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Saúde da mulher

Introdução:
A saúde da mulher é uma pauta fundamental para o universo feminino.
Ela envolve temas como a importância de conhecer o próprio corpo, suas
mudanças ao longo da vida, o papel dos hormônios em momentos
cruciais, como a 1ª menstruação, a gestação e a menopausa, e a relação
entre a estética e a longevidade, prevenção de doenças que podem
acometer as mulheres.
A partir das primeiras décadas do século XX, a atenção à saúde da
mulher passou a fazer parte das políticas públicas de saúde no Brasil.
No entanto, nas décadas de 30, 40 e 50 a mulher era vista basicamente
como mãe e “dona de casa”.
Na década de 60, diversos países se voltaram para controlar a
natalidade e destacou-se a atenção do Estado às mulheres em idade
fértil. Assim, os programas de “controle da natalidade” ganharam
destaque no final da década de 70, negando atenção às reais
necessidades ou preferências das mulheres, que ficavam relegadas em
segundo plano.
Ainda na década de 60, o movimento feminista brasileiro descontente
com as diferenças de gênero e com o enfoque reducionista dado à
mulher, reivindicou a não-hierarquização das especificidades de
homens e mulheres, propondo igualdade social que reconhecesse as
diferenças, hoje expressa na idéia de “eqüidade de gênero”
Assim, emergiu um novo conceito de saúde da mulher, rompendo com o
paradigma vigente centrado na função controlista da reprodução,
pontuando a saúde sexual e reprodutiva como um direito.
Esse engajamento das mulheres na luta pelos seus direitos e por
melhores condições de vida impulsionou a adoção das primeiras
medidas oficiais do Ministério da Saúde voltadas para a assistência
integral à saúde da mulher.
Apesar das limitações impostas pelo governo militar da época, o
movimento feminista se reorganizou incitando debates que
denunciavam a precariedade da saúde da mulher brasileira.
Na atualidade, o conceito de saúde da mulher é amplo, contemplando os
direitos humanos e a cidadania como necessidades de atenção.
Resgate histórico:

No início do século XX e até meados da década de 70, a mulher era


assistida de forma restrita, reducionista e fragmentada, com ações
voltadas ao ciclo gravídico-puerperal. gravidez e ao parto

As ações eram verticalizadas e centralizadoras, o que distanciava as


medidas adotadas das reais necessidades dessa população-alvo.

Nesse sentido, o movimento feminista iniciou uma série de reivindicações


com o objetivo de incorporar às políticas de saúde da mulher outras
questões como gênero, trabalho, desigualdade, sexualidade,
anticoncepção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

Na década de 70, foi então lançado o Programa de Saúde Materno-Infantil,


no qual o planejamento familiar figurava sob o enfoque da paternidade
responsável, objetivando reduzir as elevadas taxas de morbidade e de
mortalidade infantil e materna.

Em 1983, o governo brasileiro lançou o Programa de Assistência Integral


à Saúde da Mulher (PAISM) que adotava, com dificuldade, políticas e
medidas para permitir o acesso da população aos meios de contracepção
e buscava integralizar essa assistência, incorporando medidas
educativas, preventivas, de promoção, diagnóstico, tratamento e
recuperação nos âmbitos da ginecologia; pré-natal, parto e puerpério;
climatério; planejamento familiar; doenças sexualmente transmissíveis e
câncer de mama e colo de útero.

O Movimento da Reforma Sanitária, iniciado na década de 80, influenciou


a implementação do PAISM que se caracterizou pelas propostas de
descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços.

Em 2004, o Ministério da Saúde elaborou o documento da Política


Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Princípios e Diretrizes
(PNAISM).

(PAISM), que deixa de lado a abordagem materno-infantil, para orientar


suas ações para a saúde da mulher como um todo, ou seja, para a sua
integralidade. O PAISM incluía ações educativas, preventivas, de
diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência à
mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no
climatério, em planejamento familiar, DST, câncer de colo de útero e de
mama, além de outras necessidades identificadas a partir do perfil l
populacional das mulheres.

