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saúde da mulher
Ângela Cristina Labanca de Araújo
Rachel Rezende Campos
Rede de atenção:
saúde da mulher
Ângela Cristina Labanca de Araújo
Rachel Rezende Campos
Belo Horizonte
NESCON - UFMG
2020
CRÉDITOS
MINISTÉRIO DA SAÚDE Gerente de Tecnologias da Informação (TI):
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na Saúde: Mayra Isabel Correia Pinheiro Produção
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ATUALIZE-SE
Novos protocolos editados por autoridades sanitárias, pesquisas e experiências clínicas indicam que
atualizações e revisões nas condutas clínicas são necessárias. Os autores e os editores desse curso
fundamentaram-se em fontes seguras no sentido de apresentar evidências científicas atualizadas para o
momento dessa publicação. Leitores são, desde já, convidados à atualização. Essas recomendações são
especialmente importantes para medicamentos e protocolos de atenção à saúde.
ISBN: 978-65-86593-03-7
NLM: WA 309
CDU: 396:61
Sumário
Apresentação
Esta disciplina pretende promover uma reflexão sobre o cuidado à saúde da mulher na
perspectiva da Estratégia Saúde da Família, o que implica pensar a mulher para além das suas
dimensões biológicas.
A Unidade Básica de Saúde (UBS) é a porta de entrada do Sistema Único de Saúde no Brasil e
a mulher, quando gestante ou na suspeita de gravidez, ocupa um lugar prioritário nas agendas
na UBS.
Além desse período gestacional, a mulher atravessa diferentes fases em sua vida e, para cada
uma delas, necessita de um cuidado, devido ao risco inerente a cada fase, ora com maior ou
menor risco, mas com necessidades reais de atenção em sua saúde.
UNIDADE 1
Seção 1
Alguns aspectos e dados são básicos para caracterizar a vida da mulher na sociedade. Em
razão da transversalidade e amplitude, um deles movimenta e dimensiona quaisquer outros:
mulheres e homens são sujeitos sociais. A partir dessa premissa, a categoria gênero, porque
agrega o conjunto de relações sociais, de atitudes, de papéis, de atributos e de crenças que
na sociedade caracterizam o masculino (homem) e o feminino (mulher), firma-se como
paradigma de escolha para configurar a situação e a dinâmica da vida da mulher: afinal, que
vida é esta?
É nesse contexto que vêm sendo definidas e desenvolvidas em, praticamente, todo o mundo
e em todas as áreas, ações afirmativas focadas na situação e nas condições de vida da mulher.
Protagonista nesse processo, em 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu oito
objetivos internacionais de desenvolvimento para o ano de 2015, denominados “Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio”, em que estão incluídos: saúde da gestante, promoção da
igualdade de gênero e empoderamento das mulheres. Dado o potencial extensivo dessa
definição, ainda em 2010, foi aprovada e criada pela Assembleia Geral da ONU a “Entidade
das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e Empoderamento da Mulher”, identificada
e distinguida como “ONU Mulheres”. Entre as principais áreas temáticas da “ONU Mulheres”
estão: liderança e participação política, desenvolvimento econômico e fim da violência contra
as mulheres.
Dados e informações das pesquisas sociodemográficas realizadas pelo IBGE (2018) mostram
que 51,7% da população brasileira (208,5 milhões de habitantes) são mulheres. Nesse
segmento,17,5% estão na faixa etária de até 24 anos, e na faixa etária de 60 anos estão 8,6%,
enquanto, no segmento masculino da população (48,3%), 18,2% estão na faixa etária de até
24 anos e 6,8% na de 60 anos e mais. Esses dados retratam o segmento feminino da população
com menor padrão de juventude e maior expectativa de vida ao nascer.
IMPORTANTE
O registro de dados e informações produzidos na Unidade Básica de Saúde (UBS) é uma das fontes
que alimenta o (Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (SINAN).
• Sífilis - no Brasil, em 2018, a taxa de detecção de sífilis adquirida (não gestantes) foi de 75,8
casos por 100.000 habitantes; detecção de sífilis em gestante foi de 21,4/1000 nascidos vivos,
taxa de incidência de sífilis congênita foi de 9,0/1000 nascidos vivos e a taxa de mortalidade
por sífilis congênita de 8,2/100.000.Esses dados geram preocupação, impondo a necessidade
de estratégias para enfrentamento da Sífilis no país, em especial na atenção primária a saúde
e pelos profissionais das equipes de saúde da família (BRASIL, 2014a; 2015a, 2016b, 2019a).
• HIV e AIDS - No Brasil, entre 2008 a 2018, foi constatada diminuição nas taxas de detecção
de HIV e AIDS. Nesse mesmo período as mulheres representaram 31% dos casos de HIV
notificados no SINAN. A razão de sexos para o ano de 2018 foi de 2,6 (M:F), ou seja, 26 homens
para cada dez mulheres. A principal via de exposição ao HIV para as mulheres é heterossexual
(86,5%), e a maior detecção de AIDS ocorreu em mulheres na faixa etária entre 40 e 44 anos
(20,5 casos/100.000 habitantes). No período de 2008 a 2018 o aumento na taxa de detecção
de HIV em gestantes foi de 38,1% (2,9/1.000 nascidos vivos) provavelmente decorrente da
ampliação do diagnóstico no pré-natal (BRASIL, 2016b; 2019a).
comparativamente, nos anos de 2003 e 2017, constata-se que o Infarto Agudo do Miocárdio
(IAM) é a principal causa, comum aos dois grupos seguida de outras que se distinguem
percentualmente para cada segmento, exceto a “agressão por disparo de arma de fogo”
como uma das cinco primeiras causas de morte para o sexo masculino, por segmento (BRASIL,
2019a) (Figura 2).
Figura 2 - Evolução das taxas de mortalidade pelas principais causas de óbito (por mil hab.),
segundo sexo, em 2003 e 2017, Brasil
Além das causas obstétricas direta, a mortalidade materna ocorre devido a causas relacionadas
com doenças preexistentes ou que se desenvolveram no ciclo gravídico-puerperal e foram
agravadas pelos efeitos fisiológicos da gestação (causas indiretas), dentre elas, a de maior
importância epidemiológica é a doença do aparelho circulatório (BRASIL, 2000; 2019a).
ATENÇÃO!
Razão de mortalidade materna: número de óbitos femininos por causas maternas, por
100 mil nascidos vivos, em determinado espaço geográfico, no ano considerado.
Morte Materna, segundo a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-
10), é a morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação,
independentemente da duração ou da localização da gravidez, devido a qualquer causa
relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não
devida a causas acidentais ou incidentais (BRASIL, 2000).
16
Seção 2
Evidencia hierarquia de poder social, político e econômico, que “reforçam ideologias sexistas,
racistas e classistas” (GIORDANI, 2006 apud ANDRADE, 2009, p 15).
Em cerca de 70% a 80% dos casos a violência contra a mulher o agressor é o parceiro com quem
a mulher mantém relação de afeto. Caracteriza-se por agressividade e coações concretizadas
por ataques físicos, sexuais e psicológicos.
Em todas suas formas a violência contra a mulher resulta em sequelas físicas e psicológicas
o que torna a vítima mais vulnerável a outros agravos, tais como: uso de drogas, doenças
sexualmente transmissíveis, doenças ginecológicas, distúrbios sexuais, depressão e ao suicídio.
Enfrentar a violência contra mulher pressupõe reafirmar cotidianamente os direitos humanos
e sua extensão como direitos sexuais e reprodutivos, a saber (ANDRADE, 2009; BRASIL, 2002;
2009b; 2011b; 2012b):
O desenvolvimento dos direitos humanos e, nesse contexto, as afirmações dos direitos sexuais
e reprodutivos da mulher reportam à revolução Industrial e ao processo de urbanização, nos
séculos XVIII e XIX, quando o termo “feminismo” se firma como expressão dos movimentos
que estruturam, organizam e expandem a luta da mulher por justiça social. Na progressão
dos movimentos feministas, o século XX foi cenário de programas, projetos e eventos que
ampliaram e consolidaram a luta pela igualdade de direitos entre os gêneros (Figura 3).
Década de 1970
Década de 1990
1994
>> Conferência Internacional de População e
Década de 1980 Desenvolvimento (Cairo)
III Conferência Mundial sobre a
Mullher em Nairobi >>Convenção Interamericana para Prevenir, Punir
Erradicar a Violência contra a Mulher.
>> 1995
>> IV Conferência Mundial sobre a Mulher, Beijing.
• 1985 – Realiza-se a III Conferência Mundial sobre a Mulher, em Nairóbi, sob o título
“Conferência Mundial para a Revisão e Avaliação das Realizações da Década das
Nações Unidas para a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz”. Esse evento aprovou
o documento “Estratégias Prospectivas de Nairóbi para o Ano 2000”, que incluía a
diminuição da mortalidade materna em 50% até o ano 2000. Para marcar essa proposta,
foi adotado o termo “Maternidade Segura”. Foram signatários 157 Estados participantes.
• 1994 – a) Conferência Internacional de População e Desenvolvimento do Cairo. Foi o
primeiro encontro internacional de população e desenvolvimento, no qual a centralidade
foi a saúde reprodutiva, sexual e os direitos das mulheres; b) Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém
do Pará/Brasil). Esse evento pautou a proteção aos direitos da mulher e defendeu a
eliminação das situações de violência.
• 1995 - IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em Beijing. Propõe inserir o termo
‘gênero’ para as políticas públicas (ONU MULHERES BRASIL, 2020).
• Lei nº 13.718, de 24 de setembro de 2018. Altera o Código Penal, que passa a tipificar
os crimes de importunação sexual e de divulgação de cena de estupro, além de “tornar
pública incondicionada a natureza da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual
e dos crimes sexuais contra vulnerável, estabelecer causas de aumento de pena para
esses crimes e definir como causas de aumento de pena o estupro coletivo e o estupro
corretivo” (BRASIL, 2018a).
• Implementada a ‘Rede Cegonha’ no Brasil, que propõe novo modelo de atenção à saúde
da mulher e à saúde da criança com foco na atenção ao parto (com adoção das “boas
práticas do parto e não a violência obstétrica”), ao nascimento, ao crescimento e ao
desenvolvimento da criança de 0 aos 24 meses (BRASIL, 2011a).
Quando a variável raça é avaliada, percebe-se que a diferença racial é um marco nos índices
de violência: 60,5% entre as mulheres negras, em comparação com 1,7% em mulheres não
negras, nesse mesmo período (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2019).
