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Concepções da educação

física e do esporte
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar diferentes formas de organização do pensamento peda-


gógico em educação física.
 Analisar as diferentes concepções da educação física e do esporte.
 Sintetizar as principais abordagens (tendências) da educação física
na atualidade.

Introdução
As concepções e abordagens referentes ao ensino da educação física no
Brasil apresentaram grandes modificações década a década, influenciadas
pelos diversos acontecimentos no País. Assim, é possível apresentá-las
por meio de um recorte histórico sobre as concepções relacionadas aos
processos formativos. Essas abordagens, como você deve saber, nortearam
a forma metodológica do trabalho, bem como seus principais objetivos
e a sua avaliação.
Neste texto, você vai compreender como as abordagens da educação
física e do esporte se relacionam no cenário atual, tendo em vista o enten-
dimento de suas diferentes características. Além disso, você vai conhecer
melhor cada uma dessas abordagens, como a desenvolvimentista, a
construtivista, a psicomotricista, a militarista, a higienista, entre outras.
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Pensamento pedagógico em educação física


É a partir da segunda metade do século XVIII que surgem os primeiros sistemas
regulares da educação física. Realizados com alguma ordenação, eles eram
submetidos a determinados princípios pedagógicos e ancorados pelas ciências
biológicas com bases teóricas em anatomia e fisiologia. Os métodos ginásticos
desenvolvidos na Europa, em especial na Alemanha (ginástica militar), na
Suécia (pesquisas científicas), na França (movimento pedagógico natural) e
na Inglaterra (jogos desportivos), formam a base teórica da sistematização
da educação física.

As propostas da educação física escolar e seu currículo apresentam grande importância


para o conhecimento esportivo, gerando oportunidade de contato com a cultura
esportiva. Dessa forma, toda a metodologia dentro do ensino está integrada à formação
e ao treinamento esportivo.

Movimento Ginástico Europeu


O Movimento Ginástico Europeu é o conjunto sistematizado pela ciência e
pela técnica em diversos países do qual fazem parte quatro grandes escolas
(correntes): a alemã, a sueca, a francesa e a inglesa.

Escola alemã

A escola alemã, influenciada por Jean Jacques Rousseau e Johann Heinrich


Pestalozzi, teve como destaque Johann Christoph Friedrich Guts-Muths,
considerado pai da ginástica pedagógica moderna (Guts-Muths era admirador
do método natural).
A derrota dos alemães para Napoleão deu origem a outra ginástica; a
turnkunst, criada por Friedrich Ludwig Jahn e cujo fundamento era a força.
“Vive quem é forte” era seu lema, e isso nada tinha a ver com a escola. Na
verdade, esse método introduz a ginástica militar com sentido patriótico. A
grande contribuição de Jahn para a educação física foi a invenção de aparelhos
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como a barra fixa, as barras paralelas e o cavalo, dando origem à ginástica


olímpica com aparelhos.
A escola voltou a ter seu defensor em Adolph Spiess, que introduziu de-
finitivamente a educação física nas escolas alemãs, sendo inclusive um dos
primeiros defensores da ginástica feminina. Foi digno continuador da obra
de Guts-Muths.

Escola sueca

Dificilmente um profissional de educação física não ouviu falar em ginástica


sueca, um grande trampolim para tudo que se conhece hoje como ginástica.
Per Henrik Ling foi o responsável por isso, levando para a Suécia as ideias
de Guts-Muths. A ginástica sueca surgiu com o propósito de eliminar os
vícios da sociedade, sobretudo o alcoolismo. Tendo a incumbência de
revivificar a população, adotou um caráter educativo. Buscava formar
indivíduos fortes, úteis à pátria, fosse para o serviço militar, fosse para a
sociedade civil.
Ling entendia que seu método ginástico garantia a saúde e a beleza dos
indivíduos, já que se tratava de um método fundamentalmente respiratório
com efeitos corretivos e ortopédicos. Segundo ele, esse método servia a todos,
independentemente do gênero, da idade ou das condições sociais.
Ling dividiu sua ginástica em quatro partes, como você pode ver a seguir.

