade durante o período
em que é concedido esse benefício, o que gera uma constante sen-
sação de insegurança. Isso ocorre porque muitos detentos aproveitam
essa oportunidade para cometer novos crimes ou não retornar ao sis-
tema prisional na data requerida, o que acaba resultando em um au-
mento na taxa de criminalidade.
A pesquisa apresentada neste artigo almeja ter alcançado o en-
tendimento necessário acerca das consequências causadas pelas sa-
ídas temporárias dos detentos, bem como os perigos eminentes que
as saídas temporárias provocam na sociedade, apresentando situa-
ções reais que exemplificam os perigos eminentes, reforçando o obje-
tivo primordial do artigo.
 
REFERÊNCIAS

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de Execuções Penais. SAÍDA TEMPORÁRIA Análise dos requisi-
tos para sua concessão. Centro de Apoio Operacional das Promoto-
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https://criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/Estudo_-_saida_rempora-
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HIGA, C. C. Constituição de 1824. Mundo educação, Disponível em:
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REIS, L. C. S. As mudanças que são necessárias no sistema pu-
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-lazaro-reacende-debate-sobre-saidas-temporarias-e-progressao-de-
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TOMAZELA, J. M. Suzana Von Richthofen é autorizada a sair da
prisão da prisão para fazer faculdade a noite. Correio, 2021. Dispo-
nível em: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/suzane-von-
-richthofen-e-autorizada-a-sair-da-prisao-para-fazer-faculdade-a-noi-
te/. Acesso em: 13 out. 2022.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 306

CAPÍTULO 22

CRIME ORGANIZADO E SEUS IMPACTOS

Évelyn Jessamine Alves Furtado


Estudante do 9° período do Curso
de Direito pela CHRISFAPI

Felipe Rodrigues Melo


Estudante do 9° período do Curso
de Direito pela CHRISFAPI

Patrícia Nascimento
Professora Orientadora

RESUMO
O presente trabalho visa analisar as consequências que o crime or-
ganizado traz para a sociedade e ao Estado e, além disso, verificar e
analisar as políticas que o Estado utiliza no combate as organizações
criminosas. Ademais, no final, o presente artigo após realizar o apro-
fundamento da problemática, serão apresentadas soluções baseadas
em políticas internacionais que são possíveis de serem implementa-
das no nosso país. Primeiramente, foi utilizado a pesquisa bibliográ-
fica como metodologia científica do presente trabalho, ou seja, a par-
tir do objetivo foi realizado levantamentos sobre a temática através da
leitura de jurisprudências, de artigos científicos, doutrinas sobre o as-
sunto, e também as normas legais do Direito Penal e Processo Penal,
além da nossa carta magna, a Constituição Federal de 1988. Em se-
guida, percebeu-se o tamanho da complexidade que é as organiza-
ções criminosas, pois pode-se verificar que desde os surgimentos dos
primeiros grupos, seus efeitos são bastante danosos para sociedade
civil, e também que suas influências tem chegado em lugares onde ja-
mais poderia ter alcançado. Com isso, conclui-se a importância do es-
tudo mais detalhado para que se possa implementar uma legislação
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 307

e políticas públicas mais efetivas no enfrentamento dessa problemáti-


ca, que a cada dia se potencializa e se inova cada vez mais. Portanto,
de maneira detalhada o presente artigo analisa de forma profunda as
relações convenientes com o crime organizado, e demonstra a impor-
tância da urgência em adotar medidas de combater esse mal.
Palavras-Chave: Crime Organizado; Sociedade; Estado.

ABSTRACT
The present work aims to analyze the consequences that organized
crime brings to society and the State and, in addition, to verify and an-
alyze the policies that the State uses in the fight against criminal or-
ganizations. In addition, at the end of this article, after deepening the
problem, solutions based on international policies that are possible to
be implemented in our country will be presented. First, bibliograph-
ical research was used as the scientific methodology of the present
work, that is, from the objective, surveys on the subject were carried
out through the reading of jurisprudence, scientific articles, doctrines
on the subject, and also the legal norms of Criminal Law. and Crimi-
nal Procedure, in addition to our magna carta, the Federal Constitution
of 1988. Then, the size of the complexity that is criminal organizations
was perceived, since it can be verified that since the emergence of the
first groups, their effects are quite harmful for civil society, and also that
its influence has reached places where it could never have reached.
With this, it is concluded the importance of a more detailed study so
that more effective legislation and public policies can be implement-
ed in the face of this problem, which every day is strengthened and in-
novates more and more. Therefore, in detail, this article deeply ana-
lyzes the convenient relationships with organized crime, and demon-
strates the importance of the urgency in adopting measures to com-
bat this evil.
Keywords: Organized Crime; Society; State.

1 INTRODUÇÃO

Devido as inúmeras ações criminosas que vem acontecendo


por todo Brasil, que ao serem investigadas mais afundo pelas autori-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 308

dades e agentes polícia, percebeu-se que existe uma atuação de um


grupo organizado por trás desses feitos criminosos. Em 2021 de acor-
do com uma pesquisa feita pelo site Brasil Paralelo, ocorreram 47.503
homicídios ao longo do ano, sendo 60% deles cometidos por tráfico.
Diante disso o Estado compreendeu que sua investida deveria ser di-
ferente das adotadas em relação a outras condutas criminosas, pois,
trata-se de um crime complexo desde sua concepção até suas ativida-
des afins. Neste ponto, pode-se mencionar a Lei 9.034 de 03 de maio
de 1995, a qual deixou bastante a desejar, pelo fato de ter sido omis-
sa em relação a tipificação do crime e, também como procede-se a in-
vestigação e a obtenção de provas.
O presente estudo fez uma abordagem a partir da origem do cri-
me organizado, apontando alguns indícios e fatores que ajudaram as
organizações a se desenvolverem, por conseguinte ganharem gran-
de notoriedade nos dias de hoje. Com o passar do tempo, observou-
-se que a influência da organização ultrapassou seus próprios limites,
até atingir o cotidiano da sociedade civil de diversas formas. Segundo
estudos da criminologia, o Brasil por se tratar, de um país com gran-
de área e, que adota uma política capitalista, ocasiona consequente-
mente em desigualdades sociais entre a população. De modo que, es-
ses indivíduos menos favorecidos pelos direitos essenciais, tornam-
-se mais suscetíveis as condições de exclusão, o que pode gerar uma
“revolta”, e acabar tendo por finalidade, o enriquecimento de manei-
ra rápida, a ostentação e o poder que as facções obtêm perante a po-
pulação.
No que pese responsabilização o Estado tem parte, senão toda
responsabilidade, por mais que determinadas condutas sejam repri-
midas e repudiadas pelos órgãos do Estado, não é o suficiente e não
tem efeito concreto a ponto de diminuir a sensação de medo e insegu-
rança sentida pela população. Isso porque muitas vezes o Estado se
mantém em inércia com relação às necessidades básicas do cidadão
garantidas pela própria Constituição Federal, como o acesso à edu-
cação, saúde e a segurança, para todos. Ademais, o presente ensaio
visa demonstrar as espécies de organizações criminosas, onde ope-
ram e suas principais características.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 309

2. ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS EM SEUS DIVERSOS ÂMBITOS

2.1 Origem e evolução das organizações criminosas

Alguns historiadores afirmam que os grupos organizados co-


meçaram a partir da proibição/repressão do jogo do bicho no final dos
anos 1890. O jogo do bicho foi criado pelo barão João Batista Drum-
mont com o intuito de atrair mais visitantes ao Zoológico do Rio de Ja-
neiro. Ele realizava sorteios através de uma rifa, na qual o visitante
escolhia um animal e consequentemente correspondia a um determi-
nado número, na época o valor do prémio era bastante elevado e era
equivalente a uma renda mensal de um carpinteiro ou pedreiro. Isso
fez com que chamasse a atenção de figuras grandes e influentes da
sociedade, e assim começou a ganhar grandes proporções e a movi-
mentar cifras bastante elevadas.
Outras fontes acreditam que as organizações tiveram uma es-
trutura mais organizada e hierarquizada dentro dos presídios, espe-
cialmente nos estados do Rio de janeiro e São Paulo. Isso aconteceu
durante o regime militar, quando juntaram presos políticos com pre-
sos comuns, aqueles possuíam ideias mais sofisticadas e organiza-
das, e transmitiram para esses que detinham experiencias mais práti-
cas. Com essa associação entre os presos, começaram a se organi-
zar para poderem reivindicarem melhorias dentro dos presídios e de-
pois conseguiram explorar o limite carcerário, realizando práticas cri-
minosas no mundo externo.
Devido a grande quantidade de pessoas indo para cidade, mui-
tas delas começaram a “inchar”, e a solução encontrada por muitos foi
se instalarem à margem dos grandes centros, e isso deu início ao sur-
gimento das favelas, que são locais com pouquíssimas condições de
higiene, segurança e emprego.
Após a exploração do jogo do bicho, as organizações crimino-
sas iniciaram suas práticas voltadas para o tráfico de drogas, com isso
muitas regiões marginalizadas começaram a comercializar drogas ilí-
citas, e assim várias facções ao saírem dos presídios foram se insta-
lar nas favelas com o intuito de dominar territórios para explorar cada
vez mais essas atividades ilícitas, dentre essas organizações pode-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 310

-se citar: Comando Vermelho, Primeiro Comando da Capital e a Famí-


lia do Norte.

2.2 Principais características

Com o tempo a sociedade foi se desenvolvendo e junto a isso


ocorreu também a evolução das práticas criminosas. A fim de punir es-
sas ações ilícitas, o ordenamento jurídico deve-se utilizar o princípio
da razoabilidade e proporcionalidade para que não haja decisões jurí-
dicas arbitrárias. Assim, as normas e leis devem caracterizar e diferen-
ciar as condutas para poder estabelecer penas adequadas de acordo
com sua violação ao bem jurídico tutelado, e também pelo repúdio so-
cial e as circunstancias delituosas.
Os conceitos doutrinários e legais são de suma importância
para que se busque definir de forma concreta, o que vem a ser uma
organização criminosa. Isso serve como base para a autoridade poli-
cial e o Ministério Público para que possam imputar alguém de partici-
par ou integrar uma ORCRIM (Organização Criminosa).
De acordo com José William Pereira Luz e Rômulo Paulo Cor-
dão em um artigo publicado no site Jus.com.br sobre organizações cri-
minosas em 2022, pode-se verificar algumas características próprias
dessas organizações:

a) Estrutura hierarquizada e permanente;


b) Busca incessante de lucros e poder econômico;
c) Alto poder de intimidação, por meio de ameaças ou violência e
grande poder de corrupção dos agentes públicos;
d) Desenvolvimento de atividades de caráter social em substitui-
ção ao Estado;
e) Utilização de tecnologia avançada e;
f) Impacto social negativo e interferência nas estruturas oficiais
de poder.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 311

2.3 Atuação e gestão das organizações criminosas

Muitas dessas organizações começam suas práticas delituosas


com uma abrangência pequena tanto de pessoas como de localidade, e
com o decorrer do tempo junto com suas necessidades e ambições vão
crescendo também suas áreas de atuação. Com isso, seus efeitos pas-
saram a ser sentidos não apenas em bairros ou pequenas cidades e,
sim, pode-se perceber suas consequências em outros países.
Com base nisso, de acordo com o Escritório das Nações Unidas
contra Drogas e Crime – UNDOC foi realizado a Convenção das Na-
ções Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, também conhe-
cida como Convenção de Palermo, que é o principal documento global
de combate ao crime organizado transnacional. Essa Convenção signi-
ficou o reconhecimento dos Estados- Membros para o gravíssimo pro-
blema gerado pelo crime organizado e que deveriam adotar medidas
mais severas, através da tipificação criminal com penas mais duras.
O sucesso das organizações criminosas não é ter um grupo de
pessoas organizadas hierarquicamente, e sim, envolver esse grupo orga-
nizado para praticar outros crimes que possam ser bem lucrativos. Cada
grupo possui suas especialidades, por exemplo: roubo de carga, tráfico
de drogas, armas e pessoas (principalmente mulheres e crianças), roubo
a bancos e transportadora de valores, sequestros e dentre outros.
As organizações por atuarem e ter influência internacionalmen-
te, buscam países onde a legislação e a fiscalização são menos rígi-
das. Callegari e Weber (2017) afirmam que:

Atualmente, com o desenvolvimento acelerado da econo-


mia e a dinamização dos investimentos, é muito mais difí-
cil exercer rigoroso controle sobre as operações financei-
ras, o que leva à necessidade de uma reciclagem cons-
tante nos métodos de fiscalização fatores que ajudam a
eles terem sucesso na lavagem de dinheiro.

2.4 Sociedade x Estado x Crime organizado

A relação da sociedade, Estado e o crime organizado vai mui-


to além da falta de boas políticas públicas, escassez de fiscalização
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 312

e de normas legais para o combate das ações criminosas realizadas


pelas organizações criminosas. Além disso, segundo Luz e Cordão
(2022) o problema do crime organizado se torna cada vez mais com-
plexo e grandioso porque a capacidade de expansão das ORCRIM é
maior do que a capacidade efetiva do Estado em frear essa expansão
ou dar uma resposta paliativa, seja em termos sociopolíticos, seja em
termos criminais.
Outro ponto importante nessa relação sociedade, Estado e or-
ganização criminosa é a importância/valor que cada um tem com o ou-
tro. Devido à falta e a ineficiência de políticas públicas para a popula-
ção, principalmente para a população mais carente, essa sociedade
“marginalizada” ao perceber que está sendo esquecida ou não está
tendo o amparo necessário feito pelo Estado para que se possa des-
frutar de uma vida digna, boa parte deles vão buscar proteção em ou-
tros grupos que possam dar essa assistência.
Com essa dominância e influência perante a sociedade mar-
ginalizada, os grupos organizados começam a despertar interesses
no mundo político, pois os políticos corruptos só veem neles apenas
seus votos e não vidas humanas que precisam de suporte do Estado,
e consequentemente, através dessa aliança crime organizado e políti-
cos corruptos, é notório a percepção da falta de interesse dos órgãos
policiais e judiciário em combater os interesses das ORCRIM devido
diversos fatores.
Para Santos e Frota (2018) afirmam que grande parte do “suces-
so” do crime organizado é proveniente de fatores como: a não doação
de políticas eficazes, a corrupção endêmica em setores dos três Pode-
res da República e a letargia da sociedade frente as circunstancias

2.5 Evolução legislativa no combate ao crime organizado

2.5.1 Lei 12.850/2013 – Definição de organização criminosa

O conceito legal de organizações criminosas e a tipificação da


conduta está expressa na Lei 12.850/2013, assim:

Art.1°, § 1°- Considera-se organização criminosa a as-


sociação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 313

ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda


que informalmente, com o objetivo de obter, direta ou in-
diretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante,
a prática de infrações penais cujas penas máximas se-
jam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de cará-
ter transnacional.

A partir dessa definição, nota-se que a Lei 12850 foi mais crite-
riosa no seu conceito de ORCRIM pois estabeleceu “barreiras” como a
quantidade de integrantes e o tipo de infrações criminosas praticadas
com pena máxima superior a 4 anos, isso demonstra que a legislação
tem o intuito de restringir esse tipo penal para que possa impor penas
mais severas e adotar meios de provas mais complexos. Assim, para
caracterizar um grupo em uma organização criminosa vai depender de
qual crime estão atuando, ou seja, não será qualquer crime praticado
que será configurará como uma ORCRIM.
Outro ponto importante trazido pela lei foi a adoção de penas
mais rígidas para combater a corrupção de funcionários públicos. Com
isso, a Lei 12.850/2013 prevê consequências mais rígidas aos agen-
tes públicos que esteja envolvido com crime organizado, por exemplo:
(i) afastamento cautelar; (ii) perda do cargo, emprego ou função; (iii)
interdição para exercer função ou cargo público por 8 anos seguidos.
Um grande avanço observado em relação a antiga Lei 9034/1995
foi expor e detalhar os modos de investigação e os meios de obtenção
de provas que estão à disposição do Poder Público. Nesse sentido a
LOC traz em seu texto algumas dessas medidas, como: colaboração
premiada, ação controlada, infiltração de agentes e outras.

2.5.2 Pacote Anticrime e seus efeitos

A nova Lei 13.964/2019 surgiu a partir de uma promessa polí-


tica no intuito de endurecer a legislação para combater com mais ve-
emência os principais crimes como: corrupção, roubo, homicídio, cri-
me organizado e dentre outros. As alterações provocadas pela essa
Lei que ficou mais conhecida como “Pacote Anticrime” veio ao encon-
tro com os anseios que a sociedade tanto queria, ou seja, tentar ame-
nizar a sensação de impunidade.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 314

Esta lei trouxe profundas modificações no ordenamento jurídi-


co brasileiro principalmente nas searas do Direito Penal e Processo
Penal. Essas mudanças vieram para atualizar, dar mais celeridade e
se adequar as condições e a realidade que a tanto o Estado e a socie-
dade se encontram.
Umas das principais mudanças ocasionada pela nova norma
legal foi na Lei de Organizações criminosas – Lei 12.850/2013. Nesse
caso, o foco dessas alterações era tornar a lei mais rigorosa pra quem
tem participação direta e indiretamente em organizações criminosas.
Isso foi uma reposta do Estado pois as estruturas criminosas estão
cada vez mais complexas
Um dos trunfos do Pacote Anticrime foi promover melhorias e
acabar com algumas divergências quanto ao instituto da colaboração
premiada e também pela criação do chamado “policial infiltrado virtu-
al” com o objetivo de investigar crimes virtuais principalmente a por-
nografia infantil.

3. CONCLUSÃO

O presente artigo teve como objetivo apresentar as formas de


influência que essas organizações criminosas tem perante a socie-
dade, além de apresentar as falhas que o ordenamento jurídico bra-
sileiro tem sobre esse fenômeno. Quando se trata de medidas para a
prevenção ou ao combate do crime organizado é necessário recordar
que essas organizações possuem tentáculos sobre os poderes esta-
tais, sendo assim salienta-se, com Gomes et al. (2000,p.15-20), quan-
do o mesmo afirma que, malgrado a legislação preveja medidas para
o combate ao crime organizado, nenhuma delas chegará a êxito, caso
se ignore a relevante característica da conexão entre o Poder Público
e o Crime Organizado. Com isso, a primeira medida correta a se tomar
seria estabelecer uma medida educativa, com o intuito que o Estado
ocupe os vazios existentes ao longo de anos de descaso, com edu-
cação e política econômica em torno de atingir ideais constitucionais.
Outrossim, outra medida urgente para ser tomada seria o rom-
pimento do vínculo que o Estado tem com o Crime Organizado, come-
çando por uma atenção maior por parte do Estado no que diz respei-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 315

to ao recrutamento de agentes, sobretudo aqueles que se espera uma


atuação firme e voltada para o Combate das Organizações Crimino-
sas, de forma para que se evite infiltrações. Além disso, ter um acom-
panhamento rigoroso com esses agentes, seja no estágio probatório,
seja durante toda sua carreira. Como por exemplo, sinais de enrique-
cimento de maneira rápida, deverá ser duramente apurada pelo fisco e
combatidas. Sobre tudo buscar a capacitação especializada dos agen-
tes para que consigam identificar o vínculo de empresas com a lava-
gem de dinheiro, tendo em vista a quantidade de dinheiro que o cri-
me organizado move, consequentemente fazem a lavagem de dinhei-
ro para que consigam usufruir, ou seja, uma capacitação mais espe-
cializada no COAF (O Conselho de Controle de Atividades Financei-
ras) é primordial.
Destarte, é nítido o crescimento das facções criminosas, onde
ultrapassa a casa dos 50, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segu-
rança Pública. Para isso, a ineficácia legislativa se apresenta de for-
ma clara, onde deve ser implementada políticas públicas e investimento
massivo. Por outro lado, é fulcral que o legislação penal seja mais rigo-
rosa e atenciosa quando se relacionar ao dito membro faccionado, onde
o mesmo utiliza de tal termo para impor medo a população, e também
fragilizar a credibilidade na justiça, de forma que fere a garantia da or-
dem pública, e cresce o sentimento de insegurança frente à população.
De modo que, os líderes deverão cumprir pena em prisão de seguran-
ça máxima, além de penas mais severas. E aos que se autodeclararem
membros faccionados, de forma a se aproveitarem do termo, para cau-
sar medo, devem cumprir pena em regime inicial fechado.

REFERÊNCIAS

Estudo mostra que Lava Jato fez Estado deixar de arrecadar com
construção. Disponível em: < https://www.band.uol.com.br/noticias/
jornal-da-band/ultimas/estudo-mostra-que-lava-jato-fez-estado-dei-
xar-de-arrecadar-com-construcao-16535284 >. Acesso em 23 de se-
tembro de 2022.
HADDAD, Carlos Henrique Borlido; VIANA, Luziram Costa. A Lei n.
12.850/13 e a evolução no tratamento do crime organizado no Brasil. In:
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CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS CRIMINAIS,4,2013,


Porto Alegre, RS, 2013. Anais. Disponível em: < http://www.trf1.jus.
br/dspace/handle/123/152102 >. Acessado em 4 de outubro de 2022.
LUZ, José William Pereira; CORDÃO, Rômulo Paulo. Análise da evo-
lução das facções e de sua constituição em organizações criminosas.
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MARQUES, Archimedes. A Policia, a Legislação e o Poder Paralelo.
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Santos, Nutchesko Bruno dos; Frota, André Francisco Matsuno da.
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nomy. Disponível em: < https://www.unodc.org/toc/en/crimes/organi-
zed-crime.html >. Acesso em 22 de setembro de 2022.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 317

CAPÍTULO 23

CULTURA DO CANCELAMENTO: UMA ANÁLISE


JURÍDICA ACERCA DOS LINCHAMENTOS VIRTUAIS
DENTRO DAS REDES SOCIAIS BRASILEIRAS

CANCELLATION CULTURE: A LEGAL ANALYSIS


ABOUT THE VIRTUAL LYNCHINGS INSIDE
BRAZILIAN SOCIAL NETWORKS

Ítalo Jorge dos Reis Castro


Bacharelando em Direito da Christus Faculdade
do Piauí- CHRISFAPI- -PIRIPIRI - PI
ORCID: https://orcid.org/0009-0000-1178-1541
E-mail: italojorgereis@gmail.com

Rafael Artur Carvalho Silva


Bacharelando em Direito da Christus Faculdade
do Piauí- CHRISFAPI- -PIRIPIRI - PI
ORCID: https://orcid.org/0009-0009-6651-637X
E-mail: Rafaelcarvalhosilva123@gmail.com

João de Deus Carvalho Filho


Docente da Christus Faculdade do Piauí-
CHRISFAPI- -PIRIPIRI - PI
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4812-8452
E-mail: comunicacaochrisfapi@gmail.com

Lucélia Keila Bitencourt Gomes


Orientadora do curso de Bacharelado em Direito Da
Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI - PIRIPIRI-PI
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5528-9858
E-mail: luceliakeila@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho tem como tema, a cultura do cancelamento: uma
análise jurídica acerca dos linchamentos virtuais dentro das redes so-
ciais brasileiras. O objetivo primário é entender como o meio jurídico
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 318

lida com o desenvolvimento de condutas agressivas dentro das redes


sociais. Tendo em vista que os cancelamentos estão cada vez mais
recorrentes dentro da internet. Dessa forma o referido artigo trouxe a
seguinte indagação: Por que a cultura do cancelamento se fez tão da-
nosa a ponto de ocasionar os linchamentos virtuais? Tendo como re-
sultado a conclusão de que o ambiente das redes sociais proporcio-
na uma segurança para os agressores iniciarem movimentos hostis.
Pois, o anonimato e a falta de uma legislação especifica, tornam o ter-
reno propicio para o surgimento e disseminação de movimentos como
a onda do cancelamento. Para se alcançar a resposta da problema-
tica, foi utilizada a pesquisa bibliográfica, através de literaturas, arti-
gos e especialistas no aludido tema. O estudo é de grande relevân-
cia, em razão da importância do reconhecimento das técnicas e crité-
rios que estão sendo estabelecidos pelo poder judiciário, na luta para
o saneamento dessas condutas que infringem os direitos constitucio-
nais. Por tanto, foi alcançado os objetivos da pesquisa, bem como, dis-
corrido sobre como o meio jurídico lida com o desenvolvimento des-
sas condutas.
Palavras-chave: Cultura; Cancelamento; Leis; Jurídica; Relações so-
ciais.

ABSTRACT
The present had as its theme, the culture of cancellation: a legal anal-
ysis about virtual lynchings within Brazilian social networks, aimed to
identify the national legislation on the subject and analyzed whether
there is a parameter for defining who would be the active pole and lia-
bility of virtual attacks, bearing in mind that the cancellation wave has
become a recurring agenda within modern social debates. In this way,
the aforementioned brought the following question: Why has the cul-
ture of cancellation become so harmful to the point of causing virtu-
al lynchings? Resulting in the response that the environment of so-
cial networks provides security for aggressors to initiate hostile move-
ments. Therefore, anonymity and the lack of specific legislation make
the terrain conducive to the emergence and dissemination of move-
ments such as cancellation. In order to reach the answer to the prob-
lem, bibliographical research was used, through literature, articles and
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 319

specialists in the aforementioned theme. The study is of great rele-


vance, due to the importance of recognizing the techniques and criteria
that are being established by the judiciary in the fight to remedy these
behaviors that violate constitutional rights. Therefore, the research ob-
jectives were achieved, as well as discussed how the legal environ-
ment deals with the development of these behaviors.
Keywords: Culture; Cancellation; Laws; Legal; Social relationships.

Introdução

O presente trabalho visa contribuir para o reconhecimento dos


motivos pelos quais as redes sociais se tornaram um ambiente hostil,
e com práticas discursivas de propagação de ódio. A cultura do cance-
lamento pode ser presenciada por todos aqueles que acessam as re-
des sociais, logo, é um tema atual e de fácil entendimento. Além dis-
so, tendo em vista que a modernidade digital e os desenvolvimentos
tecnológicos tendem a avançar a passos largos diariamente, é de ex-
trema importância compreender as estratégias e medidas, que estão
sendo tomadas pelo poder judiciário, para combater práticas que fe-
rem as garantias constitucionais.
A problemática do tema gira em torno do seguinte questiona-
mento, com o desenvolvimento e disseminação do acesso à internet,
por grande parte da população, por que a cultura do cancelamento se
tornou tão nociva a ponto de proporcionar linchamentos virtuais? Ade-
mais, o objetivo primário é, entender como o meio jurídico lida com
o desenvolvimento de condutas agressivas dentro das redes sociais,
tendo em vista que os cancelamentos estão cada vez mais recorren-
tes dentro da internet. No entanto, é necessário identificar a legislação
pátria acerca do tema, analisar se existe um padrão para a caracteri-
zação de quem seria o polo ativo e passivo dos ataques virtuais, e por
fim, investigar como a cultura do cancelamento trouxe a figura dos lin-
chamentos públicos na era da internet.
Todavia, a metodologia utilizada para a produção do artigo foi
a de uma pesquisa bibliográfica, com abordagem descritiva, pois de
acordo com Amaral (2007), essa forma de pesquisa, é uma etapa fun-
damental em todo trabalho científico que influenciará todas as etapas
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 320

de mesma, enquanto der o embasamento teórico em que se baseará


o trabalho. Consistem no levantamento, seleção, fichamento e arqui-
vamento de informações relacionadas à pesquisa.
Evidencia-se como uma pesquisa bibliográfica, a relevância do
tema, juntamente com os precedentes jurídicos acerca de como é tra-
tada a cultura do cancelamento pelos juristas, tendo em vista, a busca
a resolução de um problema (hipótese), por meio de referenciais teó-
ricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições cien-
tíficas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento so-
bre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas
foi tratado o assunto apresentado na literatura científica (BOCCATO,
2006, p. 266). Portanto, a pesquisa bibliográfica oferece todos os re-
cursos necessários para a desenvolvimento do trabalho.

A cultura do cancelamento

Preliminarmente, pode-se compreender esse fenômeno social vir-


tual, que surge quando os utilizadores da internet, se acham autorizados
a julgar um indivíduo, fundando-se na premissa de uma conduta ou opi-
nião evidenciada por ela, ou alguém, no âmbito cibernético. Comumen-
te, são discursos e ações discutíveis, inseridas no interior do corpo social.
Logo, independente de status social ou econômico, sendo uma
pessoa famosa ou anônima, todo e qualquer indivíduo estará sujeito a
sofrer o cancelamento, apenas pelo simples fato de exteriorizar a sua
opinião abertamente, sobre algo que a coletividade entende como er-
rado ou inadequado.
O filósofo Michel Foucault (1979), determina esse fenômeno
como microfísica do poder. Ele disserta que o poder está concentrado
na rede que liga todos os indivíduos de um grupo, por intermédio de
conhecimentos e argumentações. isto é, uma comunidade de indiví-
duos ligados entre si, que detêm o domínio de arbitrar e derrogar ou-
tra, independente da sua posição social.
Entende-se, que o surgimento do cancelamento não é con-
firmado com real clareza, todavia, acredita-se que este fenômeno já
ocorre há muito tempo por se tratar de algo enraizado na sociedade
mas, que nos últimos anos, acabou tomando notoriedade através da
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 321

rede social “Twitter”, que propagou o termo cancelamento, sendo este


habitual na contemporaneidade.
No ano de 2017, a indústria de Hollywood sofreu um grande al-
voroço, devido as inúmeras manifestações nas redes sociais, graças
a atriz americana Alyssa Milano, que divulgou em seu perfil um anseio
dirigido ao público, para que todos os indivíduos que vivenciaram algu-
ma forma de assédio sexual, ou experiência abusiva, usassem a hash-
tag “Me too”, exprimindo seus relatos, no qual, figurou-se como uma
espécie ferramenta na luta contra o silêncio das mais diversas vítimas
ao redor do mundo, contra grandes astros e influenciadores, que esta-
vam envolvidos nestes escândalos.
Outrossim, muito se discute acerca da existência de um polo
ativo ou passivo, quando relacionado ao surgimento destes ataques
e linchamentos virtuais mas, partindo de uma análise criteriosa, con-
clui-se que, não há como caracteriza-los, haja vista que não existe um
padrão ou uma definição pré-estabelecida, já que, qualquer indivíduo
pode se tornar uma vítima do cancelamento, bastando apenas de-
monstrar o seu pensamento contrário ao do senso comum, seja ele no
campo físico, ou no meio cibernético.

Os linchamentos virtuais (análise histórica)

Não se conhece ao certo a matriz do linchamento virtual mas,


entende-se que ele se manifesta ao momento em que um determina-
do indivíduo sofre ataques ou condutas ofensivas pela grande massa,
devido a sua exposição pessoal e pública de ideias, sem ao menos ter
a oportunidade para defender-se.
Segundo Mercuri (2016), linchamento virtual é uma expressão
usada pela mídia, para relatar eventos em que há preferência pela ex-
posição, humilhação pública e julgamento popular na Internet mas,
que resultam em consequências fora do ciberespaço. Antemão a isso,
percebe-se que este se manteve em vigente constância dentro do âm-
bito social, haja vista, que essa conduta segue firmemente a datar dos
períodos mais antigos.
Partindo para um contexto histórico, mesmo sem um termo pro-
priamente delimitado que os caracterizam, os linchamentos na antigui-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 322

dade, partiam de penas degradantes e eram cumpridas publicamente,


sendo elas condicionadas aos indivíduos que se tornavam acusados
ou perseguidos por exercerem o seu pensamento e comportamento
divergente, do qual, a maioria da população do período seguia.
Logo, quando se compara aos parâmetros dos dias atuais,
mesmo que estes ataques nas redes sociais, partam de pessoas res-
guardadas, atrás da tela de um aparelho celular ou de um computa-
dor, compreende-se que tais ataques proporcionam tamanhos efeitos
e cicatrizes que, quando dirigidas àqueles que sofreram tais lincha-
mentos, ocasionarão traumas até mesmo irreversíveis, que passarão
a carregar pelo resto de suas vidas.
Por outro lado, estes grupos são instigados, pelo sentimento
momentâneo, provocado pela emoção que o “efeito manada” transmi-
te aos grandes grupos que promovem esses ataques e, não somente
pelo o fato em si, torna-se pouco relevante a real razão por trás do lin-
chamento, considerando que, essa massa se predispõe, com a total
convicção, que encontram-se realizando algum tipo de segurança ou
favor para a comunidade.

Do direito

Como já dissertado anteriormente, o “cancelamento” embora


não tenha uma origem definida de maneira precisa, seu início está li-
gado com ativismo social, cujo intuito era combater pessoas que su-
postamente teriam cometido crimes contra a dignidade sexual. Embo-
ra o movimento tenha um enorme sentimento de “justiça” intrínseco a
sua criação, ele por si só, já fere um dos princípios norteadores do di-
reito, o devido processo legal. Tal princípio requer uma atenção em es-
pecial, tendo em vista seu caráter fundamental dentro da estrutura ju-
rídica, atualmente vigente na sociedade brasileira.
Previsto na Constituição Federal de 1988 em seu ART. 5º, LIV,
ela nos diz que: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o Devido Processo Legal”. Logo, este, não é somente um princí-
pio estudado dentro do meio acadêmico, se trata na verdade, de um
dos princípios que criam uma segurança dentro do direito brasileiro,
assim como explica Nery Junior:
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 323

Os princípios constitucionais devem ser aplicados em pri-


meira ordem, o que decorre da supremacia das normas
constitucionais sobre as demais normas infraconstitucio-
nais. O Devido Processo Legal é colocado no patamar
dos princípios constitucionais gerais. É o gênero do qual
todos os demais princípios constitucionais do processo
são espécies (NERY JUNIOR1, 2009, p. 77)

Assim, toda e qualquer pessoa, tem direito a um julgamento


justo, realizado por um juiz togado que está ali exercendo a jurisdi-
ção do estado, essa é a maneira rápida e direta de dizer que ninguém
pode ser considerado efetivamente culpado sem que o processo seja
finalizado, ou melhor, sem que ocorra o trânsito em julgado.
No entanto, sentenças e julgamentos não ocorrem no ‘’twitter’’
ou ‘’Instagram’’, não é cotidiano flagrar um juiz ou uma turma de de-
sembargadores, prolatando uma sentença, ou acordão nos comentá-
rios de um post, pelo menos não até a data da produção do presente
trabalho. Assim, é que a grande problemática, enfim, se revela. O can-
celamento não ocorre dentro dos fóruns, ele acontece aos olhos de
todo indivíduo que preencha os espaços “login” e “senha” das redes
sociais. Não existe apelação ou embargo de declaração. Afinal, o que
se pode fazer contra centenas de comentários associando o seu nome
a uma conduta que o indivíduo pode ou não ter realizado? Basta que
alguém acuse e que tenha quem acate a “denúncia’’.
Os casos de cancelamento se amontoam com o passar do tem-
po, é como se os “tribunais da internet” termo esse que foi populariza-
do dentro das redes sociais, estivessem se tornado uma ferramenta
recorrentemente utilizada para prejudicar uma determinada pessoa ou
talvez a visão de ver outro ser humano em decadência, seja prazero-
sa para os “canceladores”. O site uol elencou em uma matéria com ca-
sos de cancelamento acontecidos em 2022, Cassia Kis, Leó Lins, Fer-
nado Zon, Maitê Proença, são alguns nomes que foram cancelados.
Ademais, em 2016, um dos grandes astros de Hollywood, protagonis-
ta de filmes como “Piratas do Caribe”, “Edward Mãos de tesoura” e “A
fantástica fábrica de chocolate” teve seu nome envolvido em acusa-
ções de agressões domesticas contra a sua esposa, que, também, é
uma atriz mundialmente conhecida, tendo participado de vários filmes
considerados “blockbusters”.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 324

O caso tomou proporções mundiais e se tornou uma tese a ser


debatida nas redes sociais. Uma movimentação de pessoas na inter-
net, começou a associar o nome do acusado, como agressor de espo-
sa com o apoio da imprensa. O resultado foi que o ator perdeu patroci-
nadores, sendo demitido de produções gigantescas, tais como a fran-
quia de sucesso mundial “Harry Potter”. Ademais, o ator tinha contrato
com a Disney, porém a empresa o demitiu, e cancelou todos os proje-
tos envolvendo o seu nome.
Em 2022 a batalha judicial entre o casal chega ao final. Porém,
com uma reviravolta digna dos filmes que ambos estavam tão acostu-
mados a atuar, o site G1 analisou a sentença: o ator foi considerado
inocente de parte das acusações feitas pela ex-esposa e a mesma foi
condenada a pagar cerca de 15 milhões de dólares como indenização.
Já o ator, foi condenado a pagar cerca de 2 milhões de dólares a atriz.
A questão não é emitir um juízo de valor sobre o caso, tendo em vista
que ambos foram prejudicados pela batalha judicial, no entanto, o ator
foi considerado culpado pela internet de maneira tão rápida quanto foi
exaltado como inocente. Por fim, fica nítida a discrepância entre o mo-
vimento de cancelamento que aconteceu contra o ator e a sentença ju-
dicial do caso, sendo que uma foi totalmente o oposto da outra.

A legislação brasileira

Quando se entra no mérito jurídico da cultura do cancelamen-


to, deve-se considerar o local onde ela ocorre, ou seja, o meio virtu-
al. Logo, é ai que os crimes cibernéticos entram em cena. Eles rece-
bem essa denominação justamente para caracterizar o local de ocor-
rência, ou seja, o meio virtual. Por não serem crimes que acontecem
de forma física, eles tendem a ser subestimados, afinal, quão mal uma
pessoa, que está a quilômetros de distância, pode efetivamente fazer
a outra? Bem, talvez um ou dois comentários ruins não sejam um pro-
blema, no entanto, centenas ou talvez milhares de comentários fazem
um estrago.
De maneira análoga, a psicologia já conta com estudos que vi-
sam elucidar os danos que a prática do cyberbullying tem nas suas ví-
timas. Conforme o site do “Hospital Santa Monica ensino e pesquisa”:
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 325

Entre as consequências negativas do cyberbullying, as


mais preocupantes são: fobia social, transtorno de pâni-
co, redução da autoestima, prejuízos à alimentação, al-
terações na qualidade do sono, desinteresse pelas ativi-
dades físicas, prejuízo aos relacionamentos interpesso-
ais, menor desempenho profissional ou acadêmico, an-
siedade generalizada e depressão na adolescência, nos
casos mais graves — suicídio.(HOSPITAL SANTA MO-
NICA, 2020).

Ademais, fica nítido que o meio jurídico já tem motivos, o sufi-


ciente para regulamentar e combater os crimes que acontecem no meio
virtual. Uma matéria publicada no site techtudo explica que no Brasil,
essa ação ocorreu por volta de 2012, quando a figura dos cibe crimino-
sos surge, assim, as penas, variam de até oito anos de reclusão.
Quando se olha para o nível de desenvolvimento legislativo no
quesito crimes virtuais, a legislação brasileira não é mais uma “crian-
ça”, por assim dizer, o site poses traz uma matéria elencando uma es-
pécie de lista com alguns dos dispositivos legais acerca do tema. A li-
nha do tempo começa em 2012, mesmo ano já citado anteriormen-
te, como uma espécie de pontapé inicial para uma maior movimenta-
ção no poder legislativo, de modo a criar dispositivos jurídicos visando
combater os cibercrimes.
A primeira da lei é a 12.737/2012, popularmente conhecida
como lei Carolina Dieckman, como já é de costume no meio jurídico,
tal lei carrega o nome da pessoa que a fez de fato ser criada, a atriz de
mesmo nome. Posteriormente, foi sancionada a lei 12.964/2014, bati-
zada de Marco Civil da internet, em linhas gerais ele garante que da-
dos pessoais dos usuários, só poderão ser acessados por meio de or-
dem judicial. Ademais, em 2018 nasce a LGPD, lei geral de proteção
de dados, esta disciplina como será a proteção da captação, compar-
tilhamento e armazenamento dos dados pessoais, retirados de sites e
empresas online.
Por fim, 2021 foi o ano escolhido para ser o palco da mais nova
lei relacionada aos crimes praticados no ambiente virtual, a lei de nú-
mero 14.115/2021, tal norma alterou o código penal, com intuito de
agravar as penas dos crimes de estelionato, invasão de dispositivo e
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 326

furto qualificado, todos com incidência no meio digital. No entanto, os


linchamentos virtuais não são literalmente tipificados como crime di-
gital. Levantando assim, uma problemática de que existe uma lacuna
legislativa, que pode estar sendo aproveitada pelas pessoas que uti-
lizam o cancelamento, para criar situações vexatórias contra determi-
nados indivíduos. Porém, o site Migalhas, apresenta uma matéria que
elucida como as vítimas dos cancelamentos podem recorrer a institu-
tos, como a indenização por danos morais:

No caso da cultura do cancelamento, todos que presen-


ciam o fato que acreditam que devem ser cancelados,
ainda que na busca por uma “justiça social”, acabam por
ofender à honra ou à imagem de alguém, colocando um
conteúdo de certo modo vexatório, sem uma devida aná-
lise do caso, podem ser alvo de uma ação de reparação
e serem condenados a realizar uma indenização. (SO-
LER, 2020).

Com isso, entende-se que a legislação brasileira, já conta com


uma série de normas legais extravagantes, que tratam sobre o tema,
ficando assim, nítido que o legislador entende a importância de regu-
lamentar os chamados cibercrimes. Embora de fato, existam diretrizes
para essas condutas, cabe salientar que o meio digital evolui em uma
velocidade única, logo, o direito deve sempre se esforçar para acom-
panhar tal desenvolvimento.

Os linchamentos virtuais sob um olhar jurídico

Dentro da história e da cultura humana, os linchamentos são


uma figura recorrente. A escritora Dad Squarisi, no site blog da Dad
explica que a palavra linchar tem origem na Carolina do Sul. Quando
no século XVIII, o colono irlandês Jonh Lynch desempenhava o car-
go de chefe de justiça naquele estado americano. Lynch foi autoriza-
do pelos cidadãos a executar, sem julgamento, criminosos apanhados
em flagrante e também os suspeitos. O ato se define como um assas-
sinato cometido por uma multidão. O curioso sobre os linchamentos, é
que seria uma ilusão pensar que todos que participam deles estão ali
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 327

com um sentimento de justiça social, quando na verdade existe indiví-


duos que vão somente para visualizar e participar da carnificina, qua-
se como um meio de recreação.
No entanto, os linchamentos se tornaram recorrentes dentro do
meio virtual, Nelson Willians, no site UOL, faz uma análise criteriosa
do que seria o linchamento virtual:

A cultura do cancelamento é um linchamento virtual e é


assim que vou chamá-lo, pois funciona como o conhe-
cido linchamento ou linchagem, que é o assassinato de
uma ou mais pessoas cometidas por uma multidão com
o objetivo de punir um suposto transgressor. Basta um
registro aleatório jogado na internet de um possível ato
reprovável ou que contrarie os valores geralmente acei-
tos como corretos, para que uma pessoa seja marcada
permanentemente pelo linchamento virtual. (WILLIANS,
2021).

Portanto, mesmo que tenha tido uma origem ligada a combater


as injustiças, a práticas dos linchamentos virtuais, veio a vestir o mo-
vimento com um ar de intolerância e censura por aqueles que o prati-
cam. Por fim, os linchamentos não contam com uma tipificação espe-
cífica, tanto no código penal, como na legislação especial. No entan-
to, as vítimas de tais atos, podem de socorrer nos institutos civis como
dano moral, requerendo uma indenização.
Na esfera penal, por meio da lei número 14.132/2021 foi acres-
centado o artigo 147-A, ao código penal, para prever o chamado crime
de stalking, também conhecido como perseguição. O caput do referi-
do artigo, elucida que o agente que perseguir alguém, reiteradamen-
te e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicoló-
gica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer for-
ma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacida-
de, sofrerá reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Toda-
via, a doutrina esclarece que existe o chamado cyberstalking. Apesar
das semelhanças, esse tipo de conduta ocorre, exclusivamente, pelo
meio digital.
Além disso, os art 147 e art 147-A do código penal, são utilizados
como dispositivo jurídico para assegurar a ilegalidade das referidas con-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 328

dutas. Desse modo, embora exista dispositivos legais que possam ser
usados de maneira análoga, os linchamentos virtuais também não con-
tam com uma tipificação especifica dentro da esfera penal.

Considerações finais

O presente trabalho tem por objetivo, entender o motivo que a


cultura do cancelamento se tornou tão nociva, a ponto de proporcionar
linchamentos virtuais. A resposta para essa questão, veio com o en-
tendimento de que, o ambiente das redes sociais proporciona uma se-
gurança para os agressores iniciarem movimentos hostis, pois, o ano-
nimato e a falta de uma legislação especifica, tornam o terreno propi-
cio para o surgimento e disseminação de movimentos como o cance-
lamento.
Entende-se que a legislação brasileira, conta algumas leis es-
pecificas para crimes que ocorrem, ou tem ligação com o meio virtu-
al, todavia, embora o poder judiciário possa usar a analogia para lidar
com ações nocivas, tanto a cultura do cancelamento como os lincha-
mentos virtuais, não são condutas tipicamente elucidadas pela legis-
lação, existindo assim, uma lacuna legislativa quanto a esses termos.
Por fim, fica entendido que qualquer indivíduo pode ser agente ativo
e passivo, ou seja, qualquer pessoa pode ser um cancelador ou can-
celado. O cancelamento está ligado a vários fatores legais e morais,
é dever do meio jurídico, no exercício da sua função de regulador das
relações sociais, disciplinar tal conduta.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 333

CAPÍTULO 24

DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA À PRESUNÇÃO DE CULPA:


UMA ANÁLISE ATRAVÉS DO ANIME PSYCHO-PASS E A
CULTURA DO CANCELAMENTO NA INTERNET

FROM THE PRESUMPTION OF INNOCENCE TO THE PRESUMPTION


OF GUILT: AN ANALYSIS THROUGH THE ANIME PSYCHO-PASS
AND THE CANCEL CULTURE ON THE INTERNET

Álvaro Augusto Naum Gomes Custódio


Chrisfapi - Curso: Bacharel em Direito - Piripiri-Pi
https://orcid.org/0009-0007-7781-0553
alvarogomes10.ag@gmail.com

José Lucas de Melo Abreu


Chrisfapi - Curso: Bacharel em Direito - Piripiri-Pi
https://orcid.org/0009-0005-1676-6531
Lucasjose7833@gmail.com

Francisco Eugênio Carvalho Galvão


Chrisfapi - Curso: Bacharel em Direito - Piripiri-Pi
https://orcid.org/0000-0002-0898-3916
euggalvao@uol.com.br

RESUMO
O presente estudo vem analisar a presunção de inocência e seus
apontamentos jurídicos assim como sua contra parte relativamente
fictícia a ‘’presunção de culpa’’ onde também será levado uma análise
mais dirigida perante pontos como um comparativo em relação à obra
midiática Japonesa Psycho-Pass onde na mesma se vê uma presença
clara já citado principio fictício tendo uma mais clara situação onde se
percebe que a ausência da presunção de inocência gera diversos pro-
blemas para a sociedade. Também se faz uma apresentação dos di-
tos cancelamentos da internet que se trata justamente da ausência da
presunção de inocência e presença da presunção de culpa bem mais
palpável e real em nossa sociedade. Outro ponto analisado se dá pela
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 334

real aplicabilidade do princípio de presunção de inocência.


Palavras-Chave: Presunção de inocência, Presunção de culpa, Psy-
cho-Pass, Cultura do Cancelamento

ABSTRACT
The present study analyzes the presumption of innocence and its legal
notes, as well as its relatively fictitious counterpart, the ‘’presumption of
guilt’’, where a more focused analysis will also be taken on points such
as a comparison in relation to the Japanese media work Psycho- Pass
where in the same one sees a clear presence already mentioned ficti-
tious principle having a clearer situation where one realizes that the ab-
sence of the presumption of innocence generates several problems for
society. There is also a presentation of the so-called internet cancella-
tions, which is precisely the absence of the presumption of innocence
and the presence of the presumption of guilt, much more palpable and
real in our society. Another point analyzed is the real applicability of the
principle of presumption of innocence.
Key words: Presumption of Innocence, Presumption of Guilt, Psy-
cho-Pass, Cancel Culture

1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa científica fara uma discussão perante o prin-


cípio da presunção de inocência presente no ordenamento jurídico brasi-
leiro, enquanto se faz uma análise comparativa com a obra midiática ja-
ponesa psycho-pass e a presença neste da ‘’presunção de culpa’’ fazen-
do destaque a pontos como a cultura dos cancelamentos na internet.
Princípio da presunção de inocência, segundo o qual ninguém
será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória, a qual foi estabelecida com o advento da Constituição
Federal de 1988, o Art. 5º, inciso LVII, tratando-se de um mecanismo
de extrema importância no direito processual o qual preceitua que só
se sera considerado culpado o acusador que tiver sua culpa provada
em sentença irrecorrível,
Presunção de culpa está a primeira vista aparenta se tratar de
uma questão externa meramente doutrinaria não estando presente no
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 335

ordenamento jurídico brasileiro, porém o mesmo esta e sendo utiliza-


do em questões como a do princípio do in dubio pro societate o qual
se faz uma presunção de que o indivíduo é culpado até que se prove
o contrário sendo uma completa agressão ao que se está presente em
nossa constituição federal.
Citada presunção se encontra na nossa realidade na atual cul-
tura dos cancelamentos onde indivíduos são julgados pelo autoprocla-
mado tribunal da internet tratando-se de uma onda que incentiva pes-
soas a deixarem de apoiar determinadas personalidades ou empresas,
públicas ou não, do meio artístico ou não, em razão de erro ou conduta
reprovável, nesse contexto, observa-se que o “Tribunal da Internet” não
realiza seus julgamentos com igualdade ou proporcionalidade, assim di-
versas vezes ocorrendo os ditos cancelamentos em casos onde se quer
se há uma comprovação da veracidade dos fatos que levaram ao can-
celamento assim gerando uma presunção de culpa do indivíduo onde o
mesmo sera culpado até que se prove o oposto.
Outra fonte de pesquisa usada no presente artigo será o uso
de uma obra midiática japonesa bastante popular: um anime de nome
Psycho-pass. É necessário compreender que os animes são produ-
ções audiovisuais que vêm se popularizando a cada dia mais, se tor-
nando presentes em nossa sociedade, especialmente no Brasil, onde
há um vasto público. Ademais, é possível perceber que os animes re-
cebem algumas críticas, pois, podem abordar alguns problemas do
cotidiano.
Diante disto se vem sua análise no qual se surge a seguinte
pergunta “Uma sociedade com capacidade de identificar possíveis cri-
minosos e os remover da sociedade mesmo antes de eles cometerem
um crime é uma maneira de executar a justiça de maneira plena ou
apenas punir um inocente que não chegou a fazer nada?” Tal questio-
namento gera dúvidas as quais o presente artigo tem como objeto Sa-
nar enquanto analisa a “presunção de culpa’’ presente na obra midiáti-
ca japonesa Psycho-Pass e a presunção de inocência presente no or-
denamento jurídico brasileiro.
O título se destaca por abordar um excelente ponto de vista
que gera uma concepção de justiça como a presunção de culpa e ino-
cência. O significado de livre arbítrio, a presença de uma sociedade
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 336

ditatorial, direitos humanos, “gene do crime” e uma nova formulação


de “lei”. Assim também, presente nesta lei, a utilização de uma imputa-
ção de crimes aos cidadãos mesmo antes de eles os cometerem, ten-
do em vista tais pontos, ocorrerá uma comparação dos acontecimen-
tos de Psycho-Pass e suas bases com o atual modelo de governo uti-
lizado no Brasil.
De tal maneira se faz realizado o seguinte artigo onde se deu
por meio de uma pesquisa explicativa, cujo objetivo é explicar os fatos
e busca identificar as causas dos fenômenos estudados, além de re-
gistrar e os analisar. Isso se dá tanto por meio da aplicação de méto-
dos experimental, como pela interpretação dos métodos qualitativos,
como o tema em questão “presunção de inocência analisada compa-
rativamente a obra Psycho-Pass”.

2. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

O artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal de 1988 deter-


mina que a presunção de inocência, ninguém será considerado culpa-
do até que se prove ao contrário. A presunção de inocência só existe
em Persistir até a sentença condenatória, que, dependendo do orde-
namento jurídico do Estado signatário, pode estar vinculada a conde-
nação criminal em primeira instância (ainda que passível de recurso)
ou após homologação judicial. Recursiva, embora outros recursos es-
tejam pendentes Em outros casos.
No entanto, a constituição brasileira é bem mais abrangente,
condenando por presunção de inocência até o trânsito em julgado da
sentença criminal, somente quando a decisão condenatória não for
mais passível de recurso, seja por decurso do prazo recursal de albis
ou por esgotamento dos recursos cabíveis, até quatro vezes no Brasil.
Não obstante, o Supremo Tribunal Federal tem firmado jurisprudência
inconclusiva sobre a possibilidade de execução provisória de senten-
ça condenatória em segunda instância, ainda que pendente de recur-
so especial ou extraordinário.
A Constituição Federal de 1988, o Art. 5º, inciso LVII, estabele-
ceu o princípio da presunção de inocência, segundo o qual ninguém
será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença pe-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 337

nal condenatória. A coisa julgada constitui a imutabilidade da sentença


contra a qual não sejam cabíveis recursos, quer seja pela sua não in-
terposição no prazo legal, quer seja pela inexistência de outros recur-
sos além daqueles já interpostos e julgados.
O princípio da presunção da inocência é um dos pilares do sis-
tema jurídico brasileiro e de diversos outros países. Ele estabelece
que toda pessoa é considerada inocente até que se prove o contrário
mediante um processo legal e justo. Isso significa que cabe ao Esta-
do provar a culpa do acusado, e não ao acusado provar sua inocência.
Esse princípio é essencial para garantir a proteção dos direitos funda-
mentais dos indivíduos, a imparcialidade do julgamento e a segurança
jurídica, além de evitar condenações arbitrárias e injustas.
Essas discussões são cruciais para entender o estado atual do
sistema prisional brasileiro, onde, segundo o Infoopen, cerca de 41%
dos presos são provisórios. Ou seja, eles não receberam uma senten-
ça de morte; portanto, eles ainda são presumidos inocentes e podem
ser declarados inocentes.
Além de articulado na Constituição, o princípio da presunção
de inocência encontra outro fundamento no artigo 8.2 da Convenção
Americana de Direitos Humanos da qual o Brasil é signatário: “Toda
pessoa acusada de um crime tem direito a ser presumida inocente. Até
que o crime seja legalmente provado.”

3. PRESUNÇÃO DE CULPA E INOCÊNCIA EM PSYCHO-PASS

As obras midiáticas procuram articular sons e imagens para re-


forçar os sentidos e significados de seu enredo. Ora utilizadas para
conformar, ora para problematizar e levantar questões, não se pode
ignorar que são importantes instrumentos para se pensar o social.
Assim, procurou-se mostrar como o elemento justiça pode ser
representado e problematizado nos textos midiáticos. A partir do ani-
me Psycho-Pass, foi possível verificar que não apenas a imagem, mas
também os sons e toda a direção presentes nele auxiliam a compreen-
der o que os personagens entendiam por justiça. Psycho-Pass.
Percebe se que a obra de Psycho-Pass é uma grande crítica
às formas de governo ditatorial, podendo até mesmo se assemelhar a
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 338

ditadura ocorrida no Brasil com fortes censuras as médias e qualquer


forma de se contrariar o governo geraria sanções para quem o fizes-
se, onde seus cidadãos pensam ter livre arbítrio, porém são completa-
mente guiados pelo seu sistema, trazendo um medo constante dos ci-
dadãos de terem seus coeficientes criminais alterados assim os fazen-
do serem possíveis alvos da A.S.P (Agência de Segurança Pública).
A sociedade de Psycho-Pass não atende aos mesmos padrões
da sociedade “justa” utilizada atualmente no Brasil e sim um governo
ditatorial que inibe e censura toda e qualquer atitude que ele conside-
re incorreta, até mesmo as que não saem no campo dos pensamen-
tos, como caso algum personagem apenas pense em ser contra o Seu
governo ele será taxado como criminoso latente. Acabando até mes-
mo com os conceitos de direitos humanos onde os criminosos latentes
são julgados e executados mesmo antes de cometerem qualquer tipo
de crime como o miliciano kagari o qual faz parte do grupo de perso-
nagens principais da obra, com apenas 5 anos foi tratado como crimi-
noso latente e teve sua vida destruída sem fazer absolutamente nada
para que isso acontecesse.
O Governo abordado na obra, além de ser o juiz e o carrasco,
também se trata da lei de seu mundo, podendo assim controlá-lo da
maneira que quiser, podendo ser uma das sociedades ditatoriais mais
extremas já escritas em uma obra, não por causar genocídios desne-
cessários ou matar quem os contrariar, mas sim por fazer com que a
sua sociedade tenha tanto medo dele que o considere a maneira mais
correta de se ter uma sociedade. Da maneira na qual até Maquiavel
diria (1513) o medo tem um papel fundamental na sociedade e na po-
lítica em particular. Pois, para um governo é mais fácil se dominar no
medo que no amor de sua população.
Para os personagens do mundo de Psycho-Pass ele se trata
de um mundo justo? Para a maioria da sociedade de Psycho-Pass por
eles já estarem acostumados com a sua situação atual a consideram
como o certo a se viver da mesma maneira que para quem está consu-
mindo a obra e, em contrapartida, se tem a fórmula de sociedade atu-
al, democrática e com fortes bases nos direitos humanos, como pre-
sente na própria Constituição Federal Brasileira que tem como base
os direitos humanos, com presente em seu inciso IX do artigo 5.º No
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 339

conceito de livre arbítrio, consideramos o atual modo de governo o


certo tratando todas as outras formas incorretas. Assim, no caso dos
personagens de Psycho-Pass vissem o mundo atual em uma obra mi-
diática da mesma maneira que se impressiona ao ver o deles, eles a
tratariam como uma sociedade absurda onde se acredita que os direi-
tos humanos e o livre arbítrio estão protegidos, porém, isso não ocorre
tão belamente quanto escrito nas leis e se tem outro ponto onde exis-
tem criminosos que mesmo, após cometerem crimes continuam sol-
tos por conta da falta de provas gerando a presunção de inocência dos
mesmos.
A respeito da presunção de inocência, disserta Ferra joli (2002,
p. 441), que “[...] esse princípio fundamental de civilidade representa o
fruto de uma opção garantista a favor da tutela da imunidade dos ino-
centes, ainda que ao custo da impunidade de algum culpado.” Verifi-
ca-se que a aplicação deste direcionando-se aos inocentes, dito isto,
conclui-se que para o autor é mais aceitável que se tenha um culpado
livre, que um inocente preso durante o processo.
Ante o exposto, torna-se nítido que a presunção de inocência
tem sido utilizada no sistema criminal brasileiro, como regra e não
como princípio. Assim, os tribunais o aplicam, sem a necessária pon-
deração com outros princípios constitucionais, podendo, efetivamen-
te, considerando as circunstâncias de haver diversas falhas no siste-
ma criminal, dar margem à impunidade.
Tanto na obra Psycho-Pass como na própria democracia bra-
sileira pode se perceber aspectos de uma democracia em pedaços
que são pontos de uma sociedade escondida e reprimida pelo Estado,
onde direitos são claramente esquecidos e deveres fortemente cobra-
dos, por uma forma de governo incapaz e de rédea curta quando se
trata de deveres que devem ser cumpridos pelos cidadãos. Essa rea-
lidade existe há certo tempo em nossa sociedade, porém sempre pas-
sa despercebido. Infelizmente a democracia no Brasil está apenas em
linhas e livros que não são propriamente respeitados por todos os ci-
dadãos, quebrando assim questões básicas dos cidadães em seus di-
reitos constitucionais.
“No livro ‘O Cidadão de Papel’. Dimenstein (1994) ressalta que
‘O direito de ter direitos é uma conquista da humanidade. Da mesma
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 340

forma que a anestesia, as vacinas, o computador, a máquina de lavar,


a pasta de dente, o transplante do coração. Foi uma conquista dura.
Muita gente lutou e morreu para termos o direito de votar. E outros ba-
talharam para você votar aos dezesseis anos. Lutou-se pela ideia de
que todos os homens merecem a liberdade e de que todos são iguais
diante da lei’.”

4. PRESUNÇÃO DE CULPA

É importante esclarecer que não existe o conceito de presun-


ção de culpa no sistema jurídico brasileiro. Pelo contrário, a Constitui-
ção Federal estabelece que todo indivíduo é presumido inocente até
que se prove o contrário em um processo legal e justo, como mencio-
nado no princípio da presunção da inocência. A presunção de culpa,
por sua vez, pode ser entendida como um julgamento precipitado e
baseado em estereótipos ou preconceitos, sem que sejam oferecidas
ao acusado as garantias processuais e o direito ao contraditório. Esse
tipo de atitude é ilegal e pode levar a condenações injustas e violações
dos direitos fundamentais dos indivíduos. É fundamental que o siste-
ma jurídico respeite a presunção de inocência e ofereça aos acusados
um julgamento justo e imparcial, com base em evidências e com res-
peito às garantias processuais.
O princípio do in dubio pro societate determina que, determi-
na que se houver dúvidas sobre determinada matéria em um proces-
so penal, o julgamento deve ser favorável à sociedade. Sendo oposto
ao princípio é o oposto do in dubio pro reo, que em caso de dúvida, o
julgamento deve ser a favor do réu.
Atualmente, a condenação não foi para o sistema de interroga-
tório, mas o processo criminal está sendo gradualmente realizado. A
cada dia mais juízes estão introduzindo o princípio da “in dubio pro so-
cietate” no processo penal brasileiro. Por exemplo, ao invés da com-
provação da autoria em audiência de custódia do Ministério da Segu-
rança Pública ou da Polícia, cabe agora ao acusado provar que não
esteve presente no dia do fato e será penalizado por converter sua
prisão a prisão preventiva e agora caberá também ao próprio arguido
provar que o produto que transporta sem nota fiscal não é produto de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 341

crime, ou a sua prisão in loco também será repassada para preven-


ção. Na audiência de custódia, cabe ao réu o ônus de provar sua ino-
cência ou, suspeita A pró-sociedade tem levado cada vez mais os ju-
ízes a manter a prisão preventiva para, posteriormente, verificar a ve-
racidade das informações contidas nos autos de prisão em flagrante.
Os referidos princípios da fase pré-contenciosa, que já foram
exportados para a fase pré-contenciosa, são gradualmente introdu-
zidos nos próprios processos penais. Estaremos assim confrontados
com decisões intermédias de magistrados que se recusarão a ouvir
testemunhas de defesa sob o argumento de que estamos perante uma
in dubio pro societate; as decisões serão sempre a favor da socieda-
de e não a favor do arguido.

5. PRESUNÇÃO DE CULPA PRESENTE NA CULTURA DO CANCE-


LAMENTO

A presunção de culpa presente na cultura do cancelamento na


internet é algo que vem ganhando bastante destaque recentemente
no meio virtual. Nessa cultura, muitas pessoas são “canceladas” sem
ter provas que validam a culpa dessa pessoa ou ao menos dá a ela
um processo justo. Com essa mentalidade de “culpar primeiro e per-
guntar depois” pessoas são condenadas sem ter o direito de defesa.
O cancelamento sem justa causa pode prejudicar a vida das
pessoas, fazendo com que elas percam emprego, amigos entre outras
coisas; dessa forma gerando consequências irreversíveis na vida de
quem sofreu tal cancelamento. Um caso que foi bastante emblemático
em 2018 na mídia, foi o caso do ator de Hollywood, Jhonny Depp, que
foi acusado de violência doméstica e sexual por sua ex-esposa, sen-
do acusado de ser um “espancador de mulheres” por um tabloide bri-
tânico The sun, assim o ator foi bastante criticado pelo público e por
Hollywood.
A prática de linchamentos virtuais foi incentivada em parte pelo
senso de impunidade e anonimato percebido na internet. A legisla-
ção brasileira veem tentando adaptar-se de maneira mais efetiva con-
tra tais linchamentos virtuais, mesmo com criações de leis fica difícil
de punir e identificar os rostos por trás desses linchamentos virtuais.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 342

O linchamento virtual fere os princípios de dignidade a pes-


soa humana. Dessa forma quem pratica tal ato, poderá responder so-
bre seus atos, por injúria, difamação, entre outras infrações como está
descrito no Código de Processo Penal. Poderá responder por causar
danos à reputação da pessoa atingida, como está descrito no Códi-
go Civil.

6. METODOLOGIA

Esse artigo, é uma pesquisa descritiva e qualitativa, pois o seu


foco está em abordar uma nova visão sobre o assunto “A presunção
de inocência e a presunção de culpa” e entender qual o caminho para
a tomada de decisão correta sobre o problema do seu tema ; O artigo
faz uma comparação de determinados pontos da obra japonesa “Psy-
cho-Pass”, com o âmbito jurídico brasileiro. A pesquisa foi desenvolvi-
da a partir de:

• Análise de documentos - Uso de sites, revistas, jornais, livros


e relatórios. Consulta de documentos legais para realizar uma
pesquisa mais aprofundada; E o uso do Inciso XLII do artigo 5º,
promulgado pela Constituição Federal de 1988, define que: Art
5º, LVII, CF -“Ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória.”
• Pesquisa bibliográfica - O uso da obra japonesa “Psycho-Pass”,
para comparar com acontecimentos da realidade do ordena-
mento jurídico brasileiro.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vislumbrou-se com este trabalho, além de se apresentar os


conceitos e falhas da presunção de inocência, também se fez uma
breve apresentação da existência da presunção de culpa que mes-
mo por se tratar de algo absurdo visto em uma obra midiática se trata
também de algo contigo em nosso cotidiano visto nos casos dos can-
celamentos na internet onde ocorrem diversas situações onde pesso-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 343

as inocentes são presumidamente tratadas como culpadas podendo


levar a terem suas vidas destruídas por conta de tais acontecimentos.
Assim, proporcionou um alerta para a sociedade sobre como
tais questões estão em um ponto bem sensível podendo estes tais
princípios básicos dos direitos humanos serem cada vez mais feridos
e tais sendo feitos por nos mesmo a sociedade onde por diversos pon-
tos desde inveja medos infundados ou apenas pessoas com uma von-
tade de fornecerem desgraça alheia geram tais situações.
Percebeu-se em um ponto bem mais abstrato porem ainda
pode este ser usado como exemplo perante a análise da obra Midiá-
tica Japonesa Psycho-Pass onde se tem uma situação completamen-
te distópica de uma sociedade oprimida, de maneira ditatorial por con-
ta do abuso da fictícia ‘’Presunção de Culpa’’ onde para gerar uma fal-
sa segurança na população se retira toda a segurança que os mes-
mos um dia já tiveram.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GONÇALVES, Nelson Cardoso Filho. O princípio da presunção de


inocência como elemento gerador de impunidade. JUS.com.br,
2012. https://jus.com.br/artigos/20912/o-principio-da-presuncao-de-i-
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www.infoescola.com/comunicacao/midia-audiovisual/> Acesso em: 01
de novembro de 2022
MIGUEL, Alexandre.A presunçaõ de culpa no Direito Brasileiro.
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-presuncao-de-culpa-no-direito-brasileiro/113 727501.Acesso em: 08,
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SCHMALTZ NETO, Genis Frederico. Paixões e traços míticos no
discurso do animê: uma análise em Death
Suéllen Dias, Introdução a novas mídias. Disponível em: https://di-
gartmedia.wordpress.com/2013/03/04/a-influencia-das-midias-na-i-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 344

dentida de-cultural-da-sociedade-contemporanea. Acesso em: 01 de


novembro de 2022
CANQUERINO, Marcelo. No tribunal da internet, Johnny Depp vai
de cancelado a “vítima” absolvida. Veja, 2022. Disponível em: ht-
tps://veja.abril.com.br/cultura/no-tribunal-da-internet-johnny-depp-vai-
-de-cancela do-a-vitima-absolvida. Acesso em: 03 de maio de 2023.
MILANEZI, Larissa.Presunção de inocência e sua relativização. Politi-
ze!, 2017. Disponível em: https://www.politize.com.br/presuncao-de-i-
nocencia-o-que-e/. Acesso em: 18 de maio de 2023
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 345

CAPÍTULO 25

DIREITO DO TRABALHO: O REFLEXO DO NÃO


RECONHECIMENTO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO
PARA O TRABALHADOR EMPREGADO

LABOR LAW: THE REFLECTION OF NON-RECOGNITION OF THE


EMPLOYMENT RELATIONSHIP FOR THE EMPLOYED WORKER

Vitória Maria Coêlho Ribeiro


Discente
Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri – Piauí
ORCID: 0009-0003-6651-0804
vitoriamariacoelhoribeiro@gmail.com

Vandelice Morais Rocha


Discente
Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Boqueirão do Piauí – Piauí
ORCID: 0009-0004-0598-0893
licemorais49@gmail.com

Geilson Silva Pereira


Mestre em Ciências da Religião
Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Luis Correia – Piauí
PIORCID: 0000-0002-0278-0077E
geilsonsp@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho visa expor a grande mácula causada pelo não re-
conhecimento do vínculo empregatício para o trabalhador empregado.
O objetivo se figura, primeiro, em pontuar o problema dos vícios so-
ciais referente aos que estão em baixo no gráfico social de desenvolvi-
mento brasileiro, por conseguinte, a importância do vínculo emprega-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 346

tício na vida do empregado, com os riscos e prejuízos do seu não re-


conhecimento, entender a atual situação de respeito aos direitos tra-
balhistas e fazer um apanhado dos acontecimentos ao longo do tem-
po até o presente momento que justifiquem esse deficiente contexto
humano brasileiro. A metodologia adotada foi a Pesquisa de Campo,
nela, através de buscas feitas por advogados militantes, estudiosos e
colaboradores no Direito do Trabalho, fonte de maior contato com a
problemática, a elucidação é com base nas experiencias ao represen-
tar ou estudar o empregado.
Palavras-chave: Contrato; direito; empregador; laboral; trabalhador;
negligência.

ABSTRACT
The present work aims to expose the great stain caused by the non-rec-
ognition of the employment relationship for the employed worker. The
objective is, first, to point out the problem of social vices referring to
those who are at the bottom of the social graph of Brazilian develop-
ment, therefore, the importance of the employment relationship in the
employee’s life, with the risks and losses of its non-recognition, under-
stand the current situation of respect for labor rights and make an over-
view of events over time up to the present moment that justify this defi-
cient Brazilian human context. The methodology adopted was the Field
Research, in it, through searches made by militant lawyers, scholars
and collaborators in Labor Law, the source of greater contact with the
problem, the elucidation is based on the experiences when represent-
ing or studying the employee.
Keywords: Contract; law; employer; work; worker; negligence.

Introdução

No Estado brasileiro, há significativos problemas comunitários,


dentre eles, o do vício social recorrente, e negligenciado, sobre a práti-
ca do não reconhecimento do vínculo empregatício, que vem acompa-
nhando o caminhar da massa proletária desde a Revolução Industrial
aos momentos atuais. E esta forma de tratamento entre o trabalhador
e empregador fornece um pacto contratual mais rápido, sem burocra-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 347

cias, sem prestação de mais obrigações por parte do empregador, se-


não unicamente a obrigação de pagamento em dinheiro, correspon-
dente ao detrimento de um serviço prestado, em teoria.
Porém, levando em consideração a mácula que não somente o
Brasil, mas em paralelo, o cenário mundial, viveu em virtude de abu-
sos na situação de trabalho e as consequências tanto para o emprega-
do, como para o empregador, assim como o reflexo enraizado no país,
existem regulamentações em todos os âmbitos legislativos existentes,
desde que o labor foi tido como uma doença social, que taxam e pre-
veem a existência de um trabalho e as consequências administrativas,
civis, penais e internacionais para aquele, ou aquilo, que desrespeita
a condição mínima de dignidade da pessoa humana. Diante disso, é
sumo importante entender sobre “O Não Reconhecimento dos Víncu-
los Empregatícios para o Trabalhador Empregado”.
Costa (2010) pondera sobre o mundo do trabalho, em que as
consequências das transformações no mundo do trabalho são senti-
das limitadamente no campo da produção e distribuição da riqueza,
mas elas são mais problemáticas por seus efeitos destrutivos no cam-
po de um ideal de socialização no trabalho, nos moldes do paradigma
do emprego tradicional. E se faz seguinte pergunta: uma vez o que é
justo não acontecendo, negligenciam uma série de necessidades por
trás do empregado, e uma vez negligenciados, quais as implicações
consequentes para a pessoa humana? Sobre a natureza do assunto,
José Cairo Jr. Disse:

Quanto à denominação, a expressão mais utilizada pela


legislação, doutrina e jurisprudência para identificar a
pessoa que presta serviços de natureza subordinada e
sob a direção de outrem, é empregado. Usam-se tam-
bém com certa frequência, expressões sinônimas como:
trabalhador, operário, proletário, obreiro, funcionário, co-
laborador, etc ( JUNIOR, 2017. p. 312).

A pesquisa será feita através da modalidade de Pesquisa de


Campo. As perguntas serão de teor impessoal, não invasivas, po-
rém de respostas satisfatórias, fornecendo uma gama de dados, que,
quando juntados e cruzados, darão as considerações da pesquisa.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 348

O presente trabalho terá como objetivo a demonstração da real


posição que se encontra aqueles que estão como hipossuficientes e
sua posição na problemática do defasado desenvolvimento social afim
de demonstrar a importância do reconhecimento do vínculo emprega-
tício como algo benéfico ao trabalhador e mostrar também os riscos
que se corre quando esse direito é negligenciado.

Desenvolvimento

1.1 O Contexto geral do trabalho laboral no Brasil

Embora haja um jargão popular bastante conhecido, mas sem


autoria definida, e perpetuádo que diz que, resumidamente, “o traba-
lho dignifica o homem”, atualmente esta frase deve ser refletida com
minúcia. Em fevereiro de 2023, 200 homens foram resgatados de uma
situação análoga a escravidão. De acordo com um matéria publica-
da pela Made for minds (2023), os trabalhadores afirmaram que foram
enganados ao receberem uma proposta de emprego temporário, um
salário de 4 mil reais, alojamento e refeições pagas.
A primeira noção de forma laboral injusta, de fornecer serviços
e ter um ganho para isso e o uso de pessoas para tal, começou a sur-
gir nas primeiras civilizações que se tem datadas, como a egípsia (Edu-
ca Mais Brasil, 2019), e com o caminhar dos anos, e das mudanças que
fomentaram a atualidade, há outro marco que cabe citação: a Primeira
Revolução Industrial e a visibilidade que o trabalhador teve pelo insalu-
bre formato de trabalho que era submetido, e, claro, pela descaracteri-
zação de certas classes e condições para a prática de trabalho, como a
proibição do trabalho infantil e da jornada de trabalho superior a 14 ho-
ras diárias e ambientes perigosos (BRASIL ESCOLA, 2022).
Karl max, em “O Manifesto Comunista”, de 1848, disse que a
história de todas as sociedades até hoje existentes é a história da
luta de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois campos
opostos, em duas grandes classes em confronto direto: a burguesia e
o proletariado.
Com o advento da constituição republicana de 1988, apelidada
de “Constituição Cidadã”, o seu Art. 6, á exemplo, sana aquilo que era
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 349

uma doença no território nacional, com a previsão da Assistencia So-


cial e ampla garantia dos Direitos Fundamentais, de acordo com a Po-
litize! (2022), o que, ainda assim, de acordo com o mesmo veículo de
informação, é bastante violado no Brasil. Dentre os 7 descritos direi-
tos fundamentais desrespeitados, o direito ao trabalho e ao salário mí-
nimo, estão listados (Politize!, 2022). Ainda dentro da CRFB de 1988,
há a consagração da CLT, de 1943, de cunho representativo de direi-
tos e deveveres de empregados e empregadores, como férias, FGTS
e recisões.

1.2 Negligência da empresa e falta de instrução do trabalhador

No Brasil, o número de trabalhadores sem carteira assina-


da, segundo as pesquisas do PNADE CONTÍNUA, chega na marca
dos 20 milhões, aumento significativo desde 2012 (ICL ECONOMIA,
2023). Dentre os fatores que implicam no não reconhecimento do vín-
culo empregatício, o principal é a busca por uma economia contratu-
al, para poupar os gastos do empregador com os encargos trabalhis-
tas que o empregado tem direito.
Adriana Beringuy, coordenadora das pesquisas por amostras
de domicílio, diz que a informalidade já faz parte das características
do mercado de trabalho brasileiro (VALOR, 2022). É mais comum do
que se imagina a ação das empresas de não registrarem seus funcio-
nários. Já se tornou algo ‘’normal’’ tanto para os empregadores quanto
para os empregados, afinal, o trabalho sem carteira assinada cresceu
expressivamente nesses últimos anos (CNN, 2022).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 350

Figura 1 - Empregados sem carteira assinada chegam ao maior nú-


mero da série histórica, diz IBGE

Fonte: IBGE, 2023.

Situações nas quais o próprio ente contratante não tem con-


dições de se manter no mercado, caso sejam descontados encargos
trabalhistas, ou as vezes nem a empresa é formalizada, é que ainda
existe esse grande número de trabalhadores na informalidade. O ente
contratante propõe o emprego sem registro na carteira de trabalho e
previdência social, correndo o risco de ser responsabilizado na via ju-
dicial (BINDA ADVOCACIA, 2021).
As características dessa condição de trabalho são quase sem-
pre as mesmas, que envolvem o nível de escolaridade baixo, núme-
ro expressivo de desempregados a necessidade de ter um susten-
to e subsistência e até o difícil deslocamento para outras regiões en-
tre outras circunstâncias, mas esses direitos do vínculo poderão ser
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 351

reconhecidos mesmo sem documentação formalizada, pois em nos-


sa Constituição Federal, existe uma proteção à valorização do traba-
lho, (artigo 1°, IV). O direito trabalhista também é protegido pelo Prin-
cípio da Primazia da Realidade, que nos mostra que em uma relação
de trabalho importa o que de fato acontece, ainda que documentos
provem o contrário.
Embora esteja claro todos os benefícios que a lei traz ao prote-
ger o empregado, a falta de informações ainda é impactante, mostran-
do o quanto muitas pessoas são prejudicadas por não saberem que
têm seus direitos garantidos (CHC, 2022), isso também ocorre duran-
te o vínculo, pois muitos empregados, além de não terem seu víncu-
lo empregatício reconhecido, ainda exercem atividades além de suas
funções, acumulando serviços, não recebem horas extras e não têm
um sistema de segurança eficaz nos trabalhos de risco e insalubres,
que comprometem a integridade física, estando sujeitos ao compro-
metimento da saúde e nem qualidade de segurados possuem caso
necessitem de algum benefício assistencial, estando refém de suas
necessidades e dificuldades, acumuladas com falta de instrução e sua
condição de hipossuficiente em uma relação de trabalho.

1.3 As consequencias da omissãondo vínculo empregatício para


o empregado

O não reconhecimento do vínculo empregatício traz consequ-


ências para ambos os lados. A carteira de trabalho é obrigatória em
qualquer relação de emprego, inclusive os de atividades laborais ru-
rais, é o que nos diz o Art. 13, da CLT, ou seja, fica a responsabilidade
do ente contratante de regularizar a carteira de trabalho de seus cola-
boradores, correndo o risco de ser penalizado caso não seja realizado
o que está nos dispositivos das leis do trabalho.
Poderá ser reivindicado em um prazo de até 2 anos, pelo em-
pregado, os direitos advindos da relação de trabalho (Art. 7°, XXIX,
CRFB/88), causando grandes consequências para o empregador que
se omitiu dos encargos trabalhistas. Dentre os prejuízos causados po-
demos citar, os de cunho financeiro, conforme for o número de empre-
gados sem registro, ao ente contratante, de acordo com a CLT, está
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 352

sujeito ao pagamento de multa, no valor de R$ 3.000,00 (três mil re-


ais), já as microempresas e as de pequeno porte, o valor da multa apli-
cada será de R$ 800,00 (oitocentos reais).
(CLT, Art. 47, 1°), caso o empregado precise de benefícios re-
ferentes ao INSS e não tenha qualidade de segurado, fica a cargo
da empresa a responsabilidade de indenizá-lo, somando a isso a fal-
ta de mão de obra em alguns setores, pois certamente os emprega-
dos que entram com ação trabalhista devem se afastar da empresa
onde tiveram seus direitos negligenciados, implicando diretamente no
rendimento da empresa, prejudicando o cumprimento de suas tarefas
e enfraquecendo sua atuação no mercado (SEGATO CONTABILIDA-
DE, 2021).

1.4 Os impactos da fiscalização precária

As relações de trabalho envolvem questões de ordem públi-


ca e sociais, que estão protegidas por nossa carta magna, a proteção
e preocupação estão elencadas no Art. 7° e incisos, somando a eles,
o Art. 21, XXIV, que nos traz a competência da união quanto a inspe-
ção do trabalho, de responsabilidade do MTPE. De acordo com dados
apresentados pelo PNADE (Pesquisa Nacional por Amostras de Domi-
cílios), são nas regiões Norte e Nordeste onde a informalidade em em-
presas mais se destacaram nos últimos anos (PENADE, 2022).
Visto que a concentração de empresas de pequeno porte é
maior, e as vezes nem elas são formalizadas, nos levando a uma refle-
xão sobre a precariedade da fiscalização, se de fato está sendo exer-
cida conforme orienta a legislação vigente e a PORTARIA Nº 547, DE
22 DE OUTUBRO DE 2021, que disciplina a atuação e de como é fei-
ta a inspeção do trabalho.
Com o emprego da tecnologia no âmbito do trabalho e com a
Carteira Digital do Trabalho, as fraudes podem ser evitadas com mais
segurança, porém a falta de acesso por parte dos trabalhadores dá a
falsa perceção de que está tudo dentro do conforme, quando na ver-
dade o documento não contém veracidade, cometendo o empregador
o crime de Falsificação de Documento Público, segundo o Código Pe-
nal brasileir o (Art. 297, 3°, II).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 353

Metodologia

O presente artigo foi produzido por meio da metodologia Pes-


quisa de Campo, pois, buscando alcançar objetivo do estudo, de acor-
do com Gil (1996), esta modalidade é a que forneceria maior proximi-
dade com o objeto estudado. A metodologia foi articulada e pesquisa-
da de modo que a obtenção de dados-base fossem por meio de um
questionário de perguntas dirigidas à advogados militantes, estudio-
sos e colaboradores referentes a área do Direito do Trabalho; visto a
proximidade destes profissioanis com o objeto. As perguntas foram
montadas de modo que estes discorressem de acordo com suas ex-
periências ao representar ou estudar a figura empregada.
Nas interações ao longo da obtenção dos dados, o primeiro
procedimento foi indentificar a hipótese de resposta da problemática
que mais prevaleceu nas descrições, depois, buscar a recorrência,
e, por último, as outras hipóteses levantadas pelos colaboradores. O
que foi obtido, para melhor compreensão do resultado e formação do
embasamento para a teoria, foi cruzado, comparado ou descartado e
transformado em uma tabela expositiva, para um resumo eficaz.

Resultado

Tabela 1 - As perguntas são referentes a pesquisa de campo do TCC


de Título: Direito do Trabalho: O Reflexo do Não Reconhecimento do
Vínculo Empregatício para o Trabalhador Empregado
R1: Os altos encargos trabalhistas pagos pelo empregador;
R2: Maior liberdade para o empregado e menor despesas para o
empregador;

1. De acordo com suas R3: Desconhecimento da lei;


experiências, quais os R4: Na grande maioria, é por conta dos gastos que o empregador
principais motivos que tem com “funcionário CLT”. Principalmente o pagamento das verbas
rescisórias; quase nunca é pago de forma espontânea;
justificam o não reco-
nhecimento do vínculo R5: Os empregadores aproveitam-se da fragiliddae do empregado,
que em sua maioria são pessoas sem instrução e que desconhecem
empregatício do em-
seus direitos garantidos pela Constituição e pela CLT.
pregado frente ao em-
R6: Carga tributária excessiva; um empregado com CTPS anotado é
pregador?
muito oneroso para empregador.
R7: Dentre outros, acredito que os altos custos de manutenção de
um empregado formal seja um dos maiores motivos para esse não
reconhecimento.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 354

R1: Sim, foram instruídos por terceiros;


R2: Geralmente eles tem noção básica de deus direitos, porém che-
gam com pouca clareza;
R3: Na maioria, influenciado;
2. Você acha que a fal- R4: Com certeza o maior fator para que isso aconteça é a falta de
ta de informações do informação. A maioria dos meus cliente chegam até a mim porque
empregado, influência um terceiro lhe orientou dos seus direitos. Tem outros que só ficam
a negligência sofri- sabendo dos seus direitos através das redes sociais;
da? Quando eles o (a) R5: Sim, dos que procuram a justiça, a maioria é influinciado por
procuram, é por terem terceiro;
noção de seus diretos
R6: Instruídos por terceiros;
ou porque foram instru-
ídos por terceiros? R7: Não acredito que a desinformação seja o principal motivo. O
poder de barganha (dada a condição financeira do empregador
frente a necessidade do empregado) oprime o empregado a aceitar
condições precárias de trabalho. Em muitos casos, se o trabalhador
não aceitar a condição imposta pelo empregador, existe uma fila de
pessoas dispostas a aceitar tais condições.
R1: Sim, bem como a falta de políticas de informações aos cidadãos
sobre os seus direitos e deveres trabalhistas;
R2: Com certeza. O Ministério Público deveria fazer inspeções peri-
ódicas nos ambientes laborais com maior frequência. Dos casos que
vi, essa inspeção somente acontece mediante denúncia;
3. A fiscalização é um
ponto chave na hora R3: A fiscalização precisava ser mais frequente;
de preservar o trabalho R4: Sim. A fiscalização adequada por parte do MP do Trabalho é
laboral dentro da lei. bem precária. Somente ocorre, na maioria das vezes, quando vários
Você acha que a fisca- empregados da mesma empresa fazem denúncias relatando o que
lização está falhando ocorre na relação de trabalho.
nessa situação e por R5: Sim, principalmente nas cidades do interior não tem fiscalização.
isso ela está desta for-
R6: A fiscalização é pouca;
ma?
R7: Os sindicatos e o Ministério do Trabalho, que possuem a atribui-
ção de fiscalizar o regular exercício das profissões podem até atuar
nos grandes centros, mas o mesmo não acontece nas pequenas
cidades, já que esses órgãos não se fazem presentes, ou quando
presentes de forma esporádica, não são efetivas.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 355

R1: sem resposta;


R2: Geralmente elas reconhecem, porém culpam a contabilidade por
errarem nos cálculos das verbas, e esses erros geralmente são sem-
pre menores do que real valor a serem pagos;
R3: Simulam desconhecimento, para justificar a fraude;
R4: Que é caro regularizar um trabalhador nas normas da CLT.
Acontece também de alguns empregadores aproveitarem da falta
4. Quais as justificati- de informação do trabalhador e o colocarem para trabalhar achando
vas que as empresas que está levando a vantagem;
adotam na explicação R5: A justificativa que as empresas alegam nas audiencias é a au-
do porque não reco- sencia de vínculo empregaticio, excesso de impostos e encargos
nhecem o vínculo e trabalhistas;
sobre a sonegação de
R6: Excessiva carga tributária e direitos trabalhistas;
outros direitos traba-
lhistas? R7: Muitos justificam a auxência de vínculo empregatício por não
completar pelo menos uma das características do vínculo, que seria
do serviço prestado por pessoa física, pessoalidade, não eventua-
lidade, subordinação e onerosidade. Auxente uma dessas caracte-
rísticas, exclui-se o vínculo empregatício. Mas na verdade, o que o
empregador busca é fugir dos direitos trabalhistas, buscando pagar
apenas a remuneração mensal, deixando de lado os encargos que
envolvem férias, 13º salário, FGTS, contribuição previdênciária, sa-
lário família, alimentação, transporte, etc...
R1: Cidades com pequeno capital de giro e interioranas;
R2: Quanto menor a cidade mais trabalhadores informais existem.
Falta um maior esclarecimentos dos valores pagos as verbas traba-
5. Dentro do Piauí (PI)/ lhistas em cidades de pequeno porte;
Maranhão (MA), entre R3: De trabalhadores que perderam seus postos de trabalho;
as suas cidades como
R4: Acontece bem mais no interior dos estados. Tenho ações em
a capital, polos me-
que a própria prefeitura do município contrata trabalhadores sem
tropolitanos e cidades
qualquer garantia dos seus direitos, pagando apenas o salário;
com pequeno capital
de giro e interioranas, R5: Nas cidades do interior, a maior parte dos trabalhadores infor-
de qual vem a maior mais trabalham no serviço doméstico;
parte de trabalhadores R6: Tanto nos centros urbanos como no interior há trabalho informal;
informais? R7: Não querendo incorrer a erro, pois não são dados concretos,
mas acredito que nas menores cidades esse índice é maior, dado
a falta de fiscalização tanto do Ministério do Trabalho, quanto dos
sindicatos.
Fonte: Autores, 2022 e 2023.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 356

Discussões

Deste modo, se é claro que um grande marco, tanto para justificar


a recorrência da neglienciação, como ser fator decisivo para a implemen-
tação de proibições acerca das condições submetidas ao trabalho. Sobre
como o empregado é visto, por sua vez, Liziane Gomes Nazário pontua:

“E não poderia ser diferente. Ao contratar o empregado


o empregador conta com o seu trabalho, pois que con-
fia nos seus serviços e na palavra que lhe deu no ato da
contratação” (NAZÁRIO, 2010, p.40)

Em uma matéria de atualizada até Março do corrente ano, da


gestora financeira de empresas, Controlle, é dito que a legislação bra-
sileira determina diversos direitos trabalhistas e, muitos deles, acarre-
tam o pagamento pela empresa, assim, ao contratar um funcionário,
existem despesas que vão além do pagamento do salário mensal.
(CONTROLLE, 2023). Disso, Márcia da Silva Costa resume em:

“Em outras palavras, a informalidade é um problema so-


cial, portanto de interesse público. Ela demanda do Es-
tado políticas que primem por um sistema de distribuição
de renda mais equitativo, apoiado no princípio da univer-
salização de direitos e por intervenções que limitem a ga-
nância das empresas, uma vez que delas provém gran-
de parte das mudanças que ora prescindem do trabalho,
ora o explora de forma abjeta. O fortalecimento dos mo-
vimentos sociais e do trabalho tem relação direta com
o fortalecimento desse poder de intervenção” (COSTA,
2010, p. 17).

E, por fim, não há como mencionar as políticas públicas, vistas


aqui como uma forte combatente do trabalho insalubre, que fere a dig-
nidade mínima estabelecida por lei.

Considerações Finais

Esse trabalho pretendeu conceder o Direito do Trabalho e o Re-


flexo do Não reconhecimento de Vínculo Empregatício para o Traba-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 357

lhador Empregado, sob precisão de entender o que justicaria a situa-


ção negligente. Para compreender a real, foram definidos três objeti-
vos específicos, no primeiro, que é apresentar a importância do vín-
culo empregatício na vida do empregado com os riscos e prejuízos do
seu não reconhecimento, logrou-se que, para o empregador, é uma for-
ma de obediencia a lei, e para o empregado, é um direito a preserva-
ção do vínculo, previsto na carta magna. Depois, ao buscar entender a
atual situação de respeito aos direitos trabalhistas e fazer um apanha-
do sobre os contextos ao longo do tempo até o presente momento que
justifiquem esse deficiente contexto social brasileiro, tem-se que o pas-
sado se alastrou à atualidade de tal forma que se tornou um vício, qua-
se irreversível, a vista de que melhorias são tentadas, mas pouco efeti-
vas, como a utilização da Carteira de Trabalho Digital, uma vez que em
pouquíssimo tempo houve a sua fraude. A análise fez concluir que esta
é uma realidade bastante próxima as regiões Norte e Nordeste, e que a
não lavratura da carteira de trabalho é prevalente em relação as forma-
lidades do retição empregatícia, uma vez que os encargos trabalhistas
e tributos são deveras dificultosos, assim como o desconhecimento de
seu direito sobre a necessidade de no mínimo, um contrato de trabalho,
assim como a fiscalização, grande poderosa representante dessa mas-
sa, mas que está em falhas. Com isso, a hipotese do trabalho, de que
existia vício antigo e hoje permamente acerca da sonegação de direi-
tos trabalhistas, de que o não reconhecimento era na forma de se eximir
dos encargos trabalhistas, tanto de admissão, quanto rescisão contratu-
al e a deficiência no conhecimento e instrução do empregado são os fa-
tores de causa, foi confirmada por motivos de que empregadores usam
da dificuldade de manter um trabalhador regular, mais a falta de infor-
mação deste e a fiscalização precária para fomentar o não reconheci-
mento da carteira de trabalho, assim como o cansaço do trabalhador so-
bre sua luta de classe também contribui, pois sempre alguém sai a bus-
ca de emprego, aceita desesperadamente qualquer condição imposta
a si, para evitar passar por mais necessidades. Futuramente, para que
se caminhe rumo à uma condição de trabalho, logo de vida, não somen-
te sua, mas de sua família, digna, pode-se considerar a enfaticidade do
MPTE na fiscalização de toda empresa com registro, para saber as con-
dições de trabalho dos subordinados, assim como vistorias periódicas
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 358

nos locais de maior recorrência, para desativar campos irregulares, pu-


nir empresas negligentes e evitar o trabalho análogo a escravidão. Ou-
tro fator determinante, é o da condição de vida escolaridade, evitando a
evasão escolar o indice de pessoas preparadas o suficiente para entra-
rem em um mercado de trabalho e terem noções de conhecimento mí-
nimas para evitar um abuso, é maior. E fornecer uma vida saudável, as-
sim formando uma rede de soluções que começa nas raizes do desen-
volvimento humano.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 361

CAPÍTULO 26

DIREITO PREVIDENCIÁRIO: O INSTITUTO


DA CARÊNCIA E SUA PROBLEMÁTICA

SOCIAL SECURITY LAW: THE INSTITUTE


OF DEFICIENCY AND ITS PROBLEMS

Carmem Gean Veras de Meneses


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
carmengean@hotmail.com

Francisco Antônio dos Santos


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
guidoparceiro@gmail.com

Jailson Lima dos Santos


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
jl7263730@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho que tem como título “Direito Previdenciário: o ins-
tituto da carência e sua problemática estuda a carência, enquanto exi-
gência condicionante para concessão de benefícios previdenciários,
destacando seu conceito, origens, similaridades, diferenças com ou-
tros termos previdenciários, sua aplicabilidade e exceções. O apro-
fundamento do tema suscitou o questionamento: Qual o propósito do
tempo de carência dentro dos benefícios do INSS? Objetivando res-
posta ao questionamento realizou-se uma pesquisa bibliográfica, ana-
lisando o referido instituto, pontuando seus prós e contras, ora servin-
do como salvaguarda do INSS, ora como dos contribuintes. Assim, a
questão não é pacífica, por isso cabe debruçar-se sobre esse tema,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 362

analisando sua relevância e nuances, já que o não cumprimento da


carência ocasiona o indeferimento de um benefício, gerando repercus-
sões financeiras e sociais para o segurado e ou pleiteante.
Palavras-Chave: Tempo de Carência. Direito Previdenciário. Benefí-
cios. Reforma da Previdência. Lei nº 8.213 de 1991.

ABSTRACT
The present work, entitled “Social Security Law: the institute of defi-
ciency and its problem, studies the deficiency as a conditional require-
ment for granting social security benefits, highlighting its concept, ori-
gins, similarities, difference with other social security terms, its applica-
bility and belief. The deepening of the theme raised the question: What
is the purpose of the grace period within the INSS benefits? Aiming
to answer the questioning, a bibliographical research was carried out,
analyzing the referred institute, scoring its pros and cons, sometimes
serving as a safeguard of the INSS, sometimes as a safeguard for the
taxpayers. Thus, the issue is not controlled, so it is worth looking into
this topic, analyzing its conversion and nuances, since non-compliance
with the grace period causes the denial of a benefit, generating finan-
cial and social repercussions for the insured and/or claimant.
Key-words: Grace Period. Social Security Law. Benefits. Social Secu-
rity Reform. Law No. 8,213 of 1991.

1 INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, devido à insegurança e aos inevitáveis casos


fortuitos presentes na contemporaneidade, cada vez mais se faz ne-
cessário o planejamento previdenciário. Por isso, a autarquia previ-
denciária que é o INSS está disponível para todos os segurados obri-
gatórios, assim como para aqueles que desejam se filiar ao sistema
protetivo previdenciário, respeitados os requisitos legais trazidos pela
legislação previdenciária vigente, no que diz respeito à idade mínima
para a filiação.
Porém, para que haja essa proteção, além da filiação e da ins-
crição, alguns requisitos a mais são necessários e devem ser cumpri-
dos cumulativamente, como tempo de contribuição, idade e carência.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 363

Só a partir daí o segurado passará a gozar das prestações oferecidas


pela autarquia, no que diz respeito aos benefícios, como os não pro-
gramados, a exemplo da aposentadoria por incapacidade permanen-
te, o auxílio por incapacidade temporária, pensão por morte, e os pro-
gramáveis, a exemplo da aposentadoria por idade.
A depender da espécie de benefício, sendo sempre observa-
da a categoria de segurado a qual o contribuinte está filiado, teremos
como regra a exigência da carência, funcionando como uma espécie
de limitador ao acesso precoce aos benefícios. Assim, não se pode al-
guém pagar uma única contribuição ao Regime Geral de Previdência
Social e, logo em seguida, ter a concessão de benefícios, mesmo que
venha a ocorrer fato gerador que mereça a cobertura protetiva ao se-
gurado, ele não terá direito à prestação previdenciária.
No entanto, sua aplicação traz exceções trazidas pela legisla-
ção previdenciária vigente (Lei 8.213/91), como as aplicadas aos se-
gurados empregados, trabalhador avulso e segurados especiais. Vis-
to que esses segurados, ao sofrerem acidente de qualquer natureza
ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos ca-
sos dos segurados que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de al-
guma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pe-
los Ministérios da Saúde e da Previdência Social, atualizada a cada 3
(três) anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, muti-
lação, deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravi-
dade que mereçam tratamento particularizado, estarão desobrigados
do cumprimento do período de carência ao solicitar os benefícios por
incapacidade.
Outra situação em que não haverá aplicação da carência, sen-
do essa extensiva a todas as categorias de segurados, é a pensão por
morte concedida aos dependentes dos segurados.
Podemos ainda citar como exceção a aplicação desse instituto
as concessões dos benefícios de salário maternidade e o salário famí-
lia, concedidos especificamente aos segurados empregados, avulsos
e aos empregados domésticos, estando esses segurados isentos da
cobrança deste instituto, sendo essas as únicas exceções da não apli-
cação do instituto da carência.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 364

2 DESENVOLVIMENTO

Como já demonstrado, o instituto da carência tem como concei-


to que o difere dos demais institutos previdenciários: o cômputo de um
número mínimo de contribuições pagas mensalmente que um segura-
do deve ter realizado ao INSS para se tornar elegível a um determina-
do benefício. O tempo de carência muitas vezes é confundido com o
tempo de contribuição devido à similaridade dos conceitos previdenci-
ários, sendo o tempo de contribuição o período durante o qual o segu-
rado efetivamente contribuiu, mesmo que essas contribuições sejam
pagas fora de suas competências.
Temos um exemplo da cobrança de carência muito parecido
nos planos de saúde privados, visto que são necessários alguns me-
ses de contribuição para que o beneficiário desses planos possa ter
acesso a determinados serviços, e esses meses de contribuição exigi-
dos também são intitulados como tempo de carência.

O conceito de carência faz parte do cotidiano da socie-


dade. Frequentemente, deparamo-nos com situações
em que o conhecimento do significado dessa palavra é
exigido. É o que ocorre quando contratamos um plano
de saúde. Para se ter direito ao atendimento em consul-
ta médica, por exemplo, é necessário que decorra certo
lapso de tempo em relação à contratação do plano. Cer-
tamente, para determinados procedimentos, a carência
não é exigida, como, por exemplo, para os atendimentos
de urgência. Assim como existem procedimentos ofere-
cidos pelo plano de saúde que não exigem cumprimento
de carência, o mesmo ocorre na Previdência Social, al-
guns benefícios não exigirão cumprimento de carência
para sua concessão. Outros benefícios podem exigir ca-
rência como regra geral, mas dispensá-la em algumas si-
tuações. Carência é, então, o número de contribuições
mensais necessárias para efetivação do direito a um be-
nefício. (IVAN KERTZMAN,2021, p.111).

Qual o propósito do tempo de carência dentro dos benefícios


do INSS? Apesar de parecer simples, o instituto em questão é moti-
vo de muitos questionamentos por parte dos segurados. Desde a sua
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 365

aplicabilidade, finalidade, importância e exceções, o presente traba-


lho buscou investigar essa problemática e o real propósito deste lapso
temporal para o acesso aos benefícios, já que não se exige a sua apli-
cação para o acesso aos serviços previdenciários, como o da habilita-
ção e reabilitação profissional e do serviço social e, em casos em que
haja fatos geradores que possam vir a excluir sua aplicação que será
apontada nesse trabalho.
Percebe-se que ao contribuir para a previdência social, seja na
condição de segurado obrigatório ou facultativo, é necessário que seja
implementado um tempo mínimo de contribuições pagas em dias en-
tre a primeira contribuição e o fato gerador que gerará o direito aos be-
nefícios.
Entretanto, esse lapso temporal, instituído pela Lei de Bene-
fícios da Previdência Social (Lei 8.213/91), doutrinariamente chama-
do de carência, não é bem compreendido e, consequentemente, mui-
to criticado pelos segurados e seus dependentes que não entendem
a real necessidade de sua existência. Como apontado na problemáti-
ca, este instituto tem um propósito importante, que é garantir o equi-
líbrio financeiro da autarquia previdenciária, bem como de todos os
contribuintes, evitando que ocorram concessões precoces, o que po-
deria levar a autarquia ao desequilíbrio financeiro, uma vez que o sis-
tema é solidário.
Possuindo tanto um lado positivo quanto negativo aos olhos de
segurados e operadores do direito, esse estudo tem como justificati-
va apresentar a importância desse instituto e seu propósito, tanto para
o meio acadêmico, seja na área de Direito ou em outras áreas, como
também para o meio social, já que independente da área de atuação,
todos têm ou planejam ter o status de segurado no futuro.
Diante desse contexto, através da justificativa e objetivos elen-
cados, analisou-se a importância desta exigência/requisito previdenci-
ário, seus prós e contra e toda sua evolução e aplicabilidade ao lon-
go dos anos. Mas antes de discorrer sobre a problemática do estudo,
apresentaram-se noções propedêuticas sobre temas basilares do Di-
reito Previdenciário visto que não se pode falar de carência sem antes
definir a sua relação direta com os outros institutos aplicados ao segu-
ro social, sendo a da contribuição uma das mais importantes.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 366

A carência tem como fato gerador a contribuição que será paga


mensalmente, isto é, paga mês a mês, sem interrupções dentro de sua
correspondente competência, tendo como prazo final sempre o déci-
mo quinto dia útil do mês subsequente, ressalvado as hipóteses quan-
do o décimo quinto dia vier a cair em feriados sendo esse prorroga-
do para o primeiro dia útil seguinte, a luz do art. Art. 27 e incisos da lei
8.213 C/C art. 30, incisos I, II e parágrafo 2 da lei 8.212/91, sendo essa
a sistemática legal para que essas contribuições sejam contabilizadas
para efeitos de carência.
Ocorre que recentemente a divisão de benefício do INSS (DI-
VBEN), esclareceu o posicionamento do INSS a respeito dessa siste-
mática, passando a adotar um novo posicionamento em virtude de al-
terações na regra do cômputo de contribuições realizadas em atraso,
sendo fruto da inserção do §4º no art. 28 no Decreto 3.048/99, regu-
lamento da previdência social, incluído pelo Decreto nº 10.410, de 1º
de julho de 2020.
Conforme comunicado do INSS, para contribuições a partir de
07/2020, a autarquia passou a considerar para carência a data do efe-
tivo pagamento do tributo e não mais da competência a que se refere
à lei de benefícios 8213/99 e lei de custeio, lei 8.212. Cumpre desta-
car de imediato que os segurados que gozam de presunção de reco-
lhimento como os empregados, domésticos, avulsos e os contribuin-
tes individuais que prestam serviço a empresas ou a entidades a elas
equiparadas não serão afetados pela nova sistemática de cômputo de
carência adotada pela autarquia.
Assim, os reflexos do conteúdo do comunicado atingem espe-
cificamente a categoria de segurado contribuinte individual autônomo.
Isto porque, a partir de 19 de abril de 2003, para o contribuinte indi-
vidual que presta serviço a empresa. Cabe a esta a obrigação de ar-
recadar a contribuição do prestador a seu serviço, descontando a da
respectiva remuneração e a recolher o valor arrecadado juntamente
com a contribuição a seu cargo.
Já em relação ao segurado facultativo, como sua filiação repre-
senta ato volitivo e gera efeito somente a partir da inscrição e do pri-
meiro recolhimento pago sem atraso, esta não pode retroagir e não
permite o pagamento de contribuições relativas a competências ante-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 367

riores à data da inscrição. Após a inscrição, o segurado facultativo so-


mente poderá recolher contribuições em atraso quando não tiver ocor-
rido perda da qualidade de segurado, tendo como período dessa ma-
nutenção o prazo de 6 meses.
Segundo determina o inciso II do art. 28 do Regulamen-
to da Previdência Social Decreto 3.048/99, alterado pelo Decreto nº
10.410/2020, para o segurado contribuinte individual e o segurado fa-
cultativo, o período de carência é contado a partir da data do efetivo
recolhimento da primeira contribuição sem atraso. Disso decorre que
não serão consideradas para efeito de carência as contribuições reco-
lhidas com atraso referentes a competências anteriores à data daque-
le primeiro recolhimento em dia.
O Decreto. 10.410/2020 trouxe como novidade ao art. 28 do
RPS o parágrafo 4º, o qual determina que para os segurados a que se
refere o inciso II do caput, na hipótese de perda da qualidade de se-
gurado, somente sendo consideradas, para fins de carência, as contri-
buições efetivadas após novo recolhimento sem atraso, observado o
disposto no art. 19-E. do mesmo diploma legal.
De acordo com a regra anterior, em vigor até 30/06/2020, con-
siderava-se carência com base na competência, e não na data do pa-
gamento. Com a inserção do parágrafo 4º, defende o INSS que as
contribuições em atraso realizadas partir de 01/07/2020, data da publi-
cação do Decreto. n° 10.410/2020, somente são computadas para ca-
rência se existir uma contribuição de competência anterior em dia, na
mesma categoria, sem que se tenha operado a perda da qualidade de
segurado entre ela e a data de pagamento da contribuição em atraso
que está sendo analisada.
Apenas para fins de comparação, pelo regramento anterior dis-
ciplinado pela lei de benefícios da previdência, a manutenção ou perda
da qualidade de segurado deveria ser observada em relação à compe-
tência devida e não a data do efetivo pagamento em atraso. Veja-se o
dispositivo supracitado:

Art. 27.  Para cômputo do período de carência, serão


consideradas as contribuições:  
I - referentes ao período a partir da data de filiação ao Re-
gime Geral de Previdência Social (RGPS), no caso dos
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 368

segurados empregados, inclusive os domésticos, e dos


trabalhadores avulsos; (Redação dada pela Lei Comple-
mentar nº 150, de 2015)
II - Realizadas a contar da data de efetivo pagamento da
primeira contribuição sem atraso, não sendo considera-
das para este fim as contribuições recolhidas com atra-
so referentes a competências anteriores, no caso dos se-
gurados contribuinte individual, especial e facultativo, re-
feridos, respectivamente, nos incisos V e VII do art. 11
e no art. 13. (Redação dada pela Lei Complementar nº
150, de 2015)

Não cabe aqui juízo de valor sobre o conteúdo do inciso, mas


análise técnica sobre o instrumento normativo utilizado na alteração do
cômputo do período de carência é um decreto. Assim, entende-se coe-
rente eventual tese de ilegalidade do parágrafo 4º do Decreto 3.048/99.
Tecnicamente, seria apropriado que primeiro fosse atualizada a legisla-
ção específica de benefícios, Lei nº 8213/91, com a alteração do inciso
II do art. 27, que trata do cômputo do período de carência, uma vez que
um Regulamento não é o meio juridicamente adequado para alterações
normativas, posto não ser da função a inovação jurídica.
De maneira simples, segue a noção preambular do assunto.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 369

Fazendo um paralelo agora entre os institutos carência e perío-


do de graça e, com o intuito de diferenciá-los. Apesar de muitos segu-
rados, até mesmo operadores do direito acharem que se trata do mes-
mo instrumento, esses são totalmente distintos. Esse benefício intitu-
lado de período de graça tem como objetivo garantir o acesso aos be-
nefícios previdenciários mesmo sem o pagamento de contribuições a
autarquia, esse benefício pode ser concedido em diversas situações.
Observa-se que, segundo o art. 25 e incisos da lei de benefí-
cios 8.213/91 C/C art. 29 do Decreto 3.048/99 alguns benefícios exi-
gem cumprimento de carência para sua concessão, como é o caso
das aposentadorias programada, especial e por idade do trabalhador
rural (também a híbrida) e o auxílio reclusão, não sendo admitidas
exceções, porém a hipóteses em que a carência pode ser dispensa-
da sendo exigido somente o requisito qualidade de segurado ou ma-
nutenção dessa condição estando o requerente no período de graça,
como ocorre no salário maternidade concedidos aos segurados em-
pregados, empregado doméstico e o trabalhador avulso ou de algu-
ma situação específica como é o caso dos benefícios por incapacida-
de nas hipótese de acidente de qualquer natureza ou causa entre ou-
tras situações que não será exigida a carência.
Note que aplicação deve ser individualizada, visto que apenas
as seguradas contribuintes individuais, especiais e facultativas neces-
sitam cumprir carência para ter direito ao salário-maternidade. Para as
empregadas, empregadas domésticas e avulsas, não é exigida qual-
quer carência. A explicação é muito simples. As empregadas, empre-
gadas domésticas e avulsas não são responsáveis pelo próprio reco-
lhimento, sendo os seus contratantes encarregados dos pagamentos
das contribuições previdenciárias previamente retidas.
Já no caso do benefício por incapacidade com acidente de qual-
quer natureza ou causa pode ou não ter nexo de causalidade com a
atividade profissional desenvolvida pelo segurado. Em havendo nexo
de causalidade entre o evento gerador da moléstia incapacitante e ati-
vidade profissional desenvolvida pelo segurado, o benefício por inca-
pacidade a ser deferido terá natureza acidentária. Em não havendo
essa relação de causalidade, o benefício por incapacidade terá natu-
reza previdenciária ou ordinária, ainda que seu fato gerador seja um
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 370

acidente. Porém, independentemente da natureza do fato gerador do


acidente, este terá o condão de afastar a exigência do cumprimento de
carência para a concessão do benefício por incapacidade.
Por fim, mesmo diante de todas as noções basilares sobre o
tempo de carência e sua similaridade com outros institutos aplicáveis
ao direito previdenciário, é importante salientar que o Direito Previden-
ciário é cíclico, e suas constantes mudanças fazem com que os estu-
dantes do direito previdenciário e os beneficiários tenham que se atu-
alizar constantemente.
Dentro da sistemática previdenciária ainda vigente, um dos dis-
positivos mais importantes ao tratar do tema carência nos últimos 30
anos, sem dúvida é a regra de transição contida no artigo 142 da lei
8.213/99, aplicada aos antigos segurados da previdência social urba-
na que no momento da criação do Instituto nacional do seguro social
não tinham implementado os requisitos necessários para se aposen-
tar, estando agora submetido aos ditames da regra de transição im-
posta pela nova lei. A tabela a seguir traz o período de carência exigi-
do correspondente ao ano de implementação de todas as condições
necessárias à obtenção do benefício: 

Ano de implementação das condições Meses de contribuição exigidos


1991 60 meses
1992 60 meses
1993 66 meses
1994 72 meses
1995 78 meses
1996 90 meses
1997 96 meses
1998 102 meses
1999 108 meses
2000 114 meses
2001 120 meses
2002 126 meses
2003 132 meses
2004 138 meses
2005 144 meses
2006 150 meses
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 371

2007 156 meses


2008 162 meses
2009 168 meses
2010 174 meses
2011 180 meses

Tamanha importância desse dispositivo que recentemente o


Decreto nº 10.410/2020 trouxe uma nova redação ao art. 182 do de-
creto 3.048/99 RPS ao tratar de sua aplicação, orientando que a ca-
rência apontada na tabela do art. 142 da lei 8213/91, deveria levar em
conta o ano em que o segurado implementou todas as condições ne-
cessárias à obtenção do benefício. O que fazia sentido no tocante às
aposentadorias por tempo de contribuição e especial, mas não em re-
lação à aposentadoria por idade. Andou bem o Decreto. 10.410/2020
ao alterar a redação do artigo 182, regulamentado o dispositivo da lei,
dispondo que, para concessão da aposentadoria por idade, será con-
siderado o ano em que o segurado tiver implementado a idade exigi-
da, cumprindo assim sua função regulamentadora.
Outra importante mudança se não a mais polêmica ao que se
refere ao tema carência, foi a trazida pela recente Emenda Consti-
tucional 103 de 13 de novembro de 2019, conhecida como reforma
da previdência que trouxe uma série de mudanças a previdência so-
cial brasileira e uma delas foi o fim do instituto da carência aplica-
do a alguns benefícios como no caso da aposentadoria voluntária do
RGPS.
Outro ponto de muita discussão é a não contabilização para
efeitos de carência das contribuições pagas tendo como base de cál-
culo um valor inferior a contribuição mínima previsto pelo art.26 do
Decreto 3.048/99 com redação dada pelo Decreto 10.410/2020, visto
que na sistemática anterior, era possível que um segurado emprega-
do, empregado doméstico, trabalhador avulso e  relativamente ao con-
tribuinte individual, a partir da competência abril de 2003, que presta
serviço a empresa,  que recebesse remuneração durante o mês com
valor inferior ao mínimo, em função de não trabalhar em tempo inte-
gral, tendo esses segurados a presunção do recolhimento das contri-
buições, podendo usufruir de todos os direitos previdenciários.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 372

Observa-se que, a nova redação trazida pelo Decreto 10.410/2020


incluiu o art.26 ao Decreto 3.048/99, estabelecendo que só podem ser
consideradas para efeito de carência as competências cujo salário de
contribuição seja igual ou superior ao seu limite mínimo mensal, inde-
pendentemente da categoria de segurado. No entanto, o texto previsto
pelo parágrafo 14 do art. 195 da CF/88, incluído pela Emenda Constitu-
cional nº 103/2019, tão somente determina que as competências com
recolhimentos abaixo da contribuição mínima mensal não sejam reco-
nhecidas como tempo de contribuição.
Ao dispor que esses recolhimentos não serão aceitos como
tempo de contribuição, como carência e para fins de aquisição e ma-
nutenção da qualidade de segurado, o regulamento ultrapassa o tex-
to da emenda, fazendo uma interpretação extensiva, limitando direito
que a emenda não limitou. Como aponta o professor KERTZMAN no
novo regulamento da previdência social (2021, p. 112). Apesar de re-
cente, a reforma ainda tecerá muitas discussões sobre o instituto que
é tema central desse estudo.