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Várias conquistas e proposições definidas nas políticas públicas para a mulher são
concretizadas em ações desenvolvidas na Atenção Primária à Saúde (APS), nos serviços e
Unidades Básicas de Saúde (UBS) pelos profissionais da eSF, que devem estar preparados
para suspeitar e identificar situações de violência, além de realizar o cuidado às mulheres
vítimas de violência, tais como:
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2016b; 2017a; 2017b) define protocolos e orienta como os
profissionais da eSF devem proceder no atendimento à mulher vítima de violência, desde
o momento do acolhimento com escuta qualificada, avaliação da história de violência
(geralmente são situações crônicas), comorbidades e checklist para o exame físico. Cabe
à eSF construir o Plano de Cuidados e, entre outros procedimentos e cuidados, assegurar:
profilaxia de IST, prevenção de gravidez indesejada e demais ações que possibilitam
segurança e apoio às mulheres. É importante destacar que, no caso de gravidez (suspeita ou
confirmada), deve-se considerar a demanda da mulher, mesmo quando ainda adolescente,
inclusive quanto ao uso de anticoncepção hormonal de emergência (Quadro 1).
DEFINITIVOS (ESTERILIZAÇÃO)
Feminino
Masculino (vasectomia)
(ligadura tubária)
TEMPORÁRIOS (REVERSÍVEIS)
Métodos de barreira
Diafragma Preservativo masculino DIU Tcu - 380 A (DIU T de cobre)
Métodos hormonais
Via de
Tipos Apresentação
administração
Combinado (monofásico) - AOC Etinilestradiol 0,03 mg + levonorgestrel 0,15 mg
Minipílulas Noretisterona 0,35 mg
Hormonais orais
Pílula anticoncepcional de
Levonorgestrel 0,75 mg
emergência (AHE)
Enantato de norestisterona 50 mg + valerato de
hormonais Mensais (combinado)
estradiol 5 mg
injetáveis
Trimestrais (progestágeno) Acetato de medroxiprogesterona 150 mg
Fonte: BRASIL, 2016b, p.164.
Roda com os critérios médicos de elegibilidade da OMS para uso de métodos anticoncepcionais
- atualização de 2015 [WHO medical eligibility criteria wheel for contraceptive use - 2015 update].
Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2018. Licença: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.
Disponível em:
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/173585/9789248549250-por.pdf?ua=1.
Cabe ponderar que fatores masculinos respondem por até 40,0% dos casos de infertilidade.
Isso justifica o fato de que ambos – o homem e a mulher parceiros – devem ser avaliados, o
que poderá contribuir para desmistificar que “a culpa” pela infertilidade é sempre da mulher.
Unidade 2
Cuidado à mulher na gestação
e no puerpério
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UNIDADE 2
Nesta unidade estão destacados tópicos do cuidado à mulher no ciclo gravídico puerperal.
Seção 1
Em 2011, no âmbito do SUS, foi instituída a “Rede Cegonha”, uma rede de cuidados com o
propósito de assegurar à mulher “o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada
à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro e ao
crescimento e desenvolvimento saudáveis” (BRASIL, 2011a).
Cabe ressaltar que um dos aspectos que determina a vinculação da gestante ao pré-natal é a
atenção acolhedora, oportuna e qualificada dos profissionais da eSF.
Para diagnosticar gravidez, o Ministério da Saúde (MS) disponibiliza para a rede de serviço de
APS o “Teste Rápido de Gravidez”. Esse exame contribui para a captação precoce de gestante,
na Unidade Básica de Saúde – UBS, e proporcionar o acesso precoce de todas as gestantes do
território ao pré-natal é fundamental para o alcance do sucesso no acompanhamento materno-
fetal.
28
Uma das atribuições dos profissionais da eSF na assistência às gestantes é reconhecer quem são
as gestantes do território ao qual estão vinculadas. Quantitativamente, espera-se que 25% das
grávidas de determinada área apresentem fatores que ofereçam risco à gestação, classificadas
como de alto risco. As demais, que não evidenciam risco de intercorrências no período
gestacional, são consideradas como gestantes normais, de baixo risco ou de risco habitual. A
identificação de intercorrências durante a gestação e ou de fatores de risco, inicialmente não
perceptíveis, podem levar mudanças na classificação de risco, de modo que esse processo é
dinâmico. Vale lembrar que as situações em que as gestantes necessitem ser referenciadas para
a Atenção Secundária de Saúde (serviço especializado em alto risco) não excluem a necessidade
de continuarem acompanhadas pelos profissionais da eSF, na APS.
“Fatores de risco que podem indicar encaminhamento ao pré-natal de alto risco” (BRASIL, 2013).
até o parto. O espaçamento menor das consultas no transcorrer da gestação visa à avaliação
do risco perinatal e das intercorrências clínico-obstétricas mais comuns nos últimos meses
de gravidez. É importante ressaltar que a assistência pré-natal se estende até o parto, não
existindo “alta”. É na consulta de pós-parto que se encerra o processo assistencial do pré-
natal, inclusive com o registro desta finalização no SISPRENATAL WEB.
Destaca-se que, para solicitar exames, principalmente os testes rápidos para sífilis, HIV e
hepatite, os profissionais da eSF devem proceder à abordagem pré-teste na UBS e saber
“como comunicar más notícias”, caso o resultado seja positivo (abordagem pós- teste).
A Secretaria Municipal de Belo Horizonte (SMS/BH) propôs um quadro síntese como checklist,
correlacionando atividades de rotina e exames laboratoriais que devem ser realizados durante
o pré-natal, de acordo com a idade gestacional (Quadro 3).
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SEMANAS DE GESTAÇÃO
PROCEDIMENTOS E EXAMES LABORATORIAIS DE
Até 13 a 21 a 25 a 29 a 33 a 37 a 41
ROTINA NO PRÉ-NATAL* ou
12 20 24 28 31 36 40 mais
Anamnese x x x x x x x x
Peso; inspeção de pele e mucosas; avaliação de edema, PA,
x x x x x x x x
FC e FR
Cálculo da idade gestacional x x x x x x x
Batimentos/frequência cardiofetal x x x x x x x x
Coombs indireto (se Rh negativo) x x x x x x x x
Avaliação do estado nutricional da gestante x x x x x x x x
Avaliação do risco gestacional x x x x x x x x
Registros no prontuário e na Caderneta da Gestante x x x x x x x x
Terapêutica com sulfato ferroso x x x x x x
Investigação de violência doméstica x x x
Teste rápido para Sífilis x x x
Sorologia para Toxoplasmose x x x
Urina rotina e urocultura x x x
Glicemia de jejum x x
VDRL x x
Hemograma x x
Anti-HIV x x
HBsAg x x
Ultrassom obstétrico x x
Glicemia após dextrosol ** x x
Palpação obstétrica (identificação da situação, posição e
x x x
apresentação fetal)
Exame clínico geral x
Grupo sanguíneo /Rh x
Teste rápido para HIV x
Teste rápido para hepatite ‘B’ x
Eletroforese de hemoglobina x
Consulta odontológica x
Terapêutica de ácido fólico x
Coleta para citopatologia oncótica x
Toque vaginal*** x
Quando necessário/devido intercorrência que X
Encaminhar para a maternidade
justifica o encaminhamento ****
O referenciamento para o serviço de saúde bucal é uma das ações da primeira consulta no pré-
natal para avaliação e, caso necessário, proceder às intervenções odontológicas necessárias e
que podem ser realizadas durante a gestação, considerando a idade gestacional:
A gestante com comorbidades que esteja sem controle adequado deve ser referenciada para
o Centro Especializado em Odontologia ou Atenção Especializada Hospitalar (BRASIL, 2016b;
2018b).
CONDUTAS
• Realizar anamnese e exame clínico visando buscar informações sobre possibilidade de riscos
na gravidez e período gestacional, características da evolução da gestação, existência de alguma
doença ou alteração sistêmica concomitante, elaborando o melhor plano de tratamento possível.
• Avaliar sinais vitais antes do atendimento.
• Evoluir no prontuário da paciente.
MEDICAÇÕES
Outra ação de destaque que deve ser realizada no pré-natal é a avaliação da situação vacinal
da gestante. Idealmente, a atualização da imunização da mulher deve ocorrer na abordagem
pré-gestacional; entretanto, quando a imunização não ocorre nesse período, deve ocorrer no
pré-natal, que é o momento oportuno e essencial para revisar o cartão de vacina e proceder
à vacinação recomendada para proteger a saúde materno-fetal. Consulte o Calendário de
Vacinação da Gestante.
Nos municípios que têm implantada a Academia das Cidades, a presença do educador físico
melhora a adaptação da mulher às alterações próprias do período gravídico-puerperal. Entre
as boas práticas que as gestantes devem realizar, inclui-se a prática de exercícios físicos.
ABSOLUTAS RELATIVAS
Histórico de aborto espontâneo ou parto
Ruptura de membrana e trabalho de parto prematuro
prematuro em gestação prévia
Sangramento persistente no segundo ou terceiro Doença cardiovascular ou respiratória leve/
trimestre/ placenta prévia moderada (exs: hipertensão crônica, asma)
Anemia ou deficiência de ferro (Hb menor que
Hipertensão induzida pela gestação ou pré-eclâmpsia
10g/L)
Desnutrição ou transtorno alimentar (anorexia,
Incompetência istmo-cervical
bulimia)
Evidência de restrição de crescimento intrauterino Gestação gemelar após 28 semanas
Diabetes tipo I, hipertensão ou doença da tireoide não
Outra condição médica significante
controlados
Outras doenças graves: cardiovascular, respiratória
ou sistêmica
Fonte: Adaptado da Secretaria Municipal de Saúde (BELO HORIZONTE, 2019).
A promoção para um “bom parto” inicia-se durante o pré-natal desvendando mitos, acolhendo
e respondendo às dúvidas das gestantes e de seus familiares. Quando uma mulher engravida,
todos ao redor também são influenciados e influenciadores dessa maternidade, principalmente
as avós! Uma estratégia a ser desenvolvida com as gestantes durante o pré-natal é a realização
do “Plano de Parto”. Na Caderneta da Gestante existe espaço para que o “Plano de Parto”
possa ser registrado. Nesse espaço, a gestante pode registrar desejos, preocupações e reflexões
sobre esse momento.
