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Ficha Catalográfica

Catalogação elaborada na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável:

Rosiane Maria CRB 14/1588

U588p Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Curso de

Atenção Integral à Saúde do Homem – Modalidade a Distância.

Homens e atenção à saúde no trabalho [recurso eletrônico] / Universidade Federal

de Santa Catarina. Fabrício Augusto Menegon [et al.] (Organizadores). — Florianópolis :

Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.

68 p.

Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br


Conteúdo do módulo: Saúde do trabalhador. Doenças e acidentes relacionados ao

trabalho. Ações de saúde do trabalhador na atenção básica..


ISBN: 978-85-8267-088-0
1. Saúde do homem. 2. Prevenção de doenças. 3. Doenças do trabalho. I. UFSC.

II. Menegon, Fabrício Augusto. III. Menegon, Lizandra da Silva. IV. Pires, Rodrigo Otávio

Moretti. V. Kovaleski, Douglas Francisco. VI. Título.

CDU: 613.9
Créditos

GOVERNO FEDERAL
Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção à Saúde (SAS)
Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas
Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


Reitor
Ubaldo Cesar Balthazar

Vice-Reitora
Alacoque Lorenzini Erdmann

Pró-Reitor de Pós-graduação
Cristiane Derani

Pró-Reitor de Pesquisa
Sebastião Roberto Soares

Pró-Reitor de Extensão
Rogério Cid Basto

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


Diretor
Celso Spada
Vice-Diretor
Fabrício de Souza Neves
Créditos

DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA ASSESSORIA PEDAGÓGICA


Chefe do Departamento Márcia Regina Luz
Fabrício Augusto Menegon Equipe Executiva
Gisélida Vieira
Subchefe do Departamento
Eurizon de Oliveira Neto
Lúcio José Botelho

EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO


Coordenação Nacional de Saúde da Mulher Pedro Paulo Delpino
Mônica Neri
Daniela Piconez e Trigueiros ESQUEMÁTICOS
Naiane Cristina Salvi
Coordenação Geral de Saúde do Adolescente e Jovens
Laura Martins Rodrigues
Débora Massarente Pereira

GESTORA GERAL DO PROJETO DIAGRAMAÇÃO E FINALIZAÇÃO


Elza Berger Salema Coelho Adriano Schmidt Reibnitz

AUTORIA DO MATERIAL
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA E ABNT
Carmem Regina Delziovo
Eduard Marquardt
Stella R. Taquette
Mércia Gomes Oliveira de Carvalho
Elza Berger Salema Coelho DESENVOLVEDOR WEB
Caroline Schweitzer de Oliveira Dalvan Antônio de Campos
Deise Warmling Naiane Cristina Salvi
Carolina Carvalho Bolsoni Thiago Ângelo Gelaim
Rodrigo Rodrigues Pires de Mello
REVISÃO DE CONTEÚDO
Sheila Rubia Lindner FONTE PARA IMAGENS E ESQUEMÁTICOS
Carmen Leontina Ojeda Ocampo Moré Unsplash
Scheila Krenkel
Apresentação

Este curso que é fruto de uma parceria entre a Universidade Federal de


Santa Catarina e Ministério da saúde informa sobre o que é violência
doméstica, como e quando ela acontece, e sobretudo, apresenta a rede
de apoio, para que você profissional de saúde possa reconhecer e auxiliar
mulheres em situação de violência.
Consideramos que a violência doméstica é um problema relevante para
a saúde das pessoas e os profissionais da rede de atenção devem estar
instrumentalizados para atuar nestes casos, contribuindo com seu
enfrentamento. Conhecer a rede de apoio, bem como organizar o fluxo de
atenção as pessoas em situações de violência, possibilita ao profissional
de saúde atuar na prevenção de doenças e na promoção da saúde e na
oferta de atendimento adequado com potencial de contribuir para redução
destas situações.
Para compreensão da ocorrência da violência doméstica em seus
diversos contextos, é importante reconhecer algumas especificidades
e vulnerabilidades das mulheres, tais como gênero, raça, etnia, classe,
orientação e identidade sexual.
A aproximação das mulheres em situação de violência com as equipes de
saúde, em seus diversos contextos sociais, constitui um dos principais
contatos delas com os serviços de atendimento, apontando para uma
possibilidade de mudança e enfrentamento da situação de violência
vivenciada.

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Apresentação

A área da saúde é uma das responsáveis pelo atendimento aos envolvidos


em casos de violência, tem a função de elaborar estratégias de prevenção,
promovendo a saúde e prevenindo outros danos e agravos. Por meio da
leitura deste conteúdo procuramos contribuir, para que você profissional,
junto às suas equipes, esteja sensibilizado para esse grave problema de
saúde pública, bem como possam identificar, acolher e oferecer assistência
às mulheres em situação de violência doméstica.

Objetivo: Este guia tem como objetivo possibilitar ao profissional de


saúde realizar o acolhimento visando receber, escutar, analisar e decidir
juntamente com as mulheres em situação de violência doméstica qual a
melhor conduta a ser adotada.

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Sumário

Apresentação.................................................................................................................... 6

UN1 – Contexto da violência doméstica contra as mulheres

1.1 Definição de violência............................................................................................. 11

1.2 Violência doméstica e desigualdades de gênero...................................................... 14

1.3 Prevalência e consequências da violência contra mulheres...................................... 16

UN2 – Especificidades das mulheres em situação de violência

2.1 Violência contra mulheres do campo........................................................................... 19

2.2 Violência contra mulheres negras........................................................................... 20

2.3 Violência contra mulher indígena............................................................................ 21

2.4 Violência contra mulheres lésbicas, bissexuais e trans............................................ 23

UN3 – Atenção à saúde das mulheres em situação de violência

3.1 Acolher implica: “receber-escutar-analisar-decidir”.................................................. 27

3.2 Identificação e acolhimento das mulheres em situação de violência......................... 30

3.3 Atenção às mulheres em situação de violência........................................................ 32

3.4 Atenção aos autores de violência............................................................................ 35

3.5 Estratégias de atenção aos homens autores de violência......................................... 36

UN4 – Rede de atenção às mulheres em situação de violência

4.1 Fluxo de atenção e encaminhamentos..................................................................... 40

4.1.1 Fluxo de atenção e encaminhamentos.......................................................... 41

4.2 Como atuar em rede para atenção a violência.......................................................... 43


Sumário

4.3 Fluxo de atendimento às mulheres em situação de violência.................................... 47

Recomendações de Leituras Complementares................................................................... 49

Considerações Finais......................................................................................................... 53

Referências....................................................................................................................... 54
UN1
Contexto da violência doméstica contra as mulheres
UN1
Contexto da violência doméstica contra as mulheres


Nesta unidade convidamos você a conhecer 1.1 Definição de violência


as definições de violência e suas diferentes
A violência contra a mulher é definida pela
classificações. As informações apresentadas
Organização Mundial da Saúde (OMS) como
trazem aos profissionais da saúde subsídios para
todo ato baseado no gênero, que cause morte,
a compreensão dos diferentes tipos de violência
dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico
e dos atos violentos que os representam,
à mulher, tanto na esfera pública quanto na
sobretudo as desigualdades de gênero e a
privada.
interface com a violência doméstica contra as
Considera-se violência doméstica/intrafamiliar
mulheres. Procuramos, com estes subsídios,
a que ocorre entre os parceiros íntimos, entre
contribuir com a sua reflexão para a qualificação
os membros da família (consaguínea ou não) ou
da atenção às diferentes situações de violência
entre pessoas unidas por laços afetivos, dentro
atendidas no seu cotidiano profissional.
ou fora do recinto doméstico.
Quanto as principais formas e naturezas de
violência contra as mulheres, as mais comuns são:

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UN1
Contexto da violência doméstica contra as mulheres


VIOLÊNCIA FÍSICA VIOLÊNCIA SEXUAL

Empurrões, toques indesejados, pegadas a força nos Relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça,
braços ou outras partes do corpo, beliscões, puxões de coação ou uso da força. Induzir a comercializar ou a utilizar, de
cabelo, mordidas, queimaduras, chutes, tapas, socos, qualquer modo, a sexualidade. Impedir o uso de método
tentativa de asfixia, ameaça com faca, e qualquer contato contraceptivo.
que produza dor, marcas, cortes, hematomas, dentre outras
situações que atinja o corpo da mulher.
VIOLÊNCIA PATRIMONIAL

Posse, retirada, destruição parcial ou total de seus objetos, a


VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA exemplo celular, roupas, objetos pessoais, da casa, computador,
carro etc.., instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens
Conduta que cause prejuízo emocional e diminuição da (imóveis, carros), valores e direitos ou recursos econômicos,
autoestima ou que prejudique e que vise controlar suas incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.
ações, comportamentos, crenças e decisões da mulher,
por meio de ameaça, intimidação, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, VIOLÊNCIA MORAL
perseguição, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir. Comportamento que configure calúnia, difamação, ofensa/injúria.

A violência costuma acontecer com tempo e intensidade diferenciada É muito importante compreender que a violência doméstica tem várias
nas diferentes relações. A psicóloga Lenore Walker (1979) descreveu o formas de se apresentar e podem variar de acordo com cada situação.
ciclo da violência apontando três fases nos relacionamentos violentos Mas é possível identificar alguns comportamentos semelhantes que são
que iniciam pelo aumento da tensão. Veja o que caracteriza cada uma muito comuns em relacionamentos abusivos. Esses comportamentos
destas fases: frequentes são chamados de Ciclo de Violência.

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UN1
Contexto da violência doméstica contra as mulheres


O Ciclo de Violência é composto por 3 fases: ÎÎ Ato de violência O Ciclo de Violência consiste na repetição
Esta etapa corresponde ao momento em que toda a dessas fases.
Aumento tensão da fase 1 (aumento da tensão) se materializa Quando o ciclo não é interrompido, é comum
da tensão
num ato violento do agressor contra a mulher. Este que as fases se repitam com cada vez mais
ato de violência pode ter muitas formas: verbal, intensidade e menor intervalo entre elas,
Ciclo de
violência Ato de física, psicológica, sexual, moral ou patrimonial. sem necessariamente seguir uma ordem. Em
violência
É possível identificar no agressor uma falta alguns casos, a reprodução dessa dinâmica de
de controle e é comum que a mulher se sinta violência pode terminar em feminicídio, que é o
Arrependimento
desorientada e não consiga reagir. assassinato da mulher.
Arrependimento e comportamento carinhoso Infelizmente, é comum que a mulher em situação
ÎÎ Aumento da tensão A terceira fase desempenha papel fundamental de violência doméstica tenha dificuldade de
Nessa primeira fase, o agressor costuma se na manutenção do Ciclo de Violência. Também reconhecer que seu companheiro é agressivo.
irritar com coisas insignificantes, apresenta conhecida como “Lua de Mel”, nessa fase o agressor Ainda vivemos uma sociedade que reproduz
comportamento tenso e acessos de raiva. apresenta um comportamento arrependido e de relações de poder entre homens e mulheres de
É frequente o sentimento de culpa da vítima. reconciliação. É comum que esse seja um período forma violenta. E essa ideia, frequentemente,
A mulher pode pensar que pode evitar esse tipo mais tranquilo entre o agressor e a mulher. A faz com que as mulheres se sintam culpadas
de atitude do agressor se ela evitar determinado demonstração de remorso permite que a mulher crie pela violência que estão sofrendo.
comportamento. A partir disso, a vítima pode achar esperança de que o comportamento do agressor São muitos os motivos para as mulheres ficarem
que existe justificativa para o comportamento possa mudar e que o ato violento tenha sido um em relacionamentos violentos: medo da reação
violento do agressor, como se o motivo pra ele episódio isolado. Por vezes, nessa fase, a mulher do agressor se ela o deixar; falta de autonomia
agir assim sempre fosse algum fator externo e não até se culpa e fantasia de que o comportamento financeira; culpa de afastar os filhos do pai;
responsabilidade dele mesmo. agressivo do companheiro pode ter sido justificado. vergonha pelo julgamento das pessoas ao redor;