3 CONCLUSÃO

A partir desses aprofundamentos sobre esse tema e de sua re-


visão bibliográfica, chegou-se à conclusão de que não se trata de algo
inédito, mas de se estudar um assunto sobre uma perspectiva mais
atual, residindo aí seu diferencial. Observou-se que a carência é um
instituto do direito previdenciário que suscita polêmica entre os estu-
diosos, com seus aspectos positivos e negativos, sendo um fator de
equilíbrio financeiro e de sustentabilidade do próprio sistema.
Seu fim primordial é evitar que pessoas que não tenham con-
tribuído ou que venham a contribuir por pouco tempo possam se tor-
nar beneficiários, o que poderia sobrecarregar financeiramente o sis-
tema. Buscou a legislação previdenciária dificultar a fraude, evitando
que as pessoas responsáveis pelo próprio recolhimento o façam, mes-
mo sem haver qualquer prestação de serviço, com o único escopo de
fazer jus a benefícios.
Já no que diz respeito ao lado negativo de sua aplicação tem
relação com o impacto de sua aplicação sobre determinados grupos
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 373

de trabalhadores, como aqueles que têm atividades sazonais, como


trabalhadores rurais, as donas de casa na condição de seguradas fa-
cultativas baixa renda, entre outros, visto que esses trabalhadores po-
dem enfrentar desafios em cumprir a carência devido às característi-
cas de suas atividades laborais.
Assim, verificou-se a importância do supracitado instituto da
carência, como também a importância de diferenciá-lo de demais con-
ceitos, pois como analisado, existem exceções a sua aplicação, o que
se demonstram necessária à sua melhor compreensão e aplicação no
caso concreto.
Não se teve a pretensão de exaurir o debate sobre o estudo da
carência, mas de destacar suas nuances de aplicabilidade diante dos
casos submetidos à análise administrativa do INSS, que tem uma pos-
tura de total legalidade; o propósito foi o despertar sobre esse tema,
oportunizando que novos questionamentos e respostas possam ad-
vir desse trabalho, contribuindo para que os legisladores e operado-
res do direito permaneçam em constante aperfeiçoamento e permitin-
do revisões de seus entendimentos para uma mais justa aplicabilida-
de do referido instituto.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Emenda Constitucional nº103, Brasília, em 12 de novembro
de 2019
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BRASIL. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Pla-
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.
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BRASIL. Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regula-
mento da Previdência Social, e dá outras providências. Disponí-
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de%20Previd%C3%AAncia%20Social%20garante%20a%20cobertu-
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BRASIL. Decreto nº 10,410/2020 Brasília, 30 de junho de 2020; 199º
da Independência e 132º da República. 
BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Pla-
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.
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CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Breves comentários às altera-
ções promovidas pela Lei 13.135/2015 nos benefícios previdenci-
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ORTIZ, Leticia. Carência do INSS: o que é e quanto tempo precisa


comprovar. 2022. Disponível em: https://ingracio.adv.br/carencia-no-
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TANAKA, Eduardo. Direito Previdenciário: 4ª edição totalmente re-
visada e atualizada em 2022 e de acordo com a portaria intermi-
nisterial mtp/me nº 12, de 2022. 4. ed. Florianópolis: Eleva Concur-
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KERTZMAN, Ivan. Novo regulamento da Previdência Social. 2ª
ed.revista,atualizada e ampliada Editora Jus podvm.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 376

CAPÍTULO 27

DIREITOS DA COMUNIDADE LGBTQIAP+


NO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO:
ATUAÇÃO DO ESTADO NA GARANTIA
DOS DIREITOS DOS EXCLUÍDOS

RIGHTS OF THE LGBTQIAP+ COMMUNITY IN THE


BRAZILIAN PRISON SYSTEM: STATE ACTION
IN GUARANTEEING THE RIGHTS OF THE EXCLUDED

Iago Francisco Queiroz Rabelo


Graduando em Direito
Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi
Piripiri - Piauí
ORCID 0009-0005-3796-2603
iagofrancisco66@gmail.com

Vitor Manoel Costa de Sousa


Graduando em Direito
Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi
Piripiri - Piauí
ORCID 0009-0000-6602-5970
vitormanel724@gmail.com

Tiago Castelo Branco Ribeiro


Doutor em Ciências Policiais e Ordem Pública
Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi
Piripiri - Piauí
tiagocbr1@gmail.com

RESUMO
O presente artigo descreve uma pesquisa documental sobre as pesso-
as da comunidade LGBTQIAP+ inseridas no sistema carcerário brasi-
leiro. O principal objetivo foi analisar a situação dessa população en-
carcerada, destacando os principais pontos e fatores que contribuem
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 377

para sua atual realidade, buscando entender o contexto do Estado


diante dessa problemática. Este estudo está direcionado à área dos
direitos humanos e direito penal, a qual debruça perspectivas acer-
ca das minorias dentro do sistema carcerário, mostrando-se relevante
ante ao fato de ser um tema pouco trabalhado. Para tanto, foram usa-
das diversas fontes, desde documentos oficiais a mídias visuais para
extrair informações sobre essas pessoas em situação de encarcera-
mento. Postula-se que através dos procedimentos analisados tenha
se chegado a demonstração da situação em que se encontra a comu-
nidade LGBTQIAP+ dentro das penitenciárias brasileiras, bem como a
atuação do Estado na garantia dos seus direitos.
Palavras-chave: Sistema Carcerário Brasileiro; População LGBT-
QIAP+ Encarcerada; Presos LGBTQIAP+;

ABSTRACT
This article describes a documentary research on people from the
LGBTQIAP+ community inserted in the Brazilian prison system. The main
objective was to analyze the situation of this incarcerated population, high-
lighting the main points and factors that contribute to their current reali-
ty, what solutions the state has and their effectiveness in the face of the
problem. This study is directed to the area of ​​human rights and criminal
law, which addresses perspectives on minorities within the prison system,
proving to be relevant in view of the fact that it is a subject that has not
been worked on much. To this end, the most diverse sources were sought,
from official documents to visual media to extract information about these
people in a situation of incarceration. It is postulated that, through the pro-
cedures analyzed, it was possible to demonstrate the situation in which
the LGBTQIAP+ community finds itself within Brazilian penitentiaries, as
well as the role of the State in guaranteeing its rights.
Keywords: Brazilian Prison System; Incarcerated LGBTQIAP+ popu-
lation; Prisoners LGBTQIAP+;

1 INTRODUÇÃO

O encarceramento em si é algo degradante e dada a realida-


de de crise em que se encontra o sistema carcerário brasileiro, torna-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 378

-se progressivamente pior quando se faz parte de uma minoria como


a comunidade LGBTQIAP+. O ambiente prisional é insalubre, fato de-
corrente da superlotação e falta de políticas públicas, entretanto esses
indivíduos inseridos no sistema sofrem duplamente, onde alegam te-
rem sofrido com atitudes preconceituosas como restrições, proibição
do uso de objetos específicos, além de castigos que incluem espanca-
mentos, torturas e humilhações.
Partindo da situação acima descrita, questiona-se: o Estado é
eficaz na garantia dos direitos das pessoas LGBTQIAP+ no sistema
carcerário ?. É um questionamento relevante, na medida em que dá
ao trabalho a oportunidade de expor um problema social que não é
amplamente discutido, além de mostrar sua importância no meio cien-
tífico, mais especificamente no estudo do direito penal e direitos hu-
manos, onde pode-se tirar conclusões acerca da aplicação dessas ga-
rantias no âmbito carcerário.
O presente trabalho teve como objetivo principal analisar a situa-
ção das pessoas LGBTQIAP+ inseridas no sistema carcerário brasileiro,
destacando os principais pontos e fatores que contribuem para sua atual
realidade, buscando entender o contexto do Estado diante dessa proble-
mática. Esse objetivo servirá para comprovar duas hipóteses: a primeira
é que em decorrência de uma crise no sistema carcerário brasileiro, o Es-
tado não tem como dispor e alcançar pessoas em situação de vulnerabili-
dade dentro das penitenciárias, e a segunda é que o Estado, mesmo dis-
pondo de soluções para redução de desigualdades e violência dentro dos
presídios, ainda falha em pôr cada uma delas em prática, contribuindo
para que a estadia de minorias dentro dos presídios se torne desafiadora.
Quanto à metodologia, o trabalho foi uma pesquisa documen-
tal, que consistiu na coleta e seleção de informações extraídas de di-
versas fontes como documentos, relatórios, livros, revistas, documen-
tários, mídias, jornais e bibliografias, que foram devidamente organi-
zadas, analisadas e interpretadas, servindo de subsídio para a reda-
ção da fundamentação teórica do estudo. É um método muito utilizado
nas ciências humanas e sociais, por permitir fazer análises de discur-
so sobre o contexto de determinado fenômeno.
Portanto, o estudo de direitos sociais de grupos historicamen-
te excluídos do processo de garantias básicas, como a comunidade
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 379

LGBTQIAP+, revelou-se importante, ainda mais quando se trata de


um contexto diferente do habitual quando se refere a esse grupo so-
cial, pois mostra quão vulnerável essa população fica diante de um
ambiente insalubre como o sistema carcerário brasileiro atual, onde
mesmo havendo soluções para resolução dos problemas surgidos e
redução de desigualdades, estes ainda perduram de forma significa-
tiva no cotidiano de pessoas LGBTQIAP+ em situação de encarcera-
mento.

2 LGBTQIAP+, SISTEMA CARCERÁRIO, POSSÍVEIS SOLUÇÕES,


OBSTÁCULOS EM SUA APLICAÇÃO E METODOLOGIA

Antes de chegar a situação das pessoas LGBTQIAP+ dentro


do sistema carcerário brasileiro, é fundamentalmente importante ter
o conhecimento sobre o que a sigla significa, para que possa sanar
qualquer tipo de desinformação quanto a sua conceituação e facilitar
o entendimento durante a discussão abordada, tornando-a clara, obje-
tiva e de fácil entendimento.
Após essa abordagem será possível entender a discussão, que
se trata em um âmbito completamente diferente do habitual quando se
fala da comunidade LGBTQIAP+, norteando a argumentação no senti-
do em que a mesma se dirige sem que fuja na conceituação da temática
abordada. Essa informação, associada a situação das penitenciárias bra-
sileiras possibilitará chegar ao foco do presente trabalho de forma efetiva.

2.1 Uso da Sigla LGBTQIAP+

A sigla que atualmente define a comunidade é LGBTQIAP+ (Lés-


bicas, Gays, Bissexuais, Transexuais/Travestis/Transgêneros, Queer,
Intersexual, Assexual, Pansexual), pois diferente as anterioes (GLS e
LGBT), representa todas as pessoas que de alguma forma não se en-
caixam na heterossexualidade ou no conceito padronizado de apenas
dois gêneros (masculino e feminino), ou seja, acolhe a todos aqueles
que se sentem excluidos da imposição heteronormativa da sociedade,
com o “+” da sigla incluindo toda a diversidade além das representadas
por cada letra da abreviatura.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 380

Dentro do sistema carcerário brasileiro, a busca por essa in-


clusão veio com a Resolução Conjunta nº 1 de 15 de Abril de 2014
do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP),
estabelecendo em seu artigo 1º algumas definições e parâmetros de
acolhimento para pessoas da comunidade nas penitenciárias:

Art. 1º Estabelecer os parâmetros de acolhimento de


LGBT em privação de liberdade no Brasil.
Parágrafo único. Para efeitos desta Resolução, entende-
-se por LGBT a população composta por lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais, considerando-se:
I - Lésbicas: denominação específica para mulheres que
se relacionam afetiva e sexualmente com outras mulhe-
res;
II - Gays: denominação específica para homens que se
relacionam afetiva e sexualmente com outros homens;
III - Bissexuais: pessoas que se relacionam afetiva e se-
xualmente com ambos os sexos;
IV - Travestis: pessoas que pertencem ao sexo masculino
na dimensão fisiológica, mas que socialmente se apre-
sentam no gênero feminino, sem rejeitar o sexo biológi-
co; e
V - Transexuais: pessoas que são psicologicamente de
um sexo e anatomicamente de outro, rejeitando o próprio
órgão sexual biológico.

Cabe observar que a inclusão feita pela referida Resolução


Conjunta ainda se limita a comunidade como “LGBT”, sem a inclusão
de toda a diversidade que existe e é associada a ela, mas dado o fato
de existirem parâmetros de acolhimento, bem como projetos voltados
para a realidade dessas pessoas dentro das penitenciárias através de
uma regulamentação, é um grande avanço na garantia dos direitos da
comunidade no âmbito, ainda mais quando se trata do país que mais
mata pessoas LGBTQIAP+ (BOHRER, 2022).

2.2 Contexto atual do Sistema Carcerário Brasileiro

A situação atual do sistema carcerário brasileiro é de crise, isso


se deve a vários fatores. Um dos principais é o encarceramento em
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 381

massa, ocasionando um déficit de vagas dentro dos presídios, que é


um problema persistente há mais de 20 anos no país. Segundo da-
dos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, colhidos através do
Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) e do
Departamento Penitenciário Nacional (Depen), apesar da criação de
novas vagas, o déficit entre estas e o número de encarcerados cres-
ceu no período de janeiro a junho de 2019 (NASCIMENTO, 2022).
As organizações criminosas dentro dos presídios são outro
principal fator que contribui imensamente para a existência dessa cri-
se. Estima-se que o Brasil tenha mais de 70 facções criminosas que
atuam tanto dentro como fora das penitenciárias, sendo a maior delas
o Primeiro Comando da Capital (PCC), seguida do Comando Verme-
lho (CV) e Família do Norte (FDN). Com tantas facções no país é ine-
vitável que hajam conflitos entre elas dentro e fora da prisão, dos quais
pode-se citar os mais recentes como o do Complexo Anísio Jobim –
Manaus (2017) e o Massacre em Altamira (2019), que tiveram gran-
de repercussão midiática, explanando a situação crítica dos presídios
brasileiros (NASCIMENTO, 2022).
Assim, pode-se afirmar que a situação atual do sistema prisional
não é apenas um problema social, como também é um problema de se-
gurança pública, já que além de provocar efeitos internos, externamente
tem um impacto considerável e diante desses fatos, deve-se questionar
quais efeitos o encarceramento nessas condições provoca, relacionan-
do isso a interseção gênero, raça e classe, já que dentro das penitenciá-
rias essa questão se acentua fortemente, revelando quão seletivo o sis-
tema é, resultando no agravo e reprodução de desigualdades, amplian-
do os mais variados tipos de vulnerabilidades (CAPPELLARI, 2018).

2.3 Encarcerados LGBTQIAP+

Além da superlotação e do ambiente insalubre, os presidiários


LGBTQIAP+ ainda enfrentam outros problemas, como uma predomi-
nância machista dentro dos presídios e a discriminação por parte dos
servidores do sistema carcerário. Segundo a Organização Internacio-
nal de Direitos Humanos, essa população está entre as mais vulne-
ráveis dentro das penitenciárias brasileiras, apontando que pelo me-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 382

nos 67% dos presos LGBTQIAP+ sofreram algum tipo de agressão


enquanto estavam em situação de encarceramento (CASTRO, 2020).
O que reforça com concretude a veracidade desses fatos, são
relatos de presos LGBTQIAP+, que são outra, senão a maior, fonte de
informação acerca dessa população encarcerada. Em entrevista reali-
zada na Casa de Detenção, estado de São Paulo, pela Human Rights
Watch (2014), um preso autodeclarado homossexual relatou como era
sua estadia com relação aos presos heterossexuais: “Nós cumprimos
duas sentenças aqui: uma imposta pelo juiz e outra imposta pelos pri-
sioneiros. Nós não temos valor para eles. Ninguém presta atenção
para a palavra de um homossexual. Eles nos deixam falar com eles
até um certo ponto. Nenhum deles beberia do meu copo.”
Além disso, a discriminação por parte dos servidores penitenci-
ários é outro ponto que deve-se destacar, pois muitos apenados LGB-
TQIAP+ relataram que são cotidianamente submetidos a humilhações
e agressões físicas por parte dos carcereiros, que se recusam inclusi-
ve a respeitar seu nome social, direito validado pela Resolução Con-
junta nº 1 de 15 de abril de 2014 (CASTRO, 2022). É como Eliane de
Sousa, Diretora de Saúde do Presídio de Pinheiros 2, afirma à BBC
News Brasil (2019): “São pessoas que já vêm excluídas da sociedade.
É exclusão da exclusão”.
Levando em conta esses pontos, é notório que o preconceito
da sociedade em relação a comunidade LGBTQIAP+ é refletido de for-
ma demasiada dentro das penitenciárias, de forma a fazer com que a
estadia dessas pessoas seja mais difícil com relação aos demais em
igual situação. É algo a se pensar, pois uma situação como a descrita
não deveria ocorrer em um ambiente onde a ressocialização é o prin-
cipal objetivo durante o isolamento em decorrência de práticas delitu-
osas, não para excluí-los e deixá-los mais desiguais e indiferentes do
que já são dentro da sociedade brasileira.

2.4 Possíveis Soluções do Estado Para a Situação dos Encarce-


rados LGBTQIAP+

A primeira Ala dedicada ao público LGBTQIAP+ foi criada em


2009, no Presídio de São Joaquim de Bicas, em Minas Gerais, repre-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 383

sentando um marco na mudança das formas de tratamento e convi-


vência dessa população com os demais encarcerados da instituição
(LIMA, 2021). A partir dessa experiência, o projeto expandiu-se por ou-
tros estados, como exemplo o estado do Rio Grande do Sul, onde seu
principal presídio apresentou uma diminuição significativa de agres-
sões contra homossexuais após a implementação de uma Ala espe-
cial, de acordo com dados da Superintendência de Serviços Peniten-
ciários (Susepe), e o estado da Paraíba, que criou Alas voltadas à po-
pulação LGBTQIAP+ nos seus presídios, transbordando do direito hu-
mano de respeito à integridade física (LIMA, 2021).
Mesmo que a criação das alas específicas tenha iniciado a par-
tir de 2009, a regulamentação desse sistema somente veio a ser cria-
do em 2014, pela Resolução Conjunta Nº 1, de 15 de abril de 2014, as-
sinada pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e
pelo Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD/LGBT),
que disciplinou o espaço de convivência específico e regulamentou
assuntos importantes para a comunidade LGBTQIAP+ inclusa no sis-
tema carcerário brasileiro, conforme dispõe:

Art. 2º - A pessoa travesti ou transexual em privação de li-


berdade tem o direito de ser chamada pelo seu nome so-
cial, de acordo com o seu gênero.
§ 2º - A transferência da pessoa presa para o espaço de
vivência específico ficará condicionada à sua expressa
manifestação de vontade. Art. 4º - As pessoas transe-
xuais masculinas e femininas devem ser encaminhadas
para as unidades prisionais femininas. Parágrafo único -
Às mulheres transexuais deverá ser garantido tratamen-
to isonômico ao das demais mulheres em privação de li-
berdade.
Art. 5º - À pessoa travesti ou transexual em privação de
liberdade serão facultados o uso de roupas femininas ou
masculinas, conforme o gênero, e a manutenção de ca-
belos compridos, se o tiver, garantindo seus caracteres
secundários de acordo com sua identidade de gênero.
Art. 6º - É garantido o direito à visita íntima para a popula-
ção LGBT em situação de privação de liberdade, nos ter-
mos da Portaria MJ nº 1.190/2008 e na Resolução CNP-
CP nº 4, de 29 de junho de 2011.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 384

Parágrafo único - À pessoa travesti, mulher ou homem


transexual em privação de liberdade, serão garantidos a
manutenção do seu tratamento hormonal e o acompa-
nhamento de saúde específico.
Art. 8º - A transferência compulsória entre celas e alas
ou quaisquer outros castigos ou sanções em razão da
condição de pessoa LGBT são considerados tratamen-
tos desumanos e degradantes (RESOLUÇÃO CONJUN-
TA Nº 1, 2014).

Diante disso, alguns estados passaram a adotar resoluções


com intuito de orientar os agentes do sistema penitenciário quanto ao
acolhimento e tratamento dado a população LGBTQIAP+ nas peniten-
ciárias, criando ambientes específicos para essas pessoas e garantin-
do a aplicação de seus direitos, como a Resolução SAP nº 11/2014 em
São Paulo e a Resolução SEAP nº 558/2015 no Rio de Janeiro, que de
forma inovadora disciplinaram direitos e deveres das pessoas LGBT-
QIAP+ no sistema prisional.
Esses projetos e regulamentações não criaram direitos, ape-
nas ratificam garantias já existentes no ordenamento jurídico brasilei-
ro, aplicando-as ao contexto dessa comunidade no âmbito carcerá-
rio, para garantir uma estadia digna a essas pessoas e um ambiente
de trabalho pacífico aos funcionários da administração penitenciária.
Através disso, foi possível garantir que ninguém seja tratado de ma-
neira diferente por motivações decorrentes da sua orientação sexual
ou identidade de gênero, não sendo facultado ao Estado interferir nes-
sa esfera de liberdade pessoal.

2.5 Efeitos e Obstáculos na Aplicação de Soluções

Em um artigo publicado pela UFRN, em 2016, sobre a popu-


lação carcerária da Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbre-
ga (Roger), em João Pessoa, Paraíba, foi constatado, através de um
questionário sobre melhorias realizado com 15 encarcerados benefi-
ciados pela Ala LGBTQIAP+, um aumento significativo na participação
social dentro do espaço, bem como a liberdade dos detentos de usar
vestimentas e praticar atividades importantes para pessoas da comu-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 385

nidade LGBTQIAP+ (JUNIOR, C. P. E.; BREGALDA, M. M.; SILVA, B.


R. da; 2016).
Entretanto, mesmo com o aumento significativo da qualidade
de vida da população LGBTQIAP+ encarcerada após a implementa-
ção dessas alas especiais, essa realidade ainda está longe de aconte-
cer na maioria das penitenciárias brasileiras. Segundo o Levantamen-
to Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), apenas 3% das
cadeias brasileiras têm alas exclusivas para presos que declaram-se
abertamente LGBTQIAP+, e 7% possuem cela exclusiva para as pes-
soas da comunidade, os outros 90% não têm cela, nem ala destinada
ao público, o que dificulta na garantia dos direitos dessa população en-
carcerada (BARBIÉRI, L. F.; PALMA, G; 2020).
Um fato que comprova esses dados é o de que a Ala LGBT-
QIAP+ presente na Penitenciária Jason Soares Albergaria, em São
Joaquim de Bicas, mesmo sendo o pioneiro do projeto, é a única do
estado de Minas Gerais, expondo a baixa adesão do projeto por ou-
tros presídios brasileiros. Ademais, dos 34,7% encarcerados que ain-
da não foram condenados, o balanço do Infopen não tem uma informa-
ção precisa de quantos dos presos se declaram LGBTQIAP+ (BARBI-
ÉRI, L. F.; PALMA, G; 2020).
Essa carência de informações sobre o total de pessoas LGB-
TQIAP+ presas se torna um grande obstáculo na aplicação de garan-
tias, uma vez que pode dificultar o acesso dessa comunidade a direi-
tos e garantias ofertados pelo Estado, deixando-os vulneráveis, não
sendo raros os relatos de denúncias e depoimentos de violência, tor-
tura e maus tratos, sem conhecimento da tomada de providências ca-
bíveis em cima disso, nem sobre o devido encaminhamento dos ocor-
ridos a órgãos de defesa dos direitos humanos (CAETANO, 2020).

2.6 Metodologia

O presente trabalho foi uma pesquisa documental, método mui-


to utilizado nas ciências humanas, que explora as mais diversas e dis-
persas fontes, que podem ir de documentos oficiais, tabelas estatísti-
cas e relatórios a mídias visuais como filmes, documentários, jornais e
programas televisionados, que podem ser antigos ou atuais, em busca
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 386

de informações para análise, sendo usados para dar contexto a con-


teúdo histórico, cultural, social e econômico de um lugar ou grupo de
pessoas, em determinado ambiente, condição, ou momento histórico.
(FONSECA, 2002).
Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa preliminar em torno
da população LGBTQIAP+ em situação de encarceramento, avistan-
do ser um tema pouco trabalhado e que mostra relevância no cenário
atual, principalmente no estudo do direito penal e direitos humanos, e,
após essa sintética pesquisa, projetou-se o caminho para a escolha
e delimitação do tema em cima dessa pauta. Com o tema escolhido,
mergulhou-se numa segunda fase de pesquisa dentro do seu núcleo,
para fins de conclusão e fichamento da temática de forma que possibi-
litasse chegar a uma problematização a ser tratada, um tema delimita-
do, hipóteses a serem confirmadas e objetivos traçados.
Esse processo foi realizado a partir de busca de dados em ar-
tigos científicos, livros de referência, teses e dissertações pelo Goo-
gle Acadêmico, que serviu como base principal de fonte de pesquisa,
além de fontes diversas, como documentos, pesquisas, reportagens
e documentários que possibilitaram o acesso a informações precisas
sobre essa população encarcerada, com dados extraídos até o ano de
2022, usando as palavras-chave: Sistema Carcerário Brasileiro; Popu-
lação LGBTIQAP+ Encarcerada; Presos LGBTQIAP+.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Exposta a discussão, foi possível ampliar o debate acerca das


pessoas LGBTQIAP+ inseridas no sistema carcerário brasileiro, de for-
ma a compreender se o Estado é eficaz na garantia dos direitos des-
sa população, através da explanação dos fatores que contribuem para
a realidade que enfrentam dentro das penitenciárias e o que o Esta-
do tem feito para intervir nessa situação. Apresentados esses pontos,
foi possível confirmar as hipóteses formuladas acerca da problemática
tratada no presente trabalho.
O Estado falha em alcançar pessoas em situação de vulnerabi-
lidade dentro das penitenciárias. Essa imprecisão decorre da crise que
o sistema carcerário vêm sofrendo nos últimos anos, onde as peniten-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 387

ciárias se tornaram praticamente depósitos humanos, dada sua su-


perlotação, e da carência de informações sobre pessoas LGBTQIAP+
dentro dos presídios brasileiros, pois como pode-se observar duran-
te a argumentação, até institutos oficiais de informações penitenciá-
rias, a exemplo do Infopen, não possuem dados concretos sobre es-
sas pessoas inseridas no sistema, tornando-se um grande obstáculo
na garantia dos seus direitos.
Além disso, mesmo com soluções dispostas pelo Estado para
redução de desigualdades e violência nas penitenciárias, o mesmo
ainda falha em aplicá-las. De fato, o impacto dessas alternativas foi
positivo na sua aplicabilidade, mas essa realidade está longe de che-
gar a maioria dos presídios brasileiros, pois conforme os fatos apre-
sentados durante a discussão, pouco mais de 10% deles aplicam es-
sas soluções em suas dependências, escancarando a baixa adesão
desses projetos a nível nacional. Essa pouca admissão por parte das
penitenciárias, seja por falta de incentivo do Estado ou por falta de in-
teresse das instituições prisionais, dificulta a aplicação de soluções
trazidas a pessoas em situação de vulnerabilidade dentro do sistema
carcerário.
Por fim, mesmo dispondo de excelentes soluções para garantir
os direitos de pessoas LGBTQIAP+ dentro do sistema carcerário e ob-
tendo um impacto consideravelmente positivo na aplicação destas, o
Estado é pouco eficaz em proteger e aplicar essas garantias. A impre-
cisão de informações, soluções com aplicabilidade comprometida e li-
mitativa, acompanhadas de uma crise no âmbito carcerário se tornam
grandes obstáculos na eficiência do Estado em garantir direitos des-
sa população encarcerada, deixando-os suscetíveis à vulnerabilidade,
onde denúncias e depoimentos de violência, preconceito e discrimina-
ção por parte dessas pessoas ainda são uma realidade na maioria dos
presídios brasileiros.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 390

CAPÍTULO 28

DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO


DE JOVENS E ADULTOS

HUMAN RIGHTS AND YOUTH


AND ADULT EDUCATION

Aline Pimenta Motta


Universidade do Estado da Bahia
Salvador – BA
amotta@uneb.br

RESUMO
Este artigo se propõe a fazer uma reflexão da relação entre os direitos
humanos, o direito à educação e a educação de jovens e adultos. Para
tanto, apresenta um estudo teórico acerca dos direitos humanos e um
histórico do reconhecimento do direito à educação de jovens e adul-
tos, através das políticas públicas existentes. A reflexão visa a ava-
liação o que tem sido feito, frente aos índices de analfabetismo entre
esse público. Ainda que os dados sejam decrescentes, eles decres-
cem muito lentamente, descumprindo as metas educacionais de erra-
dicação do analfabetismo.
Palavras-chave: Direitos Humanos; Direito à Educação; Educação de
Jovens e Adultos; Políticas Públicas.

ABSTRACT
This article proposes to reflect on the relationship between human
rights, the right to education and youth and adult education. To do
so, it presents a theoretical study about human rights and a history of
the recognition of the right to education for young people and adults,
through existing public policies. The reflection aims at evaluating what
has been done, in view of the illiteracy rates among this public. Al-
though the data are decreasing, they decrease very slowly, failing to
meet the educational goals of eradicating illiteracy.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 391

Keywords: Human rights; Right to education; Youth and Adult Educa-


tion; Public policy.

Introdução

Os índices de analfabetismo no Brasil vêm sendo reduzidos ao


longo do tempo, porém ainda não apresentam impactos significativos,
decrescendo em média 0,5% ao ano, de acordo com dados do IBGE,
desde a década de 1990. Dos quase 13 milhões de brasileiros analfa-
betos, nota-se que 96,1% estão entre pessoas com 25 anos ou mais
e, mais da metade se concentra acima dos 50 anos, ou seja, o anal-
fabetismo atinge em sua maioria jovens e adultos em idade avança-
da. Desse modo, é possível constatar o não cumprimento do que rege
a Constituição Federal de 1988 (CF/88) (BRASIL, 2013), que previa a
erradicação do analfabetismo em até 10 anos da sua publicação, ou
seja, no ano de 1998.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma categoria de en-
sino, que possui finalidades e funções específicas. Ela abarca jovens
e adultos que passaram da idade escolar regular sem oportunidade de
estudo ou que se evadiram nas séries iniciais. Eles compõem a maior
parcela da população analfabeta no Brasil, seja pelas condições so-
ciais adversas a que estão e foram expostos ou pelos fatores admi-
nistrativos de planejamento e dimensões qualitativas oferecidas pelos
governos de forma inadequada.
A EJA se constitui como um instrumento de reparação da dívida
social com os que não tiveram acesso à educação em tempo escolar
adequado, e que, portanto, não possuem o domínio da escrita e leitu-
ra, mas, sobretudo, não tiveram, pela falta de acesso ao conhecimento
escolar, oportunidade de ampliar um saber crítico e inclusivo. De acor-
do com o MEC (2013, p. 5), “ser privado deste acesso é, de fato, a per-
da de um instrumento imprescindível para uma presença significativa
na convivência social contemporânea”.
As lutas por condições justas de convivência social são respon-
sáveis pelos direitos históricos conquistados pela humanidade e tradu-
zidos na forma de leis e acordos. Para Norberto Bobbio (2004), o con-
ceito de direito do ser humano é um tanto quanto complexo, à medida
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 392

que se embutem os fundamentos, as predileções, as condições e, so-


bretudo, os beneficiados. Partindo disso, inúmeros conceitos surgem,
mas questionamentos também os inviabilizam.
A concretização do direito da humanidade é uma meta desejá-
vel, dependente da vontade dos governantes, mas, principalmente, do
surgimento das necessidades econômicas e sociais. Em cada caso,
diversos fundamentos surgem para justificar e pleitear pelo direito. Es-
tudos históricos e sociais precisam permear as justificativas, demons-
trando as condições, os meios e as situações para realização do direi-
to, uma vez que “o problema dos fins não pode ser dissociado do pro-
blema dos meios”. (BOBBIO, 2004, p. 24). Ainda que se tenha como
certo o direito, é necessário discutir acerca da sua proteção e garantia.
A educação formal se constitui como direito e deve ter esfor-
ços envidados para que a sua teoria se constitua como uma prática,
ou seja, para que além do reconhecimento do direito, sejam realiza-
dos esforços para sua garantia e proteção, assegurando a todos a sua
plena ação. O reconhecimento da educação escolar como um direito
legalmente constituído se institui em 1948, junto à Declaração Univer-
sal dos Direitos Humanos, como um direito humano que surge das ne-
cessidades sociais.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB
– (LEI Nº 9.394, 1996), a educação é um processo formativo que se
desenvolve através da família, no trabalho, na convivência humana,
nos movimentos sociais, manifestações culturais e através das insti-
tuições de ensino e pesquisa. É dever do Estado, através da colabo-
ração entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, garantir a
educação escolar pública, nos diversos níveis de formação. O analfa-
betismo é o grau máximo de carência educacional e para Paulo Frei-
re (1979), a redução do analfabetismo perpassa a aprendizagem da
língua escrita, mas é também a tomada de consciência de direitos so-
ciais e políticos.

Justiça e Reconhecimento social

O desenvolvimento do direito do homem permite a transforma-


ção dos indivíduos singulares em cidadãos e, posteriormente, em ci-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 393

dadãos do mundo, através do processo de universalização, em que se


consideram aptos, a partir da aquisição do direito, a questionarem seu
próprio Estado. Após essa transformação e ampliação da condição de
cidadão, o processo de multiplicação do direito permite que se estrei-
tem as relações entre mudanças sociais e necessidade de surgimen-
to de novos direitos.
Para Bobbio (2004), a multiplicação acelerada dos direitos hu-
manos releva, cada vez mais, a necessidade de referência do contex-
to social, visto que é nesse ambiente que surgem. Três são os modos
apresentados pelo autor, para a multiplicação dos direitos: o aumento
da quantidade de bens considerados merecedores de tutela, a exten-
são de titularidade de alguns direitos típicos a sujeitos diversos e o au-
mento dos bens, sujeitos e status dos indivíduos.
O aumento da quantidade de bens considerados merecedores
de tutela surge da passagem de direitos de liberdade, que são indivi-
duais, para os direitos sociais e políticos, que requerem intervenção
estatal. A extensão de titularidade refere-se à passagem da condição
de indivíduo singular para sujeitos coletivos. Enquanto que o aumento
de bens, sujeitos e status está relacionado à passagem do homem ge-
nérico ao homem específico, considerando aspectos de suas diferen-
ciações (grupos excluídos, sexo, idade, status social etc.).
Os direitos sociais, ao contrário do direito de liberdade, neces-
sitam para sua prática efetiva, a intervenção e ampliação dos poderes
do Estado. Isso ocorre, pois, o mundo das relações sociais é bastan-
te complexo e a sobrevivência humana não pode se dar apenas pe-
los direitos fundamentais. Apenas o Estado é capaz de garantir que os
demais direitos sejam cumpridos, pois irá mediar os conflitos de inte-
resses, visto que os direitos sociais são específicos a grupos e podem
defrontar-se com interesses de outros grupos, que não os reconhece.
Quanto mais transformações e partilhamentos sociais, mais exigên-
cias de direitos sociais.

Um direito cujo reconhecimento e cuja efetiva proteção


são adiados sine die, além de confiados à vontade de su-
jeitos cuja obrigação de executar o ‘programa’ é apenas
uma obrigação moral ou, no máximo, política, pode ainda
ser chamado corretamente de ‘direito’?
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 394

[...]
‘Direito’ é uma figura deôntica e, portanto, é um termo
da linguagem normativa, ou seja, de uma linguagem na
qual se fala de normas e sobre normas. A existência de
um direito, seja em sentido forte ou fraco, implica sem-
pre a existência de um sistema normativo, onde por ‘exis-
tência’ deve entender-se tanto o mero fato exterior de um
direito histórico ou vigente, quanto o reconhecimento de
um conjunto de normas como guia da própria ação. A fi-
gura do direito tem como correlato a figura da obrigação.
(BOBBIO, 2004, p. 72-74).

A garantia de cumprimento dos direitos sociais, pelo Estado,


supõe a superação das diferenças entre os grupos distintos. Bobbio
(2004) ainda refere suas preocupações acerca do direito nas relações
de tolerância entre os povos. Para ele, duas são as formas de intole-
rância: a de crenças e opiniões, que implica discursos sobre a verda-
de e sua compatibilidade teórica e prática, e a da diversidade por moti-
vos físicos e sociais, que revela o preconceito e a discriminação. Uma
das formas de banir a intolerância é através da criação e efetivação do
direito social de cada grupo, pelo Estado.
Diante dessas considerações é que as ideias de Bobbio per-
mearam a compreensão do fenômeno do direito e do direito à educa-
ção formal. Na educação escolar, o exercício do direito também está
segregado por grupos. Não obstante, percebe-se a necessidade que
se faz disso, frente às peculiaridades de cada idade no aprendiza-
do, mas também das formas de preconceito e intolerância. A educa-
ção de jovens e adultos se constitui como uma troca em que, os que
estão aprendendo, estão também ensinando, na medida em que de-
vem ser valorizados os conhecimentos adquiridos ao longo da vida.
Jovens e adultos analfabetos sentem-se aquém dos demais por esta-
rem em idade avançada e por não darem valor à sabedoria que carre-
gam advindas da sua vivência e também por toda intolerância que so-
frem na sociedade; tanto são excluídos, quanto se excluem da socie-
dade, por incorporação desse reflexo social, em razão de não possu-
írem escolarização.
Direitos de jovens e adultos também já estão previstos na LDB.
Hoje, busca-se na EJA um entendimento de que é necessário saber
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 395

ler e escrever textos simples, mas ainda mais, que o indivíduo adqui-
ra também seu domínio social, político e seu direito à cidadania; é a
ampliação da alfabetização para o letramento. O letramento, além de
permitir a agregação do capital intelectual, também possibilita a busca
pelo reconhecimento social.
Do ponto de vista da teoria do reconhecimento, o aspecto sub-
jetivo é fator determinante na construção da justiça social (HONNETH,
2003). Neste sentido, a teoria honnethiana apresenta as esferas do
amor, do direito e da solidariedade e seu lado oposto que tem conse-
quências negativas para os indivíduos e para a sociedade. Com isso,
pretende remeter à privação do autorrespeito, ao sentimento de injus-
tiça, à ameaça à integridade social e dignidade. A pessoa, quando pri-
vada de reconhecimento, não consegue desenvolver a autoestima e
sente-se à margem da sociedade. Ela precisa ter seus valores reco-
nhecidos para modificar a realidade e se inserir socialmente, amplian-
do sua condição cidadã.
Os analfabetos são, frequentemente, ignorados, estigmatiza-
dos e desrespeitados pela maioria da sociedade. De acordo com Hon-
neth (2003), o desrespeito atua como um freio social que conduz à pa-
ralisia do indivíduo ou grupo social. Este indivíduo precisa do reco-
nhecimento social para manter-se como cidadão ativo e, neste caso,
isso é possível através da reversão da sua condição de analfabeto. É
possível perceber que a alfabetização, a partir da condição da apro-
priação da leitura, resulta numa nova condição humana, em que é
possível se envolver e participar de práticas políticas, sociais e cultu-
rais, propiciando, assim, desenvolver uma humanização e cidadania
mais consistentes. Existir humanamente significa pronunciar o mundo
e modificá-lo, conforme afirma Freire (1987).
A educação formal é uma das formas de diminuição das desi-
gualdades e exclusão social. Através do seu acesso, o indivíduo tor-
na-se capaz de compreender seus direitos, superando as formas de
opressão, através das lutas sociais por políticas que contemplem suas
necessidades, mas que, sobretudo, visem a uma sociedade mais jus-
ta e comprometida com o bem comum. Para Arroyo (2006), entretan-
to, a história oficial da Educação de Jovens e Adultos (EJA) está dire-
tamente relacionada à história dos lugares sociais ocupados pelos po-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 396

pulares; estão à margem, tanto os sujeitos quanto as políticas oficiais,


que são pouco efetivas.
A inclusão da EJA na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) trouxe a
institucionalização da modalidade como um direito. Contudo, Arroyo
(2006) destaca a necessidade da liberdade de avanço no movimento
pedagógico, contribuindo para uma concepção de educação como di-
reito humano, construída através do respeito à diversidade de sujeitos
e vivências daqueles que a compõem.
Para tanto, a escola deve estar integrada à realidade social da-
queles sujeitos, para oferecer uma educação escolar embasada nos va-
lores humanos e sociais, ancorada na observação das mais diversas for-
mas de exclusão social. No caso de jovens e adultos desta modalidade,
a escola deve considerar a necessidade de o aluno trabalhar para contri-
buir para renda familiar ou se sustentar, o valor do conhecimento ao longo
da vida do sujeito e da sua marginalização social, frente a não aquisição
de nível de escolaridade, o que pode resultar em impactos psicossociais.
A escola deve ser vista como um espaço para adquirir conhecimento teó-
rico, mas também para reduzir impactos sociais, através de ações inclu-
sivas que promovam a ampliação da cidadania e da dignidade humana.

[...] não podemos esquecer que as experiências mais ra-


dicais de EJA nascem, alimentam-se e incentivam mo-
vimentos sociais ou sujeitos coletivos constituindo-se
como sujeitos de direitos. Nesses movimentos se des-
cobrem analfabetos, sem escolarização, sem o domí-
nio dos saberes escolares, sem diploma, porém, não só,
nem principalmente. Se descobrem excluídos da totali-
dade de direitos que são conquistas da condição huma-
na. Excluídos dos direitos humanos mais básicos, onde
se jogam as dimensões mais básicas da vida e da sobre-
vivência”. (ARROYO, 2006, p. 229).

As experiências em EJA têm utilizado essa realidade de opres-


são e exclusão, fazendo destes conteúdos sua prática de discussão,
ampliação do conhecimento científico e saberes sociais. Os saberes
e competências escolares são assim trabalhados de forma vinculada
aos processos de humanização, libertação e emancipação humana,
na busca por um processo de inclusão.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 397

Para Skliar (2006), existem duas dimensões para a inclusão:


uma chamada inclusão essencial e outra chamada de inclusão eleti-
va. A inclusão essencial é básica, deve atender a toda sociedade, sem
distinção, no que tange ao acesso e participação de todos os seus ní-
veis e serviços. Portanto, não se deve discriminar nenhum membro
da sociedade por uma condição diferenciada e pessoal no acesso,
por exemplo, à educação, saúde, emprego e lazer. Isto também ocor-
re porque Skliar acredita que todos os membros pertencem a diversos
grupos, afins por alguma característica. Entretanto, sabe-se que a ca-
racterística mais marcante ou aparente do sujeito é que ditará a qual
grupo pertence, de modo estigmatizado. É nesse sentido que o autor
constrói a ideia da inclusão eletiva; ela é a dimensão que assegura ao
indivíduo o direito de se relacionar e interagir com os grupos sociais
que lhe interessam, superando a questão do estigma.
O acesso à educação de jovens e adultos se constitui como
uma busca por inclusão. A educação deve ser baseada no respeito à
diversidade, através da promoção da aceitação, do reconhecimento e
da tolerância. Ela deve possibilitar ao discente o aprendizado da leitu-
ra, da escrita, o domínio de operações matemáticas, o acesso ao co-
nhecimento das ciências e, sobretudo deve possibilitar sua compreen-
são como ser humano cidadão e participativamente ativo na socieda-
de, através da observação dos fatos, numa postura mais crítica.

Considerações Finais

O combate ao analfabetismo, de acordo com Gadotti (2011, p.


38), deve levar em consideração as condições de vida do analfabeto,
e isto perpassa tanto por suas “condições objetivas, como o salário, o
emprego, a moradia, (quanto pelas suas) condições subjetivas, como
a história de cada grupo, suas lutas, organização, conhecimento, ha-
bilidades, enfim, sua cultura”. Uma educação voltada a jovens e adul-
tos deve, portanto, ter como objetivo tanto o rigor metodológico, mas,
sobretudo, a melhoria da qualidade de vida desses alunos, através do
letramento, que permitirá ao sujeito ampliar sua cidadania.
Arroyo (2006) acredita que na EJA se cruzam interesses me-
nos consensuais do que na educação da infância e da adolescência,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 398

sobretudo quando os jovens e adultos são trabalhadores, pobres, ne-


gros, subempregados, oprimidos, excluídos. Os lugares sociais a eles
reservados têm condicionado o lugar reservado à sua educação for-
mal no conjunto das políticas oficiais, ainda que entre os jovens e adul-
tos os índices educacionais sejam mais alarmantes do que em outras
faixas etárias. Gadotti (2011) afirma que:

Não se pode medir a qualidade da educação de adultos


pelos palmos de saber sistematizado que foram assimi-
lados pelos alunos. Ela deve ser medida pela possibili-
dade que os dominados tiveram de manifestar seu ponto
de vista e pela solidariedade que tiver criado entre eles.
(GADOTTI, 2001, p. 39).

As experiências populares de EJA têm agregado as concepções


humanísticas de educação formal; não se reduz, portanto, as questões
educativas a conteúdos mínimos, cargas horárias mínimas, níveis, eta-
pas, regimentos, exames, verificação de rendimentos. Neste sentido,

O mérito dos projetos populares de EJA tem sido adequar


os processos educativos à condição a que são condena-
dos os jovens e adultos. Não o inverso, que eles se adap-
tem às estruturas escolares feitas para a infância e ado-
lescência desocupada. (ARROYO, 2006, p. 227).

A ausência de escolarização não deveria, mas é causa de pre-


conceito. Em maioria, os analfabetos são tidos na sociedade como in-
cultos e, portanto, geralmente, ocupam posições de trabalho desquali-
ficadas. Sua cultura local e regional e seu conhecimento tácito não são
valorizados, posicionando-se à margem, por não se encontrarem em
condições de igualdade social. Como consequências disso, podem-se
ressaltar três aspectos: perda de instrumentos de poder, perdas mate-
riais e perdas simbólicas de estratificação social.
A extrema valorização da leitura e da escrita e a falta de aces-
so ao letramento escolar dificultam a conquista de uma cidadania ple-
na. A EJA é uma tentativa de reparação dessa realidade histórica, en-
tretanto, é necessário pontuar que o término do preconceito não é só
tarefa da educação escolar, isso porque esta é apenas uma das vari-
áveis dos sistemas sociais.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 399

O papel da escola democrática é, dentre outras, ampliando o


acesso ao conhecimento teórico, oferecer o aumento das condições
de igualdade e liberdade na sociedade, auxiliando nas alterações das
hierarquias sociais. Isso envolve não apenas a distribuição de rique-
zas, mas principalmente a mudança da condição de negação que o
sujeito analfabeto faz de si mesmo, ou seja, da modificação da sua es-
tima frente à sociedade, no seu convívio.
Esta modificação da realidade é uma tarefa dos governos, atra-
vés da oferta escolar, que atuam em regime de colaboração, e tam-
bém da cooperação realizada por instituições e organizações da so-
ciedade civil, ainda que se constitua como um serviço público. A edu-
cação, compromisso do governo, independente de quem a oferte, é
uma chave indispensável para o exercício da cidadania.
Arroyo (2006) ressalta que o problema de tantas transições nas
políticas públicas, com a criação de muitos projetos voltados à EJA
de pouca duração, resulta das equivocadas concepções propostas.
As propostas para a EJA pretendem convertê-la em uma modalida-
de de educação básica nas etapas de Ensino Fundamental e Médio,
enquanto que, para Arroyo, a trajetória deveria ser inversa: repensar,
portanto, o Ensino Fundamental e Médio a partir da EJA, com o intui-
to de criar uma modalidade que avance em educação e formação hu-
mana.

Referências Bibliográficas

ARROYO, Miguel. A educação de jovens e adultos em tempos de ex-


clusão. Alfabetização e Cidadania: Revista de educação de jovens e
adultos. São Paulo: n. 11, abr. 2006.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BRASIL. Lei n. 9.394 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional. 1996.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federati-
va do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1988. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 06
jun. 2013.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 400

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra,


1979.
FREIRE, Paulo. A Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1987.
GADOTTI, Moacir. Educação de Jovens e Adultos: correntes e ten-
dências. In: GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José E. (orgs.). Educação
de Jovens e Adultos: teoria, prática e proposta. São Paulo: Cor-
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HONNETH, Axel. Luta por Reconhecimento: a gramática moral
dos conflitos sociais. São Paulo: ed. 34, 2003.
MEC. Parecer CNE/CEB 11/2000. Disponível em: http://portal.mec.
gov.br/secad/arquivos/pdf/eja/legislacao/parecer_11_2000.pdf. Aces-
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SKLIAR, Carlos. A inclusão que é “nossa” e a diferença que é do “ou-
tro”. In: RODRIGUES, David (org.). Inclusão e Educação: doze olha-
res sobre a educação inclusiva. São Paulo: Summus, 2006.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 401

CAPÍTULO 29

DOCÊNCIA, PRECARIZAÇÃO E SAÚDE MENTAL NA


PANDEMIA: OUTRA FACE DO MESMO PROBLEMA

TEACHING, PRECARIOUSNESS AND MENTAL HEALTH


DURING THE PANDEMIC: ANOTHER SIDE OF THE SAME PROBLEM

Ewelem Silva de Sousa


Graduada em Psicologia pela Universidade
Federal do Amazonas
Especialista em Psicologia Hospitalar e
da Saúde pela Faculdade Única
Graduanda em Pedagogia pela Universidade
Virtual do Estado de São Paulo
Taubaté – SP
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4945-3062
ewelemsousa@gmail.com

RESUMO
A pandemia da COVID-19 exigiu mudanças em todas as atividades
sociais e econômicas, impondo o isolamento como alternativa de con-
tenção da proliferação do vírus. Nesse contexto, a profissão docente
também precisou readaptar o seu ofício, a fim de atender a demanda
compulsória. Nesta pesquisa foi realizado um estudo de revisão inte-
grativa de literatura com abordagem qualitativa, que teve como objeti-
vo indicar dados sobre a saúde mental dos docentes em anos anterio-
res e durante a pandemia, com o intuito de avaliar a hipótese de que o
adoecimento psíquico vivenciado nesse período foi resultado de uma
história caracterizada pela precarização da profissão, a qual foi agra-
vada pelas adversidades geradas pelo contexto do distanciamento so-
cial. O resultado confirmou tal premissa, uma vez que a carga mental
experienciada por esses profissionais não é algo atual, mas sim, refle-
te uma história de precarização. Além disso, ficou evidente que mulhe-
res foram as mais atingidas, e que a preocupação quanto à estabilida-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 402

de financeira também foi fator crítico para o aparecimento de sintomas


de sobrecarga emocional nos professores durante a pandemia. Os re-
sultados obtidos podem incentivar futuras discussões sobre o contex-
to laboral docente, abrangendo também o período pós-pandêmico e
os anos seguintes.
Palavras-chave: Professor-ensino remoto; Pandemia por COVID19;
Pandemia-Educação; Pandemia-saúde mental.

ABSTRACT
The COVID-19 pandemic has required changes in all social and eco-
nomic activities, imposing isolation as a measure to contain the spread
of the virus. In this context, the teaching profession has also needed
to readapt their work in order to meet compulsory demands. This re-
search conducted an integrative literature review study with a qualita-
tive approach, aiming to indicate data on the mental health of teach-
ers in previous years and during the pandemic, in order to evaluate the
hypothesis that the psychological distress experienced during this pe-
riod was the result of a history characterized by the precariousness of
the profession, which was exacerbated by the adversities generated
by the context of social distancing. The result confirmed such prem-
ise, since the mental burden experienced by these professionals is not
something new, but rather reflects a history of precarization. In addi-
tion, it became evident that women were the most affected, and that
concern about financial stability was also a critical factor for the ap-
pearance of emotional overload symptoms in teachers during the pan-
demic. The obtained results can encourage future discussions about
the teaching work context, including the post-pandemic period and the
years to come.
Keywords: Teacher-remote education; Pandemic by COVID19; Pan-
demic-Education; Pandemic-Mental Health

Introdução

A pandemia pelo Coronavírus 2019 (COVID-19) foi declarada


no Brasil em 20 de março de 2020, segundo dados do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2022). Essa condição, até então inédita, exigiu mu-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 403

danças em todos os setores da sociedade que envolviam contato físi-


co, haja vista sua elevada transmissibilidade.
Assim, as escolas foram as primeiras a encerrar os encontros
presenciais e a buscar alternativas que configurassem o menor prejuí-
zo no aprendizado dos estudantes, a exemplo das aulas remotas que,
na teoria, não pretendiam se resumir a plataformas de aulas online ape-
nas com vídeos e conteúdo para leitura. Propunha-se diversificar as ex-
periências de aprendizagem com técnicas como a criação de uma roti-
na e o envolvimento das famílias (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020).
Nesse contexto, um estudo feito por Vieira et al. (2020) eviden-
ciou que alterações de humor e sentimentos de angústia e ansieda-
de foram os sentimentos mais experimentados pelos alunos durante
a quarentena. Nesse período, o trabalho dos professores foi central e
teve papel significativo no sentido de assegurar uma boa experiência
aos discentes (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020).
Todavia a situação emocional dos docentes também deman-
dou investigações, pois, desde antes da pandemia, estes “sofrem com
baixos salários, condições inadequadas de infraestrutura e equipa-
mentos, falta de conforto e condições adequadas de trabalho” (CODO,
1999, p. 129), fatores que afetam financeira e emocionalmente essa
classe há anos.
Tal precarização da profissão do educador não é algo atual, po-
de-se dizer que vem do âmago, ou seja, da forma como foram construí-
das as condições de trabalho e formação desse profissional com o pas-
sar dos anos. Tanuri (2000) corrobora esse pressuposto quando, em
seu estudo sobre a trajetória da formação docente no Brasil, afirma:

Apesar de todas as iniciativas registradas nas duas úl-


timas décadas, o esforço ainda se configurava bastan-
te pequeno no sentido de investir de modo consistente e
efetivo na qualidade da formação docente. O mais grave
é que as falhas na política de formação se faziam acom-
panhar de ausência de ações governamentais adequa-
das pertinentes à carreira e à remuneração do profes-
sor, o que acabava por se refletir na desvalorização so-
cial da profissão docente, com consequências drásticas
para a qualidade do ensino em todos os níveis. (TANU-
RI, 2000, p. 85).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 404

Ao se deparar com um cenário totalmente novo e que tanto exi-


giu mudanças, o fazer docente passou por mais um abismo de dificul-
dades, que nada mais são que o reflexo de uma problemática muito
maior e arraigada.
Um exemplo disso foram as “dificuldades técnicas no acesso à
internet e ao uso de plataformas digitais” (COSTA et al., 2021, p. 6), já
que os aparatos tecnológicos ainda não faziam parte do dia a dia de
muitos desses profissionais em sala de aula, além do fato de, por co-
nhecerem as condições financeiras e sociais de seus alunos, se co-
brarem por situações que fugiam-lhes do controle, como a falta de
acesso dos alunos à internet, o que prejudicava significativamente a
qualidade do ensino prestado. (COSTA et al., 2021).
Este estudo tem como objetivo tecer uma síntese sobre infor-
mações acerca da saúde mental dos professores nos anos anteriores
à pandemia e durante ela, para, a partir desses dados, analisar a hi-
pótese de que a exaustão mental experienciada nesse período, ape-
nas reverbera uma história marcada pela precarização da profissão,
que se agravou com as dificuldades trazidas pelo contexto do isola-
mento social.
Espera-se assim, que o presente artigo possa contribuir para
discussões acerca da valorização do professor, bem como para a ide-
alização de medidas que articulem ações de cuidado e saúde mental
na prática docente.

Metodologia

Trata-se de um estudo de revisão integrativa de bibliografia


com abordagem qualitativa. De acordo com Creswell (2007) a organi-
zação da literatura sobre o tópico a ser pesquisado é uma das primei-
ras tarefas do pesquisador, pois ela permite o entendimento sobre o
significado do novo estudo para as pesquisas já existentes. Partindo
desse princípio, o delineamento dos artigos utilizados foi feito no portal
Capes Periódicos, usando os descritores “professores”, “saúde men-
tal”, “condições de trabalho”, “pandemia” e “isolamento social”.
Como critérios de inclusão, foram selecionados artigos de fon-
tes primárias e livros sobre o tema, produzidos entre os anos de 1999
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 405

a 2021 e em qualquer idioma. Foram excluídos artigos de fontes se-


cundárias ou que trouxessem apenas dados sobre a saúde física dos
docentes, excluindo a saúde mental.
Após a leitura, os estudos foram categorizados por autor, ano
de publicação, título, objetivos, metodologia, evidências produzidas e
aplicabilidade. Essa organização permitiu a elaboração de uma linha
do tempo desde a consolidação da profissão docente até a pandemia
de COVID-19, marcada pelo isolamento social e imposição do ensino
à distância.

Resultados e discussão

Dentre os estudos analisados, o mais antigo remonta do ano de


1999, onde Codo (1999) faz uma associação entre suporte social, ati-
tudes no trabalho, segurança, infraestrutura, gestão democrática e re-
muneração com o Burnout, que “é uma síndrome conceituada como
resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi geren-
ciado com sucesso” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2022, p.
1741).
Vale ressaltar que não é o trabalho em si que causa adoeci-
mento, e sim a forma como ele é realizado (CODO, 1999, p. 313):

[...] A carga mental é característica do trabalho fragmen-


tado, alienado, incapaz de ser portador de prazer para
quem o realiza, trabalho que parece vão, que esvanece
o trabalhador, aquele que o trabalhador dificilmente con-
segue perceber a importância ou mesmo o seu lugar [...].

Nas pesquisas de Codo (1999), a carga mental elevada como


condição relacionada ao trabalho apareceu em níveis altíssimos; reve-
lam-se relacionados a essa carga mental, fatores como a dupla jorna-
da de trabalho, o número de alunos por turma e as relações interpes-
soais no local de trabalho.
Todos esses elementos apontam para um desgaste psíquico
do profissional, uma vez que, até mesmo no ambiente domiciliar, é
exigido dele uma continuação do exercício da profissão, já que “o tra-
balho do professor não se restringe ao exercício da sua função den-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 406

tro da sala de aula, implica em atualização e preparação constantes


para que seja realizado a contento” (CODO, 1999, p. 320). Dessa for-
ma, espaços que deveriam ser usados para descanso e cuidado pes-
soal, se tornam uma extensão da organização, resultando no Burnout.
Avançando um pouco na linha do tempo pesquisada, resultados
obtidos entre 2006 e 2018 mostram que pouca coisa mudou desde os es-
tudos de Codo (1999). Em um trabalho realizado por Gasparini, Barreto,
Assunção (2006) com professores da rede municipal de Belo Horizonte,
capital do estado de Minas Gerais, a predominância de transtornos men-
tais foi observada em mais da metade dos sujeitos pesquisados (GASPA-
RINI; BARRETO; ASSUNÇÃO, 2006), cabe ressaltar que Codo (1999) in-
cluiu o estado de Minas Gerais no que chamou de “grupo de estados com
boas condições de infraestrutura”, e afirmou ainda que este possuía um
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mediano, à época.
Esse fato pode ser confirmado a partir de um dos resultados
trazidos por Gasparini, Barreto e Assunção (2006), onde o uso de
aparatos tecnológicos nas aulas foi informado, quase por unanimida-
de, pelos professores, e fatores como iluminação precária e condi-
ções ruins das paredes das salas de aula foram relativamente baixas.
Ainda assim, a infraestrutura figurou como um dos motivos de
adoecimento psíquico, juntamente com os mais variados episódios
de violência na escola e a baixa margem de autonomia (GASPARINI;
BARRETO; ASSUNÇÃO, 2006).
No ano de 2012, os resultados alcançados por Brum et al.(2012)
em um estudo que buscou analisar indicadores físicos e mentais de
qualidade de vida dos professores de uma escola localizada no esta-
do do Rio Grande do Sul, constatou que quase metade dos sujeitos
entrevistados admitia ter episódios de esquecimento, e mais da meta-
de destes relatou sonolência, o que pode estar ligado à dupla jornada
de trabalho, também relatada por Codo (1999) em seus estudos, nes-
sa ocasião, muitos desses professores

[...] se veem obrigados a complementar sua renda com


trabalhos alternativos, tais como aulas particulares, cria-
ção de artesanato e venda de produtos, entre outros,
para garantir seu sustento e de seus familiares. (BRUM
et al., 2012, p. 134).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 407

A maior parte dos sujeitos da pesquisa relatou sintomas como


nervosismo, tensão e preocupação, além do sentimento de tristeza.
Nesse contexto, o estudo de Baldaçara et al.(2015) ratifica os resulta-
dos de Brum et al. (2012), quando afirma que metade dos professores
pesquisados por esse autor apresentaram sintomas suficientes para
considerar um diagnóstico de transtorno mental com necessidade de
tratamento, mas que por desconhecimento, muitos deles não chegam
ao setor de saúde ocupacional. (BALDAÇARA et al., 2015)
Por conseguinte, nas entrevistas realizadas por Morais et al.
(2018) com professores de uma escola do Rio de Janeiro, destaca-
ram-se as falas com queixas relacionadas à sobrecarga de trabalho e
ao excesso de serviços burocráticos. Além disso,

Nas entrevistas, ganhou destaque a ideia da total pre-


cariedade das condições laborais, expressa, sobretudo,
num amplo vocabulário de sinônimos relativos à deficiên-
cia das condições de trabalho tais como “falta”, “insufici-
ência” e “mendicância”. Na perspectiva dos professores,
a precariedade das condições de trabalho interfere na re-
alização de um bom trabalho.” (MORAIS; SOUZA; SAN-
TOS, 2018, p. 225)

No Artigo 206 da Constituição Federal de 1988, está disposto


que o ensino deve ser ministrado com base, entre outros princípios, na
garantia do padrão de qualidade (BRASIL, 2016).
Porém, a precarização do trabalho do professor impede que se
cumpra o que foi determinado na lei, uma vez que fatores como a “fal-
ta de material didático; pouca atenção a estrutura material da esco-
la e ao mobiliário escolar [...] e a ausência de pausas durante a jorna-
da de trabalho” (MORAIS; SOUZA; SANTOS, 2018, p. 226) se aliam a
“uma estrutura organizacional hierárquica e autoritária, com pouco es-
paço para a colaboração e o exercício da criatividade coletiva no tra-
balho” (MORAIS; SOUZA; SANTOS, 2018, p. 228) interferindo expres-
sivamente no padrão educacional que a Constituição pretende ofere-
cer aos brasileiros.
Avançando até o período pandêmico, um estudo realizado jun-
to a um grupo de professores que passou a atuar de forma remota em
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 408

razão da pandemia, destacou “o aumento de sentimentos como medo,


raiva, frustração, insegurança, estresse, ansiedade, cansaço e insô-
nia.” (COSTA et al., 2021, p. 6)

[...] a necessidade de estabelecer uma rotina diária, de


compartilhar sentimentos, de possuir uma rede de apoio
social, de evitar o consumo excessivo de notícias que
possam ativar ansiedades e desconfortos emocionais e
de procurar desenvolver competências socioemocionais,
como a regulação emocional. (COSTA et al., 2021, p. 8).

Ademais, ansiedade e depressão também foram sintomas ob-


servados em professores no período pandêmico pelas pesquisas de
Cruz et al. (2020), que corroborou o fato trazido por Caetano et al.
(2022), de que a incidência de adoecimento psíquico em mulheres foi
mais expressivo que em homens. Cruz et al. (2020) afirma ainda, que
a preocupação referente à contaminação pelo vírus aumentou a pro-
babilidade do aparecimento de ansiedade nos docentes estudados.
Nesse contexto, Caetano et al.(2022) atestou que os dados da
sua pesquisa, realizada com professores de diversas regiões do Bra-
sil, “revelaram prevalência de adoecimento circunscrito a esse perío-
do, sendo o estresse o principal motivo de comprometimento na saú-
de mental dos professores” (CAETANO et al., 2022, p. 7), é importan-
te ressaltar que a pesquisadora considerou apenas sujeitos que não ti-
nham diagnóstico de adoecimento psíquico anterior à pandemia.
Caetano et al. (2022) constatou ainda, que o nível de bem-estar
existencial nesse período estava relacionado à renda, além da maior
incidência de estresse em mulheres, sugerindo uma dupla jornada de
trabalho que envolvia a atividade docente, a maternidade e os cuida-
dos domésticos. Outro fato a se destacar, é a relação dos maiores ní-
veis de estresse estarem relacionados com a não estabilidade empre-
gatícia de alguns professores, visto que o período de isolamento re-
sultou em demissões em massa, causada pela falta de alunos. (CAE-
TANO et al., 2022)
Portanto, como afirma Codo (1999), a escola é uma organiza-
ção que traz os professores no papel de funcionários. Dessa forma,
em meio aos fechamentos e falências compelidos pela pandemia re-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 409

cente, a baixa expectativa de retorno ao trabalho (CRUZ et al., 2020)


who answered a form via web, made up of three tools: a somou-se aos
já conhecidos problemas enfrentados pelo docente brasileiro.
Desse modo, apesar de a igualdade entre homens e mulheres
ser uma premissa da Constituição de 1988 (BRASIL, 2016), ficou evi-
dente que os docentes do sexo feminino foram os maiores acometi-
dos do adoecimento psíquico no período de isolamento, já que a so-
brecarga de trabalho somou-se às - equivocadamente consideradas -
tarefas femininas e à maternidade. Outrossim, questões de remunera-
ção figuraram como fator expressivo de sofrimento mental, expondo a
necessidade que a maioria dos professores têm em complementarem
suas rendas com atividades, muitas vezes, informais.

Considerações finais

É fato que a pandemia desvelou uma nova face do sofrimento


psíquico que ronda a docência há, pelo menos, duas décadas: a fra-
gilidade do ser humano que exerce a profissão docente frente à carga
mental que é exigida deste, não sobrando tempo e tampouco saúde fí-
sica para o cuidado de sua saúde mental.
A constante exposição, entre outras condições, a situações de
violência, à infraestrutura deficitária e a baixas remunerações deixam
claro que, quer em situações extraordinárias, quer em situações or-
dinárias, a precarização é a palavra que cerceia o fazer do educador
brasileiro.
“Ser professor hoje em dia deixou de ser compensador, pois
além dos salários nada atrativos, perdeu também o ‘status’ social [...].”
(CODO, 1999, p. 97). Essa afirmação, apesar de ter sido feita há mais
de vinte anos, não parece uma realidade tão distante da vivenciada
nos dias atuais de acordo com as conclusões deste estudo.
Contudo, é preciso considerar as limitações encontradas para
a realização deste, como a escassez de artigos de fontes primárias,
por se tratar de um tópico recente. Os resultados aqui obtidos podem
apoiar pesquisas futuras sobre o tema, abrangendo também o período
pós-pandêmico e os anos seguintes.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 410

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Acesso em: 11 maio 2023.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 412

CAPÍTULO 30

EFEITOS DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS NA


PROPAGAÇÃO DAS MICOSES SUPERFICIAIS

EFFECTS OF CLIMATIC CONDITIONS ON


THE INFLUENCE OF MYCOSES

Erick Patrick Silva e Sousa


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
patrickerick283@gmail.com

Francisco Adalberto da Rocha Filho


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
filhoadalberto421@gmail.com

Jacob Mateus Santos e Silva


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
jacobmateussantos@gmil.com

José Willyam Fontenele de Moraes


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
josewllyam3@gmail.com

Matheus Oliveira Carvalho Sousa


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
matheusocsousa@gmail.com

Messias de Carvalho Borges


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
messiascb2004@gmail.com

Walter Fabrício
Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
fabriciowalter829@gmail.com

Wellington Lopes Barroso de Araújo


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
morenowellington198@gmail.com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 413

Wilbert Alves de Oliveira


Christus Faculdade do Piauí Piripiri – Piauí
willoliveira0012@gmail.com

Guilherme Antônio Lopes de Oliveira


Christus Faculdade do Piauí, Brasil Piripiri - Piauí
guilhermelopes@live.com

RESUMO
Objetivo: Esse estudo tem como objetivo relacionar segundo a literatu-
ra a variação dos fatores climáticos na propagação de micoses super-
ficiais. Trata-se de uma revisão integrativa realizada nas bases de da-
dos: PubMed, ScienceDirect, Scientific Eletronic Library Online (Scie-
lo), utilizando palavras- chave como micoses superficiais, sazonalida-
de, tratamentos e clima. Houve delimitação de tempo de 2016 a 2023.
Na escolha foi utilizado filtros de idiomas para inglês, espanhol e por-
tuguês. Após a seleção, 10 artigos foram escolhidos com critérios que
possuíam como título a sazonalidade e as micoses superficiais. Os
resultados apontam que por se tratarem de doenças oportunistas as
micoses superficiais têm uma grande capacidade de resistência aos
principais antifúngicos presentes no mercado, atingindo principalmen-
te pacientes em estados clínicos mais graves, pediátricos e adultos.
Fatores como a autoimunidade pode agravar o estado clínico de um
paciente, tendo em vista que a baixa da imunidade pode ocasionar um
prazo maior de contaminação.
Palavras-chave: Sazonalidade; Micoses superficiais; Doenças opor-
tunistas; Resistência.

ABSTRACT
Objective: This study aims to relate, according to the literature, the
variation of climatic factors in the propagation of superficial mycoses.
This is an integrative review carried out in the databases: PubMed,
ScienceDirect, Scientific Electronic Library Online (Scielo), using key-
words such as superficial mycoses, seasonality, treatments and cli-
mate. There was a time delimitation from 2016 to 2023. Language fil-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 414

ters were used for English, Spanish and Portuguese. After the selec-
tion, 10 articles were chosen with criteria that had seasonality and su-
perficial mycoses as titles. The results indicate that, because they are
opportunistic diseases, superficial mycoses have a great resistance to
the main antifungals on the market, affecting mainly patients in more
serious clinical conditions, pediatrics and adults. Factors such as au-
toimmunity can worsen the clinical status of a patient, considering that
the decrease in immunity can lead to a longer period of contamination.
Keywords: Seasonality; Mycoses suffered; Opportunistic diseases;
Registry.

Introdução

As micoses podem ser classificadas em superficiais, cutâne-


as, subcutâneas e sistêmicas, e se diferenciam de acordo com o te-
cido ou órgão que elas afetam. As micoses superficiais são infecções
que atingem camadas superficiais da pele e seus anexos. Essas infec-
ções atingem principalmente pessoas e alguns casos animais, sendo
o agente etiológico fungos que degradam a queratina, os queratinofíli-
cos (OLIVEIRA; SOUSA; LIMA, 2016).
O Brasil é um dos países que possui altos índices de infec-
ções fúngicas, principalmente micoses superficiais, por possuir um cli-
ma tropical. Algumas espécies de fungos precisam de certas condi-
ções para seu desenvolvimento e sobrevivência no meio. Dentre mui-
tas dessas condições estão a umidade e o calor, que os fungos encon-
tram principalmente entre os dedos, na virilha, axilas, umbigo, sob as
mamas e na área genital (LUNA et al., 2020).
As dermatofitoses são infecções na pele conhecidas como mico-
ses superficiais e podem pertencer a três grupos principais: Microsporum,
Malassezia spp., Trichophyton e Epidermophyton. Existe vários fatores
que podem aumentar a ocorrência de dermatofitoses, como as condições
bioclimáticas, confinamento, contato prolongado com animais pequenos,
sejam eles domésticos, como cães e gatos, ou silvestres, podendo afetar
tanto crianças quanto adultos. Além disso, a exposição a água contami-
nada em piscinas e reservatórios também pode contribuir para o apareci-
mento e manifestação de fungos (PEREIRA et al., 2020).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 415

O diagnóstico clínico de dermatofitoses inclui a mudança de co-


loração dos tecidos da pele, erupções, escamações e coceira. Além
disso, quando apresentada no couro cabeludo os sintomas incluem
pele seca com escamas, perca de cabelo ou ambas no couro cabelu-
do. Já as formas de análises laboratoriais podem ser através da cons-
tatação visual e meio de cultura (MARTINEZ et al., 2020).
Este estudo teve como objetivo relacionar a sazonalidade do
território brasileiro e o aumento das micoses superficiais, que provo-
cam inúmeras manifestações clínicas em diversos lugares do corpo.
Destacando as principais formas de manifestações da Candidíase al-
bicans, Tinea unguium, Trichoporon spp e a Piedraia hortae, as formas
de diagnóstico, tratamentos e falhas terapêuticas.

Metodologia

O presente estudo trata-se de uma revisão científica, tendo


abordagens qualitativas, que busca agrupar e sintetizar estudos pu-
blicados, facilitando conclusões sobre uma temática específica com o
intuito de explicar fatos que se integram a conhecimentos científicos.
Realizou-se uma revisão da literatura científica para sintetizar
os resultados obtidos com o intuito de agrupar aqueles que se enqua-
dram ao tema da pesquisa sobre a sazonalidade e o aumento das mi-
coses superficiais. Para isso, foram realizadas pesquisas bibliográfi-
cas em artigos científicos localizados nas bases PubMed, Science-
Direct, Scientific Eletronic Library Online (Scielo), utilizando palavras-
-chave como micoses superficiais, sazonalidade, tratamentos e clima.
Houve delimitação de tempo de 2016 a 2023. Na escolha foi utiliza-
do filtros de idiomas para inglês, espanhol e português. Após a sele-
ção, 10 artigos foram escolhidos com critérios os artigos que possuí-
am como título a sazonalidade e as micoses superficiais. Houve a ex-
clusão dos demais que não possuíam abrangência para o presente
estudo, apresentavam-se incompletos e duplicados.

Resultados e discussões

Com resultados da busca foram encontrados 303 artigos. En-


tretanto, ao aplicar os critérios de inclusão e exclusão, esta quantida-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 416

de foi reduzida para dez artigos. Em relação ao ano de publicação, fo-


ram analisados os artigos que estivessem dentro do período de 2016
à 2023.
A onicomicose, muito conhecida como micose de unha, repre-
senta cerca de 18 a 40% de todas as onicopatias. Essa micose conhe-
cida como Tinea unguium, é uma micose que se alimenta da queratina
das unhas podendo gerar desconforto, diminuindo a função tátil, dor
local e estéticos. A infecção fúngico acomete boa parte das mulheres,
tendo em vista que a falta higienização de utensílios de manicure e o
compartilhamento desses materiais se torna um grande fator de proli-
feração desse tipo de fungo (MEZZARI et al, 2017).
O fungo denominado Candidíase albicans é oportunista e pode
ocasionar lesões superficiais e profundas, podendo abranger diversos
locais do corpo ao mesmo tempo, como pele, boca, couro cabeludo,
genitálias, dedos e unhas. Esse tipo de micose tem uma grande capa-
cidade de resistência aos principais antifúngicos presentes no merca-
do, atingindo principalmente pacientes em estados clínicos mais gra-
ves, pediátricos e adultos. Interligado a isso, fatores como a autoimu-
nidade pode agravar o estado clínico de um paciente, tendo em vista
que a baixa da imunidade pode ocasionar um prazo maior de contami-
nação (SOARES et al., 2018).
A Piedra branca é uma micose superficial que é causada pelo
fungo Trichoporon spp. que se aderem de maneira superficial aos pe-
los da cabeça, axila, região genital e barba. Além disso, esse tipo de
micose não possui forma clara de transmissão, apenas o seu agrava-
mento em certos períodos do ano. Já a Piedra preta possui semelhan-
ças a Piedra branca, porém o fungo que acomete os seres humanos é
o Piedraia hortae que se adere a exclusivamente nos pelos da cabeça.
Por conta disso, pode ser facilmente confundida com infestações de
lêndeas e caspas, o que pode ocasionar em descuidos maiores, uso
de medicação incorreta e aumento das infestações desse tipo de mi-
cose. (MEZZARI et al, 2017).
A Pitiríase Versicolor é causada pela levedura Malassezia spp.
que assim como a maioria das micoses superficiais possuem sua pro-
liferação aumentada por fatores climáticos, como umidade do ar, clima
quente e úmido. Conhecida popularmente como “pano branco” aco-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 417

mete pessoas entre 20 e 30 anos e se caracteriza pelo surgimento de


máculas hipopigmentadas ou hiporpigmentadas, com descamações
furfurácea, principalmente em áreas seborreias do corpo. Alguns diag-
nósticos feitos por meio de exames micológicos e mediante a luz de
Wood podem evidenciar alguns fatores de virulência da Malassezia
spp., como a formação de biofilmes, que auxiliam na manutenção da
forma crônica da doença (RUBEM; CLÁUDIA; AUGUSTO, 2018).
O diagnóstico de micoses superficiais pode ser feito através
de exames de raspagem da lesão e cultivo do microrganismo. Entre-
tanto, no Brasil a identificação micológica é deficitária, pois para diag-
nosticar é necessário fazer exames que demandam certa quantia fi-
nanceira que chega a ser inalcançável por grande parcela populacio-
nal que possuem baixa renda. Por isso, pessoas que vivem em esta-
do de extrema pobreza, que são os mais afetados pelas micoses, aca-
bam tendo a doença agravada pela falta de auxílio do Estado (MEZ-
ZARI et al, 2017).
Para a escolha de um tratamento adequado, leva-se em con-
sideração o tamanho da infecção, local atingido e a espécie derma-
tófitica, podendo ser o tratamento tópico ou sistêmico. O tratamento
com medicamentos tópicos antifúngico deve ser acompanhado, pois
a rotina do paciente que está diagnosticado com micose superficial
deve ser levada em consideração, tendo em vista que alguns hábitos,
como o uso de substâncias tópicas em partes íntimas e a relação se-
xual, pode ser determinante para a falha do tratamento medicamento-
so (ADITYA; MAANASA, 2021).
Para o tratamento de micoses superficiais são utilizados prin-
cipalmente os cremes que possuem cetoconazol, isoconazol, micona-
zol, bifonazol, entre outros. Para casos de onicomicoses e mais co-
mum o uso do cliclopirox olamina. O tratamento de forma sistêmica é
utilizado quando não a resposta com a terapia tópica, lesões generali-
zadas, recorrentes ou crônicas. O tratamento de forma oral sistêmica
é feito principalmente com terbinafina, derivados azólicos como fluco-
nazol e cetoconazol e griseofulvina (PIRES et al., 2014).
As falhas terapêuticas de dermatofitoses estão associadas
principalmente por interrupção do tratamento, devido efeitos adversos
dos medicamentos e problemas de resistência dermatófitica. Por isso,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 418

os cuidados farmacêuticos, uma das áreas onde o farmacêutico atua,


é responsável por prover uma terapia farmacológica com o objetivo de
obter resultados efetivo na resposta terapêutica prescrita, entregando
melhor qualidade de vida a pessoa, além de melhorar os tratamentos
com medicamentos, junto com a detecção dos problemas relaciona-
dos a medicamentos (LANA et al., 2016).
A resistência as drogas antifúngicas podem gerar um grande
problema no tratamento das doenças. A abordagem tópica para o tra-
tamento de micoses superficiais é de grande importância, pois ajuda a
reduzir a exposição a antifúngicos sistêmicos, como fluconazol e itra-
conazol, que podem afetar negativamente a microbiota intestinal- um
importante reservatório de leveduras. Essa estratégia pode ajudar a
prevenir a seleção de cepas resistentes de Candida, tornando-se uma
opção viável em programas de manejo antifúngico eficazes (TUMIET-
TO; GIACOMELL, 2017).

Conclusão

Conclui-se que fatores, como alta pluviosidade, umidade, al-


tas temperaturas, falta de instrução, escassez de higiene adequada,
instrução medicamentosa e falhas no sistema de saneamento bási-
co são fatores que contribuem para que o Brasil se torne um local tão
propício para esse tipo de doença que acomete mais de 3,8 milhões
de pessoas.
Somada a isso, a resistência a drogas antifúngicas estão se
tornando cada dia mais comum, tendo em vista que o uso incorreto de
antifúngicas tem se dado de maneira incorreta pela sociedade, pois,
muitas vezes, quando notório uma possível melhora no quadro clíni-
co do paciente, o indivíduo deixa de seguir as recomendações médi-
cas e faz descarta do tratamento. Esse tipo de caso tem aumentado
muito a resistência dos fungos, fazendo o que novas cepas e muta-
ções ocorram.
Alicerçado a isso, a falta de instrução e acompanhamento do
profissional de saúde no momento do tratamento, torna essa proble-
mática cada dia mais grave, tendo em vista que as falhas terapêuticas
de dermatofitoses estão associadas principalmente por interrupção do
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 419

tratamento. Por conta disso, os profissionais de saúde devem estar


sempre atentos no momento da prescrição, da orientação, da dispen-
sação medicamentosa e no acompanhamento do tratamento.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 421

CAPÍTULO 31

EXCESSO DE BARULHO NAS IGREJAS EVANGÉLICAS:


UM DEBATE ENTRE O DIREITO AO SOSSEGO
E A LIBERDADE RELIGIOSA

EXCESSIVE NOISE IN EVANGELICAL CHURCHES:


A DEBATE BETWEEN THE RIGHT TO PEACE
AND RELIGIOUS FREEDOM

Aluísio Francisco Oliveira de Sousa


Aluno do curso de Bacharelado em Direito da
Christus Faculdade do Piauí – CHRISFAPI
Faculdade Chrisfapi Piripiri-PIAUÍ
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1476-3282
e-mail: aluisiosousa34@gmail.com

Lucélia Keila Bitencourt Gomes


Professora do curso de Bacharelado em Direito da Christus
Faculdade do Piauí – CHRISFAPI
Faculdade Chrisfapi Piripiri-PIAUÍ
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5528-9858
E-mail: luceliakeila@gmail.com

João de Deus Carvalho Filho


Professor de Metodologia Científica em cursos da Christus
Faculdade do Piauí – CHRISFAPI
Faculdade Chrisfapi Piripiri-PIAUÍ
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4812-8452
E-mail: comunicacaochrisfapi@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho trata do direito ao sossego no contexto do exces-
so de barulho reproduzido pelas igrejas evangélicas. O estudo se inicia
na análise da fundamentação jurídica dos direitos conflitantes ora ana-
lisados. No cenário atual, é de suma relevância observar o exagero so-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 422

noro promovido pelas igrejas evangélicas proporcionando a perturba-


ção do sossego alheio que afrontam o direito ao sossego. Diante disso,
surge o questionamento: “Quais as consequências jurídicas do excesso
de barulho nas igrejas evangélicas, levando em consideração o direito
ao sossego?”. Para solucionar a problemática, foi utilizado o método bi-
bliográfico de caráter descritivo, com o objetivo de entender o respaldo
jurídico do direito ao sossego e o direito à liberdade de religião. Assim,
cumpra-se dizer que o tema é de grande relevância para a ciência jurí-
dica. Como resultados, constatou-se a predominância de um dos direi-
tos em face do outro quando caracterizada a perturbação do sossego.
Palavras-chave: Direito ao sossego; Perturbação do sossego; Liber-
dade religiosa; Liberdade de expressão.

ABSTRACT
This work deals with the right to tranquility in the context of excessive
noise produced by evangelical churches. The study begins with an anal-
ysis of the legal foundation of the conflicting rights under consideration.
In the current scenario, it is of utmost relevance to observe the excessive
noise promoted by evangelical churches, which disturbs the tranquility of
others and infringes on the right to tranquility. In light of this, the question
arises: “What are the legal consequences of excessive noise in evangel-
ical churches, taking into account the right to tranquility?” To solve this
problem, a descriptive bibliographic method was used to understand the
legal basis for the right to tranquility and the right to freedom of religion.
Therefore, it should be noted that the topic is of great relevance to legal
science. As a result, it was found that one right predominates over the
other when disturbance of tranquility is characterized.
Keywords: right to tranquility; disturbance of tranquility; religious free-
dom; freedom of expression.

1. INTRODUÇÃO

Na obra literária “O Cortiço”, o autor faz a seguinte narração:

E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umi-


dade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 423

a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que


parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e
multiplicar-se como larvas no esterco. (AZEVEDO, 2010)

Embora o autor faça o uso de expressões pejorativas, fica cla-


ro sua mensagem, o cortiço estava crescendo.
Análogo a citação, após séculos de um Brasil resguardado
constitucionalmente como um país católico, no ano de 1890 o Decre-
to 119-A promulgou a laicidade do Estado em virtude do aumento de-
mográfico da população e consequente diversidade religiosa presente
no país. Desse modo, a população brasileira tornou-se livre para ado-
tar sua própria religião com base nas suas crenças e princípios, res-
guardando-se a liberdade religiosa, protegida atualmente por meio da
Constituição Federal de 1988 e legislação específica.
Inegavelmente, o avanço da construção de templos evangéli-
cos no Brasil é perceptível devido os adventos apresentados acima,
contudo, o excesso a expressão dessa liberdade é alarmante, em ra-
zão da falta de sintonia ao direito de sossego, dando princípio a uma
nova divergência jurídica e social. Posto isto, a presente pesquisa é
delimitada como: “Excesso de barulho nas igrejas evangélicas: Um
debate entre o direito ao sossego e a liberdade religiosa”.
Sendo assim, questiona-se: “quais as consequências jurídicas
do excesso de barulho nas igrejas evangélicas, levando-se em con-
sideração o direito ao sossego?”. Logo, como objetivos, pretende-se
analisar as possíveis responsabilizações da perturbação do sossego
alheio promovido pelas igrejas evangélicas, bem como, examinar a
poluição sonora no contexto da liberdade de religião.
Diante dessa problemática e dos objetivos apresentados, será
abordado como hipótese a possibilidade de aplicação de indenização
em face dos templos religiosos que promovam a perturbação do sos-
sego alheio ao extrapolar os limites de expressão da sua religiosidade,
além disso, em caráter defensivo, é possível que os fiéis adotantes da
religião evangélica apresentem contestações às reclamações de per-
turbação do sossego alegando intolerância religiosa.
A presente pesquisa é de suma relevância para a ciência jurídi-
ca, haja vista que são analisados, a priori, o respaldo jurídico do direi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 424

to ao sossego e a liberdade de expressão religiosa, para em seguida


entender quando há de fato a perturbação do sossego a fim de iden-
tificá-lo para acionar sua defesa sem caracterizar violação a liberda-
de religiosa.

2. METODOLOGIA

Para Barcellos (2012), a metodologia científica é fundamental


para que o direito acompanhe as mudanças sociais e se adeque às
novas realidades, evitando assim a rigidez e a ineficácia das normas.
Segundo a autora, essa metodologia propõe uma leitura dinâmica do
direito, não mais vinculada a uma única realidade social, mas aberta a
outras possibilidades, e capaz de responder de forma mais efetiva às
demandas sociais.
Com o propósito de alcançar os objetivos da presente pesqui-
sa e solucionar a problemática de suma relevância para a ciência ju-
rídica, utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica de cará-
ter descritivo.
A leitura de livros e artigos digitais foi de suma relevância, pos-
sibilitando a melhor compreensão dos institutos em análise para que
ao fim seja concedido o melhor estudo a ciência jurídica e social. Além
disso, a análise do debate sobre o tema na doutrina e no judiciário por
meio de projetos de lei e jurisprudência auxiliaram a alcançar os obje-
tivos almejados.

3. FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA DO DIREITO AO SOSSEGO

Conviver com inúmeras pessoas em nosso cotidiano proporcio-


na que ruídos, barulhos e algazarras sejam ocorrências comuns im-
possíveis de passarem despercebidas. Sendo assim, o único momen-
to de calmaria dos brasileiros é ao chegar em casa após um dia cor-
rido encontrando sossego domiciliar. Ocorre que, esse sossego pode
ser facilmente perturbado e muitos não sabem da existência do direito
de estar sossegado, mesmo que durante as atribuições corriqueiras.
Juridicamente, segundo ALTO (2012), o direito ao sossego con-
siste em ter o direito ao silêncio, de estar em paz e sossegado, de es-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 425

tar em repouso, ou seja, a paz pode ser definida tanto em seu aspecto
físico, que está relacionado à calma, à ausência de ansiedade e agita-
ção, ao descanso do corpo, além do aspecto psicológico relacionado
à tranquilidade e paz de espírito.
Quanto a natureza jurídica, CUPIS (2008) entende que o direi-
to ao sossego está englobado no direito da personalidade, logo, pos-
suindo amparo legal do princípio constitucional da dignidade da pes-
soa humana, visto que este ramo do direito tem como objetivo tutelar
a cerne da personalidade, a integridade psicofísico e moral da pessoa,
além de decorrer da dignidade humana, sendo atributos necessário à
sua realização.
Corroborando com os entendimentos acima, MIRABETE (2014)
complementa que o direito hora em análise também é um direito fun-
damental, intimamente ligado à dignidade da pessoa humana, por-
que é essencial para a preservação da saúde física e mental dos se-
res humanos, devidamente fundamento e previsto no Art. 5°, inciso X
da Carta Magna. No dispositivo constitucional supracitado, são invio-
láveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decor-
rente de sua violação (BRASIL, 1988).
Além disso, ainda no ramo do direito constitucional, de acordo
com Cunha (2015); o direito ao sossego é um dos institutos do direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, previsto no Art. 225 da Cons-
tituição de 1988. Dessa forma, Filho (2019) complementa que o excesso
de barulhos caracteriza uma poluição sonora, proporcionando consequ-
ências a qualidade de vida das pessoas ao poluir o meio ambiente.
Por ter sido respaldado pelo constituinte de forma indireta, o di-
reito ao sossego foi positivado em normas infraconstitucionais. A Lei
n° 3.699/41 (1941) em seu Art. 42 pune com prisão de 15 dias a 3 me-
ses, ou multa a perturbação de sossego ou trabalho alheio. Por outro
lado, o Código Civil (2002), em seu Art. 1277 pressupõe que o proprie-
tário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as in-
terferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o
habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.
Ademais, conforme os entendimentos de Prado (2015) os mu-
nicípios são componentes para redigir leis municipais que protegem o
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 426

sossego de eventuais perturbações dentro de seu perímetro urbano e


o combinação de todas essas normas faz surgir a denominada “Lei do
Silêncio”, a qual regulamenta e estabelece limites ao ruído urbano e
a emissão de poluição sonora, com o propósito de tutelar a qualidade
de vida dos cidadãos.

3.1 A POLUIÇÃO SONORA NO CONTEXTO DA PERTURBAÇÃO


DO SOSSEGO ALHEIO PROMOVIDA PELOS TEMPLOS EVANGÉ-
LICOS

É notório que o direito ao sossego entra em conflito diretamen-


te com outras garantias individuais que também merecem a devida tu-
tela do Estado, como é o caso da liberdade religiosa. Exemplifican-
do, podemos citar a Marcha para Jesus, grande manifestação dos fi-
éis para festejar sua religiosidade, contando com grandes shows. Os
templos religiosos também não são tímidos ao investir em instrumen-
tos musicais, ferramentas de áudio e transmissão, além de abordar as
pessoas no espaço público para divulgar sua religião.
Em outras palavras, a perturbação do sossego é caracterizada
pela poluição sonora, mas ambos não se confundem. Conforme en-
tende Ribeiro (2018), a perturbação do sossego é um exemplo de po-
luição sonora, podendo causar danos físicos e mentais nas pessoas
além de afetar o meio ambiente, além disso, Milane (2019) destaca a
possibilidade de prejuízos econômicos e sociais, visto que o excesso
de barulho e a algazarra podem afetar a produção e eficácia do em-
pregado durante sua atividade empregatícia.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição
sonora é um problema de saúde pública, sendo que o limite de ruído
recomendado para ambientes externos é de 70 decibéis durante o dia
e 55 decibéis durante a noite. Níveis que extrapolam esses limites po-
dem causar danos à audição, perturbar o sono, aumentar a ansieda-
de e estresse, além de afetar a comunicação e o desempenho cogni-
tivo das pessoas (OMS, 2011).
Nesse sentido, caso aprovado, o Projeto de Lei n° 5.100 de
2019, irá determinar em seu Art. 2° os seguintes limites:
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 427

Art. 2° A propagação sonora, no ambiente externo, resul-


tante das atividades realizadas em templos de qualquer
crença não poderá ultrapassar, durante o dia, os limites
de 85 dB (oitenta e cinco decibéis) na zona industrial, de
80 dB (oitenta decibéis) na zona comercial e de 75 dB
(setenta e cinco decibéis) na zona residencial e, durante
a noite, de 10 dB (dez decibéis) a menos em cada uma
das respectivas áreas. (BRASIL, 2019).

Para fins de melhor compreensão, Grocott (2006), explica que


é difícil dizer com exatidão quantos decibéis podem ser emitidos den-
tro de um templo religioso, haja vista que será necessário analisar seu
espaço interno, porém, um conjunto musical de média potência em
uma igreja de tamanho médio pode atingir o nível de 80 decibéis. As
pesquisas de Martins e Falcão (2018), nos apresentam outro exemplo,
como o som dos órgãos de tubo que variam entre 65 a 95 decibéis de-
pendendo de seu tamanho.
Além dos barulhos produzidos dentro dos templos religiosos, o
direito ao sossego já é violado de forma natural no cotidiano, como por
exemplo, no metrô, meio de transporte muito utilizado pelos brasileiros.
Embora seja difícil apurar os decibéis dentro de um metro em movimen-
to, em virtude de fatores como quantidades de pessoas e acústica, Zan-
nin (2015) apurou que nas estações ferroviárias os sons podem chegar
a 105 decibéis. Desse modo, caso alguém cante hinos evangélicos alto
o suficiente para ser ouvida em uma estação, a perturbação do sossego
é evidente e os danos a saúde física e mental dos passageiros é notório.
Ante o exposto, verifica-se que a identificação do excesso de
barulho é muito difícil de ser constatado. Para tanto, Maffei (2001) faci-
lita essa identificação com base em três métodos, o primeiro é o subje-
tivo, onde é observado o comportamento das pessoas perante ruídos,
o segundo é o objetivo, quando se utilizada equipamentos específicos
para medir a pressão sonora e por último, o método combinado, quan-
do utiliza-se os dois métodos juntos.

3.2 A LIBERDADE RELIGIOSA ENQUANTO DIREITO FUNDAMENTAL

Martin Lutero foi o pioneiro da religião evangélica ao ser o prin-


cipal nome da Reforma Protestante que ocorreu em meados no sécu-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 428

lo XVI, ao publicar 95 teses rompendo com a igreja católica e questio-


nando sua autoridade dando princípio a uma nova religião com novos
preceitos e dogmas, resultando na criação de vários templos religio-
sos com base na sua ideologia (GONZÁLEZ. 2010).
No ano de 2019, o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatísti-
ca (IBGE), constatou que o cristianismo é a religião com maior predo-
minação no Brasil, seguida pelo espiritismo e as de matriz africana,
sendo a religião evangélica a segunda maior vertente do cristianismo,
possuindo cerca de 42,3 bilhões de adeptos. Mundialmente, segundo
os números apurados pelo Relatório de Tendências Globais em Reli-
gião 2020 do Pew Research Center, a religião mais numerosa no mun-
do é o cristianismo, contando com 2,4 bilhões de fiéis. Após a análi-
se gráfica, fica claro a necessidade de garantir a liberdade religiosa.
A liberdade de religião é um direito fundamental que todo cida-
dão tem para poder expressar livremente sua crença religiosa, difundi-
-la e praticá-la sem que haja eventuais retaliações por parte do Esta-
do ou terceiros, mas claro, devendo-se observar os limites legais, vis-
to que devem ser respeitados a ordem pública e os direitos fundamen-
tais do próximo (LENZA, 2019, p. 989).
A religião evangélica, embora possua convicções e princí-
pios morais divergentes das demais religiões, segundo a Drummond
(2019), toda e qualquer religião é protegida pelos mesmos tratados in-
ternacionais sem distinção de credo, quando o país é signatário de al-
gum tratado, uma vez que a distinção de religião para fins de tutela ju-
rídica podem configurar intolerância religiosa, o que não é permitido
na maioria dos países do globo, além disso, nenhum tratado assegu-
ra de forma específica determinada religião sem observar as demais.
Dessa forma, vale elencar a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, em seu artigo 18, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos, também em seu artigo 18, além da Convenção Americana dos
Direitos Humanos, por meio do seu artigo 12, como principais ferramen-
tas internacionais que tutelam o direito ora estudado garantindo prote-
ção a todas as crenças no território nacional (PIOVESAN, p. 307, 2014).
No campo nacional, o Art. 5°, inciso VI da Constituição Fede-
ral, preconiza a inviolabilidade de consciência e crença, sendo asse-
gurado ainda o direito dos cultos religiosos, bem como os seus locais
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 429

de realização e liturgias, porém, devendo observar os limites legais, a


fim de que sejam resguardados também a ordem social e o direito de
terceiros (BRASIL, 1988).
Nesse sentido, os cultos podem ser entendidos como reuni-
ões protegidos pelo direito de reunião previsto no Art. 5°, inciso XVI da
Constituição Federal, quando observado os requisitos de pacificidade
e mero aviso prévio, não autorização, a autoridade competente pelo
espaço público ou privado, afim apenas de evitar que seja frustrada
outra reunião (MORAES, 2021).
Constitucionalmente, a liberdade de expressão é um dos princi-
pais direitos já conquistados pelos cidadãos, principalmente após gran-
des eventos obscuros na história do Brasil, em que não se podia de-
monstrar suas opiniões. Com isso, a Constituição Federal não é omis-
sa ao declarar ser livre a manifestação do pensamento por meio do Art.
5°, inciso IV, vedando o animado, determinando ainda em seu Art. 220,
a impossibilidade de restrição à esse direito, nos termos da lei
Assim como o direito ao sossego, leis específicas que obser-
varam os artigos anteriores supracitados como parâmetro de consti-
tucionalidade, tutelam a liberdade de religião. Exemplificando, a Lei
9. 459/97 que criminaliza a prática de discriminação em razão da reli-
gião, como também a Lei 12.288/2010 que promove políticas públicas
de valorização e proteção à diversidade religiosa, além do Decreto n°
5.380 de 2005, este visando ao respeito da liberdade religiosa em todo
o território nacional, combatendo a intolerância religiosa.

3.3 A LIBERDADE RELIGIOSA VERSUS O EXCESSO DE BARULHO

A eficácia e a aplicabilidade das normas é um assunto de suma


relevância quando o objetivo principal do estudo é analisar a possibili-
dade de uma norma sofrer restrições. Diante disso, Lenza (2021) esta-
belece as normas que tutelam a liberdade de religião como de eficácia
plena e aplicabilidade imediata, ou seja, o Estado não pode criar obs-
táculos para restringir os direitos amparados por normas dessa natu-
reza, exceto em casos muito excepcionais.
Segundo Melo (2019), embora a liberdade de religião seja um
direito fundamental, não é absoluto, podendo ser limitado quando con-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 430

frontar outras garantias individuais, como o direito ao sossego. Nesse


sentido, urge a necessidade de identificar o excesso de barulho como
já apresentado na presente pesquisa, devido às consequências que
se pode proporcionar na vida particular das pessoas.
O Art. 42 da Lei de Contravenções Penais prevê como contra-
venção penal a perturbação do trabalho ou do sossego alheios, que
pode ocorrer por meio de ruídos excessivos. Ainda no ramo do direito
penal, o excesso de barulho pode configurar crime ambiental, confor-
me previsto na Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), por meio
de seu Art.54 que estipula como crime causar poluição de qualquer
natureza que resulte ou possa resultar em danos à saúde humana.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) também pode ser
invocada na temática em estudo, posto que, em seu Art. 189, é de res-
ponsabilidade da empresa assegurar o ambiente de trabalho segu-
ro para assegurar a saúde do empregado, podendo configurar insalu-
bridade. Ocorre que, templos religiosos muitas vezes são vizinhas de
empresas, e caso havendo o excesso de barulho, pode contatar os ór-
gãos responsável pela segurança do trabalho ou fazer denúncia com
base na vasta legislação apresentada.
Ademais, ao morar do lado de uma igreja evangélica que reproduz
sons excessivos, estamos adentrado no campo do direito de vizinhança.
Segundo Júnior (2019), o direito de vizinhança é um conjunto de normas
que visa a regular a relação entre proprietários de imóveis e pessoas que
habitam ou transitaram em torno desses imóveis, como por exemplo o
Art. 1277 do Código Civil que protege pessoas de eventuais barulhos ex-
cessivos que podem ser emitidos por um templo religioso vizinho ao seu.
Em consonância com o Art. 1277 do Código Civil, o Art. 187 do
mesmo diploma legal, determina que, embora esteja praticando um
ato legal, seus limites não podem ser extrapolados, devendo obser-
var a boa-fé, fim econômico e os costumes. O Art. 186 do Código Ci-
vil determina que os atos de ação ou omissos praticados de forma im-
prudente, negligente ou com imperícia são considerados atos ilícitos
quando causadores de dano, mesmo que de forma moral.
Segundo, Carlos Roberto Gonçalves, ato abusivo é:

Abusivos são os atos que, embora o causador do incô-


modo se mantenha nos limites de sua propriedade, mes-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 431

mo assim vem a prejudicar o vizinho, muitas vezes sob a


forma de barulho excessivo. Consideram-se abusivos não
só os atos praticados com o propósito deliberado de pre-
judicar o vizinho, senão também aqueles em que o titular
exerce o seu direito de modo irregular, em desacordo com
a sua finalidade social. (GONÇALVES, 2019, p. 425)

Obviamente muito litígios dessa natureza já foram apresenta-


dos ao poder judiciário, dentre as decisões, destaca-se a sentença
do Juizado Especial Civil e Criminal do Paranoá (2021), determinan-
do o pagamento de multa por danos morais e a abstenção de promo-
ver o excesso de barulho que extrapole o previsto na Lei Distrital de n°
4.092/2008, sob pena de R$ 500,00 (quinhentos reais) por ocorrência.
A condenação foi fundamentada no Princípio da Concordância Práti-
ca e Harmonização, em virtude dos direitos fundamentais conflitantes,
alinhado a Lei Distrital 4.092/2008, caracterizando imprudência de uti-
lização do som, causando irritabilidade, reações de pânicos, estresse
e falta de concentração, sendo que o templo religioso é de pequeno
porte, dispensando- se o áudio em excesso.
O Princípio da Concordância Prática ou Harmonização é des-
crito pelo jurista brasileiro Nader (2015) como orientação para que, ha-
vendo conflito aparente entre duas ou mais normas, procure-se conci-
liá-las, evitando a contradição, para que todas possam ter aplicação.
O método hermenêutico utilizado pelo juiz do caso concreto em análi-
se é louvável, visto que ponderou os dois direitos conflitantes e se uti-
lizou de uma fonte secundária para fundamentação do mérito de sua
decisão, a Lei Distrital 4.092/2008.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude dos fatos mencionados, o presente trabalho se deu


em analisar os direitos fundamentais do sossego e liberdade religio-
sa, ambos resguardados constitucionalmente e com forte relação ao
princípio da dignidade da pessoa humana, além de identificar de fato
como o excesso de barulho varia de região para região, porém levan-
do em consideração os limites de poluição sonora suportáveis à audi-
ção humana, segundo a ONU, como parâmetro de controle.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 432

A utilização da doutrina e jurisprudência foi de suma relevân-


cia para elucidar as denominações necessárias, proporcionando à ci-
ência jurídica uma resposta mais definitiva a problemática em ques-
tão, onde foi possível perceber a ocorrência de uma hipótese em de-
trimento da outra.
O direito ao sossego de fato possui uma predominância em
face da liberdade religiosa, embora ambos sejam fundamentais e de
natureza constitucional. Invocar o direito de estar sossegado em face
dos templos evangélicos, não significa intolerância ou perseguição re-
ligiosa, e sim uma tentativa de resguardar a saúde e o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, a fim de melhorar a qualidade de vida dos
vizinhos destes templos e dos próprios fiéis que muitas vezes deixam
de frequentar sua fé nesses espaços em razão do barulho incômodo.
Posto isto, é de suma relevância que as autoridades competen-
tes resguardem os direitos em análise para que não haja conflitos gra-
ves, podendo resultar até mesmo em crimes mais graves, utilizando-
-se de ferramentas hermenêuticas para interpretar a lei da melhor for-
ma sem violar algum direito em relação ao outro, resguardando a dig-
nidade humana, que é princípio imperioso da Constituição Federal.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 436

CAPÍTULO 32

EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA: A EXPERIÊNCIA


DO SEMINÁRIO INTEGRADO DE INCLUSÃO

EXTENSION AND CONTINUING EDUCATION: THE EXPERIENCE


OF THE INTEGRATED SEMINAR ON INCLUSION

Ana Isabel Reis Nascimento


Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Jequié, Bahia, Brasil,
ORCID https://orcid.org/0000-0002-7483-7992
e-mail airnascimento@uesb.edu.br

Valdirene Santos Rocha Sousa


Instituto Federal da Bahia
Jequié, Bahia, Brasil
ORCID https://orcid.org/0000-0002-1235-811X
e-mail valdirene.ifba@gmail.com

Emile Assis Miranda Oliveira


Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Jequié, Bahia, Brasil
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4862-1781
e-mail emile.assis@uesb.edu.br

RESUMO
A atividade extensionista Seminário Integrado de Inclusão se consti-
tuiu em evento anual e interinstitucional, realizado na cidade de Jequi-
é-Bahia. Em suas três edições mobilizou profissionais de diversas ins-
tituições que atuam nos vários níveis de ensino. Tendo o currículo e
a inclusão como temas centrais discutiu os desafios da inclusão em
todos os contextos, inclusive da pandemia do Covid-19. Foram reali-
zadas conferências, mesas redondas, minicursos e oficinas, além de
momentos de apresentação cultural, relatos de experiências e ava-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 437

liação coletiva do evento, que promoveram maior integração entre os


grupos que se colocam no desafio de pensar e praticar ações de in-
clusão no âmbito do ensino, pesquisa e extensão. Os resultados de-
monstraram a importância das atividades de extensão no processo de
formação continuada de educadores, como também para a mobiliza-
ção social em torno da temática e da articulação das instituições em
prol dos interesses comuns no que tange a inclusão socioeducacional.
Palavras-chave: Extensão; Formação Continuada; Inclusão; Defici-
ências.

