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FICHA TÉCNICA

TÍTULO
Manual de Suporte Imediato de Vida

DESIGN e PAGINAÇÃO
INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica
GMC – Gabinete de Marketing e Comunicação

AUTORES
INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica
DFEM – Departamento de Formação em Emergência Médica

António Táboas; Clifton Gala; Fábio Vaz; Hélder Ribeiro; Joana Feu; João Lourenço; João Porto; João
Póvoa; Mónica Alves; Nuno Marques; Nuno Pedro; Paula Neto; Pedro Vasconcelos; Rui Marcelino;
Sara Rosado; Sílvia Monteiro

Versão 2.0 – 2023

© copyright

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ÍNDICE

ÍNDICE ............................................................................................................................................. 3
I. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 6
1. Curso Suporte Imediato de Vida (SIV) .................................................................................. 6
II. A CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA INTRA-HOSPITALAR ............................................................. 8
1. Reconhecer e Prevenir ......................................................................................................... 9
2. Ativar Equipa Emergência .................................................................................................... 9
3. Reanimar - Suporte Básico de Vida (SBV) precoce .............................................................. 9
4. Desfibrilhar - Desfibrilhação precoce ................................................................................... 9
5. Estabilizar - Suporte Avançado de Vida (SAV) precoce e cuidados pós-reanimação ........ 10
III. COMPETÊNCIAS NÃO TÉCNICAS ......................................................................................... 12
1. Introdução .......................................................................................................................... 12
2. Liderança ............................................................................................................................ 12
3. Trabalho de equipa ............................................................................................................ 13
4. Gestão de tarefas ............................................................................................................... 16
IV. CAUSAS E PREVENÇÃO DE PCR .......................................................................................... 18
1. Causas de PCR .................................................................................................................... 18
2. Identificação dos doentes em risco de PCR ....................................................................... 21
3. Equipa Emergência Médica Intra-Hospitalar - EEMI .......................................................... 22
4. Prevenção da PCR............................................................................................................... 23
5. Abordagem ao doente crítico - xABCDE............................................................................. 25
V. ABORDAGEM DA VIA AÉREA .............................................................................................. 28
1. Introdução .......................................................................................................................... 28
2. Causas de obstrução da via aérea ...................................................................................... 28
3. Reconhecimento da obstrução da via aérea...................................................................... 29
4. Permeabilização da via aérea usando técnicas básicas ..................................................... 29
5. Adjuvantes para técnicas básicas da via aérea .................................................................. 31
6. Técnicas de abordagem avançada da via aérea ................................................................. 33
7. Aspiração ............................................................................................................................ 35
VI. VENTILAÇÃO E OXIGENAÇÃO ............................................................................................. 37
1. Insuflador manual .............................................................................................................. 37
2. Ventilação e Oxigénio......................................................................................................... 38
VII. MONITORIZAÇÃO CARDÍACA E RITMOS............................................................................. 40
1. Monitorização cardíaca ...................................................................................................... 40
2. Conceitos básicos de eletrofisiologia ................................................................................. 42

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3. Ritmos de paragem cardíaca .............................................................................................. 42
4. Ritmos em PCR – 1ªAnálise ................................................................................................ 44
VIII. DESFIBRILHAÇÃO ELÉTRICA ................................................................................................ 46
1. Pré-desfibrilhação .............................................................................................................. 46
2. Mecanismo da desfibrilhação elétrica ............................................................................... 47
3. Desfibrilhadores ................................................................................................................. 49
IX. ALGORITMO DE SUPORTE AVANÇADO DE VIDA30 ............................................................. 51
1. Algoritmo de Suporte Avançado de Vida ........................................................................... 52
2. Ritmos desfibrilháveis (fibrilhação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso) ....... 53
3. Desfibrilhação..................................................................................................................... 53
4. Compressões torácicas, permeabilização da via aérea e ventilação ................................. 54
5. Acessos vasculares ............................................................................................................. 55
6. Fármacos ............................................................................................................................ 55
7. PCR presenciada em doente monitorizado (intra-hospitalar) ........................................... 56
8. Ritmos não desfibrilháveis (AEsp e assistolia) ................................................................... 57
9. Causas potencialmente reversíveis .................................................................................... 58
10. Deteção de sinais de vida ................................................................................................... 60
11. A decisão de parar a RCP e a verificação do óbito ............................................................. 61
X. REANIMAÇÃO INTRA-HOSPITALAR .................................................................................... 63
1. PCR no contexto intra-hospitalar ....................................................................................... 63
2. Equipa de reanimação ........................................................................................................ 68
I. SIGLAS................................................................................................................................. 70
II. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 71

ÍNDICE DE FIGURAS
Fig. 1 - Cadeia de Sobrevivência Intra-Hospitalar (adaptado de AHA, 2020)33 ..................................... 8
Fig. 2 - Escala de NEWS adaptada de Royal College of Physicians (2012)36 ........................................ 21
Fig. 3 - Permeabilização da VA: Extensão da cabeça e elevação do mento ........................................ 30
Fig. 4 - Permeabilização da VA: Protusão da mandíbula ..................................................................... 31
Fig. 5 - Tubo Nasofaríngeo: medição e colocação ............................................................................... 32
Fig. 6 - Tubo Orofaríngeo: medição e colocação ................................................................................. 32
Fig. 7 - Máscara Laríngea ..................................................................................................................... 33
Fig. 8 - Máscara Laríngea ProSeal ........................................................................................................ 33
Fig. 9 - Máscara Laríngea Supreme ...................................................................................................... 33
Fig. 10 - Tubo Laríngeo ......................................................................................................................... 33
Fig. 11 - I-Gel ........................................................................................................................................ 33

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Fig. 12 - Tubo endotraqueal ................................................................................................................. 34
Fig. 13 - Ventilação com insuflador manual - 2 reanimadores ............................................................ 37
Fig. 14 - Insuflador manual .................................................................................................................. 37
Fig. 15 - ECG Derivações de membros ................................................................................................. 41
Fig. 16 - Colocação de elétrodos adesivos multifunções ..................................................................... 41
Fig. 17 - Traçado de Assistolia .............................................................................................................. 42
Fig. 18 - Fibrilhação Ventricular ........................................................................................................... 43
Fig. 19 - Atividade Elétrica sem pulso (AEsp) ....................................................................................... 43
Fig. 20 - Taquicardia Ventricular .......................................................................................................... 43
Fig. 21 - Ritmos em PCR (1ª análise) .................................................................................................... 44
Fig. 22 - Algoritmo de Suporte Avançado de Vida30 ............................................................................ 52
Fig. 23 – Capnograma de vítima com RCE ........................................................................................... 60
Fig. 24 - Algoritmo de Reanimação Intra-Hospitalar30......................................................................... 67

ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Características de um Bom elemento de equipa ................................................................ 13
Tabela 2 - Características de um Bom líder de equipa ........................................................................ 13
Tabela 3 - Metodologia ISBAR14 ........................................................................................................... 15
Tabela 4 - Causas de obstrução da via aérea17 .................................................................................... 19
Tabela 5 - Causas de paragem cardíaca primária ................................................................................ 20
Tabela 6 - Critérios de ativação da EEMI22........................................................................................... 22
Tabela 7 - Abordagem xABCDE, adaptada de Peran et al (2020)34 e RC UK (2021)35.......................... 26
Tabela 8 - Obstrução da via aérea por corpo estranho (ligeira VS grave) ........................................... 29
Tabela 9 - Adrenalina ........................................................................................................................... 55
Tabela 10 - Amiodarona....................................................................................................................... 56
Tabela 11 - Causas potencialmente reversíveis ................................................................................... 58

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Suporte Imediato de Vida

I. INTRODUÇÃO

A paragem cardiorrespiratória intra-hospitalar (PCR-IH), ocorre em cerca de 1,5 pacientes por cada
1000 hospitalizados.1,2 Existem duas estratégias principais para prevenir PCR-IH e a necessidade de
iniciar RCP. Primeiro em função das decisões baseadas no doente para determinar se a Reanimação
Cardiopulmonar (RCP) é apropriada e em segundo lugar, em identificar e tratar situações de
deterioração multiorgânica precocemente para evitar o momento de Paragem Cardiorrespiratória
(PCR).

A percentagem de doentes que sobrevive ao primeiro ano, pós- PCR-IH, é de cerca de 25%.1

A prevenção da PCR-IH exige formação dos profissionais, monitorização dos doentes, circuitos
próprios para doentes críticos, um sistema de alarme para pedir ajuda e capacidade para responder
com recursos eficazes.3

A prevenção da paragem cardiorrespiratória e a melhoria da sobrevida após paragem cardíaca são


os principais objetivos na realização de Suporte Avançado de Vida (SAV). No entanto, para um efetivo
SAV é essencial a constante atualização de conhecimentos e o treino regular com aplicação de
protocolos e estratégias facilitadores da aprendizagem.

1. Curso Suporte Imediato de Vida (SIV)


Esta formação padroniza a formação em reanimação intra-hospitalar, facultando os conhecimentos
e as competências fundamentais ao tratamento do doente adulto em paragem cardiorrespiratória
(PCR). As PCR a nível intra-hospitalar podem ser previstas. Este curso ensina o formando a identificar
e abordar o doente com deterioração do estado clínico, prevenindo a PCR, e no caso desta acontecer
a reconhecer a mesma e implementar o algoritmo de SAV em PCR.
Tendo o curso SIV como pré requisito o curso de Suporte Básico de Vida com Desfibrilhação,
pretende-se transmitir conhecimentos teóricos e competências técnicas e não técnicas cada vez mais
complexas e completas para, em contexto de equipa, permitir a execução deste tipo de cuidados.

O curso SIV centra-se na abordagem sistematizada, seguindo uma sequência de avaliação e atuação
por prioridades, que é conhecida por todos:
X: hemorragia exsanguinante;
A: via área;
B: ventilação;
C: circulação;
D: disfunção neurológica;
E: exposição.
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Introdução

Os objetivos e princípios da abordagem xABCDE são a estruturação da avaliação e da abordagem


baseada em prioridades, de forma a “tratar primeiro aquilo que mata primeiro”.
A identificação das condições potencialmente fatais e o início do tratamento emergente de forma
contínua e sequencial permite evitar a deterioração da condição clínica até à PCR. Além disso, uma
linguagem e abordagem protocolada e uniforme permite melhorar o trabalho de equipa.

Os formandos serão preparados para reconhecer e iniciar RCP em ambiente institucional, salientando
a importância das compressões torácicas de elevada qualidade, com uma pausa curta para a
realização de ventilações eficazes e desfibrilhar precocemente e em segurança. Desta forma,
conseguirão prestar cuidados a doentes em PCR até à chegada de uma equipa de reanimação,
podendo os mesmos colaborar com essa equipa, sob liderança de um Team Leader (TL) com
formação em SAV.

Este curso está estruturado em palestras teóricas, workshops para treino de competências
específicas e sessões práticas com simulação de casos clínicos.

O conteúdo deste manual encontra-se em conformidade com as recomendações para a formação de


operacionais em SAV publicadas pelo ERC em 2021.3
Os capítulos selecionados do manual de SAV que aqui se encontram serão trabalhados na
componente prática e surgem da seleção dos objetivos solicitados ao formando que frequenta o
curso SIV.

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Suporte Imediato de Vida

II. A CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA INTRA-HOSPITALAR

Objetivos

No final do capítulo, o formando deverá:


• Compreender a importância de cada um dos elos da cadeia de sobrevivência Intra-hospitalar.
• Identificar e desempenhar o seu papel em cada um dos elos.

Fig. 1 - Cadeia de Sobrevivência Intra-Hospitalar (adaptado de AHA, 2020)35

A cadeia de sobrevivência intra-hospitalar Os cinco elos da cadeia de sobrevivência são:


resume a sequência de atitudes necessárias • Reconhecer e Prevenir;
para a reanimação com sucesso. À luz do • Ativar a Equipa de Emergência;
conhecimento atual, verifica-se que esta • Reanimar - Suporte Básico de Vida
sequência de atitudes contribuem precoce;
significativamente para a melhoria de • Desfibrilhar - Desfibrilhação precoce;
resultados no socorro às vítimas de PCR.
• Estabilizar - SAV precoce e cuidados
Estes procedimentos sucedem-se de forma pós-reanimação.
encadeada e constituem uma cadeia de
atitudes em que cada elo articula o
procedimento anterior com o seguinte. Surge
assim o conceito de cadeia de sobrevivência, Na PCR em contexto intra-hospitalar, é
fundamental reconhecer o doente em risco
composta por cinco elos, em que a melhor
de vida, e ativar rapidamente o sistema de
performance de cada elo se traduz num
emergência interno.
trabalho conjunto eficiente, para que o
A melhor estratégia é a prevenção da PCR
resultado possa vir a ser uma vida salva.

A cadeia de sobrevivência tem apenas a força


que tiver o seu elo mais fraco, pelo que,
idealmente, todos os elos deveriam ser
igualmente fortes/ resistentes.

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Cadeia de Sobrevivência

1. Reconhecer e Prevenir As manobras de SBV devem ser de elevada


É importante reconhecer os sinais de qualidade, tendo em atenção o ritmo das
gravidade, podendo até recorrer a escalas de compressões (100 a 120/min), a sua
aviso precoce para o efeito. Devem ser profundidade (5 a 6 cm) e o retorno total do
seguidos os critérios de ativação da equipa de tórax à sua forma inicial entre cada
emergência, de modo que estas equipas compressão.
abordem a vítima precocemente, evitando a Simultaneamente, devem tentar minimizar-se
PCR. as pausas destas manobras, planeando as
ações seguintes antes de interromper as
2. Ativar Equipa Emergência compressões.
Nos contextos onde ainda não existe uma
resposta interna (Centros de saúde, Unidades
Cuidados Continuados, etc.), o serviço de O SBV de qualidade e ininterrupto é um
emergência é ativado pelo número telefónico dos procedimentos com maior influência
112. positiva no sucesso da reanimação.

Nos casos de PCR em meio intra-hospitalar


4. Desfibrilhar - Desfibrilhação precoce
deve existir um sistema interno de
comunicação que ative a Equipa de Na PCR o grande objetivo é conseguir
Emergência Médica Intra-Hospitalar (EEMI). desfibrilhar (se indicado) nos primeiros 3
Em Portugal, segundo o despacho n.º minutos, pois é quando se deteta uma maior
9639/20184, os estabelecimentos hospitalares taxa de sucesso.6 Num hospital ou em
do Serviço Nacional de Saúde (SNS) devem qualquer unidade do sistema de saúde que lida
adotar o n.º 2222 na rede telefónica interna com doentes agudos ou com doenças crónicas
para ativação da EEMI. que possam agudizar, poderá ser possível
intervir com um monitor desfibrilhador ou
3. Reanimar - Suporte Básico de Vida (SBV) com um Desfibrilhador Automático Externo -
precoce DAE, já que segundo a orientação da DGS nº8
As manobras de compressão torácica externa de 28 de março de 2011, estes equipamentos
e de ventilação têm como objetivo manter devem constar no “carro de emergência”.7 Nos
algum grau de circulação com sangue restantes locais, isto implica continuar a
minimamente oxigenado, para preservação da apostar em programas de desfibrilhação com
viabilidade do coração e cérebro. DAE.

O SBV tem como função ganhar tempo até à O acesso à desfibrilhação por elementos não
chegada do desfibrilhador e da equipa de SAV. médicos, nomeadamente auxiliares ação
médica, enfermeiros e outros profissionais de
Em situações de PCR testemunhada, o início
saúde, bem como os programas de DAE de
imediato de SBV aumenta até quatro vezes
acesso público, devidamente treinados e
mais a probabilidade de sobrevivência.5
integrados em organizações qualificadas, têm
O profissional de saúde deve iniciar permitido a desfibrilhação eficaz e segura cada
compressões torácicas e ventilações até à vez mais precoce.
chegada de ajuda diferenciada.

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Suporte Imediato de Vida

No contexto intra-hospitalar, o SBV deve


5. Estabilizar - Suporte Avançado de Vida
também ser iniciado de imediato, sem, no
(SAV) precoce e cuidados pós-
entanto, atrasar o acesso à desfibrilhação. O
reanimação
reconhecimento do doente em risco de vida e
a ativação do sistema de emergência interna Apesar de ser possível o retorno da circulação
são fulcrais. espontânea (RCE) com a desfibrilhação e com
o SBV, em muitas situações estes não são
É fundamental que cada vez mais profissionais
suficientes, sendo necessárias manobras de
de saúde tenham formação e capacidade para
suporte adicionais – SAV (gestão da via aérea,
desfibrilhar de imediato, respeitando os
administração de drogas e correção das causas
algoritmos de reanimação.
de PCR) – que otimizem a função
Efetuar SBV até o desfibrilhador estar cardiorrespiratória, aumentando a taxa de
conectado e durante a aquisição de carga sobrevivência.
melhora significativamente a probabilidade de
Os cuidados pós-reanimação são tão
sobrevivência.
importantes imediatamente após o RCE como
Iniciar de imediato as manobras de SBV e qualquer outro elo desta cadeia. O seu início
desfibrilhar até 3 a 5 minutos após a PCR pode precoce visa melhorar a taxa de sobrevida (alta
aumentar a sobrevida até 50-70%.8 hospitalar após PCR).
Sempre que ocorra uma reanimação com
sucesso, entenda-se RCE, é essencial manter
os cuidados no período pós-reanimação,
Cada minuto de atraso na desfibrilhação visando preservar fundamentalmente a
reduz a probabilidade de sobrevivência à integridade dos órgãos nobres – cérebro e
alta hospitalar em 10-12%. coração.