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UN1
Contexto da violência doméstica contra as mulheres


falta de apoio; dificuldade de acessar serviços e movimento feminista brasileiro e internacional. dominação simbólica masculina, em especial,
direitos; entre outras possibilidades. No final dos anos 1970, ganharam visibilidade como um dos pilares da violência contra a mulher.
É necessário tentar compreender esses motivos e os assassinatos de mulheres cometidos pelos Contudo, reconhecem que há outros elementos
não reproduzir a ideia de que a mulher não rompe respectivos maridos, ex-maridos e companheiros, que compõem a dinâmica da violência. Dessa
o ciclo de violência “porque gosta de apanhar”. em segmentos de classe média, o que culminou na forma, o patriarcado e a dominação masculina,
Interromper o ciclo de violência não é fácil, mobilização por demandas de políticas públicas de se tomados isoladamente, seriam causas
especialmente quando a agressão ocorre combate à violência contra as mulheres. insuficientes para se explicar a violência contra
no âmbito de relações afetivas. Por isso, é Apesar destes movimentos, ainda não houve a mulher. Apesar das fragilidades de ambos
tão importante que a mulher em situação de mudanças significativas em relação às razões que os conceitos, bem como das críticas que lhes
violência possa contar com outras redes de continuam a justificar formalmente a persistência da são atribuídas, ainda assim trazem consigo
apoio e de confiança, livres de violência. violência de gênero, centrando-se principalmente na significados e desdobramentos importantes
1.2 Violência doméstica e desigualdades argumentação de que a mulher não está cumprindo para que se possa compreender a manutenção
de gênero bem seus papéis de mãe, dona de casa e esposa por dos ordenamentos familiares.
Por gênero, entende-se o conjunto de valores, estar voltada ao trabalho, ao estudo ou envolvida É possível constatar isso em expressões comuns
papéis e funções construídos nas esferas com as redes sociais, entre outros fatores. Pela dos brasileiros, de que “se as mulheres soubessem
social e cultural por uma dada sociedade, que abundância de atos recorrentes de violência, como se comportar, haveria menos estupros” ou
define, consequentemente, quais os gestos, percebe-se que a ordem tradicional se mantém, ainda que “Em briga de marido e mulher, não se
os comportamentos, as atitudes, os modos de isto é, as concepções dominantes de feminilidade e mete a colher”. Se a luta do movimento feminista foi
se vestir, falar e agir socialmente atribuídos à masculinidade ainda operam no interior dos espaços tornar pública a violência sofrida pelas mulheres,
mulher e ao homem (TAQUETTE, 2007). domésticos e em outros espaços institucionais. no sentido de reconhecê-la como problema que
A violência é uma das expressões da desigualdade Os estudos feministas sobre a violência de envolve a sociedade em geral, observa-se que o
de gênero e tem pautado as reinvindicações do gênero consideram o patriarcado e a posição de poder familiar ainda a silencia.

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UN1
Contexto da violência doméstica contra as mulheres


Em briga de marido e mulher não se mete a colher?

“ Este provérbio popular traduz a crença socialmente difundida durante décadas, e parcialmente aceita ainda hoje, de que a violência conjugal é
um fenômeno privado e no qual ninguém, senão o casal deve interferir. Esta é uma posição perfeitamente contrária àquela que é hoje a concep-
ção de violência doméstica, tornada crime público, face ao qual toda a sociedade tem a responsabilidade de agir, revelar, denunciar, prevenir.
Por isso, interferir nas situações de violência doméstica, combater ativamente estas práticas, denunciar casos de que se tenha conhecimento,
lutar por uma sociedade de igualdade e sem violência, educar as crianças e os adultos para a não violência, para a igualdade de gêneros e para
igualdade de direitos, exercer e estimular o exercício da cidadania ativa, são obrigações sociais de todos os cidadãos e de profissionais que
contatam com vítimas e/ou agressores.

A Violência Doméstica só ocorre nos estratos socioeconômicos mais vulneráveis?

“ Vítimas e agressores são provenientes de qualquer estrato socioeconômico – a violência é transversal aos diferentes padrões culturais, religio-
sos, econômicos, profissionais, etc. Algo diferente é a constatação, comum a diferentes estudos e estatísticas, de que ela ocorrerá mais frequen-
temente nos estratos socioeconômicos mais vulneráveis – o que pode ser um efeito de fatores culturais e educacionais mais fortemente legiti-
madores da violência, presentes nestes estratos socioculturais ou, simplesmente, um efeito da maior visibilidade que vítimas e agressores destes
estratos têm, dado que, por falta de alternativas econômicas e sociais, tenderão a recorrer mais às instâncias públicas de apoio a vítimas, às ins-
tâncias oficiais de controle social e a escapar menos à vigilância das instâncias de regulação judicial e apoio social.

A Violência Doméstica só ocorre sob efeito do álcool ou outras drogas?

“ Uma coisa é afirmar que o abuso de álcool ou outras drogas surge associado a situações de violência doméstica, outra é tomá-los como a causa
dessa violência, o que é incorreto. Da mesma forma, é correto dizer que o uso de álcool/drogas pode ser, em certas ocasiões, facilitador ou
desencadeador de situações de violência, mas é incorreto achar que esta só ocorre sob o efeito destas substâncias ou por causa delas. Para
contradizê-lo basta pensar que existem perpetradores de violência que não consomem álcool, que a maioria dos agressores agride mesmo
quando não está sob efeito do álcool e que a maioria das pessoas que se embriaga/consome drogas não agride as/os companheiras/os – o
consumo de álcool/drogas funciona essencialmente como desculpa/estratégia de racionalização para evitar a responsabilidade pelos comporta-
mentos violentos: dizer “não fui eu, foi o álcool” ou “só aconteceu porque bebi demais”, é uma desculpa muito conveniente. Além disso, os
perpetradores de violência, mesmo quando consomem álcool, não agridem alvos indiscriminados: habitualmente, embriagam-se fora de casa,
mas esperam até chegar a casa para agredir a mulher e/ou os filhos(as).

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UN1
Contexto da violência doméstica contra as mulheres


Repensar o papel dos profissionais e dos gestores DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2018). Sabe-se que
das diversas áreas envolvidas na prevenção e na a maioria das mulheres que sofre violência
É extremamente importante que
assistência da violência praticada contra mulheres, sexual não registra denúncia, ou seja, o dado
você, como profissional da saú-
pode promover um atendimento integrado e de apresentado não representa uma estimativa real
de, esteja atento aos “mitos”
qualidade aos usuários dos serviços. da prevalência deste crime.
ou crenças para compreender
1.3 Prevalência e consequências da Outros dados relevantes sobre a violência contra
melhor a mulher em situação violência contra mulheres a mulher são oriundos da Central de Atendimento
de violência, evitando que esta
Em termos de prevalência da violência, o Brasil à Mulher em Situação de Violência – Ligue 180,
seja revitimizada dentro do sis-
é o quinto país do mundo com maior índice de que realizou, em 2016, mais de 1 milhão de
tema de saúde. Neste momen-
homicídios de mulheres, ficando atrás somente atendimentos (1.133.345) a mulheres em todo
to, ela precisa de acolhimento
para El Salvador, Colômbia, Guatemala (três o país. O número foi 51% superior ao registrado
e escuta para que se sinta am-
países latino- -americanos) e a Federação no ano de 2015. Dados da violência contra a
parada para tomar a decisão
Russa. Essas mortes representam 13 homicídios mulher do Sistema de Informação de Agravos
que considerar mais apropriada
femininos diários (WAISELFISZ, 2015). de Notificação (SINAN/SVSMS), demonstraram
sobre a situação de violência a
De acordo com o Atlas da Violência (2018), em aumento de 75.033 para 162.575, no período de
que está submetida.
2016, 4.645 mulheres foram assassinadas no 2011 a 2015 respectivamente, e, no ano de 2015,
país, o que representa uma taxa de 4,5 homicídios do total de notificações, 67,1% foi de violências
De acordo com essas informações, pode-se para cada 100 mil brasileiras. Nos últimos 10 contra a mulher (Silva et al 2018).
perceber que a violência contra as mulheres, no anos, observa-se um aumento de 6,4%. Além de inúmeros danos à saúde da mulher,
Brasil, necessita de uma atenção voltada não Com relação à violência sexual, foram registrados outra consequência da violência doméstica são
só às questões do âmbito familiar, mas também 60.018 estupros em 2017, uma média de seis as tentativas de suicídio e o suicídio, cujo risco
àquelas referentes à estrutura social do país. a cada hora, um a cada 9 minutos (ANUÁRIO deste último evento para mulheres que sofreram

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UN1
Contexto da violência doméstica contra as mulheres


violência física moderada é três vezes maior, e Krug et al. (2002) investigaram as consequências Uma intervenção resolutiva a essa problemática
para as que sofreram violência física grave é da violência na saúde e concluíram que os não pode prescindir de uma conduta clínica. No
oito vezes maior quando em comparação com efeitos podem persistir muito tempo após entanto, não é o suficiente; a atenção precisa
mulheres que não sofreram violência física. terem cessado, sendo que quanto mais severa ir além, buscando medidas que promovam
Cada tipo de violência gera prejuízos nas esferas a violência, maior o impacto sobre a saúde a conservação da saúde e a recuperação da
do desenvolvimento físico, cognitivo, social, física e mental da mulher. Também afirmam qualidade de vida. Isso porque ações clínicas
moral, emocional ou afetivo. Veja na figura que o impacto de diferentes tipos de violência não são suficientes para responder às variadas
abaixo, as manifestações físicas e sintomas e de vários episódios parecem ter efeito dimensões dos problemas e às necessidades em
psicológicos causados nas mulheres em cumulativo. saúde das mulheres. Por isso, o entendimento
situação de violência. (KASHANI; ALLAN, 1998). de como esta violência é vivenciada pelas
mulheres é importante para que você possa
Agudas, como inflamações, contusões e reconhecer as necessidades e implementar um
hematomas plano de cuidados em conjunto com a mulher e
Manifestações
físicas Crônicas, deixando sequelas para toda a vida, como sua rede de apoio e de proteção.
as limitações no movimento motor, traumatismos,
instalação de deficiências físicas, etc.
Violência
Insônia, pesadelos, falta de concentração,
irritabilidade, falta de apetite
Sintomas Problemas mentais como depressão, ansiedade,
psicológicos síndrome de pânico, estresse pós-traumático

Abuso de álcool e drogas, ou mesmo tentativas


de suicídio

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UN2
Especificidades das mulheres em situação de violência
UN2
Especificidades das mulheres em situação de violência