ABSTRACT
The extensionist activity Integrated Seminar on Inclusion was an an-
nual and inter-institutional event, held in the city of Jequié-Bahia. In
its three editions, it mobilized professionals from different institutions
that work at different levels of education. Having curriculum and in-
clusion as central themes, it discussed the challenges of inclusion in
all contexts, including the Covid-19 pandemic. Conferences, round ta-
bles, short courses and workshops were held, as well as moments of
cultural presentation, experience reports and collective evaluation of
the event, which promoted greater integration between the groups that
face the challenge of thinking and practicing inclusion actions in the
field of education, research and extension. The results demonstrated
the importance of extension activities in the process of continuing edu-
cation of educators, as well as for social mobilization around the theme
and the articulation of institutions in favor of common interests regard-
ing socio-educational inclusion.
Keywords: Extension; Continuing Education; Inclusion; Disability.

Introdução

O papel das universidades brasileiras perante a sociedade está


fundamentado no artigo 207 da Constituição Federal (BRASIL, 1988),
que trata do princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão. A articulação entre os elementos desta tríade está regula-
mentada no Artigo 43 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
nal (Lei nº 9.394/1996), que estabelece como missão das instituições
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 438

de ensino superior, público e privado, o dever de “estimular a criação


cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento re-
flexivo” (BRASIL, 1996).
A extensão, enquanto um dos tripés que sustentam o ensino
universitário, constitui uma atividade acadêmica que tem como ob-
jetivo levar o conhecimento produzido nas universidades para a co-
munidade em geral, por meio de projetos, programas e cursos que
abranjam temas relevantes para a sociedade. A importância das ativi-
dades extensionistas é evidente em vários aspectos pois, ela permite
que a universidade cumpra seu papel social, contribuindo para a for-
mação de cidadãos críticos e conscientes, além de aproximar a aca-
demia da realidade social e cultural em que se encontra inserida (RO-
CHA, 2001).
A extensão universitária também é uma forma de promover a
inclusão social, pois muitas vezes é direcionada a comunidades em si-
tuação de vulnerabilidade social e econômica. Nesse sentido, ela con-
tribui para a formação de uma sociedade mais justa e democrática, em
que todos tenham acesso aos benefícios do conhecimento e da edu-
cação. Além disso, atividades extensionistas também são importantes
para a formação dos estudantes universitários, pois permite que eles
apliquem o conhecimento teórico adquirido em sala de aula em situa-
ções reais e promovem a aproximação com a comunidade (BUFFA &
CANALES, 2007; MELO NETO, 2001; 2002).
Dessa forma, complementam a formação acadêmica dos estu-
dantes, preparando-os para enfrentar os desafios do mercado de tra-
balho e da vida em sociedade. Também, se constitui enquanto possi-
bilidade de formação continuada para educadores em todos os níveis
de ensino e fomenta a discussão de pautas urgentes, a exemplo da
inclusão, sendo fundamental para o fortalecimento da relação entre a
universidade e a sociedade, promovendo o desenvolvimento humano,
social e econômico de forma integrada (SARAIVA, 2007; SÍVERES,
2013; SANTANA et al., 2021).
Nessa perspectiva, e atendendo às demandas sociais, foi que
se propôs a realização do projeto de extensão “Seminário Integrado
de Inclusão”. Para tanto, formou-se um grupo de trabalho interinstitu-
cional que envolveu profissionais que atuam no âmbito da educação
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 439

municipal, estadual e federal e privada, nos níveis do ensino básica e


superior. Três edições do evento já foram realizadas, sendo sediado
na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), campus Je-
quié. Os seminários se caracterizaram, sobretudo, pela articulação e
integração entre diversas instituições de ensino, e pela diversidade
do público-alvo que envolveu profissionais da educação, saúde, fami-
liares e pessoas com deficiência. As temáticas abordadas também fo-
ram amplas, tendo o currículo e a inclusão como temas centrais, dis-
cutiu os desafios da inclusão em todos os contextos, como no cenário
da pandemia do Covid-19.
Metodologicamente, o Seminário partiu dos princípios exten-
sionistas buscando envolver a comunidade nas discussões, planeja-
mento, organização e execução do evento. Assim, buscou-se promo-
ver uma programação que possibilitasse a integração entre as dife-
rentes instituições que compuseram a equipe executora do projeto, no
sentido de fomentar o desafio de pensar e, sobretudo, praticar ações
de inclusão no âmbito do ensino, pesquisa e extensão, além de envol-
ver pessoas com deficiência na programação. Ademais, foram reali-
zadas conferências, mesas redondas, minicursos e oficinas, além de
momentos de apresentação cultural, relatos de experiências e avalia-
ção coletiva do evento.
O Seminário Integrado de Inclusão (SIIN), teve como objetivo
central promover espaços de discussão sobre as práticas curriculares
e pedagógicas no contexto da educação inclusiva. Nessa perspectiva,
foram desenvolvidas ações, tais como: discutir estratégias curriculares
que favoreçam a aprendizagem de todos os alunos; congregar diver-
sas instituições de ensino com atuação na área da educação inclusi-
va no município de Jequié-Bahia; realizar oficinas de intervenção com
foco em estudantes com deficiência visual, auditiva, intelectual, trans-
torno do espectro do autismo, transtorno do deficit de atenção/hipera-
tividade, transtornos da aprendizagem (dislexia, discalculia, disgrafia)
dentre outros. Associado ao SIIN, também foi realizado o Encontro de
Professores da Rede Comum de Ensino e do Atendimento Educacio-
nal Especializado, com programação integrada.
Os resultados demonstraram a importância das atividades de
extensão no processo de ensino-aprendizagem de universitários, na
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 440

formação continuada de educadores, como também para a mobiliza-


ção social em torno da temática e da articulação interinstitucional em
prol dos interesses comuns no que tange à inclusão socioeducacional.
Além disso, nota-se o crescente apelo social pelo tema visto o cres-
cente número de inscritos ao longo das três edições que englobou
mais de setecentos participantes inscritos. Nesse contexto, este ma-
nuscrito se carateriza enquanto um artigo descritivo, do tipo relato de
experiência e discorre sobre a atividade extensionista “Seminário In-
tegrado de Inclusão”. O texto está organizado em três partes, além da
introdução, a saber: metodologia adotada ao longo do processo, prin-
cipais resultados e discussão, a partir da prática, e, por fim, as consi-
derações finais.

Metodologia

O desenvolvimento das atividades propostas se embasou nos


princípios da metodologia extensionista. Assim, elaborou-se um con-
junto de estratégias e técnicas voltadas para promover a troca de ex-
periências e o intercâmbio de conhecimentos e tecnologias produzi-
dos pelas universidades e instituições de ensino, entre si e para a so-
ciedade em geral. Outrossim, buscou-se estabelecer uma relação de
diálogo e interação entre os pesquisadores e as comunidades envol-
vidas, visando não apenas a transmissão de informações, mas tam-
bém a criação de vínculos de confiança e cooperação. Através da me-
todologia extensionista, os conhecimentos acadêmicos são colocados
a serviço das necessidades e demandas sociais, contribuindo para
o desenvolvimento social e educacional, a melhoria da qualidade de
vida das pessoas e o fortalecimento da cidadania (THIOLLENT 2018;
NUNES ET AL. 2021). Assim, os seminários foram realizados anual-
mente sendo o I SIIN no ano de 2018, o II SIIN em 2019 e o III SIIN,
no ano de 2021.
O público alvo foi constituído por professores da educação bá-
sica, graduandos dos cursos de licenciatura da UESB, da pós-gradu-
ação, professores e alunos das diversas instituições do ensino supe-
rior em Jequié, além de ser aberto a familiares de pessoas com defici-
ência e comunidade em geral. O evento foi organizado através de fer-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 441

ramentas diversificadas como palestras, conferências oficinas peda-


gógicas, minicursos, relatos de experiência e apresentação cultural.
A avaliação da atividade extensionista foi realizada pelo público parti-
cipante através de questionário estruturado aplicado ao final de cada
edição do evento. A equipe executora foi compotsa por coordenação,
membros da equipe e monitores universitários. Realizou-se reunião in-
terna, a cada edição, para avaliação da atividade e dos resultados al-
cançados (Figura 1).

Figura 1: Metodologia da atividade extensionista: Seminário Integra-


do de Inclusão

Fonte: Elaboração das autoras, 2023.

Diversas instituições parceiras participaram nas três edições


do evento, seja enquanto equipe organizadora ou através da media-
ção nas atividades propostas, a saber: Centro de Apoio Pedagógico
vinculado à Secretaria Estadual de Educação da Bahia, o Núcleo de
Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas do Instituto Federal
da Bahia (IFBA), campus Jequié, o Núcleo de Ações Inclusivas para
Pessoas com Deficiências da UESB, campus Jequié, a Assessoria de
Acesso, Permanência e Ações afirmativas da UESB, o Núcleo de Edu-
cação Especial da Secretaria Municipal de Educação, Associação Je-
quieense de Cegos, Clínica Escola INTELECTUS.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 442

Resultados e Discussão

I e II Seminário Integrado de Inclusão: o currículo em debate

A primeira e a segunda edição do evento levou a pauta do cur-


rículo para o debate. Nessa perspectiva, o I SIIN abordou o tema “Prá-
ticas curriculares no contexto da educação inclusiva” e teve como ob-
jetivo discutir o currículo no que tange à sua capacidade de aplicação
a todos os alunos. A discussão foi mediada por conferencistas, espe-
cialistas na abordagem da temática proposta, suscitando indagações
e reflexões que levaram os participantes a propor e discutir aplicações
metodológicas acessíveis. As oficinas e minicursos também possibili-
taram aos participantes refletir sobre metodologias inclusivas voltadas
para grupos com diferentes deficiências: visual, auditiva, intelectual,
transtorno do espectro autismo, transtorno do déficit de atenção e hi-
peratividade e transtornos da aprendizagem.
O II SIIN, por sua vez, abordou a temática “Currículo e diversida-
de: os desafios da inclusão na prática pedagógica” e debateu as ques-
tões curriculares numa perspectiva inclusiva, entendendo o currículo
para além do conjunto de conteúdos estruturados, extrapolando para to-
dos os elementos do ambiente escolar que conduzam à quebra das bar-
reiras atitudinais e à inclusão e permanência de alunos com deficiência.
No contexto social, o processo de inclusão envolve uma série de fato-
res e uma complexidade que perpassa por questões históricas, político-
-econômicas, psicológicas e filosóficas, concebendo o ser humano na
sua formação integral e plena. Por conta disso, a necessidade de dis-
cussões pedagógicas que esclareçam os impedimentos e barreiras que
emperram o processo para uma sociedade inclusiva são essenciais.
Documentos legais apontam uma série de barreiras atitudinais
em relação à pessoa com deficiência. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI)
esclarece:“ barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que im-
peçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiên-
cia em igualdade de condições e oportunidades com as demais pes-
soas” (BRASIL, 2015, art. 3º). No sentido de contemplar a complexi-
dade que envolve o tema, a programação das duas primeiras edições
do evento foi extensa e diversificada (Quadro 1).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 443

Quadro 1: Principais atividades do I e II SIIN


I Seminário Integrado de Inclusão
Atividade Título
Conferência A escola favorecendo a aprendizagem de todos os alunos
Mesa Redonda Práticas Curriculares no contexto da educação inclusiva
a) Currículo e inclusão escolar: diálogos com o professor da educação bá-
sica
Palestras
b) Acessibilidade curricular no ensino superior
c) (Re)pensando a prática avaliativa: individualidades e subjetividade
1: Integrando o aluno com surdez na escola regular
2: Deficiência intelectual e aprendizagem
Oficinas e 3: Autismo e TDAH: dinâmica da sala de aula e intervenções pedagógicas
minicursos 4: Deficiência visual: aprendendo com os sentidos
5: Transtornos da aprendizagem (dislexia, discalculia, disgrafia): desafios e
possibilidades pedagógicas
I Seminário Integrado de Inclusão
Atividade Título
Conferência Currículo e diversidade: os desafios da inclusão na prática pedagógica
Mesa Redonda Currículo e Diversidade: os desafios da inclusão na prática pedagógica
Intervenção psicopedagógica para alunos com deficiência intelectual
Palestras
Inclusão nas ciências exatas e tecnológicas
1: Surdez e acessibilidade
2: Deficiência intelectual e aprendizagem
3: Autismo e TDAH: dinâmica da sala de aula e intervenções pedagógicas
4: Deficiência visual: aprendendo com os sentidos
Oficinas e
5: Transtornos da aprendizagem (dislexia, discalculia, disgrafia): desafios e
minicursos
possibilidades pedagógicas
6: Um olhar sobre a diferença: deficiência, gênero e raça
7: Adaptação de materiais: ensinando para todos
8: Psicomotricidade
Fonte: Folder dos eventos 2018 e 2019. Elaborado pelas autoras, 2023.

Entende-se que, na educação institucionalizada, o currículo é


um componente de destaque a partir do qual se registram conheci-
mentos, procedimentos e princípios relevantes na formação do indiví-
duo (YOUNG, 2014). O II SIIN se propôs a discutir o currículo da edu-
cação básica no que tange à sua capacidade de aplicação a todos
os alunos. O evento reuniu professores da rede municipal, estadual,
federal, privada, profissionais que atuam no Atendimento Educacio-
nal Especializado, nas Organizações não Governamentais e respon-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 444

sáveis por pessoas com deficiência. Objetivou-se realizar uma discus-


são coletiva que direcionasse para uma melhor aplicação do “currículo
universal” e proporcionar a troca de experiências entre as instituições
e profissionais participantes. Compreende-se ainda que

“a educação constitui direito da pessoa com deficiência,


assegurado sistema educacional inclusivo em todos os
níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a
alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus ta-
lentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e so-
ciais, segundo suas características, interesses e neces-
sidades de aprendizagem”. Para tanto é preciso: projeto
pedagógico que institucionalize o atendimento educacio-
nal especializado; garantir o seu pleno acesso ao currí-
culo em condições de igualdade, promovendo a conquis-
ta e o exercício de sua autonomia; adoção de práticas
pedagógicas inclusivas; sistema educacional inclusivo;
acesso à educação superior e à educação profissional e
tecnológica em igualdade de oportunidades e condições
com as demais pessoas; inclusão em conteúdos curricu-
lares (Cap. IV, art. 27 e 28, Lei Brasileira de Inclusão).

Assim, como os outros sujeitos sociais, a pessoa com defici-


ência também tem direito de participar do processo educacional den-
tro dessa escola pública, gratuita e de qualidade. Cabe à escola cum-
prir seu papel social de formadora do cidadão pensante, crítico e par-
ticipativo. A Constituição Federal do Brasil per ipsum dá garantias de
que nenhuma pessoa em razão de sua raça, origem, cor, sexo, idade
ou deficiência deva ser privada do acesso aos níveis mais elevados
do ensino, da pesquisa e da criação artística (BRASIL, 1988). Em um
cenário de mudanças sociais, na luta pela garantia do direito à educa-
ção, a escola recebe uma demanda cada vez mais diversificada, que
exige novas formas de organização pedagógica e administrativa. Isto
implica em novas concepções de ensinar e aprender e da composição
de um novo currículo onde o aluno seja protagonista no seu modo de
aprender tendo seu estilo, tempo e ritmo de aprendizagem respeitados
(AINSCOW & SANDILL, 2010).
O paradigma da Inclusão Escolar surge no cenário contempo-
râneo como uma outra opção de inserção escolar e vem questionar a
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 445

organização e as políticas da educação especial, assim como o con-


ceito de integração. O novo conceito de inserção escolar fundamen-
ta-se no pressuposto de que a escola comum deve estar aberta e ca-
pacitada para atender eficientemente todos aqueles que a procuram,
a despeito das características ou diferenças individuais que cada pes-
soa possa ter. Na educação institucionalizada, o currículo é o compo-
nente de maior destaque para inserção social, onde se registra conhe-
cimentos, procedimentos e princípios que acredita-se serem relevan-
tes na formação de uma pessoa (GOMES, 2007).
No meio acadêmico as discussões mais atuais se concentram
em torno da grande defasagem dos currículos em relação aos avan-
ços tecnológicos e científicos. Se demanda um novo tipo de organiza-
ção dos conhecimentos escolares, que deem conta da realidade atu-
al e do acesso a tecnologias de apoio apropriadas (AAATE, 2019). Se-
gundo Paro (2011, p. 488),

“o enriquecimento do currículo acontece com a inserção


de atividades que transformem a escola num lugar de-
sejável para o aluno. É preciso então, pensar alternati-
vas de transformar o currículo tanto no conteúdo quan-
to na forma”.

A LBI dispõe sobre o atendimento educacional das pessoas com


deficiência, no que concerne ao direito à educação, inferindo que o pro-
jeto pedagógico, assim como as demais atividades em âmbito educa-
cional, tais como o uso dos espaços e materiais, devem atender às ne-
cessidades de todos os alunos e não serem elaborados separadamen-
te para as pessoas com deficiência. O processo de inclusão não limita
o desenvolvimento de habilidades, mas respeita o tempo e a forma pe-
culiar de cada indíviduo. No artigo 28, inciso V da LBI está claro que a
adoção de medidas individuais e coletivas que proporcionem o desen-
volvimento acadêmico e a socialização dos alunos com deficiência deve
facilitar sua integração e seu aprendizado, evidenciando que as práti-
cas pedagógicas precisam ser incorporadas e preferidas pela instituição
que possuir alunos com deficiência (BRASIL, 2015, art. 28, XII).
Também devem ser ofertadas tecnologias assistivas que am-
pliem as habilidades dos estudantes nas escolas (art. 18, XII) ou auxi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 446

liem nos processos seletivos e de permanência nos cursos da rede pú-


blica e privada de ensino (art. 30, IV). Aceitar e aplicar o modelo da in-
clusão escolar implica mostrar transformações radicais em nossas con-
cepções sobre o que vem a ser: deficiência, adaptação, incapacida-
de; sujeito cognoscente, o papel da escola no atendimento às neces-
sidades educacionais específicas das pessoas com deficiência; e prin-
cipalmente, o papel da escola na promoção do desenvolvimento global
do aluno, tendo em vista a formação do cidadão crítico e competente,
capacitado para uma participação social ativa, democrática e solidária,
quer seja ele deficiente ou não (CARRINGTON & ELKINS, 2002).
Nesse sentido, como instituição social, podemos dizer que a
escola desempenha importante papel no processo de inclusão social
do indivíduo com deficiência, como preparadora e formadora, não se
esquecendo dos objetivos acadêmicos, respeitando-se as especifici-
dades e necessidades de cada aluno. Assim, a atividade extensionista
SIIN discutiu o currículo como um lugar comum a todo e qualquer es-
tudante, subsidiado pelo vínculo entre a educação de alunos neurotí-
picos e neuroatípicos, sem necessitar de podas e adaptações que em-
pobreçam e limitem a equidade ao alcance do conhecimento.

O III Seminário Integrado de Inclusão

No contexto da pandemia do Covid-19 o III SIIN promoveu dis-


cussões pedagógicas acerca das barreiras atitudinais no ensino on-li-
ne, discussão necessária e oportuna. Assim, a proposta de um webi-
nar visando debater questões curriculares em tempos de pandemia e
de ensino remoto, numa perspectiva inclusiva, se constituiu em uma
ferramenta importante aos docentes e familiares, auxiliando-os à que-
bra das barreiras desfavoráveis à inclusão e permanência de alunos
com deficiência no ensino remoto.
À medida que a sociedade se aperfeiçoa, surgem novos co-
nhecimentos e diferentes ferramentas no auxílio do processo ensino-
-aprendizado. A utilização de recurso digitais se faz presente nas es-
colas brasileiras, há algum tempo, enquanto ferramenta complemen-
tar às atividades pedagógicas. Libâneo (2007), nos lembra que todos
os envolvidos no processo de ensino-aprendizado não podem igno-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 447

rar a presença das tecnologias. A pandemia do Covid-19 revelou uma


face oculta do ensino brasileiro quanto a acessibilidade às tecnolo-
gias, especialmente no âmbito da educação pública. Com o fecha-
mento das escolas, durante a pandemia, este recurso complementar
ocupou posição de destaque e passou a ser essencial para a manu-
tenção do ensino.
Desse modo, respostas emergenciais foram elaboradas pelo
poder público, por organizações intergovernamentais e pela rede de
ensino privada. Por parte das empresas, houve uma aceleração na
oferta de soluções digitais, visto o crescimento significativo do merca-
do de tecnologias educacionais. Na ponta, estudantes e educadores
empreenderam enormes esforços para adapatar-se a uma nova mo-
dalidade de ensino e suas ferramentas (CORRÊA et al, 2021).
Anterior à pandemia, em 2011, foi apresentada a “Declaração
Conjunta sobre Liberdade de Expressão e Internet”, uma ação promovi-
da entre a Organização das Nações Unidas, Organização para a Segu-
rança e a Cooperação na Europa, Organização dos Estados America-
nos e Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos. Com esta
Declaração fica estabelecido acesso à internet como necessário para o
exercício pleno da livre expressão, acesso a saúde, trabalho, reunião
e associação, eleições livres e, também, direito à educação (KURTZ &
NUNES, 2021). Ainda assim, entende-se que o acesso à internet apre-
senta um caráter social que reflete as diferenças econômicas entre as
diferentes classes sociais e os diferentes grupos populacionais.
Dados do Censo Escolar (INEP, 2019), anterior à pandemia, já
mostravam as disparidades quanto ao acesso a tecnologias nas re-
des de ensino por indicar que menos da metade das escolas brasi-
leiras (45,6%) possuiam computador de mesa em uso pelos estudan-
tes e que estes tinham baixo acesso à internet disponibilizada pela es-
cola (31,1%), ficando na dependência apenas de conexão particular.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios
(PNAD) especial da COVID-19 (BRASIL, 2019) foi identificado que o
acesso a atividades escolares nas regiões Norte e Nordeste do Brasil
foi muito menor do que aquele observado em outras regiões do país.
Também foi observado que o nível de participação em atividades es-
colares remotas durante a pandemia aumentam com a renda fami-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 448

liar para crianças brancas que residem em áreas urbanas com maior
acesso à internet, que seus pares. As desigualdades na aprendizagem
e no acesso a tecnologias eram evidentes antes da pandemia, após
sua instalação e a tomada de medidas de isolamento social as diferen-
ças se acentuaram no contexto educacional. O que dizer então em re-
lação às pessoas com deficiência diante desse contexto?
Durante o III SIIN essa discussão veio à tona, foram muitas as
inquietaçoes trazidas por docentes e familiares quanto ao ensino on-
-line da pessoa com deficiência, visto a necessidade de tecnologicos
assistivas na mediação da aprendizagem. O número de alunos com
deficiência, transtornos globais no desenvolvimento e/ou altas habili-
dades, superdotação, em classes comuns incluídos ou na educação
especial, teve um aumento de 33,2% em 2018 quando comparado ao
censo de 2014, cerca de 1,4 milhão de alunos, dado que não se al-
tera no censo de 2021, durante a pandemia do Covid-19 (BRASIL,
2022). Porém, esses valores distam daqueles utilizados na emprega-
bilidade de ferramentas educacionais para promoção da acessibilida-
de e que atendam às necessidades individuais dos alunos com defici-
ência. Ainda que os professores queiram incorporar tecnologias à prá-
tica docente, grande parte da rede pública de ensino ainda enfrenta li-
mitações relacionadas à infraestrutura. Segundo o Centro de Inova-
ção pela Educação Brasileira, entre as principais dificuldades relata-
das por professores e gestores no uso de tecnologias, as mais signi-
ficativas são equipamentos defasados por falta de manutenção ou de
atualização e baixa conectividade (ALMEIDA & VALENTE, 2019).
Assim, o III SIIN contribuiu à discussão de possíveis alterna-
tivas pedagógicas ao atendimento dos alunos com deficiência que
possuem acesso restrito à internet refletindo na descontinuidade dos
momentos educacionais em modo remoto. Ademais, a dificuldade de
acesso ao conhecimento e aquisição de ferramentas tecnológicas, fa-
cilitadoras ao engajamento e êxito do ensino-aprendizado em modo
on-line e que atenda as especificidades inerentes à deficiência, se
constitui em um entrave neste formato de ensino. Políticas públicas
eficazes, contínuas e de alcance nacional são necessárias à supera-
ção das limitações quanto ao uso de tecnologias educacionais digitais
seja no ensino presencial ou remoto.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 449

Considerações finais

A Universidade, enquanto locus natural de discussões e deba-


tes, aberta à comunidade e formadora de conhecimentos e profissio-
nais que atuarão nas diversas áreas do saber, precisa, cada vez mais,
se colocar na tarefa, premente, de fomentar diálogos pautados em
questões paradigmáticas envolvendo uma educação para todos, que
seja acessível e transformadora.
Nessa perspectiva, os Seminários Integrados de Inclusão de-
bateram questões curriculares numa perspectiva inclusiva por enten-
der o currículo para além do conjunto de conteúdos estruturados, ex-
trapolando para todos os elementos do ambiente escolar que con-
duzam à quebra das barreiras atitudinais, favorecendo a inclusão e
a permanência de alunos com deficiência. Além disso, se constituiu
como um importante espaço de formação para profissionais, sobretu-
do os que atuam na educação, e possibilitou à familiares de pessoas
com deficiência trocar experiências e debater questões estruturantes
do processo de inclusão escolar, expondo angústias, desafios e pen-
sando coletivamente acerca das medidas mitigadoras para modifica-
ção do sistema excludente, historicamente instaurado no país.
A avaliação positiva dos participantes dos Seminários refletem a
necessidade da ampliação do debate sobre a inclusão em todos os ní-
veis de ensino. É urgente a construção de espaços educativos que ga-
rantam a todos os indivíduos acesso aos mesmos direitos e oportunida-
des. A escola precisa ser um ambiente livre de práticas de exclusão que
levam à discriminação, preconceito, estigma e marginalização, podendo
resultar em consequências negativas para a saúde mental e física das
pessoas. Por outro lado, a escola precisa promover a diversidade, a to-
lerância e o respeito às diferenças, fundamentais para uma sociedade
mais justa e equitativa. Portanto, é essencial que a inclusão seja uma te-
mática constante em todos os ambientes educativos e sociais, vislum-
brando a participação plena das pessoas com deficiência nos ambien-
tes sociais e educativos sem sofrer restrições.
A Universidade, através das atividades de extensão e de ou-
tras práticas educativo-científicas, contribui nesse processo de refle-
xão sobre paradigmas consolidados e que não se adequam mais às
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 450

realidades vigentes. Reitera-se, que os espaços públicos e privados


devem ser ocupados com discussões produtivas, pertinentes e capa-
zes de acolher às mais variadas temáticas, especialmente àquelas
que englobam as minorias desprovidas de acesso e espaço. A educa-
ção integral e para todos constitui direito da pessoa com deficiência.
Deve ser assegurado um sistema educacional inclusivo em todos os
níveis de aprendizado ao longo da vida, visando alcançar o máximo
desenvolvimento possível de suas habilidades físicas, sensoriais, in-
telectuais e sociais, de acordo com suas características, interesses e
necessidades de aprendizagem.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 453

CAPÍTULO 33

FONOAUDIOLOGIA E A ATUAÇÃO ESCOLAR

Luís Augusto Antunes


Acad. em: Bacharelado em Fonoaudiologia,
Bacharelado em Química e Licenciatura
em Ciências Biológicas
UNIFATECIE
Altos - Piauí
augustoantunes.pi@gmail.com

RESUMO
O artigo científico em questão aborda a importância da atuação fonoau-
diológica no ambiente escolar, destacando a relevância da intervenção
precoce para o desenvolvimento da linguagem e da comunicação das
crianças. Através de uma revisão bibliográfica, são abordados os prin-
cipais desafios enfrentados pela fonoaudiologia na escola, tais como a
falta de recursos e o baixo conhecimento dos professores sobre a área.
Além disso, são apresentadas estratégias e ferramentas utilizadas pe-
los fonoaudiólogos para auxiliar no processo de aprendizagem, como
a orientação aos educadores e a realização de atividades específicas
para cada caso. Conclui-se que a atuação da fonoaudiologia na esco-
la é fundamental para garantir o desenvolvimento pleno das habilidades
comunicativas das crianças e para o sucesso escolar.
Palavras-chave: Fonoaudiologia escolar; Atuação; Avaliação; Saúde
escolar.

ABSTRACT
The scientific article in question addresses the importance of speech
therapy in the school environment, highlighting the relevance of ear-
ly intervention for the development of language and communication in
children. Through a bibliographic review, the main challenges faced by
speech therapy at school are addressed, such as the lack of resources
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 454

and the low knowledge of teachers about the area. In addition, strate-
gies and tools used by speech therapists to assist in the learning pro-
cess are presented, such as guidance to educators and the perfor-
mance of specific activities for each case. It is concluded that the per-
formance of speech therapy at school is essential to ensure the full de-
velopment of children’s communicative skills and for school success.
Keywords: school speech therapy; acting; assessment; school health.

Introdução

A Fonoaudiologia é uma ciência que se dedica ao estudo e tra-


tamento dos distúrbios da comunicação humana, abrangendo áreas
como a linguagem, a fala, a voz e a audição. A atuação da Fonoaudio-
logia no ambiente escolar tem se mostrado cada vez mais importante,
uma vez que a comunicação é uma das principais ferramentas utiliza-
das pelos alunos para a aprendizagem e interação social. Nesse senti-
do, este artigo científico tem como objetivo discutir a relevância da atu-
ação fonoaudiológica na escola, destacando os desafios enfrentados
pelos profissionais e as estratégias utilizadas para o desenvolvimen-
to da linguagem e da comunicação das crianças. Serão apresentados
estudos e pesquisas que comprovam a eficácia da intervenção preco-
ce da Fonoaudiologia no ambiente escolar, bem como as possibilida-
des de atuação desses profissionais no contexto educacional. Dessa
forma, espera-se contribuir para a compreensão da importância da Fo-
noaudiologia na escola e para a promoção de um ambiente educacio-
nal mais inclusivo e acessível a todos os alunos.

Atuação da Fonoaudiologia em diversas áreas

A Fonoaudiologia é uma área da saúde que se dedica ao estu-


do, prevenção, avaliação e tratamento dos distúrbios da comunicação
humana, tanto na oralidade quanto na escrita. O profissional de Fono-
audiologia é responsável por atuar em diversas áreas, como a saúde
pública, hospitais, clínicas particulares, empresas e em escolas.
A atuação do Fonoaudiólogo na área escolar é fundamental,
pois é nesse ambiente que se inicia o processo de aquisição da lin-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 455

guagem e, consequentemente, da comunicação. Dessa forma, é im-


portante identificar e tratar precocemente qualquer distúrbio que pos-
sa comprometer o desempenho acadêmico e social dos estudantes.
A atuação do Fonoaudiólogo na escola pode ser dividida em
três grandes áreas:

1. Prevenção: o Fonoaudiólogo pode atuar na prevenção de dis-


túrbios de comunicação, realizando atividades que promovam
o desenvolvimento da linguagem e da comunicação desde a
educação infantil. Por exemplo, é possível realizar atividades
lúdicas que estimulem a fala e a audição, além de orientar os
professores e pais sobre a importância da linguagem na forma-
ção das crianças.
2. Identificação e avaliação: o Fonoaudiólogo pode realizar ava-
liações para identificar possíveis distúrbios de comunicação em
estudantes. Essa avaliação pode ser realizada por meio de tes-
tes específicos e observação do comportamento da criança em
sala de aula. A partir dessa avaliação, o profissional pode orien-
tar a escola e os pais sobre as medidas necessárias para tratar
o problema identificado.
3. Intervenção: o Fonoaudiólogo pode atuar diretamente no trata-
mento de distúrbios de comunicação em estudantes. Por exem-
plo, o profissional pode realizar sessões individuais ou em gru-
po com os estudantes para trabalhar questões relacionadas à
fala, à linguagem e à audição. O Fonoaudiólogo também pode
orientar os professores e pais sobre estratégias para melhorar
a comunicação dos estudantes.

Em síntese geral, a atuação do Fonoaudiólogo na área escolar


é fundamental para garantir o desenvolvimento adequado da comuni-
cação dos estudantes, prevenir possíveis problemas e garantir que os
alunos tenham o máximo aproveitamento da sua vida escolar.
O profissional de Fonoaudiologia escolar é um especialista em
comunicação humana que atua nas escolas com o objetivo de preve-
nir, identificar e tratar os distúrbios de comunicação dos estudantes, e
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 456

assim temo o papel do fonoaudiólogo escolar. Esse profissional pode


atuar tanto na rede pública quanto na privada, em escolas de educa-
ção infantil, fundamental e médio.
As principais atividades do Fonoaudiólogo escolar incluem:

1. Realizar triagens e avaliações para identificar possíveis distúr-


bios de comunicação nos estudantes, por meio de testes espe-
cíficos e observação do comportamento em sala de aula.
2. Elaborar planos de intervenção individualizados para cada es-
tudante, com o objetivo de trabalhar as dificuldades de comuni-
cação identificadas durante a avaliação.
3. Orientar os professores sobre estratégias que possam ser uti-
lizadas em sala de aula para melhorar a comunicação dos es-
tudantes, bem como o ambiente escolar para garantir a inclu-
são e acessibilidade.
4. Promover a conscientização da comunidade escolar sobre a
importância da comunicação na vida acadêmica e social dos
estudantes, bem como sobre os distúrbios que podem compro-
meter esse desenvolvimento.
5. Atuar em parceria com outros profissionais da área de saúde
e educação, como psicólogos e pedagogos, para garantir uma
abordagem multidisciplinar na identificação e tratamento dos
distúrbios de comunicação.

Este profissional é essencial para garantir que os estudantes


desenvolvam habilidades de comunicação adequadas e possam ter
um melhor desempenho acadêmico e social. Além disso, esse profis-
sional pode contribuir para a promoção de um ambiente escolar mais
inclusivo e acessível, que valorize a diversidade e as diferenças indi-
viduais.
O Fonoaudiólogo escolar deve atuar de forma integrada com a
equipe pedagógica da escola, buscando identificar e tratar os distúr-
bios de comunicação dos estudantes e promover o desenvolvimento
das habilidades de comunicação de forma ampla. Algumas ações que
podem ser realizadas por esse profissional nas escolas são:
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 457

1. Avaliação dos estudantes: o Fonoaudiólogo escolar deve reali-


zar avaliações dos estudantes para identificar possíveis distúr-
bios de comunicação. Essa avaliação pode incluir testes espe-
cíficos, observação do comportamento do estudante em sala
de aula e entrevista com os pais e professores.
2. Elaboração de planos de intervenção: a partir da avaliação dos
estudantes, o Fonoaudiólogo escolar deve elaborar um plano
de intervenção individualizado para cada um dos estudantes
que apresentam distúrbios de comunicação. Esse plano deve
ser compartilhado com os professores e demais profissionais
envolvidos no atendimento ao estudante.
3. Tratamento dos distúrbios de comunicação: o Fonoaudiólo-
go escolar deve oferecer tratamento específico para os estu-
dantes que apresentam distúrbios de comunicação. Esse trata-
mento pode incluir terapia individual ou em grupo, atividades lú-
dicas e orientação para os pais e professores.
4. Orientação aos professores: o Fonoaudiólogo escolar deve
orientar os professores sobre estratégias que possam ser uti-
lizadas em sala de aula para melhorar a comunicação dos es-
tudantes. Essas estratégias podem incluir atividades que esti-
mulem a fala e a audição, adaptações curriculares e estraté-
gias para lidar com os estudantes que apresentam dificuldades
de comunicação.
5. Promoção de ações preventivas: o Fonoaudiólogo escolar tam-
bém pode atuar na promoção de ações preventivas, por meio
de atividades que estimulem o desenvolvimento da linguagem
e da comunicação dos estudantes desde a educação infantil,
bem como orientação para os pais e professores sobre a im-
portância da linguagem na formação das crianças.

Assim, o Fonoaudiólogo escolar deve atuar de forma integrada


com a equipe pedagógica da escola, buscando identificar e tratar os
distúrbios de comunicação dos estudantes, bem como promover o de-
senvolvimento das habilidades de comunicação de forma ampla.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 458

A importância do fonoaudiólogo nas equipes multidisciplinares

O Fonoaudiólogo escolar é um importante membro da equipe


multidisciplinar que atua nas escolas, juntamente com outros profis-
sionais da saúde e da educação, como psicólogos, pedagogos, assis-
tentes sociais, entre outros. Essa abordagem multidisciplinar é funda-
mental para garantir um atendimento mais completo e integrado aos
estudantes, considerando suas necessidades individuais e promoven-
do um ambiente escolar mais inclusivo.
O trabalho em equipe permite que os profissionais da esco-
la possam compartilhar informações e conhecimentos sobre os estu-
dantes, buscando uma compreensão mais ampla de suas dificulda-
des e necessidades. Além disso, a atuação em conjunto permite uma
abordagem mais efetiva e integrada dos problemas de comunicação
dos estudantes, levando em conta as diferentes dimensões envolvi-
das, como as questões emocionais, pedagógicas e clínicas.
Nesse contexto, o profissional pode contribuir com sua exper-
tise no diagnóstico e tratamento dos distúrbios de comunicação, bem
como na orientação aos demais profissionais sobre estratégias espe-
cíficas para lidar com as dificuldades de comunicação dos estudantes
em sala de aula. Por exemplo, o Fonoaudiólogo pode orientar o psicó-
logo sobre estratégias de intervenção para lidar com estudantes que
apresentam ansiedade ou dificuldades emocionais relacionadas à sua
condição de distúrbio de comunicação.
A atuação do Fonoaudiólogo escolar como membro da equipe
multidisciplinar pode resultar em benefícios significativos para os es-
tudantes, como uma abordagem mais integrada e completa das suas
necessidades, uma melhor compreensão e atendimento das suas difi-
culdades de comunicação, e uma promoção de um ambiente escolar
mais inclusivo e acolhedor. Por isso, é fundamental que trabalhe em
parceria com os demais profissionais da equipe multidisciplinar, bus-
cando uma abordagem integrada e interdisciplinar no atendimento aos
estudantes.
A equipe multidisciplinar é uma equipe formada por profissio-
nais de diversas áreas, que atuam em conjunto para promover um
atendimento mais completo e integrado aos estudantes. Nas escolas,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 459

a equipe multidisciplinar pode incluir diferentes profissionais da saúde


e da educação, como:

1. Fonoaudiólogo: responsável pelo diagnóstico e tratamento dos


distúrbios de comunicação e linguagem dos estudantes.
2. Psicólogo: responsável por auxiliar no desenvolvimento emo-
cional e comportamental dos estudantes, identificando e tratan-
do questões como ansiedade, estresse, depressão e outras di-
ficuldades emocionais.
3. Pedagogo: responsável por desenvolver atividades pedagógi-
cas que atendam às necessidades específicas de cada estu-
dante, promovendo a inclusão e a equidade.
4. Assistente social: responsável por auxiliar os estudantes em
questões relacionadas a direitos sociais, como saúde, moradia,
alimentação e educação, além de prevenir e combater a violên-
cia e a discriminação.
5. Terapeuta ocupacional: responsável por desenvolver ativida-
des que promovam a independência e autonomia dos estudan-
tes, especialmente aqueles com deficiências ou limitações mo-
toras.
6. Nutricionista: responsável por auxiliar na promoção de hábitos
alimentares saudáveis e na prevenção de problemas de saúde
relacionados à alimentação.
7. Médico: responsável por avaliar e tratar problemas de saúde
dos estudantes, além de orientar a equipe multidisciplinar so-
bre questões relacionadas à saúde.
8. Enfermeiro: responsável por auxiliar no tratamento e cuidado
dos estudantes em relação à sua saúde, bem como orientar a
equipe multidisciplinar sobre questões relacionadas à saúde.

Esses profissionais atuam em conjunto, compartilhando infor-


mações e conhecimentos, a fim de promover um atendimento mais
completo e integrado aos estudantes. A equipe multidisciplinar busca
uma abordagem interdisciplinar, ou seja, uma forma de trabalho que
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 460

envolve a integração e a colaboração entre as diferentes áreas de co-


nhecimento, visando um atendimento mais completo e adequado às
necessidades dos estudantes.
A atuação da equipe multidisciplinar nas escolas é fundamen-
tal para garantir um ambiente escolar mais acolhedor, inclusivo e que
atenda às necessidades individuais de cada estudante. Essa equipe
busca a promoção do desenvolvimento integral dos estudantes, le-
vando em conta suas habilidades, limitações e necessidades, e con-
tribuindo para a formação de cidadãos mais preparados e integrados
na sociedade.
Para que as escolas possam atuar de forma efetiva com equi-
pes multidisciplinares, é necessário que sejam tomadas algumas me-
didas importantes, tais como:

1. Investimento em infraestrutura: é importante que as escolas


disponham de espaço físico adequado para a atuação dos dife-
rentes profissionais, como salas de atendimento, consultórios,
laboratórios, entre outros.
2. Capacitação dos profissionais: é fundamental que os profissio-
nais da equipe multidisciplinar estejam capacitados para atuar
em conjunto, com conhecimento sobre as diferentes áreas de
atuação e habilidades para trabalhar em equipe.
3. Articulação com a comunidade: é importante que a equipe mul-
tidisciplinar esteja em contato com a comunidade escolar, in-
cluindo pais, alunos, professores e gestores, para que todos
possam colaborar e participar do processo de atendimento e
cuidado aos estudantes.
4. Desenvolvimento de protocolos de atendimento: é necessário
que a equipe multidisciplinar defina e siga protocolos de aten-
dimento, para que todos possam ter clareza sobre os procedi-
mentos e responsabilidades de cada profissional na atuação
em conjunto.
5. Investimento em tecnologia: a utilização de tecnologias pode
facilitar a comunicação e o compartilhamento de informações
entre os profissionais da equipe multidisciplinar, além de per-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 461

mitir o acesso remoto aos recursos e ferramentas necessárias


para a atuação.
6. Avaliação e acompanhamento dos resultados: é importante
que a equipe multidisciplinar avalie regularmente os resultados
de suas ações, a fim de identificar eventuais problemas e bus-
car soluções para melhorar o atendimento e o cuidado aos es-
tudantes.

Com essas medidas, é possível preparar as escolas para atua-


rem de forma mais efetiva com equipes multidisciplinares, contribuin-
do para a promoção da saúde, do bem-estar e do desenvolvimento in-
tegral dos estudantes.

Considerações finais

A partir da análise e reflexão sobre a atuação do fonoaudiólo-


go escolar, é possível concluir que a presença desse profissional na
equipe multidisciplinar das escolas é fundamental para o desenvolvi-
mento integral dos estudantes. A atuação do fonoaudiólogo pode con-
tribuir para a prevenção e o tratamento de problemas relacionados à
comunicação, linguagem e audição, além de proporcionar um suporte
importante para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos
estudantes.
Para isso, é necessário que as escolas estejam preparadas
para receber e integrar a atuação do fonoaudiólogo em sua equipe
multidisciplinar, garantindo a capacitação, infraestrutura e articulação
necessárias para um atendimento de qualidade.
Em suma, a fonoaudiologia escolar se apresenta como uma
área de atuação promissora e relevante para a promoção da educa-
ção inclusiva, da saúde e do bem-estar das crianças e jovens em ida-
de escolar.

Referência bibliográfica

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 463

CAPÍTULO 34

INVESTIGAÇÃO PELA DEFESA: É POSSÍVEL A


INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO
PELA DEFESA DO DIREITO BRASILEIRO ?

Rita Melissa Araujo Silva

Ana Beatriz de Andrade Martins

Estela de Oliveira da Silva

Francisco das Chagas Gomes Ferreira

Mayra Dakielly de Jesus Oliveira

Carlos Henrique Sousa


carloshenriquesousa0108@gmail.com

Beatriz Fontenele Santos

Taynan Temistocles Fernandes de Lima

RESUMO
No artigo aqui presente irá dar ênfase na investigação defensiva que
é a investigação por parte do advogado em seus determinados casos,
podendo ser feita por qualquer advogado. E além disso tem-se tam-
bém os métodos a serem seguidos para realizar uma investigação de-
fensiva citando entre eles o provimento 188/2018 e a lei 159/2009.
Neste artigo foi adotado pesquisas bibliográficas focando na produção
de provas relacionadas à investigação defensiva. Conclui-se nesse ar-
tigo que há uma certa evolução relacionado à investigação defensiva
porém ainda precisa evoluir muito mais com o intuito de que o advoga-
do possa ter uma melhor eficácia na produção de provas.
Palavras-chaves: Investigação; Defesa; Institucionalização; Direito.
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ABSTRACT:
In this article, emphasis will be placed on defensive investigation,
which is the investigation by the lawyer in certain cases, which can
be carried out by any lawyer. And in addition, there are also the meth-
ods to be followed to carry out a defensive investigation, citing among
them provision 188/2018 and law 159/2009. In this article, bibliograph-
ical research was adopted, focusing on the production of evidence re-
lated to defensive investigation. It is concluded in this article that there
is a certain evolution related to defensive investigation, but it still needs
to evolve much more so that the lawyer can have a better efficiency in
the production of evidence.
Keywords: defense; institutionalization; justice; law.

INTRODUÇÃO

Perante a situação em que se encontra o processo penal bra-


sileiro relacionado a investigação defensiva,sabemos que os advoga-
dos brasileiros ainda não têm uma base legal para afirmar que o mes-
mo investigue defensivamente, porém já está no ordenamento jurídi-
co, em projetos para alteração do código de processo penal O que
de certa forma vai contra o que é dito no princípio da paridade de ar-
mas. De acordo com esse princípio: a paridade de armas nada mais é
do que a igualdade de tratamento entre as partes do processo em rela-
ção ao exercício de direitos e deveres, bem como à aplicação de san-
ções processuais, ou seja, há o ferimento quando por exemplo do de-
legado ou um membro do ministério público pode investigar mas o ad-
vogado não pode.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sentiu a necessidade
de auxiliar de uma forma mais precisa os mesmos, então nessa pers-
pectiva o provimento número 188/2018 para que haja, de forma le-
gal, a investigação defensiva. A investigação defensiva é a capacidade
que o advogado tem de produzir provas através de elementos de na-
tureza objetiva e subjetiva que assim possam formar documentações
que possam ser apresentadas no processo caso necessário. Sendo
assim o provimento número 188/2018 propõe que o advogado por si
só possa efetuar esse tipo de defesa através de documentos em car-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 465

tório ou até mesmo com ajuda de detetives particulares caso neces-


sário. O objetivo é tornar o processo mais lógico perante os princípios
como ampla defesa e paridade de armas. Como já foi citado ainda não
existe um ordenamento e nenhuma lei que regulamenta a investiga-
ção criminal e garantia dos direitos fundamentais do acusado, porém
muito se encontra sobre projeto Lei do Senado 156/2009, que aborda
as diversas formas de atuação do advogado e defensores públicos, no
qual os mesmos passam a buscar uma mudança no meio da investi-
gação e solucionar de forma célere os processos. Abordando de for-
ma geral o tema, o maior exemplo que podemos citar é inquérito po-
licial pois é nessa fase que os defensores e advogados utilizam para
melhorar as prerrogativas dentre outros elementos da investigação.
Mas para que serve o inquérito policial? bem, o inquérito policial serve
para apurar a existência de infração penal e sua autoria a fim de que
o titular da ação penal disponha de elementos suficientes para promo-
vê-la. Inquérito policial e investigação defensiva: são indispensáveis?
Segundo o advogado criminalista e professor Evinis Talon:

No caso de inquérito policial sabemos que é dispensável,


é possível oferecer uma denúncia ou queixa- crime des-
de que tenha outros elementos. No caso da investigação
defensiva, também é indispensável, o advogado pode ou
não formar uma defesa sólida baseada na investigação
para aumentar as chances de êxito para seu cliente. (
EVINIS Talon, 2021, p. 56.)

Outra questão imprescindível para que o advogado evite futu-


ras controvérsias que podem surgir eventualmente caso ele haja com
descrição é a questão do sigilo e a regulamentação por meio da OAB.
Em primeiro plano vamos citar ligeiramente o que venha ser essa re-
gulamentação. Então, a OAB pede que todos os advogados que que-
rem entrar com uma investigação defensiva devem informar a mesma
para que não haja prováveis obstáculos. Já a questão do sigilo uma
vez que o advogado da inicio em uma investigação defensiva ele pode
ou não usar os dados coletados por ele, podendo também usar só o
que lhe favorece. Dessa forma é possível a institucionalização da
investigação pela defesa do direito brasileiro?
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 466

Análogo ao que foi explanado, podemos afirmar que todos os


pontos citados são de suma importância para atuação do advoga-
do criminalista e possui reflexos claros no nosso processo penal bra-
sileiro. Dentro desse trabalho vamos explanar de forma clara todos
os pontos citados nesta introdução com comparação em exemplos e
abordando casos dentro do respectivo tema.

2. A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO DEFENSIVA

A investigação defensiva de fato é algo que muitos advogados


não sabem que possuem regulamentação e o amparo necessário para
que faça-a de forma limpa e clara. No presente artigo queremos evi-
denciar os auxílios que devem ser tomados ao fazer uma investigação
pela defesa.

2.1 Provimento 188/2018

O Provimento de n° 188/2018, recentemente foi editado pelo


Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, regulamentan-
do a realização de atividades investigativas durante os procedimentos
administrativos ou judiciais, como exercício profissional do advogado,
foi de suma importância a edição deste provimento para garantir ao in-
diciado, a paridade de tratamento e de oportunidades durante a perse-
cução penal, a fim de esclarecer e resolver o fato, além de auxiliar na
prevenção de erros judiciais.
A investigação defensiva, de fato, é a possibilidade que o ad-
vogado em seu exercício tenha o poder de produzir provas através de
elementos de natureza lícita, constituindo os documentos de conde-
nação a serem apresentados no processo. Um advogado pode fazer
isso como forma de proteção de seu cliente, coletando depoimentos,
contratação de profissionais qualificados para elaboração de laudos e
exames periciais; realização de reconstituições; pesquisa e obtenção
de dados e informações disponíveis em órgãos públicos ou privados,
o objetivo dessa investigação é tornar o processo cada vez mais efi-
caz em relação aos sistemas de contraditório e ampla defesa. O pro-
vimento continua apresentando que tal competência de um advogado
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 467

sirva como base e apoio em todo o momento do processo, visto que


pode ser feita na etapa investigativa ou na instrução processual, na
fase recursal em qualquer grau, durante a execução penal e, ainda,
como medida preparatória, para a propositura da revisão criminal ou
em seu decorrer. Hoje, contudo, é conteúdo expresso da Lei Federal
o direito de um advogado assistir a seus clientes investigados duran-
te a apuração das infrações, acessando todos os elementos investiga-
tórios e probatórios, podendo, inclusive, no curso da respectiva apura-
ção, apresentar razões e quesitos. Isso, por si só, entregaria um cará-
ter contraditório novo a essa etapa do processo, modificando a ante-
rior natureza inquisitiva para acusatória. Fica, portanto, criado instru-
mento apoiador de um advogado na atividade de busca pela verdade
real do fato ou na busca por argumentos suficientes para a início de
uma investigação oficial pelo órgão responsável ou persecução penal
pelo dominus litis que serve de auxílio para um embasamento jurisdi-
cional mais adequado, onde o órgão irá julgar o caso com veracidade
e promovendo o princípio de ampla defesa e contraditório.

2.2 Lei 156/2009

Em 22 de abril de 2009, o senador José Sarney (PMDB/AP)


apresentou o Projeto de Lei do Senado nº 156/2009, que dispõe so-
bre a reforma do Código de Processo Penal. Nesse sentido, foi apro-
vado pelo Plenário em dezembro de 2010 e encaminhado à Câmara
dos Deputados como PL nº 8.045/2010, obedecendo os trâmites pro-
cessuais previstos em lei.
O texto original do PLS nº 156/2009 trata da investigação cri-
minal defensiva através de seu art. 13 estipulando vários requisitos.
Exemplificando, que pode citar a permissão ao investigado mediante
seu advogado ou outro representante com claros poderes, tomando a
iniciativa de apurar as fontes de prova favoráveis à sua defesa, poden-
do inclusive entrevistar pessoas. Também estipula que, antes da en-
trevista, o seu objetivo deve ser esclarecido e o consentimento do en-
trevistado deve ser obtido.
Além disso, as vítimas não podem ser entrevistadas para fins
de investigações defensivas, a menos que autorizadas judicialmente.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 468

Conforme o projeto em análise, a responsabilidade pela condução da


investigação continua sendo das autoridades policiais, podendo o in-
vestigado solicitar qualquer investigação ou colher material da defesa,
a critério das autoridades policiais. Sendo assim, por força do art. 26,
§1°, em caso de recusa, a parte poderá agir em nome da autoridade
policial superior ou do Ministério Público.
Contudo, é válido distinguir o investigador privado do Ministério
público. Segundo os pressupostos de Danis Sampaio, professor e de-
fensor público titular do tribunal do júri (2014), o investigador privado
tem como função a busca de fontes e elementos de prova para o bene-
fício de seu defendente e não o esclarecimento de todos os fatos. Nes-
se sentido, serão punidos os excessos praticados na condução da prá-
tica da investigação criminal defensiva, podendo haver a responsabili-
zação civil, penal e disciplinar nos termos do Art. 13, §6° do projeto em
análise. Dessa forma, podemos vislumbrar que o PL 156/09, que trami-
ta como PL 8.045/10, conforme já relatado, garante grandes alterações
no Código de Processo Penal, o qual já está vigente a quase um sécu-
lo, tornando-se urgente sua atualização. Com isso, observa-se que a re-
forma do Código de Processo Penal, em acordo com os parâmetros de
constitucionalidade vigentes, garante o acesso à justiça, inclusive gra-
tuita, além de um procedimento mais célere e igualdade as partes, am-
bos princípios processuais que devem ser resguardados.

2.3 Inquérito policial

Como já citado na introdução, o inquérito policial é um instru-


mento de natureza administrativa que tem por finalidade expor o cri-
me, ou seja, serve para apurar a existência de uma infração penal e
sua autoria. Existem dois momentos fundamentais previstos em lei
para a persecução criminal: logo após o conhecimento do fato e em
juízo, pelo MP ou pelo ofendido. De acordo com o artigo 9° do CPP o
inquérito policial será somente escrito, ou seja, até mesmo nos casos
em que há depoimentos e vítimas tudo deve ser escrito ou datilogra-
fado. O mesmo acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que ser-
vir de base a uma ou outra como está elencado no art 12 do CPP, ou
seja, ele é dispensável. Porém, vale ressaltar que não haverá inquéri-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 469

to policial nas infrações de menor potencial ofensivo. Ainda sobre suas


características, de acordo com o artigo 17 do CPP, uma vez instaura-
do o inquérito, a autoridade policial não poderá mandar arquivar os au-
tos, ou seja, a autoridade deverá concluí-lo, mesmo que tenha eventu-
al equívoco. O inquérito também é discricionário, ou seja, não possui
um procedimento formal, a forma de investigação fica a critério do de-
legado de polícia com exceção da requisição do ministério público ou
da autoridade policial e a realização obrigatória de exame de corpo de
delito nas infrações que deixem vestígios. O inquérito pode ser instau-
rado nos crimes de ação penal pública pelo juiz ou promotor ou atra-
vés da portaria da autoridade policial.
De acordo com o artigo 10° do CPP o mesmo deverá terminar
no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, con-
tando a partir do dia em que se executar a ordem de prisão ou no pra-
zo de 30 dias, quando estiver solto, com fiança ou sem. Nos casos em
que o inquérito não seja concluído dentro do prazo, pode-se solicitar
ao juiz a sua dilação, como elenca o § 3° deste mesmo artigo. O réu
estando preso, cabe habeas corpus, nos termos do art 648 II do CPP
Segundo (Tourinho Filho 2003.V.1. P. 192 ), o indiciado não é um su-
jeito de direitos perante a autoridade policial e sim, objeto de investiga-
ção, respeitando apenas a sua integridade moral e física.
O inquérito policial não é cabível quando o fato não constituir
crime, o fato já estiver prescrito, quando o requerimento não atende
os requesitos legais (como data e local ) a vítima for incapaz e a auto-
ridade for incompetente.

2.4 Confidencialidade profissional na investigação defensiva

É mister que a sociedade humana implica atos, fatos e outras


ocorrências que devem ser mantidas em sigilo para que haja a proteção
individual. Na vida profissional é necessário que haja confidencialidade,
uma vez que implica que a confiança de um sujeito deve ser respeitada
e utilizada apenas para o propósito para o qual foi relevada (STYFFE,
1997). Diante disso, far-se-á necessário compreender o que é o sigilo.
Na advocacia, o advogado encontra-se constantemente em
convívio com diversas autoridades e para que se possa realizar o seu
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 470

trabalho, é importante que esteja diante de provas e fatos em suas


causas. Ocorre que existe um embate entre o livre exercício profis-
sional e o exercício do poder estatal. Conforme Luíz Flávio (2020),
cotidianamente existem reclamações de advogados que são impedi-
dos por autoridades a examinar os autos de um inquérito policial, ain-
da que seja um direito do advogado conforme a lei nº 8.906 de 04 de
julho de 1994 – Estatuto da Advocacia – artigo 7º, XIV. Além do direi-
to de analisar as provas em um processo, deve-se falar que o Provi-
mento 188 serve como um meio para que os advogados possam atu-
ar, mas é necessário que haja o sigilo de informações colhidas para
que o cidadão possa ter seus direitos resguardados, conforme o arti-
go 5º do provimento. Nesse caso, para que haja o compartilhamento
de informações é necessário que tenha a anuência do investigado de
forma expressa, conforme o artigo 6 do provimento, ademais, é neces-
sário que todos os atos sejam comunicados à autoridade. A partir dis-
so, observa-se que esses dois dispositivos firmam o dever do sigilo,
bem como o direito de não informar. No entanto, não se pronuncia ao
que concerne a extensão do dever ou direito de sigilo de profissionais
que não são advogados e que devem auxiliar na investigação defensi-
va, vez que durante a investigação é possível que o advogado use co-
laboradores para fazer a investigação defensiva, com base no artigo
4º do provimento 180. Assim, o sigilo profissional é de suma importân-
cia para que haja o exercício de fato do múnus público, tendo o dever
de confidencialidade o qual deriva da inviolabilidade constitucional da
advocacia que é disposto na Constituição Federal de 1988. Esse sigi-
lo é de suma importância para que haja uma relação pautada na con-
fiança entre cliente e advogado buscando a proteção ao representado.
É certo que a investigação defensiva no exercício da ativida-
de profissional está acobertada pelo sigilo profissional, afinal, se não
fosse desse modo, a própria investigação defensiva, como mecanis-
mo para robustecer o direito de defesa e prevenir a condenação de
inocentes estaria em risco (MARCHIONI; TOVIL, 2019). Diante do
que fora exposto, entende-se que durante a investigação, o advoga-
do deve se pautar no sigilo de informações colhidas, pautando-se em
princípios como a dignidade, privacidade, intimidade e outros direitos
consagrados na Constituição Federal de 1988.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 471

2.5 Os casos de Lula e Flordelis: A complexidade da investigação


da defesa na justiça brasileira

Um importante e fundamental princípio para garantir a igualdade


e combater possíveis injustiças no Sistema de Justiça Brasileiro, é a pa-
ridade de armas, que visa garantir tanto a defesa quanto a acusação te-
nham as mesma oportunidades para apresentar seu caso, assegurando
a eles um julgamento justo e que o resultado não seja influenciado por
uma distribuição desigual de recursos. Perante isso podemos dizer que
o princípio da paridade de armas tem o objetivo de afirmar que o réu te-
nha as mesma oportunidade e recursos à sua disposição quanto o pro-
motor para preparar sua defesa. Contudo, é questionado se a investiga-
ção da defesa pode ser institucionalizada no direito brasileiro.
As investigações da defesa nos casos do presidente Luiz Iná-
cio Lula da Silva e da pastora Flordelis demonstram a complexidade
da questão, vale ressaltar que no presente trabalho não visa avaliar
o mérito de inocente ou culpado e sim o uso do recurso da inquirição
pela defesa do réu. Em ambos casos a defesa solicitou autorização ao
tribunal para realizar suas próprias investigações para encontrar no-
vas provas que inocentam o acusado. Nessas investigações foram re-
alizadas por equipes de profissionais e peritos contratados pela defe-
sa e apresentados ao tribunal.
No caso do presidente, a defesa alegou a descoberta de novas
provas que poderiam beneficiar o réu, condenado por corrupção e la-
vagem de dinheiro. A defesa contratou um investigador para a realiza-
ção de uma radiografia nas comunicações feita entre membros da for-
ça-tarefa feita por meio da rede social “Telegrama”, na expectativa de
prova que o Ministério Público Federal usou da estratégia “pesque e
pague” para fabricar acusações, fazendo consultas ilegais de dados
sigilosos da Receita Federal. Acusando ainda a força-tarefa de com-
partilhar informações sigilosas para agências estrangeiras como FBI,
Departamento de Justiça dos EUA, e a embaixada norte-americana
de forma ilegal e por meios de canais informais, a defesa busca com
isso descredibiliza e abalar todo o fundamento das acusações contra
o Lula. Agora entrando no caso da Flordelis, foi apresentado um laudo
pericial feito pela defesa da acusada. O perito responsável pelo novo
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 472

laudo apresentado é Sami Abder o mesmo que atuou nos julgamen-


tos dos casos de Jairinho e Matsunaga, segundo o próprio laudo ofi-
cial da morte do pastor Anderson do Carmo apresenta uma série de
erros e inconsistências que podem comprometer a acusação. Entre os
possíveis erros apresentados estão ao menos sete erros no mapa que
mostra os ferimentos e causa da morte do pastor, afirmou também que
depois de analisar os prontuários médicos da vítima de anos anterio-
res do crime, não há sinais de que ele tenha sofrido envenenamento
Em ambos casos, as investigações foram autorizadas pelo tri-
bunal, levando em consideração o princípio da paridade de armas.
Onde as defesas argumentaram que o Ministério Público não havia in-
vestigado adequadamente todas as provas e que a uma nova investi-
gação era essencial para garantir um julgamento justo.
A questão de saber se a investigação da defesa pode ser ins-
titucionalizada na lei brasileira permanece uma questão controversa.
Mesmo que o princípio da paridade de armas justifique a autorização
dessas inquirições feitas pela a defesa, é importante garantir que as
investigações não prejudiquem a integridade do processo judicial ou
levem à coleta de informações ilegais ou antiéticas.
Por último, investigação da defesa é uma questão ainda com-
plexa que requer considerações e análise criteriosas, Os casos do
presidente Lula e da Flordelis ilustram a necessidade de se aprofun-
dar no tema e a importância de equilibrar o princípio da paridade de ar-
mas com a integridade do processo judicial

3. É possível a institucionalização da investigação pela defesa do


direito brasileiro ?

É possível sim, pois se leva em conta o conteúdo do princípio do


devido processo legal, leitura da ampla defesa, leitura do contraditório,
do direito à atividade probatória e da isonomia que é parte, pode investi-
gar sem previsão expressa na Constituição e nas normas infralegais, fa-
zendo por meio de interpretações abertas de alguns dispositivo.
A partir desses objetivos, a defesa realiza diligências com o
propósito exclusivo de identificar elementos que possam favorecer a
sua situação jurídica, sem a necessária preocupação com a apura-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 473

ção da verdade. Poderá, entretanto, agir imbuída no espírito de cla-


rificação da verdade, trazendo ao conhecimento da acusação infor-
mações negligenciadas pelos órgãos de Polícia Judiciária. Os benefí-
cios da investigação desenvolvida pela defesa são inúmeras. Com um
maior aproveitamento do tempo entre a data do fato e o trânsito em
julgado da causa, permitir-se-á que a defesa realize maior intervenção
nos estágios iniciais, em que os elementos de formação do convenci-
mento estão com maior vigor, possibilitando uma rápida entre a práti-
ca de atos investigativos e a presença da diligência. Levando em con-
ta o princípio da proporcionalidade em sua concepção atual represen-
ta uma limitação ao poder estatal, a fim de garantir a integridade físi-
ca e moral das pessoas que estão sendo subjugadas, constituindo um
enfraquecimento na doutrina constitucional, onde fala de vedação das
provas ilícitas, prevendo sua utilização sempre que o interesse tutela-
do e o direito da pessoa estiverem feridos, e assim, a prova ilícita po-
derá ser aceita em caráter excepcional ou em casos de extrema gravi-
dade. Para Pacelli (2013, p. 374), o exame normalmente realizado em
tais situações destina-se a permitir a aplicação, no caso concreto, da
proteção mais adequada possível a um dos direitos em risco, e da ma-
neira menos gravosa ao(s outro(s)”. Quando se fala em interesse e di-
reitos fundamentais, fala-se no princípio dos direitos humanos previs-
tos na nossa Constituição Federal, e para que o Estado atenda esses
interesses, é necessária a existência de normas que moderem sua
atividade, para que em alguns casos o Estado reconhecer e utilizar o
princípio da proporcionalidade, ponderando a preferência da parte que
está sendo acusada com a finalidade de facilitar a decisões dos ma-
gistrados diante da colisão de princípio e normas, busca-se um instru-
mento que poderá ser útil, que são divididos em três subprincípios: 1)
adequação ou pertinência; 2) necessidade ou exigibilidade; 3) propor-
cionalidade stricto sensu, sendo a decisão conduzida com a mais alta
relevância, preservando direitos ou bens jurídicos que estão em jogo,
conforme suas regras, intimidade e valor, facilitando para que o Juiz
possa dar uma decisão justa ao caso concreto quando ocorrer conflito
entre os direitos que devem conviver harmonicamente em nosso orde-
namento jurídico, caso que será solucionado pela aplicação do princí-
pio da proporcionalidade.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 474

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo é explicar os motivos que levam o advo-


gado a investigar defensivamente e por quê ainda não tem uma regula-
mentação para que incentive o mesmo a agir dessa forma sempre que
for necessário. Além disso, surgiu a necessidade incentivar os demais
advogados de que é possível fazer uma investigação defensiva dentro
dos parâmetros da OAB mostrando os meios de proteção judicial.
Conclui-se que muitos advogados fazem a investigação defensi-
va de forma branda, porém sem procurar a regulamentação da forma cor-
reta por sentir algum receio. Isso acontece pois existem advogados que
não sabem da existência do auxílio do provimento 188/2018 promovido
pela OAB que fornece um apoio para a realização da investigação defen-
siva. A melhor forma de investigar defensivamente é tendo em vista o pro-
vimento, o sigilo e o mais importante a regulamentação que a OAB for-
nece, o descumprimento destes pode arcar com situações embaraçosas.
Por fim, o presente artigo tem como finalidade explanar fatos
que possam ajudar advogados de alguma forma em suas investiga-
ções defensivas e os devidos cuidados a serem tomados diante situ-
ações que necessitam da mesma, demonstrando passos a serem se-
guidos, medidas que podem ser tomadas e cuidados a serem levados
em consideração.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 476

CAPÍTULO 35

JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE PÓS-PANDEMIA:


UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DO DIREITO

JUDICIALIZATION OF THE RIGHT TO HEALTH POST-PANDEMIC:


AN ANALYSIS FROM THE PERSPECTIVE OF LAW

Iza Maria Carmo Lins


Christus Faculdade do Piauí
Piripiri- PI
izacarmolins@gmail.com
ORCID: 0009-0005-8978-698X

Lariza Késsia Ximendes Pereira.


Christus Faculdade do Piauí
Piripiri- PI
larizaximendes17@gmail.com
ORCID: 0009-0005-9196-4263

Lucélia Keila Bitencourt Gomes


Christus Faculdade do Piauí
Piripiri- PI
luceliakeila@gmail.com
ORCID: 0000-0001-5528-9858

RESUMO
O presente Artigo intitulado Judicialização do Direito à Saúde Pós Pan-
demia: Uma análise sob a ótica do Direito teve como finalidade discutir
a importância da judicialização do direito à saúde no tempo pós-pan-
dêmico, descrevendo seu procedimento e buscando uma alternativa
para diminuir essa ação no meio jurídico, evitando uma demanda alta
de processos, os quais podem ser resolvidos de forma célere adminis-
trativamente. Para tanto, o referido traz a seguinte indagação: qual a
importância da judicialização do direito à saúde pós-pandemia? Para
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o alcance do intento, todo o trabalho se deu através de uma pesqui-


sa bibliográfica. A relevância se dá no sentido de que este pode ser-
vir de modelo para outros acadêmicos. Este estudo está direcionado
à área do Direito Processual Civil, a qual debruça perspectivas acer-
ca da compreensão de como são realizadas essas ações e por que
tantas demandas. Com isso, foram exploradas formas de diminuir as
ações deste tipo no sistema jurídico, buscando apoio administrativo e
também pela mediação para resolver as lides. Para tal análise foram
utilizados como arcabouço os teóricos Ferreira (2020); Santos (2019);
Vilela (2022); Oliveira (2022), bem como a legislação pertinente. Con-
clui-se que através dos procedimentos analisados foi obtido um meio
de diminuição das demandas de saúde no meio jurídico.
Palavras-chave: Judicialização; Direito; Saúde; Pós-Pandemia; Pro-
cessos.

ABSTRACT
This article entitled Judicialization of the Right to Health Post-Pandem-
ic: An analysis from the perspective of Law aimed to discuss the im-
portance of the judicialization of the right to health in the post-pandem-
ic time, describing its procedure and seeking an alternative to reduce
this action in the middle legal, avoiding a high demand for processes
in which they can be resolved quickly administratively. To this end, the
aforementioned brings the following question: What is the importance
of the judicialization of the right to post-pandemic health? To reach the
intent all the work was done through a bibliographical research. The
relevance makes sense that this can serve as a model for other ac-
ademics. This study is directed to the area of Civil Procedural Law,
which deals with perspectives on understanding how these actions are
carried out and why so many demands are made, and with that, ways
to reduce actions of this type in the legal system were explored, seek-
ing administrative support and also through mediation. to resolve dis-
putes. Ferreira (2020); Saints (2019); Vilela (2022); Oliveira (2022), as
well as the relevant legislation. It is concluded that, through the proce-
dures analyzed, a means of reducing health demands in the legal en-
vironment was obtained.
Keywords: Judicialization; Right; Health; Post-Pandemic; Law Suit.
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1 INTRODUÇÃO

Com a judicialização de muitas coisas, incluindo a saúde, o po-


der judiciário exerce a sua função com afinco, que é garantir a concre-
tude dos direitos. Estando na carta Magna, a saúde é um direito funda-
mental explícito garantido constitucionalmente, seja no rol dos direitos
sociais contidos no artigo 6º, ou nos demais artigos do texto constitu-
cional, como nos artigos 197 ao 200 da Constituição Federal.
O presente trabalho tem como foco a saúde enquanto presta-
ção estatal, analisando o dever do Estado para com os cidadãos. Sen-
do assim, o tema do artigo é a Judicialização do Direito à saúde pós-
-pandemia: uma análise sob a ótica do direito, nisto o questionamen-
to que surge e que é respondido doravante é: qual a importância des-
sa judicialização na saúde após a pandemia?
Na contemporaneidade, a judicialização dos conflitos não é
compreendida mais como sinônimo de eficácia, e sim de burocracia,
demora e dissabores. Na presente pesquisa, a celeridade em lograr
êxito nas demandas que envolvam saúde para que não seja neces-
sária a sua judicialização deve ocorrer através de mecanismos como
resoluções, atos administrativos, acordos de leniência, dentre outros,
que são trabalhados no referencial teórico a seguir.
O objetivo geral do presente trabalho é analisar a importância
da judicialização do direito à saúde no tempo pós-pandêmico, des-
crevendo seu procedimento e buscando uma alternativa para diminuir
essa ação no meio jurídico, evitando uma demanda alta de proces-
sos os quais podem ser resolvidos de forma célere administrativamen-
te. Os objetivos específicos são os seguintes: relatar fatores que con-
tribuem cada vez mais à realização da judicialização da saúde, apre-
sentar maneiras de resolver as lides sem passar pela esfera judicial e,
por fim, valorar pesquisas sobre o tema no âmbito do direito utilizando
doutrinas e artigos relacionados.
Toda norma constitucional possui a sua eficácia, seja ela social
ou jurídica, e com a saúde não é diferente. Conforme se extrai do tex-
to constitucional, em seu §1º, art. 5º, as normas que definem direitos
e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Pela ótica de Fer-
reira e Branco (2020), tais normas (as de saúde no caso em questão)
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são de caráter preceptivo, e não programáticas. Ou seja, tem-se hoje


uma constituição exemplar, tendo o legislativo realizado o seu papel
com muito esmero, cabendo agora ao poder executivo a nobre tare-
fa de executá-la.
Extrai-se do Novo Código de Processo Civil, em seu art. 3º Bra-
sil (2015), o chamado princípio da inafastabilidade da jurisdição (não
se precisa esgotar as vias administrativas ou extrajudiciais para pleite-
ar os direitos no Poder Judiciário). O supracitado artigo, em seus pará-
grafos, regulamenta meios extrajudiciais de resolução de conflito, su-
bentendendo-se, assim, que o legislador quis garantir que o Poder Ju-
diciário sempre estará lá para resolver as lides, mas sempre que pos-
sível o Estado promoveria na medida do possível soluções extrajudi-
ciais. É preciso lembrar que mesmo que um dos objetivos da presen-
te pesquisa seja apresentar os mecanismos extrajudiciais para a ce-
leridade do direito à saúde, a via judicial nunca será excluída, sendo
sempre a “ultima ratio”.
O que a tutela provisória é para o processo civil o conhecimen-
to da lei e a sua aplicação são os equivalentes a nível administrativo.
Cita-se, por exemplo, a lei de improbidade administrativa, o II pacto re-
publicano, as resoluções do CNJ, e demais mecanismos que também
são discutidos na presente pesquisa. O conhecimento e aplicação da
lei além de fatores de celeridade, também são fatores preventivos da
judicialização dos problemas de saúde. Tal fato lembra o que diz o ve-
lho ditado “só se cobra quem não paga”, ou seja, a judicialização acon-
tece pelo fato de a parte exequida (hospitais, clínicas...) não cumprir
com o demandado, ou por não fazerem da forma pactuada.
O tema em questão possui grande relevância no meio social e
acadêmico, não apenas para o acervo jurídico, mas também para todo
o meio científico, visto que a saúde é um direito fundamental para to-
dos. Ainda dentro da seara administrativa, podem-se requerer os direi-
tos que lhe são devidos como também lançar mão de instrumentos ex-
trajudiciais, tão eficazes e céleres quanto às tutelas provisórias de ur-
gência são para o processo civil.
A metodologia que se utilizou no presente trabalho foi de cunho
bibliográfico, através de leitura e análise de trabalhos, livros e dados
que abordam o presente tema, tal qual na captura de informações
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através da internet. Dessa forma, foi feito um levantamento de infor-


mações mais detalhada do tema, bem como para melhor fixação do
conteúdo. Além disso, a análise do material dispõe como fundamen-
tação da assistência sendo suficiente para o estudo a partir dos obje-
tivos traçados.
Nesse sentindo, pode-se concluir que tendo um sistema de
saúde organizada e com recursos o suficiente para atender todo o
país, nenhum tipo de demanda seria acionada na esfera administra-
tiva, muito menos na judicial, entretanto o desfalque na área da saú-
de prejudica seu desempenho, com isso as insatisfações da popula-
ção crescem e é necessária uma esfera administrativa ou judicial para
que sejam resolvidas.

2 JUDICIALIZAÇÃO

Há mais de uma década o termo judicialização vai ganhando


destaque dentro da seara jurídica, pois é utilizado para designar al-
gumas questões de grande repercussão que são feitas no Poder Ju-
diciário. De forma mais simples, pode-se dizer que judicialização sig-
nifica “dar ou assumir caráter judicial”, sendo este conceito levado
para todas as áreas em que haja necessidade de discussão na es-
fera jurídica.

2.1 judicialização do direito à saúde

A judicialização do direito à saúde está se tornando algo cada


vez mais normal dentro das demandas do judiciário. Esse instituto
acontece quando esse direito não é totalmente eficiente para a po-
pulação, deixando uma lacuna, e assim colocando o Poder Judiciá-
rio como principal aliado para resolver essas demandas. O Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), junto com o Poder Judiciário, realizou uma
pesquisa, a qual confirmou um aumento de 130% (cento e trinta por
cento) de solicitações de judicialização da saúde entre 2008 e 2017.
A pesquisa foi realizada em 2019, antes da pandemia do Covid-19. E
desde o início de 2020 começando a pandemia essas demandas au-
mentaram ainda mais.
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Pode-se destacar o significado do termo “judicialização” com


base no que discorre Barroso. Ela não é um exercício da vontade po-
lítica e sim um fato e acrescenta:

Judicialização significa que algumas questões de larga


repercussão política ou social estão sendo decididas por
órgãos do Poder Judiciário, e não pelas instâncias políti-
cas tradicionais: o Congresso Nacional e o Poder Execu-
tivo- em cujo âmbito se encontram o Presidente da Repú-
blica, seus ministérios e a administração pública em ge-
ral (BARROSO, 2009, p.3).

Como é sabido por todos é que a saúde é um direito garantido


na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 196, com isso o Siste-
ma Único de Saúde (SUS) trabalha para alcançar e ter êxito sob três
aspectos: promover, recuperar e proteger esse direito, por conta dis-
so fica claro que qualquer cidadão poderá usufruir desse sistema, en-
tretanto quando esse cidadão não é atendido em sua totalidade ele
terá a possibilidade de conseguir entrando com uma ação no Tribunal
de Justiça contra o Estado, e quando isso acontecesse chamamos de
“Judicialização do Direito à aúde”.
Não somente no sistema público, mas também no sistema pri-
vado é possível a judicialização, de forma que os planos de saúde se
negam a cobrir tratamentos que o paciente necessita. A maioria dos
requerimentos estão em volta da assistência de tratamentos e medi-
camentos que os sistemas público e privado não conseguem suprir e
em alguns pequenos casos existem pedidos para medicamentos que
apenas são encontrados no exterior.

2.2 O papel da judicialização no sistema de saúde

As ações judiciais devem ser a última alternativa para conse-


guir resolver as lacunas deixadas pelo sistema de saúde, tanto pela
parte pública e privada. Sendo assim, deve-se atentar às condições
para recorrer ao poder judiciário, por exemplo, em São Paulo existe
um órgão que pode requerer o medicamento sem ter que passar pela
justiça. Caso o paciente não entre em contato com esse órgão primei-
ramente, o pedido poderá ser indeferido pelo Estado.
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Por conta disso, o melhor a se fazer é consultar se a demanda


pode ser resolvida de outra forma, por exemplo, administrativa, pois
esses processos levam bastante tempo para ser finalmente resolvidos
além dos gastos que se pode ter nesse processo. Portanto, é aconse-
lhável que o paciente pense bem e coloque na balança o que é mais
benéfico a ele.
Para isso, é preciso entender como o SUS funciona na prática,
afinal sabemos que no Brasil é raro acontecer que um instituto funcio-
ne corretamente em sua totalidade, por diversos fatores como recur-
sos e gestão.
Uma das principais demandas acionadas na esfera judicial é
sobre os medicamentos que o SUS já disponibiliza, porém por con-
ta dos fatores mencionados acima não chegam ao paciente, ou então
remédios mais tecnológicos e que custam mais aos cofres públicos.
Deve ser entendido primeiramente que para um produto, seja
ele medicamento, utensílios ou equipamentos, é realizado uma licita-
ção. A CF/88 em seu artigo 37, caput e inciso XXI, discorre sobre a
obrigatoriedade, para a Administração Pública, a abertura de processo
licitatório para a contratação de obras, serviços e compras, respeitan-
do os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicida-
de, eficiência entre outros. Regida pela LEI 8.666/93 a licitação tem
por objetivo a seleção de uma proposta mais vantajosa para a admi-
nistração pública, todavia, nem sempre essas propostas trazem pro-
dutos de boa qualidade ou que atenda a todos os pacientes.
Com isso, antes de solicitar o judiciário é interessante consultar
junto ao sistema público ou ao plano de saúde se eles cobrem o me-
dicamento ou tratamento, pois como dito acima, é bem provável que a
ação seja negada no judiciário se não tiver sido buscada de outra forma.

2.3 Judicialização do direito à saúde pós-pandemia do covid-19

No ano de 2020 foi declarada pela Organização Mundial de


Saúde-OMS que o mundo iria começar a viver uma pandemia, cau-
sada pelo vírus Sarc-Covid-2, conhecido como Covid-19. Com esse
acontecimento a saúde ganhou uma atenção multiplicada por todas as
pessoas e principalmente os governos.
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Durante os dois primeiros anos de pandemia os hospitais e clí-


nicas se voltaram para proteção e assistência às pessoas que contra-
íram o vírus. Por conta dos inúmeros casos e que a cada dia aumen-
tavam, sendo estes que necessitavam de cuidados médico-hospitala-
res específicos, o sistema público de saúde não estava conseguindo
suportar tamanha demanda.
Grande parte da população brasileira precisa do suporte do
Sistema Único de Saúde- SUS. Conforme dado da Agência Nacio-
nal de Saúde- ANS, o SUS atende cerca de 210 milhões de brasilei-
ros, haja vista que 47 milhões são beneficiários de planos de saú-
de. Com essa diferença, o SUS acaba tendo uma demanda mui-
to maior e por conta de falta de recursos e de má gestão, a maio-
ria desses brasileiros ficam sem atendimento. Na época em que a
pandemia estava no auge milhares morreram nos corredores dos
hospitais por falta de leitos ou oxigênio. Essa triste situação revol-
tou muitas pessoas, resultando em inúmeros processos no judici-
ário, que solicitavam transferências de hospitais, oxigênio ou uma
vaga no CTI ou UTI.
Segundo os estudos do magistrado federal Clênio Jair Schulze,
o aumento dos casos em 2019, ou seja antes do começo da pande-
mia, foi pouco significativo, entretanto já era esperada uma explosão
de casos a partir de 2020, não só pelas situações citadas anteriormen-
te, mas principalmente por diversos procedimentos que foram inter-
rompidos devido à pandemia, além de demandas relacionadas às con-
sequências do isolamento social, como por exemplo, à saúde mental,
afirmava o magistrado (JAIR, 2020).

2.4 A seara administrativa como meio resolutivo de lides judiciais

Conforme explanado na problemática e objetivo principal da


presente pesquisa, a judicialização tem a sua importância, reverbe-
rando que em nenhum momento desconsidera-se a mesma como um
meio de resolução, visto que o próprio poder judiciário tem essa fun-
ção, visto que nas palavras da cartilha do Poder Judiciário, é É Poder
que tem a função de julgar, de solucionar os conflitos e de aplicar a lei
(CARTILHA DO PODER JUDICIÁRIO/ STF, 2018).
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Porém, como destacado na justificativa, existem as funções atí-


picas dos outros poderes, ou seja, meios extrajudiciais ou administrati-
vos, de se resolver um conflito sem a intervenção do Poder Judiciário.
A título de exemplo, cita-se a lei 14.230 de 2021, a lei da impro-
bidade administrativa, que conforme dispõe de sanções para os agen-
tes públicos que cometem atos de improbidade administrativa, dentre
os quais, são os atos que vão contra os princípios da administração
pública firmados no art. 37 da Constituição Federal (BRASIL, 1988).
A negativa de uma assistência médica por exemplo, sem uma
justificativa plausível, ou pior, por motivos ilícitos como favorecimento
de outras pessoas, desvio de insumos, tudo isso pode ser classificado
como atos de improbidade administrativa. Cita-se esse procedimento
pois as suas consequências, são mais danosas do que uma sentença
penal transitada em julgado, como a suspensão de direitos políticos,
congelamento de bens e a perda da função pública, conforme dispos-
to no art. 37, §4 da Constituição Federal (BRASIL, 1988).
Entretanto, a lei além de recente é também desconhecida. O
operador do direito ou entidade que lidar com a lei terá que utilizar de
sindicâncias e processos administrativos disciplinares (pads), entida-
de esta, por exemplo, o Ministério Público.
Para elucidar o assunto em questão, cita-se o Procon. Na área
consumerista, quando se tem um problema originador de uma lide, o
primeiro contato do consumidor antes da judicialização é o Procon. O
que o Procon é para seara do consumidor o Ministério Público é para
o direito de saúde. Seja de forma consultiva ou até mesmo para iniciar
um procedimento administrativo ou outra forma de resolução do pro-
blema (detalhado de forma mais sucinta no próximo tópico), a judicia-
lização nem sempre é o meio mais eficaz para se resolver ou proble-
ma, seja pela demora, ou até mesmo por uma sentença infrutífera ou
insatisfatória.

2.5 O processo de judicialização e a eficácia do procedimento ad-


ministrativo

Antes de detalharmos o assunto em questão, é preciso citar o


artigo 3º do Código de Processo Civil de 2015, em que não é exclu-
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ída em nenhum momento a apreciação do poder judiciário a lesões


ou ameaças de direitos (BRASIL, 2015). Com esta introdução, fixa-
mos um alicerce de que não é necessário esgotar a via administrativa
para a resolução das lides envolvendo a saúde, entretanto, nem sem-
pre uma judicialização “prematura” poderá lograr êxito na demanda
em que se busca.
No parágrafo acima utilizou-se o termo prematuro, pois acre-
dita-se que a judicialização no momento errado pode dificultar ou im-
possibilitar a demanda que se busca. Por exemplo, na busca de uma
assistência farmacêutica, caso o hospital não tenha ou não forneça,
servirá de apoio e de subsídio para a demandante ir a outras entida-
des municipais que fornecem também medicamentos, como farmá-
cias, postos de saúde, centrais de medicamentos, para, assim, em
uma demanda judicial, já conste na inicial que diante da busca de to-
dos os meios, não se forneceram os medicamentos necessários para
que o direito a saúde fosse concretizado (VILELA, 2018).
Existem outros meios eficazes administrativos além das Pads,
que podem fornecer a parte necessitada o seu direito à saúde garan-
tido constitucionalmente, seja através do próprio Ministério Público ou
de advogados, como por exemplos os meios oficiais de comunicação,
como um requerimento, ofícios.
Uma vez que um paciente tem o seu atendimento negado ou
demasiadamente demorado no hospital, uma carta escrita pelo Minis-
tério Público destinada ao diretor do hospital pode fazer com que a
parte lesada não sofra a demora no Judiciário ou passe por dissabo-
res desnecessários, visto que a falta de prestação no direito à saúde
já é um grande problema por si só.
Como consequência da judicialização e os meios administrati-
vos sendo utilizados, tudo indica que, provavelmente, a judicialização
dos casos de saúde venham a diminuir, pois é mais temeroso a um
servidor público da área da saúde ter a perda do seu cargo como con-
sequência de um ato ímprobo do que uma sentença penal condena-
tória por prevaricação ou uma sentença cível de danos morais. Entre-
tanto, essa colocação é apenas uma hipótese, pois considerando o le-
vantamento de dados, a cada ano aumentam os casos de saúde que
são levados à apreciação do poder judiciário, sendo o aumento signi-
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ficativo desde o ano de 2020, devido à pandemia de covid-19 (POR-


TAL TRF2. CNJ, 2021).

2.6 Campanhas públicas e a atuação proativa e preventiva do mi-


nistério público

Dando seguimento ao raciocínio acima apontado, a eficácia do


procedimento administrativo também se dá através das políticas públi-
cas. Como, por exemplo, recentemente no mês de outubro houve uma
reunião do presidente do Coren-SP (autarquia responsável pelos en-
fermeiros e técnicos) a respeito das estratégias que podem ser adota-
das para se evitar a judicialização dos casos de saúde.
Logicamente, o poder judiciário não se limita apenas à resolu-
ção de lides, como por exemplo a jurisdição voluntária. Alguns assun-
tos, devido a sua seriedade, devem ser homologados por um juiz to-
gado, mas os demais assuntos, principalmente os da saúde, podem
ser resolvidos administrativamente, o que desafogaria os processos.
É mais eficaz e eficiente aos membros do Ministério Público, uma visi-
ta formal a uma instituição, do que uma instauração de um processo.
No 7º Congresso de Gestão do Ministério Público, ocorrido no
ano de 2016, foi editada em um documento chamado Carta de Brasí-
lia, em que foram estabelecidas diretrizes aos membros do Ministério
Público, postura proativa que vise priorizar as atuações de prevenção,
antecipando as situações geradores de lides, postura resolutiva para
ganhar efetividade na atuação profissional, sendo requeridos dos ser-
vidores condutas como a utilização racional dos mecanismos de judi-
cialização, analisando assim se o poder judiciário é o caminho mais
adequado para o caso concreto (REVISTA DO 7° CONGRESSO BRA-
SILEIRO DE GESTÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2017).
Como apontado no final do supracitado tópico 2.1, na omis-
são da devida assistência, seja pelos hospitais ou planos de saúde,
uma visita institucional de um advogado pode, como também deve,
ser uma estratégia a ser adotada, não que o operador do direito seja
um instrumento de coação, e sim para lembrar que o exercício dos di-
reitos constitucionais jamais serão uma ameaça, mas uma garantia
constitucional que pode ser utilizada em casos de omissões pela par-
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te demandada. Em outras palavras, uma advocacia militante. Nas pa-


lavras de Oliveira (2020), uma visita institucional tem por finalidade ir
de encontro a algum lugar, mantendo a autoridade e formalidade que
lhe são conferidas por lei, para procurar a consecução dos direitos que
justificam a sua presença. Diante o exposto, no pior dos cenários, a
negativa desses meios serve como um conteúdo probatório para a ju-
dicialização, a produção antecipada de provas como uma estratégia
processual (VILELA, 2022).

2.7 Pós-pandemia: mediação como ferramenta para prevenir a ju-


dicialização na saúde

O Sistema Judiciário brasileiro já estava esperando que a judi-


cialização da saúde crescesse mais depois da pandemia, por inúme-
ros motivos, tais como: a suspenção de procedimentos nos hospitais
e clínicas aqueles que não eram de grave risco ou por conta da CO-
VID-19, a falta de leitos e oxigênio, etc.
Buscou-se também por meio da mediação solucionar conflitos
entre o Sistema de Justiça e o Sistema de Saúde para que seja mais
fácil o trabalho dos dois na situação. “Será o momento para o Siste-
ma de Justiça e o Sistema de Saúde conversarem entre si para apon-
tarem os problemas e oferecem caminhos que possibilitem redução
na intervenção judicial”, explica a supervisora do Fórum, conselheira
Candice Jobin.
Uma pesquisa nacional, que está sendo finalizada pelo Depar-
tamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ/CNJ), vai dimensionar o tama-
nho da rede de atendimento, bem como os índices de judicialização
do setor. “Os dados vão ajudar a construir um Plano Nacional com in-
dicadores de melhorias na prestação dos serviços de saúde e redução
da judicialização”, explica a supervisora do Fórum, conselheira Can-
dice Jobim.
Infelizmente, é impossível que as lacunas na área da saúde se-
jam extintas de forma que não seja necessária a busca no judiciário,
porém, é evidente que esta questão é bastante discutida pelos órgãos
do governo e são obtidas sugestões de como prevenir a judicialização
na saúde. De fato, não se pode esperar somente por atitudes gover-
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namentais, deve-se buscar outros meios para resolução das lacunas


existentes atuais.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante o exposto, explanou-se a importância da judicialização


dos direitos da saúde como também os meios extrajudiciais para as
resoluções de lides. Por isso, respondeu-se à problemática elencada
no início da pesquisa: a judicialização da saúde tem a sua importân-
cia como um garantidor de que o direito a saúde de fato seja efetiva-
do. Como visto no digesto, o direito à saúde é uma norma constitucio-
nal plena, que já possui por si só eficácia e efetividade jurídica. Entre-
tanto, para que não seja apenas uma utopia jurídica, o poder judiciário
vem como um garantidor, a “ultima ratio”.
O objetivo principal foi alcançado, pois a importância da judicia-
lização do direito de saúde se dá pelo fato de o mesmo ser uma ga-
rantia da aplicação do direito. Dentre os vários capítulos abordados
no digesto, ressaltou-se a importância também de outros meios de re-
solução de direito, com isso, os objetivos específicos também foram
alcançados, sendo não apenas mencionados os meios em si, como
também as suas eficácias diante das situações problemas, como por
exemplo a mediação, a conduta proativa e preventiva do parquet, e os
demais meios extrajudiciais dos quais o Ministério Público pode lançar
mão, diminuindo e conscientizando entidades e pessoas físicas para
não agirem com improbidade ou prevaricação.
A importância do presente tema comprovou-se no desenvolver
deste artigo, pois o conhecimento da lei, que desencadeia na sua apli-
cação, serve não apenas para os operadores do direito, mas sim para
toda a sociedade brasileira, por isso, a importância do assunto tam-
bém no meio acadêmico. Como a problemática envolve os direitos da
saúde, independentemente da área em questão, esse direito é previs-
to para todos aqueles que estão em território brasileiro.
Conclui-se que não apenas como um garantidor, a judiciali-
zação acabou valorando positivamente os casos em que envolvem
a saúde, ou seja, através dos diversos casos judiciais que surgiram,
principalmente no período pandêmico e pós, hoje as lides judiciais que
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versam sobre saúde têm uma jurisprudência favorável em favor do pa-


ciente, dos que sofrem pela negligência e omissão médico-clínica.

REFERÊNCIAS

AASP. Pós-pandemia: mediação poderá ser ferramenta para pre-


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BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legi-
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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 492

CAPÍTULO 36

JUSTIÇA RESTAURATIVA NO ÂMBITO DO


DIREITO DE FAMÍLIA: AS POTENCIALIDADES E
DESAFIOS DAS POLÍTICAS DE PACIFICAÇÃO
SOBRE A PENSÃO ALIMENTÍCIA

RESTORATIVE JUSTICE IN THE FIELD OF FAMILY LAW:


THE POTENTIALITIES AND CHALLENGES OF
PACIFICATION POLICIES ON ALIMONY

Alane Oliveira Lima


Christo Faculdade do Piauí
Piripiri – Piauí
laneelima@hotmail.com

Maura Jeane Monteiro de Araújo


Christo Faculdade do Piauí
Piripiri – Piauí
maurajeane19@gmail.com

Sérgio Roberto Araújo


Christo Faculdade do Piauí
Piripiri – Piauí
sergroberto951@gmail.com

Francisco Eugênio Carvalho Galvão


Christo Faculdade do Piauí
Piripiri – Piauí
ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-0898-3916
e-mail: euggalvao@uol.com.br

RESUMO
A justiça restaurativa viabiliza uma solução do conflito alimentar me-
nos gravosa para os mais interessados que são os menores neces-
sitados da pensão, os quais não podem se manter e possuem legal-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 493

mente o direito de supressão das carências de alimento, vestuário, la-


zer, educação etc. além de que, a justiça restauradora é uma forma
bem célere com custos bem menores e com considerável possibilida-
de de cumprimento pelos obrigados a pagar, uma vez que foram eles
que estipularam o acordo.
Palavras-chave: Alimentos. Direito de Família. Justiça Restaurativa.
Solução de Conflitos.

ABSTRACT
Restorative justice enables a less burdensome solution to the food
conflict for the most interested parties who are minors, in need of the
pension, who cannot maintain themselves and who legally have the
right to eliminate the lack of food, clothing, leisure, education, etc. in
addition, restorative justice is a very quick form with much lower costs
and with a considerable possibility of compliance by those obliged to
pay, since they were the ones who stipulated the agreement.
Keywords: Food. Family right. restorative justice. Conflict resolution.

1 INTRODUÇÃO

Dos séculos XV a XVIII, a expansão marítima ditava o ritmo da


disputa por território e da corrida em busca de matérias-primas pre-
ciosas. Nos dias atuais, os grandes conflitos são ditados pela busca
de poder bélico, nuclear e pela busca desenfreada do monopólio de
mercado. O interesse por uma forma de controlar esses conflitos é,
sem dúvida, um dos maiores desafios da humanidade. Conseguir im-
por disciplina, educação e senso social nos indivíduos não é algo fácil.
Como ferramenta auxiliar de educação social, as normas de
conduta ditam como devem ser as ações de um indivíduo dentro de
um determinado grupo. Quando transformadas em leis, essas regras
ganham o auxílio de castigo para aqueles que as infringem, dando ao
transgressor a sua devida punição como forma de reparação da infra-
ção cometida.
A justiça restaurativa possibilita uma solução pacífica entre
acusado e vítima, com intermédio jurídico de alguém especializado,
treinado para fazer a mediação entre as partes de forma imparcial e
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 494

justa. Para Sposato e Silva (2018) a justiça restaurativa centra o seu


foco, no contexto geral do problema, possibilitando um caminho que
proporcione a pacificação do conflito, sem se desfazer do princípio de
reparação do dano cometido. Dessa forma, esse processo facilita tan-
to a desburocratização do problema quanto eleva as possibilidades de
ressocialização do indivíduo infrator.
Trazendo esta modalidade de justiça para o âmbito do Direito de
Família, pode-se destacar sua aplicação nos mais diversos seguimen-
tos de conflitos familiares como, por exemplo, no que tange a divórcios,
disputas de guarda, pensão alimentícia, entre outros e tem o intuito de,
através de técnicas como a mediação, a negociação colaborativa e o di-
álogo restaurativo, promover o consenso e a cooperação entre as par-
tes envolvidas a fim de encontrar soluções que atendam os interesses
de todos, especialmente quando há crianças envolvidas no processo.
Este trabalho, portanto, tem como problema de pesquisa: quais
as potencialidades e os desafios das políticas de pacificação sobre
a pensão alimentícia na justiça restaurativa? Para responder a esta
questão, tem-se como objetivo geral investigar sobre as potencialida-
des e desafios das políticas de pacificação sobre a pensão alimentí-
cia. Para isso, adotou-se como procedimento metodológico a pesqui-
sa exploratória documental e bibliográfica, com embasamento em ar-
tigos eletrônicos, livros, publicações, jornais, documentos virtuais, re-
vistas, regulamentos e legislações específicas. E no que se refere à
abordagem foi a, qualitativa (GIL, 2017).
Por fim, escolheu-se o referido tema porque a justiça restaura-
tiva, além de sua celeridade e eficácia, é uma ferramenta judicial de
grande valia, haja vista que, de sobremaneira, busca satisfazer todos
os envolvidos na lide buscando responsabilizar de forma ativa todos
os que colaboravam para a incidência do evento danoso, alcançando
um equilíbrio de poder entre ofensor e vítima.

2 PUNIÇÃO E A AUSÊNCIA DE EFICIÊNCIA DO SISTEMA PUNITIVO

No contexto geral, a punição na sociedade brasileira dar-se-


-á através da pena, ato em que se retira da sociedade o infrator, des-
vinculando-o do convívio social, por este representar algum risco diá-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 495

rio de se relacionar com outras pessoas. Em sua etimologia a palavra


pena, deriva do grego e possui seu significado atrelado a quantia paga
em dinheiro por um delito cometido.
Damásio de Jesus (2015) conceitua pena como sendo a san-
ção imposta pelo Estado, através de ação penal define que, para quem
comete algum delito como forma e punição sobre a sua atitude, trata-
-se da redução de um bem jurídico, com a finalidade de prevenir o co-
metimento de novos delitos, pois é dever do estado garantir os direitos
e deveres dos cidadãos, bem como, definir suas punições quando ne-
cessário, colocando base jurídica à legislação.
É interessante citar o que foi falado por Galli (2022), o qual sin-
tetizou bem as mudanças e as atualizações ocorridas, no decorrer dos
anos, no que se refere aos moldes de aprisionamento:

Gradualmente, o sistema prisional brasileiro passou por


diversas alterações conceituais, estruturais legislativas
até os dias atuais. Entre essas mudanças, destacam-
-se o Código Penitenciário da República de 1935, Códi-
go Penal Brasileiro de 1940, Lei de Execução Penal (Lei
N° 7.210/1984) e a própria Constituição Federal de 1988,
que incorporou aspectos ligados aos direitos humanos.
As legislações acerca do tema foram alteradas continua-
mente, sempre se adequando à ideologia preponderante
da época (GALLI, 2022, online).

O principal objetivo do sistema prisional do Brasil, indubitavel-


mente, é a punição da criminalidade e a ressocilização. Dessa manei-
ra, é de responsabilidade do Estado o combate aos crimes, distancian-
do o criminoso do meio da sociedade. Em outros termos, retirando de-
les a liberdade, para que assim o mesmo deixe de constituir um risco
aos cidadãos (MACHADO; GUIMARÃES, 2014).
Conforme Silva (2017), mesmo com os avanços constantes,
na preocupação humanitária do detento, nota-se que os sistemas pe-
nais se desenvolveram, porém não o suficiente para suprir a deman-
da da população. Fora isso, entre os diversos problemas que o siste-
ma apresenta, o principal de todos é a superlotação das penitenciá-
rias, haja vista que o Brasil possui ainda um dos maiores volumes po-
pulacional carcerário.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 496

O Estado pátrio tem o dever de cumprir as normas previstas,


em lei, para a devida concretização da pena pelo condenado, focan-
do na Lei de Execução Penal nº 7.210/1984. Aludido diploma legal en-
tra em ação depois de excedida todas as chances de recursos contra
a sentença que determinou a condenação penal, sendo iniciada a eta-
pa de execução da pena dentro do processo.
Observando os dados sobre o volume carcerário, é possível
notar que o sistema retributivo do Direito Penal em querer punir so-
mente os condenados está obtendo êxito. Todavia, este não é o propó-
sito do sistema como um todo. O reeducando deve cumprir sua pena
definida em sentença, porém sob as condições mínimas de seguran-
ça, saúde, dentre outras garantias preconizadas nos direitos funda-
mentais da Carta Magna.
Ir além da quantidade de detentos, numa cela, não objetiva a
proibição e a prevenção de novos delitos, mas concede margem aos
criminosos para se articularem e se organizarem para praticar novos
crimes. Em uma pesquisa realizada por Velasco e et al., G1 e Globo-
News (2019), está explicado que:

A situação nas principais unidades se agrava. No Com-


plexo do Curado, formado por três presídios, é comum
vir detento amolando facões, consumindo drogas e falan-
do ao celular. No presídio de Igarassu, na região metro-
politana do Recife, presos dividem o espaço amontoados
uns sobre os outros. O cheiro de urina é forte.

O Estado não pode querer reduzir a criminalidade da nação so-


mente sujeitando os infratores à exposição das condições ofertadas
pelo sistema penitenciário. A solução não é colocar estes indivíduos,
nas ruas, novamente, sem o cumprimento devido da pena, porém apli-
car medidas. Isso porque a exposição destas, ao que o governo está
ofertando apenas aumenta a falta de dignidade e consequente revolta
dos presos, o que provoca maior índice de reincidência.
Frente a isso, indaga-se: como o Estado de maneira tão escanca-
rada não obedece aos direitos fundamentais estabelecidos, na Carta Mag-
na, sendo que a mesma é a maior aplicadora das normas de regulamen-
to? Seguindo essa linha de pensamento, Sarlet (2012, p. 14) aduz que:
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 497

[...] onde não houver respeito pela vida e pela integrida-


de física e moral do ser humano, onde as condições míni-
mas para uma existência digna não forem asseguradas,
onde não houver limitação do poder, enfim, onde a liber-
dade e a autonomia, a igualdade (em direitos e dignida-
de) e os direitos fundamentais não forem reconhecidos
e minimamente assegurados, não haverá espaço para a
dignidade humana e esta (pessoa), por sua vez, pode-
rá não passar de mero objeto de arbítrio e injustiças. [...].

3 JUSTIÇA RETRIBUTIVA VERSUS JUSTIÇA RESTAURATIVA

Analisando a história do sistema prisional do Brasil e os pro-


blemas os quais existem, é possível concluir que a forte judicialização
dos conflitos e o caráter, fortemente, punitivo típico da justiça retribu-
tiva têm impedido o sistema de atingir seu objetivo de conceder maior
segurança à sociedade e regenerar os infratores para a vida social.
Nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça (2018) comenta
que “O sistema de justiça tradicional, centrado, na sanção e na análise
da culpa, deixa de lado o senso de responsabilidade e reparação, des-
de que não ouça, não considere a vítima, nem procura dar sentido à
sanção do infrator, acima de qualquer vontade dos envolvidos, que de-
sempenham um papel secundário no desenvolvimento do processo”.
Assim a justiça retributiva tem como foco o positivismo penal,
onde a ação penal é essencial e a punição tem caráter coercitivo. Nes-
se sistema, a ressocialização fica em segundo plano com os interes-
ses de resolução de conflitos, pois o objetivo principal é culpar e punir.
O aspeto negativo do sistema retributivo é a insatisfação da ví-
tima e do agressor com os resultados das ações penais, bem como
da sociedade como um todo. Fato é que os sujeitos envolvidos não
saem satisfeitos com o resultado do processo criminal. Enquanto a ví-
tima não possui seus anseios nem seus sentimentos considerados e
nem mesmo participa ativamente do processo que o infrator recebe.
Desapegando das teorias tradicionais do ordenamento jurídico
e buscando enxergar outras eventualidades de se fazer justiça, utili-
zam-se métodos interdisciplinares para embasar possíveis mediações
entre as partes envolvidas como forma de facilitar o processo de reso-
lução jurídica de conflitos. Em relação ao mediador, Warat (2004), dis-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 498

serta que ao longo do processo o conflito passa por diversas altera-


ções e que essas modificações de contexto podem facilitar ou não o
processo de resolução do problema.
Nesse mesmo sentido, Cappelletti e Garth (1988), caracteri-
zam a justiça como sendo uma “terceira onda”, que corre paralelamen-
te com outras duas: assistências jurídicas e a defesa dos direitos di-
fusos. De modo geral, o que todos procuram é uma solução sistémi-
ca para o problema com o intuito de garantir que a justiça seja feita.
Embasados por esse pensamento Sposato e Silva (2018) en-
fatizam que a mediação de conflitos e a justiça restaurativa possibili-
tam a realização da solução do conflito de modo que seja alcançado
um equilíbrio entre a primeira, segunda e a terceira onda, metaforica-
mente, falando.
O sistema de justiça restaurativa compreende o crime como
sendo uma transgressão a pessoas e relações. O pensamento restau-
rativo trata a infração de forma mais holística, compreendendo todo o
contexto ético, étnico-social que cercam o acontecido Zehr (2018). As
práticas restaurativas afloram na sociedade brasileira, sendo experi-
mentadas, em nosso país, há quase duas décadas.
Segundo Cardoso Neto (2018), as primeiras utilizações des-
sas práticas no Brasil, tem origem na esfera escolar do Projeto Jun-
diaí, que visava solucionar problemas de ordem disciplinar. No entan-
to, sua potencialização ganhou força após a implantação da Secreta-
ria da Reforma do Judiciário no ano de 2002, através do Ministério da
Justiça, que o viés restaurativo realçou a aplicação dessa política prin-
cipalmente nas áreas criminal e infracional.
No que diz respeito ao Poder Judiciário brasileiro, os primeiros
testes dessas políticas surgem em projetos-piloto em Brasília/DF, Por-
to Alegre/RS e São Caetano do Sul/SP realizados em parceria com o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Sen-
do que um desses programas foram implantados nas varas da infân-
cia e da juventude obtendo grande êxito na solução dos conflitos.
As Resoluções nº 125 e nº 225 do Conselho Nacional de Justi-
ça (CNJ), que discorrem sobre procedimentos adequados para as dis-
córdias de interesse no âmbito do judiciário, bem como sobre a Polí-
tica Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 499

São enfatizadas pela Lei nº 12.594/2012 que institui o Sistema Nacio-


nal de Atendimento Socioeducativo (SINASE), que fora na época mar-
co histórico para a justiça restaurativa no Brasil.
A família constitui a célula das relações sociais, é através dela
que o ser humano se constrói, de maneira que, quando se afetam as
referidas relações, é atingida a comunidade como um todo. Quando a
família e o ser humano tem o poder de decidir acerca de sua própria
vida e, concomitantemente, saber como aquela situação vai impactar
a vida do seu semelhante, sem dúvida alguma, haverá mais prudên-
cia nas suas escolhas.
De tal maneira, as concretas necessidades das partes, dentro
do caso real, podem ser supridas de forma mais efetiva, o que inten-
sifica a probabilidade de desaparecimento da lide e, até pode, quem
sabe, viabilizar o restabelecimento dos elos afetivos até então rompi-
dos. Ou seja, certamente, mais amplo e eficiente diante do que se ve-
rifica nas decisões convencionais, nas quais se tem sempre um per-
dedor e um ganhador.