A gestão da via aérea, a administração


de drogas e a correção das causas de
PCR são cuidados de SAV essenciais.

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Cadeia de Sobrevivência

PONTOS A RETER

• A melhor estratégia é a prevenção da PCR;


• O SBV de qualidade e ininterrupto é um dos procedimentos fundamentais no
sucesso da reanimação;
• Iniciar de imediato as manobras de SBV e desfibrilhar (quando indicado) até 3 a 5
minutos após a PCR pode aumentar a sobrevida até 50 a 70%;
• Sempre que ocorra uma reanimação com sucesso (com RCE), é essencial manter
os cuidados no período pós-reanimação;
• É fundamental a reavaliação e treino regular de modo a manter os conhecimentos
e competências adquiridos.

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Suporte Imediato de Vida

III. COMPETÊNCIAS NÃO TÉCNICAS

Objetivos

No final do capítulo, o formando deverá:


• Compreender a importância das competências não técnicas no contexto das equipas de SAV;
• Compreender a importância de uma comunicação eficaz na transferência de informação
normalizada entre as equipas e utilização da técnica ISBAR.

1. Introdução
A sobrevida do doente em paragem Tradicionalmente, as competências técnicas
cardiorrespiratória é de cerca de 10%9, sendo eram as mais valorizadas e avaliadas nos
de extrema importância que a atuação das cursos formais, sendo atualmente
equipas de SAV seja baseada na correta reconhecidas, como igualmente importantes,
execução de procedimentos técnicos como a as competências não técnicas, quer em
desfibrilhação em segurança, o contextos de cursos de SAV, quer em situações
reconhecimento de ritmos, a abordagem da reais de RCP.
via aérea ou as compressões torácicas eficazes, Existem diversos instrumentos utilizados pelas
designadas como competências técnicas. Estas equipas de SAV para o desenvolvimento e
competências são fundamentais para a demonstração das competências não técnicas.
recuperação das vítimas em PCR. Uma das ferramentas recomendadas é a
De igual modo, nos últimos anos tem sido metodologia TEAM® (Team Emergency
identificado um conjunto de capacidades, Assessment Measure)10 e que inclui aspetos
designadas como competências não técnicas, relacionados com a liderança, trabalho de
que se têm revelado de grande importância no equipa e perspetiva global.
contexto da RCP.
No curso SIV, o formando lidera a equipa até à
O desempenho adequado de uma equipa de chegada de outro elemento mais diferenciado
SAV deve assim, no âmbito das competências ou da equipa de SAV, por isso deve
não técnicas, ser demonstrado por capacidade compreender os papeis a desempenhar entre
de liderança, trabalho de equipa, gestão todos os envolvidos.
adequada de tarefas, e comunicação
interpessoal.
Além das competências não técnicas, os 2. Liderança
designados fatores humanos, como sejam a A liderança é uma característica de difícil
capacidade de decisão, avaliação dos cenários definição. Neste contexto, um bom líder é
e a melhoria contínua nas atividades clínicas, aquele que demonstra o controlo da situação,
devem ser fatores a ter em conta no tem uma perspetiva global do cenário e delega
desempenho das equipas de SAV. funções nos restantes elementos da equipa.

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Competências Não Técnicas

Numa equipa de SAV, o líder deve: Tabela 2 - Características de um Bom líder de equipa

• Assegurar que a equipa tem Características de um Bom líder de equipa


conhecimento sobre aquilo que é
• Aceita a liderança
expectável que ela deva cumprir; • Conhece o nome e a capacidade de cada
• Identificar -se no seu papel, dando membro da equipa
indicações precisas, dirigindo-se a cada um • Delega apropriadamente
dos elementos da equipa pelo nome; • Experiente, credível, profissional
• Mantém a calma e controla as distrações
• Ser um modelo para a equipa;
• Comunica de forma eficaz, dando instruções,
• Planear/ antecipar as ações a ouvindo e mostrando empatia
desenvolver e garantir que a equipa tem • Mostra assertividade quando apropriado
conhecimento das mesmas; • Demonstra tolerância
• Manter uma perspetiva global da • Tem uma boa consciência situacional
situação, ou seja, o líder deve assegurar que • Planeia as ações

as tarefas estão a ser desempenhadas pela


equipa e dar indicações sobre o rumo a 3. Trabalho de equipa
tomar, antecipando futuras ações a O trabalho de equipa revela-se como uma das
desenvolver de acordo com os cenários competências não técnicas mais importantes
mais prováveis que possam ocorrer; em equipas de SAV, sendo fundamental
Posicionar-se no cenário de forma a ter uma realçar que os conhecimentos técnicos,
visão global e manter-se de "mãos livres”; embora relevantes, não são garantia de
• Garantir o cumprimento dos recuperação das vítimas em paragem
protocolos em segurança, mantendo cardiorrespiratória.
empatia para com todos os elementos da
No que concerne ao trabalho de equipa, este
equipa.
envolve sete aspetos que se enumeram a
seguir:
Tabela 1 - Características de um Bom elemento de equipa
• Definição de prioridades;
Características de um Bom elemento de equipa • Compostura e controlo;
• Competente • Atitude positiva;
• Comprometido • Capacidade de adaptação;
• Comunica abertamente, levanta preocupações,
• Reavaliação;
escuta atentamente
• Permite que outros alcancem seu melhor • Antecipação de ações;
• Responsável • Comunicação.
• Disposto a procurar ajuda quando necessário
• Criativo
• Participa no fornecimento de feedback 3.1. Definição de prioridades

Num contexto de paragem cardiorrespiratória,


existem múltiplas tarefas que carecem de ser
executadas - compressões torácicas,
ventilações, desfibrilhação em segurança,
cateterização de acesso venoso, preparação e
administração de terapêutica, entre outros.

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Suporte Imediato de Vida

3.5. Reavaliação
Deste modo, é fundamental uma boa
A aplicação dos algoritmos de atuação em
coordenação da equipa para realizar as tarefas
contexto de paragem cardiorrespiratória, por
de forma rápida, definindo sempre, em cada
si só, obriga a uma constante reavaliação do
momento, o que é prioritário para a
doente bem como a realização de pontos de
recuperação do doente.
situação. Contudo, deve ficar clara a
necessidade de recolha de informação, bem
3.2. Compostura e controlo como ter presente a necessidade de indicações
sobre quando devem ser terminadas as
A forma de atuação da equipa pode ser
manobras de reanimação.
condicionada por diversos fatores. Assim, é
importante que cada elemento da equipa
aceite e cumpra as indicações dadas pelo líder 3.6. Antecipação de ações
e tenha abertura para aceitar a crítica. Torna-
se igualmente importante que o líder Num contexto como o de uma paragem
mantenha a calma e não induza stress nos cardiorrespiratória e atuação de equipas de
restantes elementos, sob pena de poder SAV, é importante recordar que existe um
perder a coesão da equipa. conjunto de eventos prováveis e ações que
devem ser antecipadas, como sejam a
preparação de fármacos (ex. adrenalina,
3.3. Atitude positiva amiodarona), a abordagem da via aérea ou a
seleção da energia adequada em caso de ser
A equipa de SAV deve demonstrar uma atitude indicado desfibrilhar.
positiva, com determinação, correta gestão de
conflitos, realizando debriefing das situações e
promovendo a crítica construtiva. Deverá 3.7. Comunicação
ainda existir um bom suporte entre os
Inclui-se neste aspeto a comunicação verbal e
diferentes elementos.
não-verbal. A linguagem utilizada pelo líder e
pela equipa deve ser clara e objetiva. A equipa
deve fornecer ao líder informação sobre o
3.4. Capacidade de adaptação
doente, de forma clara, e, sempre que recebe
O doente em paragem cardiorrespiratória é indicações, deve mostrar que compreendeu as
um doente altamente instável, mesmo quando mesmas, confirmando-as – comunicação em
recupera sinais de circulação. As equipas SAV alça fechada.11 Se possível, um dos elementos
devem demonstrar capacidade de adaptação a da equipa deverá fazer o registo escrito das
diferentes cenários e papéis (ex. compressões, ações e decisões tomadas.
ventilações, desfibrilhação), bem como estar
aptas para reagir rapidamente a uma mudança 3.8. Comunicação em transição de
de ritmo. cuidados

A transmissão de informação no momento da


abordagem de um doente reveste-se de uma
importância fulcral, sobretudo se nos
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Competências Não Técnicas

reportarmos ao doente em PCR, onde a compromisso para com o objetivo/esforço


informação terá de ser organizada e comum.
transmitida pelo elemento que lidera a equipa Existem diferentes metodologias para a
de reanimação até à chegada a EEMI. transmissão da informação sobre os doentes,
Assim, além da procura da informação sobre as de forma objetiva e segura. Em Portugal, as
circunstâncias da PCR (ex. antecedentes, orientações da Direção Geral de Saúde (DGS)
hábitos farmacológicos), também a estão espelhadas na Norma 001/201714, que é
comunicação, verbal ou não-verbal, entre os uma ferramenta de padronização de
elementos da equipa e com as equipas que vão comunicação em saúde em situações de
receber o doente, deve ser feita de forma transição de cuidados. ISBAR é a sigla que
eficaz, objetiva e clara. A comunicação corresponde a: Identify (Identificação),
deficiente pode comprometer a eficácia da Situation (Situação atual), Background
equipa e a taxa de sobrevivência. As falhas de (Antecedentes), Assessment (Avaliação) e
comunicação constituem uma das principais Recommendation (Recomendações). Esta
causas de eventos adversos em saúde.12 80% técnica aplica-se em todos os níveis de
destes eventos ocorrem devido a falhas de prestação de cuidados e sempre que se
comunicação entre os profissionais de saúde: verifique a transferência de responsabilidade
omissões, erros, falta de precisão ou de cuidados e de informação entre
priorização, entre outras.13 prestadores, assegurando a continuidade e
O treino frequente com a simulação de casos, segurança dos mesmos. Para além de
com diferentes cenários, permite melhorar a funcionar como ferramenta de uniformização
comunicação da equipa. da comunicação entre os profissionais de
saúde, a metodologia ISBAR contribui para a
Todos os elementos devem ter preparação
rápida tomada de decisões, promove
para aceitar diferentes papéis e aceitar ordens
pensamento crítico, diminui o tempo na
de forma não intimidatória.
transferência de informação e promove a
Este processo de comunicação vai aumentar a
rápida integração dos novos profissionais.
eficácia e a coesão da equipa, bem como
permitir uma melhoria no sentido de

Tabela 3 - Metodologia ISBAR14

Identificação e localização precisa dos intervenientes na comunicação (emissor e recetor)


Identificação
bem como do doente a que diz respeito a comunicação

Situação atual Descrição real do motivo de necessidade de cuidados de saúde.

Descrição de factos clínicos, de enfermagem e outros relevantes, diretivas antecipadas de


B Antecedentes
vontade.

Informações sobre o estado do doente, terapêutica medicamentosa e não medicamentosa


Avaliação instituída, estratégias de tratamento, alterações de estado de saúde significativas e
avaliação da eficácia das medidas implementadas.

Recomendações Descrição de atitudes e plano terapêutico adequados à situação clínica do doente.

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Suporte Imediato de Vida

4. Gestão de tarefas
Perante uma PCR, é fundamental que a equipa
multidisciplinar perceba que existe um
conjunto de tarefas que devem ser realizadas
e que, dependendo do contexto (ex. equipa
hospitalar versus equipa Cuidados Saúde
Primários), bem como do número de
elementos que compõem a equipa, poderão
ser realizadas em simultâneo ou de forma
sequencial, pelo que devem ser priorizadas as
ações.
A equipa deve seguir as recomendações/
consensos cientificamente validados e práticas
aprovadas

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Competências Não Técnicas

PONTOS A RETER

• As competências não técnicas são preponderantes nas equipas de reanimação;


• A comunicação pode tornar-se mais eficaz e segura utilizando instrumentos de
transmissão de informação normalizada como o ISBAR.
• O ISBAR é a ferramenta de padronização de comunicação em saúde recomendada
pela DGS.

INEM | 17
Suporte Imediato de Vida

IV. CAUSAS E PREVENÇÃO DE PCR

Objetivos

No final do capítulo, o formando deverá ser capaz de:


• Conhecer as causas de PCR;
• Compreender a abordagem inicial às vítimas;
• Descrever a implementação de medidas corretivas;
• Identificar os critérios de ativação de equipas de emergência.

As doenças cardiovasculares são a principal


causa de morte no mundo. Cerca de 17,9
milhões de pessoas morreram com doença A PCR intra-hospitalar sem
cardiovascular em 2019, representando cerca monitorização, geralmente não ocorre
32% de todas as mortes no mundo.15 como acidente súbito e imprevisto nem é
habitualmente causada por doença
A PCR pode acontecer no contexto de cardíaca primária.
problemas primários da via aérea,
respiratórios ou associada a patologia
cardiovascular. A maior parte das doenças que Muitos destes doentes têm PCR não
implicam risco de vida, levam a compromisso monitorizada, em que o primeiro ritmo
respiratório e/ou cardiovascular, pelo que se cardíaco é, geralmente, não desfibrilhável e a
associam ao risco de PCR. sobrevida à data da alta hospitalar é inferior a
20%.
Por outro lado, os sistemas respiratório e
cardiovascular estão estreitamente ligados.
Por exemplo, a hipóxia pode condicionar 1. Causas de PCR
alterações da função cardíaca, da mesma
forma que as doenças cardíacas provocam um A - Obstrução da via aérea
aumento do trabalho respiratório e do
consumo de oxigénio. Daí que a falência Pode ser completa ou parcial. A obstrução
cardíaca possa ser consequência de completa conduz rapidamente a PCR. As
insuficiência respiratória e vice-versa. obstruções parciais frequentemente
A PCR em contexto intra-hospitalar, ao precedem as obstruções completas e podem,
contrário do extra-hospitalar, não é, por si só, condicionar lesões cerebrais (edema,
habitualmente, um evento súbito, mas o
hipóxia), lesões pulmonares, exaustão, apneia
resultado da deterioração fisiológica lenta e
ou PCR.16
progressiva, com hipóxia e hipotensão, que
nem sempre é detetada pelos profissionais ou
que poderá ser reconhecida, mas
insuficientemente tratada.
18 | INEM
Causas e Prevenção de PCR

Tabela 4 - Causas de obstrução da via aérea17 intempestiva de secreções da via aérea nestes
doentes.
Causas de obstrução da via aérea:
B - Falência Respiratória
• Sangue
• Aspiração de conteúdo gástrico
• Corpos estranhos (dentes, alimentos...) A falência respiratória pode ser classificada
• Traumatismos da face ou pescoço como aguda ou crónica, contínua ou
• Secreções brônquicas intermitente, sendo suficientemente grave,
• Depressão do estado de consciência nalguns casos, para provocar apneia e PCR
• Epiglotite
subsequente.
• Edema da laringe
• Espasmo laríngeo Nos doentes com reserva respiratória
• Broncospasmo diminuída, pequenas alterações são
suficientes para precipitar complicações
A depressão do estado de consciência pode graves, incluindo situações de PCR.
comprometer a proteção da via aérea, com o A PCR surge habitualmente da conjugação de
consequente risco de aspiração ou obstrução. vários fatores, por exemplo: o caso de um
Exemplos desta situação são: doente com Doença Pulmonar Obstrutiva
• Vítimas de traumatismo crânio- Crónica (DPOC) e insuficiência respiratória
encefálico (TCE) e Escala de Coma de crónica, com uma infeção respiratória aguda
Glasgow (GCS) <8; ou com uma situação associada a fraqueza
• Outras lesões estruturais muscular, ou ainda a associação com um
intracranianas; síndrome restritivo como o que resulta de uma
fratura de costela com dor subsequente.
• Depressão do estado de consciência
secundária a hipercápnia, alterações Em qualquer destas situações, pode verificar-
metabólicas, ingestão de álcool ou opióides se uma descompensação e evolução para
(...) falência respiratória.
Em algumas circunstâncias, poderá haver Por uma questão de sistematização, podemos
indicação para proteção da via aérea com agrupar as causas de falência respiratória em
valores de GCS mais elevados, desde que se três níveis:
verifique uma deterioração rapidamente
progressiva do estado de consciência, não
sendo assim necessário esperar por um GCS de a) Centro respiratório
8.
Deve ter-se em atenção que a estimulação da Uma alteração grave do Sistema Nervoso
via aérea pode conduzir a espasmo laríngeo, Central (SNC) pode significar uma depressão
sobretudo em doentes com depressão do ou uma abolição dos movimentos
estado de consciência, mas que mantêm respiratórios. As causas são semelhantes às
intactos os reflexos protetores da via aérea. descritas para a obstrução da via aérea de
Exemplos desta situação são a tentativa causa central.
forçada de colocação de um tubo orofaríngeo
em doentes estuporosos ou a aspiração

