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O POTENCIAL DA MULTIDISCIPLINARIDADE DA PSICOLOGIA:

transgeneridade, intervenções, terceira idade, abuso sexual,


psicomotricidade, psicologia escolar e saúde mental

AUTORAS E AUTORES

Adriane Bezerra de Souza Jessica Lene Vilaça Albuquerque


Ana Jacqueline Carvalho Kylvia Malta Rego
Ana Rosa Monteiro Silva Leonardo de Sousa Alves
Antônia Daisy Silva da Costa Lia Brasil Pimenta
Bárbara Uchôa Batista Linikelly Ribeiro Azevedo
Caio Vinícius Pessoa da Silva Lívea Sueila Michiles Góes
Dandreia Thaienne Molina Guerreiro
Gonçalves LoRuama Castilho de Oliveira
Daniel Henrique Gomes Macimo Luan Benzaquem Dos Santos Pereira
Eduardo Monteiro Silva Marcos Vinicius França
Elizângela da Rocha Mota Maria Aparecida da Silva Martins
Fabrinne Silva de Souza Maria Karolina Nunes Araújo
Francineth Máximo Rodrigues Mikaeli Galvão dos Santos
Gabriely Costa de Lima Naiane Ribas da Silva
Gabryelle Redman Baptista Naomi Torres Martins
Geovani Braz Dantas Patrick Oliveira Alves
Geovanna Silva de Sousa Paulo César Ribeiro de Lima
Heidi Aparecida Santos Rafaela Christi Ane Mano de Assis
Heluana Viviane de Oliveira Robert Coelho dos Santos
Inês Nogueira Magalhães Sayde da Silva Xavier
Ivone Matias Dourado Thamara Brasil Marinho da Costa

Apoio:

CEULM/ULBRA Organizador: Evandro Brandão Barbosa

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Elizângela da Rocha Mota et. al. O potencial da multidisciplinaridade da
Psicologia: transgeneridade, intervenções, terceira idade, abuso sexual,
psicomotricidade, psicologia escolar e saúde mental. Organizado por
Evandro Brandão Barbosa. Manaus: CEULM/ULBRA, 2023.

1. Adolescência. 2. Burnout. 3. Emoções. 4. Vulnerabilidade Social.

I. BARBOSA, Evandro Brandão Barbosa. II. MOTA, Elizângela da Rocha.

Vários autores

ISBN: 978-65-00-80074-6

Formato: Digital

O POTENCIAL DA MULTIDISCIPLINARIDADE DA PSICOLOGIA:


transgeneridade, intervenções, terceira idade, abuso sexual,
psicomotricidade, psicologia escolar e saúde mental

CEULM/ULBRA Organizador: Evandro Brandão Barbosa

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Dedicamos este livro

Aos aprendizes e às aprendizes nas áreas de Enfermagem e Psicologia, cujos


afazeres atuais e futuros apresentam o cuidado e a possibilidade de melhor
qualidade de vida social e econômica.

As autoras e os autores.

AGRADECIMENTOS

Aos nossos familiares e aos profissionais que partilharam conosco, a busca de


dados e informações, via pesquisas, para a realização dos trabalhos práticos e
escritos que resultaram na produção dos textos aqui publicados.

As autoras e os autores.

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APRESENTAÇÃO

O título do livro O POTENCIAL DA MULTIDISCIPLINARIDADE DA


PSICOLOGIA: transgeneridade, intervenções, terceira idade, abuso sexual,
psicomotricidade, psicologia escolar e saúde mental representa a
capacidade de inserção dos conhecimentos da Psicologia nas diferentes áreas
de conhecimento humano.

Os temas apresentados na obra revelam a integração de docentes e


discentes para a execução de pesquisas, em condições de ampliar
conhecimentos como a transgeneridade, diferentes tipos de intervenções, a
terceira idade, o abuso sexual, a psicomotricidade, a psicologia escolar e a saúde
mental.

O Curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Manaus,


pioneiro em Manaus-AM, mantém o interesse pela pesquisa e o compromisso
social de contribuir com a preservação da saúde mental na cidade de Manaus.
O lançamento deste livro na área da Psicologia servirá de incentivo para a
realização de outras pesquisas e ainda a produção de mais livros úteis à
formação de psicólogos e à sociedade.

Boa leitura!

Evandro Brandão Barbosa (Org.)

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I - A AUTOESTIMA NA TERCEIRA IDADE VIVENCIADA PELOS IDOSOS DO


PROJETO ULBRATI (ULBRA ABERTA À TERCEIRA IDADE)............................................7

CAPÍTULO II - ORIENTAÇÃO E PREVENÇÃO SOBRE O ABUSO SEXUAL E GRAVIDEZ NA


ADOLESCÊNCIA, REALIZADO NA ESCOLA ESTADUAL NATÁLIA
UCHOA/MANAUS...................................................................................................40

CAPÍTULO III - PRATICANDO A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NA


ESCOLA.......................................................................................................72

CAPÍTULO IV - GESTÃO DAS EMOÇÕES: CONSTRUINDO FERRAMENTAS


DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL EM ADOLESCENTES DO ENSINO MÉDIO
DO INSTITUTO FEDERAL DO AMAZONAS - CAMPUS DISTRITO
INDUSTRIAL...............................................................................................98

CAPÍTULO V - PRÁTICA DE INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS NO


ENFRENTAMENTO DA VULNERABILIDADE SOCIAL E SITUAÇÃO DE RISCO
DOS USUÁRIOS DO ABRIGO MUNICIPAL GECILDA ALBANO PEÇANHA NA
CIDADE DE
MANAUS/AM,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,..........................................................,,,,,,,,,,,,,117

CAPÍTULO VI - A SAÚDE MENTAL NO PROCESSO DA TRANSGENERIDADE


EM GRUPO DE JOVENS DE
MANAUS/AM...............................................................................................142

CAPÍTULO VII – PSICOEDUCAR PACIENTES HIPERTENSOS DA UBS Dr.


SILAS DE OLIVEIRA SANTOS, NO BAIRRO GILBERTO MESTRINHO EM
MANAUS..................................................................................................153

CAPÍTULO VIII - CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR NO VIÉS DA


SAÚDE MENTAL DOS DOCENTES EM PERÍODO PÓS-PANDÊMICO EM UMA
INSTITUIÇÃO DE ENSINO FUNDAMENTAL I DE MANAUS: UMA
ABORDAGEM SOCIOINTERACIONISTA................................................179

CAPÍTULO IX- BULLYING NAS ESCOLAS: AS RELAÇÕES DAS PRÁTICAS DO


BULLYING E SEU IMPACTO NA VIDA ESCOLAR.................................200

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CAPÍTULO X – OS BENEFÍCIOS DO CURSO DE CORTE E COSTURA PARA
IDOSOS NO ORATÓRIO SANTO AFONSO,,,,,,,,,............................,,,,,218

CAPÍTULO XI - SINDROME DE BURNOUT NO AMBIENTE HOSPITALAR:


INTERVENÇÃO DE GRUPOS COM ACADÊMICOS DO CURSO DE
ENFERMAGEM DA ULBRA/MANAUS.......................................................240

CAPÍTULO XII - A Síndrome de Burnout: Orientação para


prevenção...................................................................................................260

CAPÍTULO XIII – PSICOLOGIA ESCOLAR: Juventude emergente e as


dificuldades de aprendizagem dos alunos no terceiro ano do ensino
médio..........................................................................................................286

CAPÍTULO XIV - PSICOMOTRICIDADE: ATIVIDADES INTERATIVAS PARA O


DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES DE CRIANÇAS DO 2º PERÍODO DA
CMEI FÁTIMA MACIEL DA
COSTA........................................................................................................317

CAPÍTULO XV – SAÚDE MENTAL PÓS PANDEMIA COVID-19 E RETORNO


DAS AULAS PRESENCIAIS: INTERVENÇÕES EM TERAPIA COGNITIVO
COMPORTAMENTAL EM UNIVERSITÁRIOS COM SINTOMAS DE
ANSIEDADE,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,............................,,,,,,,,,,,,,,,,,340

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CAPÍTULO I

A AUTOESTIMA NA TERCEIRA IDADE VIVENCIADA PELOS IDOSOS DO PROJETO


ULBRATI (ULBRA ABERTA À TERCEIRA IDADE)
THE SELF-ESTEEM IN THE THIRD AGE EXPERIENCED BY THE ELDERLY FROM THE
ULBRATI - ULBRA PARA TERCEIRA IDADE PROJECT

Fabrinne Silva de Souza1


Lo-Ruama Castilho de Oliveira2
Naiane Ribas da Silva3
Maria Aparecida da Silva Martins4
RESUMO:
O envelhecimento populacional em curso no Brasil, configura-se um grande desafio nos
tempos atuais, à medida que, esse processo de transição e mudança na estrutura etária
da população, por sua vez, ocorre com muita rapidez e acaba não sendo acompanhada
em condições sociais, políticas e econômicas adequadas. Com base nisso, este é um
relato de experiência de um projeto de intervenção realizado a partir da disciplina de
Práticas Interprofissionais de Educação em Saúde, oferecido pelo curso de Psicologia do
Centro Universitário Luterano de Manaus – CEULM/ULBRA, com objetivo de identificar
as dificuldades vivenciadas pelos idosos no processo de envelhecimento e entender a
utilização de algumas técnicas arteterapêuticas como instrumento fortalecedor da
autoestima na terceira idade. Para tanto, foram utilizadas as seguintes técnicas:
observação dos participantes, diário de campo dos pesquisadores, roda de conversa,
dinâmicas de grupo e atividades de artes. Os resultados obtidos demonstram que, de
fato, a arteterapia promove o bem-estar dos idosos, estimulando a socialização a partir
da convivência de seus integrantes e da criação de um ambiente propício para que
possam construir e reconstruir uma nova identidade e experimentar, através das
técnicas empregadas, a reflexão crítica acerca do processo de envelhecimento, manejo
de suas emoções e autoestima.

PALAVRAS-CHAVE: Arteterapia, autoestima, envelhecimento, terceira idade.

1
Graduando do Curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano De Manaus. Email:
faah.souza123@rede.ulbra.br
2
Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano De Manaus. Email: lollo91@rede.ulbra.br
3
Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano De Manaus. Email: naianepsi@rede.ulbra.br
4
Profa. Dra. em Psicologia Social, docente no Centro Universitário Luterano de Manaus. Email:
aparecida.martins@ulbra.br
7
ABSTRACT:

Population aging in progress in Brazil is a major challenge nowadays, as this process of


transition and change in the age structure of the population, in turn, occurs very quickly
and ends up not being accompanied in social conditions. , political and economic
policies. Based on this, this is an experience report of an intervention project carried out
from the discipline of Interprofessional Practices in Health Education, offered by the
Psychology course at the Lutheran University Center of Manaus - CEULM/ULBRA, with
the objective of identifying the difficulties experienced by the elderly in the aging
process and understand the use of some art therapy techniques as an instrument to
strengthen self-esteem in old age. For that, the following techniques were used:
participant observation, researchers' field diary, conversation wheel, group dynamics
and arts activities. The results obtained demonstrate that, in fact, art therapy promotes
the well-being of the elderly, stimulating socialization based on the coexistence of its
members and the creation of a favorable environment so that they can build and rebuild
a new identity and experiment, through the techniques employed, critical reflection on
the aging process, handling their emotions and self-esteem.

KEYWORDS: Art therapy, self-esteem, aging, old age.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, entende-se como pessoa idosa o indivíduo com idade a partir de 60


anos. Entendimento este presente no Estatuto do Idoso (lei 10.741) de 2003 e na Política
Nacional do Idoso (instituída pela lei federal 8.842) de 1994. (OMS, 2005; BRASIL, 2003;
BRASIL, 1994).

Estudos epidemiológicos apresentaram um aumento acelerado da expectativa


de vida da população brasileira em grande escala, visto que, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é resultante de mudanças na estrutura etária
da população brasileira. Com base nisso, estima-se que no ano de 2060 o percentual da

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população com 65 anos ou mais de idade chegará a 25,5% da população brasileira, ou
seja, com a quantidade aproximada de 58 milhões de idosos. (IBGE, 2018)

Diante disso, o envelhecimento populacional em curso no Brasil, configura-se um


grande desafio nos tempos atuais, à medida que, esse processo de transição e mudança
na estrutura etária da população, por sua vez, ocorre com muita rapidez e acaba não
sendo acompanhada em condições sociais, políticas e econômicas adequadas.
(CAVALCANTI, 2016). Diante do exposto vem a seguinte pergunta que norteia este
trabalho: Como a autoestima auxilia no processo de envelhecimento?

No intuito de responder tal questão, foi elaborado uma revisão bibliográfica de


produção científica sobre o tema, onde os procedimentos metodológicos empregados
neste estudo utilizam a pesquisa qualitativa, pois o pesquisador, ao observar os
fenômenos, busca conseguir resultados ao término da pesquisa, que permitam o
entendimento destes fenômenos (FACHIN, 2003), que nos deram base para a
elaboração deste artigo científico de intervenção, bem como, um norte para o
desenvolvimento dos métodos de execução e implementação.

Desta forma, referente às atividades propostas, seguindo um cronograma


planejado, houve a implementação e execução dos objetivos propostos pelo projeto de
intervenção. Primeiramente houve uma breve apresentação dos acadêmicos de
psicologia e a exemplificação acerca das propostas do projeto de intervenção para os
participantes do projeto ULBRATI, o método de trabalho e assinado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para futura publicação. Ademais, neste
primeiro encontro, houve o estabelecimento do vínculo com os pares do referido
projeto, pautado numa relação empática, verdadeira e confiável, onde foi criado um
espaço de diálogo e reflexão sobre a terceira idade e o "ser idoso", assim como temas
concernentes à autoestima e sua relação com a saúde mental. O encontro foi finalizado
com a prática da dinâmica "Para quem você tira o chapéu?”, onde o participante é

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confrontado com um chapéu contendo um espelho em seu interior e é questionado se
ele tira o chapéu para a pessoa refletida e o porquê da resposta.

Posteriormente, a proposta do segundo encontro foi levar a arte como


ferramenta auxiliadora da autoestima, para isso consistiu na representação de si, ou
seja, autorretrato, ou algo que o representasse em forma de desenho e pintura. Por
outro lado, no terceiro encontro buscou-se primeiro entender junto aos participantes o
papel da fotografia e todas as suas nuances como os sentimentos despertados e
introjetados diante da imagem e o conceito de beleza na sociedade. Após, foi realizado
ensaio fotográfico dos participantes em espaço preparado para tal e também ao ar livre.
Por fim, o último encontro consistiu em resgatar a experiência quanto ao ensaio
fotográfico e as emoções despertadas, além das vivências e aprendizados
internalizados, para isso foi realizado uma roda de conversa com todos os participantes,
e após finalizando com o painel com materiais produzidos, entrega de lembrancinha e
agradecimentos.

Em relação ao método de execução e os instrumentos utilizados, o artigo


científico de intervenção tem como público-alvo 06 (seis) participantes idosos, com a
idade de 65 a 85 anos, do projeto ULBRATI (ULBRA aberta à terceira idade), do Centro
Universitário Luterano de Manaus – CEULM/ULBRA, Manaus/AM. Os encontros foram
divididos nos meses de outubro e novembro de 2022, totalizando 04 (quatro) encontros
e com 1h30min de duração cada encontro. As técnicas utilizadas foram a observação
dos participantes, diário de campo dos pesquisadores, roda de conversa, dinâmicas de
grupo e atividades de artes.

Nessa perspectiva, o presente estudo tem como objetivo geral compreender a


arteterapia como instrumento na promoção de saúde da pessoa idosa no Projeto Ulbrati
– Ulbra para terceira idade, e como objetivos específicos identificar as dificuldades
vivenciadas pelos idosos no processo de envelhecimento, entender a utilização de

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técnicas arteterapêuticas como fortalecedoras da autoestima do idoso e descrever os
benefícios da arteterapia como instrumento na promoção da saúde da pessoa idosa.

Para tanto, abordaremos a temática no decorrer deste artigo nos itens a seguir:
Processo de envelhecimento; O envelhecimento da população brasileira e Arteterapia
como ferramenta terapêutica em saúde mental. No intuito de elucidarmos questões
pertinentes ao entendimento deste processo relativo a todos os indivíduos.

De maneira simples, podemos compreender que a arteterapia é uma terapia


através da arte. Logo, o processo terapêutico decorrente da aplicação da arteterapia,
apresenta características expressivas distintas, servindo como base para a produção de
símbolos (PHILIPPINI, 1998). Podemos afirmar que tais produções simbólicas
apresentam os níveis mais profundos e inconscientes do indivíduo e que, a arteterapia
é definida como um processo terapêutico que utiliza a arte como processo expressivo
para o autoconhecimento e para a expressão de conflitos e emoções internas
(PHILIPPINI, 1998). Nessa perspectiva, a arteterapia é uma ferramenta que pode ser
utilizada na promoção da saúde da pessoa idosa, uma vez que seu potencial de
estimulação contribui para melhorar as relações sociais e a autoestima dessa população
(JARDIM et.al, 2020; PHILIPPINI, 1998).

Sabendo disso, diante das necessidades encontradas para o desenvolvimento de


um ambiente propício para que o idosos se torne sujeito ativo e protagonista de sua
própria saúde, a razão da idealização desse trabalho surgiu a partir da proposta da
disciplina de Práticas Interprofissionais de Educação em Saúde, oportunizando ao
acadêmico o desenvolvimento de diferentes estratégias e atividades de intervenção em
saúde, favorecendo a integração teoria-prática através de instrumentos teóricos e
metodológicos pertinentes à Psicologia e outras áreas do conhecimento, a reflexão
crítica sobre o papel do psicólogo e as possibilidades de atuação em diversos contextos
institucionais. Ademais, torna-se necessário a criação de um ambiente propício para

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que o idoso possa construir e reconstruir uma nova identidade e experimentar, através
da arteterapia, a reflexão crítica acerca do processo de envelhecimento, manejo de suas
emoções e autoestima.

Portanto, este é um relato de experiência de um artigo científico de intervenção


realizado a partir da disciplina de Práticas Interprofissionais de Educação em Saúde,
oferecido pelo curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Manaus –
CEULM/ULBRA. A disciplina tem como objetivo atuar em equipe multiprofissional nos
diferentes âmbitos e níveis, na promoção da saúde e prevenção de doenças. Para tanto,
foram realizados 04 encontros presenciais com duração de 1h30min no projeto de
extensão ULBRATI (Ulbra aberta à Terceira Idade), criado no ano de 1998, beneficiando
a comunidade e contribuindo para a superação de problemas de inclusão e qualidade
de vida das pessoas acima de 60 anos. Foram utilizadas as seguintes técnicas:
observação dos participantes, diário de campo dos pesquisadores, roda de conversa,
dinâmicas de grupo e atividades de artes.

Os resultados obtidos demonstram que, de fato, a arteterapia promove o bem-


estar dos idosos, estimulando a socialização a partir da convivência de seus integrantes
e da criação de um ambiente propício para que possam construir e reconstruir uma nova
identidade e experimentar, através das técnicas empregadas, a reflexão crítica acerca
do processo de envelhecimento, manejo de suas emoções e autoestima.

2. JUSTIFICATIVA

Apesar do termo envelhecimento nos ser familiar, nota-se que é um processo


constante e previsível e que pode ser entendida de diversas formas e caracterizada por
mudanças específicas, seja biológica, mental e social (CANCELA, 2007).

Ao abordar sobre o conceito de envelhecimento, a Organização Mundial da


Saúde (OMS) apresenta o termo “envelhecimento ativo” para introduzir uma nova visão

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sobre o processo de envelhecimento, compreendendo a pessoa idosa como sujeito
ativo e participativo de suas relações sociais. Desta forma, o envelhecimento ativo
desempenha uma participação contínua da pessoa idosa, permitindo que percebem o
seu potencial para o bem-estar físico, mental e social ao longo de sua vida (OMS, 2005)

Nessa perspectiva, o processo de envelhecimento é classificada como uma fase


natural na vida de cada indivíduo, onde cada sujeito pode reagir de maneira positiva ou
negativa, pelo fato dela ainda ser vista de maneira temida e caracterizada como uma
etapa de decadência que pode gerar medo (PARIOL, 2019). Esse processo muitas vezes
é percebida pela pessoa idosa de maneira disfuncional, desvalorizada e,
consequentemente, acaba gerando um impacto negativo em sua autoestima, já que
entendemos que a autoestima está relacionada com sentimentos que influenciam na
relação do idoso com sua visão de mundo (PARIOL, 2019)

Certamente, para que o indivíduo tenha uma excelente qualidade de vida e bem-
estar pessoal, ressalta-se a importância de uma autoestima elevada que beneficie
diversos aspectos de sua vida de maneira objetiva e subjetiva (PARIOL, 2019). De
maneira subjetiva, podemos citar o bem-estar mental que também corrobora para a
potencialização da qualidade de vida do sujeito, caso contrário, uma baixa autoestima
pode acabar gerando diversos transtornos psicológicos, entre outros. (PARIOL, 2019)

Sabendo disso, devido à relevância social e acadêmica, o artigo científico de


intervenção, ainda que não pretenda esgotar a discussão, tem como intuito criar um
ambiente propício para que o idoso possa ser protagonista de sua própria história de
vida, a partir do enfrentamento do processo de envelhecimento através da arteterapia
que, segundo Ciasca (2017, p. 39 ) “é uma abordagem terapêutica e expressiva, cujos
principais pontos do trabalho são: a produção de imagens (artes plásticas ou corporais),
a criação propriamente dita, a relação do indivíduo com sua produção”, entre outros,
corroborada por Lopes (2011, p. 13) ao exemplificar que “a arteterapia tem sido um

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tipo de intervenção recomendada para os idosos devido ao seu grande potencial e
sentido de estimulação, pois melhora as suas relações sociais e a sua autoestima”.

Portanto, diante das necessidades encontradas para o desenvolvimento de um


ambiente propício para que o idosos se torne sujeito ativo e protagonista de sua própria
saúde, a razão da idealização desse projeto surgiu a partir da proposta da disciplina de
Práticas Interprofissionais de Educação em Saúde, oportunizando ao acadêmico o
desenvolvimento de diferentes estratégias e atividades de intervenção em saúde,
favorecendo a integração teoria-prática através de instrumentos teóricos e
metodológicos pertinentes à Psicologia e outras áreas do conhecimento, a reflexão
crítica sobre o papel do psicólogo e as possibilidades de atuação em diversos contextos
institucionais.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Processo de envelhecimento

Nem sempre o envelhecimento carregou o mesmo significado e, com o passar


das épocas e a evolução do conhecimento científico, o “ser idoso” foi ganhando novas
conceituações e novos olhares que evidenciam as várias sociedades no decorrer da
história. (PAÚL E FONSECA, 2005).

Antes de começar a ganhar novos significados associados a uma perspectiva de


que o processo de envelhecimento, pode ser compreendido como uma etapa da vida
em que a saúde, atividade, satisfação pessoal e aprendizagem ainda é possível, a velhice
era vinculada a inatividade, calmaria e à pobreza. (SIMÕES, 1998). Com base nisso, pode-
se considerar que estes preceitos e conjecturas voltadas para o prisma mais pessimista
do processo de envelhecimento ainda estão presentes no entendimento das pessoas
mais jovens, e também do próprio grupo das pessoas com 60 anos ou mais, que ao
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perceberem estar próximas da idade mínima necessária para serem consideradas
pertencentes à faixa etária em questão, passam a suscitar questionamentos que põe em
prova toda sua vivência e experiência. Esquecendo-se das possibilidades presentes que
podem ser vistas como pontos positivos para a nova fase da vida.

A própria história suscita os vários olhares direcionados a pessoa idosa,


consoante a época e sociedade vigente, antigamente, em alguns locais, por exemplo,
eram vistos com os detentores do conhecimento e auxiliadores dos mais jovens em suas
atividades, em nações como a Grécia, eram vistos conforme a classe social pertencente,
distinguindo-se em sábios, os que possuíam maior poder aquisitivo ou cargo importante,
e decadentes aqueles que se encontravam nas classes sociais inferiores.(HORN, 2013).

Analisando os diferentes sentidos associados a pessoa que se encontra na


terceira idade de acordo com o país, fica eminente que a visão da sociedade está
intimamente ligada a sua estrutura social e econômica, uma vez que a qualidade de vida
do indivíduo depende também da qualidade serviço público prestado, bem como o
papel que esse indivíduo ocupava no agrupamento familiar. Diante disso, as mudanças
ocorridas no mercado de trabalho, como por exemplo a mudança social do papel da
mulher, antes era vista como mãe e esposa, e passa a auxiliar no rendimento familiar,
as políticas públicas de controle de natalidade, de melhoramento na qualidade de vida,
todos esses fatores têm impacto na definição de visão empregada a pessoa idosa.

Há diversos estudos que apontam o maior número de pessoas idosas nos países
desenvolvidos, ou seja, onde há melhores condições sanitárias, melhor divisão de
riquezas entre a população, assim como o aumento de famílias menores, aquelas que
não têm intenção de procriar, diminuindo então a taxa de natalidade entre estes.

O envelhecimento também pode ser uma consequência da nossa sociedade,


e que, além dos fatores biológico, cronológico e psicológico, o meio e as

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condições em que se vive influenciam no processo de envelhecimento e na
forma com que se chega à velhice. Assim, o processo de envelhecimento é
influenciado também pela sociedade e pelo indivíduo (SALGADO, 2007, p. 68).

Segundo o Fabietti (2004) expressa que muitas pessoas chegam na terceira idade
em condições desfavoráveis em termos existenciais, relacionais, econômicos e de saúde
e em grande parte vivenciando essa etapa como uma fase negativa carregadas de
constrangimentos e empecilhos. Neste sentido Fontes (2007) ressalta o seguinte:

Com o avançar da idade as perdas funcionais tornam-se visíveis e o idoso


deixa de realizar as atividades básicas de vida diária, diminuindo assim a sua
capacidade funcional. Esta é dimensionada em termos de habilidade e
independência para realizar determinadas atividades, sendo esta um dos
componentes da saúde do idoso (Fontes, 2007, apud CABAÇO, 2014, p.23).

O afastamento das atividades diárias, declínio do organismo, assim como do


meio social, que podem ser devido a doenças, isolamento, depressão e falta de
companhia, decorrem em profundo impacto sobre o psiquismo da pessoa idosa, perdas
cognitivas e motoras, causando dependência física e psicossocial e afetando o seu
ajustamento nessa fase de sua vida.

Nesse sentido, estas medidas visam contribuir para uma mudança de significado
atribuído ao envelhecimento, onde poderá ser tido como um processo saudável, natural
e funcional. Para tal, é necessário que o atual padrão aceito pela sociedade seja
desmistificado, ou seja, que o idoso seja visto não mais como incontestavelmente frágil,
passivo e adoecido, e sim como um membro ativo e capaz da sociedade, com direitos e
oportunidades correspondentes ao restante da população.

Segundo o Rodrigues (2006) aponta que é necessário ver o envelhecimento


como uma fase natural da vida de um ser humano, na qual, assim como as demais, há
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perdas e ganhos, e mesmo que os ganhos não sejam tão evidentes é preciso que não se
dê tanta ênfase às perdas, buscando instigar o idoso a encontrar novos significados à
essa nova etapa de sua vida .

Durante todo o percurso de nossas vidas, somos expostos aos estigmas da


pessoa idosa incapaz e sem serventia, e estes são introjetados como sendo uma
condição auto realizável. Vale ressaltar que aos poucos, pensamentos como estes estão
sendo desmistificados dentro da sociedade atual, com vistas ao processo de
envelhecimento ativo, que visa não somente manter a pessoa idosa ativa fisicamente,
como também espiritual, mental, sexual e socialmente.

3.2 O envelhecimento da população brasileira

Segundo Rodrigues (2006) o envelhecimento em massa da população brasileira


configura um grande desafio a ser enfrentado pelo país, uma vez que, como um país
subdesenvolvido, conta com baixo orçamento destinado à saúde pública, e outros
problemas estruturais ainda não superados.

Sendo assim há uma série de questões a serem resolvidas e superadas pelo


governo, para que o país seja estruturalmente adequado e possa oferecer para a
população serviços públicos de qualidade, e assim resultar em melhores condições de
vida de seus integrantes.

Fica claro que a população brasileira sofre com o desmantelamento dos serviços
públicos há muito tempo, porém com o aumento da expectativa de vida, e o constante
crescimento de pessoas idosas nos últimos anos, tem como consequência uma maior
precarização no que tange ao atendimento no setor de saúde pública, uma vez que essa
fatia da sociedade, necessita de maiores atenções médicas, visto que todos os fatores
mencionados anteriormente resultam no acúmulo de diversas patologias.
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Araújo (2012) pontua que para existir um bom desenvolvimento da população é
necessário que condições mínimas sejam ofertadas em todas as etapas da vida, para
que assim, esses indivíduos consigam chegar à terceira idade, em situações mais
satisfatórias, e as mudanças nas dinâmicas demográficas, se dão de maneira rápida, sem
que os outros campos, como a economia, política e social consigam alcançar seu ritmo.

Reconhece-se hoje que a população brasileira tem vivido cada vez mais e junto
a isso a preocupação em viver com mais qualidade de vida tem aumentado.

O Brasil é um jovem país de cabelos brancos. Todo ano, 650 mil novos idosos
são incorporados à população brasileira, a maior parte com doenças crônicas
e alguns com limitações funcionais. Em menos de 40 anos, passamos de um
cenário de mortalidade próprio de uma população jovem para um quadro de
enfermidades complexas e onerosas, típicas da terceira idade, caracterizado
por doenças crônicas e múltiplas, que perduram por anos com exigência de
cuidados constantes, medicação contínua e exames periódicos. O número de
idosos passou de 3 milhões em 1960, para 7 milhões, em 1975, e de 17
milhões em 2006- um aumento de 600% em menos de cinquenta anos.”
(VERAS, 2007, p. 2464)

Todos esses fatores, aliado ao atual papel socialmente empregado ao idoso o


isolamento social vivido por essa parcela da sociedade, a dependência física ou mental
para a prática de atividades, paralela ao conjunto de algumas patologias biologicamente
“naturais” contribuem para o declínio da saúde e autoestima desse indivíduo,
componentes indispensáveis na qualidade de vida, fica cada vez mais difícil de ser
alcançada.

Segundo Floriani et. al (2010) autoestima pode ser definida como a auto-
aceitação ou auto-rejeição, compondo um conjunto de percepções sobre si mesmo,
quanto a atitudes, crenças, princípios e valores, influenciando nas relações interpessoais
e na saúde mental. Logo, a diminuição da autoestima no processo de envelhecimento
torna-se assunto que deve ser discutido como de alta relevância, principalmente no
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âmbito do conceito do envelhecimento ativo, uma vez que,uma pessoa, sendo ela idosa
ou não, está com baixa autoestima, torna-se uma pessoa com ideais diminuídos e sem
perspectivas. Quando nos referimos ao processo de envelhecimento, a pessoa que está
vivenciando esta etapa da vida, necessita ter uma boa rede de apoio que vise
restabelecer ou fortalecer sua autoestima, para que desta maneira, haja melhor
aceitação de sua nova condição etária.

Embora o envelhecimento seja um fator comum a todo ser vivo, é vivenciado de


forma ímpar, deste modo, embora as alterações físicas, sociais e psicológicas sejam
normais ao avançar da idade, a maneira como cada pessoa vive sua infância e adultez
refletem na chegada da velhice. As alterações mais facilmente percebidas são as físicas
que englobam uma série de mudanças, como a pele mais pálida e enrugada, varizes nas
pernas, cabelos finos e grisalhos, e além disso, os adultos mais velhos tendem a diminuir
em tamanho (Papalia&Feldman, 2013). Isto posto, fica evidente que da mesma maneira
que o envelhecimento acontece de forma gradativa, o processo da perda ou diminuição
da autoestima, também pode ocorrer gradativamente, assim sendo, é muito importante
que o cuidado com a percepção sobre si, venha sendo trabalhado antes da idade mínima
para ser considerada pessoa idosa.

3.3 Autoestima no processo de envelhecimento

A baixa autoestima está relacionada a um sentimento de descontentamento


consigo mesmo, bem como com o outro e com a própria vida, instigando sentimentos
nocivos ao indivíduo. Tavares (2016), argumenta que o sentimento de autoestima
acentuado traz a sensação de felicidade e alegria, de estar bem consigo e tudo isso
contribui para o alcance de otimismo diante a terceira idade.

19
Infelizmente essa etapa da vida tem ocupado um lugar de antagonismo segundo
estigmas difundido na sociedade, onde a pessoa na terceira idade é vista como
antiquada, obsoleta, frágil e altamente dependente, fatores dificultadores que a
autoestima seja alcançada.

Isto posto, percebe-se que preconceitos amplamente reforçados nos meios de


comunicação e que geralmente associam a beleza, saúde e energia exclusivamente a
pessoas jovens reforça a ideia de que não é normal o idoso apresentar essas
características, onde a fase da velhice é divulgada como uma etapa de descanso
(isolamento) e fragilidades.

[...] uma alimentação sem sabor, roupas antigas porque o corpo não oferece
mais nenhum tipo de sedução, um lugar para o seu descanso, com espaço
reduzido porque não há mais necessidade de expandir seus desejos, mesmo
porque o desejo é exclusividade dos jovens. (MONTEIRO, 2001, p. 32).

Diante disso é mister apontar que medidas que contorne essa visão devem ser
tomadas para o alcance de uma vida plena e saudável, uma vez que a autoestima está
intimamente ligada à autoaceitação e a práticas que trazem saúde e bem estar, ou seja,
autoestima tem relação direta com qualidade de vida.

A autoestima é formada por diversos sentimentos, mas para que ela seja
elevada, deve-se sobressair o de competência e valor pessoal, acrescida de
auto respeito e autoconfiança, refletindo o julgamento implícito da
capacidade de lidar com os desafios da vida”. Portanto é importante que se
desenvolva de uma forma harmônica a autoestima da pessoa idosa para que
esta não tenha como consequência o desenvolvimento de estados
psicopatológicos (SENA; MAIA, 2017).

20
Atualmente, várias ferramentas e técnicas são utilizadas junto ao grupo da
terceira idade, com o intuito de propiciar melhora no que diz respeito ao modo como
este indivíduo se percebe. Uma destas técnicas é a arteterapia, que vem sendo
introduzida cada vez mais como ferramenta no fortalecimento de laços internos e
promoção de saúde.

3.4 Arteterapia como ferramenta terapêutica em saúde mental

Podemos entender que a arteterapia é uma prática transdisciplinar que abarca


saberes das diversas áreas do conhecimento que, por outro lado, é um processo
dinâmico, terapêutico e de autoconhecimento, objetivando potencializar o indivíduo
em sua integralidade (JARDIM et.al, 2020; PHILIPPINI, 1998)

Segundo a Associação Brasileira de Arteterapia, a linguagem artística em


arteterapia seria a base de comunicação entre cliente e profissional, assim, sendo uma
forma de desenvolvimento de um ambiente propício para a produção estética e
composição artística em benefício da saúde e bem-estar do indivíduo (COQUEIRO et.al,
2010)

Por outro lado, vale ressaltar que em meados de 1940, nos Estados Unidos da
América, a arteterapia firmou-se como um campo de conhecimento científico, através
de trabalhos propostos por Margareth Nauberg e que pelos resultados alcançados
através do estabelecimento de fundamentações teóricas para sua expansão como um
campo de saber, ficou conhecida como a “mãe” da arteterapia (COQUEIRO et.al, 2010)

Nessa perspectiva, vale ressaltar que a psicanálise teve uma grande influência
para a demarcação da arteterapia como campo de saber (COQUEIRO et.al, 2010), pois
a psicanálise freudiana, a partir do século XX, observou que os símbolos manifestados
através da produção artística, teria um significado importante, pois seria uma maneira

21
do indivíduo manifestar de maneira inconsciente conteúdos de seu psiquismo, ou seja,
aspectos mais profundos de sua mente (JARDIM et.al, 2020; COQUEIRO et.al, 2010)

Com base nisso, Reis (2014) aponta que:

A ideia freudiana de que o inconsciente se expressa por imagens, tais como


as originadas no sonho, levou à compreensão das imagens criadas na arte
como uma via de acesso privilegiada ao inconsciente, pois elas escapariam
mais facilmente da censura do que as palavras (...) (p. 144)

Segundo Coqueiro et.al (2010), no Brasil sob grande influência da Psicanálise,


psiquiatras renomados como Osório César e Nise da Silveira, contribuíram de forma
significativa para a fundamentação teórica e expansão da arteterapia em nosso país,
onde puderam trabalhar de maneira direta com a arte no processo terapêutico,
procurando entender as imagens produzidas pelos pacientes e sua complexidade, seja
projeções internas e manifestações pessoais

Ademais, podemos destacar que a arteterapia por meio do processo não verbal,
utiliza a arte como processo expressivo por meio das artes e dramatização, acolhendo
o indivíduo em toda sua subjetividade e complexidade (PHILIPPINI, 1998; JARDIM et.al,
2020). Além disso, estuda os diferentes aspectos do sujeito procurando aceitar as
particularidades do mesmo, seja afetivo, cognitivo, motor, social, entre outros, como
ferramenta terapêutica em saúde mental. (COQUEIRO et.al, 2010). Com base nisso, de
acordo com Jardim et.al, (2020), “a arteterapia é uma ferramenta que pode ser utilizada
na promoção da saúde da pessoa idosa, uma vez que seu potencial de estimulação
contribui para melhorar as relações sociais e a autoestima dessa população”. Nessa
perspectiva, Jardim et.al, (2020) ressalta o seguinte:

22
As imagens produzidas por meio do processo expressivo na arteterapia são
projeções internas e manifestações pessoais. Elas permitem que o indivíduo
se expresse da sua maneira, dando um novo sentido a sua própria existência.
Pode-se afirmar que a arteterapia, ao trabalhar com processos expressivos,
constitui um caminho revelador e inspirador. Tal caminho terapêutico ajuda
o indivíduo a acreditar, desafiar, reconstruir, criar e expressar emoções e
sentimentos, que muitas vezes estão reprimidas na pessoa idosa. (p. 2)

Com base nisso, é de suma importância entendermos o desempenho que a


arteterapia pode impactar na qualidade de vida e bem-estar da pessoa idosa e no seu
processo de envelhecimento. Outrossim, conhecer os benefícios e a produção científica
a respeito da arte como processo terapêutico, nos possibilitará ter uma noção dos
benefícios e nos viabilizará identificar lacunas para que futuramente possamos
direcionar novas pesquisas acerca da qualidade de vida da pessoa idosa (COQUEIRO
et.al, 2010)

Portanto, as linguagens expressivas que a arteterapia pode proporcionar


utilizadas nas intervenções é uma prática transdisciplinar que abarca saberes das
diversas áreas do conhecimento estando classificado como um processo dinâmico,
terapêutico e de autoconhecimento (PHILIPPINI, 1998; JARDIM et.al, 2020). Podemos
citar recursos diversificados de intervenção como: desenho, pintura, contos, expressão
corporal, modelagem, música, entre outros (COQUEIRO et.al, 2010). Em resumo, no
processo arteterapêutico podemos observar recursos diversificados que podem ser
aplicados neste processo, assim, para que a pessoa idosa consiga identificar e lidar com
suas emoções e sentimentos, e seja capaz de expressá-lo de maneira funcional para que
posteriormente não haja interferência no seu bem estar físico, mental e social
(PHILIPPINI, 1998; JARDIM et.al, 2020; COQUEIRO et.al, 2010)

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS

23
No dia 28.12 - primeiro encontro, foi criado um espaço de diálogo e reflexão
sobre a terceira idade e o "ser idoso", assim como temas concernentes à autoestima e
sua relação com a saúde mental. O encontro foi finalizado com a prática da dinâmica
"Para quem você tira o chapéu?”, onde o participante é confrontado com um chapéu
contendo um espelho em seu interior e é questionado se ele tira o chapéu para a pessoa
refletida e o porquê da resposta. Desde o início, ficou evidente o interesse e a
participação das pessoas do grupo.

Ficou evidenciado durante a dinâmica, a fala positiva em detrimento a tirar o


chapéu para si. Onde as falas dos participantes do grupo eram sempre de superação de
diversos desafios vivenciados no decorrer de suas vidas, tendo sido relacionados à
saúde, perdas de pessoas próximas ou familiares, financeiros ou relativos ao próprio
processo de envelhecimento.

Durante todo encontro houve uma boa troca de experiências entre os


participantes do grupo sobre os conceitos que iam sendo apresentados, obtendo-se
assim uma devolutiva muito significativa. Tornando-se evidente o interesse de todos
acerca da temática proposta.

Pôde-se notar que há uma percepção muito positiva a respeito do processo de


envelhecimento, mas sem deixar enxergar os pontos negativos. Em depoimento, a
participante M. H. L. S. P, 78 anos, expressou que seu processo de envelhecimento foi
mais difícil na passagem para os 50 anos, uma vez que segundo a mesma, não aceitava
estar envelhecendo, dizendo que naquele momento “se recusava a dizer que já era uma
mulher velha” (sic), mas quando chegou nos 60 anos comemorou muito e que passou a
ver a vida de forma diferente.

A participante M. L. C. S, 67 anos, vivenciou essa mudança de forma diferente,


em seu relato disse que “após passar muito tempo cuidando de seu marido (6 anos) que

24
olhou no espelho e percebeu que havia envelhecido”. E que mesmo não tendo
percebido o processo, aceitou ter envelhecido.

Quanto a autoestima, o conceito principal é conhecido pela maioria, como a


forma de ver a si mesmo e se sentir bem, o participante J.E, completou dizendo que “é
importante a autoestima, mas que nem sempre é possível mantê-la, pois muitos
problemas, como mortes, problemas familiares e financeiros abalam o emocional da
pessoas e que neste momento foi muito importante o auxílio de sua esposa”.

O participante J. E. S, 73 anos, é uma pessoa muito ativa que sempre participou


de jogos, corridas e etc, nascido no interior, relatou que nunca teve problemas de saúde
e que seu processo de envelhecimento foi normal. Sua esposa, com 73 anos, já
participou da corrida de São Silvestre em 2019, e diz ser uma pessoa bastante ativa.

Todos os participantes fizeram questão de repetir várias vezes que são


independentes e que moram sozinhos. Que mesmo na terceira idade, ainda estão em
busca de realizar sonhos e que possuem desejos e objetivos que pretendem alcançar,
sejam viagens, shows ou participar de competições, evidenciando a importância da
autonomia para eles, e o quanto é salutar sentir-se independentes nesta etapa de suas
vidas. Nessa conjuntura, é importante preservar a autonomia do idoso para tentar
garantir, mesmo diante de muitas perdas, que o idoso conserve a sua originalidade e
pratique a capacidade de decidir para si oportunidades que signifiquem a sua existência
(PINHEIRO, 2013). Assim pôde-se perceber que sim, as pessoas idosas são indivíduos
que ainda têm muitos planos futuros, e que estão cada vez mais, tornando-se mais
ativos dentro de suas possibilidades e habilidades motoras e psíquicas, além de
demonstrarem um alto nível de socialização.

No dia 04.11 - segundo encontro, foi proposto que cada participante desenhasse
um autorretrato ou algo que representasse um momento importante em suas vidas, ou
seja, uma percepção de si tanto fisicamente quanto de sua personalidade. Nesse
25
sentido, vale destacar a importância da origem do desenho como uma forma de
linguagem não-verbal construída ao longo do tempo, permitindo-nos analisar e
compreender acerca do seu sentido histórico como uma ferramenta de comunicação e
expressão.

Com base nisso, Derdyk (1990), afirma que:

O homem sempre desenhou. Sempre deixou registros gráficos, índices de sua


existência, comunicados íntimos destinados à posteridade. O desenho,
linguagem tão antiga e tão permanente, sempre esteve presente, desde que
o homem inventou o homem. Atravessou as fronteiras espaciais e temporais,
e, por ser tão simples, teimosamente acompanha nossa aventura na Terra
(1990, p. 10).

Desta forma, podemos compreender que o desenho sempre fez parte da vida do
ser humano e foi uma das primeiras formas de comunicação e expressão, assim, fazendo
que o homem primitivo marcasse sua história e identidade própria, expressado através
da pintura, imagens com alto conteúdo simbólico e atribuindo-lhe algum tipo de
significado.

Nessa perspectiva, isso nos leva a refletir e considerar que a produção gráfica, ou
seja, o desenho, assim como no processo onírico, pode ser uma forma privilegiada de
tentar entender esses conflitos inconscientes manifestados no indivíduo. Com base
nisso, Reis (2014) aponta que:

A ideia freudiana de que o inconsciente se expressa por imagens, tais como


as originadas no sonho, levou à compreensão das imagens criadas na arte
como uma via de acesso privilegiada ao inconsciente, pois elas escapariam
mais facilmente da censura do que as palavras. Apesar desse grande achado,
o próprio Freud não chegou a utilizar a arte como parte do processo
psicoterapêutico. (p. 144)

26
Fica claro que o desenho é uma ferramenta que facilita a comunicação, pois
conforme explica Reis (2014, p. 143) “a mediação da arte na comunicação apresenta
algumas vantagens, entre as quais a expressão mais direta do universo emocional, pois
não passa pelo crivo da racionalização que acompanha o discurso verbal”, ou seja, o
desenho além de potencializar a criatividade do indivíduo é também um meio
privilegiado de acesso ao seu lado mais oculto.

Assim, diante do exposto, pudemos perceber que o desenho foi uma ferramenta
fundamental para que fossem identificados problemas ocultos e angustiantes que
pudessem ser trabalhados naquele momento, já que o papel do ambiente era de
potencializar a autoestima de cada participante. Em suma, no momento em que cada
participante desenhava um autorretrato ou algo que representasse um momento
importante em sua vida, pudemos observar que durante a produção do desenho,
aconteceu uma uma troca de experiências que estimulou a coordenação motora,
criatividade, memória e socialização, gerando um ambiente de bem-estar.

Com o intuito de expressar bem esse ambiente potencializador da autoestima, a


participante M. L. M. S, 83 anos, ao desenhar algo que remetesse a sua história de vida,
destacou que:

“Que a primeira coisa que veio na sua cabeça foi desenhar um vestido, já que
durante muitos anos foi costureira e que fazia design de vestido, fazendo se
sentir muito bem enquanto desenhava, pois lembra do que fez durante toda
a vida”.

Por outro lado, a participante M. H. L. S. P, 78 anos, destacou que o desenho foi


uma forma de resgatar sua autoestima, pois o seu desenho:

27
“Apresenta a sua família que é acreana e que se sente muito feliz ao expressar
isso no papel, pois sente muita felicidade pelo fato de que as conquistas
materiais de sua família em Manaus vieram aos poucos e isso lhe faz ter
orgulho”.

Já a participante L. P. A, 60 anos, abordou o seguinte em relação a produção do


seu desenho:

“Não sei muito desenhar e o meu desenho significa muitas coisas. O cachorro
representa o meu animal de estimação na qual eu gosto muito. A menina no
jardim representa eu quando criança e a outra menina mais velhinha significa
eu na velhice, ou seja, graças a Deus cheguei até aqui e deu para perceber
que passei por vários processos de lá pra cá. Me senti muito feliz em desenhar
(...) em relação ao castelo não sei dizer o que significa”.

Nesse caso, o que se deve observar é a importância da troca de experiências de


cada participante, pois o que deve ser observado com atenção é o núcleo de convivência
e o ambiente na qual estão inseridos. Desta forma, é possível ou até mesmo reconstruir
o amor próprio de cada um, a partir da troca de ideias para que se motivem a recuperar
a sua autoestima, expressado pela participante M. H. L. S. P, 78 anos, ao relatar que
“achou o encontro bem interessante, pois se sentiu bem relaxada e trouxe um sentido
de paz ao falar isso com amigos”.

Vale ressaltar que ao final, todos os participantes do grupo compartilharam da


mesma fala da sensação de bem estar, onde puderam compartilhar histórias de
momentos de suas vidas que lhes eram significativas, assim como afirmaram que esta
experiência foi muito boa pois lhes possibilitou além do desenho em si, poder conhecer
um pouco mais sobre o outro.

Já no dia 11.11 - terceiro encontro foi dividido em dois momentos: apresentação


sobre a temática da fotografia como estímulo para o desenvolvimento da autoestima na
28
terceira idade e um ensaio fotográfico nas dependências da referida instituição com o
intuito de estimular os participantes dos pontos positivos e qualidades que possuímos.

Nesta ótica, foi apresentado algumas fotografias para o reconhecimento de


emoções expressas em gestos faciais. Fora apresentada fotografias de pessoas felizes,
tristes, pensativas, magoadas etc, para que os participantes do referido projeto
pudessem deduzir sobre a pessoa fotografada, assim, criando um ambiente propício
para o diálogo e reflexão dos diversos tipos de emoções agradáveis e desagradáveis que
de alguma forma podem surgir no processo de envelhecimento e de emoções
vivenciadas em outros idosos, de modo a desenvolverem uma consciência a respeito do
sentimento alheio.

As opiniões de alguns participantes foram transcritas a seguir:

“Essas fotos deu pra perceber quem estava feliz e triste”. (M. L. M. S, 83 anos).

“As fotos me fazem pensar em paz e amor na velhice”. (M. H. L. S. P, 78 anos).

“Na terceira idade uma pessoa idosa parece que viveu uma história bastante
feliz”. (R. N. B, 72 anos).

“Tem uma foto, a quarta foto apresentada, que aparece um casal de idosos
esbanjando uma vitória enorme e comemoram algum tipo de vitória
parecendo um casal que viveu uma alegria intensamente”. (L. P. A, 60 anos).

“Essa apresentação me fez pensar que passamos por sofrimento e solidão, às


vezes, esperando que algo de ruim aconteça, mas precisa ajuda nos outros
pra criar autoestima”. (M. L. M. S, 83 anos).

Com base nisso, podemos observar que fatores motivacionais dos idosos em
perceber as emoções expressas nos gestos faciais durante a apresentação estava
relacionada com o ambiente criado sob uma perspectiva de diálogo e reflexão. Buscou-
se resgatar a autoestima e autoconhecimento, onde se trabalhou os aspectos
relacionados com o seu lado emocional, onde tiveram a oportunidade de entrar em

29
contato com suas emoções através do compartilhamento de experiências, assim,
potencializando o contato dos participantes com suas memórias e experiências.

Outro passo importante que em relação a potencialização da autoestima está


relacionado com a criação aberto para a discussão sobre a autoimagem, ponto abordado
durante a apresentação, já que a todo momento estamos sendo bombardeados com
padrões de beleza a serem seguidos. Nesse sentido, SILVA et. al (2022), aborda o
seguinte:

Quando pensamos em beleza, pode parecer difícil encontrar palavras para


descrever, uma vez que o conceito pode ser visto como algo subjetivo e de
“gosto” individual. Porém, embora realmente existam diferentes percepções
de beleza, que variam de acordo com cada época, cultura e trajetória do
indivíduo, pode-se observar que normalmente o belo é relacionado a coisas
boas e positivas. (p. 14)

Nessa perspectiva, vale ressaltar que uma boa autoestima é ter o discernimento
de se auto transformar, de se olhar com amor e empatia consigo mesmo, ou seja, cada
sujeito passa por uma autoavaliação de si que exige um bom preparo psicológico. Em
relação a este tema, vale destacar as opiniões de alguns participantes:

“Na época que trabalhava como costureira percebi essa exigência da


sociedade em relação aos padrões de beleza impostos às mulheres”. (M. L.
M. S, 83 anos).

“Atualmente as pessoas idosas estão se aceitando como realmente são e isso


é legal”. (R. N. R, 72 anos).

“Temos que nos aceitar do jeito que somos. Temos que aceitar a velhice como
um processo natural porque chegamos muito longe e temos uma longa
história pra contar”. (L. P. A, 60 anos).

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“Não tenho costume de me olhar no espelho pois tenho medo de que algo
me entristeça, porém, tenho que me acostumar com minha estética. Esse
encontro está me ajudando”. (M. H. L. S. P, 78 anos).

Desta forma, podemos perceber que os participantes idosos apresentaram


elevada autoimagem e autoestima, a partir de uma percepção positiva de si e dos
outros. Vale ressaltar que este processo de aprendizagem é de suma importância do
indivíduo que de alguma forma, afetará a sua autoestima e a autoimagem pela busca de
novas experiências dentro e fora desse contexto de intervenção.

Em seguida foi feito um ensaio fotográfico de todos os participantes com o


intuito de estimular o auto-olhar e fortalecer a autoestima, através de um momento de
conexão consigo e com os outros, criando-se a possibilidade de uma nova consciência
de quem se é, e de como se percebe.

Para tanto, foi preparado um cenário agradável, calmo e seguro, facilitando o


relaxamento e consequentemente a participação na atividade. Embora estivessem
motivadas para serem fotografadas percebeu-se inicialmente um certo receio e
preocupação quanto a imagem em algumas participantes do sexo feminino, refletindo
a pressão estética cobrada pela sociedade.

Essa construção social do que é “ser mulher” resulta em tentativas repetitivas


de se encaixar nesses padrões, o que leva a preocupações constantes com a
aparência e até mesmo a desaprovação de si mesma, que alimenta ainda mais
a busca por um estereótipo de beleza inalcançável.(SILVA, 2022)

A necessidade de se enquadrar nos padrões da sociedade do que é belo e


aceitável interfere na autopercepção e reflete em sentimentos compensatórios,
encontrando nos produtos e referência da indústria da beleza proteção. Como por
exemplo, o uso da maquiagem para se sentir bem, evidenciado na fala das participantes,
no qual disseram sentir a falta do kit de maquiagem.

A preocupação com o corpo foi percebido quando a participante M. L. M. S, 83


anos, posou para as fotos e pediu para tirar outras fotos depois de ser ver na tela, pois
31
segundo ela “parecia estar doente e grávida” e na participante R. N. R, 72 anos que disse
que não soltaria o cabelo pois estava “horrível”.

Todavia, durante todo o resto do ensaio observou-se um cenário de


descontração e de admiração para com o outro realçado através de elogios nas fotos
um dos outros, contribuição significativa na autoestima.

Por fim, os participantes sugeriram tirar fotos com todos juntos e para isso
buscou-se explorar a área externa do local. Escolheu-se os letreiros que identificam a
Universidade onde acontecem todos os encontros.

Quanto ao dia 25.11, data em que seria realizado último encontro, não foi
possível realizá-lo, considerando que os participantes do programa ULBRATI não
estariam presentes, haja vista que, nos fora informado haver um participante doente, e
dada a fragilidade em decorrência da idade dos mesmos, e em respeito aos demais, bem
como das recomendações do Ministério da Saúde, o encontro foi cancelado, não
havendo tempo hábil para novo encontro. Contudo, as lembranças elaboradas para cada
participante serão entregues em momento oportuno, pelo próprio coordenador do
projeto ULBRATI.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente ao desafio que é compreender o processo de envelhecimento, assim


como todas as suas implicações, tanto físico, como emocional e psíquico do indivíduo,
torna-se cada vez mais necessário que o profissional de psicologia busque conhecimento
no que diz respeito a este período de vida inerente ao ser humano. Pois sabe-se que o
agravamento de doenças físicas está interligado ao desencadeamento de problemas de

32
cunho psicológico, outrossim, o adoecimento mental potencializa o agravamento de
doenças fisiológicas.

Dessa maneira depreende-se que, cuidar antecipadamente da saúde, bem estar


mental no intuito de minimizar possíveis relações negativas entre o envelhecer e o
aspecto salutar do sujeito é de suma importância. Considerando ainda que esses
cuidados aumentam a autoestima, que está intrinsecamente ligada ao processo de
aceitação das mudanças que ocorrem dentro do processo de envelhecimento.

Assim, o cuidado com a pessoa idosa deve estar em constante evidência, uma
vez que o número da população acima dos 60 anos de idade vem crescendo
significativamente nas últimas décadas, tornando evidente a necessidade de estudos
voltados à esta população, no tocante aos possíveis impactos negativos inerentes a faixa
etária que se chega. Logo pôde-se perceber que o cuidado com a autoestima da pessoa
idosa é primordial para que este(s) consiga(m) se sentir à vontade em sua nova etapa
de vida.

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VERAS, Renato. Fórum envelhecimento populacional e as informações de saúde do PNAD: demandas e


desafios contemporâneos. Rio de Janeiro: Cad. Saúde pública, 2007.

35
Anexo 1 - Segundo Encontro: Autorretrato

36
Anexo 2

37
Imagem 7. Lembranças preparadas para entregar aos participantes

38
CAPÍTULO II

ORIENTAÇÃO E PREVENÇÃO SOBRE O ABUSO SEXUAL E GRAVIDEZ NA


ADOLESCÊNCIA, REALIZADO NA ESCOLA ESTADUAL NATÁLIA UCHOA/MANAUS

Adriane Bezerra de Souza5


Heidi Aparecida Santos6
Maria Aparecida da Silva Martins7

RESUMO

O abuso sexual contra adolescentes é um fenômeno histórico e social de consequências


psicossociais diversas para as vítimas. O presente artigo buscou analisar as estratégias de
prevenções e orientações ao enfrentamento da violência sexual e gravidez na adolescência,
assim como promover e abordar intervenções psicoeducacionais voltadas a temática com os
alunos na Escola Estadual Natália Uchoa – Manaus/AM. A metodologia da pesquisa trata se de
intervenções psicoeducacionais na modalidade de grupos de estudantes, com aporte em uma
pesquisa bibliográfica exploratória e descritiva de abordagem qualitativa. Participaram dos
encontros duas turmas de estudantes do Ensino Médio, com idade entre 15 e 16 anos. O grupo
foi sistematizado em três encontros, com duração de uma hora e trinta minutos, realizados
semanalmente. Os resultados apontam que se trata de uma demanda complexa, que requer uma
rede de apoio social e afetiva. As intervenções sobre o abuso sexual e gravidez na adolescência,
proporcionaram espaços de diálogos entre os adolescentes, contribuindo para uma educação
psicossocial sobre os temas e enfatizando a importância da prevenção e onde encontrar ajuda.
Palavras-Chaves: Adolescentes, Abuso Sexual, Prevenção.

ABSTRACT
Sexual abuse against adolescents is a historical and social phenomenon with diverse
psychosocial consequences for victims. This article sought to analyze prevention strategies and
guidelines for coping with sexual violence and teenage pregnancy, as well as promoting and
addressing psychoeducational interventions aimed at the theme with students at Natália Uchoa
State School - Manaus/AM. The research methodology deals with psychoeducational
interventions in the modality of groups of students, with support in an exploratory and descriptive
bibliographic research with a qualitative approach. Two groups of high school students, aged
between 15 and 16, participated in the meetings. The group was systematized into three
meetings, lasting one hour and thirty minutes, held weekly. The results indicate that this is a
complex demand, which requires a social and affective support network. Interventions on sexual
abuse and teenage pregnancy provided spaces for dialogue among adolescents, contributing to

5 Graduanda do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus. drykka.psic@gmail.com.


6
Heidi Aparecida Santos* - Graduanda do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus
heidisantos1978@hotmail.com.
7 Doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e professora do

curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus. aparecida.martins@ulbra.br.


39
a psychosocial education on the issues and emphasizing the importance of prevention and where
to find help. Keywords: Adolescents, Sexual Abuse, Prevention.

INTRODUÇÃO

O presente projeto de intervenção visa apresentar possíveis intervenções


psicoeducacionais no ambiente escolar voltadas a prevenção do abuso sexual
na adolescência. Define-se abuso ou violência sexual como a situação em que
a criança, ou o adolescente, é usada para satisfação sexual de um adulto ou
adolescente mais velho, incluindo desde a prática de carícias, manipulação de
genitália, mama ou ânus, exploração sexual, pornografia, exibicionismo, até o
ato sexual, com ou sem penetração, sendo a violência sempre presumida em
menores de 14 anos (adaptado de ABRAPIA, 1997)3. É importante ressaltar que,
a sexualidade é um aspecto humano que deve naturalmente ser desenvolvido
nas diversas fases da vida. Ao ser violada, afeta gravemente as vítimas,
principalmente quando se trata de uma criança ou adolescente por serem mais
vulneráveis e não terem clareza e maturidade para identificar e enfrentar as
situações de violência. Ressaltando que a violência, negligência e abuso de
poder são alguns fatores de um conjunto contextual que levam à violência
sexual. As formas de abuso de poder vão desde o uso da intimidação física e
psicológica, manipulação, chantagem, ameaça, entre outras.

O abuso sexual na adolescência é considerado, pela Organização


Mundial da Saúde (OMS), como um dos maiores problemas de saúde pública,
visto que muitas crianças/adolescentes não revelam o abuso, somente
conseguindo falar sobre ele na idade adulta. Trabalha-se com um fenômeno que
é encoberto por segredo, "um muro de silêncio", do qual fazem parte os
familiares, vizinhos e, algumas vezes, os próprios profissionais que atendem as
crianças vítimas de violência. Vários transtornos psiquiátricos têm sido
relacionados a eventos traumáticos sofridos na adolescência, com níveis de

40
gravidade que variam com o tipo de abuso, sua duração e o grau de
relacionamento da vítima com o agressor. Alguns estudos apontam os traumas
de infância/adolescência como responsáveis por cerca de 50% das
psicopatologias encontradas nos adultos (Craine et al., 1988, apud Zavaschi et
al., 2002). O comprometimento da saúde mental e a futura adaptação social das
vítimas variarão de indivíduo para indivíduo, conforme o tipo de violência sofrida
e a capacidade de reação diante de fatos geradores de estresse.

A gravidez na adolescência é um dos agravos resultantes da violência


sexual. Há outros danos que são impostos, de ordem física, psíquica e social. “O
abuso sexual interrompe o desenvolvimento infantil, criando uma condição
psíquica que o adolescente não tem condições de responder porque ainda não
tem maturidade para isso. Quando ocorre uma gravidez tão precoce, na maioria
das vezes não se entende o que está acontecendo, o que é uma gravidez, como
isso aconteceu. Portanto, considerando os casos em que uma gravidez decorre
da violência sexual intrafamiliar, a dinâmica gestacional é intensamente
complexa, pois evidencia repulsa e ambivalências quando é revelada (Rakovic-
Felser & Vidovic, 2016). Em muitos casos, a adolescente mantém o segredo do
qual se tornou refém. Há ainda que se considerar que a violência sexual
cometida por indivíduo do sexo masculino (no caso deste texto o avô) é tida
como mais agressiva e danosa do que seria uma violência sexual cometida por
indivíduo do sexo feminino. Esta concepção foi apreendida, a partir das próprias
vítimas, em pesquisa conduzida por Hatchard et al. (2017).
Em se tratando da gravidez precoce, caso das meninas com menos de 15
anos que engravidam, o componente da vulnerabilidade a diversos tipos de
violência, incluindo a violência sexual, é importante a ser considerado. A gravidez
em adolescentes menores de 15 anos e o abuso sexual se constituem em
problema de saúde e de direitos humanos, com consequências biológicas,
psicológicas e sociais significativas. Nesse sentindo, pretende-se abordar
temáticas referentes ao abuso sexual na infância e adolescência como alerta

41
para a importância da informação e da educação em sexualidade como
ferramentas de prevenção à gravidez precoce, assim como discutir as violências
e abusos que vitimizam adolescentes e meninas. Além disso, o projeto ainda
busca executar na pratica, dinâmicas psicoterapêuticas no grupo com o objetivo
de prevenir e amenizar tais questões. Por meio da intervenção baseado neste
projeto, permite aos participantes um senso de participação, possibilitando a
experiência de viver um processo psicoeducacional em conjunto com um grupo
de pessoas que partilham as suas vivências e opiniões. Por fim, concluímos que
tal projeto de intervenção em grupo possibilitou resultados significativos na
medida em que, tanto o grupo selecionado, quanto as alunas de psicologia,
puderam beneficiar-se positivamente das atividades realizadas.

JUSTIFICATIVA

O presente projeto visa a necessidade de ser trabalhado nas escolas a


prevenção ao abuso sexual na adolescência. É um tema que necessita uma
maior atenção e deve ser devidamente explorado no ambiente escolar.

O abuso sexual, tem um grande impacto negativo tanto na saúde física


como é o caso da gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis,
como na saúde mental do adolescente, deixando marcas em seu
desenvolvimento com danos que podem persistir por toda a vida.

A primeira rede de apoio do adolescente é a família, porém, muitas vezes,


é nesse meio que ocorre o abuso sexual. Dessa forma, surge a importância de
trabalhar esse tema nas escolas, pois acaba sendo uma das formas eficaz para
reduzir o número de ocorrências do abuso sexual na adolescência.

Nesse sentido é que ganha importância o desenvolvimento de projetos


nas escolas, para que sejam disseminadas orientação, conhecimento sobre a

42
violência sexual e formas de identificação, bem como os meios de se proteger,
pedir ajuda e denunciar caso sejam vítimas ou testemunham o abuso sexual.

De acordo com o contexto acima, justifica-se a relevância do presente


Projeto: “Prevenção e Orientação sobre o Abuso Sexual na Adolescência,
realizado na Escola Estadual Natália Uchoa/Manaus”, pois trata-se de um projeto
realizado na escola, com o objetivo de analisar, abordar e promover aos alunos,
conhecimento, prevenção e autocuidado, voltado para o enfrentamento do abuso
sexual na adolescência através da psicoeducação, tornando se uma efetiva
contribuição para comunidade escolar e para sociedade.

METODOLOGIA

As intervenções com o grupo de estudantes ocorreram em 4 encontros na


escola e em sala de aula com duração máxima de 1h30min. Os materiais
ilustrados serviram de apoio para o desenvolvimento das intervenções:

43
44
45
REFERENCIAL TEÓRICO

CONCEITO DE ADOLESCÊNCIA

O período de adolescência é uma transição sutil, porém, progressiva


seguindo do final da infância até o alcance da vida adulta. A Lei 8.069/90 traz
essa definição bem delimitada ao afirmar em seu artigo 2º que “considera-se
criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos,
e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade” (ESTATUTO DA
CRIANÇA E ADOLESCENTE, 1990).