4 JUSTIÇA RESTAURATIVA APLICADA NO ÂMBITO DO ESTATU-


TO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)

Um dos processos aplicados, na justiça restaurativa, é a me-


diação entre vítima e infrator, que recebe também a denominação Me-
diação Vítima Ofensor Comunidade (MVO). É cabível enfatizar que
este modelo não deseja a substituição do modelo penal retributivo,
tendo em vista que esta ferramenta está focada, na complementação
do ordenamento processual penal, para que em específicas circuns-
tâncias, possa propiciar efetividade maior ao jurisdicionado.
A gestão do conflito trata-se de identificá-lo, entendê-lo, inter-
pretá-lo e usá-lo para benefício de cada indivíduo, das famílias, dos
conjuntos sociais, das organizações e, enfim, da sociedade de modo
geral (FIORELLI; FIORELLI; MALHADAS JUNIOR, 2008).
A procura pelo consenso tem por objeto, no primeiro passo, a
ser dado antes de seguir, pelo caminho das soluções heterocomposi-
tivas, que na maior parte dos casos são mais complexas e caras. Os
mecanismos de autocomposição estimulando e facilitando a conver-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 500

sa não somente entre as partes, porém entre os envolvidos, na lide,


como um todo, procurando-se a pacificação social efetiva do conflito.
A justiça restaurativa objetiva a integração dos sujeitos, isto é,
que todas as pessoas possam viver, em sociedade, interligadas de al-
guma maneira, como se estivessem em um grande círculo, cada qual
com a sua individualidade, porém apresentando a mesma relevância
para o desenvolvimento do todo e diretamente influenciando os rumos
da coletividade.
Portanto, não é possível a exclusão de qualquer indivíduo, do
círculo social, quando surge um conflito, mas convém desenvolver as
responsabilidades individuais e coletivas para que ele retorne à convi-
vência comunitária da melhor maneira possível.
Com base na premissa citada acima, o doutrinador André Gom-
ma de Azevedo (2009) ensina que as políticas públicas direcionadas
para a comunidade infantojuvenil devem focar, em um processo de es-
cuta ativa, levando em conta o contexto no qual estes jovens estão in-
cluídos socialmente, procurando informações para a sua plena imple-
mentação e, por consequência, buscando suprir as necessidades e o
melhor interesse da criança e do adolescente em sua formação mate-
rial e pessoal, conforme está preconizado no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).
Visando, portanto, garantir o melhor interesse de crianças e
adolescentes, existe um movimento de enrijecimento das práticas
consensuais de conflito, sobretudo, na seara pré-processual e infor-
mal, como feedback da sociedade à crise que se dissemina, no Poder
Judiciário, com sua falta de capacidade de suprir as demandas que
cada dia crescem mais. Sendo assim, o Poder Judiciário dá prioridade
cada vez mais aos métodos autocompositivos da resolução de lides,
objetivando uma justiça com menos formalidade, mas menos onero-
sa e mais eficiente.
O próprio Código de Processo Civil de 2015 (Lei nº 13.105/2015),
conhecida como Lei de Mediação, traz em seu bojo uma gama de indi-
cações nesse sentido como o conciliador e o mediador sendo auxilia-
res da justiça, conforme está previsto no artigo 149 do Código de Pro-
cesso Civil (CPC) e a criação de centros judiciários de solução con-
sensual de conflitos, segundo o artigo 165 também do CPC. A Lei de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 501

Mediação e o Novo Código de Processo Civil (NCPC) prestigiaram a


consensualização no campo do Poder Judiciário, prevista com o Movi-
mento pela Conciliação e com a Resolução nº 125/10 do CNJ.
A justiça restaurativa traz uma verdadeira transformação de pa-
radigma no que se refere ao modelo retributivo, sendo que este tem
como enfoque os danos e as consequentes necessidades, tanto da ví-
tima quanto da comunidade e ainda do infrator. Ela trata das obriga-
ções oriundas de tais prejuízos de cunho moral e material decorren-
tes dos conflitos em questão. Para isso, vale-se de procedimentos co-
operativos e inclusivos, nos quais serão envolvidos todos aqueles atin-
gidos direta ou indiretamente, de maneira a corrigir os caminhos que
vierem a surgir de forma errada (ZEHR, 2008).
Enfim, a justiça restaurativa procura a retomada de valores de
justiça e ética em todas as dimensões de convivência (institucional, re-
lacional e social), com base em uma série de ações, em três distintos
focos, devidamente coordenados e interligados pelos princípios co-
muns da humanidade, da reflexão, da compreensão, da construção
de atitudes novas, da corresponsabilidade, da paz e do atendimento
de necessidades.

5 PENSÃO ALIMENTÍCIA E JUSTIÇA RESTAURATIVA NO DIREI-


TO DE FAMÍLIA

A obrigação de prestar alimentos tem relação com a satisfação


de uma necessidade básica daquele que não tem condições de prover o
seu sustento por seus esforços próprios. Engloba não apenas os alimen-
tos propriamente ditos, fundamentais para a subsistência, mas ainda ou-
tros meios imprescindíveis para que o necessitado possa viver com digni-
dade, inserindo, portanto, assistência à educação, à moradia, ao lazer, ao
vestuário, à assistência médica e outras áreas que englobam a vida coti-
diana, segundo está preceituado no artigo 1.694 do Código Civil.
Conforme Cahali (2007), a obrigação alimentar aparece em ra-
zão de uma causa jurídica prevista, no ordenamento jurídico, a qual
compromete o responsável a fornecer os alimentos devidos àquele
que o necessite efetivamente. Em outros termos, faz alusão a uma
contribuição periódica garantida para aquele que por intermédio de um
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 502

título de direito, pode requerê-lo de outrem, sob a alegação de consis-


tir numa condição basilar para o seu desenvolvimento moral, físico e
social, em conformidade com cada situação fática.
A obrigação de prestação de alimentos a outrem é preconiza-
da, legalmente, no Código Civil, com amparo da Constituição Fede-
ral, que expressamente prevê, no artigo 229, a solidariedade familiar,
prevendo que haja entre os parentes de maior proximidade uma aju-
da mútua em prol de satisfazer as suas necessidades vitais, tanto dos
pais como para com a prole, assim como da obrigação destes com
seus genitores, na carência, velhice ou doença.
Caracteriza-se como uma subsistência necessária para possuir
condições dignas como preconizado no artigo 1º da Carta Maior e por
alguma razão a pessoa que está demandando o processo procurou
para adquirir esses direitos. Em geral, as hipóteses nas quais se movi-
mentam um processo referente a essa questão é na relação de pais e
filhos, onde as mães se dirigem ao Poder Judiciário para fazer com que
o polo passivo da ação colabore na formação e sustento da criança. O
juiz fará a avaliação do caso, que poderá julgar procedente, haja vis-
ta que se procura uma relação pessoal, como prevê o artigo nº 1.694:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou compa-


nheiros pedir uns aos outros os alimentos de que neces-
sitem para viver de modo compatível com a sua condi-
ção social, inclusive para atender às necessidades de
sua educação. § 1º Os alimentos devem ser fixados na
proporção das necessidades do reclamante e dos recur-
sos da pessoa obrigada. § 2º Os alimentos serão apenas
os indispensáveis à subsistência, quando a situação de
necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia (BRA-
SIL, 2002, online).

Aqui, trata-se não somente do sustento, como ainda de habita-


ção, vestuário, assistência médica em situação de enfermidade. En-
fim, de todo o necessário para suprir as suas necessidades da vida e,
quando se trata de criança em especial, engloba o que for necessário
para sua instrução.
A justiça restaurativa, no enfoque da pensão alimentícia, pode
ser aplicada ao estimular as partes envolvidas para que haja um diá-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 503

logo em busca de um acordo que seja justo e sustentável a longo pra-


zo, tendo em vista que essa pensão é legalmente obrigatória e deve
ser cumprida pelos pais da(s) criança(s) envolvida(s). Assim sendo, a
abordagem restaurativa torna-se importante no que se refere a ajudar
a tornar o processo de pagamento da pensão alimentícia mais colabo-
rativo e menos conflituoso.
Porém, mesmo diante de grandes vantagens, existem alguns
desafios que devem ser superados para que essa prática seja mais
acessível e efetiva, tais como a falta de conscientização, de recursos,
de participação das partes envolvidas e a ausência de suporte institu-
cional que, para superar tais dificuldades, torna-se essencial determi-
nado esforço entre os poderes judiciário, executivo e legislativo, bem
como a colaboração de organizações não governamentais e de comu-
nidades locais.
A pensão alimentícia deve ter como finalidade, em primeira ins-
tância, atender as necessidades do menor. Não apenas em valores
que auxiliem na manutenção, haja vista que a criação de um filho per-
passa o pagamento de valor estipulado pelo juiz ou mesmo num acor-
do firmado pelas partes, devendo alcançar ainda, o trabalho, a parti-
lha dos deveres. Obviamente, tudo isso dentro das possibilidades, das
condições que este pode custear.
Portanto, a diferença da justiça restauradora e do processo ju-
dicial no que tange à fixação de alimentos está, na chance achada pe-
las partes em avaliar, discutir e aprovar os valores solicitados e indica-
dos. Entretanto, isto não está presente no processo de direito em ra-
zão do cálculo a ser fixado e o valor estipulado. Na justiça restaurado-
ra é possível analisar a verdadeira situação de cada parte com possi-
bilidade de debate das realidades as suas voltas.
É possível, no processo mediador, um debate entre o ex-côn-
juge para buscar a facilitação das resoluções finais. É necessário sa-
lientar que o orçamento discriminado pelos cônjuges passa pela ava-
liação, debate e devida aprovação do outro no processo de mediação.
Isso não ocorre, no sistema adversarial, no qual o cálculo é “percentu-
almente frio.” (SERPA, 1999, p. 60).
Apenas os sujeitos interessados, no bem estar do alimentan-
do, possuem condições reais de analisar a situação para se alcançar
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 504

a justiça, levando em conta os valores dados aos menores no decorrer


da criação. Isso porque é considerada “fria” a estipulação média defi-
nida nos tribunais. Os pais são as pessoas que têm a maior responsa-
bilidade e interesse em perceber, na íntegra, as concretas necessida-
des do menor delineando tais percentuais.
São os pais que sabem com que valores e como seus filhos fo-
ram criados até então, quais são as prioridades da prole, em quais ba-
ses estão estabelecidas a formação de seus filhos. O acordo celebra-
do é que irá fixar a forma mais justa e correta que é necessária para
criança e adolescente. Isso sem ignorar também que, é por intermé-
dio de uma fixação onde prevalece a paz que os sentimentos do me-
nor serão preservados plenamente.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema “infância e juventude”, levando em consideração o en-


foque jurídico, consiste em um tema complexo, em razão das singula-
ridades atreladas à matéria. Todavia, demanda uma visão bem mais
social do que positivista bem como exige uma análise diferenciada de
como se deve lidar com esse público em situações de lide com a lei ou
em situação de vulnerabilidade.
No que se refere às ponderações quanto à participação de
crianças e adolescentes nos processos de mediação, a Lei de Media-
ção (Lei nº 13.140/2015) e a Resolução nº 125/10 do CNJ procuram
proporcionar um deslinde melhor dos conflitos por intermédio da au-
tocomposição.
Portanto, na condição de política pública, a justiça retributiva
compreende que tanto crianças quanto adolescentes têm plena ca-
pacidade de enfrentar as lides, por meio do uso das adequadas fer-
ramentas e técnicas, com base naquele microssistema social no qual
estão incluídos, com o amparo da família e da comunidade.
Trata-se, portanto, de tutelar os interesses de cada um, base-
ando-se no necessário equilíbrio ao procedimento de mediação ratifi-
cando com base na subjetividade e na cultura da paz da comunidade
em geral, dando emponderamento aos jovens, crianças e adultos, de
forma a revitalizar e solidificar os laços que existem.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 505

Quando um juiz concede uma sentença dentro do processo con-


vencional, pode até, de alguma maneira, atender os anseios de uma das
partes. Todavia, sem que se adentre nas causas de caráter primário que
deram origem ao conflito, originará somente uma solução “aparente”, com
sérias perspectivas de retorno das partes às salas do Poder Judiciário.
Para Warat (2018), em um mundo onde as pessoas continuam
sendo “iguais”, os problemas solucionados são, de forma rápida, subs-
tituídos por novos. Afinal, nada foi alterado, fundamentalmente, na for-
ma em que cada sujeito atua em relação aos outros.
Frisa-se que as famílias, Poder Público e comunidade são con-
vidados a ouvir e a entender as circunstâncias e as omissões que
atuaram como fatores de mudança para que a transgressão viesse a
ocorrer, assumindo portanto, a sua corresponsabilidade e, dessa for-
ma, assegurando suporte para a construção de caminhos e de reali-
dades novas, tanto para aqueles indivíduos implicados, no caso em
si, como para diversas outras pessoas que convivem no meio social.
Tudo com vistas à promoção da conscientização e responsabilização
como pontos orientadores para outra cultura de convivência e pela
procura da necessária pacificação social.
Esse paradigma novo, proposto pelos considerados “métodos
alternativos”, caso sejam colocados em prática de maneira correta,
podem satisfazer as duas partes. Isso porque o principal objetivo é in-
tegrá-las ao processo, fazendo com que as mesmas participem da de-
cisão final, conscientizando os membros do conflito de suas obriga-
ções em relação aos fatos provocados da lide, assim como das benes-
ses de um acordo, de uma decisão tomada conjuntamente.
Portanto, no que se refere às necessidades básicas do alimen-
tando não serão atendidas se o devedor estiver encarcerado. A pri-
são caracterizaria uma maneira de punir o devedor por não ter pagado
o que devia ao necessitado, mas não seria uma coerção a pagar. To-
davia, este não é o cunho desta prisão. Por causa disso é fundamen-
tal que sejam divulgadas as vantagens do sistema mediador (justiça
restaurativa), especialmente nas questões que envolvem família, nas
quais os interesses psicológicos estão envolvidos.
No Direito de Família, é preciso que haja diálogo entre as par-
tes, haja vista que os problemas não se situam em questões, mera-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 506

mente, expostas nas peças judiciais, mas no implícito sentido de que


os relacionamentos passados carregam. O que acontece são rígidas
posições em razão de mágoas e relacionamentos mal solucionados.
Para finalizar, pode-se concluir que a justiça restaurativa, apli-
cada às lides de família, pode produzir a minimização dos danos
ocasionados pelos imbróglios, uma vez que seus resultados apre-
sentam mais efetividade, bem como pode tornar os pleitos judiciais
mais breves, atendendo de forma mais plena aos anseios das par-
tes. Além do grande mérito de propagação a cultura fundamentada
no respeito, igualdade entre as partes, objetivando chegar a tão de-
sejada paz social.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 509

CAPÍTULO 37

LIBERDADE DE EXPRESSÃO E SEUS LIMITES


NO BRASIL: UMA ANÁLISE DOS CASOS DANIEL
SILVEIRA E ROBERTO JEFFERSON (2021-2022)

FREEDOM OF EXPRESSION IN CURRENT BRAZIL


AND ITS LIMITS: AN ANALYSIS OF THE DANIEL
SILVEIRA AND ROBERTO JEFFERSON CASES (2021-2022)

Carlos Eduardo Moraes de Meneses


Estudante de Direito do IX período na faculdade
Christus Faculdade do Piauí (CHRISFAPI),
natural de Barras (PI), com endereço
eletrônico em kadu.maverick15@gmail.com

Rômulo Oliveira Paz


Estudante de Direito do IX período na faculdade
Christus Faculdade do Piauí (CHRISFAPI),
natural de Campo Maior (PI), com endereço
eletrônico em professor_romulo83@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar a aplicação da lei nos
chamados crimes contra a ordem democrática e o Estado Democráti-
co de Direito, e seus impactos na opinião sobre a temática da liberda-
de de expressão e de pensamento no Brasil atual. Para tanto, será re-
alizado um estudo nos casos envolvendo as prisões dos políticos Da-
niel Silveira e Roberto Jefferson, entre os anos de 2021 e 2022, am-
bos, acusados e condenados por crimes contra a democracia, no país.
Ao final, busca-se uma compreensão de como a legislação brasileira
regula o tema e como o poder judiciário tem atuado recentemente nes-
tas questões.
Palavras-Chave: Liberdade de expressão, Democracia, Crimes con-
tra o Estado Democrático de Direito, Daniel Silveira, Roberto Jefferson.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 510

ABSTRACT
This article aims to analyze the application of the law in the so-called
crimes against the democratic order and the Democratic State of Law,
and its impacts on the opinion on the theme of freedom of expression
and thought in Brazil today. To this end, a study will be carried out in cas-
es involving the arrests of politicians Daniel Silveira and Roberto Jeffer-
son, between the years 2021 and 2022, both accused and convicted of
crimes against democracy in the country. In the end, an understanding
is sought of how Brazilian legislation regulates the subject and how the
judiciary has recently acted on these issues.
Keywords: Freedom of expression, Democracy, Crimes against the
Democratic Rule of Law, Legislation, Daniel Silveira, Roberto Jefferson.

INTRODUÇÃO

A liberdade de expressão e de pensamento é um dos pilares


fundamentais da democracia e dos direitos humanos. Ela está as-
segurada na Constituição Federal de 1988, que prevê o direito de ex-
pressar livremente opiniões, ideias e informações, sem censura ou re-
pressão por parte de nenhum poder. No entanto, essa liberdade não é
absoluta e pode ser limitada em casos de abuso ou desrespeito a ou-
tros direitos fundamentais.
No contexto brasileiro, os crimes contra a democracia podem
ser entendidos como atos que visam minar ou impedir o funciona-
mento de instituições democráticas, como: o sistema eleitoral, o judi-
ciário, o congresso e o governo. Esses crimes podem incluir atos de
violência física, ameaças, intimidação, corrupção, difamação e ou-
tros tipos de atos ilegais destinados a desestabilizar a ordem demo-
crática.
Até 1º de setembro de 2021 vigorava a intitulada Lei de Segu-
rança Nacional (Lei nº 7.170/1983), que dispunha sobre os crimes e
os processos envolvendo a segurança nacional, a ordem política e so-
cial do país. Porém, este conjunto de regras foi revogado com a publi-
cação da Lei nº 14.197/2021, que instituiu no Código Penal a tipifica-
ção dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, além de
promover outras alterações.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 511

Desse modo, é possível perceber que a liberdade de expres-


são não é um escudo para a prática de crimes contra a ordem demo-
crática, evidenciando a existência de um fundamental balanceamen-
to entre a garantia da liberdade de expressão e o combate aos crimes
que ameaçam a estabilidade das instituições democráticas no Brasil.
Diante de tal pressuposto, recentemente, entre os anos de 2021
e 2022, o Brasil foi palco de tensão e polêmica, envolvendo a prisão e
condenação de dois políticos brasileiros, acusados de praticar crimes
contra a ordem democrática. É o caso das prisões do deputado federal
Daniel Silveira, e do ex-deputado federal Roberto Jefferson. Ambas ge-
raram muita repercussão e dividiram opiniões. De um lado, há quem de-
fenda que as prisões foram necessárias para garantir e preservar a or-
dem democrática brasileira. Por outro, há quem argumente que as res-
pectivas prisões configuram uma violação à liberdade de expressão e
uma tentativa de censura por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).
Destarte, os casos Daniel Silveira e Roberto Jefferson reve-
lam uma tensão recente entre os poderes no Brasil, além de demons-
trar uma certa fragilidade dentro das instituições democráticas atuais.
Neste presente trabalho, buscou-se compreender, a partir do
estudo dos casos Daniel Silveira e Roberto Jefferson, como a justiça
brasileira tem interpretado os chamados crimes contra a ordem demo-
crática e como a legislação tem sido aplicada nestas situações.
Ao final, espera-se contribuir para um debate mais amplo e
consciente sobre essa temática, a fim de trazer relevantes contribui-
ções acerca da atual ideia de proteção da democracia e da liberdade
de expressão de todos os cidadãos brasileiros.
Por se tratar de um assunto recente e peculiar do cenário brasi-
leiro, verificou-se certa carência na abordagem desse tema pela litera-
tura. Por esta razão, os procedimentos metodológicos adotados para
embasar a presente pesquisa foram a revisão bibliográfica por meio
de artigos científicos, monografias, notícias jornalísticas, sites jurídi-
cos, sites institucionais, legislação pertinentes ao assunto, julgados do
STF, dentre outras fontes documentais.
Acerca da pesquisa bibliográfica, João José Saraiva da Fonse-
ca, afirma que:

“A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamen-


to de referências teóricas já analisadas, e publicadas por
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 512

meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos cientí-


ficos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico
inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao
pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o as-
sunto. Existem, porém pesquisas científicas que se ba-
seiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando
referências teóricas publicadas com o objetivo de reco-
lher informações ou conhecimentos prévios sobre o pro-
blema a respeito do qual se procura a resposta” (FONSE-
CA, 2002, p. 32).

Assim, em um primeiro momento deste trabalho, realizou-se


uma sinopse do todo, apontando as suas hipóteses e seus objetivos.
Na sequência, buscou-se a realização de uma análise acerca da te-
mática da liberdade de expressão e de como a Constituição Federal
garante a proteção do Estado Democrático de Direito, no Brasil. A se-
guir, foram trazidos os principais códigos que dispõem sobre os cri-
mes contra a ordem constitucional e o Estado Democrático de Direito,
na legislação brasileira. E, por último, analisou-se, de forma específi-
ca, os principais fatos que envolveram os casos dos políticos Daniel
Silveira e Roberto Jefferson, acusados e, posteriormente, condenados
por crimes contra a ordem democrática.
O trabalho encerrou-se com as considerações finais, onde fo-
ram retomadas as principais abordagens desenvolvidas nesta pesqui-
sa, fazendo-se uma reflexão acerca do paradoxo existente entre a ga-
rantia constitucional da liberdade de expressão e de pensamento, face
aos limites impostos, visando a garantia da ordem democrática, per-
sonificados no contexto dos casos Daniel Silveira e Roberto Jefferson
abordados na presente pesquisa.
Por fim, concluiu-se neste trabalho que a defesa da liberda-
de de expressão e da democracia não deve ser encarada como uma
questão de ideologia ou partidarismo, mas sim como uma preocupa-
ção comum a todos os cidadãos, compreendendo-se que é fundamen-
tal garantir que a liberdade de expressão seja exercida de forma res-
ponsável e respeitosa, sem prejudicar os valores democráticos e a so-
ciedade, como um todo.
Portanto, espera-se que esta análise possa contribuir para um
bom debate público e para uma reflexão mais crítica e oportuna sobre
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 513

o papel da liberdade de expressão na construção de uma sociedade


mais justa e igualitária, pois a liberdade de expressão é uma das ba-
ses da democracia, que deve ser exercida de forma consciente e éti-
ca, levando em consideração os valores fundamentais da sociedade.

1 LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE


DIREITO NO BRASIL À LUZ DA CONSTITUIÇÃO DEFERAL DE 1988

O termo “liberdade de expressão” pode ser entendido, atual-


mente, como o direito de manifestação do pensamento, possibilitan-
do o indivíduo emitir suas opiniões, ideias ou expressar-se através de
atividades intelectuais, manifestações artísticas, culturais, científicas
e de comunicação, sem interferência ou eventual retaliação de qual-
quer poder.
A liberdade de expressão e de pensamento estão assegurados
no Brasil através do artigo 5º da Carta Constitucional, nos seus inci-
sos IV, VI e IX.
Da mesma forma, o artigo. 220 reitera o direito à liberdade de
expressão ao definir que “a manifestação do pensamento, a criação,
a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo
não sofrerão qualquer restrição” (BRASIL, 1988), sendo vedada toda
e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística, confor-
me aduz o parágrafo segundo deste artigo.
Como se percebe, a liberdade de pensamento e de expressão
no Brasil é uma garantia legal e tem sido um conceito que dá supor-
te para a própria existência da democracia, afastando a ideia de cen-
sura que marca os governos autoritários.
O Estado Democrático de Direito pode ser definido como um sis-
tema existente em um território caraterizado pela presença da sobera-
nia popular, pela elaboração de uma Constituição que respeite a sobe-
rania popular, onde ocorram eleições livres e periódicas, formando por
uma democracia consolidada que respeite a garantia dos direitos fun-
damentais humanos, e que esteja organizado em poderes autônomos,
harmônicos e independentes, que possam ser fiscalizados entre si.
O primeiro artigo reúne toda a essência democrática da Consti-
tuição Federal de 1988, além de abrigar em si a responsabilidade que
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 514

o Estado brasileiro deve ter com o seu povo, os quais sejam: garan-
tir a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa.
O segundo artigo traz a divisão do Estado brasileiro em três po-
deres, independentes e harmônicos entre si: o Legislativo, o Executi-
vo e o Judiciário.
O terceiro artigo mostra os objetivos fundamentais do Estado
brasileiro.
O artigo 14, da Constituição completa a consagração da sobe-
rania popular, estabelecendo a possibilidade das formas do seu exer-
cício, ao definir que “a soberania popular será exercida pelo sufrágio
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e,
nos termos da lei, mediante plebiscito, referendo e inciativa popular”
(BRASIL, 1988).
Portanto, a partir destes fragmentos, observamos que a liber-
dade de expressão é um direito fundamental assegurado constitucio-
nalmente no Brasil, funcionando como uma garantia básica para o res-
peito à dignidade humana individual e para o funcionamento da estru-
tura democrática do Estado.

2 DOS CRIMES CONTRA A ORDEM CONSTITUCIONAL E DOS


CRIMES CONTRA O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Visando estabelecer a proteção à democracia e as instituições


democráticas brasileiras, o legislador originário incluiu no artigo 5º da
Constituição Federal de 1988 o inciso XLIV, que condena veemente-
mente a ação de grupos armados, sejam civis ou militares, contra a or-
dem constitucional e democrática do país.
Observa-se que, ao estabelecer tal criminalização, fica eviden-
te a intenção de se tipificar claramente as condutas que atentem dire-
tamente contra a ordem estabelecida constitucionalmente.
Desde a promulgação da Constituição Cidadã, em 1988, es-
tava em vigor a Lei nº 7.170/1983 (Lei de Segurança Nacional), ela-
borada nos anos finais do regime militar. Contudo, passadas déca-
das de questionamentos acerca de sua legitimidade, somente no
dia 11 de agosto de 2021 foi aprovada pelo Senado Federal a PL nº
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 515

2108/21, originando a Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021. Lei


esta que trouxe novos dispositivos sobre delitos que atentam contra o
Estado democrático de Direito em seu sentido mais amplo, revogan-
do-se, como consequência, a chamada Lei de Segurança Nacional e
o Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contraven-
ções Penais).
Cumpre destacar que a publicação da aludida disposição acon-
teceu logo após a incidência de sucessivos ataques às instituições de-
mocráticas, que teve como consequência a decretação de prisões e
ameaça de prisões com base na antiga Lei nº 7.170/1983.
Neste cenário, a Lei nº 14.197/21 provocou relevante alteração
na parte especial do Código Penal Brasileiro, inserindo o Título XII, de-
nominado “Dos crimes contra o Estado Democrático de Direito”, tipifi-
cando os seguintes ilícitos: contra a soberania nacional (artigo 359-I);
atentado à integridade nacional (artigo 359-J); e espionagem (artigo
359-K); os crimes contra as instituições democráticas (abolição violen-
ta do Estado Democrático de Direito – artigo 359-L; e golpe de estado
– artigo 359-M); crimes contra o funcionamento das instituições demo-
cráticas no processo eleitoral (interrupção do processo eleitoral – arti-
go 359-N; violência política - artigo 359-P) e os crimes contra o funcio-
namento dos serviços essenciais (sabotagem – artigo 359-R); e, ain-
da, as disposições comuns (hipóteses que não constituem os crimes
contra o Estado Democrático de Direito – artigo 359-T).
Portanto, essas foram as principais disposições trazidas pela
Lei nº 14.197/2021, no contexto dos crimes contra a ordem democrá-
tica e o Estado Democrático de Direito.
Conforme se observa, a Lei nº 7.170/1983 (Lei de Segurança Na-
cional) teve o seu papel, e a Constituição Federal de 1988 e a Lei nº
14.197/2021 são, hoje, as principais bases de leis que garantem a ordem
democrática do país, existindo para que, as chamadas condutas antide-
mocráticas, possam, de fato, serem evitadas ou punidas, na forma da Lei.

3 CASO DEPUTADO DANIEL SILVEIRA: Da prisão ao perdão da pena

Conforme noticiou a Agência Câmara de Notícias, Xavier (2021),


no dia 16 de fevereiro de 2021, o Deputado Federal Daniel Lúcio da Sil-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 516

veira (PSL-RJ), foi preso em flagrante na cidade de Petrópolis-RJ, por


volta das 23h, após ter publicado vários vídeos na internet onde proferia
diversas falas polêmicas contra alguns dos Ministros do Supremo Tribu-
nal Federal (STF) além de fazer apologia ao Ato Institucional nº 5 (AI-
5) decreto mais duro, emitido pelo Governo Militar do Brasil, em 1968.
No Portal de Notícias PODER 3601 é possível verificar a trans-
crição completa das falas de Daniel Silveira acerca do tema.
A prisão do parlamentar, sem direito a fiança, foi expedida por
determinação do ministro Alexandre de Moraes, por meio do Inquérito
nº 4781/DF2, alegando que os atos cometidos pelo parlamentar esta-
vam configurados como crimes previstos no Código Processual Penal
Brasileiro e na Lei nº 7.170, de 14 de dezembro de 1983 (Segurança
de Segurança Nacional), revogada, somente em setembro de 2021,
pela Lei nº 14.197/2021.
Após sua prisão, Silveira foi levado à Superintendência da Polícia
Federal do Rio de Janeiro, onde aguardou decisão do plenário do Supre-
mo Tribunal Federal (STF) acerca da manutenção ou não de sua prisão.
Por unanimidade o plenário confirmou a decisão do ministro
Alexandre de Moraes, mantendo a prisão do parlamentar, sob o en-
tendimento de que os delitos contra a ordem democrática praticados
pelo acusado não estavam cobertos pela imunidade parlamentar. Em
19 de fevereiro, a Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro também
decidiu, por 364 votos a 130, pela manutenção da prisão em flagrante,
e sem fiança, do deputado.
Durante o tempo em que Silveira permaneceu preso preventi-
vamente a sua defesa impetrou com um total de 8 (oito) habeas cor-
pus, que foram negados pela maioria do plenário do Supremo Tribunal
Federal. Entretanto, em março de 2021, o parlamentar teve a sua pri-
são preventiva convertida para a domiciliar, com a aplicação de medi-
das cautelares, sendo uma delas do uso de tornozeleira eletrônica, por
meio do processo Pet. 9.4563, do STF.
1 PODER 360. Relembre o que levou Daniel Silveira a ser condenado pelo STF. Disponível
em: https://www.poder360.com.br/brasil/relembre-o-que-levou-daniel-silveira-a-ser-conde-
nado-pelo-stf/.
2 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O docu-
mento pode ser acessado pelo endereço: http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenti-
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3 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O docu-
mento pode ser acessado pelo endereço: http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenti-
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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 517

Em liberdade, Silveira se recusou a cumprir todas as medidas


cautelares determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, razão
pela qual deu causa ao seu retorno à prisão, conforme o entendimen-
to ministerial por meio de decisão4 contida na mesma Petição anterior.
Com a mesma determinação acima, o ministro Alexandre de
Moraes instaurou um inquérito a fim de apurar os supostos crimes de
desobediência praticados por parte de Silveira. Com isso, o ministro
Alexandre de Moraes impôs uma fiança no valor de R$ 100.000,00
(cem mil reais) que não foi paga por Silveira, o que declinou em sua
detenção preventiva, negando-lhe o restabelecimento da prisão domi-
ciliar, atribuindo-lhe a Ação Penal nº 1.044/DF5.
Diante da decisão, Silveira retornou ao Batalhão Prisional Es-
pecial da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro em 23 de junho
de 2021.
Destarte, a referida Ação Penal foi apresentada pelo Ministério
Público Federal e assinada pelo vice-procurador-geral da República
Humberto Jacques de Medeiros, seguindo ao STF.
Em razão das denúncias apresentadas pela Procuradoria-Ge-
ral da República (PGR), Ação Penal nº 1.044/DF, de relator o ministro
Alexandre de Moraes, em 20 de abril de 2022, Silveira foi condenado
de forma unânime, por 10 (dez) votos a 1 (um), provisoriamente, uma
vez que a sentença não fora executada de imediato, pois o réu teria a
possibilidade de recorrer ao STF em sessão plenária.
Nesse liame, diante de tal desfecho, cabe-nos concluir que,
para a maioria dos membros da Suprema Corte, os crimes atribuídos
a Silveira merecem uma condenação mais severa, em proporção a
gravidade das ações idealizadas pelo parlamentar. Portanto, a prisão
em regime fechado foi decretada por crime relacionado ao Estado De-
mocrático de Direito, art. 23, inciso IV, nos termos do art. 18 da antiga
Lei nº 7.170/1983, que tipifica os crimes contra a segurança nacional e
o art. 344 do Código Civil sobre violência ou ameaças graves.

4 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O docu-


mento pode ser acessado pelo endereço: http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenti-
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5 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O docu-
mento pode ser acessado pelo endereço: http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenti-
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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 518

Em virtude das denúncias oferecidas na Ação Penal nº 1.044/


DF, o então parlamentar Daniel Lúcio da Silveira foi condenado, em 20
de abril de 2022, pela Suprema Corte a pena final de 8 (oito) anos e 9
(nove) meses de reclusão, em regime inicial fechado, pagamento de
multa, além da suspensão dos direitos políticos do condenado, após o
trânsito em julgado.
Não obstante, no dia seguinte a condenação (21 de abril de 2022),
o então presidente da República Jair Messias Bolsonaro editou um decre-
to6 concedendo a Daniel Silveira um “perdão da pena”, benefício este am-
parado pela Constituição Federal, intitulado: “graça constitucional”, extin-
guindo a punibilidade de Silveira, nos termos do artigo 734 do Decreto-Lei
nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal.
Diante do feito, Silveira garantiu sua liberdade em relação aos
atos cometidos e julgados antidemocráticos pelo STF, entretanto, de
acordo com o disposto na Súmula 631 do Superior Tribunal de Jus-
tiça (BRASIL, STJ, 2019): “O indulto extingue os efeitos primários da
condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secun-
dários, penais ou extrapenais”.
No caso de Silveira, os efeitos primários era o cumprimento da
pena de oito anos e nove meses de prisão, inicialmente, em regime
fechado, que poderia ser absolvida pelo decreto. No entanto, como
os efeitos secundários ainda vigoravam, a exemplo da inelegibilidade,
esta continuou imposta ao parlamentar, além das demais consequên-
cias, mesmo com a concessão da graça constitucional.
Em suma, o caso Daniel Silveira foi considerado inédito no
país, por todo o seu desdobramento, iniciando-se com um processo
em foro privilegiado, culminando em um benefício presidencial conce-
dido a determinado indivíduo que acabara de ser condenado, tornan-
do incerta a validade jurídica do estatuto. O caso também causou po-
lêmica pelo fato de o documento presidencial ter sido publicado antes
mesmo da decisão final, ou seja, antes de esgotadas todas as possi-
bilidades de recurso judicial.
O caso Daniel Silveira seguiu com desdobramentos posterio-
res, que poderão ser abordados em trabalhos futuros.

6 Diário Oficial da União. Publicado em: 21/04/2022 | Edição: 75-D | Seção: 1 – Extra D | Pá-
gina1
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 519

4 CASO EX-DEPUTADO ROBERTO JEFFERSON: Reincidência

Na manhã do dia 13 de agosto de 2021 foi preso, preventiva-


mente o então presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson (ex-de-
putado federal do Rio de Janeiro), após determinação do ministro do
Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. A decisão7 atendeu
a um pedido da Polícia Federal em face de suposta participação do
político em uma organização criminosa digital responsável por atacar
os ministros da Corte e as instituições.
De acordo com o STF, antes de tomar a decisão, Moraes pe-
diu parecer da Procuradoria-Geral da República, no prazo de 24h, que
não se manifestou sobre o caso.
Além da prisão preventiva na cidade de Comendador Levy
Gasparian (RJ), o ministro também determinou a busca e apreen-
são de armas e munições de propriedade de Roberto Jefferson, bem
como de computadores, tablets, celulares e outros dispositivos ele-
trônicos, além do bloqueio de contas em redes sociais, tais como o
Twitter.
Assim, o que teria motivado a decisão de Moraes seriam as
várias declarações consideradas criminosas, postuladas pelo re-
presentado na internet, além da obtenção de conversas obtidas
pela Polícia Federal por meio da Operação Lume. Entre elas, se
destaca a do dia 12/05/2020, entre Roberto Jefferson e o empresá-
rio Otávio Oscar Fakhoury, semanas depois de manifestações an-
tidemocráticas ocorridas em Brasília. Na conversa por áudio, o po-
lítico informava que iria cobrar a demissão dos onze ministros do
STF em entrevistas à imprensa. Porém, o plebiscito seria pratica-
mente impossível, pois precisaria ter a aprovação do Congresso.
Jefferson, defendia, nos áudios, a cassação imediata de todas as
concessões de rádio e televisão da Rede Globo de Televisão, além
de um “ato institucional” contra o STF, como os do regime militar
(1964-1985), a exemplo do AI-5. No entanto, como o termo é ilegal,
Jefferson afirmava que não o mencionava diretamente para evitar

7 PET 9844/DF. Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de


24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço: http://www.stf.jus.br/por-
tal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 9A64-EDCF-7D73-8E0F e senha
6371-8BCB-CFAA-AE38
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 520

ser preso, conforme demonstrou a transcrição da conversa feita


pelo Portal de Notícias PODER 3608.
Anteriormente a esses fatos, um outro inquérito já havia sido
aberto, em abril de 2020, para apurar atitudes consideradas antide-
mocráticas, fundamentado na antiga Lei de Segurança Nacional, po-
rém, a PGR pediu o seu arquivamento, afirmando não encontrar indí-
cios suficientes para o prosseguimento do feito. Apesar de atender ao
pedido da PGR, Moraes determinou a instauração de outro inquérito,
com duração de 90 dias. Com essa decisão, o ministro encontrou uma
forma de prosseguir com a investigação acerca dos atos antidemocrá-
ticos, o que culminou, futuramente, na prisão de Roberto Jefferson.
Após sua prisão, no dia 13, Jefferson foi encaminhado para o
presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8, no
Complexo de Gericinó, onde permaneceu até o dia 24 de janeiro de
2022, quando da determinação da substituição da prisão preventiva
pela domiciliar, por Alexandre de Moraes, atendendo um pedido da de-
fesa, que alegava razões de saúde. Na mesma decisão9, Moraes de-
terminou, ainda, o cumprimento de algumas medidas cautelares.
Apesar do alerta feito pelo STF sobre das consequências no
caso de descumprimento da decisão, Roberto Jefferson descumpriu
algumas das medidas impostas, razão pelo qual Alexandre de Mo-
raes demandou uma medida complementar, estipulando multa diá-
ria no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), no caso de continuida-
de no descumprimento de qualquer uma das medidas cautelares de-
terminadas.
Contudo, mesmo após a multa, Jefferson ainda continuou des-
cumprindo as decisões, chegando ao ponto de receber visitas, pas-
sando, inclusive, orientações a dirigentes do PTB, além de conceder
entrevista à rádio Jovem Pan e divulgar notícias fraudulentas contra
ministros do Supremo, oportunidade em que chegou proferir ataques
ofensivos contra a ministra Carmen Lúcia.

8 PODER 360. Empresário bolsonarista e Roberto Jefferson falaram sobre “dissolver” STF.
Disponível em: https://www.poder360.com.br/justica/empresario-bolsonarista-e-roberto-jef-
ferson-falaram-sobre-dissolver-stf/
9 PET 9844/DF. Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de
24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço: http://www.stf.jus.br/portal/au-
tenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3373-6840-A7E6-85D1 e senha 6BC6-E-
F8A-48CC-D169
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 521

Diante desse comportamento, no dia 23 de outubro de 2022,


Jefferson foi alvo de uma ação da Polícia Federal, por determinação
do ministro Alexandre de Moraes, que revogou a sua prisão domiciliar
e decretou a sua prisão preventiva, pelo descumprimento das medidas
impostas pelo Supremo dentro de uma ação penal em que ele já era
réu por incitação ao crime e ataque a instituições. Entretanto, ao sa-
ber que iria ser preso, Roberto Jefferson resistiu violentamente a abor-
dagem policial, chegando a disparar tiros de fuzil e atirar granadas, de
sua residência, contra agentes da Polícia Federal, que tentavam cum-
prir o mandado de prisão.
Jefferson foi resistindo e chegou a gravar um vídeo afirmando
que não se entregaria. A PF revidou os ataques, porém, não invadiu a
casa do ex-deputado.
A partir do dia 25/10/22, Roberto Jefferson não poderia mais
ser detido, uma vez que a legislação eleitoral impedia qualquer prisão
que não fosse em flagrante cinco dias antes das eleições. Porém, à
noite, Moraes ordenou uma nova prisão contra Jefferson por tentativa
de homicídio, devido ao ataque contra os policiais. Neste caso, por ser
um flagrante, o mandado poderia ser cumprido independentemente de
horário ou da lei eleitoral.
Finalmente, após aproximadamente 8 horas de tensão, Jeffer-
son resolveu se entregar, negociando amigavelmente sua rendição
com policiais e aliados políticos.
Após se entregar, Roberto Jefferson foi encaminhado para a
sede da Polícia Federal do Rio de Janeiro, onde passou a noite. No
dia seguinte (24/10/2022), foi levado, mais uma vez, para o presídio
Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu 8), onde ficou preso, preventiva-
mente.
Em dezembro de 2022, a Justiça Federal aceitou a denúncia
contra Jefferson, tornando-o réu em processo por tentativa de homi-
cídio contra policiais federais, ocorrido no dia de 23/10/2022. Em 24
de janeiro de 2023, o ministro Alexandre de Moraes decidiu pela ma-
nutenção da prisão preventiva do ex-deputado. Em 26 de janeiro de
2023, seguiu uma mesma decisão na 1ª Vara Federal de Três Rios. E
em 2 de maio de 2023, o STF se reuniu em plenário virtual, formando
maioria que manteve a prisão de Roberto Jefferson.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 522

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na presente pesquisa, podemos concluir que, embo-


ra a liberdade de expressão e de pensamento estejam largamente as-
segurados na Constituição Federal, os chamados crimes contra a or-
dem democrática e o Estado Democrático de Direito também são tipifi-
cados na mesma Carta Magna, além das disposições contidas no Có-
digo Penal por meio da recente Lei nº 14.197/2021, que revogou a an-
tiga Lei de Segurança Nacional (Lei nº Lei nº 7.170/1983.
As prisões de Daniel Silveira e Robert Jefferson, apontadas
nesta pesquisa, é um exemplo recente de como a política e a justiça
estão interligadas no Brasil. Ambos foram presos por ordem do Supre-
mo Tribunal Federal (STF), acusados de proferir declarações ou co-
meter atos considerados atentatórios à democracia e à integridade
das instituições. Embora haja polêmica sobre a decisão do STF, a pri-
são dos dois políticos levanta questões importantes sobre a liberdade
de expressão e o papel da justiça na proteção da democracia.
Por um lado, a liberdade de expressão é um direito fundamen-
tal que deve ser respeitado em qualquer sociedade democrática. No
entanto, essa liberdade não é absoluta e deve ser contrabalançada
por outros valores igualmente importantes, como a proteção da inte-
gridade das instituições democráticas. Quando políticos e outros fun-
cionários públicos usam sua liberdade de expressão para ameaçar a
democracia e o estado de direito, a justiça deve proteger essas insti-
tuições e garantir a estabilidade política e social.
Por outro lado, prender políticos por suas declarações e ações
pode ser visto como uma violação da liberdade de expressão e uma
ameaça à própria democracia. Se os tribunais pudessem prender po-
líticos com base em seus pontos de vista, isso poderia abrir um prece-
dente perigoso para reprimir a dissidência e a oposição política. Além
disso, a prisão de políticos pode ser vista como uma tentativa de si-
lenciar a voz de uma parcela da população e limitar a discussão de-
mocrática.
Porém, para se chegar a uma melhor compreensão de um fe-
nômeno social, é aconselhável que o pesquisador analise o objeto
sempre com imparcialidade e livre de partidarismo, afastando-se o
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 523

mais longe possível das ideologias ou militâncias, a fim de que a pes-


quisa científica alcance a eficácia esperada.
Em última análise, embora haja argumentos legítimos em am-
bos os lados da questão, é importante lembrar que a democracia e o
Estado de direito são valores fundamentais que sempre devem ser
protegidos.

Referências Bibliográficas

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do Brasil. Saraiva. 2022.
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FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza:
UEC, 2002. Apostila.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 524

Lei 7.170/1983. Lei de Segurança Nacional. Define os crimes contra


a segurança nacional, a ordem política e social, estabelece seu pro-
cesso e julgamento e dá outras providências. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7170.htm. Acesso em: 27/03/2023.
Lei 14.197/2021. Acrescenta o Título XII na Parte Especial do Decre-
to-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), relativo
aos crimes contra o Estado Democrático de Direito; e revoga a Lei
nº 7.170, de 14 de dezembro de 1983 (Lei de Segurança Nacional),
e dispositivo do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei
das Contravenções Penais). Disponível em: https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14197.htm#art4. Acesso em:
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do pelo STF. Disponível em: https://www.poder360.com.br/brasil/re-
lembre-o-que-levou-daniel-silveira-a-ser-condenado-pelo-stf/. Acesso
em: 01/04/2023.
PODER 360. Empresário bolsonarista e Roberto Jefferson fala-
ram sobre “dissolver” STF. Disponível em: https://www.poder360.
com.br/justica/empresario-bolsonarista-e-roberto-jefferson-falaram-
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XAVIER, Luiz Gustavo. Deputado Daniel Silveira é preso por ordem
do ministro Alexandre de Moraes. Fonte: Agência Câmara de Notí-
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tado-daniel-silveira-e-preso-por-ordem-do-ministro-alexandre-de-mo-
raes/. Acesso em: 01/04/2023.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 525

CAPÍTULO 38

MASTITE BOVINA: NATUREZA INFECCIOSA


E IMPACTOS NA PRODUÇÃO LEITEIRA

João Inácio Ferreira de Sousa Neto


Christus Faculdade do Piauí, Brasil
E-mail: joaoinacioferreira87@gmail.com

Guilherme Antônio Lopes de Oliveira


Christus faculdade do Piauí, Brasil
E-mail: guilhermelopes@live.com

RESUMO
Objetivo: abordar a mastite bovina revisando sua literatura, apontan-
do seus impactos na produção leiteira e sua natureza infecciosa, ten-
do também como ênfase a importância da prevenção, controle e diag-
nóstico da doença. Metodologia: Foi realizado uma revisão bibliográ-
fica nas bases de dados: Pubmed, Pubvet e Google Acadêmico. Sen-
do selecionados artigos, revisões de literatura e dissertações, data-
dos entre 2015 e 2023, nos idiomas português e inglês. A busca foi re-
alizada por meio dos descritores: mastite bovina, bovinocultura leitei-
ra, agentes patogênicos da mastite, tratamento, prevenção e diagnós-
tico. Resultados: Alguns estudos determinam a mastite bovina como
a principal causadora da perda de lucratividade do criador, da perda
da composição natural do leite comprometendo sua qualidade, e ain-
da afeta a saúde do animal podendo levá-lo a óbito. Conclusão: Para
a resolução de problemas relacionados com a mastite na bovinocultu-
ra leiteira nas propriedades de agricultura familiar e em grandes pro-
priedades, é necessário o acompanhamento frequente do produtor na
saúde e higiene dos úberes das vacas, a partir de diagnósticos pré-
vios, adoção de medidas higiênicos sanitárias e protocolos de contro-
le da infecção com o auxílio do médico veterinário.
Palavras-chave: Mastite bovina; Leite; Bovinocultura leiteira.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 526

ABSTRACT
Objective: to address bovine mastitis by reviewing its literature, point-
ing out its impacts on dairy production and its infectious nature, also
emphasizing the importance of prevention, control and diagnosis of
the disease. Methodology: A bibliographic review was carried out in
the databases: Pubmed, Pubvet and Google Scholar. Articles, litera-
ture reviews and dissertations were selected, dated between 2015 and
2023, in Portuguese and English. The search was carried out using
the descriptors: bovine mastitis, dairy cattle, mastitis pathogens, treat-
ment, prevention and diagnosis. Results: Some studies determine bo-
vine mastitis as the main cause of the breeder’s loss of profitability,
the loss of the natural composition of the milk, compromising its qual-
ity, and even affects the animal’s health and may lead to death. Con-
clusion: In order to solve problems related to mastitis in dairy cattle on
family farming properties and on large properties, it is necessary to
monitor the producer frequently in the health and hygiene of the cows’
udders, based on previous diagnoses, adoption of hygienic measures
health measures and infection control protocols with the assistance of
the veterinarian.
Keywords: Bovine mastitis; milk; dairy cattle.

1. INTRODUÇÃO

Quando se trata de produção de leite em escala mundial, é pra-


ticamente impossível abordar sobre o assunto sem mencionar a bovi-
nocultura leiteira no Brasil, visto que segundo dados do ministério da
agricultura, o país ocupa a 3 posição no ranking internacional, com
uma produção atual de 34 bilhões de litros de leite anualmente (MAPA,
2022). A atividade leiteira tem sido um setor bastante relevante entre
os produtores e principalmente ao sistema de produção familiar, al-
cançando cerca de 1,3 milhões de propriedades no país, podendo ser
considerada uma das áreas mais importantes dentro da agropecuária
brasileira (MATTE et al, 2017).
A bovinocultura leiteira se trata de uma atividade agropecuária
destinada a criação de gado, na qual é explorado a produção de lei-
te e também a parte de reprodução animal, seja para a reposição ou
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 527

para a comercialização de gado de elite. Com isso, o setor de leite e


derivados proporciona um grande volume de geração de empregos,
podendo até superar áreas como a construção civil e indústrias auto-
mobilísticas, tendo como consequência também a geração de renda
(MATTE et al, 2017).
O leite é considerado um dos componentes mais importantes
que estão inclusos nos hábitos alimentares dos seres humanos, isso
por causa do seu alto valor nutritivo, visto que são fontes considerá-
veis de proteínas de alto valor biológico, além de conterem vitaminas
e minerais em sua composição (SILVERIO et al, 2015). Devido ao seu
elevado valor tanto no mercado como no consumo humano, o leite se
tornou um dos seis produtos mais importantes na agropecuária brasi-
leira, o que ocasionou um aumento nas exigências de qualidade e hi-
giene dentro da produção leiteira no país (EMBRAPA,2016).
Um dos principais fatores causadores de um leite de má qua-
lidade são as falhas higiênicas e sanitárias nos cuidados com as va-
cas, tornando comumente o surgimento de mastites bovinas. A masti-
te é caracterizada como uma resposta inflamatória do parênquima da
glândula mamária que pode ser de natureza infecciosa, tóxica ou trau-
mática (CHENG et al, 2020).
De maneira geral, a mastite é causada na maioria das vezes
por causa infecciosa, sendo o Streptococcus agalactiae, Corynebac-
terium bovis, Staphylococcus aureus e Mycoplasma spp as bactérias
mais comumente envolvidas (KILBEBEW, 2017).
O diagnóstico da mastite clínica pode ser realizado a partir de
aspectos inflamatórios visíveis e da mastite subclínica pode ser rea-
lizado através dos testes rápidos California Mastitis Test (CMT), Wis-
consin Mastitis Test (WMT), teste da caneca do fundo preto, enume-
ração de leucócitos ou contagem de células somáticas (CCS), Cultura
microbiana e termografia infravermelha (SANTOS,2016; SILVA, 2019).
A mastite bovina está entre as doenças de perda econômica
mais relevantes, visto que causa prejuízo ao criador devido a perda de
produção e qualidade do leite, o descarte ou redução do valor de mer-
cado dos animais infectados, o custo de medicamentos e mão de obra
extra, além de estar totalmente conectado com a saúde pública, visto
que a qualidade microbiológica do leite estará comprometida, aumen-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 528

tando o risco de surtos de doenças transmitidas por alimentos (TEI-


XEIRA; FIGUEIREDO, 2018).
Este trabalho tem como objetivo abordar a mastite bovina revi-
sando sua literatura, apontando seus impactos na produção leiteira e
sua natureza infecciosa, tendo também como ênfase a importância da
prevenção, controle e diagnóstico da doença.

2. METODOLOGIA

A pesquisa realizada é uma revisão bibliográfica, do tipo qualita-


tiva e descritiva, em que teve como base de dados: Pubmed, Pubvet e
Google Acadêmico. Sendo selecionados para a análise artigos científi-
cos, revisões de literatura e dissertações, datados entre 2015 e 2023,
nos idiomas português e inglês. A busca foi norteada por meio da utiliza-
ção dos termos: mastite bovina, bovinocultura leiteira, agentes patogêni-
cos da mastite, tratamento, prevenção e diagnóstico, de forma associada.

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1 ETIOLOGIA DA MASTITE BOVINA

A mastite bovina é a inflamação do tecido da glândula mamá-


ria das vacas e tem como principal agente de infecções bacterianas,
podendo ser de origem contagiosa ou ambiental. As bactérias do tipo
contagiosa vivem e se reproduzem dentro da glândula mamária no
ducto do teto, sendo transmitidas de animal para animal durante pro-
cessos de ordenha com falhas higiênicas e sanitárias tanto das mãos
dos ordenhadores como do uso em conjunto de uma mesma toalha de
limpeza para todas as vacas. Já as bactérias ambientais estão presen-
tes no ambiente de ordenha e de criação, sendo transmitidas entre os
períodos da ordenha, ou seja, quando os tetos das vacas entram em
contato com o ambiente contaminado, auxiliando na entrada de agen-
tes patogênicos (FAZOLI et al, 2023).
Dentre os agentes da mastite infecciosa, as bactérias mais en-
volvidas são a Staphylococcus aureus, Mycoplasma spp., Streptococ-
cus agalactiae, S. dysgalactiae, Corynebacterium bovis e Actinomyces
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 529

pyogenes (HOQUE et al, 2020). O agente etiológico mais reconheci-


do no mundo como um dos principais causadores da mastite bovina é
o Staphylococcus aureus (MENDONÇA, 2020). Esses micro-organis-
mos conseguem penetrar a glandula mamaria quando ela apresenta
algum tipo de lesão no epitélio dos tetos ou então quando está resse-
cada, fazendo com que haja um aumento na contagem de células so-
máticas (CCS) no órgão, gerando na maioria das vezes uma mastite
subclínica, podendo se agravar com a aparição de casos clínicos irre-
gulares (PEREIRA et al, 2019).
Já os patógenos da mastite ambiental são destacados pelas
bactérias Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Klebsiella oxytoca,
Enterobacter aerogenes, Streptococcus dysgalactiae e streptococcus
uberis (HOQUE et al, 2020). Esses agentes são caracterizados como
invasores oportunistas causando na maioria das vezes infecções clíni-
cas, visto que não estão adaptados à sobrevivência dentro do hospe-
deiro (ZIMERMANN et al, 2017).
A mastite também pode ser transmitida por outros agentes, es-
ses agentes são comumente considerados como ´´Staphylococcus
não aureusˋˋ. São bactérias gram positivas e oportunistas que habi-
tam na pele e no ducto dos tetos, tendo um baixo índice de patogeni-
cidade e com alta taxas de cura espontânea e em terapias durante a
secagem e lactação. Além desses, existem os agentes refratários, o
qual não são responsivos a tratamentos e costumam estar presentes
na água e matéria orgânica. Dentre esses agentes, podemos destacar
a Serratia (bactéria gram negativa), Pseudomonas (bactéria gram ne-
gativa), Prototheca(alga), fungos e leveduras (COSTA, 2021).

3.2 IMPACTOS DA MASTITE NA QUALIDADE DO LEITE

O leite bovino é uma combinação de diversos elementos sóli-


dos em água. Os elementos sólidos representam aproximadamente
12 a 13% do leite e a água, aproximadamente 87%. Os principais ele-
mentos sólidos do leite são lipídios (gordura), carboidratos, proteínas,
sais minerais e vitaminas (EMBRAPA, 2021).
Para que o leite mantenha a sua composição natural e não so-
fra variações que comprometam a qualidade do produto, é necessário
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 530

que contenha os seus valores padrões de contagem de células somá-


ticas (CCS) e de contagem bacteriana total (CBT) estabelecidos pelo
MAPA. Segundo o Ministério da Agricultura e pecuária, os valores má-
ximos que são considerados para o leite cru é de 500.000 CS/ML e
300.00 UFC/ML (JAMAS et al, 2018).
Dentro desses fatores, a elevação do número dessas células
ultrapassando o limite padrão é considerada um indicador de mastite,
geralmente subclínica. Isso se deve ao fato de as células somáticas
serem constituídas pelas células de descamação do epitélio secretor
mamário e pelas células de defesa do organismo(leucócitos), dentre
elas estão inclusos os monócitos, linfócitos, neutrófilos e macrófagos,
os quais são responsáveis por descrever sinais infecciosos se estive-
rem em grande quantidade no leite (JAMAS et al, 2018).
Quando se fala de carga microbiana do leite, assim como a
CCS, ela é considerada um dos principais indicativos da qualidade sa-
nitária do rebanho e das condições higiênicas na produção do leite.
Dentre os microrganismos que estão relacionados com a qualidade do
leite, os principais são os mesófilos, que representam todas as bacté-
rias patogênicas, e os psicrotróficos, no qual engloba vários tipos de
microrganismos que causam alterações físicas, químicas e sensoriais
do leite (PEREIRA et al, 2015). Algumas das alterações que a mastite
causa na composição do leite são os baixos percentuais de gordura,
sólidos desengordurados, lactose e de caseína, sem contar o aumen-
to de cloretos e de soro de proteínas (OLIVEIRA et al, 2020).
Visto isso, faz-se necessário a adoção de medidas higiênicas
que venham reduzir os impactos intrínsecos e extrínsecos que com-
prometem a qualidade do leite, desde a produção até o consumidor fi-
nal (CLAUDINO et al, 2015).

3.3 IMPACTO DA MASTITE NA ECONOMIA

Dentro da bovinocultura leiteira, a mastite bovina é considera-


da a maior causadora de prejuízos tanto na economia nacional como
em pequenas propriedades de agricultura familiar. No âmbito econô-
mico do país, podem ser citados algumas sequelas geradas a partir
desse processo infeccioso, como os gastos com medicamentos e ser-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 531

viços especializados, descarte do animal positivo e do leite contamina-


do devido a sua baixa qualidade, sem contar o aumento da probabili-
dade de contração de DTAs (DA FONSECA, 2023).
Segundo publicações especializadas em perdas de produção
de leite, estima-se que a mastite pode causar prejuízos de 10% a 26%
na produção leiteira em propriedades, podendo variar dependendo do
grau do processo infeccioso (BATISTA et al, 2017).
No Brasil, foram realizados alguns estudos em seis fazendas
de Araxá – MG, e constataram que cerca de 4,89% e 8,81% dos quar-
tos das vacas foram afetados com mastite clínica e subclínica, res-
pectivamente. O prejuízo estimado para essas propriedades foi de
US$126,00 (R$ 393,12) por vaca em lactação por ano, dos quais se
atribuíram 60% na queda de produção de leite provocada por mastite
subclínica;15% pela queda de produção causada por mastite clínica;
12% por perdas de quartos afuncionais; 6% para os custos de mão de
obra para o tratamento e 2% com reposição dos animais; 2% com me-
dicamentos, 2% com descarte de leite por causa do tratamento e 2%
com serviços veterinários (KEHL, 2017).
Com isso, pode-se perceber que o impacto econômico total
da mastite (ITM) é a somatória do total de perdas com o total gasto
com medidas preventivas e mais o total gasto com tratamento curati-
vo, sendo que o total em perdas se refere as perdas do leite, as me-
didas preventivas são as despesas com antibiograma, cultura e reali-
zação de testes, vacinações, higiene e o tratamento curativo refere-se
a despesas com aplicação do antibiótico local e sistêmico (GOIS DE
SOUZA et al, 2021).

3.4 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da mastite clínica pode ser feito a partir da obser-


vação de sinais visíveis e evidentes, como: edema, aumento de tempe-
ratura, endurecimento(fibrose), presença de nódulos, recusa da orde-
nha por dor na glândula mamária, grumos, sangue, pus ou qualquer al-
teração visível no leite. Com isso, para que se tenha um diagnóstico cor-
reto de mastite clínica, é necessário a inspeção do animal, palpação do
úbere e avaliação do leite (RAMOS et al, 2017; MASSOTE et al, 2019).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 532

No diagnóstico da mastite subclínica, o método mais utilizado


mundialmente é o uso do California Mastitis Test (CMT), pois é con-
siderado um teste prático, seguro e barato, visto que seu princípio se
baseia na estimativa de contagem de células somáticas do leite. Os
resultados do CMT são expressos em 5 escores: negativo, traço, rea-
ção leve (+), moderada (++) e intensa (+++), os quais apresentam uma
correlação consideravelmente boa com a ccs (MASSOTE et al, 2019).
Outro método utilizado para detecção de mastite subclínica é
o Wisconsin Mastites Test (WMT), o qual é considerado um aprimo-
ramento do CMT, fornecendo dados mais precisos e utilizando tubos
graduados chamados de viscosímetros e uma escala de apresentação
de resultados (normalmente dados em milímetros), eliminado a subje-
tividade do teste (DUARTE et al, 2015; MASSOTE, 2019).
O diagnóstico da infecção também pode ser realizado pelo exa-
me das características físicas do leite, no qual é realizado a partir do
teste da caneca do fundo escuro. Esse método baseia-se na retirada
dos 4 primeiros jatos de leite antes da ordenha em uma caneca de fun-
do escuro e telado, com o intuito de observar a consistência e altera-
ções no leite, como a presença de grumos, coágulo, pus, sangue, den-
tre outros (MASSOTE et al, 2019).
O CCS pode ser utilizado em leite de tanque, em grupo, em
cada vaca e até em cada quarto mamário. Esse método de diagnós-
tico é considerado um dos métodos mais modernos atualmente, visto
que a contagem de células somáticas é feita a partir de um contador
eletrônico, o qual irá expor as amostras de leite com presença de nú-
cleos celulares corados a um raio laser, o qual reflete a luz vermelha
e os sinais são convertidos em impulsos elétricos detectados por um
fotomultiplicador e transformados em número de células/mL. Quando
o leite apresenta um CCS abaixo de 100.000 células/mL o quarto ma-
mário está saudável, já um CCS maior que 200.00 células/mL indica
um quarto mamário infectado por mastite subclínica (DA FONSECA,
2021; RAMOS et al,2017).
O exame microbiológico é considerado o método padrão pata
diagnóstico de mastite subclínica e clínica, comumente associado com
o antibiograma, pois além da identificação dos patógenos causado-
res da inflamação da glândula, também é revelado os antibióticos os
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 533

quais esses microrganismos são sensíveis, auxiliando no tratamento


(DA FONSECA, 2021).
A termografia infravermelha é uma ferramenta diagnóstica do
tipo não invasiva que auxilia na detecção prévia de mastite subclíni-
ca. Esse método consiste na avaliação da temperatura superficial do
úbere das vacas, pois aumentos de temperatura nessa região estão
comumente correlacionados com a possibilidade de mastite (OLIVEI-
RA et al, 2022).

3.5 TRATAMENTO E PREVENÇÃO

Como forma de tratamento para a mastite bovina, o uso de an-


timicrobianos com espectros de amplitude diferenciadas escolhidos de
acordo com cada tipo de bactéria é o mais utilizado. Os antibióticos
são amplamente empregados para o tratamento de doenças infeccio-
sas em animais e humanos, desde a década de 1940 com a introdu-
ção da penicilina (ALVES et al, 2021; SAROLLI et al, 2016)
Além da disponibilidade e variabilidade de antimicrobianos que
podem ser usados para o tratamento convencional da infecção, outros
tratamentos alternativos são tidos como válidos, como o uso de bio-
terápicos e homeopatia. Os bioterápicos são medicamentos prepara-
dos a partir de excreções, secreções, tecidos e órgãos de animais e
vegetais, fisiológicos ou patológicos ou ainda microrganismos, poden-
do ser aplicados como método preventivo, uma vez que poderá utili-
zar o agente etiológico da determinada doença (SAROLLI et al, 2016).
O uso do tratamento homeopático se baseia no princípio ou “lei
dos semelhantes”, o qual envolve o tratamento da doença ou do sintoma
com pequena quantidade de compostos que causam sintomas seme-
lhantes aos da doença quando administrado em altas concentrações,
sendo efetivo no tratamento da mastite bovina (JESUS et al, 2018).
A profilaxia é realizada durante a ordenha, sendo considera-
da o momento mais importante na atividade leiteira, pois é o momento
em que o úbere da vaca está mais susceptível a infecções. De acordo
com o programa dos 6 pontos do controle da mastite bovina, alguns
métodos de prevenção foram destacados ,como: Ter uma rotina de or-
denha correta e desinfecção dos tetos (pré-dipping e pós-dipping),o
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 534

Tratamento dos animais positivos para mastite clínica no período de


lactação, o uso de antibióticos de secagem em todos os animais, a lim-
peza, manutenção e funcionamento ideal de equipamentos utilizados
na ordenha, a identificação, separação e descarte de vacas com ca-
sos crônicos de mastite, e o manejo do ambiente que os animais per-
manecem (DA FONSECA, 2021).

4. CONCLUSÃO

A mastite é a principal causadora de prejuízos tanto econômi-


cos como de qualidade na cadeia produtiva leiteira das vacas, sendo
necessário o acompanhamento frequente do produtor na saúde e hi-
giene dos úberes das vacas, a partir de diagnósticos prévios, adoção
de medidas higiênicos sanitárias e protocolos de controle da infecção
com o auxílio do médico veterinário.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 539

CAPÍTULO 39

O ACESSO E A PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES


NEGROS NOS CURSOS DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO TOCANTINS (2014-2021)

Larissa Oliveira Sousa


Universidade Estadual do Tocantins - UNITITINS
Curso de Ciências Contábeis
Bolsista do PIBIC/UNITINS
lsousa268@gmail.com

Rafaela Brito da Silva


Universidade Estadual do Tocantins - UNITITINS
Curso de Ciências Contábeis
Professora/Pesquisadora UNITINS
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2910-0315
rafaela.bs@unitins.br

RESUMO
A Universidade deve ser o lócus de práticas e de mecanismos que fa-
voreçam a igualdade social. Aos estudantes negros além do acesso,
é preciso uma política efetiva de assistência estudantil específica para
que assim possam buscar a garantia de permanência até a conclusão
do curso. O objetivo desta pesquisa foi identificar os fatores que in-
fluenciam o acesso e a permanência de estudantes negros nos cursos
de Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Tocantins. Meto-
dologicamente, utilizou-se como procedimentos a pesquisa bibliográ-
fica, documental e pesquisa de campo, e como técnica para coleta de
dados a aplicação de questionários aos alunos matriculados nos cur-
sos de Ciências Contábeis. Os resultados mostraram que a efetivação
das cotas em favor dos negros significa um avanço no campo dos di-
reitos humanos e sociais, bem como colabora com a desestruturação
da hierarquização racial e classista instituída historicamente no país.
Palavras-chave: Ensino Superior. Estudantes Negros. Igualdade Racial.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 540

ABSTRACT
The University should be the locus of practices and mechanisms that
favor social equality. Black students in addition to access, it is neces-
sary an effective policy of specific student assistance so that they can
seek the guarantee of permanence until the completion of the course.
The objective of this research was to identify the factors that influence
the access and permanence of black students in the Accounting Sci-
ences courses of the State University of Tocantins. Methodologically,
bibliographic and documentary research and field research were used
as procedures, and as a technique for data collection the application
of questionnaires to students enrolled in Accounting Sciences cours-
es. The results showed that the implementation of quotas in favor of
blacks means an advance in the field of human and social rights, as
well as collaborates with the dismantling of the racial and classist hier-
archy historically established in the country.
Keywords: Higher education. Black Students. Racial Equality

Introdução

Esta pesquisa realizou um estudo voltado para a reflexão e


compreensão dos fatores que influenciam o acesso e a permanência
de estudantes negros na Universidade Estadual do Tocantins (UNI-
TINS), em especial, nos cursos de Ciências Contábeis. “O Ensino su-
perior no Brasil tem sido campo de um conjunto múltiplo de programas
de ações afirmativas, reunindo diferentes tipos de cotas e sistemas
de bonificações em busca da maior inclusão dos estudantes negros”
(JACCOUD, 2008, 142). A esse respeito, importa-nos diagnosticar na
instituição objeto desta pesquisa, políticas e programa de promoção
da igualdade racial, com vistas à garantia de acesso e permanência.
A democratização do ensino superior, num país determinado
por desigualdades nos mais variados aspectos e contextos, culturais,
sociais e econômicos, está condicionado à efetivação de ações e es-
tratégias que de fato assumam o compromisso de equiparar as con-
dições de inclusão da população negra ao sistema educacional brasi-
leiro. É uma questão que “deve ser contextualizada historicamente e
pessoalmente, num panorama que contempla todo um percurso que
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 541

não pode ser escondido, refletem assim nas condições socioeconô-


micas da população negra e sua ascensão social por via do acesso à
educação (BORGES, 2018, p. 11).
Historicamente a escravidão, a discriminação e a exclusão mar-
cam nossas relações sociais e caracterizam hierarquicamente bran-
cos e negros. Relações estas que se refletem nas instituições edu-
cacionais. Há distanciamento, desvantagens, desigualdade, imbrica-
das no preconceito, no racismo. E à população negra tem-se uma dí-
vida, que pode ser compensada e/ou amenizada por iniciativas que
efetivem a diversidade cultural, a justiça, igualdade e principalmente
a equidade.
A Universidade deve ser o lócus de práticas e de mecanismos
que favoreçam a igualdade social. Aos estudantes negros além do
acesso, é preciso uma política efetiva de assistência estudantil espe-
cíficas para que assim possam buscar a garantia de permanência até
a conclusão do curso.
Assim, a pergunta que norteou esta pesquisa foi: Quais são os
fatores que influenciam o acesso e a permanência de estudantes ne-
gros nos cursos de Ciências Contábeis da Universidade Estadual do
Tocantins?
Assim, o objetivo desta pesquisa foi identificar os fatores que
influenciam o acesso e a permanência de estudantes negros nos cur-
sos de Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Tocantins
A apropriação da atitude investigativa tem como uma das suas
dimensões aquela que produz conhecimento em benefício da socie-
dade, principalmente, na qual estão inseridos. Ora, a questão do aces-
so e permanência de estudantes negros no ensino superior, enquan-
to objeto de pesquisa, remete-nos a reflexão sobre as condições pos-
tas para que estes frequentem a universidade. E assim, considera-
mos que a própria temática de pesquisa é um ato político, reivindica-
tivo a favor da democratização do acesso da população negra ao en-
sino superior.
É nessa perspectiva que centramos nossa atitude investigati-
va, contribuir na produção de conhecimento sobre educação da popu-
lação negra, seja na instituição escolar ou universitária, sobre políticas
afirmativas e principalmente, que possamos construir um espaço de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 542

discussão e reflexão da condição do estudante negro no curso de Ci-


ências Contábeis da UNITINS.

Desenvolvimento

O NEGRO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

A educação escolar do negro no Brasil se destaca no fato de


que não existia nenhuma espécie de educação formal destinada a esta
população, sua existência social era negada, além do mais, o argu-
mento geral é de que eles nasceram para trabalhar e tinham que tra-
balhar para sobreviver, pois foram trazidos da África para servir a eco-
nomia, nada poderiam receber de uma filosofia de educação caracte-
rizada por ser extremamente aristocrática e por ministrar uma educa-
ção somente aos que se destinavam a seguir universidade, na maioria
das vezes, do outro lado do atlântico (GOMES, 2001 p. 4).
Então, pode-se perceber que desde a época da abolição, com
a ausência de políticas de inclusão da população negra recém liberta
e visando-se ao branqueamento, os negros ficaram excluídos de pro-
cessos educativos formais, dependendo de iniciativas de movimentos
sociais para ter acesso ao conhecimento formal e dessa maneira ten-
tar alguma ascensão em meio a uma sociedade cheia de preconceito.
E hoje, no cenário educacional atual, a situação não é muito diferente.
Os negros obtiveram a possibilidade de adentrar aos espaços escola-
res, de educação formal, porém ainda sofrem muito preconceito e de-
vido a isso já são pré-julgados como que não conseguem obter apren-
dizado e acabam por evadirem-se da escola, ou então ficam sendo re-
tidos numa mesma série durante muito tempo, o que também os des-
motiva e os fazem desistir da escola.
Atualmente, no Brasil, nota-se que a influência da cultura negra
tem obtido destaque. No entanto, a discriminação ainda é um risco e
para o qual o combate deve ser intenso, sobretudo, por intermédio da
denominada democracia racial. Gonçalves & Petronilha (2000) apud
Pereira e Silva (2012) mostram que:

Como os negros militantes buscavam reagir à precária


situação educacional de seu grupo étnico exigiu deles
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 543

um tipo de compromisso pessoal, de engajamento direto


para resolver um problema que não era exclusivamente
dos negros, mas era um problema nacional. (GONÇAL-
VES; PETRONILHA, 2000, apud PEREIRA; SILVA, 2012,
p.145).

Na história social brasileira, foi o Movimento Negro que lutou


pela defesa da educação negra de forma que a sociedade pudesse in-
cluir a cultura e a história do povo negro, a iniciar pela escola. Contu-
do, para um país que se dizem democrático, suas ações tornaram-se
obsoletas, pois o que acabou imperando foi à soberania branca.
Diante desses impasses, acreditamos que o ensino brasileiro
precisa rever seu posicionamento com relação às práticas de racismo
que ainda existem. Este é um ponto chave que precisa ser combatido,
pois, na maioria das vezes, a educação não é a mesma que é desti-
nada aos brancos.
Podemos notar que o preconceito vem desde logo cedo, pois
nas escolas tem rejeição por causa da cor/raça. Essa desigualdade ra-
cial, por vezes frequente, diz respeito ao modo pelo qual os negros são
vistos em situação desigual, mostrando que na sociedade os brancos
ainda têm mais privilégios.
O fato é que a escola, enquanto agência formadora, precisa
combater o racismo e qualquer forma de preconceito. E este pode ser
um dos grandes pontos que precisa, inicialmente, ser discutido/traba-
lhado. Podemos ver que um ponto negativo que acentuou ainda mais a
questão da diferença discriminatória foi o de a escola equiparar a forma
do ensino de pessoas negras com as brancas. O fato é que os concei-
tos que a população branca tinha eram diversos, negativos e deprecia-
tivos com relação às crenças e aos costumes das populações negras.

O ACESSO DA POPULAÇÃO NEGRA À EDUCAÇÃO SUPERIOR

O ensino superior no Brasil tem apresentado uma trajetória


constante no quesito de desigualdades educacionais, visto que mes-
mo avançando significativamente no sentido de se ampliarem vagas
de acesso, estudos apontam que essa expansão se deu de maneira
desigual entre negros e brancos.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 544

Segundo Vaz (2020), a expansão da educação superior em


função das políticas públicas que visavam promover o acesso de gru-
pos discriminados e vítimas da exclusão social por questões socioe-
conômicas e origens étnico-raciais, possibilitou a diminuição da desi-
gualdade educacional entre negros e brancos, contudo, para a auto-
ra, a discrepância de oportunidades ainda está bastante longe de ser
equacionada.
Desta maneira, alcançar o ensino superior continua sendo um
grande desafio para a população negra, porque mesmo com todas as
melhorias que tiveram, ainda existe uma quantidade enorme de barrei-
ras que persistem e inviabilizam o alcance de níveis maiores de igual-
dade educacional.
As políticas afirmativas são, pois, medidas voltadas para a cor-
reção das desigualdades e a garantia de direitos, ou seja, visa garan-
tir a grupos excluídos meios e oportunidade de participação em todos
os setores da sociedade. Segundo Jaccoud e Beghin (2002, p. 67), as
ações afirmativas são políticas que: “Têm por objetivo garantir a opor-
tunidade de acesso dos grupos discriminados, ampliando sua partici-
pação em diferentes setores da vida econômica, política, institucional,
cultural e social”.
As ações afirmativas no Brasil não ficaram restritas apenas à po-
pulação negra, mas em vários momentos foram adotadas políticas afirma-
tivas em prol de grupos que se encontravam em desvantagem, a exem-
plo da Lei do Boi, sancionada em julho de 1968 e revogada somente em
1985, que assegurava até 50% das vagas nos estabelecimentos públi-
cos de ensino agrícola para agricultores ou seus filhos (Gomes, 2002, p.
125). A adoção de políticas afirmativas voltadas para a população negra
fundamenta-se nos diversos dados de pesquisas e estudos sobre as de-
sigualdades abissais entre negros e brancos que permaneceram na so-
ciedade brasileira desde o período pós-escravidão, conforme identifica-
do nas pesquisas de Hasenbalg (1979) e Henriques (2001), entre outros.
A desigualdade na educação não é diferente. A partir do ensi-
no médio, o nível de desigualdade aumenta entre brancos e negros,
ou seja, os jovens negros abandonam ou são reprovados no ensino
médio e não são inseridos na educação superior na mesma propor-
ção que os brancos.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 545

A adoção de políticas afirmativas voltadas para a população


negra fundamenta-se nos diversos dados de pesquisas e estudos so-
bre as desigualdades abissais entre negros e brancos que permane-
ceram na sociedade brasileira desde o período pós-escravidão, con-
forme identificado nas pesquisas de  Hasenbalg (1979) e Henriques
(2001), entre outros.

A PERMANENCIA DO ESTUDANTE NEGRO NO ENSINO SUPE-


RIOR

O acesso às universidades públicas se constitui uma etapa sig-


nificativa no processo de formação de estudantes negros, contudo,
isso não significa que este estudante conclua o curso. Sua permanên-
cia na instituição é o que vai determinar o alcance dessa conclusão.
Os desafios para concluir um curso na universidade são muitos, prin-
cipalmente quando se trata de estudantes de classes menos abasta-
das, e por isso esses estudantes desenvolvem e adquirem estraté-
gias de permanência. As estratégias de permanência, segundo Set-
ton (2002, p. 64), “surgem como ações práticas inspiradas pelos estí-
mulos de uma determinada situação histórica. São inconscientes, pois
tendem a se ajustar como um sentido prático às necessidades impos-
tas por uma configuração social específica”.
Com as ações afirmativas, uma quantidade significativa de es-
tudantes negros ingressou no ensino superior. O acesso de diferentes
grupos étnicos nas universidades e nos Institutos Federais, tem provo-
cado muita tensão no que diz respeito à permanência destes. Embora
se reconheçam as conquistas dentro das universidades, muitas vezes
as instituições não conseguem garantir os subsídios necessários para
os alunos cotistas se manterem estudando.
Através das cotas voltadas para negros, fica visível que no Bra-
sil há uma desigualdade social, como também uma baixa qualidade no
ensino público. Neste caso, ao olhar para as escolas de ensino fun-
damental e médio percebemos a alta carência dos jovens, perpetuan-
do um ciclo de pobreza e marginalidade. Desta forma, o ensino supe-
rior passa a ser um sonho bem difícil de ser alcançado. Com as polí-
ticas de cotas o jovem passa a ter acesso às universidades, porém,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 546

está faltando um mecanismo que assegure e garanta a permanência


destes quanto ao ensino e aprendizagem. Haas, Linhares (2012) am-
pliam nossos conhecimentos para experiências de instituições que im-
plantam nos seus sistemas de cotas para estudantes de escola públi-
ca, negros e indígenas, sendo que as iniciativas vão além de uma per-
manência socioeconômica, mas também no apoio pedagógico desse
sujeito que já vem de sistema educacional com defasagem. Retoman-
do Haas, Linhares (2012, p.18):

(...) é a falta de condições para o aluno manter-se finan-


ceiramente, necessitando também de outros recursos
para acompanhar, em nível de igualdade, os demais alu-
nos de seu curso. Além do aspecto financeiro e social,
sob o ponto de vista pedagógico, seriam necessários in-
vestimentos e condições de acompanhamento dos alu-
nos que ingressam pelo sistema de cotas, pois grande
parte deles necessita de reforço em disciplinas específi-
cas (HAAS; LINHARES, 2012, p.18).

É certo que maior parte dos alunos cotistas que ingressam na


escola pública traz uma bagagem de exclusão do acesso a bens ne-
cessários a uma qualidade de vida e um rendimento educacional de
qualidade, por virem de escola pública, por entrarem usando o siste-
ma de cotas, por ter um teto salarial que se encaixe nas normas buro-
cráticas das instituições no que tange ao quesito carência, entende-se
que esse aluno provavelmente precisará ser amparado pelas políticas
de permanência em qualquer instituição.
A presença da população negra na universidade, assim como
a permanência continua sendo um ato de resistência, visto que, ainda
hoje vive-se em um país extremamente racista e que tenta situar o ne-
gro cada vez mais no lugar de submissão, e que o coloca como infe-
rior em diferentes espaços.
A permanência de estudantes negros na universidade, requer
uma sensibilidade por parte do Estado e das Instituições de Ensino,
para considerar as condicionalidades as quais esses estão submetidos,
levando em conta sua totalidade, sua cultura, seus costumes, crenças,
e principalmente se possui condições para manter-se estudando.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 547

Procedimentos Metodológicos

A partir de fundamentos epistemológicos e metodológicos, esta


pesquisa seguiu o seguinte delineamento: Quanto à finalidade foi uma
pesquisa aplicada, com abordagem de cunho qualitativa e quantitati-
va triangulando técnicas metodológicas; quanto aos objetivos foram
do tipo descritiva utilizando-se como procedimentos a pesquisa biblio-
gráfica e pesquisa de campo, e como técnica para coleta de dados a
aplicação de questionários aos 386 alunos matriculados nos cursos de
Ciências Contábeis.

Resultados e Discussão

O acesso à Universidade para grupos ditos, equivocadamen-


te, minoritários, atualmente se tornou um pouco mais acessível com a
Política de Ações Afirmativas e suas várias providências para incluir os
excluídos em todos os espaços da sociedade, como é o caso da Lei
de Cotas. Entretanto, os desafios que se colocam a esses grupos es-
tão além do acesso, afinal, só o ingresso a Universidade não garante
um diploma da graduação.
Desse modo, pensar a garantia de permanência de estudantes
negros, em todo o processo acadêmico se faz necessário, visto que a
maioria deles não consegue concluir a graduação sem contar com os
programas de bolsas ou auxílios, ou ainda da família, que na maioria
dos casos não tem como manter o aluno, seja da Universidade com
medidas que assegurem ao aluno finalizar o curso.
A educação pública no Brasil é pouco almejada pela população
com maior poder aquisitivo no país, porém ao se tratar do ensino su-
perior, sempre foi maciçamente ocupada por estes. Esta inversão faz
com que a população brasileira, oriunda de outras classes subalterni-
zadas e com seu ensino de base em instituições públicas, ao se depa-
rar com o ensino superior (quando chegam nesta etapa) pouco ocu-
pam as vagas em instituições públicas de ensino superior, ou passam
a compor as cadeiras das instituições privadas, tendo muitas vezes
que exercer atividade laboral com remuneração voltada para o cus-
teio do seu ensino.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 548

Para tanto, os movimentos sociais historicamente lutam de for-


ma a diminuir esta desigualdade encontrada na realidade da popula-
ção brasileira, de ter um de seus direitos constitucionalmente garanti-
do, sendo ele a educação pública e de qualidade em todas as esferas.
O princípio da universalidade que norteia o direito a educação, apare-
ce como uma ação afirmativa, na qual o Programa está fundamentado.
Os dados apresentados e discutidos durante este capítulo são fru-
tos da coleta de dados realizada via formulário online com alunos da Uni-
versidade Estadual do Tocantins, devido algumas dificuldades proporcio-
nadas pela pandemia não conseguimos apurar dados mais exatos.
Quando perguntamos sobre a idade desses alunos podemos
observar um dado importante que nos mostra que cerca de 33,3% dos
alunos têm entre 21 e 30 anos, 29,2% estão entre 31 e 40 anos, 29,2%
até 20 anos e apenas 8,3 % são acima de 40 anos de idade. Ademais,
constatou-se que a presença feminina é majoritária, correspondendo
a 54,2 % do total dos ingressantes no ano de 2021.
Os dados mostraram que a maioria dos alunos ingressantes na
Universidade Estadual do Tocantins são solteiros, cerca de 70, 8% e
que 29, 2% são casados ou se encontram em uma união estável. O
percentual de estudantes, conforme sua autodeclaração étnico-racial,
nos cinco campus da Universidade Estadual. Percebe-se que há uma
pequena diferença entre os campus. A população de estudantes auto-
declarada parda e branca é bem maior enquanto o grupo de estudan-
tes autodeclarados pretos é literalmente minoria.
No decurso da pesquisa também procurou-se identificar os da-
dos sobre o quesito renda dos estudantes universitários. A maioria dos
estudantes possui renda familiar de até três salários-mínimos. Em rela-
ção aos aspectos educacionais podemos notar que a maioria dos pais
dos alunos respondentes, cursistas de Ciências Contábeis da Univer-
sidade Estadual do Tocantins, têm apenas o ensino médio completo,
acreditamos que isso seja devido às condições financeiras e que as di-
ficuldades antes eram maiores para conseguirem ingressar em uma fa-
culdade. A maioria das mães e pais desses estudantes não possui for-
mação superior e boa parte não terminou a educação básica. Isso vai
incidir diretamente na condição econômica familiar, pois, na sociedade
brasileira, há uma correspondência entre formação escolar e os diplo-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 549

mas na estratificação social por renda, visto que “estes estabelecem a


correspondência entre capital cultural e o valor em dinheiro que o por-
tador de um diploma ou de uma determinada trajetória escolar podem
conseguir no mercado de trabalho” (BRANDÃO, 2003, p. 37).
Assim, é possível comprovar a dificuldade que há, para a popu-
lação negra, quanto à realização escolar, o que vai se revestir na ocu-
pação em atividades com rendimento baixo e, por vezes, voltadas para
o mercado informal. É dessa forma que se apresenta a reprodução da
pobreza e da exclusão social no Brasil, em que a questão racial faz re-
lação direta com a questão de estrutura econômica (BRANDÃO, 2003).
Mesmo com toda a política de cotas, as ações afirmativas, o
número de alunos cotistas nas Universidade Estadual do Tocantins
ainda é mínimo, segundo a pesquisa cerca de 16,7% apenas do nú-
mero total de alunos são cotistas, enquanto cerca de 83,3% ingressa-
ram na faculdade de outras formas.
A maioria expressiva dos estudantes, 70,8%, estão tendo a pri-
meira experiência em um curso de graduação. Trocaram de curso 16,7
% e estão na segunda experiência. Chama a atenção o fato de 1,26%
terem respondido q terceira graduação e com as anteriores conclu-
ídas, visto que estes são participantes de uma política de inclusão
para alunos não graduados. Conforme o art. 3º da Resolução 17/ 07
COUN/UFPR: “Não poderão candidatar racial ou social, pessoas que
já possuam curso superior”.

Tabela 1 - Observaram comentários negativos ou provocações


Pergunta Nunca Quase nunca Quase sempre Sempre
Comentários negativos ou provoca-
ções baseadas em Gênero, por parte 83,3% 8,4% 8,3% -
dos estudantes.
Comentários negativos ou provoca-
ções baseadas em Deficiências, por 83,3% 16,7% - -
parte dos estudantes.
Comentários negativos ou provoca-
ções baseadas em aspectos Socioe- 83,3% 8,4% 8,3% -
conômicos, por parte dos estudantes.
Comentários negativos ou provoca-
ções baseadas em Outros fatores, por 70,8% 25% 4,2% -
parte dos estudantes.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 550

Comentários negativos ou provoca-


ções baseadas em Raça ou Etnia, por 100% - - -
parte de professores ou funcionários.
Comentários negativos ou provoca-
ções baseadas em Gênero, por parte 95,8% 4,2% - -
de professores ou funcionários.
Comentários negativos ou provoca-
ções baseadas em Deficiências, por 95,8 4,2% - -
parte de professores ou funcionários.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Podemos perceber que há atitudes preconceituosas e comen-


tários provocativos por parte de outros estudantes. E, que embora seja
com uma frequência menor, há também ações preconceituosas por
parte dos professores e funcionários. Outro, podemos observar que
apesar de serem uma parte menor dentro da faculdade existe um nú-
mero de alunos que passam preconceitos por serem de classe socio-
econômica inferior, o que nos leva a lembrar que esse e um dos fato-
res que mais influenciam os alunos de baixa renda a desistirem da fa-
culdade por não terem condições sociais melhores, por muita das ve-
zes precisarem além de estudar, trabalhar para pagarem aluguel, para
se manterem sozinhos, porque maioria deles moram longe de casa,
saem do interior e vão pra cidade em busca de melhorias.
Em relação às ações para permanência na Universidade, o
gráfico abaixo demonstra a percepção dos estudantes.

Gráfico 1 – Realização de ações para permanência na Universidade

Fonte: Elaborado pelas autoras.


DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 551

Analisando esse gráfico podemos perceber que a Universidade


Estadual do Tocantins se preocupa em realizar ações importantes, que
influenciam e contribuem para a permanência dos alunos na mesma.
Quando perguntamos se a faculdade oferta ações que influen-
ciam em sua permanência na UNITINS, 37, 5% afirmam que sim, que
continuam na faculdade devido alguma ação realizada pela própria
faculdade, cerca de 33,3% afirmam que a faculdade faz isso quase
sempre,16,7% afirmam que quase nunca a faculdade oferta esse tipo
de ação e 12,5% afirmam que a faculdade não oferta nenhum tipo de
ação desse tipo.
As estratégias e ações desenvolvidas pela universidade estão
correlacionadas às políticas afirmativas e à legislação nacional que re-
gulamentam o acesso dos estudantes negros; A UNITINS adota políti-
cas afirmativas de acesso da população negra para reparar desigual-
dades entre brancos e negros; Como uma das estratégias utilizadas
para garantir a permanência de estudantes negros, a UNITINS oferta
incentivos para a formação acadêmica e científica.

Gráfico 2 - Realização de ações para discussão e informação sobre


discriminação racial e diversidade.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Os gráficos apontam claramente, através dos seus dados, que


nos cursos de Ciências Contábeis da Universidade Estadual do To-
cantins as discussões sobre a discriminação racial e diversidade não
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 552

fazem parte da agenda de prioridades da instituição. Percebe se que


os cursos não têm uma preocupação em relação a esse tema. Se fo-
rem utilizados valores agregados obtém-se um percentual de 66,7 %
de estudantes que declaram que em seus cursos essa discussão nun-
ca ou quase nunca é abordada, e somente 33,3 % afirmam que sem-
pre ou quase sempre o assunto entra em pauta.
Os dados reforçam e evidenciam que pouco tem se discutido
sobre a questão de raça e etnia na instituição. A falta de discussão so-
bre esta temática contribui para que o contexto racial brasileiro não
seja devidamente reconhecido e realizadas as devidas intervenções,
ou seja, falta programas e projetos que fomentem práticas e relações
de valorização da diversidade racial.
Este silenciamento corrobora para que processos discriminató-
rios continuem ocorrendo e que tenhamos cada vez mais, a exclusão
de estudantes negros nos espaços universitários.

Considerações Finais

Podemos perceber no cenário contemporâneo a presença das


políticas públicas, principalmente no campo educacional, para ame-
nizar desigualdades, principalmente no que tange aos grupos que se
encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Nesse âmbito educacional servem para pretender promover
igualdade de oportunidade e permanência para que se tenha uma
educação para todos. Nesse sentido, podemos citar a implementa-
ção das cotas raciais. Essa política pública visa à igualdade de aces-
so a pessoas que se encontram, de alguma forma, seja por questão
de raça ou classe social, excluídas do processo de ingresso em uni-
versidades.
Pode-se observar que a elaboração e implementação de políti-
cas públicas que envolvam questões de gênero, raça e classe, princi-
palmente no que tange à área educacional se faz muito importante e
que todos os que atuam para a criação e implementação de políticas
públicas nessa área têm uma grande responsabilidade social; seu tra-
balho, pois, no auxílio a população, deve levar em consideração os as-
pectos de gênero, raça e socioculturais dos mesmos, dentre outros fa-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 553

tores. Isso se torna fator essencial no tocante ao tema de políticas pú-


blicas e a torna uma peça-chave no cenário educacional atual.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 555

CAPÍTULO 40

O ANALFABETISMO DIGITAL COMO UM OBSTÁCULO


PARA O SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL

DIGITAL ILLITERACY AS AN OBSTACLE TO THE


PUBLIC HEALTH SYSTEM IN BRAZIL

Pedro Carneiro Brasil


Advogado. Graduado em Direito pelo Centro de
Ensino Superior Unificado de Brasília - CESUBRA;
Pós-graduado em Direito Médico e da Saúde pela
Faculdade Iguaçu - FI; Pós-graduado em Direito
Público pela Faculdade Iguaçu - PI; Pós-graduando
em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica
pelo Instituto Federal de Brasília - IFB.
pedrocbrasil@gmail.com
https://orcid.org/0009-0001-7545-5355

RESUMO
Desde o surgimento do termo analfabetismo digital ou tecnológico,
com o significado de incapacidade total ou parcial do uso de tecnolo-
gias, o mundo tem debatido sobre essa problemática. O presente ar-
tigo, busca encontrar uma forma de remediar a exclusão, seja tanto
pela identificação dos agentes quanto pelas ações de combate à ex-
ceção. A distribuição diferenciada de acesso à internet mostra-se la-
tente nas diversas regiões do continente brasileiro. De forma seme-
lhante, procura-se dados históricos e literários para embasar a toma-
da de novas decisões ao catalogar saberes e erros oriundos da pan-
demia do Covid-19. Tal proposta tem o intuito de não cometer esses
erros ou até mitigá-los. Apresenta-se também, dados que comprovam
a evolução no campo de ofertas de serviços públicos nas plataformas
digitais. A melhoria desses acessos para a sociedade, não acompa-
nhou o aprendizado da população. O que demonstra o descompasso
entre o que o Estado oferece e a falta de conhecimento que ele deve-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 556

ria promover. A aplicabilidade das novas tecnologias a disposição da


saúde pública é de extrema importância, por isso lançamos mão dos
índices de utilização para refletir as hipóteses que servem de obstácu-
lo para universalização do serviço público da saúde por meio das tec-
nologias digitais.
PALAVRAS-CHAVE: Exclusão digital; Inclusão digital; Acesso à inter-
net; Governo digital; Políticas públicas.

ABSTRACT
Since the emergence of the term digital or technological illiteracy,
meaning a total or partial inability to use technologies, the world has
been debating this problem. The present article seeks to find a way
to remedy the exclusion, either by identifying the agents or by actions
to combat the exception. The different distribution of access to the in-
ternet is latent in the diverse regions of the Brazilian. Similarly, histor-
ical and literary data is sought to support the making of new decisions
when cataloging knowledge and errors arising from the Covid-19 pan-
demic. This proposal aims to avoid making these mistakes or even mit-
igate them. We also present data that prove the evolution in the field of
public service offerings on digital platforms. The improvement of these
accesses for society has not kept up with the population’s learning.
This demonstrates the mismatch between what the State offers and
the lack of knowledge it should promote. The applicability of recent
technologies at the disposal of public health is of extreme importance,
so we take advantage of the utilization rates to reflect the hypotheses
that serve as an obstacle to the universalization of the public health
service through digital technologies.
KEY WORDS: digital exclusion; digital inclusion; internet access; digi-
tal government; public policies.

INTRODUÇÃO

Com o avançar do pensamento humano e o surgimento de no-


vas tecnologias, diversas questões fazem frente a essas evoluções.
Em primeiro momento, a escassez financeira e material em conjunto
com a precariedade de técnicas e de conhecimento de modo amplo.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 557

Bem como o alto custo de tornar disponível essas novas tecnologias


impediam de certa forma, o avanço da prestação dos serviços públi-
cos na era digital.
O estágio da evolução humana propícia a oferta de diversos
serviços por meio virtual que estão e, que num futuro próximo, será
posto à disposição da sociedade. Porém essa nova realidade de dis-
ponibilização deve ser aplicada com certo cuidado nos serviços públi-
cos. A exclusividade dessa modalidade digital, se por um lado favore-
ce um acesso mais dinâmico, por outro exclui uma parcela da popula-
ção ainda carente de recursos tecnológicos ou, até mesmo, deficitária
no saber como lidar com a tecnologia.
O presente estudo tem o intuito de oferecer ferramentas e ar-
gumentos para fomentar o pensar na oferta de serviços públicos ex-
clusivamente por meio digital. Também, lançar luz na escolha e indi-
car a possibilidade de em primeiro momento, utilizar um sistema híbri-
do. Um conjunto que mescle tanto o analógico como o digital, capaz
de tornar mais “amigável” o uso das novas tecnologias para os menos
aptos. Ao mesmo tempo, para a população que já se sente confortável
em navegar na web, o acesso à internet seja efetivado de forma irres-
trita. Melhorando assim, com a migração para o digital, o atendimen-
to presencial.
O avançar em direção à governança digital posta a população
está em franco crescimento no Brasil conforme apresentado neste ar-
tigo. Todavia, tal caminhar, deve ser pesado também na perspectiva
do tomador do serviço público, objeto final dos atos da Administração
independente de sua classe social ou qualquer outro marcador socio-
econômico.

METODOLOGIA

A presente análise foi elaborada a partir de revisão de litera-


tura, acessada nos portais Google Acadêmico, BVS, IDEC, IBGE e
GOV.BR. Além disso, vinte e nove artigos científicos foram seleciona-
dos, dentre outros, para embasarem as questões propostas.
Os artigos sobre exclusão digital eram mais abundantes na te-
mática educacional. A barreira tecnológica também foi notada em es-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 558

pecial, no emprego de auxílio de subsistência no período da pandemia


COVID-19. No quesito da aplicabilidade do digital na Saúde, o núme-
ro encontrado foi bastante reduzido.
A análise da literatura por meio de leituras preliminares e da co-
leta de dados são especialmente importantes, não apenas para aque-
les cujo conhecimento sobre o tema é insatisfatório, mas também para
os quais necessitam do aprofundamento no tema proposto.
No cruzamento dos dados e das ideias chegou-se ao produto
deste estudo, para apresentar uma foto da realidade brasileira e traçar
marcos para que o analfabetismo digital e tecnológico seja pelo me-
nos minorado.

O AVANÇO DA ERA DIGITAL NOS SERVIÇOS PÚBLICOS

Os serviços públicos nas mais diversas partes do mundo estão


em constante evolução, seja tanto para dar uma resposta a crescen-
te necessidade da população, ou como forma de ser mais efetivo na
oferta a seus administrados. Com o passar dos anos o surgimento de
novas tecnologias tem agregado facilidades digitais que efetivamente
são postas à disposição da população. Mas, que pela “novidade” tra-
zem elementos complicadores para essa relação.
O investimento em tecnologia é a forma encontrada por diver-
sos países para otimizar tanto os recursos, que sabidamente são es-
cassos, quanto a falta de pessoal capacitado em algumas áreas dos
serviços públicos.
Em tradução literal, para Andrade (2004) “A tecnologia é um
exercício da imaginação humana: É a ordenação instrumental da ex-
periência humana dentro de uma lógica de meios eficientes e a dire-
ção da natureza para usar seus poderes para alcançar o ganho ma-
terial”1.
O recorte deste estudo é enfrentar o fenômeno das pessoas
que não estão aptas a lidar com a oferta de serviços públicos em pla-
taforma digital. Sendo certo que, existem casos que o serviço ofertado
se mostra disponível tanto no meio digital, como no modo tradicional

1 La tecnología es un ejercicio de la imaginación humana: “Es el ordenamiento instrumental


de la experiencia humana dentro de una lógica de medios eficientes y la dirección de la na-
turaleza para usar sus poderes a fin de alcanzar ganancias materiales.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 559

para atender a população inadaptada ao sistema. Nota-se com essa


prática, que a utilização dessa dupla banda, digital e presencial é de
extrema importância para universalizar os serviços público.
Em outro caminho, ao contrário de ofertar essa dupla possibili-
dade é a oferta exclusivamente 100% digital de determinados serviços
público. Fato este que exclui a real aplicabilidade desse serviço para
a totalidade da população.
Com a migração dos serviços públicos da forma analógica para
o modo digital, surge uma nova ordem de pessoas que são tidas como
analfabeto digital ou tecnológico. Esse fenômeno se caracteriza nas
palavras de ÁLVAREZ et al (2019), como:

“A alfabetização digital capacita as pessoas na Socieda-


de do Conhecimento em um ambiente de novas formas
de comunicação e obtenção de informações para trans-
formá-la em conhecimento, mas há desequilíbrios no
acesso às tecnologias digitais para as pessoas mais des-
favorecidas, levando a desigualdades sociais”2.

O historiador CHARTIER (2013) em entrevista concedida à Re-


vista Nova Escola, discorreu que a “nossa sociedade está vendo nas-
cer um novo modelo de analfabetismo: o digital. Ele é marcado pela
impossibilidade de usar um computador para ler, escrever ou realizar
tarefas simples”.
Contrapondo o grande número de excluídos, o Diretor do El
Mercurio Diario Independiente de Cuenca-Equador, MERCHÁN (2013)
no editorial titulado “Analfabetismo Digital” anuncia que:

“o analfabetismo tradicional está diminuindo cada vez


mais no mundo. Atualmente, começamos a falar do anal-
fabetismo digital para nos referirmos a pessoas que não
sabem usar computadores em suas múltiplas manifesta-
ções, hoje é comum e funciona desde a infância”3.

2 La alfabetización digital capacita a las personas de la Sociedad del Conocimiento a un en-


torno de nuevas formas de comunicarse y de conseguir información para transfórmala en
conocimiento, pero se producen desequilibrios en el acceso a las tecnologías digitales por
parte de las personas más desfavorecidas produciéndose desigualdades sociales.
3 El analfabetismo tradicional se reduce cada vez más en el mundo. Se comienza a hablar en
nuestros días de analfabetismo digital para referirse a personas que no conocen el manejo
directo de la informática en sus múltiples manifestaciones, hoy es común y funciona desde
la infancia.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 560

Colocando essa realidade em destaque, é fato que as gerações


vindouras não terão esse tipo de limitação. Toda criança e adolescen-
tes estão perfeitamente ambientados nos meios digitais. A questão é
que, uma parcela dos usuários dos serviços públicos não tem esse
tipo de intimidade com as tecnologias e muitas vezes, se sente cons-
trangido de externar essa dificuldade.

AS DIFICULDADES DO DIGITAL

Soma-se a essa parcela da população as pessoas desassisti-


das economicamente que não possuem ponto de acesso ao universo
digital ou até mesmo, as que a possuem, mas não detém condições
de arcar com os planos de pacotes de dados.
Conforme ensina Siqueira Júnior (2009):

A sociedade da informação é constituída em tecnologias


de informação e comunicação que envolve a aquisição,
o armazenamento, o processamento e a distribuição da
informação por meios eletrônicos, como rádio, televisão,
telefone, computadores, entre outros. Essas tecnologias
não transformam a sociedade por si só, mas são utiliza-
das pelas pessoas em seus contextos sociais, econômi-
cos e políticos, criando uma nova estrutura social, que
tem reflexos na sociedade local e global. (SIQUEIRA JU-
NIOR, 2009, p. 214).

Retornando os olhos para o Brasil, quando o mundo era sacu-


dido pela COVID-19, o Governo Federal, pressionado pelos anseios
crescentes da população em ter uma renda para subsistência nos pe-
ríodos de quarentena, lançou mão de um serviço chamado Auxílio
Emergencial de Proteção Social.
O referido auxílio, um programa de governo garantidor de ren-
da mínima à população mais vulnerável, visava mitigar os nefastos im-
pactos econômicos da pandemia. Contudo, essa ação governamen-
tal foi apenas disponibilizada por meio de aplicativo disponíveis em lo-
jas virtuais.
No primeiro momento, somente nos primeiros cinco dias, o pro-
grama teve mais de 33,5 milhões de downloads. Do total, 32,3 mi-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 561

lhões foram feitos no sistema operacional Android e 1,2 milhão no iOS


da Apple. Esses dados foram revelados pelo próprio agente financeiro
encarregado do aplicativo.
Na sequência, em apenas dez dias chegaram a mais de 272
milhões de visitas. A estatal ainda recebeu 10,1 milhões de ligações
pela central telefônica e enviou 160,3 milhões de Short Message Ser-
vice - SMS requerendo dados para completar o cadastro.
Outro dado, é que no fim do ano de 2020, o serviço já tinha re-
cebido mais de 710 milhões de ligações. Em termos gerais, signifi-
ca que cada brasileiro independentemente da idade, realizou mais de
três ligações para o canal de atendimento naquele ano.
No tocante aos pontos de acesso, os dados levantados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE informam que no
ano de 2021, em média 90% das residências brasileiras tinham aces-
so à internet, observou-se ainda um aumento de seis pontos percen-
tuais no decorrer de dois anos.
Aprofundando mais na análise, o telefone celular manteve a li-
derança como o principal equipamento de acesso à internet em 99,5%
dos domicílios. Os microcomputadores caíram de 45,2% para 42,2%
e assim, perdendo a segunda posição para as smart TVs que ostenta-
vam o percentual de 44,4% das residências.
Um bom exemplo da expansão do acesso ocorreu na Região
Norte, onde o percentual dos domicílios com acesso à internet via ban-
da larga fixa subiu de 54,7%, em 2019, para 70,5% em 2021.
A referida Região é formada por sete estados brasileiros, uma
região que cobre quase a metade do território nacional. Com percen-
tual de 45,25% do Brasil, esse território com área superior à da Ín-
dia e pouco inferior à toda União Europeia, só ampliou seu uso ao di-
gital a pouco mais de dois anos, reforçando a realidade de desigual-
dade do País.
Ocorre que, mesmo com o avanço nos números de pontos de
acesso à internet na Região Norte. No Brasil, de modo global, o uso
da internet ainda carece de ampliação. Ao aprofundar o estudo des-
te percentual, o quadro abaixo demonstra a verdadeira desigualdade
abismal nos domicílios brasileiros em razão, principalmente, da renda
e classe social.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 562

Fonte: CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da In-


formação (Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos do-
micílios brasileiros - TIC Domicílios 2021.

Na mesma linha desigual, MATSUURA (2006) diretor-geral da


UNESCO entre os anos de 1999 e 2009 ao capitanear el Informe de Se-
guimiento de la Educación para Todos en el Mundo, observou-se tan-
to entre os usuários existentes nas favelas, como entre a população em
geral, uma tendência decrescente do uso da informática à medida que
a faixa etária aumenta. Na favela essa tendência é ainda mais acentua-
da tendo em vista os níveis de escolaridade mais baixos entre os mais
idosos e as menores chances de aprendizado no emprego.
Dessa forma, uma grande parcela da população se encontra in-
serida em um contexto de exclusão. Não apenas em relação ao aces-
so de informação, mas também a respeito do seu uso. Para estes o
desenvolvimento tecnológico parece não existir de fato, o que repre-
senta uma das facetas mais cruéis da atual exclusão social.
De grande importância é alertar que, o referido acesso de par-
te da população mais carente não se mostra pleno no decorrer do mês
inteiro. Muitas vezes a internet tem a velocidade reduzida, ou liberada
apenas para meia dúzia de aplicativos de redes sociais específicos, ou
até limitada na sua totalidade.
Confirma essa realidade o estudo realizado pela organização
não governamental Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor –
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 563

IDEC (2021), sendo o pacote de internet do celular franqueado para


as classes C, D e E por 23 dias no mês investigado.
No segmento específico de usuários de pré-pago, a internet só
esteve disponível 21 dias e, nas classes D e E, por apenas 19 dias.
Nos demais dias, o acesso à internet pelo 3G/4G esteve bloqueado,
somente com acesso a alguns aplicativos de uso ilimitado.
Contribuindo em muito para o objeto deste estudo, os achados
realizados pelo Instituto informam que 31% dos usuários da internet
móvel ficaram de uma forma ou de outra sem ter acesso a serviços de
saúde, observe os dados extraídos:

Fonte: IDEC E INSTITUTO LOCOMOTIVA. 2001

Lembrando que os percentuais informados remontam aos usu-


ários que tinham acesso à internet. Mas, por falta de condições fi-
nanceira, durante o mês tiveram seus pacotes de dados restringidos.
Diante disso, se recortarmos essa faixa da população e aglutinarmos
com a parcela da população que não tem nenhum meio de acesso
à internet esse número será bem maior, chegando até ultrapassar a
casa dos 50%.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 564

Retornando ao já citado auxílio emergencial, restrito à platafor-


ma digital, este teve várias críticas da barreira tecnológica posta a po-
pulação, tanto o é, que milhares de ações abarrotaram a justiça bra-
sileira, em Seminário Saúde Digital do Conselho Nacional de Saúde
(CNS) com apoio da Fiocruz Brasília realizado em abril de 2023 aven-
tou-se o número de centenas de milhares de ações judiciais produzi-
das pela falta de acesso à internet para a população requerer o bene-
fício social.
Compulsando dados sobre essa exclusão, localizou-se que os
próprios Tribunais Federais, de uma forma ou de outra, franquearam
ao cidadão mecanismos para que eles pudessem se socorrer da Jus-
tiça. Pode-se citar o caso do Tribunal Regional Federal da 1ª Região
– TRF1, responsável atualmente por treze estados brasileiros, o que
corresponde a quase metade dos estados que compõe o Brasil.
O TRF1 disponibilizou sítio eletrônico contendo apenas seis
campos de perguntas, fora as lacunas de dados pessoais que deve-
riam ser preenchidos pelo cidadão excluído. Bem como, necessitava
que o usuário alimentasse o sistema com outros quatro arquivos de
documentos comprovatórios. Sendo eles, três de ordem de documen-
tos pessoais e o quarto com qualquer documento que o administrado
entende-se ser necessário para solução do caso.
Lembrando que da mesma sorte do aplicativo emergencial, es-
ses formulários da justiça deveriam ser preenchidos na modalidade di-
gital. Tanto o Tribunal quando a Defensoria Pública da União – DPU,
fizeram verdadeiros mutirões para atender e recolher os pedidos ana-
lógicos e então reduzi-los a termos nas plataformas digitais da Justiça.
Diversas ações como as relatadas foram seguidas por todos
os tribunais federais. Em segundo momento, o Governo Federal ofer-
tou que qualquer cidadão que tivesse dificuldade de acesso pudes-
se recorrer a uma agência estatal dos Correios para realizar o cadas-
tro tardio.
Debruçando novamente sobre os dados, para a Pesquisa Na-
cional por Amostra de Domicílios Contínua a Pnad TIC (InfoMoney
2022), os dois motivos mais mencionados para a exclusão digital fo-
ram não saber usar a internet 42,2% e falta de interesse 27,7%. Já
20% apontaram motivos financeiros para a falta de acesso, 14,0% dis-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 565

seram que o acesso à rede era caro e 6,2% que o equipamento eletrô-
nico necessário era caro).

AVANÇO TECNOLÓGICO EM E-GOVERNMENT

Em novembro de 2022 o Banco Mundial identificou que o Brasil


estava em segundo lugar entre os países do mundo com a mais alta
maturidade em governo digital. De fato, o Brasil teve o maior avan-
ço entre as nações avaliadas, subindo cinco posições em relação ao
ranking divulgado no ano anterior. Passando do sétimo para o segun-
do lugar e tornando-se líder em governo digital no Ocidente, perdendo
apenas para a Coreia do Sul, primeiro lugar geral da disputa.