INEM | 19
Suporte Imediato de Vida

b) Esforço ventilatório C - Patologia Cardíaca

Os músculos mais importantes para a Em alguns casos de paragem cardíaca não é


ventilação são o diafragma e os músculos possível determinar a etiologia porque não são
intercostais. Estes últimos, enervados ao nível encontradas quaisquer alterações estruturais.
de cada dermátomo intercostal, podem ser Por vezes, as doenças cardíacas não são a
afetados na sequência de lesão medular. causa de partida e a PCR pode ser súbita ou
Por outro lado, o diafragma pode ser afetado precedida de um estado de baixo débito (que
por lesões medulares entre a 3ª e 5ª vértebras poderá cursar com episódio convulsivo) com
cervicais, suficientemente graves para serem maior ou menor duração.
incompatíveis com a ventilação autónoma.
Múltiplas patologias neuromusculares Tabela 5 - Causas de paragem cardíaca primária

(miastenia gravis, síndrome de Guillan-Barré,


Causas de paragem cardíaca primária
esclerose múltipla, etc.) podem associar-se a
alterações da ventilação com grau variável de • Enfarte agudo do miocárdio (EAM)
gravidade. • Cardiopatia hipertensiva
As doenças sistémicas graves e a desnutrição • Valvulopatias
• Fármacos (ex.: antiarrítmicos, antidepressivos
crónica podem implicar fraqueza muscular e
tricíclicos, digitálicos)
limitações ventilatórias subsequentes. • Desequilíbrios eletrolíticos
Outras situações, como a cifoescoliose, • Hipotermia
fraturas de costelas ou do esterno, podem • Eletrocussão
limitar a amplitude dos movimentos
respiratórios e condicionar a eliminação de
A PCR pode resultar também de insuficiência
secreções, afetando a ventilação.
cardíaca, tamponamento cardíaco, rutura
c) Doenças pulmonares cardíaca, miocardite ou miocardiopatia
hipertrófica.
A ventilação pode ser afetada pela presença de
um pneumotórax ou de derrame pleural. No
caso de pneumotórax hipertensivo, que inclui a) Enfarte agudo do miocárdio
restrição respiratória e compromisso
hemodinâmico, se este não for rapidamente A oclusão de uma artéria coronária e EAM
descomprimido, poderá evoluir para PCR. Para subsequente podem ocorrer sem
além disto, várias doenças que afetam o sintomatologia prévia. Cerca de 50% dos
parênquima pulmonar podem comprometer, doentes morre na primeira hora após o início
em menor ou maior grau, a ventilação. das queixas, a maioria por ocorrência de FV,
Pneumonias, DPOC agudizada, asma, embolia antecedida ou não de TV. O risco máximo de
pulmonar, contusão pulmonar, ARDS e edema FV ocorre logo após o início da sintomatologia,
pulmonar são exemplos comuns deste tipo de diminuindo nas horas seguintes.
comprometimento.18

20 | INEM
Causas e Prevenção de PCR

b) Causas secundárias No caso dos doentes hospitalizados, a PCR não


é imprevista nem súbita e em cerca de 80% dos
São situações em que o coração é afetado casos verifica-se uma deterioração progressiva
secundariamente por um problema extra- prévia. As manifestações clínicas mais
cardíaco, o que pode surgir de forma aguda ou frequentes são os sinais de dificuldade
como agravamento de doença crónica. Nos respiratória, a elevação da frequência cardíaca
exemplos de circunstâncias agudas, e a hipotensão.19 São igualmente frequentes
encontram-se PCR secundária a asfixia por manifestações de hipotensão, prostração,
obstrução da via aérea, apneia, pneumotórax letargia, estado confusional ou deterioração
hipertensivo ou hemorragia aguda. Noutras do estado de consciência. Nas horas que
situações, o coração é afetado precedem a PCR são comuns alterações
secundariamente no contexto da evolução de metabólicas, nomeadamente acidose.
doenças cronicamente hipoxemiantes, anemia Do ponto de vista respiratório, os sinais e
ou desequilíbrios eletrolíticos. sintomas mais frequentes são a dispneia, o
aumento da frequência respiratória e a
2. Identificação dos doentes em risco de dessaturação. A existência de pele fria,
PCR marmoreada e cianosada, com decréscimo da
É importante que os doentes em risco sejam amplitude do pulso e oligúria, sugerem
identificados precocemente pois a diminuição do débito cardíaco. Alterações da
mortalidade dos doentes pós-PCR é elevada. consciência têm, neste contexto, significado
Se forem adotadas medidas de prevenção da idêntico.
PCR em tempo útil existirá uma maior Poderá ser utilizada uma escala de aviso
probabilidade de salvar vidas. precoce de gravidade, como por exemplo a
A identificação tem por base o exame clínico escala de NEWS (National Early Warning
complementado por exames auxiliares de Score).20
diagnóstico. Esta escala (Fig. 2) agrega o estado de
consciência (de novo) e cinco variáveis

Fig. 2 - Escala de NEWS adaptada de Royal College of Physicians (2012)36


INEM | 21
Suporte Imediato de Vida

fisiológicas, cuja soma da pontuação define Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde


uma ponderação, que está em direta relação determina a criação e implementação, de
com o risco de agravamento clínico do doente, Equipas de EEMI (Circular Normativa nº
não devendo ser aplicada em idades inferiores 15/DQS/DQCO de 22/06/2010)22,
a 16 anos ou a mulheres grávidas.21 estabelecendo também quais os critérios de
identificação desses doentes de risco para a
ativação da EEMI.
3. Equipa Emergência Médica Intra-
Hospitalar - EEMI
O prognóstico para estes doente melhora com Tabela 6 - Critérios de ativação da EEMI22
correção precoce das alterações detetadas por
apoio especializado. Os sistemas de resposta Sinais Vitais e Nível de Consciência
implementados nos Hospitais incluem: • Compromisso da via aérea
• Profissionais treinados no • Paragem respiratória
reconhecimento dos sinais de • Frequência respiratória <6 ou> 35 ciclos/minuto
deterioração do doente e na resposta • SaO2 <85% com oxigénio suplementar

rápida ao doente em risco; • Paragem cardiorrespiratória (PCR)


• Frequência circulatória <40 ou> 140
• A monitorização regular e apropriada
batimentos/minuto
dos sinais vitais; orientações claras (ex.: • Pressão arterial sistólica <90 mmHg
linha de chamada de emergência ou • Escala de Coma de Glasgow – diminuição> 2
índices de alerta precoce) para ajudar os pontos
profissionais a detetarem precocemente • Crise convulsiva prolongada ou repetida
• Perda súbita de consciência
o doente que deteriora;
• Um modelo claro e uniforme de pedido
de ajuda e a capacidade para responder
de imediato e com eficácia aos pedidos
de ajuda.

Assim sendo, a nível mundial, foi introduzido,


de forma crescente, no funcionamento dos
hospitais o conceito de Equipa de Emergência
Médica Intra-Hospitalar - EEMI, de forma a
melhorar o prognóstico e prevenir a PCR.
Nestas equipas estão incluídos médicos e
enfermeiros com formação e/ou experiência
em Emergência.

22 | INEM
Causas e Prevenção de PCR

4. Prevenção da PCR Os doentes com alterações do estado de


consciência têm risco de obstrução da via
Obstrução da via aérea aérea, o que significa ser necessário assumir
medidas preventivas, nomeadamente:
Reconhecimento
• Aspiração de secreções;
Verificar a permeabilidade da via aérea • Posicionamento (alinhamento da
constitui uma medida indispensável na cabeça e pescoço);
avaliação dos doentes em risco de obstrução. • Extensão da cabeça;
Numa fase inicial da obstrução da via aérea, • Colocação de um tubo orofaríngeo;
existem ruídos associados que serão • Via aérea avançada ou traqueostomia.
explicados no capítulo seguinte - V. Se ainda
houver esforço respiratório, o doente
apresenta sinais de grande angústia e pode já Ventilação inadequada
estar em exaustão. Há recurso aos músculos
acessórios (adejo nasal e tiragem intercostal e Reconhecimento
supraclavicular) e o padrão dos movimentos
Os doentes conscientes com dificuldade
abdominais é descrito como “em barco”, com
respiratória, apresentam habitualmente
expansão do abdómen e retração torácica,
queixas e a avaliação clínica permite identificar
pois o esforço inspiratório com a via aérea
a etiologia:
obstruída provoca movimentos opostos aos da
• A hipóxia manifesta-se muitas vezes
respiração normal.
por irritabilidade e confusão;
• A hipercápnia pode provocar letargia e
Tratamento depressão do estado de consciência;
• A cianose pode ser evidente;
Nestes casos, a prioridade é a permeabilização • A alteração da frequência respiratória
da via aérea com as manobras básicas ou mais (<6 cpm e >35 cpm) poderá indicar
avançadas como a entubação endotraqueal, exaustão ou esforço respiratório.
que serão descritas no próximo capítulo - V. A oximetria de pulso é um método simples e
A prevenção da obstrução da via aérea centra- útil de complementar a avaliação destes
se essencialmente na identificação e resolução doentes, sendo um bom indicador indireto da
do problema que a provoca. oxigenação. Não deve dispensar, contudo, a
Por exemplo: avaliação por gasimetria arterial, que não só
• O sangue e secreções devem ser fornece informações mais fidedignas sobre a
removidos precocemente e se houver oxigenação como acrescenta outros dados
possibilidade, deve-se elevar a (PaCO2 e pH).
cabeceira.
• No caso de obstrução por corpo
estranho na vítima inconsciente deve
ser realizada laringoscopia com pinça
magil, assim que possível, e eventual
entubação.

INEM | 23
Suporte Imediato de Vida

Tratamento Os fatores de risco independentes são:


• Idade;
Aos doentes com hipóxia deve ser
• Sexo masculino;
administrado oxigénio suplementar e o
• História familiar de doença
tratamento dirigido à causa subjacente.
cardiovascular;
Por exemplo, num doente em dificuldade
• Tabagismo;
respiratória e com história de traumatismo
• Diabetes mellitus;
torácico recente deve considerar-se a
• Dislipidémia;
possibilidade de pneumotórax podendo
• Hipertensão arterial.
evoluir para pneumotórax hipertensivo, que
deve ser confirmado ou excluído de imediato.
O diagnóstico de pneumotórax hipertensivo é A prevenção mais eficaz é o controlo dos
clínico e implica descompressão imediata. fatores de risco modificáveis como praticar
Nos casos de pneumonia, é fundamental a exercício, e ter uma alimentação equilibrada.24
antibioterapia adequada e, de forma A angina de peito manifesta-se geralmente
complementar, cinesiterapia e terapêutica de pela sensação de aperto ou de desconforto
suporte. Sempre que a ventilação se verificar restroesternal, com irradiação para a
ineficaz, pode haver necessidade de suporte mandíbula, pescoço e para um ou ambos os
ventilatório. membros superiores. A angiografia caracteriza
a doença e ajuda a planificar o tratamento.

A dor associada ao EAM tem características


Causas Cardíacas
semelhantes às da angina, mas é mais
Reconhecimento prolongada no tempo, habitualmente com
duração superior a 30 minutos. As
Embora o risco de morte súbita seja mais manifestações associadas incluem náuseas e
elevado nos doentes com doença cardíaca vómitos, angústia e sintomas
grave, a maioria ocorre em doentes com neurovegetativos. Alguns doentes,
doença cardíaca ainda não diagnosticada.23 A nomeadamente os com diabetes mellitus,
cardiopatia hipertensiva, valvulopatia aórtica, podem sofrer EAM sem apresentarem sinais
miocardite, fibrose e isquémia silenciosa são ou sintomas característicos.
formas assintomáticas de doença cardíaca.

Epidemiologicamente, é possível caracterizar


um conjunto de fatores de risco para
desenvolvimento de doença cardiovascular.

24 | INEM
Causas e Prevenção de PCR

Tratamento Outras Causas

As recomendações para o tratamento do Problemas específicos, como sejam a


EAMSST25 são: hipovolémia, anemia, hipotermia e o choque
• O2 em doentes com SaO2 <90%; séptico, devem ser corrigidos.
• Dupla antiagregação plaquetária, como
por exemplo: 5. Abordagem ao doente crítico -
o Ácido acetilsalicílico (150 a 300 xABCDE
mg PO ou 250mg a 500mg EV);
o Ticagrelor (180 mg). A abordagem xABCDE é uma estratégia
• Anticoagulação (ex. Heparina Não transversal utilizada na avaliação da vítima,
Fracionada - HNF ou Enoxaparina); procurando identificar lesões e tratá-las de
acordo com a prioridade estabelecida pelo
Na fase aguda, perante doentes com xABCDE (Tabela 7 - Abordagem xABCDE,
hipertensão ou IC pode-se considerar
adaptada de Peran et al (2020)26 e RC UK
administração de Nitratos25.
(2021)27).

Apesar da administração de Morfina interferir


com o início de ação dos antiagregantes
plaquetários, nos doentes com dor refratária
pode-se considerar a sua administração.25
Pode haver necessidade de associar
antieméticos.
As medidas de suporte cardiovascular incluem
ainda a correção dos desequilíbrios
eletrolíticos e ácido-base, o controlo da
frequência cardíaca e das disritmias.

INEM | 25
Suporte Imediato de Vida

Tabela 7 - Abordagem xABCDE, adaptada de Peran et al (2020)26 e RC UK (2021)27

26 | INEM
Causas e Prevenção de PCR

PONTOS A RETER

• A PCR pode resultar de obstrução da via aérea, alterações respiratórias ou disfunção


cardíaca;
• A PCR em doentes hospitalizados é habitualmente associada a outros problemas,
sendo, com frequência, antecedida de sinais de alarme nas horas precedentes;
• Os doentes com risco de PCR, se identificados em tempo útil, devem ser alvo de
medidas preventivas eficazes;
• A eficácia da prevenção poderá ser otimizada pela existência de equipas médicas de
emergência;
• Devem ser estabelecidos critérios de identificação de doentes de risco para a ativação
da EEMI;
• A abordagem ao doente crítico deve ser padronizada segundo a metodologia
xABCDE.

INEM | 27
Suporte Imediato de Vida

V. ABORDAGEM DA VIA AÉREA

Objetivos

No final do capítulo, o formando deverá ser capaz de:


• Reconhecer a obstrução da via aérea;
• Permeabilizar e manter permeável a via aérea;
• Executar a abordagem avançada da via aérea;

1. Introdução ao nível da faringe. Hoje sabe-se que a


Os doentes que requerem reanimação têm obstrução ocorre devido ao relaxamento do
frequentemente obstrução da via aérea, palato mole e da epiglote, e não à queda da
geralmente como resultado da depressão do língua.
estado de consciência, mas, ocasionalmente, A obstrução também pode ser causada pelo
como causa primária da PCR. vómito, pelo sangue e ainda por corpos
Nesses casos, a avaliação imediata da via estranhos.
aérea, a sua permeabilização e a ventilação são A obstrução a nível da laringe pode ocorrer por
essenciais, não apenas para prevenir lesões edema de estruturas da via aérea superior, na
hipóxicas cerebrais e de outros órgãos vitais, sequência de queimaduras, inflamação ou
mas também porque, sem uma reoxigenação anafilaxia.28
adequada, poderá ser dificultado o RCE. O espasmo laríngeo pode ainda resultar de
Na base da avaliação da vítima está sempre a uma resposta excessiva à estimulação da via
metodologia xABC(DE). aérea superior ou devido à inalação de um
corpo estranho.
2. Causas de obstrução da via aérea
A obstrução da via aérea pode ser, quanto à A obstrução da via aérea abaixo da laringe é
gravidade, grave ou ligeira. O mecanismo da menos comum, mas pode surgir devido a
obstrução pode ser parcial ou total. secreções brônquicas excessivas, edema da
mucosa, broncospasmo, edema pulmonar,
Pode ocorrer a qualquer nível desde o nariz e
aspiração do conteúdo gástrico, hemorragia
boca até à traqueia. No doente inconsciente, o
pulmonar e pneumotórax secundário a trauma
local mais comum de obstrução da via aérea, é
torácico ou barotrauma.

