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Epistemologia da Educação I - Turma C

I. Disparates: Ler o que nunca foi escrito”. Atlas ou a Gaia


Ciência Inquieta.
Eglem das Neves Bergantin
E-mail para contato: eglembergantin@estudante.ufscar.br

“Atlas ou a Gaia Ciência Inquieta” é um ensaio escrito por Georges Didi-Huberman


(1953 -), curador e historiador da arte, professor da Escola de Estudos Avançados em
Ciências Sociais de Paris e filósofo da imagem.
No primeiro capítulo do livro, “Disparates: ler o que nunca foi escrito”, Didi-Huberman
se propôs a discorrer sobre a epistemologia das imagens, o que envolve a imaginação
humana. Para tanto, apresenta, baseado no trabalho do também historiador de arte
Aby Warburg (1866 – 1922), atlas mnemosyne, o atlas de imagens como uma forma
visual do saber. Segundo Didi-Huberman, a relação com o atlas envolve dois gestos
paradigmáticos: o de procurar informação e o de divanear. O atlas, na sua forma de
organização das imagens, introduz, no saber de quem o olha, a dimensão sensível:
Assim, o atlas faz explodir, logo à partida, os limites. Quebra as certezas
autoproclamadas da ciência convicta das suas verdades, como da arte
convicta dos seus critérios. Inventa, entre tudo isto, zonas intersticiais de
exploração, intervalos heurísticos. Ignora deliberadamente os axiomas
definitivos. Corresponde a uma teoria do conhecimento exposta ao perigo
do sensível e a uma estética exposta ao perigo da disparidade. (...) O seu
princípio, o seu motor, mais não é do que a imaginação (pg. 13).

A imaginação, para Didi-Huberman neste texto, não se trata de fantasia pessoal, pelo
contrário, possibilita um conhecimento transversal a partir de seu atributo intrínseco
de montagem. Assim como o atlas, a imaginação não se propõe a resumir o mundo,
ao invés, a imaginação trabalha com o múltiplo e as múltiplas intersecções e relações
que pode haver entre as coisas, as imagens. Por isso, a imaginação e o atlas
possibilitam que tenhamos interpretações e conhecimentos inesgotáveis. Ainda,
citando o filósofo Walter Benjamim, Huberman diz que esse tipo de conhecimento
vem antes da linguagem propriamente dita, assim, “lemos o que nunca foi escrito” (pg.
16).
A seguir, Didi-Huberman desenvolve seu pensamento através do atlas mnemosyne e
traz as diferenças entre quadro e mesa/prancha. Quando o artista se propõe a deixar
os limites tradicionais do quadro e da moldura e se “rebaixa” a utilizar como objeto de
trabalho uma mesa, possibilita uma nova forma do espectador visualizar a arte, essa
nova forma se refaz e é anacrônica. O quadro se torna estático, definitivo, a mesa,
enquanto suporte de trabalho, é um local onde se retira e coloca coisas, é
constantemente modificada. Assim é o atlas mnemosyne, formado por pranchas de
trabalho, onde os espectadores podem alterar a ordem das imagens, transformando as
relações entre elas.
Ainda trazendo a ideia de mesa, Didi-Huberman faz outras associações em relação aos
usos desta como mesa de trabalho, mesa onde se come, mesa ritualística. Se debruça
sobre esta última ao falar das imagens presentes na prancha 1 do atlas mnemosyne,
dentre elas, fígados divinatórios de carneiro. Na prancha, tempos heterogêneos são
colocados lado-a-lado, a ponte entre as imagens (conexão secreta), segundo
Huberman, está no entendimento de que povos de épocas e lugares distintos buscam
conhecer o mundo através de um saber sensível, através da interpretação, dedução e
comparação de fenômenos. Por exemplo, povos que tentavam adivinhar o futuro
através da leitura de fígados de carneiro. Os fígados seriam como uma mesa (campo
operatório) do conhecimento. Esta é a forma de conhecimento mais antiga, a leitura
daquilo que nunca foi escrito. Mais uma vez, a imaginação se mostra necessária, pois
somente a partir dela se consegue ver para além do que é mostrado. Não se trata de
opor razão e imaginação, mas de pensar que “A imaginação encontra-se no
cruzamento exacto do sensível e do inteligível” (pg. 45).
A imaginação desfragmenta e recompõe o mundo, cria um mundo novo. Este mundo
novo, causado pelo atlas, nos provoca e nos faz refletir sobre os movimentos da
história de uma forma não narrativa e também nos faz repensar nosso modo de
ser,estar e nos relacionar no mundo.

Referências

DIDI-HUBERMAN, Georges. “I. Disparates: Ler o que nunca foi escrito”. Atlas ou a Gaia
Ciência Inquieta. Lisboa: KKYM, 2013.

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