O resultado do GovTech Maturity Index 2022 é uma análise das


198 economias do mundo, ele tem como base quatro componentes de
pontuação: 1) Índice de Sistemas Governamentais Centrais, 2) Índice
de Prestação de Serviços Públicos, 3) Índice de Engajamento do Ci-
dadão e 4) Índice de Habilitadores GovTech. Ao observar a referida re-
presentação, nota-se que ainda existe muito a melhorar na oferta dos
serviços públicos, principalmente na América Central, África e do su-
deste Asiático.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 566

Ora, se no Brasil, considerado o segundo melhor e-government


dentre os 198 países pesquisados, quase metade da população fica a
margem dessas novas tecnologias imagine nas regiões do mundo que
tiveram sua gradação diminuta. Este fato demonstra que a dificuldade
da exclusão digital enfrentada pela população do Brasil, muito prova-
velmente seja semelhante a enfrentada em outros países.

O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA SAÚDE

A Saúde Digital, segundo o Ministério da Saúde, abrange o uso


de recursos de Tecnologia de Informação e Comunicação para produ-
zir e disponibilizar informações confiáveis sobre a saúde para os cida-
dãos, profissionais de saúde e gestores públicos. Ela observa e incor-
pora os recentes avanços da tecnologia, como novos conceitos, apli-
cações de redes sociais, Internet das Coisas, Inteligência Artificial, en-
tre outros.
No campo das tecnologias digitais aplicadas na saúde, recen-
te estudo do ano de 2022 realizado pelo Centro Regional de Estu-
dos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação atesta que
a tele consulta foi utilizada como suporte para atender pacientes por
33% dos médicos e 26% dos enfermeiros no país. Esta mesma pes-
quisa fornece que 97% dos estabelecimentos públicos de saúde já
contam com computador em suas dependências frente aos 94% no
ano anterior.
Mesmo com os indicadores bastante animadores, mostra-se
necessário preencher todo o território nacional. Nesta questão surge a
lacuna da Amazônia Legal, pois com a dilatada extensão territorial de
5.217.423 km², que corresponde a 61% do território brasileiro, ela ocu-
pa parte de nove estados Brasileiros. A título de comparação se fos-
se um país, a Amazônia Legal seria o 6º maior do mundo em exten-
são territorial.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 567

Fonte: IBGE 2021

De fácil observância, várias dificuldades existem na Amazônia.


Para além da grandeza territorial, a baixa densidade demográfica e,
por vezes o difícil acesso dos meios de transporte se junta a carên-
cia de infraestrutura básica. Como demonstram os dados do Ministério
da Saúde/DataSUS de dezembro de 2021, os estados pertencentes à
Amazonia Legal são os que tem baixo índice de profissionais médicos
a disposição da sociedade.
A dificuldade de acesso fisicamente aos agentes de saúde
se mostra latente, tanto o é, que o Relatório elaborado no ano de
2011, afirma:

[...] se percebe o quanto a assistência médica nas co-


munidades rurais desses municípios é um desafio para
Governo, pois em muitas comunidades nem sempre há
o barco que funciona como posto ambulatorial e como
SOS No entanto, sempre há nas comunidades rurais um
agente de saúde que faz um atendimento básico, princi-
palmente na área de prevenção (Relatório analítico terri-
tório rural Manaus e entorno, p. 19).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 568

De fato, em comparação, os estados fora do eixo da Amazônia


Legal ostentam um número superior à 250 profissionais médicos por
cem mil habitantes, como é o caso do Rio de Janeiro com 260 e Rio
Grande do Sul com 262. São Paulo e o Distrito Federal são os mais
bem assistido por médicos, com 278 e 383 respectivamente.

Fonte: Elaboração própria com base do DataSUS.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se o avanço tanto do uso quanto das ofertas de ser-


viços públicos postos para a população por meio das plataformas di-
gitais. De igual sorte, listou-se a barreira do uso dessas novas tecno-
logias. Passando pela dificuldade tanto em ter o ponto do acesso a in-
ternet, como em conseguir custear os pacotes de dados no mês intei-
ro. Além disso, mesmo que exista o acesso à internet, outro marcador
negativo é a comunidade que não está apta para a nova linguagem di-
gital, o que caracteriza os novos analfabetos digitais.
Listados os obstáculos territoriais e a oferta desigual de mé-
dicos nos quatro cantos do Brasil, este estudo volta-se para os de-
safios da suposta facilidade tecnológica posta à disposição da socie-
dade. Pretensa disposição, como já citado acima, quando se verifica
os níveis de conhecimento tecnológicos. De fato, só com o uso des-
sas novas tecnologias é que se fará frente as necessidades impostas
pela população de um país continental como o Brasil. No entanto, de-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 569

ve-se considerar o tempo necessário para adaptação de grande par-


te da população.
Uma provável solução é o abastecimento da população por
serviços públicos de qualidade acessíveis para todos tanto por meio
digital como analógico. A possibilidade de o cidadão escolher usufruir
das novas tecnologias ou da velha forma presencial criaria uma situa-
ção confortável para aqueles que porventura não estivessem aptos a
manipular a informação digital. Ressalta-se que, apenas com uma tí-
mida migração de usuários para as plataformas digitais já se desafo-
garia os pátios dos hospitais e centros de atendimento.
Ora se é caro a construção de infraestrutura de engenharia vi-
ária, predial e mobiliaria no tamanho das necessidades da popula-
ção, nada mais natural buscar ampliar a infraestrutura de dados para
o ofertar estes serviços públicos na nova era digital.
Diante dos conteúdos teóricos e práticos, bem como dos dados
auferidos pelos índices apresentados a utilização das ferramentas tecno-
lógicas se mostraram benéficas. Podendo alcançar altos índices de qua-
lidade e eficiência, desde que inicialmente, se apresentem de forma híbri-
da, associando tanto o acesso presencial como o digital disponibilizado
amplo acesso ao serviço público de saúde. Além disso, se faz necessária
uma política pública que fomente uma maior inclusão da população aos
saberes digitais. Assim, o uso das novas tecnologias é um caminho certo
para se contornar as dificuldades de recursos e de logística continental.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 572

CAPÍTULO 41

O ATO INTERDISCIPLINAR: PRÁTICAS


EDUCACIONAIS DA ESCOLA DO CAMPO

THE INTERDISCIPLINARY ACT: EDUCATIONAL


PRACTICES OF THE SCHOOL OF GOLF

Ebenezer Santos da Silva


UNIPLAN- Docente-Bacabal –MA
ebenezer1946@hotmail.com

Raimunda Sousa dos Santos


UNIPLAN- Docente
raisousantos@gmail.com

Joelma Silva Amaral Vieira- UEMA


Bacabal-MA
Joelmasilvaamaralvieirajoelma@gmail.com

Josina Sampaio da Silva


UEMA- Bacabal –MA
josinasampaio1@gmail.com

Carolinna Martins Ferreira


UEMA- Bacabal –MA
carolinnamartinsferreira@gmail.com

Chirlene Rodovalho de Lima Viana


UEMA- Bacabal –MA
chirlenerodovalho@gmail.com

Elizeu de Aragão Pereira


INTA- Bacabal –MA
elizeuhistoriador1@gmail.com

Genilda M. da Silva de Morais


UEMA- Bacabal –MA
genyldademorais@gmail.com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 573

Palloma Moreira Cabral


UEMA- Bacabal –MA
palloma_moreira@outlook.com

Wérica Sousa Veloso


IFMA-Dom Pedro –MA
werikveloso@hotmail.com

Silveria Maria Santos da Silva


UNIASSELVI – São Luís -MA
silv.educacao@gmail.com

Francisca Patrícia Pereira Teles


FAVENI
patricia_teles25@hotmail.com

RESUMO
Este estudo tem como objetivo abordar o ato interdisciplinar nas prá-
ticas educacionais da escola do campo interligando eixos entre as di-
versas disciplinas, através do agir interdisciplinar que se vivência dia-
riamente na sala de aula, pois o docente procura unir os assuntos atu-
ais com outras disciplinas ao conteúdo que está sendo transmitido. Este
que se deu a partir de uma revisão bibliográfica em diversas fontes de
dados como fontes tecnológicas, livros artigos, etc. Dizer que desta for-
ma o saber está sendo fragmentado significa não valorizar as outras
disciplinas educacionais e os saberes científicos. Com isso os dados
adquiridos para esta proposta mostram a ação interdisciplinar, através
de atitudes de cooperativos e reciprocidade a fim de atingir o de uma
aprendizagem significativa que comtemple as ações de sobrevivência.
Palavra-chave: Interdisciplinar, Escola campo, Práticas sociais, Do-
cente, Aprendizagem significativa.

ABSTRACT
His study aims to address the interdisciplinary act in the school’s ed-
ucational practices in the field connecting routes between the various
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 574

disciplines, through the interdisciplinary action that experience dai-


ly in the classroom, as the teacher seeks to unite the current affairs
with other disciplines to the content that is being transmitted. This who
gave himself from a bibliographic review on several data sources such
as technological sources, books, articles, etc. say that in this way the
know is being fragmented means not valuing the other educational dis-
ciplines and scientific knowledge. With this the data acquired for this
proposal show the disciplinary action, through cooperative attitudes
and reciprocity in order to reach a meaningful learning that comtemple
the actions for survival.
Keyword: Interdisciplinary field school, Social practices, Faculty,
Meaningful learning

INTRODUÇÃO

Este estudo intitulado de “O ato interdisciplinar: práticas educa-


cionais da escola do campo”, interliga eixos entre diversas disciplinas,
sendo este caracterizado como o agir interdisciplinarmente na sala de
aula, pois unir os assuntos atuais com outras disciplinas do currículo
escolar torna-se pertinente ao desenvolvimento cognitivo dos alunos,
pois o saber não se fragmenta ,mais sim adquire uma significância a
outras disciplinas educacionais e aos saberes científicos
Moran (2006) afirma que o movimento interdisciplinar se ori-
ginou de uma crise de dimensões planetárias, advinda historicamen-
te de um paradigma que permitiu à separação, a divisão, a fragmenta-
ção, levando a uma visão mecanicista do mundo. A evolução da ciên-
cia para superar o pensamento newtoniano-cartesiano, que propõe a
fragmentação, a unicidade, a parte, vem dando lugar a um pensamen-
to holístico, que busca a reunificação das partes no todo.
É de suma importância adequar-se à maneira metodológica de
empregar a prática interdisciplinar de forma que enriqueça o conhecimen-
to do aluno levando a um saber mais aprimorado chegando a um nível
cognitivo elevado, havendo troca de conhecimentos e experiências.
Para Fazenda (1985), a prática interdisciplinar está inserida no
agir e pensar, até mesmo por que o professor ao preparar a aula pro-
curar realizar ações que instigaram o exercício do conhecimento pré-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 575

vio juntamente com as áreas de conhecimento, permitindo que este te-


nha noção dos possíveis e eventualidades que ocorrerão em sala de
aula diante das abordagens expostas.
O professor que agi de forma interdisciplinar, esta propondo ao
alunado um trabalho investigativo, este que se torna muito importan-
te nas escolas do campo, pois permite que este possa realizar uma in-
vestigação a cerca da sua história e da comunidade, é por meios des-
sas intervenções que as descobertas dos antepassados se tornam en-
raizadas e firmes no contexto escolar e da comunidade. Um profes-
sor envolvido com sua didática coloca em evidência sua luta por uma
educação de qualidade a cerca do povo esquecido da sociedade, que
são os povos que residem na zona rural da cidade. (FAZENDA, 1995)
É importante favorecer o conhecimento a esse povo, para que
estes não fiquem a mercê de conhecimento e que tenham consciência
da sua contribuição no contexto socioeconômico.
É necessário relacionar o conhecimento novo ao conhecimen-
to prévio, uma vez que o novo conhecimento equivale a um conheci-
mento para o aprendiz tornando-se mais rico, elaborado e diferencia-
do com a inserção do conhecimento prévio que se torna mais signifi-
cativo e dando mais estabilidade. (MOREIRA; MASINI, 1982; MOREI-
RA, 1999, 2000). Assim acontecem as ações educacionais nas esco-
las do campo, de maneira participativa e utilizando os recursos dispo-
nibilizados pela natureza e que são de conhecimento de toda comuni-
dade escolar.
É possível utilizar esse conhecimento para trabalhar os conte-
údos pedagógicos, levando o aluno a analisar os acontecimentos da
sociedade e do mundo, construído uma educação voltada para a rea-
lidade atual e para o mercado de trabalho que a cada dia exige mais
conhecimentos de informatização. (FREIRE, 1987).
Em vista disso, objetivo desse trabalho é entender o proces-
so didático dos docentes acerca do trabalho interdisciplinar nas esco-
las do campo, pois os discentes precisam utilizar o conhecimento sig-
nificativo adquirido durante sua vida escolar como base de orientação
para sua vida em sociedade, tornando-se favorável para resolver di-
versas situações na qual se encontrava sem perspectivas, para enca-
rar seus problemas, pois os docentes que atuam nas escolas do cam-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 576

po buscam envolver a teoria de forma contextualizada a realidade dos


educandos, a fim de favorecer uma melhor compreensão a cerca das
disciplinas do currículo, além de proporcionar que utilizem esse co-
nhecimento em seu cotidiano. O que se questiona, também é a ma-
neira como é desenvolvida as práticas educativas pelos profissionais
da educação ao transmitir novos conhecimentos através da interdis-
ciplinaridade e como esse profissional utilizará os recursos disponí-
veis na comunidade rural como paradigma no processo de alfabeti-
zação? Como alfabetizar utilizando a materiais existentes na nature-
za? De que maneira o professor deveria inserir os recursos naturais
em suas aulas?
Trabalhar de forma interdisciplinar é importante para desper-
tar novas ideias, fazendo com que os alunos estimulem o raciocínio e
também a linguagem, pois terão liberdade para se expressar o que se
tornará mais enriquecedor para tal indivíduo.
A pesquisa se justifica, pois a escola possui seu papel socia-
lizador a ser executado e cumprido, procurando-se inserir a todos os
segmentos com a própria unidade escolar, oferecendo instrumentos
comprometedores para o trabalho, aluno e professores, levando-os a
participarem juntos do maior mérito do ser humano que é sua forma-
ção; A educação apresenta historicamente desigualdades sociais, o
que são refletidas nos povos do campo a ter falta de acesso a educa-
ção de qualidade, como direito.

PROCESSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

O Liberalismo, Escola Nova (John Dewey), Construtivismo (Pia-


get) expresso nas formulações das UNESCO com as teses pós-mo-
dernas, dos sete saber, entre os quais o “aprender a aprender”. Esta
tese vem influenciando a educação no Brasil desde a década de 20.
Os movimentos sociais muito contribuíram para o processo
educacional das comunidades campesinas, sendo os trabalhadores
rurais os principais sujeitos desta ação pedagógica. A partir do sé-
culo XX, o modelo de educação do campo começa a ser delineado,
através da insatisfação da população rural em relação aos empresá-
rios que não manifestavam nenhum interesse por uma educação hu-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 577

manizada, pois os latifundiários viam o campo como terra de ninguém


onde os que ali moravam não tinham direito algum, esses movimen-
tos tinha o desejo de uma educação inclusiva e autônoma (TRAVES-
SINI, 2015, p.29).
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo
(2001), são caracterizados como população campesina, múltiplos su-
jeitos: os assalariados rurais temporários; posseiros; meeiros; arren-
datários; acampados; assentados; reassentados; agricultores familia-
res; vileiros rurais, e outros mais. (CALDART, 2012).
A precariedade da educação oferecida às populações do cam-
po se apresenta de forma mais visível nas escolas com turmas mul-
tisseriadas, que se constituem a maioria das escolas do campo, uma
vez que são escolas com um pequeno número de estudantes, situ-
adas em localidades pouco populosas. Entretanto, o contingente de
estudantes nestas escolas representava uma quantidade expressi-
va de pessoas que merecem e tem direito a um atendimento esco-
lar de qualidade.
O espaço rural era visto como espaço de produção econômi-
ca, a partir dos interesses do capital, excluindo os que não se incluem
na lógica da produtividade, com a realização da I Conferência Nacio-
nal por uma educação do campo, em 1998,a palavra campo substituiu
o termo rural. (ROSA; CAETANO, 2008, p.23).
Assim, o que os trabalhadores campesinos buscavam era a
adequação das atividades educativas a sua realidade camponesa, as-
sim como as suas culturas ,tradições, lutas e conquistas que tiveram
em meio ao território onde vivem. Segundo Rosa e Caetano (2008,
p.23), com o conceito “educação do campo”, pode acontecer a inclu-
são e valorização dos indivíduos que fazem parte do meio rural, opor-
tunizando a participação através das suas experiências para que as-
sim contribua igualmente na sociedade entre produção, terra e seres
humanos, com relações sociais democráticas e solidárias.
A partir de 1970, a sociedade começou a reagir ao autoritaris-
mo e de repressão e com isso:

• Os movimentos sociais passaram a assumem um caráter de


luta pela democratização.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 578

• Reivindicavam direitos e faziam com que diferentes iniciativas


no campo da educação popular constituam expressões de es-
paços de participação nas políticas públicas.

A historicidade da educação do campo esta relacionada ao


campo politico, assim como a exclusão social e o processo de agro-
negócio. A presença dos trabalhadores rurais na política se tornou evi-
dente, por meio das suas reivindicações, estas que contribuíram sig-
nificativamente para construção de um projeto de educação para essa
população, este conquistado através da luta por politicas publicas para
educação do campo.
Azevedo (2001), o estado tem o papel de possibilitar melho-
res condições sociais e garantir a qualidade de vida da população. A
educação do campo é um exemplo de politicas publicas que se reali-
zou pela pressão da sociedade em prol de uma educação de qualida-
de nas áreas rurais.
No ano de 19995, com o surgimento das propostas educa-
cionais para o meio rural, surgiram muitos programas e projetos vol-
tados para formação pedagógica, como Escola Ativa, PRONERA e
vários outros que contribuem até hoje para formação e capacitação
dos que fazem parte da comunidade rural. A educação do campo é
uma modalidade de ensino garantida a partir de politicas públicas e
que vem sendo intensificada através das leis da educação a favor do
povo do campo.
Assim educação do campo esta caracterizada como uma mo-
dalidade de ensino, cujo principal objetivo é a educação de crianças,
jovens e adultos, sendo esta uma política publica que favoreceu o di-
reito a educação para inúmeras pessoas que residem longe da cida-
de e que necessitam de ter seus direitos garantidos assim como a po-
pulação urbana.
Durante a elaboração da LDBN (Lei de diretrizes e bases da
educação nacional), é possível observar que a mesma já menciona-
va aspectos favoráveis a educação do campo, favorecendo a garantia
para seus discentes e docentes ao período sazonal.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 579

Quadro 1- Garantia de educação segundo a LDB.


formação de professores para integrar e adaptar o homem ao
LDB 4024/ 1961
meio rural;
Propõe, ao tratar da formação dos profissionais da educação, o ajus-
LDB 5692/1971 tamento às diferenças culturais. Prevê a adequação do período de
férias à época de plantio e colheita de safras;
contexto de afirmação da Educação como direito público subjetivo (CF
LDB 9394/1996 1988)/ Avanço dos Movimentos do Campo. Defende a idéia de especi-
ficidade e o direito à igualdade e à diferença (Art 28 e 26 da LDB);
Fonte: Adaptação do autor

Segundo a LDBN 9.394/96, a população rural precisa de adap-


tações para a efetivação da educação básica, como citadas, no:
Art. 28. A educação básica será ofertada para a população do
campo com prioridades para a realização das adaptações devidas
quando necessárias de acordo com as peculiaridades de cada local.
Sendo que até mesmo os conteúdos que norteiam o currículo escolar
e o processo metodológico devem estar de acordo com o interesse da
população campesina;
É citado no inciso II, deste artigo que o calendário escolar pode
ser alterado de acordo com o período de colheita e também das con-
dições climáticas;
O parágrafo único. Diz que para que as escolas do campo dei-
xem de realizar seu trabalho pedagógico é necessário que os órgãos
do sistema de ensino estejam cientes e que a Secretaria de Educa-
ção de Educação analise a verdadeira situação da escola e também
o diagnostico da comunidade (Incluído pela Lei nº 12.960, de 2014).
Atualmente também baseado nas “teorias do aprender a apren-
der” e no neoconstrutivismo (Piaget). Fundamenta-se na metodologia
em si e no ambiente pedagógico favorável à aprendizagem, centrado
no aluno e na não diretividade pedagógica. O professor é um facilita-
dor da aprendizagem e este deve antecipar os objetivos que espera
que seus discentes alcancem ao longo de seu trabalho, como identi-
ficar a relação entre teórica e prática durante as ações interdisciplina-
res em sala de aula, trabalhando de forma coletiva a escola e comuni-
dade para vivenciar a manipulação dos recursos disponíveis e assim
desenvolver a interdisciplinaridade, a fim de levar o aluno a uma com-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 580

preensão maior acerca dos conteúdos e temas trabalhados na escola.


Utilizando diferentes fontes de informação e recursos para a constru-
ção do conhecimento, favorecendo a participação e o envolvimento da
comunidade na escola desenvolvendo a gestão democrática.
O conteúdo é flexível e deve ser priorizado o estudo da realida-
de em que os alunos estão inseridos. Uma das consequências de tal
metodologia é o esvaziamento do conteúdo clássico na escola e não
da elevação do pensamento científico dos alunos.
As consequências são a reprodução de conteúdos descone-
xos da realidade do campo e, muitas das vezes, a dificuldade para re-
plicar na escola do campo os conteúdos tratados com os formadores
dos formadores.
A parceria dos alunos é de fundamental importância, pois per-
mite a construção do conhecimento critico e a cooperação, onde estes
podem ajudar na organização de cantinhos de aprendizagens contri-
buindo com os materiais confeccionados e elaborados nas suas pes-
quisas e trabalhos escolares.
Os conteúdos escolares devem abordar temas que tratam de
grandes problemas que afetam a vida cotidiana, pois são essenciais
para que o aluno possa entender e relaciona-los a sua vida escolar e o
sua vivência do dia- a -dia. A compreensão da linguagem e do conhe-
cimento se faz a partir de sua consideração como mediação do pro-
cesso de aprendizagem e de formação da mente, buscando relações
interdisciplinares do conhecimento e conteúdos articulados com o en-
sino e a pesquisa pedagógica, o que proporciona mais oportunidade
de conhecimento, pois o aluno estará vinculado às práticas de apren-
dizagem realizadas pelo professor o que instigará a produção elabora-
da de conhecimento e assim absorverá o que realmente lhe será ne-
cessário em sua vida, fazendo assim uma interpretação significativa
de tudo aquilo que lhe foi transmitido e adquirido intelectualmente ao
longo do processo de aprendizagem.

Processo metodológico interdisciplinar na escola do campo

O trabalho metodológico, dentro das escolas do campo dá-se


pela articulação entre teoria/prática na construção de conhecimentos.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 581

Por meio de uma metodologia problematizadora, capaz de redefinir o


educador como condutor do estudo da realidade.
A educação, na qualidade de uma prática social, contribui po-
sitivamente no processo de democratização da sociedade brasileira.
Deste modo, evidencia-se que a busca da qualidade na educação re-
presenta o desejo de prestar um serviço eficiente, no sentido de con-
tribuir na formação de homens e mulheres capazes de compreender a
sociedade em que vivem.
O trabalho escolar é uma ação social compromissada com a
educação, realizado de forma internacionalizada e sistematizada res-
peitando a diversidade local, social e cultural, entendendo o aluno
como um sujeito real e histórico, buscando sempre a sua promoção
e a qualidade de ensino. A educação de hoje visa formar um cidadão
para um novo tempo, quando a ciência e a tecnologia trarão novas ne-
cessidades, novos valores, novas conquistas e novas leituras da rea-
lidade que a cerca.
A concepção histórico crítica permite a uma reflexão da realida-
de, o que permite uma compreensão maior dos aspectos existentes na
sociedade através de ações conscientes, por meio dos questionamen-
tos a fim de buscar novas soluções para o meio social de onde esses
sujeitos estão inseridos.
O que se entende a respeito das atuações sociais é que essas
fazem parte de um contexto histórico de lutas, conquistas e muitas rei-
vindicações em busca de uma vida digna e para proporcionar uma boa
educação e garantia de direitos aos que estão envolvidos neste pro-
cesso de socialização cidadã. São os campesinos, ribeirinho, quilom-
bolas e tantos outros que buscaram unir esforços para adquirir tal con-
quistam cidadã e social, pois não foi tão fácil adquiri tal vitória diante
de tantas questões politicas, assim observa-se claramente ao longo
da história campesina o comprometimento destes para garantir a edu-
cação de seus filhos sendo esta transformada e que viesse a inclui-los
como agentes que contribuem de forma efetiva na sociedade.
Desenvolver um trabalho de forma sistêmica é permitir que os
personagens da escola pudessem vivenciar o mundo do conhecimen-
to, sem que os mesmos desconheçam as suas características, é por
isso que o docente deve respeitar as peculiaridades existentes na vida
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 582

campesina, realizando um trabalho didático de modo que esses valo-


rizem a sua história, por isso a importância de se trabalhar de manei-
ra interdisciplinar.
Absorver novos conhecimentos acerca dos acontecimentos atu-
ais significa estar desenvolvendo-se intelectualmente, incorporando ati-
tudes sociais e adquirindo um comportamento humanizado acerca dos
problemas que afligem nossa sociedade. Para que isso aconteça é im-
portante que o estudo seja direcionado, partindo de um ponto específico
para a busca da totalidade e da solução que se quer chegar.
É necessário que se faça uma revisão acerca do currículo para
relacionar com o que se deseja, pois esta deve ter um significado que
leve o aluno a refletir sobre sua situação e existência no mundo con-
temporâneo e quais atitudes devem tomar para melhorar ou amenizar
determinados problemas atuais. Dessa maneira o discente terá uma
visão crítica e social sobre tudo, fazendo comparações, críticas, elo-
gios e sabendo desmistificar qualquer que seja o problema real.
O trabalho com esse paradigma tem como ferramenta pedagó-
gica as ações interdisciplinares, esta que deve ser utilizada com cau-
tela para que não prejudique o desenvolvimento de suas principais ha-
bilidades. Essa prática é pertinente ao desenvolvimento do aluno cam-
pesino, pois são ações do seu cotidiano.
Os especialistas devem tomar cuidado ao trabalhar de manei-
ra interdisciplinar para não entrar em outra disciplina sem contribuir de
maneira recíproca com o assunto que esta sendo ministrado. Este é
um dos maiores erros cometidos, pois o ensino interdisciplinar pres-
supõe troca acontecendo de maneira cooperativa, passando por uma
constante reformulação entre as disciplinas e conhecimentos.
Para uma prática pedagógica eficiente é necessário está cons-
ciente do seu trabalho em sala de aula, assim também através da pes-
quisa que o aluno estará sendo desafiada a realizar, esta que deve ser
estimulante e desafiadora, pois só assim o conhecimento será cons-
truído com exatidão.
É necessário que as instituições impulsionem um espaço de
construção dos conhecimentos, incrementando no aluno uma consci-
ência crítica para mantê-lo ativo o processo pedagógico, visando à in-
teração, adequando-o às constantes inovações e modificações tecno-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 583

lógicas e sociais, promovendo a evolução dos mesmos no processo


de aprendizagem.
É por meio da educação que o indivíduo torna-se protagonis-
ta de sua história, pois ela tem o papel de preparar os novos cidadãos
para viverem em constante modificação e que exigem pessoas aptas
a atuarem ativamente, adaptando-se às inovações e sendo capaz de
buscar por si mesmo o conhecimento.
A escola possui um papel social e diante disso todos que es-
tão inseridos nela possuem uma função no processo de aprendiza-
gem contribuindo ou não para o desenvolvimento do conhecimento
dos discentes, mas para que a escola esteja preparada para tornar-se
interdisciplinar é necessário que todos estejam envolvidos no proces-
so educativo interdisciplinar.
Para que esse novo papel social da educação se cumpra, é
preciso rever o funcionamento da escola não só em relação aos conte-
údos, metodologias e atividades, mas também quanto ao modo de tra-
tar o aluno e aos comportamentos que devem ser estimulados, como,
por exemplo: a autovalorização; a curiosidade e a autonomia na cons-
trução do conhecimento.

DISCUSSÕES

O que se deseja através de uma prática docente é que duran-


te o processo de aprendizagem aconteça um avanço no rendimento
dos alunos durante as aulas, motivando-os através das atividades de-
senvolvidas com o uso da manipulação de recursos da sua realidade
diária. Utilizar estas ferramentas na educação significa abrir caminho
para o dinamismo e uma aprendizagem mais significativa.
É necessário que o docente esteja constantemente avaliando
seu trabalho interdisciplinar, para que assim possa constatar se os ob-
jetivos propostos estão sendo alcançados, além de verificar os pontos
positivos e negativos apresentados durante a utilização da mesma,
até para que possa ir aperfeiçoando suas ações e melhorando sua di-
dática em sala de aula.
O professor tem uma função essencial no processo de ensino
de orientar, mediar o aluno em suas descobertas, na aprendizagem
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 584

do desenvolvimento da sociedade e nas relações com o espaço físico,


utilizando ferramentas para buscar novas práticas pedagógicas.
Para que a educação seja a cada dia mais transformadora pre-
cisamos de um professor que acompanhe as mudanças da socieda-
de e que transforme a realidade da sala de aula, proporcionando um
ambiente favorável a aprendizagem o que favorece mais o entusias-
mo dos alunos.
Inserir a interdisciplinaridade na escola não significa dizer que
está se implantando uma nova forma para o ensino, Freire citou que é
necessário “revisar o velho” para que surja o novo, isso quer dizer que
a educação sofre modificações e com isso vai se adaptando para que
o ensino melhore a cada dia em nossas instituições de ensino e para
que nossos alunos possam incorporar conhecimentos que lhes servi-
rão para sua vida em sociedade.
Diante das exposições acima, vemos que os docentes estão
cada vez mais preparados para atuar de forma eficaz na educação,
é importante valorizar a prática interdisciplinar afim de não erradicar
o ensino tradicional, mas para consolidar a ação como uma forma de
transformação escolar.
E assim, através dos recursos apresentados pelo docente,
quer o discente explorando uma gama de conteúdos relacionados ao
assunto exposto pelo professor atualizando seu conhecimento prévio.
Uma das contribuições definitivas de Freire (1996) esta relacio-
nada as ações educativas e vivenciadas pelo homem, a fim de construir
sua própria história de vida ,pois não existe um destino já concluído, ou
seja ,um caminho traçado para ser seguido, mais um projeto em cons-
trução através das praticas sociais e atitudes realizadas durante sua
vida .A partir dessa contribuição percebe-se que a educação não pode
se permanecer neutra, mas que desenvolva e estimule ações inéditas e
essenciais, levando o indivíduo a uma reflexão da sua prática educativa.
Conhecer o perfil educacional do aluno, antes de aplicar certos
recursos é de extrema importância. O docente deve ser cauteloso du-
rante a escolha do dos recursos que irá utilizar, pois estes podem es-
tar ligados entre o sistema e o usuário, baseados em textos, sendo es-
tes mais utilizados em sistemas antigos, permitindo a interação com o
sistema educacional.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 585

A interdisciplinaridade envolve a busca de dados e a organi-


zação das informações que lhes foram propiciadas. Assim, podemos
verificar os objetivos da relação interdisciplinar, segundo Fazenda
(1993), no contexto educacional:

• Desenvolver o senso crítico.


• Desenvolver a capacidade de reflexão.
• Desenvolver a apreensão da realidade.
• Visa substituir a concepção fragmentaria no sentido das ciên-
cias.

Com base nos objetivos propostos por Fazenda (1993) as


ações interdisciplinares desenvolvem a criticidade do educando a par-
tir do momento que há troca informações e experiências com outras
fontes, levando também a uma reflexão sobre diversos assuntos e
problemas que estejam sendo expostos em sala de aula e na socieda-
de, não fragmento as disciplinas e sim fazendo a interligação das mes-
mas contribuindo no processo de ensino aprendizagem.
Segundo Gusdorf (1976, p. 26), A exigência interdisciplinar im-
põe a cada especialista que transcenda sua própria especialidade, tor-
nando consciência de seus próprios limites para colher às contribui-
ções das outras disciplinas.
Para uma prática pedagógica eficiente é necessário está cons-
ciente do seu trabalho em sala de aula, assim também através da pes-
quisa que o aluno estará sendo desafiada a realizar, esta que deve ser
estimulante e desafiadora, pois só assim o conhecimento será cons-
truído com exatidão.
O professor não deve impor pensamentos uniformizados, pois
ele é o principal responsável pelas relações geradas neste novo con-
ceito de educação e obrigando-se a estar atualizado, pois só assim
poderá fazer um acompanhamento adequado.
Não é apenas, expor conteúdo a fim de cumprir a carga horária
letiva, o docente deve ter ciência que o discente da escola do campo,
sofre preconceito devido a sua característica de origem, sendo consi-
derados pela sociedade como pessoas que entendem apenas de pro-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 586

dução rural, roça e que nada tem a contribuir com o meio social, até
mesmo a disponibilização de recursos para as escolas do campo são
de forma lenta, pois os benefícios são mais demorados devido a dis-
tância.
A escola junto ao seu corpo docente deve sanar com essa vi-
são do povo do campo, pois estes contribuem de forma significativa
no meio social, com isso é importante o docente esta relacionando as
sua pratica discente conceitos do cotidiano desse alunado assim com
a história da sua comunidade, valorizando assim a sua identidade.
Quanto ao enfoque teórico-metodológico, este foi fundamenta-
do a partir dos estudos acerca dos autores como MORAM (2006), FA-
ZENDA (1993), GUSDORF (1976), entre outros que contribuíram para
a elaboração deste trabalho através dos seus fundamentos científi-
cos levaram a solução da investigação, servindo para fundamentar a
importância da utilização da prática pedagógica interdisciplinar contri-
buindo assim no processo de ensino aprendizagem de maneira signi-
ficativa para a vida do discente das escolas do campo.
Nessa perspectiva, o nosso estudo assume o entendimento de
que o docente procura levar o educando a interagir fora do ambiente
escolar através do conhecimento cientifico adquirido na escola, agin-
do dessa maneira contextualizada o aluno terá a oportunidade de vi-
venciar de maneira objetiva e por meio de experimentações tudo que
aprendeu na escola, em se tratando de práticas educativas no contex-
to campesino é importante destacar que as ações que são realizadas
pela escola neste cenário devem favorecer o fortalecimento da identi-
dade do aluno, não somente pelo fato de estarem num território rural,
mas pela importância de contribuir para o desenvolvimento da sua co-
munidade como forma de expansão.
O docente pode trabalhar de forma interdisciplinar em sala de
aula, proporcionando ao discente a buscar informações que venham
contribuir na sua formação cognitiva de maneira enriquecedora atra-
vés da utilização dos recursos disponíveis no campo e agindo a partir
deste princípio o professor permitem que o aluno valorize os materiais
que estão ao seu redor e principalmente as suas raízes, descobrindo
assim que o ambiente em que está inserido também é fonte de conhe-
cimento real e que esta ligada ao contexto escolar.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 587

O discente busca constantemente entender a relação dos con-


teúdos da escola com a realidade em que vive, buscando assim en-
tender onde poderá aplicar tal conhecimento adquirido na escola, sen-
do assim é importante que a escola e os docentes envolvidos particu-
larmente na educação rural, que busquem a valorização das ativida-
des tradicionais e costumes da comunidade em que trabalham, pois
através dessas praticas a visão do educando se tornará mais global e
cheia de significados.

METODOLOGIA

O presente estudo baseou-se em pesquisa bibliográfica, tendo


como base teórica autores como (Freire, 1987), Fazenda (1993), den-
tre outros além de leituras em diversos artigos, livros, revista com in-
formações sobre a educação o ato interdisciplinar do docente na esco-
la campo, que mostram a importância de ampliar o conhecimento dos
discentes através do ensino interdisciplinar.

RESULTADOS

Esse estudo, mostra um maior aprofundamento acerca das


práticas educacionais realizadas nas escolas do campo, numa pers-
pectiva de inovar e de redimensionar o tempo para que haja a supera-
ção da cultura tradicional, assumida de simples transmissão de conhe-
cimento, avançando no sentido da pesquisa e da construção de novos
saberes a partir do convívio e das inter-relações das áreas do conhe-
cimento e destas com a realidade voltada para um trabalho coletivo e
interdisciplinar nas escolas do campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta do ato interdisciplinar na educação do campo dá-se


em buscar melhorar a qualidade do desempenho escolar dos educan-
dos, possibilitando a participação e corresponsabilidade dos sujeitos
durante o processo de ensino- aprendizagem para que através das prá-
ticas realizadas dentro da escola e na comunidade se promova a vivên-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 588

cia do espaço para formação do cidadão autônomo e participativo nas


escolas campesinas, definidas como escolas do campo, através das
práticas educacionais dos docentes envolvidos no processo de aprendi-
zagem, destacando assim que a educação não se faz sozinho, mas sim
com a colaboração dos sujeitos inseridos neste contexto.
É importante destacar que a ação interdisciplinar não deve ser
apenas realizada através de projetos determinados em dadas comemo-
rativas, mais todos os dias de forma contextualizada e que permita a com-
preensão dos educados nesse processo de conhecimento contínuo. As-
sim este trabalho vem abordar aspectos que devem favorecer o enrique-
cimento interdisciplinar para que se torne ação diária dentro das escolas
do campo de forma a favorecer o aprendizado significativo e colaborativo,
contribuindo para o desempenho destes na escola e fora dela.
Contudo, a escola torna-se interdisciplinar a partir do momento
que toda comunidade escolar esteja envolvida como um todo no pro-
cesso de escolarização e que cumpra seu papel de formar cidadãos
críticos capazes de resolver seus próprios problemas na sociedade
e no meio rural em que vivem. Sabemos que isso só se torna possí-
vel quando há contribuição por todos da escola para o funcionamen-
to da prática interdisciplinar que não se dá somente em sala de aula e
sim com o compartilhamento da experiência e troca de conhecimento
sempre relacionando com a teoria que foi proposta ao discente.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, J. M. L. A educação como política pública. Campinas,


SP: Autores Associados, 1997.
CALDART, Roseli Salete. Por uma educação do campo: traços de
uma identidade em construção. In: ARROYO, M.; CALDART, R. S.;
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Vozes, 2004.
FAZENDA, I. C. A. (coord.); Práticas Interdisciplinares na escola; 8ª
ed. São Paulo: Cortez; 2001.
FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Práticas Interdisciplinares na es-
cola (1993) FREIRE, Paulo Freire. Educação como prática da liber-
dade. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1987.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 589

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à


prática educativa. 12ª edição. São Paulo: Paz e Terra: 1999.
MORAN, José Manuel. Mudar a forma de aprender e ensinar com
a internet. In: Salto para o futuro: TV e Secretaria de informática na
educação. 2006
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gem significativa: a teoria de aprendizagem de David Ausubel.
São Paulo: Moraes. 1996.
MOREIRA, Marco A. Aprendizagem significativa. Brasília: Editora
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_______Plano Nacional de educação para todos. Brasília (DF):
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PIAGET, J. A construção do real na criança, editora Zahr: cidade?,
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VEIGA, Ilma Passos Alencastro; RESENDE, Lúcia Maria G. de (orgs.).
Escola: Espaço do Projeto Político Pedagógico. Campinas, SP:
Papirus, 1998
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 590

CAPÍTULO 42

O AUMENTO NOS NÚMEROS DE CASOS DE


DIVÓRCIO DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19
NO CEJUSC DE PIRIPIRI – PI

THE INCREASE IN THE NUMBERS OF DIVORCE


CASES DURING THE COVID-19 PANDEMIC IN CE
JUSC DE PIRIPIRI – PI

Francisco Vinicio Oliveira Ferreira


Christus Faculdade do Piauí- CHRISFAPI
Piripiri- PI
vinicio2016ferreira@gmail.com

Jefferson Silva
Christus Faculdade do Piauí- CHRISFAPI
Piripiri- PI
2204jeffersonsilva@gmail.com

Geilson da Silva Pereira


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Docente (CHRISFAPI)
Piripiri-PI
geilsonsp@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo, que tem como título “O aumento nos números de
caso de divórcio durante a pandemia da COVID-19 no CEJUSC de Piri-
piri – PI”, teve como base o método de pesquisa bibliográfica documen-
tal, partindo da análise de estudos em livros, artigos e em meios ele-
trônicos, bem como uma pesquisa documental realizada no CEJUSC
de Piripiri – PI na qual se analisou o período do lapso temporal do ano
de 2019, que sucede à pandemia, até o ano de 2020 a 2021, durante
a pandemia de Covid-19. Além disso, buscou-se diversificar as formas
de divórcio existentes no Brasil, tal qual o tipo de divórcio mais utiliza-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 591

do, quando que esse instituto foi aderido no ordenamento jurídico bra-
sileiro, vislumbrando o contexto histórico e a importância dos meios al-
ternativos de resolução de conflito perante esse fenômeno.
Palavras-Chave: Divórcio; Pandemia; Casamento; Covid-19.

ABSTRACT
This article, which is entitled “The increase in divorce case numbers
during the COVID-19 pandemic at CEJUSC in Piripiri - PI”, was based
on the documental bibliographical research method, starting from the
analysis of studies in books, articles and in electronic media, as well as
a documentary research, carried out at CEJUSC in Piripiri - PI, in which
the period of time from 2019, which follows the pandemic, to the year
2020 to 2021, during the pandemic of Covid-19. In addition, we sought
to diversify the existing forms of divorce in Brazil, such as the most
used type of divorce, when this institute was adhered to in the Brazilian
legal system, envisioning the historical context and the importance of
alternative means of conflict resolution in the face of this phenomenon.
Keywords: Divorce; Pandemic; Marriage; Covid-19.

INTRODUÇÃO

Este artigo tem a perspectiva de diagnosticar como se compor-


tou o rompimento legal e definitivo do vínculo matrimonial civil durante
o período pandêmico da COVID-19, trazendo como ponto secundário
os principais motivos dessa dissolução matrimonial durante esse pe-
ríodo, bem como ainda se demonstrou a importância dos meios alter-
nativos de resolução de conflitos para o instituto do divórcio. O ano de
2021 foi marcado como o maior índice de divórcio já registrado, com
80.573 no Brasil, segundo os dados do Colégio Notarial do Brasil –
CNB, esse número representa 4% de aumento em relação ao ano an-
terior (2020), ou seja, foram mais de 2,8 mil divórcios a mais em rela-
ção a 2020.
No período pandêmico, houve o distanciamento social que oca-
sionou o isolamento de grande parcela dos casais brasileiros, mudan-
do por completo a rotina e a convivência das famílias matrimonializa-
das, assim, casais passaram a se conhecer de uma forma até então
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 592

jamais vivenciada, em consequência disso, muitos destes não supor-


taram essa mudança e adaptação o que consumou o fim de muitos ca-
samentos.
A partir de todo esse desenrolar social jamais imaginado que
mudou a rotina entre casais tão repentinamente, o presente artigo
questiona: realmente ouve esse aumento dos divórcios no período
pandêmico no CEJUSC de Piripiri-PI?.
É notório que em um casamento ou união estável existirão atri-
tos, altos e baixos, dificultando a convivência dos cônjuges, principal-
mente, quando situações como essas ocorrem em contextos turbu-
lentos. Foi o que aconteceu no período pandêmico, levando os casais
a terem muitos desentendimentos e insatisfações durante a frequen-
te convivência, haja vista que em tempos considerados normais não
havia o dia a dia juntos, e com a pandemia o mundo todo passou por
mudanças, de forma que a rotina e o laço familiar se tornaram, repen-
tinamente, mais profundos. Tudo isso proporcionando situações em
que muitos casais ainda não tinham vivenciado, evidenciando a afir-
mação de que estes não sabiam ou não sabem o real significado do
que é ser família.
Dessa forma, com o passar dos dias deste período (pandêmi-
co), casais foram redescobrindo o que de fato eram um para o outro,
onde se completavam como um casal. Alguns não se encontram mais
em um relacionamento, e essa razão fez surgir inúmeros casos de dis-
solução matrimonial, em outras palavras, podemos descrever que a
pandemia acelerou o processo de rompimento entre casais nos quais
já existam fortes indícios de separação, pois muitos já tinham essa
ideia em mente, e com as circunstâncias surgiu a coragem de concre-
tizar o ato. Logo, a intensa convivência foi primordial para que houves-
se a decisão definitiva.
Em concordância a isso, o objetivo primário do presente artigo
foi verificar o número de procedimentos instaurados no CEJUSC de
Piripiri-PI, destacando qual o fim desses procedimentos. Entre os ob-
jetivos secundários buscou-se entender sobre o tema, analisando qual
tipo de divórcio é mais utilizado e quais os motivos dessa escolha, tra-
tar da diferença entre divórcio e separação, analisar a relação atritu-
osa do divórcio e seu contexto histórico, análise da grande novidade
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 593

advinda da aprovação da emenda constitucional n.º 66, que a partir de


2010 tornou o divórcio mais flexível, não havendo mais necessidade
de esperar lapcio temporal como a exigência da chamada separação
prévia, o que significa que a parte pode pedir o divórcio mesmo sem
a anuência da outra parte. Além de destacar a importância do sistema
multiportas para esse instituto.
Sobre o ponto de vista acadêmico, o estudo feito é extrema-
mente relevante para a sociedade, pois nasce de um contexto social
bastante atual, tendo em vista que é de um ramo jurídico que vem pas-
sando por grandes inovações, o qual também é o direito de família. As-
sim, o artigo explana como o seio familiar passou a ser atingido emo-
cionalmente e estruturalmente pela pandemia da Covid-19, bem como
o instituto do divórcio se comportou durante este período de fragilida-
de mundial.
Somado a isto, foi importante compreender o conceito e todo
o enredo histórico do instituto do divórcio, mostrando sua relevância
para o ordenamento jurídico no século XXI, em que se identificaram
as diferentes etapas as quais esse instituto passou, analisando sua
evolução e implicação para o seio da sociedade, como também visu-
alizando a ruptura da união matrimonial e as consequências à família
moderna. Dessa maneira, foi possível evidenciar que o instituto se en-
contra presente em uma das mais sensíveis áreas do direito, cuja de-
fesa é o direito de família.
Nesse sentido, foi de extrema relevância diferenciar quais os ti-
pos de divórcios são existentes no ordenamento jurídico e qual o mais
usado. A pesquisa buscou examinar os procedimentos de divórcio no
CEJUSC de Piripiri-PI e como estes foram resolvidos, a fim de solu-
cionar o problema observado pela dupla. Procurou-se oferecer ainda
um melhor entendimento acerca do tema proposto com o intuito de
ajudar futuras pesquisas que surgirem, tendo em vista que é de gran-
de relevância tratar sobre um assunto tão delicado e, ao mesmo tem-
po, tão atual.
Por assim ser, o método de pesquisa utilizado foi o bibliográfi-
co documental, partindo da análise de estudos em livros, artigos e em
meios eletrônicos, bem como uma pesquisa documental, realizada no
CEJUSC de Piripiri-PI, na qual se analisou o período do lapso tempo-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 594

ral pandêmico, explicando, por meio da coleta de dados, como o insti-


tuto do divórcio se comportou.

1. DIVÓRCIO

1.2 Conceito de divórcio e sua evolução ao longo do tempo

O divórcio nada mais é do que o rompimento da sociedade


conjugal, ou seja, a ruptura existente de qualquer vínculo matrimonial.
Ademais, o instituto dissolutivo tem ligação direta com vínculos matri-
moniais trazidos pelo casamento. É importante ressaltar que o matri-
mônio já foi, durante muito tempo, visto por um prisma social sucessó-
rio, considerando, inclusive, que a escolha dos noivos era feita pelos
pais e familiares, a similitude a isso é que buscavam casar pessoas
próximas cuja família tivesse grau de afinidade maior, em alguns ca-
sos o matrimônio era contraído com pessoas da própria família, como
primos que se casavam com os próprios primos.
Destaca-se, ainda, que a ideia da consanguinidade e o dever
de fidelidade matrimonial surgiu em sociedades conjugais arranjadas
pelas famílias a fim de evitar guerras eminentes, com isso a consan-
guinidade e o dever de fidelidade eram estabelecidos em pacto que
jamais deveria ser descumprido. Nasce, assim, a ideia básica de que
a igreja e o estado blindavam o casamento, não podendo existir qual-
quer ideia de dissolução da sociedade conjugal.
A prova disso é que mesmo na modernidade a igreja católica
presa pela não dissolução do casamento religioso, pois em caminhos
do direito canônico pessoas que rompem a sociedade conjugal e voltam
a se casar pelo rito civil estão praticando adultério em relação ao primei-
ro cônjuge. É com esta interpretação canônica que as tornam impedidas
de participar da comunhão, ato bastante simbólico para a igreja.
Durante a evolução histórica, com o advento de grandes revo-
luções em todo o espaço mundial, as mulheres conseguiram a conso-
lidação dos seus direitos sociais, dentre esses um era o ato dissolu-
tivo do casamento, nasce assim os primeiros traços do que conhece-
mos hoje como o divórcio.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 595

1.3 O divórcio no Brasil: Contexto histórico

No ordenamento jurídico brasileiro, a dissolução matrimonial de-


morou para ser consolidada, tendo em vista que no ano de 1975 os rela-
tos históricos trouxeram a tentativa da implementação do divórcio a par-
tir da emenda constitucional número 5. Nesta emenda, era discutida a
dissolução com alguns requisitos: primeiro, teria antes do fim da relação
matrimonial a figura do desquite, o qual adquiria um período de 5 anos
para que o casal tornar-se efetivamente desquitado. O segundo requisi-
to tratava-se da separação, de fato, com uma duração de 7 anos.
No entanto, a norma constitucional não foi aprovada, sendo insu-
ficiente as tentativas, o que se poderia até então fazer era apenas haver
o desquite, isto é, a separação, porém a permanência do vínculo matri-
monial continuaria existindo. Com mais evoluções em matéria constitu-
cional, no ano de 1977, acontece a aprovação da emenda constitucional
número 9, em que surge o acolhimento do divórcio no Brasil.
No mesmo ano, houve a implementação da lei n. 6.515 que re-
gulamentou de vez o instituto, permitindo assim o fim do casamento, ex-
tinguido tanto a sociedade conjugal como o vínculo matrimonial. O fim
do matrimônio no território brasileiro firmou demora também em conse-
quência da colonização, que enraizou a religião católica com a forte in-
fluência do cristianismo na sociedade, pois a população, em sua maio-
ria, era adepta a esta religião (FARIA, 2020), de modo que se solidifica-
va a ideia bíblica dos versículos de Mateus 19 do livro de Mateus:

“Quando acabou de dizer essas coisas, Jesus saiu da


Galileia e foi para a região da Judeia, no outro lado do
Jordão. 2. Grandes multidões o seguiam, e ele as curou
ali. 3. Alguns fariseus aproximaram-se dele para pô-lo à
prova. E perguntaram-lhe: “É permitido ao homem divor-
ciar-se de sua mulher por qualquer motivo?”
4. Ele respondeu: “Vocês não leram que, no princípio, o
Criador ‘os fez homem e mulher’ 5. E disse: ‘Por essa ra-
zão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mu-
lher, e os dois se tornarão uma só carne’? 6. Assim, eles
já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que
Deus uniu, ninguém separe”.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 596

Esse consumo social da religião proporcionou essa intensa de-


mora, na qual o direito das famílias não permitia a dissolução do ca-
samento em vida.

1.4 Quais os tipos de divórcios existentes no Brasil

No Brasil, existem 3 (três) tipos de divórcio: o extrajudicial, o li-


tigioso de forma judicial e o judicial de forma consensual.
O extrajudicial é o mais simples, costuma ser o mais barato e
acarreta menos tempo, porém, não são todos os casais que podem
realizar o divórcio na via cartorária, pois este requer que o fim da re-
lação aconteça de forma amigável e o casal não tenha, neste perío-
do, a existência de filhos menores ou incapazes. Para tanto, atenden-
do aos requisitos, bastam os interessados estarem com a documenta-
ção necessária.
O judicial de forma consensual caminha pelo mesmo viés, pois
a dissolução é amigável. Nela, ambas as partes estão de acordo com
os termos expostos, é a opção obrigatória quando há filho menor ou
incapaz e as partes devem estar acompanhadas de um advogado, as-
sim é decretada através da via judicial a partilha de bens, pensão ali-
mentícia, disposições sobre alteração de nome, se for o caso, guar-
da, ou seja, tudo em conformidade ao acordo do casal perante ao ju-
diciário.
Quanto ao litigioso judicial acontece por não haver uma disso-
lução amigável, nesse caso é quando há divergência entre o casal,
ou seja, não se está de acordo com os pontos do divórcio como, por
exemplo, a guarda do menor ou a partilha de bens. Além disso, nes-
ta modalidade também é requisito essencial e obrigatório a presença
do advogado.

2. DIFERENÇA ENTRE O DIVÓRCIO E A SEPARAÇÃO JUDICIAL

A separação judicial pode ser considerada uma etapa do di-


vórcio, ou seja, com a separação o casal não tem mais a necessida-
de de manter-se cumprindo os requisitos do matrimônio, com exce-
ção de casar-se com outra pessoa, pois ainda existe o vínculo matri-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 597

monial. Com o divórcio já determinado, ambas as partes podem casar-


-se com outras pessoas. Nesse contexto, é possível basear-se pelo §
6º da Constituição Federal, na qual vigora que o casamento civil pode
ser dissolvido pelo divórcio. Vale ressaltar a explicação da nobre dou-
trinadora Maria Helena Diniz que trata:

A separação judicial dissolve a sociedade conjugal, mas


conserva íntegro o vínculo, impedindo os cônjuges de
convolar novas núpcias, pois o vínculo matrimonial, se
válido, só termina com a morte de um deles ou com o di-
vórcio.

Sendo assim, podemos evidenciar que o vínculo matrimonial


permanece na separação judicial. Diante disso, tando o divórcio como
a separação judicial são causas com efeitos terminativos da socieda-
de conjugal especificadas no artigo 1.571 do código civil:

Art.1.571. A sociedade conjugal termina:


– pela morte de um dos cônjuges;
– pela nulidade ou anulação do casamento;
– pela separação judicial;
– pelo divórcio.

Vale ressaltar também que com a promulgação da emenda


constitucional número 66, em julho de 2010, a separação judicial no
Brasil caiu em desuso, visto que a presente medida colocou fim aos
longos prazos para a dissolução do casamento civil.

3. DURANTE A PANDEMIA COMO SE COMPORTOU ESSE INSTI-


TUTO NO BRASIL

Durante a Pandemia de Covid-19 nos anos de 2020 e 2021, o


crescente número de casos de divórcio foram assustadores. No se-
gundo ano pandêmico, o número de casos de divórcio bateu recorde,
chegando a 80.573 em todo o país, segundo os dados do Colégio No-
tarial do Brasil – CNB. A dissolução através da via extrajudicial cresceu
26,9%, considerando janeiro a maio de 2021, foram cerca de 29.985
casos divórcios nesse período, e no ano anterior, 2020, foram 23.621
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 598

casos de divórcios, o estado brasileiro que lidera o número de casos é


São Paulo onde houve um crescimento de 36,25%.
Esse aumento no numérico está intimamente ligado ao período
de convivência durante o isolamento social estabelecido pelo governo.
Nota-se como o convívio intenso e involuntário provocou um aumen-
to acentuado nas discordâncias entre os laços matrimoniais. Os rela-
tos da maioria dos casais evidenciam que de fato foi isso que aconte-
ceu, como a convivência de 24 horas considerado algo novo, já que
antes os casais saiam para trabalhar, utilizando os serviços como vál-
vulas de escape, e de forma imediata tudo isso deu lugar a uma convi-
vência mais presente junto ao contato mais próximo, motivando o pe-
dido de divórcio.
Na visão do doutrinador Cristiano Chaves de Farias:

O divórcio materializa o direito reconhecido a cada pes-


soa de promover a cessação de uma comunidade de vida
(de um projeto afetivo comum que naufragou por motivos
que não interessam a terceiros ou mesmo ao estado).

Ou seja, vejamos aqui a visão do nobre doutrinador, o afasta-


mento da culpa, em que não se cabe mais julgar de quem é a culpa na
hora de dissolver o matrimônio.

4. O DIVÓRCIO NO AMBITO CARTÓRARIO

A Lei 11.441 do ano de 2007 possibilitou a desbastar de divór-


cios perante os cartórios, com a ideia principal de retirar toda a buro-
cracia de dentro do tribunal, garantido o processo mais célere e me-
nos burocratizado. Essa alternativa foi um ponto crucial nesse institu-
to, pois o casal acompanhado de advogado se dirige ao cartório com
a documentação necessária: RG e CPF, informação sobre profissão e
endereço dos cônjuges, RG e CPF, informação sobre profissão e en-
dereço dos filhos maiores (se houver), certidão de casamento (se ca-
sados), carteira da OAB, informação sobre estado civil e endereço
do advogado, certidão de casamento (2ª via atualizada prazo máxi-
mo de 90 dias), escritura de pacto antenupcial (se houver), descrição
dos bens (se houver) e documentação relativa aos bens (documento
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 599

do Detran e certidão de ônus e ações do registro de imóveis), compro-


vante de pagamento de eventuais impostos devidos em decorrência
da partilha de bens.
Há a necessidade, portanto, da documentação necessária e os
requisitos, tais como consenso entre as partes que estão se divorcian-
do, não haver filhos menores ou incapazes. Atendidos tais pressupos-
tos todo o processo é realizado no âmbito cartorário, após o processo
é lavrada a escritura pública de divórcio. Esta escritura contém todas
as informações necessárias relacionadas ao fim da sociedade conju-
gal, como partilha de bens, pensão alimentícia, guarda, etc. Foi assim
no primeiro ano da pandemia que se percebeu, mediante a incapaci-
dade da via judicial em suprir tanta demanda, que os profissionais do
direito direcionaram os casos de divórcio para a via extrajudicial, a fim
de afirmarem ser uma via eficiente.

5. O PAPEL DO MINISTÉRIO PUBLICO NAS RELAÇÕES DE DI-


VÓRCIO

O MP (ministério publico) é uma instituição que tem função e


competência fixada na CF (Constituição Federal), a qual rege a de-
mocracia bem como ainda os interesses sociais e individuais indispo-
níveis inseridos nas atribuições do MP, previsto no art. 127 da CF/88.
Ou seja, a participação do MP em determinados casos de famí-
lia é de forma direta, principalmente quando se envolve o fim do laço
matrimonial em que o casal tem crianças, adolescentes menores de
18 anos ou adulto civilmente incapaz, dessa forma, é necessário en-
tender que é também dever do Estado assegurar às crianças, ao ado-
lescente e ao jovem o direito à vida, à saúde, à alimentação e ao lazer.
Posto isso, é necessária a atuação do promotor de justiça nes-
ses casos de dissolução, logo, deve ser discutida a guarda, bem como
a pensão alimentícia, ocasionando a atuação do órgão ministerial con-
forme decisão do STJ:

O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar


ação de alimentos em proveito de criança ou adolescen-
te, independentemente do exercício do poder familiar dos
pais, ou de o infante se encontrar nas situações de ris-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 600

co descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Ado-


lescente (ECA), ou de quaisquer outros questionamen-
tos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pú-
blica na comarca.

Dessa maneira, o promotor de justiça, no uso de suas atribui-


ções, pode também propor a investigação de paternidade, em tese é
importante entender que o MP concentra-se em intervir que o tutela-
do seja prejudicado pela separação do casal. A ação dos promotores
de justiça com atribuição junto ao Juiz de família, quando necessário,
busca orientação de um técnico-profissional, a fim de contribuir para a
gestão de conflitos, quando envolve guarda dos filhos, essa atuação
técnico-profissional é ainda mais presente, tendo em vista que os ge-
nitores não coabitam, busca-se, então, garantir a paz social e o melhor
interesse da criança e do adolescente.

6. CASAMENTO COMO NEGÓCIO JURÍDICO, TEORIA CONTRA-


TUALISTA E TEORIA INSTITUCIONAL

Infere-se que o casamento é um contrato especial jurídico para


o direito de família, considerado bilateral, cuja as duas partes estão de
acordo com o ato. Esse tipo de contrato atende o princípio da boa-fé
e da função social, podendo sofrer intercessão exterior quando se fala
de ordem pública sem que perca a natureza negocial entre o casal.
A teoria contratualista nada mais é que uma espécie de pacto,
não deixando de lado a moral, os costumes e o bom convívio, “é ne-
cessário ter uma forte participação do Estado para tornar o convívio
humano amigável” (Thomas Hobbes). A ideia principal do contratualis-
mo é que não ocorra vislumbramento do errado ou certo na concepção
moral, o que vai tornar esse tipo de concordância é o contrato social.
Por outro lado, entende-se a teoria institucional de que o casa-
mento trata do funcionamento da organização socialmente constituí-
da, ou seja, o casamento é regulamentado por lei e estabelecido pelo
legislador e, por sua vez, definido como imposição das regras do esta-
do em que as pessoas podem ou não fazer parte.
Ademais, é relevante citar que essa instituição tem caráter so-
cial e não jurídico, em uma das adeptas dessa teoria Maria Helena de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 601

Diniz afirma: “quando as partes manifestam a vontade de contrair o ca-


samento e o celebram, fazem por meio de contrato, logo o Estado ou-
torga o status de casados aos cônjuges, dessa maneira surge a insti-
tuição”. Contudo, o casamento é um negócio jurídico bilateral, pois é
formado e guiado pela vontade das partes, mesmo que com normas e
contornos legais externos que não desconstituem sua junção de acor-
do entre os dois.

7. O AUMENTO NOS NÚMEROS DE CASOS DE DIVÓRCIO DU-


RANTE A PANDEMIA DA COVID-19 NO CEJUSC DE PIRIPIRI-PI

O presente estudo foi realizado na cidade de Piripiri, no estado


do piauí, município que se originou das terras boticas, com as áreas
territoriais doadas a Antônio Fernandes Macedo na data de 20 de ja-
neiro de 1777. A presente cidade foi fundada em 1844 quando seu fun-
dador Padre Domingos de Freitas e Silva veio buscar refúgio após ter
lutado pela independência do Piauí. Tal fundador construiu uma casa
em local denominado Anajás e, posteriormente, uma capela destina-
da a Nossa Senhora dos Remédios, atual padroeira da cidade. Possui
uma população estimada de 63.829 pessoas (IBGE, 2021).
Neste município rico e hospitaleiro, realizou-se uma pesquisa
no CEJUSC, cujas siglas significam Centro Judiciário de Solução de
Conflitos, com a finalidade de verificar se houve, de fato, aumento no
número de casos de divórcios durante o período pandêmico, o qual
assolou o mundo não só devido às mortes resultantes da Covid-19 -
infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 -,
mas também pela prática do isolamento social que resultou em conse-
quências agravantes no ceio familiar. Uma dessas consequências diz
respeito às dissoluções matrimoniais que aconteceram por todo o ter-
ritório nacional, atingindo a sociedade.
O presente estudo aferiu se houve aumento ou não nos pro-
cedimentos de divórcios durante o período pandêmico, vale ressal-
tar que a presente pesquisa resultou-se prejudicada devido ao fim da
plataforma CONCILIARE que encontra-se no site do Tribunal de Justi-
ça do Piauí (https://www.tjpi.jus.br/portaltjpi/). Tal situação resultou du-
rante o processo de averiguação como inacessível, devido ao desuso
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 602

da referida plataforma, sendo substituída pelo sistema PJE (processo


judicial eletrônico). No entanto, ainda que em um dado período as in-
formações presentes na plataforma não tenham sido mais adquiridas,
o estudo foi feito com informações já levantadas até o momento em
que era possível se adentrar no CONCILIARE. Desse modo, a partir
da análise dos procedimentos realizados foi possível obter os seguin-
tes dados:

PROCEDIMENTOS PROCEDIMENTOS PROCEDIMENTOS


(realizados no ano de 2019) (realizados no ano de 2020) (realizados no ano de 2021)
31 procedimentos 63 procedimentos 106 procedimentos

É possível observar, na tabela, que durante o ano de 2019 fo-


ram realizados o total 31 procedimentos, no ano seguinte, 2020, já em
período pandêmico, foram realizados ao todo 63 procedimentos e no
ano de 2021, o qual resulta o ano mais crítico da pandemia no país, fo-
ram realizados 106 procedimentos. Assim, devido ao número de pro-
cedimentos o grande aumento no interesse de se divorciar evidencia
que houve esse aumento no período da Pandemia de COVID-19. Com
isso, vejamos nas tabelas seguintes quantos procedimentos foram fru-
tíferos, infrutíferos e prejudicados:

Ano de 2019 (janeiro a dezembro)


DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 603

Ano de 2020 (janeiro a dezembro)

Ano de 2021 (janeiro a dezembro)

Os dados apresentados acima traduzem os números totaliza-


dos durante a pesquisa, na qual temos os procedimentos frutíferos
que resultaram em acordo entre as partes e originaram uma certidão
feita pelo mediador do presente procedimento, que deverá ser enca-
minhada para juízo e como resultado terá sua homologação.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 604

Todavia, há os procedimentos infrutíferos, isto é, os que não


resultaram em um acordo e que, em consequência disso, caso já te-
nha trâmite processual em andamento, expedirá o auto de certidão,
a fim de retornar o processo a sua vara de origem, no caso de Piripi-
ri a 2ª VARA CÍVEL DO FORO DA COMARCA DE PIRIPIRI/PI. Des-
sa forma, não havendo processo em andamento, as partes deverão
adentrar ao judiciário para que assim resolvam o fim da sociedade
conjugal.
Os procedimentos prejudicados são aqueles no qual uma das
partes ou ambas as partes não compareceram à sessão de mediação,
neste caso, havendo processo em curso, a parte que não comparecer
será multada, visto que este não comparecimento acarreta ato atenta-
tório à dignidade da justiça. Assim, sem o processo em andamento a
sessão é cancelada, resultando em prejudicada a tentativa de acordo
pelo não comparecimento das partes.
Os procedimentos cancelados remetem a uma singularidade
ocorrida no período da pandemia de COVID-19, de modo que os tri-
bunais de justiças tiveram reinventar-se com o intuito de não parar as
atividades. Sendo assim, alguns procedimentos foram cancelados até
que os tribunais se posicionassem sobre como ficariam as atividades,
cujo retorno aconteceu de forma virtual, dando continuidade aos tra-
balhos no CEJUSC.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando um casal resolve se unir por meio do casamento para


juntos trilharem este caminho chamado vida, traz consigo um senti-
mento forte e reciproco capaz de ensejar neste desejo permanente.
Esse ato ocorre verberado pela grande utopia da vida, cuja felicidade
completa define-se em casar e juntos construir uma família, o que vis-
lumbra ao ser humano ser parte da parcela desta fábula. Contudo, as-
sim como a vida, uma relação necessita de cuidado e de um cultivo
que jamais pode ser sanado, é nesta hora que o para sempre vira um
até logo, pois durante o percurso, os planos mudam, os sonhos já não
são mais os mesmos e os cônjuges deixam de nutrir o sentimento que
outrora foi norteador de suas vidas.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 605

Em consequência disso, a união se torna amarga, meio sem


graça, operando a afirmação de não ter mais razões para que perma-
neçam juntos. Foi pensando nisso que o legislador criou o instituto ju-
rídico analisado que pertence ao direito de família, um dos ramos mais
sensíveis da ciência jurídica.
Como foi possível observar, o divórcio passou por toda uma
evolução. No Brasil, chegou para ficar e a prova disso são as leis e re-
soluções que trouxeram a realidade que temos atualmente. O que an-
tes era visto por meio de um prisma religioso e moral, hoje é migrado
para previsões legais que determinam como se comporta esse institu-
to, considerando a vontade das partes.
Por meio da pesquisa foi possível evidenciar como esse institu-
to foi tão presente e procurado durante o período pandêmico, geran-
do também uma pandemia de divórcios no presente período. Assim,
ao tratarmos de uma realidade mais próxima vivenciada no CEJUSC
de Piripiri no Piauí, conclui-se que houve um grande aumento de pro-
cedimentos relacionados ao fim da sociedade conjugal. O número de
acordos realizados no ano de 2021 são maiores do que o total de pro-
cedimentos realizados até no ano de 2019 e 2020, no primeiro ano de
isolamento social com as medidas restritivas, traduziu-se a realidade
colocada pela pandemia da COVID- 19.

REFERÊNCIAS

ABADI, Eliani Moreira. Possibilidade de decretação do divórcio Ju-


dicial sem a formação do contraditório. (Monografia) Bacharela-
do em Direito, Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão- SC,
2021.
BÍBLIA, A. T. Provérbios. In: BÍBLIA. Sagrada Bíblia Católica: Antigo
e Novo Testamentos. Tradução: José Simão. São Paulo: Sociedade
Bíblica de Aparecida, 2008. p. 202-203.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, Senado Federal, 1988.
BRASIL. Emenda constitucional nº 66, de 13 de julho de 2010. Dá
nova redação ao § 6º do art. 226 da Constituição Federal, que dis-
põe sobre a dissolubilidade do casamento civil pelo divórcio, supri-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 606

mindo o requisito de prévia separação judicial por mais de 1 (um) ano


ou de comprovada separação de fato por mais de 2 (dois) anos. Dis-
ponível em: http: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/
emc/emc66.htm. Acesso em: 10 abr. 2022.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Proces-
so Civil. Brasília/DF. Presidência da República. [2021]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.
htm. Acesso em 17 mar. 2022.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo:
Saraivajur, 2022.
FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito
civil: famílias, vol. 6 /13ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. Jus-
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HOBBES, Thomas. Leviatã. Matéria, forma e poder de um Estado
eclesiástico e civil. (Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Bea-
triz Nizza da Silva). 3. ed. São Paulo: AbrilCultural, 1983. Col. Os Pen-
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Felipe Salomão, julgados em 14/5/2014 (recurso repetitivo) (Info 541)
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 607

CAPÍTULO 43

O IMPACTO DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO


PENAL APLICADO À COMARCA DE ESPERANTINA -PI

THE IMPACT OF THE NON-CRIMINAL PROSECUTION


AGREEMENT APPLIED TO THE REGION OF ESPERANTINA-PI

Jônatas Rodrigues Valério


Christus Faculdade do Piauí (CHRISFAPI) - DISCENTE,
Tianguá-CE
jonatas.jr.jr@gmail.com;

Pablo Kevin Santos Silva


CHRISFAPI – DISCENTE
Barras-PI
pk5894580@gmail.com;

Tiago Castelo Branco Ribeiro


CHRISFAPI – DOCENTE
Teresina-PI
tiagocbr1@gmail.com.

RESUMO
A presente pesquisa tem como finalidade analisar o Acordo de Não
Persecução Penal, com o viés de uma justiça negociada, ao se tratar
de condutas criminais de pequeno e médio potencial ofensivo no qual
não existem agravantes, com fulcro na Lei nº 13.964/19 que trouxe a
inserção do art. 28-A ao CPP, bem como, perceber o impacto que tem
esse instrumento processual diante dos processos penais brasileiros,
a partir da construção do artigo em três seguimentos gerais de aná-
lise: a aplicação do ANPP em países estrangeiros como direito com-
parado a ser estudado; o contexto histórico, conceitos, previsão legal,
princípios e requisitos que norteiam o ANPP no Brasil; e o impacto do
ANPP à comarca de Esperantina-PI como percepção prática dos ob-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 608

jetivos instituídos em seus fundamentos. O teor das informações ex-


postas nesta pesquisa, dar-se mediante a utilização do método dedu-
tivo e da pesquisa bibliográfica nos dois primeiros seguimentos, mas
em seu terceiro seguimento, utiliza-se do método dedutivo e da pes-
quisa documental.
Palavras-Chave: Direito penal; Direito processual penal; Direito Com-
parado; Justiça penal negociada; Acordo de não persecução penal.

ABSTRACT
The purpose of this research, therefore, is to analyze the agreement
of non-criminal prosecution with the bias of a negotiated justice, when
dealing with criminal conduct of small and medium offensive potential
in which there are no aggravating factors, based on law nº 13.964/19
which brought the insertion of art. 28-A to the CPP, as well as realiz-
ing the impact that this procedural instrument has on Brazilian criminal
proceedings, based on the construction of the article in three general
segments of analysis: the application of the ANPP in foreign countries
as a comparative right to be studied; the historical context, concepts,
legal provision, principles and requirements that guide the ANPP in
Brazil; and the impact of the ANPP on the region of Esperantina-PI
as a practical perception of the objectives established in its founda-
tions. The content of the information exposed in this research, occurs
through the use of the deductive method and bibliographical research
in the first two segments, but in its third segment, it uses the deductive
method and documentary research.
Keywords: Criminal law; Criminal procedural law; Comparative law;
Negotiated criminal justice; Criminal non-prosecution agreement.

1 INTRODUÇÃO

Tendo em vista a constante evolução do direito, assim como o


desenvolvimento da sociedade e da maneira como os indivíduos se
relacionam, pode-se observar que o direito penal é o ramo do direi-
to em que a sociedade busca proporcionar segurança aos cidadãos
e punir de maneira justa e célere aqueles que transgridem as normas
penais.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 609

Em 23 de janeiro de 2020, começou a viger no ordenamento


jurídico pátrio uma série de mudanças concernentes ao direito penal
e processual penal, com o intuito de diminuir a criminalidade do país.
Contidas na Lei nº 13.964/2019, estas medidas são popular-
mente conhecidas como “Pacote Anticrime”. Uma delas trata da lega-
lização do Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), dispositivo pré-
-processual que possibilita ao acusado o não prosseguimento da ação
penal. Contudo, anterior ao advento do Pacote Anticrime, a figura do
ANPP já era aplicada por meio da Resolução nº 181/2017, do Conse-
lho Nacional do Ministério Público que, no entanto, era alvo de mui-
tas críticas, pois aqueles contrários à Resolução entendiam que a úni-
ca forma de inovar o processo penal seria por meio de uma lei federal.
Historicamente, anterior à lei supracitada, já existiam outras
medidas despenalizadoras, como o Acordo de Transação Penal, que
nada mais é do que uma ferramenta da justiça que possibilita ao acu-
sado firmar um acordo com o Ministério Público, no qual ele deve cum-
prir pena antecipada, seja de pecúnia, seja de pena restritiva de direi-
tos, e, por consequência, o processo em curso é arquivado. No entan-
to, o Acordo de Transação Penal é direcionado apenas para crimes de
pequeno potencial ofensivo, o que deixa uma lacuna na aplicação da
lei penal, pois, partindo desse pressuposto, há dificuldade na aplica-
ção de sanções de crimes de médio potencial ofensivo.
Com o advento do Pacote Anticrime, houve o acréscimo no
CPP (código de processo penal), em seu artigo 28-A, do dispositivo
que possibilita a realização de um acordo entre o Ministério Público e
o acusado de crime de médio potencial ofensivo. Para a realização do
acordo, este deve ser proposto antes da denúncia, evitando, assim, a
persecução penal. De outro modo, para a realização do ANPP, torna-
-se necessário cumprir alguns requisitos, como, por exemplo, não ser
reincidente na prática do crime objeto do acordo e que o crime não te-
nha envolvido violência ou grave ameaça.
Partindo desse pressuposto, surge a necessidade de estudar
detalhadamente essa “segunda chance” ofertada a determinados acu-
sados, caracterizada como Acordo de Não Persecução Penal. Por ou-
tro lado, por se tratar de uma novidade jurídica, ainda são poucos os
estudos que denotam o real impacto social deste instrumento.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 610

Ademais, ao analisar a pesquisa sobre o ANPP, pode-se afir-


mar que ela se utiliza do método dedutivo, partindo de estudos já pro-
duzidos que possam fundamentá-la. Não obstante, quanto ao tipo de
pesquisa adotada para desenvolvimento deste trabalho, será realiza-
do por meio de pesquisa bibliográfica e documental.
A presente pesquisa tem como finalidade analisar o Acordo de
Não Persecução Penal sob o viés de uma justiça negociada ao se
tratar de condutas criminais de pequeno e médio potencial ofen-
sivo sem agravantes, com fulcro na Lei nº 13.964/19, que trouxe a in-
serção do art. 28-A ao CPP. Bem como, perceber o impacto que tem
esse instrumento processual diante dos processos penais brasileiros,
a partir da construção do artigo em três seguimentos gerais de aná-
lise: a aplicação do ANPP em países estrangeiros como direito com-
parado a ser estudado; o contexto histórico, conceitos, previsão legal,
princípios e requisitos que norteiam o ANPP no Brasil; e o impacto do
ANPP à comarca de Esperantina-PI como percepção prática dos obje-
tivos instituídos em seus fundamentos.

2 A APLICAÇÃO DO ANPP EM PAÍSES ESTRANGEIROS

No contexto do direito internacional, quando observado a cons-


tante uniformização das normas em um mundo globalizado, denota-
-se, sob a perspectiva do direito comparado, as significativas influên-
cias que países estrangeiros adeptos dos sistemas civil law e common
law, baseados em normas e costumes, respectivamente, tiveram so-
bre a criação das normas no Brasil, especialmente quando se trata da
justiça penal negociada e, mais especificamente, do Acordo de Não
Persecução Penal. Portanto, faz-se necessário elucidar essa influên-
cia no presente artigo.

2.1 No contexto do ordenamento jurídico alemão

Diante da afeição principiológica existente entre os princípios


e os ramos do direito penal e processual penal entre Brasil e Alema-
nha, é possível observar que o ordenamento jurídico da Alemanha ser-
viu de base para aplicação de alguns dispositivos aplicados no orde-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 611

namento jurídico brasileiro, tendo em vista que em ambos os contex-


tos se adota o civil law como sistema jurídico de resolução de litígios.
Conforme denota Mota (2020), no ordenamento jurídico alemão,
os acordos realizados entre defesa e acusação, com o intuito de ante-
cipação de sanção, são denominados vestandigung, que no português
significa “entendimento”, e absprache, que significa “barganha”. Inicial-
mente, o vestandigung foi conceituado como um dispositivo em que a
parte ré renunciava à defesa por meio da aceitação da acusação, con-
dicionado à confissão do acusado, o que lhe traria algum benefício, que,
em regra, seria a diminuição da pena. De modo geral, não se sabe exa-
tamente quando esta prática teve início na Alemanha, pois foi gradati-
vamente aumentando, iniciando em crimes de menor potencial ofensivo
e, em seu ápice, teve sua aplicação em crimes que envolviam violência.
Com o crescente número de acordos, geraram-se bastantes
especulações, o que, de certa forma, levou a Corte Federal Constitu-
cional alemã a se pronunciar sobre o assunto. Em 1987, a Corte se
pronunciou dispondo que o acordo não era inconstitucional, tendo em
vista que fazia parte da gama de direitos do acusado e que o ato esta-
va sendo realizado dentro dos parâmetros legais, uma vez que a con-
fissão já era vista com bons olhos pelo ordenamento jurídico. Mas, so-
mente em 1997, a Corte se manifestou de maneira mais objetiva, ad-
mitindo os acordos no processo penal.
Dessa premissa, surgiram as primeiras formalizações para in-
serir, de maneira mais concreta, o acordo no processo penal alemão,
por meio de um conceito de suspensão do processo. Os requisitos
adotados naquela época assemelham-se aos da atualidade, uma vez
que o acordo passou a ser realizado em audiência com todos os en-
volvidos presentes ou, de outra forma, era possível apenas a ratifica-
ção do acordo em audiência.
Já a confissão, tornou-se elemento indispensável que favorecia
o réu na antecipação da conclusão do processo. No entanto, a pena
não poderia ser antecipada até que fosse realizado o acordo. Desde
então, o acordo passou a ter o respaldo da Corte alemã, no entanto,
permanecia deficitária de normatização legal.
O acordo só veio a ser regulamentado no ordenamento jurídico
alemão no ano de 2009 e, mesmo com o lapso temporal tão grande do
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 612

seu surgimento até a sua formalização, não houve uma legalização ei-
vada de requisitos mínimos que estabelecessem limites para sua rea-
lização, já que nada foi delimitado em se tratando de cabimento e con-
dições para que ele fosse realizado. Dessa forma, era pactuado com
base em princípios gerais do direito constitucional alemão, princípios
esses que também regem o ordenamento jurídico brasileiro, tais como
o princípio da ampla defesa e do contraditório, e o princípio da igual-
dade entre as pessoas, dentre outros.

2.2 Estados Unidos e o instituto Plea Bargaining

No direito estadunidense, tem-se como principal característica


da justiça negociada, o instituto Plea Bargaining, que traduzido ao por-
tuguês de maneira interpretativa, significa “delação premiada”. Em con-
traponto à aplicação do ANPP na Alemanha, a justiça negociada aplica-
da nos Estados Unidos ocorre pela utilização do sistema common law,
ou seja, os requisitos e procedimentos de aplicação dos acordos neste
ordenamento jurídico ocorrem por meio dos costumes inerentes.
Segundo Campos (2012), o Plea Bargain foi uma inovação jurí-
dica introduzida nos Estados Unidos da América, observada apenas a
partir do século XIX, em razão de que, até aquele momento, os julga-
mentos aconteciam pelo rito sumário e eram, assim, tão céleres que
os processos não careciam de qualquer procedimento especial.
Diante do exposto, pode-se verificar que este instituto não foi intro-
duzido por normas, mas, pelos próprios operadores jurídicos que neces-
sitavam operar de forma negocial, com a finalidade de se obter atalhos e
facilidades no prosseguimento das demandas. Em outras palavras, esse
instituto, hoje amplamente utilizado, foi incorporado inicialmente de modo
informal nos tribunais americanos, com o objetivo de que os interessados
chegassem em um acordo quanto à sentença criminal, a fim de agilizar o
resultado final e satisfazer os interesses de ambos.

3 A APLICAÇÃO DO ANPP NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRA-


SILEIRO

Uma vez compreendido como é aplicado o ANPP em outros or-


denamentos jurídicos e como eles influenciaram no processo de cria-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 613

ção desse instrumento jurídico no Brasil, cumpre destacar os funda-


mentos legais e históricos que alicerçaram sua criação, bem como os
princípios que o norteiam e os requisitos necessários para sua aplica-
ção em processos na justiça criminal brasileira.

3.1 Contexto histórico

Para debater sobre o Acordo de Não Persecução Penal e suas


implicações no sistema processual penal brasileiro, é necessário ob-
servar a evolução histórica e cultural existente nos dogmas e em seus
fundamentos. Isso remete ao primeiro sistema processual penal, inti-
tulado como sistema inquisitorial. Segundo Aprendiz (2017), este sis-
tema foi desenvolvido pela Igreja Católica, que consistia em meca-
nismos altamente violentos utilizados para reprimir e combater todos
aqueles que desacreditassem dos princípios religiosos católicos. Des-
sa forma, quem fosse contra esses princípios era considerado um pe-
cador ou herege e, por isso, deveria ser punido.
Entretanto, o atual sistema processual penal, denominado, nas
palavras de Capez (2021), por sistema acusatório, onde, utiliza outros
métodos e princípios para punir aqueles que transgridem a norma. E
como princípios norteadores, conforme define Ferreira (2021), tem-se
o princípio da presunção de inocência, dispondo que, para que o indi-
víduo seja considerado culpado de uma conduta delituosa, é neces-
sário todo um processo no qual o Estado deve investigar, coletar pro-
vas e apresentá-las a um juiz imparcial que decidirá, com base nisso,
a culpabilidade do réu. Além disso, há a possibilidade de recorrer a
instâncias superiores até que o processo transite em julgado, ou seja,
prioriza-se o contraditório e a ampla defesa.
Preserva-se a ideia, segundo Nucci (2019, apud LESCOVITZ,
2021), da existência de um sistema processual, denominado misto ou,
mesmo, Napoleônico, que possui como principal característica a jun-
ção dos sistemas inquisitorial e acusatório. Isso se deve ao fato de
que, nesse sistema, há a existência do inquérito policial antes da ins-
tauração do processo, o qual possui todas as características do siste-
ma inquisitorial, como a ausência de contraditório e da ampla defesa.
Conforme definido por Coutinho (2009), o sistema Napoleônico
resumia-se a um sistema inquisitorial com elementos do sistema acusa-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 614

tório, principalmente em relação às partes, como a separação de quem


realizava a acusação e o julgamento, e os debates orais. No mais, o au-
tor constata que, assim como em outros sistemas de regimes totalitá-
rios, este sistema era considerado democrático por seus idealizadores.

3.2 Conceitos

Quanto ao conceito, há opiniões divergentes entre muitos doutri-


nadores, como, por exemplo, a de Guilherme de Souza Nucci (apud LE-
NIESKY, 2020), que dispõe que o Acordo de Não Persecução Penal é
uma espécie de atenuante frente ao princípio da obrigatoriedade da ação
penal pública incondicionada, por ser oriundo da nova política penal.
Olhando por esse prisma, pode-se constatar que o autor é
adepto da ideia de que o ANPP é uma medida despenalizadora que
busca outros meios de punição em vez da restrição da liberdade.
Entretanto, outros autores possuem uma visão mais positivista,
como Renato Brasileiro de Lima (2020), que preceitua o ANPP como um
caminho alternativo que propicia à justiça criminal celeridade e eficiên-
cia na aplicação da norma frente aos conflitos criminais, com circunstân-
cias alternativas que dão preferência aos julgamentos de condutas típicas
mais gravosas. Portanto, Renato Brasileiro (2020) defende que o ANPP é
uma nova ferramenta que tem como objetivo trazer celeridade processu-
al e rapidez, tanto na resolução do conflito quanto na aplicação da pena.
Segundo Andressa Coral (2020), o ANPP é um acordo entre o
propositor da ação penal e o autor do crime, sendo nítida a necessidade
de cooperação de ambas as partes, ressaltando-se as vantagens obti-
das de ambos os lados: de um lado, o Ministério Público, que deixa de
promover a ação penal e desafoga o sistema processual, e, do outro, o
autor do crime que, ao realizar o acordo, deixa de responder ao proces-
so, o qual não será incluído em sua “ficha” de antecedentes criminais.

3.3 Previsão legal

Nesse sentido, faz-se necessário apresentar como tem se com-


portado a legislação brasileira acerca da legalidade formal do Acordo
de Não Persecução Penal.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 615

Atualmente, o instrumento supramencionado encontra-se dis-


ciplinado no artigo 28-A do Código de Processo Penal, que, como já
discutido neste trabalho, trata-se de uma inovação trazida pela Lei nº
13.964/19.
Pelo que dispõe o artigo 28-A, tem-se que na constância do
não arquivamento, e, uma vez que o investigado confesse formal e cir-
cunstancialmente a prática delituosa sem violência e sem grave ame-
aça e que não tenha pena mínima maior que quatro anos, poderá o
Ministério Público propor o Acordo de Não Persecução Penal. O arti-
go em comento, frisa, ainda, que, para que ocorra a aplicação do ins-
trumento, é necessário que ele seja suficiente para reprovação e pre-
venção do crime.
Como pode ser observado, é no art. 28-A, do Código de Pro-
cesso Penal (CPP), que se encontram as primeiras definições legais
do instrumento, as quais são objeto do presente estudo. Para tanto, fa-
z-se necessário destacar, também, a Resolução nº 181/2017, do Con-
selho Nacional do Ministério Público (CNMP). Anterior à tipificação no
CPP, esse ato administrativo já trazia as definições e condições de
aplicação do ANPP, embora não tivesse força de lei, o que gerou mui-
tas críticas durante os anos em que foi aplicado pelo Ministério Públi-
co sem previsão legal que o fundamentasse.

3.4 Princípios inerentes

Outrossim, para estudar o Acordo de Não Persecução Penal, é


importante elucidar o significado de alguns princípios constitucionais
presentes na legislação brasileira, os quais são afetados diretamente
por este instrumento.

3.4.1 Princípio do devido processo legal

O princípio do devido processo legal, pelo que discorre Souza


(2012), nada mais é do que a garantia de que os processos sejam con-
duzidos de acordo com as normas da lei, sem que os direitos do autor
ou réu sejam prejudicados, de tal forma que ambos apresentem suas
razões, provas e argumentos ao juiz. Em outras palavras, para que
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 616

haja o devido processo legal, determinado processo instaurado deve


observar e cumprir todos os trâmites legais, sob pena de anulação por
se achar inconsistente com as normas vigentes.
Conforme delimita Renato Brasileiro de Lima (2020), o princípio
do devido processo legal é considerado como princípio basilar para
um Estado Democrático de Direito. Quanto aos procedimentos, ele
afirma que devem ser realizados de modo a possibilitar o contraditó-
rio e um prazo razoável no processo, bem como as garantias neces-
sárias a fim de que autor e réu possam exprimir suas alegações, pro-
duzir provas e que eles possam contribuir para o convencimento do
magistrado.

3.4.2 Princípio da ampla defesa e contraditório

O princípio da ampla defesa e contraditório, que se relaciona


diretamente com o princípio do devido processo legal, é fundamental
para a parte ré no processo. É necessário fazer aqui uma subdivisão
desse princípio, uma vez que ele delimita duas perspectivas para o
réu no processo. A primeira perspectiva, que diz respeito à ampla de-
fesa, define que ao acusado é garantida a autodefesa e a defesa téc-
nica, ou seja, ele pode defender-se por si mesmo no processo, bem
como se utilizar da defesa técnica, representada na figura do advoga-
do/defensor, para defesa de seus direitos frente às acusações postas.
Já em uma segunda perspectiva, tem-se o contraditório, que é o direi-
to do acusado de poder se defender das alegações da parte autora.
O dispositivo legal que assegura ao acusado a ocorrência deste
princípio é o art. 5º, LV, da Constituição Federal. Com isso, pode-se de-
notar o quão tem sido atacado o contraditório pela inovação trazida ao
Código Processual Penal, uma vez que não há nenhuma possibilidade
do acusado se defender das alegações imputadas, restando, apenas,
discutir com o Ministério Público as medidas a serem cumpridas.

3.4.3 Princípio da presunção de inocência

Entende-se como princípio da presunção de inocência a cons-


tância de manter o acusado em qualidade de inocente até que se pro-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 617

ve o contrário. Em outras palavras, o processo é conduzido na obser-


vância de que, até o trânsito em julgado do processo, o réu não pode
ser considerado como culpado das acusações impostas a ele.
Aqui, tem-se o princípio de maior relevância para o estudo do
Acordo de Não Persecução Penal, uma vez que é o mais afetado pela
inovação do dispositivo. Isso porque, para que o acusado seja bene-
ficiado com o acordo, ele deve confessar o cometimento do crime, o
que implica tacitamente na renúncia ao princípio da presunção de ino-
cência.
Este princípio encontra-se disposto no art. 5º, LVII, da CF. A
partir dele, para o acusado, excluem-se os princípios anteriormente
destacados, uma vez que, ao se imputar a ele a culpabilidade formal
independentemente de culpa material, os princípios do devido proces-
so legal, da ampla defesa e do contraditório são igualmente afetados.

3.5 Requisitos de aplicação

Quanto à possibilidade da propositura do ANPP, torna-se im-


portante ressaltar que ela não poderá ser feita de qualquer forma ou
proposta por qualquer agente do judiciário. Desse modo, ao aprofun-
dar-se na temática, observa-se que existe uma série de critérios taxa-
tivos trazidos pela disposição do artigo 28-A, da Lei nº 13.964/2019, o
já mencionado Pacote Anticrime.
Dentre os requisitos, nota-se que o destinatário não pode ser um
indivíduo habitualmente criminoso, uma vez que as exigências para a
realização do acordo são justamente a não reincidência do agente, que
o crime em questão não tenha sido praticado com violência ou grave
ameaça e que o agente não possua antecedentes criminais que deno-
tem a conduta criminosa habitual, assim como é exigido que o agente
não tenha sido beneficiado pelo ANPP nos últimos cinco anos.
Quanto às demais exigências, elas direcionam o acordo para
aquele indivíduo que não tenha praticado violência doméstica ou ou-
tros crimes cuja pena mínima não seja superior a quatro anos. Conco-
mitantemente, as exigências são questões processuais, ou seja, para
que o acordo aconteça, a conduta do agente não pode ser passível de
transação penal, nem ser caso de arquivamento processual.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 618

4 O IMPACTO DO ANPP APLICADO À COMARCA DE ESPERAN-


TINA-PI

Considerando a aplicação do ANPP no exterior, bem como


suas peculiaridades na legislação brasileira, é imperioso destacar, no
contexto prático-jurídico, a eficácia deste instrumento aos processos
criminais.
Desse modo, apresentam-se a seguir os dados obtidos por
meio de questionário realizado junto à Vara Criminal da Comarca de
Esperantina-PI:

Gráfico 1 – Total de acordos propostos

Fonte: elaborado pelo autor, 2023.


DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 619

Gráfico 2 – Total de acordos realizados

Fonte: elaborado pelo autor, 2023.

Buscou-se verificar, com a propositura deste questionário, o


grau de eficácia da aplicação do ANPP na comarca de Esperantina-PI,
seja pela repetição de prática criminosa do acusado, que demonstra
a fragilidade do instrumento quanto ao objetivo basilar de oportunizar
a ressocialização do indivíduo arrependido, seja, ainda, pela insufici-
ência de recursos, que evidenciam a inobservância do Estado em não
ponderar os fatores de desigualdade social, prejudicando aqueles que
poderiam, de fato, aproveitar a “segunda chance” oferecida na justiça.

5 CONCLUSÃO

Deste modo, pode-se observar que os homens não foram feitos


para as leis, mas sim que as leis foram feitas para os homens. O direi-
to surgiu na sociedade para organizar e estabelecer o convívio social
e com a constante e consequente evolução social, ocorreu a evolução
do direito, exigindo-se cada vez mais que se fosse alcançado o sen-
so de justiça, tanto do ponto de vista de punir aqueles que cometem
atos criminosos, quanto para evitar que pessoas inocentes pagassem
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 620

por algo que não fizeram. Sendo assim, o ANPP surgiu historicamen-
te buscando a celeridade na resolução de conflitos, objetivando desa-
fogar o judiciário para que o mesmo alcançasse uma maior qualida-
de na apreciação dos litígios criminais e, consequentemente, oportu-
nizando aqueles que buscam a célere resolução do litígio sem respon-
der um processo penal, confiando-lhes o encargo de não cometerem
novos atos criminosos.
Com base em todo o exposto, pode-se verificar que a função
primária do Acordo de Não Persecução Penal tem sido cumprida, uma
vez que a pesquisa de campo realizada apontou poucos casos de
reincidência. Em termos percentuais, no período de 2020 a 2022, ape-
nas 8,33% dos acordos não foram cumpridos, sendo que a maioria
desses casos ocorreu devido à insuficiência de recursos do acusado.
Conclui-se, a partir da presente pesquisa, que o ANPP tem sido
um instrumento de grande auxílio ao judiciário, uma vez que tem sido
cumprido em quase sua totalidade, evitando o cerceamento de liber-
dade desnecessário de muitos acusados e, consequentemente, redu-
zindo a superlotação desvantajosa e imprópria de presos nas peniten-
ciárias pelo Estado.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 623

CAPÍTULO 44

O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA NO PROCESSO


ADMINISTRATIVO PREVIDENCIÁRIO

THE PRINCIPLE OF EFFICIENCY IN THE SOCIAL


SECURITY ADMINISTRATIVE PROCESS

Marielza Ruani Silva de Araújo


Christus Faculdade Do Piaui - CHRISFAPI,
Piripiri - Piauí, Brasil
ORCID: https://orcid.org/0009-0003-1331-4287
marielzaruani@gmail.com

Manoel Gabriel Pereira Melo


Christus Faculdade Do Piaui - CHRISFAPI,
Piripiri - Piauí, Brasil
ORCID: https://orcid.org/0009-0005-0064-1515
manoelgabrielp144@gmail.com

Renata Rezende Pinheiro Castro


Christus Faculdade Do Piaui - CHRISFAPI,
Piripiri - Piauí, Brasil
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9099-3020
rezenderenata@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo tem como tema, o princípio da eficiência no proces-
so administrativo previdenciário (PAP), tem como objetivo, estudar so-
bre o tema e analisar se o princípio da eficiência está sendo verda-
deiramente aplicado no processo administrativo previdenciário. A me-
todologia aplicada foi a pesquisa bibliográfica onde foi feita pesqui-
sas em obras relacionadas sobre o tema, através de artigos, livros, e
defesas de doutrinadores sobre o tema. Nesse sentido, concluiu que
existe um elevado acúmulo de processos administrativos previdenci-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 624

ários, pendentes de conclusão, na autarquia federal, INSS, no qual é


a entidade responsável em analisar os benefícios e serviços do regi-
me geral da previdência social (RGPS), dessa forma, trazendo prejuí-
zos aos segurados que necessitam do amparo estatal. Estudo direcio-
nado aos amantes do direito previdenciário, e principalmente para os
que desejam militar como advogados nesta área. Ademais, foi apre-
sentado possíveis soluções para o problema, assim, melhorando a ce-
leridade do PAP.
PALAVRAS-CHAVE: Princípio da eficiência; Processo administrativo
previdenciário; Instituto Nacional do Seguro Social.

ABSTRACT
This article has as its theme, the principle of efficiency in the social se-
curity administrative process, it aims to study on the subject and analyze
whether the principle of efficiency is being applied in the social security
administrative process. The applied methodology was the bibliographi-
cal research where research was done in related works on the subject,
through articles, books, and defenses of indoctrinators on the subject.
In this sense, it concluded that there is a high deposit of social security
administrative processes, pending completion, in the federal autarchy,
INSS, in which it is the authority responsible for analyzing the benefits
and services of the general social security system (RGPS), thus bringing
damages to the insurance that lived in the state support. Study aimed at
lovers of social security law, and especially for those who want military
personnel as lawyers in this area. In addition, possible solutions to the
problem were presented, thus effectively speeding up the PAP.
KEYWORDS: Principle of efficiency; social security administrative pro-
cess; National Institute of Social Security.

Introdução

Este artigo discorre sobre o princípio da eficiência no proces-


so administrativo previdenciário (PAP) em todas suas fases, tendo em
vista que a administração pública tem como dever respeitar os prin-
cípios basilares da constituição, elencadas no Art. 37 da Constituição
Federal brasileira.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 625

Segundo a Professora Fernanda Marinela (2016, p. 43), com-


preende -se por princípio da eficiência, a atividade estatal mais funcio-
nal, e ao mesmo tempo, seja feita com presteza e perfeição, produzin-
do efeitos positivos aos cofres públicos e maior produtividade.
Tem-se que para o segurado gozar dos serviços da segurida-
de social (previdência social e assistência social), como por exem-
plos, aposentadorias, pensões, auxílios por incapacidade permanen-
te ou temporária, loas idoso ou deficiente, devem dar entrada em um
protocolo seja pelo MEU INSS, ou pelas entidades conveniadas, as-
sim construindo o PAP (processo administrativo previdenciário), para
com isso os servidores do INSS analisarem se o requerente possui di-
reito ou não.
Entende-se por PAP aglomerados de atos que são feitos pelo
requerente ou pela autarquia previdenciária, que é concluído com um
despacho administrativo, conforme prevê a Portaria DIRBEN/INSS Nº
993, DE 28 DE MARÇO DE 2022.
Vale destacar, que o INSS, é uma autarquia federal, criada por
lei específica, que possui autoadministração, de direito público, e que
ocupa espaço na administração indireta muito importante, e devido à
alta demanda de protocolos, falta de servidores e a desvalorização
dos mesmo, ausência de estrutura física e digital, leva esses altos ín-
dices de protocolos sem conclusão, trazendo prejuízos aos ampara-
dos pela seguridade social e para os colaboradores da administração,
conforme dados recentes do próprio Conselho Nacional da Previdên-
cia Social (CNPS), em fevereiro de 2023, o número de requerimentos
pendentes supera a marca de 7(sete) milhões, somando o total de to-
das as demandas que o INSS recebe diariamente.
A previdência social é um tema que deve ser amplamente dis-
cutido no meio acadêmico e na sociedade, diante disso tem-se a se-
guinte problema norteador: o princípio da eficiência vem sendo obser-
vado no trâmite do PAP pelo do INSS, e quais são as consequências
da não observância deste princípio.
Para tanto tem-se como objetivo geral, analisar se tal princí-
pio da administração pública está sendo verdadeiramente aplicado e
apresentar possíveis soluções para a problemática, ademais, os ob-
jetivos específicos são: compreender o PAP e suas fases; procurar
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 626

meios de auxiliar na celeridade processual administrativa previdenci-


ária; verificar os motivos que levam o elevado acúmulo de processos
administrativos no INSS, sem conclusão. A metodologia empregada,
foi a de pesquisa bibliográfica, onde foi feito levantamento de dados,
e informações, de estudos já publicados sobre o referido tema, assim,
apoiando a pesquisa.
Trazer a baile essa discussão é de suma importância, pois en-
tender se o princípio da eficiência, base da administração pública está
sendo verdadeiramente aplicado, traz consequências na vida do cida-
dão brasileiro, haja vista que em algum momento este vai precisar do
amparo da previdência social ou da assistência, para proteção de al-
gumas necessidades sociais, como a velhice, a maternidade, o inca-
pacidade e a morte, por meios dos seus serviços e benefícios, assim
levando a importância do referido estudo, haja vista que o segurado
necessitado, vai almejar que seu benefício seja analisado de maneira
mais célere e eficiente.

Metodologia

A metodologia empregada foi a pesquisa bibliográfica de obras,


como livros, artigos, sites e pesquisas de doutrinadores renomados
sobre o tema, especialmente os professores, Thaís Miranda de Sou-
sa, Gustavo Beirão de Araújo, Victor Carvalho, Patrícia Vianna Mei-
relles Freire e Silva, com isso embasando e gerando mais credibilida-
de e confiança para o artigo que foi desenvolvido, além disso, foi fei-
ta consultas aos institutos normativos necessários, como, leis, porta-
rias, instruções normativas, decretos e principalmente a carta magna
constitucional, como por exemplo: Instrução Normativa PRESS/INSS
Nº 128/2022, Portaria DIRBEN/INSS Nº993/2022, Lei nº8.212/91, Lei
nº8.213/91, Decreto nº3.048/99, e a Constituição Federal de 1988.
Destarte, forma de pesquisa explicativa e descritiva, onde o es-
tudioso visa descrever o fenômeno, no caso em questão, o alto índice
de processos administrativos sem conclusão, sem eficiência, e estu-
dar quais são os fatores que levam a esse fenômeno, de acordo com
GIL (2017), essas pesquisas têm como objetivo estudar o motivo das
coisas.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 627

Foram feitas pesquisas em sites oficiais do governo, pode-


mos citar o site do Governo Federal, do Conselho Nacional de Justi-
ça (CNJ), Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (DA-
TAPREV), e além disso, em portais que possuem credibilidade e con-
fiança em seus dados, procurando proporcionar melhor experiência
ao leitor.

Do processo administrativo previdenciário

Primeiramente, é importante conceituar o que é o processo ad-


ministrativo previdenciário, segundo a Portaria DIRBEN/INSS Nº 993,
DE 28 DE MARÇO DE 2022, conceitua PAP:

Considera-se Processo Administrativo Previdenciário o


conjunto de atos praticados pelo administrado ou pela
Previdência Social nos Canais de Atendimento da Previ-
dência Social, iniciado em razão de requerimento formu-
lado pelo interessado, por terceiro legitimado, ou de ofí-
cio pela Administração, e concluído com a decisão defini-
tiva no âmbito administrativo.

Segundo o Professor Miguel Horvath Júnior (2020, p. 778), o


processo administrativo tem como posto de regular as práticas entre
os servidores e os segurados, garantindo essa relação jurídica admi-
nistrativa.
Outro conceito interessante de processo administrativo previ-
denciário, é do Professor Felipe Camelo (2018, p.2), que conceitua
tal ato, como um procedimento em contraditório, que tem como obje-
tivo a concessão, extinção ou revisão de um serviço ou benefício fei-
to pelo INSS.
No Brasil em até fevereiro de 2023, existem 7 milhões de pro-
cessos administrativos em pendência, conforme dados da Empresa
de Tecnologia e Informações da Previdência (DATAPREV), tal entida-
de responsável pela gestão de bases sociais brasileira, isso soman-
do o reconhecimento inicial de direitos, recursos, perícias agendadas,
demandas judiciais, revisão de benefícios, seguro defeso, certidão de
tempo de contribuição, apuração de irregularidade, manutenção de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 628

benefícios, atualizações cadastrais, vejamos a tabela cedida pelo DA-


TAPREV:

Tabela 1 – Protocolos do INSS


ESTOQUE EM
TIPO DA FILA
02/2023 (≅)

1. Reconhecimento inicial de Direitos (RID) (Exceto SDPA e CTC) 1,8 milhões

2. Recurso Total (INSS + CRPS) 2,4 milhões


3. Demandas Judiciais 294 mil
4. Revisão 418 mil
5. Seguro Defeso 793 mil
6. Certidão de Tempo de Contribuição 40 mil
7. Apuração de Irregularidade (MOB) 640 mil
8. Manutenção de Benefícios Total 725 mil
9. Atualização de Cadastro 58 mil
Reconhecimento inicial de Direitos (RID) Quantidade
Benefícios por Incapacidade 820 mil
Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência (BPC/LOAS) 473 mil
Demais serviços 593 mil
Total 1,8 milhões
Perícias agendadas Quantidade
Benefícios por Incapacidade 605 mil
BPC/LOAS 215 mil
Demais Serviços 200 mil
Total 1,0 milhão
SOMA TOTAL DE TODOS OS PROTOCOLOS EM ESTOQUE EM ≅ 7,1
02/2023 MILHÕES
Fonte: DATAPREV/CNPS.

Conforme é visto na tabela para a fila de reconhecimento ini-


cial de direitos (RID), são aproximadamente 1,8 milhões, de PAP´s em
estoque em fevereiro de 2023, ou seja, sem conclusão, é nessa fase
onde está localizado os pedidos de aposentadorias, pensões, salário-
-maternidade, entre outros pedidos de benefícios.
A seguir dados atuais, segundo a Empresa de Tecnologia e In-
formações da Previdência (DATAPREV):
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 629

Tabela 2 – Dados sobre as agências do INSS


Perícias médicas realizadas em 2022 + de 4.4 milhões
Número de peritos médicos ativos ≅ 2900
Servidores ativos (INSS) ≅ 18.000
Fonte: DATAPREV/CNPS

Existem no Brasil, em fevereiro de 2023, segundo o DATA-


PREV, aproximadamente 18 mil servidores ativos para atender as de-
mandas de análises, atendimento e serviços da autarquia, cerca de
2900 peritos médicos federais, com o objetivo de avaliar a incapacida-
de laboral dos segurados, dos benefícios como auxílio por incapaci-
dade temporária ou benefícios assistenciais a pessoa com deficiência.

Judicialização do benefício indeferido

Na prática do direito previdenciário, muitas vezes devido o in-


deferimento no INSS, o segurado por meio de seu advogado recorre
na justiça o seu direito previdenciário, assim postergando o requeren-
te de gozar de seu benefício, tendo em vista que na via judicial a mo-
rosidade é maior, para que haja a implantação do benefício.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o sistema de
Base Nacional de Dados do Poder Judiciário (DataJud), entre os anos
de 2015 a 2019, houve um aumento de 140% do número de ações ju-
diciais contra o INSS, todos referente a benefícios previdenciários ou
assistenciais. Ademais, de acordo com o estudo feito pelo Instituto de
Ensino e Pesquisa (Insper), alegou que mais da metade do volume de
processos na justiça federal é de natureza previdenciária, dessa forma
é nítido o aumento das demandas judiciais previdenciárias no Brasil.
Ademais, de acordo com o estudioso Sergio Santos Melo
(2015, p. 50), essa alta quantidade de processos judiciais na área pre-
videnciária, seria reduzida se no protocolo administrativo, o proces-
so fosse mais democrático e sensível a realidade do segurado. Ou-
tro dado importante cedido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
no próprio site oficial, foram 9.253.045 dos PAP´s no INSS, 593.772
foram implantados por causa de decisões judiciai, entre dezembro de
2018 e dezembro de 2019.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 630

Importante elencar, que já é pacificado nos tribunais superiores


(Supremo Tribunal Federal - STF, recurso nº 631240), para que haja
o protocolo na via judicial, em regra geral na justiça federal, deve pri-
meiramente ter o direito negado no INSS, depois com essa negativa,
recorrer na via judicial o direito que o segurado defende de ter. Toda-
via, não é obrigatório o segurado esgotar todas as vias administrativas
para procurar a tutela do poder judiciário.

Princípio da eficiência no PAP e suas fases

O processo administrativo previdenciário no INSS, possui qua-


tro fases: inicial, instrutória, decisória, recursal. Na primeira fase é
onde o requerente, vai dar entrada no seu protocolo, seja pelos canais
remotos como a Central 135, pelo MEU INSS ou pelas entidades con-
veniadas, o Art. 26 da Portaria 993/2022 do INSS, tipifica:

Art. 26. O requerimento de benefícios e serviços deve-


rá ser solicitado pelos canais de atendimento do INSS,
previstos na Carta de Serviços ao Usuário do INSS de
que trata o art. 11 do Decreto nº 9.094, de 17 de julho de
2017, tais como:
I - Central de Serviços ou Portal “Meu INSS”;
II - Central de Teleatendimento 135 - Central 135; e
III - Unidades de Atendimento.

Por seguinte, na fase instrutória, o segurado ou seu representan-


te vai anexar toda a documentação necessária para a análise do servi-
dor, assim vai ser feita a reunião de elementos necessários para o reco-
nhecimento do direito, caso não seja insuficiente o servidor deve colo-
car em exigência o PAP, no Art. 25 da Portaria 993/22 da autarquia, des-
creve o que deve ter no requerimento administrativo, vejamos:

Portaria 993/22. Art. 25. Requerimento é o pedido que o


interessado formaliza ao INSS, dando início ao Processo
Administrativo Previdenciário, que contém:
I - a identificação do interessado;
II - a identificação do benefício ou serviço pretendido; e
III - a data de protocolo
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 631

Na terceira fase, de decisão, o servidor do INSS, analisando a


documentação das bases governamentais, vai despachar o processo
com uma decisão, devidamente fundamentada com as normas inter-
nas e as leis vigentes, previsto no Art. 109 da Portaria 993/22:

Portaria 993/22. Art. 109. A Administração tem o dever de


explicitamente emitir decisão nos Processos Administra-
tivos e sobre solicitações ou reclamações em matéria de
sua competência.
 1º A decisão administrativa, em qualquer hipótese, de-
verá conter despacho sucinto do objeto do requerimen-
to administrativo, fundamentação com análise das pro-
vas constantes nos autos, bem como conclusão deferin-
do ou indeferindo o pedido formulado, sendo insuficiente
a mera justificativa do indeferimento constante no siste-
ma corporativo da Previdência Social.
§ 2º A motivação deve ser clara e coerente, indicando
quais os requisitos legais que foram ou não atendidos,
podendo fundamentar-se em decisões anteriores, bem
como notas técnicas e pareceres do órgão consultivo
competente, os quais serão parte integrante do ato de-
cisório.
§ 3º Todos os requisitos legais necessários à análise do
requerimento devem ser apreciados no momento da de-
cisão, registrando-se no Processo Administrativo a ava-
liação individualizada de cada requisito legal.