46
Para Feist et al (2015, p. 154) “a adolescência é um dos estágios do
desenvolvimento mais cruciais, porque, no final desse período, uma pessoa
precisa adquirir um sentimento firme de identidade do ego”. A adolescência
também era definida como um período de latência social, assim como a idade
escolar é um período de latência sexual; é uma fase adaptativa do
desenvolvimento da personalidade, é a Identidade versus Confusão de
Identidade que Erik Erikson mostra em Estágios do Desenvolvimento
Psicossocial (ERIKSON apud FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015, P. 154).

Conforme Bock (2015, p. 226), considera que “como sociedade ocidental,


temos a construção de uma etapa de desenvolvimento do homem que é a
adolescência [...] isto não ocorria desta maneira em outras épocas históricas”.
Antes desta construção, a passagem da criança à vida adulta dava-se através
do casamento e trabalho, onde as mulheres se preparavam para cuidar da casa
ou de uma nova família. Dessa forma não havia necessidade do período de
latência entre a infância e a vida adulta (BARONCELLI apud AZEVEDO, 2018,
p. 10).

As adolescentes, em especial, sempre tiveram um papel de submissão e


servidão dentro das famílias dentre os quais, reservados a estas, principalmente
das classes menos favorecidas, eram os de cuidadoras da casa e de irmãos
menores, onde a matriarca precisa se ausentar para manter financeiramente a
família, valendo-se assim do apoio dos filhos mais velhos. Esta ausência abriria
possibilidades, embora não determine ou seja regra para que ocorram abusos e
violência intrafamiliar por parte de adultos ou outros adolescentes. Conclui-se
que a violência e o abuso sexual são fenômenos democráticos. De acordo com
Azevedo et al. (2018, p. 9), “abusos e violência intrafamiliar não são atributos
apenas de famílias desestruturadas”. Esse fenômeno ocorre em todas as
classes sociais, econômicas, étnicas e demais configurações.

47
Não são as famílias que abusam das crianças e adolescentes, mas os
indivíduos que a compõem. Dentro de uma mesma família podemos encontrar o
abusador, a vítima e também o membro ao qual esta mesma vítima pode ter a
confiança e segurança em buscar ajuda, embora a maioria das vítimas encontre
dificuldades nessa relação de confiança e prefira o silêncio e o segredo,
prolongando e acentuando o sofrimento. A família é responsável pela formação,
proteção, educação das crianças e adolescentes. Ela detém o papel de
educadora e delimitadora dos limites, sendo antes de tudo, a principal protetora
de seus descendentes (AZEVEDO; ALVES; TAVARES, 2018).

Nas famílias em que há o desvio de conduta, em que estas podem ser


classificadas como incestuosas, o funcionamento do grupo familiar é modificado
e seus membros exercem uma inversão de papéis. Geralmente o incesto é
provocado por pais, padrastos, tios, avós, irmãos, onde estes se aproveitam da
convivência e permanência prolongada com a vítima, mantendo assim, um
segredo familiar muitas vezes consentido por outros membros do grupo e por
outras vítimas dos mesmos abusadores (BORGES e ZINGLER apud AZEVEDO,
2018).

A cultura patriarcal ainda fala mais alto nas relações familiares, conforme
Marra (2016, p. 23), “A violência circula entre os membros do grupo familiar,
mostrando nada mais que o exercício e o direito da autoridade dos homens sobre
as mulheres e sobre os filhos – crianças e adolescentes”. Ainda segundo a
autora, “as narrativas que se constroem nesse espaço de sofrimento e dor ficam
muitas vezes silenciadas e o segredo se institui”.

Essa camuflagem da verdade muitas vezes se baseia em questões


econômicas, religiosas e culturais dessas famílias. O silêncio e o segredo que
permeiam essas relações familiares e extrafamiliares no abuso sexual, traz a
necessidade de se entender essa linguagem como um veículo de comunicação

48
que apresenta dificuldades, que tem como raiz a desigualdade, a dominação e
a exploração (MARRA, 2016).

ABUSO SEXUAL

Os motivos pelos quais a vítima silencia os abusos sofridos são diversos:


é muito comum que sofram ameaças físicas e psicológicas; sente culpa pelo
abuso sofrido; a criança acredita que o abuso é uma forma de carinho e não
percebe a violência; tem medo de ser punida por acreditar que é culpada pelo
ocorrido; medo de pôr em risco a relação com o abusador (por este ser um
membro da família); medo de ser responsabilizada pela separação dos pais ou
de outro familiar; medo de ser desacreditada e expulsa do lar (AZEVEDO et al,
2018).

No abuso sexual, a criança ou adolescente é usado para gratificação


sexual de um adulto ou mesmo de outro adolescente mais velho, baseado em
uma relação de poder que pode incluir manipulação de genitais, mama, ânus,
exploração sexual, pornografia, a consumação do ato sexual, violência física ou
a ausência desta. Geralmente esse abusador é alguém de confiança da vítima,
o que faz com que o uso da violência seja a prática menos escolhida, com o
intuito de não deixar vestígios visíveis do crime (ABRAPIA, 2002).

O abuso sexual pode ocorrer tanto com o contato físico como com sua
ausência. Diante das possibilidades, é possível elencar alguns tipos de abuso
sexual. Abuso sem contato físico: a) abuso sexual verbal – tem o sentido de
despertar o interesse sexual da vítima através de conversas abertas; b)
telefonemas ou mensagens - com conteúdo obsceno; c) exibicionismo – a
intenção é chocar a vítima com atitudes inesperadas; d) voyeurismo – o
abusador obtém gratificação através da observação de atos ou órgão sexuais de
outra pessoa; e) pedofilia – fotografar as vítimas nuas ou em posições sedutoras
com objetivo sexual. O abuso sexual com contato físico: a) atos físicos que

49
incluem penetração vaginal/anal, carícias nos órgãos genitais, masturbação,
sexo oral; b) prostituição – exploração sexual que visa fins econômicos
(ABRAPIA, 2002).

CONSEQUÊNCIAS DO ABUSO SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA

Os impactos ocorrem na saúde emocional, social e física, onde esta última


ainda resulta em mais prejuízos à vítima como o risco de contrair infecções
sexualmente transmissíveis, como HIV, sífilis, HPV, hepatites, dentre outras IST
e a gravidez, tendo em vista que tais relações abusivas se prevalecem de
ocasiões oportunas, não sendo planejado o uso de preservativos ou outros
métodos contraceptivos e de proteção. De acordo com o Ministério da Saúde:

É importante ressaltar que, mesmo que não haja sinais e sintomas, as


IST podem estar presentes [...] elas são transmitidas, principalmente,
por meio do contato sexual (oral, vaginal, anal) sem o uso de camisinha
masculina ou feminina, com uma pessoa que esteja infectada. De
maneira menos comum, as IST também podem ser transmitidas por
meio não sexual, pelo contato de mucosas ou pele não íntegra com
secreções corporais contaminadas. (BRASIL, 2020).

A repercussão desse abuso muitas vezes vem com o impacto de uma


gravidez precoce, de uma gestação e parto de alto risco. Geralmente essas
vítimas que tem a gravidez como mais um resultado da violência, não iniciam o
pré-natal ou o fazem tardiamente. De acordo com Souto et al. (2009, p. 2911),
as características do parto e do recém-nascido são de maioria cesárea e bebês
com baixo peso. Ainda segundo o autor, além da gravidez, existem outros
problemas relacionados à saúde materna infantil, atrasos e desafios

50
educacionais, bem como evasão escolar, são elementos desestruturadores da
vida dessas adolescentes.

O abuso sexual traz uma série de impactos negativos no desenvolvimento


da criança e adolescentes, que perduram por longo período e muitas vezes, por
toda vida. De acordo com Florentino (2015, p. 2), “o que se observa na literatura
existente é a concordância entre os especialistas em reconhecer que a criança
vítima de abuso e de violência sexual corre o risco de uma psicopatologia grave,
que perturba sua evolução psicológica, afetiva e sexual”.

O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) está presente na maioria


das vítimas de abuso sexual por haver a reexperimentação de memórias
intrusivas e persistentes ligadas ao trauma. Conforme definição de
Dalgalarrondo (2019, p.374), “o TEPT se caracteriza por lembranças ou
recordações vívidas que invadem a consciência do indivíduo que passou pelo
trauma, os chamados flashbacks (ou em forma de pesadelos)”. O autor também
destaca que este transtorno tem forte componente de ansiedade e seu
desenvolvimento se dá a partir da exposição da vítima ao evento extremamente
ameaçador, traumático e horrível, como o estupro. Os sintomas causam muito
sofrimento e perduram por longo período, como meses e anos.

AMBIENTE DE MAIOR OCORRÊNCIA DO ABUSO SEXUAL EM


ADOLESCENTES

Segundo o Ministério da Saúde, a violência sexual é um fenômeno tão


antigo quanto a história da humanidade. Tornou-se cultural e banalizada pela
sociedade como sendo uma das desigualdades de gênero fundadas na relação
entre sistemas de dominação e produção de diferenças, imposta em especial às
mulheres, crianças e adolescentes do sexo feminino, não eximindo, no entanto,
as pessoas do sexo masculino ou pessoas idosas. (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2015).

51
Espera-se que a família eduque seus filhos balizando seus
comportamentos, ao indicar o certo e o errado, e protegendo-os de situações
que sozinhos não teriam condições de enfrentar. Nas famílias abusivas, esta
lógica encontra-se alternada, tendo em vista que muitas vezes os membros
“protetores" são exatamente os quem infringem esta concepção social e
transformam-se em agressores. Ainda que não seja a realidade somente de
famílias de grupos populares, a violência sexual é um problema de saúde
pública, sendo vivenciado por muitas famílias em situação de pobreza e
vulnerabilidade social (apud Siqueira at. al.; Gonçalves & Ferreira, 2002; Pfeiffer
& Salvagni, 2005).

A violência sexual pode se dar de duas formas: extrafamiliar e


intrafamiliar. De forma que a primeira envolve sujeitos estranhos ao núcleo
familiar e a segunda praticada por pessoas que tenham algum laço familiar com
a vítima, seja por sangue ou afeto. Normalmente o abuso sexual nos
adolescentes é realizado pelo padrasto, e nas crianças o abuso é cometido pelos
pais. (apud Azevedo at.al; PELISOLI; Dell' AGLIO, 2012).

Segundo Siqueira, o fenômeno do abuso sexual intrafamiliar é muito difícil


de ser enfrentado tanto para a criança, quanto para o adulto, pois sua denúncia
explicita a violência que ocorre dentro da própria família. (Siqueira, 2011)

Geralmente, há um silêncio cercando esses fatos, pois as vítimas têm


dificuldade de denunciar e os adultos responsáveis não são capazes de ouvir o
que elas têm a dizer. A maioria das vítimas não denuncia a situação de abuso
sexual, por constrangimento e medo de ser humilhada (apud Siqueira at. al;
Araújo, 2002; Costa, Carvalho, Santa Bárbara, Santos, Gomes & Sousa, 2007)

O receio de que não haja compreensão ou da interpretação equivocada


por parte da família, dos amigos, das autoridades e conhecidos também pode
levar a vítima a silenciar-se diante da violência. Assim, a verdadeira prevalência

52
dos casos de violência sexual ainda é pouco conhecida e acredita-se que a
subnotificação ainda seja muito grande (apud Siqueira at. al; Costa & cols.,
2007).

A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NA PREVENÇÃO E ORIENTAÇÃO AO


ABUSO SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA

A escola tem um importante papel a desempenhar em relação ao abuso


sexual na infância e adolescência, pois a experiência traumática de ter sofrido
abuso sexual influencia os processos de aprendizagem e a formação da
personalidade do sujeito. Paín In; Parente fala que:

Se a criança apresenta problemas de aprendizagem é porque não


distingue todas as ordens, porque confunde o que quer com o que é; o
processo de identificação (da dimensão dramática) e o de assimilação
(da dimensão cognitiva) não podem ser confundidos. A possibilidade
de fazer estas distinções é a base da saúde. Qualquer tipo de
perturbação entre o que é objetivo e o que é o universo interno, o que
é a lei de fora e o que é a lei própria, qualquer confusão entre estas
ordens produz transtornos porque não permite ao sujeito uma boa
leitura da realidade, e nem uma boa leitura das possibilidades dele
mesmo. Não sendo capaz de conhecer suas próprias leis, o indivíduo
as projeta sobre o outro e sobre as coisas que vê de si mesmo". (Paín,
In; Parente,2002).

É necessário que seja promovido a discussão e orientações em sala de


aula mediada pelos professores, além de levar informações e orientações aos
alunos sobre os órgãos protetivos e políticas públicas. Sayão (1997) afirma que
“Sendo assim os professores precisam assumir uma postura de diálogo com os
alunos, estabelecendo uma relação de confiança sem criar cumplicidade e
principalmente suspender seu juízo de valor.

Seguindo essa relação entre professores e alunos o autor Paulo Freire


afirma que considera importante que: “Os alunos aprendem de modo diverso
isso porque têm histórias de vida diferentes, são sujeitos históricos o que
53
condiciona sua relação com o mundo e influencia sua forma de aprender. Para
ele, é fundamental buscar informações sobre o aluno, conhecer o discente e sua
maneira de aprender. ” (Paulo Freire, 1996)

Sociedade e escola devem estar de mãos dadas para o enfrentamento da


violência sexual infantil, tendo uma visão multidisciplinar, ao mesmo tempo são
responsáveis, para que haja um ambiente mais seguro para as crianças e
adolescentes. Nesse contexto o artigo 245 do Estatuto da Criança e do
Adolescente determina:

Pena de caráter pecuniário, para situações de flagrante omissão de


professores ou responsáveis por estabelecimento de ensino
fundamental. Vejamos: Art. 245 Deixar o médico, professor ou
responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino
fundamental, préescola ou creche, de comunicar à autoridade
competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo
suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
Pena – multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o
dobro em caso de reincidência (BRASIL, 1990a)

As escolas podem e devem trabalhar a saúde mental dos seus alunos,


assim como a prevenção aos abusos e demais violências. Os resultados do
abuso sexual refletem de forma negativa no aprendizado das crianças e
adolescentes, seja através de um transtorno mental ou comportamentos não
condizentes com o habitual daquele aluno, influenciam no desempenho escolar,
no rendimento acadêmico e evasão (motivado pela gravidez). A importância da
promoção de saúde nesses espaços escolares se faz urgente, pois não deve ser
pensado apenas as questões de escolarização, mas, abranger a criança e o
adolescente como um todo. Segundo Bressan & Estanislau (2014, p.16), “a
prevenção é a atividade relacionada ao controle dos fatores de risco que
antecedem os transtornos”. Ainda segundo os autores, a escola é um espaço

54
estratégico e privilegiado para desenvolver políticas de saúde pública para
jovens.

É possível notar, que a escola se apresenta como lugar importante para


detectar e interver, em casos de abuso sexual infantil e de adolescentes, uma
vez que o aluno poderá não corresponder com o esperado em seu aprendizado.

ESTRATÉGIAS DE COMBATE AO ABUSO SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA

As formas de se evitar o abuso sexual entre crianças e adolescentes


requer uma junção de esforços por parte da sociedade, autoridades e instituições
públicas e privadas. É clara a importância de propostas e ações de intervenção
que objetivem não apenas o tratamento das vítimas, mas o envolvimento de
diferentes atores na prevenção do abuso sexual infantil. Segundo Pelisoli (2010)
“Pais, professores, alunos e outros profissionais podem passar a ter um papel
mais ativo nessa direção, evitando que novos atos de violência sejam cometidos
e rompendo ciclos abusivos cujas repercussões se manteriam durante anos. Na
próxima seção, será apresentada uma proposta de intervenção com o objetivo
de (a) prevenir o abuso sexual; (b) identificar e intervir precocemente nesses
casos.” De acordo com a Cartilha de Combate à Exploração Sexual Infantil do
Ministério Público é importante que:

A efetivação de campanhas, projetos e programas que se destinem a


informar a população através dos meios de comunicação, sobre a
gravidade da questão e suas sérias consequências; Promoção e
disseminação do sistema de prevenção contra a exploração sexual
comercial de menores; Capacitação adequada de professores para
ensinarem métodos de prevenção ao abuso sexual; reconhecimento
dos sinais e sintomas apresentados pelas vítimas e auxílio quanto às
formas de se encaminhar as vítimas para tratamento e de se denunciar
o abusador; Introduzir informações sobre sexualidade nas escolas,
com ênfase em auxiliar e ensinar os menores a se defenderem dos
55
abusos, realçando a necessidade de tratamento e afastamento da
vítima do abusador; A implementação de políticas públicas de
atendimento psicoterapêutico às vítimas e agressores; (Ministério
Público 2015-2017)

Orientações práticas e simples podem evitar que o pior aconteça: como


ensinar a criança, desde muito cedo, que ninguém deve tocar ou machucar suas
partes íntimas; oriente-a a não aceitar nada, nem ir sozinha na companhia de
estranhos; enfatize que ela deve gritar e procurar socorro caso alguém tente
tocar ou ver suas partes íntimas e que, se algo assim acontecer, precisa contar
a alguém de confiança.

MEIOS DE APOIO

Crianças e adolescentes do Amazonas, vítimas de violência sexual,


podem solicitar apoio psicológico gratuito no projeto ‘Um Novo Amanhecer’,
promovido pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM). O
projeto faz o acompanhamento clínico com crianças, membros e familiares.
Crianças e adolescentes podem ser inclusos no programa através dos canais de
denúncia e, também, procurando auxílio no Núcleo de Psicologia da Defensoria
Pública, localizada na rua 24 de maio, Centro de Manaus. Também na atenção
Básica, esses jovens são assistidos pelo Serviço de Atendimento às Vítimas de
Violência Sexual (Savvis), ofertado pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa),
para diminuir ao máximo as sequelas psicológicas e físicas nos pacientes.

A população pode acionar o Conselho Tutelar quando tiver suspeita ou


confirmação de casos de violação de direitos: de agressão física e/ou psicológica
à crianças e adolescentes; espancamentos; abandono; negligência; maus tratos;
opressão; cárcere privado; para denunciar crianças ausentes da escola; não
matriculadas ou com evasão escolar. Em resumo, quando o cidadão souber que
qualquer criança e/ou adolescente teve quaisquer dos seus direitos previstos no

56
Estatuto da Criança e do Adolescente (Arts. 7° ao 85, do ECA) violados pode
acionar o Conselho Tutelar do seu município, listados a seguir:

 Centro-Oeste: Rua Rodolpho Valente, 70 – Planalto – Telefone: (92)


98842-2218
 Centro Sul: Avenida Perimetral, 22 – Parque Dez de Novembro –
Telefone: (92) 3214-5084
 Leste I: Avenida Grande Circular, 613 – São José I – Telefone: (92) 3249-
7380
 Leste II: Avenida Brigadeiro Hilário Gurjão, 735 – Jorge Teixeira –
Telefone: (92) 3214-2082
 Zona Norte: Rua Curió, 101 – Cidade Nova I – Telefone: (92) 3641-9723
 Zona Oeste: Rua São Bento, 72 – São Jorge – Telefone: (92) 3214-8100
 Zona Rural: Avenida Kako Caminha, 273 – São Geraldo – Telefone: (92)
3214-3606
 Zona Sul I: Rua Borba, 1415 – Cachoeirinha – Telefone: (92) 3611-4411
 Zona Sul II: Rua Nova, s/n – São Lázaro – Telefone: (92) 3214-3608

CANAIS DE DENÚNCIAS:

DISQUE 100

O Disque Direitos Humanos (Disque 100) é um serviço de disseminação


de informações sobre direitos de grupos vulneráveis e de denúncias de violações
de direitos humanos. O serviço funciona diariamente, 24 horas por dia, incluindo
sábados, domingos e feriados. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por
meio de discagem direta e gratuita, de qualquer terminal telefônico fixo ou móvel,
basta discar 100.É responsável por:

57
Articular a rede de proteção a nível nacional junto aos agentes locais;
encaminhar as denúncias aos órgãos de defesa e responsabilização
competentes como o Ministério Público e o Conselho Tutelar; em casos de
extrema gravidade, acionar diretamente a polícia ou autoridade para que sejam
tomadas as devidas providências.

CONSELHO TUTELAR

O Conselho Tutelar (CT) é um órgão administrativo municipal, autônomo,


responsável pelo atendimento de crianças ameaçadas ou violadas em seus
direitos.
Cada município deve ter pelo menos um Conselho Tutelar. Os conselhos têm-
se constituído em importantes peças na rede de proteção da criança e do
adolescente, nos casos de denúncias de negligência, maus-tratos, abuso físico
e sexual de crianças e adolescentes e também instrumento de combate ao
comércio e à exploração sexual de crianças e adolescentes. É responsável por:

Receber todos os tipos de denúncias de violações de direitos contra


crianças e adolescentes; aplicar medidas de proteção à criança e ao adolescente
evitando que seus direitos sejam ameaçados e/ou violados; requisitar, quando
necessário, serviços públicos nas áreas de saúde, educação e serviço social;

DELEGACIA

Unidade policial fixa para atendimento ao público. Algumas regiões


possuem delegacias especializadas como a Delegacia de Proteção à Criança e
ao Adolescente (DPCA):

Fiscalizar, investigar e instaurar inquéritos e procedimentos policiais em casos


de infrações penais praticadas contra crianças e adolescentes; desenvolver
estratégias de repressão em local público ou privado, como forma de interromper
o ciclo de impunidades dos agressores.
58
LIGUE 180

O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o


enfrentamento à violência contra a mulher. É responsável por: Receber
denúncias de violações contra as mulheres. A central encaminha o conteúdo dos
relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos; orientar
mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços
especializados da rede de atendimento; Informar sobre os direitos da mulher, a
legislação vigente sobre o tema e a rede de acolhimento de mulheres em
situação de vulnerabilidade.

DISQUE 191 – POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Utilizado pela Polícia Rodoviária Federal, a população poderá ligar para


informar sobre ocorrências nas rodovias federais, por exemplo, o tráfico e a
exploração sexual de crianças e adolescentes. É responsável por: Receber
denúncias de violência e exploração sexual de crianças e adolescentes.

INSTITUTO MÉDICO LEGAL

Órgão vinculado à Secretaria de Segurança Pública. É responsável por:


– Dar encaminhamento aos inquéritos de violência sexual. Para isso é
necessário a obtenção de duas provas: laudo pericial, emitido a partir de provas
físicas do ato sexual, lesões corporais e de autoria do crime sexual, prova
testemunhal; – Ofertar orientação a indivíduos e famílias com seus direitos
violados.

59
MINISTÉRIO PÚBLICO

Órgão fiscalizador do cumprimento da lei e defensor dos interesses


sociais individuais. É responsável por: – Analisar os inquéritos policiais
recebidos; – Encaminhar o processo ao juiz para qualificá-los ou não como crime
e prosseguir com as devidas punições.

PODER JUDICIÁRIO

Um dos três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) do Estado. É


responsável pela aplicação das leis.

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

A adolescência é uma fase de transição entre a infância e a vida adulta,


durante a qual ocorrem muitas transições biológicas, sociais e psicológicas que
fazem da adolescência uma fase crítica da vida e geram vários conflitos.
(DAVIM et al., 2009).

Com a aceleração da taxa de crescimento, estimulação sexual, aumento


de hormônios e estilo de vida das meninas, a menarca começa cada vez mais
cedo. Tornando-se um fator de risco para o início mais precoce da atividade
sexual, e consequentemente à uma gravidez na adolescência. Cerca de metade
das gestações nesse período ocorre nos primeiros 6 meses após a primeira
relação sexual. (DIAS; TEIXEIRA, 2010)

Quando a gravidez ocorre nesta fase da vida, a transição biopsicossocial


pode ser considerada um problema para as adolescentes que vão constituir
família, o que afetará especialmente a juventude e a possibilidade de
desenvolver um projeto de vida estável, causando uma dupla perda em que
ambos adolescência se completam, e os adultos não são totalmente capazes.

60
A gravidez, seja ela intencional ou não, gera uma série de impasses
comunicacionais nos níveis social, familiar e pessoal (ARAÚJO FILHO, 2011).

A gravidez na adolescência é reconhecida como um grave problema de


saúde pública, e, portanto, requer orientação, preparo e planejamento de
acompanhamento durante a gravidez e o parto, pois é um problema que
oferece risco ao desenvolvimento da criança, bem como da própria gestante.

CONSEQUÊNCIAS DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

Quanto às consequências da gravidez precoce para uma adolescente,


além das complicações associadas ao parto, são também os problemas de
crescimento e desenvolvimento emocional, comportamental e educacional,
como um todo. Mas as consequências também afetam o bebê, pois é fator de
risco, parto prematuro, baixo peso ao nascer e outras complicações. (SILVA et
al., 2011).

A maioria das adolescentes encontram-se cursando os ensinos


fundamental e médio, portanto em atraso escolar, conforme os limites etários
estabelecidos pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) para o ensino
fundamental (7 a 14 anos) e para o ensino médio (15 a 19 anos).

Considerando que as jovens estão em meio ao período escolar, a gravidez


pode acarretar no atraso ou até mesmo na interrupção das atividades escolares.
Isto porque as dificuldades sociais que se apresentam após o parto favorecem a
ausência e poucas jovens regressam aos estudos, o que conduz a um menor
nível de escolaridade e, consequentemente, há um nível profissional insuficiente,
e a tendência para ter muitos filhos e muitas outras mudanças na vida, se torna
um ciclo de manutenção da pobreza.

61
Segundo Menezes et al. (2012), a importância da escola para as mulheres
jovens, considerando o aprofundamento das experiências de desigualdade
social e de gênero, quanto menor o nível educacional das mulheres. O apoio de
todos é essencial para que as jovens mães e/ou grávidas continuem a estudar
(se assim o desejarem), porque o abandono e a repetência escolar limitam
significativamente as oportunidades de independência econômica das jovens,
sobretudo das camadas sociais mais baixas. a rede de apoio já se encontra
financeiramente enfraquecida.

Segundo Nascimento et al., (2011) a gravidez é enfrentada como um


problema, principalmente, por estar relacionada com a possível apresentação de
vários comprometimentos no crescimento, no âmbito emocional, educacional,
familiar e outros. Desta forma, se faz comum, a visão de que a gestação precoce
é indesejada.

ANÁLISE DOS DADOS

As intervenções com o grupo de estudantes ocorreram em 4 encontros na


escola e em sala de aula com duração máxima de 1h30min, sendo o primeiro
uma entrevista com a diretora Srª. Maria Glaucimeire Silva Graça, gestora da
escola Estadual Natália Uchoa/Manaus. Os encontros ocorreram da seguinte
forma:

 ENCONTRO 1: Visita para apresentação do projeto e reconhecimento da


estrutura de funcionamento da escola (03/112022)
 ENCONTRO 2: Entrevista com a diretora da escola (04/11/2022)
 ENCONTRO 3: Psicoeducação com o tema Abuso Sexual (17/11/2022)
 ENCONTRO 4: Psicoeducação com o tema Gravidez na Adolescência
(18/11/2022)

62
ENCONTRO 1: Apresentação do projeto de intervenção em grupo a diretora da
escola estadual Natália Uchoa – Manaus, Maria Glaucimeire Silva Graça.
Solicitação de autorização para a realização das atividades propostas com uma
turma de alunos do primeiro ano do ensino médio.

ENCONTRO 2: Entrevista sobre a forma de funcionamento da escola e coleta


de dados a respeito do público escolar do primeiro ano do ensino médio que
serão submetidos as intervenções.

ENCONTRO 3: Psicoeducação sobre o Abuso Sexual na Adolescência – e


como essa problemática pode afetar a saúde mental, podendo se estender
a vida adulta. Antes de entrar no tema, propriamente, a intervenção
começou com uma dinâmica, objetivando diminuir qualquer tensão dos
estudantes. Após isso, foi dado início as informações sobre a diferença de
abuso e exploração sexual, bem como dados quantitativos de acordo com
a OMS e as formas de como e onde os abusos geralmente acontecem,
assim como as consequências físicas e emocionais. Todas as informações
de como se proteger e meios de como pedir ajuda referentes a comunidade
e órgãos competentes, foram deixados com estudantes através de
panfletos informativos, criados por este grupo de intervenção.

ENCONTRO 4: Encontro também foi iniciado com dinâmica de grupo para


promover o autoconhecimento e ressignificação emocional, objetivando
assim, deixar os alunos mais próximos e mais à vontade para receber as
informações seguintes. Foram usados vídeos educativos e slides na
explicação sobre como ocorre a gravidez precoce/adolescência, assim
como dados da OMS. Informações sobre questões físicas e emocionais
inerentes a gravidez na adolescência, bem como formas de conversar com
adultos sobre quaisquer dúvidas inerentes a sexualidade.

63
No final de cada intervenção, os alunos tiveram tempo para que
pudessem falar sobre os temas sugeridos e tirarem dúvidas, assim como
foram deixadas breves informações sobre o setembro Amarelo. Frases
motivacionais foram deixadas com cada estudante simbolizando a
esperança. Tais frases foram envolvidas em pirulitos (doces), para lembra-
los de que a vida pode e precisa ser mais leve, mais doce. É válido ressaltar
a importante observação em relação a dificuldade desses estudantes em
fazer suas colocações diante dos temas, se mostraram pouco a vontade
quanto instigados a participar. Assim como foi percebido a evasão escolar
por motivos como a gravidez na adolescência, e comportamentos de pouco
interesse em se tratando de orientação sobre os temas sugeridos. Ainda
assim, a psicoeduccação foi realizada de forma efetiva nos quesitos de
orientação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A intervenção do projeto em questão, abordou temáticas referentes ao


abuso sexual e gravidez na adolescência. O mesmo teve como objetivo analisar
as possíveis intervenções psicoeducacionais no contexto escolar, voltadas para
a prevenção ao abuso sexual e gravidez na adolescência, bem como abordar as
temáticas com os alunos da Escola Estadual Natália Uchoa/Manaus,
promovendo aos estudantes, conhecimento, prevenção e autocuidado.

As intervenções deste projeto tiveram também como intuito contribuir para


minimizar os índices referentes a estas problemáticas, e amenizar questões
emocionais, indicando lugares de atendimento ao adolescente diante dessas
vulnerabilidades. Pois o abuso sexual e a gravidez na adolescência têm um
impacto negativo na saúde física e mental dos adolescentes, deixando marcas
em seu desenvolvimento com danos que podem persistir por toda a vida, por isto

64
quanto mais informações e palestras sobre o tema nas escolas, mais
probabilidade de reduzir o número dessas ocorrências.

O projeto executou na prática, dinâmicas psicoeducacionais objetivando


o conhecimento e a prevenção. Promovendo aos estudantes com idade entre 15
e 16 anos do 1º Ano do Ensino Médio da Escola Estadual Natália Uchôa/Manaus,
conhecimento, autocuidado e prevenção. Durante o desenvolvimento do projeto,
a diretora e professores se mostraram interessados em receber o projeto na
escola e afirmaram que seriam temas muito úteis a serem abordados com os
alunos, e durante a realização apresentaram apoio e interesse para que o
mesmo fosse desenvolvido, além da disposição de recursos necessários como
sala que comportasse a quantidade de alunos e data show, para a realização.
No decorrer da realização das atividades, os adolescentes foram bastante
participativos com perguntas e questionamentos e se mostraram interessados
sobre os temas propostos; as atividades tiveram uma proposta dinâmica e
interativa, deixando os alunos confortáveis para participarem e expor suas
ideias.

Durante a execução do projeto foi observada também uma situação


preocupante, pois a Instituição tem um número significativo de adolescentes
grávidas, trazendo como uma das consequências a evasão escolar. Dessa
forma, o projeto de intervenção sobre o abuso sexual e gravidez na
adolescência, proporcionou espaços de diálogos com adolescentes,
contribuindo assim na transformação social, levando temas pertinentes e
esclarecedores aos alunos. Neste sentido, percebemos que é de suma
importância promover rodas de conversas com os alunos, esclarecendo o que
de fato é abuso sexual, seus diversos tipos, e quais os meios de prevenção do
abuso sexual, além das orientações sobre prevenção da gravidez na
adolescência, para que assim estes possam apropriar-se dos conhecimentos e
possam prevenir contra esses atos abusivos.

65
O projeto trouxe também aprendizado para nós como discentes, pois
contribuiu para o nosso desenvolvimento acadêmico ao promover o
conhecimento, a reflexão e podermos colocar em pratica aquilo que
aprendemos nas aulas teóricas. Sendo assim, espera-se que, após a
intervenção, com as orientações e dúvidas esclarecidas, os alunos sejam
conscientizados e desenvolvam autonomia para lidar contra a violência sexual e
gravidez na adolescência. Ao concluir este projeto é de grande importância
afirmar novamente que a violência sexual sendo praticada contra crianças e
adolescentes é um quadro lamentável em todos os países do mundo e afeta a
legislação, que é a base legal por se responsabilizar em questão de zelar da
integridade e o bem-estar desses indivíduos. É importante que todos saibam que
a responsabilidade é de todos nós por se tratar de um assunto polêmico e
complexo, e que tais direitos são violados no vínculo familiar, na sociedade e no
Estado.

ANEXOS

66
REFERÊNCIAS

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67
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CAPÍTULOIII

PRATICANDO A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NA ESCOLA


PRACTICING EMOTIONAL INTELLIGENCE AT SCHOOL

70
Fabrinne Silva de Souza8
Linikelly Ribeiro Azevedo9
Marcos Vinicius França10
Robert Coelho dos Santos11
Elizângela da Rocha Mota12
RESUMO
O conceito de inteligência emocional está relacionado com a capacidade de o indivíduo
gerenciar suas emoções e a lidar com os outros, além da capacidade de lidar com tais
sentimentos de maneira apropriada e eficaz. Nessa perspectiva, a escola além de servir como
um parâmetro para que o sujeito encontre meios para o desenvolvimento de alguns atributos
fundamentais para o seu exercício em sociedade, possibilita o desenvolvimento intelectual,
cognitivo, social e mental do indivíduo. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo
geral abordar a relevância da inteligência emocional no âmbito escolar com alunos do quinto
ano do ensino fundamental II do Centro Educacional Dom Quixote, e como objetivos
específicos explanar a importância do conhecimento das emoções, apresentar as
competências da inteligência emocional, bem como, proporcionar a prática da inteligência
emocional. A fim de atingir tal objetivo, foi elaborado uma revisão bibliográfica acerca da
temática, apoiado nos cinco pilares fundamentais para definir a inteligência emocional segundo
Daniel Goleman, que deram base para a elaboração deste projeto de intervenção, bem como,
um norte para o desenvolvimento dos métodos de execução e implementação. Portanto,
observou-se que o projeto de intervenção foi um meio de reflexão acerca da importância do
desenvolvimento da inteligência emocional no contexto escolar, bem como, auxiliou os alunos
no desenvolvimento das habilidades referentes à inteligência emocional, no manejo destas
eno desenvolvimento de uma boa relação interpessoal.

Palavras-chave: Inteligência Emocional; Intervenção Psicossocial; Escola; Adolescentes.

ABSTRACT
The concept of emotional intelligence is related to the individual's ability to manage their
emotions and those of others, as well as the ability to deal with such feelings in an appropriate
and effective way. In this perspective, the school, in addition to serving as a parameter for the
subject to find ways to develop some fundamental attributes for their exercise in society, enables
the intellectual, cognitive, social and mental development of the individual. In this sense, the
present study has as general objective to approach the relevance of emotional intelligence in
the school environment with students of the fifth year of elementary school II ofthe Dom
Quixote Educational Center, and as specific objectives to explain the importance of knowing
emotions, to present the competences of emotional intelligence, as well as providing the practice
of emotional intelligence. In order to achieve this objective, a bibliographic reviewon the subject
was prepared, supported by the five fundamental pillars to define emotional intelligence
according to Daniel Goleman, which provided the basis for the elaboration of this intervention
project, as well as a guide for the development of execution and implementation methods.
Therefore, it was observed that the intervention project was a means of reflection about the
importance of developing emotional intelligence in the school context, as well as helping
students in the development of skills related to emotional intelligence, in their management and
in the development of a good interpersonal relationship.

8
Graduando em Psicologia pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail: fabrinnisouza@gmail.com
9
Graduando em Psicologia pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail: linikellyazevedo@rede.ulbra.br
10
Graduando em Psicologia pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail:marcos.mv151515@rede.ulbra.br
11
Graduando em Psicologia pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail: robert258914@rede.ulbra.br
12
Mestre em Educação em Ciência na Amazônia (UEA). elizangela.mota@rede.ulbra.br

71
Keywords: Emotional Intelligence; Psychosocial Intervention; School; Teens.

1 INTRODUÇÃO

Inúmeros são os conceitos que definem o que é a inteligência emocional


e que, ao longo do tempo, diversos teóricos contribuíram de maneira
significativa para o processo de desenvolvimento e aprimoramento desta, a fim
de ampliar o conhecimento acerca do comportamento dos indivíduos frente ao
manejo adequado ou inadequado de suas emoções que possam interferir no
contexto em que esteja inserido.

Com base nisso, Goleman (1999), diz que o conceito de inteligência


emocional está relacionado com a capacidade de o indivíduo gerenciar suas
emoções e as dos outros, além da capacidade de lidar com tais sentimentos de
maneira apropriada e eficaz. Nesse sentido, tendo em vista que a escola serve
como parâmetro para que o indivíduo possa encontrar diversas ferramentas
para o desenvolvimento de atributos para o exercício da cidadania e da ética
em sociedade Vasconcelos (2007), todavia, ela possibilita que o
desenvolvimento de competências cognitivas e emocionais que auxilie o aluno
no desenvolvimento destas Silva (2015).

Diante do exposto vem a seguinte pergunta que norteia este trabalho:


Qual o papel da inteligência emocional no âmbito escolar a partir de suas
habilidades e competências?

No intuito de responder tal questão, o presente trabalho optou por um


percurso metodológico, pautado pela abordagem qualitativa dos dados. De
acordo com Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa envolve uma
abordagem interpretativa do mundo, o que significa que os pesquisadores
estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender osfenômenos,
72
em termos dos significados que as pessoas a eles conferem.Também apoiados
na pesquisa sobre os cinco pilares fundamentais para definir a inteligência
emocional, que segundo Goleman (1999), é composta por cinco competências
emocionais e sociais básicas, a saber: auto percepção, autorregulação,
motivação, empatia e habilidades sociais, que nos deram base para a
elaboração deste projeto de intervenção, bem como, um norte para o
desenvolvimento dos métodos de execução e implementação.

Nessa perspectiva, o presente estudo tem como objetivo geral abordar a


relevância da inteligência emocional no âmbito escolar com alunos do quinto
ano do ensino fundamental II do Centro Educacional Dom Quixote, e como
objetivos específicos explanar a importância do conhecimento das emoções,
apresentar as competências da inteligência emocional, bem como,
proporcionar a prática da inteligência emocional. Desta forma, o projeto de
intervenção tem como público-alvo 08 (oito) alunos (as) com a idade de 10 e 11
anos do Centro Educacional Dom Quixote, instituição privada de educação
básica, localizada na zona leste, bairro Armando Mendes, Manaus/AM, que
oferece aulas de Educação Infantil e Ensino Fundamental I e II. Dessa forma,
foi utilizado 01 (um) jogo de Baralho denominado “praticando a inteligência
emocional”, contendo 10 (dez) cartas, baseado nas cinco habilidades
fundamentais da inteligência emocional que foram desenvolvidos pelos
organizadores do referido projeto, a produção de um Mapa Mental por cada
aluno sobre sua percepção acerca das cinco emoções universais; e
apresentação e preenchimento do Termômetro das Emoções, como recurso
educativo facilitador de acesso as emoções de cada participante como intuito
de identificar, medir e regular suas emoções e seus sentimentos naquele
momento.

Referente às atividades propostas, primeiramente houve uma breve


apresentação dos acadêmicos do curso de psicologia e a exemplificação a
cerca das propostas do referido projeto de intervenção, com o intuito de avaliar
73
as instalações da instituição de ensino que seria o local de aplicação destes,
avaliar as vantagens e desvantagens que poderia ocorrer durante a
implementação do projeto e o estabelecimento do vínculo com os pares da
referida instituição, pautado numa relação empática, verdadeira e confiável.
Posteriormente, seguindo um cronograma planejado, houve a implementação
e execução dos objetivos propostos pelo projeto de intervenção, onde foi
finalizada com uma roda de conversa de maneira participativa na qual foram
apresentadas nossas considerações finais.

A razão da idealização desse projeto surgiu a partir da proposta da


disciplina de Intervenção Psicossocial, oportunizando ao acadêmico o
desenvolvimento de diferentes estratégias e atividades de intervenção
psicossocial, favorecendo a integração teoria-prática através de instrumentos
teóricos e metodológicos pertinentes à Psicologia, a perspectiva da análise
institucional, a reflexão crítica sobre o papel do psicólogo e as possibilidades
de atuação em diversos contextos institucionais.

Dessa forma, devido à relevância social e acadêmica, o projeto de


intervenção, ainda que não pretenda esgotar a discussão, tem comojustificativa
criar um ambiente propício para que o aluno possa desenvolver atributos
essenciais para o desenvolvimento, aprimoramento e manejo de suas emoções
de maneira funcional, à medida que desenvolve um novo repertório frente ao
autoconhecimento e o reconhecimento de suas emoções e dos outros,
alcançando uma maior integração de suas emoções de maneira eficaz em
diferentes contextos.

Por fim, observou-se que o projeto de intervenção abrangeu o


conhecimento teórico-prático de todos os participantes envolvidos durante este
processo. Dessa maneira, através de sua aplicação podemos alcançar nossos
objetivos e resultados, por meio de intervenções adequadas e através de
técnicas e procedimentos que pudera auxiliar os alunos no manejo de suas
74
emoções, no desenvolvimento de uma boa relação interpessoal e na reflexão
acerca da importância do desenvolvimento da inteligência emocional neste
contexto.INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

A inteligência emocional é a "capacidade de identificar os nossos


próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as
emoções em nós e nos nossos relacionamentos." Goleman (1999, p. 259. Com
isso podemos compreender que o ao contrário do que se diz no senso comum
inteligência emocional não é o controle das emoções, mas sim acapacidade de
reconhecê-las em seus mais diversos contextos.

No que diz respeito ao ambiente escolar podemos destacar alguns


déficits na área emocional o que se observa é que alunos com um maior
sucesso acadêmico não necessariamente tem um melhor desenvolvimento
emocional, o que vem muitas vezes a lhes deixar inseguro a respeito de sua
futura profissão.

No que se refere ao ambiente organizacional também muito se tem


atentado para a importância da inteligência emocional, pois se caracteriza por
um contexto de inúmeras pressões e demandas emocionais. Em 1995 e 1998,
Goleman afirmou que a Inteligência Emocional conseguiria predizer o sucesso
na vida do trabalho. Com isso podemos perceber que esse tema abrange
vários campos assim sendo uma das principais competências da inteligência
humana, onde sua fundamentação está ligada a outras capacidades como a de
reconhecer suas emoções, ou seja, autoconhecimento reconhecê-las nos
outros e também as regulas para manter a razão.

Compreendemos então que de fato tal capacidade pode definir o


sucesso e o fracasso do indivíduo em seus mais diversos aspectos, o que nos
leva a pensar sobre novos meios de aplicar temáticas que enfoquem tal tema

75
tanto no ambiente escolar quando no laboral. Conforme Goleman (1998, p.128)
a Inteligência Emocional é composta por cinco competências emocionais e
sociais básicas classificadas por ele como:

1. Autoconhecimento: conhecer os próprios estados


interiores,preferências, recursos e intuições.
2. Autocontrole: lidar com os próprios estados interiores, impulsos
erecursos.
3. Automotivação: tendências emocionais que guiam ou facilitam o
alcance de metas.
4. Empatia: percepção dos sentimentos, necessidades e
preocupaçõesdos demais.
5. Relações interpessoais: interação assertiva com os outros indivíduos.

Nesse sentido, a auto percepção, como postulado por Goleman (1998),


é justamente a forma que o indivíduo entende seus recursos interiores. A
autorregulação é a capacidade do indivíduo em lidar com uma situação
problema e reconhecer seus limites.

Podemos encarar a auto percepção e a autorregulação como conceitos


paralelos e que se interligam de maneira direta, tendo em vista que a
introspecção, o reconhecimento dos limites e estados interiores e o
gerenciamento dos comportamentos, fazem parte dos conceitos elaborados
pelo autor, Goleman (1998).

A motivação está relacionada com as motivações internas e externas,


quanto às metas de trabalho com o grupo ou a organização, por exemplo, faz
se necessário estiver sempre disponível para agir de forma assertiva na
resolução de conflitos ou obstáculos na dinâmica institucional, Goleman (1998).

76
A empatia é a preocupação com os sentimentos dos outros no caso os
clientes, como, por exemplo, observar os esses sentimentos e expectativas,
desenvolver empatia é à base das relações corporativas, Goleman (1998).
Desse modo a inteligência emocional, refere-se à capacidade de autoconhecer
e gerenciar os conflitos.

2 Desenrolar da Técnica Inteligência Emocional (Baralho Praticando


ainteligência Emocional)

Por outro lado, a técnica inteligência emocional engloba um aspecto da


educação criativa, segundo Clarck (1986, p. 158), O aspecto cognitivo, em que
consiste em exercitar e refletir sobre a prática da inteligência emocional. Nesse
sentindo o aspecto cognitivo, tem o intuito de estimular a reflexão no contexto
das habilidades cognitivas, verificando e percebendo as circunstâncias em que
requer o gerenciamento das emoções. Visto que é possível reconhecer suas
emoções e gerenciar.

A técnica inteligência emocional foi desenvolvida conforme o conceito e


as competências de Goleman (2001, p. 338). A técnica inteligência emocional
é composta por 1O cartas em que possibilita a reflexão com base nas
competências que o autor considera para que uma pessoa haja e desenvolva
ainteligência emocional.

Inicialmente, às duas primeiras cartas reflete sobre a primeira


competência, auto percepção em que permite o sujeito obter a percepção de
como o sujeito gerencia seus sentimentos e emoções.

Seguidamente às duas cartas reflete sobre a segunda competência,


autorregulação, em que possibilita uma reflexão sobre como o sujeito lida e
percebe suas emoções e sentimentos.

77
Sucessivamente as próximas duas cartas tem a intenção de reflexionar
quanto à motivação, como o sujeito busca realizar seus desejos e quais são
suas motivações, e se reconhecem.

Posteriormente as próximas duas cartas contemplam em pensar sobre a


empatia, como o sujeito costuma entender as pessoas, e como se relaciona
nos seus relacionamentos.

Por fim as próximas duas cartas consideram as habilidades sociais,


com a intenção de refletir como ocorre a interação e como se relacionam com
as pessoas.

3.1 Técnica Inteligência Emocional ATIVIDADE: Praticando a inteligência

Emocional.

OBJETIVO: Possibilitar o gerenciamento das emoções, bem Como a reflexão


em inteligência emocional.

A inteligência emocional é a capacidade de gerenciar, perceber e lidar


com suas emoções, nesse sentindo, você já parou para refletir como gerencia
suas emoções. Você se considera uma pessoa que prática a inteligência
emocional?

3 DESENVOLVIMENTO HUMANO

O estudo do desenvolvimento humano é um dos campos fundamentais


para psicologia, tendo em vista que interligam questões biológicas e cognitivas
para explanar mudanças comportamentais em cada fase da vida, dando
contribuições etiológicas para fidedignidade da psicologia como ciência.
78
Tomando como pressuposto a adolescência, podemos perceber que se
caracteriza por um período de transição onde ocorrem inúmeros conflitos
internos que, por sua vez, geram consequências externas, ou seja, desavenças
nas relações sociais do indivíduo.

Para Biaggio (2009), a especificidade da psicologia do desenvolvimento


humano está em investigar os fatores externos e internos que contribuem para
as mudanças no comportamento em períodos de transição rápida.

O período da adolescência representa-se por meio da transição entre


infância para idade adulta, tendo seu início aos doze anos e finalizando aos
vinte anos. Dentre os fatores de maior importância, podemos citar a puberdade
que se caracteriza por um período de mudanças biopsicossociais.

As características da adolescência reforçam a importância de


compreender esta etapa do desenvolvimento que se configura em um período
de inúmeras transformações, em que estão presentes modificações
emocionais, sociais, físicas e cognitivas. Essas por sua vez, são fundamentais
na construção do autoconceito nos adolescentes (EIZIRIK, 2001.;
ABERASTURY; KNOBEL, 1992).

Portanto, afiguramos a adolescência como uma etapa do


desenvolvimento em que ocorre a iniciação do pensamento abstrato, no qual
proporciona a utilização da ferramenta psicoterapêutica como meio interventivo
em crises de identidade, auxiliando também na facilitação de métodos
introspectivos que desenvolvam o autoconhecimento.

4 ESTÁGIO ADOLESCÊNCIA

De acordo com Jean Piaget, o desenvolvimento humano perpassa por


algumas fases denominadas como: estágio sensório-motor, pré-operacional,
79
operatório concreto e operatório formal.

Neste tópico, discutiremos a fase operatório formal (11 à, que segundo


Piaget, é caracterizado como pensamento hipotético dedutivo, ou seja, ocorre
ainiciação do pensamento estruturado e está diretamente ligado a mudança da
infância para adolescência. Nesta etapa, o indivíduo assimila ideias complexas
e desenvolve conclusões próprias, “com isso adquire capacidade para criticar
os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta; discute os valores
morais de seus pais e constrói os seus próprios (adquirindo, portanto,
autonomia) ” Rappaport (1981, p.74). É perceptível a formação da
subjetividade, assim como pensamento abstrato, devido a assimilação de
ideias complexas e a compreensão por parte de seu meio social.

Desta forma compreendemos a complexidade da fase da adolescência


ea importância de intervenções voltadas para os aspectos emocionais, tendo
em vista que, o objetivo da temática é promover o autoconhecimento, assim
como expor o indivíduo a situações que proporcionem a reflexão self.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
6.1 Primeiro encontro: Apresentação do objetivo do projeto

No dia 03 de junho de 2022, no Centro Educacional Dom Quixote,


marcamos presença para que fosse dado o primeiro passo para a
implementação do projeto, onde pudemos avaliar as instalações da referida
instituição de ensino para que fossem tomadas as medidas necessárias que
estivessem de acordo a metodologia proposta com os pares da instituição.

Nessa perspectiva, foi discutido com a responsável da referidainstituição


acerca dos alunos que iriam fazer parte do projeto de intervenção durante os
05 (cinco) encontros que iriam ocorrer nos meses de junho e julho, das 13h30
às 14h30, totalizando 01 (uma) hora de duração, sendo assim, foram
80
disponibilizados pela instituição de ensino 08 (oito) alunos do 5º ano coma idade
de 10 e 11 anos.

Além disso, foi disponibilizado 01 (uma) sala climatizada com dez


cadeiras para que fosse o local dos encontros acima supracitados, onde de
maneira positiva, pudemos concluir que seria o local propício para a
implementação e desenvolvimento dos métodos que seriam usados no
decorrer do processo.

Por outro lado, a partir do delineamento dos nossos objetivos com os


pares da referida instituição, partimos para o segundo momento deste dia de
intervenção, o nosso primeiro contato com os 08 (oito) alunos que iriam
participar do projeto que, certamente, essa acolhida seria o ponto-chave que
seria trabalhado nesse primeiro momento. Assim sendo, acolher é dar acolhida,
admitir, aceitar, dar ouvidos, dar crédito, agasalhar, receber, atender, admitir
(Ferreira, 1975). Nesse sentido, utilizamos a técnica do rapport, que de acordo
com Gremler e Gwinner (2000), ocorre por meio da conexão e sincronização
entre duas pessoas, assim, a necessidade de aliar o rapport previamente e o
diálogo que proporciona o princípio do prazer ao compartilharem experiências
de forma espontânea, são etapas fundamentais para o desenvolvimento de um
vínculo pautado numa relação empática, verdadeira e confiável.

Nessa perspectiva, foi feita a apresentação dos organizadores do projeto


de intervenção e, em ato contínuo, foi proposto que cada aluno se
apresentasse e respondesse uma pergunta norteadora: “O que você entende
sobre inteligência emocional? ”, que iria abrir uma discussão inicial antes da
apresentação dos objetivos do projeto de intervenção.

Em suma, de maneira geral, obtivemos a resposta que ser inteligente


emocionalmente é o indivíduo trabalhar a sua inteligência em conjunto com as
suas emoções em dado momento de sua vida. Com base nisso, a aluna “S”

81
aborda o seguinte:

Eu acho que a inteligência emocional é trabalhar a


inteligênciae emoção, ou seja, o que estamos sentindo
(“S”, 10 anos,aluna da 5ª série)

Nesse sentido, a valorização do conhecimento das emoções em todos


os contextos e a desenvolvimento desta, foi mencionada pelo aluno “A” como
uma contribuição do seu entendimento sobre a temática:

Acho que a inteligência emocional tem algo relacionado com as


emoções que é a raiva e alegria e também da importância ‘da gente’
saber sobre elas (“A”, 10 anos, aluno da 5ª série)

Destarte, após essa discussão inicial para que pudéssemos conhecer


cada participante e suas particularidades, foi apresentado para os mesmos
sobre os objetivos de intervenção denominado: “Praticando a Inteligência
Emocional na Escola. Na sequência, ressaltamos sobre o cronograma queseria
seguido e da importância da assiduidade e participação, do respeitomútuo, do
preenchimento da ficha de inscrição, do preenchimento do termo de autorização
pelos seus responsáveis para que fosse validade a sua participação no projeto
de intervenção, entre outros.

Subitamente, à medida que era apresentado tais informações, houve


uma discussão envolvendo dois participantes por problemas pessoais, onde
tivemos que intervir e ressaltar a importância do respeito mútuo e empatia
naquele ambiente, onde foi explicitado que ser inteligente emocionalmente
estava relacionado com a capacidade de a pessoa gerenciar suas emoções e
as dos outros, além da capacidade de lidar com tais sentimentos de maneira
apropriada e eficaz (GOLEMAN, 1999), ou seja, uma vez que tal
comportamento envolvendo ambos poderia resultar numa situação pior, já que
os mesmos não conseguiram lidar com o sentimento de raiva.

Passado isso, trabalhamos de maneira rápida sobre o filme


82
“Divertidamente”, já que seria tema para o próximo encontro, onde foi
apresentado um trecho do referido filme e de maneira resumida, explicamos
que o filme trata do tema da inteligência emocional de forma simples e didática,
gerando uma discussão inicial dos participantes sobre suas primeiras
impressões a respeito de tal filme, conforme aborda a aluna “D”:

Eu já assisti esse filme e gostei porque ele fala as emoçõesque


‘a gente’ pode sentir diariamente e sobre a saúde mental que deve ter
relação com isso (“D”, 10 anos, aluna da 5ª série)

Além disso, o aluno “D. L” com a finalidade de contribuir com tal


discussão, abordou que:

No filme eu identifiquei a tristeza, raiva, medo e alegria. Esses


sentimentos que era demonstrado pela menina (personagem do
filme) era de acordo com o seu dia a dia (“D. L”, 10 anos, aluno da 5ª
série)

Para terminar, foi feito um breve resumo desse primeiro encontro e


também sobre a percepção de cada participante acerca dos objetivos
propostos, para que pudéssemos ter um direcionamento sobre como
funcionaria os próximos encontros, já que nosso projeto está pautado num
trabalho conjunto e, acima de tudo, empático com cada um, ressaltando que a
proposta de intervenção se propõe a ajudá-los a gerenciar suas emoções e as
dos outros, além da capacidade de lidar com tais sentimentos de maneira
apropriada e eficaz que, por sua vez, tem influência em seus comportamentos.

6.2 Segundo encontro: Apresentação dos conceitos das emoções

No dia 20 de junho de 2022, primeiramente foi feito um resumo do


encontro anterior para que pudessem ser sanadas todas as dúvidas que

83
poderiam ter ficado acerca de alguma informação que não fora repassado de
maneira clara sobre o projeto de intervenção. Igualmente, foi sinalizado de
maneira positiva o entendimento dos alunos sobre as atividades propostas.

Ademais, antes que fosse apresentado os conceitos das cinco emoções


básicas universais, que segundo Marques & Badaró (2022) frequentemente
mencionadas na literatura diz respeito a alegria, o medo, o nojo, a raiva e a
tristeza, propomos que cada aluno pudesse desenhar o seu entendimento a
respeito destas. Com base nisso, foi discutido de maneira conjunta o
entendimento de cada aluno sobre a produção de seu desenho, a fim de
observar a capacidade de cada aluno em assimilar cada conceito das emoções
em si próprio ou nos outros e também para que fosse apresentado os conceitos
das cinco emoções básicas universais.

Nessa perspectiva, o aluno “D. L” expressa o seu entendimento sobre o


conceito de alegria da seguinte maneira:

Quando a atividade fica fácil ou quando a mãe traz algo


gostoso (“D. L”, 10 anos, aluno da 5ª série)

Dessa forma, Marques & Badaró (2022) abordam que a alegria “é uma
emoção básica vivenciada pela conquista ou obtenção tanto direta quanto
indireta de algum evento, objeto, relacionamento ou situação que é valorizado
pelo indivíduo”. De certo, podemos perceber que a alegria geralmente está
relacionada com um perfeito bem-estar físico e emocional do indivíduo.

Além disso, Marques & Badaró (2022) abordam que o medo também
pode ser classificado como uma das cinco habilidades básicas universais que
geralmente podem estar associados a sentimentos de ansiedade resultante de
uma expectativa apreensiva bem como nervosismo, observado no desenho do
aluno “O” e da aluna “A” ao relatarem que:

84
Sinto medo de ficar sozinho no escuro (“O”, 10 anos, aluno da
5ª série)

Fico com medo quando estou no escuro (“A”, 10 anos, aluna


da5ª série)

Ademais, outra emoção básica vivenciada pelo indivíduo tanto de


maneira direta ou indireta, pode ser classificado como nojo, que segundo
Marques & Badaró ressaltam que:

É uma emoção básica vivenciada quando o indivíduo se


depara com alguma substância ou objeto avaliado como
indesejado ourepugnante, ou quando avalia ou interpreta algo
(mesmo que não esteja relacionado com odores e sabores),
como: pensamentos, comportamentos e aparências, sendo
desagradável e prejudicial a nível físico ou psicológico,
motivando o a adoção de comportamentos de rejeição,
afastamento, expulsão ou remoção. (2022, p. 524)

Por conseguinte, o sentimento de nojo foi apresentado pelas alunas “S”


e “D” ao discutirem acerca dos seus desenhos sobre o nojo como uma emoção
básica universal, ao se depararem com um rato e barata, respectivamente,
assim, sendo propicio para desencadearem um comportamento aversivo, indo
de encontro com o questionamento de Marques & Badaró (2022) ao abordarem
acerca das experiências indesejadas do ser humano ao se depararem com
experiências traumáticas ou até se depararem com um objeto repugnantesendo
desagradável a nível físico ou psicológico.

Outrora também podemos observar o sentimento de raiva


frequentemente associadas ao sentimento de revolta, hostilidade e ódio
quando o indivíduo apresenta dificuldades no autocontrole ou também
dificuldade em lidar com sua frustração, assim, a raiva pode ser descrita por
Marques & Badaró como:

(...) revolta, hostilidade e ódio, e frequentemente confundida


com o medo e o nojo, a raiva é uma emoção básica vivenciada
quando a ação de uma pessoa ou objeto, ou as crenças
associadas a eles, são avaliadas como uma ofensa ou
como um obstáculo pelo indivíduo, prejudicando ou
85
interrompendo sua possibilidade de alcançar um objetivo
considerado por ele como significativo. Tal estado emocional
tem como função adaptativa a autodefesa, ao possibilitar a
adoção de comportamentos de ataque, tanto verbais, quanto
físicos, com intuito de remover o impedimento e recuperar o
controle da situação. (2022, p. 525)

Com base nas características supracitadas acerca da raiva, as alunas


“S” e “R” abordam o seguinte:

Tenho raiva quando lembro da pessoa que me bateu


quandoeu era pequena (“S”, 10 anos, aluna da 5ª série)

Tenho raiva quando o 4º ano me estressa (“R”, 10 anos, aluna


da 5ª série)

Por outro lado, a aluna “R”, 11 anos, ao destacar o desenho feito sobre
a emoção de tristeza, abordou que somente fica triste quando alguém lhe
magoa.Com base nisso, Marques & Badaró salientam a tristeza como:

(...) uma emoção básica vivenciada após a perda de algo, de


alguém, da saúde ou de alguma outra situação ou
relacionamento, considerado significativo para o indivíduo,
sendo este significado grandemente valorizado. Ela apresenta
como função adaptativa a reintegração, ou seja, a
recuperação da ligação com o que foi perdido, ou o
estabelecimento de uma nova ligação e a conservação de
energia para experiências posteriores. (2022, p. 526)

Destarte, após a apresentação de cada desenho e a conceituação de


cada emoção básica universal proposta por Marques & Badaró (2022), foi
apresentado o Termômetro das Emoções (anexo 1). Nesse sentido, o
Termômetro das Emoções, além de ser um recurso educativo, tem como
objetivo identificar, medir e regular as emoções e sentimentos de cada aluno
naquele momento. Sua aplicação dar-se-á da seguinte forma:

1. É apresentado para cada aluno no papel impresso as 20


principais emoções humanas numeradas de 01 à 20 a saber:
tranquilidade, alegria, esperança, saudades, amor, orgulho,
ansiedade, raiva, nojo, desconfiança, desespero, tristeza, culpa,
vergonha, cansaço, solidão, confusão, preocupação, medo e
decepção;
86
2. Em seguida é apresentado a emoção predominante a saber:
muito forte, forte, médio, fraco, muito fraco e inexistente;
3. Por fim, é proposto que cada aluno marque com um “X” em
cada emoção numerada de 01 à 20 de acordo com a emoção
predominante expressa pelo mesmo naquele momento;

Através deste, podemos identificar os sentimentos predominantes


apresentados por cada participante, nos permitindo entender o motivo pelo qual
o participante, por exemplo, está se sentindo triste ou não, nos dando um
suporte para entender melhor sua problemática e lhe ajudar a ter um
interpretação assertiva de tal comportamento, ou seja, direcionando o aluno a
entender o motivo pelo qual está se sentido mal e lhe ajudar a desenvolver
estratégias para superar tal sentimento, além da capacidade de lidar com tais
sentimentos de maneira apropriada e eficaz.

Nesse sentido, após aplicação de tal instrumento e a leitura destes, foi


destacado que tais emoções básicas universais podem surgir em diferentes
contextos e que isso poderia ser um fator fundamental para o indivíduo entendê-
las, reconhecê-las e aprender a lidar com cada uma delas, indo de encontro
com a percepção conforme Moura (2022, p.12):

Todos nós já nascemos sentindo emoções, e começamos


com as emoções primárias: raiva, medo, alegria, surpresa,
nojo e tristeza. Sentir todas as emoções é normal, natural e
faz parte do nosso cérebro junto ao ambiente em que
estamos parafacilitar o conhecimento, o desenvolvimento e o
bem-estar (...) saber identificar cada emoção e o que a levou
a sentir aquilo é fundamental para que aprenda a lidar com
cada uma delas (...) a melhor maneira de ensinar as crianças
sobre as emoções é dizer a elas que nós também sentimos,
demonstrar quando nãoestamos bem, porque estamos com
raiva, e precisamos de alguns minutos para nos acalmar, ou
quando estamos tristes e precisamos chorar. Vendo em nós
as emoções acontecendo a criança terá mais facilidade em
entendê-las, reconhecê-las e aprender a lidar com cada uma
delas. (2022, p. 12)

De certo, o conhecimento que cada aluno tem de si mesmo e dos outros


87
é a base para o desenvolvimento da inteligência emocional, ou seja, é preciso
se emocionar e aprender com tais sentimentos para que posteriormente,
através de tais experiências, potencialize o seu pensar antes de agir. (MOURA,
2022). Por fim, foi feito um breve resumo do que foi trabalhado durante este
segundo encontro e também destacamos sobre alguns pontos relevantes que
serão trabalhados no próximo encontro tais como a apresentação dos
conceitos básicos da inteligência emocional.

6.3 Terceiro encontro: Apresentação dos conceitos básicos


daInteligência Emocional

Neste encontro do dia 24/06/22, como de praxe, inicialmente foi feito um


breve resumo do encontro anterior e pedido uma devolutiva com os alunos
acerca da compreensão do que fora trabalhado anteriormente. Com base
nisso, após observamos que o conceito das cinco emoções básicas universais
frequentemente mencionadas na literatura que diz respeito a alegria, o medo, o
nojo, a raiva e a tristeza (MARQUES & BADARÓ, 2022), foi absorvida de
maneira correta pelos participantes, foi dado início a apresentação dos
conceitos básicos da Inteligência Emocional.

Nessa perspectiva, explicitado acerca da inteligência emocional como


um campo de estudo recente que tem como intuito expandir o conceito do que
hoje é tipicamente conhecida do que é ser inteligente, além disso, introduzindo
no âmbito da inteligência características relacionados ao mundo das emoções
(DOS SANTOS TELASKA, 2022).

Sob o mesmo ponto de vista, Goleman (1999) ressalta que a inteligência


emocional pode ser classificada com a capacidade de o indivíduo reconhecer
seus próprios sentimentos e dos outros, ou seja, motivar a si mesmo e gerenciar
bem as emoções consigo mesmo e nos relacionamento interpessoais.
88
Segundo Dos Santos e Telaska, a inteligência emocional pode ser
descrita como:

(...) capacidade e habilidade de percepção e controle


emocional de si e dos outros. Quando se alcança o nível de
domínio das emoções com inteligência, o fluxo das mesmas
se torna construtivo trazendo melhoras nos relacionamentos
em todas as esferas: afetiva, conjugal, profissional e social.
Aliar o desenvolvimento de competências cognitivas e
emocionais é a melhor forma de promover seres humanos
mais íntegros, menos discriminatórios, que são capazes de
se compreender melhor a si e aos outros estando aptos para
estabelecer relações mais positivas. Agrega áreas
emocionais, afetivas e cognitivas, que se bem desenvolvidas,
contribuíram significativamente para sucesso individual e
coletivo (...). (2022, p. 286)

Nesse sentido, vale destacar que a inteligência emocional é composta


por cinco competências emocionais e sociais básicas classificadas como
autoconhecimento, autocontrole, automotivação, empatia e o desenvolvimento
de relações interpessoais (GOLEMAN, 1999).

