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UM POUCO DE HISTÓRIA DA GINÁSTICA

Áurea Augusta Rodrigues da Mata, Fernando José de Paula Cunha, Fernando Silveira Filho,
Francisco de Assis Alves Bezerra, George Paiva Farias, Goretti Vieira, Nilvania, Barbosa Rodrigues,
Rodrigo Wanderley de Sousa Cruz, Rosário de Fátima de Albuquerque Holanda

“A ginástica é um bem cultural da humanidade,


historicamente construída e socialmente
desenvolvida, adquiriu sentidos e significados nas
relações sociais, determinadas pelo modo de
produção da existência humana”
(ALMEIDA, 2005, p. 22).

Onde surgiu a ginástica? Que civilizações criaram e aprimoraram novas


formas de praticar ginástica? O que aconteceu com a ginástica ao longo do
tempo? Para tentarmos responder a essas e a outras perguntas importantes
sobre a ginástica, precisamos voltar ao passado, precisamente no período em
que a “educação física”1 em Atenas, na Grécia, era bastante significativa. Os
locais para a prática esportiva, serviam não apenas à “educação física”, como
também à formação intelectual do povo, salvo os escravizados.
A ginástica tem suas origens justamente na Grécia. A gymnastiké, isto é,
“a arte de exercitar o corpo nu”, tinha um caráter natural; sua prática era
fundamentada no atletismo (correr, saltar e lançar) e realizada em total estado
de nudez. Além de fazer parte da preparação dos guerreiros, a ginástica também
era integrante na educação das crianças, desenvolvendo atividades necessárias
para estimular a inteligência, fortalecer o corpo e torná-las corajosas (ALMEIDA,
2005).
Os ginásios, palestras e estádios possuíam grandes espaços para o
público, o que mostra o interesse popular da época pela prática dessa atividade.
O ginasiarca era a figura mais importante da educação física e, quase sempre,
da educação intelectual. Eleito pela comunidade, ele dirigia alguns dos ginásios
e, em alguns lugares, todos os ginásios da cidade. O pedótriba2 correspondia ao
que hoje chamamos de professor de educação física. Tinha conhecimento e

1
O termo educação física na Grécia antiga não era utilizado, mas, para efeitos didáticos
decidimos manter a nomenclatura no texto.
2
“Função exercida com o intuito de desenvolver os programas de estudos sobre a ginástica, com
o sentido de formação do homem num crescente domínio de si, pela libertação dos seus instintos,
desejos e paixões submetidas à razão” (LOBATO, 2001)

1
prestígio comparados aos do médico e era também responsável pela formação
do caráter dos jovens atenienses.
Dando um salto histórico, surge com o Renascimento uma nova forma de
ver o mundo, e a inclusão da ginástica, jogos e esportes na escola passa a ser
vista como base para a educação física escolar.

CURIOSIDADE___________________________________________________
Junto com as idéias de força, energia, resistência, velocidade, destreza, vigor,
estava a formação do caráter. O desenvolvimento do caráter era associado a
ginástica e, deveria contribuir para o desenvolvimento da coragem, ousadia,
perseverança e às vezes a sabedoria e amor ao bem. (OLIVEIRA, 1999).

AS ESCOLAS DE GINÁSTICA: SAÚDE, DISCIPLINA E CIVISMO

A partir do ano de 1800 vão surgindo na Europa, em diferentes regiões,


formas distintas de encarar os exercícios físicos. Essas “formas” receberão o
nome de “métodos ginásticos” (ou escolas) e correspondem aos quatro países
que deram origem às primeiras sistematizações sobre a ginástica nas
sociedades burguesas: a Alemanha, Suécia, a França e a Inglaterra (que teve
um caráter muito particular, desenvolvendo de modo mais acentuado o esporte).
Essas mesmas sistematizações serão transplantadas para outros países fora do
continente europeu (SOARES, 2004).
Na Alemanha, a ginástica surge nas instituições escolares, chamadas de
Philanthropinum. As atividades realizadas eram jogos de peteca, de bola, de
pelotas e pinos, corridas, natação, entre outros. Segundo Bregolato (2008),
nessas instituições, Johann Cristoph Friedrich Guts Muths (1759 – 1839) iniciou
a ginástica pedagógica, que se originou da “ginástica natural” ou “método
natural”. De acordo com Hébert, o método natural deduz uma série de 10 grupos
de exercícios: 1) marcha; 2) corrida; 3) salto; 4) quadrupedia; 5) trepar; 6)
equilíbrio; 7) lançamentos; 8) transporte; 9) defesa; 10) natação. Esses 10
gêneros de exercícios, ou “atos naturais”, podem ser utilizados em sua forma
simples, ou seja, a execução deles mesmos ou, então, em combinações variadas