Por fim, a fase recursal, quando o segurado não estiver satis-


feito com a decisão, pode recorrer para o Conselho de Recursos de
Previdência Social (CRPS), onde vai ser julgado novamente o reque-
rimento do segurado, e verificar se houve erro por parte do servidor
que analisou, ademais, existe no próprio CRPS, até a terceira instân-
cia para recorrer do pedido.
A própria Portaria 993/22, no seu Art.2,V, conceitua recurso ad-
ministrativo, como atos que são iniciados após a negativa do pedi-
do, que tem como objetivo reverter a decisão de outro servidor, onde
quem possui a competência é o Conselho de Recursos de Previdência
Social (CRPS), para julgar e analisar o referido recurso.
Conforme prever o Art. 524 da Instrução Normativa do INSS
128/2022, são considerados legitimados para realizar requerimento a
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 632

autarquias as seguintes pessoas: o próprio segurado; o beneficiário; o


dependente ou pessoa jurídica para requerer. Além disso, existe a pos-
sibilidade de outra pessoa representar o segurado para requerer algum
serviço ou benefício ao INSS, na Portaria 993/22, no seu Art. 36, elenca:

Portaria 993/22. Art. 36. Podem protocolar o requerimen-


to em nome do interessado:
I - o representante legal: tutor nato, detentor da guarda,
tutor, curador ou administrador provisório do interessado;
II - a empresa com que o interessado tenha vínculo em-
pregatício ou de prestação de serviços, em caso de re-
querimento de auxílio por incapacidade temporária ou de
documento dele originário;
III - o procurador;
IV - a entidade conveniada.

O princípio da eficiência, tal base é o tema central no presen-


te trabalho, haja vista sem uma máquina pública eficiente, o segurado
que necessitar da previdência social, não tem seu direito garantido em
tempo hábil e com qualidade.
Segundo a Doutrinadora Fernanda Marinela (2016, p. 43), pre-
ceitua:

A eficiência exige que a atividade administrativa seja


exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional.
Consiste na busca de resultados práticos de produtivida-
de, de economicidade, com a consequente redução de
desperdícios do dinheiro público e rendimentos típicos da
iniciativa privada, sendo que, nessa situação, o lucro é do
povo; quem ganha é o bem comum.

Para o Professor Hely Lopes Meirelles, o servidor público deve


trabalhar na administração pública com presteza (sengo ágil e rápido),
qualidade (realizar suas tarefas com perfeição), e rendimento funcional.
Todavia, para que seja aplicado esse princípio da eficiência, o
poder público deve proporcionar um ambiente de trabalho adequado,
valorização do servidor público principalmente, e investir de maneira
eficaz na administração.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 633

No processo administrativo previdenciário, tal princípio deve


ser aplicado diariamente, tendo em vista que o segurado que está ne-
cessitado dos serviços da Autarquia Federal INSS, quer uma resposta
rápida para o seu problema.
Entretanto, na prática previdenciária tal princípio não está sen-
do aplicado na sua efetividade, greves, falta de servidores e especiali-
zações, e estrutura das APS precárias, todo esses fatores levam a que
o processo administrativo não seja tão eficiente. Resultando uma sé-
rie de mazelas para os segurados que dependem do benefício para a
sua sobrevivência e sustento de toda sua família.
Outrossim, importante elencar que em 2020, o Ministério Públi-
co Federal vendo a demora na análise dos protocolos administrativos
entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal contra o INSS, as-
sim, teve como resultado um acordo, onde estipulava prazos mais cur-
tos para a conclusão do PAP, dependendo do serviço ou benefício, va-
riando de 30 a 90 dias para a autarquia despachar o processo, esse
acordo teve validade de 2 anos, tem como Tema 1066 do STF, onde
prever os seguintes prazos para cada benefício: auxílio-acidente, 60
dias, auxílio-reclusão, 60 dias, auxílio por incapacidade temporária, 45
dias, auxílio por incapacidade permanente, 45 dias, BPC/LOAS, 90
dias, salário maternidade, 30 dias, pensão por morte, 60 dias, demais
aposentadorias, 90 dias.
Importante ressaltar, segundo informações do jornal -GLOBO.
COM-, matéria publicada em 29/05/2020, o INSS vendo em tal situa-
ção, de benefícios pendentes em análise, fora feito uma seleção de
5.330 pessoas, entre eles ex-servidores da autarquia e militares inati-
vos, para suprir a demanda e ajudar nas análises dos protocolos, prin-
cipalmente para analisar os recursos administrativos da autarquia pre-
videnciária federal.
A tecnologia está ajudando muito que esse princípio da eficiên-
cia seja alcançado, desde 2005 o INSS, vem adotando práticas tec-
nológicas, tudo isso para proporcionar melhor celeridade ao processo
administrativo previdenciário (PAP), o INSS digital foi um grande avan-
ço, onde possibilita que os segurados protocolem seus benefícios pelo
aplicativo e a Central 135 beneficia os segurados, são chamados ca-
nais remotos, onde evita que o segurado se dirija a uma APS física.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 634

No Art. 12 da Portaria DIRBEN/INSS Nº 993, DE 28 DE MAR-


ÇO DE 2022, já assegura esse processo eletrônico, onde busca a
maior efetividade e eficiência do processo, fora criado o Portal de
Atendimento - PAT, onde foi incorporado o Gerenciador de Tarefas -
GET e o Sistema de Agendamento -SAG no mesmo portal, a implan-
tação desses sistemas foi de grande valia para os segurados do INSS
e para os servidores.
Entretanto, traz consigo problemas, buscando aumentar o nú-
mero de atendimentos, o INSS procurou automatizar os sistemas, evi-
tando assim que um servidor pessoa física analise o benefício ou ser-
viço, consequentemente diminuindo o tempo de espera para a análise
do benefício, mas isso pode causar transtornos aos segurados, haja
vista que existe benefícios que precisa do olhar clínico de um servidor,
dado a natureza da causa, fazendo que o protocolo seja analisado em
todas as perspectiva, e não só um algoritmo pelo sistema.
Conforme afirma Diego Cherulli (2022), vice-presidente do Insti-
tuto Brasileiro de Direito Previdenciário, que o robô indefere mais bene-
fícios, haja vista que as bases cadastrais do segurando na sua maioria,
existe erros, fazendo assim que o sistema negue o benefício. Além disso,
o jornal “EXTRA” em sua pesquisa afirma, em dados reais, que de cada
200 mil aposentadorias protocolados no INSS, 50 mil são concedidas au-
tomaticamente pela a inteligência artificial, de 4 protocolos, 3 deles são in-
deferidos, sem uma análise criteriosa pelo um servidor concursado.
No presente ano, 2022, houve uma das maiores greves da his-
tória do INSS, onde a maioria dos servidores, ficaram cerca de qua-
se 2 meses, com as atividades paradas, lutando por melhores condi-
ções de trabalho e atualizações salariais, podemos citar como exem-
plo a própria APS da cidade de Piripiri, onde no site “Piripiri Repór-
ter.com”, onde foi feita entrevista com um dos servidores do Instituto,
onde a mesma afirma:

Estamos aqui hoje em forma de protesto que não é so-


mente local, mas também é nacional. Estamos unidos
com todos os servidores do país para reivindicar melho-
res condições de trabalho, a agência local encontra-se
precária com a estrutura, caindo aos pedaços, há falta de
cadeiras para trabalhar e as que tem estão em péssimo
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 635

estado, há falta de computadores e equipamentos bási-


cos para a realização dos trabalhos. Hoje, a maior par-
te dos atendimentos estão sendo realizados pelo aplica-
tivo ‘Meu Inss’ de forma exclusiva, tirando o direito da po-
pulação a informação para acompanhar seus processos
e serem atendidos presencialmente. (BRITO,2022. Infor-
mação verbal)

Segundo a Secretaria de Políticas de Previdência Social, em


março de 2022, havia mais de 1,7 milhão de protocolos de benefícios
em análise. Portanto, é muito grave todo esse contexto, onde tal ca-
lamidade fere diretamente os princípios fundamentais garantidos na
Constituição Federal, devido a demora do INSS para dar uma respos-
ta mais efetiva para o segurado.

Possíveis soluções para diminuir a morosidade dos protocolos


administrativos do INSS

A escassez de servidores nas agências já é um problema re-


corrente conhecido pela sociedade brasileira, alguns servidores estão
em condições de se aposentar e também há a falta de concurso pú-
blico. Consequentemente em decorrência do desfalque na equipe de
servidores, há a demora na análise dos benefícios. Por sua vez, existe
a escassez de concursos públicos e também as vagas limitadas para
essa área só evidencia mais o acúmulo de processos administrativos.
Decorre também do fato de desde 1º de junho de 2019, sur-
girem novas regras que estabeleceram critérios rígidos para abertu-
ras de editais em concursos para servidores. Outro fato que agrava
toda situação, é a desvalorização do servidor, onde vê-se muitas gre-
ves alegando salários reduzidos e precariedade de trabalho. 
Em 2015 houve uma reposição salarial e investimentos em in-
fraestrutura física e tecnológica para melhorar o desempenho de fun-
ções, mas de forma arbitrária os servidores tiveram de passar por mu-
danças, como teletrabalho, sistema abusivo de metas, terceirização,
entre outras que acabam por comprometer o trabalho. Os efeitos ad-
vindos do processo de aposentadoria dos servidores, evidencia a ne-
cessidade de reposição de força de trabalho.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 636

De acordo com uma matéria publicada no site CUT (Central


Única dos Trabalhadores) a desvalorização do servidor público está
cada vez mais evidente. Pois somente no governo Bolsonaro, en-
tre 2019 a 2021, o INSS perdeu mais de 12 mil trabalhadores. Mui-
tas agências foram fechadas por todo o Brasil. O déficit de servidores
é de cerca de 16 mil funcionários no Brasil, logo esta situação acaba
por deixar cerca de 2 milhões de atendimentos paralisados, eviden-
ciando assim a necessidade de mais servidores.
Portanto é claro o déficit de servidores do INSS, logo realiza-
ção de concurso público e mais vagas poderiam impactar diretamen-
te na celeridade de todos os processos, tanto quanto na vida dos se-
gurados e beneficiários.
Não só a falta de servidores é uma grande problemática, mas a
falta de recursos e infraestrutura nas agências também, pois envolve
não só questões físicas, mas também estrutura organizacional, tecno-
logia, condições de trabalho, entre outras.
Dessa forma, o governo federal deve investir nos servidores e
na estrutura das APS em todo o Brasil, aumentando o número de ser-
vidores ativos na autarquia, e melhorar o atendimento ao público e na
análise de benefícios.
É evidente que a profissionalização e aperfeiçoamento dos ser-
vidores em seus cargos constitui uma estratégia importante para ga-
rantir melhor prestação de serviços aos cidadãos e consequentemen-
te maior celeridade nos processos administrativos. 
As demandas no quesito benefícios e seguros advindos do
INSS só estão aumentando cada vez mais, e capacitar a força de tra-
balho é uma forma eficiente de lidar com essas altas demandas. Am-
pliar e habituar os servidores na utilização de plataformas digitais, tan-
to os servidores atuais, quanto os futuros servidores devem estar ha-
bituados à transformação digital.
A formação e capacitação dos servidores tem de ser priorida-
de, logo porque os integrantes do quadro de servidores do INSS, são
responsáveis pelo maior serviço de programa social brasileiro. Exis-
te o Adicional de Incentivo a Qualificação - AIQ no projeto, que propõe
para os servidores, de que trata a Lei nº 10.855 de 1º de abril de 2015,
promove a profissionalização de equipe e o seu desenvolvimento num
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 637

procedimento de instrução profissional condicionado à crescente ob-


tenção de diplomas, subtítulos ou certificados no final do curso em ma-
térias de preocupação do INSS, com o objetivo de dignificar e valori-
zar os cidadãos que sua trajetória profissional, vinculada ao melhora-
mento da realização individual e institucional, e coerente excelência
da qualidade do atendimento e dos serviços prestados pela Previdên-
cia Social à sociedade.

Considerações finais

A elaboração do desenvolvimento do presente artigo, foi de


grande valia para debater e estudar sobre o tema proposto, onde foi
analisado e estudado doutrinadores que dispõe sobre o assunto, no
qual concluiu que o processo administrativo previdenciário deve ser
mais célere e eficiente para socorrer os segurados do INSS nos mo-
mentos de risco social, seja a incapacidade, a maternidade, morte, ou
a velhice.
Ademais, foi conceituado e analisado o processo administrati-
vo, e como é todo o procedimento e todas suas fases, e por fim foi de-
batido se o princípio da eficiência está sendo verdadeiramente aplica-
do no PAP e possíveis soluções para a demora nas análises.
Assim, conclui-se que tal princípio constitucional na prática ad-
ministrativa não está sendo aplicado, tendo em vista a alta demanda
de processos administrativos sem conclusão, consequentemente tra-
zendo prejuízos aos segurados, que querem uma conclusão rápida e
de qualidade para seu processo.
Além disso, para que a pesquisa chegasse em tal conclusão,
foram feitos análise de dados numéricos e de estudos de cientistas
que já estudaram sobre o tema.
Outrossim, tal problemática ocorre pelos seguintes motivos: fal-
ta de concurso público para o preenchimento de vagas, ausência de
investimento tanto na tecnologia e na estrutura física da agências da
autarquia, precária especialização dos servidores, tendo em vista que
o direito previdenciário sofre atualização constantemente e a autar-
quia não oferece curso de especialização, fazendo que aumente o nú-
mero de processos indeferidos, com isso levando para a via judicial, e
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 638

levando a morosidade processual, e por fim, a carência de valorização


dos servidores públicos que trabalham na entidade estatal.
Por fim, acredita-se que o artigo conseguiu chegar no seu obje-
tivo, criar e expor mais sobre o processo administrativo previdenciário,
e como funciona suas fases, e averiguando os motivos que levam a
lentidão na conclusão dos pedidos junto ao INSS, fazendo que o prin-
cípio da eficiência seja desrespeitado e foi proposto possíveis solu-
ções para amenizar tal demanda.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 641

CAPÍTULO 45

O TRATAMENTO PENAL AO CRIME DE


ASSÉDIO SEXUAL, E A SUA INOBSERVÂNCIA
AO PRÍNCIPIO DA PROPORCIONALIDADE DAS
PENAS: O CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO
COMO GENÊSIS DO PROBLEMA

THE CRIMINAL TREATMENT OF THE CRIME OF SEXUAL


HARASSMENT AND ITS NON-COMPLIANCE WITH THE
PRINCIPLE OF PROPORTIONALITY OF PENALTIES: THE
BRAZILIAN POLITICAL SCENARIO AS THE PROBLEM’S GENESIS

Carlos Eduardo Isaias Sousa


Christus Faculdade do Piauí – CHRISFAPI
Campus Piripiri
Piripiri – PI
ORCID 0009-0000-7439-3677
duducarlosmil@gmail.com

Sandro Lúcio da Silva Paulino


Christus Faculdade do Piauí – CHRISFAPI
Campus Piripiri
Piripiri – PI
ORCID 0009-0001-8034-1571
sandrojuridico.estudo@gmail.com

Patrícia Pereira do Nascimento


Christus Faculdade do Piauí – CHRISFAPI
Campus Piripiri
Piripiri – PI
ORCID 0000-0002-1740-3274

RESUMO 
O presente artigo aborda o princípio da proporcionalidade e sua rela-
ção com o crime de assédio sexual, tipificado no artigo 216-A do Có-
digo Penal (CP). Com o objetivo de compreender se tal princípio está
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 642

sendo aplicado na tipificação do referido crime, e ato contínuo, inves-


tigar os motivos de sua inobservância. A metodologia utilizada foi a bi-
bliográfica, com foco na doutrina clássica e em artigos atuais, além da
análise de dados estatísticos. Ao final conclui-se pela necessidade de
aumento de pena em relação ao 216-A do CP, visto que, fora consta-
tado a inobservância do princípio da proporcionalidade e sua causa
decorrente da pouca representatividade feminina nas casas legislati-
vas do Brasil.
Palavras-chaves: Assédio sexual; Princípio da proporcionalidade;
Democracia.

1. INTRODUÇÃO

A pena é o elemento central do Direito Penal, e socialmente


considerada a pena indica para a sociedade quais os elementos de-
veria por ela mesma considerar mais valiosos, nas palavras de Rogé-
rio Greco: “A pena, portanto, é simplesmente o instrumento de coer-
ção de que se vale o direito penal para a proteção dos bens, valores e
interesses mais significativos da sociedade”(2022, n.p), portanto, a ló-
gica propagada pelo Direito Penal defende que quanto mais valioso o
bem jurídico tutelado, maior será a punição a quem o causar dano, e
em alguns casos, perigo de dano.
O crime de Assédio Sexual, tipificado no art.216-A do Código
Penal brasileiro, tem a finalidade de tutelar a dignidade sexual, é de se
esperar que o mesmo receba considerável tutela penal, visto ser a dig-
nidade sexual um desdobramento da dignidade humana, bem este de
vultosa relevância devido ao fato de a dignidade da pessoa humana
ser um dos fundamentos do Estado Brasileiro, como se constata em
leitura do art. 1°, inciso III da Constituição Federal (1988):

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela


união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:
I – a soberania;
II - a cidadania;
III- a dignidade da pessoa humana;
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 643

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;


(Vide Lei nº 13.874, de 2019) V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamen-
te, nos termos desta Constituição.

Contanto, a tutela penal esperada não é o que se obtém, dian-


te o fato, de que a pena para o agente que praticar o núcleo do tipo
do art.216-A será no máximo 2 (dois) anos, acrescido de ⅓ (um terço)
se cometido contra menor de 18 (dezoito) anos (BRASIL, 1945), fato
este que provoca verdadeira curiosidade científica, levando os autores
deste Artigo a promoverem a escrita abaixo, com a finalidade de refle-
tir, e extrair conclusões acerca das raízes do problema acima descrito.
A metodologia utilizada na presente investigação foi a biblio-
gráfica, por permitir tanto a revisão de dados sobre a realidade já ex-
traídos por outros pesquisadores, quanto apropriação crítica de textos
e reflexões já feitas por diversos cientistas da área jurídica. Evitando
o uso de réguas morais acerca do que seria uma pena abstratamente
“justa” ou “injusta”,e com base na própria lógica penal, análises dou-
trinárias entre outros meios científicos, para a constatação de que em
primeiro lugar existe uma ilogicidade na distribuição das penas, e em
segundo lugar por qual razão a mesma ocorre
Em busca de respostas, o referencial teórico utilizado foi a dou-
trina clássica, os pensadores críticos, e os dados da realidade, estes
coletados por meio da leitura de artigos atualizados, teses de mestra-
do e afins, o núcleo da presente obra gira em torno do crime acima ci-
tados, e do princípio da proporcionalidade, conceitos estes que serão
pormenorizadamente trabalhados logo abaixo.

2. ASSÉDIO SEXUAL, QUESTÕES CONCEITUAIS.

O crime de assédio sexual foi tipificado no ordenamento jurídi-


co brasileiro no ano de 2001, pela lei N/ 10.224, após intensas movi-
mentações de grupos feministas, que viram a oportunidade de trazer
uma nova tipificação para o código penal como uma forma de diminuir
as desigualdades de gênero existentes no ambiente de trabalho.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 644

Ainda sobre o histórico de aprovação da lei 10.224/01, vale res-


saltar que todo enfrentamento para impor o crime de assédio como
projeto de lei, sempre partiu grupos políticos envolvidos ao partido dos
trabalhadores na qual maioria estava frente da luta pela aprovação
eram mulheres, como que um foi apresentado por Benedita da silva,
Marta Suplicy e Iara Bernardi, cada umas delas teve sua parcela de
contribuição para que o surgimento da lei do crime de assédio pudes-
se ser discutida e aprovado (DAMÁSIO e GOMES, 2002).
O verbo assediar tem sua origem no latim, significando blo-
queio. Do conceito encontrado no Dicionário Aurélio, encontramos
“perseguir com insistência, importunar, molestar, com perguntas ou
pretensões insistentes” (WAGNER, 2017, p.17). Diante o tema, impor-
tante são as palavras de Maria Helena Diniz, em sua obra Dicionário
Jurídico (1998, p. 122), citada pelo autor Omar Aref Abdul Latif, liber-
dade sexual é entendida:

LIBERDADE SEXUAL. Direito penal. Direito de disposi-


ção do próprio corpo ou de não ser forçado a praticar ato
sexual. Constituirão crimes contra liberdade sexual: o ato
de constranger mulher à conjunção carnal, mediante vio-
lência ou grave ameaça; o atentado violento ao pudor,
forçando alguém a praticar ato libidinoso diverso da con-
junção carnal; a conjunção carnal com mulher honesta,
mediante fraude, a praticar ato libidinoso.

O sujeito ativo pode ser de ambos os sexos, homem ou mulher,


com o uso da expressão “alguém”, o tipo criminoso admite que o cons-
trangimento pode ser praticado por sujeito ativo do mesmo sexo da ví-
tima ou oposto, e quanto ao sujeito passivo, abrange a proteção tanto
para o homem quanto para a mulher no ambiente de trabalho, em suma,
o assédio sexual, de acordo com o texto legal, não é mais do que res-
trições ilícitas impostas em determinadas circunstâncias laborais e su-
jeitas a propósito sexual específico. portanto, este crime tem três carac-
terísticas: (a) contenção ilegal (meios de contenção, coagir, decidir, im-
por algo contra a vontade da vítima, entre outros verbos); (b) finalidade
especial (ou vantagem sexual); (c) abuso de predominância trabalhista.
A lei penal não exige que atos lascivos sejam efetivamente pra-
ticados, bastando que sejam eles o motivo do ato. Não estão previs-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 645

tos meios para a prática do tipo de crime, portanto, tem forma livre, ou
seja, pode ser praticada de qualquer maneira ou forma, desde que o
suficiente para constranger a vítima (BITENCOURT, 2011).
Todavia, o tipo de crime requer esta relação de dominância hie-
rárquica ou linhagem como podemos ver, esta qualidade é própria do
sujeito ativo. O assédio sexual só é aplicado de cima para baixo, não
de baixo para cima. Não existe crime sem condição de superioridade,
tanto em instituições públicas quanto privadas, e por fim pode a vítima
pertencer a qualquer sexo, embora na grande maioria das vezes a ví-
tima seja do sexo feminino.

3. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE NO DIREITO PENAL

O princípio da proporcionalidade está associado à validade for-


mal e substantiva do Estado Democrático de Direito, visto que, a de-
mocracia pressupõe a justificação de suas leis diante da sociedade. É
assim possível, e não em vão, conceituar o princípio da proporciona-
lidade no âmbito do direito penal como um princípio constitucional da
adequação e equilíbrio das sanções penais que os legisladores e apli-
cadores do direito penal devem observar para impor penas pelas vio-
lações correspondentes (MAGE, 2003).
Diante disso, significa que a punição deve ser compatível com
a gravidade da ofensa criminal, e o comprometimento, sem espaço
para exageros, nem generosidade extrema, é uma combinação de pe-
nalidades para o tipo de ofensa criminal.
No ordenamento brasileiro, através do Princípio da Propor-
cionalidade, será norteada a real aplicação da pena, retribuindo, em
nome da sociedade, uma repressão adequada à ilegalidade cometida.
É preciso impor pena com restrição de liberdade somente à condutas
de média e grande periculosidade, reservando aos crimes de menor
potencial ofensivo as penas alternativas.

4. ASSÉDIO SEXUAL E A PROIBIÇÃO DE PROTEÇÃO DEFICIENTE

Como visto acima, o princípio da proporcionalidade penal le-


gislativa advoga que se faça um exercício de ponderação, para atu-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 646

ar como correto mediador entre o bem lesionado ou posto em perigo


de lesão, e o bem de que pode o agente infrator ser privado, verdadei-
ra e recíproca relação entre gravidade do dano e gravidade da pena.
Tal princípio é constitutivo de qualquer código penal, que pre-
tenda tutelar de forma efetiva os bens jurídicos de maior valor para
determinada sociedade. Sobre o assunto, importante são as palavras
do douto Rogério Greco, ao afirmar que tal norma fundamental proí-
be tanto o excesso, quanto a proteção deficiente aos bens jurídicos:

Por meio do raciocínio da proibição do excesso (...) pro-


cura-se proteger o direito de liberdade dos cidadãos, evi-
tando a punição desnecessária de comportamentos que
não possuem a relevância exigida pelo Direito Penal, ou
mesmo comportamentos que são penalmente relevan-
tes, mas que foram excessivamente valorados, fazendo
com que o legislador cominasse, em abstrato, pena des-
proporcional à conduta praticada, lesiva a determinado
bem jurídico. (...)
A outra vertente do princípio da proporcionalidade diz
respeito à proibição de proteção deficiente. Quer isso di-
zer que, se por um lado, não se admite o excesso, por ou-
tro, não se admite que um direito fundamental seja defi-
cientemente protegido, seja mediante a eliminação de fi-
guras típicas, seja pela cominação de penas que ficam
aquém da importância exigida pelo bem que se quer pro-
teger, seja pela aplicação de institutos que beneficiam in-
devidamente o agente etc. (2022, n.p)

Não se mostra ser uma tarefa simples, o encargo de avaliar se o


quantum de uma pena é proporcional à importância do bem por ela tute-
lado, porém tal tarefa é imprescindível, o douto Juarez Cirino, em seu ma-
nual penal, parte geral, leciona sobre o princípio da avaliação, desdobra-
mento do princípio da proporcionalidade, que nas palavras do exímio ju-
rista, pode ser formulado sob a seguinte indagação “a pena criminal co-
minada e/ou aplicada (considerada meio adequado e necessário, ao ní-
vel da realidade) é proporcional em relação à natureza e extensão da le-
são abstrata e/ou concreta do bem jurídico?” (2020, p.51, grifo do autor).
E por meio desta indagação se orientará as próximas linhas,
observando as questões estatísticas e os danos que envolvem o arti-
go 216-A do Código Penal.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 647

Como visto anteriormente, o sujeito passivo do assédio sexu-


al pode ser de qualquer gênero, porém, na pratica, se observa que
as mulheres sofrem três vezes mais assédio sexual que os homens
(MUNDO RH, 2022), ou seja, são a grande maioria das vítimas, a viti-
mologia aponta que os danos sofridos pelos assediados ao serem ví-
timas de tal crime são diversos, e sobre o tema, interessantes são os
dados elencados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)
em cartilha realizada em parceria com a Ministério Público do Traba-
lho (MPT): “O assédio sexual causa a perda de interesse pelo traba-
lho e do prazer de trabalhar, desestabilizando emocionalmente e pro-
vocando não apenas o agravamento de moléstias já existentes, como
também o surgimento de novas doenças.” (2017, p.20).
Além dos dados acima, complementar são as informações
apresentadas pela Comissão para a igualdade no trabalho e no em-
prego (CITE):

As vítimas veem normalmente a sua saúde, confiança,


moral e desempenho profissional afetados, o que leva à
diminuição da eficiência laboral e mesmo ao afastamen-
to do trabalho por motivo de doença (as vítimas auferem
remuneração inferior estando de baixa ou perdem mes-
mo o emprego).
Em alguns casos, as pessoas deixam de ser capazes de
se comportar normalmente, quer no trabalho, quer na sua
vida quotidiana. O assédio pode provocar stresse pós-
-traumático, perda de autoestima, ansiedade, depressão,
apatia, irritabilidade, perturbações da memória, perturba-
ções do sono e problemas digestivos, podendo até con-
duzir ao suicídio.

Os danos não são “apenas” físicos e mentais, cabe justa res-


salva aos danos econômicos, tendo em vista que 15% das vítimas mu-
lheres pedem demissão (G1, 2020), além dos danos causados ao am-
biente de trabalho, conforme demonstra a cartilha acima mencionada:

Além disso, as perdas refletem-se no ambiente de tra-


balho, atingindo, muitas vezes, os demais trabalhadores,
com a queda da produtividade e da qualidade, a ocor-
rência de doenças profissionais e acidentes de trabalho,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 648

causando, ainda, a rotatividade de trabalhadores e o au-


mento de ações judiciais pleiteando direitos trabalhistas
e indenizações em razão do assédio sofrido. (OIT, MPT,
2017, p 20)

Além dos danos a saúde, produtividade, e vida financeira, tam-


bém são agredidos os direitos da vítima, “uma violação aos princípios
de igualdade, de intimidade ou de dignidade da pessoa humana, prin-
cípios esses que, aliás, são garantias constitucionais expressas pelo
art. 5º, II, da CF/88 (...).” (DUARTE, 2000, p.17).
Tamanho mal social deve ter maior tutela penal, com pena su-
perior a já cominada, visto que, em sua modalidade simples, os casos
de Assédio são processados pelo rito sumaríssimo (GRECO, 2022,
n.p), rito este onde a regra é a liberdade, passando verdadeiro
sentimento de impunidade a sociedade, além de colocar a víti-
ma em perigo, visto que, o assédio costuma se desenvolver em futu-
ros crimes mais graves.
Os autores do presente artigo defendem a tese de que o Art
216-A do Código Penal Brasileiro deve ter sua pena majorada, garan-
tindo maior justiça social, além da verdadeira tutela penal à dignidade
e liberdade sexual, porém, com a devida cautela, para que não se apli-
que tutela penal em excesso e novamente se perpetue ofensa ao prin-
cípio da proporcionalidade.
Não cabe ao presente artigo indicar qual seria esta pena, o
quantum de punição para determinado crime deve ser fruto de intenso
debate social, com ampla participação popular e movimentos sociais,
o que infelizmente nem sempre acontece.

5. A DEMOCRACIA E O DIREITO PENAL NO BRASIL

Diante o visto no tópico anterior, fica nítido que a atual pena co-
minada ao delito do artigo 216-A do CP, fere uma série de princípios
penais do direito brasileiro, seguindo abaixo é apresentado ao leitor
instigante debate acerca de por qual motivo tamanha falha ocorreu.
Pois bem, é comum aos manuais de direito penal, que um de
seus primeiros capítulos disserte sobre as chamadas fontes do Direito
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 649

Penal, em uma breve explanação, tais fontes representam tanto a ori-


gem quanto a forma do direito penal e não por acaso se dividem em
fontes materiais e formais, sendo que as fontes materiais “são os ór-
gãos constitucionalmente encarregados de elaborar o Direito Penal”
(MASSON, 2020, p.14), se tratando da forma, esta se subdivide em
imediata e mediata, com a imediata representando a própria lei, e a
mediata as demais formas de cognição jurídica como a jurisprudência,
doutrina, os tratados internacionais e assim por diante.
A fonte material do direito penal no Brasil em regra é a União,
por força do art.22, I, da Constituição Federal de 1988 (CF/88), ou
seja, o poder/dever de criar, editar e revogar leis penais é de compe-
tência privativa da União, poder/dever este que é exercido por meio
das casas legislativas, sendo elas o congresso e o senado federal.
Portanto, as leis que acima foram alvos de crítica não existem no vá-
cuo, e muito menos “caíram do céu”, elas foram elaboradas, e subme-
tidas a um processo legislativo, processo este manejado por pessoas
reais, com seus interesses e motivos, logo, uma crítica a determinado
instituto jurídico deve ser procedida de uma análise do corpo legislati-
vo que o criou, ou que após sua criação não o modificou.
De acordo com o que leciona o parágrafo único do artigo primei-
ro da Constituição brasileira a principal função do Congresso Nacional
seria representar o povo. A palavra povo, contudo, não possui uma defi-
nição atribuída na própria Constituição, possuindo diversos significados
de acordo com o prisma ao qual se observa, sobre a matéria:

[...]num sentido político, a palavra está ligada, inevitavel-


mente, ao regime democrático representativo, constituin-
do, de um lado, a fonte e o titular da soberania, em nome
de quem o poder é exercido, e, de outro – estabelecida
determinada ordem constitucional –, à cidadania ativa ou
ao conjunto de eleitores aptos a participar do processo
eleitoral; (DIMOULIS,2012, p.546)
Só o direito pode explicar plenamente o conceito de
povo. Se há um traço que o caracteriza, esse traço é so-
bretudo jurídico e onde ele estiver presente, as objeções
não prevalecerão. Com efeito, o povo exprime o conjun-
to de pessoas vinculadas de forma institucional e está-
vel a um determinado ordenamento jurídico, [...] (BONA-
VIDES,2000, p.92)
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 650

Portanto, tanto em seu sentido político quanto jurídico, a pala-


vra acima mencionada acaba por ser uma expressão genérica, pois
abstrai os interesses de classe, gênero e estamento social presentes
nos determinados grupos sociais representados pelos congressistas,
por isso a impossibilidade de um órgão representar o “povo”. Não por
outro motivo o que se demonstra no dia a dia dos congressistas é a
sua defesa de grupos e classes, aprovando-se na maioria das vezes
o projeto de lei defendido pelo grupo politicamente mais forte e orga-
nizado.
Logo, ao se constatar o agente passivo (vítima) quanto o ativo
(autor) do crime de Assédio Sexual, ou seja, vítimas de predominân-
cia feminina e autoria de predominância masculina e compara-los com
o corpo do Congresso Nacional, faz-se emergir para a superfície uma
das principais razões para a pena irrisória ao crime do 216-A do CP,
que é pouca representatividade feminina nos espaços parlamentares.
A atual composição do Legislativo Brasileiro, no ano de 2023,
se mostra bem desfavorável às mulheres, com apenas 17,7% das ca-
deiras na Câmara dos Deputados, em contraste com a hegemonia
masculina de 82,3% (CFEMEA, 2023). No Senado a situação perma-
nece semelhante, com 15 senadoras contra 81 senadores (CFEMEA,
2023), a infeliz situação brasileira em questão de representação femi-
nina se torna mais nítida ao ser comparada com a realidade de outros
países, sobre a matéria:

A representação de mulheres em Parlamentos é baixa no


mundo inteiro. Entretanto, no Brasil, a situação é aponta-
da como crítica por ser uma das menores do mundo. O
País ocupa o 132º lugar, num ranking de 189 países, se-
gundo dados da União Interparlamentar (2019). [...].
Em suma, os dados mostram que a participação das mu-
lheres brasileiras na política também é uma das mais bai-
xas da América Latina e do Caribe.
(BARROS, A.T.; BUSANELLO, E.; SILVA, A. H.; FER-
NANDES, A.T, 2020, p.265)

A falta de representatividade feminina na política gera diversas


falhas na democracia brasileira, e consequentemente grandes são os
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 651

reflexos em seu sistema jurídico, inclusive o penal, se constata ser im-


provável que um legislativo composto majoritariamente por homens,
proponha as modificações legais necessárias a o consequente com-
bate a um delito de que, em regra, não são as vítimas, mas sim os au-
tores.
É razoável raciocinar que ser homem não é impeditivo para a
defesa de pautas femininas, e tal pensamento não está errado, po-
rém, se mostra incompleto, pois além de interesse na causa é impor-
tante que se tenha a perspectiva adequada do fenômeno, como aler-
ta Beatriz Sanchez, “Há aqui uma diferenciação fundamental entre in-
teresses e perspectivas sociais. Os interesses podem ser representá-
veis por qualquer indivíduo, mas as perspectivas sociais apenas por
iguais” (2017, p.11-12), argumento semelhante é apontado por José
Álvaro e Beatriz Sanchez:

Em vista de elas terem experiências de vida distintas dos


homens, envolvendo percepções e avaliações diferentes
sobre o processo político democrático, a sua participa-
ção teria o potencial de questionar a democracia repre-
sentativa colocando em pauta a necessidade de incorpo-
ração de interesses e perspectivas raramente considera-
dos pelo sistema político. ([2014], p.92).

Diante do exposto acima, fica comprovada a falta de represen-


tatividade feminina e a suas consequências no direito brasileiro, oca-
sionada pela falta de perspectivas distintas da hegemônica no debate
parlamentar brasileiro.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante todo o exposto, observa-se que a atual pena tipificada no


crime de Assédio Sexual é desproporcional aos danos que o agen-
te, ao praticar tal conduta, gera a vítima e a sociedade, visto ser uma
pena branda, oque impossibilita o combate a tal crime. E em busca da
matriz de tal problemática, observou-se que o método de maior acu-
rácia científica na análise deste caso, é a perspectiva de que a norma
deve ser analisada em sua gênese.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 652

Analisando os integrantes do legislativo, ficou notória a sub-re-


presentação feminina no parlamento brasileiro, com impactos diretos
no ordenamento jurídico pátrio, sobretudo o penal, posto que a falta
de perspectiva empobrece o debate, e a pouca representatividade difi-
culta a organização política das mulheres pela luta de seus interesses.
Conclui-se que, a finalidade última do direito penal, apontada
pela doutrina majoritária, como a sendo a proteção dos bens jurídicos
de maior monta para a sociedade,
não está sendo cumprida, com a relação a dignidade sexual no
ambiente de trabalho, e que a fonte do problema se encontra na no-
mogênese brasileira.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 655

CAPÍTULO 46

OS IMPASSES DA ACADEMIA: CLIENTELISMO


E AUTORITARISMO DA PRÁTICA DOCENTE NA
PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

THE IMPASSES OF THE ACADEMY: CLIENTELISM


AND AUTHORITARIANISM OF THE TEACHING PRACTICE
IN THE STRICTO SENSU GRADUATE PROGRAM

Maxmiliano Martins Pinheiro


IUPERJ/Universidade Candido Mendes
Departamento de pós-graduação em Sociologia Política
Rio de Janeiro – RJ
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1708-6114
e-mail: martinsmaxmiliano783@gmail.com.

RESUMO
Este capítulo tem como objetivo analisar os impasses, isto é, as de-
bilidades existentes na academia brasileira no tocante aos cursos de
pós-graduação stricto sensu. Sendo assim, serão abordados os tópi-
cos que se mostram bastante nevrálgicos na prática docente desse ní-
vel de ensino, a saber: o clientelismo que ocorre na seleção para os
cursos de mestrado e doutorado, e o abuso de autoridade do profes-
sor em relação ao pós-graduando. Espera-se que esta pesquisa con-
tribua para um debate a respeito da conduta da prática docente e da
função social da pós-graduação brasileira que precisa ser pautada na
transparência e na livre promoção do saber.
Palavras-chave: Pós-graduação; Clientelismo; Autocracia; Impasses

ABSTRACT
This chapter aims to analyze the impasses, that is, the existing weak-
nesses in the Brazilian academy with regard to stricto sensu postgrad-
uate courses. Therefore, the exhibited ones that are quite neuralgic in
the teaching practice of this level of education will be displayed, name-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 656

ly: the clientelism that occurs in the selection for the master’s and doc-
toral courses, and the abuse of authority of the professor in relation to
the graduate student. It is hoped that this research will contribute to a
debate about the conduct of teaching practice and the social role of
Brazilian postgraduate courses, which need to be based on transpar-
ency and the free promotion of knowledge.
Keywords: postgraduate courses; clientelism; autocracy; deadlocks

Introdução

Como evidencia o título, este artigo tem como finalidade anali-


sar atuações autoritárias da parte do corpo docente que ocorrem nos
cursos de pós-graduação stricto sensu, tendo como relevo sua postu-
ra excludente na seleção de quem deve fazer parte da pesquisa aca-
dêmica e as situações conflitantes que acontecem nesse meio na re-
alização da pesquisa, uma vez que as relações entre docentes e pós-
-graduandos estão arraigadas em uma hierarquia entre poder e de-
pendência. Sabe-se de fato que a universidade, sendo pública ou pri-
vada, é uma instituição controlada por aparatos estatais que são vin-
culados à burocracia. Já que a burocracia se configura num círculo vi-
cioso assentado na hierarquia do saber embasada na força da auto-
ridade e no segredo guardado em seu próprio interior por meio dessa
hierarquia, tornando-se uma espécie de corporação fechada que obli-
tera o espírito público das instituições estatais (MARX, 2013), pode-se
compreender sob este prisma as debilidades da universidade brasilei-
ra para se tornar uma entidade democrática e transparente. Por ou-
tro lado, deve-se reconhecer que as sociedades acadêmicas, sobre-
tudo na área de pós-graduação, vêm atravessando a partir dos anos
70 através da Capes uma série de experiências avaliativas dos cursos
de mestrado e de doutorado, cujos resultados por meio de instrumen-
tos tecnicistas referendam as posições tradicionais de um segmento
universitário privilegiado em detrimento dos demais que são conside-
rados desqualificados (AMORIM, 1992). Desse modo, a avaliação dos
cursos de pós-graduação stricto senso descortina que a universida-
de ainda não alcançou sua autonomia almejada tanto pelos docentes
quanto pelos discentes.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 657

No entanto, apesar do reconhecimento da ingerência burocrá-


tica do Estado na política educacional que, de vários modos, aflige o
trabalho acadêmico, muito pouco se discute sobre o poder autoritá-
rio que determinados docentes, respaldados por um capital institucio-
nal, exercem sobre os discentes nos cursos de pós-graduação, pos-
to que na maioria dos casos, isso só pode ser constatado nas rela-
ções intersubjetivas. Trata-se de um fenômeno social que opera no in-
terior do espaço acadêmico, isto é, um autoritarismo institucional que
muitas vezes se inicia na graduação, e se alberga na pós-graduação,
considerada por muitos a excelência da formação acadêmica, onde
as irregularidades já podem ser observadas na seleção para os cur-
sos de mestrado e doutorado e, sobretudo no período de elaboração
das pesquisas onde os professores orientadores demonstram explici-
tamente suas condutas autocráticas em relação aos orientandos. Por
isso, esta pesquisa tem como justificativa promover um debate a des-
peito da condição da pós-graduação stricto sensu no cenário brasileiro
contemporâneo, por meio de uma análise sobre determinadas contra-
dições ainda existentes no meio acadêmico. Tal reflexão é muito perti-
nente tendo em vista a escassa literatura desenvolvida a respeito des-
sa temática aparentemente bem polêmica.
Considerando a justificativa acima que configura o objetivo ge-
ral deste estudo, cumpre desse modo destacar os objetivos específi-
cos que auxiliarão o desdobramento da análise proposta:

• a investigação dos arranjos e favoritismos dos docentes na ad-


missão de alunos nos cursos de mestrado e doutorado em que,
por trás dos editais dos concursos, selecionam somente aque-
les universitários que fizeram parte da instituição ou foram in-
dicados por outros professores influentes, assegurando assim
um círculo de confiança no meio acadêmico;
• a abordagem das ações autoritárias de parte do corpo docente
ao longo do processo da pesquisa dos pós-graduandos decor-
rente dos excessos da hierarquia universitária que propiciam por
um lado mecanismos de dominação dos professores e por outro,
atitudes de subserviência dos discentes, tornando-se códigos de
conduta essenciais e subentendidos no ambiente acadêmico;
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 658

• a ênfase nas contradições da universidade brasileira, verifica-


das nos cursos de pós-graduação stricto sensu, tendo em vista
as estratégias de exclusão e atitudes autocráticas dos docen-
tes ainda remanescentes nesse setor acadêmico, uma vez que
ofuscam a transparência do acesso à pesquisa por via demo-
crática, e comprometem a promoção de estudos imprescindí-
veis para gerir políticas públicas e assegurar a diversidade do
conhecimento conforme a missão social da universidade.

Desenvolvimento

Entre as questões viabilizadas neste estudo, cumpre destacar


a lógica estamental na criação das universidades brasileiras, distor-
ções e arbitrariedades nos procedimentos de seleção nos cursos de
mestrado e doutorado, a burocracia, a resistência à pluralidade os sa-
beres, as relações autocráticas dos docentes em relação aos discen-
tes e os transtornos decorrentes da pressão e do estresse sofridos pe-
los pós-graduandos.
No que tange à metodologia, a presente pesquisa se respalda
primeiramente numa abordagem histórica concernente aos vícios cul-
turais da sociedade brasileira, tais como elitismo, compadrio, concha-
vos, na origem e constituição da universidade no Brasil. Em seguida,
torna-se imprescindível inserir uma abordagem sociológica em torno
da burocracia, tendo como fundamento as teorias sociais de Karl Marx
e Max Weber. Tais teorias propiciam um entendimento do aparato bu-
rocrático presente nos cursos de pós-graduação stricto sensu. Os ou-
tros tópicos a serem abordados são o clientelismo na escolha dos pós-
-graduandos e das atitudes autocráticas dos docentes perante os pes-
quisadores no decorrer da pesquisa acadêmica
Conforme a história da universidade no Brasil, o ensino supe-
rior, desde a independência do país, era confinado a formar quadros
para a administração do Estado, priorizando as faculdades de direitos
e os segmentos das elites (ALONSO, 2002). Apesar de ocorrerem re-
formas, no final do século XIX, que visavam diversificar as carreiras,
criando escolas técnicas superiores e abriam oportunidades práticas
para grupos sociais não pertencentes ao estamento senhorial, tais ins-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 659

tituições tiveram pouco êxito devido à forte influência do modelo aca-


demista de direito, já que as faculdades continuavam oferecendo for-
mação equivalente aos indivíduos destinados ao mando e às carreiras
políticas, e as novas escolas técnicas tiveram pouco sucesso na inclu-
são de novos programas de ensino (ALONSO, 2002). Além disso, não
se deve descartar a mentalidade confessional que outrora a igreja ca-
tólica imputara às faculdades livres, restringindo a intervenção do Es-
tado, mas designando-lhe uma superintendência sobre o ensino, im-
pedindo a propagação de ideias subversivas contrárias à doutrina ca-
tólica; assim como o fato de a universidade, mesmo após a hegemo-
nia das ideias liberais e científicas do século XIX, ter continuado a ser
uma aspiração da minoria, seja no ensino particular, seja na promoção
do ensino público e superior iniciado pelo Estado após a revolução de
30 (BARROS, 1986). Dessa forma, a gênese da universidade brasilei-
ra, conforme análises históricas, desvela uma forte mentalidade clien-
telista, conservadora e confessional, o que de certo modo elucida suas
debilidades ao longo de sua trajetória de expansão.
No que tange à burocracia, as teorias sociais de Karl Marx e
Max Weber proporcionam um importante embasamento teórico dian-
te desse tópico. Conforme foi mencionado, Marx considera a burocra-
cia como uma corporação vedada ao espírito público, tendo como ali-
cerces a hierarquia e o segredo. Escrutinando a sociologia marxista,
a burocracia é o “formalismo do Estado” da sociedade civil, pois opera
como potencialidade da corporação estatal, estabelecendo confusões
entre os interesses universal e particular, a fim de manter esta institui-
ção fechada no seu formalismo (MARX, 2013). A burocracia além de
ser o Estado como formalismo, age também contra ele, se transfor-
mando no fim último do poder estatal, já que ela se aproveita da indefi-
nição do Estado para inscrever os seus fins (MARX, 2013). Com isso,
a burocracia, sendo o Estado imaginário ao lado do Estado real, pro-
picia uma hierarquia de saber alicerçada na confiança entre a cúpula
e os subordinados e, como propriedade estatal, tem o segredo como
pedra de toque que é mantida no seu interior pela hierarquia, e confi-
gurada no exterior como corporação fechada (MARX, 2013). Por es-
sas razões, a teoria marxista é importante para compreender a ten-
dência excludente e clientelista da instituição acadêmica na pós-gra-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 660

duação stricto sensu como decorrência da falta de um Estado demo-


crático que tem como prioridades a transparência e a universalidade
de acesso. No que concerne à sociologia de Weber, esta considera a
organização burocrática como o tipo mais racional e bem-acabado de
dominação legítima. Isso porque se baseia em um sistema de regras
abstratas que foram racionalmente estabelecidas e aceitas, impelindo
o desenvolvimento do aparato jurídico, a separação entre a esfera pú-
blica e privada, a necessidade crescente de qualificação profissional e
a pressão correlata nas instituições superiores de ensino, as relações
contatuais, o princípio de nomeação conforme as hierarquias nas cor-
porações (WEBER, 1997). Uma vez que a burocracia se desdobra no
exercício contínuo do conhecimento científico sobre o trabalho e no
domínio do formalismo impessoal como garantias de competência téc-
nica, tal mecanismo não permite relações de compadrio para atender
interesses pessoais, pois todos estão sujeitos à mesma equidade de
tratamento (WEBER, 1997). Neste sentido, a teoria social weberiana
é pertinente porque indica que setores de pós-graduação na universi-
dade brasileira mantêm apenas o formalismo hierárquico da burocra-
cia, mas, em contrapartida, preserva as relações pessoais de compa-
drio que enfraquecem sua legitimidade.
O processo seletivo dos alunos nos cursos de pós-graduação
stricto sensu reflete, muitas vezes, os resquícios deixados por uma
cultura acadêmica sedimentada no elitismo, feudo, compadrio, cliente-
lismo, ou seja, várias lógicas que permitem (e reflorescem) a exclusão
e falta de transparência no espaço universitário. Isso explica o fato de
que muitos professores titulares arvoram-se dos institutos de pós-gra-
duação como se fossem feudos, estabelecendo uma forma perver-
sa de clientelismo na relação orientador/orientando, uma vez que se-
lecionam alunos mais pelas relações pessoais do que a aptidão pela
ciência, tornando os concursos de seleção para mestrado e doutora-
do uma mera fachada de formalidade (LOPES, 2012). Com efeito, a
participação na superioridade institucional de um grupo está vincula-
da à disposição das pessoas de se submeterem às regras arbitrárias
que foram naturalizadas por esse grupo num espaço social (ELIAS &
SCOTSON, 2000). Deve-se acrescentar que as universidades brasi-
leiras carecem de uma política mais bem definida a respeito da pes-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 661

quisa, como do ensino e da extensão universitária, a fim de alcançar


um dimensionamento melhor sobre o conhecimento científico, e de
estabelecer novos critérios para que a pesquisa não fique confinada
ao processo de galgar títulos e fazer carreira acadêmica, propician-
do uma nova postura dos docentes e discentes (KUNCH, 1992). Com
efeito, a comunidade acadêmica, amoldada a uma concepção buro-
crática e hierárquica da educação superior, enaltece a pós-graduação
stricto sensu como o lugar privilegiado da pesquisa, o que propicia os
arranjos e arbitrariedades do corpo docente em seleções para mestra-
do e doutorado, uma vez que tais cursos sendo vistos como confirma-
ções do prestígio e da excelência acadêmica acabam fomentando a
procura e a competitividade agressiva. Destarte, a conduta tribal nes-
ses processos seletivos ainda persiste em muitas universidades, ape-
sar da ampliação de vagas nos cursos stricto sensu, das ações afirma-
tivas e até mesmo dos recursos que algumas instituições concedem
aos alunos nessas seleções.
As deficiências encontradas nos cursos de pós-graduação stric-
to sensu quanto à admissão mais plural de objetos de pesquisa decor-
rem de uma cultura acadêmica cujos critérios avaliativos não conside-
ram a heterogeneidade da instituição universitária já que seus obje-
tos de trabalho exigem diferenças internas, cada uma com uma lógi-
ca própria de docência e de pesquisa, como também pelo fato de que
a universidade brasileira, por causa do avanço neoliberal, permitiu ao
mercado a definição das prioridades e da pesquisa científica (CHAUÍ,
2001). Além disso, as exigências imputadas pelas agências de finan-
ciamento à pesquisa e por outras instâncias superiores suscitaram no
meio acadêmico, inclusive na área de ciências humanas, uma resis-
tência dos pesquisadores a experimentarem nas suas dissertações
e teses, temas inovadores que lhe trazem muita motivação, mas que
são aconselhados a explorarem objetos de estudo já conhecidos (RI-
BEIRO, 2014). Desse modo, pode ser constatada uma imposição abs-
trata de grupos ou centros interdisciplinares na formação dos pesqui-
sadores que os impele a desenvolver pesquisas fora de suas exigên-
cias próprias e internas (CHAUÍ, 2001).
No que tange às atitudes autoritárias da prática docente sobre
os orientandos, podem ser destacadas as ações antipedagógicas de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 662

professores que, valendo-se do status conferido, humilham alunos em


salas de aula, reuniões de pesquisa e bancas examinadoras, e assu-
mem posturas narcisistas em relação ao conhecimento, enquanto al-
guns discentes, sem discernimento, fomentam uma mudança de ethos
e um ambiente de competição que resulta no aviltamento do colega
(PINHEIRO-MACHADO, 2016). Constata-se assim que essas opres-
sões acadêmicas ilustram uma forte dependência do estudante em
relação ao seu professor, e igualmente traduzem práticas quase feu-
dais e clientelistas que ainda existem no ambiente universitário (MAF-
FESOLI & STROHL, 2015). A qualidade das pesquisas também é le-
sada por causa da postura autoritária de alguns docentes. Com efei-
to, muitos encaram o mestrado como um arremate da graduação, isto
é, um escrito mais longo e prolongado sem pretensão a originalidade,
enquanto o doutorado como um primeiro trabalho original, porém mui-
to inferior aos modelos antigos que procuravam resolver questões im-
portantes (RIBEIRO, 2014). Com base nessas informações, pode-se
inferir que as universidades brasileiras, sobretudo no que concerne
aos seus cursos de pós-graduação stricto sensu, descortinam um au-
toritarismo de caráter institucional, pois ele opera no bojo de um siste-
ma hierarquizado, burocrático e sectário que adquire novas configura-
ções e se desloca das dinâmicas sociais, com tendências a se tornar
um círculo fechado.
O fruto mais amargo dessas tensões entre docentes e discen-
tes resulta no desenvolvimento de transtornos e, até mesmo, de pato-
logias de ordem psíquica para os mestrandos e doutorandos. De fato,
a dinâmica da pós-graduação é marcada, muitas vezes, por um am-
biente onde o acúmulo de horas de trabalho, imposições para publica-
ção de artigos e exigências oriundas do nível de exigência dos profes-
sores são muito comuns (ANDRADE, 2017). De acordo com os dados
fornecidos pela Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG),
podem ser verificados entre esses estudantes dois tipos de distúrbios
psicológicos conhecidos como “síndrome de burnout”, em que a pes-
soa atinge um alto índice de exaustão devido ao trabalho excessivo
sem descanso, e a “síndrome do impostor”, que aflige alunos que não
conseguem aceitar os resultados obtidos por mérito próprio (ANDRA-
DE, 2017). É propício acrescer que a autoridade abusiva dos docen-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 663

tes incide em assédios morais, ameaças de abandono das pesqui-


sas, controle excessivo sobre as dissertações e teses, ou até mesmo,
omissões e negligências perante as pesquisas dos orientandos.

Considerações finais

O clientelismo e o autoritarismo docente que ainda persistem


nos cursos de mestrado e do doutorado são decorrentes da própria
formação da universidade brasileira que, conforme alguns dados his-
tóricos, descortinam uma gênese elitista e segmentada, conforme os
interesses das elites brasileiras nos séculos de outrora. A burocracia
acadêmica encontra-se assentada tanto num formalismo que suplanta
medidas mais democráticas e transparentes, como nas relações pes-
soais de compadrio que interferem na seleção de discentes e docen-
tes. Consequentemente, o processo seletivo dos pós-graduandos é
afetado por uma cultura política que legitima os professores titulares
contemplarem os institutos de pesquisa como feudos onde são esco-
lhidos quem deve fazer parte dos programas de pós-graduação, sufo-
cando a transparência e o espírito democrático que precisam nortear
o meio acadêmico. Por fim, as atitudes autoritárias dos docentes ilus-
tram a ausência da ética na processo pedagógico dos cursos de pós-
-graduação stricto sensu. Tais posturas autocráticas assumem dife-
rentes conotações que variam desde a apologia à competição agres-
siva entre os discentes, humilhações e, até mesmo, assédio moral, re-
sultando em doenças físicas e psíquicas sofridas por alguns pós-gra-
duandos. Cumpre, portanto, sublinhar as contradições e deficiências
ainda presentes nesses institutos, considerando um conformismo aca-
dêmico, respaldado na falta de transparência e autocracia da parte de
docentes. Com efeito, essas mazelas existentes na universidade im-
pedem que ela estabeleça uma crítica a si mesma e amplie sua fun-
ção social. Uma admissão transparente nas seleções para mestrado
e doutorado, uma melhor diversidade de temáticas e o respeito quan-
to à autonomia do discente na realização da pesquisa figuram medi-
das que propiciam para a universidade discussões a despeito de sua
conduta institucional a fim de que possa desempenhar com afinco sua
missão social na contemporaneidade.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 664

Referências bibliográficas

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do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
AMORIM, Antônio. Avaliação institucional da universidade. São
Paulo: Cortez, 1992.
ANDRADE, Rodrigo de Almeida. “Distúrbios na academia”. In: Pes-
quisa FAPESP, 2017, n. 262, p. 63-65
BARROS, Roque Spencer Maciel de. A ilustração brasileira e a ideia
de universidade. São Paulo: Convívio, 1986.
CHAUÍ, Marilena. Escritos sobre a universidade. São Paulo: Edito-
ra UNESP, 2001.
ELIAS, Norbert & SCOTSON, John L. Os Estabelecidos e os Outsi-
ders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena
comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.
KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Universidade e comunicação
na edificação da sociedade. São Paulo: Edições Loyola, 1992.
LOPES, Gisele. “Sobre os procedimentos de seleção nos Programas
de Pós-Graduação e relações sociais na academia”. Disponível em:
www.cartapotiguar.com.br. Publicado em 14 de março de 2012.
MAFFESOLI, Michel & STROHL, Hélène. O Conformismo dos Inte-
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MARX, Karl. Crítica da filosofia de direito de Hegel. São Paulo: Boi-
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PINHEIRO-MACHADO, Rosana. “Precisamos falar sobre a vaidade
na vida acadêmica”. Disponível em: www.cartacapital.com.br. Publica-
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RIBEIRO, Renato Janine. A universidade e a vida atual: Fellini não
via filmes. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014.
WEBER, Max. The Theory of Social and Economic Organization.
New York: The Free Press, 1997.
---------- Sobre a universidade: o poder do Estado e a dignidade da
profissão acadêmica. São Paulo: Cortez, 1989.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 665

CAPÍTULO 47

PACIENTE COM INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO


COM POSSÍVEL FARMACODERMIA INTERNADO EM
UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA CARDIOVASCULAR:
UM RELATO DE CASO

PATIENT WITH ACUTE MYOCARDIAL INFARCTION WITH


POSSIBLE PHARMACODERMIA ADMITTED TO A REFERRAL
CARDIOVASCULAR HOSPITAL: A CASE REPORT.

Gabriel Nojosa Oliveira


Medicina do Centro Universitário Christus
(Unichistus) - Fortaleza, Ceará
gabriellvr40@gmail.com

Maria Carolina Marinho de Andrade Gonçalves


Medicina da Universidade de Fortaleza
(Unifor) - Fortaleza, Ceará
mcarolandradee@gmail.com

Gabriela Miranda de Castro


Medicina do Centro Universitário Alfredo
Nasser - Aparecida de Goiânia, Goiás
gabriela.miranda.dec@gmail.com

Lorena Vasconcelos Viana


Medicina do Centro Universitário Christus
(Unichistus) - Fortaleza, Ceará
lorisvasconcellos@gmail.com

Paula Burlamaqui Castello Branco Melo


Medicina do Centro Universitário Christus
(Unichistus) - Fortaleza, Ceará
paulaburlamaqui@hotmail.com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 666

Wiviane Aparecida Dias Lopes


Medicina do Centro Universitário Alfredo
Nasser - Aparecida de Goiânia, Goiás
wiviane_dias@hotmail.com

Maria Jhéssica Almeida Carneiro


Medicina do Centro Universitário Christus
(Unichistus) - Fortaleza, Ceará
jhessicaalmeidacarneiro@gmail.com

Juarez Alves de Souza Neto


Medicina do Centro Universitário Christus
(Unichistus) - Fortaleza, Ceará
juarezsouzamkp@hotmail.com

Mônica de Vanessa Miranda de Castro


Medicina do Instituto Tocantinense Presidente
Antônio Carlos (ITPAC) - Santa Inês, Maranhão
monica.miranda13@hotmail.com

Kenneth Candeira Sampaio


Medicina do Centro Universitário Alfredo
Nasser - Aparecida de Goiânia, Goiás
kennethsampaio@hotmail.com

RESUMO
O infarto agudo do miocárdio é uma das principais patologias de maior
mortalidade do mundo e, portanto, é necessário que haja uma mobiliza-
ção precose para conseguir impedir desfechos piores de sobrevida. A far-
macodermia seria considerado uma reação adversa por hipersensibilida-
de induzida por algum fármaco, e muitos pacientes que precisam de su-
porte e tratamento com medicamentos em locais de UTI. Então, eles es-
tão em risco de sofrer dessas reações adversas sob efeitos dos fárma-
cos. Este trabalho procura estar um caso de um paciente que sofreu efei-
to adverso devido ao uso de fenitoína para fins analgésicos para o trata-
mento isquêmico do miocárdio. Elas representam reações bastante co-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 667

nhecidas pela literatura e este relato é importante para se registrar uma


experiência sobre o uso de alguns fármacos, como a fenitoína, para não
gerar os efeitos adversos de farmacodermia em pacientes da UTI.
Palavras-chave: Inserir cinco palavras-chave, Separadas por vírgula.

ABSTRACT
Acute myocardial infarction is one of the main pathologies with the
highest mortality in the world and, therefore, there is a need for ear-
ly mobilization to prevent worse survival outcomes. Pharmacodermia
would be considered an adverse drug-induced hypersensitivity reac-
tion, and many patients who need support and treatment with drugs in
ICU settings. So, they are at risk of suffering these adverse drug reac-
tions. This work seeks to present a case of a patient who suffered an
adverse effect due to the use of phenytoin for analgesic purposes for
the ischemic treatment of the myocardium. They represent well-known
reactions in the literature and this report is important to record an ex-
perience on the use of some drugs, such as phenytoin, in order not to
generate the adverse effects of pharmacodermia in ICU patients.
Palavras-chave: Inserir cinco palavras-chave, separadas por vírgula.

INTRODUÇÃO

O infarto agudo do miocárdio é uma das principais patologias


de maior mortalidade do mundo, e representa uma das principais con-
sequências de má hábitos não controlados por uma saúde mais pro-
movida (Mecânico 0J, Gavin M, Grossman SA, 2022). Essa doença é
ocasionada por diversos fatores que alternam o risco cardiovascular,
maioria delas podendo ser modificáveis (CORDOBA-PULIDO, Natalia;
MORENO-RUIZ, Nelson L., 2023; LEI, Liu; BIN, Zeng., 2019; Colom-
bo, Roberta Cunha Rodrigues e Aguillar, Olga Maimoni., 1997). O per-
fil brasileiro se torna semelhante ao do internacional, porém sua con-
centração se torna heterogêneo quanto as regiões nacionais (SAN-
TOS DA COSTA, F. A.; LIMA PARENTE, F.; SINARA FARIAS, M.; LIMA
PARENTE, F.; CUSTÓDIO FRANCELINO, P.; LINHARES BEZERRA,
L. T., 2023). Seu manejo precose pode ser uma medida de prevenção
às suas características mórbidas que ele pode proporcionar.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 668

A farmacodermia seria considerado uma reação adversa por hi-


persensibilidade induzida por algum fármaco consumido cronicamen-
te (Al Aboud DM, Nessel TA, Hafsi W., 2020). Existem muitos medica-
mentos já registrados na literatura que podem provocar uma reação
(MELO, M. E. F. de; PORFIRO, C. A.; DANTAS, L. A.; NETO FILHO,
M. A. .; TRICHES, C. M. F.; SANTOS, J. S. G. dos., 2022; SANTOS,
F. P.; QUITÉRIO, L. M.; PINTO, V. B.; GOMES, L. B., 2019), e muitas
vezes elas são prescritos em doenças de alta mortalidade ou doenças
crônicas, como é o caso do infarto agudo do miocárdio.
Como ocorrem casos raros sobre reação com medicamentos
para pacientes com doenças cardiovasculares, este é um relato que
mostra um caso de um paciente que teve um infarto agudo do miocár-
dio e adquiriu reação de farmacodermia devido ao uso de medicamen-
tos durante a sua manutenção na unidade de terapia intensiva (UTI) do
hospital de referência Cardiovascular da cidade de Fortaleza, Ceará.

OBJETIVO

Relatar um caso de um paciente com infarto agudo do miocárdio


que teve reações de farmacodermia durante a sua internação na UTI.

RELATO DO CASO

Identificação: paciente sexo masculino com 71 anos foi interna-


do no hospital de referência por infarto agudo do miocárdio com supra st
com delta de temo 3 horas e 30 minutos. História da doença atual: pacien-
te com deficiência visual relatou, desde às 20:30 do dia 07/09, vem apre-
sentando uma dor torácica, de forte intensidade, e procurou a UPA onde
obteve o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio com supra ST anterior
junto com os marcadores de troponina I alterados. Foi, então, prescrito no
local 300 mg de AAS e 300 kg de clopidogrel e, posteriormente, foi enca-
minhado em vaga zero pelo SAMU até o hospital do coração de MESSE-
JANA. Paciente retorna da hemodinâmica, sonolento, com uso de dobu-
tamina e noradrenalina e com máscara de reservatório 10 l/min.
Exame físico: hígido, acianotico, anicterio e afebril, sonolento.
neurológica sem sedação, consciente e orientado, glasgow 9. pupila di-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 669

reita miotica e pouco fotorreagente. sistema cardiovascular: sem desvio


átrio-ventricular, ritmo circulatório regular, em dois tempos, bolhas car-
díacas normofoneticas, sopro sistólico pancardio mais intenso em bee
+4/6+, pressão arterial média 107 mmhg e frequência cardíaca 93 bpm.
sistema respiratório: murmúrio vesicular universal sem ruídos hidroae-
rios, frequência respiratória 16 irpm, spo2: 90% em aa. tgi: dieta oral,
abdômen plano, flácido e ruído hidroaerio, relata dor a palpação em
quadrante inferior esquerdo, sem massas ou viceromegalias palpáveis.
diurese em fraldas. bh prejudicado. diagnóstico 94 e 92 mg/dl. afebril,
sem antibióticos, sendo prescrito em anticoagulantes profiláticos, extre-
midades: quentes bem perfudidos, cheios e regulares.
No dia 08/09, o paciente retornar da hemodinâmica sonolento,
em uso de dobutamina e noradrenalina em máscara de reservatório
10 litros por minuto, mantendo-se em dieta zero. Sem mudanças no
exame físico e neurologico. Foi solicito exames laboratoriais e resulta-
dos da gasometria venosa tem ph: 7,23; hco3:16,4; k: 3,56; lact: 3,55.
Realizou desmame de noradrenalina e de oxigenioterapia e otimizou
a dose de dobutamina.
No dia 11/09, novos exames laboratoriais foram colhidos e os
resultados foram hb 8,9, leuco 10400,plaq 235,000, inr 1,14, ttpa 1,01,
ureia 47, cr 0,77, fa 48, cal 7,9, fosforo. Hemocultura com resultado de
staphilo aureus multi resistente em duas amostras; ast: negativ e na
bioquímica consta como não coletado. Conduta realizada neste dia são
desligo sedação para avaliar despertar, seguir desmame de noradrena-
lina, colher gasometria venosa central e inicio oxacilina guiada e solici-
to ecott por ser paciente com subfebris e germe típico para endocardite
infecciosa. Exame físico: pele: presença de lesões cutâneas eritemato-
descamativas com perda de solução de continuidade cutânea.
No dia 12/09, foi realizado um ecocardiograma transtoraxico:
feve=31%(teicholz) | hipocinesia difusa importante do ventrículo es-
querdo (com maior significancia da parede anterior e antero saptal do
ventrículo esquerdo | disfunção diastolica grau dois (do ventrículo es-
querdo | hipertensão pulmonar psap= 35 mmhg | pericárdio normal |
aorta preservada. Conduta realizada no dia foi a retirada da fenitoí-
na e houve melhora dos sinais de farmacodermia descrita nas lesões
de pele.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 670

No dia 15/09, Paciente segue observação com melhora clíni-


ca dos sintomas cardíacos e dos sintomas dermatológicos. Nesse dia,
ele ficou em observação com a retirada dos equipamentos e seguindo
de dieta oral. No dia 17/09 recebeu alta da UTI com melhora dos sin-
tomas e resolução dos problemas cardíacos.

DISCUSSÃO

O paciente em questão sofreu um infarto agudo do miocárdio


com supradesnivel de ST da região anterior no eletrocardiograma.
Trata-se de uma doença súbita decorrente da morte do tecido cardí-
aco devido a um processo de isquêmico (PESARO, Antonio Eduar-
do Pereira; SERRANO JR, Carlos Vicente; NICOLAU, José Carlos,
2004). O seu diagnóstico e fechado através dos parâmetros clínicos,
eletrocardiogramas e dos marcadores cardíacos que avaliam a sua
lesão (BETT, Murilo Santos et al, 2022). No caso do paciente, hou-
ve uma alteração significativa dos supradesnivelamento da onda ST
no eletrocardiograma e marcadores alterados, além da própria his-
tória clínica. Indivíduos do sexo masculino, acima de 50 anos e raça
branca e residentes na região nordeste são os mais frequentes a de-
senvolverem um infarto agudo do miocárdio no Brasil (DA COSTA,
Francisco Ariel Santos et al, 2018), e tal paciente em questão se en-
caixa no perfil.
A unidade de terapia intensiva (UTI) é o local onde os doen-
tes mais enfermos e mais completos repousam para conseguir haver
uma melhora dos seus sintomas e da sua estabilidade hemodinâmi-
camente. Como o paciente estava com diagnóstico provável e estava
com os sinais vitais alterados, ele foi encaminhado para o centro de
UTI de Messejana para recuperar a estabilidade. Porém, é comum o
uso de algumas medicações para se chegar ao objetivo e é preciso ter
cautela sobre quais medicamentos utilizar diante dessaa situações de
emergência. Vários grupos de medicamentos foram confirmados de
realizar efeitos adversos cutâneos nos pacientes, portanto o seu mo-
nitoramento precisa ser mais impulsionado para saber lidar com essas
consequências, sendo a mais comum seria o exantema maculopapu-
lar (Silvares, Maria Regina Cavariani et al, 2008).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 671

O caso acima utiizou uma classe de medicamentos protocoli-


zados para ao tratamento de infarto agudo do miocárdio para conse-
guir estabilizar o paciente resolver o principal objetivo de tratamen-
to dessa doença (PESARO, Antonio Eduardo Pereira; SERRANO JR,
Carlos Vicente; NICOLAU, José Carlos, 2004; BETT, Murilo Santos et
al, 2022). Porém, as classes de medicamentos, como os analgésicos
e os antiepilépticos, são possíveis fármacos que podem desenvolver
uma farmacodermia e, portanto, esse paciente em questão estava em
risco (DE MELO, Maria Eduarda Fernandes et al, 2022).
O fármaco em questão era provavelmente a fenitoína, que é um
antiepiléptico. O paciente em questão tinha uma alergia a esse fárma-
cos e foi o que mais provável ser para as reações farmacodermia. A pri-
meira medida a se fazer quando descobre uma farmacodermia é reti-
rar o fármaco em uso, e tal relato mostra que a retira fez com que o pa-
ciente pudesse melhorar dos sisnotmas de reações cutâneas adversas.

CONCLUSÃO

Esse é um relato de caso de um paciente que sofreu infarto


agudo do miocárdio e, durante o seu tratamento, sofreu reações ad-
versas de farmacodermia. O paciente obteve melhora e manejo ade-
quado do seu infarto agudo do miocárdio conforme deveria pelo proto-
colo da saúde de Messejana.
Os efeitos dos medicamentos podem causar reações adversas
e, portanto, é imprescindível que possamos montar o paciente para
poder retirar caso seja necessário alguns fármacos quando estão in-
ternados na UTI.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 674

CAPÍTULO 48

PERCEPÇÃO DOS IDOSOS ACERCA DO


ENVELHECIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE

PERCEPTION OF THE ELDERLY ABOUT


AGING IN CONTEMPORARY

Francisco Airton Ramos da Silva


Christus Faculdade do Piauí, Brasil
Piripiri- Piauí
ORCID: https://orcid.org/0009-0008-7238-7626
E-mail: enfairtonramos@gmail.com

Raimunda Nonata da Silva


Christus Faculdade do Piauí, Brasil
Piripiri- Piauí
ORCID: https://orcid.org/0009-0002-53058639
E-mail: nonatasilveira55@live.com

Sabrina Beatriz Mendes Nery


Universidade da Beira Interior
Covilhã- Portugal
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8254-0152
E-mail: sabrinaanery2019@gmail.com

Guilherme Antônio Lopes de Oliveira


Christus Faculdade do Piauí
Piripiri- Piauí
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-3820-0502
E-mail: guilhermelopes@live.com

Carliane Maria de Araujo Souza


Christus Faculdade do Piauí, Brasil
Piripiri- Piauí
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8196-0008
E-mail: kku_ka@hotmail.com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 675

Evaldo Sales Leal


Christus Faculdade do Piauí, Brasil
Piripiri- Piauí
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-1424-9048
E-mail: evaldosleal@bol.com

RESUMO
A experiência contemporânea do envelhecimento implica, seguramen-
te, a consideração do entrelaçamento do entorno sociocultural em que
essa experiência se dá com suas determinações históricas. Dessa for-
ma, essa pesquisa teve como objetivo geral analisar a percepção dos
idosos acerca do processo de envelhecimento na contemporaneida-
de. Tratou-se de uma revisão integrativa de abordagem qualitativa,
com as pesquisas realizadas na base de dados MEDLINE, LILACS
e SCIELO. Preferiu- se pela busca de publicações divulgadas entre
2016 e 2021 com artigos científicos, dissertação de mestrado e teses
de doutorado, nos idiomas português, inglês e espanhol, disponíveis
de forma gratuita. O estudo foi composto pela análise de 08 publica-
ções, na qual conclui-se que a percepção dos idosos acerca do pro-
cesso de envelhecimento na contemporaneidade, destaca-se por ma-
nifestações tanto positivas quanto negativas, abordando em sua maio-
ria que a falta de autonomia prejudica significativamente a saúde men-
tal deste público, ocasionando danos na sua qualidade de vida.
Palavras-chave: Envelhecimento. Qualidade de vida. Geriatria.

ABSTRACT
The contemporary experience of aging certainly implies considering
the intertwining of the sociocultural environment in which this experi-
ence takes place with its historical determinations. Thus, this research
had the general objective of analyzing the perception of the elderly
about the aging process in contemporary times. This was an integra-
tive review with a qualitative approach, with research carried out in the
MEDLINE, LILACS and SCIELO databases. It was preferred to search
for publications released between 2016 and 2021 with scientific arti-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 676

cles, master’s dissertation and doctoral theses, in Portuguese, English


and Spanish, available free of charge. The study was composed of the
analysis of 08 publications, in which it is concluded that the perception
of the elderly about the aging process in contemporary times, stands
out for both positive and negative manifestations, mostly addressing
that the lack of autonomy significantly impairs the mental health of this
public, causing damage to their quality of life.
Keywords: Aging. Quality of life. Geriatrics.

Introdução

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os ido-


sos são os indivíduos com idade superior a 60 anos, destacando-se,
que o envelhecimento varia de cada indivíduo, sendo mais lento para
uns e mais acelerado para outros. O que é modificado no envelhecer vai
depender dos fatores como presenças de doenças crônicas, qualidade
de vida e condições socioeconômicas (TROMPIERI; FECHINE, 2012).
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) a Era do En-
velhecimento está sendo entre período de 1975 a 2025. Assegu-
rando que o processo do envelhecer populacional é mais rápido
e mais alto nos países em desenvolvimento, atingindo 123%, en-
quanto nos países desenvolvidos, nos anos entre 1970 a 2000, foi
observado um crescimento de 54%. Segundo dados do Institu-
to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Brasil, em 1970,
só 4,95% dos brasileiros eram de idosos, crescendo em 1990
para 8,47%, e em 2010, o percentual de 10,8% (DEZAN, 2015).
Entende-se que a qualidade de vida deve e pode ser preservada ao
longo do envelhecer. Salienta-se que o envelhecer saudável é tido
como “o processo que desenvolve e mantém a capacidade funcional,
permitindo o bem-estar no decorrer da idade avançada.” Consequen-
temente, o envelhecimento saudável está na manutenção de habilida-
de mentais e físicas que o indivíduo tem, além das características de-
terminadas de boas relações sociais e prática de atividades significa-
tivas. Ainda que possa diminuir o rendimento físico com o aumento da
idade, é possível ver muitas trajetórias de envelhecimento caracteri-
zadas por altos níveis de qualidade de vida (FERREIRA et al., 2015).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 677

Portanto, observou-se que no decorrer dos anos, atrelado ao envelhe-


cimento social vieram mudanças nos papéis da pessoa idosa diante da
família, do trabalho e da sociedade, configurando assim, um desafio real
e necessário em virtude das adaptações a essa nova realidade. Des-
taca-se também os reflexos nas inter-relações entre a pessoa e o seu
contexto social, originadas das experiências de vida, advindos durante
todo o processo de envelhecimento, acontecendo gradativamente para
uns e de maneira mais dinâmica para outros (CASTILHO et al., 2020).
Nesse mesmo contexto, a experiência contemporânea do envelhe-
cimento, resulta, na consideração do entrelaçamento do entorno so-
ciocultural em que essa experiência se dá com suas determinações
históricas, pois inúmeras são as ocorrências (políticas, culturais,
econômicas, sociais) que refletem o estilo de vida, os valores e pa-
drões sociais e, dessa forma, os modos de ser do homem e as es-
truturas psíquicas que se produzem (MOREIRA; NOGUEIRA, 2008).
Dessa forma, essa pesquisa teve como objetivo geral analisar a per-
cepção dos idosos acerca do processo de envelhecimento na con-
temporaneidade. Ressalta-se que compreender as mudanças físicas,
psicológicas e psicossociais, são de grande relevância na atualidade,
pois os idosos colaboram com a sociedade, por meio dos seus sabe-
res, experiências e fortes princípios de família, sendo estes, respeito,
gratidão e amor.

Metodologia

O trabalho, visando o cumprimento dos objetivos propos-


tos, foi desenvolvido como uma revisão integrativa de aborda-
gem qualitativa. Esse método de pesquisa tem como principal ca-
racterística incluir fundamentos à prática clínica, agrupando e resu-
mindo resultados de estudos sobre certos questionamentos ou te-
mas. Essa forma de estudo aspira desempenhar uma avaliação so-
bre estudos científicos, já construídos anteriormente, referentes a
determinados conteúdos (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Na etapa do processo de criação de uma revisão integrativa, se inicia
com a designação de um problema e elaboração de hipótese ou ques-
tão de pesquisa que apresente relevância. Sendo assim, esta primeira
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 678

etapa torna-se de fundamental importância na construção de uma revi-


são integrativa bem elaborada, pois o assunto é determinado de forma
clara, coma a finalidade de que a pesquisa seja realizada de forma di-
recionada e completa, com conclusões de fácil aplicabilidade e enten-
dimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Portanto, o presen-
te estudo tem como fundamental questão: qual a percepção dos ido-
sos acerca do processo de envelhecimento na contemporaneidade?
Sendo, portanto, esclarecido o problema e a questão de pesquisa, a
coleta de dados ocorreu pela busca da melhor evidência dentro da li-
teratura existente, que inclui a pesquisa de artigos originais em pe-
riódicos e dentro das bases de dados confiáveis, com o objetivo de
encontrar referencias que condizem com o tema abordado median-
te a formulação do problema (POMPEO; ROSSI; GALVÃO, 2009).
As buscas foram realizadas nas bases de dados da Sistema Online
de Busca e Análise de Literatura Médica (Medical Literature Analysis
and Retrieval System Online) (MEDLINE), Literatura Latino-America-
na e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic
Library Online (SCIELO). A procura sucedeu fazendo uso de palavras
que representam o assunto tratado no corpo do trabalho, isto é, os
chamados descritores com existência constatada através do vocabu-
lário estruturado DeCS (Descritores em Ciência da Saúde), sendo eles
“envelhecimento”, “qualidade de vida”, “geriatria”. A fim de se realizar
a busca integrada utilizou-se o conectivo “and” unindo os descritores.
Os critérios de inclusão utilizados foram artigos científicos, dissertação
de mestrado e teses de doutorado, nos idiomas português, inglês e es-
panhol, texto completo disponível eletronicamente e de forma gratuita,
estudos que abordavam a temática proposta. Foram incluídos trabalhos
científicos publicados no período de (2016 a 2021) disponibilizados de
forma integral e com livre acesso ao texto e que estivessem adequa-
dos ao tema proposto. Foram excluídos os trabalhos que não atendiam
a questão norteadora da pesquisa, além daqueles cuja data fossem in-
feriores ao ano de 2016 e duplicatas em mais de uma base de dados.
Após a realização da busca nas bases de dados MEDLINE, LILACS
e SCIELO utilizando as estratégias de busca anteriormente mencio-
nadas, chegou-se a um total de 30 achados. Realizada então a aná-
lise desses artigos, por meio da leitura dos títulos e resumos, obser-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 679

vando sua relação ao tema proposto e atentando-se para os estudos


em duplicidade, restaram apenas 08 artigos inclusos neste estudo.
Desse modo, foram elaborados quadros que pudessem facilitar a visu-
alização do leitor, contendo informações relevantes dos artigos como
ano, título, autores e principais achados (APÊNDICE A); (APÊNDICE
B). Todas as normas de autoria foram respeitadas, referenciando os
autores citados no estudo, conforme normas de Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT).

Resultado e discussão

Inicialmente foi produzido um quadro exibindo as pesquisas


abrangendo informações como título, autores e ano de publicação dos
estudos. Após a consulta nas bases de dados por meio dos descrito-
res e após a utilização dos critérios de inclusão e exclusão determina-
dos, foram selecionados 08 artigos presentes no Quadro 1 para análi-
se da revisão integrativa

Quadro 1 - Análise dos trabalhos selecionados para a revisão integra-


tiva apresentados em relação ao título, autores e ano de publicação.
ANO DE
ESTUDO TÍTULO AUTORES
PUBLICAÇÃO
Idosos muito velhos: Perfil Sociodemográfico, LIMA, R. W.
01 2021
de Saúde e Longevidade et al.
Envelhecimento e dependência no Brasil:
CECCON, R.
02 características sociodemográficas e assisten- 2021
F. et al.
ciais de idosos e cuidadores
Fatores associados à autonomia pessoal em GOMES. G.
03 2021
idosos: revisão sistemática da literatura C. et al.
OLIVEIRA, P.
Envelhecimento, finitude e morte: narrativas
04 I. D; ANDER- 2020
de idosos de uma unidade básica de saúde.
SON, M. I. P.
“Melhor idade”? Será mesmo? A velhice se- PIMENTEL,
05 gundo idosas participantes de um grupo de J. O; LOCH, 2020
atividade física M. R.
Representações sociais de mulheres idosas SILVA, H. G.
06 2020
sobre o envelhecimento et al.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 680

Desafios do Envelhecimento e a participação


CASTILHO, J.
07 na universidade aberta à terceira idade: per- 2020
A. et al.
cepção de idosos
Da velhice estigmatizada à dignidade na
TEIXEIRA, S.
08 existência madura: novas perspectivas do 2016
M. O. et al.
envelhecer na contemporaneidade
Fonte: próprio autor, 2021.

Dos estudos selecionados, um corresponde ao ano de 2016,


três são de 2020, e quatro de 2021. O quadro 2 detalha as produções,
trazendo informações sobre as publicações utilizadas, como objetivos
e principais achados.

Quadro 2 – Análise dos trabalhos selecionados para a revisão inte-


grativa apresentados em relação aos objetivos e principais achados
ESTUDO OBJETIVOS PRINCIPAIS ACHADOS
- Registra-se que o processo de envelhecimento
ao olhar do idoso tem uma ligação com a percep-
Descrever o perfil sociode-
ção da saúde, na qual uma parte dos entrevista-
1 mográfico, de saúde e lon-
dos, associaram a velhice à doenças. Verifica-se
gevidade de idosos.
ainda, que com o avançar da idade, muitos idosos
tornam-se dependentes da medicação.
Identificar características - Identificou-se que os idosos referem-se um grau
sociodemográficas e assis- de fragilidade maior quando vivem em situação
tenciais de idosos depen- de dependência. Além disso, os achados mos-
2 dentes, cuidadores formais tram que este público visualizam o envelhecimen-
e familiares em municípios to, como uma fase solitária e isolada, sendo indi-
de diferentes regiões brasi- cativos de perdas de convívio no âmbito familiar
leiras. e social.
- Este estudo aborda os fatores que podem afetar
de forma positiva ou negativa a tomada de decisão
Identificar os fatores asso-
ativa dos idosos, como: funcionalidade, relações
3 ciados à autonomia pessoal
familiares, percepção sobre a vida, satisfação com
em idosos.
os serviços de saúde, fatores individuais, escolari-
dade, estado geral de saúde e qualidade de vida;
Identicar a percepção de
idosos ativos, com idade de - Pela percepção dos idosos participantes, enve-
sessenta anos ou mais, so- lhecer está relacionado à completude das fases da
4
bre aspectos relacionados vida, ao desgaste do corpo e às dificuldades ou li-
ao envelhecimento, à finitu- mitações para atividades do dia a dia.
de e à morte.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 681

Verificar as percepções de
- A vida na velhice causa uma dualidade de senti-
idosas participantes de um
mentos e percepções: diminuição na qualidade de
grupo de práticas corporais/
5 vida em decorrência de patologias comuns nessa
atividade física sobre a vida
faixa etária, solidão e falta de autonomia, mas os
na velhice, sobre significa-
provimentos da aposentadoria;
dos da aposentadoria
- O presente estudo possibilitou a apreender as re-
Apreender as representa-
presentações sociais femininas sobre o envelheci-
ções sociais de mulheres
6 mento, onde se pôde perceber que que as mulhe-
idosas sobre o envelheci-
res ancoraram este processo principalmente nas
mento
suas limitações e aspectos negativos.
- A percepção do idoso quanto ao processo de en-
Analisar a percepção do
velhecimento, está interligada a uma série de de-
idoso acerca dos desafios
safios, os resultados demonstram a existência do
7 do envelhecimento e de sua
preconceito social, o que é algo marcante na vida
participação na Universida-
da pessoa idosa, tornando o envelhecimento um
de Aberta à Terceira Idade.
processo difícil.
Refletir acerca dos proces-
sos de envelhecimento e as
diversas perspectivas con- - Os resultados do presente estudo apontaram que
temporâneas que os per- na velhice não existem só malefícios dentro suas
passam, abordando o para- caracteristicas e particularidades, não se resumin-
8 doxo que transita entre uma do apenas em momentos de sofrimentos, declinio
perspectiva mais positiva e das funções fisicas e motoras, mas que também
outra com viés estigmatiza- pode ser vivida com qualidade tendo o idoso como
dor do envelhecer no con- protagonista da propria vida. -
texto de nossa contempora-
neidade.
Fonte: próprio autor, 2021.

Em relação aos artigos, nota-se por meio dos achados, que a


percepção dos idosos acerca do processo de envelhecimento é visto
de diversas maneiras, sendo importante ressaltar que a maior parte dos
estudos trazem os pontos negativos desta fase, estando relacionado
principalmente às modificações vivenciadas por este público no avançar
da idade, sendo pouco explanado os pontos positivos na perspectiva do
próprio idoso, estes dados serão detalhados posteriormente,

Percepção dos idosos acerca do envelhecimento na contempo-


raneidade

De acordo com o estudo de Lima et al. (2021), observa-se que


a percepção dos idosos quanto ao processo de envelhecimento nos
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 682

tempos atuais, estão relacionados à auto percepção da saúde, trazen-


do em seus resultados que os mesmos, por não terem conhecimen-
to sobre as patologias que os acometem, demonstram satisfação com
sua saúde, acreditando estarem saudáveis e vivendo a velhice de ma-
neira positiva. Porém, alguns dos entrevistados relacionam esta fase
à um período de doenças e vulnerabilidade. Além disso, nota-se que
com o avançar da idade, os idosos passam a fazer uso de inúmeros
medicamentos, tornando-se dependentes e associando desta manei-
ra, o envelhecimento à uma fase desgastante.
Neste mesmo contexto, Castilho et al. (2020) explanam em seu
estudo que a visão do idoso quanto ao envelhecimento, está ligada di-
retamente a uma etapa de desafios. Através dos resultados, pode-se
notar a existência do preconceito social, sendo de extrema relevância
na vida da pessoa idosa, transformando esta fase em um processo di-
fícil, pois este público passa a enxergar a velhice como uma etapa vol-
tada para o adoecimento, as dificuldades de mobilidade, à presença
de sintomas crônicos, e a necessidade de cuidado de outro/familiares.
Outro ponto relevante, é que nos dias atuais o estigma de ser idoso
em uma sociedade que se preocupa bem mais com a estética e com
padrões pré-estabelecidos, acabam desconsiderando os avanços al-
cançados com o envelhecimento, fazendo com que os idosos sintam-
-se improdutivos e incapazes, causando, portanto, sofrimento mental
e isolamento social.
Corroborando com o artigo acima citado, Ceccon et al. (2021),
discorrem que ao olhar de muitos idosos, o envelhecimento na con-
temporaneidade tem sido atrelado a vulnerabilidade, pois muitos en-
frentam dificuldades para receber ajuda, o que contribui para o isola-
mento, solidão, levando-os a perda de convívio no âmbito social e fa-
miliar, podendo ocasionar inúmeros problemas emocionais e psico-
lógicos, dentre eles, a depressão. Queixas como as citadas anterior-
mente demonstram a grande necessidade de atenção à saúde mental
dos idosos, buscando aumentar a visibilidade às questões que os en-
volve e seus vínculos sociais.
Um outro ponto a ser analisado, é a imagem que o próprio ido-
so tem sobre o momento que está vivenciando, podendo-se observar
através do estudos de Teixeira et al. (2016), que este público associa a
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 683

expressão “Ser velho” a perda da autonomia, aumento da fragilidade,


presença de debilidades físicas, isolamentos, constituindo o fim de to-
das as possibilidades de se manter uma vida digna. Evidencia-se ain-
da, que muitos idosos sentem-se desmotivados por não corresponde-
rem as exigências do mundo contemporâneo, ocasionando com frequ-
ência, o desprezo do próprio idoso quanto a sua condição.
Confirmando esta opinião, por meio do estudo realizado por
Oliveira e Anderson (2020), pode-se evidenciar que a percepção dos
idosos quanto a esta etapa, está relacionada à conclusão das fases da
vida, o último estágio, ao desgaste das capacidades e as limitações do
corpo para realização de atividade do seu dia a dia, visualizando o fi-
car velho à inutilidade, sem atividades do cotidiano e ainda dependen-
te de outras pessoas.
Gomes et al. (2021), abordam que o processo de envelheci-
mento na perspectiva do idoso, está voltado para a preservação da
autonomia ativa, sendo de suma importância mantê-lo inserido na so-
ciedade, para que o mesmo sinta-se respeitado, e passe a vivenciar
esta fase de uma maneira mais positiva.
De acordo com os resultados do estudo realizado por Pimen-
tel e Lonch (2020), as perspectivas dos entrevistados, sendo estes, os
idosos, trazem em suas falas que o viver a velhice tem sido uma ex-
periência com muitos sentimentos e percepções. Algumas das entre-
vistadas colocaram como pontos negativos: o declínio da qualidade de
vida por consequência de comorbidades, a solidão e a pouca ou fal-
ta de autonomia.
Contrapondo os estudos anteriormente abordados, Silva et al.
(2020) trazem por meio dos seus resultados que as novas perspecti-
vas do idoso quanto a velhice, estão focadas no laser, na felicidade,
na liberdade, sendo vista como uma extensão da juventude, apresen-
tando estabilidade financeira e maior tempo para realização de ativida-
des prazerosas, como ficar com a família, viajar. Transmitindo a ideia
que aproxima a velhice de um período de “eternas férias”. Mostrando
dessa forma, que viver esta etapa de forma saudável, é manter suas
atividades cotidianas e buscar usufruir dos pontos positivos que o en-
velhecer promove.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 684

Repercussões do mundo contemporâneo na qualidade de vida


dos idosos

Em seu estudo, Teixeira et al. (2016), explicam que envelhe-


cer dentro do mundo contemporâneo significa envelhecer em um ce-
nário de instabilidade, gerado pelas intensas transformações econô-
micas, sociais, políticas, ideológicas e científicas ocorridas nas últi-
mas décadas. Explica ainda, que essas mudanças ocorrem de ma-
neira muito rápida provocando insegurança e má acomodação dos
idosos. Essa perspectiva negativa do envelhecimento se dá também
em decorrência do primado estético de uma sociedade narcisista, que
procura sempre colocar a beleza e seus valores, a capacidade de pro-
dução, a vitalidade do corpo, alimentando-se o pensamento errôneo
de uma juventude inacabável.
De acordo com Lima et al. (2020), atualmente, a população ido-
sa vem crescendo de forma significativa. Em seus resultados, pode-
-se notar que a maneira dos idosos vivenciarem o processo do enve-
lhecimento no presente cenário e a forma que os mesmos sentem-
-se em relação a sua saúde, são fatores contribuintes para garantir
uma melhor qualidade de vida. Além disso, pode-se observar que den-
tre os entrevistados, aqueles que tem uma boa percepção quanto à
sua saúde, apesar da baixa escolaridade e do fato de muitos viverem
só, quando buscam manter uma vida gregária intensa, frequentando
a casa de familiares, indo à igreja, repercuti de forma positiva, contri-
buindo para a longevidade dos mesmos, mostrando dessa forma, a
importância do idoso se manter inserido no contexto social.
Já no estudo realizado por Silva et al. (2020), constataram que
um fator de impacto na qualidade de vida dos idosos na atualidade,
são as desigualdades sociais, o que vem ganhando evidencia cada
dia mais. Nos seus resultados, observou-se que as idosas entrevista-
das em sua maioria citaram a baixa escolaridade e as desigualdades
sociais em suas vidas, como fatores que influenciam negativamente
no envelhecimento, citando que os idosos com uma menor condição,
possuem pior qualidade de vida relacionada à saúde. Mostrando que é
essencial um estudo mais aprofundado a respeito das desigualdades,
mas que possa acontecer uma mudança, iniciada pelo levantamento
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 685

de demandas de cuidado, o desenvolvimento de políticas públicas efi-


cazes para as pessoas idosas.
Oliveira e Anderson (2020), exclamam que dentro da conjuntura
econômica, com relação aos valores das aposentadorias, aqueles ido-
sos que recebem um valor inferior, encontram dificuldades em ter uma
alimentação saudável, o que de certa forma ocasiona um défice rele-
vante na qualidade de vida dos mesmos. Desse modo, o idoso perma-
nece por maior tempo no mercado de trabalho, entrando esse aspec-
to como um fator por si só, positivo e negativo, dependendo do ponto
de vista de cada indivíduo. Devendo-se levar em consideração o tipo de
trabalho, se o mesmo se adequa as capacidades físicas e psíquicas do
idoso; se sente prazer ao executar o trabalho ou se está executando por
necessidade de preencher o viés econômico ou atividade social.
Outro ponto a se destacar, é que no decorrer da vida, as ima-
gens criadas a respeito da velhice repercutem na visão dessa fase, e
essas imagens em sua grande maioria estão ligadas aos declínios da
capacidade física e motora, ao surgimento de doenças, a dependên-
cia de cuidado de terceiros, sendo como atributos normais e obrigató-
rios desta fase da vida. No entanto, o envelhecimento é uma fase na-
tural da vida, e a saúde da pessoa idosa vai depender da forma como
eles viveram, as questões sociais, econômicas, culturais, comporta-
mentais, dentre outros fatores ligados ao fato de terem ou não saúde
(PIMENTEL; LOCH, 2020).
Além disso, os resultados do estudo realizado por Castilho et
al. (2020), mostram a existência marcante de um preconceito social a
respeito da pessoa idosa, tornando o processo envelhecimento com
desafios relacionados ao adoecimento, a redução da mobilidade, o
surgimento de sintomas crônicos, a busca frequente por manutenção
das atividades domesticas e ao cuidado de outras pessoas. Portan-
to o idoso busca constantemente estratégias para vencer essas ques-
tões, a fim de conseguir benefícios próprios e uma qualidade de vida.
Destaca-se ainda, que marcado pelo avanço da tecnologia, o
presente século traz consigo grandes mudanças e com elas a neces-
sidade de adequação de todos os indivíduos, em especial da pessoa
idosa, que em decorrência do pouco contato em outras épocas com a
tecnologia, sentem maior dificuldade nessa adequação, tornando-os
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 686

dependente da ajuda de terceiros. Além disso, observaram-se tam-


bém as mudanças socioeconômicas- culturais e fisiológicas que tem
um impacto direto no processo de envelhecer. Elenca-se ainda, que
os idosos viúvos ou na convivência com filhos, ao avançar da idade
buscam com frequência o aconselhamento para tomada de decisões,
permitindo que outras pessoas façam escolhas por eles, fazendo com
que o mesmo se sinta incapaz, e repercutindo negativamente na vida
deste idoso, como sentimento de fragilidade e perda de sua autonomia
(GOMES et al., 2021; CECCON et al., 2021).

Conclusão

Pode-se concluir que a percepção dos idosos acerca do pro-


cesso de envelhecimento na contemporaneidade, destaca-se por ma-
nifestações tanto positivas quanto negativas. Observa-se que alguns
estudos abordam este processo como uma fase de conquista e des-
canso. Em contrapartida, notou-se que na maioria dos estudos, o “en-
velhecer” está voltado para necessidade de ser cuidado por outra pes-
soa, evidenciando que a falta de autonomia prejudica significativa-
mente a saúde mental deste público, ocasionando danos na sua qua-
lidade de vida. Cabe salientar, que de acordo com os estudos, a velhi-
ce está repleta de estigmas, na qual esta fase tem sido definida princi-
palmente pelos pontos negativos.
Desta forma, conclui-se que a compreensão acerca do enve-
lhecimento pelo olhar do próprio idoso tem sido visto como um desafio,
principalmente, por esta fase envolver particularidades resultantes dos
contextos de vida de cada um destes indivíduos. Por fim, destaca-se
que são escassos artigos que foquem exclusivamente no olhar do ido-
so acerca do envelhecimento nos dias atuais, sendo relevante que re-
alizem estudos com esta temática, contribuindo para que tanto profis-
sionais da área da saúde, quanto a população de uma maneira geral.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 689

CAPÍTULO 49

PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO: A IMPORTÂNCIA


DO TESTAMENTO NOS DIAS ATUAIS

SUCCESSION PLANNING: THE IMPORTANCE


OF THE TESTAMENT TODAY

Bernardo de Souza Brandão Neto


UNIFACCAMP - Centro Universitário Campo Limpo Paulista
São Luís - Maranhão
https://orcid.org/0009-0008-0900-4952
bernardo@bernardobrandao.me

Deyla Lima de Castro


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0009-0002-6447-438X
deylacastro554@gmail.com

Maria do Carmo Amaral Brito


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0000-0003-3424-2158
docarmobrito@yahoo.com.br

Maria dos Remédios Magalhães Santos


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0000-0002-7066-5011
magalhaesantosjl@gmail.com

Maria Lustosa de Melo


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
http://lattes.cnpq.br/5429692759216779
marialustosa@chrisfapi.com.br
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 690

Patrícia Pereira do Nascimento


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0000-0002-1740-3274
patricianascimento@chrisfapi.com.br

Thalisson Reinaldo Pereira Lima


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0009-0001-8491-0014
thalissonreinaldo10@gmail.com

Domingos Sávio Do Nascimento


Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI
Piripiri - Piauí
https://orcid.org/0000-0002-8580-8783
saviomatem@yahoo.com.br

RESUMO
Uma questão tem permanecido intocada e pouco abordada no âmbi-
to social no que tange à população: o planejamento sucessório. O fato
deste instituto ser utilizado de maneira esporádica gera sérios entra-
ves no judiciário, dado às ações de inventário e disputas entre familia-
res. Ante ao exposto, indaga-se por que a sociedade desconhece os
direitos e o uso do testamento, bem como quais os meios para propa-
gar os benefícios do planejamento sucessório? O presente artigo cien-
tífico tem como finalidade salientar a importância da discussão da te-
mática. Ademais, traz o debate para o campo de estudo e reflexão, ob-
jetivando desmistificar a crença limitante sobre testamento e dissemi-
nar a realidade acerca do assunto. Em consonância, a presente aná-
lise busca uma observação minuciosa sobre esse instituto e as con-
sequências da inércia por parte do corpo social brasileiro ao não reali-
zar o planejamento sucessório, por intermédio de pesquisa bibliográfi-
ca e documental, trazendo como enfoque os principais fatores para a
ausência da programação para o post mortem, tal como os resultados
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 691

que essas estagnações ocasiona no sistema judiciário nas ações de


inventário, como a notória demora processual. Em suma, ressaltam-se
os benefícios do testamento e o hipotético porquê de haver relutância
ou ignorância acerca da sucessão testamentária, corolário dos tabus
sociais, falta de preocupação com tal planejamento e ideias errône-
as a respeito desse instituto salutar para a sociedade e para o Direito,
com a finalidade precípua de servir como alicerce para acadêmicos,
profissionais do ramo do Direito e, principalmente, para a sociedade.
Palavras-Chave: Sucessório; Planejamento; Testamento; Direito.

ABSTRACT
An issue has remained untouched and little addressed in the social
sphere as far as the population is concerned: succession planning. The
fact that this institute is used in a sporadic way generates serious ob-
stacles in the judiciary, given the inventory actions and disputes among
family members. In light of the foregoing, one wonders why society is
unaware of the rights and the use of the will, as well as what means are
available to propagate the benefits of succession planning. The pur-
pose of this scientific article is to highlight the importance of discuss-
ing the issue. Moreover, it brings the debate into the field of study and
reflection, aiming to demystify the limiting belief about wills and dis-
seminate the reality about the subject. Accordingly, the present analysis
seeks a thorough observation about this institute and the consequenc-
es of the inertia on the part of the Brazilian social body in not carrying
out succession planning, by means of bibliographic and documental re-
search, bringing as focus the main factors for the absence of post-mor-
tem planning, as well as the results that such stagnation causes in the
judicial system in inventory actions, such as the notorious procedural
delay. In short, the benefits of the will are emphasized and the hypothet-
ical reason why there is reluctance or ignorance about the testamentary
succession, corollary of social taboos, lack of concern with such plan-
ning and erroneous ideas about this institute salutary to society and the
Law, with the primary purpose of serving as a foundation for academics,
professionals in the field of law and, especially, for society.
Key-words: Succession; Estate Planning; Will; Law.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 692

1 INTRODUÇÃO

Não é hodierno que a ideia por trás do instituto do testamento


tem sido representada de modo equivocado e ficcional, por intermédio
das novelas de época e enredos estapafúrdios, marcados com revira-
voltas mirabolantes.
Nesses termos iniciais, faz-se indispensável descrever tal es-
critura como instituto de vontade final, sendo este um ato jurídico so-
lene, personalíssimo. Ademais, pode ser alterado a qualquer tempo,
conforme destaca o artigo 1.858 do Código Civil (2002).
Diante disso, discrepante à lei supracitada e legalmente po-
sitivada, esse conceito irrealista estabelecido no imaginário popu-
lar através dos anos de que a sucessão testamentária pertence ape-
nas aos ricos ou que não vale a pena realizar tal planejamento, tem
se tornado, ainda que sutilmente, um entrave no sistema judiciário
brasileiro, dado que a esfera jurídica enfrenta ações complexas e
prolongadas, como o ataque de uma enfermidade que vem para fa-
zer sofrer e se demorar nesta aflição. Conquanto, o Direito pouco
tem agido para conscientizar a população do inegável benefício que
uma organização sucessória prévia traria: celeridade processual, por
exemplo.
Nessa conjectura, a Carta Magna (BRASIL, 1988) destaca que,
no âmbito judicial e administrativo, todos estão sujeitos aos efeitos do
princípio da celeridade processual, que garante à população a razoá-
vel duração do processo, assim como os meios que garantam a agili-
dade de sua tramitação.
Frente ao exposto, adentrando agora na realidade do siste-
ma, entende-se que o judiciário brasileiro enfrenta lides que perduram
anos sem uma solução, corolário dos entraves jurídicos que o referi-
do Direito Sucessório carrega, quando não se utiliza o testamento e os
efeitos salutares ao ordenamento judicial e aos herdeiros. Nessa situ-
ação, faz-se mister identificar os benefícios do “Planejamento Suces-
sório: A Importância do Testamento nos Dias Atuais”.
Nessa óptica, Eduardo de Oliveira Leite (2003) determina que
a ausência de conjuntos sistematizados e de recursos formais provo-
cou o declínio da sucessão testamentária, que necessitavam ser man-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 693

tidas por motivos patrimoniais e humanitários, apesar do testamento


ser usado costumeiramente durante o século XVIII.
Exposto isso, deve-se considerar a maneira equivocada e fan-
tasiosa que a ideia do testamento tem sido disseminada, cumulada
com os tabus intrínsecos à sociedade – o conceito da morte, por exem-
plo –, como fatores impulsionadores. Logo, em meio ao fato apresen-
tado, surge o seguinte problema: por que a sociedade desconhece os
direitos e o uso do testamento e como propagar esses benefícios?
No presente artigo, tem-se como objetivo precípuo compreen-
der a importância do testamento no planejamento sucessório, com a
finalidade de apresentar os impasses provocados pelo acúmulo de
ações no sistema jurídico brasileiro e conscientizar a população acer-
ca do disposto em pauta.
Nessa esfera processual, Teresa Arruda Alvim Wambier (2016)
pressupõe que o processo deve ser rápido e eficaz, sendo de interes-
se coletivo, não podendo haver atraso em demasia. O que não ocorre
no sistema, uma vez que existem lides complexas e demoradas.
Destarte, ao analisar o escopo da problemática, visa-se expor o
valor do planejamento sucessório e do instituto, com o propósito de ar-
gumentar possíveis soluções que demonstrem à população os resulta-
dos auspiciosos do estudo desses proveitos. Com isso, ao investigar
os prejuízos causados pela crença popular ainda difundida na socie-
dade no que tange o uso do testamento, discorre-se sobre os resulta-
dos obtidos, com o intuito de estimular a prática testamentária e dirimir
os processos de inventário no judiciário brasileiro.
Nesse intervalo, preceitua o artigo 6º do Código Civil (BRASIL,
2002) que todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para
que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva,
o que não procede à atual realidade brasileira, visto que as partes liti-
gantes dificultam o bom andamento processual, por intermédio de dis-
putas por bens, o que não ocorreria se, previamente, o testador de-
terminasse legalmente pelo instrumento pertinente a divisão entre os
herdeiros, sendo este um verdadeiro entrave no corpo social.
Conquanto, a divulgação das vantagens acerca do planeja-
mento sucessório na mídia tem sido salutar para a conscientização
brasileira, a partir das inúmeras informações jurídicas que antigamen-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 694

te eram restritas apenas aos advogados e juristas. Em contraste, na


atualidade, esses conhecimentos têm emergido para ganhar espaço
público, cuja proteção é tutelada pelos Direitos Constitucionais, com o
intuito de evitar a morosidade nos processos de inventário. Além dis-
so, em consonância, evitar disputas familiares, garantindo uma maior
celeridade processual e estabilidade financeira para os herdeiros com
o post mort.
Este trabalho foi desenvolvido por intermédio de pesquisa bi-
bliográfica, utilizando estudos já produzidos, como artigos, livros e ju-
risprudências, disponíveis em plataformas digitais. Em consonância, o
progresso do artigo se deu por intervenção da pesquisa documental,
que consiste na observação de documentos, com o propósito de en-
grandecer a pesquisa.
Para Maria Helena Diniz (2017), o testamento existe para fazer
estipulações diversas, além da esfera patrimonial. Ademais, a doutri-
nadora pondera que trata-se de um ato personalíssimo e revogável,
em que, seguindo as vias legais, despoja-se dos bens, para depois do
evento morte.
Nesse ínterim, faz-se imprescindível discutir a temática, em ra-
zão da relevância processual que a matéria tem para o campo jurídi-
co, com o propósito maior de destrinchar os fundamentos, conceitos e
relevância que o tema carrega.

2 DESENVOLVIMENTO

O testamento é um instrumento jurídico que conserva a vonta-


de do testador, para que esta seja cumprida após sua morte. Confor-
me sublinha Carlos Roberto Gonçalves (2016, p. 231), “testamento é a
justa manifestação de nossa vontade sobre aquilo que queremos que
se faça depois da morte”.
Em razão dessa primazia, todo cidadão pode criar esse institu-
to, estabelecendo até outras possíveis situações de manifestação de
vontade, podendo doar seus bens para outra pessoa, mesmo que o
beneficiário não seja da família. Contudo, se não houver testamento,
o patrimônio em sua totalidade será transferido aos herdeiros por in-
termédio da sucessão por força da lei, sendo distribuído para a voca-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 695

ção hereditária, como está prevista em lei, pois os bens vão para as
partes legítimas: os descendentes, cônjuge ou companheiro e, na fal-
ta de descendentes, os ascendentes em concorrência com o cônjuge
sobrevivente.
Ainda sobre o disposto, outro conceito imprescindível é o de
Caio Mario da Silva Pereira (2020), que explica o testamento como
a ação de manifestar o destino do patrimônio posterior ao óbito a um
herdeiro ou para demais casos especiais previstos na lei. Podendo,
aliás, estipular uma série de outros termos que deverão ser seguidos,
dado a relevância do dito ato de última vontade.
Por isso, é inegável a importância do testamento como meio de
planejamento sucessório. Ademais, vale destacar que o referido ins-
tituto não tem limite de modificação, pois a sua validação e efetivida-
de pode evitar possíveis brigas e conflitos judiciais, mantendo, des-
se modo, um equilíbrio familiar. Esse dispositivo pode ser feito por
maior de 16 (dezesseis) anos e que esteja usufruindo de plena sani-
dade mental e física para gozar de sua vontade, não sendo, para isso,
necessário o acompanhamento jurídico, mas uma assistência profis-
sional, o que evita possíveis causas de nulidades da escritura do ato.
Dado que pode auxiliar, orientando o cliente no sentido de resolver
eventuais impasses com segurança e eficácia jurídica.
A relutância civil em frente ao uso do instituto é, quiçá, corolá-
rio do pensamento hermético de que o testamento é fora da realidade,
pertencendo apenas aos ricos. O que não merece prosperar, pois, nos
termos de Cappettilli e Garth (1988), o acesso à justiça está baseado
na processualística hodierna, em razão das mudanças da sociedade,
que vem prevalecendo como direito social e fundamental no mundo
contemporâneo. Essas mudanças sociais têm aberto as portas do po-
der jurídico às pessoas.