O autoconhecimento pode ser classificado como uma forma que o


indivíduo identifique os seus próprios estados interiores, preferências, recursos,
intuições, a fim de desenvolver o controle e gerenciamento de suas as próprias
emoções no contexto na qual está inserido (GOLEMAN, 1998). Por outro lado,
o autocontrole é uma maneira de o indivíduo lidar com os próprios estados
interiores, impulsos e recursos, no sentido de agir de maneira consciente
acerca dos próprios sentimentos e sensações, gerenciando de maneira
assertiva dos seus próprios sentimentos (GOLEMAN, 1998). Com relação a
automotivação, podemos destacar que tal habilidade diz respeito a tendências
emocionais que guiam ou facilitam o indivíduo a alcançar metas e objetivos
pessoais para que possa posteriormente superar tais expectativas e se tornar
mais comprometidas em resolver seus problemas (GOLEMAN, 1998). Além
disso, a empatia como competência emocional e social básica, de certo, é a
percepção que o indivíduo tem acerca dos sentimentos, necessidades e

89
preocupações em relação ao outro, ou seja, é uma habilidade fundamental que
proporciona uma construção de relacionamentos mais saudável, no sentido de
sentir o que o outro sentiria caso estivesse na mesma situação vivenciada por
ela (GOLEMAN, 1998). Por fim, o desenvolvimento de relações interpessoais
pode ser descrito como a capacidade de se relacionar bem com o próximo e
também proporcionar o desenvolvimento de uma comunicação mais assertiva
erespeitosa (GOLEMAN, 1999).

Ademais, após a explicação de tais competências descritas por Goleman


(1999), foi proposto que cada aluno pudesse escrever em um papel branco
acerca de seu entendimento em relação a estas. Nessa perspectiva, a aluna
“D” ressaltou que:

A inteligência emocional é quando demonstra as emoções, nomeia


sentimentos, expressa o que sentimos, conhecer quando está triste,
vivenciar emoção e aceitar e gerenciar a emoção (...) (“D”, 10 anos,
aluna da 5ª série)

Por outro lado, a aluna “A” pensa que:

Inteligência emocional é quando você expressa suas


emoções, nomeia sentimentos, expressa os sentimentos,
conhece a causa, vivencia o momento e aceita e encontra
soluções (“A”, 10 anos, aluna da 5ª série)

Além disso, a aluna “D” ressalta quando não consegue ser inteligente
emocionalmente da seguinte forma:

Quando não consigo expressar os meus sentimentos e


quando não consigo vivenciar minhas emoções (“D”, 10 anos,
aluna da 5ª série)

Por outro lado, a aluna “R” pensa que consegue ser inteligente
emocionalmente da seguinte maneira:

90
Quando eu não sou inteligente emocional eu quebro as
coisas e também desconto a raiva em minha prima. Quando
eu sou inteligente emocional a solução é dormir para passar
a raiva oupedir para minha prima não me estressar por que
eu estou brava (“R”, 10 anos, aluna da 5ª série)

Dessa maneira, podemos compreender que as cinco competências


emocionais e sociais básicas e o desenvolvimento destas no contexto escolar
pode ser uma forma fundamental para que o aluno desenvolva e reconheça
suas próprias emoções e dos demais colegas, podendo utilizá-las da melhor
forma possível para guiar seus pensamentos e ações futuras, haja vista
descrito pelo aluno “D. L” ao questionar acerca de suas emoções em diferentes
contextos:

Inteligência emocional é quando você entende as emoções.


Primeiro: nomear sentimentos; Segundo: expressar o que
sentimos; Terceiro: quando você conhece a situação; Quarto:
vivenciar a emoção e aceitar e; Quinto: encontrar a solução.
Quando você não é inteligente emocional, por exemplo, é
quebrar um prato ao descontar uma raiva. Já quando você é
inteligente emociona você não quebra o prato e resolve o
problema com alegria, não descontando a raiva em objetos ou
em pessoas (“D. L”, 10 anos, aluno da 5ª série)

Por fim, foi feito um breve resumo do que foi trabalhado durante este
encontro e também destacamos sobre alguns pontos relevantes que serão
trabalhados no próximo encontro tais como a apresentação e aplicação do
baralho “praticando a inteligência emocional” desenvolvido pelos organizadores
do projeto.

6.4 Quarto encontro: Aplicação do Baralho “Praticando a


InteligênciaEmocional” e confraternização de encerramento.

No dia 27 de junho de 2022, no quarto encontro, no primeiro momento


foi realizado um resumo sobre os encontros anteriores, averiguando a
compreensão dos alunos sobre o tema proposto, seguidamente no primeiro
91
momento foi realizado a aplicação do baralho praticando a inteligência
emocional, e o segundo momento o feedback dos alunos e um lanche para o
encerramento dos encontros.

É perceptível conforme o feedback dos alunos em cada encontro que os


mesmos, obtiveram aprendizagem sobre a temática, em que conseguiram
aprender e conhecer as suas emoções e a prática da inteligência emocional.

O baralho das emoções possibilitou uma reflexão acerca da prática da


inteligência emocional, cada carta foi elaborada conforme os conceitos de
Goleman, em que apresenta 5 competências para desenvolver e praticar a
inteligência emocional.

De acordo com a primeira competência de Goleman (2011, p. 72),


”conhecer as próprias emoções é a Autoconsciência da capacidade de
reconhecer um sentimento quando ele ocorre — é a pedra de toque da
inteligência emocional”. Nesse sentindo como forma de identificar a emoção ou
sentimento, a aluna ‘’SV’’ relatou que: “Escrevo tudo no papel o que estou
sentindo”.

De outra forma, a aluna R relatou que reconhece suas emoções e que ‘’


eu falo o que estou sentindo’’, percebe-se que a aluna expressa com facilidade
seus sentimentos, dessa forma também está praticando uma das habilidades
da competência da inteligência emocional, reconhecer a emoção.

No que tange a competência lidar com as emoções, segundo Goleman


(2011, p.72), consiste em “Lidar com os sentimentos para serem apropriados é
uma aptidão que se desenvolve na autoconsciência”. Nesse contexto, a aluna
“S”, relatou que, referente as emoções ou sentimentos negativos que ocorrer
em certos momentos, relatou: ‘eu sento no meu canto e choro”. Já a aluna “R”
relatou que “fico com raiva e tristeza”. A aluna “RS” relatou “eu fico paralisada”.

92
Referente a terceira competência de Goleman, ressalta a importância da
Motivação, seja ela interna ou externa. Sendo assim apresenta que o motivar-
se está relacionado ao:

Pôr as emoções a serviço de uma meta é essencial para


centrar a atenção, para a automotivação e o controle, e para
a criatividade. O autocontrole emocional — saber adiar a
satisfação e conter a impulsividade — está por trás de
qualquer tipo de realização. E a capacidade de entrar em
estado de “fluxo” possibilita excepcionais desempenhos. As
pessoas que têm essa capacidade tendem a ser mais
produtivas e eficazes em qualquer atividade que exerçam.
(2011, p. 72 a 73).

Desse modo, a aluna “D” expressou ter motivação quando “eu desenho
e mexo no celular”.

Nessa perspectiva a competência que abrange a empatia, é de suma


relevância para a relação interpessoal, visto que a empatia é a capacidade de
se colocar no lugar do outro, com um intuído de entender ou compreender o
outro em determinada circunstância. Partindo desse pressuposto, de acordo a
competência de empatia, Goleman (2011), ressalta que “A empatia, outra
capacidade que se desenvolve na autoconsciência emocional, é a “aptidão
pessoal” fundamental”.

Desse modo a aluna “S” verbalizou que: “Eu procuro entender as


pessoas, eu entendo as pessoas pela fala”. Já a aluna “D” relatou que “Eu
entendo as pessoas pela cara”. De outro modo a aluna “R” apresentou
dificuldade de empatia com as pessoas, relatou que “Eu não entendo as
pessoas”.

No âmbito da competência de lidar com relacionamentos. Goleman


(2011, p.74), destaca que é “A arte de se relacionar é, em grande parte, a
aptidão de lidar com as emoções dos outros”. Nesse sentindo a aluna “D”

93
relatou que “sim, eu me relaciono bem com as pessoas, eu respeito as
pessoas, quando elas me respeitam também, bem eu gosto das pessoas”. Por
outro lado, a aluna “R” relatou não se relacionar bem com as pessoas “bem,
não muito”.

Em panorama os alunos se apresentaram participativos e com desejo de


estar presente em cada encontro. No decorrer os encontros semanais, em que
ocorreram duas vezes semanalmente, segundas e sextas-feiras, podemos
observar que o presente projeto obteve êxito, em que os alunos puderam obter
conhecimento sobre as emoções, assim como, o reconhecimento sobre suas
emoções e como lidar com elas.

Nos encontros os alunos adquiriram conhecimento acerca dos conceitos


da inteligência emocional, bem como desenvolveram a prática da inteligência
emociona, por meio do baralho das emoções embasado nos estudos de
Goleman, com intuído de refletir sobre a prática da inteligência emocional.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Averiguamos que o projeto abrangeu o conhecimento teórico e prático


de todos os participantes envolvidos durante esse processo, por meio das
técnicas aplicadas, assim como a exposição dos conteúdos sobre inteligência
emocional, percebemos que foi possível comunicar e explanar de maneira clara
e concisa os conceitos-chave sobre a temática proposta, dessa maneira
constatamos que uma intervenção adequada ampara-se não apenas em
princípios metódicos, mas também em práticas realistas que considerem as
vivências de cada indivíduo e suas particularidades. Ao final percebemos que
os alunos desenvolveram um maior senso crítico a respeito de suas próprias
emoções considerando não apenas o ambiente escolar como também os mais
diversos contextos, às cinco competências apresentadas no baralho

94
explanaram de maneira eficaz o que significava cada uma delas, visto que um
dos objetivos do projeto de intervenção foi buscar maior reflexão acerca das
experiências cotidianas e das emoções produzidas por elas.

REFERÊNCIAS

DOS SANTOS TELASKA, Tatiele; MINHO, Araceli Aparecida Machado.


Inteligência emocional: revisão sistemática da literatura. Revista Educar
Mais, v. 6, p. 284-293, 2022.GOLEMAN, Daniel. Trabalhando com a
inteligência emocional. Objetiva, 1998.

GOLEMAN, Daniel. Trabalhando com a Inteligência Emocional. Rio de


Janeiro: Objetiva, 2011.

MARQUES, Iandra; BADARÓ, Auxiliatrice. Uma possível reflexão acerca do


envolvimento entre as cinco emoções básicas e o sistema imunológico.
Cadernos de Psicologia, v. 3, n. 5, 2022.

MOURA, Rebeca. A cognição e a aprendizagem. 2022.

SILVA, Hadassa Kalline Santos da. O emocional no processo de aprendizagem:


relação professor/aluno. 2015.

VASCONCELOS, Teresa. A importância da educação na construção da


cidadania. 2007.

WECHSLER, Solange. Criatividade: descobrindo e encorajando: contribuições


teóricas e práticas para as mais diversas áreas. Editorial Psy.

95
CAPÍTULO IV

GESTÃO DAS EMOÇÕES: CONSTRUINDO FERRAMENTAS DE


INTELIGÊNCIA EMOCIONAL EM ADOLESCENTES DO ENSINO MÉDIO DO
INSTITUTO FEDERAL DO AMAZONAS - CAMPUS DISTRITO INDUSTRIAL

Elizangela da Rocha Mota13


Dandreia Thaienne Molina Guerreiro Gonçalves14
Gabriely Costa de Lima15
Heluana Viviane de Oliveira16
Ivone Matias Dourado17

13 - Professora Mestre em Educação do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Manaus.


(elizangela.mota@ulbra.br).
14
Graduanda do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de
Manaus(dandreiaguerreiro@rede.ulbra.br).
15 Graduanda do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus
(gabrielycostadelima@gmail.com).
16 Graduanda do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus
(heluana_viviane@hotmail.com).
17
Graduanda do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus (ivonedouraddo@gmail.com).
96
RESUMO

A Inteligência Emocional é fundamental para que os jovens consigam lidar com a diversidade de
sentimentos comuns na adolescência. O presente projeto buscou identificar e desenvolver
Inteligência Emocional em adolescentes do ensino médio do Instituto Federal do Amazonas -
Campus Distrito Industrial, assim como apresentar ferramentas para o gerenciamento das
emoções, estabelecendo um espaço para expressão criativa, discussão e reflexão acerca do
tema. A metodologia da pesquisa trata-se de intervenções biopsicossociais através de palestras,
dinâmicas de grupo e rodas de conversa. Direcionamos nosso trabalho a alunos com idade entre
14 e 16 anos, dando a esse público a oportunidade de aprender e despertar a percepção sobre
a relevância de adquirir as habilidades de Inteligência Emocional. Os resultados mostraram-se
positivos a observar pela aquisição de conhecimento e percepção mais aguçada dos alunos
acerca do tema.

Palavras-chave: Inteligência Emocional; Gerenciamento das Emoções; Habilidades


Emocionais.

ABSTRACT

Emotional Intelligence is essential for young people to be able to deal with the diversity of feelings
common in adolescence. This project sought to identify and develop Emotional Intelligence in
high school teenagers at the Federal Institute of Amazonas - Industrial District Campus, as well
as to present tools for managing emotions, establishing a space for creative expression,
discussion and reflection on the subject. The research methodology deals with biopsychosocial
interventions through lectures, group dynamics and conversation circles. We direct our work to
students aged between 14 and 16 years old, giving this audience the opportunity to learn and
awaken awareness of the relevance of acquiring Emotional Intelligence skills.

Keywords: Emotional intelligence; Emotions Management; Emotional Skills.

1. INTRODUÇÃO

A Inteligência Emocional é a capacidade de identificar, compreender e


gerenciar as emoções de maneira positiva e assertiva e a expressar suas
emoções de maneira apropriada de modo a melhorar a comunicação, aliviar o
estresse superar desafios, ter empatia com outros e aliviar conflitos. O propósito
da inteligência emocional é amplo e compreende diversos aspectos de nossas
vidas diárias, como a forma como nos comportamos e interagimos com os
outros, desenvolvendo a habilidade de regular e entender emoções,
compreendendo e identificando as situações que se configuram como gatilhos

97
para possíveis crises emocionais, assim como possíveis consequências,
utilizando-se dessas informações de maneira a promover bem-estar físico e
emocional, melhorando efetivamente a qualidade de vida e crescimento social.
Diante do exposto, propõe-se como problema: Como identificar e desenvolver
Inteligência Emocional em adolescentes?

O conceito de saúde para além da ausência de doenças, permeando


aspectos amplos de bem-estar e qualidade de vida, nos faz refletir o quanto o
termo “bem-estar” é algo subjetivo. O que traz a sensação de bem-estar par
alguns não necessariamente proporciona o mesmo sentimento no outro. Isso
porque essa sensação de bem-estar é diretamente relacionada aos nossos
estados mentais e respostas emocionais. O processo de compreensão das
emoções tem se mostrado essencial para a melhoria da qualidade das relações
interpessoais, porém a aquisição dessa habilidade cognitiva não é algo simples.

O principal objetivo do projeto é identificar e desenvolver Inteligência


Emocional em adolescentes do ensino médio do Intituto Federal do Amazonas-
Campus Distrito Industrial, no sentido de contribuir para o fortalecimento da
autoestima e o desenvolvimento de habilidades sociais em sua vida pessoal e
comunitária. Assim, os objetivos específicos descrevem-se como: 1) Investigar
o Nível de habilidades Emocionais que os alunos possuem; 2) Despertar a
percepção e a conscientização do público alvo sobre a relevência de adquirir as
habilidades de Inteligência Emocional; 3) Descrever os elementos da Inteligência
Emocional; 4) Ensinar ferramentas para o gerenciamento das emoções.

A Adolescência é uma fase de grandes mudanças, tanto físicas,


emocionais, hormonais, cognitivas e psicológicas. Além dessas mudanças, o
adolescente deve lidar com as demandas sociais, intelectuais.

A estrutura e organização do pensamento também passam por um vasto


processo de mudança quando o jovem está na infância e na idade adulta. Ao
mesmo tempo, quando ainda não está maduro o suficiente para tomar certas
98
decisões, seus desejos individuais começam a emergir com mais força,
causando conflitos com os pais, além de problemas na escola, crises de
ansiedade e outros transtornos psicopatológicos.

Desenvolver a inteligência emocional nesta fase da vida permite que os


jovens entrem em contato com seus sentimentos, processem traumas de
infância e compreendam os gatilhos que geram conflitos internos. Aprendam de
fato a gerencias seus processos emocionais. Assim, o adolescente evita que
esse tipo de bagagem emocional seja transportado para a vida adulta.

O Presente projeto abordará a relevância social e emocional dos


adolescentes, sendo que, a adolescência se caracteriza pelas fases de grandes
mudanças emocionais, físicas, hormonais, cognitivas, psicológicas e sociais. A
estrutura e organização do pensamento também passam por um vasto processo
de mudança enquanto os jovens passam da adolescência para a idade adulta.
Ao mesmo tempo, que ainda não estão desenvolvidos emocionalmente o
suficiente para lidar com certas decisões, seus desejos indivduais começam a
emergir com mais força, sendo que, poderá causar conflitos com os pais, amigos,
dificuldades escolares, e/ou possivelmente desencadear crises de ansiedade,
entre outros transtornos psicopatológicos.

Dessa forma, a relevância acadêmica concentra-se em proporcionar


tantos aos jovens quanto aos demais alunos em diferentes níveis escolares
sobre a importância das habilidades de inteligência emocional, uma vez,
aprendida e exercitada continuamente, podem facilitar que os mesmos tenham
mais manejo emocional e sucesso em sua vida academica, social e individual;
sendo necessário o ensino de tais habilidades, especialmente no contexto
escolar. As habilidades pessoais são um conjunto de desempenhos que um
indivíduo realiza diante das demandas de situações interpessoais.

Estas são as competências que permitem que as pessoas se


comuniquem socialmente e interajam com sucesso em várias situações sociais,

99
por exemplo: Identificar e nomear as emoções próprias e dos outros, falar sobre
sentimentos e emoções, expressar emoções (positivas e negativas), acalmar-se,
aguentar suas emoções, controlar o humor, lidar com emoções negativas
(vergonha, raiva, medo), tolerar a frustração e demonstrar um bom espírito
esportivo.

Por fim, a intervenção emocional é a base para um bom relacionamento


em equipe e ao moldar futuros profissionais para o mercado de trabalho através
do presente projeto, para tal engajamento, os alunos precisarão obter plena
consciência de suas emoções e saber lidar com os sentimentos dos outros para
transmitir mensagens corretamente e evitar conflitos no meio onde serão
inseridos futuramente.

2. REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1. Inteligência Emocional

O entendimento de inteligência está relacionado com a capacidade de


escolher as melhores opções em busca de uma solução. Segundo Gardner
(1995) a inteligência “(...) implica na capacidade de resolver problemas ou
elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou
comunidade cultural”. O Conceito de Inteligência é amplo e possui várias
definições a partir de cada teoria. Em qualquer caso, a inteligência está
relacionada com a capacidade de entender e elaborar informação para o uso de
forma adequada. O Fato é que existem diversos tipos de inteligência, que podem
ser desenvolvidas. Dentre elas, temos a Inteligência Emocional (IE)

A Inteligência Emocional é um conceito da psicologia usado para designar


a capacidade do ser humano de lidar com as emoções. O termo Inteligência

100
Emocional foi definido academicamente pela primeira vez por Salovey e Mayer
(1990), como uma subforma de Inteligência Social que abrange a habilidade de
monitorar as emoções e sentimentos próprios e dos outros, discriminá-los e
utilizar essas informações para orientar pensamentos e ações.

Segundo esses pesquisadores existem quatro aspectos fundamentais no


desenvolvimento da Inteligência Emocional: 1-Percepção das emoções: a
precisão com que uma pessoa identifica as emoções; 2- Raciocínio por meio das
emoções: empregar as informações emocionais para facilitar o raciocínio; 3-
Entendimento das emoções: captar variações emocionais nem sempre
evidentes e compreender a fundo as emoções (mais sofisticado do que o
“identificar” do primeiro domínio) e 4- Gerenciamento das emoções: aptidão para
lidar com os próprios sentimentos. (SALOVEY e MAYER, 1990).

Um dos grandes responsáveis por popularizar o termo Inteligência


Emocional foi o Psicólogo Daniel Goleman ao publicar o livro “Inteligência
Emocional”, que foi sucesso de vendas e instigou a atenção das pessoas pelo
tema, tornando o conceito mais acessível a sociedade em geral. A partir dele,
passou-se a explorar ainda mais o assunto, através da Mídia e instituições
acadêmicas. O autor configurou então uma perspectiva mais ampla de I.E,
acrescentando, às habilidades cognitivas, vários atributos da personalidade.

Para Goleman (1995), a I.E inclui características como a capacidade de


motivar a si mesmo, de perseverar no empenho apesar das frustrações, de
controlar os impulsos, de adiar as gratificações, de regular os próprios estados
de ânimo, de evitar a interferência da angústia nas faculdades racionais, de sentir
empatia, de confiar nos demais, etc.

2.2. Fundamentos do Modelo de GOLEMAN

O modelo de Goleman posiciona a I.E como o conjunto de competências


e habilidades fundamentadas em cinco pilares: Autoconsciência: Capacidade de
reconhecer as próprias emoções; Autorregulação: Capacidade de lidar com as
101
próprias emoções; Automotivação: Capacidade de se motivar e de se manter
motivado; Empatia: Capacidade de enxergar as situações pela perspectiva dos
outros e Habilidades sociais: Conjunto de capacidades envolvidas na interação
social.

Considerando a perspectiva da cognição social, as emoções são vistas


como eventos (scripts), através dos quais tem os roteiros apresentados em forma
de partes, que por sua vez, seguem a sequência dos scripts emocionais; sendo
que o segmento de cada script pode ser estudado separadamente, a partir da
sua prototipicidade. Com isso, os scripts podem ser conhecidos como:
antecedentes emocionais, respostas fisiológicas, respostas abertas
interpessoais, respostas abertas expressivas, respostas mentais de pensamento
e de sentimentos e mecanismo de autocontrole (TECHIO apud FORMIGA,
2006).

Com os fundamentos da I.E, fica fácil desenvolver uma compreensão e


entender os alicerces que compõem essa teoria. A seguir, podemos ver quais
são os pilares da inteligência emocional:

2.2.1. Autoconhecimento emocional

O autoconhecimento é o pilar mais importante no desenvolvimento


intrapessoal, conhecer a si mesmo para que haja um controle de impulso e
domínio sobre as fraquezas emocionais, e também contribui para um modificar
de comportamento e emoções. Contudo, o autoconhecimento emocional não é
tão fácil de se obter, a I.E é fruto do desenvolvimento de vários processos de
constantes aprimoramentos.

2.2.2. Controle das emoções ou autogerenciamento

A capacidade de escolher reações em vez de reagir apenas por impulso,


ou seja, cuidar das emoções de uma forma que não prejudique o outro ou a

102
situação. Esse autocontrole ajuda a sincronizar as experiências emocionais com
o processo de aprendizagem, facilita a recuperação das interrupções da vida
sem reprimir sentimentos indesejados e desagradáveis e saber adiar a
gratificação quando necessário.

2.2.3. Automotivação

A inteligência emocional requer análises acerca dos sentimentos, para


que então possamos moldar nosso comportamento. Dessa forma, a habilidade
de conduzir as emoções a um objetivo ou realização pessoal. Conforme,
Goleman: “As pessoas com altos níveis de esperança têm certos traços comuns,
entre eles o poder de motivar-se, e sentir-se com recursos suficientes para
encontrar meios de atingir os seus objetivos, ter flexibilidade bastante para
encontrar meios diferentes de chegar às metas, e ter o senso de decompor uma
tarefa formidável em outras menores mais manejáveis”.

2.2.4. Empatia

É a habilidade de abranger e ponderar os sentimentos de outros. Isso


permite maior sintonia com o mundo. Se colocar no lugar do outro sujeito e
entender seus sentimentos e comportamento. Além de aumentar a sensibilidade,
a empatia, o torna mais receptivo a novas ideias.

2.2.5. Habilidades sociais/de relacionamento

É a habilidade de se relacionar melhor com os demais, verbalizar


claramente, compreender as ações e a compostura do outro. Pôr os elementos
acima em prática para facilitar os relacionamentos sociais.

2.3 O DESENVOLVIMENTO DA ADOLESCÊNCIA

103
Adolescência Culturalmente a adolescência é a passagem dos 12 aos 24
anos, e é visto como um preparatório para a vida social adulta.

Papalia e Feldman (2013) apontam a adolescência como um período


de transição, da vida infantil à vida adulta, por um processo, os quais
delimitam a partir dos onze anos indo até os vinte, onde ocorrem várias
mudanças nas esferas: físicas, emocionais, afetivas, sociais e
cognitivas, sendo influenciadas pelo contexto social, cultural e
econômico. No cérebro adolescente, em vista de tantas mudanças,
podem ocorrer turbulências emocionais, como a instabilidade de
humor, e sentimentos de angústia e hostilidade.

Segundo Steinberg (2011 apud SANTROCK, 2014) a intensidade


emocional nos adolescentes parece ocorrer de forma desproporcional ao evento
ao qual a evocou, podendo se alta de mais ou abaixo do esperado, sua tipologia,
em geral, se apresenta como momentânea e extrema.

Susman e Durn (2009 apud SANTROCK, 2014) apontam que apesar


das grandes mudanças hormonais que ocorrem neste período, estas
poucas influências as emoções se comparadas a outros fatores, tais
como relações sociais, estresse, e outras experiências ambientes e
fatores exteriores ao indivíduo.

A adolescência é uma fase que ocorre depois da infância, é o período em


que o sujeito gosta de exagerar em seus gostos e preferências. É uma fase cheia
de questionamentos e instabilidades, caracterizada por uma intensa busca de si
e da identidade, questionando as normas estabelecidas e criticando todas as
escolhas de vida feitas pelos pais, nas quais se busca a liberdade e a
autoconfiança. Mas, além dos fatores biológicos, a adolescência é influenciada
pelo ambiente familiar, cultural e social. Podemos pensar a adolescência como
uma fase típica do desenvolvimento do ambiente familiar do jovem, da cultura da
qual ele faz parte e da sociedade contemporânea.

A sociedade cria todo um universo de regras, leis, costumes, tradições


e práticas, visando perpetuar os valores comumente aceitos e enfrentar
os problemas experimentados por todos os membros. Todas essas

104
formas socialmente padronizadas de comportamento constituem a
cultura da sociedade (MARTINS, 1987, pags. 28 e 29).

2.4 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO PIAGETIANO

Piaget divide os períodos do desenvolvimento de acordo com o


aparecimento de novas fases do pensamento, o que, por sua vez, interfere no
desenvolvimento geral. Segundo ele, as mudanças na maneira como os
adolescentes pensam sobre si mesmos e sobre seus relacionamentos
interpessoais, tem como fonte comum o desenvolvimento de uma nova estrutura
lógica, que o Piaget titulava como operações formais.

Os períodos do desenvolvimento dos adolescentes são caracterizados


pelo sumo que o sujeito obtém ao realizar as seguintes fases, por exemplo:
sensório-motor, pré-operatório, operações concretas, e por fim, que irá
administrar o desenvolvimento das operações formais.

O estágio da adolescência, que seria das “operações formais”, dos doze


em diante. Nesse período ocorre o amadurecimento das qualidades para a vida
adulta. Todavia, o ponto principal do pensamento operatório formal é reconhecer
que a realidade nada mais é do que um aglomerado de possibilidades. Piaget
delegou que o raciocínio dos adolescentes infere na maneira como os mesmos
se veem, nos relacionamentos pessoais e sobre a índole dos mesmos na
sociedade.

3. METODOLOGIA

O presente projeto será no formato de pesquisa bibliográfica qualitativa


construída a partir de referências específicas no campo da psicologia. Será
realizado um mapeamento e estudo, para que isso ocorra, e haja obtenção dos
105
dados necessários para posterior análise satisfatória, serão realizados 6
encontros de forma presencial com duração de aproximadamente 120 minutos,
nesses encontros serão realizados orientações biopsicossociais, palestras,
dinâmicas em grupo, serão apresentados filmes, realização de rodas de
conversa e confecções de mapas mentais, também serão enviadas atividades
para casa, através de estudo dirigido para fixar os conteudos que foram
apresentados no dia. O ambiente a ser utilizado será o auditorio do campus
Manaus distrito industrial, com recursos didaticos como data show, nootbook,
folders explicativos, jogos educativos, pois desta forma, será mais atrativo para
o público-alvo de jovens de 14 a 16 anos.

Para que o projeto tenha sucesso, é necessário que haja responsabilidade


e comprometimento dos alunos, tanto com assiduidade nos dias e horários
previstos pelo cronograma, quanto com os materiais e espaços que serão
utilizados, para isso, a forma de ingresso no projeto será feito através do Google
forms com termo de compromisso, assinado pelo aluno e pelos
pais/responsáveis. Sendo assim conseguimos ter a percepção que o projeto irá
evoluir de forma satisfatória.

 1° Encontro - Apresentação do projeto e objetivos.

 2° Encontro - Conhecer e identificar o nível de consciência emocional.

 3° Encontro - Apresentar os pilares da I.E.

 4° Encontro - Ensinar sobre os impactos das emoções no


comportamento.

 5° Encontro - Ensinar sobre empatia e relacionamentos interpessoais.

 6° Encontro - Identificar o que os alunos absorveram do curso.

106
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS

As aulas com o grupo de 23 estudantes que preencheram o formulário do


Google Forms, ocorreram em 6 encontros, com a duração de 1 hora, e o 6º
encontro foi realizado um feedback sobre os conteúdos de inteligência emocional
ministrado no decorrer do curso. Os encontros foram realizados da seguinte
forma:

1° Encontro: O primeiro encontro ocorreu a explanação do projeto, quais eram


os objetivos do curso, foi realizado uma roda de conversa com os alunos e por
último, foi realizado um mapa mental para coletar quais eram os conhecimentos
dos alunos sobre o tema em questão.

2° Encontro: Foi ministrada uma palestra sobre adolescência, exibindo um


vídeo e por último, houve uma atividade com o Baralho das Emoções, o intuito
era conhecer e identificar o nível de consciência emocional.

3° Encontro: Foi realizada uma palestra sobre os pilares da inteligência


emocional, exercício de autoconhecimento e autorregulação emocional e por
último, exercícios de técnicas de respiração.

4° Encontro: Foi realizada uma palestra sobre automotivação, depois exercícios


e dinâmicas sobre automotivação com a temática – Lembre-se de suas
conquistas. Houve outra dinâmica com intuito de desenvolver a empatia através
da dinâmica da Formiguinha.

107
5° Encontro: Foi explanado sobre as Habilidades Sociais, a importância dos
relacionamentos interpessoais e como cultivá-los. Depois foi realizada a
Dinâmica do Elogio. E por último, uma atividade extra de reconhecimento de
emoções, sonhos e projetos. E para finalizar aplicamos novamente outro mapa
mental.

Foi observado ao decorrer dos 6 encontros, uma evolução bem


significativa da inteligência emocional dos alunos, resultados foram obtidos a
cada encontro e explanação dos pilares da I.E, houve um verdadeiro
envolvimento dos participantes. Praticamente todos compareceram e
participaram de todas as dinâmicas, atividades, exercícios, palestras e tarefas
para casa. O respaldo veio no quinto encontro, quando foi realizado novamente
o mapa mental, para que pudéssemos comparar o antes e o depois (o primeiro
e o último mapa mental), o resultado foi bastante positivo e significativo. Por fim,
foi realizado no 6º encontro o feedback e as entregas das atividades realizadas
nos encontros.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este projeto abordou a temática da Inteligência Emocional em


adolescentes visando identificar e principalmente apresentar ferramentas para
que os jovens desenvolvessem Inteligência Emocional que é de extrema
importância no sentido de controlar as emoções e saber lidar com qualquer
situação que por ventura venha surgir. Ao desenvolver Inteligência Emocional o
jovem adquire aptidão para se autoanalisar em seus profundos sentimentos e
emoções. Primeiro a si, e depois aos sentimentos do próximo. Durante o
desenvolvimento do projeto, ao decorrer de cada encontro foi perceptível o
interesse dos adolescentes pelo tema proposto, mostraram-se participativos e
108
interessados ao questionarem e expor as ideias, assim como mostraram-se
participativos com as dinâmicas propostas. Dessa forma podemos concluir que
as intervenções realizadas tiveram saldo positivo a ser observado principalmente
nos exercícios de mapa mental inicial e final onde nota-se a mudança de
percepção dos mesmos pelo Tema. Sendo assim, finalizamos observando
também a importância que o projeto teve em nosso aprendizado contribuindo
para a nossa formação.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FORMIGA, N. S. Diferença entre gênero nos antecedentes das emoções de


raiva, alegria e tristeza. Revista Científica Eletrônica de Psicologia. Garça, n. 6,
mai. 2006.

GARDNER, H. Inteligências Múltiplas: a Teoria na Prática.Porto Alegre: Artes


Médicas, 1995.

GOLEMAN, D. (1995). Emotional Intelligence. New York: Bantam Books.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Tradução Marcos Santarrita – Rio


de Janeiro. Objetiva, 2011. Recurso digital

MAYER, J. D., DiPaolo, M. T., & Salovey, P. (1990). Perceiving affective content
in ambiguous visual stimuli: A component of emotional intelligence. Journal of
Personality Assessment, 54, 772-781.

PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto


alegre: AMGH, 2013. SANTROCK, J. W. Adolescência.14. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2014.

SALOVEY, P., & Mayer, J. D. (1990). Emotional intelligence. In Imagination,


Cognition, and Personality, 9, 185-211.

109
PIAGET, Jean. Psicologia da inteligência. / Jean Piaget; tradução de
Nathanael C. Caixeiro, 2ª Ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 1977

8. ANEXOS

Imagem 01 – Palestra sobre adolescência.

110
Imagem 02 – Alunos fazendo atividades do Baralho das Emoções.

Imagem 03 – Palestra sobre os 5 Pilares da Inteligência Emocional.

Imagem 04 – Dinâmica em Grupo.


111
Imagem 05 – Roda de Conversa.

112
Imagem 06 – Mapa Mental Inicial.

113
Imagem 07 – Mapa Mental Final.

114
115
CAPÍTULO V

PRÁTICA DE INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS NO ENFRENTAMENTO DA


VULNERABILIDADE SOCIAL E SITUAÇÃO DE RISCO DOS USUÁRIOS DO
ABRIGO MUNICIPAL GECILDA ALBANO PEÇANHA NA CIDADE DE
MANAUS/AM

Antonia Daisy Silva da Costa18


Lo-Ruama Castilho de Oliveira19
Luan Benzaquem Dos Santos Pereira20
Paulo César Ribeiro de Lima21
Sayde da Silva Xavier22
Elizângela da Rocha Mota23
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo identificar os fatores que contribuem para a situação de
rua dos indivíduos e suas dificuldades de reinserção social e reinserção no mercado de trabalho.
A partir das intervenções psicossociais realizadas com os abrigados de um Albergue Municipal
da cidade de Manaus-Am, pudemos observar as relações entre os membros pesquisados, além
de questões relacionadas ao desemprego, autoestima e profissionalização. Para tanto, a
metodologia utilizada foi a pesquisa-ação que, dentre suas formas de trabalho, auxilia o
pesquisador a conhecer a população investigada, bem como a ação realizada no local.

Palavras-chave: Intervenção; Psicossocial; Situação de rua.

ABSTRACT
The present work aims to identify the factors that contribute to the homelessness of individuals
and their difficulties in social reintegration and reintegration into the labor market. From
psychosocial interventions carried out with the sheltered of a Municipal Hostel in the city of
Manaus-Am, we were able to observe the relationships between the researched members, in
addition to issues related to unemployment, self-esteem and professionalization. To this end, the
methodology used was action research which, among its forms of work, helps the researcher to
know the investigated population as well as the action carried out in the place.

Keywords: Intervention; Psychosocial; Street situation.

18 Acadêmica do Curso de Graduação em Psicologia, do CEULM/ULBRA, Manaus-AM, daisycosta@rede.ulbra.br


19
Acadêmica do Curso de Graduação em Psicologia, do CEULM/ULBRA, Manaus-Am, lollo91@rede.ulbra.br
20 Acadêmico do Curso de Graduação em Psicologia, do CEULM/ULBRA, Manaus-AM,
luan.benzaquem@rede.ulbra.br
21
Acadêmico do Curso de Graduação em Psicologia, do CEULM/ULBRA, Manaus-AM, pcrlima10@gmail.com
22 Acadêmico do Curso de Graduação em Psicologia, do CEULM/ULBRA, Manaus-AM,
saydhe.xavierss@rede.ulbra.br
23
Orientadora Mestre em Educação em Ciência na Amazônia (UEA), elizangela.mota@ulbra.br
116
INTRODUÇÃO

De acordo com o Decreto nº 7.053/2009 que determina a Política Nacional


para a População em Situação de Rua, estabelece essa população como o grupo
populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos
familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional
regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como
espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem
como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia
provisória. (BRASIL, 2009a, p.16).

Partindo deste preceito, podemos perceber a existência da fragilidade e


da vulnerabilidade social enfrentadas por estes indivíduos, não apenas
relacionados ao âmbito de suas vidas pessoais, como também, o
enfraquecimento e/ou desaparecimento de sua identidade profissional. Para
tanto percebe-se a necessidade de investigar como esses indivíduos podem ser
reinseridos no mercado de trabalho, a partir do enfrentamento da vulnerabilidade
social, tendo como ponto de partida práticas de intervenções psicossociais, que
visem a promoção da autonomia e cidadania.

O projeto se dá junto à população atendida pelo Abrigo Municipal de


Manaus Gecilda Albano Peçanha, situado na Rua Clotildes Marques, no Bairro
Morro da Liberdade, Manaus/AM. Inaugurado em data de 28/12/2020, que
recebe este nome em homenagem à assistente social falecida no mês de
setembro do mesmo ano, aos 67 anos de idade, vítima do Covid-19.

Desta maneira, o presente projeto ressalta a importância de se trabalhar


a inclusão psicossocial com a população em situação de rua, tendo por objetivo
contribuir para a reinserção social dos usuários de albergues e/ou abrigos, a
partir de intervenções psicossociais a serem realizadas junto a esta população,
117
sendo elas: identificar as dificuldades vivenciadas pela população em
vulnerabilidade social e situação de risco, para retomada da vida profissional,
realizar atividades psicoeducativas em grupo; viabilizar capacitação de mão de
obra para a retomada no mercado de trabalho, bem como auxiliar na promoção
da autoestima, para o fortalecimento da identidade social.

Numa perspectiva de inclusão e reabilitação psicossocial e diante das


demandas vivenciadas por moradores de rua em uma situação de
vulnerabilidade social do Abrigo Gecilda, a presente intervenção faz-se
necessária, para o desenvolvimento acadêmico, pois propicia a prática de
conteúdos estudados em sala de aula, proporcionando um aprendizado ímpar
que certamente agregará ao futuro profissional, uma vez que a experiência da
atuação na área social da psicologia, não é evidenciada (em alguns momentos)
dentro do processo de formação do psicólogo enquanto acadêmico. Desta
maneira, podemos contribuir de forma significativa com a saída destes usuários
do Abrigo no processo de autonomia, ocasionando mudanças sólidas na
atenção dada abrigados, respeitando a priori e durante as atividades o conjunto
de características psicológicas e culturais daquele território, o que trará impacto
direto na sociedade assim como contribuirá no aumento de vagas para
possibilitar a oportunidade a outros indivíduos em situações semelhantes, e
assim possam ser atendidos pela rede.

118
INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS NO ENFRENTAMENTO DA
VULNERABILIDADE SOCIAL E SITUAÇÃO DE RISCO

Intervir na sociedade é um ato tão antigo quanto o próprio estado. No


entanto, intervir socialmente em parceria com os sujeitos objetos da intervenção
enquanto se estuda o local é algo mais recente que se desenvolveu nas lutas
sociais em busca de autonomia pela população frente ao estado. Em se tratando
de produzir efeitos nas normas institucionais, dentro de órgãos, é
inevitavelmente desagradável, uma vez que se trata de empoderar o próprio
sujeito a ser protagonista de sua história. K. Lewin (1965) já havia elaborado
reflexões acerca disso em sua teoria de campo ao expressar que “se você
realmente deseja conhecer algo, tente transformá-lo". Desta forma, temos o que
chamamos de Intervenção psicossocial, utilizada por psicólogos e sociólogos
para intervenções onde o foco está no sujeito e sua psique, bem como em suas
relações com o ambiente em que vive e as interações com ele.

Na Psicologia Social, relações entre o indivíduo e a sociedade são


discutidas e analisadas para elaboração desse tipo de intervenção, e temas
como identidade social, marginalização, desemprego, ressocialização e
desobjetificação do humano são pautas frequentes como neste artigo. Sua
essência se dá na possibilidade de encorajamento do sujeito a ser a diferença
nele próprio, mudar por conseguinte a realidade que o cerca, e não levar para
os indivíduos mudanças em pautas prontas e contrárias à realidade dos
mesmos, como por exemplo, elaborar uma festividade para comemoração do
dias das mães em um orfanato, ou encorajar um grupo de deficientes físicos a
criar um local para atividades físicas extremas. Por motivos como estes que na
Intervenção psicossocial trabalha-se tão atrelado à pesquisa-ação, pois as
práticas iniciais e de sondagem são relacionadas a pesquisas e levantamentos
de demandas trazidas pela própria população local e não elaboradas pelos
pesquisadores sem qualquer conhecimento da vivência do seu público-alvo.
119
Na Intervenção Psicossocial os psicólogos dispõem de teorias bases para
sua ação que sempre estão pautadas na premissa única de transformar o sujeito,
objeto da intervenção, e seu comportamento em relação ao seu status quo de
maneira transitória ou definitiva. (AFONSO, 2011). Entre as formas mais
escolhidas de intervenções na Psicologia, temos: Intervenções
psicopedagógicas, utilizadas por Psicólogos educacionais com comunidades
escolares (alunos-direção escolar, direção-pais, professores-pais, direção-
professores, alunos-professores); Intervenções psicológicas no ambiente de
trabalho, geralmente utilizadas por Psicólogos organizacionais, em questões
como: homofobia no ambiente de trabalho ou machismo, e ainda temas como
bullying, abuso de autoridade ou fofocas; Intervenções clínicas em grupos
terapêuticos ou terapia individual focando no desenvolvimento dos sujeitos e sua
maior autonomia sobre seus dilemas emocionais e/ou sociais utilizada em sua
maioria por Psicanalistas; Intervenções comunitárias feitas por Psicólogos
sociais em comunidades como por exemplo quilombolas, indígenas, LGBTQI+ e
grupos minoritários como sujeitos em condição de rua, encarcerados,
hansenianos, soropositivos e entre outros.

A rede de possibilidades para as intervenções psicossociais é extensa e


em sua maioria eficaz no empoderamento dos indivíduos de um local. Artigos
como o da FioCruz escrito em 2019 na ocasião do dia nacional do Psicólogo que
ressalta a importância do profissional da Psicologia na sociedade são reflexos
do quanto a psicologia se tornou importante para a população mundial. Lugares
como órgãos públicos e privados e comunidades gerais se beneficiam com a
presença de um psicólogo e igualmente com suas pesquisas elaboradas a partir
de estudos do local onde esses profissionais trabalham. CAMPOS et al. (2011)
em seu artigo intitulado “Psicologia Organizacional e do Trabalho – Retrato da
Produção Científica na Última Década” relatam os trabalhos escritos por
psicólogos que atuam em locais de trabalho e suas práticas voltadas para a
população daqueles locais, os artigos encontrados por eles em 2010 mostraram

120
o equivalente à 619 artigos produzidos por profissionais da psicologia de toda
américa, o que significa mais estudos acerca do bem estar profissional e toda a
gama de peripécias vivenciadas pelos colaboradores de empresas, e por
conseguinte mais formas de alinhar os padrões éticos e humanos às práticas
empresariais. Outro estudo, feito por psicólogos Sociais foi “Oficinas de
intervenção psicossociais, do contexto ao texto fotográfico” no qual Santos e
Felippe (2009) abordam as experiências obtidas com a intervenção realizada em
um grupo de beneficiários do Bolsa família que juntos formavam o “Projeto
Geração de Trabalho e Renda: Construindo Uma Alternativa Solidária e Cidadã”
onde auxiliavam outras famílias a receberem alimentos orgânicos de baixo custo.

O trabalho dos psicólogos no grupo foi elaborado após levantamento de


demandas que os levaram a trabalhar temas como ansiedade no grupo, fruto da
resistência na aproximação entre os membros. Outra intervenção realizada e
publicada por psicólogos foi o estudo comparativo realizado em comunidades
escolares. Galvão, Silva e Prado (2019) explanam as diferenças entre uma
escola com Psicólogo educacional na instituição e outra sem nenhum
profissional da psicologia no local; o resultado é, obviamente, a favor de que haja
sempre a presença da psicologia em qualquer órgão que tenha relações
interpessoais. Outros estudos como os feitos por Wundt(1879) em psicologia
experimental que auxiliam na identificação de fatores biológicos relacionados ao
psiquismo humano como aqueles que medem fadiga ou coordenação motora
(PINTO, 2004) e os feitos por Binet (1894-1911) que mediam as capacidades
intelectuais dos indivíduos e posteriormente conhecidos como Teste de QI
evidenciam que todas as intervenções realizadas por psicólogos em um espaço
no qual eles trabalham produzem desenvolvimento para os participantes e para
a instituição a que servem, uma vez que a psicologia se presta a ampliação das
capacidades humanas e melhoria nas relações grupais.

E todas as instituições que se preocupam com a saúde mental de seus


colaboradores e beneficiários utilizam da psicologia como meio para resolução
121
de conflitos e melhorias nas relações. Em um de seus trabalhos, Martínez (2003)
salientava a importância de discutir a noção de compromisso social devido ao
significado que atribuímos a essa noção e o sentido que tem para cada um dos
que fazem psicologia pois tornamo-nos altamente diferenciados em função de
nossa formação, nossa ideologia, nossos contextos de constituição e de atuação
e de outros muitos fatores. O compromisso dos psicólogos que trabalham nos
contextos sociais dos abrigos, é efetivar as mudanças necessárias nestes
lugares, buscando melhorias na saúde mental dos abrigados, mudanças de
comportamento, como a transformação da realidade social, pois isso expressa o
verdadeiro sentido da atuação dos profissionais da psicologia, levando em
consideração o comportamento mental do indivíduo (MITJÁNS MARTÍNEZ,
2010)

A importância da atuação psicológica em serviços de acolhimento


especialmente em abrigos, se torna relevante pois se tratam de mentes, que
muitas vezes estão perturbadas por traumas decorrentes de condições
desfavoráveis (Silva, 2009). O psicólogo tem por obrigação através das
informações obtidas, trabalhar o meio onde o indivíduo está envolvido, família,
comunidade, vida social, a fim de propiciar um ambiente de apoio afetivo e
acolhedor que busquem amenizar as marcas da violência trazidas pela sua
história de vida (ANTONI & KOLLER, 2001).

É preciso ter claro que a medida de abrigo, além de excepcional, tem


caráter provisório, o que significa o retorno do abrigado para sua família de
origem no prazo mais breve possível. (SILVA et al.2005). A autora afirma ainda
que, os abrigos contribuam com os demais atores da rede de atendimento no
sentido de buscar melhorias e manter os vínculos assim como apoiar as famílias
a receber seus membros de volta a exercer de forma adequada as suas funções,
além de propiciar o direito à convivência familiar e comunitária na rotina do
atendimento.

122
É primordial a existência desses abrigos em nossa sociedade, pois há um
número excessivo de pessoas que estão a margem de uma vida digna,
geralmente julgadas e marginalizadas, essas instituições têm um imenso papel
de resgatar e socializar o indivíduo, suprir necessidades básicas como; no
entanto, a funcionalização desses espaços sem o acompanhamento necessário
e contínuo de um profissional da Psicologia não possibilita em nenhum cenário
desenvolvimento pessoal dos abrigados e sim a maior segregação social , pois
não se está tratando o problema, mas sim, escondendo em albergues longe da
vista de todos.

ESTAR EM CONDIÇÃO DE RUA, RESSOCIALIZAÇÃO E SUAS CAUSAS

Há grande dúvida quanto ao termo correto a ser utilizado: morador de rua


ou pessoa em condição de rua? Tem diferença entre estes dois termos? Quando
deve-se usar cada um deles?

Entende-se por “morador de rua”, àquelas pessoas que têm uma situação
de relação crônica com o habitar nas ruas (Santos, 2014). Distinguindo-se do
termo: “pessoas em situação de rua”, pois dá-se o sentido de algo passageiro
e/ou transitório, passível de mudança, além de ser o termo mais utilizado
atualmente, por trazer sentido mais humanizado ao referirmo-nos a este público.
De acordo com MATTOS (2006, p. 226):

(...)”quando falamos em pessoas em situação de rua destacamos a


existência de sujeitos humanos e singulares que atravessam um
situação transitória em um espaço construído socialmente”.

Em documentos oficiais do Governo, a utilização do termo “população em


condição de rua” é muito comum, pois sua abrangência é considerável, uma vez
que abarca diversos grupos de pessoas que vivem sob essa condição, como os

123
mochileiros, pardais, os andarilhos, trecheiros e demais grupos de sujeitos que
se enquadrem dentro da heterogeneidade do termo, quais transformam as ruas
no seu espaço de convivência (Abreu e Salvadori, 2015).

Se faz necessário trazer dados históricos para melhor compreender que


a existência de pessoas vivendo em situação de rua, utilizando os espaços
públicos como suas moradias, não é algo tão recente. Ainda na metade do
século XX, com a expansão das indústrias, aconteceu o fenômeno conhecido
como êxodo rural, que gerou um aumento perceptível no quantitativo de pessoas
vivendo em condição de rua. Segundo estudo realizado pelo IPEA - Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, até março de 2020, o quantitativo de pessoas
vivendo em condição de rua no Brasil é de 221 mil pessoas (IPEA, 2020).

No ano de 2008, foi realizada a última pesquisa Nacional de contagem de


pessoas que vivem em condição de rua. Esta pesquisa foi realizada pelo
Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) que contou com a participação de
cerca de 32 mil pessoas de 71 cidades brasileiras, o público era de pessoas com
18 anos ou mais. Ao final da pesquisa, o resultado obtido foi o seguinte: 82% dos
participantes são do sexo maculino; 67% são negros e 43,21% são jovens. No
que diz respeito ao nível de escolaridade, foram obtidos os seguintes
dados:17,1% têm baixa escolaridade e os demais não são alfabetizados. Ainda
nesta mesma pesquisa, foi perguntado qual a motivação que os levou a morar
nas ruas, tendo sido obtido os seguintes dados: 35,5% informaram que foi por
terem problemas com álcool e outras drogas; 29,8% foi terem ficado
desempregados(as) e 29,1% dos participantes informou que foi por terem tido
conflitos familiares. (Brasil, 2009)

Agora trazendo uma análise ao estado do Amazonas segundo dados do


Cadastro Único entre os anos de 2016 a 2018, 5.907 pessoas que vivem em
situação de rua foram atendidas pelo Centro Pop. Ressaltando que a maior
concentração dos atendimentos ocorreu na cidade de Manaus, totalizando
124
4.909 atendimentos, ou seja, 83,12% dos atendimentos realizados, sendo que
90,66% deste público é do sexo masculino e apenas 9,34 % constituído do sexo
feminino. O levantamento realizado na base de dados, pôde traçar o perfil da
população atendida da seguinte forma: 3.640 (70,11%) são adultas usuárias de
crack e outras drogas; 1.484(28%) são migrantes e 68 (1,31%) pessoas
apresentam alguma doença ou transtorno mental. Quanto ao perfil etário e sexo
da população atendida, 552 (9,34%) são do sexo feminino e 5.335 (90,66%) são
do sexo masculino.

BAIXA AUTO ESTIMA DOS ABRIGADOS E A PSICOTERAPIA EM GRUPO


COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO

As pessoas em situação de rua estão marcadas por várias formas de


violência, discriminação, privação de direitos humanos fundamentais, falta de
privacidade, baixa autoestima, desesperança e limites para realizar o
autocuidado. São condições precárias de sono, repouso, alimentação e higiene.
Percebe-se que algo em comum transpassa a história de vida desses sujeitos,
que independentes de suas diferentes nomenclaturas ou categorizações,
vivenciam um processo de exclusão social, marcados pela pobreza e relações
precárias de trabalho.

Segundo Silva (2019), são comumente enumerados diversos fatores


motivadores da existência de pessoas em situação de rua, tais como fatores
estruturais (ausência de moradia, inexistência de trabalho e renda, mudanças
econômicas e institucionais de forte impacto social etc.), fatores biográficos
(alcoolismo, drogadição, rompimentos dos vínculos familiares, doenças mentais,
perda de todos os bens, etc.), além de desastres de massa e/ou naturais
(enchentes, incêndios, terremoto, etc.). Ainda segundo a autora, está claro que
se trata de um fenômeno multifacetado que não pode ser explicado desde uma

125
única perspectiva, por não mostrar possibilidades de solução direciona a pessoa
em situação de rua a fragilidade na autoestima, interferindo diretamente no
autocuidado. Um estudo realizado por Cavalcante et al (2015) identificou que a
fragilidade dos laços afetivos, o enfraquecimento da vida social e dos sofrimentos
advindos da desvalorização da pessoa, do isolamento e da solidão, são
condições psicossociais que induzem a desmotivar-se em relação à própria vida
e a perder o sentido existencial.

Lacerda (2012) relata que existe na população em situação de rua os


sentimentos de autorejeição e baixa autoestima devido às práticas
estigmatizantes e de discriminação que vivenciam. Alles (2010) evidencia que
essas pessoas enfrentam dificuldades para se relacionar com outras pessoas
que não vivem nas ruas, precisando sempre se reafirmar como seres humanos
e cidadãos para obter acesso à direitos, diminuir o preconceito e a
estigmatização social.

As abordagens psicológicas envolvidas por este invólucro sócio-histórico-


cultural acabam por atender às demandas tecnicistas, de modo a reproduzir as
práticas que prezam por classificações e determinações patológicas, o que se
dá em função do controle e da exclusão; assim, os humanos passam a ser
formados para servirem de peças de reposição que não devem sentir
(CUPERTINO, 2007).

As Oficinas terapêuticas são importantes para a ressignificação do


abrigado, ocorre através de encontros grupais, que estimulam seus participantes
ao uso de diversas formas de expressão, para, a partir do próprio grupo, lidar de
maneira individualizada com os temas emergentes (CUPERTINO, 2008, p. 2).

São utilizadas técnicas expressivas como meio de acesso às experiências


humanas, de modo a compreendê-las e, se necessário, dar continência e alívio
ao sofrimento. Tal prática tem a finalidade de favorecer as transformações das

126
relações e ampliar o horizonte existencial de cada integrante, isto por meio da
experiência e vivência compartilhada e do reconhecimento da diversidade de
formas de existir (CUPERTINO, 2008, p. 2). Assim, os indivíduos são projetados
para vivências, tempos e espaços diversos, promovendo o estabelecimento de
redes de entendimento e solidariedade, com uma psicologia mais voltada para o
devir, empenhada em colocar em movimento o que está cristalizado e não em
diagnosticar e ajustar os desvios (CUPERTINO, 2007, p. 3.

Castilho (2002) refere que a terapia grupal começa com a seleção dos
participantes seus clientes de terapia individual ou pessoas que buscam de
maneira espontânea o grupo, se inscrevendo e aguardando realização da
chamada para o início dos encontros grupais. Existem vários critérios que o
facilitador pode utilizar para a construção de um grupo como, idade, sexo,
profissões, etc, para a estruturação e grupos homogêneos e heterogêneos, com
objetivos direcionados a demanda tratada em grupo. Esses grupos podem ser
abertos, onde havendo a saída de um integrante, outro pode ocupar o seu lugar,
ou fechados, em que há desde o contrato grupal a impossibilidade de entrada de
novos integrantes ao grupo e teoricamente aqueles que se iniciaram no grupo,
devem permanecer até a data aprazada.

REINSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO E QUALIFICAÇÃO


PROFISSIONAL

Imaginar a população em situação de rua é pensar em uma


multidimensionalidade básica, ou seja, um aspecto muito peculiar de uma
realidade existente. Nesse sentido, a rua acolhe uma variedade de histórias de
vida difícil de ser vista a partir de um único ângulo. As necessidades básicas dos
seres humanos em geral são conhecidas como universais que se relacionam ao
bem de toda uma população, onde estão configuradas as necessidades

127
biológicas, que se refere ao mínimo imprescindível para que uma família tenha
seu sustento como casa, roupas, comida, etc. Outro fator relevante trata sobre a
população ter acesso a serviços e bens públicos, como meios de transportes
públicos, saúde, educação, serviços sanitários, água potável e etc.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à


Fome, foi realizada, em 2008, uma pesquisa referente a essa população em
situação de rua dentro de 71 municípios brasileiros. Nessa pesquisa foi
destacado que a população em situação de rua é composta, em grande parte,
por trabalhadores (70,9%). Destes, 27,5% catam e vendem materiais recicláveis,
14,1 % são flanelinhas e 6,3% trabalham na construção civil, ou seja, a maioria
encontra-se na economia informal. Somente 1,9% trabalham com carteira
assinada.

Uma outra pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea


estima que existam pelo menos 100 mil moradores de rua no Brasil. Em relação
aos motivos que levam a população a morar nas ruas, outra pesquisa publicada
no ano de 2009 pelo Ministério de Desenvolvimento Social apontou que conflitos
familiares, perda de emprego e uso de drogas foram as razões apontadas por
cerca de 70% dos moradores de rua entrevistados.

Com o sistema capitalista crescendo de acordo com as demandas


econômicas existentes na população e a industrialização tendo seu avanço em
contínuo crescimento e em sua árdua perseguição pelo lucro, esse sistema
busca constantemente reduzir os custos em sua extrema essência concomitante
com a economia de mão de obra. Isso é fator determinante para gerar
desemprego e subemprego.

Nessa perspectiva, vários conflitos se manifestam na atual sociedade em


relação às questões sociais relacionadas à desigualdades sociais, que são
reflexos desse sistema capitalista. Isso é fator determinante para gerar miséria

128
por conta do capital acumulado. Nesse sentido, o capitalismo tende a descartar
todos aqueles que não o interessam para o seu mercado, além das relações. De
acordo com Marx, "pessoas se relacionam com o mundo de forma a rejeitar o
outro, logo que o desejo cesse; tais relações se tornam quase “coisas”,
mercadorias. “A mercadoria é, antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa
que, por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a
natureza delas, provenham do estômago ou da fantasia''. (1998, p.41).

A seguir leia um relato de um morador de rua quando questionado sobre


o que é trabalho para ele:

O trabalho pro morador de rua é mais difícil por causa do preconceito


(...), eu não arranjo um emprego por não ter roupas adequadas, um
calçado bom. Com certeza se eu chegar pruma entrevista de emprego
vestindo essas roupas eles não vão deixar nem eu entrar, eles julgam
pela aparência. (...) O morador de rua empregado, não precisava ser
nem de carteira assinada, mas ele tendo um emprego fixo que tivesse
uma boa renda ele deixaria de ser um morador de rua ou então só ele
gostando muito da rua. (Wellington, 24 anos)

No que diz respeito à classe “reinserção no mercado de trabalho e acesso


a cursos profissionalizante dos moradores de rua”, o sair das ruas desses
moradores em vulnerabilidade social está associado na alegação de retomar a
sua dignidade e cidadania, outrora perdida por inúmeros fatores, através da
reinserção no mercado de trabalho, pois a sua realidade atual enquanto morador
em situação de rua é existente devido à falta de oportunidades no mercado de
trabalho e consequentemente falta de qualificação profissional.

Legalmente existe um projeto de lei (PL 2470/07) aprovado pela Câmara


exclusivamente para inclusão de moradores de rua no mercado de trabalho. O
projeto “prevê reserva de vagas para trabalhadores em situação de rua nas
licitações de obras ou serviços”. Paulo Teixeira, tido como o autor deste projeto
afirma que “a oferta de empregos é fundamental para resolver parte de todo o
problema que é pessoas em situação de rua.

129
METODOLOGIA

À priori a equipe realizou levantamento bibliográfico em artigos com


temáticas sociais como o artigo intitulado “Pessoas em situação de rua: das
trajetórias de exclusão social aos processos emancipatórios de formação de
consciência e sentimento de pertença” de ABREU e FARIAS, 2015 e livros de
mesma temática para elaboração teórica do projeto apresentado.

Perante o que foi discorrido, o estudo para a estruturação deste projeto


foi realizado a partir do contato com o Albergue Municipal Gecilda Albano
Peçanha, o qual se concretiza como um trabalho de pesquisa-ação, uma vez
que este método não utiliza somente o levantamento e interpretação de dados,
mas a intervenção e ação que trabalha numa visão coletiva, participativa e
recíproca na construção do conhecimento (Baldissera, 2001).

Visando à produção de conhecimento, a Extensão Universitária


sustenta-se principalmente em metodologias participativas, no formato
investigação-ação (ou pesquisa-ação), que priorizam métodos de
análise inovadores, a participação dos atores sociais e o diálogo”.
(Política Nacional de Extensão Universitária/ elaborada pelo Fórum de
Pró-Reitores de Extensão das Instituições de Educação Superior
Públicas Brasileiras, p. 51).

Foram realizadas as intervenções em consonância com os objetivos


estipulados anteriormente no projeto de intervenção elaborado pelos
pesquisadores. São estes: 1. Identificar as dificuldades vivenciadas pelos
usuários do Albergue, para retomada da vida profissional; 2. Realizar atividades
em formato grupal, com práticas psicoeducativas; 3. Viabilizar capacitação de
mão de obra dos usuários do Albergue para reinserção no mercado de trabalho;
4. Auxiliar na promoção da autoestima dos usuários do Albergue Gecilda para o
fortalecimento da identidade social.

O público alvo desta intervenção, foram as pessoas atendidas no


Albergue Gecilda Albano Peçanha, todas maiores de 18 anos de idade, que
atualmente estão vivendo sob condição de rua. Para tanto, foram realizadas, em
130
conseguinte, visitas ao local para levantamento de dados quanto ao espaço
físico, o número de pessoas atendidas pelo albergue e suas demandas.

O albergue surgiu a partir de emendas parlamentares de três vereadores


de Manaus. O espaço tem capacidade para atender até 100 (cem) pessoas que
vivem em situação de rua; sendo oferecido café da manhã, almoço e jantar. O
local foi inaugurado durante a pandemia do covid-19, com intuito de atender
emergencialmente as pessoas que se encontravam em situação de rua por conta
da pandemia. Está em funcionamento há 1 ano e 6 meses, contando com um
bom espaço, o albergue hoje funciona onde anteriormente se encontrava uma
feira municipal. Segundo dados da prefeitura municipal de Manaus a unidade é
gerenciada pela Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania
(Semasc). O que hoje são quartos, anteriormente funcionavam os boxes da
antiga feira, o pátio da feira hoje é uma área ampla de lazer que se divide em
local para atividades físicas e refeitório dos abrigados. O albergue comporta 12
quartos, 1 cozinha, 1 despensa, 2 banheiros (feminino, masculino), 1 lavanderia,
1 sala de reunião, 1 sala de acolhimento psicossocial, 1 sala de porta volume
(consta objetos dos abrigados) e também 1 escritório da coordenação do local.
Atualmente o albergue atende cerca de 40 pessoas em condição de rua, entre
mulheres e homens, todos maiores de idade, uma vez que o albergue não aceita
menores de 18 anos. A dieta dos abrigados é fornecida pelo restaurante
conhecido como Cozinha Comunitária da Panair os quais fornecem café, almoço
e jantar a todos, inclusive aos colaboradores. O tempo máximo de permanência
no albergue é de 03 (três) meses. Dentre os abrigados 76,2% estão
desempregados, 59,1% não recebem auxílio e 63,2% deles já passaram por
outros abrigos.

Ver tabela com os gráficos anexados ao final do artigo.

131
A equipe iniciou as visitas ainda no mês de março, tendo estabelecido
uma visita a cada 15 dias, desta maneira, as visitas ocorrem duas vezes a cada
mês, findando as intervenções no mês de junho.