Uma das ações que contribui para promover segurança e ambientação da gestante para o parto
é o direito da grávida ao conhecimento e a vinculação à maternidade na qual será realizado seu
parto e/ou atendimento nos casos de intercorrências durante o pré-natal, parto e puerpério
(BRASIL, 2011a; 2012b; 2013; 2014b).
Além de informar sobre esse referenciamento, os profissionais das equipes das Unidades de
APS podem promover e realizar visita à parturiente na maternidade, como atividade do pré-
natal.
35
Seção 2
Existem situações, menos frequentes, cujo agravamento dos sintomas e dos sinais pode levar
a repercussões na saúde materno-fetal e evidenciar, na realidade, uma entidade nosológica
específica e que demanda cuidados, terapêuticas, encaminhamentos e monitoramento
específicos e oportunos.
NÁUSEAS E VÔMITOS
Considerações: 80% das grávidas têm algum grau de náuseas, com ou sem vômito. Iniciam-se na 6ª
à 8ª semana, com pico na 9ª semana e diminuem até a 18ª semana de gestação. Cerca de 10% das
gestantes têm enjoos até o final da gravidez. Em geral, são mais intensos pela manhã, ao acordar, ou
após jejum prolongado e pioram pela exposição a efeitos “gatilhos”, tais como: estímulos sensoriais
(olfato ou paladar) e de posicionamento. Quando mais graves/intensos, denominam-se “hiperemese
gravídica” (vômitos persistentes, perda de peso maior que 5% do peso anterior à gestação, alteração da
volemia sem outras causas).
Predisposição: grávidas muito jovens, emocionalmente imaturas; gestações não planejadas, dentre
outras possibilidades de instabilidades emocionais.
Sinais de alerta: piora do estado geral, sinais de desidratação, hipovolemia e/ou distúrbios metabólicos.
O que fazer: sugerir mudanças na dieta e no estilo de vida, evitar fatores desencadeantes/gatilhos.
Evitar o estômago vazio, alimentar-se lentamente e em pequenas quantidades, a cada uma a duas horas.
Os líquidos devem ser consumidos pelo menos 30 minutos antes ou depois dos alimentos sólidos.
Consumir alimentos que contenham gengibre; o uso do ácido fólico antes de engravidar ajuda na
prevenção de náuseas e vômitos durante a gravidez. Medicamentos iniciais: Piridoxina (vitamina B6):
meclizina; proclorperazina; metoclopramida. Casos de maior gravidade podem exigir hospitalização
(SMITH; FOX, 2020).
Observação: A Agência de Vigilância Sanitária (2019) emitiu alerta para o risco de ocorrência de
malformações congênitas em filho de mulher que, durante o 1° trimestre de gravidez, fez tratamento
preventivo de náuseas e vômitos com o Cloridrato de Ondansetrona. Recomendação: cautela na
indicação do Cloridrato de Ondansetrona para gestantes no 1º trimestre; quando prescrito para
mulheres em idade fértil, deve ser associado a medidas contraceptivas.
QUEIXAS URINÁRIAS
Considerações: alterações estruturais e funcionais dos rins e do trato urinário, como: aumento no
tamanho do rim, da taxa de filtração glomerular, fluxo plasmático renal; a dilatação dos ureteres e da
pelve renal pode ocasionar a polaciúria (aumento do ritmo miccional) e a nictúria (aumento do ritmo
miccional no período de sono), disúria, urgência e incontinência de estresse. Podem ocorrer mais
alterações fisiológicas na gestação: alcalose respiratória, hiponatremia leve, glicosúria e proteinúria de
até 300 mg/dia, redução na concentração sérica de creatinina (THADHANI,2020).
O que fazer: orientar treinamento muscular do assoalho pélvico, para contribuir com a diminuição
dos sintomas de urgência e incontinência urinária. Realizar solicitações de exame de urina conforme
proposto no checklist do pré-natal.
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Considerações: devem ser excluídas em todas as mulheres em idade fértil com dor abdominal a
ocorrência de gravidez. O simples desconforto abdominal faz parte de uma gravidez normal. Entretanto,
deve ser feito exame obstétrico completo e a definição rápida do diagnóstico, pois pode ser necessária
intervenção de urgência.
Sinais de alerta: associação da dor com sangramento vaginal e hipertensão pode sinalizar gravidade
relacionada à gestação; sinais peritoneais nunca são normais, e a associação com outros sintomas
(febre, dor de cabeça, náuseas e vômitos) requer complementação diagnóstica. Ressalta-se que o estado
gravídico está associado a um risco aumentado de cálculos biliares e com a possibilidade de apendicite,
devido ao fato de o aumento uterino deslocar o intestino.
EDEMA
Considerações: geralmente, surge no terceiro trimestre da gestação; limita-se aos membros inferiores
e, às vezes, às mãos. Piora quando a grávida fica em pé por período prolongado e com a deambulação;
desaparece pela manhã e acentua-se ao longo do dia. A maioria das grávidas edemaciadas exibe
gestação normal.
Sinais de alerta: o edema patológico, em geral, está associado à hipertensão e proteinúria, sendo sinal
de pré-eclâmpsia; deve-se verificar se há cefaleia e escotomas visuais associados.
O que fazer: verificar pressão arterial, realizar proteinúria. Caso seja fisiológico, evitar ficar muito
tempo em pé e levantar os membros inferiores (POMERANZ, 2019).
PIROSE / AZIA
Considerações: decorre do fluxo ácido ou de doença do refluxo gastroesofágico, que tende a piorar
com a evolução da gestação. Os sintomas são referidos como: queimação no peito, na garganta ou sabor
ácido na boca, dor de estômago ou no peito; dificuldade em engolir, rouquidão ou dor de garganta, além
de tosse (BIANCO, 2019).
Sinais de alerta: azia intensa, dor no peito, sintomas que não melhoram com o tratamento, febre, dor
de cabeça. Pensar em avaliar sinais de pré-eclâmpsia quando a azia associa-se a náuseas ou vômitos.
O que fazer: recomendar alimentação fracionada (pelo menos, três refeições ao dia e dois lanches);
evitar líquido durante as refeições e deitar-se logo após as refeições. Ingerir líquido gelado durante a
crise; elevar a cabeceira da cama ao dormir (dormir com travesseiro alto); evitar frituras, café, chá-
mate e preto, doces, alimentos gordurosos e/ou picantes; evitar álcool e fumo – preferencialmente, não
devem ser utilizados durante a gestação. Caso essas medidas não resolvam, avaliar a necessidade do uso
de medicamentos: hidróxido de alumínio ou magnésio, dois a quatro comprimidos mastigáveis após as
refeições e ao deitar-se; bloqueadores H2 e inibidores da bomba de prótons. Grávidas não devem tomar
antiácidos que contenham bicarbonato de sódio e trissilicato de magnésio.
39
O que fazer: orientar que é comum no início da gestação; manter dieta indicada para náuseas e
vômitos; deglutir a saliva e tomar bastantes líquidos (BIANCO, 2019).
FRAQUEZA/ TONTURA/ SÍNDROME DA HIPOTENSÃO POSTURAL/ PALPITAÇÕES
Sinais de alerta: hipotensão arterial e hipóxia cerebral transitória, levando a sintomas de tonturas e
desmaios. Também podem decorrer de hipoglicemia.
O que fazer: orientar que os episódios são de breve duração e intensidade, sem necessidade de
medicamentos. Evitar a inatividade; fazer alimentação fracionada (pelo menos três refeições ao dia e
dois lanches); evitar jejum prolongado; procurar sentar-se e abaixar a cabeça ou deitar-se de decúbito
lateral esquerdo, respirar profunda e pausadamente; evitar ambientes quentes e sem ventilação
adequada; ingerir líquidos; usar meias elásticas para melhorar o retorno venoso.
Sinais de alerta: tosse; edema; história de asma e outras pneumopatias; sinais ou história de trombose
venosa profunda; história de trauma recente; febre.
O que fazer: realizar ausculta cardíaca e pulmonar e, se houver alterações, prosseguir propedêutica.
Solicitar repouso em decúbito lateral esquerdo e elevar a cabeceira (ajuda a resolver o fator mecânico).
INCHAÇO ABDOMINAL / OBSTIPAÇÃO/ CONSTIPAÇÃO INTESTINAL / FLATULÊNCIAS
Considerações: as mudanças hormonais da gestação alteram a mobilidade intestinal, sem repercutir
na adsorção e/ou secreção gastrointestinal. Geralmente está associada a queixas anais como fissuras e
hemorroidas (BIANCO, 2019).
O que fazer: orientar a ingestão de alimentos ricos em fibras; aumentar a ingestão de água para seis a
oito copos/dia (caso não haja nenhuma patologia que a restrinja); evitar alimentos que causem muita
fermentação. Evitar alimentos flatulosos (feijão, grão-de-bico, lentilha, repolho, brócolis, pimentão,
pepino e couve). Fazer caminhadas leves (se não forem contraindicadas). Prevenir fissuras anais (não
usar papel higiênico, usar água e sabão para limpeza após as evacuações). Caso essas medidas não
resolvam, avaliar a necessidade do uso de medicamentos: supositório de glicerina.
40
HEMORROIDA
O que fazer: recomendar dieta rica em fibras, estimular a ingestão de líquidos e, se necessário,
supositórios de glicerina; higiene local com duchas ou banhos após a evacuação; banho de assento
com água morna; usar anestésicos tópicos, se necessário. Observação: tratamentos esclerosantes ou
cirúrgicos são contraindicados. Se ocorrerem complicações como trombose, encaminhar a paciente
para o hospital de referência (BIANCO, 2019).
DORES OSTEOMUSCULARES
Considerações: podem acometer várias estruturas osteomusculares:
• dores lombares decorrentes das adaptações posturais (lordose) e da frouxidão das articulações;
• dor nas mãos e nos punhos: decorrentes de compressão do túnel do carpo;
• dor na sínfise púbica periparto;
• dores musculoesqueléticas;
• dor lombar pós-parto - coccidínia pós-parto (dor no cóccix);
• câimbras: geralmente na 2ª metade da gestação.
Sinais de alerta: febre, mal-estar geral, sintomas urinários, enrijecimento abdominal e/ou contrações
uterinas, déficit neurológico; história de trauma.
O que fazer: orientar a postura ao sentar-se e andar; evitar corrigir a lordose fisiológica; recomendar
o uso de sapatos confortáveis e evitar saltos altos; recomendar a aplicação de calor local, massagens
especializadas e acupuntura; indicar atividades de alongamento e orientação postural; hidratação
aumentada. Se não melhorarem as dores, considerar o uso de medicamentos: paracetamol (500-750
mg), de 6/6 horas. Os opioides devem ser evitados durante a gravidez; orientar a fisioterapia. (BERMAS,
2020).