Esta unidade trata das especificidades das A seguir, serão destacadas e apresentadas
mulheres em situação de violência doméstica. algumas características das mulheres do
As mulheres negras, indígenas, lésbicas, campo, negras, indígenas, lésbicas, bissexuais
bissexuais, trans, do campo, das florestas, e trans. É fundamental que a compreensão
das águas e quilombolas, vivenciam contextos dessas características seja levada em conta na
específicos, que influenciam e intensificam a atenção às mulheres em situação e violência,
exposição e vitimização por violências. Conhecer para o alcance de uma atuação mais próxima da
tais cenários é necessário para o alcance de realidade local e, portanto, mais efetiva.
uma atuação profissional mais próxima da
2.1 Violência contra mulheres do campo
realidade destas mulheres, subsidiada por
políticas públicas específicas, que possibilitem Mulheres do campo são aquelas que vivem
a identificação das situações de violências e se relacionam predominantemente com a
ainda negligenciadas. terra: as camponesas, trabalhadoras rurais
Figura 1 – Reconhecer os contextos e vulnerabilidades é assentadas ou acampadas, assalariadas ou não,
fundamental para a compreensão das violências
temporárias, que residam no campo ou não. São
as que trabalham na agricultura convencional,
agricultura familiar ou orgânica e têm, por meio
desta atividade, seu meio de sobrevivência
(BRASIL, 2015).
Nos contextos rurais, as relações de gênero são
fortemente influenciadas por uma organização
Fonte: Unsplash patriarcal que coloca a mulher em uma posição

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UN2
Especificidades das mulheres em situação de violência


inferior à do homem. Os papéis tradicionalmente As dificuldades de acesso a serviços de saúde O acesso das mulheres à rede de atenção pode se
atribuídos às mulheres incluem cuidar da casa, e outros setores impostas às mulheres que iniciar pela atenção básica, com o acolhimento
dos filhos, da alimentação, da higiene e ajudar o vivem em contexto rural representam um grande da equipe multidisciplinar. Para isso, é preciso
companheiro no campo. Assim, o homem detém desafio. Estas se devem à concentração de uma postura acolhedora e comprometida com
o controle do trabalho, organiza e administra a serviços especializados para assistência às essas mulheres. O vínculo estabelecido entre
produção familiar e financeira, o que o coloca mulheres em situação de violência em cidades o profissional e a mulher do campo pode gerar
em uma posição superior e detentor do poder na de maior porte, bem como ao afastamento o apoio que muitas precisam para enfrentar a
família (COSTA, LOPES, 2012). geográfico em relação às áreas urbanas situação de violência doméstica que vivenciam
O isolamento social vivido pela mulher rural (BRASIL, 2011). (COSTA et al., 2017).
contribui para a naturalização e invisibilidade
2.2 Violência contra mulheres negras
da violência doméstica, na maioria das vezes
Para entender este contexto,
exercida pelo parceiro. Essa condição pode As mulheres negras são as maiores vítimas
assista ao vídeo em que mulhe-
se agravar, pois muitas vezes os familiares e da violação dos direitos humanos, dentre eles,
res do meio rural de Santa Ca-
amigos estão distantes, e até mesmo vizinhos a violência. Das notificações de violência
tarina falam sobre as situações
residem muito longe. Mulheres que têm apoio doméstica contra mulheres, 58,9% referem-
de violência vividas: “Sozinhas”
da família têm menos propensão a sofrer se a negras, segundo registros do Ligue 180
Violência contra mulheres que
violência, reforçando a importância da rede – Central de Atendimento à Mulher, em 2015.
vivem no campo publicado no
social em sua prevenção. O apoio de grupos Elas também são as mais vitimizadas pela
ano de 2017. Disponível em:
religiosos ou comunitários, o telefonema de mortalidade materna (53,6%) e pela violência
< h t t p s : / / w w w. y o u t u b e . c o m /
um amigo ou vizinho também podem contribuir obstétrica (65,9%).
watch?v=XEuJ9XT2yX8>
para o enfrentamento do problema (DUTRA
et al., 2013).

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UN2
Especificidades das mulheres em situação de violência


Figura 2 – As mulheres negras são as maiores vítimas na mulher negra no Brasil como estereótipo como objetos sexuais, propagandas em que são
violação dos direitos humanos
discriminatório, que acaba por autorizar vistas como produto sexual e nacional a ser
violências. A maior vitimização por violência da consumido no exterior – imagem da mulata e
mulher negra explicitada nestas informações o carnaval – tráfico internacional de mulheres,
é herança do passado escravocrata do entre outros (MARCONDES, 2013).
país. Seu papel na sociedade brasileira Ao analisar a percepção dos profissionais que
nos primórdios da escravidão se referia à atendem mulheres em situação de violência,
execução de trabalhos forçados no campo e, identifica-se que embora a maioria dos serviços
principalmente, na casa grande, além de servir registrem a cor de pele nos prontuários, essa
ao seu “senhor” como objeto sexual (NUNES, informação não costuma ser analisada para
Fonte: Unsplash
2010). Como a abolição da escravatura não compreensão das vulnerabilidades, sob uma
A taxa de homicídios para cada 100 mil mulheres, foi precedida de reformas sociais estruturais, perspectiva interseccional (SILVEIRA; NARDI;
entre as negras (5,3/100 mil) é 71% maior do que este processo abolicionista não eliminou os SPINDLER, 2014). Desta forma, reconhecer as
entre as não negras (3,1/100 mil) (ATLAS DA estigmas e estereótipos atribuídos à população vulnerabilidades das mulheres negras é um
VIOLÊNCIA, 2018). Estes números mostram que negra, que até hoje sofre com a recriação da desafio para os profissionais de saúde de modo
as categorias de gênero e raça são fundamentais violência sofrida no passado, perpetuando a a contribuir com o enfrentamento da violência
para compreensão sobre a violência letal, que maior vulnerabilidade das mulheres negras a doméstica.
é, em última instância, resultado da produção violências doméstica e sexual, ainda nos dias
e reprodução das iniquidades que permeiam a atuais (ANTUNES, 2017). 2.3 Violência contra mulher indígena
sociedade brasileira. Outros aspectos que contribuem para a
Refletindo sobre os dados apresentados, vitimização das mulheres negras são a As mulheres indígenas no mundo apresentam
é fundamental olhar para a imagem da exploração da sua imagem pela mídia nacional diferentes situações sociais, causadas

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UN2
Especificidades das mulheres em situação de violência


principalmente por seus usos e costumes. As mulheres são as principais vítimas das violências praticadas contra as
A diferença entre as mulheres indígenas da comunidades indígenas no mundo, de acordo com o relatório da Organização
das Nações Unidas - ONU.
mulher ocidental é marcada por uma tripla
discriminação, causada por sua raça/etnia, Os dados da ONU mostram que mais de 1 em cada 3
mulheres indígenas são estupradas ao longo da vida – e a
ser mulher e sua condição de vulnerabilidade. violência faz parte de uma estratégia para desmoralizar a
Historicamente, as indígenas passaram a comunidade ou como “limpeza étnica”.

sofrer com as condições sociais hegemônicas


No Brasil não é diferente: no Mato Grosso do Sul, estado
ocidentais, tais como a coisificação da mulher,
com a segunda maior população indígena do país, com 72
pornografia, prostituição, etc. Agregado a esses mil pessoas, os casos de violência contra a mulher indígena
aumentaram em aproximadamente 495%.
fatores, as mulheres indígenas também vivem
outras situações baseadas em suas tradições Em 2010, o número era de 104 agressões físicas. Já em 2014, foram
ou costumes, como o patriarcado, o machismo e relatadas 619 agressões contra mulheres indígenas.

alguns ritos religiosos que reduzem as mulheres,


vivendo sob condições injustas, impostas pelas Em relação a aplicação de lei na proteção de seu grupo étnico, seja na aldeia indígena ou
sociedades dominantes e adotadas por suas de mulheres em situação de violência, vale em contexto social diverso, pode ocorrer de duas
próprias comunidades (PINTO, 2010). ressaltar que para população indígena deve maneiras: 1) pela legislação positivada pelo
Acompanhe na figura ao lado algumas ser considerado o Direito de Autodeterminação Estado, ou 2) pela lei interna, consubstanciada
informações sobre violência contra as mulheres dos Povos Indígenas. Este lhes garante a em costumes, protegidos como elemento da
indígenas. possibilidade de adoção de sistemas próprios identidade cultural.
de resolução de conflitos. Diante desse aspecto Diante disso, cabe aos envolvidos, em especial
legal, o enfrentamento da violência doméstica à mulher, a decisão pelo enfrentamento da
contra a mulher indígena praticada por homem questão, inclusive compatibilizando a norma

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UN2
Especificidades das mulheres em situação de violência


estatal com a norma interna de sua comunidade, Figura 4 – Identidade de gênero

visando a superação da violência praticada no


contexto familiar (SILVEIRA, 2016). IDENTIDADE
DE GÊNERO Homem { Pessoas } Mulher
2.4 Violência contra mulheres lésbicas, que se identificam com
bissexuais e trans É a maneira como você se mais de um dos gêneros,
enxerga, o gênero que se como travestis, ou
identifica como fazendo parte com nenhum deles
Para a abordagem das especificidades e
vulnerabilidades das mulheres lésbicas, bissexuais
ORIENTAÇÃO
e trans (LBT), é relevante distinguir as definições
SEXUAL
Homo Bi Hétero
de identidade de gênero e orientação sexual, que,
Indica pelo que você sente
embora diferentes, interagem entre si. Entende-se
atração. Mostra pra que lado sua sexualidade está orientada
por identidade de gênero aquele gênero com o qual
a pessoa se identifica. Trata-se de uma experiência
SEXO
subjetiva, que pode ou não concordar com a sua BIOLÓGICO
Macho Intersexual Fêmea
genitália e gênero atribuído ao nascer (JESUS,
É sua genitália e cromossomos quando você veio ao mundo
2012). A orientação sexual pode ser entendida pela
atração física, sexual ou emocional, podendo ser
Fonte: http://mercadopopular.org/tag/identidade-de-genero/
entre pessoas do gênero oposto (heterossexual),
do mesmo gênero (homossexual, gay, lésbica) ou
Ataques a pessoas por causa de sua orientação vistos como desafiadores das normas de gênero
por ambos os gêneros (bissexual). Por mulheres
sexual ou identidade de gênero são muitas vezes e são considerados uma forma de violência
trans, compreende-se mulheres transgênero e
impulsionados por um desejo de punir aqueles de gênero. Você não precisa ser lésbica, gay,
transexuais.