 Ginástica pedagógica ou educativa: voltada para a saúde, evitando


vícios posturais.
 Ginástica militar: com as mesmas características da ginástica pedagó-
gica, incluía exercícios de guerra, o tiro e a esgrima.
 Ginástica médica ou ortopédica: baseada na pedagógica, buscava evitar
também as doenças.
 Ginástica estética: preocupada com a graça do corpo e com o desen-
volvimento harmônico do organismo.

Escola francesa

A escola francesa, por sua vez, teve como elemento principal o espanhol
naturalizado Francisco Amorós e Ondeano, que, inspirado em Rabelais,
Guts-Muths, Jahn e Pestalozzi, dividiu sua ginástica em: ginástica ci-
vil e industrial, ginástica militar, ginástica médica e ginástica cênica ou
funambulesca.
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Outro nome francês importante foi o de Geórges Démeny. Ele organizou


congressos e cursos (inclusive o curso superior de educação física) e redigiu
o manual do exército Regulamento dos Exercícios Físicos no Exército.

Um ponto importante para ressaltar sobre a escola francesa é que a partir dela as
aulas começaram a ser divididas em três partes: preparatória ou aquecimento; lição
propriamente dita ou parte principal; e volta à calma ou desaquecimento.

Escola inglesa

A escola inglesa, liderada por Thomas Arnold, tinha como característica a


“não ginástica”. Ela se baseava nos jogos e nos esportes, não tendo foco na
ginástica como prática. Essa corrente estabelece regras e formas precisas de
organização para as associações desportivas. É aí que nasce, por exemplo, a
Associação Cristã de Moços (ACM).

Calistenia
Calistenia é um método de ginástica realizado com objetivo de adquirir força
e beleza. Ela se divide em duas ordens:

 Higiênica: saúde e postura corporal correta;


 Educativa: maior controle neuromuscular e melhor eficiência mecânica.

Além disso, os exercícios devem ser acompanhados por música ou por um


tambor para marcar o ritmo e a cadência de execução.
A palavra calistenia vem dos termos gregos kallos (belo) e sthenos (força),
acrescidos do sufixo ia. Embora calistenia seja um conceito, uma palavra, o
método ginástico sistematizado surgiu na França, efetivou-se nos Estados
Unidos e se difundiu pelo mundo todo.
Um médico, Dr. Skarstrom (1914), revisou a definição clássica de calistenia
e conceituou-a como: “Uma combinação de exercícios simples, com arte,
música e beleza, com a finalidade de exercitar todo o corpo, desenvolvendo
graça na mulher e elegância no homem”.
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Dr. Skarstrom e Willian Wood (ACM-EUA) dividiram os exercícios ca-


listênicos em oito grupos:

1. Exercícios para os braços e as pernas


2. Exercícios para a região posterossuperior do tronco
3. Exercícios para a região posteroinferior do tronco
4. Exercícios para a região lateral do tronco
5. Exercícios para desenvolver o equilíbrio
6. Exercícios para a região abdominal
7. Exercícios gerais de ombros
8. Saltos e corridas

A partir dessa perspectiva higienista, ao longo do tempo, a ginástica passou


a ser uma atividade integrante das sociedades em boa parte do mundo. Com um
discurso alinhado com o processo de industrialização que teve início no final
do século XIX, a ginástica assegurava o desenvolvimento de uma população
forte e saudável capaz de consolidar a sociedade industrial.