CEFALEIA
Sinais de alerta: a pré-eclâmpsia deve ser considerada em todas as gestantes acima de 20 semanas
de gestação com dor de cabeça. É considerada precursora da eclâmpsia. Pode estar associada a um
distúrbio grave subjacente (evento neurovascular agudo).
O que fazer: orientar repouso em local com pouca luminosidade e boa ventilação; conversar com a
gestante sobre suas tensões, conflitos e temores; orientar sobre os sinais de alerta, como frequência,
intensidade e outros sintomas associados. Considerar o uso de analgésicos comuns: Paracetamol (500-
750 mg), de 6/6 horas (LEE; GUINN; HICKENBOTTOM, 2019).
41
VARIZES
Considerações: as varicosidades, geralmente, são na safena, na vulva e na hemorroida. Etiologia:
alterações hemodinâmicas e genéticas. Não são evitáveis. A sintomatologia evolui com a gestação
(POMERANZ, 2019).
Sinais de alerta: dor contínua ou ao final do dia; presença de sinais flogísticos; edema persistente.
Valorizar a possibilidade de complicações tromboembólicas.
O que fazer: orientar sobre terapia de suporte; mudar de posição com maior frequência; não
permanecer por muito tempo em pé, sentada ou com as pernas cruzadas; repousar por 20 minutos
com as pernas elevadas, várias vezes ao dia; utilizar meia elástica com suave ou média compressão.
Tratamento específico só no pós-parto.
ESTRIAS
Considerações: lesões dermatológicas devidas à alteração do tecido conjuntivo, que aparecem na
segunda metade da gravidez e se localizam, preferencialmente, no abdome inferior, na região glútea, nas
coxas e nos seios e braços; têm predisposição genética.
O que fazer: não existe método eficaz de prevenção e/ou tratamento; o uso de ácido retinoico é
contraindicado na gestação e na amamentação (POMERANZ, 2019).
MELASMA, CLOASMA GRAVÍDICO
O que fazer: orientar que é comum e que diminui ou desaparece após o parto; evitar exposição
direta ao sol (usar chapéu ou sombrinha), utilizar filtro solar, aguardar o pós-parto para tratamento
medicamentoso (POMERANZ, 2019).
O que fazer: nunca esperar mais de duas horas para buscar serviço de saúde, preferencialmente
assistência obstétrica, se houver parada do movimento fetal. Realizar avaliação clínica obstétrica.
Recomenda-se, a partir de 26 semanas, a realização de “mobilograma” (diário dos movimentos fetais:
pós-café, almoço e jantar; o normal são seis ou mais movimentos em uma hora, em decúbito lateral
esquerdo). Pode ser necessária US com Perfil Biofísico Fetal – PBF (avaliação da atividade fetal,
respiração, tônus e volume de líquido amniótico).
Dependendo da idade gestacional, pode ser necessária a definição do parto, assim proposta:
Sinais de alerta: presença de outras patologias, em especial os distúrbios de coagulação, bem como a
síndrome HELLP (Hemolysis, Elevated Liver enzymes, and Low Platelet count). Casos graves de epistaxe
devem ser encaminhados ao especialista.
O que fazer: recomenda-se escovação dentária delicada, com o uso de escova de dentes macia e fio
dental; orientar a realização de massagem na gengiva; realizar bochechos com soluções antissépticas.
Agendar atendimento odontológico sempre que possível. Em relação à congestão nasal: instilação nasal
de soro fisiológico. Epistaxe: leve compressão na base do nariz (BIANCO, 2019).
PRURIDO
Considerações: pode ser fisiológico, devido ao dermografismo (uma marca transitória geralmente
levantada e avermelhada, resultante da pressão sobre a pele), à urticária ou a dermatoses específicas
da gravidez (colestase intra-hepática da gravidez). Ocorre mais frequentemente no couro cabeludo, no
ânus, na vulva, no abdome (3º trimestre).
O que fazer: exposição ao sol ajuda a aliviar os sintomas; uso de anti-histamínicos (POMERANZ, 2019).
Fonte: adaptado pelas autoras. BRASIL, 2013, 2016b, BERMAS, 2020; BIANCO, 20219; FRETTS, 2020; LEE; GUINN;
HICKENBOTTOM, 2019; POMERANZ, 2019; SMITH; FOX, 2019; THADHANI, 2020; UPT
Cabe ressaltar que alguns sinais e sintomas de alertas na gravidez requerem imediata atitude
e avaliação médica para esclarecimento e resolução. Nessas situações, a classificação risco é
alterada e o profissional deve conhecer a Rede de Atenção à Saúde e referenciar o caso para
serviços de urgência e emergência, preferencialmente obstétrica. São eles:
• sangramento vaginal;
• escotomas visuais, cefaleia, dor epigástrica e edema generalizado;
• perda de líquido e contrações uterinas;
• diminuição e/ou parada da movimentação fetal;
• febre.
Para além das ações de abordagem dos sintomas mais frequentes na gravidez, também existe
a necessidade de que os profissionais da eSF saibam reconhecer as principais intercorrências/
agravos que acometem as gestantes. Os profissionais médicos da eSF, além de realizarem o
diagnóstico, devem saber manejar e, se necessário, conduzir a grávida para outros pontos da
rede de assistência obstétrica, a fim de evitar desfechos negativos materno e/ou fetais.
43
A diabetes mellitus gestacional (DMG) é definida como uma alteração no metabolismo dos
carboidratos, resultando em hiperglicemia de intensidade variável, que é diagnosticada pela
primeira vez ou se inicia durante a gestação, podendo ou não persistir após o parto (BRASIL,
2013). Entre os fatores de risco para DMG, deve-se investigar (BRASIL, 2016b; DURNWALD,
2020):
Atualmente, não existe consenso quanto aos critérios para definição da diabetes mellitus
durante a gestação; apresentamos o protocolo da Secretaria Municipal de Saúde de Belo
Horizonte (2019), conforme Figuras 4 e 5 (BELO HORIZONTE, 2019).
45
Fonte: BELO HORIZONTE, 2019, p. 59-60.Obs: A Associação Americana de Diabetes – ADA e a American College
of Obstetricians and Gynecologists – ACOG consideram normais os níveis, para gestantes, de concentrações de
glicemia de jejum de 95mg/dl glicemia; para uma hora pós-prandial: 140mg/dl; e em duas horas pós-prandial:
120mg/dl (DURNWALD, 2020).
Considera-se hipertensão na gravidez quando a pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 140 mmHg e/
ou a pressão arterial diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg, em pelo menos duas ocasiões, com mínimo
de 4 horas de intervalo. A pressão diastólica deve ser identificada pela fase V de Korotkoff. Em
algumas situações, devido à vasodilatação fisiológica da gravidez, a pressão diastólica pode
aproximar-se de zero. Para avaliação da PA, as pacientes devem estar em repouso e sentadas
em ângulo de 45º, com manguito apropriado à circunferência braquial e na altura do coração.
Quando a PAS ≥ 160 mmHg e/ou PAD ≥ 110 mmHg, configura-se hipertensão arterial grave
(FREIRE E TEDOLDI, 2009).
abrupto da PA, a qual estava estável e controlada com anti-hipertensivo. Pode apresentar
uma forma severa quando associar fatores de gravidade descritos anteriormente.
2.5 Anemias
No caso da Hb entre 8 a 11g/dl, a anemia é considerada leve a moderada, sendo possível ser
avaliada e tratada na APS, pelos profissionais da eSF (médico ou enfermeiro).
Nessa situação, deve-se realizar exame parasitológico de fezes, para diagnóstico de parasitose.
Quando a anemia é ferropriva, a terapêutica deve ser com sulfato ferroso, 200mg/dia,
preferencialmente 30 minutos antes de refeição, com ingesta de suco cítrico.
Quando a Hb é menor que 8g/dl, a situação representa anemia grave e deve-se ampliar a
investigação da etiologia com acompanhamento no serviço de Pré-natal de Alto Risco (PNAR).
Com o advento da Rede Cegonha, foi incorporada aos exames de rotina de pré-natal, na APS,
a eletroforese de hemoglobina. No caso de identificação da Anemia Falciforme, as gestantes
serão encaminhadas ao PNAR.
2.6 Sífilis
A sífilis é uma doença infecciosa sistêmica, causada pelo reponema pallidum, de transmissão
sexual ou vertical, que pode causar, respectivamente, a forma adquirida ou congênita da
doença. A sífilis é um agravo de notificação compulsória: na forma de sífilis congênita, em
gestante e adquirida (em não gestante). Quando se realiza o diagnóstico de sífilis na gestação,
a intervenção deve ser imediata; quanto mais rápida a intervenção, menor será a possibilidade
de transmissão vertical. A infecção do feto depende do estágio da doença na gestante; quanto
mais recente a infecção materna, maior é o risco de comprometimento fetal. É necessário
que os profissionais da eSF conheçam e suspeitem da possibilidade de sífilis e ofereçam a
testagem. Os testes treponêmicos compreendem: o teste rápido (TR), o FTA-Abs, o TPHA, o
EQL e o ELISA. O exame VDRL é não treponêmico. O resultado dos exames, especialmente do
teste rápido e do VDRL, vai orientar a terapêutica e o monitoramento a ser realizado.
O tratamento da sífilis é proposto de acordo com a fase clínica da doença (BRASIL, 2015a;
2016b; 2017a; 2017b):
• Sífilis primária, secundária e latente precoce (um ano de possível infecção): dose total de
penicilina benzatina, 2.400.000 UI, em dose única (1.200.000 UI em cada glúteo).
• Sífilis tardia, latente tardia (um ano de possível infecção ou duração ignorada): penicilina
benzatina 2.400.000 UI, intramuscular, semanal (por três semanas), sendo a dose total de
7.200.000 UI.
50
• Se teste rápido e/ou VDRL for não reagente/negativo, repetir o teste rápido e/ou o
VDRL no 3º trimestre da gestação (28ª semana), assim como no parto e em caso de
abortamento.
• Teste rápido reagente/positivo: solicitar VDRL, retorno em sete dias com este exame e
iniciar tratamento da sífilis. Não esperar o resultado do VDRL para iniciar a terapêutica.