23
UN2
Especificidades das mulheres em situação de violência


bissexual, transgênero ou intersexual para ser domésticas e familiares. São hegemonicamente


atacado: a mera percepção de homossexualidade tentativas de extermínio, catalogadas como As lésbicas se relacionam sexu-
ou de identidade transgênero é suficiente para crimes de ódio e motivadas por preconceito. São al e afetivamente exclusivamen-
colocar as pessoas em risco. ações que demonstram a inabilidade de alguns te com outras mulheres, mas
Dentre as formas de violência sofridas pelas segmentos da população de aceitarem as lésbicas os principais assassinos de
mulheres LBT, destaca-se as que são expostas e as respeitarem como pessoas em igualdade lésbicas no Brasil são homens.
frequentemente à violência sexual, nos chamados direitos e deveres constitucionais. Destaca-se que o vínculo conju-
“estupros corretivos”. Estes são violências sexuais gal entre vítima e assassino não
com o propósito de forçá-las a assumirem outra ocorre nos casos de lesbocídio,
O feminicídio é o termo empre-
orientação sexual ou identidade de gênero que os diferenciando-se da maioria dos
gado para designar o assassi-
agressores assumem como a “correta”. A lesbofobia casos de violência doméstica
nato de uma mulher pelo sim-
e transfobia expressadas neste tipo de violência que resultam em feminicídios.
ples fato de esta ser mulher.
decorrem da chamada heterossexualidade
Dessa forma, é uma violência No contexto de pessoas trans, dados
compulsória, cujo pressuposto é de que toda
em razão do gênero. epidemiológicos revelam que entre 2008 e 2016,
mulher deveria naturalmente sentir atração por
ocorreram:
homens, tornando-as sujeitos destituídos de
direitos sobre seus corpos.
As mortes de mulheres lésbicas, são chamadas de
2008 a 2016: Mais de 50% 39,9% 11,7%
lesbocídio, o qual se diferencia do feminicídio, 2115 assassinatos ocorreram na ocorreram no ocorreram no
por não ter frequentemente características em 65 países América Latina Brasil México

Fonte: TVT, 2016

24
UN2
Especificidades das mulheres em situação de violência


É importante salientar que estes dados são


uma estimativa subnotificada, pois vários dos Como acolher sem discrimi-
crimes transfóbicos (violências cometidas nação as mulheres lésbicas,
contra as pessoas transexuais) são colocados bissexuais, transexuais e tra-
como homofobia. Isso se deve, por vezes, ao vestis? Diante da dúvida, per-
despreparo de profissionais da medicina legal, gunte. Não assuma a identida-
que ao realizarem o registro de óbito, preenchem de de gênero e orientação de
de acordo com o sexo biológico, desrespeitando uma pessoa pela sua forma de
a identidade de gênero, que invisibiliza a causa se expressar, vestir, falar, en-
dessas mortes. A expectativa de vida das tre outros indícios, ou ainda de
travestis e transexuais está em torno de 30 a 36 acordo com os estereótipos do
anos (TVT, 2016). que seria mulher e homem, fe-
A empatia e o vínculo construídos vão contribuir minino e masculino. A forma de
para uma maior qualidade no atendimento perguntar deve ser sem emitir
à saúde das mulheres lésbicas, bissexuais e juízo de valor. Assim, você es-
trans. Para construir este vínculo é necessário tará respeitando a autonomia e
criar espaços acolhedores, onde estas mulheres dando espaço para a mulher se
se sintam à vontade para se expressar de sentir à vontade e acolhida nas
acordo com sua identidade de gênero, dadas suas necessidades.
as discriminações e violências a que são
submetidas dentro e fora dos serviços de saúde.

25
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Esta unidade apresenta informações para a de aproximação, um “estar com” e um “estar


atenção em saúde a mulheres em situação de perto de”, ou seja, uma atitude de inclusão.
violência doméstica, incluindo acolhimento O acolhimento de mulheres em situação de
com escuta qualificada, vínculo, cuidado e violência exige o cumprimento dos princípios
encaminhamento resolutivos, além de apontar de sigilo e segredo profissional. No acolhimento
estratégias de cuidado. às adolescentes, os profissionais devem
focar a dimensão humana, individual e ética
3.1 Acolher implica: “receber-escutar-
analisar-decidir” do atendimento, direitos e identificação das
especificidades de desenvolvimento daquela
O acolhimento, como ato ou efeito de acolher, adolescente que está sendo atendida (BRASIL,
expressa em suas várias definições uma ação 2015). Ressalta-se que segundo as normas

São objetivos do acolhimento:

Realizar a acolhida dos casos

Realizar escuta qualificada da queixa

Compreender a demanda da mulher em toda a sua complexidade

Oferecer os serviços da rede como possibilidades de enfrentamento à


violência sofrida

Encaminhar a mulher ao serviço escolhido, a partir de sua necessidade

27
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

éticas de atendimento a adolescentes, estes ideias e crenças, complementando os seus


têm o direito de serem atendidos sozinhos, direitos fundamentais”. Para saber mais sobre o cuida-
ou seja, o atendimento não deve ser negado É fundamental a ampliação do acesso das do a ser prestado a adolescen-
quando a adolescente chega ao serviço de saúde adolescentes aos serviços de saúde, bem como tes em situação de violência
desacompanhada e, quando acompanhada, que os profissionais reconheçam a importância domestica acesse a Linha de
deve ser ouvida em dois momentos, na presença do seu papel no cuidado diferenciado a essas cuidado para a atenção integral
dos responsáveis e sozinha (TAQUETTE, pessoas como sujeitos de direitos. É importante à saúde de crianças, adolescen-
2005; 2010). proporcionar consulta informada e esclarecida, tes e suas famílias em situação
Sobre a necessidade de se considerar a opinião com equipe multiprofissional, aproveitando de violências: orientação para
dos adolescentes em relação à conduta todas as oportunidades que surgem quando as gestores e profissionais de saú-
terapêutica e legal, destaca-se trecho da nota adolescentes estão nas Unidades Básicas de de do MS: <http://bvsms.saude.
técnica 04/2017 do Ministério da Saúde: o Saúde - UBS (BRASIL,2015). gov.br/bvs/publicacoes/linha_
direito à liberdade compreende o direito à cuidado_criancas_familias_
Se você tem dúvidas sobre
expressão e à opinião, e o direito ao respeito que violencias.pdf>.
o atendimento de adoles-
abrange a autonomia, valores, ideias e crenças,
centes desacompanhadas
complementando os seus direitos fundamentais. Para os atendimentos a mulheres em situação
dos pais ou responsáveis na
Da nota técnica destaco este trecho: “Esclarece de violência, recomenda-se a consulta da
UBS, acesse a Nota Técni-
ainda que, o direito à liberdade compreende o Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos
ca 04/2017 do MS: <http://
direito à expressão e à opinião, e o direito ao Agravos Resultantes da Violência Sexual contra
w w w.s p r s .c o m.b r / s p r s 2 0 1 3 /
respeito que abrange a autonomia, valores, Mulheres e Adolescentes, do Ministério da Saúde
bancoimg/170416213755MS_
SAS_NT_04_04_2017.pdf>.

28
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

(2012) e dos Manuais sobre Humanização do É fundamental respeitar a autonomia, a Para as situações de violência, em 2017 foi
Atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). individualidade e os direitos das mulheres publicada a Lei 13.431, regulamentada pelo
em situação de violência. Deve-se resguardar decreto Nº 9.603, de 10 de dezembro de
sua identidade, tanto no espaço da instituição 2018 que estabelece a garantia de direitos
Para saber mais acesse:
quanto no espaço público (por exemplo, junto de adolescentes vítimas ou testemunha
Prevenção e tratamento dos
à mídia, à comunidade etc.). Da mesma forma, de violência. Esta lei estabelece para as
agravos resultantes da violên-
deve-se respeitar a vontade expressa da mulher adolescentes a escuta especializada como
cia sexual contra mulheres e
em não compartilhar sua história com familiares o procedimento de escuta sobre situação de
adolescentes: norma técnica
ou outras pessoas. Veja a seguir alguns critérios violência na rede de atenção e o depoimento
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
para o atendimento da mulher em situação de especial como o procedimento de escuta do
publicacoes/prevencao_agravo_
violência.
violencia_sexual_mulheres_3ed.pdf>

ESCUTA Tranquilidade
É importante garantir o acolhimento adequado às QUALIFICADA
mulheres, o que significa compreender e validar Registro

no seu depoimento, não culpabilizar a mulher e


Atenção Discrição
não acelerar ou influenciar nas suas decisões,
mantendo atitude isenta de julgamentos, Afastar culpa Perguntas corretas
contextualizando os aspectos socioculturais,
Proteção Sigilo
históricos e econômicos, e respeitando suas
crenças e sistemas de valores morais. Linguagem Honestidade

Fonte: Casa da Mulher Brasileira

29
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

adolescente vítima ou testemunha de violência acionar a rede intersetorial, tendo em vista os Por outro lado, mulheres que não buscam os
perante autoridade policial ou judiciária como impactos da violência sobre a saúde física e serviços de saúde, em especial para realização
parte de um processo jurídico. Desta forma, a mental. de exames preventivos ou adoção de métodos
adolescente é protegida da vitimização pelos Você precisa estar atento às mulheres que contraceptivos e planejamento familiar, podem
serviços, a fim de que a pessoa não precise repetir procuram os serviços de saúde, em especial a estar em situação de violência e, inclusive,
diversas vezes sobre a agressão sofrida ou Atenção Básica, relatando sofrimentos pouco evitarem realizar atendimentos como forma de
presenciada, diminuindo o sofrimento causado específicos, doenças crônicas, agravos à saúde não expor sinais do que vivenciam. Assim, uma
e também a possibilidade de interferência no reprodutiva e sexual ou transtornos mentais. estratégia que pode ser adotada é o rastreio
seu relato. Estas condições e situações ocorrem em maior para violência como parte integrante dos
frequência nas mulheres que estão vivenciando atendimentos na Atenção Básica.
3.2 Identificação e acolhimento das
mulheres em situação de violência situação de violência (D’OLIVEIRA; SCHRAIBER, Acompanhe a seguir algumas perguntas que
2014). As mulheres também podem procurar podem ser realizadas quando houver suspeita
Como profissional, você assume papel também atendimento por problemas decorrentes de que a mulher está sofrendo algum tipo de
como identificador de situações de violência nos diretamente da violência física ou sexual, tais violência (DGS; ASGVCV, 2014).
serviços de saúde. É atribuição dos profissionais como traumas, fraturas, tentativas de suicídio,
prover atenção a tais situações, bem como abortamentos, entre outros.

30
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Perguntas realizadas na suspeita de violência

Perguntas com base em antecedentes e características pessoais: Perguntas com base em sintomas psicológicos:

Avaliei a sua história e encontrei algumas coisas que gostaria de conver- Gostaria de saber a sua opinião
sar contigo. Vejo que... (relatar os fatos) sobre esses sintomas que relatou
(ansiedade, nervosismo, tristeza,
apatia)... Desde quando você se
A que você atribui o seu mal-estar ou problema de saúde? Você parece
sente assim? Qual o motivo? Têm
um pouco nervosa. O que a preocupa?
a ver com alguma situação?

Está vivendo alguma situação problemática que a faz sentir-se assim? Aconteceu ultimamente alguma
Pode falar sobre isso? Pensa estar relacionado? situação na sua vida que possa
deixar você preocupada? Tem algum
Muitas pessoas tem problemas como os seus, tais como (relatar os mais problema com seu companheiro/sua
significativos), habitualmente a causa é estarem vivendo algum tipo de companheira ou alguém da sua
mau trato por parte de alguém. É este o seu caso? família?

Em caso de suspeita por antecedentes como dispareunia, dor pélvica, Você parece assustada. O que
disfunção sexual... questionar acerca das relações afetivas e sexuais, se teme?
são satisfatórias ou não.

Esta lesão habitualmente ocorre quando se recebe um empurrão, golpe,


corte... Foi isso que aconteceu?

O seu companheiro/A sua companheira ou alguma outra pessoa é violen-


ta com você? Como? Desde quando?

Alguma vez a agrediram mais gravemente? (espancamentos, utilização


de armas, agressões sexuais).