Concepções da educação física e do esporte


aplicadas no Brasil
No Brasil, a ginástica exerceu posição de destaque na educação física, vi-
gorando por quase um século como o mais importante conteúdo das aulas
dessa disciplina. Essa hegemonia vai diminuindo à medida que as instituições
escolares começam a se interessar pelas práticas esportivas.
O contexto anterior ao surgimento das novas concepções, no final da década
de 1970, revela que a educação física foi introduzida oficialmente na escola
no ano de 1851, com a reforma Couto Ferraz, que objetivava uma sucessão
de medidas para melhorar a qualidade do ensino. Foi a partir dessa reforma
que a educação física se tornou obrigatória nas escolas da Corte. Contudo,
efetivamente a implantação ocorreu somente em parte do Rio de Janeiro,
capital da República naquele momento, e nas escolas de cunho militar. Mais
tarde, em 1854, a ginástica viria a se tornar obrigatória no ensino primário e
a dança, no ensino secundário.
No início do século XX, por volta dos anos 1920 mais especificamente,
começaram nos estados brasileiros as reformas educacionais que incluíram a
educação física com a alcunha de ginástica.
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Nesse período, a educação física era calcada na perspectiva higienista,


cuja noção principal era, a partir do exercício físico, desenvolver hábitos de
higiene e saúde. O objetivo era formar um indivíduo forte, saudável e capaz
de servir ao processo de desenvolvimento da nação.
Usando métodos ginásticos, principalmente o método francês e o método
alemão, cujas propostas valorizavam a imagem da ginástica na escola, o Estado
implantou ações pedagógicas com o propósito de comprovar a superioridade
da classe dominante e da raça branca, já que se admitia que suas constituições
anatômicas fossem privilegiadas.
Assim, foram criados os programas disciplinares e de exercitação corporal
nas instituições de ensino, com a exigência de desenvolver e aprimorar física e
moralmente os indivíduos de uma sociedade que passava a valorizar homens
produtivos e fortes.
Depois da tendência higienista que marcou o princípio da educação física
escolar brasileira, surgiu o modelo militarista. Seu enfoque era o adestramento
físico como maneira de preparar o indivíduo para defender o País dos perigos
internos e externos. Os principais procedimentos de ensino davam conta
de formar sujeitos capazes de suportar o combate e a luta para atuarem na
guerra. Surge a partir daí a busca por seres fisicamente “perfeitos” e, como
consequência, a exclusão daqueles considerados inábeis e incapazes.
Sob o amparo das tendências higienista e militarista, a educação física
começou o seu processo de consolidação como disciplina escolar concretamente
aplicada, portanto essencialmente prática, não necessitando de um arcabouço
teórico que oferecesse sustentação. Desenvolvidas de forma quase exclusiva
por instituições militares, as aulas de educação física acabaram confundidas
com as instruções físicas que eram aplicadas aos servidores militares.
Conduzido a trilhar o mesmo caminho de desenvolvimento percorrido por
outros países nos anos que sucederam as grandes guerras mundiais, o Brasil
passou por radicais transformações sociais, culturais, econômicas e políticas.
O resultado de tantas mudanças foi o golpe de estado de 1964, que submeteu
o País às intempéries do regime militar.
Na época em que o governo militar assumiu o poder do País, em março de
1964, investiu fortemente no esporte para garantir sucesso nas competições
de alto nível. Entretanto, a influência do esporte no sistema educacional foi
tão incisiva que acabou por distorcer seu cunho formativo, característica
fundamental para a continuidade do esporte como conteúdo escolar.
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O domínio do esporte como treinamento no período militar se fez tão importante que
transformou até os conteúdos escolares, otimizando no ambiente educacional os pró-
prios princípios da esportivização, ou seja, a competição, a eficiência e a produtividade.

Ao longo dessa fase, a educação física esteve a serviço dos interesses


dos militares e de seu governo totalitário. Além disso, sofreu grande in-
fluência dos padrões europeus, que propagavam os sistemas desportivos
como base da cultura do corpo. O efeito ultrapassou os limites do contexto
escolar, levando às práticas educacionais da educação física conteúdos ex-
clusivamente esportivos. Como consequência, os procedimentos de ensino
se tornaram diretivos, o professor passou a ter um papel centralizador e a
prática transformou-se numa repetição mecânica dos movimentos esportivos.
Isso, como você pode imaginar, deflagrou situações metodológicas típicas
de uma pedagogia tecnicista.