28 | INEM
Abordagem da Via Aérea

Tabela 8 - Obstrução da via aérea por corpo estranho (ligeira VS grave)

Obstrução ligeira Obstrução grave

Tosse Eficaz? Consegue tossir/Pode haver estridor Não tosse/ Não ventila /Inconsciente

* sinais habituais de OVA: ocorre durante alimentação e a vítima pode apontar para o pescoço

3. Reconhecimento da obstrução da via


aérea A obstrução completa da via aérea num
doente ainda a fazer esforço ventilatório
A forma mais adequada de reconhecer a resulta num movimento ventilatório
obstrução da via aérea é proceder à paradoxal. A observação revela que, quando o
metodologia: doente tenta inspirar a parede torácica
levanta, mas o abdómen é empurrado para
• Ver, Ouvir e Sentir – VOS
dentro.
Procurando Ver movimentos torácicos e
abdominais; O padrão normal da ventilação é um
Ouvir os sons provocados pela ventilação; movimento síncrono para cima e para fora do
Sentir, através da face, o fluxo de ar saindo abdómen (que é empurrado para baixo pelo
pela boca e nariz; diafragma) com o levantamento da parede
torácica.
Quando a obstrução é parcial a entrada de ar Durante a obstrução da via aérea, outros
está diminuída e geralmente é ruidosa: músculos acessórios da ventilação são
• O estridor inspiratório sugere chamados a participar, como os do pescoço e
obstrução ao nível ou acima da laringe; os músculos dos ombros, tentando auxiliar o
• Sibilo expiratório sugere obstrução das movimento da caixa torácica.
vias aéreas inferiores que colapsam
durante a expiração; É necessário proceder ao exame completo do
• O gorgolejo sugere a presença de pescoço, do tórax e abdómen para diferenciar
líquido ou material estranho movimentos paradoxais que podem mimetizar
semissólido na via aérea superior; uma ventilação normal.
• O ressonar surge quando a faringe está
parcialmente ocluída pelo palato mole 4. Permeabilização da via aérea usando
ou epiglote. técnicas básicas
Se a obstrução da via aérea não for resolvida Uma vez reconhecido qualquer grau de
em poucos minutos, de forma a permitir obstrução, devem ser tomadas de imediato
ventilação adequada, podem ocorrer lesões do medidas para permeabilizar a via aérea.
sistema nervoso e outros órgãos vitais por
hipóxia, levando à PCR a curto prazo.

INEM | 29
Suporte Imediato de Vida

Existem três manobras que podem ser usadas 4.1. Extensão da cabeça e elevação do mento
para permeabilizar a via aérea obstruída por
estruturas da via aérea superior, num doente Na vítima inconsciente há disfunção dos
inconsciente: músculos da língua, faringe, pescoço e laringe,
• Extensão da cabeça; o que pode causar incapacidade em manter a
• Elevação do mento; permeabilidade da via aérea quando a cabeça
• Protusão da mandíbula. está numa posição neutra ou em flexão. Assim,
podemos ter vítimas inconscientes com
obstrução da via aérea causada pelo palato
mole e epiglote e outras estruturas da via
aérea superior mesmo quando se encontram
em decúbito lateral ou ventral.
Geralmente, este tipo de obstrução resolve-se
com a extensão da cabeça e elevação do
mento.

Tal como já foi referido anteriormente, esta


Fig. 3 - Permeabilização da VA: Extensão da cabeça e técnica não deve ser usada em que existe
elevação do mento
suspeita de traumatismo da coluna cervical,
A gravidade só por si não explica a obstrução dado que a extensão da cabeça pode agravar
da via aérea num doente inconsciente, já que lesões existentes a nível da coluna cervical.
a obstrução pode ocorrer quando um doente
4.2. Abordagem da via aérea com suspeita de
está na posição supina, em pronação ou em
lesão da coluna cervical
posição lateral. A atividade anormal de vários
músculos da língua, faringe, pescoço e laringe
Nestes doentes, a extensão da cabeça e
pode resultar numa incapacidade de manter a
elevação do mento podem resultar em lesão
permeabilidade da via aérea quando a cabeça
da medula cervical.
está numa posição neutra ou fletida.
O método recomendado para permeabilizar a
O uso de um tubo orofaríngeo (descrito mais
via aérea é a protusão da mandíbula em
adiante) pode ser de alguma utilidade, mas
combinação com alinhamento e estabilização
pode não ser, por si só, o suficiente para
manual da cabeça e do pescoço.
prevenir a obstrução.
É necessário que um assistente mantenha a
A protusão da mandíbula é uma manobra
cabeça numa posição neutra.
alternativa que a projeta para a frente,
aliviando a obstrução causada pelo palato
mole e epiglote.
4.3. Procedimento para efetuar a protusão da
A protusão da mandíbula é a técnica de mandíbula
escolha nos doentes em que há uma suspeita
de lesão da coluna cervical. • Identificar o ângulo da mandíbula com o
dedo indicador;
• Com os outros dedos colocados atrás do
ângulo da mandíbula, aplicar uma pressão
30 | INEM
Abordagem da Via Aérea

mantida para cima e para frente de modo Os tubos orofaríngeos e nasofaríngeos evitam
a levantar o maxilar inferior; o deslocamento do palato mole e da língua
• Usando os polegares, abrir ligeiramente a para trás num doente inconsciente, mas a
boca através da deslocação do mento para extensão da cabeça ou a protusão da
baixo. mandíbula podem também ser necessários.
A posição da cabeça e do pescoço deve ser
Estes métodos simples têm sucesso na maioria mantida com o objetivo de conseguir o
dos casos em que a obstrução da via aérea alinhamento da via aérea.
resulta de um relaxamento dos tecidos moles.
Depois de cada manobra, deve avaliar-se o
sucesso usando a metodologia VOS. Em caso 5.1. Tubos Nasofaríngeos
de insucesso é necessário procurar outras
São feitos de plástico maleável com uma
causas de obstrução da via aérea.
extremidade em bisel. São muitas vezes mais
bem tolerados do que os tubos orofaríngeos
Um corpo estranho sólido visível na boca deve em doentes que não estão profundamente
ser removido usando os dedos, uma pinça ou inconscientes e podem ser muito úteis em
por aspiração. doentes com mandíbulas fechadas, vulgo
trismus ou com reflexo laríngeo patente.
No entanto, não devem ser utilizados em
doentes com suspeita de fratura da base do
crânio.
Os tubos têm tamanhos em milímetros, de
acordo com o seu diâmetro interno e com o
comprimento. O comprimento aumenta com o
diâmetro. Os tamanhos utilizados nos adultos
Fig. 4 - Permeabilização da VA: Protusão da vão de 6 a 7 milímetros.
mandíbula A inserção pode causar danos na mucosa nasal
Próteses dentárias deslocadas ou partidas resultando em hemorragia. Se o tubo é
devem ser removidas, mas aquelas que demasiado longo, pode estimular o reflexo
estiverem bem-adaptadas não devem ser laríngeo ou glossofaríngeo e provocar
retiradas, já que podem ajudar a manter os laringospasmo ou vómito.
contornos da face, facilitando uma boa O comprimento adequado do tubo é aquele
selagem para a ventilação boca-a-boca ou com que correspondente à distância entre a asa do
máscara facial. nariz e o ângulo da mandíbula da vítima.
Pode ser fixado com adesivo; alguns modelos
5. Adjuvantes para técnicas básicas da têm um alfinete de segurança ou um limitador
via aérea de borracha que evitam que o tubo possa
Acessórios simples são muitas vezes úteis, e progredir distalmente.
por vezes essenciais para manter a
permeabilidade da via aérea, particularmente
quando a reanimação é prolongada.
INEM | 31
Suporte Imediato de Vida

Procedimento Tubo Nasofaríngeo Procedimento Tubo Orofaríngeo

• Verificar a permeabilidade da narina29 • Selecionar o tubo orofaríngeo


• Lubrificar o tubo usando lidocaína em indicado;
gel ou similar; • Abrir a boca e verificar/retirar corpos
• Inserir a extremidade biselada com um estranhos que possam ser empurrados
ligeiro movimento de rotação até que a para a faringe durante a introdução do
extremidade biselada fique na faringe; tubo;

• Se existir dificuldade na progressão, Introduzir o tubo orofaríngeo na
deve remover-se o tubo e tentar a cavidade oral em posição invertida, isto
outra narina. é, com a parte convexa virada para a
língua;
• Introduzi-lo até passar o palato duro e
então rodá-lo 180º, de forma que a
parte côncava fique virada para a
língua, e continuar a empurrar em
direção à faringe;
• Se, a qualquer momento, sentir que a
vítima reage à introdução do tubo, por
exemplo tossindo, deve retirá-lo
imediatamente.
Fig. 5 - Tubo Nasofaríngeo: medição e colocação

5.2. Tubos Orofaríngeos

Tubos orofaríngeos são tubos de plástico


curvos e achatados, reforçados na
extremidade oral, para permitir que se
adaptem perfeitamente entre a língua e o
palato duro.
O tamanho do tubo adequado corresponde à
Fig. 6 - Tubo Orofaríngeo: medição e colocação
distância entre os incisivos e o ângulo da
mandíbula da vítima. Esta técnica de rotação minimiza a
Durante a inserção do tubo orofaríngeo, a possibilidade de empurrar a língua para trás. O
língua pode ser empurrada para trás, doente deve, no entanto, estar
agravando a obstrução em vez de a aliviar. suficientemente inconsciente para não ter o
Pode ocorrer vómito ou laringospasmo se os reflexo de vómito ou lutar contra o tubo.
reflexos glossofaríngeo e laríngeo estiverem
presentes.

32 | INEM
Abordagem da Via Aérea

A colocação correta verifica-se pela melhoria facial e à entubação endotraqueal. São


da permeabilidade da via aérea e pela designados de dispositivos supraglóticos
adaptação da secção achatada reforçada ao (DSG), introduzidos na prática clínica em 1988
nível dos dentes do doente. com a máscara laríngea clássica (ML). Estes
Após a inserção, deve verificar-se a dispositivos sofreram a evolução lógica
permeabilidade da via aérea e ventilação adaptada às necessidades práticas de
usando mais uma vez a técnica VOS. segurança em termos de ventilação e
prevenção da regurgitação de conteúdo
gástrico, sendo os dispositivos mais
6. Técnicas de abordagem avançada da
consensuais designados de DSG de segunda
via aérea
geração.30 Entre estes encontram-se, por
A entubação endotraqueal é um método que exemplo, a máscara laríngea ProSeal, I-gel,
permite ventilar eficazmente mantendo uma Supreme, tubo laríngeo. Para a sua utilização
via aérea permeável e segura, mas requer deverão ser seguidas as indicações específicas
muita experiência e treino para a sua do fabricante.
execução. Tentativas prolongadas para
Procedimento Colocação DSG genérico
entubação são prejudiciais, uma vez que a
• Escolher o tamanho adequado e testar o
interrupção das compressões torácicas
cuff (se aplicável);
durante essas tentativas vai comprometer a
• Lubrificar o DSG usando lidocaína em gel
perfusão coronária e cerebral.
ou similar;
• Introduz-se o DSG na boca até sentir
6.1. Dispositivos Supraglóticos resistência, segurando-o como uma
caneta, e, com a abertura distal
São vários os dispositivos que têm vindo a ser
orientada para os pés.
utilizados no manuseio da via aérea durante a
RCP em alternativa à ventilação com máscara

Fig. 9 - Máscara Laríngea Supreme


Fig. 7 - Máscara Laríngea

Fig. 10 - Tubo Laríngeo

Fig. 8 - Máscara Laríngea ProSeal


Fig. 11 - I-Gel
INEM | 33
Suporte Imediato de Vida

6.2. Entubação traqueal


Em alguns casos, a laringoscopia e a tentativa
A entubação traqueal deve ser realizada por
de entubação podem ser impossíveis ou
profissionais experientes com elevada taxa de
mesmo pôr em risco a vida do doente, como
sucesso (definida como >95% após 2 tentativas
nos casos de epiglotites agudas, patologia
de entubação).
faríngea, lesões intracranianas (por causar
Os operacionais treinados na abordagem da aumento da pressão intracraniana) ou ainda
via aérea devem ser capazes de fazer em doentes com lesão da coluna cervical.
laringoscopia sem interromper as Nestas circunstâncias é necessário requerer
compressões torácicas, requerendo apenas ajuda de um perito no manuseamento da via
uma breve pausa para passar o tubo pelas aérea, a utilização de laringoscopia de fibra
cordas vocais. ótica.
Nenhuma entubação traqueal deve provocar
a interrupção das compressões torácicas por
mais de 5 segundos.
Feita a entubação, a fixação com nastro é feita
depois da confirmação da posição do tubo.
Os dispositivos supraglóticos da via aérea são A mais grave das complicações da
tentativa de entubação traqueal é a
mais fáceis de introduzir do que os tubos
entubação do esófago não reconhecida.
traqueais e, ao contrário da entubação
traqueal, podem, em geral, ser colocados sem
interrupção das compressões.

Fig. 12 - Tubo endotraqueal

34 | INEM
Abordagem da Via Aérea

É importante salientar que a entubação Quando a vítima já tem uma via orofaríngea
traqueal requer aptidões e treino que são mais colocada e é necessário efetuar a aspiração,
demorados de obter do que qualquer outra para além da aspiração da cavidade oral, pode
técnica avançada de controlo da via aérea, ser necessário também aspirar o seu interior
pelo que não deve ser usada por de forma a manter a permeabilidade da via
inexperientes, cujas tentativas repetidas aérea. Nestas situações, deve utilizar-se uma
podem ser traumáticas e podem comprometer sonda de calibre apropriado, habitualmente de
a oxigenação. menor calibre que a utilizada para aspiração da
cavidade oral, de forma a permitir a sua
Esta técnica: manipulação no interior do tubo.
• Possui uma curva de aprendizagem
É necessário ter em atenção que a sonda não
lenta e um elevado nível de especialização
deve ser introduzida profundamente, mas
e prática para a sua manutenção;
apenas o necessário para aspirar as secreções
• Permite isolar a via aérea por ou outros fluídos presentes na hipofaringe, de
insuflação do cuff, reduzindo o risco de forma a manter a permeabilidade da via aérea.
aspiração; Introduzir a sonda profundamente terá como
• Permite a aspiração endotraqueal, se consequência a estimulação das zonas da
necessário; faringe que condicionam o reflexo de vómito
• Permite ventilar eficazmente, sem ou mesmo a indução de um espasmo laríngeo
fugas, mesmo quando a pressão nas vias com o consequente agravamento da
aéreas elevada. obstrução da via aérea.

7. Aspiração A aspiração de secreções deve ser feita de


Nas situações de obstrução parcial da via aérea forma cuidada para não causar traumatismos
por um fluído – vómito, sangue ou secreções – da mucosa da cavidade oral ou da faringe. A
, é necessário proceder à aspiração da sonda deve ser introduzida sem estar em
cavidade oral e da orofaringe, utilizando para aspiração e ser retirada em aspiração ativa
tal o aspirador de secreções, de forma a efetuando movimentos circulares suaves.
manter a permeabilidade da via aérea.
Os aspiradores de secreções permitem
A aspiração da cavidade oral pode ser feita selecionar diferentes pressões de vácuo para
com uma sonda rígida tipo Yankauer ou com utilização em adultos ou em crianças.
uma sonda de aspiração de maior calibre,
A aspiração endotraqueal é efetuada com
sobretudo nos casos em que é preciso aspirar
sondas maleáveis e estéreis com o cuidado de
conteúdo alimentar espesso.
ser feita apenas por breves períodos e
precedida por pré-oxigenação com oxigénio a
100%, dado que pode causar hipóxia.

INEM | 35
Suporte Imediato de Vida

PONTOS A RETER

• Na reanimação, é essencial dominar corretamente as técnicas de permeabilização da


via aérea;
• Os profissionais de saúde devem saber utilizar adjuvantes de via aérea, dado
aumentarem a eficácia da reanimação;
• A intubação endotraqueal só deve ser tentada por operacionais treinados com elevado
nível de experiência;
• Métodos alternativos, como a Máscara Laríngea ou o Tubo Laríngeo, são considerados
válidos.

36 | INEM
Ventilação e Oxigenação

VI. VENTILAÇÃO E OXIGENAÇÃO

Objetivos

• Fornecer ventilação artificial usando técnicas básicas;

1. Insuflador manual Existem insufladores manuais de vários


O Insuflador manual é o dispositivo mais tamanhos: os adequados à ventilação de
frequentemente utilizado para ventilação dos adultos (capacidade de 1600 mL), os
doentes em paragem respiratória. pediátricos (450-500mL) e os neonatais (250
Vulgarmente conhecido por “AMBU”, é mL). Estes últimos podem, no entanto, não
composto por um balão de material plástico permitir a correta ventilação de recém-
autoinsuflável, com uma válvula unidirecional, nascidos com alguns dias ou lactentes.
acoplado a uma máscara facial, semelhante à O insuflador manual pode ser conectado a
máscara de bolso. uma máscara, ao tubo endotraqueal ou aos
dispositivos supraglóticos.
Existem máscaras de vários tamanhos,
devendo ser selecionada uma que permita
tapar completamente a boca e nariz da vítima
e que, ao ser colocada com um bordo no sulco
mentoniano, não tape os olhos da vítima.