31
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Para a abordagem adequada das situações ÎÎ Infecção urinária de repetição (sem causa As mulheres em situação de violência têm
de violência, deve-se estar atento aos riscos secundária); dor pélvica crônica; síndrome direito à atenção nos serviços de saúde. Esta é
do intestino irritável
que podem surgir com a revelação do caso. A uma ação ético-política que compõe o conjunto
ÎÎ Transtornos na sexualidade; depressão e
confidencialidade deve ser mantida, salvo em ansiedade. de ações de enfrentamento à violência, junto
casos de perigo iminente ou elevado. à prevenção de situações desta natureza e
ÎÎ Dor crônica em qualquer parte do corpo ou
Na violência sofrida, as mulheres trazem mesmo sem localização precisa. a responsabilização do agressor. A prática
alguns sinais e sintomas de natureza física e profissional deve funcionar como instrumento
ÎÎ Labilidade emocional e história de
mental recorrentes, que acabam muitas vezes tentativa de suicídio. de proteção e promoção dos direitos humanos
não identificados nos serviços de saúde como das mulheres.
ÎÎ Lesões físicas que não se explicam de
alerta para investigação de violências. Abaixo forma adequada. 3.3 Atenção às mulheres em situação de
apresentaremos alguns pontos que podem ser violência
ÎÎ Fibromialgia.
observados, no intuito de identificar possíveis
situações de violências não declaradas em um Para que as mulheres em situação de violência
primeiro momento (D’OLIVEIRA et al., 2009). reconheçam a Unidade Básica de Saúde como um
A queixa mais apresentada pe-
Conheça algumas sugestões de como agir dos pontos de atenção na rede de atendimento
las mulheres que sofrem violên-
quando identificar uma situação de violência à situação de violência é importante que os
cia é a dor crônica em qualquer
profissionais que nela atuam tenham uma cultura
parte do corpo ou mesmo sem
ÎÎ Entrada tardia no pré-natal; complicações de respeito, propiciando tempo e condições para
em gestações anteriores, abortos de localização precisa (BRASIL,
realizar uma escuta com qualidade e estabelecer
repetição. 2001). É a dor que não tem
um diálogo com as mulheres.
ÎÎ Companheiro muito controlador; reage nome ou lugar!
quando separado da mulher.

32
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Outra estratégia para que a temática da que a violência ganha visibilidade, permitindo
Muitas vezes é difícil para a mu- violência possa emergir a partir das mulheres a produção de informações epidemiológicas
lher falar sobre as violências da comunidade é criar espaços, grupos de do problema, as quais poderão embasar a
vivenciadas no seu cotidiano. atenção às dimensões psicossociais e quando formulação de políticas para a prevenção de
Caso ela não queira falar sobre o tema surgir poderá ser trabalhado a partir das novos casos e o enfrentamento das violências
o assunto, é importante que expectativas e conhecimentos das mulheres. (SALIBA et al., 2007).
você expresse sua disponibili- Destaca-se que não é papel dos profissionais De acordo com a lei 10.778/2003, todas as
dade para ouvi-la quando esta de saúde fazer julgamentos sobre a situação pessoas físicas e entidades públicas ou privadas
sentir necessidade. vivenciada e as escolhas que a mulher fizer. Seu estão obrigadas a notificar casos suspeitos
papel é oferecer as informações e os recursos ou confirmados de violência. Desta forma,
É preciso mostrar que você, profissional, está existentes para o atendimento, valorizando o os profissionais de saúde em geral (médicos,
aberto e preocupado com a atenção às mulheres relato da mulher, respeitando a sua privacidade cirurgiões-dentistas, enfermeiros, técnicos e
em situação de violência, preparando a UBS para e a confidencialidade e, principalmente, auxiliares de enfermagem, psicólogos etc.) e os
que possa ajudar a informá-las desta disposição, o seu tempo. No atendimento da mulher estabelecimentos que prestarem atendimento
colocando cartazes, banners, discutindo casos em situação de violência doméstica você às pessoas em situação de violência (postos e
com a equipe, divulgando pelos meios de precisa elaborar um plano de cuidados a partir centros de saúde, institutos de medicina legal,
comunicação e por meio das visitas de agentes das decisões e escolhas da mulher para o clínicas, hospitais) tem o dever de realizar tais
comunitários de saúde. A informação que enfrentamento da situação vivenciada. notificações.
precisa estar visível para a comunidade é de que É de responsabilidade do profissional de saúde O Ministério da Saúde (MS) implantou em 2006
a UBS entende que violência é um problema de notificar os casos de violência que chegam o sistema de notificação como um instrumento
saúde e que tem informações importantes para aos serviços de saúde, sejam casos suspeitos importante de proteção, não de denúncia e punição.
quem está vivenciando esta situação. ou confirmados. É por meio das notificações A partir de 2006, o MS estruturou o Sistema de

33
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Vigilância de Violências e Acidentes (ViVA) no ou por local de notificação. A sistematização dos No entanto, a existência da lei e dos sistemas
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). dados permite caracterizar os tipos e a natureza de registro não determinam por si só que
Figura 5 - Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes das violências cometidas, o perfil das pessoas a notificação seja feita. É necessária a
(ViVA)
em situação de violência e dos prováveis autores conscientização da sua importância, a quebra de
da agressão (BRASIL, 2010). ideias preconcebidas, a formação e o preparo,
para que o profissional de saúde esteja apto a
detectar e notificar as violências identificadas
A notificação de violências é
(GONÇALVES; FERREIRA, 2002).
compulsória desde 2009, de-
A qualidade do cuidado recebido em instituições
vendo ser realizada de forma
é muito importante: o encorajamento, a
contínua nas situações de sus-
informação precisa e o não julgamento
peita ou confirmação de vio-
contribuem para que a violência sofrida não
lências envolvendo crianças,
seja invisibilizada. As mulheres que estão em
adolescentes, mulheres e ido-
Fonte: Ministério da Saúde (2011) situação de violência buscam diversas formas
sos. Essa notificação deve ser
Atualmente, a notificação da violência está de apoio e meios de transformar a situação.
realizada por você, profissional
inserida no Sistema de Informação de Agravos Para falar sobre a violência sofrida, vencem o
da saúde, mediante o preenchi-
de Notificação (SINAN), onde há uma ficha medo, a falta de apoio, o sentimento de vergonha
mento de uma ficha de notifica-
específica de notificação para a violência e o desprestígio em relação ao cumprimento de
ção específica inserida no sis-
interpessoal e autoprovocada. O SINAN permite papel esperado pela mulher, esposa e mãe que
tema de informações de agravo
a emissão de relatórios com informações muitas vezes bloqueiam internamente a decisão
de notificação (SINAN).
detalhadas dos casos de violência por local de da denúncia.
residência da pessoa em situação de violência

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UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Lembre-se que trabalhar com mulheres em Conheça algumas sugestões de como agir quando identificar uma situação de violência
situação de violência é empoderá-las, a fim de
O QUE FAZER: O QUE NÃO FAZER
que possam fazer escolhas a partir da realidade
 Faça com que a mulher em situação de violência não  dê a sensação de que tudo vai se resolver facilmente.
vivida. Assim, como profissional da saúde, se sinta culpada da agressão que sofre.
 dê falsas esperanças.
você precisa conhecer quais as possibilidades  Ajude a refletir, a ordenar as ideias e a tomar decisões.
 Alerte para os riscos e consequências que corre,  critique a atitude ou ausência de resposta com
de atenção às mulheres em situação de frases como: “Porque é que se mantém nessa
mas aceitar a escolha da mulher;
violência existentes no seu território e quais situação? Se você quisesse mesmo parar com esta
 Valide o relato, não colocando em dúvida nem situação, já teria…”.
são alternativas para cada uma delas. Só assim emitindo juízos de valor.
 desvalorize a sensação de perigo que é expressa.
 Aborde o medo associado à revelação/denúncia.
poderá informar e ajudar cada mulher a escolher
 Esclareça o direito à confidencialidade, excetuando  recomende terapia de casal nem mediação familiar.
que decisão tomar. A escolha sobre qual decisão as situações de perigo iminente.
 prescreva fármacos que diminuam a capacidade de
tomar deve ser da mulher e precisa ser realizada  Esclareça sobre o tipo de informação que pode ser reação.
fornecida às autoridades (boletim de ocorrência/
a partir da informação e das possibilidades que  utilize uma atitude paternalista/maternalista.
tipo de crime).
ela tiver. Por isso, assegure que a informação  Acione a rede intersetorial para evitar a  imponha critérios ou decisões.
que você deu foi compreendida pela mulher revitimização, para a avaliação aprofundada da
situação pelo/a(s) profissional(is) responsável(is)
e que ela está instrumentalizada para fazer a pela intervenção/acompanhamento (Saúde, Serviço
Social e Segurança). 3.4 Atenção aos autores de violência
melhor escolha, no seu contexto. Veja a seguir,
alguns pontos que devem ser observados, Como profissional de saúde você precisa Como profissional da Atenção Básica você tem
quando a situação de violência for confirmada incentivar iniciativas de busca de soluções para um importante papel: mobilizar a comunidade para
(DGS; ASGVCV, 2014). os problemas, estabelecendo vínculos com refletir sobre as relações no âmbito doméstico e as
as usuárias. Para isso, é importante que você violências. Estas reflexões passam por desconstruir
identifique como esta mulher está vivenciando a os estereótipos de gênero e a normalidade das
situação e qual o potencial de mudança. relações desiguais entre homens e mulheres.

35
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Espaços de atendimento individuais e coletivos a violência é relacional determina que ações últimos anos (BEIRAS, 2009 ).
nas UBS precisam incluir estes temas. Incluir de prevenção sejam realizadas com homens e A atenção com os autores das agressões pode
os homens nas atividades da equipe de saúde, mulheres. Estas ações podem ser desencadeadas ser então definida como qualquer ação que
como o pré-natal do parceiro, é um dos exemplos com homens autores de violência conforme tenha como objetivo modificar o comportamento
de ação com potencial para fortalecer relações previsto na Lei Maria da Penha. violento de uma pessoa (ROTHMAN et al., 2003).
saudáveis no âmbito doméstico. 3.5 Estratégias de atenção aos homens Salientamos que existem razões importantes
Outro espaço importante é a escola. Estudos têm autores de violência para implementar estes programas:
demonstrado que as relações violentas estão O atendimento a homens autores de violência ÎÎ responsabilizar os que perpetram violência e
erradicá-la;
presentes desde o namoro. Assim promover (HAV) baseia-se na ideia de que o sujeito pode
ÎÎ mulheres submetidas à violência nem sempre se
espaços de reflexão para os adolescentes sobre reconhecer e responsabilizar-se pela violência separam do companheiro;
relações saudáveis é uma ação importante para que comete, procurando formas de expressão ÎÎ necessidade de intervir com homens que, mesmo
que se separem, repetem seus padrões violentos em
a redução da violência doméstica. não violentas. Assim busca-se o engajamento dos novos relacionamentos;
Figura 6 - Desnaturalizar atos violentos promove relações homens na promoção da equidade de gênero e ÎÎ romper a transmissão intergeracional da violência
mais saudáveis (ANTEZANA, 2012).
em ações pelo fim da violência de homens contra
mulheres (TONELI et al., 2010 ). O trabalho com O Grupo 25, formado por homens e mulheres que
o tema violência intrafamiliar é um desafio para trabalham com questões relacionadas à violência
diferentes áreas, e a maioria das ações são dirigidas de gênero, propôs 11 critérios que deveriam
à pessoa em situação de violência, que geralmente ser cumpridos pelos programas de intervenção
são mulheres, crianças ou adolescentes. Contudo, com homens que cometeram violência conjugal
Fonte: Unsplash a compreensão de que para uma atuação mais (MONTERO; BONINO, 2006). Estes critérios são
Desnaturalizar atos violentos promove relações efetiva é fundamental intervir junto aos homens baseados em pesquisas e meta-análises sobre
mais saudáveis. Neste âmbito, reconhecer que autores de violência, também tem crescido nos programas de intervenção. São eles:

36
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Critérios para programas de intervenção com homens autores de violência


Deve incluir um sistema de avaliação, que preveja medidas pré e pós intervenção, e que consi-
dere que o período de 15 meses após a finalização da intervenção é o mínimo para
comprovar a consolidação das mudanças;
O modelo multidimensional com perspectiva de gênero, que inclua as dimensões cognitiva,
comportamental, emocional e histórica do comportamento violento é o mais apropriado;
Os programas devem se basear na orientação de gênero e fazer parte de um sistema
mais amplo de intervenções coordenadas;
A intervenção deve incluir componentes educacionais, cognitivos, emocionais e com-
portamentais, cuja duração e graduação devem ser de acordo com o caso;
Esses critérios devem ser atualizados de acordo com novos conhecimentos, investi-
gações e evidências
Os profissionais que desenvolvem os programas devem ser qualificados e super-
visionados de forma permanente;
Os programas subvencionados pelo poder público não podem ser separados de
controle de qualidade
O programa não deve durar menos de um ano e o ideal é que combine inter-
venção em grupo e individual
A admissão no programa deve ser precedida de uma avaliação individual
do participante
Não devem abordar a violência de forma inespecífica e devem explicitar
seus limites
Não deve ser uma alternativa a sanção penal

37
UN3
Atenção à saúde das mulheres em
situação de violência

Embora os serviços de atenção a homens ÎÎ Auxiliá-los a desenvolver uma forma mais positiva serviços no país, como: políticas públicas ainda
autores de violência não estejam totalmente de pensar e sentir sobre si mesmos, fortalecendo ineficientes, mudanças de gestão por questões
sua autoestima;
estruturados no Brasil, há estudos que sugerem políticas que interrompem serviços iniciados,
ÎÎ Auxiliá-los a exercitar novas e mais adequadas
princípios para sua realização. De acordo com formas de expressar sua agressividade. desconhecimento sobre serviços similares
o Caderno de Atenção Básica nº 8 (BRASIL, para troca de experiências, necessidade de
A intervenção com homens que cometem
2001a), o atendimento as situações de violência capacitação continuada, escassez de recursos e
violência contra a companheira é uma medida
intrafamiliar deve incluir a atenção a homens dificuldades de gestão. (BEIRAS, 2014).
controversa em diferentes âmbitos, e as
agressores, buscando os seguintes objetivos: A legislação brasileira, embora não descreva
principais críticas à sua organização são:
de forma ampla como esses serviços devam
ÎÎ Auxiliá-los a compreender a gravidade de seu
comportamento; ÎÎ utilizar recursos econômicos que poderiam ser ser construídos e conduzidos, abre espaço
destinados no amparo às vítimas;
ÎÎ Identificar a existência ou não de violência nas para sua organização. Para que os programas
relações afetivas anteriores, bem como na família ÎÎ a imposição de medidas de ressocialização,
de origem. Estes aspectos auxiliam a compreensão reeducação ou tratamento ao invés de medidas que já existem no país se fortaleçam e ocorra
da natureza do problema e o quanto podem punitivas;
a organização de uma rede de atenção, não
influenciar seu comportamento; ÎÎ considerar que homens que praticam violência não
mudam e portanto as intervenções com eles não específica para os autores de violência, mas que
ÎÎ Levá-los a compreender quais situações provocam
o comportamento violento; são efetivas (ANTEZANA, 2012). assista a todos os envolvidos, é importante que
ÎÎ Avaliar o quanto sentem-se motivados a receber Com a Lei Maria da Penha, o interesse de se busque um acompanhamento sistematizado
auxílio para modificar este comportamento;
serviços públicos em realizar intervenções e contínuo desses serviços.
ÎÎ Encorajá-los a responsabilizar-se por seus
pensamentos, sentimentos, percepções e com homens autores de violência tem crescido Veja na próxima unidade como a rede de
comportamentos;
gradualmente. Mesmo assim ainda há atenção às mulheres em situação de violência
ÎÎ Informá-los sobre as diversas formas de violência e
seu impacto na vida das pessoas envolvidas; dificuldades para a criação e manutenção destes está estruturada.

38
UN4
Rede de atenção às mulheres em
situação de violência
UN4
Rede de atenção às mulheres em
situação de violência

Nesta unidade você encontrará informações tem uma complexidade que requer políticas e
sobre a Rede de Atenção às Mulheres em ações coordenadas intersetorialmente, com a
Situação de Violência Doméstica. Indicamos participação do Estado e da sociedade civil.
os pontos de atenção, o fluxo de atendimento e
os encaminhamentos que podem ser realizados Figura 7 – Intervir em situações de violência doméstica é
uma pauta interesetorial
quando necessário para os demais pontos
da rede. Ressaltamos o desafio posto para os
profissionais nos serviços de saúde, de realizar
o cuidado na assistência cotidiana, com intuito
do seu enfrentamento, prevenção e cuidado.

4.1 Fluxo de atenção e encaminhamentos

A atuação em rede, na área da saúde, tem


sido uma pauta cada vez mais frequente,
especialmente quando se discute integralidade
da atenção. Quando se trata de mulheres
em situação de violência doméstica, esta se
Fonte: Unsplash
torna pauta prioritária. A violência doméstica

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Rede de atenção às mulheres em
situação de violência

A equipe de saúde da Atenção Básica tem papel e justiça, para o alcance da redução dos justiça. Sugere-se a elaboração de documento
importante no reconhecimento das situações atos violentos. pactuando o fluxo e o acesso. Esta informação
de violência doméstica, na atenção e no O atendimento da mulher em situação de deverá ser divulgada para a comunidade nos
acionamento da rede. Como responsável pela violência doméstica em rede articulada amplia o meios de comunicação, nas Unidades Básicas
população de sua área de abrangência, tem o acesso e minimiza a revitimização. Veja a seguir de Saúde e em outros espaços de convívio local.
compromisso de acompanhar o andamento como é o fluxo de atenção e encaminhamentos O percurso na rede de atenção se constrói a
das mulheres na rede de atenção, coordenando na rede de atenção. partir da sequência de decisões da mulher em
o cuidado. situação de violência, na busca pela solução de
4.1.1 Fluxo de atenção e encaminhamentos
A rede de enfrentamento a violência é mais seus problemas, avaliando as opções a partir das
abrangente que a rede de atenção, envolvendo Os serviços articulados em rede de atenção informações recebidas. O início deste percurso
a sociedade como um todo, entidades devem promover facilidade e ampliação de ocorre pelo rompimento do silêncio da mulher
governamentais, não governamentais, acesso. O fluxo deve ser organizado a partir de em relação a situação de violência vivenciada.
instituições de ensino, entre outras. O todos os serviços como porta de entrada com O ponto da rede em que este rompimento
enfrentamento atua na promoção de ambientes o objetivo de informar e orientar a mulher para acontecer deverá ser o início do percurso
saudáveis, prevenção da violência e também na tomada de decisão. da atenção e proteção. Este caminho deve
atenção às pessoas que vivenciam este agravo. O fluxo de atenção precisa ser construído pelos respeitar a decisão da mulher. A intervenção do
Exige ações que promovam a informação e a serviços que estão presentes na comunidade profissional que está acompanhando a situação
reflexão na comunidade e também medidas e fora dela, quando forem serviços essenciais deverá ocorrer de acordo com a avaliação de
de atenção que garantam portas abertas nos para a atenção, como as referências na área risco a que a mulher está exposta.
serviços de saúde, assistência social, segurança de saúde, assistência social, segurança ou

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Rede de atenção às mulheres em
situação de violência

situação de violência doméstica é que vai da rede e se reconhecer nela. Então, além de
O profissional fará as ofertas demandar ou não o encaminhamento na documento que formalize a rede, os serviços
de informação e os encami- rede. O profissional deverá certificar-se de e suas atribuições, é necessário que ocorram
nhamentos a partir do conhe- que a mulher será atendida no serviço de reuniões periódicas onde um representante de
cimento que tem dos serviços referência, para realização do encaminhamento. cada serviço informe o andamento das suas
disponíveis e suas atribuições. Preferencialmente, um contato prévio deverá ser atribuições e da relação deste com os demais
Desta forma, a disponibilidade realizado informando a situação. Nessa ocasião, setores. A articulação é potencializada e os
de documento orientador para o nome do profissional que receberá a mulher avanços ou não são avaliados a cada reunião.
os profissionais de saúde, que no serviço de referência deverá ser solicitado. O ponto de convergência da rede deve ser a
pode ser uma nota técnica, um Estas informações deverão ser compartilhadas atenção às mulheres em situação de violência
protocolo ou um manual sobre com a mulher que está sendo atendida. doméstica. A qualidade desta atenção deve
a atenção as mulheres em situ- A rede poderá organizar um formulário nortear a revisão dos fluxos e processos de
ação de violência doméstica em de referência e contrarreferência para os atenção nos serviços. Normas e procedimentos
rede, pode ser um facilitador do encaminhamentos. Destaca-se o cuidado para podem e devem ser revistos, sempre que
processo de cuidado. com as questões éticas e de sigilo em todo o necessário, com a finalidade de ampliar o acesso
processo. Assim, as informações do formulário e a qualidade da atenção às mulheres.
Neste documento norteador devem constar de referência e contrarreferência devem ser A rede de atenção é composta minimamente
informações de quais os serviços compõem mínimas, mas suficientes para possibilitar por serviços de saúde, assistência social,
a rede, suas atribuições, telefones e os a continuidade do processo de atenção e a segurança e justiça. A rede de enfrentamento
profissionais de referência. não revitimização. amplia-se incluindo serviços na área de
A identificação das necessidades e a pactuação Para que a rede funcione, os profissionais que educação, entidades da sociedade civil, meios
de um plano de cuidados com a mulher em atuam nos serviços precisam ter conhecimento de comunicação e comunidade em geral.

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Rede de atenção às mulheres em
situação de violência

Veja os pontos da rede de atenção.