• Se VDRL positivo verificar titulação, que será importante para monitoramento
terapêutico da gestante no pré-natal e completar a terapêutica.
• Se parceiros com testes positivos, tratar conforme fase clínica da doença. Na situação de
parceiro com teste negativo, dose profilática de penicilina benzatina (2.400.000 UI) dose
única. Repetir o exame em 30 dias.
• A terapêutica inicial da sífilis, quando na fase recente, pode desencadear a reação de
Jarisch-Herxheimer (exacerbação das lesões cutâneas e a presença de febre, adinamia,
artralgias, mialgia, com regressão espontânea em 12 a 48 horas). Não é necessário
interromper o tratamento, pois não se trata de efeito colateral da penicilina.
• A penicilina é a única droga treponemicida que atravessa a barreira placentária e trata
a gestante e o feto; por isso, grávida com história de alergia à penicilina deve realizar a
dessensibilização em serviços que ofereçam essa alternativa.
• Outra possibilidade farmacológica para terapêutica da sífilis: ceftriaxona 1g, IV ou IM,
uma vez ao dia, por oito a 10 dias (gestantes e não gestantes).
2.7 Vulvovaginites
Na gestação, as vulvovaginites mais frequentes são a candidíase, a vaginose bacteriana e a
tricomoníase, sendo esta última de transmissão sexual. O tratamento da vaginose em pacientes
sintomáticas e da tricomoníase são importantes devido ao risco de complicações como rotura
prematura de membranas, parto prematuro, infecção puerperal, entre outras (CAMARGOS;
MELO, 2016b). O diagnóstico faz-se através do exame da genitália da gestante, por isso é
importante conhecer os sinais e sintomas para que o tratamento seja efetivo (BRASIL, 2015).
• Candidíase vaginal – cursa com prurido na vagina e, às vezes, na vulva, que piora à noite;
exacerba-se com o calor local; associa-se a edema, rubor, fluxo genital esbranquiçado,
grumoso, variando de espesso a aquoso, branco, aderente, tipo nata de leite, escoriações
na vulva (devido ao prurido vulvar). Pode cursar com dor na relação sexual (dispareunia)
e dor no ato da micção (disúria).
• Gardnerella vaginalis – ocorre sem prurido, sem irritação vulvar; ao exame especular,
a mucosa vaginal é normal, sem eritema, corrimento branco-acinzentado, homogêneo,
fino, com pequenas bolhas e odor de pescado; o odor se dispersa com o teste KOH a 10%.
• Tricomoníase – 50% das gestantes são assintomáticas. Quando apresentam sintomas,
podem ter irritação/prurido vulvar (sintoma variável, pode provocar eritema na vulva
e no períneo), dor para urinar (com exame de urina rotina e urocultura normais) e dor
na relação sexual, prurido leve na vagina, com odor ou não; ao exame especular, o
corrimento é amarelo-esverdeado, espumoso.
√ Clindamicina óvulos, como tratamento alternativo via intravaginal: 100 mg, 1xdia,
por três dias, ou metronidazol gel 0,75%, 1 aplicador 1xdia, por cinco dias.
2.8 Toxoplasmose
A toxoplasmose aguda na gestação constitui infecção importante pela sua transmissão
vertical e possibilidade de determinar um espectro amplo de acometimentos que vão desde
o abortamento, óbito fetal, a alterações neurológicas infantis, dentre outras.
Figura 6 - Toxoplasmose na gestação: fluxograma de condutas com base nos resultados sorológicos
TOXOPLASMOSE
Susceptível Espiramicina
Imune > 16 semanas ≤ 16 semanas
Baixa
Sorologia IgG - IgG +
Desnecessário 2/3 meses
Alta
nova sorologia
PN UBS
Espiramicina*
* Espiramicina 500mg 2 comprimidos de 8/8 horas. PNAR
• Teste de Avidez para Toxoplasmose deve ser realizado no primeiro trimestre de gestação
para gestantes com IgG e IgM positivas.
• Na infecção aguda, os anticorpos ligam-se fracamente ao antígeno, o que acarreta baixa
avidez.
• Na fase crônica, menos de quatro meses de gestação, tem-se alta avidez.
• Os valores de referência para o teste de avidez:
• Lavar as mãos (com água e sabão) antes de manusear os alimentos, após usar o banheiro
e ao mexer com terra ou areia.
• Comer carne bem cozida e bem passada.
• Lavar bem os utensílios domésticos que usou para cortar a carne crua. Manusear carnes
cruas com luvas.
• Somente beber água tratada/filtrada ou fervida.
• Lavar bem as frutas, verduras ou legumes. Sugestão: deixar as frutas e verduras de
molho por aproximadamente 15 minutos (diluir uma colher de sopa de água sanitária
em um litro de água filtrada).
• Beber leite pasteurizado ou fervido.
• Evitar locais com presença de dejetos de pombos e aves em geral.
• Proteger os alimentos de moscas e baratas.
• Caso tenha gato em casa, siga as seguintes orientações: não lhe dê carne para comer;
alimente-o com ração; não limpe a caixa de areia do seu gato. Peça para outra pessoa
fazê-lo ou use luvas.
54
Quadro 7 - Comparação da frequência dos principais sinais e sintomas ocasionados pela infecção
pelos vírus da Dengue, Chikungunya e Zika
ARBOVIROSES / SINAIS E
DENGUE ZIKA CHIKUNGUNYA
SINTOMAS
Surge no 1° dia ou 2°
Mancha na pele Surge a partir do 4° dia, Surge no 2°- 5° dia,
dia, em 90-100% dos
(frequência) em 30-50% dos casos. em 50% dos casos.
casos.
Dor nos músculos
3+/3+ 2+/3+ 1+/3+
(frequência)
Dor na articulação
1+/3+ 2+/3+ 3+/3+
(frequência)
Frequente / moderado
Edema articular Raro Frequente e leve
a intenso
Conjuntivite Rara 50 a 90% dos casos 40%
Cefaleia (frequência e
3+ 2+ 2+
intensidade)
Prurido Leve Intenso Moderado
Hipertrofia ganglionar
Leve Intensa Moderada
(frequência)
Discrasia hemorrágica
Moderada Ausente Leve
(frequência)
O aparecimento de doença exantemática, durante a gestação, não representa sempre que seja
infecção pelo vírus Zika e que resultará em microcefalia. Todas as patologias com possibilidade
de exantema devem ser investigadas, tais como Z-STORCH: sífilis, toxoplasmose, rubéola,
citomegalovírus, entre outros. Entretanto, em todos os casos de gestantes com exantema
maculopapular, com ou sem sintomas associados, descritos no quadro 7, deve-se suspeitar
da infecção pelo vírus Zika. Caso esteja dentro dos primeiros cinco dias, é indicado coletar
material para exame (sangue e urina) para realizar PCR para Zika.
A partir do sexto dia, deve-se realizar teste sorológico para Zika. Deve-se realizar coleta de
urina para a realização de PCR para Zika em todas as gestantes com suspeita entre o primeiro
e o 15º dia de sintomas. As gestantes com diagnóstico confirmado laboratorialmente para o
vírus Zika ou com diagnóstico ultrassonográfico de microcefalia e/ou outras malformações
deverão ser encaminhadas para pré-natal de alto risco. Ressaltamos que a infecção pelo vírus
Zika é de notificação imediata (BELO HORIZONTE, 2019).
A identificação do vírus Zika na urina, no leite materno, na saliva e no sêmen servem para
diagnóstico da doença, mas não se tem demonstrado que essas vias sejam importantes para
a transmissão do vírus para outra pessoa (BRASIL, 2016b).
A mulher com infecção pelo Zika pode amamentar, pois não está descrita transmissão pela
amamentação, mesmo que se tenha detectado o vírus no leite materno (LOCKWOOK; ROS;
NIELSEN- SAINENES, 2020).
Os profissionais da eSF devem saber orientar as mulheres e os casais que desejam engravidar
sobre a prevenção da infecção pelo vírus Zika durante a gravidez, principalmente no primeiro
trimestre. Essas orientações incluem (BELO HORIZONTE, 2019):
As mulheres, durante todo o ciclo gravídico puerperal, estão sujeitas a alterações psíquicas,
que podem variar em um espectro que vai da ansiedade, do medo, da tristeza a alterações
com sofrimento mental grave. Associadas a essas alterações, há alterações prévias do humor
em gestantes em uso de medicações ou não. Dessa forma, os profissionais da eSF devem,
conjuntamente com o Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB),
com os Centros de Referência de Saúde Mental adulto e infantil (esse último para casos das
adolescentes), com os serviços de urgência e de pré-natal de alto risco, constituírem rede de
atenção e apoio às gestantes com sofrimento mental.
É importante conhecer a variante clínica do sofrimento mental nas grávidas, assim como
as possibilidades terapêuticas não medicamentosas (psicoterapia) e as farmacológicas. Os
inibidores seletivos da recaptação de serotonina (SSRI) destacam-se pela grande frequência
com que têm sido usados em mulheres grávidas ou em idade fértil; por isso, é importante
conhecer os efeitos materno-fetais. A fluoxetina, o citalopran e a sertralina não apresentam
relação com malformação congênita maior, exceto a paroxetina com possibilidade de defeito
congênito cardiovascular. Todas apresentaram possibilidade de hemorragia pós-parto
(STEWART; VIGOD, 2018).
Atualmente, outro grupo de drogas que também tem sido utilizado nas mulheres são os
inibidores da recaptação de dopamina. A bupropiona, por exemplo, pertence ao grupo de
drogas cujos efeitos são ainda desconhecidos, podendo ser preocupantes.
Esse é o agravo mais frequente na gestação e pode determinar desfechos ruins para a
gestação como: parto prematuro, amniorrexe prematura, baixo peso ao nascer, infecção
neonatal, mortalidade perinatal. No quadro infeccioso do trato urinário, três situações devem
ser consideradas e prontamente tratadas (HOOTON; GUPTA, 2019):
antibiograma. Em 30 a 40% desses casos, as alterações irão evoluir para ITU. Proposta
de tratamento:
• Nitrofurantoína: 100 mg, de 6/6 horas, por 10 dias (evitar no primeiro trimestre e
após a 36ª semana de gestação);
• Cefalexina: 500 mg, de 6/6 horas, por sete a 10 dias;
• Amoxicilina-clavulanato: 500 mg, de 8/8 horas, por sete a 10 dias.