“Os métodos de ensino-aprendizagem dos esportes apresentam uma profunda


interação com os processos de iniciação esportiva nas escolas e clubes, conforme
evidenciado em propostas presentes na literatura nacional e internacional” (GRECO;
BENDA, 1998).
Reflita mais sobre o assunto lendo o artigo completo, intitulado “Iniciação esportiva
universal: metodologia da iniciação esportiva na escola e no clube” (GRECO; BENDA,
1998).

A educação física dos anos 1970 abrigou o formato técnico e desportivo.


Também foi nessa época que ocorreu a expansão e a massificação dos cursos
superiores de formação de professores para o trabalho com educação física
no espaço escolar.
No final da década de 1970, surgem novos movimentos na educação física
escolar, na tentativa de romper com o modelo mecanicista, esportivista e
tradicional.
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Atualmente, coexistem na área de educação física diversas concepções,


que você vai conhecer a seguir. São elas: psicomotricista; desenvolvimentista;
construtivista; crítico-superadora; crítico-emancipatória; saúde renovada e
PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais).

Principais abordagens da educação física na


atualidade

Psicomotricista
A abordagem psicomotricista surgiu na década de 1970 e se contrapõe às
abordagens anteriores. Essa abordagem tem seu enfoque no desenvolvimento
da criança, que se relaciona com processos cognitivos afetivos e psicomotores,
buscando garantir uma formação integral do aluno. A educação física, assim,
passou a ser vista como um meio para reabilitação, readaptação e integração
do aluno, adotando práticas pedagógicas e deixando para trás a relação da
educação física e seu conteúdo absolutamente esportivo (BRASIL, 1998, p.23).

O discurso e a prática da Educação Física sob a influência da psicomotricidade


conduzem à necessidade de o professor de Educação Física sentir-se um professor
com responsabilidades escolares e pedagógicas. Buscam desatrelar sua atuação
na escola dos pressupostos da instituição desportiva, valorizando o processo
de aprendizagem e não mais a execução de um gesto técnico isolado (BRASIL,
1998, p. 23).

Desenvolvimentista
A abordagem desenvolvimentista tem seu enfoque no desenvolvimento físico
do aluno, caracterizando, através da faixa etária, a progressão normal do
crescimento físico e do desenvolvimento motor. Essa abordagem privilegia a
aprendizagem do movimento, pois considera que o movimento é o principal
meio da educação física, excluindo, portanto, o desenvolvimento de capaci-
dades que auxiliem a alfabetização ou pensamento lógico-matemático, pois a
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partir desta abordagem, a aula de educação física deve ser focada no corpo e
não na mente, apesar de ambos estarem relacionados (BRASIL, 1998, p.25).

“Grande parte do modelo conceitual desta abordagem relaciona-se com o conceito


de habilidade motora, pois é por meio dela que os seres humanos se adaptam aos
problemas do cotidiano. Assim, a educação física deve oferecer experiências de mo-
vimento adequadas ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, a fim de que a
aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada. A criança deve aprender a
se movimentar para adaptar-se às demandas e às exigências do cotidiano, ou seja,
corresponder aos desafios motores” (BRASIL, 1998, p.25).

Construtivista-interacionista
Na abordagem Construtivista-Interacionista, o enfoque é para a constru-
ção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o meio. Para essa
abordagem é dever do profissional de educação física respeitar o universo
cultural do aluno, explorar as diversas possibilidades educativas de atividades
lúdicas espontâneas, propondo tarefas cada vez mais complexas e desafiadoras,
incentivando, dessa forma a construção do conhecimento. Essa abordagem
valoriza as experiências dos alunos com seu meio e tem como objetivo propor
alternativas aos métodos diretivos (BRASIL, 1998 p. 26).