Este reflete o compromisso com a implementação de ações em saúde da


mulher, garantindo seus direitos e reduzindo agravos por causas
preveníveis e evitáveis, enfocando, principalmente, a atenção obstétrica,
o planejamento familiar, a atenção ao abortamento inseguro e o combate
à violência doméstica e sexual.
Determinantes sociais da saúde nesse grupo
A situação de saúde envolve diversos aspectos da vida, como a relação
com o meio ambiente, o lazer, a alimentação e as condições de trabalho,
moradia e renda.
No caso das mulheres, os problemas são agravados pela discriminação
nas relações de trabalho e a sobrecarga com as responsabilidades com o
trabalho doméstico.
Outras variáveis como raça, etnia e situação de pobreza realçam ainda
mais as desigualdades. As mulheres vivem mais do que os homens,
porém adoecem mais frequentemente. A vulnerabilidade feminina frente a
certas doenças e causas de morte está mais relacionada com a situação
de discriminação na sociedade do que com fatores biológicos.
Já existe consenso sobre a importância dos determinantes sociais na
avaliação e no desenho e implementação de políticas que garantam o
direito às mulheres.
Ainda no século XIX, alcançou -se a compreensão de que a saúde de uma
determinada população depende não apenas do seu acesso a médicos,
hospitais e medicamentos, mas também de um conjunto de fatores que
garantam qualidade de vida em diferentes níveis.
As iniquidades de saúde são causadas pelas condições sociais em que
as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem, as quais
denominamos Determinantes sociais de saúde. Esses determinantes
incluem as experiências do indivíduo em seus primeiros anos de vida,
educação, situação econômica, emprego e trabalho decente, habitação e
meio ambiente, além de sistemas eficientes para a prevenção e
tratamento de doenças.
Esses são alguns dos principais determinantes sociais de saúde das
mulheres no Brasil:
*Violência;
*Mulheres no mercado de trabalho;
*Desigualdade de gênero;
*Racismo;
*Trabalho ocupacional das mulheres;
*Uso do tempo;
*Situação de pobreza;
*Condições de habitação;
*Segurança alimentar e nutricional;
Epidemiologia e perfil de saúde (análise dos principais problemas de
saúde que essa população enfrenta, incluindo doenças crônicas, doenças
infecciosas, saúde mental e outras condições relevantes):
No Brasil, as principais causas de morte da população feminina são as
doenças cardiovasculares, destacando-se o infarto agudo do miocárdio e
o acidente vascular cerebral;
as neoplasias, principalmente o câncer de mama, de pulmão e o de colo
do útero;
as doenças do aparelho respiratório, marcadamente as pneumonias (que
podem estar encobrindo casos de aids não diagnosticados);
doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, com destaque para o
diabetes; e as causas externas.
Os principais problemas que as mulheres sofrem são as Doenças
cardiovasculares, aumento de peso, mulheres hipertensas, mulheres com
AVC, com depressão, essas foram algumas das patologias que
aumentaram nesses últimos anos. Devido a essa sobrecarga, problemas
maiores vieram. osteoporose e doenças reumáticas foram as mais
prevalentes. o aumento da expectativa de vida da população brasileira,
particularmente entre as mulheres, traz um aumento da prevalência de
doenças crônicas degenerativas, dentre elas a doença de Alzheimer.
No Brasil, o câncer de colo de útero constitui importante problema de
saúde, pois apresenta alto índice de letalidade entre mulheres de várias
idades. Devido a isso o exame citopatológico foi preconizado como
medida de prevenção deste tipo de câncer, devendo ser realizado a partir
do início da vida sexual.
Este tipo de câncer ainda é um problema de saúde pública em países em
desenvolvimento, como o Brasil, pois alcança altas taxas de prevalência e
mortalidade em mulheres de estratos sociais e econômicos relativamente
baixos
No mundo, o câncer de mama situa-se entre as primeiras causas de morte
por câncer em mulheres. Até o momento, não existem medidas de
prevenção primária para a doença. Porém, estudos observacionais
indicam que é possível reduzir o risco de câncer de mama com mudanças