2
entre si, acrescidas de atividades ligadas à vida prática e aos divertimentos
(HÉBERT apud SOARES, 2004, p. 27).
No século XVIII, foi fundada na Alemanha a primeira escola com um
currículo no qual a ginástica e as disciplinas intelectuais tinham o mesmo valor.
A corrente alemã representa um notável impulso aos exercícios físicos e, com
isso, a ginástica passou a ser incluída entre os deveres da vida humana. A nova
ginástica alemã – a palavra Gymnastik foi traduzida para o Alemão como
Turnkunst, que significa „arte da ginástica‟ – ia ao encontro das necessidades
do povo, pois os exercícios físicos não eram meios de educação escolar, mas,
sim, de educação do povo. O importante era formar o forte. “Viver quem pode
viver” era o lema.
Quando a Alemanha foi derrotada por Napoleão, em 1805, foi criado por
Friedrich Ludwing Jahn (1778 – 1852) um modelo de ginástica militar que tinha
o objetivo de fortalecer física e moralmente a juventude alemã. Janh deixa como
contribuição para a educação física a criação de aparelhos como a barra fixa,
barras paralelas e o cavalo, sendo, portanto, um dos precursores da ginástica
olímpica com aparelhos (BREGOLATO, 2008).
Na Suécia, Pehr Henrick Ling (1776 – 1839) apropria-se das ideias
naturalistas alemãs para dividir a ginástica em quatro vieses: militar, médica,
estética e pedagógica. Em 1813, Ling funda o Real Instituto Central de Ginástica
de Estocolmo, que serviu de modelo para os demais países europeus e, elabora
o livro “Bases Gerais da Ginástica” (1839).
Arrasados em virtude da guerra com a Rússia, os suecos pretendiam que
a ginástica colaborasse para elevar a moral de seu povo. Esperavam obter, por
meio de uma ginástica estudiosa e racional, uma raça livre do aumento constante
do alcoolismo e tuberculose que assolavam o país. Hjalmar Ling (1820-1886)
desenvolveu a ginástica pedagógica, também conhecida por ginástica educativa,
e Josef Gottfrid Thulin (1875-1965) inovou o método criando o Instituto de
Ginástica de Lund, que visava à ginástica infantil.
A ginástica sueca preocupava-se com a execução correta dos exercícios,
emprestando-lhes um espírito corretivo. Uma das maiores contribuições suecas
para a ginástica foi o grande impulso que deu a uma antiga tendência desse
povo: a “ginástica para todos”, que surgiu em 1912 com o objetivo de ampliar a
prática de atividades físicas para a totalidade da população.

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Na França, a ginástica foi introduzida por militares, que dominaram o
panorama da educação física ao longo do século XIX nesse país. Em 1819, foi
fundado o primeiro instituto de ginástica para o Exército e para as escolas civis.
O “Manual de Educação Física, Ginástica e Moral” (1836), escrito por Francisco
Amoros y Ondeano (1770-1840), foi adotado na Escola Militar de Joinville em
1852. Essa escola também recebeu as contribuições de Georges Demeny (1850
– 1917), com “Mecanismo de Educação do Movimento” (1924), e Philipe Tissié,
(1852-1935) com “Tratado da Ginástica Nacional”.
O que caracterizava a ginástica francesa era seu marcante espírito militar
e uma preocupação básica com o desenvolvimento da força muscular, não
sendo, pois, adequada a ambientes escolares. Apesar disso, as autoridades
francesas atribuíram a derrota na guerra franco-prussiana, em 1870, à
degeneração física e moral do povo. Dessa forma, foram criadas leis obrigando
a inclusão da ginástica no currículo escolar, com a mesma finalidade anterior:
melhorar a condição física e moral do povo.