Fig. 14 - Insuflador manual

Sem oxigénio suplementar, durante a


compressão do balão, o ar é insuflado para os
pulmões com ar ambiente (21% de oxigénio).
O relaxamento do balão permite que o ar
expirado saia através da válvula unidirecional Fig. 13 - Ventilação com insuflador manual - 2 reanimadores
e que o insuflador encha por uma válvula na
extremidade oposta. A sua utilização eficaz requer treino
O insuflador manual tem uma conexão para continuado, dado que é necessário efetuar em
ligar uma fonte de oxigénio e permite obter simultâneo vários movimentos: extensão da
concentrações de oxigénio da ordem dos 50%. cabeça, elevação do mento, pressão da
Se for utilizado um sistema de reservatório de máscara sobre a face e insuflação do balão. A
oxigénio, simultaneamente com um débito de má técnica pode causar hipoventilação ou
oxigénio superior a 10 litros/minuto, podem distensão gástrica e regurgitação.
atingir-se concentrações próximas dos 90%.

INEM | 37
Suporte Imediato de Vida

Não havendo boa adaptação da máscara à face 2. Ventilação e Oxigénio


da vítima, existem fugas de ar que impedem
uma correta ventilação. A fuga de ar não se • Manter elevadas concentrações de
compensa aumentando a velocidade de oxigénio durante a reanimação;
compressão do balão que, tal como nos outros • Após a RCE, administração controlada, de
métodos de ventilação, deve ser lenta durante modo a manter a SpO2 entre 92 – 96%.31
a fase de insuflação de ar, pelos motivos já
anteriormente expostos. Se ocorrerem fugas Durante a reanimação, administrar oxigénio
de ar, deve ser revisto o posicionamento das sempre que possível. No início da reanimação,
mãos e a localização da máscara na face da administrar O2 na maior concentração
vítima. disponível.

O insuflador manual deve ser utilizado quando Para evitar um volume de ventilação elevado
se encontram presentes dois reanimadores, recomenda-se a administração de O2
com treino na sua utilização. Um deles adapta suplementar a pelo menos 10 L/min, ou seja,
a máscara à face da vítima com ambas as mãos com concentrações de O2 de pelo menos 40%.
(tal como descrito em relação à máscara facial O volume de ar que se pretende insuflar,
em posição cefálica) e o outro comprime suficiente para ventilar eficazmente a vítima e
lentamente o balão para efetuar a insuflação diminuir a probabilidade de ocorrência de
de ar. regurgitação do conteúdo gástrico. Tal como
referido anteriormente, o volume de ar deve
Deve estar garantida a permeabilidade da via ser apenas o necessário para causar uma
aérea, sendo útil a colocação de um tubo expansão torácica tal como numa respiração
orofaríngeo, mas é fundamental a normal.
manutenção do correto posicionamento da
cabeça em extensão e elevação do mento. Logo que a SATO2 puder ser corretamente
No caso de a vítima se encontrar em PCR, um medida, por oximetria de pulso (SpO2) ou
reanimador adapta a máscara e mantém o gasimetria arterial, titular FiO2 para atingir
posicionamento da cabeça, enquanto o outro SpO2 entre 92-96%31.
efetua alternadamente as compressões e as
insuflações.

38 | INEM
Ventilação e Oxigenação

PONTOS A RETER

• Na reanimação, é essencial dominar corretamente as técnicas de ventilação;


• Os profissionais de saúde devem saber utilizar dispositivos para ventilação e
suplementação com oxigénio, dado aumentarem a eficácia da reanimação.

INEM | 39
Suporte Imediato de Vida

VII. MONITORIZAÇÃO CARDÍACA E RITMOS

Objetivos

No final do capítulo, o formando deverá:


• Conhecer as indicações para monitorização eletrocardiográfica;
• Executar corretamente a técnica de monitorização eletrocardiográfica;
• Reconhecer os vários elementos do ECG e os principais ritmos;

Nas vítimas de PCR, o principal objetivo da Concluindo, em situações urgentes ou


monitorização eletrocardiográfica é a emergentes o mais importante é saber
identificação do ritmo para instituir de avaliar a repercussão hemodinâmica da
imediato o tratamento correto. disritmia. A sua classificação precisa é
A leitura correta do traçado ECG exige secundária.
experiência, em que o cumprimento
sistemático das regras básicas de
interpretação do traçado facilita a Tratam-se doentes, não se tratam dados
identificação rápida e correta do ritmo. eletrocardiográficos
A incapacidade de diagnosticar
atempadamente ritmos desfibrilháveis é o
principal obstáculo à desfibrilhação precoce
e, consequentemente, à eficácia das
1. Monitorização cardíaca
manobras de SAV, o que levou à criação dos
DAE. Estes aparelhos fazem a análise 1.1. Monitores Cardíacos
automática do ritmo e, quando identificam
Existem vários tipos de monitores cardíacos.
ritmos desfibrilháveis, carregam energia
Tendo em comum várias características,
automaticamente, informando o operador
todos têm um ecrã para visualização do
de que se trata de um ritmo desfibrilhável e
ritmo cardíaco e alguns permitem imprimir e
de quando é possível acionar o choque
gravar os registos ECG. Há monitores que
elétrico.
permitem a análise automática do ritmo
Desta forma, foi possível aumentar o número (modo DAE) e muitos determinam a
de indivíduos com capacidade para frequência cardíaca e têm alarmes
desfibrilhar. Estes desfibrilhadores podem automáticos pré-estabelecidos.
ser utilizados por elementos que não têm
formação suficiente para interpretarem
ritmos eletrocardiográficos.

40 | INEM
Monitorização Cardíaca e Ritmos

1.2. Elétrodos de Monitorização 1.4. Monitorização em modo auxiliar


Quando há tempo para efetuar Os DAE e vários desfibrilhadores manuais
monitorização ECG, é preferível usar utilizam elétrodos multifunções
elétrodos adesivos colados ao tórax do impregnados de gel que permitem
doente, em áreas previamente depiladas ou simultaneamente registar o ritmo e
limpas com álcool. Estes geralmente têm desfibrilhar (choque de mãos livres). Os
letras a identificar o local onde deverão ser elétrodos devem-se colocar um abaixo da
colados, de preferência sobre prominências clavícula à direita e outro na linha média
ósseas para minimizar as interferências axilar, próximo da axila. Em alternativa,
elétricas. A região precordial deve ficar livre podem ser colocados em posição ântero-
para o caso de ser necessário fazer posterior.
compressões torácicas e/ou desfibrilhação.

Fig. 16 - Colocação de elétrodos adesivos multifunções

1.5. Diagnóstico baseado no registo


do monitor cardíaco

A imagem do ecrã e os registos impressos a


partir dessa imagem só permitem identificar
Fig. 15 - ECG Derivações de membros o ritmo cardíaco, não permitindo a avaliação
do segmento ST ou outras interpretações
mais elaboradas. É fundamental registar uma
Habitualmente seleciona-se a derivação DII
tira de ritmo para documentação das
que é aquela que permite visualizar melhor a
ocorrências durante a reanimação.
onda P, com complexo QRS com amplitude
suficiente para permitir a leitura da O ECG de 12 derivações deve ser obtido
frequência cardíaca. assim que seja possível, porque não pode ser
feito um diagnóstico preciso apenas com a
imagem do monitor. Só um registo de 12
1.3. Monitorização após Paragem
derivações permite obter toda a informação
Cardíaca
ECG possível para iniciar o tratamento
Em situações de paragem cardíaca, é adequado. Da mesma forma, deve ser
fundamental visualizar o ritmo rapidamente. registada de forma contínua a resposta ao
Os elétrodos multifunções são os preferíveis tratamento, nomeadamente aos
para a monitorização e desfibrilhação. antiarrítmicos, pela possibilidade de nos dar
informações importantes sobre a natureza e
origem da disritmia.
INEM | 41
Suporte Imediato de Vida

2. Conceitos básicos de eletrofisiologia Assistolia


A contração do músculo cardíaco resulta da
despolarização das membranas celulares.
Em repouso, a célula miocárdica e o tecido
de condução estão polarizados,
Fig. 17 - Traçado de Assistolia
apresentando uma diferença de potencial de
aproximadamente 90 mV entre o interior e o 1.TEM ATIVIDADE ELÉTRICA ? NÃO
exterior da célula. O processo de Habitualmente a assistolia auricular e
despolarização anula este diferencial com ventricular coexistem, pelo que o traçado é
entrada e saída de iões a que se segue a uma linha sem deflexões. Contudo, podem
contração muscular. observar-se deflexões por interferências
Na ausência de patologia, a despolarização múltiplas, podendo confundir-se com
inicia-se no nódulo sinoauricular, tecido de fibrilhação ventricular fina.
condução dotado de despolarização Uma linha totalmente reta pode ocorrer
automática localizado na aurícula direita, e quando um dos elétrodos está desligado ou
propaga-se a toda a aurícula, existe um problema com as conexões. Se
desencadeando a sua contração. possível, avaliar uma derivação diferente e
interromper o contacto com o corpo do
A onda de despolarização atinge o nódulo
doente por instantes para excluir
auriculoventricular onde sofre um atraso de
interferências.
condução, propagando-se posteriormente
para o ventrículo através do feixe de His. Este
divide-se em ramo direito (despolarização do
ventrículo direito) e em ramo esquerdo, que Em caso de monitorização ECG, para
se subdivide em feixe anterior e posterior. Os verificar uma assistolia deve iniciar SBV e :
ramos do feixe de His vão-se subdividindo • Verificar as conexões na vítima e no
até formarem a rede de Purkinje. O equipamento;
complexo QRS corresponde à despolarização
• Aumentar o ganho (amplitude) do registo;
ventricular e a onda T, que se segue ao
• Mudar a derivação.
complexo QRS, corresponde à repolarização
ventricular. Assim que realizados os 3 passos,
interrompe SBV para confirmar o ritmo e
prossegue com algoritmo.
3. Ritmos de paragem cardíaca
Os ritmos de PCR são: Atenção: A atividade auricular pode ocorrer
• Assistolia por um curto período após o início da
• Fibrilhação ventricular (FV) assistolia ventricular. Neste caso, o traçado
• Atividade Elétrica sem pulso (AEsp) ECG mostra uma linha interrompida por
• Taquicardia ventricular sem pulso (TVsp) ondas P.

42 | INEM
Monitorização Cardíaca e Ritmos

Fibrilhação ventricular (FV)

O diagnóstico de AEsp implica a identificação


de um ritmo ECG que habitualmente se
acompanha de função ventricular normal ou
quase, mas que se acompanha de ausência
Fig. 18 - Fibrilhação Ventricular
de débito cardíaco eficaz, ou seja, ausência
1.TEM ATIVIDADE ELÉTRICA ? SIM de pulso.
2.É ORGANIZADA? NÃO
Erradamente pode levar o reanimador a
Na FV, o miocárdio ventricular sofre interpretar como ritmo sinusal, bradicardia
despolarizações múltiplas sem qualquer ou taquicardia, no entanto, não havendo
coordenação da atividade elétrica. É uma pulso palpável, inicia-se SBV e prossegue-se
atividade elétrica desorganizada, rápida e com o algoritmo.
bizarra, com uma frequência e amplitude
sem qualquer regularidade aparente. Pode Taquicardia ventricular (TV)
ser classificada como grosseira ou fina,
dependendo da amplitude dos complexos. A
fibrilhação fina pode confundir-se com a
assistolia.
Quando o ritmo é claramente interpretado Fig. 20 - Taquicardia Ventricular
como FV (mesmo a FV fina), o mesmo deve
ser desfibrilhado. 1.TEM ATIVIDADE ELÉTRICA ? SIM
2.É ORGANIZADA? SIM
Atividade elétrica sem pulso (AEsp)
3.TAQUICÁRDIA COMPLEXOS LARGOS? SIM

A TV é uma atividade elétrica organizada que


pode cursar com ausência do débito
cardíaco, se a frequência ventricular for
muito elevada ou se a função ventricular já
Fig. 19 - Atividade Elétrica sem pulso (AEsp)
estiver comprometida. O tratamento da TV
sem pulso é o mesmo da FV: desfibrilhação
1.TEM ATIVIDADE ELÉTRICA ? SIM imediata.
2.É ORGANIZADA? SIM
3.TAQUICÁRDIA COMPLEXOS LARGOS? NÃO

AEsp significa a existência de atividade


elétrica organizada, mas com diminuição
acentuada do débito cardíaco, que em clínica
equivale a paragem cardíaca.

INEM | 43
Suporte Imediato de Vida

4. Ritmos em PCR – 1ªAnálise

Fig. 21 - Ritmos em PCR (1ª análise)

44 | INEM
Monitorização Cardíaca e Ritmos

PONTOS A RETER

• Durante as manobras de reanimação, é fundamental a monitorização adequada do


ritmo cardíaco;
• É essencial o conhecimento básico da monitorização ECG, uma vez que as decisões
terapêuticas são feitas em sua função;
• A avaliação ECG requer treino e experiência, pelo que deve ser feita de forma
sistematizada;
• A Desfibrilhação Automática Externa em situações de PCR permite ultrapassar o
problema da interpretação ECG, identificando rápida e corretamente os ritmos
desfibrilháveis, iniciando rapidamente o seu tratamento.
• Havendo necessidade de uma rápida interpretação de ritmos (monitor desfibrilhador),
é possível sistematizar a identificação dos quatro ritmos de PCR com a ajuda de três
perguntas:
1.TEM ATIVIDADE ELÉTRICA?
2.É ORGANIZADA?
3.TAQUICÁRDIA COMPLEXOS LARGOS?

INEM | 45
Suporte Imediato de Vida

VIII. DESFIBRILHAÇÃO ELÉTRICA

Objetivos

No final do capítulo, o formando deverá:


• Compreender o que se entende por desfibrilhação elétrica;
• Identificar como e quando é indicada a desfibrilhação;
• Saber garantir condições de segurança para o doente e toda a equipa durante a
desfibrilhação;
• Identificar o funcionamento dos diferentes tipos de desfibrilhadores.

Quando ocorre uma FV ou uma TVsp, cessa de


Com o Programa Nacional de Desfibrilhação
imediato o débito cardíaco e,
Automática Externa do INEM, IP., que teve
consequentemente, é interrompida a
início em 2009 e que continua em expansão,
circulação cerebral, surgindo lesões de hipóxia
pode aumentar o número de vítimas a quem é
em apenas 3 minutos.6
feito SBV + Desfibrilhação Precoce e por essa
Para que se possa conseguir uma recuperação via aumentar a sobrevida das PCR por SCA no
neurológica total, é necessário restaurar, o pré-hospitalar.
mais precocemente possível, o débito
cardíaco. Para tal, a desfibrilhação deve ser
1. Pré-desfibrilhação
efetuada de imediato.
1.1. Minimizar a pausa pré-choque
Na eventualidade de um desfibrilhador não
O intervalo entre a paragem das compressões
estar de imediato disponível, deve ser iniciado
torácicas e a aplicação do choque (pausa pré-
SBV.
choque) deve ser reduzido ao mínimo possível.
O SBV é uma medida de suporte que permite Com uma liderança eficiente da equipa, capaz
manter algum débito cardíaco e algum grau de de manter comunicação eficaz, a pausa pré-
oxigenação com o objetivo de manter uma choque pode ser facilmente reduzida para
perfusão mínima dos órgãos nobres até que o menos de 5 segundos, mantendo as
tratamento definitivo, a desfibrilhação compressões durante o tempo de carga do
elétrica, possa restaurar o débito cardíaco. desfibrilhador. A confirmação de segurança de
Quanto mais curto for o tempo decorrido que ninguém está em contacto com a vítima
entre a FV ou a TV sem pulso e a aplicação do no momento da desfibrilhação deve ser feita
choque, maior é a probabilidade de se de forma rápida e eficiente. A pausa pós-
conseguir reverter a arritmia e, em simultâneo choque deve ser reduzida pelo reinício
com um SBV adequado, restaurar um débito imediato das compressões a seguir ao choque.
cardíaco eficaz melhorando o prognóstico do A totalidade do processo de desfibrilhação
doente. deve estar completa em menos de 5 segundos.

46 | INEM
Monitorização Cardíaca e Ritmos

1.2. Elétrodos autocolantes versus pás A corrente, por sua vez, é influenciada pela
manuais impedância transtorácica, pela posição dos
Os elétrodos autocolantes/ multifunções, na elétrodos e pela energia do choque.
prática, têm vantagens na monitorização e
desfibrilhação de rotina, quando comparados 2.1. Impedância transtorácica
com as pás dos desfibrilhadores clássicos.
A magnitude da corrente que atravessa o
São seguros, eficazes e preferíveis, em
miocárdio depende da voltagem aplicada e da
detrimento das pás manuais dos
3
resistência oferecida à passagem do choque
desfibrilhadores.
pelos vários tecidos (parede torácica, pulmões
e miocárdio).