de hábitos: redução do tabagismo, do uso de álcool, da obesidade e do
sedentarismo.
As mudanças de hábitos, aliadas ao stress gerado pelo estilo de vida do
mundo moderno, contribuem para que as doenças crônico-degenerativas
estejam entre as principais causas de morte na população feminina.
Alguns fatores, como o tipo de alimentação, sedentarismo, tabagismo, a
sobrecarga de responsabilidades aumento considerável do número de
mulheres chefes de família contribuem para o aumento de riscos de
doenças crônico-degenerativas.
Acesso a saúde:
As mulheres são a maioria da população brasileira (50,77%) e as
principais usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). Frequentam os
serviços de saúde para o seu próprio atendimento, mas, sobretudo,
acompanhando crianças e outros familiares, pessoas idosas, com
deficiência, vizinhos, amigos. São também cuidadoras, não só das
crianças ou outros membros da família, mas também de pessoas da
vizinhança e da comunidade.
Os serviços de saúde para as mulheres são muito importantes, pois eles
oferecem atendimento integral, desde a infância até a fase adulta, nas
mais de 42 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nos serviços
especializados, disponíveis em todas as regiões do país. Além disso, os
serviços de saúde para as mulheres abrangem programas voltados para a
saúde sexual e reprodutiva, atenção obstétrica, atenção às mulheres em
situação de violência, atenção oncológica, atenção ginecológica e
climatério, e populações específicas e vulnerabilizadas. Os cuidados com
a saúde da mulher incluem a realização periódica de exames preventivos,
principalmente contra o câncer de colo de útero e o câncer de mama, a
vacinação contra doenças como o HPV, o planejamento familiar e a
contracepção, a assistência humanizada à gestação, ao parto e ao
puerpério, o incentivo a hábitos saudáveis e à prática de atividades
físicas, entre outros.
Os serviços de saúde para as mulheres também devem considerar as
desigualdades de gênero e raciais que afetam o acesso e o uso dos
serviços de saúde. As mulheres negras, indígenas, rurais, lésbicas,
presidiárias e profissionais do sexo enfrentam maiores barreiras e
vulnerabilidades para cuidar da sua saúde. Por isso, é necessário garantir
que os serviços sejam equitativos, universais e integrais.
o acesso ao parto hospitalar foi menor na área rural, sobretudo entre as
mulheres com nenhum ou poucos anos de estudo e entre aquelas que
não tiveram assistência pré-natal;
a taxa de mortalidade infantil entre os filhos das mulheres que não
tiveram nenhuma assistência ao pré-natal e ao parto nas áreas urbanas
foi de 42 por mil nascidos vivos e na rural chegou a 65 por mil nascidos
vivos.
O acesso da população rural aos serviços de saúde ainda é um grande
desafio do SUS. A dificuldade de acesso às ações de saúde, imposta às
mulheres rurais, está relacionada, entre outros fatores, às desigualdades
das relações de gênero e de trabalho, às grandes distâncias entre
residência ou trabalho e os serviços de saúde, à maior precariedade dos
serviços locais e à precária capacitação dos gestores e profissionais de
saúde para lidar com a especificidade dos agravos decorrentes do
trabalho no campo
Equidade e justiça na saúde (discussão sobre estratégias para
promover a equidade na prestação de cuidados de saúde, abordando
desigualdades e melhorando o acesso igualitário a serviços de saúde
de qualidade)
Este estudo tem por objetivo mensurar a equidade na atenção primária à
saúde da mulher a partir da avaliação de quatro marcadores de utilização
de serviços: mamografia, exame preventivo de câncer de colo do útero,
exame clínico de palpação de mamas e estado de saúde autodeclarado.
Os resultados destacam que, de maneira geral, a realização dos
marcadores escolhidos apresentou um padrão de iniquidade, tanto por
renda, quanto por distribuição geográfica.
Apesar dos avanços para buscar melhorias na oferta de serviços de
saúde dedicados à mulher, ainda pesa a necessidade de melhorar o
acesso a serviços preventivos básicos.
Nos últimos 20 anos, a equidade vem sendo enfatizada na agenda de
políticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma prioridade.