CURIOSIDADE___________________________________________________
“No final do século XIX e início do século XX, existia um debate entre os
defensores do esporte (na Inglaterra) e os defensores da ginástica (no continente
Europeu), ou seja, os sistematizadores dos métodos ginásticos, quanto ao meio
mais adequado da educação física da juventude. No entanto, menos conhecidas
entre nós no Brasil são as críticas oriundas das organizações de ginástica e
esportiva de trabalhadores europeus (Alemãs, Belgas, Francesas, Suíças e
Inglesas principalmente). A classe trabalhadora em países como a Bélgica, a
Tchecoeslováquia, a França e principalmente a Alemanha criou uma
organização de clubes de ginástica e, posteriormente, também de esportes,
própria, que procurava diferenciar-se das organizações ginásticas e esportivas,
“burguesas‟. Esse movimento produziu textos (de jornais e livros) em que os
princípios que norteavam suas atividades, bem como as críticas, estavam bem
expressos” (BRACHT, 2003, p. 24).

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A CHEGADA DA GINÁSTICA NO BRASIL

No Brasil, os povos primitivos já realizavam os movimentos de correr,


rolar, pendurar-se, lançar-se. A Família Real Portuguesa, ao instalar-se no Brasil
em 1808, estabeleceu novas formas de dominação, iniciando um processo de
desenvolvimento cultural com tendências elitizantes. A fase imperial revela
tentativas de organização de um sistema educacional inexistente na época. A
partir de então, algumas reformas educacionais tentaram minimizar o verdadeiro
caos em que se encontrava a educação brasileira. O Ginásio Nacional, criado
em 1837 como instituição-modelo, incluiu a ginástica em seus currículos. Em
1851, teve início a legislação que tornou obrigatória a prática da ginástica nas
escolas primárias do município da corte, isto é, o Rio de Janeiro (OLIVEIRA,
1999).
No final do Império, o ministro recomendou a utilização do método de
ginástica alemã para os estabelecimentos de ensino, principalmente para o
Colégio Pedro II. Esse método vinha sendo oficialmente aplicado no Exército
Brasileiro desde 1860 e, por isso, sua adoção nos meios escolares provocou
reações por parte daqueles que viam a educação física como elemento da
educação e, não, como um mero instrumento para adestramento físico. Essa
ginástica também era praticada pelos imigrantes alemães, que criaram as
“Sociedades de Ginástica Alemã”, existentes até 1937.
Em 1911, o sueco Arthur Higgens publicou o “Compêndio de Ginástica
Escolar”. A sistematização apresentada nesse livro (que ficou conhecida como
ginástica higiênica) foi oficialmente adotada nas escolas do Rio de Janeiro
durante a Primeira República. Através das contribuições do Regulamento Geral
de Educação Física (1927) ou Método Francês da escola de Joinville-Le-Pont,
introduzido no Brasil em 1932, houve um norteamento da prática da educação
física escolar até o fim do Estado Novo, sob a tutela do governo de Getúlio
Vargas.

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TEXTO DE APOIO________________________________________________