Como segue tabela abaixo:

TABELA 1:
ATIVIDADES REALIZADAS MESES

MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO

Visita técnica inicial X X

Levantamento de dados/triagem X X

Realização das atividades X X

Entrega do relatório X

Encerramento X

Na primeira visita, nos reunimos com a direção do local e seus


funcionários. Pudemos conhecer alguns de seus abrigados e realizamos o
registro fotográfico do espaço bem como suas acomodações, instalações e
como era a rotina dos mesmos. E para que o projeto pudesse ser executado com
eficácia, foi realizado no segundo encontro, levantamento sócio demográfico dos
abrigados, a partir do preenchimento de fichas/formulário, bem como utilizando-
se de entrevistas semiestruturadas, seguindo as perguntas da entrevista, uma
132
vez que alguns dos abrigados são iletrados. Participaram deste levantamento 22
(vinte e duas) pessoas do total de abrigados. Em posse dos dados, foi possível
realizar a tabulação dos mesmos e evidenciar as demandas sociais dos
abrigados. Em sua maioria a questão empregatícia foi mais notória seguida de
dificuldades físicas (deficiências e enfermidades) Alguns dos abrigados não têm
mais um ou mais membros do corpo como é o caso de M. 46 anos que não
possui mais os dedos do pé direito, ao ser questionado sobre a possibilidade de
voltar ao mercado de trabalho, M. foi objetivo ao dizer que têm muita vontade de
trabalhar, mas a falta de um laudo PCD o inviabiliza. Mas este dado não recai
somente aos moradores do Albergue Gecilda. Num país onde 45,6 milhões de
pessoas são declaradas PCDs o índice de empregados é escandalosamente
reduzido, isso sem levar em consideração a vulnerabilidade social de parte
dessas pessoas. (IBGE, 2010) Mesmo com o Ministério do Trabalho e Emprego
fiscalizando desde 2000 a lei de cotas, a maioria das empresas ainda não se
adequaram às exigências físicas e morais para contratação de PCDs. Outro fator
empecilho da empregabilidade entre os abrigados é, além da dificuldade em
passar nas entrevistas, a ausência de cursos no próprio currículo, o qual dificulta
a obtenção de um trabalho digno. Isso se dá pelo fato de que apenas três dos
entrevistados têm o ensino médio completo, além de que a baixa escolaridade
atrelada à falta de capacitação e experiência profissional bem como histórico
prisional e uso de substâncias psicoativas também dificultam seu êxito na hora
da busca por emprego. Além disso a discriminação e o preconceito enraizados
na sociedade são fatores que criam ainda mais barreiras para a evolução e a
inclusão de quem vive em abrigos. Diante disso, desenvolvemos então a oficina
para capacitá-los na busca de trabalho. Em união com os abrigados discorremos
sobre práticas comuns nas entrevistas de emprego e forma de se portar na frente
do entrevistador e a forma mais natural de falar e agir nessas ocasiões, para
isso, dois de nós demonstraram por meio de encenação uma possível entrevista
de emprego. Trabalhamos ainda a autoestima e oratória no momento da
entrevista.
133
Como proposto pela equipe, utilizamo-nos de recursos próprios para
idealizar e organizar uma sala de interação comunitária para estudos e oferta de
cursos dentro do Albergue. A sala já existente, servia anteriormente apenas para
reuniões esporádicas e para guardar cadeiras e mesas. Re-alocamos um antigo
quadro branco que estava na área externa à sala para dentro da sala reformada,
confeccionamos prateleiras para colocar a variedade de livros (e não couberam
todos) que eles recebem de tempos em tempos e as pusemos na sala também.
Além de dar um novo visual com as prateleiras dos livros e o quadro branco,
pintamos formas geométricas na parede frontal da sala e penduramos quadros
decorativos. Como o local já dispunha de carteiras somente as organizamos e
então finalizamos a sala que será destinada a oferta de cursos
profissionalizantes para os abrigados, pois a equipe entrando em contato com a
secretaria do CETAM (Centro de Educação tecnológica do Amazonas) solicitou
a visitação dos mesmos ao Albergue para averiguar se a sala está apta a receber
cursos e se seria possível sua parceria. Até o momento da escrita do artigo não
havíamos tido retorno da mesma.

Em nossa última visita ao albergue solicitamos a presença de todos para


confraternizarmos com o encerramento da intervenção e também auxiliar na
confecção e impressão de currículos para todos aqueles que iriam em busca de
trabalho. Realizamos as ações pela manhã oferecendo um belo café da manhã
a todos, e ao todo compareceram à nossa confraternização 14 abrigados além
dos colaboradores presentes no dia e 10 desses produziram seu currículo junto
conosco.

Ao que se pôde observar na realização das intervenções, o albergue se


faz um espaço de acolhimento excelente para os abrigados, pois os mesmos são
supridos de suas necessidades biológicas e físicas. No entanto, há falhas
severas quanto à assistência psicológica no local. Como discorrido ao longo
deste artigo, a presença do psicólogo nas instituições é importante e sua falta
pode tornar lugares como o Albergue Gecilda um espaço melancólico e
134
depressivo. As intervenções também mostraram a falta de confiança um nos
outros no local; o distanciamento entre os acolhidos foi notória e as
desconfianças de igual modo. Isso é descrito por Nunes (2022) como sendo uma
força propulsora capaz de unir ou desintegrar um grupo, fazendo com que os
mesmos colaborem ou não frente a intervenções externas. E que apenas
tecnologias psicológicas são capazes de, com o grupo, fomentar práticas para
sua unificação.

Para a execução deste projeto, foi realizado levantamento do que seria


necessário para aplicação do mesmo, organizando em tabela os gastos
previstos para sua efetivação, desde as despesas com impressões, lanches,
material para execução das atividades até as passagens de ônibus, para
deslocamento até a o Albergue, tanto interurbano, quanto intermunicipal, haja
vista um dos integrantes residir num município pertencente à região
metropolitana de Manaus/AM. Trabalhando sempre com margem percentual de
10% acima do valor real, a fim de cobrir possíveis despesas que não constam
no respectivo planejamento, assim como quaisquer outros imprevistos.

135
TABELA 2
DESCRIÇÃO DA DESPESA VALOR EM PERCENTUAL 10% VALOR TOTAL PARA
R$ EM R$ CADA DESPESA EM R$

Impressões R$ 20,00 R$ 2,00 R$ 22,00

Material para trabalho R$ 20,00 R$ 2,00 R$ 22,00

Passagens de ônibus R$ 40,50 R$ 4,05 R$ 44,55


(interurbano)

Passagens de ônibus R$ 183,00 R$ 18,30 R$ 201,30


(intermunicipal)

Lanches/Refeições R$ 60,00 R$ 6,00 R$ 66,00

Despesas diversas R$ 20,00 R$ 2,00 R$ 22,00

VALOR TOTAL PARA EXECUÇÃO DO PROJETO EM R$ R$ 377,85

*Vale ressaltar, que os valores acima estão considerando os valores


apresentados no mercado atual, bem como a realização de quatro encontros.

A população em situação de rua, passa a ser uma população à parte da


sociedade, como se fossem pessoas que “sobraram”, estão invisíveis para a
sociedade, pelo fato de não utilizarem Essa realidade é característica do
processo de exclusão social no Brasil. As pessoas incluídas nessa população da
sociedade, perdem sua identidade, sua autoestima, seus vínculos familiares
decorrentes do uso de entorpecentes, da violência, do desemprego, de doenças
e outras violações encontradas nas ruas. A alternativa que encontram para a boa

136
convivência é estarem em grupos, ainda que temporários, criando assim um
novo vínculo afetivo.

A participação do grupo de acadêmicos em uma intervenção psicossocial


foi muito importante para os abrigados, primeiro oferecendo esperança na
perspectiva de serem ouvidos, depois na criação de um espaço de leitura para
os acolhidos além de oferecer acesso a leitura ajuda essa população que tem na
ausência de laços afetivos e a miséria, que muitas vezes contribui para o
rompimento da estrutura familiar, recaídas no mundo das drogas e do
alcoolismo, gerando solidão e dependências, que os limitam a buscar novas
trajetórias e não os deixam ter sonhos e planos futuros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Argumentar sobre a temática relacionada às pessoas em situação de rua


referentes à sua reinserção no mercado de trabalho e a sua qualificação
profissional na sociedade brasileira, retomando as inúmeras sociabilidades
dessa parcela populacional foi um desafio complexo e árduo, no sentido de tentar
alcançar os rumos pelo qual seguiram esses caminhos da intervenção.

Entretanto, é evidente que assim como foi necessário produzir esse


estudo foi ainda mais relevante vivenciar de perto e na prática as diversas teias
de relações que se estabelecem na sociedade em que vivemos, menosprezada
por muitos por conta de inúmeros preconceitos sociais.

É manifesto que a temática apresentada juntamente com o seu contexto


é um assunto amplo e vasto e precisa ser levado com vigor e a sério pelos
governantes. Ela objetiva colaborar de alguma maneira para a sociedade em
situação de rua na melhoria de possibilidades de políticas e ações que
favoreçam essa população em um futuro próximo, com perspectivas melhores
137
de vida, além de ter a pretensão de motivar todos aqueles que lutam em prol da
defesa da população em situação de rua, pois foi destacado na pesquisa fatores
e elementos importantes que podem instrumentalizar essa luta, que diante de
tantos desafios, há muito o que se fazer.

As ações realizadas pelos acadêmicos de Intervenção Psicossocial foram


realizadas pensando na minimização dos problemas enfrentados pelos
moradores de rua do Abrigo Gecilda para que esses tenham acesso a uma
melhoria da sua qualidade de vida e reinserção no mercado de trabalho, renda
e moradia. Desta forma são ações que facilitam dar oportunidades para essa
população em sua mudança de vida, no resgate da sua cidadania e dignidade,
através de serviços que visem a sua recuperação e reestruturação social e
psicossocial, consequentemente seu bem estar mental e emocional, além da sua
reinserção no mercado profissional de trabalho e isso possibilite a manutenção
de suas necessidades mínimas e básicas

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http://www.psicoexistencial.com.br/web/detalhes.asp?cod_menu=108&cod
_tbl_texto=2031

140
CAPÍTULO VI

A SAÚDE MENTAL NO PROCESSO DA TRANSGENERIDADE EM GRUPO


DE JOVENS DE MANAUS/AM

Daniel Henrique Gomes Macimo24


Geovani Braz Dantas25
Heidi Aparecida Santos26
Elizângela da Rocha Mota27

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo investigar os efeitos psicológicos na transição da


transgeneridade em um grupo de jovens transgêneros de Manaus/AM, como projeto de
intervenção da Disciplina PEI (Programa de Extensão Interdisciplinar) - Intervenção Psicossocial
do curso de Psicologia do CEULM/ULBRA. A transição de gênero é um processo complexo, que
cabe reflexão sobre quais as dificuldades vivenciadas pelos jovens transgêneros durante esse
processo. Também é importante a investigação, identificação e compreensão das dificuldades
dos mesmos quanto aos aspectos psicológicos atenuantes na transgeneridade. Devido não

24
Discente do curso de Psicologia da ULBRA Manaus.
25
Discente finalista do curso de Psicologia da ULBRA Manaus.
26
Discente do curso de Psicologia da ULBRA Manaus.
27
Profª. Ma. e Coordenadora do curso de Psicologia da ULBRA Manaus.
141
haver muitas referências quanto a esta temática, a pesquisa descreve-se como exploratória,
evidenciando inicialmente alguns teóricos que servirão de base para a elaboração,
desenvolvimento e aplicação deste projeto. Como parte também da metodologia, a intervenção
envolveu encontros presenciais e remotos; roda de conversa e entrevista semiestruturada. Sabe-
se empiricamente, até o momento, que a transição de gênero tem um grande impacto negativo
nos indivíduos transgêneros, tanto no aspecto psicológico como no meio social, deixando marcas
emocionais que podem persistir por toda a vida.

Palavras-Chave: transgêneros, jovens, transição.

ABSTRACT

This article aims to investigate the psychological effects of the transgender transition in a group
of young transgender people from Manaus/AM, as an intervention project of the Discipline PEI
(Interdisciplinary Extension Program) - Psychosocial Intervention of the Psychology course at
CEULM/ULBRA. Gender transition is a complex process, which requires reflection on the
difficulties experienced by transgender youth during this process. It is also important to
investigate, identify and understand their difficulties regarding the mitigating psychological
aspects of transgenderism. Because there are not many references on this topic, the research is
described as exploratory, initially highlighting some theorists who will serve as a basis for the
elaboration, development and application of this project. As part of the methodology, the
intervention involved face-to-face and remote meetings; conversation wheel and semi-structured
interview. It is empirically known, so far, that the gender transition has a great negative impact on
transgender individuals, both psychologically and socially, leaving emotional marks that can
persist throughout life.

Keywords: transgender, youth, transition.

INTRODUÇÃO

Em nossa sociedade, naturalizamos, a partir de embasamento puramente


biológico, a dualidade-diferença entre os gêneros humanos. O ser humano é
denotado entre macho ou fêmea a partir dos órgãos genitais que os compele, os
quais se desenvolveram durante o período gestacional e desenvolveram com o
nascimento.

142
Características biológicas de nascimento fazem do ser humano o seu
gênero, logo, a sociedade expõe tais diferenças no dia a dia – menino ou menina,
homem ou mulher, macho ou fêmea, masculino ou feminino. Nesse diapasão,
Ferreira & Bonan (2020) aduzem que muitas são as normas que tratam a saúde
como direito universal, discutem a despatologização das pessoas LGBT e
apresentam a dimensão relacional como condição central da qualidade da
assistência à saúde.

Compreende-se que, através desse pensamento, cada indivíduo se


distingue nessa forma dualista de gênero, entretanto, nem todos se
compreendem dessa maneira. Assim, esta pesquisa tem como objetivo geral
identificar os efeitos psicológicos no processo de transição de jovens
transgênero. Como objetivos específicos: 1) Descrever o processo de
transgeneridade; 2) Analisar os efeitos psicológicos neste processo; 3)
Evidenciar os direitos humanos da pessoa transgênero.

O ser humano tem a sua orientação sexual que pode variar e são
denominadas como: heterossexual, homossexual, assexual, bissexual ou
pansexual. Nesse sentido, pessoas transgêneros podem se sentir atraídas
fisicamente e afetivamente de diferentes formas, não reduzindo apenas ao seu
gênero imposto e/ou identificado. Esta pesquisa surgiu a partir da disciplina PEI
(Programa de Extensão Interdisciplinar), denominada Intervenção Psicossocial,
do curso de Psicologia do CEULM/ULBRA como proposta de um projeto de
intervenção iniciado no 2° semestre de 2022.

Este projeto de intervenção tem uma relevância significativa tanto no


campo social como acadêmico por trazer reflexões ponderadas a cerca de uma
temática que ainda na atualidade sofre com preconceito e pouco esclarecimento
sobre a temática.

REFERENCIAL TEÓRICO

143
A importância de estudos sobre gênero

O estudo consiste no estigma e no preconceito arraigados na sociedade


brasileira, com bases conservadoras, ideológicas e religiosas, que entendem a
questão de gênero como uma opção sexual ou doença do indivíduo, mesmo que
os organismos internacionais e nacionais, como a Organização Mundial da
Saúde (OMS) e o Conselho Federal de Psicologia (CFP) já tenham definido que
a orientação sexual não é uma questão de doença nem de escolha, excluindo-a
da lista de CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) e proibindo a
realização de terapias de reorientação sexual.

Nesse diapasão, Ferreira & Bonan (2020) aduzem que muitas são as
normas que tratam a saúde como direito universal, discutem a despatologização
das pessoas LGBT e apresentam a dimensão relacional como condição central
da qualidade da assistência à saúde. Defendem que a boa relação usuário-
profissional pressupõe uma escuta ativa e qualificada, uma vez que essa
qualificação da relação está diretamente relacionada à revelação da orientação
sexual e/ou identidade de gênero nos serviços de saúde – condição
indispensável para uma assistência resolutiva e o estabelecimento de linhas de
cuidado, tendo em vista que a populações LGBT mostraram preocupações
diversas no que se refere a revelar-se ou não aos profissionais de saúde.

A relevância social da pesquisa está no intento de compreender como as


relações intersubjetivas entre usuários da comunidade LGBT; e a melhoria para
a qualidade de vida e da saúde mental da comunidade LGBT.

Gênero, um constructo social

A construção do papel do homem e da mulher, que se inicia no processo


gestacional e com o nascimento do bebê, o primeiro reconhecimento se dá
através do sexo: “menina ou menino” e a partir de então iniciará a construção do
papel que a sociedade espera deste indivíduo já definido. Por possuírem genitais
144
femininos ou masculinos, serão qualificados pelo pai, mãe, família, escola, mídia,
sociedade em geral, com distintas forma de pensar, de sentir, de atuar. (ARAÚJO
E., at al, 2019, apud BENEVENTO; SANTANA, 2013).

No ano de 1933, em um seminário a respeito da feminilidade, Freud


declarava, com completa segurança que “quando a gente encontra uma pessoa,
a primeira distinção que fazemos é se ela é homem ou mulher. E estamos
acostumados a fazer tal distinção com certeza absoluta”. (ARAÚJO E., at al,
2019, apud FREUD, 1933)

Conforme explica Jesus:

[...] para a ciência biológica, o que determina o sexo de uma


pessoa são suas células reprodutivas (espermatozoides, logo,
macho; óvulos, logo, fêmea), e só. Biologicamente, isso não
define o comportamento masculino ou feminino das pessoas: o
que faz isso é a cultura. [...] Sexo é biológico, gênero é social.
Como as influências sociais não são totalmente visíveis, parece
para nós que as diferenças entre homens e mulheres são
naturais, totalmente biológicas, quando, na verdade, a maior
parte delas é influenciada pelo convívio social. (ARAÚJO E., at
al, 2019, apud Jesus 2012, p. 06).

As desigualdades de gênero são edificações históricas, primordialmente


patriarcais, assentado numa forte sistematização sexual hierárquica, conforme
autoridade masculina no meio familiar, com o deslocamento para a esfera
pública. Posteriormente, em contraste a essa sistematização social, eclode o
feminismo, com a peculiaridade de ser um movimento social e político, com
intento de igualdade dos sexos (ARAÚJO E., at al, 2019, apud HOGEMANN,
2015).

Ainda dentro da categoria gênero, dois conceitos são relevantes:


identidade de gênero, que se relaciona ao gênero com o qual uma pessoa se
identifica que pode ou não concordar com o gênero que lhe foi atribuído quando
de seu nascimento e, expressão de gênero, que é a forma como a pessoa se
apresenta, sua aparência e seu comportamento, de acordo com expectativas

145
sociais de aparência e comportamento de um determinado gênero. (ARAÚJO et.
al., 2019, apud JESUS, 2012).

Sociedade e a ideia de gênero

Em nossa sociedade, naturalizamos, a partir de embasamento puramente


biológico, a dualidade-diferença entre os gêneros humanos. O ser humano é
denotado entre macho ou fêmea a partir dos órgãos genitais que os compele, os
quais se desenvolveram durante o período gestacional e “floresceram” com o
nascimento.

Características biológicas de nascimento fazem do ser humano o seu


gênero, logo, a sociedade expõe tais diferenças no dia a dia – menino ou menina,
homem ou mulher, macho ou fêmea, masculino ou feminino. Com esse
pensamento onde o gênero se constrói a partir de características biológicas, a
sociedade impõe suas crenças a partir desse pensamento racionalista.

Compreende-se que, através desse pensamento, cada indivíduo se


distingue nessa forma dualista de gênero, entretanto, nem todos se
compreendem dessa maneira. A transgeneridade se encaixa perfeitamente em
tais indivíduos que não se enquadram socialmente no gênero que lhe foi
atribuído ao nascer.

Dessa forma, a “transgeneridade é o de uma condição possível de


indivíduos assumirem uma identidade de gênero, masculina ou feminina,
diferente daquela que concorda com suas características biológicas, identidade
essa designada por ocasião do seu nascimento.” (MODESTO, p. 50).

Nesse sentido, a forma como o indivíduo transgênero se identifica com o


seu corpo e a sua identidade de gênero demonstra que tal pensamento simplista
de gênero desenvolvido a partir de características biológicas de nascença está

146
defasada. O gênero é uma construção social no qual impuseram a partir de
condições biológicas de cada indivíduo.

A pessoa transgênera, ou seja, o indivíduo que não se identifica com os


atributos físicos de quando nasceu, pode, sim, optar por mudanças físicas e
sociais. Aquele ou aquela que se identifica com o gênero oposto ao seu, também,
tem orientações sexuais diversificadas.

O sujeito que não conhece sobre tais aspectos acreditar que um indivíduo
que nasceu com características físicas e biológicas de denominação masculino
que, ao longo de seu desenvolvimento psíquico, físico, social, subjetivo e
maturacional, não se identificou com o seu gênero binário, o mesmo opta por
fazer o processo de transição de gênero, logo, adquire características fisio-
biológicas do gênero no qual se identifica, assim, tornando-se mulher trans, a
mesma pode ter uma orientação sexual no qual sente atração por pessoas do
mesmo sexo, ou seja, outras mulheres.

Portanto, é nesse quesito que compreendemos a diferença entre gênero


e orientação sexual. Uma mulher trans pode se atrair por pessoas do mesmo
sexo e não, necessariamente, por ter escolhido fazer a transição que a mesma
irá se interessar por pessoas do sexo oposto. Portanto, de acordo com Modesto
“em relação ao parâmetro que rege os tipos de orientações sexuais, que nos são
disponibilizados atualmente pela nossa cultura, as pessoas transgêneras podem
assumir qualquer uma delas.” (MODESTO, p. 50).

Identidade de gênero x orientação sexual

Há vários nomes e conceitos que são estereótipos dados pela sociedade


em relação a quem se interessam sexualmente ou afetivamente – isso se
referimos a orientação sexual. Todo indivíduo tem a sua orientação sexual que
147
pode variar, sendo elas a nomenclatura heterossexual, homossexual, assexual,
bissexual ou pansexual.

Nesse sentido, pessoas transgêneras podem se sentir atraídas


fisicamente e afetivamente de diferente formas, não reduzindo apenas ao seu
gênero imposto e/ou identificado.

De acordo com Modesto 2013, em outro exemplo, um homem trans pode


ser heterosexual – sente-se atraído por pessoas do gênero oposto ao seu; pode
ser homossexual – sente-se atraído por pessoas do mesmo gênero que o seu;
pode ser assexual – não sente-se atraído sexualmente por outras pessoas
independente do gênero, entretanto, podem manter uma relação afetiva-
amorosa por outra pessoa; pode ser bissexual – sente-se atraído por pessoas
de diferentes orientações sexuais e gênero, dando ênfase às pessoas que se
identificam com seu gênero de nascença ou não, e, por fim, pode ser pansexual
– sente-se atraído por pessoas, ou seja, não importando sua orientação ou
gênero no qual se identificam. A pessoa pansexual se difere do bissexual no
quesito de denominações e de identificações em relação às pessoas.

O pansexual sente-se atraído por seres humanos e tais pessoas com essa
orientação sexual têm uma percepção de que cada pessoa é apenas uma
pessoa sem a necessidade de enquadrá-las em algum estereótipo construído
socialmente.

METODOLOGIA

De acordo com Bastos e Kelly (1995 p.53) a “pesquisa científica é uma


investigação metódica acerca de um determinado assunto com o objetivo de
esclarecer aspectos em estudos.” Assim, o trabalho descreve-se como uma

148
pesquisa exploratória, bibliográfica e qualitativa acerca dos efeitos psicológicos
na transgeneridade.

Público-Alvo: 05 jovens transgêneros com faixa etária e classes sociais


diversificadas da cidade de Manaus/AM; Instrumentos: Roda de conversa e
entrevista semiestruturada.

Encontros: Foram realizados 05 encontros, entre os meses de outubro e


novembro de 2022.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

1° Encontro online: Apresentação do projeto e dos acadêmicos


envolvidos, neste momento oportunizamos que todos falassem um pouco da sua
„história‟ e explanasse o que espera do projeto.

2° Encontro presencial: Uma roda de conversa com dinâmica de grupo


quem é você e neste momento foi ouvido um pouco da sua vivência no mundo
da transgeneridade e o seu conhecimento sobre a temática.

3° Encontro presencial: Roda de conversa sobre os direitos humanos das


pessoas transgêneros com o convidado Prof. Dr. Walace Carvalhosa, nesta
oportunidade deixamos os membros livres para tirar dúvidas sobre o tema.

4° Encontro online: Depoimento sobre as experiências e as necessidades


de projetos e atendimento voltada para esse grupo.

5° Encontro Online: Avaliação sobre o projeto e os encontros anteriores e


a proposta de levar para a Coordenadora do curso de psicologia para
atendimento psicológico individual ou o com o grupo abordado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

149
A partir do projeto apresentado conquistamos uma base teórica e prática
para compreender e analisar o contexto de transição da pessoa transgênero. Os
encontros foram fundamentais para termos um olhar mais critico e analítico de
como esse processo é complexo na vida de cada individuo e ainda como o
sofrimento psíquico é desgastante para a construção deste processo.

Assim é preciso quebrar os paradigmas de uma educação social, muitos


a ver como algo a parte da educação, foi preciso criar projetos, leis e outros
mecanismos para que o direito da pessoa transgênero fosse atendido e até
mesmo conhecido.

A pesquisa enfatizou a necessidade da abordagem das instituições


públicas e privadas na área da saúde mental em capacitar acadêmicos e
profissionais para atender esse público específico, se fazendo parte dessa
representatividade e com ele buscar no dia a dia entender as necessidades
desse grupo que antes era tido como invisíveis e não tinham voz para fazer ecoar
seus anseios.

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https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/re-doc/article/view/39490. Acesso
em: 25/11/2022.

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL; Disponível em:


http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/. Supremo Tribunal Federal Inteiro Teor
do Acórdão - Página 1 de 173. Acesso em: 25/11/2022.

151
CAPÍTULO VII

PSICOEDUCAR PACIENTES HIPERTENSOS DA UBS Dr. SILAS DE


OLIVEIRA SANTOS, NO BAIRRO GILBERTO MESTRINHO EM MANAUS

Francineth Máximo Rodrigues28


Jessica Lene Vilaça Albuquerque29
Leonardo de Sousa Alves30
Patrick Oliveira Alves31
Maria Aparecida Martins32

Resumo

A pressão alta é uma doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea
nas artérias. Ela acontece quando os valores das pressões máxima e mínima são iguais ou
ultrapassam os 140/90 mmHg (ou 14 por 9). Este artigo tem como objetivo identificar e
compreender os principais problemas que impossibilitam os pacientes Hipertensos de uma UBS
em Manaus à adesão ao tratamento da doença, além de incentivar o autocuidado e ampliar os
conhecimentos inerentes ao tema. Trata-se de uma pesquisa quantitativa do tipo exploratório-
descritivo, utilizando o estudo retrospectivo. Foram realizados quatro encontros à UBS. Um grupo
composto por 10 integrantes do programa de hipertensos da Unidade chamado “HIPERDIA” foi
convidado para que fossem aplicadas dinâmicas que levassem à obtenção dos resultados da
pesquisa através da entrevista e questionário, e a implementação de boas práticas para uma
melhor qualidade de vida. Após a avaliação concluiu-se 58,3% dos pacientes têm dificuldades
no agendamento de consultas, 33,3% relatam a falta de tempo para cuidar da saúde e 8,33%
informam que não sentem mal-estar, logo é excluída à necessidade de comparecer a unidade
básica de saúde para acompanhamento.

Palavras-chave: Adesão; Educação em Saúde; Hipertensão; Saúde pública

INTRODUÇÃO

28
Acadêmica de psicologia - Centro universitário luterano de Manaus e-mail: francinethrodrigues552@gmail.com
29
Acadêmica de psicologia - Centro universitário luterano de Manaus- e-mail: upjessica@gmail.com
30
Acadêmico de psicologia - Centro universitário luterano de Manaus – e-mail: leo.sousaleon@hmail.com
31
Acadêmico de enfermagem - Centro universitário luterano de Manaus – e-mail: patrickolivero2802@gmail.com
32
Drª em psicologia social – universidade federal do amazonas e Profª no Centro universitário Luterano de Manaus
152
A unidade Básica de saúde é composta por programas de prevenção e
cuidados aos usuários que entram ou são acompanhados pela equipe
multiprofissional. Entre esses, destacamos de forma especial o programa de
HIPERDIA, que foca no cuidado de usuários com hipertensão, uma doença
crônica, comum no Brasil e que exige do sistema de saúde um cuidado na
atenção primária, analisando os usuários acompanhados pela instituição,
levando os mesmos a conhecer e praticar o autocuidado. Quando o paciente é
conhecedor e receptor do fluxo de atendimento e acesso a UBS, torna-se
assíduo, independente da distância de sua residência.

Como parte do serviço prestado pela UBS, o agrupamento e análise de


dados coletados da população assistida é fundamental para a reflexão e
projeção de estratégias de cuidado. Por exemplo, coletar informações quanto a
escolaridade ou nível de alfabetização do paciente, sabe-se que a hipertensão é
prevalente em população com menor tempo de estudos e na população não
alfabetizada. Informações como essa são “peças-chave” para pensar e aplicar
novos modelos de intervenção na população hipertensa.

Sabendo dos desafios de acesso da população e da relação Paciente-


profissional, busca-se com esse trabalho refletir e ampliar o modelo de
psicoeducação como forma de promoção de saúde. Para além de educação em
saúde também buscamos considerar aspectos socioeconômicos e subjetivos
dos usuários do serviço de saúde, pois características como raça, classe social,
idade, sexo e peso são marcadores pontuais que auxiliam na sistematização,
adesão ao tratamento e prognóstico

Com base em abordagens teóricas que unem a psicologia e a saúde, o


projeto Psicoeducação na UBS propõe entender as demandas e problemáticas
do paciente de forma integral e estabelecer um método que estimule o paciente
hipertenso a ser o protagonista no processo de tratamento e prevenção de
complicações. Para isso as visitas foram esquematizadas em quatro encontros
cada um com um objetivo específico e planejados para que todos confluíssem
para um resultado fidedigno a realidade da população antes e após a aplicação
do projeto.

Além de colaborar com a comunidade científica e técnica com a premissa


de que encontros multiprofissionais, entre as áreas de conhecimento, podem ser
efetivos, no curso de tratamento e intervenções em contextos de saúde.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
153
Introdução ao conceito de saúde no Brasil

Para explorar temas ligados a condição de saúde, faz-se necessário a


compreensão do conceito de saúde, tendo em vista o contraste que há no
entendimento do que é ser um indivíduo saudável, nos contextos histórico-
sociais em que ele é/foi inserido.

No Brasil, por muito tempo prevaleceu uma cultura onde a população não
entendia os meios e as formas de promover saúde e prevenir doenças,
consolidando apenas modelos curativos, quando o cidadão procura o sistema de
saúde somente quando já está doente, com muita dor ou em estados
irreversíveis.

Foi em 1988, com a constituição cidadã, que se iniciou a implantação do


Sistema único de saúde – SUS. Com o objetivo de universalizar o acesso a
saúde, o SUS previa “uma mudança progressiva dos serviços, passando de um
modelo assistencial, centrado na doença e baseado no atendimento a quem
procura, para um modelo de atenção integral à saúde, onde haja incorporação
progressiva de ações de promoção e de proteção, ao lado daquelas
propriamente ditas de recuperação” (Ministério da Saúde).

Após a incorporação desse novo conceito e paradigmas de saúde, que


novas necessidades surgiram, na formação de profissionais, na implantação de
novas redes de assistência, e de novos projetos que fizesse chegar serviços
saúde até mesmo em lugares isolados. Garantindo os direitos humanos de
Universalidade: garantia de atenção à saúde a todo e qualquer cidadão;
Equidade: direito ao atendimento adequado às necessidades de cada indivíduo
e coletividade e Integralidade: a pessoa é um todo indivisível inserido numa
comunidade.

Ao longo dos anos de funcionamento, hoje o SUS é consolidado, mas


ainda opera com muitas dificuldades. Uma delas é a promoção de saúde em
regiões isoladas e em comunidades carentes. A promoção se dá através de
educação a respeito de doenças, fatores de risco e tratamentos, além de ser o
mecanismo que reproduz ambientes saldáveis e estilos de vida que diminuam o
risco de adoecimento.

Em doenças crônicas como a hipertensão é imprescindível o papel de


educação em saúde desempenhado pela atenção primária do SUS, elevando o
paciente ao nível de responsabilidade pela sua condição e pelo seu tratamento.
Atualizar as equipes e profissionais para um novo modo de olhar as condições
de saúde, observando comportamentos, hábitos e contexto sociocultural do
paciente e compartilhar com ele esse olhar integrador é o primeiro passo para a
promoção e restauração da saúde.

154
CONCEITOS DE HIPERTENSÃO E CRONICIDADE

obre a Hipertensão Arterial afirma-se que:

A hipertensão arterial ou pressão alta é uma doença crônica


caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas
artérias. Ela acontece quando os valores das pressões máxima e
mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg (ou 14 por 9). A
pressão alta faz com que o coração tenha que exercer um esforço
maior do que o normal para fazer com que o sangue seja distribuído
corretamente no corpo. A pressão alta é um dos principais fatores de
risco para a ocorrência de acidente vascular cerebral, enfarte,
aneurisma arterial e insuficiência renal e cardíaca. (BRASIL. Ministério
da Saúde. Hipertensão arterial. Brasília, 2020.)

A Hipertensão é uma doença em que 90% dos casos são herdados dos
pais, porém há vários fatores que levam a influência da pressão arterial, como:
Fumo, consumo de álcool, obesidade, estresse, consumo exagerado de sal,
colesterol alto, e o sedentarismo. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, 388
pessoas morrem por dia por hipertensão.

De acordo com o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção


para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) de 2017, a
prevalência de hipertensão auto-referidas passou de 22,6% em 2006 para 24,3%
em 2017. A pressão alta tende a aumentar com a idade, chegando, em 2017, a
60,9% entre os adultos com 65 anos e mais; e foi menor entre aqueles com maior
escolaridade, com 14,8% entre aqueles com 12 anos ou mais de estudo.

De acordo com o estudo, as mulheres ainda continuam com maior


prevalência de diagnóstico médico de hipertensão arterial quando comparado
aos homens, tendo registrado 26,4% contra 21,7% para eles. Em 2017, as
capitais com maior prevalência entre as mulheres foram Rio de Janeiro (34,7%)
e Recife (30,0), e entre os homens, foram Maceió (26,3%) e Natal (26,2%). Para
o total, o Rio de Janeiro (RJ) se manteve pelo segundo ano consecutivo como a
capital brasileira com o maior percentual de hipertensos.

Perfil psicossocial de hipertensos na Região Norte

Atualmente, o número dos usuários identificados com hipertensão em


Manaus chega a 35,12%, equivalem 237, 966 pessoas, que estão com
acompanhamento em dia. Esses dados são monitorados pela Secretaria
Municipal de Saúde em Manaus (SEMSA), por meio da Diretoria de Inteligência
de Dados.

155
Além dos dados explorados acima, foram coletados ainda raça,
escolaridade e estado civil. A maioria dos prontuários não continha esses dados,
mesmo eles sendo importantes para traçar o perfil do paciente e auxiliar na
adesão efetiva ao tratamento e no prognóstico da doença. Tratando-se de raça,
entre os homens, 44,82% dos prontuários não possuem os dados e, os que
possuem registro, a maioria é parda (34,50%). Em relação às mulheres; 35,29%
não constam nos prontuários e 33,33% são brancas, correspondendo à maioria.
A escolaridade dos pacientes também foi analisada e percebeu-se que, entre os
homens 68,97% não havia dados registrados e 31,03% são alfabetizados, têm
ensino fundamental incompleto e ensino médio completo. Observando as
mulheres, notou-se que 47,05% não possuem dados no prontuário e 52,95% não
sabem ler/escrever, são alfabetizadas, possuem ensino fundamental incompleto,
ensino fundamental completo, ensino médio incompleto e ensino médio
completo. Por último foi analisado o estado civil, o qual se percebeu, entre os
homens, que 75,86% não possuíam essa informação registrada e 24,14%, são
casados e solteiros. Enquanto entre as mulheres, 49,02% são solteiras e
casadas e 50,98% não constam nos prontuários (Cruz, 2022).

ESTRATÉGIAS DE CUIDADO PRIMÁRIO DA PESSOA COM DOENÇA


CRÔNICA

No Brasil, os desafios do controle e prevenção da HAS e suas


complicações são, sobretudo, das equipes de Atenção Básica (AB). As equipes
são multiprofissionais, cujo processo de trabalho pressupõe vínculo com a
comunidade e a clientela adscrita, levando em conta a diversidade racial,
cultural, religiosa e os fatores sociais envolvidos. Nesse contexto, o Ministério da
Saúde preconiza que sejam trabalhadas as modificações de estilo de vida,
fundamentais no processo terapêutico e na prevenção da hipertensão. A
alimentação adequada, sobretudo quanto ao consumo de sal e ao controle do
peso, a prática de atividade física, o abandono do tabagismo e a redução do uso
excessivo de álcool são fatores que precisam ser adequadamente abordados e
controlados, sem os quais os níveis desejados da pressão arterial poderão não
ser atingidos, mesmo com doses progressivas de medicamentos (BRASIL,
2006).

Os profissionais da AB têm importância primordial nas estratégias de


prevenção, diagnóstico, monitorização e controle da hipertensão arterial. Devem
também, ter sempre em foco o princípio fundamental da prática centrada na
pessoa e, consequentemente, envolver usuários e cuidadores, em nível
individual e coletivo, na definição e implementação de estratégias de controle à
hipertensão.

Espera-se que este Caderno de Atenção Básica (caderno nº15) auxilie no


processo de educação permanente dos profissionais de Saúde da AB e apoie na

156
construção de protocolos locais que organizem a atenção à pessoa com doença
crônica. ((BRASIL, 2006)

● Padrões necessários à educação para o autocuidado


● Atividade física Incorporação de atividade física no estilo de vida.
● Alimentação saudável Incorporação do manejo nutricional no estilo de
vida.
● Monitorar e interpretar a glicemia e outros parâmetros e usar os resultados
na tomada de decisões.
● Medicação Usar a medicação com segurança e para a máxima
efetividade terapêutica.
● Resolução de problemas Prevenir, detectar e tratar complicações agudas
e outros problemas.
● Enfrentamento saudável, desenvolver estratégias personalizadas para
acessar problemas psicossociais.
● Redução de riscos Prevenir, detectar e tratar complicações crônicas.
(PEEPLES, 2007).

DIFICULDADES DE ACESSO E ADESÃO AO TRATAMENTO

Os princípios que orientam a reorganização dos processos de trabalho a


reorganização das atividades das equipes de Saúde para o alcance de melhores
resultados nas doenças crônicas está dentro de um contexto (os princípios e os
atributos da APS e do SUS), e são destacados a seguir aspectos que vêm sendo
apontados como nós crítico sem serviços de Atenção Primária (BRASIL, 2010).

a) Ampliar o acesso da população aos recursos e aos serviços das


Unidades Básicas de Saúde: a utilização dos serviços e dos recursos de Saúde
nem sempre ocorrem de forma que quem mais precisa consiga acesso.
Frequentemente, pessoas com menores riscos à saúde têm número de
consultas considerado maior que o necessário para o adequado
acompanhamento de suas condições crônicas de saúde, enquanto outras com
maiores riscos e vulnerabilidade não conseguem acesso ao cuidado. Ou, ao
contrário, a grande maioria dos recursos é utilizado em uma minoria com
doenças graves. O acesso está diretamente relacionado à disponibilidade de
consultas de cuidado continuado e de demanda espontânea, atividades
coletivas, atendimentos em grupo, procedimentos de enfermagem, exames,
medicamentos, entre outros. Sempre que possível, as atividades realizadas
pelas equipes devem acontecer em todo o horário de funcionamento da unidade.
A ampliação do horário de funcionamento tem se configurado como estratégia
que aumenta o acesso de trabalhadores, especialmente os do sexo masculino.
Além disso, cartazes e informações sobre os serviços de Saúde a serem

157
buscados fora do horário da unidade básica reforçam a preocupação da equipe
em apoiar a população na resolução dos problemas.

b) Buscar maior qualidade da Atenção à Saúde: qualidade é a capacidade


dos serviços de Saúde em responder de forma efetiva às necessidades de
saúde, no momento que as pessoas precisam. Isso quer dizer: acesso e
efetividade das ações. O uso de diretrizes clínicas baseadas em evidências
realizado conjuntamente com profissionais da Atenção Primária está relacionado
à efetividade do cuidado. As melhores recomendações, muitas vezes com
inequívocas evidências de melhores resultados, nem sempre são utilizadas.

c) Persistir na busca à integralidade da atenção: a integralidade tem várias


dimensões e depende de um conceito amplo de saúde. Integralidade
compreende promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças e
recuperação da saúde. Refere-se, ainda, à abordagem integral do indivíduo
(todos os sistemas fisiológicos, bem como os aspectos psicológicos, e contexto
familiar e social) e da população sob responsabilidade das equipes básicas.
Assim, o indivíduo com diabetes frequentemente é também hipertenso, pode
estar deprimido, talvez não tenha tido uma consulta odontológica há vários anos
e muito provavelmente convive com familiares com as mesmas condições
crônicas de saúde. A integralidade tem uma terceira dimensão, relacionada à
coordenação com outros serviços de Saúde e setores da sociedade.

RECEPÇÃO E ACOLHIMENTO

Vários termos com significados relacionados têm sido utilizados no dia a


dia para falar do mesmo assunto: a recepção, o acolhimento, a porta de entrada,
o acesso, a acessibilidade, o atendimento do dia, a demanda espontânea. Assim,
ao tratar do assunto, cabe destacar o que almejamos: que as pessoas possam
usufruir dos serviços de Saúde que necessitam, quando necessitam, com
qualidade e equidade.

O usuário com doenças crônicas é, usualmente, um grande frequentador


da Unidade Básica de Saúde, buscando-a por diversas razões: renovação de
receitas, consulta de acompanhamento, verificação da pressão e/ou glicemia,
atendimento para agudização de sua condição crônica, entre outras.

FATORES DE AGRAVAMENTO DA PRESSÃO ARTERIAL

O desenvolvimento da hipertensão não ocorre instantaneamente, há um


conjunto de fatores que estão associados à sua evolução e agravo. Estes fatores
são conhecidos como fatores de risco e, segundo as Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão Arterial, são: idade, sexo/gênero e etnia, fatores socioeconômicos,
ingestão de sal, excesso de peso e obesidade, ingestão de álcool, genética e

158
sedentarismo. Além desses, outros autores acrescentam ainda o tabagismo e a
não adesão ao tratamento.

Muitos fatores de risco para hipertensão são modificáveis, o que torna a


hipertensão evitável na maioria dos casos ou com alta probabilidade de controle,
se já presente. Etnia, idade, sexo e predisposição genética são fatores não
modificáveis. E fatores ambientais e socioeconômicos são de difícil modificação,
logo, a atenção do profissional com relação aos mesmos deve ser diferenciada.
O sal, o álcool, a obesidade e o sedentarismo são passíveis de modificação a
fim de reduzir o risco para hipertensão.

Infelizmente, o número de hipertensos tratados ainda é pequeno diante da


dimensão da doença. Apenas 50% dos hipertensos sabem de sua condição.
Destes, metade não se trata e os outros 50% não tem a pressão sob controle.

Um dos maiores problemas para este controle é a falta de adesão ao


tratamento que ocorre em até 40% dos hipertensos, uma vez que além dos
medicamentos são necessárias mudanças de hábitos que nem sempre são bem
aceitas. Segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial do ano de
2020, os seguintes fatores podem ser considerados para agravamento do
quadro:

Genética: Os fatores genéticos podem influenciar os níveis de Pressão


Arterial entre 30-50%. No entanto, devido à ampla diversidade de genes, às
variantes genéticas estudadas até o momento e à miscigenação em nosso país,
não foram identificados dados uniformes com relação a tal fator. Mais detalhes
sobre o componente genético da HA podem ser encontrados no Capítulo 3.

Idade: Com o envelhecimento, a PAS torna-se um problema mais


significante, resultante do enrijecimento progressivo e da perda de complacência
das grandes artérias. Em torno de 65% dos indivíduos acima dos 60 anos
apresentam HA, e deve-se considerar a transição epidemiológica que o Brasil
vem sofrendo, com um número ainda maior de idosos (≥ 60 anos) nas próximas
décadas, o que acarretará um incremento substancial da prevalência de HA e de
suas complicações. +

Sexo: Em faixas etárias mais jovens, a PA é mais elevada entre homens,


mas a elevação pressórica por década se apresenta maior nas mulheres. Assim,
na sexta década de vida, a PA entre as mulheres costuma ser mais elevada e a
prevalência de HA, maior. Em ambos os sexos, a frequência de HA aumenta
com a idade, alcançando 61,5% e 68,0% na faixa etária de 65 anos ou mais, em
homens e mulheres, respectivamente.

Etnia: A etnia é um fator de risco importante para a Hipertensão Arterial,


mas condições socioeconômicas e de hábitos de vida parecem ser fatores mais
159
relevantes para as diferenças na prevalência da Hipertensão do que a implicação
étnica propriamente dita. Dados do Vigitel 2018 mostraram que, em nosso país,
não houve uma diferença significativa entre negros e brancos no que diz respeito
à prevalência de Hipertensão (24,9% versus 24,2%).

Sobrepeso/Obesidade: Parece haver uma relação direta, contínua e


quase linear entre o excesso de peso (sobrepeso/obesidade) e os níveis de
Pressão Arterial. Apesar de décadas de evidências inequívocas de que a
circunferência de cintura (CC) fornece informações independentes e aditivas ao
índice de massa corpórea (IMC) para predizer morbidade e risco de morte, tal
medida não é rotineiramente realizada na prática clínica. Recomenda-se que os
profissionais de saúde sejam treinados para realizar adequadamente essa
simples medida e considerá-la como um importante “sinal vital” na prática
clínica.

Ingestão de Sódio e Potássio: A ingestão elevada de sódio tem-se


mostrado um fator de risco para a elevação da PA, e consequentemente, da
maior prevalência de HA. A literatura científica mostra que a ingestão de sódio
está associada a DCV e AVE, quando a ingestão média é superior a 2 g de sódio,
o equivalente a 5 g de sal de cozinha. Estudos de medida de excreção de sódio
mostraram que naqueles com ingestão elevada de sódio, a PAS foi 4,5 mmHg a
6,0 mmHg maior e a PAD 2,3 mmHg a 2,5 mmHg em comparação com os que
ingeriam as quantidades recomendadas de sódio. Cabe destacar, ainda, que o
consumo excessivo de sódio é um dos principais fatores de risco modificáveis
para a prevenção e o controle da HA e das DCV e que, em 2013, US$ 102
milhões dos gastos do SUS com hospitalizações foram atribuíveis ao consumo
excessivo de sódio. De maneira inversa, o aumento na ingestão de potássio
reduz os níveis pressóricos. Deve ser salientado que o efeito da suplementação
de potássio parece ser maior naqueles com ingestão elevada de sódio e entre
os indivíduos da raça negra. A ingestão média de sal no Brasil é de 9,3 g/dia
(9,63 g/dia para homens e 9,08 g/dia para mulheres), enquanto a de potássio é
de 2,7 g/dia para homens e 2,1 g/dia para mulheres.

Sedentarismo: Há uma associação direta entre sedentarismo, elevação


da PA e da HÁ. Chama a atenção que, em 2018, globalmente, a falta de atividade
física (menos de 150 minutos de atividade física por semana ou 75 minutos de
atividade vigorosa por semana) era de 27,5%, com maior prevalência entre as
mulheres (31,7%) do que nos homens (23,4%). No Brasil, o inquérito telefônico
Vigitel de 2019 identificou que 44,8% dos adultos não alcançaram um nível
suficiente de prática de atividade física, sendo esse percentual maior entre
mulheres (52,2%) do que entre homens (36,1%). sede

Álcool: O impacto da ingestão de álcool foi avaliado em diversos estudos


epidemiológicos. Há maior prevalência de HA ou elevação dos níveis pressóricos
naqueles que ingeriam seis ou mais doses ao dia, o equivalente a 30 g de
160
álcool/dia = 1 garrafa de cerveja (5% de álcool, 600 mL); = 2 taças de vinho (12%
de álcool, 250 mL); = 1 dose (42% de álcool, 60 mL) de destilados (uísque,
vodca, aguardente). Esse limite deve ser reduzido à metade para homens de
baixo peso e mulheres.

Fatores Socioeconômicos: Entre os fatores socioeconômicos, podemos


destacar menor escolaridade e condições de habitação inadequadas, além da
baixa renda familiar, como fatores de risco significativo para HA. Outros Fatores
de Risco Relacionados com a Elevação da PA Além dos fatores clássicos
mencionados, é importante destacar que algumas medicações, muitas vezes
adquiridas sem prescrição médica, e drogas ilícitas têm potencial de promover
elevação da PA ou dificultar seu controle sendo 597 milhões de homens e 529
milhões de mulheres, indicando um aumento de 90% no número de pessoas com
HA, principalmente nos países de baixa e média rendas. O estudo mostrou que
a prevalência de HA diminuiu nos países de alta renda e em alguns de média,
enquanto nos países de baixa renda aumentou ou se manteve constante. Os
fatores implicados nesse incremento seriam o envelhecimento da população e a
maior exposição aos outros fatores de risco, como ingestão elevada de sódio e
baixa de potássio, além do sedentarismo.

Outro fator de risco para hipertensão é o tabagismo. A nicotina presente


no cigarro provoca o aumento do trabalho cardíaco. Além disso, o fumo passivo,
a terapia de reposição nicotínica e o uso da bupropiona (coadjuvante na
cessação do hábito de fumar) devem ser considerados como causas em
potencial de refratariedade ao tratamento anti-hipertensivo. A prevalência do
tabagismo é maior em homens e este fator somado à predisposição maior do
sexo masculino de desenvolver hipertensão aumenta as chances de os homens
tabagistas serem hipertensos.

Quando a população que tem acesso aos dados atualizados sobre os


fatores de risco como tabagismo, alimentação não saudável, inatividade física e
o consumo nocivo de álcool, ela tende a procurar pelo cuidado e a promoção de
saúde por meio da mudança de hábitos, associadas à detecção precoce e ao
tratamento necessário. Sob o ponto de vista coletivo, as comunidades podem
direcionar os esforços na solicitação de serviços de saúde do Sistema Único de
Saúde, a partir da Atenção Primária à Saúde, de acordo com a realidade do seu
território, por meio dos conselhos locais de saúde.

Conforme o Caderno de Atenção Básica nº 37 do Ministério da Saúde, no


Brasil, os desafios do controle e prevenção da HAS e suas complicações são,
sobretudo, das equipes de Atenção Básica (AB). As equipes são
multiprofissionais, cujo processo de trabalho pressupõe vínculo com a
comunidade e a clientela adscrita, levando em conta a diversidade racial,
cultural, religiosa e os fatores sociais envolvidos (Brasil 2010).

161
PSICOEDUCAÇÃO E APLICAÇÕES DA PSICOLOGIA EM CONTEXTOS DE
SAÚDE

A multidisciplinaridade no acompanhamento de pacientes com doenças


crônicas é prevista na cartilha nacional de saúde e indispensável para um
tratamento minimamente equilibrado. Integrar abordagens médica, psicológica e
pedagógica é promover o caráter participativo do paciente no seu processo de
tratamento e na forma de enxergar sua condição de saúde, principalmente no
caso de Doenças crônicas.

A partir do fornecimento de informações claras sobre a etiologia da


doença, sintomas, os métodos de tratamento e sobre os objetivos, é esperado
que o paciente se aproprie dessas informações e tenha a consciência de
autocuidado. Essa estratégia parte do princípio de prevenir novos fatores de
risco e promover um novo estilo de vida, evitando assim a piora do quadro e o
aumento dos níveis de pressão e açúcar.

Quando o paciente tem dificuldades na forma de lidar com a doença, na


adesão ao tratamento e de seguir as orientações para evitar agravos, é possível
que ele ainda não compreendeu do que se trata e os “por quês” de tantas
medidas serem tomadas como essenciais no seu processo adoecido. O ideal é
a aplicação de uma psicoeducação desde o diagnóstico, começando com as
orientações médicas e em seguida com o acompanhamento de agentes de
saúde e de um profissional da psicologia. Como uma rede de apoio, visando
atender o usuário e seus familiares.

A Hipertensão, por se tratar de uma doença crônica e de grande impacto


no organismo e no estilo de vida do paciente, tem a característica no seu
tratamento o cuidado multiprofissional. “O objetivo do tratamento é a
manutenção de níveis pressóricos controlados conforme as características do
paciente e tem por finalidade reduzir o risco de doenças cardiovasculares,
diminuir a morbimortalidade e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos.”
(Brasil, 2010). Para tanto faz-se necessário o acompanhamento em diversos
níveis, inclusive o psicológico.

Para além de condições mentais, a psicologia tem desenvolvido métodos


que atingem a saúde integral do paciente, compreendendo que a mente e o
corpo não são instâncias independentes, mas que são sistemas interligados por
uma complexidade vital. Nesse sentido, a ciência psicológica, auxilia a área
162
médica, através de abordagens como a psicologia médica, medicina do
comportamento e a psicologia da saúde. Como bem define Matarazzo (2015):

“(...) agrega-se o conhecimento educacional, científico e


profissional da disciplina Psicologia para utilizá-lo na promoção e na
manutenção da saúde, na prevenção e no tratamento da doença, na
identificação da etiologia e no diagnóstico relacionados à saúde, à
doença e às disfunções, bem como no aperfeiçoamento do sistema de
política da saúde.”

No Tratamento da hipertensão a psicologia pode atuar no decorrer do


tratamento, acompanhando o paciente. O ministério da saúde recomenda que o
paciente seja orientado por um profissional psicólogo para a aderência à
terapêutica anti-hipertensiva:

● Orientar os pacientes sobre o problema, seu caráter silencioso, a


importância da adesão ao tratamento, envolver a estrutura familiar
e o apoio social;
● Estabelecer o objetivo do tratamento (níveis normotensos com
mínimos para efeitos);
● Manter o tratamento simples (medicamentoso);
● Encorajar modificações no estilo de vida;
● Integrar o uso da medicação com as atividades cotidianas;
● Tentar nova abordagem em terapias sem sucesso
● Antecipar para o paciente os efeitos adversos e ajustar a terapia
para minimizá-los

(ministério da Saúde)

Sendo tais orientações seguidas pelo paciente, espera-se que ele tenha
a consciência de que é o principal responsável pelo equilíbrio de sua condição,
seja percebendo suas emoções, evitando maus hábitos, remodelando
comportamentos e principalmente entendendo sua relação com a condição
crônica com a hipertensão.

Contribuições da psicologia para o enfrentamento de condições de saúde


são encontradas em diversas linhas de pesquisas, através da psicologia
cognitivo-comportamental, por exemplo, Malagris e Pacheco (2019) pontuam
alguns aspectos que impactam diretamente na qualidade e resultado do
tratamento:

163
● Aceitação: entender que é plenamente possível ter hipertensão e manter
a qualidade de vida. Aceitar que as mudanças na rotina farão parte da
vida, e que não será pior, apesar de algumas dificuldades na adaptação.
● Adesão ao tratamento: conscientizar-se das diferentes consequências de
não seguir as orientações médicas e psicoeducativas.
● Relaxamento: momentos de relaxamento durante períodos do cotidiano,
são benéficos, pois vai na contramão de comportamentos estressores.
Contribuindo para um equilíbrio dos níveis pressóricos.
● Questionamento de pensamentos e de atitudes: O modo como se pensa
e age reflete diretamente em funções fisiológicas do organismo. O corpo
tende a responder, por exemplo, com o aumento dos batimentos
cardíacos se predominar ou remoer pensamentos de raiva ou
catastróficos, e isso eleva os níveis de estresse e consequentemente da
PA.

Percebe-se que não há como separar os mecanismos psicológicos e as


funções fisiológicas. Em condições de patologias crônicas e sensíveis é ideal
que as ações educativas contemplem o sujeito integralmente, pois seus
comportamentos, crenças e hábitos podem prejudicar o tratamento e o
sistema de saúde pública, que espera uma melhora do paciente, porém, este
ainda não compreendeu seu papel em relação a sua condição de saúde.

Discussão de resultados

Trata-se de uma pesquisa quantitativa do tipo exploratório-descritivo,


utilizando-se o estudo retrospectivo, para busca de informação do perfil dos
pacientes de Hipertensão da UBS Dr. Silas Santos. A pesquisa foi realizada na
referida Unidade Básica de Saúde, localizada na zona Leste da cidade de
Manaus, no bairro Gilberto Mestrinho.

Durante as 04 (quatro) visitas, duas (02) foram direcionadas para


aplicação de questionário psicossocial e para uma roda de conversa com a
apresentação dos resultados, onde a equipe acadêmica pode orientar sobre os
fatores que agravam a hipertensão, assim como explicar a relação da mente com
a mudança do estilo de vida e a direção para uma vida saudável.

Consideramos a população de 10 (dez) pacientes hipertensos com mais


de 18 (dezoito) anos, foram colhidas informações sobre idade, gênero, a pressão
arterial que fora medida no momento da aplicação do questionário, onde
pudemos coletar a informação no mesmo momento com o suporte da enfermeira
que estava de plantão, referência sobre a última consulta, dificuldades de
acompanhamento médico na UBS, emoção predominante no momento do
diagnóstico e se existem outras pessoas no centro familiar que também estão
164
acometidas por comorbidades associadas, e disponibilidade dos medicamentos
utilizados. Para análise dos dados foi utilizado o Programa Microsoft Office
EXCEL®. Os dados foram tabulados e consolidados utilizando as técnicas de
estatísticas descritivas, e organizados e apresentados em forma de gráficos.

No primeiro encontro a equipe realizou a visita de reconhecimento da


USF. Propondo à direção da Unidade de Saúde, o projeto de educação como
promoção em saúde. A escolha dos participantes foi realizada aleatoriamente,
por meio de ligação telefônica aos hipertensos cadastrados no programa
Hiperdia da UBS Silas de Oliveira Santos, que controla os dados e acompanha
o tratamento dos pacientes hipertensos, com o apoio dos agentes comunitários
de saúde.

No segundo encontro, houve o conhecimento de toda a equipe de saúde


que atende na USF, onde a equipe realizou a conversa buscando entender a
rotina diária dos atendimentos dos pacientes, incluindo suas dinâmicas de
retorno ou não para a continuidade de seu tratamento. Na USF Dr. Silas Santos,
a equipe de atendimento é composta por três equipes (ESF 111, ESF 112 e ESF
138) cada uma com 01 (um) médico, 01(um) enfermeiro, 02 (dois) técnicos de
enfermagem, 06 (seis) Agentes comunitários de saúde, Equipe em Saúde Bucal,
sendo composta por 03 (três) cirurgiões dentistas e 02 (dois) atendentes em
saúde bucal. A equipe de apoio da USF é composta por 01(uma) assistente
social, 01 (uma) terapeuta ocupacional e 01 (uma) farmacêutica.

Durante a entrevista com a técnica de enfermagem, responsável pelo


setor de acolhimento e escuta, foi relatado, que o atendimento inicial dos
pacientes, se dá através da escuta qualificada, aonde o mesmo tenha vindo de
outra unidade diagnosticado hipertenso ou vindo em busca de ser avaliado é
direcionada a consulta com enfermeiro ou médico. O fluxo de atendimento deste
paciente, após ter passado pela escuta qualificada, é ser atendido pelo setor de
triagem, aferido sua pressão arterial, peso e altura, em seguida atendido pelo
profissional enfermeiro ou médico, o paciente sai com sua próxima consulta
agendada, tendo ele recebido receituário e requisições de exames, ele pode
direcionar-se ao setor de farmácia para pegar os seus medicamentos e no setor
do SISREG, pode estar indo adicionar os pedidos feitos na sua consulta.

Foi possível conhecer outros setores da unidade, no qual dispõe de outros


atendimentos que o paciente pode fazer uso, que são: teste rápido, vacinação
(atualização de cartão e inclusive a vacina contra covid-19), odontologia, terapias
(auricoloterapia, reiki, constelações), assistência social. Fato importante, se o
paciente hipertenso é cadeirante, idoso, com dificuldade de locomoção, pós-
operatório e outros, ele recebe a visita e consulta domiciliar.
165
Observar-se que o setor da recepção, deve-se manter atualizados os
dados cadastrais dos pacientes. Na entrevista com a equipe de Saúde Bucal,
eles relataram que o atendimento ao paciente hipertenso é bem cautelosa, pois
se o paciente não estiver com a pressão alta, ocorre perfeitamente, mas o
paciente que por ventura no início do atendimento estiver sentindo-se nervoso,
medo, sua pressão altera e o mesmo é direcionado ao setor de triagem, após
verificação e medicação autorizada pelo médico presente, ficando sua pressão
arterial controlada, ele retorna para realização de sua consulta odontológica,
caso não estabilizar o mesmo é encaminhado ao médico para as devidas
providencias.

No encontro marcado para o início da psicoeducação compareceram 9


mulheres e 1 homem, dos 14 pacientes contados. O que reforça o paradigma de
que homens buscam menos os serviços de promoção e prevenção de saúde.
Iniciamos com a apresentação da equipe, aferição da pressão arterial dos
convidados encontro por parte da enfermeira da Unidade Básica de Saúde, e
eles puderam verificar se estavam com a PA controlada e a apresentação
destes, a fim de uma aproximação entre a equipe e os pacientes, conhecendo
um pouco da realidade de cada um e o que os levou até ali, como forma de
construção de identidade do grupo a ser educado naquele encontro. Tivemos a
oportunidade neste mesmo encontro, de realizar uma roda de conversa e escutar
sobre a realidade desse público, incluindo sobre sintomas quando estão tendo
crises de pressão, Junto da equipe acadêmica, também estava a enfermeira da
unidade que pode dar orientações de como devem proceder em casos de mal-
estar e sobre como eles podem acessar a unidade para que não fiquem
desassistidos em sua saúde.

Após as apresentações foi aplicado um questionário de perfil psicossocial


com 9 (nove) questões sobre os temas: tempo de diagnóstico, local onde
receberam o diagnóstico, disponibilização de medicações, fatores que dificultam
o acesso ao tratamento de saúde, pessoas na família que possuem hipertensão,
quais as dificuldades que os pacientes possuem para manter a pressão
controlada, os sentimentos que tiveram ao receber o diagnóstico e se há alguma
outra comorbidade com o paciente além da hipertensão. A equipe acadêmica
orientou os pacientes para a resposta ao questionário, levando em consideração
a dificuldade de leitura de alguns e informou que no quarto encontro os
resultados seriam divulgados para eles, com a finalidade de conhecerem o perfil
dos pacientes da UBS. Houve a aferição da pressão dos pacientes neste

Além do questionário, também foi realizada uma “aula’ para os pacientes


sobre a hipertensão, levando o conceito da doença de forma didática e acessível,
os sintomas, os fatores de risco para o agravamento da situação do hipertenso
166
e medidas de prevenção da piora do caso e os métodos de tratamento. Com o
objetivo de reconhecer a educação como promotora de saúde.

Explorando os temas que a população mais se interessou percebe-se


uma carência de conhecimento sobre a própria condição de saúde, alguns
relataram que não percebem quais os momentos em que sua pressão começa
a alterar, outros dizem não conseguir cumprir com todas as orientações médicas,
seja no tratamento medicamentoso, nos hábitos considerados de risco ou na
alimentação.

No quarto encontro (25/11/2022), a equipe acadêmica apresentou os


resultados para o público presente 4 (quatro) pessoas. Foi dada ênfase no fator
stress que acarreta os maiores níveis de pressão, conforme relatado nos
questionários respondidos pelos pacientes, a equipe fez a referência sobre a
decisão de seguir o tratamento e de se colocaram como fator mais importante
de suas vidas. Foi abordado o tema stress e a relação com os aumentos dos
picos de pressão e como controlar a mente para que a saúde não seja
impactada. Foi servido um lanche com frutas regionais e foi dado um brinde em
agradecimento a participação de todos.

Neste encontro, mesmo com o agendamento de retorno realizado,


tivemos o absenteísmo de 60% dos pacientes. Isso demonstra a dificuldade de
controle da unidade básica de saúde, e o baixo compromisso dos pacientes em
seu retorno para acompanhamento da saúde. Isso implica em ausência de
informações clínicas atualizadas sobre as condições de saúde, o que
compromete o acompanhamento destes clientes quanto ao risco de
complicações bem como a adesão completa à terapia proposta. Os usuários
procuram a unidade para a renovação de receita, recebem o medicamento e
somente retornam quando a receita está próxima de vencer novamente.

Dos 10 pacientes analisados neste estudo, 90% eram do sexo feminino e


10% do sexo masculino. A faixa etária predominante foi de 47 a 64 anos, com
média de 57 anos. Estudos apontam que o aumento da população feminina com
hipertensão tem ocorrido pelo fato de as mulheres procurarem mais o
atendimento de saúde do que os homens. O tempo médio em que os pacientes
foram diagnosticados com hipertensão é de 4 anos ou mais (80%) e 3 anos
(20%). Apenas 30% dos pacientes entrevistados foram diagnosticados na UBS
Dr. Silas Santos. No que se refere ao acompanhamento de saúde para o controle
da pressão arterial na Unidade Básica de Saúde, 80% realizam 4 retornos ou
mais por ano, 10% retornam 2 vezes ao ano e 10% comparecem apenas quando
sentem o mal-estar a ponto de não conseguir realizar as suas atividades diárias.

167
Na pesquisa 100% dos pacientes informam que a UBS fornece a
medicação para hipertensão sempre que eles necessitam e que não tiveram
experiências negativas com falta de remédio durante a chegada deles na
unidade. Em relação aos motivos que podem interferir na decisão de um
acompanhamento mais frequente na Unidade Básica, 58,3% cita a dificuldade
de agendamento de consultas, 33,3% relatam a falta de tempo para cuidar da
saúde e 8,33% informam que por não sentirem mal-estar, não veem a
necessidade de comparecer a unidade básica de saúde para acompanhamento.
No que tange a outras pessoas no mesmo recinto familiar que também possuem
hipertensão, 40% dos pacientes possuem outras pessoas da família com o
diagnóstico e 60% não possuem. Em relação a outras situações crônicas de
saúde 50% não possuem outras condições crônicas, 30% possuem diabetes e
20% possuem outras comorbidades.

Dos fatores que os pacientes entendem que influenciam para que tenham
dificuldade em controlar a sua pressão arterial temos como resultado 31,25%
stress, 25% má alimentação, 18,75% relataram que não tem dificuldade em
controlar a pressão, e 50% das respostas se distribuíram nos fatores álcool,
ansiedade, não apoio/ajuda da família para seguirem o tratamento e vida
profissional. Com a finalidade de explorar os sentimentos que os pacientes
tiveram ao receber o diagnóstico, 36,84% sentiram tristeza, 21,05% sentiram
medo, 15,78% sentiram ansiedade, 10,52% sentiram raiva, 10,52% dos
pacientes sentiram indiferença, e 5,26% apenas, se sentiram aliviados em ter um
diagnóstico validado para seguirem cuidando da saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para o paciente que recebe o diagnóstico da hipertensão, é importante


adesão ao tratamento medicamentoso, pois seguindo o plano terapêutico poderá
obter resultados de forma positiva sobre a sua saúde. Evitando comorbidades e
trazendo resolutividade do tratamento. A equipe de saúde tem um papel
importantíssimo ao desenvolver ações de promoção, prevenção e tratamento
das doenças crônicas, pois estes consistem em meios eficazes para a redução
do impacto financeiro, social, familiar e individual, sobre a mortalidade e a
morbidade desses pacientes.

As intervenções realizadas pela equipe de saúde priorizam o diagnóstico


precoce, o acompanhamento e a adesão dos pacientes ao tratamento, para
diminuir as complicações vasculares, infarto, AVC, outras doenças associadas e
a morte. Cabe a equipe de enfermagem contribuir para redução de complicações
relacionadas a essas patologias crônicas e doenças associadas, por meio do
estabelecimento dos diagnósticos de enfermagem, plano de cuidados com a
168
utilização das Intervenções recomendadas, estabelecimento dos resultados para
realização de um atendimento holístico, eficaz e ético.