1.3. SBV antes da desfibrilhação A impedância transtorácica é influenciada:


Pelo tamanho dos elétrodos ou das pás:
Demonstrou-se que fazer compressões
torácicas enquanto o desfibrilhador está a • A impedância entre as pás e a pele
carregar melhora a probabilidade de pode ser reduzida pela aplicação de gel
sobrevida. líquido. No entanto, o excesso de gel
sobre o tórax do doente pode levar a
Deve ser feito SBV da melhor qualidade a todas
fenómenos de arco voltaico. Elétrodos
as vítimas de PCR, até chegar o desfibrilhador
autocolantes com gel condutor na
e este ser conectado e carregado.
forma semissólida são preferíveis,
Existem alguns modelos de desfibrilhador em
devendo ser cuidadosamente colados;
que o intervalo de tempo entre a carga e a
Pela fase da ventilação:
possibilidade de dar choque é quase
instantâneo. Assim é fundamental conhecer o • A impedância é menor na expiração,
equipamento em questão e minimizar as por ser menor o volume de ar nos
pausas pré-choque mantendo SBV. pulmões, pelo que a desfibrilhação
deve ser feita nesta fase;
Pela existência de pelos torácicos:
2. Mecanismo da desfibrilhação elétrica
• Quando necessário deve efetuar-se
A desfibrilhação consiste na aplicação de um
uma tricotomia rápida no local de
choque elétrico no tórax, para que a corrente
aplicação das pás/ elétrodos, mas, se
elétrica atravesse o miocárdio, causando uma
tal não for possível, a desfibrilhação
despolarização de toda, ou quase toda, a
não deve ser atrasada por este motivo.
massa muscular cardíaca. Isto permite ao
coração retomar um ritmo normal através da Apenas uma pequena percentagem (cerca de
entrada em funcionamento da sua estrutura 4%) da corrente aplicada no tórax atinge
de comando habitual, o nódulo sinusal. efetivamente o miocárdio. Alguns
desfibrilhadores atuais têm capacidade de
Uma desfibrilhação com sucesso é,
medir a impedância transtorácica e ajustar a
habitualmente, a que consegue despolarizar
corrente à impedância medida.
uma massa crítica de miocárdio. O sucesso
depende mais da corrente que efetivamente
atinge o miocárdio (medida em Amperes) do
que da energia do choque (medida em Joules).
INEM | 47
Suporte Imediato de Vida

2.2. Posição dos elétrodos pensos adesivos contiverem partes


metálicas) ou ainda resistência
A posição ideal dos elétrodos é aquela que aumentada à passagem da corrente;
permite a passagem do máximo de corrente • Ninguém pode estar em contacto com a
pelo miocárdio. cama ou maca do doente nem tocar ou
Apesar de os elétrodos estarem marcados manipular os sistemas de perfusão de
como “positivo” e “negativo” ou as pás com soros (seringas infusoras ou outros);
“esternal” e “apical”, a sua colocação é • O elemento da equipa responsável pelo
indiferente, no que concerne ao sucesso da manuseamento da via aérea deve
desfibrilhação. assegurar que não existe fluxo de oxigénio
No caso de pacemaker ou CDI, os elétrodos nas proximidades (distância mínima de
devem ser colocado pelo menos 8 cm afastado segurança – 1 metro) no momento da
dos dispositivos. A alternativa será a colocação aplicação do choque, dado o risco de arco
dos elétrodos ou pás na posição ântero- elétrico e explosão. Deixe o insuflador
posterior. manual ou o circuito de ventilação
conectado ao tubo traqueal ou via aérea
No que concerne aos CDI, quando estes
supraglótica, pois a fonte de oxigénio
dispositivos detetam uma FV/ TV, efetuam até
ficará afastada do tórax;3
seis descargas elétricas. Para além deste
• O operador deve ter o cuidado de não
número, o CDI apenas dará novos choques
tocar em qualquer parte dos elétrodos e
caso seja detetado um novo episódio de FV/
gritar ‘AFASTAR’, confirmando
TV.
visualmente que essa ordem é cumprida.
Após desfibrilhação externa, se as manobras
de reanimação tiverem sucesso, quer os CDI
quer os pacemakers devem ser objeto de uma
Se o desfibrilhador tiver sido carregado e já
revisão.
não estiver indicada a aplicação do choque, a
mesma pode ser anulada movimentando o
seletor de energia.
2.3. Segurança
Alguns aparelhos perdem automaticamente a
A desfibrilhação deve ser segura, não pondo carga se a energia não for administrada
em risco os elementos da equipa: durante um determinado período.

• É fundamental que ninguém esteja em


contacto direto ou indireto com o doente;
2.4. Energia do choque
• É necessário ter o maior cuidado com a
água. Se o doente estiver molhado deve
A energia do choque é habitualmente expressa
ser limpo previamente e serem retiradas
em Joules.
as roupas molhadas ou húmidas;
Se a energia do choque for demasiado baixa, a
• É necessário retirar os pensos adesivos de
desfibrilhação não será eficaz. No entanto, o
medicação transdérmica pois a aplicação
uso de energia excessiva pode lesar o
das pás sobre os mesmos acarreta riscos
miocárdio, comprometendo a sua função ou
de explosão (ex.: nitroglicerina
causando o aparecimento de arritmias
transdérmica), queimaduras locais (se os
48 | INEM
Monitorização Cardíaca e Ritmos

refratárias. As recomendações do nível de convencionais permitiam apenas a aplicação


energia são estabelecidas em consensos de choques com ondas de corrente
baseados na revisão cuidadosa da literatura. monofásicas; existem atualmente
desfibrilhadores que permitem a aplicação de
No caso de desfibrilhadores bifásicos, a
corrente com ondas bifásicas.
energia do primeiro choque deve ser de 150 a
200 Joules, sendo recomendado incrementar
nos choques seguintes, devendo, portanto, ser
3.1. Desfibrilhadores manuais
de 200 a 360 Joules. Devem respeitar-se as
orientações do fabricante no que se refere à Com um desfibrilhador manual, o operador
energia do choque. tem de interpretar o ritmo e decidir se está ou
não indicada a aplicação do choque. A seleção
3. Desfibrilhadores de energia, carga e aplicação do choque são
Existem vários tipos de monitores cardíacos igualmente determinadas pelo operador.
que têm em comum um ecrã para visualização O que requer que só podem ser utilizados por
do ritmo cardíaco. Alguns permitem ainda operadores com a capacidade de interpretar o
imprimir e/ou gravar os registos ritmo, o que requer treino prolongado.
eletrocardiográficos, detetar a frequência A sequência de ações reporta-se ao algoritmo
cardíaca e estabelecer alarmes para vários de SAV.
parâmetros. Outros desfibrilhadores
permitem a análise automática de ritmos,
como os DAE. Os desfibrilhadores

INEM | 49
Suporte Imediato de Vida

PONTOS A RETER

• A Desfibrilhação é o único método para restabelecer a circulação espontânea na vítima


em FV/ TVsp.
• Para ser eficaz, a desfibrilhação deve ser o mais precoce possível, eficiente e segura.
• Devem reduzir-se as pausas pré e pós-choque e manter as compressões durante a
carga do desfibrilhador.

50 | INEM
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida

IX. ALGORITMO DE SUPORTE AVANÇADO DE VIDA32

Objetivos

No final do capítulo, o formando deverá:


• Reconhecer e distinguir os ritmos desfibrilháveis e os ritmos não desfibrilháveis;
• Enumerar a sequência de ações e procedimentos do Algoritmo de SAV;
• Saber tratar os doentes em PCR com FV ou TVsp;
• Saber tratar os doentes em PCR em Assistolia ou AEsp;
• Enumerar as causas potencialmente reversíveis de PCR e sua abordagem terapêutica;
• Conhecer os principais fármacos usados durante a reanimação e suas vias de administração.

Os ritmos inerentes à paragem cardíaca Os procedimentos a seguir são comuns aos


dividem-se em dois grandes grupos: dois grupos e obedecem aos mesmos objetivos
Os ritmos desfibrilháveis: e princípios:
• Fibrilhação ventricular (FV); • Efetuar suporte básico de vida precoce,
• Taquicardia Ventricular sem pulso de elevada qualidade e ininterrupto;
(TVsp). • Permeabilização da via aérea de modo
a assegurar oxigenação dos órgãos
Os ritmos não desfibrilháveis:
nobres;
• Assistolia;
• Ventilação com adjuvantes da via aérea
• Atividade Elétrica sem pulso (AEsp).
(VA);
Os ciclos são genericamente iguais, com um • Estabelecer acessos venosos, EV ou IO;
período de SBV de 2 minutos, antes de avaliar • Administrar adrenalina;
o ritmo e, quando indicado, avaliar o pulso. • Identificar e corrigir, se possível, causas
potencialmente reversíveis.
A principal diferença na atuação destes dois
grupos de paragem cardíaca reside na Embora o algoritmo SAV se aplique a todas as
necessidade de desfibrilhação imediata na situações de paragem cardíaca, algumas
presença de FV ou TVsp. atitudes adicionais podem estar indicadas em
paragens causadas por circunstâncias
especiais.

As intervenções que se revelam de maior


importância na sobrevivência do doente
após uma PCR são o SBV imediato e de
elevada qualidade com o mínimo de
interrupções e a desfibrilhação imediata
na FV ou TVsp.

INEM | 51
Suporte Imediato de Vida

1. Algoritmo de Suporte Avançado de Vida

Fig. 22 - Algoritmo de Suporte Avançado de Vida32

52 | INEM
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida

2. Ritmos desfibrilháveis (fibrilhação 3. Desfibrilhação


ventricular e taquicardia ventricular Níveis de energia e número de choques
sem pulso)
No adulto, a causa mais frequente de paragem Confirmando-se um ritmo desfibrilhável, o
cardíaca é a FV/ TVsp, surgindo em cerca de desfibrilhador deve ser carregado a uma
20% dos casos, quer em ambiente intra- energia de 150 a 200 Joules (desfibrilhador
hospitalar quer no pré-hospitalar.3 bifásico). Relativamente aos desfibrilhadores
monofásicos, deixou de haver referência aos
A FV pode ser precedida de um período de TV.
mesmos em estudos recentes, sendo que
Durante a reanimação de ritmos que
anteriormente as indicações seriam de aplicar
inicialmente eram não-desfibrilháveis
a energia máxima disponível.
(Assistolia ou AEsp), também surgem FV/ TVsp
em cerca de 25% dos casos. Imediatamente após o choque, sem reavaliar o
De modo a confirmar a PCR, deve verificar-se a ritmo no monitor e sem palpar o pulso, deve
existência de sinais de vida (VOS), com iniciar-se SBV (compressões e insuflações
pesquisa de pulso central em simultâneo. 30:2), começando pelas compressões.

Uma vez confirmada a PCR, deve ser feito o Assim, deve continuar-se com compressões
pedido de ajuda, incluindo o desfibrilhador, torácicas e insuflações durante 2 minutos.
devendo ser iniciadas de imediato Depois de 2 minutos de manobras, faz-se uma
compressões torácicas (eficazes e de breve pausa para avaliar o ritmo no monitor.
qualidade) e insuflações numa relação de 30:2. Se ainda mantém FV/ TVsp, deve fazer-se o 2º
Logo que o desfibrilhador esteja acessível, choque com uma energia de 150 a 360 Joules
devem manter-se as compressões torácicas (desfibrilhador bifásico). Deve incrementar a
enquanto se aplicam os elétrodos energia do choque
multifunções no tórax do doente. Continuar com SBV imediatamente após o 2º
De seguida, deve ser identificado o ritmo da choque.
paragem e, caso seja FV ou TVsp, um dos Após os 2 minutos de SBV, verificar ritmo no
reanimadores deve acionar a carga do monitor (breve pausa) e, se ainda mantém FV/
desfibrilhador enquanto outro reanimador TVsp, realizar o 3º choque com a energia
mantém as compressões torácicas. máxima e continuar de imediato o SBV.

Administre choque com interrupção mínima Assim que iniciar as compressões (durante os
de compressões torácicas, minimizando a 2 min de SBV), caso tenha sido conseguido um
pausa: acesso venoso, administrar 1 mg de
Adrenalina e 300 mg de Amiodarona (após 3
• Pré-choque;
choques independentemente de serem
• Pós-choque.
consecutivos, ou não), por via EV ou IO.
Isso é alcançado com compressões torácicas Aconselha-se a elevação do membro e
contínuas durante a carga do desfibrilhador, administração de um bólus de soro fisiológico
fornecendo desfibrilhação com uma (SF) para ajudar a rápida colocação em
interrupção nas compressões torácicas, circulação do fármaco.
inferiores a 5 seg. e, em seguida, e com retoma
imediata das compressões torácicas.

INEM | 53
Suporte Imediato de Vida

A sequência deve ser: suspender-se o SBV e confirmar a existência de


RCE.

Choque  SBV + Fármaco  Verifica Se o pulso é palpável, continue os cuidados


Ritmo/Palpa pulso pós-reanimação.
Se o pulso não está presente, continue com
A adrenalina vai melhorar a perfusão SBV.
sanguínea do miocárdio e aumentar a O SBV deve continuar com a relação de 30:2
probabilidade de sucesso do próximo choque. até que seja colocada uma via aérea, nesse
Para que as drogas entrem em circulação, é caso, deve-se realizar compressões contínuas.
necessário que as compressões torácicas O indivíduo que está nas compressões será
sejam de elevada qualidade. substituído a cada 2 minutos, se possível,
Após a administração do fármaco e os dois minimizando sempre as interrupções.
minutos de SBV, analisa-se o ritmo e prepara-
se para aplicar imediatamente outro choque, 4. Compressões torácicas,
caso seja necessário. permeabilização da via aérea e
Quando o ritmo verificado dois minutos após o ventilação
choque for compatível com pulso (atividade Considere as causas reversíveis (4 H’s e 4 T’s)
elétrica organizada), está indicada uma breve e, se identificar alguma causa, proceda à sua
pausa para pesquisar o pulso. correção de um modo eficaz.
Se houver dúvidas sobre a existência ou não de Durante a RCP, comece com técnicas
pulso, deve manter-se o SBV. adjuvantes básicas de abordagem da via aérea
e progrida de acordo com a proficiência
De modo a precocemente detetar o RCE, sem
técnica do profissional, até que a ventilação
interromper as compressões, recomenda-se o
efetiva seja conseguida.
uso de capnografia.
Com a colocação de via aérea avançada, as
Se o doente apresentar sinais compatíveis com
compressões e ventilações passam a ser
RCE, inicie os cuidados pós-reanimação.
contínuas, com uma frequência de pelo
Se o doente altera o ritmo para assistolia ou
menos 100 por minuto (no máximo 120/min),
AEsp, deve passar para o algoritmo de ritmos
e uma frequência ventilatória de 10
não-desfibrilháveis.
ciclos/min (1 insuflação a cada 6 segundos);
Perante algum dos ritmos não-desfibrilháveis não se deve hiperventilar o doente.
(Assistolia ou AEsp), deve administrar-se
Cada insuflação deve ter uma duração de 1 s,
Adrenalina 1 mg EV ou IO cada 3 a 5 minutos
e promover a expansão visível do tórax.
até ao RCE. Isto deve acontecer a cada dois
Durante a PCR, o fluxo sanguíneo e o oxigénio
ciclos do algoritmo, ou seja, em ciclos
que alcança o cérebro são reduzidos mesmo
alternados.
com RCP eficaz.
Se houver recuperação de sinais de vida
Durante a reanimação, deve utilizar-se O2 em
durante a reanimação (movimentos
alto débito, i.e., com um débito de 15 L/min ou
intencionais, respiração normal, tosse, ou
com FiO2 de 100%, com objetivo de maximizar
aumento significativo da EtCO2), deve

54 | INEM
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida

o aporte de O2 cerebral, minimizando assim a 6. Fármacos


lesão hipóxica-isquémia. A adrenalina é um agonista alfa-adrenérgico
Após o RCE, assim que a SATO2 possa ser que se usa para promover a vasoconstrição de
monitorizada de forma fiável (por oximetria de modo a aumentar a pressão de perfusão do
pulso) ou gasimetria arterial, titule a FiO2 para cérebro e do miocárdio. O aumento do fluxo
manter a SATO2 entre 92-96% ou PaO2 de 75- sanguíneo coronário aumenta a frequência da
100 mmHg. FV, podendo aumentar a probabilidade de
Na ausência de pessoal treinado na EOT, deve sucesso na desfibrilhação, se atempada.
considerar-se a utilização de adjuvante Com base em consensos, se a FV/ TVsp persiste
supraglótico, nomeadamente a máscara
laríngea (ML). A ML permite ventilar com
eficácia, desde que a pressão na via aérea não A dose de Adrenalina é de 1 mg e
seja demasiado elevada, nomeadamente administra-se por via EV ou IO a cada 3 a 5
devido ao aumento da pressão intratorácica min
durante as compressões.
Em caso de má selagem da máscara com fuga ao fim de 3 choques, deve administrar-se
de ar, as compressões torácicas têm de ser adrenalina e repetir todos 3 a 5 minutos
interrompidas durante a ventilação de modo a durante a paragem cardíaca.
permitir uma insuflação de ar eficaz numa
relação de 30:2. Tabela 9 - Adrenalina

Adrenalina
5. Acessos vasculares
O acesso venoso, se ainda não existe, deve ser Administre adrenalina 1 mg IV (IO) o mais rápido
possível em vítimas em ritmo não desfibrilhável
estabelecido.
Administre adrenalina 1 mg IV (IO) após o 3º choque
Se for necessário estabelecer um acesso em ritmos desfibrilhável
vascular, a colocação de um acesso venoso
Repita adrenalina 1 mg IV (IO) a cada 3-5 min a cada
periférico será a primeira opção. (2 ciclos)

5.1. Via intraóssea


A administração de Amiodarona está também
Se um acesso endovenoso for difícil de obter,
recomendada no tratamento da FV/ TVsp
deve considerar-se a via IO.
resistente à desfibrilhação. Deve ser
A administração intraóssea de fármacos atinge administrada após o 3º choque (consecutivo
concentrações adequadas no plasma e ou não), após a Adrenalina, desde que não
comparáveis, em tempo, às administrações atrase a desfibrilhação nem implique
por cateter central. interrupção das compressões torácicas.
Também se consegue realizar colheita de
A amiodarona é administrada na dose de 300
sangue para gasimetria, análises de eletrólitos
mg, em bólus, diluídos em 20 mL de dextrose
e hemoglobina.
a 5% em água. A amiodarona pode ser
novamente administrada após um 5º choque
(consecutivo ou não) na dose de 150mg.