GINÁSTICA AERÓBICA: o maior fenômeno socioesportivo dos anos 70 e 80

No início da década de 1970, aconteceu no Brasil um fato muito


interessante: a população começou a adotar a corrida como forma de
treinamento aeróbio, o que ficou popularmente conhecido como “Cooper”.
Na realidade, o famoso teste dos 12 minutos, o teste de Cooper para
avaliar a capacidade aeróbia, acabou tornando-se a forma de treinamento para
os milhares de brasileiros que diariamente se dirigiam aos parques, praças, ruas
ou pistas para “fazer Cooper”, ou seja, caminhar por 20 a 30 minutos ou correr
por 12 minutos.
Após o grande boom da corrida como forma de treinamento aeróbio, a
ginástica aeróbica tornou-se a nova mania de fazer exercício. Porém, se por um
lado essa mania motivou milhares de pessoas, por outro criou uma grande
polêmica em torno de sua prática. Lesões nos joelhos, jovens, adultos e idosos
participando da mesma aula, alunos iniciantes e avançados fazendo exercícios
com a mesma intensidade, exercícios agressivos, música alta, professores sem
formação acadêmica, excesso de saltos no mesmo lugar e impacto nas
articulações foram alguns dos principais problemas identificados pelos
especialistas na época do surgimento da ginástica aeróbica nos Estados Unidos,
Canadá e, depois, no Brasil.
A polêmica criada em torno dos aspectos negativos da ginástica aeróbica,
independentemente do sucesso que ela representava, despertou interesse no
meio científico. Inúmeras pesquisas investigaram os aspectos fisiológicos,
biomecânicos e pedagógicos relacionados a essa ginástica, dando aos
professores informações que causaram mudanças tanto na escolha dos
exercícios e técnicas de execução quanto na maneira de ensinar. Além disso, a
maioria das pesquisas que, até então, era voltada para os atletas de alta
performance, passou a investigar mais profundamente a prática do exercício
físico entre os sedentários, oferecendo uma grande quantidade de subsídios
para a criação de novas técnicas.
Devido aos estudos da biomecânica e da mudança na técnica de
execução dos movimentos, a diminuição do impacto ocasionado pela corrida

6
estacionária e pelos saltos deu lugar à chamada “ginástica de baixo impacto”,
que garante a mesma eficiência cardiorrespiratória, mas não apresenta os riscos
de lesões musculoesqueléticas acarretadas pelos exercícios de alto impacto.
Dessa forma, as aulas de ginástica tornaram-se mais seguras e menos lesivas,
consequentemente beneficiando os alunos.
O uso da marcha acompanhada de movimentos vigorosos de braços,
elevação do joelho com um dos pés em contato com o solo, deslocamentos
laterais e passos de jazz combinados em forma de coreografias deram à
ginástica aeróbica uma característica mais suave, sendo recomendada até
mesmo para pessoas obesas, mulheres grávidas e idosos. Assim, a ginástica
aeróbica passou a representar uma “velha nova” opção de treinamento para
milhares de pessoas de ambos os sexos, várias idades e diferentes níveis de
condicionamento físico.
Os exercícios, muito parecidos com aqueles utilizados nas odiosas
sessões de ginástica calistênica das escolas secundárias ou como castigo para
os soldados relapsos nas tropas do exército, reaparecem mais fortes do que
nunca na década de 1980, constituindo uma excelente alternativa de
condicionamento físico.
A combinação de exercícios simples, acompanhados de músicas alegres,
fez da ginástica aeróbica um dos maiores fenômenos socioesportivos nas
décadas de 1970 e 1980, pois nenhuma atividade física conseguiu reunir, em
um curto espaço de tempo, tanta gente para fazer exercício.
Atualmente, a ginástica aeróbica mudou de nome, mas os fundamentos
fisiológicos continuam os mesmos. Os milhares de adeptos em todo mundo, que
antes tinham como única alternativa a “vovó aeróbica”, passaram a praticar
novas modalidades de exercícios aeróbicos, agora conhecidos pelos seguintes
nomes: dança aeróbica, funk, hip-hop, street dance, aero-bahia, afro-aeróbica,
ginástica jazz, axé aeróbica, samba aeróbico, body jam, hidroaeróbica, entre
outros.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Roseane Soares. A ginástica na escola e na formação de professores.


Tese de Doutorado (Doutorado em Educação) – Universidade Federal da Bahia, 2005.

BRACHT, Valter. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. Ed. Unijuí, 2003.

BREGOLATO, Roseli Aparecida. Cultura corporal da ginástica. Ícone, 2008.

DARIDO, Suraya Cristina; SOUZA Jr., Osmar Moreira. Para ensinar educação física:
possibilidades de intervenção na escola. Papirus, 2008.

GUISELINE, Mauro. Aptidão física, saúde e bem-estar. Ed. Phorte, 2004.

OLIVEIRA, Vitor Marinho. O que é Educação Física. Ed. Brasiliense, 11ª edição, 1999.

SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física: Raízes Européias e Brasil. Autores


associados, 2004.

______. Imagens da educação no corpo. Autores associados, 2005.

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