A oferta de atividades de prevenção/promoção mostrou participação e


interesse por parte dos usuários, porém percebe-se uma resistência, que não se
pôde investigar, em relação ao retorno para as práticas de educação em saúde.

Sugere-se que a intervenção possibilita um vínculo mais efetivo com a


comunidade (acolhimento, práticas e educação, prevenção e promoção de
saúde), trazendo uma melhoria quanti-qualitativa do serviço direcionado ao
usuário com maior acessibilidade e equidade. Conclui-se diante ainda da
necessidade de melhorias no serviço ofertado, para que haja ações rotineiras e
não pontuais. Deve-se um envolvimento maior por parte da equipe, gestão e dos
usuários, sendo assim o processo de trabalho terá resultados favoráveis,
produtivos e focados. Com isso o paciente hipertenso terá consciência, êxito e
reponsabilidade quanto ao seu acompanhamento e tratamento.

REFERÊNCIAS

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2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de atenção básica: Estratégias para


o cuidado da pessoa com doença crônica. Brasília: (MS);2014. Nº 35.

BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de atenção básica: Hipertensão


Arterial Sistêmica nº 15. Brasília: (MS); 2006. Nº 15.

BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica-Estratégias para


o cuidado da pessoa com doença crônica-Hipertensão Arterial Sistêmica.
Brasília: MS; 2010. Nº 37.

BRASIL. Ministério da Saúde. Você sabe o que é Hipertensão? Brasília: MS;


2022.

BRASIL. Ministério da Saúde. Hipertensão arterial. Brasília, 2020.

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diabéticos com atraso na avaliação de saúde. semsa.manaus.am.gov.br.
Disponível em: <>https://semsa.manaus.am.gov.br/noticia/prefeitura-
intensifica-acoes-de-busca-ativa-de-hipertensos-e-diabeticos-com-atraso-na-
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169
saude/#:~:text=Atualmente%2C%2035%2C12%25%20dos,est%C3%A3o%20c
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2022.

GIMENES, M.G.G. Definição, foco de estudos e intervenção. In: Carvalho, M.


M. M. J. org. introdução à psico-oncologia. Campinas: Editorial, 1994.

MACHADO, M. C., PIRES C. G. S., LOBÃO, W. M. Concepções dos


hipertensos sobre os fatores de risco para a doença. SciELO - Scientific
Electronic Library Online. Maio, 2012.

MALAGRIS. L. E.N., Pacheco D.S.G. Hipertensão arterial. In: Psicoeducação


em terapia cognitivo-comportamental/ org. Carvalho M. R., Malagris L.E.N.
p. 188 – Novo Haburgo: Sinopsys, 2019.

PICANÇO. N. J. A. et al. Perfil dos hipertensos na Amazônia, Brasil. Revista


Eletrônica Acervo Saúde/Electronic Journal Collection Health. Vol.Sup.35|
e1633 DOI:

https://doi.org/10.25248/reas.e1633.2019

ANEXOS

170
A equipe no primeiro encontro, conhecendo a unidade Básica de Saúde (04-11-
2022)

Conhecendo a Farmácia da unidade (11-11-2022)

171
Conversando com a enfermeira responsável (11-11-2022)

172
A equipe com a enfermeira (11-11-2022)

173
A equipe com os pacientes hipertensos no primeiro encontro de
psicoeducação (18-11-2022)

Apresentação de conceitos e métodos de tratamentos (18-11-2022)

174
Dia do quarto encontro: apresentação dos resultados

e roda de conversa (25-11-2022)

175
Confraternização com as pacientes após a prática de psicoeducação
(25-11-22)

A equipe finalizando a prática

de educação em saúde (25-11-2022)

176
Folder distribuído para os pacientes da UBS dr Silas de Oliveira

177
CAPÍTULO VIII

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR NO VIÉS DA SAÚDE


MENTAL DOS DOCENTES EM PERÍODO PÓS-PANDÊMICO EM UMA
INSTITUIÇÃO DE ENSINO FUNDAMENTAL I DE MANAUS: UMA
ABORDAGEM SOCIOINTERACIONISTA

CONTRIBUTIONS OF SCHOOL PSYCHOLOGY ON THE MENTAL HEALTH


BIAS OF TEACHERS IN THE POST-PANDEMIC PERIOD IN AN
ELEMENTARY EDUCATION INSTITUTION I IN MANAUS: A SOCIO-
INTERACTIONIST APPROACH

Bárbara Uchôa Batista33


Thamara Brasil Marinho da Costa34
Elizângela da Rocha Mota35

RESUMO

O pós-pandemia revela as consequências das mudanças na educação básica, o qual impacta


na saúde mental dos professores, já que se deparam com problemas diários no trabalho somado
ao catalisador pandemia de COVID-19. O objetivo geral, analisar a psicologia escolar no viés da
saúde mental dos docentes em período pós-pandêmico em uma instituição de ensino
fundamental I de Manaus, bem como os objetivos específicos, desenvolver habilidades
socioemocionais para manejo das relações interpessoais existentes no contexto escolar, intervir
em grupo considerando o indivíduo e meio no processo de transformação e promover saúde
mental embasado na teoria sociocultural de Vygotsky mediante cenário pós-pandêmico. Trata-
se de pesquisa campo de cunho qualitativo, delineada com a abordagem sócio-histórica de
Vygotsky no âmbito escolar com os docentes. Espaços de diálogo são importantes para o
desenvolvimento da pessoa humana, oportunizando visualizar estratégias viáveis e efetivas para
os problemas enfrentados ao longo da docência. Dessa forma, a psicologia escolar possui
instrumentos transformadores, aplicados na promoção da saúde mental dos professores,
ocasionando melhora na qualidade de vida das pessoas.

33
Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail:
barbarauchoa@rede.ulbra.br
2
Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail:
thamarabrasilmarinho@rede.ulbra.br
3
Orientadora: Elizângela Mota. Mestre em Educação em Ciência na Amazônia (UEA). E-mail:
elizangela.mota@ulbra.br

178
Palavras-chave: Ensino; Aprendizagem Baseada em Problemas; Fenômenos Psicológicos.

ABSTRACT

The post-pandemic reveals the consequences of changes in basic education, which impacts the
mental health of teachers, as they face daily problems at work added to the catalyst for the
COVID-19 pandemic. The general objective is to analyze school psychology in the mental health
bias of teachers in a post-pandemic period in an elementary school I in Manaus, as well as the
specific objectives to develop socio-emotional skills to manage existing interpersonal
relationships in the school context, intervene in group considering the individual and environment
in the process of transformation and promoting mental health based on Vygotsky's sociocultural
theory in a post-pandemic scenario. This is a qualitative field research, outlined with Vygotsky's
socio-historical approach in the school environment with teachers. Spaces for dialogue are
important for the development of the human person, providing the opportunity to visualize viable
and effective strategies for the problems faced during teaching. In this way, school psychology
has transformative instruments, applied to the promotion of teachers' mental health, resulting in
an improvement in people's quality of life.

Keywords: Teaching; Problem-Based Learning; Psychological Phenomena.

1 INTRODUÇÃO

Em 2019 surge na China uma nova cepa do coronavírus (CoVs),


classificado como síndrome aguda grave coronavírus 2 (SARS-Cov-2) (HABAS
et al., 2020). Em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS)
anuncia a pandemia de COVID-19, sendo considerada a proporção de um vírus
transmissível e o problema de cunho mundial no âmbito da saúde (HABAS et al.,
2020). Ocasionou-se, desordem na vida das pessoas, o qual precisou rever a
rotina, como também estratégias para trabalharem em segurança.

As situações apresentadas, inferem-se os métodos utilizados no Brasil em


uma crise global, o qual modificou a dinâmica da sociedade contemporânea,
requerendo intervenções na área educacional em que os profissionais se
reinventaram conforme a realidade: “A transferência das atividades de ensino
para a modalidade a distância afeta de modo desigual os diferentes grupos de

179
professores bem como as famílias, segundo suas características
socioeconômicas”. (GONÇALVES; GUIMARÃES, 2021, p. 774).

Evidenciou, a sobrecarga de trabalho, já que os professores precisaram


conciliar as atividades diárias do trabalho e transformar em conteúdo virtual,
como também aumentou as necessidades de as famílias serem atendidas pelo
celular, através dos aplicativos de conversa. Dessa forma, o sentimento de
ambivalência temor (medo) e alivio, ocorreu nas aulas hibridas de 2021 nas
escolas estaduais do Amazonas e depois de dois anos em 2022 o retorno de
todas as instituições de ensino públicas e privadas.

Em consonância com esses antecedentes o pós-pandemia precisa de um


olhar mais especializado e coerente com a demanda apresentada. Torna-se
premissa norteadora deste estudo que consiste em uma lacuna cientifica e de
ausência social. Como inserir as contribuições da psicologia escolar no viés da
saúde mental dos docentes em período pós-pandêmico em uma instituição de
ensino fundamental I de Manaus: uma abordagem sociointeracionista?

Assim como, o objetivo geral é analisar a psicologia escolar no viés da


saúde mental dos docentes em período pós-pandêmico em uma instituição de
ensino fundamental I de Manaus, bem como, os específicos, desenvolver
habilidades socioemocionais para manejo das relações interpessoais existentes
no contexto escolar, intervir em grupo considerando o indivíduo e meio no
processo de transformação e promover saúde mental embasado na teoria
sociocultural de Vygotsky mediante cenário pós-pandêmico.

Trata-se de pesquisa campo de cunho qualitativo, embasado na teoria de


histórico-cultural, sociointeracionista ou sociocultural de Vygotsky em uma
instituição estadual de ensino fundamental I de Manaus, advindo da disciplina de
intervenção psicossocial classificada no programa de extensão interdisciplinar
(PEI) que visa aproximar o acadêmico da sociedade, através das disciplinas PEI.

180
A escola possui cinco salas climatizadas, uma quadra esportiva, refeitório,
cozinha, sala da direção e secretaria. Os funcionários são acolhedores e
receptivos, além disso o corpo docente é aberto a sugestões de atividades.

A psicologia escolar ao planejar intervenções tem o intuito em primeiro


lugar de perceber o contexto, por um levantamento de necessidades;
consequentemente visa melhorar as práticas educacionais ao promover a saúde.
“A necessidade de introduzir a psicologia nas escolas é real, não somente para
lidar com o comportamento dos alunos, mas também para conhecer e introduzir
políticas públicas de prevenção do adoecimento mental dos professores”
(ARAUJO et al., 2020, p. 3). Isso porque, a ênfase distância do aspecto de olhar
o ser humano com a ótica da doença, pois é um ser que precisa de cuidados.

A pessoa em sofrimento ou doente tem a perspectiva social de afastar-se


provisoriamente ou definitivamente das funções desempenhadas, enquanto o
trabalhador ao serem sadios servem e cumprem os seus deveres (FOUCAULT,
1972). Parece importante ampliar o panorama, sendo imprescindível inserir
práticas de promoção da saúde e valorização dos colaboradores. Diante dessas
necessidades, surge o projeto de intervenção com os professores, que visa
atender de forma holística e singular os profissionais, na busca de encontrar
estratégias de enfrentamento referente ao cenário pós-pandemia de COVID-19.

Em decorrência da lacuna na literatura sobre estudos de psicologia


escolar no norte do Brasil, torna-se fundamental para a prática dos acadêmicos
e profissionais conhecerem a realidade sociocultural de sua região. Logo, o
presente estudo será importante para compartilhar as experiências das
acadêmicas de psicologia do 9º semestre da disciplina de intervenção
psicossocial, enfatizasse que as práticas serão supervisionadas.

181
MÉTODO

2.1-TIPO DE ESTUDO:

A pesquisa será um estudo qualitativo, com abordagem sócio-histórica de


Vygotsky. Segundo Marconi e Lakatos (2003) a pesquisa qualitativa consiste em
investigações de pesquisa empírica cuja principal finalidade é a análise das
características de fatos ou fenômenos.

Nesse sentido, escolheu-se o método observação-participante que


possibilita a interação com os indivíduos, o qual ambos são influenciados
mutuamente, já que vivência as atividades com o grupo (MARCONI; LAKATOS,
2003).

2.2-LOCAL

O retorno seguiu segundo o planejado pelo Governo do Estado do


Amazonas (2020), que foi na modalidade híbrida, isto é, aulas online e
presenciais divididas em dois grupos: A e B; além disso, passaram por uma
adequação na estrutura para atender os protocolos de medidas de segurança da
pandemia de Covid-19, como a instalação de torneiras, pias e dispenser para
álcool em gel, em locais estratégicos para facilitar a higiene das mãos (Governo
do Estado do Amazonas, 2020).

A escola tem o funcionamento no turno matutino e vespertino. Todavia,


foi implementado o projeto de intervenção, apenas no período da tarde com três
professores. Em relação ao espaço físico, apresentavam uma estrutura
preservada, possuía cinco turmas do primeiro ao quinto ano; um pátio onde os
alunos realizavam as refeições; uma sala de recursos multifuncionais - SRM; um
espaço com divisória, reservado para os professores e do outro lado uma
biblioteca; cozinha, secretaria, diretoria, banheiros e ginásio.
182
O local do projeto foi uma instituição de ensino fundamental de Manaus.
Utilizaremos o ambiente da escola nas etapas a seguir delineadas. Ressalta-se
que o “projeto de extensão em psicologia escolar” foi aprovado pelo setor
responsável em 2019, vigorou de 2019 a 2021. Dessa forma, justifica os alunos
do Centro Universitário Luterano de Manaus conhecerem o local, como saberem
das necessidades do local facilitando o levantamento de necessidades, princípio
básico da intervenção psicossocial, conhecer as demandas da perspectiva dos
usuários do serviço. Além disso, o projeto com os professores foi aprovado pela
respectiva instituição responsável pelas escolas, através da autorização
concedida durante o processo de análise do projeto, também autorizado pelos
docentes e gestão da escola.

No que lhe concerne, a sugestão das atividades seria no “HORÁRIO DE


TRABALHO PEDAGÓGICO – HTP”, visto não interferir nas atividades dos
alunos, podendo ser revisto, horários e dias da semana neste projeto. Dessa
forma, começou a fase 2 foi realizada em maio e em junho de 2022 os encontros
começaram na sexta-feira, sendo semanalmente totalizando três encontros. A
princípio foi planejado 5 encontros, porém por motivos de tramitação do processo
e termino do semestre letivo na IES da equipe diretiva foi viável realizar três
encontros semanais.

2.4-COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Fase 1: Após aprovação da Secretária responsável, obtenção de


autorização da direção para a realização do projeto de intervenção psicossocial;
Fase 2: Escolha dos participantes que estejam dentro dos critérios de inclusão;
Fase 3: Aplicação do projeto Fase 2; Fase 4: Entrega do contrato e termo de
autorização (Apêndice A e Apêndice B).

Os instrumentos (Apêndice A) e (Apêndice B) a ser utilizado será um


contrato, termo de autorização, bem como diário de campo das pesquisadoras.

183
Os instrumentos consistem em um levantamento de dados. O contrato, possui a
apresentação das regras para ambas as partes envolvidas. A primeira parte do
é composta, a saber: idade, se é professor, de qual disciplina (opcional).
Posteriormente, as regras e acordos.

Para Marconi e Lakatos (2003) o roteiro é um instrumento de coleta de


dados, constituído por uma semiestruturada, utilizado pelo pesquisador. Assim,
utilizaram-se elementos que facilitem a compreensão e execução do projeto.
Esse estudo foi subdivido em duas categorias: Relacionamento interpessoal
propostas emergentes da saúde mental dos professores e as demandas
contemporâneas na perspectiva da intervenção dos docentes com os
alunos.

Departamento ou setor

Coordenação de psicologia do Centro Universitário Luterano de Manaus

A professora MSc. Elizângela da Rocha Mota responsável, bem como


coordenadora do curso de psicologia. Assim, compõem as acadêmicas de
psicologia Bárbara Uchôa Batista e Thamara Brasil Marinho da Costa.

Fase 3 – Aplicação do projeto com três professores

Escolhidos os profissionais na fase 2, data 31/05/2022.

1º Encontro – 03/06/2022

Os docentes foram acolhidos, através da escuta breve de como estavam


naquele momento. Foi apresentado aos participantes o contrato terapêutico, o
qual constam as regras do grupo. Em seguida estabelecido dois encontros
semanais. Foi realizado a escuta em grupo referente ao ambiente de trabalho,
visando proporcionar verbalização das suas questões, posteriormente pensados

184
de maneira real os problemas com impressões de agora, na posição de
observador da situação.

2º Encontro – 10/06/2022

Expressaram os seus problemas e pensaram sobre possíveis soluções


viáveis. A instrução ao final: Vocês conseguem aplicar durante a semana?

3º Encontro – 21/06/2022

Foi identificado como conseguiram aplicar as suas soluções e quais foram


as emoções e sentimentos despertados. Escutado o feedback dos participantes,
bem como a devolutiva individual para cada integrante do grupo.

Nesse sentindo, no primeiro encontro foi realizado com duas professoras


em grupo, participante A e participante B por motivos de prova com seus alunos
a professora participante C que seria atendida no segundo tempo não
compareceu no primeiro encontro. No segundo encontro foi possível realizar com
duas professoras separadamente, participante A e participante C, no entanto, a
professora participante B que havia sido atendida não estava com horário
disponível, pois tinha que lecionar para seus alunos. Na terceira semana a
equipe diretiva conseguiu atender todas as participantes separadamente em
seus respectivos horários de HTP.

2.5. Cuidados Éticos

Os participantes serão esclarecidos que a coleta de dados se dará por


meio de encontros semanais. Ao adentrarem, farão a leitura do contrato e termo
de autorização (Apêndice A) e (Apêndice B).

Na fase 2 foi selecionado os docentes, porém foi verificado a dificuldade


em conciliar os horários para formar um grupo. Foram incluídos três docentes

185
para realizar a intervenção, sendo o horário do HTP para não interferir em suas
atividades com os alunos.

Segundo o artigo 1° fazem obrigação do profissional: Fornecer, a


quem de direito, na prestação de serviços psicológicos,
informações concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu
objetivo profissional (Resolução N° 010/2005).

Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não


psicólogos:

a) Encaminhará a profissionais ou entidades habilitados e


qualificados demandas que extrapolem seu campo de atuação;

b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar


o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das
comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as
receber, de preservar o sigilo.

Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim


de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das
pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no
exercício profissional.

Art. 14 – A utilização de quaisquer meios de registro e observa-


ção da prática psicológica obedecerá às normas deste Código e a
legislação profissional vigente, devendo o usuário ou
beneficiário, desde o início, ser informado. (CONSELHO FEDERAL
DE PSICOLOGIA, 2005)

3.0. Resultados/Discussão

Infere-se, portanto, a intervenção psicossocial no campo da discussão de


mediar as estratégias de melhoria da qualidade de vida das pessoas. A
intervenção psicossocial tem origem em multi-referenciais teóricos, já que
necessita utilizar a psicossociologia com preceitos na mudança e pesquisa,
conforme o cenário social. “Lewin introduziu ainda o termo “dinâmica de grupo”,
em 1944” (NEIVA, 2010). Dessa forma, foi adequado utilizar a pesquisa-ação no
intuito de trabalhar a materialização em paralelo com a prática.

186
Na busca de contenção da propagação do vírus, os pesquisadores
orientaram sobre a importância das medidas preventivas e os impactos
benéficos na sociedade, inclusive adotar o distanciamento físico (GONÇALVES;
GUIMARÃES, 2021). Nesse sentido, as instituições de ensino mudaram os
meios de mediar o conhecimento, optou-se pelo virtual, conhecido popularmente
como remoto. E em 2022 com o retorno de todas as instituições foi marcado pela
readaptação gradativa a nova realidade.

Entretanto, as modalidades de educação a distância em países em


desenvolvimento mostram-se desafiadoras, visto a acessibilidade aos meios que
viabilizem o acesso de qualidade à internet, incluindo instrumentos eletrônicos
(celulares, computadores e outros), em quantidade suficiente para os estudantes
(SANGADAH, 2020). Dessa forma, o cenário da pandemia foi demonstrado na
fala das professoras que exemplificaram as dificuldades no cenário escolar pós-
pandemia.

No que lhe concerne, no primeiro encontro foi enviado antecipadamente


o contrato para a participante A, pois uma das interventoras tinha o seu contato.
A princípio foi realizado o acolhimento das professoras, a nossa apresentação,
posteriormente explicado sobre os objetivos do projeto de intervenção
psicossocial. Nesse estudo, optou-se por referir aos professores como:
participante A (PA), participante B (PB) e participante C (PC).

Relacionamento interpessoal propostas emergentes da saúde mental dos


professores

1º Encontro – 03/06/2022

Participante A

187
Foi solicitado um exemplo, de problemática vivenciado no âmbito da
escola ou da docência. A participante A, disse que a relação dela com a Z estava
desagradável, pois segundo a professora:

Z é autoritária, não conquistou as professoras que já estavam na


escola durante mais de 20 anos, já chegou impondo suas decisões,
fazendo mudanças nos processos costumeiros, como por exemplo, a
organização da festa junina, isso causou uma certa barreira entre elas.
(participante A, 2022).

No entanto, a participante A que trouxe a demanda do relacionamento


com Z teve dificuldades de citar exemplos mais detalhados e profundos quando
foi questionada.

Admitir que a função e a lógica dos sonhos são primárias do ponto de


vista da função biológica, que o pensamento surgiu na série biológica
e desenvolveu-se na transição das formas animais inferiores para as
superiores e destas para o homem como função de auto-satisfação,
como processo subordinado ao princípio do prazer, é um non-sense
precisamente do ponto de vista biológico. (VYGOTSKY, 2011, p. 40).

Ademais, necessitou compreender que o pensamento voltado para


realidade tem desenvolvimento consoante o ambiente, pois o ser humano tem
expressão social. Nessa ótica, o prazer é complexo impossibilitando a limitação
ao biológico, necessário a contextualização. Dessa forma, existiram dificuldades
em saber mais detalhes sobre as situações visando melhor expressão das
problemáticas.

188
2º Encontro – 10/06/2022

Participante A

Dificuldades de interação, socialização após passar pela pandemia,


incluído restrições como isolamento e mudança de rotina. Segundo Wortmeyer,
Silva e Branco (2014) “como ponto de partida, toma a noção de que a emoção
representa uma descarga de energia nervosa que vai de encontro à lógica de
economia energética do organismo” (p.3).

- I: Você entende que existe vantagem e desvantagem em mudar de


escola.

- PA: A pessoa que sai apreende que vai ficar a vida toda fugindo dos
professores.

- I: E realmente existe o alívio imediato, só que tem uma coisa sempre


irão existir pessoas assim.

- PA: Então, eu que preciso mudar?

- I: Sim, você sabe como sair dessa situação, possíveis estratégias.

- PA: Não me ajuda a pensar.

- I: No caso da festa, você pode pensar também em seus alunos que


ficam felizes e não somente na reação da gestora. Você consegue
entender eu tenho 10 dedos, porém se machuco esse, não olho para
os outros.

- PA: Estou entendendo olhar os pontos positivos.

- I: Não somente, porém olhar a integralidade, os pontos positivos e


negativos na integralidade. Outra questão é voltar a fazer o que tinha
deixado de fazer. Por exemplo, colocar bandeirinhas, você pode pedir
para a Z. Se ela disser que não, você acolhe, porque fez sua parte. Ao
longo da semana você tenta fazer alguma dessas coisas e ver o que
consegue.

- PA: Tudo bem. (Participante A, 2022).


189
Evidenciar, formas de comunicação sem desperdiçar esforços
desnecessários são habilidades essenciais para serem construídas. “A
consciência moral, na perspectiva de Vygotsky, só teria valor real se estivesse
vinculada com a prática, e calcada em uma consciência encarnada e concreta”
(VYGOTSKY, 2001 apud BAGGIO; ALENCAR, AQUINO, 2021).

Participante C

Primeiramente, explicado sobre o contrato e entregue para realizar a


leitura em casa, pois foi primeiro encontro da participante C.

O psicólogo escolar auxilia os professores, por rodas de conversas ou


criar espaços alternativos para dialogar sobre as angústias vivenciadas na
instituição. “No decurso da evolução do pensamento e da fala gera-se uma
conexão entre um e outra que se modifica e desenvolve”. (VYGOTSKY, 2001, p.
118). Na perspectiva do trabalho com multiprofissionais, importante transitar pelo
conhecimento para desconstruir paradigmas, já que cada pessoa constrói os
seus próprios significados.

PC: Sabe eu sou como atriz ali, o Renato Aragão eu já li a biografia


dele, é bem antipático, porém a imagem dele é de uma pessoa
divertida. Eu não gosto muito de ficar no HTP prefiro ficar em sala de
aula, porque gosto de ambientes tranquilos. Eu não me importo de ficar
em sala de aula mesmo, sabe que os professores estão ganhando sem
trabalhar.

I: Tem algo que lhe incômoda?

PC: Uma vez estava com a professora e ela deixou as coisas na sala
fiquei chateada, por ela desfazer o que tinha feito. Depois, parei para
refletir a aula é dela, independente se é na sala ou na quadra ela coloca
as coisas onde preferir. Eu fiquei tão chateada, porém fiz esse
exercício. Eu não gosto de ficar onde falam mal das pessoas não me
sinto bem, prefiro sai, mas aprendi que eu tenho que me expressar e
falar o que gosto e não gosto antes colocava tudo para dentro de mim.

I: Na emoção é algo que não tem como controlar, porém o que você
faz tem. A única coisa seria você se acolher e saber que é humano

190
sentir a emoção. Ao longo da semana tenta se acolher quando não sair
como planejado.

Então, a conquista diária para conseguir elaborar atividades que


promovam a diminuição da tensão são emergentes, frequentemente nomeada
como estresse.

Terceiro encontro 21/06/2022

Participante A

Este autor considerava a arte um elementar primordial no processo de


catarse do homem, ou seja, através das artes os processos psicológicos
poderiam ser facilitados (FARIA et al., 2019). Ainda segundo Farias, em
Psicologia da Arte, concebe a arte para expressão e reelaboração emocional
que delineia o início de seus esforços no sentido de desenvolver uma nova
abordagem para a psicologia. Este conceito permeia as contribuições
vygotskyana sobre o processo de transformação do homem, que ao
compreendê-lo em sua magnitude percebemos influências culturais e sociais nos
processos de construção cognitiva.

- PA: Só fiquei sabendo porque uma aluna disse que a irmã dela já
tinha recebido as rifas e a minha turma não recebeu. Sabendo disso
perguntei para a Z, porque sua turma não tinha recebido. A Z disse que
a máquina tinha quebrado. Sabe mana ela podia ter dito, eu dava um
jeito de imprimir. Agora, justifica isso. Eu respirei fundo e lembrei de
você.

- I: Parabéns que você conseguiu se controlar. I: Qual o seu feedback,


resposta da intervenção?

- PA: Só acrescentaria que tem de ser individual, o projeto é muito bom


se pegasse todos os professores seria melhor, o projeto foi ótimo me
ajudou muito, porque estava aberta a participar e a cumprir as tarefas.
(Participante A, 2022).

É importante salientar que para Vygotsky, o homem precisa está em


comunhão com a sociedade, para assim se construir, pois, acreditava que o
homem e os processos social-cultural são indissociáveis. Nesse sentido, é

191
levantado o questionamento sobre o conceito amplo que toda psicologia seria
individual, mas segundo as contribuições desse autor, a psicologia individual
também seria de certa forma social (Faria et al., 2019).

participante C
Na terceira semana, foi realizado o segundo encontro com a participante
C que ficou com uma atividade para desenvolver durante a semana. Essa
professora tem uma certa dificuldade em se abrir, tem muito cuidado com as
palavras e muito medo de estar julgando alguém. Por exemplo, não gosta de
citar nomes, não gosta de transmitir ideias julgadoras de outras pessoas, a
participante C constantemente vigilante no seu comportamento para não ser
injusta com ninguém.

-PC Sabe semana passada teve uma coisa que a Z decidiu no começo
estava muito chateada e até pensei dizer para a pessoa porque iria
prejudicar a minha turma. Eu fiquei muito feliz, porque deu tudo certo
sem eu precisar fazer nada veio a ordem de cima. E eu fiquei muito
feliz. Mas não quero mais tarefa (risos) porque não quero mais passar
por isso.

- I O que você aprendeu dessa situação?

- Eu consegui esperar e tudo se resolveu, se fosse não se resolvesse


realmente teria que tomar uma atitude.

- I: O nosso trabalho também é validar os comportamentos adequados


espero que continue assim expressando suas emoções.

I: O que você achou da intervenção, algo que podemos melhorar ou


que gostou?

- Eu gostei foi importante esse momento para falar. (Participante C,


2022).

Em conformidade, o silêncio e o discurso são aspectos de profunda


ligação com o interpretar, em que “a função primordial da linguagem, tanto nas
crianças como nos adultos, é a comunicação, o contato social”. (VYGOTSKY,
2001, p. 24). Assim, as interventoras deixaram evidente sobre o sigilo, porém a
professora não se sentiu confortável em citar nomes ou fazer certos comentários.
192
As demandas contemporâneas na perspectiva da intervenção dos
docentes com os alunos

1º Encontro – 03/06/2022

Participante B

Lev Vygotsky visualizou o ser humano na integralidade, evitando o


reducionismo de somente considerar os aspectos biológicos, enfatizou sobre a
cultura como maneira do homem expressar a linguagem; o desejo de
desempenhar atividades tem origem com o social. Isso porque o homem precisa
do outro no corpo social para representação. Logo, as dificuldades no cotidiano
são internalizadas de forma singular em cada professor, segundo a participante
B relatou sobre dificuldade em lidar com a fome dos alunos e “levei para casa o
aluno para dar de comer, a fome não é algo que se espera”.

Assim, cabe ao caro leitor deixar as indagações em aberto: “no decurso


da evolução do pensamento e da fala gera-se uma conexão entre um e outra
que se modifica e desenvolve” (VYGOTSKY, 2001, p. 118).

Assim, a participante B trouxe demandas um pouco mais globalizada e


abrangentes. Relata sobre a dificuldade em não conseguir atender todos os
alunos principalmente com relação à leitura, por exemplo, “numa sala de 25
alunos apenas 15 sabiam ler enquanto 10 estavam com muitas dificuldades”. A
participante B pediu ajuda com relação a isso. Além disso, percebeu o
agravamento quando os alunos retornaram da pandemia.

As pressões exercidas sobre o corpo docente das escolas públicas


brasileiras variam de inúmeras formas. Desde a parte que o professor
adentra a sala de aula para ensinar inúmeros alunos diferentes e que
absorvem de forma diferente o conhecimento, até o momento que ele
conclui suas atividades diárias e precisa retornar as atividades comuns
do cotidiano do trabalhador. A carga horária de um professor, que
costumeiramente é chamada de cadeira, varia de 30 a 35 horas
semanais. A grande maioria dos professores brasileiros possuem duas
cadeiras, o que varia de 60 a 70 horas semanais de trabalho. O tempo
193
de desenvolver atividades, corrigir provas e elaborar o plano a ser
apresentado, geralmente estão excluídos das horas semanais
trabalhadas, o que pode interromper ciclos essenciais dos professores,
como o convívio familiar e a prática de atividades que geram prazer
(ALMEIDA JLV; GRUBISICH TM, 2011 apud ARAUJO et al., 2020, p.2)

Em conformidade, participante A concordou com participante B que as


mudanças ocorridas no sistema são nítidas “antes os alunos não passavam de
qualquer jeito, hoje os alunos têm mais facilidade para passar de ano, existem
facilidades para conseguirem a nota 6”. Na verdade, a identidade é notada na
dialética da igualdade e da diferença, ou seja, o ambiente atua sobre o homem
que também tem reação recíproca, mas a singularidade persiste seja entre
nações ou dentre os indivíduos (LEÃO; ALMEIDA, 2016).

3º Encontro – 21/06/2022

Participante B

Por conseguinte, a preocupação sobre o aprendizado dos estudantes


ocasiona somatização, onde são percebidas alterações no comportamento e até
mesmo desencadear alguns transtornos mentais. Então, resgatar a infância dos
educadores cria um espaço propício para o desenvolvimento emocional e
defesas que protegem da complexa realidade (ARAUJO et al., 2020).

- PB: Porque a participante A não veio?

- I porque os HTPs deram conflito e hoje só consegui atender


individualmente.

- Ah! Tá. Tudo bem.

- Na última sessão falamos sobre o que incomodava. Você disse sobre


as questões dos alunos. Realmente não gosto sei o que vai acontecer
com o nível de aprendizagem depois dessa pandemia. Estão muito
baixo a aprendizagem.

- I: como você se sente lidando com essas questões?

194
- Eu consigo lidar bem com essas coisas no sentido emocional não
chego a ficar triste, sei separar.

A professora relatou um pouco da sua vida família e que consegue lidar


e gerenciar conflitos familiares de forma saudável sempre pensando
no bem das suas filhas.

Deixa-me mostrar alguns materiais. Abriu e mostrou os objetos que


constrói para dar aula para os seus alunos. Ao final seu feedback foi
que gostou da intervenção e que bom estarmos inseridos no campo da
psicologia, sempre melhorando. (Participante B, 2022).

Entende como é o sistema e sabe que "uma andorinha só não faz verão",
mas mesmo assim ela dá o melhor, depois disso a participante B falou um pouco
sobre a vida, sobre o casamento, os filhos, sobre o esforço que faz em elaborar
uma boa aula. Ademais, fez questão de mostrar os cartazes que utiliza durante
as aulas, falou sobre as viagens que fez e sobre a vontade de fazer o curso de
psicologia, pois é uma área que ela sempre se identificou, informalmente estudou
e trouxe para a sua família alguns ensinamentos.

[...] Libertar o pensamento de todos os componentes sensoriais,


inclusive as palavras, não apenas colocam o problema da relação entre
as duas funções, mas também, a seu modo, tentam resolvê-lo. Na
verdade, entretanto, são incapazes de colocá-lo de uma maneira que
permita uma solução real. (VIGOTSKI, 2001, p.3).

Ao conseguir alinhar os pensamentos na contemporaneidade, surgem


questionamentos perante aquilo que é mostrado, como transcender em um
mundo extremamente efêmero? Eis a questão!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A verbalização dos problemas, proporcionou alívio para as docentes, além


disso, foi perceptível a adesão as intervenções propostas pela equipe diretiva. O
programa de extensão interdisciplinar inserido na modalidade de disciplina,
facilita o diálogo dos estudantes com a comunidade, por ser essencial aproximar
195
os serviços da psicologia a todas as pessoas. Infere-se, portanto, o ganho
recíproco entre ambas as partes, pois aprendizagem significativa é construída
com aproximação do exercício da profissão.

A intervenção psicossocial foi imprescindível para reconhecer o local com


as suas verdadeiras necessidades, com a sensibilidade e flexibilidade dos
interventores em ajustar o projeto a realidade da escola. Dessa forma, a
psicologia propiciou, enquanto acadêmicas utilizar a humanização como uma
ferramenta de gestão. Isso porque, sabíamos do nosso comprometimento com
o projeto e as expectativas criadas pelas participantes, então oferecer um serviço
digno e de qualidade foram objetivos pessoais e profissionais alcançados.

As limitações desse estudo, foram conciliar os horários dos HTPs das


professoras, o atraso no cronograma para aplicação, ocasionando redução dos
encontros, além disso, o tamanho da amostra não permite melhor compreensão
da versatilidade da docência. Sugere-se, pesquisas que possibilitem construir
tecnologias educacionais e sociais na perspectiva da saúde mental na docência,
como também, no desenvolvimento de habilidades interpessoais no trabalho
para professores, incluindo temáticas emergentes para serem propostas aos
alunos, especificamente no panorama de estratégias em lidar com as questões
emocionais dos docentes frente a essas circunstâncias.

REFERÊNCIAS

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para o corpo docente: uma revisão bibliográfica. Revista Eletrônica Acervo
Saúde, v. 12, n. 10, p. e 4559, 23 out. 2020. Disponível em:
<file:///C:/Users/Win10/Downloads/4559-Artigo-49323-3-10-
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BAGGIO, Bruno Rolim, ALENCAR, Thalita Lays Fernandes de e AQUINO,


Fabiola de Souza Braz. A moral na perspectiva histórico-cultural: uma
revisão da literatura. Fractal: Revista de Psicologia [online]. 2021, v. 33, n.
196
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<https://doi.org/10.22409/1984-0292/v33i1/5736>. Epub 10 Mar 2021. ISSN
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CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Aprova o Código de Ética


Profissional do Psicólogo. Resolução n° 010, de 21 de julho de 2005
Disponível em: <http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-
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FARIA, P. M. F. de, DIAS, M. S. de L., & CAMARGO, D. de. (2019). Arte e


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WORTMEYER, Daniela Schmitz, SILVA, Daniele Nunes Henrique e BRANCO,


Angela Uchoa. Explorando o território dos afetos a partir de Lev Semenovich
Vigotski. Psicologia em Estudo [online]. 2014, v. 19, n. 2 [Acessado 13 Abril
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737223446011>. Epub 13 Out 2014. ISSN 1807-0329.
https://doi.org/10.1590/1413-737223446011.

CAPÍTULO IX

BULLYING NAS ESCOLAS: AS RELAÇÕES DAS PRÁTICAS DO BULLYING


E SEU IMPACTO NA VIDA ESCOLAR

198
Ana Rosa Monteiro36
Caio Vinícius Pessoa da Silva37
Maria Karolina Nunes Araújo38
Maria Aparecida da Silva Martins39

RESUMO

O presente artigo é um estudo teórico-prático que irá abordar questões acerca de como a prática
do bullying afeta as relações interpessoais dentro do âmbito escolar e o impacto que essa
problemática causa na adolescência, a partir de uma intervenção realizada na Escola Estadual
de Tempo Integral Isaac Benzecry com estudantes na faixa de 11 a 13 anos, onde trouxemos a
temática do Bullying e debatemos a respeito do assunto e realizamos dinâmicas com os alunos.
Dentro desse âmbito, será discutido o conceito de Grupos Operativos, teoria de Pichon-Rivièree,
e iremos abordar sobre os processos de desenvolvimento cognitivo e psicossocial, nas visões
de Erik Erikson e Jean Piaget.

Palavras-chaves: Bullying escolar, Grupos Operativos, Adolescência, Desenvolvimento.

ABSTRACT

This article is a theoretical-practical study that will address questions about how the practice of
bullying affects interpersonal relationships within the school environment and the impact that this
problem causes in adolescence, based on an intervention carried out at Escola Estadual de
Tempo Integral Isaac Benzecry with students between 11 and 13 years old, where we brought
the topic of Bullying and debated about it and held dynamics with the students. Within this scope,
the concept of Operative Groups, Pichon-Rivièree's theory, will be discussed, and we will also
address the processes of cognitive and psychosocial development, in the visions of Erik Erikson
and Jean Piaget.

Keywords: School Bullying, Operative Groups, Adolescence, Development.

INTRODUÇÃO

Fazendo-se um paralelo com as temáticas vistas em nossas aulas sobre


as nuances dos grupos, um eixo temático nos evocou a atenção: O bullying.
Adentrando a este assunto selecionado, podemos averiguar que dentro dos
grupos escolares, as práticas do bullying se configuram de maneira assídua, por

36
Graduanda de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Manaus
37 Graduando de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Manaus
38 Graduanda de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Manaus
39
Profª. Dra. de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Manaus
199
meio dessas discussões, foi-se decidido abordar as esferas que estruturam as
relações das práticas de bullying juntamente com o seu impacto na vida escolar,
e como a psicologia opera e intervém nesta correlação.

A presente pesquisa tem como foco principal analisar as práticas do


bullying e seu impacto na vida escolar, identificando suas principais causas e
consequências físicas e psicológicas. E para que fosse feito um estudo amplo
sobre os efeitos do bullying e como utilizar práticas Interventivas da psicologia
para prevenir tal ato, foi necessário entender sobre o início das interações sociais
dos jovens, sendo assim, a construção dos grupos, que são importantes para a
formação da identidade, dos pensamentos e condutas de seus integrantes, como
também conhecer os processos de desenvolvimento na adolescência,
principalmente na formação cognitiva e psicossocial. Logo, Compreendendo
sobre tais temas e na problemática principal que é a prática do bullying, foi
possível iniciar uma intervenção em uma escola pública de tempo integral, com
um grupo de adolescente de 11 a 13 anos, onde foram abordados assuntos
relacionados ao bullying e como prevenir, trabalhando junto com as relações
interpessoais.

Em consonante com abordado anteriormente, a presente problemática


emergiu e se determinou de grande valência, voltando-se a atenção para a
realização deste processo de pesquisa, pois se fez notável a identificação de
surgimento de ferramentas potencializadoras dentro do parâmetro escolar em
conjunto com a saúde mental desses alunos.

Em consonância, destaca-se também a importância acerca desta


temática/pesquisa visto que, contempla os princípios de interlocução com outros
campos do saber, propiciando uma prática mais assídua e assertiva acerca das
nuances do desenvolvimento e prática do bullying. O Princípio de
interdisciplinaridade tecnológica e de recursos humanos neste projeto de
pesquisa é bastante notado, quando observamos a relação entre os profissionais
200
de outras áreas do conhecimento social e humano junto psicologia, numa
conversação que possibilita inúmeros artifícios para a inserção de métodos para
promoção de saúde dentro do contexto abordado, sendo de beneficência prática
ou da elaboração de conhecimento teórico.

Em contribuição ao que foi exposto acima, é possível notar que dentro


deste campo de pesquisa, se faz visado a proximidade juntamente com as bases
científicas, no âmbito das práticas do bullying em consonância as influências nos
grupos de adolescentes nas escolas, ampliando o caráter emergente da temática
dentro do campo do saber e da prática da psicologia.

Tema delimitado: As relações das práticas do bullying e seu impacto na vida


escolar

Problemática: Como a prática do bullying afeta as relações interpessoais dentro


do âmbito escolar?

Objetivo Geral: Analisar as consequências das práticas do bullying dentro do


ambiente escolar

Objetivos Específicos:

● Investigar se há práticas interventivas da psicologia acerca do bullying


dentro do âmbito da escola
● Entender sobre as consequências físicas e psicológicas acerca do
acometido pelo bullying
● Identificar as principais causas do bullying dentro do ambiente escolar

GRUPOS

201
Desde os primórdios o ser humano tende a agrupar-se para garantir a sua
sobrevivência, e temos a família como o grupo primordial, onde instintivamente se
dava como um lugar de proteção. No decorrer dos tempos o homem se viu na
necessidade de estar incluso em outros grupos além do familiar, sendo estes os
agentes necessários para o desenvolvimento dos pensamentos, desejos e
condutas de seus integrantes.

Logo, o Grupo não seria apenas uma somatória de indivíduos, segundo


Osório (2000), está relacionado a um conjunto de pessoas com participação
mútua e objetivos compartilhados. Sendo assim, várias pessoas esperando um
ônibus não seria necessariamente um grupo, pois, embora tenham o mesmo
objetivo de adentrar ao veículo para deslocamento, não há uma ação interativa
entre os indivíduos, que poderia caracterizá-los como grupo.

Um grupo pode ser formado por uma quantidade limitada de pessoas, com
o mesmo objetivo e pensamentos, tais como podem ser estudados dentro dos
processos grupais. Um conjunto de pessoas com fins de executar uma
determinada tarefa foi sistematizada por Enrique Pichon-Rivièree (1907-77) como
grupos operativos. Na adolescência é muito comum essa formação de grupos,
onde jovens se unem a seus iguais, a fim de se abster de suas ansiedades.

[...] o que caracteriza os grupos operativos é a relação que seus


integrantes mantêm com a tarefa e esta tarefa poderá ser a obtenção
da “cura”, se for um grupo terapêutico, ou a aquisição de
conhecimentos, se for um grupo de aprendizagem. Em sua opinião,
contudo, em essência não há diferença entre propósitos terapêuticos e
de aprendizagem. Como para ele o fundamental da tarefa grupal é a
resolução de situações estereotipadas e a obtenção de mudanças, a
distinção entre grupos terapêuticos ou de aprendizagem não é
essencial: todo grupo terapêutico proporciona aprendizagem enseja a
criação de um clima propício a resolução de conflitos interpessoais e,
portanto, é também terapêutico. (OSÓRIO, 2000, p.32)

Na adolescência é muito comum essa formação de grupos, onde jovens


se unem a seus iguais, a fim de se abster de suas ansiedades. Segundo Osório
(2000, p.79):

202
A psicoterapia analítica de grupo é, em nosso entendimento, a terapia
de escolha na adolescência, por corresponder à natural inclinação dos
adolescentes de procurar no grupo de iguais a caixa de ressonância
ou continente para suas ansiedades existenciais. Por meio do interjogo
de identificações projetivas, propiciado pelo grupo terapêutico, pode o
adolescente adquirir insight de aspectos de sua crise transicional, que
defensivamente escotomizar, e melhor superar as vicissitudes
peculiares a essa etapa evolutiva.

A tendência grupal que os adolescentes manifestam ajudam na


compreensão de seus conflitos, pois o grupo seria o guia para sua formação de
identidade. Sendo assim, para que seja feito um trabalho com grupos de
adolescentes abordando determinados temas, é necessário observá-los e
agrupá-los de acordo com uma certa faixa etária, lembrando que os grupos são
mistos quanto a sexo.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência se caracteriza como o período de transição entre a


infância e o início da vida adulta. De acordo com o ECA - Estatuto da Criança e
do Adolescente, esse momento se passa entre os doze e dezoito anos de idade
e esse processo de maturação acarreta diversas mudanças, físicas, cognitivas
e psicossociais. É um processo de descobertas, onde a pessoa passa por
grandes questionamentos sobre a própria identidade, descobertas e de fato
desenvolvendo traços da sua personalidade.

Segundo Papalia (2013), o começo da adolescência, a passagem entre a


infância e a chegada da adolescência traz consigo alguns saltos de
desenvolvimento que podem gerar também alguns riscos. Muitos adolescentes
têm dificuldade em lidar com muitas mudanças acontecendo de uma só vez,
afinal, é período em que os jovens desenvolvem a autoestima, autonomia e a
intimidade. É notório que na adolescência se destaca por captar alguns eventos
típicos dessa fase, é onde acontece o aumento na produção de hormônios
relacionados ao sexo, a maturação dos órgãos sexuais. Essa grande alteração

203
de hormônios faz parte também da grande instabilidade de humor presente
nessa fase.

Dentro dessas mudanças que ocorrem, podemos citar também o “surto


do crescimento adolescente”, que é um rápido aumento de estatura e peso que
normalmente se desperta, nas meninas, entre os dez e dezesseis anos
(geralmente por volta dos dez anos), e nos meninos entre os dez e dezesseis
anos (geralmente por volta dos doze ou treze). O surto do crescimento costuma
perdurar por cerca de dois anos; seguidamente, o adolescente alcança a
maturidade sexual (PAPALIA, 2013). Essa é uma fase que devido às diversas
alterações físicas, elas acabam por desencadear uma certa insegurança no
indivíduo, pois, cada pessoa se desenvolve de uma forma, algumas meninas têm
mais seios, outras ficam mais altas e essa mudança gera normalmente uma
queda de autoestima, por isso é um período em que a maioria dos adolescentes
estão mais preocupados com a aparência e com o julgamento de outras
pessoas.

Em paralelo a isso, esse é um estágio onde além das razões biológicas,


têm também os fatores sociais, como o meio social, cultural e familiar. Podemos
considerar está uma fase significativa do jovem no ambiente familiar, onde
começam os questionamento e racionalização de tudo o que a sociedade
disponibiliza à ele e também a relação com os pais, que têm um papel importante
nessa busca e formação de identidade, tentando conseguir a autoafirmação e
princípio de liberdade (SILVA e col. 2011).

A adolescência é a fase da certeza. Os adolescentes não desconfiam


de suas ideias e opiniões. Acreditam piamente naquilo que seus
pensamentos lhe dizem. Daí, a conclusão lógica de que todos os que
têm ideias diferentes das suas só podem estar errados. Explica-se,
assim, a sua dificuldade em lidar com opiniões discordantes. ‘Sei muito
bem o que estou fazendo’: essa é a resposta padrão que eles usam para
se destacar de uma advertência sobre um curso problemático de ação.
(ALVES. Sobre o tempo e eternidade, pág. 34).
204
Desenvolvimento Cognitivo e Psicossocial na Adolescência

As teorias do desenvolvimento têm um papel importante para descrever


como se constrói e se comporta o adolescente. Ao longo dos anos, alguns
teóricos se atentaram às variações constantes do comportamento, enfocando a
definição dessas mudanças em certos comportamentos como: cognição,
emoção etc. Estas teorias estruturaram e deram significado e coerência aos fatos
relacionados à adolescência.

Piaget sugeriu em sua teoria que o desenvolvimento cognitivo se inicia


com uma capacidade inata de se adaptar ao ambiente. Ele dividiu os estágios
de desenvolvimento cognitivo conforme o modo como ele via que as crianças se
esforçavam para compreender e atuar nesse mundo. O autor os dividiu em
quatro estágios que envolvem tipos significativamente distintos (PAPALIA,
2013). Segundo Piaget, é na adolescência que o indivíduo atinge o nível mais
alto de desenvolvimento cognitivo, que ele chamava de Operações Formais.

Um dos traços mais característicos da inteligência operatória formal é o


raciocínio hipotético-dedutivo, que é a capacidade de raciocinar “sobre simples
suposições, sem relação necessária com a realidade ou com as crenças do
indivíduo, confiado apenas na necessidade de raciocinar.” (PIAGET, 1947, p.
191).

A primeira característica das operações formais consiste em poderem


elas realizar-se sobre hipóteses e não somente sobre os objetos - é
essa novidade fundamental cujo aparecimento por volta dos 11 anos
foi notado por todos os autores. Mas implica uma segunda novidade
igualmente essência: não sendo as hipóteses objetos mas
preposições, seu conteúdo consiste em operações intra proporcionais
de classes, relações, etc., de que se poderia fornecer a verificação
direta; o mesmo ocorre com as consequências extraídas por via
inferencial; em contrapartida, a operação dedutiva que conduz as
hipóteses às suas conclusões já não é do mesmo tipo, mas sim Inter
proposicional, consistindo, portanto, numa operação efetuada sobre

205
operações, ou seja, uma operação à segunda potência.
(PIAGET,2002, páginas 48 e 49)

O sujeito, ou seja, o adolescente sofre interferências neurológicas e


ambientais em conjunto para causar a maturação cognitiva. Consequentemente,
é nesse momento que os adolescentes podem aplicar o novo conhecimento
aprendido para refletir e testar alternativas a todo tipo de problema, eles podem
elaborar uma hipótese e atribuir à uma experiência para testá-la.

Erikson, por sua vez, descreve a adolescência como um período


determinante para a descoberta da sua própria identidade, é a fase em que o
adolescente se vê questionando muitas vivências, emoções e as suas relações.
Em meio à “confusão de identidade”, o indivíduo se percebe e identifica quais
são seus valores, crenças etc.

Em seus estudos, Erikson ressalta que o adolescente precisa de


segurança frente a todas as transformações – físicas e psicológicas –
do período. Essa segurança ele encontra na forma de sua identidade,
que foi construída por seu ego em todos os estágios anteriores. Esse
sentimento de identidade se expressa nas seguintes questões,
presentes para o adolescente: sou diferente dos meus pais? O que
sou? O que quero ser? Respondendo a essas questões, o adolescente
pretende se encaixar em algum papel na sociedade. Daí vem a questão
da escolha vocacional, dos grupos que frequenta, de suas metas para
o futuro, da escolha do par etc. (RABELLO; PASSOS,2018).

Segundo Erikson, o envolvimento ideológico, que é o que comanda a


formação de grupos na adolescência, um exemplo disso seria o fato de que não
só o adolescente, como o homem de modo geral está constantemente em busca
de identificação com outros indivíduos, grupos compostos de pessoas que
apoiam e compartilham dos mesmos ideais. Em contrapartida, quando ocorre
uma forte identificação com certo grupo, nesse caso surge o fanatismo, trazendo
para a atualidade podemos citar os adolescentes fãs de cultura pop, quando há
o fanatismo, pode também acontecer a confusão de identidade, visto que, em

206
determinado ponto não está mais defendendo ideais próprios e sim defendendo
cegamente algo que se apossou de suas ideias.

Toda a preocupação do adolescente em encontrar um papel social


provoca uma confusão de identidade, afinal, a preocupação com a
opinião alheia faz com que o adolescente modifique o tempo todo suas
atitudes, remodelando sua personalidade muitas vezes em um período
muito curto, seguindo o mesmo ritmo das transformações físicas que
acontecem com ele. RABELLO; PASSOS,2018)

Em meio a essa construção/confusão de identidade, há também a


possibilidade de o adolescente se sentir completamente deslocado, ansioso e
não pertencente aos grupos que o cercam. Trazendo essa temática para o
assunto do nosso artigo, podemos dizer que o bullying também é um fator que
influencia nas escolhas e na forma como o adolescente se relaciona com as
pessoas, pois essa exclusão também traz questionamentos de “o que estou
fazendo de errado?” que faz com que o sujeito se desdobre para se encaixar
socialmente, e por consequência acontecer uma regressão, pois ele não vai se
enxergar encaixando-se no mundo adulto, e em função disso ocorre uma
regressão.

Também pode acontecer de o jovem projetar suas tendências em


outras pessoas, por ele mesmo não suportando sua identidade. Aliás,
este é um dos mecanismos apontados por Erikson como base para a
formação de preconceitos e discriminações. Porém, a confusão de
identidade pode ter um bom desfecho: em meio à crise, quanto melhor
o adolescente tiver resolvido suas crises anteriores, mais
possibilidades terão de alcançar aqui a estabilização da identidade.
Quando esta identidade estiver firme, ele será capaz de ser estável
com os outros, conquistando, segundo Erikson, a lealdade e a
fidelidade consigo mesmo, com seus propósitos, conquistando o senso
de identidade contínua. (RABELLO; PASSOS,2018)

BULLYING
207
Diante do que foi amplamente abordado, se faz possível a observação de
fatores conflituosos que desestabilizam os processos saudáveis perante as
relações do grupo abordado: O grupo em que se fazem presentes os
adolescentes. Em consequência dessas averiguações, nota-se que esses
processos de conflitos relacionais possuem configurações deficitárias, nas quais
afetam e influenciam de forma significativa o desenvolvimento e o bem-estar de
crianças e adolescentes, findando no que se pode configurar como bullying.
Segundo o autor Leymann (2009), os processos que configuram o bullying
podem se caracterizar por comportamento de ordem agressiva, que influenciam
de forma degradante o ambiente, provocando mazelas morais e psicológicas,
modificando os ambientes seguros, perpassando em contextos que incluem
processos de desmotivação e violência.

Em continuação com os elementos abordados acima, se pode discorrer,


segundo Olweus (1998), acerca da origem da terminologia Bullying, explana
envolto do termo as condições em inglês para se designar o exercício de práticas
de cunho agressivo entre pares em um contexto ou cenário. De uma forma mais
explícita, as práticas do bullying se difere de outras condutas cotidianas a partir
da compreensão de seu caráter intencional, segundo Tognetta (2005), os
processos do bullying se solidificam através de condutas de intimidação que se
cercam de especificidades, como: atitudes agressivas e intencionais e repetidas,
que se exercem por meio de um ou mais envolvidos. A prática de bullying se
difere de outras condutas cotidianas a partir da compreensão de seu caráter
intencional.

Dando prosseguimento ao que foi inicialmente discutido de forma anterior,


pode se direcionar elementos conexos a permanência dessas práticas
agressivas, Olweus (1998) disserta sobre a repetição de três a cinco vezes para
se possa caracterizar tal prática conflituosa como sendo uma conduta
relacionada ao bullying. Adentrando a estes parâmetros, se pode notar que os
atos de bullying se conotam aos danos de ordem física, moral e material
208
acometidos por alguém ou por grupo de pessoas direcionados a um indivíduo
(FANTE,2005). Como aludido de forma anterior, o bullying direto se caracteriza
pelo exercício da violência verbal, física, material e sexual. Essas manifestações
se fazem presentes em insultos, ofensas, xingamentos, apelidos pejorativos,
disseminação de piadas ofensivas publicamente, bater, chutar, espancar,
empurrar, roubar e furtar objetos da vítima, abusar, violentar, assediar, insinuar
etc. (SILVA, 2010).

Segundo Tognetta (2005), a grande problemática que se relaciona com


as peculiaridades do bullying se direciona à reflexão acerca do perigo à estima
de si próprio. Dentro desse âmbito, os conflitos acerca de uma alteração
significativa da estima, dos processos de valorização de si mesmo perpassando
por malefícios de não reconhecer também o valor no outro. De acordo com
Tognetta (2005), existe uma diferenciação entre o bullying e a existência de um
conflito "normal" dentro do cotidiano. Esta diferença estaria pautada junto a
agressão, o que faz essa discussão tomar configurações mais assíduas e
balizadas na seriedade, tanto no âmbito processual de investigações como
também na alçada da intervenção mediante ao contexto e suas problemáticas
específicas.

Levando-se em consideração os avanços tecnológicos, assim como


também uma gama mais vasta de meios de comunicação, se faz notável
ressaltar uma forma exponente de se praticar bullying: o cyberbullying. O
cyberbullying se estabelece e acende de forma exponente, se configurando
como uma maneira virtual de se praticar bullying, se alicerçando no intuito de
degradar outras pessoas. De forma específica, neste caso, as difamações
ganham amplas proporções.

Alinhado com esses fatores, esta forma de agressão exerce um resultado


multiplicador no sofrimento das vítimas e perpassa o ambiente físico das
instituições, pautando que o bullying advém do mundo real, o cyberbullying se
209
mostra como uma expansão dessas complicações, oferecendo abertura de
anonimato, como uma espécie de “camuflagem”, aos agressores anonimato,
valendo-se de nomes fictícios ou se fazendo passar por outras pessoas (FANTE,
2005). Ainda pautado nesse âmbito, Fante (2005), se baliza nas ocorrências
escolares para discorrer sobre a temática, apesar desses fatos, a prática deste
tipo de bullying não se faz presente somente nas salas de aula, se faz possível
notar que as organizações estão repletas de pessoas que se empregam do
artifício do cyberbullying para constranger, atemorizar, e inclusive ameaçar as
vítimas.

Adentrando de forma mais específica à temática deste presente artigo, o


bullying se faz presente no contexto escolar. Alinhado com o que diz os autores
Carvalho & Silva (2011), o bullying faz parte do cotidiano escolar, tendo em vista
esses fatores é de fato notório a promoção de atenção por parte das escolas
voltado a políticas públicas que visem a segurança e a saúde dentro dos
domínios escolares.

As visíveis práticas de violência estão conexas com uma complexidade


de fatores, não podendo ser ponderadas de maneira simplificada e comprimida.
Sendo assim os agressores não podem ser os únicos responsáveis pelas
condutas de atos de agressividade, uma vez que eles também são resultantes
dela e, deste modo, também se configurando como vítimas (GOMES,2011).
Balizando-se pela perspectiva escolar e social, os processos de análise
do bullying e a da violência devem possuir uma ótica ampla, perpassando pelas
implicações de diversos conflitos originários das transformações que a
sociedade vem passando ao longo dos anos (Reis & Costa, 2011).

As problemáticas oriundas do bullying se configuram como um processo


deficitário de ordem mundial, que se faz presente em praticamente todas as
instituições de ensino, mas ainda se mostra como uma mazela pouco observada
pelos pais e pela sociedade em geral, findando também em um resultado
210
processual no qual as escolas não conseguem identificar as nuances das
práticas do bullying.

Pautando-se nesses elementos abordados, se pode averiguar as


consequências específicas que o bullying pode acarretar diante de crianças e
adolescentes dentro do contexto escolar. As condutas envoltas do bullying
podem eliciar sérias implicações nas vítimas como também em suas as famílias,
como por exemplo, serem acometidos por: baixo autoestima, depressão,
angústia, evasão escolar, isolamento, autodeflagração, presença de
comportamentos agressivos, dificuldades para se concentrar, prejuízos no
processo socioeducativo e nos casos mais extremados o suicídio (LOPES
NETO, 2005).

Findando este tópico, se mostra de grande valia ressaltar a validade dos


estudos que cercam o bullying, perpassando pela compressão das minúcias dos
agentes participantes dos campos processuais do bullying, assim como as
relações grupais interferem nesta relação dinâmica e como se faz possível para
que possa realizar uma prática de intervenção nos âmbitos de promoção e
prevenção – em contexto escolar e social.

METODOLOGIA

Perante as complexidades expostas no presente projeto juntamente com


suas demandas de pesquisa, verifica-se a possibilidade da utilização de diversas
ferramentas para que se possa ser assertivo no processo de angariação de
dados. Para solucionar as problemáticas propostas, visa-se se apropriar de
métodos voltados para a revisão bibliográfica, no qual explana Gil (2007), a
revisão de cunho bibliográfico é configurada se embasando em produções já
findadas, como artigos científicos, teses e livros, se compactuando assim com
um rigor de exploração de conhecimento, consentindo mais completude em

211
relação a problemática, apurando assim ideias e se deparando com outras
percepções.

Em conformidade, a revisão bibliográfica é observada como passo


embrionário para a concretização de quaisquer gêneros de pesquisa, dentro da
alçada científica (WEBSTER; WATSON, 2002). Relacionado Apurado a esses
elementos, estas seções se configuram de tal forma, que visam alinhar os
processos de pesquisa junto a situação-problema, objetivos, dentre outros
elementos necessários para acepção de uma pesquisa científica.

Visa-se a partir desses aparatos teóricos, exercer intervenções e alinhar


ferramentas de enfrentamento relacionadas ao bullying. O presente projeto de
intervenção tem como objetivo averiguar e investigar na E.E.T.I Izaac Benzecry
as problemáticas que se relacionam com as possibilidades de prevenção das
práticas do bullying assim como se dá os processos e as engrenagens do
exercício da violência, perpassando como esses elementos findam, de forma
conseguinte, em consequências no desenvolvimento dessas crianças e
adolescentes, como também em ordens físicas e psicológica. O público-alvo
desses estudos e das intervenções, se encontram na faixa etária dos 11 aos 13
anos, pertencentes às turmas de 6º e 7º ano.

Em consideração ao supracitado, foram realizadas duas visitas técnicas,


com intuito de estabelecer diálogo com a equipe diretiva da escola acerca do
panorama e que a instituição se encontrava em relação a saúde relacional e
mental dos alunos, assim como também para reconhecimento estrutural do
ambiente alocado para as intervenções. Posterior a esses elementos,
direcionado aos mecanismos de intervenção, foi-se desenvolvido dinâmicas
envolto de rodas de conversa, no qual segundo Freire (1983), caracteriza as
rodas de conversas – também denominada pelo autor como “círculo de cultura”
–, como ferramentas que possibilitam momentos de escuta e de fala, se
estabelecendo assim o diálogo como instrumento de leitura do mundo, findando
212
em processos de compreensão e transformação de contextos. Em consideração
a isso, se foi abordado as principais problemáticas que os adolescentes tinham
como demanda direcionada a temática do bullying, assim como também se foi
exercido palestras expositivas correlatas as formas em que o bullying se
apresenta, se performa e influência nas relações dinâmicas dos alunos – Física,
emocional e psicologicamente. Findando o cronograma de intervenções, foi
desenvolvido um Painel dos Afetos, que objetiva a promoção e a reflexão das
formas de se demonstrar afetos ou de se relacionar dentro do ambiente escolar,
seja com professores ou com os colegas alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos estudos e de intervenções se foi possível concluir que a


relação entre bullying adentro da esfera escolar se configura em uma gama de
matérias e estudos que se balizam em averiguar esta relação dinâmica e suas
nuances. Tendo esta dinâmica em vista, os pesquisadores que se norteiam por
meio dessas temáticas, buscam se direcionar para que essas perspectivas
possam se alinhar de forma teórica e acadêmica junto a outros pontos de
análise, referente ao estudo geral dos processos de adoecimento psíquico que
o bullying pode vir acarretar, tanto nos acometidos como também nos que
promovem as atividades agressoras, se empregando das mesmas métricas e
instrumentos para que possa ter uma unidade, tanto em quesitos padronizados
como também direcionados para uma compreensão das potencialidades que
este público possa ter para o enfrentamento da problemática, como também
malefícios que abarcam a prática do bullying nas escolas.

Alinhado a esses fatores, ao decorrer das intervenções se foi notável


observar as inúmeras “motivações” – étnicas; estrutura física; dificuldade em
fala e expressão –, e mazelas – Afastamento grupal; embotamento afetivo;
problemáticas com autoestima e autoimagem –, que a prática do bullying pode
acarretar tanto no funcionamento individual como também no processamento

213
grupal. Em contrapartida notou-se por meio das observações e das práticas
interventivas, as potencialidades que este grupo apresenta para que possa
promover atividades que visem estimular as relações afetuosas e saudáveis, e
“psicoeducar” acerca do processo estrutural do bullying – Origem das práticas
agressivas; os motivos, as formas de enfretamento e as consequências.

Nota-se a partir dessas experiências que se é de extrema valência a


assistência multidisciplinar e interdisciplinar no tocante a promoção de saúde
dessas crianças e adolescentes dentro do contexto escolar, relacionando-se
com a escola como um local prazeroso e acolhedor para se fazer parte do
processo de ensino-aprendizagem dos alunos – Crianças e adolescentes.

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Editora Fontanar, 2010. What is workplace bullying? Disponível em: <
http://www.tuc.org.uk/tuc/rights_bullyatwork.cfm >. Acesso em: 21 de mai.
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Vasconcelos. O desenvolvimento da adolescência na teoria de Piaget. O
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WEBSTER, J.; WATSON, J.T. Analyzing the past to prepare for the future:
writing a literature review. MIS Quarterly & The Society for Information
Management, v.26, n.2, pp.13-23, 2002.

CAPÍTULO X

OS BENEFÍCIOS DO CURSO DE CORTE E COSTURA PARA IDOSOS NO


ORATÓRIO SANTO AFONSO

216
Antônia Daisy Silva da Costa, CEULM/ULBRA, daisycosta@rede.ubra.br
Gabryelle Redman Baptista, CEULM/ULBRA, redman@rede.ulbra.br
Marcos Vinicius França, CEULM/ULBRA, marcos.mv151515@rede.ulbra.br
Maria Aparecida da Silva Martins, Profª Dra. do Curso de Psicologia do
CEULM- ULBRA.