Outra situação que também ocorre é ITU recorrentes em mulheres grávidas após terem
relações sexuais; nessa situação, está indicada a profilaxia pós-coito com uma dose única pós-
coito de cefalexina (250 mg) ou nitrofurantoína (50 mg).
58
Seção 3
Cuidado à puérpera
O puerpério compreende a etapa fisiológica que se inicia após o parto. Esse período requer
dos profissionais da eSF cuidados específicos, centrados e singularizados para cada puérpera
e seu recém-nascido.
A involução uterina ocorre imediatamente após o parto, e o útero logo atinge a cicatriz
umbilical. Regride um cm/dia, até tornar-se pélvico em mais ou menos 10 dias, quando o colo
já não se apresenta mais pérvio ao toque. Após quatro semanas, o útero alcança o tamanho
não gravídico.
• Avaliação imediata após o parto: aferição dos dados vitais e da temperatura; avaliação
de lóquios e do útero. O estímulo à deambulação precoce ajuda na redução de
complicações vesicais, de constipação intestinal e atua na prevenção de fenômenos
tromboembólicos.
• Na alta hospitalar: a puérpera deve ser orientada da possibilidade de alterações, como:
febre, lóquios aumentados e fétidos, sinais de infecção nos pontos da cesárea ou da
episiotomia. Nessas situações, há necessidade de retorno imediato à maternidade ou
ida ao serviço de saúde mais perto e/ou de vinculação.
• Primeira Semana de Saúde Integral (PSSI): nesta semana, recomenda-se aos profissionais
da eSF uma visita domiciliar. Caso o recém-nascido seja classificado de risco, a visita
deverá acontecer nos primeiros três dias após a alta. Deve ser incentivado no pré-
natal, na maternidade e pelos agentes comunitários de saúde, o retorno da mulher e
do recém-nascido ao serviço de saúde, entre sete a dez dias após o parto. Na primeira
semana do puerpério, alguns sinais e sintomas devem ser monitorados:
√ Níveis pressóricos elevados: PAS ≥ 160 e/ou PAD ≥ 110 mmHg. Nessa situação,
a puérpera deverá ser encaminhada para a maternidade de referência;
Dentre os agravos mais frequentes do período puerperal, os quais as equipes da rede de APS
devem investigar, acompanhar e monitorar, estão as infecções puerperais que podem ocorrer
no útero, na ferida cirúrgica, na vagina e na mama (BERENS, 2020):
O médico e/ou enfermeiro da eSF, ao suspeitar e/ou diagnosticar essa patologia – endometrite
– deve encaminhar a puérpera à maternidade de referência para prosseguir propedêutica e
terapêutica (antibioticoterapia venosa inicial).
Também no puerpério, uma das condições que comumente aflige as mulheres são os
transtornos do humor. Os profissionais da eSF devem estar atentos e preparados para
identificar se a puérpera está passando por sofrimento mental, de depressão a tristeza. Nessa
situação, a mulher deve ser acolhida, apoiada e acompanhada, inclusive por um processo
terapêutico multidisciplinar. As variantes clínicas do transtorno de humor no pós-parto,
geralmente, são (BRASIL, 2013):
É importante informar a gestante sobre o colostro, mostrando que ele proporciona benefícios
para a saúde do recém-nascido. Deve-se tranquilizar a mãe quanto ao leite materno, que
poderá iniciar-se a partir do primeiro ao quinto dia de puerpério.
Uma ação básica das equipes das unidades e serviços de APS é incentivar a doação de leite
humano. Entretanto, essa doação deve ser realizada por meio de “Bancos de Leite Humano”
ou de “Postos de Coleta de Leite Humano” que apresentam recursos e seguem normas e
protocolos para viabilizar o procedimento, garantindo a segurança sanitária do leite humano
ordenhado.
Para sintetizar as orientações descritas nesta unidade, é didático conhecer a linha de cuidado
materno-infantil proposta em Belo Horizonte (2019), a qual permite aos profissionais da eSF
avaliar ações que o serviço, ao qual estão vinculados tem desenvolvido e propor adequações,
se necessário (Quadro 8).
64
Pré-Natal
Saúde Sexual e
(Seguir calendário de consultas e exames segundo Maternidade Cuidado Pós Natal
Reprodutiva
protocolo municipal)
• Avaliar sinais de
alerta.
PRÉ-NATAL DE ALTO RISCO (PNAR) • Avaliar condições
psico-emocionais
Encaminhamento segundo protocolo de pré-natal. Cuidado (alertar para
compartilhado: PNAR e eSF. quadros de
depressão).
• Agendar consulta
de puerpério.
Bebê
• Condições gerais,
coto umbilical e
icterícia.
• Promoção da saúde e estímulo a hábitos saudáveis de vida: atividade física, alimentação. abordagem breve • Abordagem do
sobre os riscos decorrentes do tabagismo, saúde bucal e prevenção de IST. Bebê de Risco.
• Abordagem das vulnerabilidades sociais e emocionais: atentar para mulheres em idade fértil em situações de • Teste do Pezinho.
vulnerabilidades clínicas e sociais. • Agendar Triagem
• Incentivo e preparo para o aleitamento materno. Auditiva.
UNIDADE 3
Esta unidade, destinada aos profissionais que trabalham na Atenção Primária à Saúde (APS),
aborda o rastreamento do câncer de mama no Brasil com foco no exame físico das mamas e
no rastreamento de mulheres com risco habitual.
Vamos abordar, nesta unidade, as bases para o cuidado à mulher na prevenção do câncer da
mama – rastreamento com mamografia, rastreamento com exame clínico das mamas e os
exames complementares de mama.
Também faz parte do texto o diagnóstico precoce do câncer de mama, abordando a mamografia
de rastreamento: interpretação, risco de câncer e recomendação de conduta, e os critérios
para encaminhamento da mulher para o serviço especializado de mastologia.
Espera-se que, ao final desta unidade, o profissional seja capaz de identificar mulheres em
risco ou com câncer de mama, na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde.
67
Seção 1
É a quinta causa de morte por câncer em geral, sendo a causa mais frequente de morte em
mulheres por câncer (BRASIL, 2019a).
A estimativa de câncer de mama no Brasil, para 2019, foi de 59.700 novos casos, com um
risco estimado de ocorrerem 59 casos a cada 100 mil mulheres (BRASIL, 2019b). No entanto,
no Brasil, a incidência do câncer da mama é heterogênea, sendo provável que o balanço
entre benefícios e danos do rastreamento com mamografia varie nas diversas regiões do país
(BRASIL, 2019a).
As taxas de incidência do câncer da mama aumentam rapidamente até os 50 anos; após essa
idade, ocorre de maneira mais lenta (BRASIL, 2011; BRASIL, 2019). Nesse sentido, é importante
focar a prevenção primária cujos fatores de risco estão relacionados à vida reprodutiva da
mulher (menarca precoce, nuliparidade, idade da primeira gestação a termo acima de 30
anos, uso de anticoncepcionais orais, menopausa tardia, terapia de reposição hormonal),
história familiar de câncer da mama, alta densidade do tecido mamário, sedentarismo que
leva à obesidade, urbanização, elevação do status socioeconômico, alterações em alguns
genes responsáveis pela regulação, pelo metabolismo hormonal, reparo de DNA, entre outros
(BRASIL, 2004; BRASIL, 2009a; BRASIL, 2009b; BRASIL, 2010a; 2012a).
68
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA) (BRASIL, 2011f; BRASIL, 2015), os
métodos preconizados para o rastreamento, no Brasil, são a mamografia e o exame clínico
das mamas (ECM).
Para que ações de rastreamento tenham êxito, o INCA (BRASIL, 2011, p. 8) propõe:
Entende-se que a superação das barreiras para a redução da mortalidade por câncer da mama
no Brasil envolve, além do acesso à mamografia de rastreamento, o controle dos fatores de
risco, a estruturação da rede assistencial para rápida e oportuna investigação diagnóstica e o
acesso ao tratamento quando necessário (BRASIL, 2015; BRASIL, 2019).
É recomendado o rastreamento
De 50 a 59 anos com mamografia em mulheres De dois em dois anos
com idades entre 50 a 59 anos.
É recomendado o rastreamento
De 60 a 69 anos com mamografia em mulheres De dois em dois anos
com idades entre 60 a 69 anos.
Por isso, as mulheres devem ser orientadas sobre riscos e benefícios do rastreamento
mamográfico para que possam, em conjunto com a equipe de saúde, decidir sobre a realização
ou não do rastreamento de rotina e exercer sua autonomia (BRASIL, 2015a; BRASIL, 2019c).
As orientações para realizar o exame clínico das mamas, segundo Coelho e Porto (2013), são:
a. Inspeção estática das mamas - solicitar que a mulher mantenha os braços relaxados e
rentes ao corpo e, na sequência, observar e registrar (Figuras 7 e 8):
b. inspeção dinâmica das mamas – solicitar à mulher que eleve os braços o mais alto
que conseguir e observar se, ao promover o deslizamento das mamas sobre o músculo
peitoral, ocorrem abaulamentos ou retrações e perguntar se ela sente algum incômodo,
por exemplo, fisgadas ou dor.
Outra maneira de realizar a inspeção dinâmica das mamas consiste em solicitar que
a mulher coloque as mãos na cintura e faça força para evidenciar o movimento do
músculo peitoral e, consequentemente, do tecido mamário. (Figuras 8a e 8b).
Figura 8a – Inspeção dinâmica das mamas Figura 8b – Inspeção dinâmica das mamas
Fonte: Coelho; Porto, 2013, p. 65. Fonte: Coelho; Porto, 2013, p. 65.
72
Para completar a inspeção dinâmica das mamas, solicite à mulher que flexione o tórax para
frente, para que você possa observar nas mamas pendentes a presença de retrações ou
abaulamentos.
Fonte: Coelho; Porto, 2013, p. 65. Fonte: Coelho; Porto, 2013, p. 65.
A palpação das mamas pode ser iniciada com a paciente ainda sentada. No entanto, este
exame não substitui o exame realizado em decúbito dorsal. Os braços podem estar estendidos
acima do pescoço (mãos na nuca), para facilitar a percepção dos achados. Deve ser realizada
palpação superficial, com a mão espalmada, e a palpação profunda com os dedos realizando
o movimento de “tocar piano”. Nesta última é possível perceber melhor as alterações, bem
como delimitá-las (Figuras 11 e 12).
73
Figura 11 – Palpação das mamas com a Figura 12 – Palpação das mamas com mov-
mão espalmada imento de “tocar piano”
Fonte: Coelho; Porto, 2013, p. 65. Fonte: Coelho; Porto, 2013, p. 65.