Os diversos trabalhos que buscam avaliar o desempenho dos sistemas
de saúde têm produzido evidências que destacam a forte associação
entre a saúde, status socioeconômico, níveis de educação, renda, origem
étnica e distribuição geográfica.
Observa-se que populações de menor renda apresentam maiores índices
de doenças e de mortalidade associados com menor acesso a serviços de
saúde, muito embora tenham maior necessidade de utilização dos
mesmos.
desenvolvimento de estratégias que possam efetivamente beneficiar a
população de menor renda.
pessoas com as mesmas necessidades de saúde não obtém acesso aos
mesmos recursos.
pessoas com maiores necessidades não obtém acesso a maiores
recursos.
Whitehead1 define que o debate sobre equidade em saúde está voltado
para formas de criar oportunidades iguais para promover saúde e, ao
mesmo tempo, minimizar as desigualdades por meio de alguns princípios
que incluem melhorias nas condições de vida e garantia de serviços de
saúde de alta qualidade acessível a todos.
As iniquidades surgem quando diferentes grupos, definidos por suas
características sociais e demográficas, têm acesso diferenciado a
serviços de saúde.
Há certo consenso de que os resultados de estudos sobre equidade
podem ser aplicados para se desenvolver e implementar políticas
públicas direcionadas para a melhora na oferta dos serviços de saúde,
especialmente, naqueles países onde a saúde é considerada um bem
meritório
Garcia-Subirats destacam que aqueles grupos com melhor nível
socioeconômico, melhor nível educacional, condições de trabalho mais
estáveis, fazem maior uso dos serviços de saúde independentemente de
suas necessidades.
Especificamente para o caso do Brasil, aqueles indivíduos que contam
com assistência privada à saúde apresentam um padrão de maior
utilização de serviços de saúde. Esse quadro destaca a presença de
iniquidades na oferta de cuidado à população brasileira.
Por definição constitucional, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi
concebido como um sistema público, nacional e de caráter universal e
igualitário, baseado na concepção de saúde como direito de cidadania e
em diretrizes organizativas de descentralização, com comando único em
cada esfera de governo e princípios de regionalização.
Mendes16 destaca que, no Brasil e no mundo, as taxas de fecundidade
estão diminuindo, as populações envelhecendo e as expectativas de vida
aumentando. Esse cenário caracteriza-se como um processo de transição
demográfica com uma elevação progressiva da morbimortalidade por
condições crônicas, tanto em termos absolutos, como relativos.16 A
atuação conjunta desses elementos demográficos contribui para que
ocorra um aumento de prevalência de doenças crônicas.
Apesar do impacto que este grupo de doenças representa, a atuação com
foco em prevenção é a melhor forma de minimizar os efeitos adversos
oriundos das complicações inerentes aos quadros crônicos.
Dentre as doenças crônicas que afetam a saúde das mulheres brasileiras,
duas merecem destaque: o câncer de mama e o câncer de colo de útero.
A atenção primária à saúde é essencial para diagnóstico e prevenção de
câncer de colo de útero e de mama. As ações nesse nível baseiam-se na
detecção precoce em mulheres assintomáticas, por meio de ações do
rastreamento de populações alvo, de métodos e de intervalos de tempo
para a realização de exames clínicos.
Neste sentido, uma análise da equidade quanto à utilização dos serviços
de saúde voltados ao rastreamento dessas doenças surge como um
elemento importante capaz de subsidiar a formulação de políticas
públicas e de promover melhoras no estado de saúde populacional.
Apesar das ações de prevenção e detecção precoce desenvolvidas no
Brasil, dentre elas o Programa Viva Mulher e o Programa Nacional de
Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama, as taxas de incidência e
mortalidade têm se mantido praticamente inalteradas ao longo dos anos.
Quanto ao exame preventivo de câncer de colo de útero, o exame
citopatológico deve ser realizado em mulheres de 25 a 60 anos de idade,
uma vez por ano e, após dois exames anuais consecutivos negativos, a
cada três anos.