Resumo

O presente artigo propõe-se a descrever os resultados da benéfica participação


de idosos em um grupo de corte e costura, abordando os aspectos
biopsicossociais do envelhecer em grupo. Pretendemos relatar a partir da
experiência com idosas participantes de um curso de corte e costura. O enfoque
será pesquisa-ação e terá conteúdo de intervenção grupal e as relações entre
os membros do grupo. Tem como tema principal os sintomas positivos da
participação ativa das idosas no grupo aludido. Para concluir, percebe-se que,
mesmo com as limitações do envelhecimento, atividades físicas e mentais são
possíveis e viáveis desde que se tenha uma flexibilidade da técnica que permita
atingir os objetivos a que se propõe o trabalho.

Palavras chave: Intervenção, Psicologia, Terceira Idade, Corte e Costura.

Abstract

This article aims to describe the results of the beneficial participation of the elderly
in a sewing group, addressing the biopsychosocial aspects of aging in a group.
We intend to report from the experience with elderly women participating in a
sewing course. The focus will be action research and will have content of group
intervention and the relationships between the members of the group and has as
main theme the positive symptoms of the active participation of the elderly in the
aforementioned group. To conclude, it can be seen that, even with the limitations
of aging, physical and mental activities are possible and viable as long as there

217
is a flexibility in the technique that allows achieving the objectives for which the
work is proposed.

Keywords: Intervention, Psychology, Senior Citizens, Cutting and Sewing.

INTRODUÇÃO

Tendo em vista que o contexto social onde estamos inseridos reflete em muitas
de nossas atitudes, percebemos a importância de investigar o caráter benéfico
da participação em um ambiente grupal, assim como seus inúmeros
equivalentes no ponto de vista da saúde mental. Para isso, a psicologia utiliza-
se de inúmeras técnicas que possibilitem uma contemplação mais acurada,
ampliando o enquadramento da temática proposta e configurando estereótipos
enraizados como estagnação e impossibilidade da pessoa idosa em ser
produtiva e contribuir para a sociedade. Diante disso a Psicologia por meio de
intervenções em grupos aborda aspectos relacionados ao bem estar, físico e
mental, autoestima, combate o enfraquecimento dos neurônios e auxilia na
plasticidade neural, que nada mais é do que

“uma mudança adaptativa na estrutura e nas funções do


sistema nervoso, que ocorre em qualquer estágio da
ontogenia, como função de interações com o ambiente
interno ou externo ou, ainda, como resultado de injúrias, de
traumatismos ou de lesões que afetam o ambiente neural”
(Phelps, 1990).

Abordamos também as diferentes interpretações psíquicas diante de um cenário


grupal, por meio do ponto de vista de autores consagrados na área, que remetem

218
temáticas concretas, apontando os principais ganhos na participação de grupos
operativos. A pesquisa busca concatenar conhecimentos bibliográficos com as
práticas observadas no local referido, ampliando a concepção sobre os diversos
materiais, e produzindo uma visão bilateral.

Utilizamos a pesquisa-ação como método de trabalho, uma vez que esta


enquadra-se na intervenção feita, já que a mesma é definida como método de
aprender e agir ao mesmo tempo, sem que o pesquisador se sobreponha ao
objeto estudado antes de conhecê-lo, adotando uma conduta cooperativa para
investigar as experiências vividas pelos membros do grupo. Buscamos ainda
abordar as relações interpessoais presentes no grupo e os benefícios que o
curso gera para as participantes do mesmo, assim como a autoestima das
integrantes perante o grupo e em relação à sua vivência com as demais.

Pretendemos ainda na intervenção realizar a comparativa entre as que se


utilizam de grupos como estes e as que não frequentam, ao que pudemos
concluir que há nestes locais espaço para seu desenvolvimento e para combate
da solidão na fase idosa.

COMPREENDER OS BENEFÍCIOS DAS ATIVIDADES DE CORTE E


COSTURA NO ORATÓRIO SANTO ANTÔNIO PARA MULHERES DA
TERCEIRA IDADE.

Desde os primórdios o homem se organiza em cadeias grupais, muitas vezes


para defender-se dos perigos externos e também dominar territórios. Em suma,
dizemos que o ser humano é uma animal gregário e que por isso tem por
necessidade biopsicossocial agrupar-se para suprir suas demandas. Grupo
seria, pois, um conjunto de pessoas em uma ação interativa e com objetivos
compartilhados (OSORIO, 2010 p.11). Contudo podemos perceber que muito
embora haja, em algumas situações um conjunto de pessoas com o mesmo
objetivo, mas que não tenham interações entre elas, não as caracterizamos

219
como um grupo, pois falta-lhe a estrutura relacional ou seja a troca de interações.
Com isso, se faz necessário aludir a definições em que o trabalho de grupo seja
compreendido de maneira clara e concisa considerando a complexidade deste
tema e suas inúmeras peculiaridades.

Cabe então destacar um dos conceitos fundamentais para a explanação deste


assunto, a respeito do que seriam os chamados grupos operativos. Tomando
como base as ideias de Pichon Riviéri, percebemos que o autor extrai essa
definição da relação que seus participantes têm com o trabalho proposto, através
de uma atividade de aprendizagem, onde esse elo proporciona certa
ressignificação dos conteúdos conflitantes.

“A aprendizagem centrada nos processos grupais coloca


em evidência a possibilidade de uma nova elaboração de
conhecimentos, de interações e de questionamentos
acerca de si e dos outros. Aprendizagem é um processo
contínuo em que comunicação e interação são
indissociáveis, na medida em que aprendemos a partir da
relação com outros “(BEATRIZ; BASTOS. 2010 p.161).

Neste sentido percebemos a importância dos trabalhos em grupos operativos


tendo em vista tanto suas relações verticais, ou seja, suas vivências e as
interpretações de cada sujeito ali envolvido, quanto as horizontais que seriam
as dimensões do grupo como um todo, o que exatamente todos compartilham e
tem em comum como ponto chave.

Tomando como referência os aportes de Melanie Klein, percebemos outra


temática que se mostra eficaz para a compreensão dos empecilhos enfrentados
nos grupos operativos, destacamos então o medo à perda e medo ao ataque,
onde o primeiro refere-se às ansiedades depressivas, caracterizadas por um
temor à perda dos conteúdos patológicos que de certa forma conforta o ego e o

220
mantém preservado de novas angústias. O segundo atribui-se às ansiedades
paranóides, que se conservam devido às inseguranças do indivíduo frente à
situações novas, que testam suas capacidades, e o força a desestruturar crenças
e reformular artifícios para lidar com as demandas propostas pelo mentor do
grupo.

Compreendemos então que para intervir em um grupo dessa natureza, cabe ao


profissional ter amplo conhecimento acerca da temática, e acima de tudo
fomentar a importância do engajamento de cada membro na atividade requerida,
destacando os benefícios da participação e os possíveis empecilhos que podem
surgir tanto vertical ou horizontalmente.

Assim, o que uma pessoa diz, pensa ou sente em um grupo deve ser
compreendido como comunicando algo sobre o conjunto no qual está inserida.
(CASTANHO, 2012 P.51). Entende-se então que o grupo é mais do que a soma
das partes, pois está em um processo de constante transformação, devido a
fluidez das relações e dos processos de introjeção e projeção presentes nessas
organizações.

No entanto, cabe observar que é a concatenação das ideias que irá produzir
mudanças significativas, tanto individuais quantos coletivas, pois a simples tarefa
de aprendizagem não agregada a um acompanhamento que viabilize a
ressignificação de padrões sociais internalizados e preconcebidos ao longo de
muito tempo, não surtirá o efeito almejado pelo coordenador do grupo.

Entendemos portanto, intervir em um coletivo requer uma grande capacidade


holística, a fim de se tornar um continente para os medos e possíveis
subterfúgios que venham a surgir durante a laboração, assim como incentivar a
continuidade das relações, mesmo que produzam angústias, uma vez que
também são matéria de análise por parte do investigador.

221
Os estudos acerca do envelhecimento estão cada vez mais presentes nas
sociedades, dado que as populações, como é o caso do Brasil, estão
envelhecendo mais e com grande disparidade entre os velhos e os adolescentes.

“Ao longo do século passado o Brasil, seguindo a tendência


mundial, iniciou seu processo de transição demográfica,
caracterizado majoritariamente pela redução nas taxas de
mortalidade seguida por uma queda nas taxas de
fecundidade. Este fenômeno tem como principais
consequências o declínio da taxa de crescimento
populacional e o envelhecimento da população,
acarretando profundas alterações na estrutura etária do
país.” (STAMPE, 2020 apud LUNDQUIST et al., 2014)

Tais estudos são realizados para sanar as dificuldades no entendimento desta


população e no auxílio das peripécias da fase idosa. Dados como os abordados
por Stampe (et al 2020) visualizam os efeitos no processo de crescimento
econômico no Brasil e acusam o envelhecimento da população e a baixa taxa de
fecundidade como causa das futuras importações de mão de obra. No entanto,
bem sabemos que não existe no Brasil políticas públicas capazes de auxiliar
idosos que não tenham tempo de contribuição para previdência completo e
necessitam de trabalhos, muitas vezes exploratórios, para sua subsistência e de
sua família. O DIEESE (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas
Socioeconômicas) já revelou que do total de idosos (33,9 milhões), quase 8
milhões trabalham em situação de risco e quase 25% deles contribuem com
metade ou mais do salário para as despesas familiares. Estes dados de 2020
revelaram a preocupação de algumas instituições com as ações do governo
frente ao Lockdown e ao COVID-19 pois na época, o então presidente da
república apoiava abertamente que o lockdown fosse restrito apenas para
idosos, sem considerar que cerca de 8 milhões de idosos ainda trabalham fora
de casa e que mesmo não trabalhando estariam correndo risco de contágio pois
222
o restante da família seriam os transmissores. Já que apenas 8% dos idosos
moram sozinhos no Brasil. Infelizmente as medidas tomadas pelo governo
brasileiro na época de grande transmissão do COVID-19 no Brasil não foram as
melhores e nem as mais inteligentes e resultaram na morte de mais de 142 mil
idosos até janeiro de 2021 segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde.
Um governo que não se preocupou com seus idosos morrendo aos montes pelo
vírus não se preocuparia também com a saúde mental dos idosos que felizmente
não tiveram a mesma sorte, apesar de estar constitucionalmente expresso a
responsabilidade social que temos com os idosos em especial àqueles
dependentes. (BRASIL,1988. Art. 230)

Ressignificar-se após tantas perdas é e ainda será por um longo período a maior
tarefa dos idosos do Brasil e provavelmente do mundo nessa circunstância pós
pandemia. Diante deste contexto e dos anteriormente referidos, pensamos então
em como as atividades extradomiciliares são benéficas para a saúde mental,
física, social e por vezes espiritual dos mais velhos. Para fornecer qualidade de
vida ao idoso na sociedade foram criadas em 2006 academias ao ar livre e
espaços como Centro de Convivência do Idoso que em sua resolução o
Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) tem como foco principal
desenvolver atividades que auxiliem no processo de envelhecimento saudável
dos indivíduos, por estar ciente da importância de atividades físicas e mentais
nesse ciclo da vida, da mesma forma que é necessário que as empresas e
órgãos empregatícios tenham ambientes favoráveis e sem discriminação que
acolham o público idoso (IPEA, 2016).

É de conhecimento geral que as atividades físicas auxiliam o idoso no


envelhecimento saudável assim como estudos recentes feitos pelo
Neurocientista e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Roberto Lent, que as atividades mentais também são de suma importância, pois
segundo o pesquisador, o cérebro possui uma enorme capacidade de
modulação da informação que envolve quadrilhões de sinapses e circuitos
223
neurais capazes de, utilizando-se da plasticidade neural, reter novas
informações/aprendizagens mesmo em indivíduos idosos, (SIQUEIRA-BATISTA
& ANTONIO, 2008) afirmando portanto que é possìvel aprender tarefas novas
mesmo sendo mais velho e ainda colocá-las em prática, pondo abaixo o
estereótipo de que velhice é sinônimo de estagnação e retrocesso. No entanto,
temos consciência da natureza biológica de demências e doenças, as quais
mesmo com atividades físicas e mentais não podem ser curadas, como o
Alzheimer, demência neurodegenerativa.

A INTERVENÇÃO REALIZADA NA INSTITUIÇÃO

A intervenção iniciou-se com uma visita técnica ao local supracitado. Dois


acadêmicos se dirigiram ao Oratório com a finalidade de conhecê-lo fisicamente
e à sua coordenação por conseguinte.

Criado em julho de 2021, o Oratório Santo Afonso é coordenado pela Professora


Doutora Maria Aparecida Martins da Silva que o administra por meio de
donativos e contribuições pastorais da Paróquia Rainha dos Apóstolos. O lugar
fora uma escola de ensino fundamental e hoje é locada para os Projetos do
Oratório que atendem as comunidade de São Mateus, São Miguel, Sagrado
Coração de Jesus e Comunidade Santa Terezinha localizadas no Bairro Dom
Pedro I, na cidade de Manaus - AM, conta com 06 salas que abrigam atualmente
55 alunos. Os professores, como são chamados os filantropos convidados para
ensinar determinadas atividades oferecidas pelo Oratório são todos voluntários
não remunerados, são ao todo 08, incluindo uma secretária para ajudar na

224
administração dos cursos oferecidos, são estes: curso de Corte e costura, Curso
de informática básica, Curso de alfabetização e et cetera.

O horário de funcionamento é de Segunda à sexta das 8:00h às 14:00h. Todas


as atividades realizadas no local são precedidas de oração inicial e ao final, de
igual modo. O local também oferece lanche para todos os cursistas, além de
água e possibilidade de utilizar um banheiro.

METODOLOGIA:

Perante o que foi discorrido, o estudo para a estruturação deste artigo foi
realizado a partir do contato com o Oratório, o qual se concretiza como um
trabalho de pesquisa-ação, uma vez que este método não utiliza somente o
levantamento e interpretação de dados mas a intervenção e ação que trabalha
numa visão coletiva, participativa e recíproca na construção do conhecimento
(Baldissera, 2001). Assim, foram realizadas rodas de conversas que nos
proporcionaram o levantamento de dados necessários para a identificação de
demandas e na construção das possíveis intervenções. A instituição foi
escolhida pelo grupo devido a identificação com a causa e indicação de colegas
universitários, relatando as atividades realizadas no âmbito referido.

Foram realizadas as intervenções em consonância com os objetivos estipulados


anteriormente no projeto de intervenção elaborado pelos pesquisadores. São
estes: 1. Realizar rodas de conversas que integrem o grupo à intervenção; 2.
Promover reflexões acerca da situação psicossocial das integrantes do grupo de
Corte e Costura; 3. Aplicar dinâmicas que auxiliem na motivação do
comparecimento ao curso; 4.Realizar reflexões acerca da autoestima das
participantes.

Na primeira visita ao local, tivemos a oportunidade de conhecer o local


fisicamente, as salas onde acontecem as aulas e a coordenação do local. Não
havia naquele dia aula com o grupo protagonista desse trabalho então apenas
225
conversamos com a diretora do local Professora Maria Aparecida Martins. Fora
nos repassados os dias e horários que as senhoras estariam no local e quais
horários poderíamos estar com elas.

Definimos pois dois dias na semana, são eles Segunda-feira e Terça-feira no


horário de 9:00h às 10:00h, acordamos também que seriam realizados cerca de
4 encontros ao todo com o grupo, incluindo as intervenções. Na pesquisa-ação
temos a colaboração dos participantes do grupo em tudo que é realizado, de
forma que os pesquisadores sejam nada mais que colaboradores enquanto os
membros do grupo dão as diretrizes da intervenção. Mas para que isso ocorra é
necessário uma intensa investigação inicial e estabelecimento de um rapó
confiável entre os pesquisadores e os pesquisados. Uma vez que a pesquisa-
ação é investigativa e utiliza-se de um conjunto de técnicas destinadas a
transformar a realidade pela ação coletiva.

Diante disso, a segunda visita deu-se na semana posterior com o objetivo de


conhecer cada participante e suas vivências pessoais e sociais assim como faz
a pesquisa-ação. As participantes da intervenção foram as protagonistas dessa
roda de conversa, trouxeram suas contribuições de forma harmoniosa e
contagiante. São elas um grupo de cinco senhoras, no qual, uma delas é a
instrutora do curso, ex professora aposentada, L de 74 anos, tem bastante
experiência com corte e costura, se dedica à ensinar tudo o que sabe para as
demais senhoras com bastante modéstia e muita genialidade, segundo as
demais participantes, diz que nunca pensara em ser professora de costura, mas,
que aceitou o convite pois queria muito poder servir à comunidade e que se sente
muito realizada após ter aceito o pedido da Professora Maria Aparecida para
esse cargo.

Entre elas há ainda J. de 54 anos que tem nacionalidade Venezuelana, participa


todos os dias desde que o curso começou a ser ofertado, também é membro da
paróquia a qual pertence o projeto, assim como a professora, J. tem muita
226
experiência com costura e por vezes auxilia as demais colegas na confecção das
peças quando a professora está ausente. Ela relata que é casada e seu marido
também venezuelano trabalha fora e é o único que mantém a casa; disse fazer
o curso para ter como ajudar nas despesas de casa mas que também não
trabalha em outro lugar por ter total responsabilidade com sua mãe idosa e
portadora de uma doença neurodegenerativa: Alzheimer, e a leva em todas as
aulas. Nos encontros com os pesquisadores a mãe de J. sempre ficava sentada
no seu lugar com uma pequena boneca de plástico enrolada em uma pano no
seu colo, vezes ela arrumava a boneca, às vezes a embalava nos braços, mas
sempre no seu lugar sem movimentos bruscos ou agitações.

Notou-se também bastante carinho entre elas, o qual J. descreveu usando a


seguinte frase: - “ela é a minha bebê e a mascote da turma”. Isso porque todas
as outras participantes também expressavam bastante carinho pela mãe de J.
Após muitos relatos de sua vida e trajetória até o Brasil, J. se mostrou uma
mulher forte e determinada, venceu um câncer e a depressão. Conseguiu se
recuperar de um trauma na bacia que lhe tirou os movimentos das pernas e diz
ter conseguido passar por tudo isso graças à sua mãe que sempre esteve ao
seu lado e por este motivo cuida com tanto zelo dela. Ao ser questionada sobre
o que achava do grupo J. sorrindo (como sempre) disse que era a melhor coisa
que ela fazia no momento, se sentia em casa com as demais senhoras e que ao
terminar a aula já esperava ansiosa pelo outro encontro pois se sente muito bem
e bastante acolhida no grupo. Disse ela: - “aqui eu não aprendo só a costurar,
mas eu converso e faço novas amizades e não fico triste em casa sem nada para
fazer”. Disse também que a professora do curso era muito exemplar, carismática
e que sempre dava ótimas aulas e ajudava em muitas coisas.

Assim como J. E de 64 anos também tem o grupo como prioridade na sua rotina.
E. que participa de um outro grupo de idosas, mora com uma filha e sua família.
Diz que o grupo é muito importante para ela, não só pela costura, mas também
pelas conversas e partilhas que elas têm no local. Aposentada, E. já foi técnica
227
de enfermagem e tem graduação em Letras. Hoje ela diz que não consegue se
ver parada em casa sem fazer nada, “tenho sempre que estar fazendo alguma
atividade ou curso para não entrar em depressão ou tristeza” disse ainda que
sempre que tem oportunidade de viajar ela sai da cidade em busca de novas
aventuras e novas amizades. Relata que sempre espera ansiosamente a
próxima aula do curso e que já aprendeu bastante sobre corte e costura com a
professora, que descreveu como sendo uma mulher batalhadora e muito
determinada. E. é solteira e criou a única filha com bastante dificuldades mas diz
que nunca pensou em desistir e que o grupo, agora na sua fase idosa, ajuda
muito com a questão da solidão.

No grupo tem ainda T. de 29 anos, que é casada e tem um filho. Sendo a mais
nova do grupo diz que aprende muito com as colegas, não só corte e costura,
mas também com a experiência de vida das senhoras do curso. Diz estar muito
contente com a parceria que elas têm que não pretende sair do curso tão cedo.
Não trabalha atualmente pois escolheu cuidar do seu filho enquanto o marido
trabalhava, pois segundo ela, não quer perder a infância de seu bebê e o marido
cuida dele nas horas em que ela está no curso. T. relata que sempre achou muito
lindo o ato de costurar e quer poder produzir suas próprias roupas e de sua
família e que quando está na aula com suas parceiras se sente muito bem e
acolhida. Diz que manter sua mente ocupada com essa atividade é muito
importante e estar com outras mulheres que entendem a importância disso
também é muito gratificante.

A mais recente no curso é I. de 65 anos, que aderiu ao curso a convite de E.


disse que já sabia algo de costura mas que nunca havia trabalhado com peças
complexas, mas que já havia aprendido muito com a professora e as colegas até
o momento. I. é casada e mora com sua família, mas após a aposentadoria disse
que sempre esteve meio desocupada sem muitas atividades que a deixasse com
a mente ocupada e que participar do curso fez com que ela não caísse em
solidão e tristeza. Agradece muito o convite de E. e diz que não pretende sair do
228
curso por um bom tempo. I. relata a experiência com as colegas como sendo
necessária para ela, pois “estar sempre dentro de casa faz a gente não querer
mais falar com ninguém e nem fazer mais amizades” e que conhecer elas e a
professora está sendo uma grande ajuda para ela que já teve depressão.

Todos estes relatos foram possíveis pois o grupo já se encontrava alinhado em


um ideal, como Pichon-Riviere (2005) havia elucidado anteriormente, o grupo
sem um vínculo seria apenas um agrupamento de pessoas, mas neste grupo
temos um ideal, ou melhor dizendo dois ideais. Um deles é o objetivo de,
enquanto costureiras, produzir enxovais para doar a maternidade em 12 de
outubro com a finalidade maior de distribuir entre as mães que não têm
condições financeiras para comprar seus próprios enxovais . No entanto, há
velado no grupo o agente transformador da realidade, sendo este o segundo
ideal do grupo, mesmo que inconscientemente em seus membros. Visto que
todas, sem exceção, expressaram a ideia de pertencimento após sentirem-se
acolhidas, e relataram o contentamento em fazer parte do grupo enquanto
sujeitos, que para Pichón-Riviere seria a tarefa implícita do grupo. Em Zimerman
(2000) temos o conceito de que em grupos operativos o importante é “aprender
a aprender” pois para esses grupos mais importante do que encher a cabeça de
conteúdo é fazer cabeças pensantes, isso tudo em um grande vínculo benigno,
onde cada membro é um ser individual e que colabora para o grupo e o
desenvolve, cada um à sua maneira.

A dinâmica utilizada no início da roda de conversa para instigar a aproximação


entre os pesquisadores e as participantes foi um questionário elaborado
anteriormente pelos interventores com perguntas como “como você se sente em
relação a suas colegas de grupo?” feitas para conhecermos as relações
horizontais existentes entre elas. E perguntas como “como você se sente em
relação à professora do curso?” para explanarmos as relações verticais no
mesmo. Diante das respostas obtidas pudemos verificar que não há no grupo
resistências quanto à participação nas atividades e também não há, entre as
229
presentes no início e ao final da intervenção, alguma que falte com frequência
às aulas, pois é de conhecimento geral que os idosos não frequentam os grupos
destinados à eles por serem impossibilitados de se locomover para locais muito
distantes e seus parentes têm afazeres diários e não podem levá-los. Notou-se
ainda que todas as participantes do grupo acolhem as demais e sentem-se
acolhidas, tornando o grupo um grupo que Pichon-Riviére (2005) denomina
como grupo terapêutico, mesmo sendo este um grupo operativo, pois de acordo
com Fernandes (2003) estes podem adquirir o caráter terapêutico mesmo que
não seja essa a ideia central.

Fomos então à terceira visita no Oratório Santo Afonso e na ocasião aplicamos


uma dinâmica com alunas de corte e costura. Na data, tínhamos duas alunas e
a professora presente, iniciamos falando sobre o projeto e o nosso intuito em
realizar a atividade, fizemos a primeira dinâmica que consistia em listar numa
folha de papel 5 motivos e/ou causa nas quais o curso de corte e costura seria
uma atividade prazerosa e desejada, e como isso tem mudado a percepção e
vida delas, quando finalizado os papéis foram trocados e cada uma leu o que a
colega ao lado havia escrito.

A professora L. pontuou a união da turma, a oração que ela faz com as alunas
no início e ao final da aula, a necessidade que cada uma tem em aprender a
costurar, o foco das alunas em aprender nas aula, a gratidão em ajudar a
comunidade e citou o sonho de Dom Bosco em especializar e evangelizar as
pessoas, disse ainda que estava a mais de vinte anos aposentada, se
reencontrou na igreja a muitos anos e que desde lá vem estudando mais,
evangelizando e repassando todo o seu conhecimento para ajudar outras
pessoas da comunidade. E. expressou seus sentimentos pelo grupo como se
fossem uma família, uma terapia ocupacional em que ela recebe conhecimento
e se sente bem ao mesmo tempo, onde ela também pensa em repassar esse
conhecimento para outras pessoas futuramente. J. citou pontos importantes para
ela neste curso que são, a união de todas desde o início das aulas, o apoio e a
230
sensação de terapia que permite que ela se conecte dia a dia, semana a semana,
e que tudo aquilo tem sido maravilhoso pra ela. Na sequência fizemos uma
dinâmica de autoestima mostrando o reflexo delas no espelho, pedimos então
que elas falassem sobre a mulher que estavam vendo, elas falaram de suas
dificuldades e superações, falaram sobre a vida em comunidade, a dificuldade
de uma imigração, histórias de uma mãe solteira e uma avó que cuida de seus
netos sendo uma acometida por um câncer. A intervenção neste dia foi finalizada
com nosso agradecimento pela participação das alunas e da professora do
curso.

A última intervenção realizada no oratório foi feita com a presença de 5 senhoras,


a professora não esteve presente por motivos pessoais, mas as integrantes do
grupo garantiram passar a ela tudo o que havíamos conversado no local. Na
ocasião pretendemos dar um feedback de todas as observações realizadas no
grupo e ouvir o feedback das participantes. No início falamos sobre as relações
presentes no grupo, mesmo com a professora o grupo se trata de forma
horizontal e com um líder democrático, no sentido lider de que fala Pichon-
Riviere (2005), a relação observada entre elas é de igual e por isso temos a
definição de líder democrático para a professora do curso, pois suas ações não
menosprezam as ações de suas alunas e ela ainda as incentiva e ajuda na
confecção dos enxovais bem como em assuntos pessoais não pertinentes ao
grupo em si, caracterizado por um processo de comunicação convergente, onde
as demandas são levadas à líder sem nenhuma resistência. Na escala de
avaliação relacional do grupo de Pichon-Riviere o grupo está saindo da zona de
pertença da escala, que é onde o grupo, utilizando do diálogo, atinge um grau
maior de cooperação permitindo a elaboração da tarefa e entrando na zona
chamada de pertinência , onde já se alcançou o objetivo de trabalhar em conjunto
e se executa a tarefa sem ingerências.

Em contrapartida à nosso feedback as integrantes do grupo expuseram suas


deduções acerca da intervenção realizada, E. evidenciou que a dinâmica
231
realizada com o espelho a fez refletir bastante sobre sua autoestima e em como
ela se via e ainda que a forma como as demais a consideram importante no
grupo a faz se sentir melhor e mais motivada a continuar participando das aulas.
J. relatou que na dinâmica do espelho percebeu o quanto ela havia esquecido
de que também é uma mulher batalhadora e muito bela. Falou ainda que o grupo
se mostra mais forte a cada dia. T. disse que ao pensar no grupo não se
arrepende de ter investido tempo em participar e que encontrar elas ali a deixa
mais motivada na vida e na produção. I. mesmo recém chegada ao curso disse
que não sabe se vai querer parar de participar um dia pois encontrar elas é muito
contagiante e que termos escolhido o grupo para fazer a intervenção só deixou
o grupo mais unido e consciente da importância das aulas.

Após o relato das pesquisadas, distribuímos uma singela lembrança dos


pesquisadores para o grupo, composta por uma vela no tamanho de 10cm, que
em seu interior acende uma lâmpada alimentada por baterias, posta dentro de
um saquinho de presente. Foram entregues à elas e em seguida explicou-se o
porquê da escolha da vela. Utilizando-se de sua crença religiosa, aproveitou-se
a passagem bíblica Mateus 5:14-16 “Vós sois a luz do mundo. Uma cidade
edificada sobre um monte não pode ser escondida. Igualmente não se acende
uma vela para colocá-la debaixo de uma mesa. Ao contrário, coloca-se no
velador e, assim, ilumina a todos os que estão na casa. Assim deixai a vossa luz
resplandecer diante dos homens.” Realizou-se a interpretação da passagem
comparando as integrantes do grupo à vela citada na máxima, refletindo na
importância que todas têm para o grupo como grupo de corte e costura e como
grupo de mulheres. Ao final tivemos o agradecimento de todas e agradecemos
de igual modo à participação das mesmas.

Segue em anexo tabela com as despesas dos interventores:

232
DESCRIÇÃO DA DESPESA VALOR PERCENTUAL VALOR TOTAL
EM R$ 10% EM R$ PARA CADA
DESPESA EM R$

Transporte/locomoção R$ R$ 3,50 R$ 38,50


35,00

Brindes R$ R$ 7,80 R$ 85,80


78,00

Despesas diversas R$ R$ 2,00 R$ 22,00


20,00

VALOR TOTAL PARA EXECUÇÃO DA INTERVENÇÃO R$ 146,30


EM R$

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do referido, a ideia de um grupo ou espaço destinado à idosos, mostra-


se necessário à sociedade pois estes auxiliam na desmistificação da impotência
dos idosos frente sua velhice. Grupos como o grupo de corte e costura do
Oratório auxiliam nesta causa apoiando a ideia de que os idosos não são
meros sujeitos com breve tempo restante na sociedade e os ajudam a socializar,
além de ocupar sua mente com atividades físicas ou intelectuais benéficas para
sua saúde.

São grupos como estes que possibilitam na sociedade a plena vivência de todas
as pessoas. Com depoimentos como os que obtivemos através da intervenção
é que podemos enxergar a importância da sua oferta na comunidade. Além do
que, grupos como esses, que incentivam a participação de idosos em atividades
prazerosas com finalidade filantrópica, beneficiam nossa sociedade em diversos
sentidos. No Oratório o curso de corte e costura doará as peças produzidas pelas
senhoras para a maternidade que se encarregará de distribuir às mães que não

233
podem comprar seu próprio enxoval, beneficiando com um efeito em cadeia, as
mães, as senhoras do oratório e a sociedade em geral.

REFERÊNCIAS

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Https://Doi.Org/10.1590/1982-4017-160305-1416

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Ações De Promoção E Proteção À Saúde Mental Do Idoso Na Atenção


Primária À Saúde: Uma Revisão Integrativa Https://Doi.Org/10.1590/1413-
81232022275.23112021

Ana Mercês Bahia Bock & Outros – Psicologias -


File:///D:/Downloads/Bock_Psicologias-Umaintroduc3a7c3a3o-
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CAPÍTULO XI

SINDROME DE BURNOUT NO AMBIENTE HOSPITALAR: INTERVENÇÃO


DE GRUPOS COM ACADÊMICOS DO CURSO DE ENFERMAGEM DA
ULBRA/MANAUS

238
Adriane Bezerra de Souza40
Inês Nogueira Magalhães41
Rafaela Christi Ane Mano de Assis42
Maria Aparecida da Silva Martins43
Resumo

O presente projeto de intervenção visa apresentar possíveis intervenções


psicoterapêuticas voltadas a prevenção da Síndrome de Burnout e a promoção
da saúde mental em um grupo formado por acadêmicos do curso de enfermagem
da Ulbra/Manaus. A intervenção de grupos do projeto em questão pretende
abordar temáticas referentes a Síndrome de Burnout como forma de promover
aos membros do grupo o conhecimento e o autocuidado no ambiente
ocupacional e, principalmente, no hospitalar. Além disso, busca-se executar na
pratica, dinâmicas psicoterapêuticas no grupo com o objetivo de prevenir e
amenizar os sintomas relacionados a Síndrome de Burnout.

Palavras-chaves: Intervenção em grupos; Síndrome de Burnout; saúde


ocupacional; saúde mental.

Abstract

This intervention project aims to present possible psychotherapeutic


interventions aimed at the prevention of Burnout Syndrome and the promotion of
mental health in a group formed by students from the nursing course at
Ulbra/Manaus. The intervention of groups of the project in question intends to
approach themes related to Burnout Syndrome as a way to promote knowledge
and self-care to the members of the group in the occupational environment and,
mainly, in the hospital. In addition, we seek to implement in practice,

40
Graduanda do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus
(drykka.psic@gmail.com)
41
Graduanda do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus
(ines.inesmagalhaes@gmail.com)
42
Mestre em História Pública pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e graduanda
do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus
(rafaelachristi@gmail.com)
43
Doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas
(Ufam) e professora do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus.
239
psychotherapeutic dynamics in the group with the aim of preventing and
alleviating the symptoms related to Burnout Syndrome.

Keywords: Intervention in groups; Burnout syndrome; occupational health;


mental health.

Introdução

O presente projeto de intervenção visa apresentar possíveis intervenções


psicoterapêuticas voltadas a prevenção da Síndrome de Burnout e a promoção
da saúde mental em um grupo formado por acadêmicos do curso de enfermagem
da Ulbra/Manaus.

A escolha do grupo de acadêmicos do curso de enfermagem da


Ulbra/Manaus deve-se ao fato de que, a profissão da enfermagem é apontada
como um dos campos mais afetados por doenças ocupacionais. Ademais, desde
a iniciação da vida acadêmica, o universitário vivencia mudanças biológicas,
psicológicas e sociais, além de se deparar com aspectos estressores durante
todo esse percurso.

A Síndrome de Burnout, comumente, acomete pessoas que trabalham em


contato direto com seres humanos, sobretudo os serviços de saúde, sociais, da
justiça e da educação. O extremo stress ocupacional pode ocasionar tal
síndrome, a qual tem como seus principais sintomas a exaustão emocional, a
despersonalização do outro e ausência de realização pessoal.

A intervenção de grupos do projeto em questão tem como principal


objetivo apresentar possíveis intervenções psicoterapêuticas voltadas a
prevenção da Síndrome de Burnout e a promoção da saúde mental em um grupo
formado por acadêmicos do curso de enfermagem da Ulbra/Manaus.

240
Nesse sentindo, pretende-se abordar temáticas referentes a Síndrome de
Burnout como forma de promover aos membros do grupo o conhecimento e o
autocuidado no ambiente ocupacional e, principalmente, no hospitalar. Além
disso, o projeto ainda busca executar na pratica, dinâmicas psicoterapêuticas no
grupo com o objetivo de prevenir e amenizar os sintomas relacionados a
Síndrome de Burnout.

Por meio desse tipo de intervenção, diferenciando-se de outras


abordagens, permite aos participantes um senso de pertencimento,
possibilitando a experiência de viver um processo terapêutico em conjunto com
um grupo de pessoas que partilham o mesmo tipo de dificuldade.

Por fim, concluímos que tal projeto de intervenção em grupo possibilitou


resultados significativos na medida em que, tanto o grupo selecionado, quanto
as alunas de psicologia, puderam beneficiar-se positivamente das atividades
realizadas.

Delimitação do tema

Síndrome de Burnout entre acadêmicos do curso de enfermagem da


Ulbra/Manaus.

Hipótese/pergunta de pesquisa

Como é possível utilizar intervenções psicoterapêuticas na prevenção da


Síndrome de Burnout e na promoção da saúde mental em um grupo formado
por acadêmicos do curso de enfermagem da Ulbra/Manaus?

Justificativa

241
Inferir de forma positiva no que diz respeito a graduação de primeiro
período de Enfermagem da faculdade ULBRA/Manaus, na busca da prevenção
de questões psicossomáticas no que tange a profissão, tendo em vista que o
trabalho do enfermeiro, por sua própria natureza e características, revela-se
especialmente suscetível ao fenômeno do estresse ocupacional, assim como o
Burnout, ansiedade e depressão. A história da enfermagem revela que desde
sua implementação no Brasil ela é uma categoria marginalizada. Enfermeiros,
técnicos e auxiliares de enfermagem vêm, ao logo das décadas, sendo
submetidos a baixos salários, excesso de carga horária e ainda excesso de
pacientes por plantão, sendo que ao longo de sua jornada todos esses fatores
causam desgastes físicos e emocionais, causando doenças em ambos os
sentidos. Portanto, o presente projeto objetiva inferir sobre os fazeres desta
profissão no intuito da prevenção de questões e doenças físicas e mentais, assim
como objetiva inferir no manejo de como lidar e cuidar do corpo e das emoções
no decorrer da profissão. A exaustão emocional é caracterizada pelos
sentimentos de estar sobrecarregado e exaurido de seus recursos físicos e
emocionais, levando ao esgotamento de energia para investir nas situações que
se apresentam no trabalho (Maslach et al., 2001).

Trabalhadores afetados pela Síndrome de Burnout têm maior


probabilidade de largar o emprego, maior rotatividade de funcionários,
diminuição da qualidade do trabalho, mau atendimento aos clientes,
procedimentos equivocados, negligência, imprudência, predisposição a
acidentes em consequência à falta de atenção e desconcentração. E trabalhar
os fatores de riscos para síndrome com o desenvolvimento de estratégias que
perpassam por todos os fatores de riscos mencionados são imprescindíveis para
evitar o estresse ocupacional e amenizar este problema.

Objetivos
242
 Geral
o Apresentar possíveis intervenções psicoterapêuticas voltadas a
prevenção da Síndrome de Burnout e a promoção da saúde mental em
um grupo formado por acadêmicos do curso de enfermagem da
Ulbra/Manaus.

 Específicos
o Abordar temáticas sobre a Síndrome de Burnout no intuito de promover
aos membros do grupo conhecimento e autocuidado no ambiente
ocupacional;
o Executar dinâmicas psicoterapêuticas no grupo afim de prevenir e
amenizar sintomas relacionados a Síndrome de Burnout.

Metodologia

As intervenções com o grupo de acadêmicos de enfermagem ocorrerão


em 4 encontros em sala de aula e com duração máxima de 1h30min, sendo o
primeiro uma entrevista com a coordenadora do curso.

Encontro 1: Entrevista com a coordenadora do curso (06/06/2022)

Encontro 2: Entrevista com a coordenadora do curso (13/06/2022)

Encontro 3: Psicoeducação, prática de Mindfulness e dinâmica (20/06/2022)

243
Encontro 1: Apresentação do projeto de Intervenção em Grupo a
coordenadora do curso de enfermagem da Faculdade Ulbra - Manaus, Adriane
Gama. Solicitação de autorização para a realização das atividades propostas
com uma turma de alunos do segundo período em sala de aula.

Encontro 2: Coleta de dados a respeito do público acadêmico de


enfermagem que serão submetidas as intervenções, como: breve histórico do
curso, nota Enade. total de alunos matriculados, total de alunos do segundo
período, quantitativo de gênero e faixa etária.

Encontro 3: Parte 1 – Psicoeducação sobre a Síndrome de Burnout –


classificado como QD85 na CID-1144 – e como este transtorno pode afetar a
saúde mental do acadêmico no exercer de sua profissão: Por meio de uma roda
de conversa será abordada a temática, as causas, os sintomas, a população
mais atingidos, os dados quantitativos de acordo com a OMS e as formas de
prevenção. Os recursos utilizados serão folders explicativos. Parte 2 – Prática
de Mindfulness e compaixão: Serão demonstrados aos cuidadores exercícios
respiratórios, foco no momento presente, capacidade de dar e receber
compaixão para manter o equilíbrio em meio às dificuldades e limitações diante
do sofrimento dos pacientes. Além disso, promover o autocuidado do
profissional. Em seguida, indagações que promoverão reflexões ao público a
partir das observações e sentimentos experienciados durante a prática. Os
recursos utilizados serão um aparelho de som e música relaxante. Parte 3 –
Dinâmica de grupo para promover o autoconhecimento e ressignificação
emocional: Os participantes deverão pensar em 3 sentimentos negativos que
estão sentindo no momento e escrevê-los em cada papel. Para cada um destes

44
CID é a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com
a Saúde determina a classificação e codificação das doenças e uma ampla variedade de
sinais, sintomas, achados anormais, denúncias, circunstâncias sociais e causas externas de
danos e/ou doença. A CID é uma das principais ferramentas epidemiológica do cotidiano de
profissionais da área da saúde. A principal função do CID é monitorar a incidência e
prevalência de doenças, através de uma padronização universal.
244
será necessário escrever 3 sentimentos positivos para substituir as sensações
ruins e que estão gerando preocupações. Dessa forma, cada vez que o
acadêmico sentir emoções intrusivas possa observá-las e transformá-las em
algo que motive seu trabalho e desempenho. Serão utilizadas fitas de papel,
caneta e lixeira.

Referencial teórico

Os grupos caracterizam-se por pessoas reunidas por demandas


semelhantes e que objetivam realizar uma atividade, visto que desde o
nascimento, passando pela construção dos sujeitos são obtidas características
comportamentais e psicológicas saudáveis ou doentias adquiridas em grupo
(ZIMERMAN, 1999). A ressignificação, o desenvolvimento e a ampliação dos
modos de atuar no mundo e com os outros e a descristalização de velhos
conceitos acontecem nas relações sociais.

Para Pichon-Riviére (2005), o grupo é um conjunto de pessoas ligadas


por constantes de tempo e espaço estruturadas por uma mútua representação
interna, propõem-se, explícita ou implicitamente, a realizar uma tarefa
constituída por uma finalidade. Essa finalidade pode ser observar o modo como
cada participante do grupo interage a partir das próprias necessidades.

As intervenções em grupo possuem uma história onde se acreditava ter


tido início no século XX, através de médicos que julgavam que os trabalhos em
grupo poderiam ser um suporte de recuperação para os pacientes afetados de
doenças. Em concordância com Bechelli & Santos (2004), a psicoterapia grupal
surgiu nos Estados Unidos através de Joseph H. Pratt, onde este médico
realizava reuniões em grupo com pacientes acometidos de tuberculose e que
era hipossuficientes.

245
No mesmo país, Moreno por volta de 1932, inseriu a prática que
denominou como psicoterapia de grupo, na qual, além da fala eram
representados papeis (como um teatro) abrindo espaço para a criatividade,
autonomia e confiança emergirem. Os membros tornavam-se agentes
terapêuticos uns dos outros (KATIS et al., 1976). Mais tarde nomeou esta prática
como psicodrama, dividida em etapas como aquecimento, dramatização e
comentários, neste processo os indivíduos tornavam-se mais conscientes de
suas relações.

Consoante com Kaplan & Sadock (1983), através das práticas dos
psiquiatras Marsh e Lazell que utilizavam de aulas para abordarem os temas
relacionados às possíveis origens e sintomas dos transtornos dos pacientes
internados promovendo uma reeducação era observada maior sociabilidade
entre eles que relatavam melhoras nos sintomas e buscavam encontrar soluções
para o seus sofrimentos mentais vários psiquiatras aderiram à prática de
psicoterapia em grupo com pacientes acometidos de esquizofrenia nas
instituições.

De acordo com Neufeld & Rangé (2017), a terapia em grupo diverge das
outras abordagens terapêuticas por possuir o senso de pertencimento em prol
da saúde mental e dar relevância aos fatores sociais, a noção de comunidade e
o tratamento social para o que era considerada psicopatologia social.

Ao propiciarem o acesso a um maior número de pacientes, as


psicoterapias em grupo também possibilitam a experiência de viver um processo
terapêutico em conjunto com um grupo de pessoas que partilham o mesmo tipo
de dificuldade. Os membros conseguem visualizar quais questões não são
apenas individuais, e sim que atravessam as vidas dos demais que participam
daquele o grupo ou situação e ainda, a criação de vínculos que se estendem
para além da psicoterapia (RANGÉ, 2011). As psicoterapias são promotoras de
saúde mental por tratarem de problemas emocionais, comportamentais e
246
psicológicos com o objetivo de reduzir ou remover a fonte de queixa ou
transtorno do paciente/cliente, além de desenvolver recursos de enfrentamento
e habilidades necessárias para lidar com os desafios, situações e oportunidades
inerentes à vida.

Conforme citam Cordioli & Grevet (2019), os fatores terapêuticos de grupo


presentes em todas as psicoterapias são os subsídios para que as intervenções
alcancem os objetivos propostos. Entre eles, a presença de uma quantidade
significa de esperança e confiança de que a psicoterapia atuará para alívio do
sofrimento psíquico, o estabelecimento de uma relação significativa entre o os
membros do grupo e o psicoterapeuta e a reciprocidade do apoio através do
sentimento de identificação com o sofrimento.

Os pontos que devem ser observados em psicoterapia o embasamento


em uma teoria que ofereça uma explicação coerente sobre a origem,
manutenção e formas de eliminar os sintomas; a especificação dos objetivos
propostos; as evidências sobre a efetividade das técnicas aplicadas; a
comprovação das mudanças observadas como decorrentes das técnicas
utilizadas e o zelo pela ética profissional. É fundamental que o psicólogo tenha
habilidades e recursos para realizar intervenções grupais. Este como qualquer
outro sujeito possui os seus conflitos, dificuldades, situações estressoras, falta
de habilidades e limitações que precisam ser desenvolvidas, dialogadas
expostas e também adquiridas através do estudo, da psicoterapia e da
supervisão. (CORDIOLI, 2007).

Como um cuidador da saúde mental dos pacientes/clientes, o psicólogo


deve estar inteiro, pronto e disponível para oferecer o seu serviço com a melhor
qualidade de acolhimento, suporte, escuta, observação e aplicabilidade das
teorias e técnicas psicoterápicas (LIMA, 2004).

247
Desde a iniciação da vida acadêmica, o universitário vivencia mudanças
biológicas, psicológicas e sociais e se depara com aspectos estressores durante
todo esse percurso. O sofrimento psíquico atinge grande parte dessa população,
e pode ser caracterizado por um acentuado e duradouro desconforto emocional,
angústia, tristeza, falta de expressão afetiva, esgotamento emocional,
isolamento social, dentre outros sintomas. Os motivos do sofrimento psíquico
inicialmente se apresentam nas dificuldades de adaptação dos universitários no
início do curso, e até mesmo referente sobre as expectativas quanto ao término
da graduação, de como será sua vida após esse processo acadêmico. Essa
expectativa de futuro, da proximidade com o sofrimento e até mesmo de
percepção da profissão em relação a possíveis mortes de pacientes, são alguns
dos estressores mais significativos. Tais questões podem ser associadas a uma
percepção negativa do ambiente acadêmico, podendo causar queda na
qualidade de vida.

A profissão da enfermagem é apontada como um dos campos mais


afetados por doenças ocupacionais (SANTOS et al., 2016). Trabalhar com as
fragilidades humanas promove o desenvolvimento de emoções. Desse modo, o
curso de enfermagem traz consigo uma peculiaridade, considerando que o
aprendizado dessa profissão é voltado ao cuidado, e permeia os limites do ser
humano, como doença e morte (YOSETAKE et al., 2018). É de suma importância
destacar que é uma profissão considerada de risco para o desenvolvimento de
problemas relacionados à saúde mental, uma vez que desde a formação
acadêmica, o indivíduo encara situações que exigem tomadas de decisões
importantes no cuidado a outras pessoas. Situações estas, que podem gerar
ansiedade e insegurança (MOTA et al., 2016). Portanto, a fim de facilitar seu
processo formativo e promover uma melhor qualidade de vida a esses
estudantes (LIMA et al., 2021), frisamos como indispensável, a importância da
rede do núcleo de apoio ao universitário (NOAP).

248
Segundo Hespanhol (2005), o termo Burnout foi primeiramente utilizado
por Freudenberg em 1970 para nomear uma síndrome de exaustão e de
desilusão em trabalhadores voluntários na área da saúde, devido a frustração de
expectativas no trabalho. Essa síndrome acarreta principalmente em trabalhos
com contato direto com seres humanos, ou seja, sobretudo os serviços de saúde,
sociais, da justiça e da educação.

O extremo stress ocupacional pode causar o Burnout, que tem como


principais fatores característicos a exaustão emocional, despersonalização dos
outros e ausência de realização pessoal. Essa exaustão costuma ser observada
de forma física, psicológica e comportamental ao mesmo tempo, com sintomas
como: irritabilidade, impaciência, frustração, mau humor, aumento de conflitos,
falta de energia, problemas de sono, tremores, dores, tensão muscular,
palpitações e aumento da susceptibilidade às doenças físicas. É comum que o
profissional que atue constantemente com pessoas e desenvolva a síndrome de
Burnout, perca a empatia que lhe antes era observada, tratando as pessoas com
mais frieza e irritabilidade. Originalmente apresenta-se como uma maneira do
profissional se defender da carga emocional derivada do contato direto com o
outro, desencadeando atitudes insensíveis em relação às pessoas nas funções
que desempenha (LOPES, PÊGO; 2015).

A instalação da síndrome ocorre de maneira lenta e gradual, acometendo


o indivíduo progressivamente. Antes que a síndrome seja realmente
estabelecida, algumas medidas de prevenção podem ser tomadas pela
empresa, como por exemplo enfatizar a promoção dos valores humanos no
ambiente de trabalho, para fazer dele uma fonte de saúde e realização (LOPES,
PÊGO; 2015).

Conforme a Associação Nacional de Medicina do Trabalho, vale destacar


a diferença entre stress e o Burnout propriamente dito, este segundo está
necessariamente ligado ao ambiente de trabalho através de um stress crônico,
249
não se resolvendo apenas com descanso ou férias. Já o stress, pode se dar em
diferentes áreas da vida, é uma reação fisiológica automática do corpo a
circunstâncias que exigem ajustes comportamentais.

As leis brasileiras de auxílio ao trabalhador já citam a Síndrome de


Burnout, no Decreto nº3048/99 de 6 de maio de 1996 que dispõe sobre a
Regulamentação da Previdência Social conforme previsto no Art.20 da Lei nº
8.213/91, ao se referir aos transtornos mentais e do comportamento relacionado
com o trabalho (Grupo V da CID-10) aponta a “Sensação de Estar Acabado”
(Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional).

Os sintomas mais comuns da Síndrome de Burnout são pressão para lidar


com o ofício; fadiga extrema, dores corporais e enxaquecas; sono excessivo ou
insônia; angustia de retorno ao lar pelo medo da contaminação aos familiares;
medo do contágio; afastamento dos demais profissionais de outras equipes e
muitas vezes o sofrimento de preconceitos por trabalhar em uma área que é fluxo
de covid-19; alguns profissionais em casos mais graves são acometidos por
depressão e ansiedade, ou o misto das duas patologias; abuso de substâncias
psicoativas para darem conta da situação estressante vivida; lentificação do
raciocínio e perdas na memória; alteração abrupta de humor; crises de choro.

O tratamento e cuidados contemplam além da boa alimentação, sono


regular e tranquilo, exercícios físicos e relaxamento mental, o acompanhamento
psicológico é necessário, pois é no processo terapêutico que o profissional tem
a chance de compreender suas aflições e aprender a lidar com elas.

Cronograma

250
Atividades/ Mês Abril Maio Junho Julho

Definição do tema 04 e 11

Elaboração do Projeto 18 e 25

Levantamento Bibliográfico 02 e 09

Revisão de Literatura 16, 23 e 30

Intervenção Prática 06, 13 e 20

Entrega do Projeto Parcial 27

Entrega do Projeto Final 04

Impressões (folders) 50,00

Brindes Diversos 50,00

Logística (gasolina/uber) 50,00

Considerações Finais

A intervenção de grupos do projeto em questão abordou temáticas


referentes a Síndrome de Burnout e, dessa forma, promoveu aos acadêmicos do
curso de enfermagem conhecimento e autocuidado referentes ao ambiente
ocupacional e, principalmente, no hospitalar. O projeto executou na pratica,
dinâmicas psicoterapêuticas no grupo com o objetivo de prevenir e amenizar os
sintomas relacionados a Síndrome de Burnout.

251
As intervenções foram divididas em quatro encontros, das quais
obtivemos resultados e conclusões significantes referente a proposta inicial
desse projeto. No primeiro encontro (Imagem 1), as alunas de psicologia
realizaram a primeira parte da entrevista com a coordenadora do curso, Adriane
Gama, onde foi possível recolher informações pertinentes ao curso de
Enfermagem da Ulbra/Manaus e, assim, elaborar as intervenções adequadas ao
grupo em especifico. Em suma, atualmente, encontram-se inscritos no Conselho
Regional de Enfermagem do Amazonas (COREN-AM, 2017) 8.239 enfermeiros,
quantitativo pequeno frente às necessidades de saúde-doença-cuidado do
homem amazônida, bem como de formação e qualificação profissional das
novas gerações em nível técnico, graduação e pós-graduação.

O cenário apresentado justifica a importância da manutenção do Curso de


Enfermagem do CEULM/ULBRA, considerando que as Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN) para o Ensino de Graduação em Enfermagem, no art. 5º,
parágrafo único, determinam que “a formação do enfermeiro deve atender às
necessidades sociais e regionais de saúde, com ênfase no SUS, assegurando a
integralidade da atenção, a qualidade e a humanização da assistência em
saúde”.

Segundo a coordenadora, o curso volta-se para a formação de


profissionais qualificados para atuar no processo saúde-doença, nos agravos
prevalentes no perfil epidemiológico nacional, com ênfase no padrão nosológico
regional e local, como está preconizado nas Diretrizes Curriculares Nacionais
para os Cursos de Graduação em Enfermagem, Resolução CNE/CES nº
03/2001, pautada na indissociabilidade do ensino, pesquisa,
extensão/assistência.

O marco das atividades acadêmicas contempla as redes de atenção à


saúde, na qual o Enfermeiro formado pelo CEULM/ULBRA contribuirá para a
consolidação dos princípios do SUS, para o fortalecimento da promoção,
252
prevenção e a educação em saúde em múltiplos ambientes e espaços sociais,
para o desenvolvimento sustentável; desvelando sua relevância perante a
comunidade e fortalecendo os vínculos entre a profissão de enfermagem, a
instituição formadora, as agências de fomentos e a equipe interdisciplinar da
sociedade Amazônica e Brasileira. Com isso, a enfermagem baseada em
evidências, enquanto patrimônio da humanidade disponibiliza-se para além das
dimensões do CEULM/ULBRA, justificando sua existência.

Imagem 1: Primeira parte da entrevista com a

coordenadora do curso de Enfermagem.

No segundo encontro (Imagem 2), foi realizado a última parte da entrevista


com a coordenadora, onde foram definidos os detalhes em relação as dinâmicas
que seriam aplicadas. Nesse sentindo, baseado no quantitativo de cerca de 96
alunos matriculados, foi definido que a intervenção em grupo seria realizada com

253
a turma de primeiro ano, devido ao maior número de matriculados na mesma
sala. As praticas a serem aplicadas foram explanadas a coordenadora e
aprovada pela mesma. Ficou, então, definido a aplicação de Psicoeducação
sobre o tema proposto, a pratica de Mindfulness, além de uma dinâmica de grupo
para promover o autoconhecimento e ressignificação emocional.

Imagem 2: Segunda parte da entrevista com a

coordenadora do curso de Enfermagem.

Durante a primeira parte do terceiro encontro, foi realizada uma roda de


conversa para a apresentação do tema, Síndrome de Burnout, e o quanto os
profissionais de enfermagem são atingidos por esse transtorno. Os
esclarecimentos quanto as dúvidas, bem como as formas de prevenção e
autocuidado, foram feitas durante a roda de conversa e também estavam

254
presentes nos informativos distribuídos para cada participante do grupo (Imagem
3).

Imagem 3: Informativos distribuídos durante a intervenção em grupo

Na segunda parte do mesmo encontro, foi apresentado o conceito de


autocompaixão e Mindfulness para que os alunos se familiarizassem com a
técnica e, em seguida, convidados a realizarem a prática de Mindfulness – que
significa cultivar um estado de presença conectada – para prevenir o Burnout em
suas atuações como cuidadores, além de envolvê-los em uma atividade de
autocuidado. Através do foco nos exercícios respiratórios e nos sentimentos de
frustração decorrentes da situação de saúde dos pacientes, os alunos puderam
sentir as suas emoções e direcionar a autocompaixão tanto para os pacientes
quanto para si mesmos. Dessa forma, aprenderam a fazer o melhor que podem
no exercício de sua profissão diante do sofrimento do outro.

Na terceira e última parte do encontro, foi realizada uma dinâmica para


que os aspectos cognitivos e emocionais fossem trabalhados. Os alunos
puderam perceber que é possível mudar as emoções experienciadas em sua
rotina laboral sobre uma situação problemática, pensando em situações que lhe
255
trazem conforto e alegria e que o equilíbrio emocional é fundamental para a
produtividade de seu dia.

Por fim, os acadêmicos puderam expressar curiosidades sobre a temática


e o bem estar provocado diante das práticas que gentilmente se permitiram
experienciar e sentir. A conclusão do projeto de intervenção em grupo foi
significativa na medida em que, tanto o grupo selecionado, quanto as alunas de
psicologia, puderam beneficiar-se positivamente das atividades realizadas.

Referencias

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evoluiu. Revista Latino-americana de Enfermagem, v. 12, n. 2, março-abril 2004,
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ZIMERMAN, E. D. Fundamentos Básicos das Grupoterapias. Porto Alegre:


Artmed, 1999.

CAPÍTULO XII

A Síndrome de Burnout: Orientação para prevenção

Elizangela da Rocha Mota


Ana Rosa Monteiro Silva
Eduardo Monteiro Silva
Gabryelle Redman Baptista
Maria Karolina Nunes Araújo

258
RESUMO

A saúde mental é uma pauta que ganha cada vez mais atenção e sua
importância na vida de todos nós é cada vez mais destacada. No nível da
empresa, é de extrema importância que ela tenha ações constantes que
promovam a saúde mental e autoestima de seus funcionários, pois trabalham
muitas vezes como segunda casa trabalhadores que passam o dia inteiro na
empresa. A síndrome de Burnout (SB) foi descrita pela primeira vez em 1974
pelo psiquiatra Herbert Freudenberger (Freudenberger, 1974) e agora está
incluída na Classificação Internacional de Doenças CID-11, código QD85
(Organização Mundial da Saúde [OMS], 2019). Dentre várias doenças laborais
a mais comum entre os colaboradores de algumas instituições é o Burnout, a
partir disso entende-se a necessidade de se trabalhar o tema e promover um
ambiente que ofereça estímulos para desenvolvimento autoestima e incentivo
aos cuidados da saúde mental com a finalidade de se evitar um possível
desenvolvimento da síndrome de Burnout possa vir a prejudicar os
colaboradores.

Palavras-Chave: Burnout, autoestima, estresse, saúde mental.

ABSTRACT

Mental health is an agenda that is gaining more and more attention and its
importance in the lives of all of us is increasingly highlighted. At the company
level, it is extremely important that it has constant actions that promote the mental
health and self-esteem of its employees, as workers who spend the whole day at
the company often work as second homes. Burnout syndrome (BS) was first
described in 1974 by the psychiatrist Herbert Freudenberger (Freudenberger,
1974) and is now included in the International Classification of Diseases ICD-11,
code QD85 (World Health Organization [WHO], 2019). Among several
occupational diseases, the most common among employees of some institutions
is Burnout, from this it is understood the need to work on the theme and promote
an environment that offers stimuli for the development of self-esteem and
incentive to mental health care with the purpose of to avoid a possible
development of the Burnout syndrome that could harm the collaborators.

Keywords: Burnout, self-esteem, stress, mental health.


259
INTRODUÇÃO

Sabe-se que a saúde mental é uma pauta que tem ganhado cada vez
mais atenção e vem sendo cada vez mais evidenciada a sua importância em
qualquer âmbito de nossas vidas. No âmbito corporativo é de extrema
importância que se haja constantemente ações que promovam a saúde mental
e autoestima de seus colaboradores, uma vez que o trabalho é muitas vezes
como a segunda casa dos trabalhadores que passam muitas vezes o dia todo
na empresa. Tendo isto em vista observa-se que os trabalhadores que não tem
suas necessidades assistidas tornam-se cansados e sobrecarregados o que
pode vir a se tornar um esgotamento emocional e físico viabilizando assim o
surgimento da síndrome de Burnout. A síndrome de Burnout (SB) foi descrita
pela primeira vez em 1974 pelo psiquiatra Herbert Freudenberger
(Freudenberger, 1974) e agora está incluída na Classificação Internacional de
Doenças CID-11, código QD85 (Organização Mundial da Saúde [OMS], 2019).
É considerada uma resposta prolongada a estressores emocionais e
interpessoais crônicos no trabalho, classificados como exaustão emocional,
despersonalização e ineficiência. Manifesta-se principalmente por sintomas de
cansaço persistente, falta de energia, adoção de comportamentos de
distanciamento emocional, insensibilidade, indiferença ou irritabilidade
relacionados ao trabalho, aos quais se somam sentimentos de ineficiência e
baixo crescimento pessoal.

JUSTIFICATIVA

O ambiente de trabalho é o local onde a maior parte das pessoas passa


o dia, considerando o fato de que para muitas pessoas o trabalho é como se
260
fosse uma segunda casa, entende-se que o ambiente de trabalho deve ser
mantido de maneira saudável e as relações desenvolvidas nele devem ser
assistidas de maneira adequada para que haja uma certa prevalência na
satisfação ao se estar no ambiente de trabalho. Observamos que uma carga de
trabalho excessiva sem momentos de intervalos e atividades que possam
estimular a autoestima dos funcionários pode ser algo que venha a se tornar
prejudicial no futuro para a saúde deste colaborador fornecer um ambiente de
trabalho com atividades interativas e o intervalo adequado possibilitam com que
o funcionário tenha a melhor experiência no âmbito laboral.

Algumas doenças psicopatológicas surgem devido à grande quantidade


de estresse e sobrecarga de trabalho, o processo psicossomático acontece
quando a pessoa ignora certos traços e necessidades mentais e há uma certa
negligência com as necessidades psicológicas e fisiológicas, como
consequência os resultados dessa negligência com a saúde mental acabam
refletindo na saúde física, adoecendo assim o colaborador e tornando-o
vulnerável.

Dentre várias doenças laborais a mais comum entre os colaboradores de


algumas instituições é o Burnout, a partir disso entende-se a necessidade de se
trabalhar o tema e promover um ambiente que ofereça estímulos para
desenvolvimento autoestima e incentivo aos cuidados da saúde mental com a
finalidade de se evitar um possível desenvolvimento da síndrome de Burnout
possa vir a prejudicar os colaboradores.

REFERENCIAL TEÓRICO

1. A Autoestima

A autoestima é a atitude de cada um em relação a si mesmo. eu, a


percepção de autoavaliação, o modo de ser, Dependendo do que a pessoa
pensa de si mesma, pode ser positivo ou negativo. Não é estático porque
261
apresenta altos e baixos, revelando-se Durante eventos sociais, emocionais e
psicofisiológicos (psicossomáticos), Emite sinais detectáveis de vários graus.
ninguém pára de pensar em você Todos nós temos a tendência de nos avaliar,
mas fazemos isso de maneiras diferentes. Diferentes, diferentes, cada um à sua
maneira, considerando o mundo em que estou ao redor, mas ela tem que ser
muito realista. Depois, há o papel de educador ou cuidador (amplamente),
enquanto nos campos da educação, psicologia e medicina, Social,
psicoeducacional e muitos outros profissionais de ajuda.

Esses são os traços da autoestima positiva: sentir-se seguro e confiante


em si mesmo; buscar a felicidade; reconhecer nossas qualidades sem ser
vaidoso; não se ver como superior ou inferior aos outros; saber reconhecer as
limitações e os aspectos negativos de nossa personalidade; ser aberto e
compreensivo ser capaz de superar falhas de categoria; saber construir relações
sociais saudáveis; ser construtivo e crítico; e o mais importante, ser consistente
e coerente consigo mesmo e com os outros. Ao ter uma autoimagem e
autoestima melhores (mais autênticas) e coerentes, tendemos a gostar mais das
outras pessoas, seremos mais afetuosos, trabalharemos mais e até cuidaremos
do que vemos como mais positivo aspectos de nós mesmos e de nós mesmos.

A baixa autoestima e autoimagem é uma doença grave que favorece o


egoísmo, cria dependência e destrói relacionamentos. Não é uma regra, mas ter
uma autoimagem e autoestima mais positivas nos mantém mais longe da tensão,
frustração e inquietação para que possamos ir mais longe. Mosquera (1983)
relata que quando perguntamos a uma pessoa reflexiva o que tipo de
experiências que comprometem seriamente sua auto-estima e auto-imagem,
pode descrever algumas de suas combinações falhadas ou comentários muito
negativos de outras pessoas. A autoimagem é mais importante, diz ele (re)
familiarizar-nos com a forma como nos sentimos sobre o nosso Capacidades,
sentimentos, atitudes e pensamentos, a imagem mais verdadeira Em suma,
pode ser nossa própria criação.
262
Rangel (2018) constatou em sua pesquisa que funcionários com alta
autoestima apresentam melhor felicidade no trabalho e, portanto, têm melhor
engajamento. Além disso, existe uma relação entre engajamento, autoestima e
bons níveis de desempenho. Pasquali e colaboradores (1981) destacaram em
sua revisão de literatura que pessoas com baixa autoestima apresentam menor
satisfação com as tarefas que realizam. Pelo exposto, percebe-se que a
autoestima afeta o comportamento e a satisfação dos funcionários no ambiente
de trabalho, o que, por sua vez, afeta os relacionamentos e os resultados que
eles geram durante o tempo de trabalho. Na verdade, um bom senso de
confiança e segurança pode fazer a diferença para ajudar os indivíduos a se
adaptarem às mudanças em seu processo de tomada de decisão.