2.1 Breve histórico do testamento

A morte está intrinsecamente ligada ao conceito da vida. Nesse


aspecto, na peça teatral Auto da Compadecida, o escritor Ariano Su-
assuna (1955) levantava a afamada frase dita pelo personagem Chi-
có, em que este pontua a morte como “um fato sem explicação, que
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 696

iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo


que é vivo, morre”. Ainda nesse sentido, saindo da literatura e aden-
trando na esfera religiosa, a Bíblia transporta em Hebreus (Hb 9:27) a
mensagem de que o ser humano está destinado a morrer uma única
vez. Com isso, é notório identificar as inúmeras citações em diversos
campos sobre o conceito primordial discutido, tendo em vista a aten-
ção que tal tema atrai.
Como exposto alhures, ao abordar sobre a escritura, muitas
são as alternativas para o instituto do testamento, salvaguardando a
eficácia no planejamento sucessório. É com alicerce nessa ideia que a
sucessão testamentária evoluiu, a fim de assegurar o patrimônio do fa-
lecido, sendo realizada por meio de escritura que declara a última von-
tade do testador, ou seja, quando o evento morte ocorre um herdeiro
é nomeado a administrador dos bens, bem como dos direitos e deve-
res deixados pelo testador.
Nesse cenário, o conceito do testamento remete à antiguidade,
como está exemplificado na Bíblia, em vários versículos de Gênesis
(Gn 47–48), como na história de Jacó, que designou o dobro de bens a
seu filho José. Outro caso descrito encontra-se na passagem de Noé,
que retrata a vontade de Deus no episódio da divisão do universo en-
tre Jafé, Sem e Cam.
Destarte, ante a breve explanação, hodiernamente, o testa-
mento é regulado pela Legislação do Código Civil (BRASIL, 2002) e
protegido de acordo os direitos fundamentais, como assegura o di-
reito de herança previsto na Constituição Federal e, em consonân-
cia, no Direito das Sucessões, que compreende o conjunto de regras
que transfere o patrimônio para outrem logo após o evento morte, ou
por meio de Lei, especialmente nos Arts. 1.784 a 2.027 do Código Ci-
vil (2002). Dentre as várias regulamentações que o disposto traz, um
ponto a se destacar são os impedidos de herdar via testamento.
Por intermédio do disposto em lei, o legislador busca propor uma
regra para ser aplicada para cada caso, observando as possibilidades.
Ademais, o Código Civil (2002) traz o dispositivo legal nos artigos 1.862
e 1.886, em que tem a divisão dos tipos de testamentos em originários
e especiais. Respectivamente, tem-se o público, que é aplicado quando
o testador exerce sua vontade, elaborando-o no cartório; particular, que
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 697

é feito pelo próprio testante, estabelecendo sua vontade; cerrado, fei-


to por advogado, ocorre quando o tabelião lacra o documento expedido
pelo testar, sem acessar o mesmo. Prosseguindo, no tocante aos espe-
ciais, tem-se: marítimos, militares e aeronáuticos. Além dessas modali-
dades, há o codicilo, que acontece quando o testador estabelece suas
últimas vontades antes de falecer, estabelecendo definições sobre fune-
ral, destinação de pequenos móveis e bens, entre outras.

2.2 Crença popular

Diante disso, pode-se perceber ao mergulhar na crença popu-


lar que a mera menção ao testamento é motivo de temor, pelo fato
simbolizar – segundo a própria convicção geral – mau agouro, ou mes-
mo ser considerado uma situação vexatória que causa mágoa e intri-
gas entre os parentes.
Segundo o conceituado psicanalista Sigmund Freud (1917),
essas convicções podem ser determinadas como um agrupamento de
noções pragmáticas que são ditas com veracidade acerca de determi-
nado tema. Em outros termos, isso é popularmente conhecido como
“ver para crer”. Ademais, o sobredito neurologista alega que não se
suscita convicções, no entanto é essencial estimular pensamentos e
derrubar preconceitos.
Desse modo, a coletividade aparenta preferir deixar a situação
inerte e entregue ao tempo, ao invés de declarar alguém herdeiro por
força do testamento. Quiçá até para evitar uma eventual torcida pela
morte do testador. Outro ponto que faz-se mister ser ponderado é a
ideia tendenciosa de que o testamento é apenas para pessoas ricas e
que possuem uma profusão de bens; isso é, que já possuem um pa-
trimônio consolidado.
Em meio a esses entendimentos, o filósofo alemão Friedrich
Nietzsche (1878) sugere que as opiniões inflexíveis são as reais opo-
sitoras da verdade, sendo estas muito mais perigosas que as menti-
ras. Conquanto, é importante frisar que essas convicções estão fixas
no corpo social.
Com isso, pode-se dizer que tal concepção advém da própria
cultura, enraizado no âmago do imaginário social. Então, a desmoti-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 698

vação e a ignorância a respeito da temática predomina, mesmo que


ainda exista a vontade de manifestar esse direito. Pode-se mencionar
que a sucessão em geral divide-se em sucessão legítima, que ocor-
re quando é estabelecida em virtude de lei pela morte da pessoa sem
testamento, sendo automaticamente transferida para os herdeiros le-
gítimos, conforme opera tal ideia no princípio sai sine. Outra forma
ocorre pela sucessão testamentária, que, como apresentando outro-
ra, é caracterizada precipuamente como a última vontade do testador.

2.3 A doutrina explana o testamento

No conto O Enfermeiro do escritor Machado de Assis (1896),


tem-se um límpido exemplo da chamada sucessão testamentária,
quando, no ponto de virada da obra literária, o personagem Coronel
Felisberto deixa para o seu cuidador, enfermeiro Procópio, seus bens,
mudando drasticamente a condição financeira do protagonista. Em
poucas laudas, o autor conseguiu demonstrar o impacto que a suces-
são testamentária pode gerar.
Saindo do conto e adentrando na realidade brasileira e nas
doutrinas, é necessário pontuar que tal ato é considerado um negócio
jurídico. Assevera Pacheco (2018, p. 234) que, quando se fala da su-
cessão a título universal (herdeiro), a herança se transmite como um
todo, ou uma fração. Em contraste, na singular (legatário), trata-se de
uma divisão individualizada.
Outro doutrinador salutar para a discussão é Maria Helena Di-
niz (2017), que assevera ao apontar que tal instituto, que é personalís-
simo e revogável, é um ato pelo qual alguém, nos moldes da lei, dis-
põe, para depois de sua morte, de seu patrimônio, em todo ou em par-
te, podendo, em consonância, fazer outros termos.
Destarte, vale ressaltar o que determina o Código Civil (2002),
sendo este um instituto personalíssimo, unilateral, solene e revogável,
ou seja, somente o testador, criador da vontade pretendida, pode anu-
lar, acrescentar, modificar ou revogar o testamento, não podendo ou-
tra pessoa decidir em nome do testador, devendo ser livre e gratuito,
dado que tem de ser feito de maneira lícita, solene e formal, logo, a fi-
nalidade principal é que terceiros não podem interferir na partilha dos
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 699

bens. Para que ocorra a formalização do pedido do testamento, é ne-


cessário frisar que o testador precisa ser plenamente capaz e que seu
direito de doar é limitado, não podendo dispor do patrimônio em sua
integralidade quando houver herdeiros legítimos, pois deve respeitar
os 50% (cinquenta por cento) da sucessão legatária.

2.4 Exclusão, perdão e reabilitação

A indignidade é uma sanção civil. Nesses casos previstos em


lei, os filhos do indigno vão herdar por intermédio do direito de repre-
sentação, que é, em termos simples, uma pessoa receber no lugar da
outra. Isso ocorre em razão do princípio da intranscendência da pena,
isso é, a pena não atinge além da pessoa do condenado.
Segundo o jurista Hans Kelsen (1934), a sanção, em termos
gerais, é caracterizada como uma coação, corolário do fato ilícito. No
caso em pauta, os atos ilegais estão dispostos no ordenamento jurídi-
co, assim como os pormenores da legislação.
Nesse cenário, o indigno não pode fruir dos bens. O filho da-
quele considerado indigno irá herdar por representação. Em contras-
te, o descendente daquele que renunciou a herança não tem direito à
representação, tendo em vista que é como se ele não existisse. Con-
quanto, diferente da indignidade, na renúncia pode-se, inclusive, ad-
ministrar o patrimônio do de cujus.
No que tange ao evidenciado, Carlos Roberto Gonçalves (2013,
p. 112) sustenta que se trata de uma quebra de efetividade, frente à
prática de atos que menosprezam o autor da herança. Ou seja, atos
reprováveis ou delituosos contra este, tornando, desse modo, o her-
deiro ou legatário indigno.
Os efeitos dessa sanção civil retroagem, sendo ex tunc, ou
seja, valem daqui para frente. Como exposto outrora, o princípio sai
sine diz que os bens são transferidos automaticamente. Por exem-
plo: um homem que matou o pai, e poucos sabem desse fato. O irmão
desse sujeito entra com ação para considerá-la indigno. É cônscio que
para a sociedade ele é herdeiro, enquanto não há sentença declaran-
do o contrário, dado que poucos sabem do crime. O homem, nesse
exemplo, até então considerado suspeito, fala com um terceiro de bo-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 700

a-fé e vende um imóvel do falecido. Quando sai a sentença, esse ter-


ceiro não pode ser prejudicado, porque na época o homem era her-
deiro. Portanto, esse conflito entre herdeiros não atinge o terceiro de
boa-fé. Ao passo que, se tiver comprado de má-fé, também responde.
A professora e jurista Maria Helena Diniz (2017) reflete sobre a
indignidade, ponderando que tal instituto é semelhante à incapacida-
de sucessória e que, diante de falta grave contra o autor da herança, o
eventual indigno é impedido de receber o acervo hereditário. Porquan-
to, trata-se de uma pena civil, frente a atos criminosos, reprováveis ou
ofensivos. Essas ações estão dispostas em lei.
Sobre o disposto em pauta, Bonfante (1963, p 351) acentua
que a indignidade é o regimento que através da herança declarada
e adquirida era deduzida por motivos morais. Nesse sentido, pode-
-se entrar em ação pessoal por perdas e danos contra aquele decla-
rado indigno.
Todavia, não vai caber direito real sobre a coisa vendida, no
caso supracitado, havendo boa-fé; ou seja, uma vez vendido um imó-
vel para o indivíduo com probidade não se pode exigir desse sujeito a
devolução, nem ação real sobre aquela casa. Se é doação, o persona-
gem não vai perder nada, destarte não vai ter prejuízo. Essa alienação
só surtirá efeitos se for oneroso. Se for gratuito, não.
Ante toda a exposição, faz-se mister ponderar que mesmo
aquele que foi considerado indigno pode receber o perdão do ofendi-
do, caso este esteja vivo para fazê-lo.
Consoante a explicação do doutrinador Pablo Stolze e Rodolfo
Pamplona (2019), o perdão (ou reabilitação) é concedido por intermédio
de lavratura de uma escritura pública ou, ainda, diante da elaboração
de um documento em que não paire dúvidas acerca da autenticidade.
Um caso a título de exemplo: um homem é excluído da legíti-
ma do pai, corolário de uma tentativa frustrada de homicídio. O genitor
sobrevivente tem pleno conhecimento desse fato, que ocorreu no dia
10 de janeiro de 2022. No dia 20 de novembro do mesmo ano, o ge-
nitor sofre um acidente de carro – que nada tem relação com o ato do
filho – e morre, mas em maio ele foi ao cartório, e fez um testamento.
Antes de dar prosseguimento, é importante salientar o que pon-
dera Caio Mário da Silva Pereira (2020), que assevera que os fatores
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 701

geralmente éticos da indignidade e da deserdação são a privação de


herança, característica advinda da punição, como exemplo o erro irre-
versível realizado pelo sucessor contra o de cujus. Ainda assim, o per-
dão pode ocorrer.
Assim, nessa sucessão testamentária, ele deixa para o filho
uma casa situada em determinada rua. O genitor, ao realizar isso, per-
doa-o de maneira tácita. É a deixa. Ou seja, ele deixou um bem deter-
minado. Diferente seria se ele o reabilitasse de volta ao acervo here-
ditário. A reabilitação, logo, é no todo, e o perdão é aquilo que ele dei-
xa. Isso é viabilizado somente através de documento público, ou, sen-
do particular, autenticado no cartório, dotado de fé pública. O perdão
tácito apenas acontece via testamento e não habilita a pessoa como
um todo, determinando a deixa, que pode ser um valor em dinheiro,
um bem específico, carro, moto, etc.

2.5 A deserdação

No âmbito familiar, são comuns os casos em que ocorrem intri-


gas, abandono e outras formas mais graves de violência física e psi-
cológica, que são totalmente contrárias àquelas esperadas do seio fra-
ternal da família. Pode-se deserdar o marido, os filhos e etc. Alguns
casos previstos em lei que motivam a deserdação estão dispostos no
artigo 1.814 do Código Civil (2002). Dentre essas causas, por exem-
plo, estão os autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso ou
a tentativa, contra a pessoa detentora do patrimônio designado à su-
cessão. Outra razão para tal é a calúnia contra o autor da herança, ou
crimes contra a honra deste, de seu cônjuge ou companheiro, ascen-
dente ou descendente. Além dessas, há outras hipóteses que ocor-
rem corriqueiramente e que parte da população desconhece. A deser-
dação tem o mesmo efeito da indignidade. Nesse caso, a indignidade,
como dito alhures, acontece por força da lei, como sanção civil.
Conforme o doutrinador Paulo Nader (2016), o exposto neste
tópico é uma punição civil que atinge o herdeiro necessário, por inter-
médio de cláusula testamentária, com o propósito de excluir o deser-
dado da sucessão em razão de conduta ilícita moralmente no seio so-
cial e, na mesma esfera, inaceitável.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 702

A deserdação, logo, acontece por força do testamento. A dife-


rença entre essas duas causas de exclusão é a de que, com o adicio-
nal dos escândalos familiares, que levam à deserdação aumentam o
rol de possibilidades em relação à indignidade. Um caso hermético da
deserdação é quando, por exemplo, acontece um envolvimento amo-
roso entre o ascendente e a cônjuge do ofendido. Pode-se deserdar
o ascendente em razão desse ato ser condenável socialmente. Igual-
mente, o contrário também pode ocorrer, quando o filho tem um caso
com a madrasta. Nessa situação, o pai pode deserdar o filho.
Para Paulo Nader (2016, p. 130) esses dois institutos possuem
perdas do direito de herdar em virtude da ingratidão, tornando-os, des-
se modo, semelhantes até certo ponto. Mas, estes tornam-se diver-
gentes pela maneira que ocorrem.
Em suma, pode-se pontuar que a indignidade vem como mani-
festação de vontade, por intermédio da lei. A deserdação, em contras-
te, é a vontade real, ou seja, só pelo testamento. Só atinge os herdei-
ros necessários. Só se encontra a deserdação na sucessão testamen-
tária. A indignidade se encontra na testamentária e na legítima.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos fatos discutidos e apresentados, é necessário res-


saltar, a título exemplificativo e elucidativo, que a escolha pela recu-
sa do testamento permite que a herança seja transferida por vontade
da lei, ou até que seja contestada pela própria família ou pelo Estado,
como resultado. Ainda, existe a possibilidade de que o Poder Judiciá-
rio defina o eventual administrador da herança, conforme destaca o ar-
tigo 1.788 do Código Civil, em que sublinha que, ao falecer a pessoa
sem dispor de testamento para rubricar a última vontade, a transferên-
cia ocorrerá por intermédio da destinação aos herdeiros legítimos, no
qual sucede aos bens não alcançados pelo referido instituto. Além dis-
so, é imprescindível mencionar que, no mesmo disposto, diz-se que,
se o testamento prescrever, permanece a sucessão legítima, ou caso
este seja julgado nulo.
Todavia, apesar das inúmeras vantagens que o instituto traz
àqueles que o utilizam, os números acerca da utilização da escritura
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 703

são ínfimos. Para corroborar com a afirmação, além da metodologia bi-


bliográfica, a pesquisa documental realizada no Cartório Jonatas Melo
do 1º Ofício, na cidade de Piripiri/PI, revelou que de 2019 até os dias
atuais, foram realizados apenas 16 (dezesseis) testamentos, em um pe-
ríodo de 4 (quatro) anos, sendo relevante pontuar que o ano com maior
número de instrumentos oficializado ocorreu no ano de 2021, quando a
pandemia do Coronavírus (COVID-19) esteve em seu apogeu, com so-
mente 6 (seis) registros – o dobro dos dois anos anteriores.
Infere-se, disso tudo, que o referido conjunto de estudos reali-
zados chega à conclusão de que o uso e a prática do testamento na
sociedade atual é primordial para a mudança que o judiciário tanto ca-
rece. Para isso, porém, é mister que o corpo social brasileiro altere,
antes, o pensamento coletivo. Isso é, granjear a conscientização, ten-
do em vista que é fundamental vislumbrar os efeitos salutares que o
referido instituto traz ao legado patrimonial do testador, da mesma for-
ma que a mencionada continuidade deste.
Com a análise, o referido trabalho expõe os limites e a flexibili-
zação do grau de autonomia ao testar, como a incorporação das nor-
mas de validação da prática testamentária para diversos casos que
dependem da legislação, utilizando como alicerce o artigo 104 do Có-
digo Civil (2002), que consiste no discernimento de que a validade do
negócio jurídico é construída de agente capaz, objeto lícito, possível,
determinado ou determinável e, finalmente, forma prescrita em lei.

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WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Primeiros comentários ao novo
código de processo civil: artigo por artigo. 2ª edição. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 706

CAPÍTULO 50

PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ESCOLA PARA


ADOLESCENTES DA REGIÃO NORTE DO BRASIL

HEALTH PROMOTION AT SCHOOL FOR ADOLESCENTS


IN THE NORTHERN REGION OF BRAZIL

Gisele Monteiro Viana


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém - PA
https://orcid.org/0000-0002-0524-2012
gisele.viana@ics.ufpa.br

Arthur Filocreão dos Santos Oliveira


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0000-0002-8413-9581
arthur.oliveira@ics.ufpa.br

Ingred Costa de Lima


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0009-0005-1054-8816
ingred.lima@ics.ufpa.br

Evilyn Lilian Sampaio de Paiva


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0009-0004-8720-2007
evilyn.paiva@ics.Ufpa.br
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 707

Domingos Pinto Pimentel


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0000-0001-9466-0461
domingos.pimentel@ics.ufpa.br

Danrley Roberto Lima Carvalho


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0009-0006-2074-0518
danrley.carvalho@ics.ufpa.br

Armindo de Jesus Andrade Neto


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciências da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0009-0007-1004-1956
armindo.neto@cameta.ufpa.br

Fabricio Viana Prestes


Universidade Federal do Pará
Instituto de Ciência da Saúde
Belém- PA
https://orcid.org/0009-0004-4896-0710
fabricio.prestes@ics.ufpa.br

Vanessa Jhulyana Alves Nascimento


Universidade Federal do Pará
Instituto Ciências da Saúde
Belém - PA
https://orcid.org/0009-0002-0798-2951
vanessa.nascimento@ics.ufpa.br

Tarciso Feijó da Silva


Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Faculdade de Enfermagem
Rio de Janeiro-RJ
https://orcid.org/0000-0002-5623-7475
tarcisofeijo@yahoo.com.br
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 708

RESUMO
A adolescência é a etapa da vida marcada por um complexo proces-
so de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial compreendida
no período entre 10 e 19 anos. Este trabalho tem por objetivo rela-
tar a experiência de acadêmicos de enfermagem no desenvolvimen-
to de ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e aborda-
gem integral para os adolescentes, analisando os aspectos de cresci-
mento e desenvolvimento, através de uma avaliação global. Após to-
das as avaliações realizadas, junto às orientações individuais e cole-
tivas feitas necessárias durante a abordagem para que se sanassem
dúvidas e se fomentasse o acréscimo de informações em saúde, pro-
cedeu-se a classificação de risco, assim, 93 adolescentes foram clas-
sificados com risco verde, 41 com risco amarelo e 19 com risco ver-
melho. O trabalho evidencia a importância da promoção da saúde no
ambiente escolar por se tratar de um cenário em que se trabalha com
o público adolescente.
Palavras-chave: Saúde Integral do Adolescente; Promoção da Saúde
Escolar; Atenção Primária à Saúde.

ABSTRACT
Adolescence is the stage of life marked by a complex process of bio-
psychosocial growth and development in the period between 10 and
19 years. This work aims to report the experience of nursing students
in the development of health promotion actions, disease prevention
and a comprehensive approach for adolescents, analyzing aspects of
growth and development, through a global assessment. After all the
assessments carried out, together with the individual and collective
guidelines made necessary during the approach to resolve doubts and
encourage the addition of health information, the risk classification was
carried out, thus, 93 adolescents were classified as green risk, 41 with
a yellow line and 19 with a red line. The work highlights the importance
of health promotion in the school environment, as it is a scenario in
which the adolescent public is worked.
Keywords: Integral Health of Adolescents; School Health Promotion;
Primary Health Care.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 709

INTRODUÇÃO

A adolescência é a etapa da vida compreendida entre a infân-


cia e a fase adulta, marcada por um complexo processo de crescimen-
to e desenvolvimento biopsicossocial. A definição etária desse grupo é
compreendida segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no
período entre 10 e 19 anos (SCHEIBE & LUNA, 2023) e considera que
a juventude se estende dos 15 aos 24 anos. Esses conceitos compor-
tam desdobramentos, identificando-se adolescentes jovens (de 15 a
19 anos) e adultos jovens (de 20 a 24 anos) (BRASIL, 2007).
Já a puberdade, considerada uma fase da adolescência, é um
período de transição em que o crescimento morfológico e as mudan-
ças nas características funcionais do corpo são intensos e rápidos
(ALVARES et al., 2020). Ela constitui uma parte da adolescência ca-
racterizada, principalmente, pela aceleração e desaceleração do cres-
cimento físico, mudança da composição corporal, eclosão hormonal,
evolução da maturação sexual, que são universais e visíveis, modifi-
cando as crianças, dando-lhes altura, forma e sexualidade de adultos
(FERREIRA et al., 2010; BRASIL, 2007). Nas meninas ela ocorre en-
tre os 9 e 13 anos e nos meninos entre os 10 e 14 anos, sendo carac-
terizada pelo crescimento da altura, o aparecimento de pelos, acnes,
broto mamário, aumento dos testículos, primeira menstruação e mas-
turbação, início da sexualidade, além das alterações de humor e o es-
tresse (BRASIL, 2017).
As diretrizes nacionais de Atenção Integral à Saúde dos Ado-
lescentes, proposta pelo Ministério da Saúde são tidas como outro
relevante instrumento normativo por focar na promoção, proteção e
recuperação e ter objetivo contribuir para a modificação do quadro
nacional de vulnerabilidade, incluindo um desenvolvimento saudável
desse grupo populacional (BRASIL, 2010).   
Segundo Silva et al. (2020) há várias etapas para se alcançar
o cuidado do adolescente na atenção primária à saúde, onde, o pro-
fissional deve ter um olhar atento às diversas particularidades da ado-
lescência a qual, podem parecer um mistério que não pode se possuir
uma visão negativa frente a essas mudanças existentes, com a fina-
lidade, de não haver um afastamento do profissional ao usuário. Há
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 710

também o acolhimento como uma prática de criação de vínculos entre


o profissional e o adolescente e sua família, em possuir escuta ativa,
pois acolher é prestar o cuidado de forma humanizada.
Na discussão sobre a saúde como um direito, é imprescindível
o fortalecimento de um modelo de atenção organizado a partir de re-
des de atenção à saúde, de maneira pactuada entre as diferentes es-
feras de gestão e articulada intersetorialmente, de acordo com as es-
pecificidades de cada região, de forma a responder às necessidades
da população infantojuvenil explícita na análise da situação de saúde
(BRASIL, 2010).
De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral
à Saúde de Adolescentes e Jovens, Promoção, Proteção e Recupe-
ração da Saúde- a promoção da saúde deve ser inclusiva e equitária,
na qual devem abranger as questões socioambientais, econômicas e
culturais em que os adolescentes estão inseridos, visto que a maior
concentração destes é na escola (BRASIL, 2010). Nesta perspectiva,
o modelo socioeducacional, para articulação da saúde nos adolescen-
tes, mostra-se um dos mais efetivos, uma vez que articulam entre pro-
fissionais da saúde, os quais transmitem seus conhecimentos a res-
peito da temática- de maneira clara e unidimensional- e os adolescen-
tes, os quais estão inseridos nesse meio e tornar-se-ão facilitadores
desses conhecimentos em seus núcleos familiares, educativos e so-
ciais (PERMINIO et al., 2022).
Outrossim, entende-se que a prevenção em saúde é um con-
junto de fatores que visam evitar com que o paciente venha a adoe-
cer ou piorar de seus sintomas/doenças. (DEPALLENS et al., 2020).
Na adolescência, a prevenção é focada, principalmente, em educação
em saúde com profissionais da área e o público-alvo, fazendo-os pon-
derar sobre diversas temáticas, por exemplo: gravidez na adolescên-
cia, infecções sexualmente transmissíveis, em que os torna protago-
nistas durante as temáticas, exercitando seus conhecimentos adquiri-
dos (DE OLIVEIRA et al., 2022).
Desta forma, uma das estratégias de promoção da saúde e
prevenção de doenças que podem ser adotadas é a atuação nos es-
paços de convívio e integração dos adolescentes, ou seja, a família, a
comunidade, o ambiente escolar e os demais cenários por onde eles
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 711

circulam e estabelecem suas normas de convivência. Dentre esses, a


escola é um espaço de relações ideal para o desenvolvimento de pen-
samento crítico e reflexivo, na medida em que contribui para a cons-
trução de valores pessoais, crenças, conceitos e maneiras de conhe-
cer o mundo, interferindo diretamente na produção social da saúde. 
O Programa Saúde na Escola (PSE) instituído em 2007 através do
decreto nº 6286 (BRASIL, 2007) tem-se constituído como ferramen-
ta que integra ações de educação e de saúde com finalidade de con-
tribuir para a formação dos estudantes por meio de ações de promo-
ção da saúde e prevenção de doenças, por contribuir para o fortaleci-
mento de ações na perspectiva do desenvolvimento integral e propor-
cionar à comunidade escolar a participação em programas e projetos
que articulam saúde e educação, para o enfrentamento das vulnerabi-
lidades que comprometem o pleno desenvolvimento dos adolescen-
tes (BRASIL et al., 2017).
As atividades de promoção da saúde e prevenção de doenças
no cotidiano das escolas ocorrem por integração com as unidades de
Atenção Primária à Saúde (APS), por sua atuação de base territorial
e critérios de vinculação das escolas às unidades de APS, previamen-
te estabelecidos pelos gestores municipais.  A APS estabelece o pri-
meiro contato, cria estratégias de intervenção com base no diagnósti-
co das necessidades de saúde e realiza ações com foco em orienta-
ções/informações que podem ser capazes de produzir mudanças no
comportamento e no entendimento acerca dos diferentes aspectos re-
lacionados ao processo saúde doença dos adolescentes. 
Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência de acadê-
micos de enfermagem no desenvolvimento de ações de promoção da
saúde, prevenção de doenças e abordagem integral para os adoles-
centes.

RELATO DA EXPERIÊNCIA

Trata-se de um relato de experiência, realizado por 7 acadê-


micos de enfermagem da Universidade Federal do Pará.  A Unidade
de APS, cenário da ação, para atuação dos discentes fica localizada
em bairro periférico do Município de Belém, no Estado do Pará, sen-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 712

do campo frágil para desenvolvimento do processo ensino-aprendiza-


gem que envolve a linha de cuidado de adolescentes, por não ter ativi-
dades voltadas para esse público, grupos de promoção da saúde, as-
sim como, via de regra só atender demandas espontâneas que aces-
sam o serviço, na sua maioria já apresentando algum problema de
saúde.  No entanto, no território da unidade de saúde existe uma es-
cola municipal, pela qual está responde no tocante ao desenvolvimen-
to de ações de promoção da saúde e prevenção de doenças. O docen-
te responsável pela atividade curricular, visando otimizar a prática de
ensino e o aprendizado dos discentes, em articulação com a direção
da unidade de APS e escolar assumiu o desafio de realizar ações de
promoção da saúde, prevenção de doenças e abordagem integral dos
adolescentes vinculados à unidade escolar. Para isso, criou com apoio
das discentes estratégias de integração e intervenção para atender de
forma individual e coletiva os alunos matriculados na escola, respei-
tando todos os protocolos de prevenção à COVID-19.
A realização da atividade ocorreu entre os meses de outubro
e dezembro de 2021, às terças e quartas feiras e envolveu um total
de 153 adolescentes. Os alunos foram agendados por turmas e tur-
nos (matutino e vespertino), respeitando critérios definidos pela dire-
ção da escola que tinham por objetivo não trazer prejuízo para o pro-
cesso ensino aprendizagem dos alunos, já prejudicado pela pande-
mia por COVID-19, como: turmas sem professor para atividade pro-
gramada para o turno ou com professor, mas que tivesse aceite. O
quadro 1 relaciona os parâmetros utilizados para avaliação global
dos adolescentes.
A avaliação global individual envolveu aspectos do crescimen-
to e do desenvolvimento e foi realizada com apoio de um instrumento
construído no Microsoft Excel pelo docente responsável pela discipli-
na, abarcando dados sociodemográficos e parâmetros de avaliação
do crescimento e do desenvolvimento. Cabe salientar que buscou
respeitar elementos biopsicossociais presentes em normativas que
orientam a atenção integral ao adolescente (BRASIL, 2013; BRASIL,
2014).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 713

Quadro 1 - Parâmetros para avaliação global do adolescente no am-


biente escolar.
Crescimento do (a) Adolescente
Peso
Altura
Índice de Massa Corporal
IMC x Idade
Altura x Idade
Frequência Cardíaca
Frequência Respiratória
Dados do Exame Físico
Achados físicos relacionados a violência física e/ou sexual
Desenvolvimento do (a) Adolescente
Avaliação baseada na Escala de Tanner
Menarca
Polução
Aparecimento de espinha e pelos pubianos
Relacionamentos interpessoais saudáveis
Uso esporádico ou frequente de bebida alcoólica
Uso esporádico ou frequente de tabaco
Uso esporádico ou frequente de outras drogas
Satisfação com o próprio corpo
Sinais de sofrimento físico ou psíquico
Início da atividade sexual
Fonte: Os autores, 2023.

A avaliação global individual foi precedida de uma primeira


orientação pelo docente responsável pelos acadêmicos de enferma-
gem, que buscou tranquilizar os adolescentes e externar o quanto o
momento era oportuno para eles tirarem suas dúvidas e terem uma
maior compreensão sobre os diferentes aspectos que poderiam afe-
tar a sua saúde. 
Reitera-se, que no instrumento utilizado além das informações
relacionadas à avaliação global individual, existia espaço para obser-
vações e itens específicos para a classificação de risco e vulnerabili-
dade dos adolescentes. Essa ocorreu por cores, sendo a “vermelha”
indicativa de necessidade de encaminhamento para atenção com pro-
fissional médico ou outro profissional na APS ou outro ponto da Rede
de Atenção à Saúde (RAS), a “amarela” de reagendamento para se-
guimento de acompanhamento pelos acadêmicos de enfermagem na
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 714

unidade de APS e a “verde” identificando sinais dentro da normalida-


de, cujo foco do cuidado deveria ser pautado em informação e orienta-
ção voltados para promoção da saúde e prevenção de doenças. 

RESULTADOS

As atividades realizadas na escola tiveram como foco a pro-


moção da saúde e prevenção de doenças, além de avaliar aspectos
de crescimento e desenvolvimento, através de uma avaliação global.
Tal avaliação contava com anamnese e exame físico, realizado com o
apoio de instrumento construído no Microsoft Excel pelo docente res-
ponsável, englobando dados sociodemográficos e parâmetros de ava-
liação do crescimento e desenvolvimento.
Está descrito na tabela 1 a distribuição de adolescentes ava-
liados, com idades entre 11 e 18 anos, mínima e máxima, respecti-
vamente; é possível observar que a maioria dentre os avaliados é do
sexo masculino (82=53,5%) e a faixa etária entre 12 e 14 anos possui
maior proporção (114=74,5%).

Tabela 1 - Relação de adolescentes da unidade escolar, distribuídos


por idade e sexo.
Idade Masculino Feminino Total
>10 e < 11 0 0 0
>11 e < 12 5 10 15
>12 e < 13 18 12 30
>13 e < 14 24 13 37
>14 e < 15 23 24 47
>15 e < 16 8 7 15
>16 e < 17 4 4 8
>17 e < 18 0 1 1
Total 82 71 153
Fonte: Os autores, 2023.

Na tabela 2 visualizamos a identificação de alterações realiza-


das com base na anamnese e no exame físico e com o emprego do
parâmetro IMC x idade, obtendo assim o resultado de 45 adolescen-
tes com alteração, sendo 7 com magreza, 23 com sobrepeso e 15 com
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 715

obesidade. Ao avaliarmos a Altura x Idade apenas 4 alunos apresen-


taram sinais de alteração, sendo 3 com baixa estatura e 1 com muito
baixa estatura. Os demais parâmetros avaliados a partir do exame fí-
sico não apresentaram alterações significativas.

Tabela 2 - Relação de alterações identificadas durante anamnese e


exame físico.
Violência física, sexual
IMC X IDADE ALTURA X IDADE
e/ou maus tratos
Muito baixa Baixa
Magreza Sobrepeso Obesidade Sim Não
estatura Estatura
7 23 15 1 3 11 142
Fonte: Os autores, 2023.

Dentre os adolescentes, apenas um não pode ser avaliado


quanto aos aspectos que podem comprometer o crescimento e de-
senvolvimento, os demais demonstraram aceitação e compreensão
acerca das perguntas disparadas.
Durante a abordagem os adolescentes foram indagados so-
bre o uso de drogas (bebidas alcoólicas, tabaco, drogas psicoativas),
onde a maioria afirmou não fazer uso de nenhum tipo de substância,
quanto aos que afirmaram o contato, foram alertados sobre os riscos
para a saúde, seja no uso frequente ou esporádico.
Observou-se que a maioria dos jovens relataram evolução no
quadro de desenvolvimento puberal com relatos de primeira menarca
ou espermarca; aparecimento de espinhas, pelos pubianos; mudan-
ças na voz; crescimento físico; e aumento das mamas. Do total de alu-
nos, 14 relataram início da atividade sexual, sendo 8 do sexo masculi-
no e 6 do sexo feminino, sendo orientados quanto as formas de prote-
ção contra IST e risco de gravidez indesejada (tabela 3).

Tabela 3 - Relação de adolescentes por parâmetros do desenvolvi-


mento analisados.
Não foi possí-
Parâmetros do Desenvolvimento Presente Ausente
vel avaliar
Menarca ou polução? 96 56 1
Aparecimento de espinhas? 94 58 1
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 716

Aparecimento dos pelos pubianos? 129 23 1


Relacionamentos interpessoais saudáveis? 135 17 1
Refere uso esporádico ou frequente de bebida
19 133 1
alcoólica?
Refere uso esporádico ou frequente de tabaco? 5 147 1
Refere uso esporádico ou frequente de outras
1 151 1
drogas?
Demonstra satisfação com o próprio corpo? 104 48 1
Apresenta sinais de sofrimento físico ou psíquico? 23 129 1
Início da atividade sexual? 14 135 1
Fonte: Os autores, 2023.

Após todas as avaliações globais realizadas, junto às orienta-


ções individuais e coletivas feitas necessárias durante a abordagem
para que se sanassem dúvidas e se fomentasse o acréscimo de infor-
mações em saúde, procedeu-se a classificação de risco (verde, ama-
relo, vermelho). Assim, 93 adolescentes foram classificados com ris-
co verde, 41 com risco amarelo e 19 com risco vermelho. Os classi-
ficados com risco em amarelo e vermelho (n=60) foram agendados
para seguimento do atendimento na APS pelos acadêmicos de enfer-
magem ou outros profissionais da APS e RAS, a partir de instrumento
construído para esta finalidade.

DISCUSSÃO

Compreende-se que a promoção de saúde gera benefícios que


garantem a amplitude do conhecimento, do autocuidado e da autono-
mia dos indivíduos, o que facilita a mudança nos determinantes so-
ciais e aguça a participação ativa dos indivíduos da comunidade em
atuações de políticas públicas. Estes, devem ser enxergados em suas
particularidades e o processo de saúde deve ser visto como um con-
junto de bem-estar físico, mental e social (SILVA, 2020).
O período da adolescência configura um momento de muitas
mudanças cognitivas, sociais, emocionais e físicas, o que embasa a
importância da devida atenção à saúde desse público em prol da pre-
venção de riscos. Se faz necessário o investimento significativo na
saúde e na educação dos adolescentes, visando garantir o bem-estar
desde a etapa da adolescência à vida adulta (BARBIANI, 2020).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 717

As ações de saúde no ambiente escolar possuem uma grande


capacidade de alcance dos jovens. Sendo este método, um forte alia-
do na prevenção de doenças e no ato educacional, onde os jovens en-
tendem a importância de receberem a assistência de saúde e o acom-
panhamento integral. As ações de saúde favorecem também que o
adolescente se desenvolva e adentre na vida adulta mais apto a atuar
em comunidade, além de prevenir que o mesmo ingresse em hábitos
prejudiciais para as demais fases da vida, garantindo um impacto be-
néfico a saúde do adolescente (OPAS, 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante disso, evidencia-se a importância da promoção da saú-


de em lugares de convívio social, neste caso, o ambiente escolar, por
se tratar de um cenário em que pôde-se trabalhar com o público ado-
lescente, pois é nesse período que ocorrem mudanças significativas
em relação ao crescimento e desenvolvimento que caracterizam a
transição para a fase adulta. Sendo assim, há a necessidade de aten-
ção e de promoção de cuidados para a prevenção de doenças nessa
faixa etária, proporcionado através de educação em saúde.
A ação, a qual ocorreu por meio do uso de tecnologias leves,
garantiu a avaliação global dos adolescentes e uma melhor análise
pelos discentes no que concerne às medidas tomadas diante dos ca-
sos observados. Tais medidas ocorreram por meio de orientações e
explicações ou, quando e se necessário, a intervenção multiprofissio-
nal junto à APS ou a RAS.
A partir dos resultados obtidos, confirma-se o impacto positivo
da educação em saúde aos adolescentes, uma vez que as medidas
adotadas pela equipe podem surtir efeitos a longo prazo na vida dos
adolescentes, além de contribuir com grande aprendizado para a vida
profissional e acadêmica dos discentes.

REFERÊNCIAS

ALVARES, Poliane Dutra. et al. Efeitos da puberdade no desempenho


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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 718

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 720

CAPÍTULO 51

PRÓ-SAÚDE: GINÁSTICA RÍTMICA

PRÓ-SAÚDE: RHYTHMICGYMNASTICS

Camile Baldoni de Oliveira


Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Educação Física e Desportos
Santa Maria – RS
camilebaldoni@gmail.com

Gisele Costas dos Santos


Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Educação Física e Desportos
Santa Maria – RS
costagisele0202@gmail.com

RESUMO
Este estudo é um relato de experiência das ações desenvolvidas
pelo projeto AVALIAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE EXERCÍCIOS FÍSI-
COS PARA PESSOAS COM DOENÇAS CRÔNICAS DEGENERATI-
VAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT) E GESTANTES DA CIDADE DE
SANTA MARIA RS, que em 2022 expandiu para as modalidades infan-
tis como ginástica rítmica. O intuito com o presente trabalho é apre-
sentar a atuação multidisciplinar na ginástica rítmica realizada atra-
vés da turma do Pró-Saúde no ano de 2022. Bem como a importância
para a universidade e para a comunidade a realização destas ações.
Palavras-chave: Saúde; Ginástica rítmica; Relatos

ABSTRACT
This study is an experience report of the actions developed by the proj-
ect EVALUATIONS AND GUIDELINES ON PHYSICAL EXERCISES
FOR PEOPLE WITH NON-COMMUNICABLE CHRONIC DEGENER-
ATIVE DISEASES (NCD) AND PREGNANT WOMEN IN THE CITY
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 721

OF SANTA MARIA RS, WHICH IN 2022 EXPANDED TO CHILDREN’S


MODALITIES SUCH AS RHYTHMIC GYMNASTICS. THE purpose of
this work is to present the multidisciplinary performance in rhythmic
gymnastics carried out by the Pró-Saúde group in the year 2022. As
well as the importance for the university and the community of carry-
ing out these actions.
Keywords: Health; rhythmic gymnastics; reports

Introdução

O presente relato de experiência é resultado das ações desen-


volvidas pelo projeto AVALIAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE EXERCÍ-
CIOS FÍSICOS PARA PESSOAS COM DOENÇAS CRÔNICAS DE-
GENERATIVAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT) E GESTANTES DA
CIDADE DE SANTA MARIA RS, que em 2022 expandiu para as moda-
lidades infantis como ginástica rítmica. O corrente projeto está regis-
trado no SIE sob o número 050342. Com a coordenação da professo-
ra Luciane Sanchotene Etchepare Daronco, líder NEMAEFS e docen-
te da UFSM, com o siape 1514369 e o cref 001447.
Uma parceria entre a prefeitura de Santa Maria, Secretaria do
Esporte e Lazer, Universidade Federal de Santa Maria e Escola de
Ginastas Roberta Padilha. Em setembro de 2022 as modalidades do
projeto se expandiram para abranger a comunidade infantil da cidade,
oferecendo ginástica rítmica, treinamento funcional e dança, gratuita-
mente, para estudantes matriculados na rede pública de ensino. O in-
tuito deste artigo é apresentar a atuação multidisciplinar na ginástica
rítmica realizada através da turma do Pró-Saúde de setembro de 2022
a dezembro de 2022.
A ginástica é uma manifestação corporal que acolhe um universo
de possibilidades práticas que variam de acordo com o contexto inseri-
do, finalidades e características específicas de cada modalidade. Sen-
do desde uma prática de lazer até o alto rendimento de uma das mo-
dalidades competitivas. As ginásticas são subdivididas em: competição,
demonstração, fisioterápica, condicionamento físico e conscientização
corporal. A ginástica rítmica é uma modalidade dentro das ginásticas
de competição, ao lado da artística, acrobática, aeróbica e trampolim.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 722

Promovendo o desenvolvimento das capacidades físicas e habilidades


perceptivo-motoras fundamentais não só para a prática das ginásticas,
mas também para a formação do indivíduo, qualidade de vida e saúde.
Apresentar a opção de fazer ginástica rítmica e trazer para a re-
alidade dos estudantes de escolas públicas foi fundamental para esti-
mular o interesse na modalidade que até então era desconhecida pela
maioria ou que não viam como uma alternativa viável por fatores so-
cioeconômicos. Os benefícios da prática esportiva para as crianças e
adolescentes não se restringem a área física, mas também nos âmbi-
tos sociais e emocionais. Promover atividade física na infância signi-
fica criar hábitos e base sólida para a diminuição do sedentarismo na
idade adulta, melhor controle das doenças crônicas e contribuir para
uma melhor qualidade de vida de forma preventiva.
Os conteúdos abordados nas aulas de ginástica rítmica leva-
ram em consideração a faixa etária das crianças, nível de aprendiza-
gem e ludicidade. Com encontros lúdicos que estimulem a curiosida-
de, interação e socialização. Também foi realizado oficinas com ou-
tras turmas em parcerias com colegas afim de apresentar esportes
contemporâneos que as crianças não sabiam que existiam como líder
de torcida, ginástica artística e parkour.
Foi muito importante a participação e o retorno das famílias, que
estiveram presentes nos eventos e no dia a dia incentivando e apoian-
do as crianças neste processo de aprendizagem na ginástica rítmica. O
alinhamento das aulas ao diálogo entre atletas, familiares e professoras
foi essencial para o sucesso da turma. A divulgação da nova modalida-
de do projeto foi quase toda por uma amiga chamando a outra, a turma
cresceu por apoio da comunidade e o trabalho em equipe.
Portanto, a carência de políticas públicas direcionadas ao públi-
co no município de Santa Maria e a necessidade de formar profissionais
da área da saúde capazes de trabalhar nesses grupos de maneira mul-
tidisciplinar motivou a formação do projeto. Profissionais da educação
física, enfermagem, nutrição, medicina, terapia ocupacional, nutrição, fi-
sioterapia e dança unidos pela mesma causa. Este artigo apresenta a
atuação multidisciplinar na ginástica rítmica realizada através da turma
do Pró-Saúde no ano de 2022. Bem como a importância para a univer-
sidade e para a comunidade a realização destas ações.
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Identificação do local da monitoria

Situado na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, na rua


Appel. No bairro Nossa Senhora de Fátima, com o CEP: 97015140. O
espaço no Centro Desportivo Municipal foi cedido pela prefeitura para
a realização das aulas da turma do Pró-Saúde de ginástica rítmica do
Núcleo de Estudos em Medidas e Avaliação dos Exercícios Físicos e
Saúde. Em contrapartida a Universidade Federal de Santa Maria dis-
ponibilizou acadêmicos estagiários para ministrar os encontros. A res-
ponsável técnica pela coordenação foi a professora Luciane Sancho-
tene Etchepare Daronco, líder NEMAEFS e docente da UFSM, com o
siape 1514369 e o cref 001447. As acadêmicas voluntárias na monito-
ria de ginástica rítmica foram a estudante de Educação Física Bacha-
relado da UFSM, Camile Baldoni de Oliveira e a acadêmica de Educa-
ção Física Licenciatura da UFSM, Gisele Costas dos Santos.
As aulas ocorreram na sala de tatame, ao lado da lateral do gi-
násio principal. No horário de sábado que geralmente a quadra estava
desocupada foi utilizado o espaço principal também. Além de que os
dias com eventos ou manutenção da sala de tatame, visto a impossi-
bilidade de usar o ambiente para as aulas, foram para o último ginásio
em que aconteciam os treinos da equipe de líder de torcida da UFSM
dirigidos pela capitã Camile Baldoni de Oliveira. O cuidado que tínha-
mos era as crianças neste local era não saírem do tatame sem calça-
do, pois o ginásio era velho e precário.
As aulas foram realizadas sábado de manhã das 9h às 12h, ter-
ça de manhã 10h às 12h. As inscrições foram presenciais no primei-
ro dia de aula com a presença do responsável da criança para assinar
a autorização da prática esportiva, uso de imagem para divulgação do
projeto nas mídias sociais e trabalhos acadêmicos, atestado médico e
matrícula do colégio.

Recepção aos praticantes e acompanhamento das aulas

As crianças e adolescentes foram recepcionados na arquiban-


cada do ginásio principal em que foi realizado o acolhimento, avisos e
informes sobre as atividades das aulas, com a presença das monito-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 724

ras. Depois se dirigiam ao local das aulas, o lanche das 10h e 15min
às 10h e 30 min. Saídas ao banheiro ou ao bebedouro eram acompa-
nhados por alguma das monitoras, devido a distância entre o local de
treino e o banheiro e\ou bebedouro.
No âmbito dos processos criativos e os esportes, a ginástica rít-
mica é uma modalidade que engloba os dois fatores. Um esporte mui-
to complexo e com uma rica diversidade de movimentos que possibili-
tam as construções de coreografias ambientadas nos processos cria-
tivos. Desde a escolha da música e a temática até as dificuldades que
caracterizam a modalidade baseada no seu código de pontuação. Co-
laborando para a construção de um meio infantil saudável, com res-
peito e amizade para o processo de crescimento e desenvolvimento
da criança.
Ao chegar no ambiente de aula, as (os) ginastas retiram os
calçados, guardam suas mochilas e materiais próximo do espaço. O
aquecimento é realizado com músicas infantis ou brincadeiras, desen-
volvendo as capacidades e habilidades físicas essenciais para sua
formação humana e esportiva. Entre as mais utilizadas, destacam-se
“nunca três”, “passa manteiga” e “pega-pega”. A musicalização infan-
til se faz presente não só no aquecimento, mas no alongamento e nas
demais atividades da aula, colaborando para a expressividade e os
processos criativos. Além de deixar a aula mais interessante e motiva-
da para as crianças também atuando com a multidisciplinariedade en-
globando profissionais da dança no processo criativo.

Aparelhos

Na ginástica rítmica é utilizado os aparelhos corda, bola, arco,


maças e fita. Visando a acessibilidade e a inclusão, foi realizado as au-
las com aparelhos alternativos como lenços, balões e cordas infantis.
Promovendo estímulos lúdicos e visuais característicos da modalida-
de aliados ao ritmo e a coordenação.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 725

Dificuldades corporais

Tabela 1 – Dificuldades Corporais


Categoria Salto Equilíbrio Rotação Pré-acrobático Deslocamento

Baby Esten- Passé (perna à frente Caminhada na


Chainé Dois pés na cabeça
4 a 5 anos dido sem meia ponta) meia ponta
Mirim Passé (perna à frente
“gatinho” Croquete Vela Chassé lateral
6 a 8 anos sem meia ponta)
Pré-infantil Ponte (pode ser
9 e 10 Tesoura Passé Passé executada de cima Skip
anos ou de baixo)
Infantil Chassé frontal
Avião (Sem meia
11 e 12 Parafuso Passé Rolo para frente alternando as
ponta)
anos pernas
Juvenil
Amazo- Skip chassé alter-
13 e 14 Cossaco Passé Estrelinha
nas nado
anos

Na ginástica rítmica é considerado dificuldades corporais as


habilidades de salto, equilíbrio e rotação, além dos pré-acrobáticos,
expostos na tabela 1. As dificuldades corporais e as dificuldades dos
passos de dança são comuns, ou seja, são presentes tanto nos indivi-
duais como nos conjuntos (e ainda trios ou duplas). Incluindo somente
elementos que a (o) ginasta consegue executar com segurança e alto
grau de eficiência estética e técnica.
As dificuldades exigem o desenvolvimento das capacidades de
força, equilíbrio, flexibilidade, resistência, velocidade, agilidade, coor-
denação. Nas categorias baby e mirim foi determinado alguns educa-
tivos para as dificuldades como as listadas na tabela 1 para as coreo-
grafias construídas nos eventos internos. Dessa forma, visando o pro-
cesso de desenvolvimento e aprendizagem da (o) ginasta.
Nos primeiros dez anos de vida, as crianças desenvolvem as
habilidades motoras básicas de estabilidade (flexionar, equilibrar, gi-
rar, estender, posições invertidas), locomotoras (andar, correr, saltar,
saltitar, escorregar, escalar, rolar, desviar) e manipulativas (arremes-
sar, quicar, chutar, lançar, rebater, cabecear, agarrar, rolar a bola).
Além de que o código de pontuação cita quatro tópicos para a
validação das dificuldades corporais. A primeira é estar conforme as
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 726

exigências técnicas descritas nas tabelas de dificuldade (foi adaptado


as dificuldades baby\mirim para educativos nos eventos internos da
escola), com no mínimo um elemento técnico fundamental do apare-
lho e\ou elemento técnico não fundamental do aparelho (não é o caso
da turma por se apresentarem com mãos livres), sem faltas técnicas
graves ( 0,30 pontos ou mais) e a repetição da mesma forma não é vá-
lida exceto no caso de série de salto e rotação (esta última questão a
atenção especial vai para as categorias que realizam o equilíbrio fou-
etté ou italiano para não colocarem uma das mesmas formas de novo
no decorrer da apresentação).

Atividades desenvolvidas

APRESENTAÇÕES NAS ESCOLAS

Com o objetivo de divulgar a modalidade, as aulas gratuitas no


Centro Desportivo Municipal e a importância do exercício físico para
a qualidade de vida, foram realizadas apresentações nas escolas de
rede pública de ensino. Tivemos pouco tempo de treino e foi feita uma
coreografia com alongamentos e elementos da ginástica rítmica.

JESMA

A ginástica rítmica esteve presente pela primeira vez nos Jo-


gos Escolares de Santa Maria no dia 29 de outubro de 2022 em forma-
to de aula aberta. O evento teve participação de oito ginastas da tur-
ma do Pró-Saúde que amaram a aula ministrada pela Roberta Padi-
lha da Escola de Ginastas e as apresentações da equipe de alto ren-
dimento que representa Santa Maria no cenário competitivo na ginás-
tica rítmica.

COPA AMISTOSA TAPETE MÁGICO

Também no dia 29 de outubro ocorreu a Primeira Copa Amisto-


sa Tapete Mágico, com a presença do Colégio Franciscano Sant’An-
na, Escola de Ginastas Roberta Padilha, ACETEGR\ prefeitura de El-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 727

dorado do Sul, equipe de Líder de Torcida da UFSM e turma de ginás-


tica rítmica do Pró-Saúde com uma apresentação de gala.

JORNADA ACADÊMICA INTEGRADA

Apresentação de trabalho acadêmico em formato de banner na


37ª Jornada Acadêmica Integrada da Universidade Federal de Santa
Maria com o resumo “Ginástica rítmica para crianças e adolescentes
da rede pública de ensino”.

DESCUBRA UFSM

Nos dias 1, 2 e 3 de dezembro de 2022 foi realizado o Descu-


bra UFSM que recebeu na instituição milhares de visitantes para mos-
trar os cursos, serviços, oportunidades e ações que a Universidade
Federal de Santa Maria oferece. Entre eles, no espaço multiuso foi re-
alizada apresentação da turma de ginástica rítmica do Pró-Saúde com
os elementos aprendidos no semestre.

Considerações finais

O processo de formação e transformação de aprendizagem de-


senvolvido no projeto AVALIAÇÕES E ORIENTAÇÕES DE EXERCÍ-
CIOS FÍSICOS PARA PESSOAS COM DOENÇAS CRÔNICAS DE-
GENERATIVAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT) E GESTANTES DA
CIDADE DE SANTA MARIA RS, na modalidade infantil de ginástica rít-
mica um período de muito crescimento tanto para as ginastas como
os profissionais envolvidos. Pela primeira vez na cidade foi pensado
e ofertado para os estudantes matriculados em rede pública, a ginás-
tica rítmica.
O primeiro contato com a modalidade focado na saúde e na
qualidade de vida das crianças e adolescentes foi encantador. Desper-
tar a curiosidade e estimular a importância do esporte na vida de cada
indivíduo desde a infância. Espera-se dar visibilidade e destacar a re-
levância para a cidade de Santa Maria e a comunidade acadêmica a
realização destas ações.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 728

Referências Bibliográficas

DE SOUZA, E.P.M. GINASTICA GERAL: Uma área do conhecimento


da Educação Física. 1997
GALLAHUE; OZMUN. Compreendendo o desenvolvimento motor.
2005.
Camile Baldoni de Oliveira. (2023). LÍDER DE TORCIDA E MÚLTI-
PLOS DESAFIOS. Revistaft, 27(121), 90.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 729

CAPÍTULO 52

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

REDUCTION OF THE CRIMINAL MAJORITY

Jaqueline Rodrigues Barroso


ASSOCIAÇÃO PIRIPIRIENSE DE ENSINO SUPERIOR-APES
CHRISTUS FACULDADE DO PIAUÍ-CHRISFAPI
PIRIPIRI- PIAUÍ
0009-0005-4337-3901

William Silva Sampaio do Nascimento


ASSOCIAÇÃO PIRIPIRIENSE DE ENSINO SUPERIOR-APES
CHRISTUS FACULDADE DO PIAUÍ-CHRISFAPI
PIRIPIRI- PIAUÍ
O0009-0000-6839-8631
williamsilva.03@outlook.com

RESUMO
A presente pesquisa dispõe sobre o intento de crianças e adolescen-
tes na prática de atos infracionais. Ademais, a pesquisa discute a pre-
missa de que as ações dos jovens são responsabilizadas de maneira
branda, gerando revolta social e um acréscimo no número de meno-
res infratores. Desse modo, o estudo buscou apresentar um caso real
de uma infração cometida por menor que chocou o país inteiro por sua
crueldade, demonstrando as rasas medidas impostas aos atos bárba-
ros cometidos por jovens infratores, comparando as mesmas ações
com sanções impostas a adultos. Diante disso, analisa-se as falhas
nas medidas socioeducativas, resultando na importância de trazer de
volta à discussão a Proposta de Emenda à Constituição (171/1993)
para a redução da maioridade penal no Brasil.
Palavras-chave: Menores infratores. Atos infracionais. Medidas so-
cioeducativas. PEC.
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ABSTRACT
This research deals with the intention of children and adolescents
in the practice of infractions. In addition, the research discusses the
premise that the actions of young people are held accountable in a mild
way, generating social revolt and an increase in the number of juvenile
offenders. Thus, the study sought to present a real case of an offense
committed by a minor that shocked the entire country for its cruelty,
demonstrating the shallow measures imposed on barbaric acts com-
mitted by young offenders, comparing the same actions with sanctions
imposed on adults. In view of this, failures in socio-educational mea-
sures are analyzed, resulting in the importance of bringing back to the
discussion the Proposed Amendment to the Constitution (171/1993) to
reduce the age of criminal responsibility in Brazil.
Keywords: Juvenile offenders. Offense acts. Educational measures.
PEC

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como ponto de partida, a discussão acerca


da violência no Brasil causada pelos menores infratores, uma realida-
de que está ligada à proteção do estatuto da criança e do adolescen-
te (ECA), este conjunto de normas que impõe medidas brandas de pu-
nição, que perante os jovens, contribui para o crescimento da violên-
cia. Frequentemente, crianças e adolescentes migram para o crime or-
ganizado, dentre eles, os crimes hediondos ou equiparados a hedion-
dos, como homicídios e tráfico de drogas, esse quadro traz um incon-
formismo por parte a sociedade, ciente da problematização da men-
cionada impunidade.
O debate apresentado por este estudo está em discussão des-
de 1993, iniciado em Brasília pelos deputados, com a PEC 171/1993,
que alteraria o artigo 228 da Constituição Federal, o qual afirma que
todo indivíduo menor de 18 anos é inimputável. Com a aprovação da
PEC, haveria a redução da maioridade para 16 anos. A mesma ainda
não foi aprovada, deste modo, é extremamente necessário levar essa
discussão para a sociedade, anseia-se, no entanto, que os represen-
tantes políticos retomem a discussão da PEC no congresso nacional.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 731

Em um contexto social, trata-se de um assunto muito polemiza-


do. A redução da maioridade penal teria uma eficácia sobre a violên-
cia, reduzindo a participação de menores na criminalidade? Nessa vi-
são os menores que praticarem uma infração seriam responsabiliza-
dos incisivamente pela ilegalidade cometida, desmistificando a ideia
de que o crime compensa?
Este estudo tem como objetivos gerais a discussão acerca das
falhas na aplicação das medidas socioeducativas, pois as ações dos
menores por mais perigosas que sejam sofrem reprimendas estatal
aquém do esperado por boa parte da sociedade, levando em conside-
ração as sanções aplicadas aos adultos por cometimentos de ações
delituosas equivalentes, tornando assim necessária a discussão da
mencionada falha. Em se tratando dos objetivos específicos analisa-
-se, os índices de criminalidade cometidos por menores, bem como,
reincidência, periculosidade, e o grave nível da infração, baseando o
argumento da redução da maioridade penal por meio da doutrina exis-
tente no que tange o atual discernimento psicossocial das crianças e
adolescentes.
Para a construção deste trabalho acadêmico foi empregado
o método de pesquisa bibliográfica. Para Gil (2002 p. 44), a pesqui-
sa bibliográfica “é desenvolvida com base em material já elabora-
do, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Deste
modo, inserindo os entendimentos de doutrinadores, jornais, revis-
tas e pesquisas voltadas ao tema, apresentando referência, e des-
tacando-as. Como cita, Eduardo C. B. Bittar, no livro Metodologia
da pesquisa jurídica, “Só há conhecimento com reconhecimento”.
E nessa mesma linha ideológica, reconhece-se as diversas men-
tes que complementam o estudo, faz-se com que o trabalho se tor-
ne amplo e repleto de argumentos que embasam e defendem o re-
ferido conteúdo.
Portanto, reflete-se que é preciso entender que há motivos re-
levantes para a diminuição da maioridade penal, a qual leva boa par-
te dos brasileiros a se sentirem num país em que a punição é definida
pela idade, sem considerar a gravidade da infração, deste modo, al-
guns jovens buscam adentrar ao cenário do crime, visto que, a justiça
da Vara da Infância os responsabiliza de maneira tênue.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 732

Portanto, o tema se mostra pertinente e predominante, já que


traz um olhar bastante discutido socialmente, sendo relevante tanto
para a sociedade como para a comunidade acadêmica.

2- CASOS

Um caso emblemático de um crime bárbaro que comoveu o


Brasil e traz à tona a discussão da redução da maioridade penal acon-
teceu em 2003, em que “Champinha”, apelido de Roberto Aparecido,
na época considerado adolescente com idade de 17 anos, sequestrou,
violentou sexualmente, torturou e matou o casal Liana Friendenbach e
Felipe Silva Caffé. O casal havia decidido passar um final de semana
acampando perto de um sitio abandonado em Embu-Guaçu-SP, em
uma estrada de mata, onde acabaram encontrando Champinha e seu
amigo, Pernambuco, os quais, numa primeira tentativa, tentaram re-
alizar apenas um roubo. Vendo que o casal não tinha dinheiro, resol-
veram sequestrar e torturar os dois. Na primeira noite, Liana foi estu-
prada; e na segunda noite, Felipe foi morto com um tiro na nuca. Após
isso, Champinha esfaqueou Liana várias vezes nas costas e no tórax,
mas ela morreu com traumatismo craniano, pois ele acabou acertando
a cabeça da moça com o lado cego da faca. Ao final, Champinha e o
comparsa foram capturados pela polícia. Esse fato teve grande reper-
cussão, já que os crimes cometidos por Roberto Aparecido são abomi-
náveis pela sociedade, entretanto, apesar das qualificadoras, Cham-
pinha. foi sentenciado a apena de 3 anos de internação na Fundação
Casa. Ele continua internado em uma unidade experimental de saúde.
Fazendo uma comparação, o seu comparsa, Pernambuco, maior de
18 anos, foi sentenciado com 110 anos e 18 dias pelos crimes igual-
mente cometidos por Champinha, que apenas recebeu 3 anos de in-
ternação na Fundação Casa. Assim, vemos um caso claro de falha do
sistema judiciário brasileiro. Diante desse episódio, versa-se sobre o
quão bárbaro pode ser uma infração cometida por um menor, e o ní-
vel de sua periculosidade em crimes extremamente violentos; todavia,
vê-se ainda a situação de medidas socioeducativa irrelevantes diante
das ações de menores, sobretudo se compararmos a condenação de
um criminoso maior de idade por um crime semelhante.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 733

Atualmente encontra-se este caso no seriado de TV “Investiga-


ção Criminal”, na plataforma de streaming Prime Video.
E outro caso específico que trouxe forte comoção que aconte-
ceu em Castelo do Piauí. No dia 27 de maio de 2015, quatro adoles-
centes, entre 15 e 17 anos, foram espancadas, estupradas, apedreja-
das, amarradas e jogadas de um penhasco de 10 metros de altura, os
autores desse crime bárbaro foram quatro menores e um homem iden-
tificado como Adão José de Sousa, de 40 anos. No dia do crime, as
garotas foram até ao local para tirar umas fotos para um trabalho es-
colar. Que neste local encontraram os cinco autores consumindo dro-
gas. Eles capturaram e deram início à tortura.
Uma das vítimas, a estudante na época conhecida pelo nome
Danielly R. na época tinha 17 anos, morreu em consequência da gran-
de violência, do politraumatismo- ela sobreviveu à queda, mas um dos
menores tentou matá-la com uma pedrada na cabeça, o que causou
afundamento da face
No dia 10 julho de 2015 foram julgados os quatro adolescen-
tes que foram acusados ato infracional de estupro, homicídio doloso
e tentativa de homicídio de acordo com a decisão, os menores tive-
ram que cumprir apenas três anos de medidas socioeducativas em um
Centro de Educacional Masculino (CEM). segundo o magistrado eles
foram condenados pelo ECA, O juiz reconheceu que eles praticaram
ativamente da ação.
Diferente dos adolescentes, no dia 28/02/2018 Adão José de
Sousa foi julgado pelo tribunal do Juri no fórum da cidade foi condena-
do a 100 anos e 8 meses de prisão com início regime fechado por ter
sido reconhecido como o mentor do estupro coletivo.

3- DAS SANÇÕES

A pena é uma medida imposta pelo Estado com o intuito de


proteger a sociedade do dano ou perigo de dano ao bem jurídico tute-
lado, através de procedimentos legais adequados, contra criminosos
que praticam atos típicos, ilícitos e culpáveis. Sendo assim, o Estado
punirá o indivíduo com determinadas sanções com intuito de reprimir
a ação, e evitar a reincidência.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 734

De acordo com o pensamento de Rogério Greco a respeito das


penas: A pena classifica-se como uma consequência natural que foi
devidamente imposta pelo estado, com resultado de sua conduta ile-
gal (GRECO, 2005, p. 542). Portanto frisa-se a importância da puni-
bilidade, para manter o sentimento de segurança perante a socieda-
de pelo cumprimento da lei, mas também na ótica do futuro do próprio
condenado. Na contramão desse pensamento, segundo o ECA, me-
nores de 18 anos são inimputáveis. Crimes elencados no código pe-
nal, se cometidos por pessoas entre 12 e 18 anos não serão caracte-
rizados como crime, de maneira que, não sejam passíveis de respon-
sabilização penal, o jovem é incapaz de compreender a gravidade de
um delito.
O art. 112, do Estatuto da Criança e do Adolescente estabele-
ce como medidas socioeducativas a advertência, a obrigação de repa-
rar o dano; a prestação de serviços à comunidade; a liberdade assis-
tida; a inserção em regime de semiliberdade; a internação em estabe-
lecimento educacional, além de outras medidas de proteção. Em rela-
ção aos adolescentes, a medida mais severa é a internação, cujo pra-
zo máximo é de 3 anos.” (GONÇALVES, Victor Eduardo Rios arts. 1º
a 120. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 161-162), assim
que concluídos, determinam a imediata colocação do adolescente em
liberdade, sendo considerada excepcional e breve, e conduz o ado-
lescente à custódia em estabelecimento próprio. Isso significa que, os
menores serão julgados de maneira distinta dos adultos. Tal premis-
sa contribui para o crescimento da criminalidade entre os jovens com
o ingresso no plano de medidas socioeducativas. Enquanto a socie-
dade observa que esses jovens estão cada vez mais perigosos, ainda
adolescentes, que conhecem e praticam os delitos de maneira cons-
tante, as infrações por eles praticadas tendem a crescer principalmen-
te pela falha na punição, assim, nesse sistema, esse menor concreti-
za a ideia da imputabilidade, o sujeito acaba criando certo conforto e
despreocupação em ser ou não responsabilizado, destaca-se que por
mais grave que seja sua infração, sua pena não ultrapassará 3 anos.
Esses ideais incentivam o menor a voltar ao crime. Tais afirmações es-
tão destacadas na pesquisa realizada pelos pesquisadores da PUG/
MG que consideraram como causa de reincidência a existência de re-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 735

gistro na Polícia Civil de ato infracional ou crime após cumprimento de


medida socioeducativa (“A reincidência juvenil no estado de Minas Ge-
rais”, 2018, PUC/MG).

4- FALHAS NAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Anterior à criação do ECA e ainda da Constituição Federal de


1988 o estado estabelecia medidas aos menores em situação irregu-
lar. O Código de Menores instaurado em 1927 determinava a retira-
da de crianças e adolescentes em situações irregulares, do âmbito fa-
miliar, pois acreditavam que esses menores poderiam ferir o equilí-
brio social. Em 1979 houve uma reformulação do Código de Menores,
porém ainda se equiparava a criminalidade com a situação de pobre-
za, esse pensamento feria os direitos da criança e do adolescente até
mesmo numa visão internacional. Dentre as medidas impostas ainda
em 1927 havia a chamada liberdade vigiada, que poderiam ser adqui-
ridas caso os menores atendessem aos requisitos impostos, descritos
no Art. 99 do Código de Menores de 1927:

Art. 99 - O menor internado em escola de reforma po-


derá obter Liberdade vigiada, concorrendo as seguintes
condições:
• si fór considerado normalmente regenerado.
• si estiver apto a ganhar honradamente a vida, ou tiver
meios de subsistencia em quem lhos ministre;
• si a pessoa ou familia, em cuja companhia tenha de vi-
ver, fôr considerada idonea, de modo que seja presumive
não commetter outra infracção.

Já no Código de Menores de 1979 o qual revoga o código an-


terior, a liberdade vigiada se transforma em liberdade assistida, porém
esses menores só sairiam dessa situação de internação se o Juiz de
Menores assim entendesse de soltá-lo (TV Brasilgov 2013).
Consta-se que a pregação aos direitos humanos da criança e
do adolescente desde essa época já trazia uma regularidade na ins-
tauração das medidas impostas aos menores infratores, a sanção im-
posta deve atender a dignidade e a justiça.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 736

Com a chegada da Constituição Federal de 88, considerada


como a Constituição Cidadã, surge o ECA rompendo as violações aos
direitos das crianças no país através dos artigos 227 e 228. As medi-
das socioeducativas trazidas pelo ECA posteriormente regulamenta-
das pela lei do SINASE (Sistema nacional de atendimento socioedu-
cativo) trazem a discussão de que as crianças e adolescentes não são
agentes perigosos e sim sujeitos de direito, porém essas medidas so-
cioeducativas previstas pelo ECA, as quais tem objetivo de ressocia-
lizar os infratores, para que os mesmos não voltem a cometer atos in-
fracionais, encontram imprecisões, há dados que comprovam que es-
sas determinações são ineficazes, e a ideia de que menores não são
perigosos não se confirma na real atualidade.
Em 2013 foram publicados relatórios do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) que apontaram falhas nas medidas socioeducativas de
todo o país, com a participação da Magistrada Mariana Gurgel, a qual
apresentou a informação coletada pelo CNJ e pelo Ministério da Jus-
tiça, mostrando que os estados membros e os municípios não imple-
mentam ainda as medidas exigidas pelo Sinase para ressocialização
dos infratores. De acordo com a magistrada, “As falhas identificadas
pela equipe do CNJ estão localizadas mais em como as medidas es-
tão sendo executadas do que no próprio sistema socioeducativo, tão
criticado”.
Outrossim, a pesquisa Panorama Nacional da Execução de Me-
didas de Internação, elaborada pelo Departamento de Pesquisas Judi-
ciárias (DPJ), do CNJ, em 2012, demonstra que quase 75% dos adoles-
centes em cumprimento de medida socioeducativa de internação são
usuários de drogas, sendo que a média na região Centro-Oeste chega
a 80%. A maconha é a droga mais usada, seguida pelo crack e pela co-
caína. De acordo com o relatório, a alta incidência de uso de psicoativos
pode estar relacionada à ocorrência dos atos infracionais.
Nesse mesmo pensamento, entende-se que essas medidas
devem ser mais incisivas, pois não demonstram grandes restrições.
Considerando isso, destaca-se que a perda da liberdade não implica a
perda dos direitos humanos, visto que a prisão não está em desfavor
dos direitos do cidadão, o único direito que lhe é retirado é o da liber-
dade, sendo resguardado de qualquer outra garantia legal.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 737

Vale ressaltar que quando um indivíduo menor de idade come-


te algum ato infracional, ao completar 18 anos, tal fato não será incluí-
do em seus antecedentes criminais. Caso ele cometa algum crime no-
vamente, ele será julgado como réu primário (Diário Oficial 2020).
Considera-se que a reincidência nas medidas socioeducativas
tende a se equiparar à reincidência criminal dos imputáveis, conside-
rando assim a sua falha (A Cidade, jornal Votuporanga, 2021).
Deste modo, parte da população se vê à mercê da criminalida-
de infantil. Ocorre que observa-se uma brecha para que certos inim-
putáveis percebam uma facilidade em adentrar no ambiente crimino-
so, visto que o cumprimento de seu dever é brando, ao tempo em que
a manipulação por status e dinheiro vem ganhando a mente de alguns
jovens nas redes sociais, que veem nesse ramo uma maneira de viver
a vida, assim os tornando mais próximos da esfera criminal.
Pesquisa feita pelo Diário do Poder, mostrou que só 17,6% dos
brasileiros defendem a maioridade penal como é hoje. Diante dessa rea-
lidade, discute-se o porquê da PEC 173/97 ainda não ter sido aprovada,
pois este fato fere a ideia do Estado Democrático de Direito o qual reza
pela soberania popular. De acordo com a pesquisa supracitada, a maioria
dos brasileiros defendem a problemática do estudo, enquanto isso, a vio-
lência praticada por menores se estende cada vez mais em todo o país, e
os representantes legais, não aplicam significância a essa situação.

5- VISÃO DOUTRINÁRIA

Em uma visão da doutrina favorável à redução da maioridade


penal no Brasil, cujas justificativas se baseiam no argumento de que a
sociedade passou por diversas modificações, nas quais a educação e
a informação passaram por avanços tecnológicos, tornando as crian-
ças e adolescentes cada vez mais intelectuais, obtemos argumentos
válidos para a reflexão sobre o tema. Ademais, os jovens da atualida-
de possuem um intelecto superior aos das gerações passadas, em
destaque os menores em situação periférica, que não eram tão insti-
gados a serem evoluídos e não tinham tanto acesso às informações.
Por essa razão, o ECA em se tratando de medidas socioeducativas
não serviriam para a prática nos dias de hoje.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 738

Senão vejamos a lúcida manifestação de Reale (1990, p.161)


apud Jorge (2002):

Tendo o agente ciência de sua impunidade, está dando


justo motivo à imperiosa mudança na idade limite da im-
putabilidade penal, que deve efetivamente começar aos
dezesseis anos, inclusive, devido à precocidade da cons-
ciência delitual resultante dos acelerados processos de
comunicação que caracterizam nosso tempo.

Nesse sentido, o jovem da atualidade tem discernimento para


compreender as normas legais, entretanto ainda se encontra protegi-
do pelas normas do ECA, e continua praticando atos infracionais.
Corroborando com tal assertiva temos Araújo: (2013, p.s.p):

’’A insignificância da punição, certamente, pode trazer


consigo o sentimento de que o crime compensa, pois
leva o indivíduo a raciocinar da seguinte forma: É mais
vantajoso para mim praticar esta conduta criminosa lu-
crativa, pois, se eu for descoberto, se eu for preso, se eu
for processado, se eu for condenado, ainda assim, o má-
ximo que poderei sofrer é uma medida socioeducativa.
Logo, vale a pena correr o risco”. mudar. Além disso, uma
justificativa importante para a redução da maioridade pe-
nal seria pensar que o legislador encontrou uma forma de
o jovem poder votar, assumindo a consciência do indiví-
duo com capacidade de escolher um representante e de
decidir o futuro do país com seu voto, mas não de ser res-
ponsabilizado pelos seus atos ilícitos.

No Brasil, especialmente, há um outro motivo determinante,


que é a extensão do direito ao voto, embora facultativo aos menores
entre dezesseis e dezoito anos, como decidiu a Assembleia Nacional
Constituinte. Portanto, não se compreende que possa exercer o direi-
to de voto quem, nos termos da lei vigente, não seria imputável pela
prática de direito eleitoral. (a Reale 1990, p.161)
Desse modo, entendemos que os argumentos apresentados
demonstram uma frequência na abordagem e na discussão da redu-
ção da maioridade penal, sobretudo no Brasil, que se insere em um
cenário de marginalização e criminalidade, abrindo espaço para essa
discussão até os dias atuais na sociedade.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 739

6- DA PEC 173/93

O tema proposto na A PEC 173/93 voltou a discussão no se-


nado federal com algumas alterações através da PEC 115/2015 que
versa sobre a possibilidade da redução da maioridade penal no Bra-
sil, alterando o art 228 do código penal, porém, a nova redação pro-
põe que os menores infratores maiores de 16 anos que cometessem
crimes hediondos, bem como homicídio doloso e lesão corporal segui-
da de morte, seriam responsabilizados igualmente aos maiores de 18
anos, ressalvando que o cumprimento da pena seriam em celas sepa-
radas dos demais presos maiores de 18 anos como também separa-
da dos menores infratores. A mesma estacionou na comissão de cons-
tituição, justiça e cidadania do Senado Federal. Em sua última atuali-
zação, do dia 03 de dezembro de 2019, a referida proposta aparece
como devolvida pelo relator, senador federal Marcelo Castro, em virtu-
de de não mais pertencer aos quadros da comissão. Dessa forma, a
matéria aguarda para ser redistribuída.

7- DADOS DE MENORES INFRATORES TERESINA-PI

Através do gabinete da secretaria de segurança pública do es-


tado do Piauí, gerado Processo SEI Nº 00027.003723/2023-67. Rela-
tório de Crimes Patrimoniais cometidos por Menores Infratores no ano
de 2022 na cidade de Teresina - PI.
O relatório tem o intuito de demonstrar que há incidência de
menores no crime e demonstrar as ações perigosas e danosas que
esses menores infratores causam dentro da sociedade.

Município Grupo Natureza Tentativa Envolvido Idade Envolvido Sexo 2022


Qtde Infrator
(Env Nat)
Teresina ESTELIONATO NÃO 0 Feminino 2
Teresina ESTELIONATO NÃO 0 Masculino 3
Teresina ESTELIONATO NÃO 5 Código Invádo 1
Teresina ESTELIONATO NÃO 13 Masculino 1
Teresina ESTELIONATO NÃO 14 Masculino 1
Teresina ESTELIONATO NÃO 15 Código Invádo 1
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 740

Teresina ESTELIONATO NÃO 16 Feminino 1


Teresina ESTELIONATO NÃO 16 Masculino 2
Teresina ESTELIONATO NÃO 17 Feminino 1
Teresina ESTELIONATO NÃO 17 Masculino 4
Teresina FURTO NÃO 0 Feminino 2
Teresina FURTO NÃO 0 Masculino 2
Teresina FURTO NÃO 1 Masculino 1
Teresina FURTO NÃO 4 Masculino 1
Teresina FURTO NÃO 14 Masculino 2
Teresina FURTO NÃO 15 Feminino 1
Teresina FURTO NÃO 15 Masculino 2
Teresina FURTO NÃO 16 Feminino 1
Teresina FURTO NÃO 16 Masculino 7
Teresina FURTO NÃO 17 Masculino 9
Teresina FURTO SIM 14 Masculino 1
Teresina FURTO SIM 15 Masculino 1
Teresina FURTO SIM 17 Masculino 3
Teresina RECEPTAÇÃO NÃO 0 Código Invád 1
Teresina RECEPTAÇÃO NÃO 4 Masculino 1
Teresina RECEPTAÇÃO NÃO 11 Masculino 1
Teresina RECEPTAÇÃO NÃO 13 Masculino 1
Teresina RECEPTAÇÃO NÃO 14 Masculino 3
Teresina RECEPTAÇÃO NÃO 15 Masculino 10
Teresina RECEPTAÇÃO NÃO 16 Masculino 12
Teresina RECEPTAÇÃO NÃO 17 Feminino 1
Teresina RECEPTAÇÃO NÃO 17 Masculino 19
Teresina ROUBO NÃO 0 Masculino 3
Teresina ROUBO NÃO 12 Masculino 1
Teresina ROUBO NÃO 13 Masculino 6
Teresina ROUBO NÃO 14 Masculino 5
Teresina ROUBO NÃO 15 Masculino 29
Teresina ROUBO NÃO 16 Feminino 3
Teresina ROUBO NÃO 16 Masculino 65
Teresina ROUBO NÃO 16 Sexo NI 4
Teresina ROUBO NÃO 17 Código Invádo 1
Teresina ROUBO NÃO 17 Feminino 2
Teresina ROUBO NÃO 17 Masculino 108
Teresina ROUBO NÃO 17 Sexo NI 2
Teresina ROUBO SIM 11 Sexo NI 1
Teresina ROUBO SIM 14 Masculino 1
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 741

Teresina ROUBO SIM 15 Masculino 1


Teresina ROUBO SIM 16 Masculino 5
Teresina ROUBO SIM 16 Sexo NI 1
Teresina ROUBO SIM 17 Masculino 6
ROUBO SEGUIDO
Teresina DE MORTE - NÃO 15 Masculino 1
LATROCÍNIO
ROUBO SEGUIDO
Teresina DE MORTE - SIM 14 Masculino 1
LATROCÍNIO
ROUBO SEGUIDO
Teresina DE MORTE - SIM 16 Masculino 1
LATROCÍNIO

CONCLUSÃO

Após a apresentação supracitada, conclui-se que a grande pau-


ta a respeito da redução da maioridade penal está ligada nas falhas
das medidas socioeducativas, que instituem sanções brandas aos me-
nores, visto as ações cometidas por esses infratores, um exemplo que
fora destacado sobre a falta de equivalência entre a pena e a conduta
infracional, foi o caso abordado, “Champinha”, em que se nota o dis-
cernimento do indivíduo para arquitetar e comandar uma facção, no
entanto, em sua pena, considerada a mais severa aplicada pelas me-
didas socioeducativas, constitui em média apenas 3% da pena aplica-
da aos comparsas maiores de 18 anos de idade. Essa atitude judici-
ária em relação aos infratores acaba tomando conta do círculo crimi-
nal e, assim, enquanto o criminoso é visto apenas por sua idade e não
pelo seu delito, torna-se simples o crescimento dessa massa jovem in-
fratora. Espera-se entregar à sociedade uma mudança nas medidas
socioeducativas, através da PEC 115/15 em sua fase mais atual, que
traz maior rigor dentro das medidas aplicadas pela Vara da Infância.

REFERÊNCIAS

https://www.gov.br/depen/pt-br/assuntos/noticias/depen-divulga-rela-
torio-previo-de-estudo-inedito-sobre-reincidencia-criminal-no-brasil
https://cnj.jusbrasil.com.br/noticias/202965908/mesmo-apos-medi-
das-socioeducativas-menores-voltam-ao-crime
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 742

https://novaescola.org.br/conteudo/460/mentor-educacao-consciencia
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/06/08/violencia-
-nas-escolas-especialistas-reforcam-importancia-de-acolhimento-de-
-estudantes
https://observatoriocrianca.org.br/agenda-legislativa/temas/adoles-
centes-autores-ato-infracional/587-senado-pec-115-2015#sobre
https://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/04/75-dos-jovens-infratores-
-no-brasil-sao-usuarios-de-drogas-aponta-cnj.html
https://jus.com.br/artigos/55812/a-reducao-da-maioridade-penal-uma-
-analise-juridica-de-seus-fundamentos
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/aspectos-penais-do-eca-estatuto-
-da-crianca-e-do-adolescente-e-do-estatuto-da-juventude/145193790
https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2022/06/5013715-a-
-cada-24-horas-5-jovens-sao-apreendidos-no-df-roubo-lidera-ranking.
html
https://www.scielo.br/j/pcp/a/ySDF5WMTsZtXJjnVBFbMvGy/?lang=p-
t&format=html ]
https://youtu.be/61VYMRKiiMk
https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/acusado-por-estupro-coletivo-em-
-castelo-do-piaui-e-condenado-a-100-anos-de-prisao.ghtml
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 743

CAPÍTULO 53

SAÚDE MENTAL DO PROFESSOR EM TESES


E DISSERTAÇÕES EM PROGRAMAS DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NO BRASIL:
UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO

TEACHER’S MENTAL HEALTH IN THESES AND


DISSERTATIONS IN GRADUATE EDUCATION
PROGRAMS IN BRAZIL: A BIBLIOGRAPHIC SURVEY

Maria Jenuzia Rodrigues Barros


Universidade Federal de Alagoas
Maceió - Alagoas
jenuziarodrigues@gmail.com

Thaysa Santos Oliveira


Universidade Federal de Alagoas
Maceió - Alagoas
oliveirathaysa4@gmail.com

Adilson Rocha Ferreira


Universidade Federal de Alagoas
Maceió – Alagoas
adilsonrf.al@gmail.com

Deise Juliana Francisco


Universidade Federal de Alagoas
Maceió – Alagoas
deisej@gmail.com

RESUMO
Trata-se de uma pesquisa exploratória bibliográfica no campo da saú-
de mental do professor. O objetivo da pesquisa foi mapear o que se
tem produzido no campo de teses e dissertações sobre saúde men-
tal do professor em Programas de Pós Graduação em Educação no
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 744

Brasil. Foi realizado levantamento das teses e dissertações no banco


de dados da CAPES obtendo-se 124 produções. Foram selecionados
53 trabalhos a partir de critérios de inclusão da área da saúde men-
tal do professor, na qual foram lidos os resumos de cada trabalho se-
lecionado. A partir da leitura e análise das variáveis: período de publi-
cação; região e cidades do Brasil; etapa de ensino; e palavra-chave,
verificou-se que as teses e/ou dissertações apontam que diversas si-
tuações no âmbito educacional são propícias a desenvolver o adoeci-
mento do professor. As situações mais mencionadas foram: condições
de trabalho; intensificação com o trabalho; baixa remuneração; desva-
lorização na profissão.
Palavras-chave: Saúde docente. Mal-estar docente. Sofrimento psí-
quico. Síndrome de burnout.

ABSTRACT
This is an exploratory bibliographic research in the field of teachers’
mental health. The objective of the research was to map what has been
produced in the field of theses and dissertations on the mental health
of teachers in Graduate Programs in Education in Brazil. A survey of
theses and dissertations was carried out in the CAPES database, ob-
taining 124 productions. Fifty-three works were selected based on in-
clusion criteria in the area of ​​teacher mental health, in which the sum-
maries of each selected work were read. From the reading and anal-
ysis of the variables: period of publication; region and cities in Brazil;
teaching stage; and keyword, it was found that theses and/or disserta-
tions indicate that different situations in the educational field are con-
ducive to the development of teacher illness. The most mentioned situ-
ations were: working conditions; intensification with work; low pay; de-
valuation in the profession.
Keywords: Teacher health. Teacher malaise. Psychic suffering. Burn-
out syndrome.

INTRODUÇÃO

O adoecimento da população brasileira vem crescendo ao lon-


go dos anos, destacando-se na categoria do trabalhador. De acordo
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 745

com o Ministério da Fazenda, “No Brasil, os transtornos mentais e


comportamentais foram a 3ª causa da incapacidade para o trabalho”
(BRASIL, 2017, p. 5). Sendo assim, o sofrimento psíquico no trabalho
é uma das principais causas do afastamento dos trabalhadores brasi-
leiros de sua prática profissional.
No campo da educação, o cenário é semelhante, visto que, as
pesquisas sobre Saúde Mental Docente não são recentes. Um dos
marcos nesse campo refere-se ao livro “Educação: Carinho e traba-
lho” publicado em 1999. Trata-se de uma pesquisa organizada por
Wanderley Codo, considerada a maior pesquisa sobre saúde mental
e condições de trabalho dos trabalhadores da educação no Brasil. A
pesquisa de Codo (1999) foi realizada com 52.000 participantes inves-
tigados em 1.440 escolas espalhadas por todo Brasil.

Na amostra realizada com 39.000 professores, 37% dos


professores apresenta alto envolvimento pessoal com a
tarefa, 27% apresentam moderada exaustão emocional,
25% alta exaustão emocional e 20, 2% dos professores
apresentaram um nível moderado de despersonalização
da profissão. (CODO, 1999, p. 271).

Essa pesquisa demonstra que os estudos sobre a saúde mental


docente tiveram visibilidade ainda na década de 1990, não são estudos
recentes, pois a pesquisa foi publicada em 1999, na qual os professores
já apresentavam níveis consideráveis de exaustão profissional.
Destaca-se que o adoecimento do profissional docente basea-
da do âmbito do trabalho, no qual o Estado não dá condições necessá-
rias para a saúde dos professores que adoecem pelo/no trabalho. De-
jours (1987, p. 25) afirma que “o sofrimento psíquico é decorrente da
organização do trabalho”. Ou seja, o modo de organização da esco-
la, as responsabilidades de outras tarefas além de seu trabalho e até
mesmo a desvalorização da sociedade afeta a prática docente.
Sobre condição de trabalho, abordamos como perspectiva a vi-
são de Dejours (1987, p. 25) na qual o autor afirma que:

“Por condição de trabalho é preciso entender, antes de


tudo, ambiente físico (temperatura, pressão, barulho, vi-
bração, irradiação, altitude, et), ambiente químico (pro-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 746

dutos manipulados, vapores e gases tóxicos, poeiras, fu-


maças, etc), o ambiente biológico (vírus, bactérias, para-
sitas, fungos), as condições de higiene, de segurança, e
as características antropométricas do posto de trabalho”
(DEJOURS, 1987, p. 25)

Para melhores condições de trabalho para o exercício da pro-


fissão docente e para uma educação de qualidade, de modo geral,
pois causam impactos nas vidas de todos profissionais e estudantes
que compõem o ambiente escolar, por ser comum no Brasil a existên-
cia de salas de aulas superlotadas, temperatura elevada, sem água
encanada e até mesmo água própria para consumo. Diante disso, afe-
ta a saúde não só do corpo docente, mas é necessário que a escola
tenha condições adequadas às demandas básicas.
Os apontamentos de Dejours (1987, p. 25) traz a seguinte de-
finição: “Por Organização do Trabalho designamos a divisão do tra-
balho, o conteúdo da tarefa, o sistema hierárquico, as modalidades
de comando, as relações de poder, as questões de responsabilidade
etc.” (idem). Existem fatores que contribuem para o adoecimento psí-
quico docente, como a própria organização do trabalho, as relações
de trabalho coletivo, nível hierárquico dentro do ambiente escolar, dis-
tribuição das responsabilidades, são fatores que podem influenciar no
adoecimento.
No contexto da pandemia Coronavírus (COVID-19), as institui-
ções escolares tiveram que se adaptar ao isolamento e distanciamen-
to social, atuando de forma remota. Surgiram colocações sobre a saú-
de mental do professor neste contexto, bem como sua sobrecarga de
trabalho. Esta situação motivou a construção do presente trabalho. A
presente pesquisa faz parte do Grupo de Pesquisa Saúde Mental, Éti-
ca e Educação, estando vinculada à tese do Doutorando Adilson Ro-
cha Ferreira, do Programa de Pós-graduação em Educação da Uni-
versidade Federal de Alagoas.
A problemática da pesquisa relaciona-se em compreender o
que se tem produzido em nível de pós-graduação stricto sensu sobre
as pesquisas acerca das temáticas da saúde mental nos contextos
escolares formais, seja no nível da educação básica e do ensino su-
perior. O doutorando realizou o levantamento de teses e dissertações
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 747

no banco da Capes com o total de 124 produções. O foco do presente


artigo destina-se aos trabalhos voltados à educação básica.
O questionamento de nossa pesquisa é entender o que se tem
produzido no campo de teses e dissertações sobre saúde mental na
educação básica em programas de pós-graduação em educação no
Brasil. O objetivo geral da pesquisa é mapear o que se tem produzi-
do no campo de teses e dissertações sobre saúde mental na educa-
ção básica em programa de pós graduação em Educação. Como ob-
jetivos específicos buscamos: identificar o quantitativo de estudos re-
cuperados por ano; verificar o quantitativo de estudos por regiões/ci-
dades do Brasil; elencar o quantitativo de etapa de ensino; explicitar
os termos utilizados para tratar sobre o tema da saúde mental na edu-
cação; destacar as causas mais apontadas na literatura que levam ao
adoecimento docente.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e exploratória acerca


das produções no campo da saúde mental do docente da educação
básica em Programas de Pós-graduação em Educação no Brasil. Fo-
ram lidos os resumos do total de 124 trabalhos integrantes da busca
da tese de doutorado. Não houve delimitação de ano de publicação
para o levantamento. Assim, fizeram parte da pesquisa 53 trabalhos
tendo os seguintes critérios para inclusão: pesquisas com professo-
res; aspectos relacionados à saúde mental docente; coerência com o
tema; área da educação. Os seguintes critérios utilizados para exclu-
são das 71 pesquisas foram: pesquisas realizadas apenas com foco
na educação superior; incoerência com o tema; que não abrangiam os
docentes como foco da pesquisa.

COLETA DE DADOS

Realizou-se a busca de dados na base Coordenação de Aper-


feiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, no catálogo de
Teses e Dissertações a partir dos descritores: saúde mental docente;
prazer e sofrimento; mal-estar docente; sofrimento psíquico; Síndrome
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 748

de Burnout. Não houve delimitação de período de tempo da obra. Os


trabalhos foram selecionados a partir do levantamento inicial realizado
pelo doutorando Adilson Rocha Ferreira, no qual constam trabalhos
sobre a saúde mental do docente, desde professores da educação
básica ao ensino superior, professores afastados e readaptados a ou-
tras funções no ambiente escolar e até algumas de como os professo-
res se veem na profissão. Nesta busca foram encontrados 124 resul-
tados. A partir do banco de dados produzido, foi filtrado o nível de en-
sino e chegamos a 53 trabalhos na educação básica, que é o foco da
graduação em Pedagogia, locus em que este artigo se situa.

ANÁLISE DOS DADOS

Realizou-se a análise quantitativa com levantamento da frequ-


ência simples das seguintes variáveis: período da publicação (ano),
região do Brasil da publicação, etapa de ensino, termos utilizados,
causas citadas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Em sua maioria, as teses/dissertações buscam identificar e


analisar de que maneira o trabalho docente influencia a saúde men-
tal dos professores; quais são as causas que levam ao adoecimento
docente; havendo uma maior prevalência, nas teses/dissertações, da
abordagem do materialismo histórico dialético e psicodinâmica do tra-
balho. Também existe uma prevalência de pesquisas empíricas quan-
ti-qualitativas realizadas através de questionários e entrevistas estru-
turadas e/ou semiestruturadas, realizadas com professores de educa-
ção básica.
Diante dos resultados das teses e dissertações, os fatores mais
citados que influenciam diretamente na saúde mental docente estão
relacionados com a Precarização e intensificação do trabalho do-
cente Böck (2004), Fernandes (2008), Lima (2015), Mendes (2009),
Mendes (2015), Reis (2017); Falta de reconhecimento e condições
estruturais e relacionais Carvalho (2015), Campos (2018), San-
tos (2013); Organização, condições de trabalho e desvalorização
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 749

Bastos (2009), Benício (2019), Pereira (2010), Maia (2010), Moreno


(2016), Nogueira (2013), Ozolio (2015), Salvaro (2009), Silva (2007),
Silva (2019), Soldatelli (2011), Solimões (2015), Veríssimo (2016)
Zacchi (2004); Indisciplina e cobrança por resultados Lima (2019),
Aguiar (2014); Formação docente (BARASUOL, 2004).
Os autores empregam o termo precarização e intensificação do
trabalho docente como condições precárias (estruturais e relacionais)
no exercício da profissão e por intensificação do trabalho docente a jor-
nada excessiva e/ou dupla de trabalho e a renda desproporcional a jor-
nada de trabalho. Já o termo falta de reconhecimento é utilizado como a
desvalorização do profissional docente na qual o trabalho do professor
é invisibilizado aos olhos da sociedade. Como condições estruturais e
relacionais, os autores empregam no sentindo de não haver condições
de estruturas física e de condições de relações interpessoais nas quais
o docente não venha adoecer, ou seja, a falta de condições adequadas
leva ao adoecimento. Por indisciplina, os autores abordam que a indis-
ciplina dos alunos leva ao estresse e adoecimento docente. A cobran-
ça por resultados é um dos fatores que o professor se cobra por entre-
gar resultados e acaba deixando a desejar a qualidade de seu trabalho,
causando assim estresse e sentimento de frustação.

ANÁLISE QUANTITATIVA DAS PRODUÇÕES CIENTÍFICAS

As variáveis da pesquisa foram trazidas na forma de tabelas, de-


monstrando as dimensões quantitativas do período (ano), região e cida-
de do Brasil, etapa de ensino, termos utilizados e principais resultados.
Com base nos dados obtidos a partir da análise geral dos es-
tudos, identificamos os seguintes quantitativos por ano de publicação:
o primeiro registro se deu no ano de 2004 com quatro teses e disser-
tações publicadas, permanecendo em quantidade estável até o ano
de 2010, com cinco teses e dissertações publicadas, na qual a um au-
mento mais relevante, posteriormente diminuindo no ano de 2011 com
apenas quatro teses e dissertações publicados. No ano de 2015 cres-
ce o número de publicações com nove publicações, sendo em 2015
o maior número de publicações. O registro mais recente, no ano de
2019, foram publicadas apenas três teses e dissertações.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 750

O maior número de publicações está agrupado na região Su-


deste do país, possuindo 19 publicações, possuindo também o maior
número de cidades (n=11) com produções sendo o estado de São
Paulo o estado com maior número de publicações (n=4), seguido pela
região Sul contendo 17 publicações, sendo Porto Alegre e Florianó-
polis os estados com maior quantitativo de registros publicados (n=3).
A região Nordeste com o total de nove publicações nas quais se con-
centram mais em Fortaleza (n=3) e Salvador (n=3). Já o Centro-oeste
com o total de seis publicações, após o levantamento quantitativo no-
ta-se que há uma concentração apenas em Brasília/DF. A região Nor-
te (n=2) é a que menos possui publicações, existindo registro apenas
em Belém/PA (n=1) e Rio Branco/AC (n=1).
Observa-se que existe uma prevalência em pesquisas com
professores que lecionam em todas as etapas da Educação Básica
(n=18), sem delimitações, e também possuindo o mesmo número de
publicações apenas com professores que lecionam somente no Ensi-
no Fundamental (n=18). Em seguida, as pesquisas são com profes-
sores que atuam apenas no Ensino Médio (n=9) e, posteriormente, na
Educação Infantil (n=4) e docentes que atuam tanto nos segmentos
Ensino Fundamental e Ensino Médio (n=4) sendo com a mesma quan-
tidade de publicações.
Os termos utilizados nas teses e dissertações foram selecio-
nados de acordo com a ocorrência do tema, sendo os nove termos
mais utilizados nas teses e dissertações sobre saúde mental do-
cente foram: trabalho docente (n=15); síndrome de burnout (n=12);
mal-estar docente (n=18); adoecimento docente (n=8); prazer e so-
frimento (n=5); saúde docente (n=4); educação (n=4); sofrimento
psíquico (n=6); estresse (n=1). O maior número de termos utiliza-
dos é o mal-estar docente e o menor número de termos utilizados
é o estresse.
Observa-se que a palavra-chave ‘trabalho docente’ é uma das
mais utilizadas em diversas pesquisas para abordarem sobre a saú-
de mental docente, focando o trabalho como uma das fontes do sofri-
mento psíquico na atuação profissional. O ‘sofrimento psíquico’ é visto
como a rotina exaustiva e intensificada de trabalho, que pode ter como
consequência ao professor o sofrimento psíquico.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 751

Logo em seguida, a palavra-chave ‘síndrome de burnout’ é a


terceira mais utilizada e integrante do referencial da saúde. A síndro-
me de burnout é entendida como causada pelo excesso de trabalho
tendo como consequência o desgaste físico e/ou emocional, estres-
se e exaustão. Já o termo ‘adoecimento docente’ nas teses e disserta-
ções é compreendido nas pesquisas como o impacto do adoecimento
docente em sua vida profissional, sendo o quarto termo mais usado.
A palavra-chave ‘saúde docente’ é evidenciada desde a saúde física
quanto a psíquica do docente em exercício de profissão. Além disso, o
termo ‘estresse’ traz o sentido de estresse devido ao excesso e inten-
sificação de trabalho, baixa remuneração, falta de valorização social e
diversos fatores que podem ocasionar, sendo o termo menos utilizado
dentre os nove selecionados.
No referencial da psicodinâmica do trabalho, percebemos o ter-
mo o ‘mal-estar docente’ relacionado aos professores. Este aparece
como o termo mais usado nas pesquisas, demonstrando estratégias
para o bem-estar docente e ressaltando causas que podem levar ao
mal-estar docente, numa vertente psicanalítica. O termo ‘prazer e so-
frimento’, nas pesquisas, tem como referência a realização profissio-
nal do docente ao mesmo tempo em que acarreta sofrimento por di-
versos fatores em sua profissão, ficando como quinto termo mais utili-
zado, também de cunho psicanalítico.
Segundo a dissertação de mestrado de Solimões (2015) intitu-
lada “Impactos da Precarização do Trabalho sobre a Saúde das Do-
centes da Educação Infantil’’, realizada com docentes da rede muni-
cipal de Belém- PA aponta que as professoras enfrentavam um forte
processo de precarização e intensificação do trabalho docente afetan-
do o tempo livre das professoras, Onde historicamente são as respon-
sáveis pela manutenção do lar e que as exigências no ambiente de
trabalho faz com que o absenteísmo se torne um mecanismo de de-
fesa em relação às tensões provocadas, gerando um mal-estar que
pode resultar no adoecimento físico e/ou mental.
Segundo o Sistema de Informação e Agravos - SINAN entre
2006 e 2017, em relação aos Transtornos Mentais Relacionados ao
Trabalho no Brasil, prevalecem as notificações do sexo feminino com
59,7% estando dentre os casos mais notificados por distribuição de
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 752

sexo professoras do ensino fundamental tendo como principais cau-


sas estresse grave e transtornos de adaptação, transtornos de hu-
mor, depressão, transtornos fóbicos, ansiosos e outros. De acordo
com o censo escolar de 2020 em seus dados sobre a distribuição de
professores por sexo, apresenta que os anos iniciais é composto por
88,1% de docentes do sexo feminino e nos anos finais correspondem
a 66,8%.
Quando se fala em sofrimento do professor, segundo Filho
(2020), está referindo-se ao sofrimento de uma determinada classe
trabalhadora devido a configuração de sua prática inserida na lógica
produtiva nesta sociedade, nesse sentido, não são todos os professo-
res que adoecem, mas todos passam por algum tipo de sofrimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho permitiu compreender como vem sendo


estudada a saúde mental docente a partir de levantamentos explora-
tórios no campo de teses e dissertações. O que se tem produzido no
campo de teses e dissertações sobre saúde mental na educação bási-
ca em programas de pós-graduação em educação no Brasil são estu-
dos que nos mostram o quanto a saúde do docente é afetada ao lon-
go dos anos e precisa ser dada a atenção necessária pelos órgãos go-
vernamentais responsáveis. Enfatizamos o quanto os estudos da área
são significativos para compreender o que gera o adoecimento docen-
te atualmente, com professores afastados por motivo de doença, pro-
fessores com altos níveis de estresse e até mesmo professores com
síndrome de burnout.
A prática docente sob condições precárias de trabalho acarre-
ta prejuízos à saúde mental do docente que acaba se afastando do
seu ambiente de trabalho, da sala de aula. Em seus estudos, Zac-
chi (2004) constata que “as doenças de ordem psicológica lideram o
quadro de doenças pelas quais os professores se afastam de sala de
aula” (ZACCHI, 2004, p. 104), na qual fica evidenciado a maior causa
de afastamento de professores se dá por doenças psicológicas.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 753

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 760

CAPÍTULO 54

TERAPIA OU TORTURA: CONSEQUÊNCIAS


PSICOJURÍDICAS DA PRÁTICA DE CONVERSÃO
SEXUAL OU CURA GAY NO BRASIL

THERAPY OR TORTURE: PSCO-JURIDICAL CONSEQUENCES


OF THE PRACTICE OF SEXUAL CONVERSION
OR GAY CURE IN BRAZIL

Aluísio Francisco Oliveira de Sousa


Christus Faculdade do Piauí – CHRISFAPI
Piripiri – PI
https://orcid.org/0000-0002-1476-3282
e-mail: aluisiosousa34@gmail.com

Iara Maria Damasceno Fontenele


Faculdade Uninassau
Teresina – PI
https://orcid.org/0009-0006-4176-1617
e-mail: iara1478@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho trata sobre as consequências psicojurídicas que
podem vir a surgir com a prática da conversão sexual no Brasil, ques-
tionando inicialmente quais seriam os possíveis danos psicológicos
aos sobreviventes e quais as punições legais existentes atualmente
no ordenamento jurídico. O objetivo geral se esgota em determinar a
conduta em análise como tortura ou terapia, para que assim seja al-
cançado o objetivo específico de compreender as implicações psicoju-
rídicas. A priori, será apresentado o contexto da psicologia, atribuindo
o surgimento da expressão “cura gay” com a epidemia da AIDS, para
em seguida explorar os métodos utilizados nos “tratamentos” de cor-
reção sexual e por fim examinar as responsabilidades judiciais. O in-
teresse social e jurídico não diverge na temática, sendo de suma re-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 761

levância entender as violências sofridos pela comunidade LGBTQIA+,


para que haja uma tutela específica combatente a atual insegurança
jurídica que assola a criminalização da homofobia.
Palavras-chaves: Cura gay; Conversão sexual; LGBTQIA+; Psicolo-
gia jurídica.

ABSTRACT
This paper deals with the psycholegal consequences that may arise
from the practice of sexual conversion in Brazil, initially questioning
what possible psychological damage may occur to survivors and what
legal punishments currently exist in the legal system. The overall ob-
jective is to determine whether the analyzed conduct constitutes tor-
ture or therapy, in order to achieve the specific goal of understanding
the psycholegal implications. Firstly, the context of psychology will be
presented, attributing the emergence of the term “gay cure” to the AIDS
epidemic, followed by an exploration of the methods used in “treat-
ments” for sexual correction and finally an examination of legal respon-
sibilities. The social and legal interests do not diverge in the theme,
and it is of utmost relevance to understand the violence suffered by the
LGBTQIA+ community, so that specific protection can be provided to
combat the current legal insecurity that plagues the criminalization of
homophobia.
Keywords: gay cure; sexual conversion; LGBTQIA+; psycholegal.

1 INTRODUÇÃO

A Revolução de Stonewall foi um marco para a conquista dos


direitos civis da comunidade LGBTQIA+ nos EUA durante o início da
década de 70, influenciando países em todo o globo a tutelar legal-
mente esse grupo vulnerável contra-ataques homofóbicos e transfóbi-
cos. Nesse sentido, cabe destacar uma das principais formas de vio-
lência contra a comunidade LGBTQIA+: a prática da conversão sexu-
al, popularmente conhecida como cura gay.
A princípio, o presente trabalho delimitasse em: “Terapia ou tor-
tura: consequências psicojurídicas da prática de conversão sexual ou
cura gay no Brasil”, questionando as consequências psicológicas e jurí-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 762

dicas da prática de conversão sexual com o intuito de excluir e retificar


a orientação sexual e identidade de gênero das pessoas LGBTQIA+ no
Brasil. Comprometendo-se ainda com o objetivo primordial de definir a
conversão sexual como tortura ou terapia sob o prisma da psicologia, a
fim de compreender as devidas responsabilizações de sua prática.
As hipóteses possíveis de serem concluídas demonstram que
seja possível a aplicação de penas disciplinares aos psicólogos que
se utilizarem da conversão sexual como método de cura gay, além da
possibilidade de prisão para qualquer pessoa que promova tal prática.
Quanto aos danos à saúde mental, os adolescentes podem ser o grupo
mais vulnerável devido a dependência econômica e influência dos pais,
proporcionando traumas desde crise de aceitação até fobias sociais.
Com o propósito de solucionar a problemática apresentada, uti-
lizou-se a metodologia bibliográfica de caráter exploratório, levando em
consideração resoluções do Conselho Federal da Psicologia e entendi-
mento de profissionais da saúde mental para entender a vulnerabilidade
mental no contexto da conversão sexual, bem como de doutrinadores
do direito, em especial do ramo humanitário, civil e penalista, para que
seja identificado as possíveis responsabilizações a serem aplicadas.
Posto isto, é evidente a importância social e jurídica da temá-
tica em estudo, uma vez que reafirma a necessidade de tutelar legal-
mente esse grupo tão vulnerável com uma legislação específica, pro-
porcionando segurança jurídica, além de alertar sobre os danos psi-
cológicos potencialmente violares da dignidade da pessoa humana e
possivelmente irreversíveis.
Em síntese, será abordado a priori casos emblemáticos que
já aconteceram no Brasil destacando quais os danos psicológicos e
quem são os principais patrocinadores da cura gay nos dias de hoje,
apresentando posteriormente a responsabilidade jurídica dessa prá-
tica uma vez que não há legislação específica que trate da temática.