consequências de diagnósticos tardios, os quais estão relacionados com


inúmeros fatores, como a dificuldade de acesso da população feminina
aos serviços de saúde; a baixa capacitação de recursos humanos
envolvidos na atenção oncológica (principalmente em municípios de
pequeno e médio porte); a capacidade do sistema público em absorver a
demanda que chega às unidades de saúde; a dificuldade dos gestores
municipais e estaduais em definir e estabelecer uma linha de cuidados
que perpasse todos os níveis de atenção (atenção básica, média
complexidade e alta complexidade) e de atendimento (promoção,
prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos).
Estratégias: detecção precoce por meio da introdução da mamografia
para rastreamento, assim como pela oferta de tratamento adequado frente
às limitações práticas para a implementação, junto à população, de
estratégias efetivas para a prevenção do câncer de mama, as
intervenções têm sido direcionadas para o fomento das ações de
detecção precoce, com a garantia de recursos diagnósticos adequados,
em uma tentativa de reverter a situação do diagnóstico tardio.
O protocolo do Ministério da Saúde recomenda as seguintes ações para a
detecção precoce do câncer de mama no nível da atenção primária à
saúde: rastreamento anual por meio do exame clínico da mama para as
todas as mulheres a partir de 40 anos de idade, rastreamento por
mamografia para as mulheres com idade entre 50 a 69 anos, com o
máximo de dois anos entre os exames e, por último, exame clínico da
mama e mamografia anual, a partir dos 35 anos, para as mulheres
pertencentes a grupos populacionais com risco.
Intervenções e políticas públicas para esse público