2. O trabalho excessivo e suas consequências

As mudanças sociais, econômicas e tecnológicas afetam


significativamente os funcionários, que dão ao trabalho um novo sentido e
significado. Segundo Prado (2016) O profissional da era globalizada está
engajado em um cenário que é moldado por uma série de fatores como alta
competitividade, aumento do trabalho terceirizado e acirrada competição
causando desgastes fisiológicos e cognitivos no corpo humano. Os
colaboradores, cujo desempenho depende de elevada responsabilidade, tomada
de decisão e outros fatores que exijam um resultado satisfatório, abandonam
cada vez mais o tempo livre e o descanso necessários à recuperação do corpo
e da mente.

Para Prado (2016), estabelecer e distribuir as tarefas que compõem a


carga de trabalho profissional está relacionado ao estresse laboral significativo,
que pode sofrer desvantagens significativas devido às condições incertas de

263
organização do trabalho, que vão desde baixo reconhecimento e recompensas,
desproporcionalidade de tarefas atribuídas e concluídas até falta de recursos e
problemas de infraestrutura.

Para abordar o estresse ocupacional, são considerados aspectos


biológicos, psicológicos e sociológicos que, embora distintos, se complementam
e se relacionam. Na biologia, a principal característica do estresse é o nível de
desgaste do corpo. Os processos emocionais, emocionais e intelectuais de um
indivíduo correspondem ao método psicológico, ou seja, é a forma como ele se
relaciona com os outros e com o mundo ao seu redor. Além disso, a sociologia
refere-se à compreensão das variáveis estabelecidas em um contexto social. O
diagnóstico de sinais e sintomas de estresse ocupacional é essencialmente
clínico, baseado na triagem individual e risco no ambiente de trabalho.

Apresentada como um fenômeno crescente na atualidade, a síndrome de


burnout (SB), também conhecida como burnout no Brasil, tem recebido
diferentes nomes. A definição mais aceita é baseada na perspectiva psicossocial
que busca identificar as condições no ambiente de trabalho que levam ao
burnout e os sintomas específicos que caracterizam a síndrome. É considerada
uma resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no
trabalho, classificados como exaustão emocional, despersonalização e
ineficiência. Manifesta-se principalmente por sintomas de cansaço persistente,
falta de energia, adoção de comportamentos de distanciamento emocional,
insensibilidade, indiferença ou irritabilidade relacionados ao trabalho, aos quais
se somam sentimentos de ineficiência e baixo crescimento pessoal.

3. Burnout

264
A síndrome de Burnout (SB) foi descrita pela primeira vez em 1974 pelo
psiquiatra Herbert Freudenberger (Freudenberger, 1974) e agora está incluída
na Classificação Internacional de Doenças CID-11, código QD85 (Organização
Mundial da Saúde [OMS], 2019). Christina Maslach (1976) propôs um modelo
teórico para descrever a SB, definindo-a como uma resposta de longo prazo a
estressores interpessoais crônicos no trabalho, manifestada em três dimensões
interdependentes: exaustão emocional, despersonalização e redução da
realização pessoal (Maslach , Schaufeli & Leiter, 2001). A exaustão emocional é
caracterizada por se sentir sobrecarregada e esgotada de recursos físicos e
emocionais, levando ao esgotamento de energia para investir em situações que
surgem no trabalho (Maslach et al., 2001).

Um dos possíveis efeitos da exposição crônica ao estresse ocupacional é


o desenvolvimento da Síndrome de Burnout (SB) ou burnout, que acomete
profissionais que estão em contato próximo com os usuários dos serviços, como
saúde, educação, polícia, assistente social, entre outros (Brasil Ministério da
Saúde e Organização Pan-Americana da Saúde Brasileira, 2001). À medida que
a exaustão emocional piora, pode desenvolver-se a despersonalização ou o
cinismo, que se caracteriza pela alienação ou apatia do indivíduo em relação ao
trabalho, colegas e pacientes (Maslach et al., 2001). A despersonalização é
considerada uma resposta à exaustão emocional e constitui as estratégias de
enfrentamento do indivíduo diante do estresse crônico (Maslach et al., 2001;
Maslach & Leiter, 2008). A perda gradual de empatia e apatia em relação ao
trabalho acaba por levar à insensibilidade emocional e ao afastamento excessivo
do público que deveriam servir (Carlotto & Câmara, 2008), prejudicando a
capacidade dos profissionais de saúde de prestarem cuidados de qualidade aos
pacientes.

A predisposição à SB está bem documentada entre os profissionais de


saúde, especialmente aqueles que trabalham em ambientes complexos e
estressantes, como hospitais, e é frequentemente encontrada (25% a 67%) entre
265
médicos de diferentes especialidades (Bartholomew et al, 2018 Years;
Rotenstein et al. ., 2018), residência (7% a 76%) (Erschens et al., 2019; IsHak et
al., 2009; Low et al., 2019; Rodrigues et al., 2018; Shanafelt , Bradley, Wipf &
Back, 2002) e enfermeiros (10% a 70%) (Bridgeman, Bridgeman & Barone, 2018;
Woo, Ho, Tang, & Tam, 2020; Chemali et.al., 2019; Koinis et al., 2015; Moss,
Good, Gozal, Kleinpell & Sessler, 2016).

A SB afeta a saúde física e mental dos profissionais, com consequências


preocupantes a nível individual e organizacional (Moss et al., 2016), indicando a
necessidade de prevenir os seus sintomas (Carlotto & Câmara, 2008). As
estratégias de prevenção da SB incluem intervenções individuais e
organizacionais, ou idealmente uma combinação das duas (Melo & Carlotto,
2017; Moss et al., 2016).

Em 2019, a síndrome foi codificada na Classificação Internacional de


Doenças CID-11 (código QD85) como uma categoria de "problemas
relacionados ao emprego ou desemprego" (Organização Mundial da Saúde
[OMS], 2019). Na versão mais recente, a SB foi definida como um fenômeno
relacionado ao trabalho que afeta a saúde dos profissionais decorrente do
manejo malsucedido do estresse crônico no ambiente de trabalho. As principais
mudanças trazidas pela CID-11 em relação à edição anterior são a
caracterização da síndrome por meio de três elementos: exaustão; cinismo ou
emoções negativas relacionadas ao seu trabalho; e redução da eficiência
profissional (OMS, 2019). Essa descrição corresponde ao conceito
tridimensional de SB proposto por Maslach (1976) e reitera a consistência e
coesão desse modelo teórico.

METODOLOGIA

266
Mediante a problemática apresentada no presente projeto juntamente
com suas demandas de pesquisa, verifica-se a potencialidade do emprego de
diversas ferramentas para que se possa ser assertivo no processo de angariação
de dados. Para investigar as problemáticas propostas, visa-se se apropriar de
métodos voltados para a revisão bibliográfica, no qual explana Gil (2007), a
revisão de cunho bibliográfico é configurada se embasando em produções já
findadas, como artigos científicos, teses e livros, se compactuando assim com
um rigor de exploração de conhecimento, consentindo mais completude em
relação a problemática, apurando assim ideias e se deparando com outras
percepções. Visa-se a partir desses aparatos teóricos, os processos de
investigação sobre desenvolvimento da síndrome de Burnout no ambiente
corporativo e a conscientização para se evitar a síndrome. O público alvo deste
projeto de pesquisa intervenção são colaboradores da instituição e será uma
aplicada às atividades baseadas em roda de conversa e entrevistas semi
estruturadas com o intuito de abordar a temática da síndrome de Burnout como
preveni-la no ambiente corporativo, as atividades serão realizadas no tempo de
intervalo das funcionários e não afetará em suas atividades.

O cronograma apresentado abaixo indica as etapas de realização do


projeto de intervenção, que se propõe a ocorrer duas vezes na semana entre os
meses de Novembro e Dezembro, nos dias de Terça-Feira e Quinta-feira, nas
dependências da universidade:

ATIVIDADES 1º 2º 3º 4º 5º
Encontro Encontro Encontro Encontro
Encontro
1 Integração 22/11 x x x x
2 Aplicação de escalas x 24/11 x x x
e questionário sobre
burnout.

267
3 Roda de Conversa x x 29/11 x x
sobre o Burnout
4 feedback, técnicas x x x 01/12 x
para aliviar os sintomas
e encerramento.

Conforme o cronograma de atividades proposto pelos desenvolvedores


deste projeto de pesquisa e intervenção, foi apresentado aos participantes da
pesquisa o termo de assentimento livre e esclarecido (TALE) convidando-os a
participar de maneira voluntária, garantindo o sigilo e coletando os dados de
maneira simplificada como consta no ANEXO 1, a pesquisa foi realizada de
maneira anônima com o objetivo de chegar a respostas mais sinceras e seguras
para o projeto, além de assegurar a identidade dos participantes.

As coletas de dados quantitativos foram disponibilizadas por meio do


código QR para 10 perguntas no Google. As questões enfocaram o nível de
satisfação com o ambiente de trabalho, carga horária, disposição para realizar o
trabalho, nível de estresse, idade e tempo de serviço no estabelecimento. Os
encontros foram finalizados com rodas de conversa onde foi abordado sobre o
Burnout e reflexões acerca do tema, como ele se desenvolve, maneiras de
identificar e como tratar. O questionário disponibilizado para aquisição de
respostas para os dados quantitativos deste projeto foram baseados no
Inventário de Burnout de Maslach. A ferramenta de burnout mais utilizada para
avaliar funcionários que, devido à natureza de seu trabalho, precisam de contato
direto com outras pessoas, é o MBI-HSS (Maslach Burnout Inventory-Human
Services Survey). A necessidade de avaliar o burnout em outras ocupações onde
as pessoas não são usadas ou visitadas às vezes desenvolveu o MBI-GS-
Maslach Burnout Inventory-General Survey Version (Schaufeli, Leiter, Maslach,
& Jackson, 1996). Essa ampliação do conceito de burnout levou os
pesquisadores a desenvolver o MBI-SS (Maslach Burnout Inventory - Student
Survey) para avaliar a síndrome dos alunos, ou seja, como vivenciam os estudos
268
segundo as três dimensões conceituais do MBI-SS. GS, exaustão emocional,
despersonalização e baixo desempenho vocacional.

PRINCÍPIOS ÉTICOS

O presente projeto, por ser de intervenção e envolver pessoas, respeitará


as diretrizes e critérios estabelecidos na Resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde, que zela pelos princípios éticos.

Dentre as exigências da resolução, está a obrigatoriedade de que os


participantes, ou representantes deles, sejam esclarecidos sobre os
procedimentos adotados durante toda a pesquisa e sobre os possíveis
riscos e benefícios. (Saúde, Conselho Nacional de. 2013).

E também respeitará as diretrizes justas do Código de ética profissional


do psicólogo, com intuito de preservar a saúde e bem estar mental dos
voluntários ao projeto.

Estaremos compactuando da supervisão de um profissional, para


verificação do projeto de intervenção e assim emitindo um termo de
consentimento livre e esclarecido, no qual, o participante terá ciência do
processo e o profissional terá ciência do procedimento. Trabalhando de acordo
com os parâmetros avaliados pelo supervisor, como demonstra na Resolução
CFP N° 001/2009. Resolução que, em seu artigo 1, retrata sobre o registro
documental mediante a apresentação de serviços psicológicos que não puderem
ser mantidos prioritariamente sobre a forma de prontuário psicológico, por razões
que envolvam a restrição do compartilhamento de informações com o usuário
e/ou beneficiário do serviço prestado. Na cláusula 2, cita que deve ser mantido
permanentemente atualizado pelo psicólogo que acompanha o procedimento,
neste caso o professor responsável.
269
Art. 3°. Em caso de serviço psicológico prestado em serviços- escola e
campos de estágio, o registro deve contemplar a identificação e a
assinatura do responsável técnico/ supervisor que responderá pelo
serviço prestado, bem como do estagiário

Ainda nesta resolução, o Art. 2°: aborda sobre os documentos agrupados


nos registros do trabalho realizado, mantendo neste projeto a identificação do
usuário/ instituição; a avaliação de demanda e definição de objetivo do trabalho;
registro da evolução do trabalho, de modo a permitir o conhecimento do mesmo
e seu acompanhamento, bem como os procedimentos técnicos-científicos
adotados; e registros de encaminhamento ou encerramento.

Consta ainda nesse trabalho os procedimentos éticos de atuação do


psicólogo, pois a intervenção deve ser realizada de forma esclarecida e justa ao
código de conduta do profissional, para desta forma, preservar os voluntários
participantes do grupo do projeto em questão. Dentre esses princípios serão
destacados os seguintes:

RESOLUÇÃO CFP Nº 010/05

· Princípios fundamentais

1. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da


liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser
humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
2. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de
vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a
eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
3. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica
e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.

270
4. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo
aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento
da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática.
5. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso
da população às informações, ao conhecimento da ciência
psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.
6. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado
com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja
sendo aviltada.
7. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em
que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades
profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância
com os demais princípios deste Código.

Ainda presente no código de Ética, destaca-se também a importância do


sigilo profissional, pois este meio de intervenção poderá revelar aspectos
pessoas do grupo. Deste modo, faz-se necessário seguir as orientações do
mesmo para atender as demandas de forma ética e segura para a sociedade,
usando assim as normas que é disponibilizado pelo CFP nas práxis a serem
seguidas na atuação profissional do Psicólogo, conforme determina o Código de
Ética (2005, p.8-16):

Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não


psicólogos:

a) Encaminhará a profissionais ou entidades habilitados e qualificados


demandas que extrapolem seu campo de atuação;

b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o


serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das
comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber,
de preservar o sigilo;

Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de


proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas,
grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.

Art. 10º - Nas situações em que se configure conflito entre as


exigências decorrentes do disposto no Art. 9º e as afirmações dos
princípios fundamentais deste Código, executando-se os casos
previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo,
baseando sua decisão na busca de menor prejuízo. (BRASIL, 2005,
p.13)

Art. 14 – A utilização de quaisquer meios de registro e observação da


prática psicológica obedecerá às normas deste Código e a legislação
271
profissional vigente, devendo o usuário ou beneficiário, desde o início,
ser informado.

Art. 16 – O psicólogo, na realização de estudos, pesquisas e atividades


voltadas para a produção de conhecimento e desenvolvimento de
tecnologias:

a) Avaliará os riscos envolvidos, tanto pelos procedimentos, como pela


divulgação dos resultados, com o objetivo de proteger as pessoas,
grupos, organizações e comunidades envolvidas;

b) Garantirá o caráter voluntário da participação dos envolvidos,


mediante consentimento livre e esclarecido, salvo nas situações
previstas em legislação específica e respeitando os princípios deste
Código;

c) Garantirá o anonimato das pessoas, grupos ou organizações, salvo


interesse manifesto destes;

d) Garantirá o acesso das pessoas, grupos ou organizações aos


resultados das pesquisas ou estudos, após seu encerramento, sempre
que assim o desejarem.

DESCRIÇÃO DO LOCAL DO GRUPO E ASPECTOS HISTÓRICOS

A Ulbra Manaus foi instalada na capital do Estado do Amazonas no ano


de 1992; portanto, atua há mais de 31 anos., O Centro Universitário Luterano de
Manaus, mais conhecido como Ulbra.Manaus, possui 10 cursos de Graduações
Presenciais; mais de 30 cursos de graduação EAD e mais de 20 cursos de Pós-
Graduações no Ensino a Distância. Todos os cursos são reconhecidos pelo MEC
e contemplam as principais exigências do mercado de trabalho, capacitando
seus estudantes para o pleno desempenho de suas atribuições na carreira
escolhida.

DOCUMENTOS BÁSICOS PARA CONSTITUIÇÃO DO GRUPAL

A constituição grupal se faz para além da concepção de uma reunião de


pessoas com o mesmo objetivo, sendo constituído principalmente pelo vínculo
272
que se estabelece entre os participantes e por normas que devem ser bem
esclarecidas, assim a fim de garantir este último, elencou-se o documento básico
que visa compor provas físicas do compromisso, regras e objetivo desse projeto.
Sendo ele, o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido - TALE (ANEXO 1),
atribuído à instituição a qual será realizado o projeto de intervenção, objetivando
manter o caráter formal da prática.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram realizadas as intervenções em consonância com os objetivos


estipulados no projeto de intervenção elaborado pelos pesquisadores. Foi
apresentado aos participantes da pesquisa o termo de assentimento livre e
esclarecido (TALE) convidando-os a participar de maneira voluntária, garantindo
o sigilo e coletando os dados de maneira simplificada.

Foram feitas coletas de dados quantitativa disponibilizada de maneira


digital através do QRCode para 10 perguntas no Google Forms. As perguntas
foram a nível de satisfação do funcionário no ambiente de trabalho, carga
horária, disposição para realizar sua função, níveis de estresse, locomoção,
idade e tempo de serviço na instituição. Os encontros foram finalizados com
rodas de conversa onde foi abordado sobre a autoestima e reflexões acerca do
burnout, como ele se desenvolve, maneiras de identificar e como tratar. Sendo
apresentadas as respostas em forma de múltipla escolha com campo para
inserção de respostas alternativas caso o participante não se identificasse com
algumas das alternativas, apresentando as alternativas de 1 a 5, onde o 1
demonstra menor intensidade e o 5 maior intensidade.

Conforme consta na questão 1, “Sinto-me esgotado (a) emocionalmente


com relação ao meu trabalho, as respostas apresentadas mostram dados com

273
respostas semelhantes em várias intensidades no que diz respeito ao nível de
satisfação dos colaboradores.

Figura 1 e 2: Percentual de respostas do Questionário de Satisfação com o trabalho.

Fonte: Google Forms, 2022.

Como mostra o gráfico na Figura 2, dos 10 participantes entrevistados, 3


participantes que compõem 30% das respostas responderam que em uma
escala de 1 a 5 sentem-se excessivamente exaustos ao final de um dia de
trabalho no nível 3, enquanto 5 participantes que compõem 20% responderam
que se sentem cansados ao nível 5.

Figura 3 e 4: Percentual de respostas do Questionário de Satisfação com o trabalho.

274
Fonte: Google Forms, 2022.

O gráfico representado na Figura 3 mostra uma divisão de 30% nas


respostas onde os níveis de satisfação com relação ao salário estão em torno
dos números 1,3 e 4 na escala de satisfação. A representação no gráfico
presente na Figura 4 nos mostra que 60% dos participantes sentem-se frustrados
com seu trabalho.

Figura 5 e 6: Percentual de respostas do Questionário de Satisfação com o trabalho.

Fonte: Google Forms, 2022.

Cerca de 40% dos entrevistados disse que sentem-se cheios de energia


para trabalhar e 50% acreditam que as atividades realizadas em âmbito
profissional valem a pena assim como demonstram respectivamente os gráficos
5 e 6.

275
Figura 7 e 8: Percentual de respostas do Questionário de Satisfação com o trabalho.

Fonte: Google Forms, 2022.

Como mostra o gráfico 7, 60% dos respondentes confirmam que em uma


escala de 1 a 5, seu trabalho afeta positivamente em sua vida, no que se refere
ao cansaço provocado pelo trabalho excessivo os números mostraram-se
bastante divididos em 20% para os números 2, 3 e 4. Os resultados de 10% são
referentes ao número 5 e 30% para o número 1.

Figura 10: Percentual de respostas do Questionário de Satisfação com o trabalho.

276
Fonte: Google Forms, 2022.

No que se refere ao tempo de serviço destes funcionários, os números


apresentados dividiram-se em 10% para quase todas as alternativas
apresentadas. Os colaboradores apresentam um tempo de serviço muito
variável que vai de 3 meses a 23 anos.

Figura 11: Percentual de respostas do Questionário de Satisfação com o trabalho.

Fonte: Google Forms, 2022.

Quando questionados sobre suas atividades de lazer observamos a


grande quantidade de respostas “não” presentes no gráfico 11, o que nos dá um
277
plano de fundo para entender que muitos colaboradores não possuem atividades
de descarga de estresse, outra porcentagem afirma que passar tempo com a
família é seu lazer.

Figura 12: Percentual de respostas do Questionário de Satisfação com o trabalho.

Fonte: Google Forms, 2022.

As faixas etárias dos entrevistados são bem variadas, indo de 20 a 59


anos. Observamos os gráficos mostrando 30% para idades de 20-30 anos,

278
30% para 30-40 anos, 30% para 40-50 anos e 10% com uma única resposta
para 59.

Figura 9: Percentual de respostas do Questionário de Satisfação com o trabalho.

Fonte: Google Forms, 2022.

No que se refere a vitalidade os números apontam 30% para os números


2 e 4 o que nos mostra sobre a baixa vitalidade dos funcionários que também
marcaram 20% para o número 5. Metade dos participantes utiliza ônibus para ir
trabalhar e a outra metade utiliza o transporte pessoal ou aplicativos de
locomoção.

Ao observarmos os gráficos notamos que há uma necessidade de


promoção à saúde mental e atividades de conscientização acerca do trabalho
excessivo pois muitos colaboradores ao serem questionados sobre a síndrome

279
de burnout afirmaram não saber do que se tratava. Através da pesquisa
realizada, evidenciou-se que muitos colaboradores não possuem sequer um
meio de aliviar o estresse adquirido em um dia de trabalho, o que é um fator
preocupante uma vez que estas atividades são fundamentais para a manutenção
da saúde mental.

Observa-se um quantitativo considerável no que se refere ao nível de


exaustão relacionada ao trabalho como vimos anteriormente nos gráficos 1 e 2
e novamente quando refere-se ao nível de frustração nos gráficos 3 e 4.
Sabemos que muito disto está relacionado com as atividades realizadas sem um
meio de lazer paralelo para equilibrar os níveis de estresse. Faz-se necessário
a criação de ações que proporcionem momentos de reflexão sobre a importância
de se desenvolver um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal para que haja
a devida manutenção da saúde mental.

280
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PAPA DO PRADO, Claudia Eliza. Estresse ocupacional: causas e consequências. Revista


brasileira de medicina do trabalho, [s. l.], 11 maio 2016. Disponível em:
https://www.rbmt.org.br/details/122/pt-BR/estresse-ocupacional--causas-e-consequencias.
Acesso em: 11 nov. 2022.

Sherafat, F. D. (2002). Produtividade na ótica do trabalhador: uma análise dos aspectos que
afetam o desempenho, criatividade e auto-estima dos funcionários no ambiente de trabalho.
Disponível em: < https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/83395>. Acesso em: 11 de
Novembro de 2022.

Mouriño Mosquera, J. J., & Dieter Stobäus, C. (2006). Auto-imagem, auto-estima e auto-
realização:qualidade de vida na universidade. Psicologia, Saúde e Doenças, 7(1),83-88.[fecha
de Consulta 15 de Novembro de 2022]. ISSN: 1645-0086. Disponível em:
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Neto, W. F. N., & Neves, G. N. (2021). AUTOESTIMA NO TRABALHO: UMA BREVE


REFLEXÃO. Anais da Semana Universitária e Encontro de Iniciação Científica (ISSN: 2316-
8226), 1(1). Disponível em: <https://publicacoes.unifimes.edu.br/index.php/anais-semana-
universitaria/article/view/1373>. Acesso em: 11 de Novembro de 2022.

Maslach, C., Schaufeli, W. B. & Leiter, M. P. (2001). Job burnout. Annual Review Psychology,
52, 397-422.

CARLOTTO, Mary Sandra; CAMARA, Sheila Gonçalves. Características psicométricas do Maslach Burnout
Inventory - Student Survey (MBI-SS) em estudantes universitários brasileiros. PsicoUSF, Itatiba , v. 11, n.
2, p. 167-173, dez. 2006 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
82712006000200005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 08 dez. 2022.

281
ANEXO 1

TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TALE)

Você está sendo convidado a participar do Projeto de intervenção: A


Síndrome de Burnout: Orientação para prevenção, coordenado pelos
acadêmicos Ana Rosa Monteiro/ contato: 999066834; Eduardo Monteiro Silva/
contato 929523-9672; Gabryelle Redman/ contato: 982100875; Maria Karolina/
contato: 993021153. Com esta pesquisa, queremos favorecer fatores relevantes
para a conscientização e prevenção do Burnout através de atividades dinâmicas,
rodas de conversa, reflexões, escalas e feedbacks.

Sua participação é opcional, caso opte por não participar das intervenções
é um direito seu e você poderá pela sua não participação. A pesquisa será feita
no Centro Universitário Luterano de Manaus - CEULM/ULBRA, localizado no
endereço Avenida Carlos Drummond de Andrade, Conjunto Atílio Andreazza,
1460 - Japiim, Manaus - AM, 69077-730, onde os colaboradores participarão de
atividades didáticas utilizando-se para isso de metodologias como dinâmicas de
grupo, rodas de conversa sobre autoestima, reflexões sobre autoestima e
burnout. Para isso, será usado/a materiais como escalas e rodas de conversa
sobre a temática do burnout, que são considerados (a) seguros (a), e você não
corre nenhum risco participando deste projeto. Caso aconteça algo que gere
incômodo ou desconforto, você pode nos procurar pelos telefones que estão
informados no começo deste documento. Os caminhos a serem percorridos no
presente projeto de intervenção são o de desenvolver consciência sobre o que
é o Burnout, como reconhecer o processo burnout e o que fazer para evitar, e
por fim, a conscientização sobre como auxiliar e orientar um colega de trabalho
com burnout, sendo assim, para seu um procedimento que visa beneficiar o
usuário.

282
A participação e suas respectivas respostas para as escaladas serão
anônimos; assegurando assim o sigilo integral de sua participação. Os
resultados da pesquisa serão descritos em relatório, mas sem identificar os
colaboradores ue participaram. Se você tiver dúvidas com relação ao estudo,
direitos do participante, ou riscos relacionados ao estudo, você deve contatar a
supervisora deste projeto, professora/ psicóloga Elizangela da Rocha Mota /
Contato: 992127675 do Centro Universitário Luterano de Manaus - ULBRA.

Agradecemos a sua autorização e colocamo-nos à disposição para


esclarecimentos adicionais.

Eu _____________________________________________

( ) ACEITO A PARTICIPAR DO PROJETO

( ) NÃO ACEITO A PARTICIPAR DO PROJETO

Data: ____/____/_____

___________________________________________

Nome Completo

Organizador do Projeto

283
ANEXO 2:

QR Code e panfleto de convite para participação na pesquisa.

Disponibilizado pelos desenvolvedores do projeto.

284
CAPÍTULO XIII

PSICOLOGIA ESCOLAR: Juventude emergente e as


dificuldades de aprendizagem dos alunos no terceiro ano do
ensino médio

Geovanna Silva de Sousa45


Lia Brasil Pimenta46
Naomi Torres Martins47
Maria Aparecida da Silva Martins 48

Resumo

O objetivo do trabalho proposto foi desenvolver uma pesquisa no campo da


psicologia escolar para compreender a dificuldade de aprendizagem dos alunos
do terceiro ano do ensino médio. A inquirição também se deu para observar o
processo de juventude, maturidade e expectativas quanto a próxima fase da vida
que se aproxima para consolidar o encerramento da adolescência. A presente
pesquisa aconteceu em uma escola da rede pública do município de Manaus.
Para cumprir-se com o estudo, dezoito alunos na faixa etária de dezessete a

45
Geovanna Silva de Sousa, aluna do Centro Universitário Luterano de Manaus, acadêmica do
curso de Psicologia. E-mail: geovanna.sousa@rede.ulbra.br

46
Lia Brasil Pimenta, aluna do Centro Universitário Luterano de Manaus, acadêmica do curso
de Psicologia. E-mail: liabrasil1012@rede.ulbra.br
47
Naomi Torres Martins, aluna do Centro Universitário Luterano de Manaus, acadêmica do
curso de Psicologia. E-mail: naomitorresm@rede.ulbra.br
48
Maria Aparecida da Silva Martins, Doutora em Psicologia Social e professora da disciplina
de Práticas Interprofissionais de Educação em Saúde – Centro Universitário Luterano de
Manaus. E-mail: cida_psi21@hotmail.com
285
vinte e dois anos participaram ativamente. O trabalho foi construído e executado
em quatro visitas, utilizou-se de recursos como um questionário para base da
pesquisa, criou-se perguntas para suceder a análise de como os alunos
visualizavam sua vida acadêmica. Também foram realizados atividades
interativas e intervencionistas para abranger ainda mais o contexto do trabalho.
Conclui-se assim, a proposta do projeto de pesquisa, sendo satisfatória no
quesito de motivar, sensibilizar e compreender o ambiente, o indivíduo e a
escola.

Palavras-chave: Aprendizagem; Escola; Psicologia.

Abstract

The objective of the proposed work was to develop a research in the field of
school psychology to understand the learning difficulty of third year high school
students. The research was also done to observe the process of youth, maturity
and expectations about the next phase of life that is approaching to consolidate
the end of adolescence. The present research took place in a public school in the
city of Manaus. To fulfill the study, eighteen students between the ages of
seventeen and twenty-two actively participated. The work was built and executed
in four visits, using resources such as a questionnaire as the basis of the
research, questions were created to succeed the analysis of how students viewed
their academic life. Interactive and interventionist activities were also carried out
to further cover the context of the work. In conclusion, the proposal of the
research project was satisfactory in terms of motivating, sensitizing, and
understanding the environment, the individual, and the school.

Keywords: Learning, School; Psychology.

Introdução

A escola é o ambiente responsável por formar eticamente um indivíduo


para a vida em sociedade, já que o acompanha desde sua infância até a
adolescência e é nessa transição da adolescência para o início da vida adulta,
ou seja, o período do ensino médio que esses jovens desenvolvem a maior parte
de sua maturidade no geral, também onde tem maiores dificuldades por conta
286
das mudanças internas e externas que consequentemente influenciam em seu
processo de aprendizagem. Pelo fato dessa dificuldade de aprendizagem não
ser discutida e abordada de forma valorosa no ambiente escolar, acabam
intensificando as dificuldades desses alunos, como o déficit de atenção,
problemas cognitivos e neurológicos, entre outros. A partir deste contexto, o
trabalho teve por objetivo geral compreender quais são as dificuldades em
aprendizagem de estudantes cursando o terceiro ano do ensino médio. Tal como
identificar as dificuldades apresentadas por esses indivíduos que cursam o
terceiro ano do ensino médio e os objetivos específicos, compreender a
passagem da adolescência para juventude, entender as dificuldades do
aprendizado para ingresso na vida acadêmica e explicar e orientar aos indivíduos
sobre o que seria: ansiedade, déficit de atenção e problematização para a
tomada de decisões. Além de realizar a análise de transtornos psicossomáticos
apresentados em indivíduos desta faixa etária para verificar os problemas
ocasionados por tais dificuldades.

A pesquisa consiste na intervenção e observação de estudantes no último


ano do ensino médio frente as dificuldades individuais, sociais e psicológicas,
não somente, mas fortemente ligadas à pressão imposta pela sociedade, onde
Jovens sofrem com a cobrança padrão sobre todo jovem de estudar, fazer
vestibular e ingressar na faculdade, responsabilidade de vida adulta e suas
dificuldades cognitivas/psicológicas por estarem passando por um processo de
autoconhecimento.

A intervenção se deu na Escola Frei Silvio Vagheggi, na turma de terceiros


(3°) anos 2 do turno vespertino e iniciou com questionários e atividades
interativas referente às suas dificuldades de aprendizagem, metodologia
estudada e suas relações com seus colegas e com o corpo docente. Assim, os
estudantes responderam ao questionário da forma que melhor expressava suas
opiniões, ele não exigia identificação justamente para dar-lhes mais segurança
e confortabilidade para se expressarem de forma sincera, da mesma maneira
287
que as atividades de intervenção. A tabulação dos resultados obtidos foi
realizada através desse questionário com as respostas mais frequentes do total
de alunos. A análise desses resultados teve a capacidade de mensurar e
interpretar indicadores relativos aos retornos obtidos baseados no referencial
teórico que foi por sua vez o percurso essencial para interpretar e compreender
essas dúvidas.

Por fim, é importante mencionar que no decorrer da pesquisa houve ações


de orientação e retirada de dúvidas sobre as dificuldades de aprendizagem e
fatores externos e internos que influenciam no processo de mudança e desafios
enfrentados dentro do ambiente escolar. Portanto, a juventude tem seus desafios
e quando vistos de forma negativa torna-se ainda mais difícil, o papel desta
intervenção foi não só compreender e expor as dificuldades de aprendizagem de
alunos no final do ensino médio, mas também de fazê-los entender que muitos
desses desafios são o processo que os levará a ter conhecimento sobre as
dificuldades que enfrentam no seu dia a dia.

Justificativa

Nas instituições de ensino básico é possível observar o alto índice de


reprovação dos alunos, não generalizando, mas boa parte dos alunos possuem
problemas individuais, muitas vezes sem amparo da sociedade. Existindo
aqueles que precisam trabalhar desde cedo para ajudar em casa, não obtendo
tempo para os estudos, outros acabam desistindo do ensino médio e tentando
ganhar a vida trabalhando, esses estudantes possuem confusões em suas vidas,
o que torna o seu aprendizado cada vez mais difícil. Isto é algo alarmante, dessa
forma é necessário atentar para os motivos e causas deste ocorrido.

288
É possível compreender que com os avanços tecnológicos e melhorias
educacionais existem recursos que ajudam os jovens pré-vestibulandos que
estão cursando o ensino médio, em específico aos finalistas do terceiro ano.
Porém esse amparo não é suficiente tendo em vista a demanda de jovens com
dificuldade em acompanhar a complexidade de assuntos cobrados no vestibular,
ou sem recursos para acessar esses conteúdos pagos. Ademais observando
que aos olhos da sociedade existe um padrão a ser seguido por todos os jovens
que estão passando por esta fase da vida: fazer o vestibular, passar para uma
universidade pública e ingressar no mercado de trabalho, sem considerar todas
as dificuldades enfrentadas por esses estudantes em suas vidas fora da escola,
problemas esses às vezes sem suporte suficiente para todos, tornando esse
momento bastante turbulento, de muita pressão e inseguranças. Além das
desigualdades socioeconômicas também é preciso analisar os problemas
individuais de cada aluno, desde as dificuldades de estudo até a não
compreensão de como executá-los, o não entendimento de todas essas
questões dificulta ainda mais a evolução desse ano decisivo na vida dos alunos,
podendo acarretar muitas vezes a frustração prematura ou até desistência.

A escola possui um papel de suma importância na vida acadêmica dos


estudantes, por ser um âmbito onde eles passam boa parte do dia, não
universalizando, mas infelizmente esses alunos não possuem um amparo
psicológico nas instituições de ensino, especialmente no terceiro ano que é um
ano de decisões difíceis na vida dos estudantes, podendo gerar ansiedade por
conta do vestibular e uma certa confusão mental tendo em vista suas vidas em
casa e fora da escola. Portanto, a escolha de sua carreira é uma decisão
marcante tomando o processo árduo. Dessa forma o intuito da pesquisa é
identificar, analisar e verificar todas as questões citadas acima e os processos
enfrentados por esses alunos, obtendo assim, uma melhor compreensão sobre
o tema abordado, podendo auxiliar com a melhoria na aprendizagem da vida
acadêmica dos estudantes.

289
Desenvolvimento e formação dos jovens na adolescência

A psicologia tradicionalmente trabalha com o conceito de adolescência,


que difere da ideia de juventude. A adolescência é marcada principalmente por
mudanças externas decorrentes da puberdade e acarretando implicações
internas, não sendo apenas um fenômeno cultural, se trata do desprendimento
do ser adolescente para então caminhar para a vida adulta. Dentro deste
contexto podem ocorrer diversas mudanças na forma como essa pessoa se
entende enquanto indivíduo, englobando esse processo são adquiridas
características psicológicas e sociais da vida adulta.
Entender a adolescência dentro do contexto social, torna-se de extrema
importância para a percepção de cada indivíduo inserido dentro de uma
sociedade, porém é errôneo desconsiderar o trabalho psíquico necessário para
o sujeito entrar no mundo adulto. Durante o período que engloba a adolescência
se enfrenta uma crise de identidade contra uma confusão de papéis para então
caminhar em direção a vida adulta com uma identidade unificada. A crise de
identidade dificilmente é resolvida por completo na adolescência do indivíduo, os
problemas não solucionados que a englobam são latentes na vida adulta do
sujeito. Observando o pensamento corroborado por uma pesquisa realizada por
Erikson sobre a crise de identidade é possível afirmar que essa confusão pode
atrasar a conquista da maturidade psicológica. (ERIKSON apud PAPALIA; 2006;
p. 477)

Para compreender completamente o processo que envolve a


adolescência se torna necessário voltar um pouco no tempo de entendimento do
desenvolvimento humano e fazer um breve entendimento sobre o processo
infantil de um indivíduo. O percurso de desenvolvimento da criança, as
estratégias parentais e a organização do ambiente familiar e escolar

290
correspondem entre si. No período que diz respeito a infância do indivíduo é
construído uma idealização de figuras importantes em suas vidas, geralmente
seus pais. Porém conforme este sujeito vai crescendo, sua visão das pessoas
que até então eram admiráveis vai sendo quebrada, pelo simples fato de que
todos possuem falhas, ou seja, sua forma de observar o todo ao seu redor é
ampliada, gerando certa maturidade. Pode-se observar a corroboração deste
fato a seguir:

A criança, de algum modo, idealiza seus pais, mas, à medida


que cresce, percebe, aos poucos, suas falhas, e inicia uma
preparação para o processo de separação. No entanto, para que
esse processo ocorra, é necessário que a incorporação dos pais,
durante a infância tenha obtido êxito (OLIVEIRA; BUCIANO;
PEREIRA; 2011. p.458)

A criança e adolescente possuem um modo único de sentir, agir e pensar.


Ademais eles só podem ser compreendidos analisando o âmbito onde vivem, a
cultura na qual estão inseridos e suas relações com as figuras de autoridade ao
seu redor, podendo ser seus próprios pais ou alguém que os mesmos vejam
como figura de autoridade, tudo isso vai influenciar na forma como eles mesmos
se enxergam, refletindo assim em seus atos, as idealizações históricas e
culturais ao qual estão introduzidos podem produzir alteração em seus futuros
comportamentos, porém essas idealizações nem sempre são positivas, podendo
afetar sua interioridade. (SALLES; 2005; p.35) Cada adolescente possui uma
realidade única, tendo esse fato em vista é natural afirmar que indivíduo e
sociedade andam juntos.

A idade similar entre os indivíduos no período da adolescência acaba por


se tornar um motivo mais do que suficiente para fazer tudo em conjunto com
seus semelhantes, geralmente eles passam mais tempo com seus amigos do
que com suas próprias famílias. Entretanto seus valores são experiências
geradas de suas interações junto aos seus pais ou pessoas nas quais depositam
291
seu respeito e de certa forma admiração, tendo esse fato em vista se torna
possível dizer que mesmo que os adolescentes tentem fugir do que não gostam
em seus próprios pais acabam sempre carregando consigo algum resquício de
sua vivência com eles, seja algo bom ou ainda um defeito. Mesmo quando os
adolescentes buscam se tornar íntimos de alguém para depositar sua confiança
e carinho, procuram sempre em seus pais uma segurança, para assim diminuir
sua lista de preocupações e experimentar seus primeiros erros e acertos.
(ROBINSON; OFFER; CHURCH; LAURSEN, apud, PAPALIA; 2006, P.493)
Sendo assim, o ser adolescente remete as suas experiências vividas até
o momento presente em que estão inseridos. As vivências com os seus amigos,
família e vida escolar. Ao analisar tudo que envolve a vida de um adolescente é
possível perceber que existe uma certa complexidade em suas vidas, sendo uma
idade de transição do ser adolescente que depende da segurança emocional de
seus pais, para se tornar alguém que tem que depender de si mesmo, lidando
com tudo que a sociedade espera que eles sejam, essas vivências com a
cobrança em cima dos mesmos acaba interferindo no seu processo de transição
gerando dúvidas sobre si mesmos, porém todos passam por essa transformação
de sua interioridade em conjunto com seus próprios conflitos externos. O
completo entendimento do adolescente depende da observação de sua
realidade em conjunto com os parâmetros que remetem sua infância.

A escola e os desafios dos jovens no terceiro ano do Ensino Médio

A escola é a instituição que fornece o processo de ensino para discentes


(alunos), com o objetivo de formar e desenvolver cada indivíduo em seus
aspectos cultural, social e cognitivo. A palavra escola vem do grego scholé, que
significa "ócio", o mesmo que “lazer ou tempo livre”. Este significado advém do
conceito de escola na Grécia Antiga, que, diferente do que vemos atualmente,
era uma reunião, um momento, em que os cidadãos gregos tiravam um tempo
livre para discutirem sobre filosofia e alguns comportamentos sociais. Em 2000
292
a.C., no período da Grécia Antiga, as escolas tinham por objetivo educar homens
em sua formação integral, ou seja, desenvolver sua ética, pensamento político e
o seu conhecimento religioso.

É certo que a escola faz parte do ciclo de desenvolvimento dos seres


humanos desde sua infância até o início da vida adulta, tendo como principal
objetivo e responsabilidade, formar um caráter pessoal e educativo frente a esse
novo saber construído ao longo dos anos. Além disso, a educação não é só “a
transmissão de conhecimento teórico das disciplinas curriculares, ela contribui
para a formação cidadã dos estudantes e promove a transformação do meio
social para o bem comum”.

A Educação básica significa tradicionalmente, por exemplo, a


capacidade de efetuar multiplicações ou algum conhecimento da
história dos EUA. Mas a sociedade do conhecimento necessita
também do conhecimento de processos, algo que as escolas
raramente tentaram ensinar. Na sociedade do conhecimento, as
pessoas precisam aprender como aprender. Na verdade, na
sociedade do conhecimento as matérias podem ser menos
importantes que a capacidade dos estudantes para continuar
aprendendo e que a sua motivação para o fazer. A sociedade
pós-capitalista exige aprendizado vitalício. Para isso,
precisamos de disciplina. Mas o aprendizado vitalício exige
também que ele seja atraente, que traga em si uma satisfação
(DRUCKER, 1995, p.156).

Segundo o filósofo alemão Immanuel Kant “O ser humano é aquilo que a


educação faz dele.” Através, pode-se refletir sobre o quanto a Escola e o seu
meio educacional são importantes para o progresso de cada indivíduo em sua
totalidade, é o lugar onde crianças e jovens adolescentes expressam e afloram
suas curiosidades, opiniões, ideias, personalidade etc. Infelizmente, a “Escola”
e todos que a constituem não tem um bom planejamento para incentivá-los a
estudar, em vez de despertarem o prazer por aprender acabam tirando a
motivação de seus alunos com atividades e assuntos pouco interessantes. A
escola tradicional não tem uma grade de disciplinas flexíveis, já que estão

293
limitadas a assuntos específicos cobrados no vestibular, o que acaba dificultando
ainda mais o processo de aprendizagem.

Ademais outro ponto a ser considerado, é de que os jovens de hoje serão


futuros adultos vivendo dentro de uma sociedade. Como visto anteriormente, a
vida escolar é um processo de aprendizagem, com estágios que formam aos
poucos esse caráter do indivíduo em conjunto com suas vivências externas.
Sendo a adolescência um processo de transição, é possível observar que ao
longo desses estágios os indivíduos vão perdendo o interesse por estar em uma
sala de aula e estudar, nem sempre entendendo as informações que seus tutores
desejam transmitir, em sua maioria os professores têm uma tarefa árdua de
encontrar uma metodologia que seja adequada a todos. Geralmente os
indivíduos que entram no ensino médio com uma visão inspirada em filmes e
seriados, mas a realidade é bem mais complicada do que isso. (AGUIAR; BOCK;
OZELLA, 2001: 167).

Os alunos do ensino médio são os que mais mostram dificuldades de


aprendizagem. Segundo Natássia Ferreira “os números mostram que muitos
jovens cursando o ensino médio, prestes a fazer o vestibular ou o Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio), não sabem português e matemática no mesmo nível
cobrado nas provas. Segundo dados divulgados pelo SAEB (Sistema de
Avaliação da Educação Básica), apenas 1,62% dos estudantes da última série
do ensino médio que fizeram os testes alcançaram níveis de aprendizado
adequados para os padrões do MEC (Ministério da Educação). Em matemática
não é muito diferente: 4,52% dos 60 mil estudantes do ensino médio avaliados
pelo SAEB 2017 passaram o nível sete da Escala de Proficiência da maior
avaliação já realizada na Educação Básica brasileira.” É importante frisar que o
maior nível de dificuldade de aprendizagem está nas escolas públicas. A rede
pública que nas últimas décadas, vêm sofrendo com a falta de uma gestão
eficiente, falta de infraestrutura, violência, desvalorização dos professores e
tantos outros fatores que levam a educação a índices cada vez mais baixos.
294
Portanto, com todas as informações até este ponto não há dúvidas de que o
meio escolar com sua gestão, professores e alunos enfrentam desafios para
suprir as necessidades cultural, social, política e educacional que lhe são
exigidas.

O pensamento de Evelyn Eisenstein (2013) acerca do terceiro ano do


ensino médio é marcado pela transição da adolescência para a vida adulta,
caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional,
sexual e social e pelos esforços do indivíduo em alcançar os objetivos
relacionados às expectativas culturais da sociedade em que vive. Os estudantes
no período do terceiro ano do ensino médio lidam com toda essa carga dentro
do meio escolar, ainda considerando também a cobrança do meio externo,
envolvendo todo o meio social em que vivem, influenciando assim no seu
processo de aprendizado. A adolescência se inicia com as mudanças corporais
da puberdade e termina quando o indivíduo consolida seu crescimento e sua
personalidade, obtendo progressivamente sua independência econômica, haja
vista que eles passam agora pela fase de que com o passar dos anos vão tomar
conta de suas próprias vidas, além da integração em seu grupo social para assim
entenderem onde querem estar inseridos e que papel desejam exercer dentro
da sociedade

A adolescência é caracterizada principalmente pelo processo de


transição, descobrimento e desenvolvimento do corpo físico e mental que
segundo a ONU discorre dos 15 anos aos 24 anos. Mais conhecido como
puberdade, é o período em que ocorrem mudanças biológicas e fisiológicas. É
neste período que o corpo se desenvolve física e mentalmente tornando-se
maduro. Esse processo durante o terceiro ano do ensino médio se torna algo
árduo tendo em vista que esses estudantes nem sempre tem todo o suporte
necessário para conseguirem passar por essa fase da vida de forma tranquila,
haja vista que a realidade de cada indivíduo é diferente. Os jovens e
adolescentes estão sujeitos a um período de tempo turbulento cercado de
295
decisões e é mergulhando nessa perspectiva de incompletude que a corrente
geracional concebe a fase da juventude, o jovem, um sujeito incompleto, que
depende do futuro, ou melhor, de seu ingresso na vida adulta para ser
reconhecido socialmente, na maior parte das vezes a sociedade espera desse
jovem o ingresso na universidade ao concluir o ensino médio, no entanto alguns
largam o ensino médio para poder trabalhar e ajudar em casa ou até mesmo por
não se considerarem com capacidade o suficiente para conclui-lo, não prestando
o vestibular e trabalhando somente desde muito cedo. Pode-se compreender
esse processo antes do ingresso na vida adulta como um grupo social
heterogêneo, cada qual com diferentes culturas, classe social, econômica e
política.

A descentralização do ensino constitui um dos fatores essenciais para o


movimento compreensivo das escolas brasileiras e da construção de autonomia
da gestão escolar perante as mudanças desses Adolescentes. Deste modo, a
descentralização pressupõe participação, entendida por Luck como:

A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma força de


atuação consciente pela qual os membros de uma unidade social
reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na
determinação da dinâmica dessa unidade, de sua cultura e de seus
resultados, poder esse resultante de sua competência e vontade de
compreender, decidir e agir sobre questões que lhe são afetas, dando-
lhe unidade, vigor e direcionamento firme (LUCK, 2009, p. 29).

O grande foco das discussões atuais nas escolas, na mídia e em outros


meios é o adolescente. Muitos tentam orientar sobre como lidar com eles, mas
são poucos os que obtêm sucesso. Uma das melhores técnicas é ser direto,
claro, objetivo e honesto ao falar com os adolescentes. Usar meios que são úteis
com crianças, mas que são ineficazes com eles só faz com que estes fiquem
desconfiados dos adultos e se afastem, fechando-se em si mesmos e em seus
grupos e repetindo aquela famosa frase: “Ninguém me entende.”

296
Quando o aluno é respeitado como protagonista dentro da sala de aula,
tão importante no processo de aprendizado quanto o professor, ele sente seus
órgãos sensoriais (sentidos) e a cognição (percepção, memória, interpretação,
pensamento, crítica e criação) aptos para uso no processo de aprendizagem.
Construir um novo modelo de relação com o adolescente vem a ser de extrema
importância para o seu melhor aprendizado, em especial no terceiro ano do
ensino médio, vindo a ser um ano decisivo em suas vidas que carrega junto
consigo a cobrança da sociedade em que estão inseridos em conjunto com sua
cobrança interior. A escola deve apresentar principalmente alternativas que
permitam ao adolescente desenvolver sua capacidade criativa. Sua capacidade
de protagonizar a cena escolar. De ser também sujeito, e não somente um
espectador que vai a aula ouvir o professor e sujeitar-se as suas representações
de sabedoria. (HELLER, 1970: 17).

O enfrentamento das dificuldades de aprendizagem: Relação professor-


aluno e portadores de necessidades especiais.

A relação professor-aluno vem a ser uma das preocupações mais importantes


da escola. No campo educacional tem-se observado que, se não dada a atenção
necessária a tal assunto acaba se tornando difícil o processo de ensino-aprendizagem,
haja vista que os estudantes necessitam de um tutor que explique o determinado
assunto a vigor do entendimento de todos, o não acontecimento desse processo da
forma correta se torna algo desfavorável para esse processo, ademais levando em conta
que existem alunos PCD (pessoas com deficiência) presentes em nossa sociedade, que
devem ser incluídas como iguais, porém isso é uma tarefa árdua para um professor sem
um preparo adequado, infelizmente nem todo professor possui tal preparo, a sociedade
tende a ter uma visão de que essas pessoas que possuem diferenças estão destinadas
ao atraso escolar porque tem uma forma única de aprender em vista de sua condição,
trazer à tona a identidade da comunidade surda e sua relação nos espaços escolares
não só faz com que se sintam acolhidas pela sociedade mas também é uma forma de
reconhecer suas potencialidades. (DELABIANCA; NEVES; SOARES; 2018).

297
Dentro do âmbito escolar é possível perceber que são vários fatores a influenciar
esse processo de aprendizagem, um dos mais presentes no último ano do ensino médio
é a ansiedade gerada pela cobrança de si mesmos em suprir as expectativas da
sociedade, passando no vestibular e ingressando em uma universidade, porém alguns
estudantes não conseguem alcançar tais feitos no mesmo ano de conclusão do ensino
médio, e alguns ainda desistem por não se acharem capazes o suficiente de sua
conclusão. A ansiedade é gerada pela sensação de medo ao extremo no cérebro
humano, infelizmente ela se faz presente dentro do ambiente escolar, com isso acaba
prejudicando o desempenho acadêmico dos alunos levando em consideração que
alguns não se sentem motivados pelos seus tutores, que em sua maioria utilizam de
métodos de ensino nada dinâmicos não facilitando o processo de ensino-aprendizagem.
(ROSA; 2011)

Segundo PAÍN (1985, p. 23) “A aprendizagem é um processo dinâmico que


determina uma mudança…” O que a torna um conjunto de métodos que
consequentemente constroem não só conhecimento, mas caráter e personalidade. O
professor geralmente tenta interagir com seus alunos de uma forma autoritária e superior,
um fato é que e existe hierarquia em uma sala de aula, porém isso pode fazer com que
o professor venha a agir de forma nada dinâmica, gerando assim um certo abismo entre
aluno e professor, os estudantes tendem a se sentir retraídos em situações de muito
autoritarismo, e os professores por medo ou receio de não conseguirem lidar com
inúmeras mentes diferentes, tendem a agir dessa forma, o que não é algo ruim na maior
parte dos casos, porém em uma sala onde há alunos que entram na categoria PCD
(pessoas com deficiência) em especial, pessoas surdas, têm de haver uma certa
sensibilidade tendo em vista que o processo de aprendizagem dessas pessoas é
diferente dos demais, infelizmente os professores em sua maioria não possuem
especialidade para lidar com esses alunos, ficando perdidos no momento de gerar
métodos dinâmicos de aprendizagem para todos os alunos em uma sala de aula que
possua PCD.

Muitos professores que trabalham nas escolas de ensino regular não estão
preparados para lidar com PCD, a priori, pessoas surdas, estando presentes em uma
sala de aula precisam de um certo cuidado a mais por terem um processo de interação

298
diferente dos demais estudantes, os tutores têm um importante papel na vida dos alunos.
Não é possível oferecer uma educação adequada em uma escola que atenda às
necessidades dos alunos sem a contribuição ativa do professor no processo
educacional. Em qualquer processo de aprendizado a interação de modo dinâmico entre
professor-aluno se faz necessária para a transferência de conhecimento aos alunos.
Justifica-se, portanto, a existência de estudos que corroboram o diálogo dinâmico em
sala de aula ser algo indispensável em um processo envolvendo aprendizagem, então
esse cuidado em construir uma metodologia de ensino que atenda a todos se faz
necessário. (CÁSSIA; 2009; p.4)

Análise e Interpretação dos Dados

A pesquisa foi elaborada a partir de pesquisas quantitativas e qualitativas


na Escola Estadual Frei Silvio Vagheggi com a turma vespertina 3° ano 2. A
análise de dados foi feita a partir de um questionário aplicado em sala de aula
com a turma pesquisada. O questionário continha 18 questões, estruturado na
escala Likert para análise e resposta das perguntas propostas conforme o que
os alunos achassem coerente visando suas próprias experiências. Optou-se por
realizamos nessa instituição pois acreditávamos estar de acordo com a
quantidade de alunos necessários para pesquisa, descobrimos ao longo da
pesquisa que a escola também possui recursos de acessibilidade para alunos
PcD´s (pessoas com deficiência) e o que enriqueceu a pesquisa e nos fez refletir
sobre as questões de aprendizagem por outra ótica. Diante do cenário
apresentado, segue as análises conforme observado pela aplicação do
questionário.

Dado a seguinte apresentação, segue a relação das questões que foram


propostas para os alunos da instituição.

299
O questionário foi aplicado no segundo encontro, com o objetivo de
compreender os alunos e apresentá-los a pesquisa que estávamos executando.
Foram preenchidos como informações adicionais para a análise somente idade
e sexo, acreditamos que colocar o campo “nome” não traria respostas sinceras.
Ao final da aplicação, realizamos a tabulação dos dados conforme o que foi
preenchido pelos alunos:

300
Partindo do princípio da tabulação, foi possível obter a seguinte análise
de cada questão apresentada:

301
Convertendo essas informações da tabulação para percentil, tendo como base
a fórmula matemática cálculo de frequência relativa por frequência absoluta obtendo
assim a porcentagem das respostas maiores de cada questão apresentada:

302
Nos dois últimos encontros foram realizadas atividades de intervenção junto
aos alunos para interação e captação de informações das opiniões dos alunos sobre o
tema abordado. A primeira atividade interativa foi aplicada no terceiro encontro, foi
separado algumas perguntas que seriam feitas para a turma e eles deveriam responder
se eram verdadeiros ou falsos dentro do conhecimento que eles tinham. Nessa atividade
foi possível observar a curiosidade deles para aprofundamento do assunto, com
perguntas e querendo entender mais o porquê as questões eram falsas, ou verdadeiras.
Com essa interação conseguimos ganhar mais confiança da turma e o interesse deles
para com a nossa pesquisa.

No último e quarto encontro foi proposto para a turma uma caixa de desabafos.
Eles escreveriam um bilhete com algo que os viesse a mente e seria sorteado
posteriormente para promover uma roda de conversa em cima do assunto sorteado. Os
bilhetes seriam escritos de forma anônima, para que dessa forma, fosse possível
promover a intervenção sem expor a pessoa que compartilhou aquele desabafo,
acreditávamos também que tratando dos assuntos poderia ajudar alguém com um
problema semelhante. Essa atividade promoveu bastante reflexão e interação dos
alunos, eles participaram ativamente com perguntas e opiniões. Alguns assuntos

303
abordados através da caixa do desabafo: Métodos de como melhorar a aprendizagem;
pressão no último ano da escola; respeito com as pessoas; julgamento com o outro e
psicologia.

Interpretação dos Dados

Após analisar o questionário e com as atividades interativas foi possível


conhecer e compreender o perfil dos alunos da turma 3° ano 2. Conforme visto
na tabulação do questionário, obtivesse um índice majoritariamente negativo
mediante as questões propostas. Primeiramente, os alunos não possuem
inteligência emocional e autoconhecimento para lidar com as demandas
acadêmicas, isso pode se dar pelas seguintes situações: falta de apoio
psicopedagógico e orientação acadêmica de como manejar os estudos.
Segundo Bzuneck (2001), toda pessoa dispõe de recursos pessoais como o
tempo, a energia, os talentos, os conhecimentos e as habilidades. Esses
recursos poderão ser investidos em qualquer atividade escolhida pelo indivíduo,
sendo mantidos, enquanto estiverem atuando os fatores motivacionais. A
motivação tende a ser crucial para impulsionar os estudantes. Winne (2010)
defendeu que toda autorregulação é inerentemente contextual, isto é, esse
processo específico será ativado frente a características específicas da situação
e da tarefa. Em relação às aprendizagens escolares, podem-se vislumbrar ao
menos duas situações em que a autorregulação da motivação se torna oportuna
e até imperiosa, o que seria a mudança do ambiente de aprendizagem e a
imposição de aprender sozinha, visando um objetivo.

Outro ponto a ser levado em consideração é a pressão escolar causado


pelo sistema educacional brasileiro. Devido a metodologia de ensino aplicado
nas escolas, os alunos são definidos pelas notas que possuem, dessa forma,
invalidando os outros fatores que podem contribuir com o baixo desempenho
daquele indivíduo, como por exemplo, transtornos relacionados a aprendizagem,
ansiedade, dificuldade de aprendizagem etc. Para Zimbardo (2002, apud

304
DUARTE e OLIVEIRA 2004), a competição e a realização individual,
excessivamente valorizada atualmente, podem dar origem à ansiedade social.
Neste contexto, as pessoas desenvolvem atitudes que atendem às expectativas
de outrem para que possam ser aceitos, sob pena de serem rejeitados ou
desvalorizados.

Relatório dos Encontros

Primeiro Encontro (11 de novembro de 2022):

A instituição escolhida para execução do projeto de intervenção foi a


Escola Estadual Frei Silvio Vagheggi. Na primeira visita foi possível observar que
alguns dos profissionais estavam cansados e sem motivação para trabalhar,
dessa forma nosso grupo acabou sendo impactado ocasionando desconforto
devido à falta de empatia para com nosso projeto, atraso na homologação do
ofício e negligência por parte da gestora da instituição. Verificamos que a
instituição não possui psicólogo disponível, somente orientação pedagógica,
onde foi observado que não atende a alta demanda de alunos. A escola possui
espaço para recreação como quadra de esportes e área livre, a instituição possui
sala de orientação, auditório e um palco externo para apresentação de projetos
ou eventos.

Foi possível observar a acessibilidade na escola para pessoas com


deficiência (PcD). Alguns alunos relataram que a gestora não tem um bom
comportamento com eles, se tornando uma pessoa muitas vezes inflexível nas
situações dos alunos, já a pedagoga é uma pessoa acolhedora e compreensiva,
tornando a sua relação com os alunos mais leve. Os professores são ótimos
profissionais, esforçados e que compadecem com a situação dos alunos,
construindo uma boa relação e confiança.

Segundo Encontro (17 de novembro de 2022):

305
Nesta visita foi possível realizar o encontro com os alunos da turma para
aplicação de um questionário e explicar o projeto para os alunos da instituição. Os
professores foram receptivos e compreensivos com a pesquisa, em contraponto, da
coordenação e gestora. Foi possível perceber a alta inclusão da escola para com os
alunos com deficiência auditiva, cujo tinham uma intérprete disponível em sala de aula,
nos foi informado por um dos professores que no total existem 3 intérpretes na escola,
visando dessa forma auxiliar na educação desses alunos. Foi utilizado um questionário
para escolha de 5 perceptivas em relação a aprendizagem, cada aluno recebeu um
questionário e respondeu de acordo com o que achava compatível com si mesmos. Não
solicitamos o preenchimento dos nomes, para que os alunos ficassem mais confortáveis
e suas respostas ficassem mais sinceras. Os professores informaram que na parte da
tarde a maioria dos alunos já são maiores de idade e alguns já trabalham, por isso o
quantitativo de alunos da tarde tende a ser menor do que os alunos da manhã. O
professor de educação física ressaltou que devido a quadra de esportes ser aberta, o
calor pela parte da tarde é uma limitação para as atividades práticas.

Terceiro Encontro (18 de novembro de 2022):

Na terceira visita a coordenação da escola foi mais receptiva e nos providenciou


o data show para apresentação de um slide com intervenção interativa junto aos alunos.
No início imaginamos que não haveria muita participação por parte dos alunos, porém,
eles interagiram com as atividades apresentadas e fizeram perguntas acerca do assunto
discutido. Durante a atividade interativa, foi possível perceber dúvidas e
questionamentos por parte dos alunos, que se mostraram interessados no assunto
abordado. A atividade consistia em perguntas de verdadeiro ou falso e recompensa com
um doce para quem interagisse tentando responder à pergunta em questão,
apresentando seu conhecimento como justificativa. Nós apresentamos sobre as
dificuldades de aprendizagem, no sentido de conhecer sobre o que são, como entender
sobre e maneiras de estimular a prática de autoconhecimento para melhorar na
aprendizagem. Foi somente na terceira visita que a gestora da instituição possibilitou o
protocolamento do ofício para execução formal das atividades do projeto de intervenção,
porém, não teve contato direto conosco. Alguns alunos e professores nos questionaram
sobre como lidar com a má conduta de um professor negligenciando a prática da

306
aprendizagem. Nós orientamos que é necessário diálogo para alinhamento de ideias,
maneiras de como ele pode melhorar continuamente o seu processo de ensino e
compreensão junto com os alunos que necessitam da sua mudança de didática.

Quarto Encontro (21 de novembro de 2022):

No quarto e último encontro foi o encerramento da pesquisa de campo e


finalização da intervenção com os alunos. O corpo docente foi mais receptivo nesse
último momento conosco, proporcionando acolhimento para esta conclusão. Também
foi realizado com os alunos uma atividade de interação chamada “caixa do desabafo”,
com o intuito de descarregar os pensamentos negativos, a atividade não era obrigatória
e somente alguns alunos participaram da atividade. Eram sorteados alguns dos
desabafos para proporcionar uma roda de conversa e promover a reflexão sobre os
assuntos expostos, intervir de maneira positiva e compreender as sensações dos
estudantes. Mesmo após o encerramento do tempo, os alunos ainda tinham perguntas
e participavam ativamente querendo saber mais sobre o curso de Psicologia e sobre o
tema abordado. Ao final distribuímos lembrancinhas feitas pelo grupo, com uma
mensagem de agradecimento pela participação do projeto e uma mensagem
motivacional.

307
Considerações Finais

Ao comparar as informações coletadas na pesquisa de campo em


conjunto com o material bibliográfico apresentado, é possível afirmar que apesar
de árduo o processo de ensino-aprendizagem, sendo realizado de forma
dinâmica e com diálogo de respeito mútuo entre alunos e professores se torna
de mais fácil compreensão para os alunos, algo notável foi com isso faz uma
diferença no processo de ensino. Os estudantes do terceiro do ensino médio têm
tantas outras preocupações que o âmbito escolar acaba se tornando algo
superficial, tendo esse fato em vista fato acaba sendo necessário os mesmos
estarem presentes em um ambiente escolar que acolha suas dores do mundo
externo e interno de forma a dar auxílio, contribuindo assim com o seu processo
de aprendizagem.
Sendo importante ressaltar que, mesmo esse estudo tendo englobado alguns
aspectos do ensino-aprendizagem e suas dificuldades presentes na vida de
estudantes do terceiro ano do ensino médio, esse campo de conhecimento vai
muito mais além do que foi analisado no presente estudo, se dando
principalmente pelas mudanças que ocorrem na vida de cada indivíduo. Ademais
não esquecendo de citar que a sociedade contribui negativamente em alguns
aspectos para que esse processo de ensino-aprendizagem seja mais complexo
e doloroso do que deveria ser.

Valendo lembrar que o ponto de partida deste estudo se deu pelo fato do
terceiro ano do ensino médio ser um ano de muitas incertezas para os jovens
que caminham em direção a vida adulta, carregando consigo toda a bagagem
que a vida lhes proporciona, a cobrança de suas famílias e da escola em estudar
todo o assunto cobrado no vestibular em um ano e passar no exame nacional do
ensino médio (ENEM), que gera ansiedade, podendo interferir em suas vidas,
logo interferindo em seu processo de aprendizagem.

308
O caminho que percorremos permitiu ampliar as visões que antes eram
minimalistas sobre o processo de aprendizagem desses estudantes e como as
dificuldades presentes em suas vidas interferem em seus processos de
aprendizado, gerando então um ciclo vicioso de universitários que estão pouco
familiarizados com a sede pelo conhecimento, e uma sociedade que cobra um
padrão inalcançável de perfeição.

Este estudo possui muitos aspectos a serem considerados, porém alguns


resultados se fazem por merecer certo destaque, no último dia de intervenção
foi possível perceber que esses estudantes estão mais familiarizados com seus
próprios processos de aprendizagem e que agora já não fazem mais
questionamentos superficiais, sendo assim é esperado que tenham a
curiosidade de aprender os assuntos com os quais têm mais afinidade, gerando
profissionais de qualidade assim que regressarem da universidade.

Referências

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Companies, Inc., 1221 Avenue of the Américas, New York, NY 10020. All rights
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310
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Edição. São Paulo: Ícone, 2010. Disponível em: https://vdocuments.pub/vygotsky-luria-
leontiev-linguagem-desenvolvimento-aprendizagem.html?page=1 Acesso em
novembro de 2022.