2 BREVE RELATO HISTÓRICO DA CURA GAY NO CONTEXTO DA


PSICOLOGIA

A cura gay ganhou bastante popularidade com os debates polí-


ticos nas eleições de 2018, porém, o enfrentamento em face da mes-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 763

ma já coexistia em conjunta com a homofobia. Segundo NOAL (2019)


a epidemia da AIDS explodiu no mundo na década de 80, fortalecendo
pejorativamente a ideologia de que a homossexualidade era uma do-
ença e deveria ser tratada, influenciando até mesmo profissionais da
saúde, como psicólogos, a descobrirem um tratamento para as orien-
tações não monossexuais.
Enquanto a população LGBTQIA+, já vulnerável, era colocada
as margens da sociedade, eram promovidas práticas como a conver-
são sexual com o intuito de curar a homossexualidade ou transexua-
lidade. Nesse sentido, Tatiana Lionço e Regina Navarro Lins (2017),
definem a cura gay como uma prática terapêutica que busca modifi-
car a orientação sexual ou a identidade de gênero das pessoas LGBT.
Historicamente, a conversão sexual se da por volta do ano de
1950, quando Irving Bieber publica o livro “Homosexuality: A Psycho-
analytic Study of Male Homosexuals”, onde defendia que a homosse-
xualidade era uma patologia e deveria ser tratada como tal, determi-
nando ainda que os pacientes fossem submetidos a tratamentos como
psicoterapia, sendo a principal delas a terapia aversiva. Segundo CÁ-
CERES (2006), a terapia aversiva é um procedimento que promove
estímulos negativos, como choque elétrico, náusea e vômito induzido,
pensamento induzidos, viagra e isolamento social a fim de que seja
criado um comportamento indesejado.
Exemplificando, esse método é facilmente perceptível na obra
cinematográfica Laranja Mecânica (1972) em que o personagem prin-
cipal é submetido a terapia aversiva para que deixe de ser criminoso,
porém, o tratamento se mostrou ineficaz. Nesse sentido, a psicóloga
Tatiana Lionço (2011) determina que práticas como a conversão sexu-
al são ineficazes e que esse tipo de tratamento constitui uma forma de
violência simbólica, cabendo a ciência, como a psicologia, buscar for-
mas de estudar e enfrentar o sofrimento que pessoas LGBTQIA+ vi-
venciam cotidianamente em razão da sua orientação sexual.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), retirou a homossexu-
alidade da lista de doenças no ano de 1990, conforme VEIGA (2020)
enuncia, vindo tardiamente a desconsiderar a transexualidade como
doença apenas em 2018. Além disso, o Conselho Federal de Psicolo-
gia publicou a Resolução de n° 01/1999, regulamentando a conduta
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 764

dos profissionais no tratamento de pessoas LGBTQIA+, deixando de


considerar a homosexualidade e a transexualidade como doença ou
distúrbio mental vetando qualquer prática de favoreça a patologização
de comportamentos ou práticas homoeróticas.

3 DANOS PSICOLÓGICOS PROMOVIDOS PELA CONVERSÃO SE-


XUAL E SEUS MÉTODOS DE TORTURA

Os riscos da terapia de reorientação sexual são potencialmente


irreparáveis e ofende diretamente a dignidade humana, segundo a psi-
cóloga Ana Maria Fernanda Guimarães (2008), a prática dessa condu-
ta é uma forma violenta de negar e desrespeitar a sexualidade e iden-
tidade de gênero de uma pessoa, além de ser uma opressão em detri-
mento das minorias sexuais, sendo considerada uma tortura, haja vis-
ta que submete o sujeito a profundo sofrimento psíquico e emocional,
além de não possuir respaldo científico.
Em consonância com a citação acima, vale analisar a tabela
em anexo, afim de entender quem promove a prática de correção se-
xual, além de entender a metodologia utilizada, com o intuito de pos-
teriormente refletirmos sobre os danos caudados aos sobreviventes.

Contexto Quem promove Métodos


Ameaça e profecias, como futuro no inferno;
Liderança religiosa e Rituais, como exorcismo e sessões de cura;
Religioso
membros da igreja Punições e castigos físicos, como carregar pesos;
Doação de dinheiro para igreja, como dízimo.
Insistência ou condução forçada a procurar trata-
mento religioso;
Coação para assistir relatos de “cura”;
Pais e responsáveis, Internação do sobrevivente em seminários religio-
parentes, amigos e sos;
Familiar vizinhos em parceria Utilização de medicamentos e hormônios;
com líderes religiosos Coação ou insistência para participar de cultos re-
em alguns casos ligiosos;
Organização de grupos de oração dentro da casa
do sobrevivente;
Internação compulsório em clínica psiquiátrica.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 765

Tratamento de regressão;
Exorcismo em clínicas de psicólogos cristãos;
Profissionais da saú-
de como psicólogos, Tratamento de constelação familiar;
Saúde
psiquiatras e pedia- Tratamento de adequação de postura e voz;
tras.
Leitura da bíblia durante o atendimento clínico;
Sessões de aconselhamento.

Diretor da escola, Promoção de aulas de ensino religioso;


Escolar professor de religião Sessão de aconselhamento na biblioteca da escola;
ou educação física Conversas com o diretor da escola.
Fonte: FRÓES, Anelise; BULGARELLI, Lucas; FONTGALAND, Arthur. (2002)

Os dados apontam ainda, segundo FRÓES, Anelise; BULGA-


RELLI, Lucas; FONTGALAND, Arthur (2002) que as pessoas subme-
tidas aos tratamentos acima variam entre a faixa etária de 6 a mais
de 30 anos, sendo que destaca-se 52,8% para os jovens entre 6 a 17
anos, constatando-se que os sobreviventes ainda eram menores de
idade quando submetidos às torturas de correção sexual.
No que tange aos danos, os sobreviventes submetidos a tera-
pia aversiva podem sofrer danos desde ansiedade, depressão, cul-
pa, vergonha, autoflagelação e até suicídio, segundo Câmara (2020),
além disso, tal prática reforça preconceitos e discriminação e não res-
peitar a diversidade sexual e de gênero. Inegavelmente, Tamanini
(2020), entende que a terapia aversiva pode desenvolver ainda dis-
túrbios alimentares, baixo autoestima e ideação do suicídio, além dos
já citados por Câmara (2020), promovendo estigmas sociais e exclu-
são social.

4 SANÇÕES DISCIPLINARES EM FACE DOS PSICÓLOGOS

A Resolução n° 01/1999 do Conselho Federal de Psicologia é


um marco na luta dos direitos civis do Movimento LGBTQIA+, em ra-
zão de desconsiderar a homossexualidade como doença ou distúrbio
mental, estabelecendo um regramento a ser seguidos pelos profissio-
nais da área durante tratamento dos homossexuais. Sendo assim, o
Conselho Federal de Psicologia (1999), predetermina que os psicólo-
gos estão vedados de fornecer tratamento e cura dos homossexuais,
passando a considerar que as práticas sexuais dos indivíduos fazem
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 766

parte da identidade de si mesmos devendo a psicologia proporcionar


a superação de preconceitos.
Em contrapartida, após o surgimento da Resolução n° 01/1999,
uma parcela da sociedade reagiu negativamente, incluindo deputados
e líderes religiosos, ambos afirmando ser necessário a criação de des-
patologização da comunidade LGBTQIA+, por meio de atitudes como
o Projeto de Lei 5.816 de 2015 que visava alterar a Lei 4.119/62, que
trata sobre os cursos de formação e profissão da Psicologia, atribuin-
do competência aos psicólogos de dar auxílio e suporte às pessoas
que voluntariamente quisessem deixar de ser homossexuais.
Embora os órgãos mundiais e nacionais de saúde reconheçam
a homossexualidade como uma característica do indivíduo e não uma
doença, a prática de reorientação sexual ainda é exercida em alguns
consultórios brasileiros de forma velada, a exemplo, GALVÃO (2022),
apresenta o caso da ex-Psicóloga Rosângela, que oferecia o trata-
mento e veio a sofrer censura pública pelo Conselho Federal de Psico-
logia, e posteriormente, após ainda defender que a homossexualidade
era um distúrbio provocado por traumas sofridos na infância, teve seu
registro profissional cassado pelo próprio órgão competente.
Verificamos, portanto, que as punições referente aos profissio-
nais que promovem tal prática vão em desacordo com o atual enten-
dimento do Código de Ética Profissional do Psicólogo (2015), sendo
suscetíveis de punições disciplinares e éticas como advertência, cen-
sura pública e cassação do registro profissional, dando importância a
Resolução n° 01/1999 que foi tão questionada por defender a dignida-
de humanas das pessoas LGBTQIA+.

5 RESPONSABILIDADE CIVIL E CRIMINAL DA CURA GAY

Além das sanções disciplinares cabíveis aos psicólogos, tam-


bém há de se considerar as responsabilidades civis e penais da ho-
mofobia no contexto da conversão sexual, uma vez que não só psicó-
logos são autores da conduta, como também pelos próprios familiares
em união com igrejas conservadoras. Um dos autores que se posicio-
na contra igrejas que promovem a cura gay no Brasil é o psicólogo e
ativista NERY (2012), em seu livro “Viagem Solitária: Memórias de um
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 767

Transexual 30 Anos Depois”, ele critica a postura de algumas igrejas


evangélicas que pregam a cura da homossexualidade e expõe a expe-
riência de muitas pessoas LGBT que foram submetidas a terapias de
conversão em tais instituições religiosas.
Outro autor que aborda esse tema é o antropólogo
MOTT(1999), fundador do Grupo Gay da Bahia, em seu livro “A In-
venção do Nordeste e Outras Artes”, ele discute a influência da reli-
gião na formação de preconceitos e estigmas em relação à sexuali-
dade e como a “cura gay” é uma prática que fere os direitos humanos
das pessoas LGBT. Esses autores e muitos outros têm se posiciona-
do contra a prática da “cura gay” e defendido os direitos e a dignida-
de das pessoas LGBT, independentemente de sua orientação sexu-
al ou identidade de gênero.
Nesse sentido, levando em consideração que em 2019 o Su-
premo Tribunal Federal (STF) criminalizou a homofobia por meio do
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão n° 26
e Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 5581, DINIZ (2020) enten-
de que a homofobia caracteriza ato ilícito, portanto, consequentemen-
te irá fazer surgir o instituto da responsabilidade civil em razão de da-
nos morais e materiais, quando observamos os preceitos dos artigos
186 e 927 do Código Civil.
Em consonância com os entendimentos de DINIZ (2020, vá-
rios autores como COELHO (2023) e SILVA (2016), determinam que
as práticas de tratamento de reorientação sexual são atitudes regidas
pela imprudência, negligência e imperícia, haja vista que não há res-
paldo científico, confirmando a aplicação dos artigos 186 e 927 do Có-
digo Civil, onde é possível percebemos danos materiais nos gastos
com consulta, internação e medicamentos, além dos danos morais ao
ofender a própria dignidade humana.
No âmbito do direito penal, em virtude da equiparação da ho-
mofobia como crime de racismo pelo STF em 2019, a Lei 7.716/89
é responsável por tutelar essa modalidade criminosa. Inegavelmen-
te, segundo FABRIS (2022), por meio do artigo 20 da Lei do Racismo
combinando com o Art. 140, §3° do Código Penal, poderá haver a qua-
lificação de injúria homofóbico, totalizando uma pena de até três anos
de reclusão e multa, sem direito a prescrição e fiança.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 768

Ainda como punição criminal, caso a prática de reorientação


sexual resulte em morte e observando o entendimento dos autores
já supracitados de que essa prática é uma tortura, Rogério Sanchez
(2019) pressupõe que a homofobia pode gerar tortura e resultar em
morte, aplicando-se a pena de reclusão de até 30 anos e multa, em ra-
zão do Art. 121, §1°, III do Código Penal, tipificando-se o crime de ho-
micídio qualificado em razão do emprego de tortura.
O autor, SANCHEZ (2019), ainda destaca que deve-se anali-
sar o caso concreto, uma vez que nada impede a aplicação de outros
elementos qualificadores que irão agravar a pena, como um meio que
impossibilite a defesa da vítima, emprego de fogo, dentro outros, além
de ser possível desqualificar para um tipo penal menos gravoso como
lesão corporal.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude dos fatos mencionados, cumpre destacar a neces-


sidade e compromisso que as autoridades competentes, bem como
a psicologia, enquanto ciência, devem promover políticas públicas e
ações afirmativas em prol do movimento LGBTQIA+, com o intuito de
retaliar qualquer prática que vise patologizar as relações não mono-
sexuais e transexualidade, para que haja uma maior segurança jurídi-
ca e facilite o processo de aceitação social, uma vez que a aceitação
subjetiva já é dificultosa.
O presente trabalho verifica que as hipóteses foram cumpridas,
havendo a devida responsabilização para os psicólogos que promo-
vem a cura gay como tratamento terapêutico além de determinar tal
prática como tortura ao analisar a aplicação da terapia aversiva como
uma tendência comum entre os métodos aplicados, a qual é conside-
ra uma técnica obsoleta sem respaldo científico sendo criticada por ór-
gãos mundiais da saúde pública como ONU e Associação Americana
de Psicologia.
A pesquisa ainda alcançou resultados além dos pretendidos,
identificando o grupo mais vulnerável a ser submetido a tortura em
análise, sendo os jovens entre 6 a 17 anos que ficam à mercê do pre-
conceito homofóbico que os cerca até mesmo dentro do ambiente fa-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 769

miliar. Com isso, frisa-se novamente a necessidade de tutelar esse


grupo vulnerável em detrimento da discriminação generalizada que
vem proporcionando um movimento crescente de extermínio e invisi-
bilidade social.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 772

CAPÍTULO 55

UMA VISÃO JURÍDICA E SOCIAL DA ENTREGA


VOLUNTÁRIA DE CRIANÇAS PARA
ADOÇÃO LEGAL NO BRASIL

A LEGAL AND SOCIAL VIEW OF THE VOLUNTARY


DELIVERY OF CHILDREN FOR ADOPTION IN BRAZIL

Juliana Maria de Oliveira


CHRISFAPI
Discente
Piripiri – Piauí
julianamoliveira2021@gmail.com

Victória Cristina de Oliveira Gomes


CHRISFAPI
Discente
Piripiri – Piauí
victoriacristinadeoliveiragome@gmail.com

Daniel da Costa Araújo


CHRISFAPI
Docente
Piripiri – Piauí
Daniel_costa_araujo@hotmail.com

Maria dos Remédios Magalhães Santos


CHRISFAPI
Docente
Piripiri – Piauí
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7066-5011
magalhaesantosjl@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho traz uma visão jurídica e social sobre a entrega
voluntária de crianças para adoção legal no Brasil, o tema surgiu dian-
te da seguinte indagação: Na atualidade onde todos tem acesso à in-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 773

formação, por que a entrega voluntária de crianças para adoção ainda


é visualizada de forma negativa por uma parcela da sociedade? com
o intuito de desmitificar o tabu relacionado a entrega voluntária para
adoção, surgiu os seguintes objetivos específicos i) Identificar os fato-
res que impedem a busca pela entrega voluntária ii) Analisar a carên-
cia de políticas públicas que informem a população em vulnerabilida-
de sobre a entrega voluntária iii) Demonstrar como ocorre o processo
de adoção no Brasil. Dessa forma por meio de uma pesquisa biblio-
gráfica o trabalho busca por resultados efetivos que auxiliem a socie-
dade e a academia ao se tratar da entrega voluntária de crianças para
adoção legal no Brasil.
Palavras-Chave: Entrega voluntária; Adoção legal; Criança; Gestante.

ABSTRACT
The present work brings a legal and social view of the voluntary de-
livery of children for legal adoption in Brazil, this theme raised the
following question: Nowadays, where everyone has access to in-
formation, why is the voluntary delivery of children for adoption still
seen with bad eyes by society? In order to demystify the taboo re-
lated to voluntary surrender for adoption, the following specific objec-
tives emerged i) Analyze the lack of public policies that inform vul-
nerable populations about voluntary surrender for adoption ii) Demon-
strate how the adoption process occurs in Brazil iii) Check the fac-
tors that prevent the voluntary delivery of children for legal adop-
tion in Brazil. In this way, through bibliographical research, the work
seeks effective results that help society and the academy when it
comes to the voluntary delivery of children for legal adoption inBrazil.
Keywords: Voluntary delivery; legal adoption; child; pregnant.

1 INTRODUÇÃO

A entrega voluntária de crianças para adoção, voltou a protago-


nizar vários debates na sociedade, pois, ainda é visualizado como um
tabu. Isso ocorre pelo contexto histórico do país, que no século XX foi
palco de uma grande repressão sexual que desencadeou muitos ca-
sos de abandono de recém-nascidos, e mesmo com toda a evolução
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 774

global e informações que a internet proporciona atualmente, entregar


uma criança para adoção de forma legal ainda é uma atitude revestida
de preconceito e extremamente estigmatizada por uma parcela da po-
pulação, principalmente quando se trata da entrega voluntária.
Lima e Carneiro (2022) define a entrega voluntária como o dis-
positivo que a gestante ou parturiente tem, no qual existe a opção de
entregar seu filho ou recém-nascido para a adoção em um procedi-
mento assistido pelo Juizado da Infância e da Juventude, isso ocor-
re em um contexto completamente legal, ou seja, não comete crime,
pelo contrário, essa atitude é visualizada como um gesto de coragem
e amor na tentativa de garantir o melhor para a criança.
Além disso, notou-se que são muitos os motivos que levam um
indivíduo a entregar uma criança para adoção, falta de apoio familiar
ou autonomia financeira são os fatores mais influenciáveis. Entretanto,
ainda é necessário coragem para enfrentar o julgamento da população,
dessa forma, surgiu a seguinte indagação: Na atualidade onde todos
tem acesso à informação, por que a entrega voluntária de crianças para
adoção ainda é vista de forma negativa por uma parcela da sociedade?
O Tribunal de Justiça do Espírito Santo promoveu a campanha
“Entrega Voluntária” na qual expôs em cartilha a dificuldade que mu-
lheres enfrentavam ao optar pela entrega a adoção, pois, o assunto re-
presenta algo complexo, permeado por tabus e preconceitos que ocor-
rem pela falta de conhecimento e debate a respeito do tema, o que re-
força práticas de violação do direito da mulher e da criança
Dessa forma com o intuito de desmistificar o preconceito sobre
a entrega voluntária de crianças para adoção legal no Brasil a pesqui-
sa irá percorrer os fatores jurídicos e sociais que dificultam populações
carentes a buscarem essa opção.
O artigo será dividido em três tópicos, o primeiro tópico verifi-
cará os fatores que impedem gestantes de buscarem a entrega volun-
tária, o segundo irá analisar a carência de políticas públicas que infor-
mem a população em vulnerabilidade sobre o assunto, e o terceiro vai
percorrer o caminho proposto pela legislação vigente para a adoção
legal no Brasil com foco na entrega voluntária.
Dessa forma o trabalho será desenvolvido por meio de uma
análise bibliográfica enriquecida com pesquisa documental e jurispru-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 775

dências, para assim identificar os fatores sociais e jurídicos que per-


meiam o tema.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Fatores que dificultam a busca pela Entrega Voluntária

A Entrega Voluntária de crianças para adoção é uma realidade


que vigora em todo o país, seu objetivo visa o melhor interesse do me-
nor e da mãe, no entanto, alguns fatores dificultam a busca pelo pro-
jeto no qual a mãe pode entregar seu filho ou recém-nascido para a
adoção em um procedimento assistido pelo Juizado da Infância e da
Juventude.
Santos et al (2018) escreve que a entrega voluntária para ado-
ção no país sempre configurou um tabu que deveria ser ocultado em
meio a sociedade. Talvez pela repressão sexual do século XX, que
configurava o abandono da criança.
Para entender o tema, é de suma importância saber que a en-
trega voluntária ocorre quando, a gestante ou mãe, manifesta o interes-
se em entregar seu filho para adoção, antes ou logo após o nascimento,
devendo ser encaminhada a Justiça da Infância e da Juventude. Essa
qualificação do ato é prevista na alteração realizada em 2017 no Esta-
tuto da criança e do adolescente (ECA) onde foi inserido no artigo19-A
e seguintes. Com isso, recentemente, no dia 18 de janeiro de 2023, o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou por meio da Resolução
n° 485, que todos os tribunais de Justiça do país devem organizar suas
equipes interdisciplinares, para acolher de forma humanizada gestantes
e mães que demonstrem interesse de estabelecer a entrega voluntária.
Diante o exposto é necessário ressaltar os fatores que influen-
ciam a gestante a optar pela entrega voluntária, sendo o mais prová-
vel a condição financeira da mãe para o sustento das crianças, mui-
tas vezes abandonadas pelos parceiros, menores de idade, sem pro-
fissão ou apoio familiar, no entanto, Maciel e Cruz (2020) identificaram
que muitas dessas mulheres optam por permanecer com o bebê, por
não conhecer a legislação ou vergonha do julgamento da população,
considerando o ato de entrega um abandono.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 776

Ramos e Gonçalves (2020) demonstram em sua pesquisa que


muitas gestantes em estado de vulnerabilidade, se quer, têm conhe-
cimento do tema, e muitas que possuem se negam acreditando que
os bebês por uma questão racial não serão amados e cuidados como
uma criança branca de olhos claros, mostrando uma perspectiva de
cor e raça extremamente preocupante.
Na mesma linha de raciocínio Ramos e Cavalli (2019) publica-
ram em sua pesquisa que muitas mães em estado de vulnerabilidade
optam por não entregarem para adoção, acusando o sistema de ser fa-
lho e que suas crianças ficarão à mercê, jogados sem amparo e adoção
efetiva, o que acaba trazendo um problema para o Estado, pois, muitas
dessas mães ao permanecerem com as crianças, achando que não tem
escolha acabam trazendo inúmeros problemas a sociedade, negligen-
ciando as crianças, não levando proteção e muitas vezes acarretando
maus tratos físicos e psicológicos, como o abandono afetivo.
Tenório et al (2019) reflete sobre o protagonismo da mulher
diante da entrega para adoção, ponderando tópicos que versam sobre
a falta de informação da gestante em vulnerabilidade sobre a entre-
ga e também o preconceito presente através de familiares e da socie-
dade que constrangem e desestimulam o ato, que deveria ser visuali-
zado como uma forma de amor diante de muitas situações onde não
existe as condições necessárias para proporcionar uma criação ade-
quada a criança.
Um dos maiores exemplos de preconceito e julgamento da so-
ciedade ocorreu recentemente, levando o tema a ser discutido predo-
minantemente no Brasil, quando a atriz global Klara Castanho que na
época tinha 21 anos de idade, veio a público através de uma posta-
gem realizada em uma de suas redes sociais, no dia 25 de julho de
2022 expor o que lhe ocorreu, após o assunto ser divulgado por tercei-
ros em meio a polêmicas, ocorre que a atriz optou pela entrega volun-
tária ao descobrir que estava grávida, no entanto, a gravidez era fru-
to de uma violência sexual que ela havia sofrido e diante da situação
complexa klara Castanho de acordo com o ordenamento jurídico bus-
cou a entrega para adoção, o que não a poupou de críticas e comen-
tários depreciativos julgando sua atitude. Dessa forma visualizamos a
necessidade da desmistificação do tema. (g1, 2022)
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 777

Como visto a entrega voluntária não auxilia somente meninas


em estado de vulnerabilidade financeira, mas também alcança inúme-
ras situações que podem ocorrer na sociedade.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul elaborou o projeto
“Entrega responsável”, que por meio de uma entrevista realizada pelo
CNJ com o juiz atuante da ação, o questionou sobre o tabu em torno
do assunto, que respondeu:

São preconceitos impregnados na sociedade. É uma for-


ma de ver a família como propriedade, e não se pensa
no amor, no afeto com que os bebês devem ser criados.
Imagine um filho ser criado sem as bases fundamentais
para o desenvolvimento de sua personalidade. Sabe-
-se que carinho e amor são fundamentais para o desen-
volvimento psicológico saudável. A entrega voluntária é
uma decisão pessoal. Cabe ao sistema judiciário o aco-
lhimento desta mulher, a verificação das condições psi-
cológicas para o ato de entregar a criança à adoção e,
fundamentalmente, assegurar ao recém-nascido o direi-
to a uma boa criação através da família que irá adotá-lo.
(CNJ,2022, n.p).

Assim é notório os inúmeros empecilhos que uma gestante en-


frenta ao buscar pela entrega voluntária, mesmo amparada pela justi-
ça e o sistema de saúde, procurando realizar o ato de forma respon-
sável e pensando no bem-estar da criança.

2.2 A necessidade de políticas públicas que informem a popula-


ção carente sobre a entrega voluntária para adoção no Brasil

Em meio a muitas discussões no âmbito jurídico e social, tor-


nou-se necessário analisar a carência de políticas públicas que infor-
mam os indivíduos que vivem em estado de vulnerabilidade sobre a
entrega voluntária de crianças para adoção.
Santos et al (2018) expõe que a baixa incidência relacionada a
entrega voluntária de crianças para adoção constatada em sua pes-
quisa, versa sobre a deficiência de campanhas públicas que informem
mulheres em vulnerabilidade sobre tal opção, demonstrando assim a
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 778

necessidade de projetos público que tragam informação e conheci-


mento sobre o procedimento adequado a ser seguido.
Ramos e Gonçalves (2020) demonstram que políticas públicas
que auxiliem a entrega para adoção são necessárias desde os primór-
dios coloniais. Aduzindo que, no período imperial os números de crian-
ças deixadas em vias públicas eram exorbitantes, tal ato demandava
preocupação do Estado com relação a infância cercada de abandono,
na época as ações assistencialistas eram realizadas pelas Santas Ca-
sas de Misericórdia com uma perspectiva de caridade cristã.
Nesse sentido, um estudo realizado pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) em 2015, expressa um número significativo de adoções
fora do cadastro, que chegam a cerca de 48% conhecido como ado-
ção “à brasileira” mesmo existindo regulamentação para uma adoção
legal, a população ainda evita os meios jurídicos válidos, recorrendo a
outras formas de resolver a situação, deixando notório a necessidade
de projetos que conscientizem a sociedade a seguir os meios legais.
No município de Itajaí/SC, foi possível constatar por meio de
uma análise desenvolvida pelo grupo de Estudos e apoio a adoção le-
gal (GEAAI) junto com equipe técnica de assistentes sociais e psicólo-
gos, que é significativamente baixo a incidência da entrega voluntária
de crianças à adoção, no entanto, os processos envolvendo adoções
ilegais são recorrentes. (SANTOS ET AL 2018)
A pesquisa do CNJ (2015) sugeriu que parte desse problema
envolvendo adoção legal, e negligência familiar, tal como o abandono
poderia ser combatido através de campanhas, transmitindo esclareci-
mentos a gestantes em estado de vulnerabilidade sobre a entrega vo-
luntária de crianças a adoção.
Santos et al (2018) verificou que o Município de São Bento do
Sul/SC em parceria com o grupo de Apoio Adoção Gerando Amor, foi
a cidade pioneira com a campanha “Faça Legal”, gerando referência
para outros municípios e Estados, pois no local onde se realizaram a
campanha houve um aumento na busca por adoção legal e diminuição
nas ações que envolviam adoções diretas.
Carvalho (2019) observa em sua pesquisa que não é incomum
os noticiários informarem sobre recém-nascidos abandonados em la-
tas de lixos, porta de hospitais e residências. Isso ocorre em grande
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 779

parte como um reflexo da ausência do Estado na promoção de políti-


cas, que instruam a população a respeito de métodos alternativos para
evitar esse tipo de conduta.
Dessa forma fica evidente a necessidade de campanhas que
auxiliem e informem meninas em estado de vulnerabilidade sobre a
entrega voluntária, pois, tal atitude é sim um ato de amor a criança,
que pode crescer cercada de atenção em condições favoráveis para
sua criação. (RAMOS; GONÇALVES, 2020)

2.3 Processo de adoção legal no Brasil e a entrega voluntaria

O processo de adoção legal no Brasil ainda é algo evitado por


muitos brasileiros, o que torna necessário esclarecer como ocorre o
processo de adoção de forma legal com foco na entrega voluntária
que é tema da pesquisa.
O Conselho Nacional de Justiça (2022) afirma que o processo de
adoção é gratuito e deve iniciar na Vara da Infância e Juventude de cada
município, com a idade mínima de 18 anos para adotar, devendo ser res-
peitada a diferença de idade de 16 anos do adotante para o adotado.
De acordo com o CNJ (2022) para o processo de adoção ocor-
rer é necessário passar por oito fases, que são: a) decisão de adotar;
b) análise de documentos; c) avaliação da equipe interprofissional; d)
participação em programa para adoção; e) ingresso no sistema nacio-
nal de adoção e acolhimento; f) a busca de uma família para a crian-
ça e adolescente; g) construção de laços; h) uma nova família. Esses
procedimentos priorizam o melhor interesse da criança e da genitora,
ressaltando os direitos e deveres de forma legal e transparente.
Visto isso, o Brasil no ano de 2009, com o advento da lei n°
12.010 trouxe em sua redação pela primeira vez a nomenclatura en-
trega voluntária de crianças para adoção e em conjunto legalizou e
atualizou o regimento brasileiro. Posteriormente, no ano de 2017, a lei
n° 13.509 realizou algumas modificações no Estatuto da Criança e do
Adolescente no que cerne a adoção, inserindo a figura da entrega vo-
luntaria no artigo 19-A, contendo 10 parágrafos, onde traz vários as-
pectos garantidos por lei. Que visa complementar a regularização dos
procedimentos da entrega voluntaria e da adoção.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 780

No tocante a lei 12.010/09 foi criada com o intuito de desburo-


cratizar o processo de adoção garantindo maior segurança e fiscaliza-
ção no trâmite, tanto internacional como nacional, o que mudou o pro-
cesso de adoção em vários níveis, desde adequações terminológicas
até a garantia de direitos que anteriormente não eram assegurados,
como por exemplo a expressão “pátrio poder” que se referia ao ho-
mem como autoridade familiar, mudando para “poder familiar” um ter-
mo mais adequado quando observado a realidade brasileira, onde vá-
rias mães são chefes de família e também as várias outras forma de
família que surgem ao passar dos anos. (ITABORAÍ, 2017)
Assim, a partir da inclusão do conceito de entrega voluntária no
meio jurídico, tornou-se possível a gestante ou mãe entregar seu filho
em adoção através de um processo legal, assim procedendo os trâmi-
tes verificados em lei, a mulher tem sua conduta assegurada, não co-
metendo crime de qualquer espécie, pois, tal ato visa garantir os di-
reitos e preservar os interesses das crianças (RAMOS; GONÇALVES,
2020).
De acordo com a agência Brasil (2022) o processo é media-
do pela justiça e o ato deve ser claro e definitivo, ele explica um pou-
co mais a seguir:

Ao manifestar em qualquer hospital público, posto de


atendimento, conselho tutelar ou outra instituição do sis-
tema de proteção à infância a vontade de fazer a entrega,
a gestante deve ser obrigatoriamente encaminhada ao
Poder Judiciário. Tudo deve ser supervisionado por uma
Vara da Infância e acompanhado pelo Ministério Público.
A legislação prevê que, nesses casos, a mulher deve ser
atendida por uma equipe técnica multidisciplinar, com-
posta por profissionais de serviço social e psicologia. A
equipe produzirá um parecer para o juiz, que em audiên-
cia com a gestante dará a palavra final sobre a entrega.
Caso haja concordância de todos, a criança é encami-
nhada para acolhimento imediato por família apta, que
esteja inscrita no Sistema Nacional de Adoção e Acolhi-
mento (SNA). A mãe biológica tem dez dias para manifes-
tar arrependimento. Depois desse prazo, perde os direi-
tos familiares sobre a criança.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 781

Na visão do Ministério público do Paraná (2021), o processo da


entrega voluntaria se assemelha ao da adoção, mas caso o Juiz tenha
em mãos o parecer técnico e o casal ou a mulher apontar plena con-
vicção da decisão tomada, o mesmo em audiência na presença das
partes, do promotor e de um defensor público, vai informar todas as
implicações jurídicas dessa decisão e ao final caso a resposta conti-
nue sendo afirmativa, na mesma audiência o Juiz proferirá uma sen-
tença extinguindo o poder familiar do filho biológico. Caso seja só na
presença da mãe, não é obrigatório que a mesma informe o nome do
pai e também pode optar por manter tal procedimento em sigilo dos fa-
miliares e conhecidos.
Diante o exposto é necessário ressaltar a prioridade da convi-
vência familiar Maciel e Cruz (2020) mostram que são garantidos por
lei a prioridade ao direito de convivência familiar da criança e adoles-
cente, sendo a adoção uma medida excepcional a ser realizada, tam-
bém citou que quando a mulher opta pela entrega voluntária, deve ser
acompanhada pela justiça em todas as fases de entrega e inserção de
família substituta.
A agência Brasil (2022) escreve que a entrega voluntária de
crianças recém-nascidas para adoção ainda é pouco conhecida pela
população, no entanto, é um procedimento legal, previsto no Estatu-
to da Criança e do Adolescente (ECA) criado para oferecer alternati-
va ao simples abandono e até mesmo para esquemas irregulares de
adoção.
Um dos esquemas irregulares de adoção que ocorre no país é
a adoção à brasileira, quando o indivíduo registra uma criança como se
sua fosse, dessa forma viu-se necessário abordar julgados que preser-
varam o interesse da criança, para assim identificar a problemática so-
cial nas adoções realizadas fora do cadastro nacional revelando que a
entrega voluntária para adoção seria um dos meios legais e mais sim-
ples para recorrer a adoção, como veremos no subtópico a seguir

2.3.1. Julgados Sobre a Adoção e o melhor interesse do menor

Para que ocorra o melhor entendimento sobre o posicionamen-


to dos tribunais é deveras importante explicar a figura da “Adoção à
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 782

brasileira”, também chamada como “adoção direta”, essa modalida-


de se trata do registro civil de um filho de terceiros, como se fosse fi-
lho biológico, sem passar por qualquer tramite legal de adoção. Infeliz-
mente essa atitude é recorrente no Brasil. (ABREU, 2022, p.26)
Posto que, os julgados demonstram decisões acerca da aceita-
ção ou rejeição da adoção a brasileira que não é pacificada, uma vez
que vai depender da situação fática e da procedência da família bioló-
gica e adotiva, como motivos que determina a permanência ou não da
criança com a família adotiva. Ademais, foi elencado situações fáticas
que demostra o posicionamento do tribunal sobre a permanência da
criança em abrigos ou com sua família adotiva. (STJ, 2018)
O STJ (2018), dentre seus julgados tem um caso que ocorreu
em fevereiro de 2015, onde a turma decidiu por manter o registro de
uma criança, que foi reconhecida a doção à brasileira por parte do pai
que construiu uma relação socioafetiva e após um acontecimento pos-
teriormente, e o mesmo se desentendeu com a mãe biológica, decidiu
pela exclusão de paternidade, o qual foi negado. Em outro caso, que
ocorreu em outubro de 2016, o STJ aprovou o pedido de adoção feita
por um casal para permanecer com os irmãos gêmeos, que foram ado-
tados à brasileira, que ao conhecer o caso mais a fundo foi descoberto
o risco de futuros abusos sexuais por parte de seu pai e avô biológico.
Por consequente da prática da adoção à brasileira, que não
tem supervisão jurídicas, situações como no caso da mulher que foi
adotada na infância e retornou para o acolhimento institucional, após
o fracasso da adoção são recorrentes e ao final a mesma entrou com
indenização em face de sua família adotiva. Dessa forma, o posicio-
namento da Ministra Nancy Andrighi, quando fala “o filho decorrente
da adoção não é uma espécie de produto que se escolhe na pratelei-
ra e que pode ser devolvido se constatar a existência de vício oculto.
”, se mostra crucial para entender o impacto que essa atitude provo-
ca. (IBDFAM, 2021)
Dessa forma é notório a problemática existente nas adoções
que não ocorrem conforme a legislação brasileira, o que só deixa mais
claro que a entrega voluntária para adoção é um meio digno com res-
paldo legislativo que pode evitar inúmeras situações de litígios, como
vimos anteriormente.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 783

3 METODOLOGIA

A metodologia usada para fomentar o presente trabalho foi a


pesquisa bibliográfica enriquecida com pesquisa documental. Visto a
relevância do tema, a pesquisa se desenvolveu por meio de artigos,
monografias, entrevistas, doutrinas, legislação vigente e jurisprudência.
Dessa forma podemos citar que a ciência pode até achar a res-
posta para a maioria dos males da sociedade, porém a mesma ainda
não encontrou a resposta para o pior de todos os males, que é a apa-
tia dos seres humanos (HELEN KELLER, 1880-1968), O que vai de
encontro com o objeto de pesquisa, visto como uma possível resposta
para os questionamentos que surgiram com o passar dos anos, sendo
um tema de grande relevância para a sociedade em busca da desmis-
tificação da entrega voluntaria para adoção no Brasil.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É notório que existe um grande caminho a percorrer para a


desmistificação da entrega voluntária para adoção, pois, o país é cer-
cado de um contexto histórico desafiador para projetos como este.
Dessa forma o primeiro tópico analisado da pesquisa são os
fatores que dificultam gestantes a buscarem a entrega voluntária, ob-
teve-se como resultado vários pontos, a) o primeiro deles é o desco-
nhecimento da legislação sobre a entrega voluntária, pois, muitas des-
sas mulheres em estado de vulnerabilidade se quer, já ouviram falar
sobre o tema, b) outro ponto encontrado foi a vergonha em recorrer
por essa opção, influenciada pelo histórico do país a mesma conside-
ra um ato de abandono e se envergonha por precisar recorrer ao siste-
ma de adoção, c) o próximo tópico verificou que a questão racial tam-
bém é levada em consideração pelas gestantes, pois, existe a supo-
sição que a criança não será adotada por uma questão étnico-racial
onde existe preferência por bebês brancos, d) o último ponto compre-
endeu que muitas mulheres não confiam no sistema de adoção e acre-
ditam que as crianças não serão amparadas pelo Estado. Dessa for-
ma a rejeição presente entre as gestantes seja por desconhecimento
ou vergonha de recorrer pela entrega voluntária traz um problema ain-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 784

da maior para o Estado futuramente que são crianças inaptas a ado-


ção negligenciada por seus responsáveis
O segundo tópico constatou a carência de políticas públicas
que informem a população sobre a entrega voluntária para adoção,
principalmente famílias carentes que desconhecem a lei, tal iniciativa
impediria a ocorrência de adoções fora dos trâmites legais.
O último tópico do trabalho buscou analisar como ocorre o pro-
cesso de adoção focando na entrega voluntária, no qual demonstrou a
atuação da justiça em todo o processo, como também o acompanha-
mento de equipe multidisciplinar, deixando claro que a entrega volun-
tária nada tem haver com abandono pelo contrário ela ocorre somente
quando a mãe está convicta da sua decisão buscando o melhor para
a criança.
No tocante aos Julgados sobre a adoção e o melhor interes-
se da criança, a adoção à brasileira, é vista como uma possível saí-
da para burlar a burocratização, onde afasta a visão da ilegalidade da
adoção e passa para a legalidade, abraçando assim, a figura do princí-
pio da afetividade e do melhor interesse do menor, no entanto foi veri-
ficado a existência da dificuldade em pacificar o entendimento do STJ,
no qual existem brechas que influenciam na implicação de alguns cri-
mes, como por exemplo o tráfico infantil e o abuso sexual.
Diante o exposto o trabalho alcançou seu objetivo pois de-
monstrou o tabu presente na sociedade quando se trata da entrega
voluntária, revelando a necessidade de projetos que informem a po-
pulação carente sobre a lei e desmistificando o tema ao demonstrar
sua importância no tocante aos trâmites legais da adoção como tam-
bém o ato de amor e consciência ao decidir recorrer a entrega volun-
tária para adoção no Brasil.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 788

CAPÍTULO 56

UNIÃO ESTÁVEL E SEUS EFEITOS SUCESSÓRIOS

STABLE UNION AND ITS SUCCESSIONAL EFFECTS

Milton Magalhães Silva


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
https://orcid.org/0009-0003-3017-2655

Francisco Eduardo Escorcio Gomes


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Piripiri-PI
https://orcid.org/0009-0006-2720-1250

Luana da Cunha Lopes


Christus Faculdade do Piauí-CHRISFAPI
Docente (CHRISFAPI)
Piripiri-PI
https://orcid.org/0000-0001-9343-9685
luanahlopes@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo tem como finalidade esclarecer os direitos e deve-
res equivalentes aos conviventes em união estável. Para tanto, se traz
a seguinte pergunta: quais os direitos sucessórios dos conviventes
em união estável? Nessa reflexão, destaca-se que a importância se
dá observando que a temática envolve as relações sociais presen-
tes. Desse modo, esse estudo está direcionado ao direito das suces-
sões, em prol de encontrar respostas acerca de como ocorre a suces-
são após a morte de um dos companheiros na união estável. A pes-
quisa foi realizada dentro de uma análise de legislações, princípios,
jurisprudências e acórdãos, visto que foram utilizados como arcabou-
ço teórico fontes bibliográficas, como livros e artigos sobre o tema. As-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 789

sim, o estudo se dá através do instituto da união estável e sua relação


com outros institutos que nascem da própria união estável. Nesse se-
guimento, vale destacar que o direito visa com seus instrumentos le-
gislativos reconhecer direitos de relacionamentos já reconhecidos so-
cialmente.
Palavras-Chave: União estável; Código Civil; Sucessão; Pós Mortem;
Herança.

ABSTRACT
The article entitled, stable union and its succession effects, aims to
clarify the rights and duties equivalent to cohabitants in a stable union.
Therefore, the following question arises. What are the inheritance
rights of cohabiting partners in a stable union? The importance is giv-
en in the sense that the theme involves a situation present in social re-
lations. Thus, this study is directed to the law of succession, in order
to find answers about how the succession occurs after the death of
one of the partners in the common-law marriage. Within an analysis of
legislation, principles, jurisprudence and judgments, since several bib-
liographic sources will be used as a theoretical framework. Thus, the
study takes place through the stable union institute and its relationship
with other institutes that are born from the stable union itself. In this re-
gard, it is worth noting that the law aims with its legislative instruments
to recognize rights of relationships that are already socially recognized.
Keywords: Stable union; Principles; Judgments; Civil Code; Marriage;
Putative; Succession; Internet; Post Mortem; Heritage.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda a temática da união estável como


entidade familiar e seu processo histórico, visto que, a união estável
passou por uma transformação histórica para ser reconhecido como é
nos dias atuais. A maior implicância do presente trabalho se refere ao
que discerne as consequências na abertura da sucessão do(a) compa-
nheiro(a) que veio a falecer, o qual em todo o corpo textual será indica-
do como o(a) companheiro(a) ascendentes e descendentes e até cola-
terais participarão do processo de partilha da herança, do de cujus.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 790

Dentro do contexto social, o instituto da união estável nasce


das novas relações sociais já existentes no cenário da sociedade que
precisa ser interpretado e considerado pelo cenário jurídico, como
sendo essencial para sua configuração social.
Assim sendo, a união estável nas relações que envolvem os
direitos sucessórios exige um estudo mais esmerado para aplicação
da lei ao caso concreto frente aos princípios genéricos do Direito Ci-
vil. O companheiro e companheira passaram a ser os protagonistas
da relação. Paradoxalmente, tornaram-se mais desprotegidos, sujei-
tos a desvantagens quando comparado com as disposições aplicadas
ao casamento.
A pesquisa desenvolvida colabora, mesmo que de forma mo-
desta, para a melhor compreensão da questão pleiteada, indicando
observações emergentes de fontes secundárias, tais como posições
doutrinárias relevantes, a fim de serem aplicadas no confronto judicial,
com o tema em relação ao caso concreto. Enfatiza-se que o estudo se
deu por meio de compilação bibliográfica, bem como jurisprudências e
normas do sistema jurídico brasileiro, sendo esse seguimento metodo-
lógico suficiente para compreensão e alcance dos objetivos traçados.
A Constituição Federal de 1988 definiu a união estável como
sendo uma entidade familiar que deveria ter proteção Estatal, porém
ela se manteve em silêncio quanto aos seus efeitos, isso gerou um pe-
ríodo de incertezas sobre a configuração das consequências prove-
nientes da união estável. Desta forma, questiona-se: qual a consequ-
ência da união estável no momento da sucessão?
No tocante ao objetivo primário, compreende-se compreender
o instituto da União Estável e os seus efeitos na linha sucessória. E
ainda com relação aos objetivos secundários, buscou-se i) analisar
através de julgados e jurisprudências os direitos sucessórios da união
estável; ii) identificar os herdeiros na relação de união estável; e iii)
conceituar a união estável frente aos direitos sucessórios
O presente estudo se justifica em compreender o instituto da
União Estável e os seus efeitos na linha sucessória. Dessa forma, o
tema em questão aborda a importância de se ter uma legislação sóli-
da e favorável à própria população, que cada vez mais vem contraindo
relações e constituindo entidades familiares, evidenciando os direitos e
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 791

deveres inerentes aos conviventes em união estável, bem como a po-


sição doutrinária acerca das questões controversas a respeito do tema.
Todo o trabalho baseou-se em casos reais e decisões proferi-
das através de jurisprudências e acórdãos, que foram prolatados no
judiciário pátrio. Por fim, o presente trabalho esclarece como a união
estável ganhou status de entidade familiar e como esse ganho trans-
formou o(a) companheiro(a) do de cujus, em herdeiro(a).
Portanto, o Direito de Família passou por inúmeras mudanças,
visando a necessidade de encaixar-se às inovações ocorridas no meio
social. No âmbito familiar, as decisões são relativas, tendo em vista
que é algo subjetivo, a depender de cada família ou cada caso. Após
tantas mudanças, o Direito de Família não é mais aquele que se em-
basava somente no domínio de posse, agora passa a ser marcado pe-
los laços afetivos de amor, comunhão e felicidade.

2. UNIÃO ESTÁVEL E SEU PROCESSO HISTÓRICO

A união estável sofreu diversas mudanças, graças ao proces-


so histórico decorrente que passou por transformações em várias civi-
lizações até chegar no ordenamento pátrio.
No direito romano, a união entre homem e mulher era realizada
com ou sem a atribuição do manus maritalis, ou seja, a mulher tinha a
submissão à autoridade do marido, pater famílias. A mulher, portanto,
deixava sua família de sangue e passava a pertencer à família de seu
marido, uma situação que tinha como consequência a transferência de
todo o seu patrimônio ao marido, que se tornava responsável pela ad-
ministração dos bens.
Por conseguinte, a Idade Média foi marcada por grande influ-
ência da Igreja Católica nas conjunções familiares e sociais, o qual le-
vou a consagração do instituto do casamento. Em outros termos, o ca-
samento passou a ser um ato solene e de cunho religioso, marcado
pela maior característica desse ato solene, a indissolubilidade, pois,
para o Direito Canônico, a família só iniciava com o matrimônio, visto
que, era uma união aprovada por Deus e insuscetível de rompimento.
Conforme o direito canônico influenciava como as pessoas de-
veriam se relacionar, a igreja condenava a prática do concubinato,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 792

pois, no início, a igreja condenava de uma forma menos severa, mas


na proporção em que era encarado essa realidade social, os líderes
religiosos passaram a olhar de uma maneira mais severa e punir de
forma mais rigorosa, assim como o incesto, o adultério e a homosse-
xualidade.
Assim, o Direito Canônico teve vários momentos, um deles ad-
mitindo o concubinato como um casamento “clandestino” ou “presumi-
do”. Segundo o autor Azevedo (2011, p. 131), o direito Canônico, “cap-
tou o sentido da realidade social do concubinato, tratando de regulá-
-lo e de conceder-lhe efeitos, com o critério realista, procurando com
isso, assegurar a monogamia e a estabilidade do relacionamento do
casal, mas sem ratificá-lo”.
A evolução da união estável no Brasil, teve influência justamen-
te dos ensinamentos da igreja católica, pois como o Brasil era colô-
nia de Portugal, a Igreja Católica sempre teve uma influência marcan-
te na sociedade. Vale ressaltar, que a primeira Constituição Brasileira,
de 1824, determinou a religião católica apostólica romana como a re-
ligião oficial do império brasileiro. Após a independência, continuou a
ser aplicada, em um primeiro momento, pois por força da Lei imperial
de 20 de outubro de 1823, a legislação portuguesa (Ordenações Filipi-
nas), que era baseada no direito canônico, só aceitava como legítimo
o casamento celebrado com todas as formalidades religiosas.
Somente com a proclamação da República, por intermédio do
Decreto nº 181, de 24 de janeiro de 1890, foi regulamentado o casa-
mento civil. Assim, a partir dessa data, passaram a ser considerados
válidos apenas os casamentos celebrados de acordo com o referido
decreto, sendo ratificado pela Constituição Republicana de 24 de fe-
vereiro de 1891, que estabeleceu, em seu artigo 72, §4º, que “a Re-
pública só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratui-
ta” (BRASIL, 1891).
A Carta Republicana de 1890 estabeleceu a proteção do Esta-
do à família legítima que era constituída sob as bases do casamento
indissolúvel, as constituições de 1934, 1937, 1946,1967 e 1969 manti-
veram esse conceito, mas com o advento da Constituição Federal pro-
mulgada em 05 de outubro de 1988, a união estável foi expressamen-
te alocada como forma de constituição regular da família, no § 3º do
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 793

artigo 226, da seguinte forma: a família, base da sociedade, tem espe-


cial proteção do Estado.
Por isso, o Estado passou a reconhecer a união estável entre
homem e mulher como entidade familiar, e o ordenamento pátrio atra-
vés de suas Leis passou a facilitar a conversão em casamento (BRA-
SIL, 1988).
Portanto, a Constituição Federal de 1988 retirou a união está-
vel do campo do direito das obrigações, como uma espécie de socie-
dade de fato, transformando-a em entidade familiar de forma definiti-
va, uma vez que, tal entidade familiar seja merecedora da proteção es-
tatal, da mesma forma que o casamento.

2.1 Reconhecimento Da União Estável “Pos Mortem”

A constituição federal, lei que norteia todo o ordenamento jurí-


dico pátrio, em seu artigo 226, § 3º, e o código civil, no artigo 1.723,
acolheram como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, contudo é necessário existir preceitos como os da convivên-
cia pública, contínua e duradoura, sendo imprescindível o objetivo de
constituir família. No ordenamento jurídico brasileiro é muito comum
surgir casos em que o(a) companheiro (a) pleiteia o reconhecimento
de união estável após a morte de um dos companheiros.

2.2 Os Requisitos Que Caracterizam a União Estável

Para que a união estável seja reconhecida, após a morte de um


dos companheiros, é necessário que tenha alguns elementos caracte-
rizadores, pois a doutrina e a jurisprudência têm como base a concei-
tuação legislativa dessa união, o qual delegou os requisitos que carac-
terizam a união estável como a:
Diversidade de sexos: a Constituição Federal em seu Art.
226, § 3º determinou, que para efeito da proteção do Estado, é reco-
nhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade fa-
miliar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. No entan-
to, o Supremo Tribunal Federal julgou nos dias 4 e 5 de maio de 2011º
reconhecimento por unanimidade a união estável entre duplas homos-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 794

sexuais, o qual feriu as regras elementares da coerência lógica, pois


uniões homoafetivas não foram elencadas pela proteção magna;
Publicidade: a união estável deve ser transparente e notória,
visto que, não pode ser escondida, ou seja, às escuras, clandestina.
Nesses termos, não é necessário que todos os atos praticados pelo
casal devam ser levados ao conhecimento de toda sociedade, mas
sim que o relacionamento não venha a acontecer de forma encoberta
e que o casal aja naturalmente como qualquer outro casal.
Continuidade: a união estável deve ser uma relação duradou-
ra e não eventual. Portanto, não pode haver sobressaltos, interrup-
ções, instabilidade. Contudo, essa característica irá depender de pro-
vas e uma prudente análise do caso concreto, pois a lei coloca um pra-
zo mínimo para aquilo que vai ser considerado união estável, de modo
que uma breve interrupção não vai descaracterizar o relacionamento.
Objetivo de constituição de família: esse requisito é de or-
dem subjetiva, que demonstra a intenção do casal com o objetivo de
ter uma vida e interesses comuns. Por isso, compreende-se que o pre-
sente requisito se encontra amparado no dever de fidelidade entre os
companheiros, e a exclusividade, uma vez que, de acordo com as re-
gras do ordenamento pátrio, a família deve ser monogâmica.
Ademais, é necessário que não exista qualquer impedimento ma-
trimonial para a caracterização da união estável. Mas conforme já men-
cionado, é necessário analisar cada caso concreto, haja vista que a ne-
cessidade de coabitação sobre o mesmo teto é um exemplo que não é
exigível para a união estável, pois de acordo com súmula antiga do STF
(Supremo Tribunal Federal), nº 382 dita que “a vida em comum sob o
mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização do con-
cubinato”. Contudo, apesar da súmula mencionar o termo “concubinato”,
e não “união estável”, é perfeitamente aplicável aos companheiros.
Portanto, é essencial configurar ao menos um dos requisitos na fal-
ta de outro para suprimir e comprovar que de fato existe a união estável.

3. A UNIÃO ESTÁVEL FRENTE AOS DIREITOS SUCESSÓRIOS

O ordenamento jurídico brasileiro trata sobre o instituto da su-


cessão dos artigos 26 a 39 no código civil, o qual discorre sobre as su-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 795

cessões provisória e definitiva. Assim, após as referidas partes, trata-


-se do artigo 1.784, no Livro V, que fala sobre sucessão em geral e,
conforme indicação do artigo 1.797 do código civil, destaca-se sobre
a lei que rege a sucessão, bem como a vigente ao tempo da abertu-
ra da supracitada.
A doutrina esclarece que sucessão significa, em sentido amplo, a
transmissão de uma relação jurídica de uma pessoa a outra, podendo ter
direitos e obrigações, ou ter conteúdo obrigacional ou real, pois existem
relações jurídicas intransmissíveis que são sujeitas a sucessão, a citar, os
direitos da personalidade que, salvo nas exceções legais, serão em re-
gra, sempre intransmissíveis, o artigo 11 do CC prever tal situação. Já em
sentido estrito, a sucessão será dividida em inter vivos ou causa mortis.
A inter vivos é a situação que funciona por meio de negócio jurídico, por
exemplo, na compra e venda, o qual o comprador sucede o vendedor na
propriedade da coisa que adquiriu, na sub-rogação, na cessão de crédito
e entre outras situações na seara do Direito Civil. Contudo, o que importa
no presente trabalho é a sucessão causa mortis, ou seja, a transmissão
do patrimônio de uma pessoa por ocasião de sua morte.
Após o esclarecimento conceitual, fica mais simples entender a
abertura da sucessão, causa mortis, assunto que é abordado no pre-
sente trabalho. Essa sucessão ocorre no instante da morte, podendo
o ato do falecimento ser por causa natural ou presumida.
A presumida ocorreu em casos de ausência em que a Lei per-
mite a abertura da sucessão definitiva, conforme o Art. 6° e 22 a 39
da Constituição Federal. Observando como ocorria no código civil an-
terior, outro caso que a morte presumida também é aceita refere-se
quando a morte presumida não tiver declaração de ausência, ademais
se trata de uma novidade do Código Civil (cf. Art. 7º).
Outro instituto, que precisa ser esclarecido é a herança, uma
vez que, é o conjunto do patrimônio do de cujus, ressalta-se que inclui
o ativo e o passivo, deixado. Atente-se que os herdeiros só respondem
pelo passivo nos limites das forças da herança de cada.
Ademais, a transmissão da sucessão é de pleno direito, ou
seja, independe de declaração judicial para seu reconhecimento, pois
no instante da morte se transmite automaticamente, conforme o prin-
cípio da Saisine aos herdeiros legítimos ou testamentários.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 796

Após resolvido, a transmissão da sucessão já fica assegurada


a titularidade do patrimônio que foi deixado pelo autor da herança, que
vai impossibilitar a discussão a respeito da legitimidade da sua posse,
como em casos de doença, essa situação traz consigo a discussão so-
bre a curatela. Ressalta-se que esse instituto não transmite a posse,
pois somente delegou a administração dos bens, porém nunca da su-
cessão. Vale ressaltar que o administrador do espólio será o encarre-
gado da posse direta dos bens do de cujus até que tenha uma senten-
ça, pois ela decidirá sobre o processo de inventário.
Por isso, o momento exato da morte tem relevância jurídica,
visto que, é de fácil verificação quando a morte, tanto do herdeiro ou
do autor da herança, se dá dentro de um curto lapso temporal. Por
isso, nesses casos, a transmissão vai para quem sobreviver, porém se
ocorrer o falecimento deste último, da mesma forma haverá a trans-
missão do patrimônio herdado momentos antes, além do seu próprio,
aos seus sucessores.
Portanto, se por acaso ocorrer a inversão da lógica natural da
morte do filho antes do genitor, o genitor herdará os bens do filho,
sempre com a ressalva da participação dos demais legitimados a su-
ceder, seguindo sempre a ordem de sucessão hereditária. Depois de
entender o instituto da transmissão de bens dos herdeiros, seguindo
sempre a regra máxima que os cônjuges, companheiros, ascenden-
tes e descendentes são os herdeiros necessários para a transmissão
da herança.
O instituto da sucessão, na união estável, tem vários desdobra-
mentos de grande repercussão que vai de encontro aos companheiros
e a chamada ordem de vocação hereditária, visto que é uma organiza-
ção de regras que possui várias consequências, pois coloca na fila de
preferência uns em detrimento de outros a receber o quinhão heredi-
tário, seguindo regras e critérios pré-determinados por lei.
Portanto, são esses critérios e a suas previsões legais que se-
rão esclarecidos, objetivando expor as lacunas que a doutrina e juris-
prudência preenchem no momento de fazer a aplicação da lei, princi-
palmente nas relações entre casais que não estão preenchidos pelas
formalidades do casamento, pois por diversas vezes a lei trata de for-
ma diferente a união estável em relação ao casamento, uma vez que,
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 797

simplesmente a união estável apenas tem referências seguindo sem-


pre as decisões em relação ao casamento, mas não tendo como re-
gras por escrito.

3.1. Identificando os Herdeiros Na Relação De União Estável

A falta de objetividade no ordenamento jurídico pátrio faz exis-


tir diversas dúvidas em relação à forma como a Lei é aplicada. Sobre-
tudo, no que tange a ordem de vocação hereditária da sucessão dos
companheiros e sua concorrência com os demais sucessores e a de-
terminação do quinhão hereditário cabível ao companheiro sobrevi-
vo, o direito real de habitação dos companheiros e a determinação da
quota cabível ao consorte sobrevivo nos casos em que o de cujus era
ainda casado formalmente.
Primeiramente, antes de qualquer discussão sobre os assun-
tos acima citados, será esclarecido o uso dos termos com o objetivo
de evitar confusões conceituais.
Herança: Se trata de designação quanto aos bens particula-
res do de cujus, também conhecida como sucessão. Ela contempla os
bens particulares do(a) falecido(a), que incluem os adquiridos a título
gratuito, por meio de herança, ou doação.
Meação: decorre do regime de bens adotado pelo casal. Me-
diante determina o artigo 1.725 do CC(2002), visto que, na ausência
de acordo entre os companheiros, o regime será o da comunhão par-
cial de bens, que determina que as partes venham participar na aqui-
sição onerosa de bens. Portanto, na união estável não se fala heran-
ça, ou seja, divisão de bens particulares do de cujus, mas tão somen-
te na divisão dos bens adquiridos onerosamente durante a constân-
cia da união.
O STF, recentemente aprovou, para fins de repercussão ge-
ral, a seguinte tese:

No sistema constitucional vigente é inconstitucional a di-


ferenciação de regime sucessório entre cônjuges e com-
panheiros devendo ser aplicado em ambos os casos o re-
gime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil (2002).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 798

Sabe-se que o(a) companheiro(a) era tratado(a) de forma dife-


renciada do cônjuge, como já foi ressaltado por diversas vezes no pre-
sente trabalho. Ademais, no que se refere à transferência de herança
de bens deixados por pessoa falecida, por força do art. 1.790, do Có-
digo Civil (2002).
Por força da Lei, o(a) companheiro(a) sofria muitas diferencia-
ções na sucessão em relação ao cônjuge como: o regime de bens
adotado na união estável não tinha nenhuma consequência no que to-
cante à herança, pois independe do regime adotado na união estável,
o(a) companheiro(a) só teria direito de herdar bens adquiridos onero-
samente na constância da união, visto que, de maneira que o regime
de bens somente seria levado em consideração para separar a me-
ação. Outra diferença era que o(a) companheiro(a), independente do
regime adotado, nunca teria direito aos bens particulares do falecido,
ou seja, os bens que foram adquiridos antes da união estável ou trans-
mitidos para o finado a título gratuito, isto é, através de doação ou he-
rança, mesmo que tivesse escolhido o regime de comunhão universal
na união estável.
Outra característica da união estável no passado, era que na
concorrência com os descendentes do de cujus, o(a) companheiro(a)
somente herdaria de maneira igualitária, ou seja, só herdaria o mesmo
quinhão, se os descendentes fossem comuns, isto significa, que os
descendentes deveriam ser de ambos, pois se não tivesse filhos co-
muns com o finado, somente teria direito a herdar metade da cota que
caberia a cada descendente. Já no caso de haver filiação híbrida (mis-
turada), sequer havia previsão expressa a respeito, por isso a doutrina
majoritária entendia que, neste caso, deveria herdar de maneira igua-
litária aos descendentes.
Na inexistência de descendentes, o companheiro concorre na
sucessão com os parentes do falecido, isto é, outros descendentes,
netos, bisnetos, ascendentes, pais, avós e os colaterais até o quar-
to grau, irmãos, tios e sobrinhos, tios-avós e sobrinhos-netos, porém,
só teria o direito a 1/3 (um terço) da cota cabível. Outra situação era
que inexistentes parentes do falecido para suceder, vale ressaltar que
é uma hipótese bastante remota, o companheiro herdará a totalidade
dos bens.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 799

Outra injustiça que o ordenamento pátrio praticava com o(a) com-


panheiro(a) era que não havia nenhuma previsão legal sobre o direito real
de habitação para o(a) companheiro(a). Contudo, as decisões judiciais e
a doutrina majoritária haviam firmado o entendimento de que esse direi-
to deveria ser estendido aos companheiros, mas não concedendo a vita-
liciedade do benefício, ou seja, o companheiro perderia o direito de morar
no imóvel que teria sido único bem de família do casal, se viesse a casar
com outra pessoa ou estabelecesse união estável com outrem.
O STF recentemente proferiu no julgamento dos Recursos Ex-
traordinários 646721 e 878694, o qual prevaleceu o entendimento
de que o artigo 1.790 do Código Civil (2002) que estabelecia as men-
cionadas diferenças, deveria ser considerado imediatamente incons-
titucional por violar princípios como igualdade, dignidade da pessoa,
proporcionalidade e vedação ao retrocesso, pois não seria aceitável a
desequiparação de união estável e casamento para fins sucessórios,
considerando que ambos são entidades familiares.
Portanto, o que vale para fins sucessórios para quem é casado
também vale para quem constitui união estável é a determinação do
art. 1.829 do Código Civil (2002), que disciplina a sucessão do cônju-
ge, não havendo diferenciação de tratamento entre cônjuge e compa-
nheiro, no que se refere ao recebimento de herança ou legado.
A partir de então, os companheiros, para fins de sucessão,
teriam os mesmos direitos que os cônjuges, de acordo com o art.
1.829 do CC (2002):

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem se-


guinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge so-
brevivente, salvo se casado este com o falecido no regi-
me da comunhão universal, ou no da separação obriga-
tória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regi-
me da comunhão parcial, o autor da herança não houver
deixado bens particulares; II- aos ascendentes, em con-
corrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV
- aos colaterais.

Por isso, o regime de bens não servirá apenas para separar a


meação, porém também irá produzir efeitos quanto ao modo de herdar
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 800

do(a) companheiro(a), na concorrência com descendentes, excluindo-


-se o direito a herdar, em regra, quando a união estável estiver ao re-
gime de comunhão universal, de comunhão parcial sem bens adquiri-
dos antes da constância da união estável (particulares) e da separa-
ção obrigatória de bens. Portanto, nesses casos apontados anterior-
mente a herança seria transmitida apenas aos descendentes.

4 METODOLOGIA

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica com embasamento


em artigos científicos, trabalhos acadêmicos, sites jurídicos, jurispru-
dências, decisões no ordenamento judiciário e acórdãos de diversos
tribunais de Justiça do país acerca do tema abordado. A busca foi feita
por meio dos unitermos “União Estável”, “Pos Mortem”, “Jurisprudên-
cias” e “Acórdãos”, presentes nos artigos encontrados. Foram selecio-
nadas ideias de diversos autores que se encontram em todo o corpo
do presente trabalho.
A amostra do estudo é constituída por artigos científicos, deci-
sões jurisprudenciais, acórdãos e conceitos teóricos de vários autores
da seara jurídica brasileira, todos na língua portuguesa, completos e
disponíveis, com publicação entre janeiro de 2011 a janeiro de 2022.
Segundo estudos, observa-se que o instituto da união estável passou
por transformações desde o Direito Romano, Idade Média até os dias
atuais, sendo que, em recente decisão, o STF (Supremo Tribunal Fe-
deral) reconheceu a união estável entre casais homoafetivos.
Ademais, o direito sucessório passou a ser um direito na união
estável, o qual também foi uma nova decisão, pois apesar da União
Estável ter sido considerada como entidade familiar, o ordenamen-
to pátrio realizou muitas injustiças no decorrer dos anos, visto que,
por diversas vezes não reconhecia o(a) companheiro(a) como herdei-
ro necessário do de cujus. Situações constatadas por meio de várias
publicações abordaram especificamente a temática. A análise de con-
teúdo será dividida em três fases: pré-análise, exploração do material
e tratamento do tema através de inferências e interpretações.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 801

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em detrimento da evolução social é importante destacar a


transformação histórica do conceito de família, ocasionando numa sé-
rie de circunstâncias que ensejou consequências no cenário jurídico
do Direito de Família. Haja vista que a sociedade é de suma importân-
cia para fomentações dos instrumentos legais. Em evolução aos direi-
tos sociais, a Constituição Federal de 1988 inovou, especialmente, no
que tange sobre a proteção no âmbito das famílias e fora delas, sendo
em questões de laços familiares ou em questões patrimoniais que ge-
ram consequências na seara sucessória. Os novos contornos do Direi-
to de Família também adotam, na atualidade, novos princípios, quais
sejam, o princípio da dignidade da pessoa humana, da solidariedade
familiar, da igualdade de gêneros, de filhos e das entidades familiares,
da convivência familiar
Por isso, o instituto da união estável passou por mudanças pro-
fundas que de uma relação à margem da Lei passou a ser um instituto
jurídico mencionado na Lei, doutrina e em julgados da seara jurídica.
Por isso, o Supremo Tribunal Federal (STF) em recente decisão con-
cluiu um julgamento acerca da equiparação entre cônjuge e compa-
nheiro para fins de sucessão, inclusive em união homoafetiva.
Conforme, a decisão proferida no julgamento dos Recursos Ex-
traordinários 646721 e 878694, declarou-se a inconstitucionalidade do
artigo 1.790 do Código Civil (2002), concluindo que não existe elemen-
to de discriminação que justifique o tratamento diferenciado entre côn-
juge e companheiro estabelecido pelo Código Civil.
Cumpre salientar ainda que a legislação civilista redefiniu o as-
pect conceituaç de união estável, extinguindo determinadas exigên-
cias que se faziam necessárias para a sua caracterização, significan-
do um avanço social e legal no sentido de possibilitar que um maior
número de casais se beneficiem das normas direcionadas a normati-
zar as relações familiares não formalizadas pelo casamento.
Portanto, diante do exposto, conclui-se a respeito do tema que
apesar de tais mudanças legislativas já serem um avanço social e le-
gal quanto aos direitos sucessórios do companheiro ou companhei-
ra, estas ainda não são suficientes para que o companheiro tenha to-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 802

dos os seus direitos garantidos, posto que a eficácia legislativa deve


ser garantida socialmente. Assim, de forma prudente e coerente com
a nova realidade social, o direito sucessório em particular na união es-
tável é reconhecido e avaliado de forma essencial para promoção da
lídima justiça.

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DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 803

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE GOIÁS. Apelação cí-
vel n° 0289660.05,2015.8.09.0152. Apelação cível n°
0289660.05,2015.8.09.0152, [S. l.], p. jurisprudência, 1 nov. 2018. Dispo-
nível em: https://www.jusbrasil.com.br/. Acesso em: 1 nov. 2022.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 804

CAPÍTULO 57

VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E IDENTIDADE: AS


EXPERIÊNCIAS PERPASSADAS PELAS
MULHERES INDÍGENAS E IMPOSSIBILIDADES
DISCURSIVAS SOBRE A QUESTÃO

Rafael Vieira de Britto Paulino


Formado em História Bacharelado e Pós-Graduado
em Ensino de História pela Universidade Federal de
Alagoas.Cursando Licenciatura em História pela
mesma Instituição e vinculado ao Programa de
Pós - Graduação de História – PPGH – Mestrado.
http://lattes.cnpq.br/5664867368757451

Maria Luciene da Silva


Formada em Administração de Empresas pela
UNIFAL e técnica em enfermagem pela Escola
Técnica Santa Bárbara.
Pesquisadora com enfoque nas relações
de poder e violência patrimonial.

Danielle da Silva Santos


Graduanda do curso de Pedagogia – Unicesumar.
Pesquisa as formas de violência que acontecem na escola.

Resumo
O presente texto perpassa as leituras de assuntos referentes ao coti-
diano dos povos originários e as possíveis reflexões sobre questões
tangentes a estes. Ao que corresponde às preocupações e dimensões
argumentativas para análise sobre ‘Negacionismos e genocídio de in-
dígenas1’, ‘imagens e colonialidade2’, ‘descolonização do ensino de
1 TUXÁ, Felipe. Negacionismo histórico e genocídio indígena no Brasil. In: ZELIC, Marcelo;
ZEMA, Ana Catarina; MOREIRA, Elaine. Genocídio indígena e políticas integracionis-
tas: demarcando a escrita no campo da memória. 1. ed. São Paulo: Instituto de Políticas Re-
lacionais, 2021.
2 SANCHEZ, Daniel Guillermo Gordillo. Imagens, livros didáticos e colonialidade. RELACult –Re-
vista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade. 03, ed. especial, dez., 2017.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 805

história indígena3’, ‘ações políticas como representante das mulheres


indígenas4’, ‘ações político-pedagógicas do grupo Mulher-Educação
indígena5’ e ‘trajetória política de Maninha Xukuru-Kariri6’. A partir dis-
to, perceber como as mulheres indígenas são agredidas por uma so-
ciedade alicerçada em preconceitos e em relações de poder e submis-
são. Consequentemente, discute algumas possibilidades de interven-
ção e movimentos de intervenção a partir do entendimento do que sig-
nifica estas formas de violência em particular.
Palavras Chaves: Violência contra a mulher. Violência simbólica. Mu-
lher indígena

Abstract
The present text permeates the readings of subjects related to the dai-
ly life of the native peoples and the possible reflections on questions re-
lated to them. What corresponds to the concerns and argumentative di-
mensions for analysis on ‘Indigenous denialism and genocide’, ‘images
and coloniality’, ‘decolonization of indigenous history teaching’, ‘political
actions as a representative of indigenous women’, ‘political-pedagogi-
cal actions of the Indigenous Woman-Education Group’ and ‘Maninha
Xukuru-Kariri’s political trajectory’. From this, to perceive how indige-
nous women are attacked by a society based on prejudices and on rela-
tions of power and submission. Consequently, it discusses some possi-
bilities for intervention and intervention movements based on the under-
standing of what these forms of violence mean in particular.
Keywords: Violence against women. Symbolic violence. Indigenous
woman.
3 RESENDE, Ana Catarina Zema de; MOREIRA, Erika Macedo. Ferramentas epistemológi-
cas para a descolonização do Ensino da História Indígena. Revista Relicário, Uberlân-
dia, v. 4, n. 7, jan./jun. 2017.
4 MACEDO, Michelle Reis de. “Território: nosso corpo, nosso espírito”: as ações políticas de
Tuíra Kayapó como representante das mulheres indígenas no Brasil recente. In: Mulheres
tecendo o tempo: experiências e experimentos femininos no medievo e na contemporanei-
dade. Karla Carloni; Carolina Coelho Fortes. (Org.). Curitiba: CRV, 2020. 278 p.
5 MACEDO, Michelle Reis de. “Mulheres indígenas, organizem-se! Mesmo que seja em suas
casas”: as ações político-pedagógicas do Grupo Mulher-Educação Indígena (décadas de
1980 e 1990). In: Mulheres no Brasil Republicano. CARLONI, Karla; MAGALHÃES, Lívia.
6 MACEDO, Michelle Reis de; SILVA JÚNIOR, Aldemir Barros da. “Não posso viver fugindo,
vou ficar”: a trajetória política de Maninha Xukuru-Kariri no movimento indígena durante a
redemocratização brasileira (década de 1990). In: (Re)Existências LGBTQIA+ e feminis-
mo na ditadura civil-militar e na redemocratização do Brasil. [recurso eletrônico]/ orga-
nizadores Elias Ferreira Veras, Joana Maria Pedro, Benito Bisso Schimdt. — Maceió: Edu-
fal, 2023.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 806

A violência simbólica7 – a construção do panorama e as relações


de poder8

As violências perpetradas contra as mulheres têm suas deno-


minações transformadas ao longo dos anos e acompanham as meta-
morfoses sociais. No que tange a questão da mulher em situação de
vulnerabilidade e violência, há prerrogativas que tangenciam este lia-
me, sendo estas, o patriarcado9, como organização social fundamen-
tada na percepção masculina10 e a sexualidade.
No instante em que estas questões tangentes tocam e/ou infe-
rem-se no âmbito das relações privadas – entre mulheres e homens –,
dar-se a necessidade da análise a partir do entendimento de gênero11.
Fala-se em “âmbito das relações privadas”, pois, histórico-judicialmen-
te, parte significativa dos casos de agressão contra as mulheres ocor-
rem no ambiente doméstico e/ou familiar.
Em uma sociedade em que os privilégios são concedidos ao
homem – um adendo importante é salientar que os ‘sólidos culturais12’
advinham de concepções anteriores e naturalizadas ao passar de vá-
rias décadas e séculos –, e a figura da mulher estava e está numa po-
7 BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2020. p. 61.
8 Os autores Foucault, Perrot e Van Dijk tratam sobre o conceito de poder – nesse certame
não são auto-excludentes. Utilizada-se em sua forma aplicada – e de forma mais simplifica-
da – para Foucault entende-se o poder em caráter estratégico imbricado na relação do po-
der com o contrapoder; para Van Dijk o poder é relacional e percebido na interação, munin-
do-se, dentre algumas proposições, do discurso como reprodução ideológica; Perrot (2017),
percebe seu viés polissêmico, no singular designa a figura cardeal do Estado que é comu-
mente masculina, no plural, ‘se estilhaça em fragmentos múltiplos, equivalentes a “influên-
cias” difusas e periféricas, em que as mulheres têm sua grande parcela’. PERROT, Michel-
le. Os Excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Seleção de texto e intro-
dução de Maria Stella Martins Bresciani. Tradução de Denise Bottmann. 8ª ed. Rio de Ja-
neiro/São Paulo. Paz e Terra, 2017.p. 177.
9 SAFFIOTI, Helieth. Gênero, patriarcado, violência. 2ª ed. São Paulo: Editora Expressão
Popular, 2015. p. 53.
10 BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2020.
11 SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. (Tradução de Christine Ru-
fino Dabat e Maria Betânia Ávila). Disponível em: < moodle.stoa.usp.br/mod/resource/view.
php?id=39565>. Acesso em 23 de Junho de 2022.
12 Refere-se sobre a construção dos costumes culturais, que por vezes se encontram em pou-
ca dinamicidade de mudança. Portanto, ao propor a junção dos dois conceitos ‘sólidos’ e
‘culturais’ pretende-se aludir aos costumes construídos e reproduzidos pela sociedade em
sua particularidade e alicerçada por suas instituições – igrejas, hospitais, escolas, presí-
dios, política, etc. Ao tratar de costumes e cultura, ver: THOMPSON, E. P. Costumes em
Comum. Revisão Técnica Antonio Negro, Cristina Meneguello, Paulo Fontes. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998. p. 13-14.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 807

sição de subordinação arraigada nos imperativos culturais, religiosos


e jurídicos.
As fontes e referências apontam que panorama foi de vulnera-
bilidade no qual as mulheres se encontravam sujeitadas, em uma cres-
cente exponencial advindo do aumento de relatos e notícias de violên-
cias, com legitimação dos imaginários sociais. O rompimento dessa
prática veio por meio de lutas nas demais frentes – quer sejam na es-
fera política e representativa social, quer seja nos meandros da estru-
tura institucional intrafamiliar –, como bem expressa Saffioti13, quando
traz luz que a sociedade patriarcal produzia as “grades” e inferiorizava
a mulher, portanto é lá que deve conter a resistência feminina.
Ao percorrer os casos de violência acometidos contra as mu-
lheres faz-se necessário perceber as relações dentro do seio familiar
e as inferências que a sociedade civil infere na mesma. À vista disso,
considera-se o nexo entre os costumes14 (Thompson, 1998) com a for-
mação social da família15 (Ariès, 2012) como catalisador das experiên-
cias cotidianas de construção dos corpos em seu próprio meio. Toda-
via, a relação intrafamiliar é pautada na disparidade das funções es-
pecíficas em detrimento à sexualidade, portanto, para as mulheres as
funções estavam ligadas ao ambiente doméstico e aos homens à fi-
gura do provedor e chefe da casa. Deste modo, ao compor um espa-
ço baseado na diferença de sexualidade16 (Foucault, 2020), no qual as
disposições das funções subjulgam um perante o outro, prepondera-
-se um panorama de dominação masculina17 (Bourdieu, 2020).
A perspectiva de relação do poder desigual que propicia a
dominação de uma pelo outro, homens sobre as mulheres, desa-
guou nos inúmeros casos de agressão contra as mulheres – no
seio familiar era sob as ordens do pai e para boa educação e, ao
se casa, do marido que detinha todos os meios de subsistência da
13 SAFFIOTI, Helieth. Gênero, Patriarcado, Violência. 2ª ed. São Paulo: Editora Expressão
Popular, 2015.
14 THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. Revisão Técnica Antonio Negro, Cristina Mene-
guello, Paulo Fontes. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 13-14.
15 ARIES, Phillipe. História Social da Criança e da Família. Tradução de Dora Flaksman. Rio
de Janeiro. 2º edição , 2012. p. 191.
16 FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: A Vontade de Saber. Tradução de Ma-
ria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 10ª ed. Rio de Janeiro/São
Paulo, Paz e Terra, 2020. p. 112.
17 BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2020. p. 44.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 808

família. Neste aspecto, os casos de violência contra as mulheres


ocorriam cotidianamente e, neste cenário, sobre o entendimento de
‘violência doméstica’, contudo, ressalta-se que muitas foram as lu-
tas das mulheres, na voz das feministas em representação pública,
para institucionalizar mecanismos voltados a questão da violência
contra a mulher.
É na relação intrafamiliar que as disparidades dos agentes as-
sumem papéis predefinidos mediante a cultura em que estão inseri-
dos. Uma ‘relação de poder’18 e, por conseguinte, hierarquia19 são fe-
cundos no seio da família. A compreensão dessa relação é, sobretu-
do, destinada pela diferença sexual20 e no que compete a cada sexo.
Tal percepção produz as identidades distintas e os limites que se aco-
mete à esposa e ao marido.
Arraigado na perspectiva de sexualidade como dispositivo de
produção de verdade21, portanto poder, a cristalização do lugar de
submissão que a esposa que fora ‘docilizada22’, para o cumprimento
estrito do que lhe foi posto como destino único – deveria ser uma es-
posa exemplar, uma mãe maravilhosa e obedecer à ordem sociocul-
tural para condutas/comportamentos. A família era o ambiente de ma-
nutenção dos costumes que, por séculos, tornou a mulher coadjuvan-
te da sua própria existência subordinando-a, apenas, a complementar

18 Os autores Foucault, Perrot e Van Dijk tratam sobre o conceito de poder – nesse certame
não são auto-excludentes. Utilizada-se em sua forma aplicada – e de forma mais simplifica-
da – para Foucault entende-se o poder em caráter estratégico imbricado na relação do po-
der com o contrapoder; para Van Dijk o poder é relacional e percebido na interação, munin-
do-se, dentre algumas proposições, do discurso como reprodução ideológica; Perrot (2017),
percebe seu viés polissêmico, no singular designa a figura cardeal do Estado que é comu-
mente masculina, no plural, ‘se estilhaça em fragmentos múltiplos, equivalentes a “influên-
cias” difusas e periféricas, em que as mulheres têm sua grande parcela’. PERROT, Michel-
le. Os Excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Seleção de texto e intro-
dução de Maria Stella Martins Bresciani. Tradução de Denise Bottmann. 8ª ed. Rio de Ja-
neiro/São Paulo. Paz e Terra, 2017.p. 177.
19 Remete-se a concepção de sobreposição entre as partes. No instante em que A têm mais
predicados que B e, entre esses há uma relação de dependência mútua, instaura-se uma
hierarquia.
20 A obra de Foucault sobre a sexualidade buscou investigar as produções dos discursos de
verdade que fomenta a miséria sobre a sexualidade, partindo da diferença sexual anatômica
ao dispositivo de poder criado pela sexualidade. FOUCAULT, Michel. História da Sexuali-
dade 1: A Vontade de Saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Gui-
lhon Albuquerque. 10ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo, Paz e Terra, 2020.
21 FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 2013, p. 346.
22 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 42. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014, p. 133.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 809

uma cultura que versava a dominação masculina23, tanto macro, quan-


to nas ‘micro’ estruturas institucionais.
Possuir o sexo feminino era uma prerrogativa lógica de uma
identidade comum, permitindo inclusão na categoria mulher. Segundo
Bourdieu: “[...] a palavra ‘categoria’ impõe-se por vezes porque tem o
mérito de designar ao mesmo tempo uma unidade social – a catego-
ria dos agricultores – e uma estrutura cognitiva, e de tornar manifes-
to o elo que as une24”. Tinha-se uma relação direta quanto e, para as
mulheres, de submissão ao masculino, tornando-as alvo de opressão.
A concepção da sociedade como androcêntrica é força motriz
para que se incorpore a dominação no íntimo da família advindo de to-
das as prerrogativas sociais e culturais (Bourdieu, 2020). “As regulari-
dades da ordem física e da ordem social impõem e inculcam as medi-
das que excluem as mulheres das tarefas nobres [...], atribuindo-lhes
tarefas penosas, baixas e mesquinhas”25. Nesse aspecto,

A família tornou-se restrita aos espaços privados, indivi-


dualista, conjugal e diferenciada do resto da comunidade,
além de passar a contar, dentro dela, com a diferencia-
ção de seus membros [...]. Em períodos anteriores, orien-
tava-se para o espaço público, com o comportamento co-
tidiano mais ligado aos aspectos produtivos, à vizinhan-
ça e a sociabilidade, refletido na própria construção das
moradias, onde dificilmente a privacidade poderia ser en-
contrada26.

A relação entre os sexos no ambiente familiar, como fora supra-


citado, é lugar de hierarquia e, portanto, de uma dominação enraiza-
da culturamente que deságua na estrutura intrafamiliar. Numa dispa-
ridade objetiva do poder entre a esposa e o marido – bem como nas

23 Compreendem-se as reflexões do trabalho de Bourdieu que busca construir análises sobre


os preceitos que ‘regulamentam’ o poder masculino e das acepções masculinas na socieda-
de institucional. BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Ber-
trand Brasil, 2020.
24 BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2020. p. 17.
25 BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2020. p. 46-47.
26 FARIA, Sheila de castro. História da Família e Demografia Histórica. In. Domínios da His-
tória. Org. Ciro Flamarion Cardoso, Ronaldo Vainfas. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
p. 238.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 810

obrigações mútuas –, ocorre o que Bourdieu denomina como violên-


cia simbólica27.
A partir da conceituação de violência simbólica utilizada por
Bourdieu (2020)28, e das concepções que as relações de família fo-
mentam para as mulheres, foram estabelecidas durante os séculos as
prerrogativas sexuais, hierárquicas e conceituais que aludem à con-
cepção do espaço conjugal. Na relação direta entre os corpos – mu-
lheres e homens – existe uma economia moral e de costumes29 que
tem como característica performar as ações e as concepções destes
agentes. Todavia, no sentido performático30, todos os limites de dinâ-
mica e movimentação já estão estabelecidos, naturalizados e vigiados
em limiar aceitável – a produção, reprodução e manutenção da domi-
nação social androcêntrica sobre a mulher por meio da família.
A interdição31, opera na distinção de faculdades particulares
entre os pares, em que se permeia o costume da dominação de um
sobre o outro, tocando, segundo Bourdieu (2020, p. 20), na cons-
trução dos corpos32. Na composição das estratégias de dominação
discursivas inferidas na sexualidade33, a percepção da responsabi-
lidade de prover a família e as obrigações de ‘trabalho remunera-

27 Segundo Bourdieu: Ao tomar “simbólico” em um de seus sentidos mais correntes, supõe-se,


por vezes, que enfatizar a violência simbólica é minimizar o papel da violência física e (fa-
zer) esquecer que há mulheres espancadas, violentadas, exploradas, ou, o que é ainda pior,
tentar desculpar os homens por essa forma de violência. O que não é, obviamente, o caso.
Ao se entender “simbólico” como o oposto de real, de efetivo, a suposição é de que a vio-
lência simbólica seria uma violência meramente “espiritual” e, indiscutivelmente, sem efei-
tos reais. É esta distinção simplista, característica de um materialismo primário, que a teoria
materialista da economia de bens simbólicos, em cuja elaboração eu venho há muitos anos
trabalhando, visa a destruir, fazendo ver, na teoria, a objetividade da experiência subjetiva
das relações de dominação. BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2020. p. 2020. p. 63.
28 BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2020. p. 63.
29 THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. Revisão Técnica Antonio Negro, Cristina Mene-
guello, Paulo Fontes. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 13.
30 BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução:
Renato Aguiar. 20ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020. p. 141.
31 FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: A Vontade de Saber. Tradução de Ma-
ria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 10ª ed. Rio de Janeiro/São
Paulo, Paz e Terra, 2020. p. 92.
32 BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2020. p. 20.
33 FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: A Vontade de Saber. Tradução de Ma-
ria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 10ª ed. Rio de Janeiro/São
Paulo, Paz e Terra, 2020. p. 20.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 811

do’ – o operário34 –, resultam na interdição das ações da mulher. É


nesta sobreposição de situações que a interseccionalidade35 ense-
ja a consciência dos discursos e das relações de poder36, que pai-
ram sob a instituição família.

A ordem social funciona como uma imensa máquina sim-


bólica que tende a ratificar a dominação masculina sobre
a qual se alicerça: é a divisão social do trabalho, distribui-
ção bastante estrita das atividades atribuídas a cada um
dos dois sexos, de seu local, seu momento, seus instru-
mentos; é a estrutura do espaço, opondo o lugar de as-
sembleia ou de mercado, reservados aos homens, e a
casa, reservada às mulheres; ou, no interior desta, entre
a parte masculina, com o salão, e a parte feminina, com
o estábulo, a água e os vegetais; é a estrutura do tempo,
a jornada, o ano agrário, ou o ciclo de vida, com momen-
tos de ruptura, masculinos, e longos períodos de gesta-
ção, femininos37.

O caráter violento que a situação de instabilidade transporta-


va para o corpo feminino, em meio ao trabalho, acompanhava o sen-
timento de posse masculina à mulher. Portanto, o certame que a se-
xualidade infere-se na estrutura das relações de poder, a interdição –
que se encontrava sob a ótica do controle mediante as ações –, pas-
sara a corroborar no aspecto de dominação e ‘adestramento’38 a par-
tir do uso da força física.
A relação em que a cultura e os costumes39 permeiam a socie-
dade a partir dos dispositivos de interdição40, cercam e ‘educam’ a mu-
34 PERROT, Michelle. Os Excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Seleção
de texto e introdução de Maria Stella Martins Bresciani. Tradução de Denise Bottmann. 8ª
ed. Rio de Janeiro/São Paulo. Paz e Terra, 2017. p. 108.
35 CRENSHAW, Kimberlé. Mapeando As Margens: Interseccionalidade, Política Identitárias E
Violência Contra Mulher De Cor. In. Corpos em Aliança: Diálogos Interdisciplinares sobre
Gênero, Raça e Sexualidade. Org. MARTINS, Ana Claudia Aymoré & VERAS, Elias Ferrei-
ra. Maceió - AL. 2020. p 24-99.
36 DIJK. Teun A. van. Discurso e Poder. 2ª. ed. 4ª reimpressão. São Paulo. Contexto, 2018.
p. 49.
37 BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2020. p. 24.
38 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 42ª. ed. Petrópolis, RJ: Vozes.
2014. p. 190.
39 THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. Revisão Técnica Antonio Negro, Cristina Mene-
guello, Paulo Fontes. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 13.
40 FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: A Vontade de Saber. Tradução de Ma-
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 812

lher perante termos comuns. As virtudes incutidas sobre a responsabi-


lidade feminina serviram para que fossem impedidas de alcançar cer-
ta separação da figura masculina, remetendo-as aos ambientes mais
restrititos e maculando sua experiência – que poderia ser libertária –,
ao panóptico de sua existência. A esta economia moral41, que permi-
te a submissão, quase que irrestritamente, alcunha-se ‘patriarcado42’.

Mulher indígena – as questões sobre violência

A preservação da cultura dos povos originários é fundamental


para a manutenção da diversidade cultural e da história da humanida-
de. A riqueza cultural desses povos é vasta e engloba diversos aspectos,
desde a língua até as práticas religiosas e de subsistência. No entanto,
essa cultura tem sido ameaçada ao longo do tempo, seja pela imposição
de outras culturas ou pela exploração dos recursos naturais em terras in-
dígenas. Preservar a cultura dos povos originários é, portanto, uma for-
ma de garantir a diversidade cultural e o respeito à história desses povos.
Dentro dessa cultura, a mulher indígena ocupa um papel fun-
damental. Ela é responsável pela transmissão dos valores e conheci-
mentos ancestrais para as gerações seguintes, além de ser a guardiã
das tradições e das práticas culturais de seu povo. No entanto, a mu-
lher indígena também é vítima de violência e discriminação, o que tor-
na ainda mais importante o reconhecimento e a valorização de seu pa-
pel na sociedade.
Ao preservar a cultura dos povos originários e valorizar o papel
da mulher indígena, contribui-se para a construção de uma sociedade
mais justa e inclusiva. A diversidade cultural é um patrimônio da huma-
nidade e deve ser preservada e respeitada, assim como os direitos e
a dignidade das mulheres indígenas. É necessário, portanto, que se-
jam desenvolvidas políticas públicas que garantam o reconhecimento
e a valorização dessas culturas e dessas mulheres, além do combate
à violência e à discriminação que elas sofrem.
ria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 10ª ed. Rio de Janeiro/São
Paulo, Paz e Terra, 2020. p. 92.
41 THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. Revisão Técnica Antonio Negro, Cristina Mene-
guello, Paulo Fontes. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 203.
42 SAFFIOTI, Helieth. Gênero, Patriarcado, Violência. 2ª ed. São Paulo: Editora Expressão
Popular, 2015. p. 53.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 813

Nesses termos, a experiência da mulher indígena perpassa as


dificuldades de toda e qualquer mulher brasileira – tento como limite
para as ponderações o Brasil –, contudo, há as nuances por ser indí-
gena. Noutros termos, ao que condizem ‘ser mulher’, todas as proble-
máticas e interdições43 presentes às mulheres e, concomitantemente,
todas as experiências e problemáticas por ser dos povos originários.
A violência contra as mulheres indígenas é uma realidade his-
tórica e persistente que se perpetua até os dias atuais. Segundo da-
dos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), as mulheres
indígenas são as que mais sofrem violência sexual no Brasil, o que re-
vela a vulnerabilidade dessas mulheres diante de uma sociedade ain-
da marcada pelo patriarcado e pela opressão. Além disso, é preciso
denunciar a invisibilidade dessas mulheres na sociedade e a falta de
reconhecimento da diversidade cultural que elas representam.
Para compreender a complexidade desse problema, é funda-
mental recorrer a autores e conceitos da sociologia e da filosofia, como
as ideias de patriarcado, percepção masculina, sexualidade e discur-
sos. A abordagem crítica dessas questões é necessária para questio-
nar as estruturas sociais que perpetuam a violência contra as mulhe-
res indígenas e exigir mudanças efetivas na política pública.
Nesses termos, a violência contra a mulher indígena ultrapas-
sa apenas a relação entre os sexos – se evadindo neste ponto de
ponderar sobre as construções acerca dos debates de gênero – e
fundamenta-se na percepção do outro, os ‘não indígenas’, em de-
trimento a construção da identidade e os caracteres simbólicos de
identidade. Desta forma, ao experiênciar a vida enquanto mulher, e,
portanto se aproxima da simbologia contida nas relações de poder
entre os sexos, a violência constitui-se enquanto simbólica e infere-
-se a toda e qualquer mulher, contudo, ao ponderar a identidade en-
quanto ‘povos originários’ a violência admite um caráter identitário
de segregação, onde esta agressão é colocada enquanto permissi-
va, aos termos de Mbembe44 (2018).
É importante ressaltar que, ao transpassar as análises sobre a
43 FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: A Vontade de Saber. Tradução de Ma-
ria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 10ª ed. Rio de Janeiro/São
Paulo, Paz e Terra, 2020. p. 92.
44 MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da mor-
te. São Paulo: N-1 edições, 2018.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 814

mulher indígena ao que condiz sobre a égide da violência – quer seja


simbólica ou de identidade –, buscou afastar as percepções dos deba-
tes de gênero e suas implicações por propor uma percepção ativa das
mulheres e, sobretudo da defesa de sua identidade enquanto povo ori-
ginário. Concomitantemente, admitir que as temáticas de gênero se in-
siram sobre as análises é, primeiramente, forçar uma conjectura exte-
rior ao cotidiano dessas mulheres – sobre as prerrogativas da mulher
‘não indígena’ para resolver/discutir a mulher indígena e, por fim, di-
minuir a própria acepção do que é ser mulher indígena – dentro e fo-
ras das comunidades –, colocando-as como agente ativo da constru-
ção da realidade e, livrando-as, de um debate de política representati-
va que as mesmas não tendem a pertencer.
Ao proporcionar que a violência – simbólica ou de identidade –
tocasse a experiência cotidiana da mulher indígena, evidencia que a
marginalização dos povos originários é reforçada por várias questões
interseccionais e, invariavelmente, culminam nos lugares permissivos
para que a violência seja proferida. Noutros termos, no instante em
que a opinião pública45 promove uma identificação que os povos origi-
nários e a estes é passível de atos violentos46.
Por fim, ao transitar sobre as relações de identidade e violência
contra as mulheres indígenas ressaltam a posição marginalizada sub-
metida aos povos originários e a dimensão preconceituosa para com
os mesmos. Isto posto, os múltiplos discursos ao se encontrar nos
costumes sociais expressam, de forma indireta, quais são os interes-
ses, as partes que detém do poder para oprimir e daqueles que são
sujeitos a submissão. Como expressa Dijk (2018).

O poder de A precisa de uma base, ou seja, de recursos


socialmente disponíveis para o exercício do poder, ou da
aplicação de sansões de desobediência. Esses recursos
consistem geralmente em atributos ou bens socialmente
valorizados, mas desigualmente distribuídos, tais como
riqueza, posição, posto, status, autoridade, conhecimen-
to, habilidade, privilégios ou mesmo um mero pertenci-
mento a um grupo dominante ou majoritário. O poder é
45 BECKER, Jean-Jacques. A Opinião Pública. In. Por Uma História Política. René Rémond
(org). Tradução Dora Rocha. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. p. 185-211.
46 MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da mor-
te. São Paulo: N-1 edições, 2018. p. 18.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 815

uma forma de controle social se sua base for construí-


da de recursos socialmente relevantes. Em geral, o po-
der é intencional ou involuntariamente exercido por A a
fim de manter ou ampliar a base de poder de A ou evi-
tar que B a tome. Em outras palavras, o exercício de po-
der por A atende geralmente aos interesses de A. Um fato
crucial no exercício ou na preservação do poder é que,
para A exercer controle mental sobre B, B precisa conhe-
cer o desejos, as vontades, as preferências ou as inten-
ções de A. Além da comunicação direta – por exemplo,
em atos de fala, tais como comandos, pedidos ou ame-
aças –, esse conhecimento poder ser inferido das cren-
ças, das normas ou dos valores culturais, de um com-
partilhado (ou contestado) consenso dentro de uma es-
trutura ideológica ou da observação e interpretação das
ações de A47.

Destarte, quebrantar o panorama da violência é reformar o ima-


ginário proposto pelos discursos preconceituosos para com os indíge-
nas e, sobretudo, incentivar a preocupação com a educação sobre a
importância da preservação da cultura e na criação de políticas públi-
cas sobre essas questões. Desta forma, é no ambiente escolar que,
invariavelmente, se encontram as melhores possibilidades de inter-
venção à situação discutida.

Considerações Finais

Em face da violência contra a mulher indígena, é fundamental


que sejam desenvolvidas políticas públicas efetivas que garantam o
reconhecimento e a valorização dessas mulheres e de suas culturas.
Para tal, é necessário compreender as complexas relações de poder
e dominação que envolvem a questão, como o patriarcado, a organi-
zação social baseada na percepção masculina e a sexualidade, como
apontam autores como Saffioti48 (2015), Bourdieu49 (2020) e Foucault50
47 DIJK. Teun A. van. Discurso e Poder. 2ª.ed. 4ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2018. p.
42.
48 SAFFIOTI, Helieth. Gênero, Patriarcado, Violência. 2ª ed. São Paulo: Editora Expressão
Popular, 2015.
49 BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2020
50 FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso: aula inaugural no Collège de France. 24ª. ed.
São Paulo: Edições Loyola, 2014. ____________. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 816

(2013/2014/2020). Além disso, é preciso combater discursos que na-


turalizam e legitimam a violência contra as mulheres, como apontado
por Van Dijk51 (2018).
A luta contra a violência à mulher indígena não pode ser vista
de forma isolada, mas deve ser abordada a partir de uma análise críti-
ca e ampla que leve em conta a estrutura social que a produz e a man-
tém. Assim, é essencial que haja uma ampla divulgação e reflexão so-
bre a questão, a fim de conscientizar a sociedade sobre a gravidade
do problema e promover mudanças culturais que respeitem os direi-
tos e a dignidade dessas mulheres. A clareza na exposição dos argu-
mentos e o uso de referências bibliográficas importantes para a com-
preensão da questão podem ser ferramentas valiosas nessa luta con-
tra a violência à mulher indígena.
Além disso, a educação é uma ferramenta fundamental para
combater a violência contra as mulheres indígenas. É preciso que se-
jam criados espaços de formação e reflexão que levem em considera-
ção a cultura e a realidade dessas mulheres, promovendo uma educa-
ção antirracista, antidiscriminatória e de gênero.
É importante que a educação aborde o tema da violência con-
tra as mulheres indígenas desde a infância, de forma a conscientizar
meninos e meninas sobre a importância do respeito às diferenças cul-
turais e de gênero. Além disso, é fundamental que a educação ofere-
ça às mulheres indígenas oportunidades de formação e capacitação,
possibilitando que elas tenham acesso a conhecimentos e habilidades
que as tornem mais independentes e empoderadas.
A educação também deve ser aliada à implementação de polí-
ticas públicas que garantam a proteção e a promoção dos direitos das
mulheres indígenas. Essas políticas devem ser elaboradas com a par-
ticipação das próprias mulheres indígenas, respeitando suas culturas,
tradições e formas de organização social.
Em suma, o combate à violência contra as mulheres indígenas é
uma tarefa complexa que exige o envolvimento de diferentes setores da

42ª. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. ____________. Microfísica do Poder. São Paulo:
Graal, 2013. ____________. História da Sexualidade 1: A Vontade de Saber. Tradução de
Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 10ª ed. Rio de Janeiro/
São Paulo, Paz e Terra, 2020.
51 DIJK. Teun A. van. Discurso e Poder. 2ª. ed. 4ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2018.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 817

sociedade. A educação pode ser uma importante aliada nesse proces-


so, desde que seja pensada de forma crítica, contextualizada e inclusiva.

REFERÊNCIAS

ARIES, Phillipe. História Social da Criança e da Família. Tradução


de Dora Flaksman. Rio de Janeiro. 2º edição , 2012.
BECKER, Jean-Jacques. A Opinião Pública. In. Por Uma História Po-
lítica. René Rémond (org). Tradução Dora Rocha. 2ª. ed. Rio de Ja-
neiro: Editora FGV, 2003. p. 185-211.
BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 18ª. ed. Rio de Janei-
ro: Bertrand Brasil, 2020.
DIJK. Teun A. van. Discurso e Poder. 2ª. ed. 4ª reimpressão. São
Paulo: Contexto, 2018.
FARIA, Sheila de castro. História da Família e Demografia Históri-
ca. In. Domínios da História. Org. Ciro Flamarion Cardoso, Ronaldo
Vainfas. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. São Paulo: Paz e Ter-
ra, 2005.
____________. A Verdade e as Formas Jurídicas. 4ª. ed. Rio de Ja-
neiro: Nau, 2013.
____________. A Ordem do Discurso: aula inaugural no Collège de
France. 24ª. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
____________. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. 42ª. ed. Petró-
polis, RJ: Vozes, 2014.
____________. Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 2013.
____________. História da Sexualidade 1: A Vontade de Saber. Tra-
dução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albu-
querque. 10ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo, Paz e Terra, 2020.
MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de ex-
ceção, política da morte. São Paulo: N-1 edições, 2018.
PERROT, Michelle. Os Excluídos da História: Operários, Mulheres
e Prisioneiros. Seleção de texto e introdução de Maria Stella Martins
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 818

Bresciani. Tradução de Denise Bottmann. 8ª ed. Rio de Janeiro/São


Paulo. Paz e Terra, 2017.
SAFFIOTI, Helieth. Gênero, Patriarcado, Violência. 2ª ed. São Pau-
lo: Editora Expressão Popular, 2015.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. (Tradu-
ção de Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila). Disponível em:
< moodle.stoa.usp.br/mod/resource/view.php?id=39565>. Acesso em
23 de Junho de 2022.
THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. Revisão Técnica Antonio
Negro, Cristina Meneguello, Paulo Fontes. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998.
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 819

SOBRE OS ORGANIZADORES

Guilherme Antônio Lopes de Oliveira

Doutor em Biotecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia - UFPI,


com estágio de Doutorado Sanduíche no Departamento de Farmaco-
logia da Universidade de Sevilla - Espanha. Especialista em Docência
do Ensino Superior e em Análises Clínicas e Microbiologia pela Uni-
versidade Cândido Mendes. Bacharel em Biomedicina pela Faculda-
de Maurício de Nassau/Aliança. Tem experiência em Bioprospecção
de Produtos Naturais com ênfase em Antioxidantes e Anti-inflamató-
rios. Professor na Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI. Defen-
deu a Tese de Doutorado aos 26 anos, foi considerado um dos douto-
res mais jovens do Brasil gerando grande repercussão nacional e in-
ternacional em decorrência da história de superação. Foi condecora-
do com a Insígnia de Comendador da Ordem do Mérito Renascença
do Estado do Piauí, Concedeu entrevistas à nível nacional como no
Programa Encontro com Fátima Bernardes da Rede Globo e o Progra-
ma Domingo Espetacular da Record TV. Mais informações podem ser
conferidas na aba Produção - Produção Técnica - Entrevistas, Mesas-
-redondas, programas e comentários na mídia. Contato no Instagram:
@drguilhermelopes
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 820

Maria dos Remédios Magalhães Santos

Possui graduação em Licenciatura Plena em Letras/Português pela


Universidade Estadual do Piauí (2001). Especialista em Metodolo-
gia da Leitura e Escrita pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI
(2005). Especialista em Educação Profissional Integrada à Educação
Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos pelo Cen-
tro Federal Tecnológico do Piauí (2009). Pós graduada em Coordena-
ção Pedagógica e Planejamento pela Faculdade do Noroeste de Mi-
nas (2012). Especialista em Docência do Ensino Superior pela Cristo
Faculdade do Piauí - CHRISFAPI (2016). É efetiva da Secretaria Mu-
nicipal de Educação, professora de Língua Portuguesa (Ensino Fun-
damental) Séries Finais. Trabalha na Unidade Escolar Cristo, profes-
sora de Gramática Ensino fundamental (Séries finais) e Médio. Coor-
denadora da Comissão Própria de Avaliação - CPA - Christus Faculda-
de do Piauí - CHRISAFPI. É membro do Colegiado da Pós graduação
da Christus Faculdade do Piauí - CHRISFAPI. Acadêmica do Curso de
Pedagogia da UNICESUMAR, Bacharela em Serviço Social (UNICE-
SUMAR). Mestra em Administração com ênfase no Ensino Superior -
Faculdade Pedro Leopoldo (FPL).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 821

Daniel da Costa Araújo

Possui graduação em Direito pelo Instituto de Ciências Jurídicas e So-


ciais Professor Camillo Filho (2009). Especialista em Educação e Ges-
tão Ambiental(2019). Atualmente é Professor do Núcleo de Prática Ju-
rídica - CHRISFAPI, nas disciplinas de Prática Real Trabalhista, Práti-
ca Real Civil e Prática Real Penal. Mediador judicial (2022).
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 822

ÍNDICE REMISSIVO

A C
Aborto, 127 Cancelamento, 318
Abuso sexual, 194 Capacitação de recursos huma-
Acesso à internet, 556 nos em saúde, 71
Acordo de não persecução penal, Casamento, 591
608 Celeridade, 233
Adoção legal, 773 Clientelismo, 655
Adolescente, 23 Código Civil, 789
Afeto, 52 Conciliação, 84
Agricultura ecológica, 207 Consequências, 297
Alienação Parental, 23 Contrato, 346
Alimentação saudável, 207 Conversão sexual, 761
Alimentos, 493 Covid-19, 591
Animais Domésticos, 166 Criança, 23, 773
Aprendizagem significativa, 573 Crime Organizado, 307
Assédio sexual, 642 Crimes contra o Estado Demo-
Atenção Primária à Saúde, 708 crático de Direito, 509
Atos infracionais, 729 Criminalização, 127
Atuação, 453 Culpabilidade, 183
Audiência de custódia, 269 Cultura, 318
Autismo, 285 Cultura do Cancelamento, 334
Autocomposição, 84 Cura gay, 761
Autocracia, 655
Avaliação, 453 D
Daniel Silveira, 509
B Decisões judiciais, 285
Benefício de Prestação Continu- Defesa, 463
ada, 285 Deficiências, 437
Benefícios, 362 Democracia, 509, 642
Bovinocultura leiteira, 525 Desemprego, 146
BPC, 244 Diabetes, 258
Diagnóstico, 258
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 823

Dificuldades, 244 F
direito, 346 Família, 40, 52
Direito, 166, 463, 477, 691 Famílias Brasileiras, 166
Direito à Educação, 390 Fato de erro, 113
Direito Comparado, 608 Filiação, 52
Direito de Família, 493 Fisioterapia Pélvica, 60
Direito penal, 608 Fonoaudiologia escolar, 453
Direito Previdenciário, 362 Formação Continuada, 437
Direito processual penal, 608
Direitos Humanos, 390 G
Direito Sucessório, 52 Geriatria, 675
Disfunções Sexuais, 60 Gestante, 773
Divórcio, 591 Ginástica rítmica, 720
Docente, 573 Governo digital, 556
Doenças oportunistas, 413 Guarda Compartilhada, 23
Doutrina da Cegueira Intencional,
113 H
Habilidades sociais, 71
E Herança, 789
ECA, 194
Educação de Jovens e Adultos, I
390 Igualdade Racial, 539
Educadores em Saúde, 219 Impasses, 655
efetividade, 269 Inclusão, 437
empregador, 346 Inclusão digital, 556
Enfermagem, 219 Inclusão escolar, 96
Ensino Superior, 539 Infantil, 194
Entrega voluntária, 773 Influência cristã, 127
Envelhecimento, 675 Inserir cinco palavras-chave, 667
Escola campo, 573 INSS Digital, 244
Estado, 307 Institucionalização, 463
Estudantes Negros, 539 Instituto Nacional do Seguro
Exclusão digital, 556 Social, 624
Extensão, 437 Intenção legal, 113
Intenção Penal Condicional, 113
Interdisciplinar, 573
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 824

Intérprete. Aluno surdo, 96 P


Intrafamiliar, 194 Pandemia, 591
Investigação, 463 Pandemia-Educação, 402
Pandemia por COVID19, 402
J Pandemia-saúde mental, 402
Judicialização, 477 PEC, 729
Jurídica, 318 Pessoa Idosa, 244
Justiça, 233 Planejamento, 691
Justiça penal negociada, 608 Poliafetivas, 40
Justiça Restaurativa, 493 Políticas públicas, 556
Políticas Públicas, 390
L População LGBTQIAP+ Encarce-
laboral, 346 rada, 377
legalidade, 269 Pós-graduação, 655
Lei, 297 Pós Mortem, 789
Lei nº 8.213 de 1991, 362 Pós-Pandemia, 477
Leis, 318 Prática pedagógica, 96
Leite, 525 Práticas sociais, 573
LGBTQIA+, 761 Presos LGBTQIAP+, 377
Liberdade de expressão, 509 Presunção de culpa, 334
Presunção de inocência, 334
M Princípio da eficiência, 624
Mal-estar docente, 744 Princípio da proporcionalidade,
Mastite bovina, 525 642
Mediação, 84 Processo administrativo previ-
Medidas socioeducativas, 729 denciário, 624
Melhor Interesse, 23 Processos, 477
Menores infratores, 729 Produtos orgânicos, 207
Micoses superficiais, 413 Professor-ensino remoto, 402
Morte, 40 Proteção, 166
Mulher indígena, 805 Psicologia jurídica, 761
Psicopata, 183
N Psycho-Pass, 334
negligência, 346
Q
Qualidade de vida, 675
DIÁLOGOS: EDUCAÇÃO, SAÚDE E DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE | 825

R T
Reforma da Previdência, 362 Tecnologia, 233
Reforma Trabalhista, 146 Tempo de Carência, 362
Relacionamento, 40 Terceira Idade, 60
Relações comunidade-instituição, Testamento, 691
71 trabalhador, 346
Relações de Trabalho, 146 trabalho, 4
Relações sociais, 318 Tratamento, 258
Relatos, 720
Resistência, 413 U
Responsabilidade criminal, 113 União estável, 789
Responsabilidade penal, 183
Roberto Jefferson, 509 V
romoção da Saúde Escolar, 708 Vínculo socioafetivo, 166
Violência contra a mulher, 805
S Violência simbólica, 805
Saídas temporárias, 297
Saúde, 4, 477, 720
Saúde do Adolescente, 219
Saúde docente, 744
Saúde escolar, 453
Saúde Integral do Adolescente,
708
Sazonalidade, 413
Separadas por vírgula, 667
Síndrome de burnout, 744
Sistema Carcerário Brasileiro,
377
Sociedade, 297, 307
Socioafetividade, 52
Sofrimento psíquico, 744
Solução de Conflitos, 493
Sucessão, 789
Sucessório, 40, 691

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