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 traz em seu


texto a saúde pública como um direito fundamental garantido a todos os
brasileiros. Por meio do artigo 196 a carta magna assegura a saúde como
um direito de todos e dever do Estado, sendo criado para esta finalidade
o Sistema Único de Saúde (SUS).
A partir do momento que a saúde passa a ser disponibilizada para todos,
surge novas necessidades, como de criar ações, programas e políticas
públicas que garantam o acesso à saúde de forma universal, assim como
ocorreu com o SUS.
Inicialmente, a atenção voltada para a saúde da mulher estava associada
a perspectiva procriativa, que sublinhava a figura da mulher como mãe.
Entretanto, a negligência quanto aos outros aspectos da saúde da mulher
foi ao longo do tempo sendo minimizada.
Foi a partir de 1983 que o antigo cenário começou a ser mudado. Por
meio do movimento sanitário e do movimento feminista os interesses
ganharam força e em 1984 foi criado o Programa de Assistência Integral à
Saúde da Mulher (PAISM) como a primeira ação governamental
direcionada para o público feminino.
A PAISM representa a primeira política pública exclusivamente para a
população feminina, dentre outras que foram sendo formuladas e
implementadas posteriormente.
As políticas públicas brasileiras de saúde da mulher configuram um
importante passo rumo ao novo cenário de saúde pública que o Estado
brasileiro deve assegurar para as mulheres.
Com um apoio duplo, formado entre governo e sociedade, fortalece ainda
mais para que novas conquistas sejam alcançadas e os desafios deste
percurso sejam reduzidos.
De acordo com Souto (2008) reconhecer a desigualdade de gênero, de
classe, de raça, de etnia, como fatores sociais que determinam o
adoecimento permite que os formuladores pensem em políticas públicas
em benefício da saúde coletiva, da promoção, assim como da qualidade
de vida das mulheres.
- Programa de Assistência Integral a Saúde da Mulher (PAISM) 1984 João
Figueiredo
- Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM)
- Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres 2011
Dilma Rousseff
A saúde pública direcionada especificamente para a mulher foi alvo de
políticas públicas no final do século XX, antes inclusive da instituição do
SUS, sendo o passo inicial que serviu para mostrar sua importância.
1- A primeira política pública de saúde direcionada à todas as
mulheres foi elaborada em 1983 e instituída em 1984 pelo Ministério
da saúde, intitulada de Programa de Assistência Integral à Saúde da
Mulher (PAISM), com a proposta de descentralização,
hierarquização e regionalização dos serviços.
Tal programa é o marco principal no cuidado e atenção as mulheres e
representou o começo das políticas públicas para a mulher, no qual
propôs estratégias para destinar recursos na operacionalização de ações
vinculadas à população feminina, enxergando-a em sua integralidade.
Antes do programa, as ações, inicialmente, eram destinadas a assistência
da mulher como mãe, estando associadas aos cuidados durante o ciclo
gravídico-puerperal. Assim, o foco concentrava-se na saúde reprodutora
desconsiderando outros cuidados.
O programa teve como objetivo geral promover melhorias nas condições
de vida e saúde das mulheres e a ampliação do acesso aos meios e
serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde e
contribuir para a redução da morbidade e mortalidade, principalmente por
causas evitáveis. O PAISM incluiu ações educativas, preventiva, de
diagnóstico, de tratamento e recuperação, abrangendo a assistência à
mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no
climatério, no planejamento familiar, nas Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST), no câncer de colo de útero e no de mama.
2- A partir disso, em 2003 iniciou-se a construção da Política Nacional
de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), que foi lançada
pelo Ministério da Saúde em 2004, comtemplando princípios,
diretrizes e um plano de ação para 2004-2007. No mesmo ano do
lançamento da política, o Presidente da República Luís Inácio Lula
da Silva designou o ano 2004 como o Ano da Mulher. Esta política é
considerada neste estudo o segundo marco da 9 VII Encontro
Brasileiro de Administração Pública, Brasília/DF, 11, 12 e 13 de
novembro de 2020 saúde pública para mulheres. Após um período
de vinte e um anos o Brasil passou por significativas mudanças,
nas quais incluiu a situação das mulheres, que passaram ter seus
direitos assegurados por meio de leis.
A PNAISM pode ser caracterizada como um aprimoramento da PAISM,
pois ampliou as ações nos planos, passando a considerar grupos que
eram excluídos das políticas públicas em suas especificidades, como
mulheres lésbicas e bissexuais, trabalhadoras rurais, índias, negras
quilombolas, as que vivem a transexualidade, presidiárias, portadoras de
deficiência, as que estão em situação de rua e ciganas.
A política inclui todas as mulheres em todos os períodos do ciclo de vida,
resguardando as especificidades das diferentes faixas etárias e dos
diferentes grupos que a política atende. A atenção integral refere-se ao