Para completar a inspeção dinâmica das mamas, solicite à mulher que flexione o tórax para
frente para que você possa observar nas mamas pendentes a presença de retrações ou
abaulamentos.
d. expressão mamilar – de maneira delicada e firme, finalizar o exame das mamas com a
expressão dos mamilos. A descarga ou derrame papilar é a saída de secreção através
da papila mamária, quando não associada à gravidez e à lactação (descarga papilar
fisiológica). Aparece como o sintoma mais frequente, depois do nódulo e da dor
mamária, representando cerca de 7% das queixas das pacientes, constituindo-se em
um sinal inespecífico, decorrente de causa mamária ou extramamária. O derrame do
mamilo tem sido descrito em 10% a 15% das mulheres como doença benigna da mama,
e em 2,5% a 3% está relacionado com carcinoma. Segundo seu aspecto macroscópico,
a secreção é classificada em: leitosa, verde, castanha, sanguínea, serosa, turva ou
purulenta (ANDREA et al., 2006) (Figuras 13 e 14).
Fonte: Coelho; Porto, 2013, p. 65. Fonte: Coelho; Porto, 2013, p. 65.
74
ATENÇÃO!
A importância do estudo dos derrames sanguíneos se deve à sua associação com papiloma
intracanalicular, carcinoma papilífero e outras lesões.
O termo descarga papilar sanguínea ou hemorrágica só deve ser utilizado nos casos em que forem
confirmados elementos hemáticos à microscopia (ANDREA et al., 2006).
Seção 2
A estratégia utilizada pelo MS para a detecção do câncer da mama foi denominada Estratégia de
Conscientização (breast awareness), a qual estimula a mulher a conhecer seu corpo, observar
alterações e, eventualmente, realizar a autopalpação das mamas, sempre que sentir vontade
(no banho, quando trocar de roupa ou em outra situação), sem qualquer recomendação de
técnica específica, valorizando-se a descoberta casual de pequenas alterações nas mamas.
Essa estratégia é diferente da antiga recomendação de rastreamento pelo autoexame das
mamas, o qual representa uma técnica padronizada e com periodicidade fixa. A estratégia
de conscientização é importante para o diagnóstico precoce do câncer de mama na prática
clínica e significa orientar as mulheres sobre as mudanças habituais das mamas em diferentes
momentos do ciclo da vida e a divulgação dos principais sinais e sintomas do câncer de mama,
além de estimular as mulheres a buscarem esclarecimento médico sempre que houver
dúvida em relação a alguma alteração suspeita nas mamas. Os serviços de saúde devem estar
preparados para acolher, esclarecer e realizar exames diagnósticos a partir da demanda. Nessa
estratégia podem ser incluídas ações educativas para mudar o conhecimento e a atitude sobre
o câncer da mama e ainda desconstruir mitos sobre a doença (BRASIL, 2015; BRASIL, 2019).
Seção 3
Mamografia de rastreamento:
interpretação, risco de câncer e
recomendação de conduta
CATEGORIA RISCO DE
INTERPRETAÇÃO RECOMENDAÇÕES DE CONDUTA
BI-RADS CÂNCER
2% a 95%,
Exame com achado a depender
4
suspeito do grau de
• A paciente deverá ser encaminhada para
suspeição
a unidade de referência secundária para
investigação histopatológica.
• Confirmado o diagnóstico, a paciente
deverá ser encaminhada à unidade de
referência terciária para tratamento.
• A Atenção Primária à Saúde (APS) deve
Exame com achado manter a coordenação de cuidado e
5 95%
altamente suspeito garantir acesso aos procedimentos
recomendados.
• nódulos;
• descarga papilar uniductal, hemorrágica/sanguinolenta ou água de rocha;
• microcalcificações agrupadas à mamografia;
• suspeita de câncer, edema nas mamas com pele em aspecto de “casca de laranja”;
• retração na pele da mama;
• mudança no formato do mamilo;
• categorias mamográficas III, IV e V;
• eczema areolar que não cedeu ao tratamento inicial;
• fístulas;
• pacientes de alto risco: passado de câncer de mama, história de câncer de mama
abaixo dos 50 anos em parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha).
Uma vez identificadas situações de risco para o câncer de mama, a mulher precisa ter
referência e contrarreferência de atenção à saúde asseguradas. Para isso, o serviço definido
como referência em mastologia deve estar apto para prosseguir a assistência, garantindo:
Quanto mais precoce for feito o diagnóstico de câncer, maior a probabilidade de cura.
Rastreamento significa detectar a doença em sua fase pré-clínica, enquanto diagnóstico
precoce significa detectar câncer da mama em fase precoce.
Unidade 4
Cuidados à mulher na prevenção do
câncer do colo do útero
82
UNIDADE 4
Tendo como referência o panorama nacional, esta unidade foca a prevenção do câncer do
colo do útero, as recomendações de condutas diante dos possíveis diagnósticos do exame
citopatológico do colo do útero. Trata-se de uma patologia com grande potencial de prevenção
e cura, se diagnosticada precocemente.
Seção 1
No mundo ocorrem, aproximadamente, 530 mil casos novos de câncer do colo do útero por
ano, sendo o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres, excetuando-se os casos
de pele não melanoma. É responsável por 265 mil óbitos por ano e, ainda, é a quarta causa de
morte por câncer em mulheres.
Em 2018, no Brasil, foram esperados 16.370 casos novos, com risco estimado de 17,11 casos
a cada 100 mil mulheres, sendo a terceira localização primária de incidência e de mortalidade
por câncer nas mulheres brasileiras, excluindo os de pele não melanoma (BRASIL, 2019a).
O câncer do colo do útero é raro em mulheres até 30 anos. A incidência desse câncer começa
a ocorrer a partir da faixa etária de 25 a 29 anos. No entanto, o pico de incidência (maior
risco) ocorre entre 45 a 50 anos. No Brasil, o câncer do colo do útero é o mais incidente na
região Norte, onde ocorre também a maior incidência de mortalidade por esse câncer; ocupa
a segunda posição nas regiões Centro-Oeste e Nordeste; é o terceiro mais incidente na região
Sudeste e ocupa a quarta posição na região Sul (BRASIL, 2019a).
Sem considerar o câncer da pele não melanoma, esse tipo de câncer é o que apresenta maior
potencial de prevenção e cura, se o diagnóstico ocorrer precocemente.
Embora a infecção pelo papiloma vírus humano (HPV) seja considerada o principal fator
precursor do câncer de colo do útero, ele por si só não representa uma causa suficiente para
o surgimento dessa neoplasia. Desse modo, é necessário um conjunto de fatores, entre eles:
o tipo e a carga viral, a ocorrência de infecção única ou múltipla, além de fatores ligados à
imunidade, à genética e ao comportamento sexual (BRASIL, 2011; BRASIL, 2016).
A coleta deverá ser feita com a espátula de Ayre. Caso a junção escamocolunar não seja
atingível pela espátula, utilizar também a escova endocervical. A dupla coleta (espátula/
escova) constitui-se na melhor opção para o exame. É importante manter o registro dos
dados referentes à coleta em um livro – data da coleta, data de nascimento, nome da mulher,
número de prontuário, número de identificação do frasco e o resultado do teste de Schiller e
do laudo citopatológico do colo do útero. Para o controle das datas de retorno das usuárias,
é importante organizar um arquivo rotativo, com uma ficha espelho que contenha dados
básicos. Esse arquivo permite o agendamento nos prazos recomendados e a busca ativa das
mulheres pelos agentes comunitários de saúde, em caso de esquecimento do dia aprazado,
por parte delas.
Classificação
Classificação
Classificação Classificação citopatológica
citológica de Sistema de
histológica da OMS histológica de brasileira (2006)
Papanicolaou Bethesda
(1952) Richart (1967) – utilizada
(1941)
atualmente
Classe I - - - -
Alterações Alterações
Classe II - -
benignas benignas
Atipias de Atipias de
- - - significado significado
indeterminado indeterminado
NIC I
Displasia leve
LSIL LSIL
Classe III NIC II e HSIL HSIL
Displasia moderada
NIC III
e acentuada
HSIL
HSIL
Classe IV Carcinoma in situ NIC III
Adenocarcinoma AIS
in situ (AIS)
• Amostra insatisfatória para avaliação: são aquelas cuja leitura pelo citopatologista foi
prejudicada por natureza técnica, material acelular ou hipocelular, presença de sangue,
piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes externos, superposição celular ou
outra causa.
87
• Amostra satisfatória para avaliação: são aquelas cujas células são representativas em
quantidade, bem distribuídas, bem fixadas e coradas, permitindo conclusão diagnóstica.
• Células presentes na amostra: podem estar presentes células escamosas, células
glandulares (não inclui o epitélio endometrial) e células metaplásicas. A presença de
células metaplásicas ou células endocervicais, representativas da junção escamocolunar
(JEC) é considerada como indicador de qualidade de boa coleta, local onde se situa a
maioria dos cânceres do colo do útero (BRASIL, 2016ba; BRASIL, 2016bb).
Recomendações
Diagnóstico citopatológico do colo do útero
Faixa etária Conduta inicial
Repetir a citologia
25 anos
em três anos
a - Possivelmente não
I - Células escamosas neoplásicas Repetir a citologia
atípicas de significado Entre 25 e 29 anos
(ASCUS) em três anos
indeterminado (ASCUS)
(Atypical Squamous Cells of Repetir a citologia
≥ 30 anos
Undetermined Significance) em 12 meses
a - Possivelmente não
II - Células glandulares
neoplásicas
atípicas de significado Encaminhar para colposcopia
b - Não é possível afastar
indeterminado (AGC)
lesão de alto grau
a - Possivelmente não
neoplásicas
III - Células atípicas de
b - não é possível afastar Encaminhar para colposcopia
origem indefinida (AOI)
lesão de alto grau
Repetir a citologia
25 anos
IV - Lesão de baixo grau (Low-grade squamous em três anos
intraepithelial lesion - LSIL) Repetir a citologia
≥ 25 anos
em seis meses
UNIDADE 5
Esta unidade faz uma breve abordagem sobre as mudanças emocionais das mulheres em
decorrência do climatério, os sinais e sintomas, diagnóstico e tratamento dos sintomas mais
frequentes e orientações sobre os cuidados preventivos para uma vida saudável, após cessar
a menstruação.