INEM | 55
Suporte Imediato de Vida

Tabela 10 - Amiodarona seguidos, caso o ritmo seja desfibrilhável, nas


Amiodarona
seguintes circunstâncias:

300 mg IV (IO) em vítimas em PCR que estão em FV/


• Doente monitorizado durante
TVsp após administração de 3ª choque cateterismo cardíaco;
A amiodarona deve ser administrada após 3 • Doente internado em UCI;
tentativas de desfibrilação, independentemente de • Doente monitorizado no pós-
serem choques consecutivos ou não operatório imediato e cirurgia
Repita amiodarona 150 mg IV (IO) após 5º choque cardíaca;
• Doente monitorizado com
desfibrilhador.
A administração de Sulfato de Magnésio EV na
Caso prossiga com a reanimação, estes 3
dose de 2 g (4 mL = 8 mmol de Mg²SO4 a 50%)
choques seguidos serão o equivalente ao 1º
está indicada apenas nos casos de torsade de
choque do algoritmo geral de tratamento em
pointes.
SAV.
O bicarbonato de sódio não deve ser
administrado por rotina nas situações de
paragem cardíaca (especialmente nas 7.1. Murro precordial
paragens fora do hospital) ou após o RCE.
Deve ser administrado EV na dose única de 50 A probabilidade de um murro precordial
mEq, no caso de: reverter um ritmo desfibrilhável é muito baixa
e limita-se aos primeiros segundos após a
• Paragem cardíaca associada a
instalação do ritmo desfibrilhável, sendo o seu
intoxicação por tricíclicos;
sucesso maior com a TVsp do que com a FV.
• Hipercaliemia;
O murro precordial só deve ser considerado na
• Acidose metabólica grave com défice
PCR testemunhada em doente monitorizado,
de Bicarbonato (controverso; apenas
se estiverem presentes vários profissionais de
com Anion Gap normal e com controle
saúde imediatamente após a confirmação da
gasimétrico).
paragem e se não existir desfibrilhador à mão
A repetição do bicarbonato depende do
de imediato.
resultado das gasimetrias de sangue arterial
Aplica-se utilizando o punho fechado e
seriadas (GSA).
aplicando um murro seco e forte na região
A administração do bicarbonato requer
mediana do esterno, com um impulso criado a
particular atenção pois gera CO2, o que pode
20 cm de distância.
agravar a acidose, nomeadamente a nível
Na prática, é improvável que se reúnam estas
intracelular, sendo necessário aumentar a
condições, exceto em ambiente de sala de
eficácia da ventilação.
emergência ou unidade de cuidados intensivos
7. PCR presenciada em doente (UCI).
monitorizado (intra-hospitalar) A aplicação do murro precordial não deve
Se a PCR for testemunhada após a sua NUNCA atrasar o pedido do desfibrilhador.
confirmação e o pedido de ajuda, pode
considerar-se a aplicação de 3 choques

56 | INEM
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida

capacidade de identificar e corrigir estas


7.2. Ressuscitação cardiopulmonar causas. As causas de pesquisa obrigatória são
extracorpórea - ECPR as causas denominadas 4 H’s e 4 T’s.

Atualmente, alguns hospitais estão 8.2. Assistolia


constituídos como centros de referenciação
para Oxigenação por Membrana Extra Esta corresponde à ausência de atividade
Corporal - ECMO, conforme Despacho elétrica intrínseca cardíaca. Na assistolia, não
6669/2017 de 2 de agosto, publicado em há qualquer indicação para colocar
Diário da República nº 148/2017. De acordo pacemaker, mas sim iniciar de imediato RCP.
com as guidelines da Extracorporeal Life
Support Organization - ELSO, a ECPR deve ser 8.3. Etapas da reanimação
considerada após 10-15 minutos de SAV
convencional, pelo que as equipas de Se o ritmo inicial identificado no monitor é
emergência intra-hospitalar devem estar AEsp ou Assistolia, deve iniciar de imediato um
despertas para os critérios de inclusão em ciclo de 2 min de SBV 30:2 e administrar
ECPR, a serem avaliados localmente, e agilizar adrenalina 1 mg EV/IO logo que tenha um
os esforços de transporte em manobras de acesso venoso disponível (recomendam-se 2
ressuscitação seguras e eficazes, com recurso acessos em situações de trauma).
a compressor torácico externo, para serviço No caso de assistolia, deve confirmar-se as
com capacidade de ECMO.33 conexões, os cabos e o modo de monitorização
adequado, sem interromper as compressões.
A VA deve ser assegurada logo que possível,
8. Ritmos não desfibrilháveis (AEsp e
evitando que as compressões torácicas sejam
assistolia)
suspensas durante o processo de EOT. Assim
O prognóstico destes ritmos é bastante pior, a que esta esteja assegurada, manter
menos que se identifique e se corrija a causa compressões ininterruptas a um ritmo de pelo
da paragem cardíaca. menos 100 por minuto (no máximo de 120 /
min), sem pausa para as insuflações, que serão
8.1. Atividade Elétrica sem pulso (AEsp) de 10 por minuto.

Constitui um grupo heterogéneo de ritmos,


Após 2 min. de SBV avaliar ritmo:
nos quais se englobam todas as situações em
que o ritmo cardíaco é compatível com • Se mantém assistolia, reinicie de
circulação eficaz, mas isso não se verifica (ou imediato SBV;
seja, existe atividade elétrica intrínseca • Se no monitor houver um ritmo
cardíaca, mas sem repercussão mecânica). Por organizado compatível com pulso,
vezes, existem contrações do miocárdio, mas pesquisar pulso; se não palpar pulso
insuficientemente eficazes para gerarem pulso (ou existem dúvidas sobre a presença
palpável ou tensão arterial mensurável. de pulso), continuar com SBV (AEsp).
Na origem da AEsp estão geralmente causas Se, no momento da reavaliação, o pulso
potencialmente reversíveis. A probabilidade estiver presente, iniciar os cuidados pós-
de sobrevivência da vítima depende da reanimação.

INEM | 57
Suporte Imediato de Vida

No caso de persistência de assistolia ou AEsp,


deve manter-se o SBV e administrar 1 mg de
Durante a Reanimação deve:
adrenalina EV/IO cada 3 a 5 minutos.
É essencial identificar e corrigir causas • Verificar os elétrodos, a posição das
potencialmente reversíveis durante o pás e dos contactos – se não
decorrer da reanimação. estiverem bem colocados a
probabilidade de conseguir
desfibrilhar é menor;
• Minimizar as pausas / planear ações;
9. Causas potencialmente reversíveis • Proceder ou confirmar:
Qualquer que seja o ritmo, é extremamente o Acesso venoso;
importante identificar e corrigir as situações o Via aérea/ oxigénio controlado.
potencialmente reversíveis que possam ser a • Fazer compressões contínuas quando
causa da paragem cardíaca ou agravar a a via aérea estiver segura;
situação de base. • Administrar adrenalina cada 3 a 5 min.;
Para facilitar a memorização fala-se nos 4 H’s e • Corrigir as causas reversíveis de PCR.
4 T’s.

Tabela 11 - Causas potencialmente reversíveis


4 H’s 4 T’s

Hipóxia PneumoTórax hipertensivo


Hipovolémia Tamponamento cardíaco
Hiper/Hipocaliemia/alterações metabólicas Tóxicos / iatrogenia medicamentosa
Hipotermia Trombose cardíaca ou pulmonar

58 | INEM
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida

9.1. Hipóxia Deve administrar-se cloreto/ gluconato de


cálcio EV nos seguintes casos:
Deve ser rapidamente corrigida, assegurando
• Hipercaliemia;
a permeabilização da via aérea e o suporte
• Hipocalcemia;
ventilatório, administrando O2 a alto débito (se
• Intoxicação por bloqueadores dos
possível a 100%);
canais de cálcio;
Observar se os movimentos torácicos são
• Hipermagnesemia – por ex. iatrogenia
bilaterais e eficazes e, se entubado, o tubo
no tratamento de pré-eclampsia.
traqueal está bem colocado.
9.4. Hipotermia

9.2. Hipovolémia Deve ser considerada em todos as situações de


submersão, vítimas expostas ao frio,
Deve ser considerada nos casos de trauma, particularmente com alterações do nível de
hemorragias digestivas graves, rotura de consciência, em especial nos idosos e nas
aneurisma da aorta, depleções maciças de crianças; o diagnóstico deve ser feito com
volume por diarreia ou vómitos incoercíveis e termómetros que permitam avaliar
prolongados que levam a desidratações graves temperaturas baixas.
(principalmente nas crianças e idosos);
Não esquecer que, durante as manobras de
A prioridade nestas situações é a reposição de reanimação, a vítima pode arrefecer.
volume, associada a correção cirúrgica da
causa da hemorragia, caso se justifique; para A desfibrilhação só é eficaz com temperaturas
isso, é necessário estabelecer acessos venosos superiores acima de 30ºC
o mais rapidamente possível, de grande calibre
– 14G ou 16G. 9.5. PneumoTórax hipertensivo
Dar fluidos EV(IO) unicamente quando a
É uma das causas principais de AEsp que tem
hipovolémia é de causa provável da PCR.
de ser considerada em caso de trauma, após
Mantém recomendação de evitar a infusão por
colocação de cateter central ou nos casos de
rotina de grande volume de fluidos, na
dificuldade respiratória de instalação súbita
ausência de evidências de suspeita ou
nos asmáticos.
confirmação de causa de hipovolémia na PCR.
O diagnóstico é clínico e exige tratamento
imediato.
9.3. Hipercaliemia, hipocaliemia,
hipercalcemia, acidemia ou outras alterações 9.6. Tamponamento cardíaco
metabólicas
O diagnóstico definitivo é difícil, uma vez que
Podem ser identificadas através de análises de os sinais característicos desta situação são
sangue pedidas à entrada ou sugeridas pela difíceis de identificar durante a reanimação,
história clínica – por ex. insuficiência renal ou seja na sala de emergência seja no local da
uso de diuréticos. ocorrência:
• Ingurgitamento jugular;

INEM | 59
Suporte Imediato de Vida

• Hipotensão/ausência de sinais de No caso de forte suspeita de TEP, considerar a


circulação – o que também é comum às administração de fibrinolítico de imediato
outras causas de AEsp. considere o prolongar da RCP por pelo menos
Deve ter-se em atenção as situações que têm 60-90 min, antes do términus das tentativas de
maior probabilidade de causar tamponamento reanimação.
cardíaco tratável, por ex.: no caso de As recomendações não suportam o uso por
traumatismo torácico penetrante, considerar a rotina de fármacos trombolíticos em PCR, a
necessidade de drenagem - pericardiocentese menos que, a causa seja suspeita ou
com agulha. confirmada.

10. Deteção de sinais de vida


9.7. Tóxicos/ iatrogenia medicamentosa
Caso a vítima apresente sinais de vida durante
Pode ser suspeitado pela história clínica e/ou a reanimação (movimentos intencionais,
confirmado por análises. respiração normal ou tosse) ou a leitura dos
Nas situações em que for justificado, valores obtidos no monitor seja compatível
considerar a utilização de antídotos ou com RCE (ex.: aumento rápido do EtCO2 ou
antagonistas. onda de pressão arterial compatível com
débito cardíaco), deve suspender-se o SBV e
confirmar a existência de RCE.
9.8. Trombose coronária e pulmonar Caso exista um ritmo organizado, deve ser
pesquisado o pulso. Se o pulso for palpável,
A trombose coronária associada a um devem ser de imediato iniciados os cuidados
síndrome coronário agudo ou doença cardíaca pós-reanimação. Caso não seja palpável
isquémica é a causa mais comum de paragem qualquer pulso, deve ser mantida a RCP.
cardíaca súbita. Um síndrome coronário agudo
é geralmente diagnosticado e tratado após
RCE. No síndrome coronário agudo e sem RCE,
a angiografia coronária urgente pode ser
considerada, bem como a necessidade de
intervenção coronária percutânea. A utilização
de dispositivos mecânicos de compressão
torácica e RCP extracorpórea podem ser úteis
nestas situações. A causa mais comum de
obstrução tromboembólica ou obstrução
cirúrgica mecânica é a embolia pulmonar Fig. 23 – Capnograma de vítima com RCE

maciça. O uso por rotina da capnografia de onda ajuda


A embolia pulmonar maciça é a causa mais no reconhecimento precoce do RCE, sem
frequente de choque obstrutivo, sendo o interrupções nas compressões torácicas, já
tratamento de eleição a trombólise e/ou que um aumento significativo na deteção do
cirurgia, dependendo das especialidades EtCO2 durante a RCP é notado quando surge o
existentes no hospital. RCE.

60 | INEM
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida

Um aumento no ETCO2 durante a RCP pode 11. A decisão de parar a RCP e a


indicar que ocorreu RCE, porém as verificação do óbito
compressões torácicas não devem ser Se as tentativas de obtenção de RCE não forem
interrompidas apenas com base nesta bem-sucedidas, o team leader deve ponderar
informação. a hipótese de suspender a RCP e discuti-la com
a equipa de reanimação. A decisão de
9.1. Capnografia durante o Suporte interromper as manobras obriga a um
Avançado de Vida julgamento clínico e à cuidadosa avaliação da
probabilidade de RCE por parte do team
Segundo vários estudos, o EtCO2 poderá leader.
avaliar o débito cardíaco durante a paragem Após a interrupção da RCP, recomenda-se a
cardíaca, desde que a produção metabólica de observação da vítima por um período de 5
CO2 e a ventilação alveolar sejam mantidas minutos, previamente à confirmação da
constantes. morte. A ausência de função cardíaca
Numa situação de paragem mecânica (débito cardíaco) pode ser
cardiorrespiratória, se o doente estiver confirmada por:
entubado, a ventilação manual pode ser
• Ausência de pulso central à palpação;
efetuada a uma frequência constante e a
• Ausência de tons cardíacos à
produção de CO2, pelo metabolismo celular
auscultação.
mantém-se também constante. Durante a
Podem ainda complementar estes sinais:
RCP, os valores de CO2 no final da expiração
são baixos, refletindo o baixo débito cardíaco • Assistolia na monitorização contínua;
gerado pela compressão torácica. Desta • Ausência de onda de pressão arterial
forma, o EtCO2 pode ser utilizado para avaliar invasiva (linha arterial);
o prognostico da vítima que está a ser • Ausência de contração do miocárdio na
reanimada, bem como funciona como um Ecocardiografia.
indicador precoce de RCE, mesmo que o pulso A existência de qualquer sinal de atividade
ou a pressão arterial não sejam percetíveis, cardíaca ou respiratória durante estes 5
uma vez que uma melhoria do débito cardíaco minutos implica nova confirmação de PCR e a
resultará num aumento do EtCO2.34 observação por novo período (subsequente)
de 5 minutos (após a última confirmação de
PCR). Caso se mantenha a PCR nesses 5
minutos, deve ser confirmada a ausência de
reflexos pupilares à luz, de reflexos corneanos
e de reação à pressão supraorbitária. A
verificação do óbito deve ser registada à hora
em que estes critérios se encontram
cumpridos.

INEM | 61
Suporte Imediato de Vida

PONTOS A RETER

• Nos casos de PCR, é prioridade absoluta identificar o ritmo;


• Os doentes em FV/ TVsp devem ser desfibrilhados o mais rapidamente possível;
• A sobrevivência dos doentes em FV refratária ou em paragem não FV/ TVsp depende
da identificação de causas potencialmente reversíveis com tratamento;
• Em todas as situações, é essencial a preservação da perfusão cerebral e coronária
através do SBV corretamente efetuado, eficaz e ininterrupto;
• O uso de capnografia está preconizado para monitorizar a qualidade do suporte.