conjunto de ações de promoção, proteção, assistência e recuperação da
saúde nos diferentes níveis de atenção à saúde, sendo eles o básico, o
médio e o de alta complexidade.
3- Como último marco considerado neste artigo tem-se a Política
Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, que foi
instituída também em 2011 e formulada pela Secretaria de Políticas
para as Mulheres (SPM). A violência contra a mulher constitui-se 11
VII Encontro Brasileiro de Administração Pública, Brasília/DF, 11, 12
e 13 de novembro de 2020 em uma forma de violação dos direitos
humanos, que afeta o direito à vida, à saúde e à integralidade física,
fazendo-se necessário que o Estado elabore e implemente políticas
públicas para todas as mulheres englobando as diferentes formas
nas quais a violência se expressa.
O movimento feminista também reivindicava ações em torno da temática
violência e foi em 1985 que a primeira conquista neste sentido foi
implementada com a criação da primeira Delegacia de Defesa da Mulher e
criado o Conselho Nacional dos Direitos da Defesa da Mulher e, após um
ano, foi criada a Casa Abrigo para mulheres que se encontravam em
situação de morte.
A violência contra as mulheres possui diferentes tipos, a violência
doméstica (física, sexual, patrimonial, psicológica e moral), a violência
sexual, o abuso e exploração sexual, o assédio sexual no trabalho, o
assédio moral, o tráfico de mulheres e a violência institucional
A política possui o objetivo de “enfrentar todas as formas de violência
contra as mulheres a partir de uma perspectiva de gênero e de uma visão
integral deste fenômeno”. Dentre suas ações estão a prevenção contra
qualquer tipo de violência e a atenção à saúde das mulheres que se
encontram nessa situação.
Os desafios à serem superados ainda são grandes, mas o que se pode
observar é que esforços têm sido direcionados para a promoção,
proteção da saúde das mulheres desde o final do século XX. A saúde
como sendo um direito de todos e dever do Estado faz com que as
políticas públicas sejam criadas para garantir a qualidade de vida, o bem-
estar e o atendimento das necessidades da população .
Ações fisioterapêuticas
As mulheres ao longo da vida passam por fases e momentos específicos,
determinados por mudanças hormonais, físicas, psicológicas e sociais.
Como o iniciar e concluir do ciclo menstrual e da fertilidade, a descoberta
e o desenvolvimento da sexualidade e do próprio corpo, a gravidez e a
maternidade, o amadurecimento e o envelhecimento.
Embora ainda pouco conhecida pela maioria da população, e até por parte
dos profissionais de saúde, a intervenção da fisioterapia na saúde da
mulher tem um impacto profundo na prevenção e reabilitação de diversas
enfermidades que as atingem.
O fisioterapeuta pode atuar nas mais diversas fases de suas vidas.
Melhorando, inclusive sua qualidade de vida, associando ao tratamento
alguns recursos como o biofeedback e eletroestimulação.
Este campo foi legitimamente reconhecido como especialidade em 2009
pelo COFITO. As áreas de intervenção são inúmeras, mas desde seu
reconhecimento, essas são as principais que atingem a vida das
mulheres e onde a Fisioterapia consegue intervir com ótimos resultados:
Oncologia (câncer ginecológico e câncer de mama),
Uroginecologia (incontinência urinária e fecal),
Ginecologia (disfunções sexuais, dor pélvica crônica, endometriose,
climatério)
e obstetrícia (gestação e pós-parto), visando a melhora da condição
física, bem-estar, diminuindo os quadros de depressão, estresse,
ansiedade, bem como, desconforto e dores articulares e musculares.
O fisioterapeuta com atuação na saúde da mulher presta assistência ao
ciclo vital feminino (infância, gravidez, trabalho de parto, parto, pós-parto,
climatério e envelhecimento).
A atuação da Fisioterapia nas disfunções da musculatura do assoalho
pélvico e no ciclo vital feminino abrange métodos de avaliação e
tratamentos muito específicos. Entre eles é possível citar: técnicas de
terapia manual, relaxamento e alongamento muscular, utilização de
recursos como estimulação elétrica e biofeedback, treinamento vesical,
cinesioterapia da musculatura do assoalho pélvico e utilização de
questionários específicos para avaliar diferentes disfunções e seu
impacto na qualidade de vida das mulheres.
As principais afecções que atinjam a vida das mulheres e onde a
fisioterapia consegue intervir com ótimos resultados:

Incontinência urinaria; Disfunções sexuais; Prolapso; Dores pélvicas;


Câncer ginecológico e câncer de mama.
a importância da atuação da Fisioterapia na conscientização e realização
da contração correta dos músculos do assoalho pélvico12, na prevenção,
no tratamento e na melhora da qualidade de vida de mulheres com
incontinência urinária, na prevenção e tratamento de mulheres com
incontinência fecal, na aplicação de técnicas durante a gestação e o
puerpério, na utilização de recursos não farmacológicos e na
biomecânica durante o trabalho de parto e no tratamento do câncer de
mama e ginecológico

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