Espera-se que, ao término desta unidade, o profissional seja capaz de diagnosticar e tratar os
sintomas clínicos mais frequentes da mulher no climatério.
93
Seção 1
Nessa etapa da vida, a mulher vivencia mudanças de diversas naturezas que exigem adaptações
físicas, psicológicas e emocionais (BRASIL, 2008; CAMARGOS; MELO, 2016b; BRASIL, 2016b). É
comum ela reviver antigos conflitos nessa fase.
Para a mulher cujos filhos estão começando a abandonar o “ninho”, o climatério pode
representar uma chance de refazer seus planos de vida.
Por outro lado, o metabolismo sofre algumas alterações, especialmente relacionadas às funções
do sistema endócrino e à diminuição da atividade ovariana. Assim, o evento menopausa pode
ser vivenciado, por algumas mulheres, como a paralisação do próprio fluxo vital, pois os seus
órgãos genitais, assim como o restante do organismo, mostram, gradualmente, sinais de
envelhecimento (BRASIL, 2008).
É frequente encontrá-las insatisfeitas, ansiosas e desmotivadas, com queixas de que tudo está
errado, sem saberem definir bem a causa. Muitas têm a sensação de que a vida está um caos,
de que tudo foge ao seu controle como se fosse ocorrer uma “tragédia iminente” (BRASIL,
2008).
94
É nesse contexto socioemocional que a equipe de Saúde da Família (eSF) buscará desenvolver
estratégias para motivar essas usuárias para as mudanças no estilo de vida, em especial o
desenvolvimento de hábitos saudáveis e a busca de novos objetivos e afetos que motivem o
seu viver (ALMEIDA, 2003; BRASIL, 2016).
As ansiedades e inseguranças das mulheres nessa fase da vida podem ser acolhidas pelos
profissionais de saúde, enfermeiros e médicos, além da detecção precoce das principais
doenças que acometem as mulheres e que são características dessa idade (ALMEIDA, 2003;
CAMARGOS; MELO, 2016b; BRASIL, 2016).
Outro aspecto a ser considerado é a discriminação geracional que ocorre na nossa sociedade,
como se fosse algo natural. Seus efeitos na mídia promovem discriminação mais intensa e
evidente para as mulheres. Resultam do mito da eterna juventude, da supervalorização da
beleza física padronizada e da relação entre sucesso e juventude. Esses fatores aumentam
a tensão vivenciada pelas mulheres, interferindo na sua autoestima, com repercussões na
saúde física, mental, emocional e nas relações familiares e sociais (BRASIL, 2008).
A mulher no climatério precisa ser vista pelo enfermeiro/médico de uma maneira holística.
Embora seja um evento fisiológico, o climatério pode cursar com intensas manifestações
sintomáticas que acometem, de maneira variada, em torno de 75% das mulheres. Os sintomas
resultam da falência ovariana e são expressos por irregularidade menstrual, instabilidade
vasomotora (ondas de calor ou fogachos), modificações atróficas e distúrbios emocionais.
A pós-menopausa começa 12 meses após a última menstruação e termina aos 65 anos, quando
tem início a senectude. Nessa fase, os sintomas neurovegetativos e a atrofia urogenital podem
exacerbar-se devido à baixa de estrogênio. Além disso, as alterações no metabolismo ósseo
95
por longo período, associadas a características genéticas, composição corporal, estilo de vida,
tabagismo e sedentarismo, podem desencadear a osteoporose. Ocorrem também alterações
no metabolismo lipoproteico, que aumentam o risco das doenças cardiovasculares (ALMEIDA,
2003; BRASIL, 2016).
Os distúrbios neurovegetativos são vivenciados com muito sofrimento pelas mulheres, embora
não apresentem risco clínico. Destacam-se os sintomas vasomotores percebidos sob a forma
de fogachos ou “ondas de calor”, podendo ocorrer em qualquer fase do climatério (BRASIL,
2008). Eles causam muito incômodo, pois sua manifestação produz “sensação transitória
súbita e intensa de calor na pele, principalmente do tronco, pescoço e da face (que pode
apresentar hiperemia), acompanhada, na maioria das vezes, de sudorese”. Podem também
ocorrer palpitações e, mais raramente, sensação de desfalecimento, gerando desconforto e
mal-estar. A intensidade dos sintomas varia muito, desde muito leves a intensos, podendo
ocorrer esporadicamente ou várias vezes ao dia. A sua duração pode ser tanto de alguns
segundos quanto de 30 minutos ou mais (BRASIL, 2010).
É importante salientar que, na abordagem terapêutica, seja ela hormonal ou não hormonal, e/
ou na abordagem de terapias não medicamentosas, a mulher deve ser vista como protagonista
de sua vida e a ela caberá, desde que devidamente informada e com apoio profissional, a
opção de como vivenciar essa fase (BRASIL, 2008).
Os medicamentos que podem ser utilizados para os sintomas transitórios do climatério são
os fitoterápicos, a terapia farmacológica não hormonal e a terapia hormonal convencional.
Na terapia farmacológica não hormonal, podem ser utilizados para os sintomas vasomotores
(BRASIL, 2016b):
Na terapia hormonal convencional, as vias de utilização dos hormônios são a via oral,
transdérmica (adesivo), percutânea (gel) e cremes vaginais de acordo com a indicação clínica
(BRASIL, 2016b):
Outras opções de tratamento para os sintomas climatéricos das mulheres podem ser as
práticas integrativas e complementares (BRASIL, 2018c).
A avaliação clínica da mulher no climatério envolve uma equipe multidisciplinar e deve ser
voltada para o seu estado de saúde atual e pregresso. Além da promoção da saúde, a atenção
precisa abranger prevenção de doenças e assistência aos sintomas climatéricos que ocorrem
concomitantes às doenças sistêmicas (BRASIL, 2008a). Estas se manifestam em queixas
como dores articulares ou musculares, ganho de peso gradativo, depressão ou sintomas de
hipotireoidismo, muitas vezes ainda não diagnosticado.
Assim como nem todas as mulheres apresentam os sintomas climatéricos, é preciso ter
atenção às doenças que se tornam mais comuns com o avançar da idade, como diabetes
mellitus e hipertensão arterial.
Deverão ser solicitados, também, alguns exames complementares rotineiramente. São eles:
O teste de progesterona pode ser útil na avaliação de mulheres com mais de um ano da última
menstruação e suspeita de hiperplasia endometrial ou candidatas à reposição hormonal. Ele
deve ser realizado por solicitação do médico da equipe e consiste em administrar 10 mg de
acetato de medroxiprogesterona diariamente, por sete dias.
Itens sobre a avaliação e propedêutica das mulheres no climatério, em: BRASIL. Ministério da
Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual
de atenção a mulher no climatério e menopausa. Brasília: Ministério da Saúde, 2008b, p. 39 a 45.
Podem ocorrer muitos problemas odontológicos nas mulheres que estão no climatério,
acompanhados por mudanças físicas na cavidade bucal, sendo as mais comuns o desconforto
bucal e a perda óssea alveolar resultante da osteoporose. Esta última pode ser também
influenciada pelo fator etiológico da doença periodontal, que é infecção bacteriana (BRASIL,
2018b).
Assim, a inspeção da cavidade bucal deve fazer parte da avaliação do estado de saúde pelos
profissionais da equipe de Saúde da Família, o que implica ser capaz de identificar as alterações
fisiológicas decorrentes do envelhecimento para que as usuárias possam ser orientadas
quanto à importância da prevenção e de ter hábitos de higiene bucal (BRASIL, 2018b).
As mudanças nos níveis hormonais podem também afetar as glândulas salivares, deixando
as mulheres com uma sensação constante de secura na boca, tanto no período do climatério
quanto após a menopausa.
Podem ainda ser observadas alterações na absorção de cálcio da dieta e aumento nos níveis
de cálcio na urina, decorrentes da diminuição da produção do estrogênio, fazendo com que
os fatores sistêmicos interajam com fatores locais, aumentando o padrão de perda óssea
alveolar – doença periodontal (BRASIL, 2008b).
A doença caracteriza-se pela reabsorção do osso alveolar e pela perda dos tecidos de A doença
caracteriza-se pela reabsorção do osso alveolar e pela perda dos tecidos de inserção dental.
Sua etiologia principal é a infecção bacteriana, mas outros fatores de risco podem desencadeá-
102
la, como idade, alterações imunes, uso de medicamentos, deficiências nutricionais, fumo,
estresse, genética e condições sistêmicas como diabetes e outras alterações hormonais
(BRASIL, 2008).
O ressecamento bucal também é muito frequente nesta fase da vida e pode ser amenizado
com as seguintes medidas:
Um aspecto importante da educação em saúde é que as mulheres precisam estar cientes dos
potenciais problemas de saúde sistêmicos e localizados que ocorrem com o avançar da idade
e sobre a importância da higiene bucal diária, principalmente à medida que as condições
debilitantes sistêmicas se agravam (BRASIL, 2008).
Dificuldade relacionada à alimentação, fala e queixas de dor podem ser sinais e sintomas
importantes de que alguma alteração bucal está ocorrendo (BRASIL, 2008). Por isso, as
mulheres nessa faixa etária devem ter acesso à reabilitação bucal por meio de restaurações
diretas e a todos os tipos de próteses que são importantes no restabelecimento da função
(mastigação, fonação e deglutição) e da estética dos dentes, as quais influenciam o bem-estar
e a autoestima (BRASIL, 2008).
Atenção especial deve ser dada ao uso inadequado de prótese total ou parcial, seja por má
adaptação, por estar quebrada ou frouxa. Deve ser verificado, ainda, se há dentes fraturados
e restos radiculares, que devem ser diagnosticados precocemente e removidos para que esses
fatores traumáticos não se tornem um fator de risco para malignização na cavidade bucal
(BRASIL, 2018b).
103
Conclusão
O conteúdo deste módulo sobre “Rede de atenção: saúde da mulher” foi selecionado
considerando sua pertinência para a organização do processo de trabalho da Equipe na
atenção à saúde da mulher nos diferentes ciclos de vida.
Com foco nos contextos clínico, sociocultural e econômico relacionados à saúde da mulher,
cada unidade aborda aspectos que permitem analisar e reconhecer como as condições da
vida cotidiana podem influenciar a maneira como as mulheres adoecem e morrem.
Com esse alinhamento e abordagem, espera-se que a equipe de Saúde da Família atue de
forma efetiva, contribuindo para a qualidade da atenção à saúde da mulher.
Referências
106
Referências
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