Atenção Básica Média e Alta Complexidade Saiba mais sobre o atendimento


O termo Rede de Atendimento
Unidade Básica de Saúde Serviços de Atenção Especializada designa um conjunto de ações às mulheres em situaçâo de vio-
Estratégia Saúde da Família (ESF) Hospitais e serviços intersetoriais (com
Estratégia de Agentes Comunitários Urgência e Emergência lência na atenção básica aces-
destaque dos setores de
de Saúde (Eacs) Unidades de Pronto Atendimento assistência social, da justiça, da se na íntegra: Protocolos da
Núcleos de Apoio à Saúde da (UPA-24h) segurança pública e da saúde),
Família (Nasf) Centro de Testagem e que “visam a ampliação e a Atenção Básica: Saúde das Mu-
Consultório na Rua (mulher em Aconselhamento (CTA/HIV/AIDS), melhora da qualidade do lheres (2016) - Parte 7 – aten-
situação de rua) Caps, Capsi, Caps-AD atendimento, a identificação e ao
enca-minhamento adequado das ção às mulheres em situação
mulheres em situação de de violência sexual e/ou domés-
Rede Intersetorial violência e a integralidade e a
humanização do atendimento”. tica/intrafamiliar - págs 214 a
Ligue 180 - Central de Atendimento à Mulher
Casas de Aconhelhimento Provisório 231 <http://189.28.128.100/
Núcleo Especializado de Defensoria Pública Os serviços da Rede de Saúde
ONG - Organizações não-governamentais compõem a Rede de Atendimento dab/docs/portaldab/publicacoes/
Casas-abrigo às Mulheres em Situação de
Violência e devem esgotar todos protocolo_saude_mulher.pdf>
Delegacia de Polícia
IML - Instituto Médico Legal os recursos disponíveis para
Casa da Mulher Brasileira oferecer a Atenção Integral às
Mulheres em Situação de
Cras - Centro de Referência de Assistência Social 4.2 Como atuar em rede para atenção a
Violência desde o acolhimento
Creas - Centro de Referência Especializado de Assistência Social violência
com escuta qualificada até o
Deam - Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher
monitoramento/seguimento das
Ouvidoria da Secretaria de Políticas para as Mulheres Todos os serviços devem realizar o acolhimento
mulheres na Rede de
Disque 100 - Disque Denúncias Nacional de Violência Sexual
Atendimento, fortalecendo a de mulheres em situação de violência doméstica
Juizados Especializados de Violência Doméstica e Familiar
integração entre os serviços que
Promotoria Especializada do Ministério Público e, a partir da escuta, realizar o atendimento.
compõem a rede.
Centros de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Rua
Cada serviço tem uma função diferenciada a
Fonte: Brasil (2016, p. 226). desempenhar na rede de atenção. Na área da

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situação de violência

saúde, para a violência doméstica, consideram- coletivos em situação de vulnerabilidade, este aquelas com necessidades decorrentes do uso
se as equipes da Atenção Básica como ponto tipo de abordagem pode ser aplicada nos casos de álcool e outras drogas, em sua área territorial,
essencial da rede pela possibilidade de de violência doméstica contra mulher. Muitas seja em situações de crise ou nos processos
identificação das situações de violência e apoio destas equipes têm profissionais psicólogos de reabilitação psicossocial. Os serviços de
à mulher na quebra do silêncio e na elaboração, com importante contribuição a dar, não somente urgência e emergência podem ser referenciados
junto a ela, de um plano de cuidados. Ressaltamos no apoio às mulheres, mas também no apoio nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) ou
que a saúde não condiciona o atendimento ao à equipe para suportar a carga de sofrimento em hospitais. Entre as situações que demandam
boletim de ocorrência imposta pelo trabalho na atenção às pessoas em atendimento de urgência e emergência estão
A articulação pode ocorrer entre os profissionais situação de violência. O apoio e as discussões especialmente as violências físicas e sexuais.
que atuam na Equipe de Saúde da Família (ESF) em reuniões de equipe possibilitam trabalhar a Alguns municípios têm também serviços
e as equipes dos Núcleos Ampliados de Saúde saúde mental dos profissionais de saúde. especializados na área da saúde para a
da Família (NASF), que trabalhando de forma Outras possibilidades de articulação dentro atenção a mulheres em situação de violência.
interdisciplinar podem utilizar estratégias do setor saúde, acontecem nos Centros de Nestes serviços atuam profissionais médicos,
de fortalecimento do cuidado ampliado às Atenção Psicossocial (CAPS) ou com serviços enfermeiros, psicólogos, entre outros, como
mulheres em risco ou situação de violência, de atendimento de urgência/emergência. O parte da equipe de referência para elaboração
por meio da estratégia do Projeto Terapêutico CAPS é constituído por equipe multiprofissional, de plano de cuidados e acompanhamento. Entre
Singular (PTS). Este Projeto é um movimento que atua sobre a ótica interdisciplinar, realiza esses serviços, os hospitais tem a função de
de co-produção de problematização e de co- prioritariamente atendimento às pessoas com atender às mulheres em situação de violência
gestão do processo terapêutico de indivíduos ou sofrimento ou transtorno mental, incluindo e realizar interrupção da gestação nos casos

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situação de violência

previstos em lei, como o estupro, por exemplo. serviços públicos existentes no município, que precisam se afastar de casa por sofrerem
Para além da saúde, outros serviços de no CREAS também se oferece informações, ameaças e correrem risco de morte. Elas podem
atendimento precisam fazer parte da rede, dentre orientação jurídica, apoio à família, apoio no ser acolhidas com seus filhos em domicílios
eles os da assistência social, da segurança e da acesso à documentação pessoal e estímulo à com seu endereço protegido.
justiça. mobilização comunitária (BRASIL, 2015). Na Segurança Pública, as Delegacias
Na assistência social, os Centros de Referência Figura 8 - CREAS Especializadas no Atendimento às Mulheres
Especializados de Assistência Social (CREAS) (DEAM) em situação de violência compõem a
são unidades públicas da política de Assistência estrutura da Polícia Civil, órgão integrante do
Social onde são atendidas famílias e pessoas Sistema de Segurança Pública de cada estado.
que estão em situação de risco social ou À Polícia Civil compete as ações de prevenção,
tiveram seus direitos violados. A unidade deve, registro de ocorrências, investigação e repressão
obrigatoriamente, ofertar o Serviço de Proteção Fonte: Creas de atos ou condutas baseadas no gênero que
e Atendimento Especializado a Famílias e Ainda no âmbito da assistência social está configurem crime e infrações penais cometidos
Indivíduos (PAEFI), podendo apresentar outros o serviço de Acolhimento Provisório para contra mulheres. Devem ser feitas por meio
serviços, como Abordagem Social e Serviço Mulheres em Situação de Violência. Oferece de acolhimento com escuta ativa, realizada
para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas acolhimento provisório para mulheres adultas preferencialmente por delegadas e/ou por
famílias. Além de orientar e encaminhar para que tenham sofrido violência doméstica, equipe de agentes policiais profissionalmente
os serviços da assistência social ou demais sofrimento físico, sexual, psicológico ou moral, qualificados e atentos ao fenômeno da violência

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Rede de atenção às mulheres em
situação de violência

de gênero, nos termos da Lei Maria da Penha. As O estado do Piauí implantou um aplicativo para serviços públicos de saúde, de educação, de
Polícias Civil e Militar deverão atuar dentro de sua celular denominado Salve Maria para denúncias assistência social e de segurança, entre outros.
esfera de competência constitucional e buscar a de violência doméstica pela população, de Cabe a este serviço fiscalizar os estabelecimentos
sinergia do ponto de vista técnico e operacional, forma sigilosa, por via de mensagens. públicos e particulares de atendimento à mulher
bem como a integração no atendimento e No Sistema de Justiça, toda mulher vítima em situação de violência doméstica e adotar as
encaminhamento das ocorrências envolvendo de violência doméstica tem direito à medidas administrativas ou judiciais cabíveis no
mulheres em situação de violência. Isso significa assistência judiciária da Defensoria Pública, tocante a quaisquer irregularidades constatadas.
que, quando do atendimento de uma ocorrência independentemente do nível de renda. Na Ao Juiz cabe a expedição de medida protetiva
por parte da Polícia Militar, esta deve conhecer e defensoria, as mulheres podem acessar à vítima de violência. Pode ser a determinação
encaminhar a mulher vítima de violência à DEAM orientações sobre os direitos que lhes são da prisão preventiva do agressor, bem como
mais próxima de sua residência ou do local do assegurados (integridade, guarda de filhos, pensão seu comparecimento obrigatório a programas
fato (BRASIL, 2010). alimentícia, acesso a programas sociais etc.) e de reeducação (INSTITUTO PATRICIA GALVÃO,
Estados e ONGs tem buscado novas tecnologias as situações que podem levar à prisão do autor 2018).
e estratégias para o cuidado às mulheres da violência, encaminhamento a atendimento Acompanhe na figura a seguir como todos
e desenvolvido ações para apoio a elas no psicossocial, entre outras atribuições. Ao esses serviços se articulam para prever
momento da emergência, como por exemplo Ministério Público cabe representar a sociedade estratégias de enfrentamento da violência
o desenvolvimento de aplicativos que podem na denúncia e busca de responsabilização cível e contra as mulheres.
ajudar esta mulher no momento da violência, criminal do agressor, solicitar medidas protetivas
acionando a rede de proteção em defesa da mulher, requisitar força policial e

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Rede de atenção às mulheres em
situação de violência

Figura 9 - Pacto nacional pelo enfrentamento à violência contra as mulheres Para as adolescentes de 10 a 18 anos de idade, a
atuação dos Conselhos Tutelares faz parte da rede
Articulação entre os serviços de enfrentamento de violência contra as mulheres
de atenção. O Conselho Tutelar é órgão permanente
Assistência Social Segurança Pública e autônomo, não jurisdicional, encarregado
Polícia Rodoviária Federal pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos
Centro de Referência Núcleo/
de Assistência Social Ligue Posto/Seção Instituto Médico Legal
Casa Abrigo 180
direitos da criança e do adolescente. Em cada
[CRAS] de Atendimento à
Polícia Civil município deverá ter pelo menos um Conselho
Mulher
Centro de Referência Centro Polícia Federal
Serviços de Especializado de de Referência DEAM - Delegacia Tutelar composto por cinco membros eleitos pela
abrigamento/ Serviço Social de Atendimento Especializada de Polícia Militar
comunidade (BRASIL, 1990).
acolhimento [CREAS] às Mulheres Atendimento à Mulher Bombeiros
Estes são os pontos da rede de atenção às
Defensoria Juizados Núcleo da Serviços não
Pública Especilizados Serviços/Programas mulheres e adolescentes em situação de violência
Mulher Especializados
Ministério Público (casa do de Saúde (hospitais gerais, doméstica que você precisa identificar no seu
Promotorias
Juizado Criminal migrante) Especializados de postos de saúde,
Especilizados local de atuação. Ao identificar, cabe saber quem
Cível Violência Sexual etc.)
Defensorias e Doméstica
Posto de atendimento são os profissionais de referência, contato e como
Especilizadas Ouvidoria Programa de Saúde
humanizado nos da Família atuam, sendo estas informações essenciais para
aeroportos(tráfico de pessoas)
a atuação e articulação em rede de atenção às
Justiça Saúde
mulheres em situação de violência doméstica.
Serviços não especializados

Serviços especializados vinculados à Justiça, Segurança Pública, Assistência Social e Saúde 4.3 Fluxo de atendimento às mulheres em
situação de violência
Serviços especializados de atendimento à mulher vinculados aos organismos de políticas para
as mulheres
Quanto ao fluxo de atendimento, é importante
Fonte: Brasil, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres - SPM. (2010). salientar que todos os serviços devem estar de