62 | INEM
Reanimação Intra-hospitalar

X. REANIMAÇÃO INTRA-HOSPITALAR

Objetivos

No final do capítulo, o formando deverá:


• Identificar as diferenças entre a reanimação no pré-hospitalar e intra-hospitalar;
• Conhecer métodos de monitorização e reconhecimento de PCR;
• Saber o Algoritmo de Reanimação Intra-Hospitalar;
• Compreender a importância do Team Leader.

A PCR intra-hospitalar (PCR IH) tem uma hospitalar, o SBV já foi iniciado quando a
incidência de 1,5/ 1000 doentes equipa de reanimação chega.
hospitalizados. Existem duas estratégias A equipa de reanimação depende do seu Team
principais para prevenir PCR IH e a necessidade Leader para funcionar corretamente. A pessoa
de iniciar RCP: com mais experiência e com formação em SAV
• Decisões baseadas no doente para é que deve assumir o papel de TL.
determinar se RCP é apropriada; Em meio intra-hospitalar, é frequente haver
• Identificar e tratar situações de vários profissionais com essa formação,
deterioração multiorgânica devendo ser pré-definido qual vai assumir essa
precocemente para evitar PCR. função.
O primeiro elo da cadeia de sobrevivência é o
reconhecimento precoce do doente em risco e 1. PCR no contexto intra-hospitalar
a prevenção da PCR.
A prevenção da PCR IH exige formação dos Reconhecimento e Prevenção
profissionais, monitorização dos doentes, um
sistema de alarme para pedir ajuda e A PCR em ambiente hospitalar sem
capacidade para responder com recursos monitorização geralmente não ocorre como
eficazes. acidente súbito e imprevisto, nem é
A seguir ao diagnóstico de PCR deve iniciar-se habitualmente causada por doença cardíaca
o SBV o mais rapidamente possível devendo primária. Estes doentes têm geralmente
ser continuado ininterruptamente durante deterioração fisiológica lenta e progressiva,
todo o período de tentativa de reanimação. O com hipóxia e hipotensão que não é detetada
SBV só deve ser interrompido para administrar pelos profissionais ou é reconhecida, mas
o choque, reiniciando-se de imediato por um insuficientemente tratada. Muitos destes
período de dois minutos até à nova análise de doentes têm PCR não monitorizadas, o ritmo
ritmo. cardíaco subjacente é, geralmente, não
desfibrilhável, e a sobrevida à data da alta
Se o SBV não for iniciado com brevidade, a
hospitalar é baixa.
probabilidade de sucesso diminui
drasticamente. Habitualmente, no meio
INEM | 63
Suporte Imediato de Vida

Para reconhecer precocemente o doente em são também os primeiros elos da cadeia de


risco de vida, cada doente deve ter um plano sobrevivência da paragem intra-hospitalar.
de monitorização de sinais vitais que explicite Neste contexto as estratégias que podem
as variáveis a monitorizar e a frequência com prevenir a PCR intra-hospitalar evitável são:
que devem ser avaliadas. Muitos hospitais
• Tratar os doentes em risco de vida ou
utilizam escalas de alerta ou critérios de
em risco de deterioração em área
ativação precoce para identificar a
apropriada com nível de cuidados
necessidade de escalar a monitorização ou
proporcionais à gravidade da doença;
pedir ajuda especializada.
• O doente em estado crítico necessita
de observações regulares: cada doente
deve ter um plano de monitorização
Reconhecer e ativar
dos sinais vitais que inclua variáveis a
É de capital importância que os profissionais monitorizar e respetiva periodicidade,
possuam formação nestas temáticas, para que em função do estado do doente e do
seja mais rápido o reconhecimento de risco de deterioração ou até PCR;
situações com potencial risco de vida. A • Utilizar sistemas de reconhecimento,
cultura preventiva também deve ser de alerta (quer chamando por ajuda,
desenvolvida nos profissionais. As unidades de quer utilizando critérios de
saúde devem implementar sistemas de reconhecimento precoce), utilização
resposta interna que incluam: de escalas para identificar doentes em
risco de deterioração clínica ou até
• Profissionais treinados no
reconhecimento dos sinais de PCR;
deterioração do doente e na resposta • Utilizar tabelas que permitam o registo
rápida ao doente em risco; e observação fácil e regular dos sinais
• Monitorização regular e apropriada vitais e dos critérios de
dos sinais vitais; reconhecimento precoce;
• Orientações claras para ajudar os • Definir políticas claras e explícitas a
profissionais a detetarem exigir resposta clínica à deterioração
precocemente o doente que deteriora; fisiológica baseada no sistema de
reconhecimento/ alerta utilizado;
• Um modelo claro e uniforme de pedido
devem estabelecer-se recomendações
de ajuda (ex.: linha de chamada de
relativas aos procedimentos clínicos
emergência, segundo o despacho n.º
subsequentes e às responsabilidades
9639/20184, os estabelecimentos
médicas e de enfermagem específicas;
hospitalares do SNS devem adotar o n.º
2222 para ativação da EEMI ou índices • Deve existir um sistema de resposta à
de alerta precoce); emergência claramente identificado.
São admissíveis diferentes modelos,
• Capacidade para responder de
desde que respondam em tempo
imediato e com eficácia aos pedidos de
oportuno e com eficácia aos apelos do
ajuda.
sistema de reconhecimento/alerta da
O reconhecimento precoce do estado de
instituição. Tem de estar disponível
deterioração do doente e a prevenção da PCR
24h/dia, 7 dias por semana. A equipa

64 | INEM
Reanimação Intra-hospitalar

deve ser composta por operacionais comum, esperando-se que os profissionais


com formação em doente crítico; iniciem a reanimação, garantindo que em
• Treinar todo o pessoal clínico em todas as PCR intra-hospitalares seja
reconhecimento, monitorização e assegurado que:
abordagem do doente em estado • Início imediato de SBV (com os
crítico. Incluir recomendações sobre adjuvantes da via aérea que estejam
procedimentos clínicos enquanto se indicados) e desfibrilhação o mais
aguarda a chegada de pessoal com depressa possível, seguramente em
mais experiência. Garantir que cada menos de 3 minutos.
um sabe o papel que lhe é atribuído na Todas as áreas clínicas devem ter acesso
equipa de emergência; imediato ao equipamento e medicamentos
• A instituição deve incentivar todos os necessários para a rápida reanimação das
profissionais a pedir ajuda sempre que vítimas em PCR. O ideal é que o equipamento
reconheçam um doente em risco de (incluindo desfibrilhadores) e fármacos de
deterioração ou até de PCR. Devem ser reanimação estejam normalizados em todo o
treinados em comunicação hospital.
estruturada, com a intenção de
É importante a implementação de estratégias
assegurar articulação eficaz entre
centradas no reconhecimento precoce dos
médicos, enfermeiros e os outros
doentes em risco, antes de a PCR acontecer.
profissionais de saúde.
Nesse sentido a DGS recomenda a criação de
equipas de EEMI, que são ativadas, não só para
situações de PCR, mas também para situações
Situação – Enquadramento – Avaliação –
de significativa deterioração fisiológica aguda.
Reconhecimento
Os critérios de ativação destas equipas
• Identificar os doentes em quem a encontram-se explanados na Tabela 6 -
morte é esperada e por isso não há Critérios de ativação da EEMI.
indicação para reanimar em caso de Os procedimentos normalizados são:
PCR, bem como os doentes que não • Após a avaliação do estado de
desejam ser reanimados. consciência, no qual confirma que o
• Auditar adequadamente todas as PCR, doente está inconsciente, o
“falsas paragens”, mortes inesperadas profissional deve fazer o primeiro
e internamentos na UCI não pedido de ajuda, alertando a equipa
antecipados através de dados do para a gravidade da situação; De
processo clínico. Auditar igualmente os seguida deve confirmar se o doente
antecedentes e a resposta clínica a tem sinais de vida;
cada um destes acontecimentos. • Na ausência de sinais de vida, um
profissional inicia a reanimação
enquanto os outros ativam a equipa de
Reanimação emergência interna e trazem o
equipamento de emergência e o
Na PCR intra-hospitalar, a divisão entre SBV e
desfibrilhador. Quando só está
SAV é arbitrária, na prática a reanimação é um
presente um profissional, terá de
continuum. Conceito que se baseia no senso
INEM | 65
Suporte Imediato de Vida

deixar o doente, se essa for a única Quando se utilizam desfibrilhadores manuais


forma de pedir ajuda; fazer uma pausa breve para identificar o ritmo,
• Fazer 30 compressões seguidas de duas se for FV/ TVsp acionar a carga enquanto outro
insuflações; reanimador mantém as compressões
• Assegurar compressões de elevada torácicas.
qualidade, minimizando as Quando o desfibrilhador estiver carregado,
interrupções; interromper as compressões torácicas,
• Trocar reanimador a cada análise/dois assegurar que toda a equipa está afastada da
minutos com o mínimo de interrupção vítima e aplicar o choque. Com DAE seguir os
nas compressões; comandos verbais e visuais, mantendo as
• Manter a permeabilidade da via aérea condições de segurança.
e ventilar com insuflador manual, que • Reiniciar compressões imediatamente
deve ser complementada com via a seguir à tentativa de desfibrilhação;
aérea adjuvante e O2 suplementar. • Minimizar as interrupções nas
Em alternativa, pode utilizar-se um adjuvante compressões torácicas. Com
da via aérea supraglótico com insuflador em desfibrilhadores manuais pode-se
sintonia com a política institucional. A reduzir o tempo de pausa nas
entubação traqueal só deve ser tentada por compressões a menos de 5 segundos;
profissionais com competência, treinados e • Manter a reanimação até à chegada da
experientes nesta técnica. equipa de emergência ou até o doente
Logo que tenha sido colocada uma via aérea apresentar sinais de vida. Com DAE
supraglótica com boa adaptação, ou feita a seguir os comandos verbais e visuais.
entubação traqueal obtendo via aérea segura Com desfibrilhador manual seguir o
e definitiva, manter as compressões torácicas algoritmo universal de SAV;
sem interrupção (interrompendo só para • Iniciada a reanimação e desde que haja
desfibrilhar e pesquisar pulso quando profissionais suficientes, canalizar uma
indicado). veia e preparar os medicamentos que
Evitar hiperventilação (quer por excesso de podem ser necessários na reanimação
frequência e/ou volume corrente), porque (Ex: adrenalina);
pode piorar o prognóstico. • Designar a pessoa responsável por
À chegada do desfibrilhador, aplicar as pás e passar a informação clínica ao TL;
analisar o ritmo. Se existirem elétrodos • Localizar o processo do doente.
multifunções autoadesivos, aplicá-los sem Nunca é demais sublinhar a importância das
interromper as compressões torácicas. Os compressões torácicas contínuas. Mesmo as
elétrodos multifunções permitem identificar o pequenas interrupções têm consequências
ritmo mais rapidamente do que com a desastrosas nos resultados e todos os esforços
colocação de elétrodos convencionais de devem ser concentrados em manter
leitura de ritmo ECG, sem interromper as compressões eficazes, sem interrupções e
compressões torácicas. durante todo o processo da reanimação.

66 | INEM
Reanimação Intra-hospitalar

Fig. 24 - Algoritmo de Reanimação Intra-Hospitalar32

INEM | 67
Suporte Imediato de Vida

2. Equipa de reanimação Deve assegurar que a dose (concentração e


O Team Leader (TL) volume) de adrenalina ou de outros fármacos
a serem administradas é a adequada.
O papel do TL é assegurar que a avaliação da
Enquanto as manobras de reanimação estão a
vítima está a ser feita corretamente sendo o
decorrer, o TL deve obter todos os dados
responsável pela coordenação da equipa. Após
clínicos da vítima que sejam relevantes,
confirmar uma PCR o passo seguinte é
nomeadamente hábitos medicamentosos ou
assegurar um adequado e eficaz SBV.
de toxicofilia. Isto é relativamente fácil nos
Assim que tudo é confirmado, o TL deve ficar doentes internados.
afastado, de modo a ter uma visão global das
manobras de reanimação. É evidente que tal Se o doente não responde adequadamente às
só é possível se os reanimadores também manobras de reanimação, é função do TL
tiverem experiência em reanimação. Seja qual investigar o motivo e alterar o tratamento de
for a situação, o TL deve rever todas as tarefas modo adequado, o que inclui repensar o
regularmente, de modo a assegurar que diagnóstico inicial, identificar o mau
nenhum passo vital seja descurado. funcionamento do equipamento ou reavaliar a
permeabilização da VA. Deve ter-se em
atenção que o algoritmo de SAV é só um guia
e que o tratamento deve ter em atenção a
situação clínica. Por exemplo, a PCR num
O Team Leader tem a responsabilidade de
assegurar das condições de segurança doente com insuficiência renal pode requerer
tanto em relação à vítima como em relação correção de hipercaliemia, ou seja,
à equipa de reanimação ou de outras administração de cálcio, apesar de ele não
pessoas presentes. estar referenciado diretamente no algoritmo.

Se a ressuscitação for bem-sucedida, é de a


responsabilidade do TL comunicá-lo aos que
O risco maior é durante a desfibrilhação, posteriormente serão responsáveis pela
devendo o TL assegurar que ninguém da continuidade dos cuidados médicos.
equipa está em risco enquanto a vítima está a
ser desfibrilhada. Isto é tanto mais difícil É essencial que o TL se assegure de que toda a
quanto maior for a equipa ou se estiverem documentação está completa, tão depressa
presentes familiares da vítima. quanto possível após a ressuscitação. As notas
médicas e de enfermagem devem estar
A manutenção da via aérea deve ser efetuada escritas de modo claro, indicando a data, a
pelo elemento da equipa com maior hora e a sequência dos eventos efetuados e
experiência nessa tarefa. O TL tem de garantir devem ser assinadas.
que o equipamento e as técnicas que estão a
ser utilizadas são as mais adequadas e, deve
ser capaz de identificar e conseguir resolver
qualquer complicação que possa ocorrer.

68 | INEM
Reanimação Intra-hospitalar

PONTOS A RETER

• O reconhecimento e a prevenção devem ser o pilar primordial para diminuir as PCR não
previsíveis;
• Todo o pessoal clínico deve ter formação e treino em reconhecimento, monitorização
e abordagem do doente em estado crítico;
• Nas PCR em ambiente intra-hospitalar, a divisão entre SBV e SAV é arbitrária, na prática
a reanimação é um continuum;
• O Team Leader tem um papel fundamental no decorrer das manobras de reanimação;
• A formação e o treino contínuo dos profissionais devem manifestamente estar sempre
presente nas equipas de emergência.

INEM | 69
Suporte Imediato de Vida

XI. SIGLAS

AAS Ácido Acetilsalicílico PEEP Pressão Positiva no Final da Expiração


AEsp Atividade Elétrica sem pulso PCR Paragem Cardiorrespiratória
CDI Cardioversor/Desfibrilhador Implantados PLS Posição Lateral de Segurança
CODU Centro de Orientação de Doentes RCE Retorno de Circulação Espontânea
DAE Desfibrilhador Automático Externo RCP Reanimação Cardiopulmonar
DFEM Departamento de Formação em RENTEV Registo Nacional do Testamento Vital
Emergência Médica RMN Ressonância Magnética Nuclear
DGS Direção Geral de Saúde SATO2 Saturação Arterial de Oxigénio
DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica SAV Suporte Avançado de Vida
DSG Dispositivos Supraglóticos SBV Suporte Básico de Vida
EAM Enfarte Agudo Do Miocárdio SCA - EAM s/ SST Síndrome coronário agudo -
ECG Eletrocardiograma Enfarte de miocárdio sem
ECPR Ressuscitação cardiopulmonar supradesnivelamento do ST
extracorpórea SCA Síndromes Coronários Agudos
EEMI Equipas de Emergência Médica Intra- SDRA Síndrome de dificuldade respiratória aguda
hospitalares SF Soro Fisiológico
ELSO Extracorporeal Life Support Organization SIV Suporte Imediato de Vida
EOT Entubação Orotraqueal SNC Sistema Nervoso Central
ECMO Oxigenação por Membrana Extra SNS Serviço Nacional de Saúde
Corporal SpO2 Oximetria de Pulso
ERC European Resuscitation Council TA Tensão Arterial
EtCO2 Dióxido de Carbono Expirado TAC Tomografia Axial Computorizada
Fração Inspirada de Oxigénio TCE Traumatismo Crânio-Encefálico
FV Fibrilhação Ventricular TEP Tromboembolismo Pulmonar
GCS Escala de Coma de Glasgow TL Team Leader
GSA Gasimetria de Sangue Arterial TOT Tubo Orotraqueal
HNF Heparina Não Fracionada TPC Tempo de Preenchimento Capilar
IECA Inibidores da Enzima de Conversão da TSV Taquicardia Supraventricular
Angiotensina TVsp Taquicardia Ventricular sem pulso
INEM Instituto Nacional de Emergência UCI Unidade De Cuidados Intensivos
Médica VA Via Aérea
IO Intraóssea VMER Viatura Médica de Emergência e
ML Máscara Laríngea Reanimação
PaO2 Pressão Arterial de Oxigénio WPW Wolff-Parkinson-White

70 | INEM
Bibliografia

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