311
Anexos

Figura 1 - Pátio da escola

Figura 2 - Infraestrutura

312
Figura 3 - Confecção das lembrancinhas

Figura4 Atividade Interativa

Figura 5 - Tabela Periódica

313
Figura 6 - Alfabeto em Libras

314
CAPÍTULO XIV

PSICOMOTRICIDADE: ATIVIDADES INTERATIVAS PARA O


DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES DE CRIANÇAS DO 2º PERÍODO DA
CMEI FÁTIMA MACIEL DA COSTA

Ana Jacqueline Carvalho, anacarvalho17@rede.ulbra.br


Kylvia Malta Rego, kylviamalta@rede.ulbra.br
Lívea Sueila Michiles Góes, liveagoes@rede.ulbra.br
Maria Aparecida da Silva Martins

RESUMO

O atual artigo se dispôs a delinear as implicações da psicomotricidade dentro do


contexto escolar, visando implementar atividades interativas que tivessem como
resultado o desenvolvimento de valências e habilidades, assim como averiguar
o processo dinâmico de interação dessas crianças perante o âmbito contextual
que elas estão inseridas. Se é pretendido relatar por meio das experiências,
observações e intervenções com as crianças alunas do segundo período da
escola CMEI Fátima Maciel da Costa. A principal abordagem deste artigo será a
coleta de dados para que se possa balizar as práticas interventivas observando
os processos de intervenção grupal e as relações entre os pares do grupo. O
presente artigo tem como objetivo principal buscar ferramentas e instrumentos
para promoção de atividades lúdicas, através da psicomotricidade como
contribuição para o desenvolvimento biopsicossocial.

Palavras-chaves: Psicomotricidade; Psicologia; Desenvolvimento

ABSTRACT

The article set out to linear functions as consequences of psychomotricity within


the school context, implementing activities that alternatively function as the
school process and skills, as well as the interaction between children and the
context they integrate. If it is Fátima Mac to report through the experiences,
interventions with the children students of the second period of the CMEI Fátima
Maciel da Costa school. The main approach of this article will be the collection of
data so that it can be defined as interventional practices observing the processes
of group intervention and the relationships between the group's peers. The main
objective of this article is to seek tools and instruments to promote recreational
activities, through psychomotricity as a contribution to biopsychosocial
development.
315
Keywords: Psychomotricity; Psychology; Development

INTRODUÇÃO

O presente projeto visou com a observação da realidade da


turma no CMEI Fátima Maciel da Costa de Manaus localizado na Rua 21 s/n
Jardim Mauá, Mauazinho, que consistiu na participação ativa das três
integrantes do grupo, e alguns professores dos alunos envolvidos. Ressaltamos
que todas as regras determinadas pela escola foram seguidas, bem como os
protocolos contra COVID-19.

Em contribuição ao processo de desenvolvimento do projeto, esta


pesquisa visa como objetivo primário promover atividades lúdicas, através da
psicomotricidade como contribuição para o desenvolvimento biopsicossocial das
crianças do CMEI Fátima Maciel da Costa que fazem parte do público-alvo das
observações e intervenções. Relacionado aos objetivos específicos , o atual
projeto dispor-se implementar uma proposta de intervenção através da
psicomotricidade no desenvolvimento motor e cognitivo das crianças do 2º
período; evidenciar a importância processual das atividades psicomotoras
desenvolvidas para o desenvolvimento social das crianças do 2º período e
oferecer atividades psicomotoras para trabalhar as relações sociais com os
coleguinhas de turma e os profissionais que estão ligado diretamente no
cotidiano das crianças.

Para a realização da primeira visita técnica ao local escolhido,


observamos e definimos qual a principal demanda para aplicar a intervenção, em
seguida conhecemos os professores envolvidos diretamente com os alunos para
estabelecermos as dinâmicas e selecionarmos um grupo específico de crianças
entre 5 e 6 anos e dividi-los em dois grupos, com três componentes cada, para
assim todos terem contato com a realidade que iremos intervir. Esse é o

316
momento que nós como sujeitos envolvidos tivemos um primeiro olhar atento
para a realidade das crianças,

As ações foram planejadas a partir dos relatos da professora responsável


pela turma em que as crianças estão matriculadas no CMEI, e da nossa
observação, que tomamos para trabalho a temática de psicomotricidade, por
entendermos que se trata da relação entre o pensamento e a ação envolvendo
a emoção partindo da premissa que o intelecto se constrói a partir do exercício
físico que tem uma importância fundamental no desenvolvimento não só do
corpo, mas também da mente e da emotividade. Dessa forma, a
psicomotricidade em seu viés relacional possibilitou a intervenção com as
crianças do CMEI onde elas tiveram um espaço de liberdade para aparecerem
inteiras com corpo, emoção, fantasia, e inteligência em formação.

DELIMITAÇÃO DO TEMA: Psicomotricidade: Atividades interativas para o


desenvolvimento de habilidades de crianças do 2º período da CMEI Fátima
Maciel da Costa.

OBJETIVO GERAL

Promover atividades lúdicas, através da psicomotricidade como


contribuição para o desenvolvimento biopsicossocial das crianças do CMEI
Fátima Maciel da Costa.

OBJETIVO ESPECÍFICO

 Implementar uma proposta de intervenção através da psicomotricidade


no desenvolvimento motor e cognitivo das crianças do 2º período.
 Evidenciar a importância das atividades psicomotoras para o
desenvolvimento social das crianças do 2º período.

317
 Oferecer atividades psicomotoras para trabalhar as relações sociais com
os coleguinhas de turma e os profissionais que estão ligado diretamente
no cotidiano das crianças.

PROBLEMÁTICA

De que forma a psicomotricidade influência no desenvolvimento das


crianças do CMEI?

JUSTIFICATIVA

A finalidade do atual projeto tem como propósito mostrar a importância


do desenvolvimento da aprendizagem das crianças do CMEI Fátima Maciel da
Costa, por meio da prática de atividades de uma forma mais lúdica. As atividades
serão feitas em um pátio e sala apropriada, garantindo assim a segurança e bem-
estar das crianças que são merecedoras de todo cuidado e atenção. Sendo
sempre acompanhadas e realizadas com a presença de um profissional.

Justifica-se a pesquisa pela necessidade de propor uma reflexão sobre a


psicomotricidade e sua crescente importância nos trabalhos relacionados ao
desenvolvimento das crianças, respeitando a individualidade de cada um, por
isso oferece inúmeras possibilidades de trabalhar com as crianças pois, a
psicomotricidade possui implicações emocionais, sociais, cognitivas e motoras
trazendo resultados positivos para o desenvolvimento dela. Diante disso, o
psicólogo necessita observar e entender a psicomotricidade, para assim
conseguir relacionar os seus objetivos com a aplicação prática dessa ciência,
auxiliando no desenvolvimento psicomotor e interação entre corpo e mente.

A relevância desse trabalho acadêmico nos leva a refletir sobre como


devemos lidar com as propostas das atividades psicomotoras já que se
cristalizam em alguns professores no meio educacional, entretanto não é uma
318
tarefa fácil transpor de um recurso pedagógico, pois muitos não sabem como
elaborar atividades que desenvolvam habilidades psicomotoras. Realizar
atividades que envolvam movimentos, jogos, práticas e expressões corporais,
fazem com que alguns professores tenham um certo receio de aplicar, pois gera
a incerteza e o medo de que não se tenha o controle das atividades e algo
aconteça que gere algum acidente.

Com isso se deixa de explorar atividades psicomotoras que além de


tratar dos estímulos corporais do indivíduo também desenvolve os aspectos
psicológicos por isso é relevante conhecer e analisar os benefícios que qualifica
este tema no processo de desenvolvimento das crianças, desta forma se faz
necessário que os profissionais da psicologia tomem conhecimento das práticas
adequadas para desenvolver a psicomotricidade.

Assim, justifica-se a intenção deste texto acadêmico propor uma reflexão


sobre a psicomotricidade e sua crescente importância nos trabalhos que se
relacionam com o desenvolvimento infantil pois, a psicomotricidade possui
implicações emocionais, sociais, cognitivas e motoras trazendo resultados
positivos para o desenvolvimento da criança.

Segundo Oliveira (2007) a educação psicomotora deve ser uma


formação de base indispensável a toda criança. Ela é um meio de auxiliar a
criança a superar suas dificuldades e prevenir possíveis inadaptações. O
indivíduo se constrói paulatinamente, através da interação com o meio e de suas
próprias realizações e a psicomotricidade desempenha um papel fundamental.
A educação psicomotora pode ser vista como preventiva e educativa na medida
em que dá condições à criança de se desenvolver em seu ambiente.

Concluindo as atividades, finaliza-se com as atividades como: pintura


(disponibiliza-se desenhos, pincéis e lápis de cor para as crianças). Para Medina
(2006) “A aquisição dessa habilidade motora está ligada ao desenvolvimento

319
cognitivo dessas crianças do próprio corpo e de noção espaço-temporal,
formando assim um complemento para o desenvolvimento da aprendizagem
escolar “.

Neste contexto percebe-se a importância do brincar, ludicidade, na


primeira infância, na aquisição das funções motoras, pois é neste primeiro
momento que a criança está tendo suas interações sociais, aprendendo como
agir, observar, se organizar e tudo isso brincando, para um desenvolvimento
completo nas suas funções, afetivas, cognitivas, psicomotora. A equipe tem
como objetivo proporciona de maneira lúdica atividades específicas para as
crianças que estão no processo de aprendizagem, é através dos esquemas de
ações e representações que as crianças entram em contato com o meio, cada
objeto que chega até a criança como novidade, e uma experiência nova para
mesma. Para Piaget (1976), o mecanismo da equilibração tem um jogo duplo de
assimilação e de acomodação e depois, busca permanente equilíbrio entre a
tendência dos esquemas para assimilar a realidade e a tendência contraria de
se acomodar e modificar-se atendendo as suas resistência e exigências.

As fases que segundo esse teórico passam por quatro estágios distintos:
Sensório-motor, Pré-operatório, Operatório-concreto e Operatório- formal. O
público-alvo que a equipe irá aplicar as atividades está relacionado com o estágio
2 Pré-operatório (2 a 7 anos). Onde as crianças estão na faixa etária de 5/6 anos.
Pré-operatório (2 a 7 anos): a criança é capaz de simbolizar, de evocar objetos
ausentes, estabelecendo diferenças entre significante e significado, o que
possibilita distância entre o sujeito e o objeto, por meio da imagem mental, a
criança é capaz de imitar gestos, mesmo com a ausência de modelos.

METODOLOGIA

O processo de práticas das atividades com crianças nessa faixa etária


requer que a equipe elabore atividades lúdicas, sempre chamando atenção das

320
crianças para que elas tenham o interesse no aprendizado e obtenha o
conhecimento daquilo que foi proposto de forma descontraída. Sempre dando a
oportunidade da criança se desenvolver na sua fase, essas atividades acarretam
ao indivíduo muitas melhorias no decorrer do seu cotidiano.

Diante das informações coletadas durante a visita no CMEI,


analisamos que possui exatamente um pátio espaçoso que facilita o processo
de acesso e a mobilidade das crianças no local. A partir disso, o método que
escolhemos para execução das atividades se torna mais propício para deixar a
criança com disponibilidade de exercer com autonomia sem exageros e
exigências de forma flexível e lúdica, para que possamos pautar de forma mais
sólida a construção das atividades a serem aplicadas.

As atividades permitem que as crianças percebam que fazem parte


de uma sociedade e que elas contam com essa ajuda também, e a realização
de movimentos frequentes estimula o conhecimento da postura corporal,
aumenta a noção entre espaço/tempo, e do ambiente em que estão inseridas.

Aplicaremos dinâmicas de grupo, pois sabemos que elas podem


desenvolver de diversas maneiras o desenvolvimento de equipes, dado o seu
aspecto lúdico criativo e espontâneo visando mudanças comportamentais que
possam favorecer o desempenho individual e grupal. Baseado na teoria de
dinâmicas de grupo- (Kurt Lewin) trabalharemos as dinâmicas:

Aplicação da dinâmica do amor: Desenvolvimento: - apresentar os


cartazes com as palavras destacadas e os gestos a serem feitos; explicar aos
participantes que devem fazer os gestos de acordo com a história que será
contada, cada vez que uma palavra for citada o gesto deve ser feito por todos. A
leitura do texto que poderá ser adaptado de acordo com a realidade do grupo
trabalhado. Após a realização das dinâmicas promover uma roda de conversas
para constatar se os objetivos foram alcançados. Usamos as palavras da

321
dinâmica, PAZ, AMOR, SORRISO E BEM – VINDOS! Realizamos a atividade
com cartazes, pincel, materiais simples, mas que podem ser utilizados para
atividades de compreensão das crianças. E que é muito divertido para cada uma
delas pois elaborando a atividade de forma correta a criança tem muitos
benefícios educativos, pois cada uma tem sua subjetividade, com as palavras de
emoções, a criança expressa seus sentimentos de forma autêntica, as crianças
da faixa etária de 5 anos, estão na fase do descobrimento de tudo que está ao
seu contorno.

Dinâmica do balão

Em seguida aplicaremos a segunda dinâmica: 5 Emoções e afetos em


três balões, entregar para as crianças, três balões de cores distintas. - Pedir para
que elas pensem em algo que lhe causem medo; - Encher o balão pensando no
medo; - Amarrar, olhar para o balão de frente e repetir por três vezes bem alto:
(eu não tenho mais medo!) - Estourar o balão. Abrir a oportunidade para a roda
de conversa.

No segundo balão os comandos serão: - Pensar em um desejo que a


criança tem. - Encher o balão pensado neste desejo, amarrar o balão. - Olhar o
grupo e apresentar o desejo (balão) para outro participante. Conversar como se
sentiram presenteando outra pessoa com o seu desejo e se gostou do presente
(desejos que recebeu). No terceiro balão eles deverão; - Pensar em um sonho;
- Encher o balão, amarrar. - De pé manter o balão (sonho) sem deixar cair,
obedecendo os comandos: pular, pular em um pé só, pular e estica um dos
braços, ficar estátua etc. Terminar com a roda de conversa e procurar abordar
todos os postos-chaves como: atenção, dificuldades, equilíbrio e como eles se
sentiram ao realizar a dinâmica.

322
Fazendo-os entender que eles podem conseguir realizar os sonhos e
ainda presentear e serem presenteados por outras pessoas. As crianças
desenvolveram a atividade da forma que a idade delas propõe, sempre na
ludicidade e brincadeiras. Mas a equipe soube contorna a situação e as crianças
interagiram e realizaram com sucesso a atividade proposta.

Brincadeira da corda
Esta atividade possuiu como objetivo desenvolver a coordenação motora
ampla, o esquema corporal, estimular a orientação espacial e temporal, ampliar
o equilíbrio, a lateralidade e melhorar o tônus muscular. De forma instrumental
se foi usado como material, uma corda de quatro metros em média.

Na execução da atividade a corda pode ser utilizada no chão, no qual a


criança ande descalça sobre a corda, com os braços abertos, procurando manter
o equilíbrio.

Aproveitando a mesma atividade só que agora a criança vai andar de


costas sobre a corda. Ainda esticada no chão a criança pula com os dois pés
juntos para esquerda e para direita consecutivamente. A corda pode ser erguida
dez centímetros do chão para a criança pular de um lado para o outro. A corda
pode ser utilizada pela dupla como cabo-de-guerra, no meio do espaço utilizado
deve ter uma marca no chão, para visualizar quem está vencendo o cabo-de-
guerra. As crianças podem pular corda.

Boliche

Boliche será para a criança fazer movimentos com os membros


superiores, que ajuda na coordenação motora. Vem para estimular movimentos
com a bola, de forma a ampliar o equilíbrio de forma reta. Pinos de plástico para
não machucar as crianças e Bola de plástico. As crianças se beneficiam dessa
atividade de forma muito gratificante pois irá desenvolver movimentos muito

323
importante para o crescimento tanto físico, como cognitivo, pois auxilia as
mesmas na sua compreensão do que está sendo aplicado.

Basquete

Estimular movimentos, fortalecer os músculos, com intuito de trabalhar a


coordenação motora grossa da criança para o desenvolvimento físico e cognitivo
dela, sempre com a observação de um profissional pois se trata de crianças
muito pequenas que estão na fase das brincadeiras e podem se machucar se
não haver uma supervisão de adultos, para conter os ânimos das crianças. Pois
elas possuem muita energia para realizar as atividades propostas.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A psicomotricidade originou-se no século XIX, quando da necessidade de


as zonas do córtex cerebral localizadas para além das regiões motoras. Dado o
avanço das descobertas e desenvolvimento da neurofisiologia, percebeu-se
diferentes disfunções acentuadas sem, contudo, houvesse, lesões no cérebro.
Notou-se distúrbios nos gestos e atividade prática. O “esquema anátomo-clínico”
não podia explicar alguns fenômenos patológicos. A necessidade médica,
obrigou pela primeira vez nomear o termo psicomotricidade para explicar alguns
fenômenos clínicos em 1870. As primeiras pesquisas que dão origem ao campo
psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente neurológico (SBP,
2003).

A Escola francesa foi que norteou a Psicomotricidade no Brasil. Também


coube à escola francesa a influenciar no mundo inteiro a psiquiatria infantil, bem
como a psicologia e a pedagogia. Os fenômenos patológicos, na tentativa de
324
explicá-los, médicos nomeiam certos fenômenos clínicos, de psicomotricidade,
contudo, as primeiras pesquisas enfocavam o aspecto neurológico.

A Psicomotricidade refere-se a uma concepção de movimento organizado


e integrado que diz respeito às experiências que a pessoa vivenciou, que lhe
permitiu caminhar, evoluir na linguagem, na sua subjetivação e socialização. E
uma das questões mais importante nessa fase, é a inclusão, observando o limite
de cada aluno, suas questões de convívio, sempre visando um aprendizado que
possibilite sempre estimular o seu lúdico, psicomotor, aprendendo que todos
podem ser diferentes independente de suas limitações, e que todos aprendem
no seu tempo, que cada coleguinha pode auxiliar nas atividades, assim
adquirindo interação nas brincadeiras propostas para o aprendizado do
cotidiano.

325
Consonante ao que se foi dito, Apud, Fonseca (1995) afirma que a
Psicomotricidade não é exclusiva de um novo método ou de uma “escola” ou de
uma “corrente’ de pensamento, nem constitui uma técnica, um processo, mas
visa fins educativos pelo emprego do movimento humano.

Relacionado a esse contexto Apud, Nicola, afirma que uma conceituação


atual da Psicomotricidade é que esta ciência nova, cujo objeto de estudo é o
homem nas suas relações com o corpo em movimento, encontra sua aplicação
prática em formas de atuação que configuram uma nova especialidade. A
Psicomotricidade estuda o homem na sua unidade como pessoa (NICOLA, 2004,
p. 5)

Para Gil (1999, p.44), na pesquisa descritiva busca-se “juntamente com a


exploratória, as que habitualmente realizam os pesquisadores sociais
preocupados com a atuação prática. São também as mais solicitadas por
organizações como instituições educacionais, empresas comerciais, partidos
políticos etc.”. A pesquisa não deixa de ser exploratória, pois ao adentrar na
opinião de tantos teóricos, faz-se exploração do conhecimento científico para
produção da pesquisa.

Segundo Gil (1999, p.43) a pesquisa exploratória “tem como principal


finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista,
a formulação de problemas mais precisos com hipóteses pesquisáveis.” As
capacidades psicomotoras e as habilidades motoras das crianças são resultado
de um processo de aprendizagem que ocorre em um tempo e um lugar
determinado, um processo que ocorre em grupo social implica e produzem
significados, a motricidade proporciona desenvolvimento através do movimento
a intencionalidade dos movimentos representa a forma concreta de interação do
ser humano a motricidade é a expressão das atividades humanas por isso a
psicomotricidade necessita estar incluída no desenvolvimento infantil.

326
Segundo Fonseca, (2000, p. 89):

A criança deve viver o seu corpo através de uma


motricidade não condicionada, em que os grandes
grupos musculares participem e preparem os
pequenos músculos, responsáveis por tarefas mais
precisas e ajustadas. Antes de pegar num lápis, a
criança já deve ter, em termos históricos, uma grande
utilização da sua mão em contato com inúmeros
objetos.

É a execução de movimentos voluntários ou involuntários, organizados ou


integrados que constituem síntese psíquica e motora, como também permite
adaptação da criança ao meio, estabelece ligação que vai se tornando específica
até ao ponto que ela começa a reconhecer as suas necessidades apenas por
sua agitação motora. O movimento é uma ação natural do corpo, sendo
importante para construção da ação motora e para o desenvolvimento da
criança. A psicomotricidade está estruturada na Neurofisiologia, Psiquiatria,
Psicologia e Educação, apresentando elementos de ordem cognitiva, social e
afetiva, fundamentando sua relação corpo e mente com o meio no qual está
inserido.

Quando tratamos de psicomotricidade no contexto escolar, sabemos que


muitas vezes chega a ser um desafio para quem aplica, pois é uma fase muito
importante e que requer habilidades para inclusão de todos os alunos, pensado
nisso que temos diversas brincadeiras lúdicas para compor um aprendizado de
qualidade, verificamos aqui como é importante o brincar, o lúdico, para a criança
saber como exercer sua imaginação, suas funções motoras.

Ao tratarmos a questão da psicomotricidade, trazemos o convívio das


interações diárias, os objetos de trabalho que podem ser executados nas tarefas
são, materiais coloridos que podem ser descartáveis ou não sempre voltado para
327
os lúdicos onde a criança possa utilizar sem perigo de se machucar ou engolir.
Para exercer um papel importante nesse primeiro momento.

Trazer desenhos que os auxiliem na hora de desenhar algo conhecido e


isso após diversas perguntas feitas no que eles assistem e tem acesso, a
músicas poder compor as suas formas de movimentos, sempre destacando
movimentos circulares, retos, para uma boa localização do ambiente. Observa-
se que nesse primeiro momento questões que movimenta a ludicidade da
criança é onde podemos trabalhar um ser que pensa, que faz o seu papel em
saber quais as questões de movimento, alinhamento, para um convívio,
interação com seus colegas de escola, e a família.

Segundo Mello (apud, FONTANA, 2012, p.14) “A psicomotricidade vem


dar ênfase à relação existente entre motricidade, a mente e a afetividade,
utilizando-se de técnica a fim de facilitar a abordagem global da criança. Trata
da relação entre o homem, seu corpo e o meio físico e sociocultural no seu dia
a dia”. De acordo com Fonseca (apud GUAPINDAIA, 2019), sobre o
desenvolvimento:

O desenvolvimento é um processo ativo, dinâmico e


interativo, que vai acontecendo no desenrolar da vida.
Como visto nos três conhecimentos básicos, a
criança, no processo de desenvolvimento, passa
pelas três etapas que são, o movimento, o intelecto e
o afeto. A partir de cada um deles observa-se a
importância da psicomotricidade no desenvolvimento
infantil.

328
A psicomotricidade trabalhada no desenvolvimento da criança e na
aprendizagem, endossa o processo de ensino e funções motoras, objetivando a
prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança.

CRONOGRAMA

Quadro 1

INTERVENÇÃO PROPOSTA
Data da Atividade Objetivo da Recursos Número de
intervenção realizada atividade utilizados participant
es

20/05/2022 1ª Visita Observa a demanda A


de para definir qual as observação,
observaç atividades que será caderno e Participante
ão da usada na intervenção caneta para s da equipe
equipe do anota, as
projeto demandas.
27/05/2022 2ª Visita Foi marcado a 2ª Caderno e Participante
de visita com intuito de caneta para s da equipe,
observaç conversar com a anotar, as ea
ão da professora para demandas. professora.
equipe do saber mais detalhes
projeto a respeito da
demanda das
crianças.
07/06/2022 Dinâmica A proposta é Balões 3 membros
O interação, com foco coloridos da equipe,
garotinho nas emoções, foco Cartolina e professora,
chamado nas letras e pincel. auxiliar da
amor + assimilação das professora,
Atividade mesmas e propor 6 alunos,
realizada formas de estimular a faixa etária
com atenção, equilíbrio e de 5/6 anos.
Balão interações entre os
colegas de classe
22/06/2022 Brincadeir Estimular Pinos de 3 membros da
a corda, movimentos com a plástico equipe a
329
Boliche, bola, de forma a para não professora,
Basquete ampliar o equilíbrio machucar auxiliar da
de forma reta. as crianças professora, 6
e Bola de alunos, faixa
Estimular plástico. etária de 5/6
movimentos, cima, Bola de anos.
dentro, fora fortalecer material
os músculos. leve, própria
Mantem o foco da para as
criança e ajuda na crianças da
coordenação dos faixa etária
membros superiores de 5/6 anos
e inferiores

Quadro 2 - Cronograma de Atividades do Projeto

CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES / mar abr. mai. jun. jul.


CUSTO 2022
X X X

Pesquisa na biblioteca teoria dos livros


X

Visita Técnica (observação)


X X

Iniciação à Fundamentação Teórica


330
X

Atividades realizadas no dia 07/06/2022. O


garotinho

chamado amor (aperfeiçoamos a dinâmica a


ludicidade para supri a nossa demanda). E
dinâmica dos balões.
Atividades realizadas no dia 22/06/2022, X
Brincadeira da corda, Boliche e Basquete
onde a criança vai trabalhar a coordenação
motora equilíbrio e foco.
Cronograma do Projeto X X

Digitação e Formatação do projeto X X X


Apresentação do Projeto X X
Entrega do projeto X X X
Materiais para a dinâmica: Balão, cartolina e R$ 25,00
papel.
Custos diversos: gasolina e lanche. R$ 42,00

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades propostas e desenvolvidas durante o período de intervenção


mostraram a importância do movimento para a ampliação da cognição e dos
aspectos relacionais. As intenções propostas na psicomotricidade tiveram como
meta grandes possibilidades de a criança olhar ao seu redor, perceber o
ambiente, as suas formas de se identificar e saber o que fazer com cada item
dado a ela. Na fase escolar onde são os primeiros passos da criança, ela

331
aprende diversas formas de estar no mundo. Dentre ela perceber que está
aprendendo coisas novas tais como: pintar, desenhar, jogar, identificar músicas.

Em contribuição ao exposto, neste contexto a psicomotricidade é


indispensável na aprendizagem e por esta razão deve ser proposta desde o
maternal pois ela contribui para o desenvolvimento global das crianças além do
que o universo do movimento amplia e resgata aquilo que é a essência do ser
humano, a sua capacidade de interagir e se relacionar.

Findando este projeto se foi possível perceber por meio das observações
e intervenções se possível averiguar que a partir dessas experiências, se faz de
grande valia a ótica de integração de saberes no tocante aos fatores da
psicomotricidade no âmbito escolar ou não, possibilitando uma prática mais
assertiva e de maneira consequente, uma assistência muito mais amparada em
instrumentos e métodos eficazes para o auxílio dessas problemáticas.

REFERÊNCIAS

FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. 3 ed. Martins Fontes, São Paulo. 2000.

LAKATOS, Eva Maria, MARINA, Marina de Andrade; Fundamentação de


Metodologia Científica. – 7 ed. – São Paulo: Atlas, 2010.

OLIVEIRA, Gislene Campos. Psicomotricidade: Educação e Reeducação. 12.


ed. Petro-polis: Vozes, 2007.

MEDINA J, Rosa Gkb, Marques I. desenvolvimento da organização temporal


de crianças com dificuldades de aprendizagem. rev educ fís/uem, 2006.

SILVA, SANTOS Edvânia, SANTOS ALVES Stefanny, DE JESUS, MATIAS


Vanessa. O desenvolvimento cognitivo infantil sob a ótica de jean piaget

332
file:///C:/Users/gabri/OneDrive/Imagens/tcc9-6%20(3).pdf: Acesso em: 28 de
Set, 2020.

OLIVEIRA, FERREIRA Maxwell Metodologia Científica: Um manual para a


realização de pesquisas:
https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/567/o/Manual_de_metodologia_cienti
fica_-_Prof_Maxwell.pdf: Acesso em: 28 de Set, 2020.

GUAPINDAIA, Liliane Teles. A Psicomotricidade como Facilitadora no


Processo de Ensino e Aprendizagem na Educação Infantil. Psicologado,
[S.l.]. (2019). Disponível em https://psicologado.com.br/psicologia-
geral/desenvolvimento-humano/a-psicomotricidade-como-facilitadora-no-
processo-de-ensino-e-aprendizagem-na-educacao-infantil . Acesso em 18 Set
2020.

FONTANA MADALENA, Cleide: A importância da psicomotricidade na


educação infantil
http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/4701/1/MD_EDUMTE_VII_2
012_03.pdf; Acesso: 18 de Set 2020.

SBP Sociedade Brasileira de Pediatria No 25 Ano V Junho-Julho 2003


https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/2015/02/Sbp25.pdf: Acesso: 18
de Set 2020.

LAHTI DE SOUZA, Fernanda, CARVALHO ONO, Nathan, VARGAS, SILVA


Leandro: A Importância de Atividades Psicomotoras para Crianças de 6 a
10 anos: file:///C:/Users/gabri/Downloads/226-740-1-PB.pdf: Acesso: 18 de Set
2020.

333
ANEXOS

334
335
336
337
CAPÍTULO XV

SAÚDE MENTAL PÓS PANDEMIA COVID-19 E RETORNO DAS AULAS


PRESENCIAIS: INTERVENÇÕES EM TERAPIA COGNITIVO
COMPORTAMENTAL EM UNIVERSITÁRIOS COM SINTOMAS DE
ANSIEDADE

Inês Nogueira Magalhães49


Mikaeli Galvão dos Santos50
Elizangela da Rocha Mota51
Rafaela Christi Ane Mano de Assis52

Resumo

Por conta das intensas preocupações em torno da pandemia da Covid-19,


inúmeras universidades precisaram interromper as atividades presenciais,
situação que contribuiu diretamente para o surgimento de efeitos psicológicos
negativos entre universitários, como por exemplo, a ansiedade, a qual é um
transtorno complexo e que pode se manifestar de diversas formas. Sendo assim,
o presente projeto teve como objetivo compreender como a ansiedade tem
influenciado a saúde mental de universitários do primeiro ano do curso de
História da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, após o retorno
presencial das aulas em maio de 2022. Para isso, foram apresentados e
analisados dados coletados durante sete encontros com os universitários a partir
de intervenções com tal grupo que ocorreram em sala de aula, tendo a duração
máxima de 1 hora, além de uma entrevista com o coordenador do curso. Os
resultados demonstraram que as técnicas e a psicoeducação aplicadas durante
os encontros auxiliaram os participantes a identificarem os primeiros sinais da
ansiedade, como também as situações desencadeantes e, por fim, a como lidar
com tal problema no dia a dia.

49
Graduanda do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus
(ines.inesmagalhaes@gmail.com)
50
Graduanda do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus
(mikaeli.nakor@gmail.com)
51
Psicóloga, mestre em Educação em Ciências na Amazônia pela Universidade do Estado do
Amazonas (UEA) e coordenadora do Curso de Psicologia na Ulbra-Manaus
(coordpsico@ulbra.br)
52
Mestre em História Pública pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e graduanda
do curso de Psicologia da Centro Universitário Luterano de Manaus
(rafaelachristi@gmail.com)
338
Palavras-chave: Intervenção psicossocial; Psicoeducação; Saúde mental.

Abstract

Due to the intense concerns surrounding the Covid-19 pandemic, numerous


universities had to interrupt face-to-face activities, a situation that directly
contributed to the emergence of negative psychological effects among university
students, such as anxiety, which is a complex disorder and which can manifest
itself in different ways. Therefore, the present project aimed to understand how
anxiety has influenced the mental health of university students in the first year of
the History course at the Federal University of Amazonas - UFAM, after the return
to face-to-face classes in May 2022. presented and analyzed data collected
during seven meetings with university students from interventions with this group
that took place in the classroom, with a maximum duration of 1 hour, in addition
to an interview with the course coordinator. The results showed that the
techniques and psychoeducation applied during the meetings helped the
participants to identify the first signs of anxiety, as well as the triggering situations
and, finally, how to deal with this problem on a daily basis.

Keywords: Psychosocial intervention; Psychoeducation; Mental health.

Introdução

A pandemia da Covid-19 trouxe um cenário alarmante para a vida da


população mundial, associada ao índice alto de mortalidade, decorrente a total
ausência de informações sobre o vírus. Tal cenário vivenciado no período
pandêmico foi de medo da morte e afastamento social devido orientações da
ANS de combate a propagação do vírus isolamento em suas próprias casas.
Durante o período de pandemia as universidades tiveram que seguir as normas
para evitar o contágio dos alunos. Por via disso, os alunos universitários foram
forçados a aderir ao novo cenário de atividades, tanto na vida cotidiana quanto
no acompanhamento escolar, através de plataformas na internet.

Por conta das intensas preocupações em torno da Covid-19, inúmeras


universidades resolveram interromper as aulas presenciais e evacuar os alunos,
o que contribui, ainda mais, para o surgimento de negativos efeitos psicológicos
entre os estudantes. Há ainda uma questão que envolve a incerteza sobre o
efeito da pandemia: a maior preocupação dos estudantes em relação à própria
formação e à possibilidade de eles encontrarem um emprego. As interrupções
dos projetos de pesquisa e estágios comprometeram o cronograma de estudos,
atrasaram a graduação e prejudicaram a competitividade no mercado de

339
trabalho, o que, por sua vez, alimentou a ansiedade entre os estudantes
universitários.

Sobre a ansiedade, a conhecemos enquanto uma psicopatologia que se


manifesta, normalmente, como uma resposta às situações que ameaçam o
indivíduo, o preparando para possíveis ameaças que possa encontrar. Tal
problema passa a ser patológico ao gerar sofrimento no sujeito e, assim, o
desestabilizar e prejudicar a sua rotina. A ansiedade é um transtorno complexo
e que pode se manifestar de diversas formas.

Então, a partir desse contexto, tem-se como problema de pesquisa, como


a ansiedade tem influenciado a saúde mental de universitários após o retorno
presencial das aulas? A hipótese é que tais sintomas apresentaram-se como
resultado do período de isolamento, como também, das limitações dos
universitários diante das demandas e do ambiente acadêmico presencial. Dessa
forma, delimitamos enquanto tema de pesquisa para o presente projeto de
Intervenção Psicossocial os estudos sobre saúde mental pós pandemia covid-19
e retorno presencial das aulas a partir de intervenções de terapia cognitivo
comportamental em universitários com sintomas de ansiedade.

O objetivo foi compreender como a ansiedade tem influenciado a saúde


mental de universitários do primeiro ano do curso de História da Universidade
Federal do Amazonas – UFAM, após o retorno presencial das aulas em maio de
2022. Para isso, identificamos as causas da ansiedade nos universitários em
questão; descrevemos os impactos causados na rotina desses universitários no
ambiente presencial acadêmico; intervimos com técnicas psicossociais como
estratégia de manejo dos sintomas da ansiedade; e por fim, avaliamos os
resultados e o feedback das intervenções.

A relevância social deste projeto de intervenção é informar e levantar


discussões sobre os casos de ansiedade evidenciados nos estudantes de
graduação com o retorno às atividades presenciais após as vivências
experienciadas na pandemia Covid-19 tanto para os estudantes e familiares
como para as instituições, educadores e demais atores envolvidos diante desta
demanda. A possibilidade de contribuir como subsídio para a elaboração de
debates nos meios de comunicação para que tais fenômenos sejam atenuados
nestes grupos de participantes das intervenções e seja capaz de impactar
positivamente a qualidade de vida gerando mudança social. Diante de tal
contexto, observa-se que a ansiedade é um transtorno mental que afeta os
acadêmicos em readaptação das rotinas educacionais após o período
pandêmico e desta forma, emerge como um novo problema a ser investigado.

340
A dimensão científica deste trabalho é resultado dos conhecimentos e
dados obtidos através da pesquisa teórica e do emprego das atividades em
conjunto com o público-alvo. Ao observar as necessidades de pesquisas do
cenário pós Covid-19, no ambiente educacional e os atores envolvidos,
apreendem-se as lacunas de estudos diante do impacto causado pela retomada
das rotinas escolares, bem como, a compreensão do adoecimento psicossocial,
como os sintomas de ansiedade e a exigência de adaptação e ajustamento ao
cotidiano escolar. Portanto, verificou-se a viabilidade de elaborar um projeto de
pesquisa com ênfase nos estudos dos quadros ansiosos perante as exigências
acadêmicas na perspectiva pós Covid-19 para disseminar o conhecimento sobre
a aplicabilidade de intervenções psicossociais com os alunos calouros de uma
universidade em seu primeiro contato com o cotidiano do ensino superior visando
o bem-estar e o bom desempenho acadêmico e profissional.

Por fim, compreende-se a necessidade em evidenciar a importância da


atuação do profissional em Psicologia em ambientes escolares e acadêmicos
afim de atender as demandas do público em especifico, com o objetivo de
prevenir questões psicossomáticas, além de ser um público suscetível ao
fenômeno da ansiedade devido ao sentimento de estar sobrecarregado e
exaurido de recursos físicos e emocionais, levando ao esgotamento de energia
para investir nas situações que se apresentam no contexto em questão.

A instituição a qual se destinou esse projeto é a Universidade Federal do


Amazonas – UFAM. Foram apresentados e analisados dados coletados durante
sete encontros com os universitários do primeiro ano do curso de História. As
intervenções com tal grupo ocorreram em sala de aula, com duração máxima de
1 hora, sendo o primeiro uma entrevista com o coordenador do curso.

Referencial Teórico

SAÚDE MENTAL PÓS PANDEMIA COVID-19 NO AMBIENTE


UNIVERSITÁRIO

A COVID-19 trouxe um cenário alarmante para a vida da população


mundial associada ao índice alto de mortalidade decorrente a total ausência de
informações sobre o vírus que consecutivamente desencadeou na falta de
medicamentos voltados para a “cura” do mesmo que se propagava de maneira
absurda em alta proporção e sendo e tal o cenário vivenciado um período
pandêmico foi de medo da morte e afastamento social devido orientações da
ANS de combate a propagação do vírus isolamento em suas próprias casas.

341
Manaus, capital do Amazonas, já havia sido palco de elevadas taxas de
incidência e mortalidade pela Covid-19 em maio de 2020, o que causou,
inclusive, colapso do sistema funerário durante a primeira onda da pandemia,
trazendo sofrimento à sua população. Nas últimas semanas de dezembro de
2020 e primeiras semanas de janeiro de 2021, nova onda de casos deixou a
cidade em choque, trazendo o colapso do sistema municipal de saúde por falta
de leitos de enfermaria, leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e oxigênio.
Enquanto isto, outras capitais do País conseguiram manter o controle, ao menos
até o início de 2021, da demanda aos serviços de saúde (BARRETO et al, p.
1127).

Durante o período de pandemia as universidades tiveram que seguir as


normas para evitar o contágio dos alunos por via disso os alunos universitários
foram forçados a aderir ao novo cenário de atividades tanto na vida cotidiana
quanto no acompanhamento escolar através de plataformas na internet com
vídeo aulas online muitos estudantes deram continuidade ao seu curso utilizando
desse meio de comunicação a distância e uma boa parcela teve sua formatura
via online. Por conta das intensas preocupações em torno da Covid-19, inúmeras
universidades resolveram interromper as aulas presenciais e evacuar os alunos,
o que contribui, ainda mais, para o surgimento de negativos efeitos psicológicos
entre os estudantes (RODRIGUES et. al., p.3).

Como se o cenário já não estivesse caótico, correlacionado este veio


seguido de um certo receio vinculado a não se conseguir terminar a graduação
ou do atraso na continuidade da mesma devido ao longo tempo de extensão da
pandemia e a partir dela houve também a falta de disponibilidade de locais de
estágio e de campo práticos de outras matérias importantes na matriz curricular
de cada curso acadêmico durante o período quarentena influenciando assim no
término desse ciclo escolar.

Há ainda uma questão que envolve a incerteza sobre o efeito da pandemia:


a maior preocupação dos estudantes em relação à própria formação e à
possibilidade de eles encontrarem um emprego ou matricularem-se em futuros
programas de estudos como a residência. As interrupções dos projetos de
pesquisa e estágios comprometem o cronograma de estudos, atrasam a
graduação e prejudicam a competitividade no mercado de trabalho, o que, por
sua vez, alimenta a ansiedade entre os estudantes universitários (RODRIGUES
et. al., p.3).

Com o passar do tempo houve a liberação de retorno às aulas os


estudantes universitários retornaram às suas atividades presenciais, no entanto
com alguns cuidados foram solicitados como enfrentamento ao combate à
342
disseminação do COVID-19. Como uso de máscaras e álcool em gel e
distanciamento social de um metro entre filas de espera e elevadores. Todas
essas mudanças tiveram impacto considerável no comportamento não só dos
estudantes, mas também por parte da população como um todo, pois esse
retorno veio juntamente com medo de contrair a doença, deixando instalado um
quadro de insegurança.

A pandemia gerou muitos estressores decorrente também da transmissão


das informações distorcidas e sem base científica e o excesso de informações e
de tempo dedicado às notícias sobre a pandemia. Levando em consideração a
difícil experiência de quarentena e seus diversos fatores como: privação da
liberdade, medo de ser “a próxima vítima intubada”, problemas financeiros
devido à falta de emprego afetando também assim a fonte de renda que
posteriormente daria subsídios para continuar a custeando o cotidiano
universitário, temos como grande impacto que chama a atenção para a
importância de ofertar serviços de atenção à saúde mental.

Tendo em vista que os estudantes fazem parte de um conglomerado quem


tem uma determinada vulnerabilidade no campo da saúde mental devido os
intensos obstáculos da vida adulta como a associação de trabalho como fonte
de sustento da alimentício e muitas vezes integrado a recurso essencial de
mantimento do item universidade, estágio como prática primordial que demanda
tempo e investimento, porém gera alto ganho em conhecimento prático e vida
social com seus familiares e entes da suas redes sociais.

Essa gama de fatores subentendem o porquê tais modificações que


ocorreram na vida das pessoas relacionadas à pandemia de COVID-19 são
essenciais para organizar ações para a redução do seu impacto nas condições
emocionais e mentais da população da pertencente a nosso local de estudo que
após a diminuição dos casos de COVID-19 as aulas na UFAM tiveram presencial
aprovado para 10 de janeiro de 2022. De acordo com Calendário Acadêmico,
aprovado pelo Conselho de Ensino e Pesquisa (CONSEPE), a UFAM retornou
às aulas 100% presenciais em janeiro de 2022, obedecendo a todas as normas
de biossegurança.

RETORNO PRESENCIAL DAS AULAS E SINTOMAS DE ANSIEDADE EM


UNIVERSITÁRIOS

Segundo Ramos (2015), a ansiedade é um “sentimento de medo,


apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de
perigo, de algo desconhecido ou estranho e pode ser tão intensa e desagradável
que impede o funcionamento adequado do indivíduo”. A ansiedade se manifesta

343
de forma normal, quando ela aparece como uma resposta às situações que
ameaçam o indivíduo o preparando para evitar as ameaças que ele possa
encontrar, ou patológica, quando ela passa a gerar um sofrimento ao sujeito
capaz de desestabiliza-lo (KAPLAN; SADOCK; GREBB, 1997).

A ansiedade é um transtorno complexo e que pode se manifestar de


diversas formas. Segundo Andrade e Gorestein (2000), esses sintomas
abrangem sentimento de insegurança, hiperventilação, tensão muscular, dor,
tremores. Porém, os principais sintomas são ligados à área cognitiva do
indivíduo, como tensão emocional, inquietação, preocupação, apreensão ou
medo, dificuldade de concentração, irritabilidade e sensação de perda de
controle.

Conforme Pureza et al (2012), nos últimos anos, o público escolar e


universitário passou a ser mais valorizado e isso fez com que crescesse o
interesse das instituições em melhorar o ambiente no qual tal público está
inserido. Preocupação essa, que é consequência do crescimento significativo de
transtornos mentais e do comportamento que foram relacionados ao ambiente
em questão, que pode sobrecarregar o indivíduo e, assim, afetar sua saúde
mental. Deve-se compreender que o universitário não é um objeto de uso da
instituição, mas um sujeito e que demanda atenção quanto a sua saúde física e
mental. Por isso, fica claro que a ansiedade influência de forma direta o
desenvolvimento do indivíduo gerando resultados negativos com consequências
graves para a saúde e o bem-estar em sala de aula (PADOVANI et al, 2014).

Desde a iniciação da vida acadêmica, o universitário vivencia mudanças


biológicas, psicológicas e sociais e se depara com aspectos estressores durante
todo esse percurso. O sofrimento psíquico atinge grande parte dessa população,
e pode ser caracterizado por um acentuado e duradouro desconforto emocional,
angústia, tristeza, falta de expressão afetiva, esgotamento emocional,
isolamento social, dentre outros sintomas (TEIXEIRA et al, 2008). Os motivos do
sofrimento psíquico inicialmente se apresentam nas dificuldades de adaptação
dos universitários no início do curso, e até mesmo referente sobre as
expectativas quanto ao término da graduação, de como será sua vida após esse
processo acadêmico. Essa expectativa de futuro, da proximidade com o
sofrimento e até mesmo de percepção da profissão em relação a possíveis
mortes de pacientes, são alguns dos estressores mais significativos. Tais
questões podem ser associadas a uma percepção negativa do ambiente
acadêmico, podendo causar queda na qualidade de vida (SOUZA, 2015).

344
INTERVENÇÕES EM TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL EM
UNIVERSITÁRIOS COM SINTOMAS DE ANSIEDADE

Uma intervenção psicossocial pode ser definida tanto como um método de


pesquisa quanto uma prática que objetiva gerar uma alteração no status quo do
grupo participante desta atividade, neste sentido, “provocar algum tipo de
mudança no sentido de desenvolvimento é o motivo fundamental da intervenção
psicossocial” (NEIVA, 2010, p. 17).

Produzir ações que estejam de acordo com as demandas atuais da


sociedade, neste caso, na comunidade acadêmica de calouros, onde os
sintomas de ansiedade são frequentes requer que as aplicações terapêuticas
psicológicas apropriadas objetivem a geração de bem estar e qualidade de vida.

Dentre as diversas abordagens, a terapia cognitivo-comportamental é


aquela que oferece maior oferta de evidências nas intervenções para os
problemas de saúde mental dos pacientes. Como Dobson & Dobson (2011)
afirmam, a proporção que a terapia cognitivo-comportamental se torna mais
vastamente praticada, torna-se essencial que adaptações baseadas em
pesquisas do modelo incorporem a abordagem nas diversas culturas e em
nossas próprias comunidades.

O modelo cognitivo criado por Aaron Beck surgiu da hipótese de que as


emoções, comportamentos e a fisiologia de um indivíduo são influenciados pelas
percepções que ele possui sobre os eventos (BECK, 2013). Deste modo, a forma
como o sujeito percebe um evento influencia em seus pensamentos que podem
ser automáticos e que conferem um valor ao acontecimento. Assim temos uma
situação ou evento que gera pensamentos automáticos e que estes ocasionam
uma reação emocional, comportamental e fisiológica.

A psicoeducação é a primeira parte das intervenções, responsável por


informar sobre o funcionamento cognitivo, sua condição de saúde física e
psicológica e a forma de condução do tratamento. Como Carvalho; Malagris;
Rangé (2019, pág. 15) explicitam, “a psicoeducação pode ser definida
justamente como o ensino de princípios e conceitos psicológicos relevantes para
o cliente”, desta forma, um meio de que a paciente se se familiarize com o
método e adquira confiança no processo psicoterápico.

O relaxamento muscular progressivo é utilizado para liberar as tensões


causadas nos músculos por conta dos sintomas provocados pela ansiedade,
onde um dos efeitos da liberação adrenalina é preparar o corpo para enfrentar o
perigo e por isso, a tensão muscular é inevitável entre outras alterações

345
fisiológicas causadas pelo medo, como: aumento do ritmo cardíaco, pressão
elevada, tremores, rigidez e respiração curta. Portanto, “a presença constante
do medo na mente envia ao corpo a mensagem de que ele precisa estar sempre
no limite, em alerta para o perigo e isso se torna parte de uma espiral negativa
elevada” (LEAHY, 2011, p. 187).

Além disso, a respiração diafragmática também produz relaxamento e tem


a sua origem nas muitas formas de meditação oriental, especialmente da
budista, proporcionando mudança positiva cerebral, cardiovascular e emocional.
De acordo com Neto (2011) tem como objetivo aprofundar e diminuir o ciclo
respiratório, que pode estar sofrendo influências do neurohormônios do estresse
e da ansiedade. Esta respiração permite a concentração e foco do controle
respiratório e induz ao relaxamento e permitindo a regulação da atenção.

A utilização de um aplicativo de celular para o registro de humor,


pensamento, sentimento e comportamento diários aproxima o jovem das
atividades propostas pela facilidade que estes possuem com o meio digital e
também a concepção da tecnologia como parte da realidade na qual estão
imersos. Sendo as terapias de segunda e terceira geração baseadas em
evidências científicas, é natural que se apropriem das possibilidades que a
tecnologia oferece, principalmente no âmbito psicoterapêutico. A autora
supracitada enfatiza que “os registros do gráfico de humor e o histórico podem
revelar padrões de comportamento que o adolescente e seu terapeuta podem
identificar e trabalhar” (NEUFELD, 2017, p. 172).

A utilização de role plays que se origina no psicodrama, é utilizada para a


tomada de decisão, por meio da qual os pacientes possuem a oportunidade de
interpretar seus pensamentos e comportamentos e aprendem a desenvolver e
escolher outros que sejam assertivos e adequados à situação-problema. A
possibilidade de encenação das diferentes situações utilizadas para ilustrar os
conceitos do modelo cognitivo ou adivinhar e comparar comportamentos é quase
sempre empregada com grupos de adolescentes e adultos jovens (DEL PRETTE
& DEL PRETTE, 2001). De acordo com Friedberg & McClure (2019) “o
autocontrole ajuda os pacientes a construírem pensamentos de enfrentamento
que desafiam crenças associadas a seus sentimentos de ansiedade”. Portanto,
as técnicas de autocontrole oportunizam a reposta ao medo, e a aplicação de
diálogos internos mais adaptativos, diminuição de pensamentos catastróficos ao
hipotetizar sobre o que pode ou não acontecer perante uma determinada
situação e a verificação das preocupações diante dos alarmes falsos ou
verdadeiros. Separar o que é fato, e a procura das evidências para o sustento
das crenças.

346
A realimentação fornece informações sobre os efeitos das intervenções
aplicadas bem como oferece subsídios para a avaliação da finalidade do projeto.
As trocas realizadas desde as primeiras visitas de elaboração até as práticas
realizadas geram a autonomia no grupo, para que sejam seus gerenciadores
emocionais e não o de apenas receptores de informações por parte das
idealizadoras. Também disponibiliza a análise de pontos que necessitam ser
melhorados ou mesmo modificados do trabalho como um todo.

Metodologia

DESCRIÇÃO DA PESQUISA: A realização do referencial teórico do


presente projeto se debruçou sob pesquisas bibliográficas, assim como, a
análise dos dados do mesmo foi descritiva qualitativa. A partir de um
levantamento bibliográfico é possível reunir um conjunto de autores e estudos
científicos a fim de fundamentar teoricamente e organizar discussões sobre o
tema proposto em uma pesquisa (GALVÃO, 2010). Ou seja, por meio desse
método, foi possível organizar e levantar as informações necessárias para
ampliar as discussões pertinentes ao tema proposto e, assim, realizar uma
fundamentação e desenvolvimento teórico sólido no campo de estudo em
questão. Em relação as fontes, serão apresentados e analisados dados
coletados durante os encontros propostos. Com uma análise descritiva
qualitativa dos dados, foi possível descrever as principais informações quanto
aos materiais recolhidos em campo com base em na análise dos conteúdos
(MORAES, 1999).

PÚBLICO ALVO: O público alvo que colaborou para a realização da


pesquisa e coleta de dados se refere a universitários do primeiro ano do curso
de História da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. A população foi de
34 alunos matriculados e a amostragem foi de 16 participantes ativos.

DURAÇÃO: Foram 7 encontros em sala de aula com duração aproximada


de 50 a 60 minutos cada.

INSTRUMENTOS E RECURSOS UTILIZADOS: Entrevista, Roda de


conversa, Inventário de ansiedade, Jogo (role-play), Técnica de relaxamento
muscular, Técnica da respiração diafragmática, Aplicativo de celular Cogni,
Técnica de autocontrole e Reestruturação cognitiva.

347
348
Análise e discussão dos dados

Primeiro encontro: No primeiro encontro foi realizado a entrevista e


apresentação do projeto de intervenção psicossocial ao coordenador do curso e
solicitado a sua autorização para a realização das atividades propostas com uma
turma de alunos do primeiro período (matutino) em sala de aula. Nessa
entrevista, coletamos dados importantes a respeito do público acadêmico de
História que serão submetidos as intervenções, como: breve histórico do curso,
nota Enade, total de alunos matriculados, total de alunos do primeiro período,
quantitativo de gênero e faixa etária e, assim, podermos elaborar as intervenções
adequadas ao grupo em especifico.

A Universidade Federal do Amazonas, em agosto de 1980, criou o curso


de Licenciatura Plena em História, vinculado administrativamente ao
Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Ciências Humanas e Letras
(ICHL). Autorizado a funcionar a partir do primeiro semestre letivo de 1981, turno
matutino, oferecendo 30 vagas/ano. A justificativa para a criação do referido
curso foi a necessidade de formação de professores legalmente habilitados ao
ensino de História, suprindo dessa forma, a carência existente na rede de ensino
de 1.º e 2.º Graus. Tal carência era até então, suprida por professores portadores
de outras formações, tais como: Estudos Sociais, Filosofia, Direito entre outras.
Ao final do ano de 1985, o curso de História desvinculou-se do Departamento de
Ciências Sociais, sendo incorporado ao recém-criado Departamento de História,
integrado ao Instituto de Ciências Humanas e Letras. O novo Departamento foi
criado com o objetivo de implementar o suporte necessário para a melhoria do
ensino, da pesquisa histórica, da extensão e para a formação de um corpo
docente capacitado em seus diferentes níveis.

O curso de graduação em História da Ufam possui nota Enade 4. O total


de alunos matriculados é de 718, sendo 34 matriculados no primeiro período do
matutino. É tido como um curso homogêneo em relação ao quantitativo de cada
gênero com a média etária geral de 19 a 20 anos.

349
Segundo encontro: Roda de conversa com a finalidade de conhecer as
opiniões do grupo e realizar uma psicoeducação sobre ansiedade. A sala de aula
foi organizada com a ajuda dos acadêmicos em forma de círculo para que
ocorresse uma conversa sobre os acontecimentos sociais e de saúde durante a
pandemia COVID-19. Então, as acadêmicas iniciaram a temática e solicitaram
que os integrantes falassem sobre esse momento vivido. O desconhecimento da
gravidade da doença no início, a necessidade do distanciamento físico, a
superlotação nos centros de saúde, a falta de oxigênio, o medo da morte e luto,
o impacto na renda familiar e os sintomas de ansiedade fizeram-se presentes
nas falas dos membros e assim foi realizada uma psicoeducação sobre os
sintomas de ansiedade. Após este contato com os participantes foi apresentado
o Inventário da Ansiedade para preenchimento objetivado uma avaliação dos
sintomas percebidos e uma linha de base para direcionar as intervenções
psicossociais. As acadêmicas instruíram sobre a utilização e leram cada item
para que os alunos respondessem. Ao término, foram entregues as fichas.

Terceiro encontro: Neste dia, foi proposta uma atividade dinâmica, o


roleplaying que teve como objetivo motivar os integrantes a observarem como
se comportam com os sintomas de ansiedade. Os alunos ficaram empolgados
com a possibilidade de atuarem. A simulação solicitada foi uma pessoa com
sintomas de ansiedade após saber que haveria uma prova surpresa na
universidade, outra com sintomas de ansiedade com a aproximação da data de
uma avaliação, um amigo que oferece apoio para a realização da prova (fornecer
as respostas durante a prova) e outro que ajuda a acalmá-lo através dos
exercícios para o relaxamento muscular e respiração diafragmática.
Conseguiram expressar os sintomas de acordo com a ajuda dos demais colegas
do grupo e conseguiram perceber o quanto as emoções e comportamentos eram
exagerados diante da realização de um exame inerente à rotina acadêmica. Os
demais integrantes que observaram a encenação puderam compartilhar as suas
opiniões e pensar sobre esses comportamentos devido à ansiedade pré-prova.

Após alguns minutos de intervalo foi realizada uma roda de conversa e


apresentado através de uma linguagem acessível, o modelo cognitivo: os
pensamentos, emoções, respostas fisiológicas e comportamentos disfuncionais
diante das demandas do cenário educacional.

Quarto encontro: Neste encontro foi apresentado como atividade


terapêutica o relaxamento muscular progressivo, na qual os alunos sentados
confortavelmente aprenderam a contrair e soltar os grupos musculares principais
para liberarem a tensão na seguinte ordem: pés, panturrilhas, coxas, abdômen,
glúteos, mãos, antebraços, bíceps, ombros, tórax, costa, pescoço, boca e rosto.
Segundo eles, foi produzida a sensação de relaxamento corporal.
350
Em seguida, foi realizada a instrução sobre a respiração diafragmática
(abdominal). Os membros colocaram uma mão no tórax e a outra no abdome.
Inspiraram pelo nariz e tentaram enviar o ar para a barriga percebendo através
da mão a sua expansão. Expiraram pela boca lentamente sentindo o abdômen
voltar a posição inicial e uma pequena entre cada ciclo. Repetiram várias vezes
por cinco minutos. No início acharam difícil sentir o ar no abdômen, mas com as
repetições conseguiram praticar. Sentiram-se relaxados.

Ambas as atividades tiveram como foco a familiarização com as sensações


corporais. Foi comunicado sobre o uso da tecnologia como uma ferramenta a
serviço da psicologia e demonstrado o aplicativo de celular chamado COGNI, o
seu funcionamento e a sua importância para a realização das intervenções. O
propósito desta intervenção é utilizar uma ferramenta na qual este público possui
facilidade em acessar e registrar os seus pensamentos, emoções e
comportamentos diários para ser monitorado o humor entre um encontro e outro.
Os acadêmicos gostaram bastante da possibilidade de usarem os seus celulares
para descrever os seus sentimentos.

Quinto encontro: foi implementada a técnica de Reestruturação cognitiva


onde levamos os próprios acadêmicos a pensar nas emoções no processo
desencadeante da ansiedade através dos dados coletados via aplicativo COGNI
apresentado no encontro anterior. Com todos com aplicativos abertos com
gráficos da semana deu-se início à uma discussão sobre as emoções que eles
selecionaram como desencadeantes desse processo foram listadas no quadro
as emoções de medo, insegurança, tristeza e desespero.

Com base nisso utilizamos do quadro branco com uma tabela inserido por
nós acadêmicas de 3 colunas com o tema “Se pior acontecer” na primeira coluna
constava situação, segunda como me sente, terceira o que passou pela minha
cabeça, quarta o que de pior pode acontecer?. Os mesmos foram convidados a
citar uma situação que lhe causa alguma dessas emoções, a escolhida como
mais intensa foi o medo.

Porém quando chegou o momento de falar para lista no quadro sobre a


situação, como me senti, o que se passou pela minha cabeça, o que de pior
poderia acontecer? somente três alunos aderiram à resposta e os outros
somente acompanharam tudo.

Os três alunos nomearam como situação atual: a semana de avaliação da


faculdade.

351
O que passou pela minha cabeça: Eu não conseguirei passar em algumas
das avaliações.

Como me senti: inseguro e com medo.

O que de pior poderia acontecer? reprovar e ter que esperar novamente o


período de abertura da disciplina.

Eles debateram entre si e logo foram novamente convidados a expor as


respostas que haviam pensado e saiu as seguintes:

Aluno 1: Se eu estudarmos em grupo teremos apoio um dos outros e


teremos menos chances de reprovar.

Aluno 2: Olhando como um todo estudamos e nos preparamos, então não


vai ser tão ruim o quanto pensamos.

Aluno 3: Pensava que somente eu me sentia assim, acabei vendo que ter
esse medo não é tão incomum.

No final o foco da atividade foi alcançado o grupo conseguiu desenvolver


pensamentos de enfrentamento relacionado a situação de medo e insegurança
como consequência trazendo a tona bem estar aos envolvidos na atividade.

Sexto encontro: Os acadêmicos foram convidados a uma roda de


conversa guiada pelo tema automonitoramento como competência, o que
permite enfrentar as adversidades e desafios da ansiedade. Nesse primeiro
momento abrimos a roda de conversa com a questão: o que eles entendem
sobre automonitoramento?

Um breve silêncio pairou até que o primeiro se manifestou respondendo


que se seguir o raciocínio da palavra seria “a própria pessoa se policiar” e por
via disso umas de nós complementamos realmente sim é esse sentido ao
decorrer dos encontros nós desenvolvemos com vocês algumas técnicas que
podem ser utilizadas por vocês como automonitoramento que servem de auxílio
para enfrentamento das situações emoções e pensamentos gerados por
algumas situações negativas vivenciadas.

Durante a roda de conversa foram ressaltados também os recursos de


ajuda como os processos de acupuntura, massoterapia, yoga, Shiatsu,
Meditação e exercícios físicos como corrida dança e natação como forma
benéfica de auxílio, pois os exercícios físicos frequentes que servem de estímulo

352
para o organismo produzir endorfina hormônio encarregado pela sensação de
bem-estar.

Sétimo encontro: Recebemos os mesmos com a seguinte frase no quadro


“Posso ser autossuficiente com meus pensamentos e emoções a partir hoje?”
Introduzimos a resposta “sim”, pois como citamos ao decorrer dos encontros que
algumas técnicas que utilizamos podem ser adaptadas para uso no dia a dia.

Perguntamos se numa escala de eu gostei a uma eu não faria de novo


como eles absorveram os nossos encontros e cada um pouco a pouco foi
discorrendo que gostaram do momento mesmo os que não aderiram a atividade
se identificaram com o teor da mesma. Portanto, reforçamos a continuidade do
registrar os seus pensamentos, emoções e comportamentos diários e o humor
no aplicativo que o mesmo poderia se utilizar do mesmo como base para uma
melhor visão dos seus pensamentos para poder trabalhar com eles da mesma
forma que ocorreu.

Por fim começamos a falar a evolução do grupo podemos pontuar também


sobre a linha de seguimento que o grupo desenvolveu ao decorrer do
acompanhamento da intervenção, pois na realidade o grupo esteve uma linha de
pensamento Tênue de querer vencer a ansiedade, Porém como foi mostrado ao
longo dos encontros ansiedade ela não é vencida nós aprendemos a lidar com
os sintomas de ansiedade. Por que muitos momentos mesmo pós pandemia
ficaremos ansiosos quer seja por um trabalho, prova ou apresentação e quando
aprendemos a lidar com os sintomas sejam eles pensamentos ou emoções nós
nomeamos o real motivo da nossa ansiedade, sendo assim nós mesmos
encontramos as saídas ou seja pensamos sentimos e agimos.

Com 40 minutos restantes nos dirigimos a coordenação para informar a


devolutiva do projeto para o coordenador que autorizou a atividade a mesmo nos
recebeu e ouviu atentamente o que tínhamos a falar, relatamos que o presente
projeto interventivo fluiu de forma prazerosa para os universitários os mesmo
conseguiram felizmente adquirir mais resiliência e recursos internos de
enfrentamento dos sintomas da ansiedade que por meio de cada encontro era
notória pequenas evoluções que no final levaram a adoção de melhores pontos
de vista sobre o enfrentamento da ansiedade no cenário pós pandemia. E que
devido a isso conseguimos chegar à etapa final dos encontros e nos despedimos
do grupo. À mesma agradecemos a oportunidade e o ambiente que nos foi
cedido para fins interventivos.

Considerações Finais

353
Por meio dos estudos para a construção do projeto de intervenção em
questão, percebemos que, devido as intensas preocupações em torno da
pandemia da Covid-19, inúmeras universidades precisaram interromper as
atividades presenciais, situação que contribuiu diretamente para o surgimento
de efeitos psicológicos negativos entre universitários, como por exemplo, a
ansiedade, a qual é um transtorno complexo e que pode se manifestar de
diversas formas.

Nesse contexto, o projeto conseguiu compreender como a ansiedade tem


influenciado a saúde mental de universitários do primeiro ano do curso de
História da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, após o retorno
presencial das aulas em maio de 2022, a partir dos dados coletados durante os
sete encontros com o grupo.

A aplicabilidade do role-playing como uma técnica capaz de proporcionar a


simulação dos sintomas de ansiedade e gerar uma familiarização com a
identificação desses sintomas estimulou o diálogo e a expressão das
dificuldades relacionadas ao cumprimento das demandas acadêmicas. O fato de
os alunos já possuírem um vínculo entre si facilitou à exposição deles durante
esta intervenção. Além disso, a familiarização com o modelo cognitivo dos
participantes e a identificação das queixas em comum auxiliou no sentimento de
empatia entre eles, pois todos estavam sofrendo com as mesmas situações
enquanto estudantes.

Com o aprendizado das técnicas de relaxamento, o empirismo colaborativo


foi fundamental para aderência a esta intervenção que objetivou regular o
sistema nervoso diante dos medos gerados pela ansiedade. Também, como um
estímulo para os participantes prosseguirem com estas técnicas em diversas
ocasiões de suas rotinas e testarem as suas eficácias.

O aplicativo para monitoramento do humor diário (Cogni) foi de rápida


adesão por ser de fácil acesso, já que as tecnologias são recursos que fazem
parte do estilo de vida desses jovens. E estes passam bastante tempo do seu
dia utilizando smartphones. Explicar qual o objetivo da atividade e a importância
em realizá-la promoveu a aceitação do público, pois, é necessário que exista um
sentido para realizar as tarefas. Eles mesmos puderam identificar e monitorar os
pensamentos disfuncionais e assim ambientarem-se com o modelo cognitivo e
as possibilidades de mudança.

Os planos de ação decorrentes das intervenções cognitivo-


comportamentais realizados nos encontros tiveram como consequência a
melhora no bem estar dos envolvidos nas atividades e a adoção de medidas de

354
enfrentamento frente à carga emocional relacionada à ansiedade produzida
durante as alterações expressivas no cotidiano dos estudantes do curso de
História da UFAM.

Os resultados demonstraram que as técnicas e a psicoeducação aplicadas


durante os encontros auxiliaram os participantes a identificarem os primeiros
sinais da ansiedade, como também as situações desencadeantes e, por fim, a
como lidar com tal problema no dia a dia.

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356
ANEXOS

Anexo 1 – Inventário de Ansiedade

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360
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