Crítico-superadora
A abordagem crítico-superadora busca levantar questões de poder, interesse
e contestação. Para essa abordagem, a educação física é entendida como
sendo uma disciplina que trata do jogo, da ginástica, do esporte, da capoeira,
da dança como sendo um conhecimento da cultura corporal de movimento
(AZEVEDO e SHIGUNOV, 2000).

Crítico-emancipatória
A abordagem crítico-emancipatória está centrada no ensino dos esportes.
Seu enfoque está na reflexão sobre ensinar os esportes pela sua transforma-
ção didático-pedagógica e de tornar o ensino escolar em uma educação de
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crianças e jovens para a competência crítica e emancipada (AZEVEDO e


SHIGUNOV, 2000).

No link a seguir, você pode ver uma exposição do


professor Pablo Juan Greco sobre a iniciação espor-
tiva aliada à educação física escolar. No vídeo, ele
aborda as relações entre as concepções da educação
física e do esporte.

https://goo.gl/Mfp9iF

PCNs
Os PCNs:

 organizam os conteúdos em três blocos, que deverão ser desenvolvidos


ao longo de todo o ensino fundamental.
 afirmam que a distribuição e o desenvolvimento dos conteúdos estão
relacionados com o projeto político-pedagógico de cada escola e a es-
pecificidade de cada grupo.
 devem contemplar os vários níveis de competência desenvolvidos para
que todos os alunos sejam incluídos e as diferenças individuais resultem
em oportunidades para troca e enriquecimento do próprio trabalho.
 submetem o grau de aprofundamento dos conteúdos às dinâmicas dos
próprios grupos, evoluindo do mais simples e geral para o mais complexo
e específico ao longo dos ciclos.
 estabelecem que o professor deverá distribuir os conteúdos a serem
trabalhados de maneira diversificada e adequada às possibilidades e
necessidades de cada contexto.
 não constituem uma estrutura estática ou inflexível — mas uma forma de
organizar o conjunto de conhecimentos abordados, segundo os diferentes
enfoques que podem ser dados. Definem três blocos de atividades que
se articulam entre si, têm vários conteúdos em comum, mas guardam
especificidades. São eles: (1) esportes, jogos, lutas e ginásticas; (2)
atividades rítmicas e expressivas; e (3) conhecimentos sobre o corpo.
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 organizam os conteúdos segundo sua categoria conceitual (fatos, princí-


pios e conceitos), procedimental (ligados ao fazer) e atitudinal (normas,
valores e atitudes).
 estabelecem que as categorias de conteúdos sempre estão associadas,
mesmo que tratadas de maneira específica.
 verificam a constituição de conhecimentos multidisciplinares e inter-
disciplinares no desenvolvimento humano.

Como exemplo da organização dos conteúdos segundo sua categoria conceitual,


procedimental e atitudinal, considere o seguinte: os aspectos conceituais do desen-
volvimento da resistência orgânica são aprendidos junto com os procedimentais, por
meio da aplicação de exercícios de natureza aeróbia e anaeróbia junto dos aspectos
atitudinais de valorização.