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Rede de atenção às mulheres em
situação de violência

portas abertas para o primeiro acolhimento da gravidez. Essa medicação é mais efetiva se for A violência contra adolescentes, com idade de
mulher em situação de violência doméstica. administrada em até 72 horas após o estupro, 10 a 18 anos, de acordo com a legislação
A partir deste acesso, o fluxo na rede vai por isso procurar um serviço de saúde pode brasileira, deve ser comunicada ao Conselho
depender da situação que se apresenta. ser determinante para a saúde da mulher em Tutelar e/ou ao Ministério Público para que
Caso a mulher esteja com lesões físicas ou situação de violência sexual. as medidas protetivas sejam promovidas. Da
tenha sido vítima de violência sexual, e o Além das medicações para prevenção de mesma forma, a violência contra as mulheres
primeiro acesso não ocorreu em serviço de doenças, infecções e gravidez não desejada, a com 60 ou mais anos deverá ser comunicada ao
saúde, deverá ser encaminhada para um serviço mulher vítima de estupro também tem direito Conselho do Idoso ou ao Ministério Público.
que atenda urgência e emergência, onde as a acompanhamento psicológico, cirurgia Para as demais mulheres, o atendimento deve ser
medidas necessárias sejam efetuadas. Caso plástica reparadora (quando for o caso), realizado e a informação sobre os seus direitos
você profissional da saúde da Atenção Básica e encaminhamento para outros serviços previstos na legislação, em especial Lei Maria
receber um caso de violência sexual, medidas especializados. da Penha, deve ser dada pelos profissionais.
precisam ser tomadas imediatamente, conforme Nos casos de gravidez em decorrência de Destacamos que não é necessário o BO para
proposta abaixo: estupro, a mulher tem direito de realizar o qualquer atendimento em saúde.
Em caso de estupro, a primeira medida a aborto e não é obrigatório apresentar boletim de É importante destacar que crime de lesão corporal,
ser tomada é buscar um serviço de saúde, ocorrência para o atendimento na saúde. (Art. conforme Art. 129 do Código Penal Brasileiro,
preferencialmente uma Unidade Hospitalar. 128 do Código Penal - Decreto-Lei nº 2.848/ não é passível de retratação pela vítima, por ser
É lá que a mulher em situação de violência 1940 e Norma Técnica “Prevenção e Tratamento um crime de ação penal incondicionada. Em
sexual receberá os cuidados necessários, dos Agravos Resultantes da Violência Sexual outras palavras, se for lesão corporal não há
como o tratamento de lesões, prescrição Contra Mulheres e Adolescentes”, Ministério da como retirar o caso e nem extinguir a punibilidade,
de medicação para prevenção de infecções Saúde, 2012) pois a vontade de justiça é do Estado e não
sexualmente transmissíveis e para prevenção da precisa de representação da vítima.

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Rede de atenção às mulheres em
situação de violência

Figura 10 – Lei Maria da Penha: 12 anos Violência: Definições e Tipologias de Referência para Atenção Integral às pessoas
< http://violenciaesaude.ufsc.br/files/2015/12/ em situação de violência sexual
Definicoes_Tipologias.pdf>
Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003,
Políticas Públicas no Enfrentamento da que estabelece a notificação compulsória, no
Violência território nacional, do caso de violência contra
< http://violenciaesaude.ufsc.br/files/2015/12/ a mulher que for atendida em serviços de saúde
Politicas-Publicas.pdf> públicos ou privados
< h t t p : / / w w w. p l a n a l t o . g ov. b r / c c i v i l _ 0 3 / l e i s /
Fonte: http://manager.vidabancaria.com.br/files/Imagens/Logos/ Violência e Perspectiva Relacional de Gênero
Logo%20lei_maria_da_penha.jpg 2003/l10.778.htm>
< http://violenciaesaude.ufsc.br/files/2015/12/
O encaminhamento para assistência social
Genero.pdf> Portaria De Consolidação Nº 5, De 28 De
deve ocorrer quando a mulher estiver em
Setembro De 2017. Consolidação das normas
situação de vulnerabilidade social. O serviço Redes de Atenção à Violência
sobre as ações e os serviços de saúde do
social é responsável por assegurar o acesso < http://violenciaesaude.ufsc.br/files/2015/12/
Sistema Único de Saúde.TÍTULO V - Da Atenção
a casas-abrigo e serviços de proteção à vida; Redes.pdf>
A Agravos Específicos; CAPÍTULO VII Do
cadastramento da mulher em programas sociais
Atenção a Homens e Mulheres em Situação de Serviço De Atenção Às Pessoas Em Situação
de alimentação, educação, emprego e renda.
Violência De Violência Sexual; Seção II Do Procedimento
Recomendações de Leituras Complementares < http://violenciaesaude.ufsc.br/files/2015/12/ de Justificação e Autorização da Interrupção da
Caso você tenha interesse em continuar Atencao-1.pdf> Gravidez nos Casos Previstos em Lei.
estudando sobre essa temática, acesse o < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
Principais legislações e normativas que são
link de alguns módulos sobre violência por gm/2017/prc0005_03_10_2017.html>
referências para a estruturação dos Serviços
parceiros íntimos. substitui a Portaria nº 1.508, de 1º de setembro de

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Rede de atenção às mulheres em
situação de violência

2005. Dispõe sobre o Procedimento de Justificação Portaria De Consolidação Nº 5, De 28 De Portaria nº 618, de 18 de julho de 2014, que altera
e Autorização da Interrupção da Gravidez nos Setembro De 2017. Consolidação das normas a tabela de serviços especializados do Sistema
casos previstos em lei, no âmbito SUS sobre as ações e os serviços de saúde do de Cadastro Nacional de Estabelecimentos
< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ Sistema Único de Saúde. TÍTULO V - Da Atenção de Saúde (SCNES) para o serviço 165 Atenção
gm/2005/prt1508_01> A Agravos Específicos; CAPÍTULO VII Do Integral à Saúde de Pessoas em Situação de
Serviço De Atenção Às Pessoas Em Situação Violência Sexual e dispõe sobre regras para seu
Lei nº 12.845, de 1º de agosto de 2013, que
De Violência Sexual ; Seção I Da Organização do cadastramento
dispõe sobre o atendimento obrigatório e integral
Serviço de Atenção às Pessoas em Situação de < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
de pessoas em situação de violência sexual no
Violência Sexual sas/2014/prt0618_18_07_2014.html>
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)
< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- Portaria nº 2.415, de 7 de novembro de
gm/2017/prc0005_03>
2014/2013/lei/l12845.htm> 2014 que inclui o procedimento Atendimento
substitui a Portaria nº 485, de 1º de abril de
Multiprofissional para Atenção Integral às
Decreto nº 7.958, de 13 de março de 2013, que 2014, que redefine o funcionamento do Serviço
Pessoas em Situação de Violência Sexual e todos
estabelece diretrizes para o atendimento às de Atenção às Pessoas em Situação de Violência
os seus atributos na Tabela de Procedimentos,
vítimas de violência sexual pelos profissionais Sexual no âmbito do SUS; e Considerando os
Medicamentos, Órteses/Próteses e Materiais
de segurança pública e da rede de atendimento tratados e convenções internacionais e as
Especiais do SUS
do SUS políticas nacionais que tratam do enfrentamento
< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
< h t t p : / / w w w. p l a n a l t o . g ov. b r / c c i v i l _ 0 3 / _ a t o à violência sexual
gm/2014/prt2415_07_11_2014.html>
2011-2014/2013/decreto/d7958.htm> < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
gm/2014/prt0485_01_04_2014.html>

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situação de violência

Norma Técnica: Prevenção e Tratamento Portaria Interministerial nº 288, de 25 de março Norma Técnica: Atenção Humanizada às
dos agravos resultantes da violência sexual de 2015, que estabelece orientações para a Pessoas em situação de violência sexual com
contra mulheres e adolescentes, 2012 organização e integração do atendimento às registro de informações e coleta de vestígios,
< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ vítimas de violência sexual pelos profissionais 2015.
prevencao_agravo_violencia_sexual_mulheres_3ed. de segurança pública e pelos profissionais de < http://www.spm.gov.br/central-de-conteudos/
pdf> saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto publicacoes/publicacoes/2015/norma-tecnica-
à humanização do atendimento e ao registro de versaoweb>
Norma Técnica: Atenção Humanizada ao
informações e coleta de vestígios
Abortamento, 2011 DECRETO Nº 9.603, DE 10 DE DEZEMBRO DE
< http://www.brasilsus.com.br/images/portarias/
< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ 2018 que Regulamenta a Lei nº 13.431, de 4
marco2015/dia26/portinter288.pdf>
atencao_humanizada_abortamento_norma_ de abril de 2017, que estabelece o sistema de
tecnica_2ed.pdf> Portaria nº 1.662, de 02 de outubro de 2015, garantia de direitos da criança e do adolescente
que define critérios para habilitação para vítima ou testemunha de violência.
Norma Técnica: Aspectos Jurídicos do
realização de Coleta de Vestígios de Violência
atendimento às vítimas de violência sexual Orientações para atendimento à saúde da
Sexual no Sistema Único de Saúde (SUS), inclui
– Perguntas e respostas para profissionais de adolescente
habilitação no Sistema de Cadastro Nacional
saúde, 2011 < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
de Estabelecimentos de Saúde (SCNES) e
< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ orientacoes_atendimento_adolescnte_menina.pdf>
cria procedimento específico na Tabela de
aspectos_juridicos_atendimento_vitimas_
Procedimentos, Medicamentos e Órteses, Proteger e Cuidar da Saúde de Adolescentes na
violencia_2ed.pdf>
Próteses e Materiais Especiais (OPM) do SUS Atenção Básica
< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ < http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/
gm/2015/prt1662_02_10_2015.html> publicacoes/saude_adolecentes.pdf>

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Rede de atenção às mulheres em
situação de violência

Cuidando de Adolescentes:Orientações Básicas


para a Saúde Sexual e a Saúde Reprodutiva
< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
cuidando_adolescentes_saude_sexual_reprodutiva.
pdf>

Saúde e sexualidade de adolescentes


< http://portalarquivos.saude.gov.br/images/
PDF/2017/maio/05/LIVRO-SAUDE-ADOLESCENTES.
PDF>

52
Considerações finais

Prezado profissional, com este guia esperamos que você tenha


compreendido que a atenção da equipe de saúde favorece o primeiro contato
com as mulheres em situação de violência, seja no território ou dentro das
Unidades Básicas de Saúde. A complexidade da atenção nesta área exige
que os serviços se articulem em rede de atenção intra e intersetorial. Nesta
rede, é importante a definição dos papéis dos setores envolvidos, como
saúde, assistência social, educação, segurança, permitindo o cuidado e a
proteção social, bem como o seu seguimento em rede, de forma a promover
a atenção integral às mulheres em situação de violência e suas famílias.
Lançamos então, o desafio de você reconhecer a violência como questão
de saúde e de sua competência, realizando o acolhimento, escuta,
identificação, atendimento e possíveis encaminhamentos de acordo com
cada situação. Lembre-se, portanto, que a atenção integral às mulheres em
situação de violência exige atuação interdisciplinar e intersetorial.

53
Referências

ALVES, M. E. R. As moradoras de rua entram em cena: a BRASIL. Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990. Dispõe sobre

violência contra a mulher moradorade rua como uma das o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras

expressões da “questão social”. VI Jornada Internacional providências. Disponível em: <http://www2.camara.leg.

de Políticas Publicas. Disponível em: <http://www.joinpp. br/legin/fed/lei/1990/lei-8069-13-julho-1990-372211-

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eixo7-questoesdegeneroetniaegeracao/pdf/asmoradoras
BRASIL. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar:
deruaentramemcena.pdf>. Acesso em: 27 out. 2018.
orientações para prática em serviço. Cadernos de Atenção

ANTUNES, J. A. Violência doméstica e sexual contra a mulher Básica, n. 8. Brasília, 2001.

negra: a necessidade do recorte racial. Disponível em:


BRASIL. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Ministério
<https://www.editorarealize.com.br/revistas/enlacando/
da Justiça. Norma técnica de padronização das delegacias
trabalhos/TRABALHO_EV072_MD3_SA2_ID432_1805201
especializadas de atendimento às mulheres – DEAMS.
7231124.pdf>. Acesso em: 22 out. 2018.
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