Essas concepções que você acabou de ver são referenciais que constituíram
a base de como se trabalhar e desenvolver o ser humano dentro das perspectivas
ideais analisadas.
Como o passar dos anos, cada uma se modificou e outras abordagens foram
ganhando espaço no mundo acadêmico ou prático para gerar novos resulta-
dos. Como exemplo, você pode considerar o esportivismo, que preconiza o
esporte como base formativa. Nesse sentido, a escola inclusive foi vista como
um lugar de detecção de talentos. Muito criticado pelos meios acadêmicos,
sobretudo a partir dos anos 1980, o modelo esportivista ainda é muito presente
na sociedade e na escola.
Seguindo o conceito implantando na década de 1980, as escolas e centros
de treinamento ainda persistem em educar pela repetição e fomentam a prática
reprodutiva. Nessa perspectiva, o esporte e a aula de educação física parecem
ter fim em si mesmos. Ou seja, é a prática pela prática, ou o movimento pelo
próprio o movimento, sem qualquer ação significativa com relação ao ser
que o faz.
Nesse contexto, o Brasil ainda é muito criticado por seus processos de
ensino e treinamento. Afinal, apresenta processos e concepções ultrapassadas
que não se alinham às necessidades e perspectivas atuais com relação ao
esporte escolar, à aula de educação física escolar, à iniciação esportiva e ao
alto rendimento.
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1. A Educação Física, na ditadura para garantir sucesso nas


militar, tinha como objetivo a competições de alto nível.
formação do aluno-atleta. Nesse 3. Pode ser considerada característica
momento histórico, o esporte da psicomotricidade:
serviu para desviar a atenção a) primeiro movimento que surge
dos acontecimentos políticos. em oposição aos modelos
A tendência _____________ anteriores (higienista, tecnicista,
da Educação Física considera esportivista, tradicional).
o desempenho técnico e b) o movimento é utilizado
físico de alunos e a promoção como meio para atingir
da formação do atleta. domínios cognitivos.
a) tecnicista/mecanicista c) a distribuição e o
b) desenvolvimentista desenvolvimento dos
c) construtivista conteúdos estão relacionados
d) PCNs com o projeto político-
e) recreacionista pedagógico de cada escola e a
2. Leia as afirmações a seguir e especificidade de cada grupo.
assinale a alternativa correta. d) oferecer ao aluno condições de
a) A Educação Física, nos desenvolver seu comportamento
anos 60, abrigou o formato motor através da diversidade e
técnico e desportivo. complexidade de movimentos.
b) Desde os anos 1990, e) é um projeto político-
o modelo esportivista pedagógico: político porque
ainda é muito presente na encaminha propostas de
sociedade e na escola. intervenção em determinada
c) Por volta dos anos 1950, mais direção; pedagógico porque
especificamente, começaram possibilita uma reflexão sobre a
nos estados brasileiros as ação dos homens na realidade.
reformas educacionais que 4. Existem diversas as abordagens
incluíram a Educação Física didáticas que se constituíram ao
com a alcunha de Ginástica. longo do tempo na Educação Física.
d) Em 1954, a ginástica viria Considere as afirmações a seguir.
a se tornar obrigatória no I. Crítico-superadora: os
ensino primário e a dança, mesmos conteúdos devem
no ensino secundário. ser trabalhados no decorrer
e) Na época em que o governo das séries, aprofundando-os
militar assumiu o poder do a cada ano, porém sem a
país, em março de 1964, visão de pré-requisitos.
investiu fortemente no esporte II. Psicomotricidade: o envolvimento
da Educação Física é com o
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desenvolvimento da criança, e) I e III são verdadeiras.


com o ato de aprender, com 5. No ano de 1937, o governo de
os processos cognitivos, Getúlio Vargas passa a ser referência
afetivos e psicomotores. para a mudança no desenvolvimento
III. Desenvolvimentista: da Educação Física. Nessa época,
privilegia a aprendizagem do ocorreram transformações que
movimento, embora possam foram consideradas primordiais
estar ocorrendo outras para a sua consolidação dentro
aprendizagens em decorrência das escolas. Qual abordagem
das habilidades motoras. foi idealizada nessa época?
Assinale a alternativa correta. a) Tecnicista.
a) I e II são verdadeiras. b) Construtivista.
b) II e III são verdadeiras. c) Saúde renovada.
c) Todas são verdadeiras. d) Militarismo.
d) Apenas a II é verdadeira. e) PCNs.
14 Concepções da educação física e do esporte

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