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P EN S A R
P O R
M O N TA G EN S 1
P A O LA
B ER EN S T E I N
J A C Q U E S
PEN SAR POR MON TAGEN S PAOLA B ER EN S TEIN JACQU ES
S obrevivências
A
by Warburg, historiador da arte que nunca se
restringiu ao campo mais estrito da arte e sempre
dialogou com outros campos – em particular,
com a cultura, a antropologia e a arqueologia
–, procurava o que estava escondido ou parecia
não ser merecedor de atenção pela maioria dos
historiadores, como pequenos fragmentos, pe-
daços ou detalhes – como dito em sua célebre
frase: “o bom Deus se esconde nos detalhes” – e
recorreu à montagem como “forma de conhe-
cimento”2 ou como “imagem de pensamento”
– Denkbild, como diria Walter Benjamin –,3 209
N EBULOSAS DO PEN SAM EN TO URBANÍ STICO MODOS D E PENSAR
M ontagens
A nacronismos
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N O TA S
4 “Atlas, finalmente, deu seu nome a uma forma visual de conhecimento: ao conjunto
de mapas geográficos, reunidos em um volume, geralmente, em um livro de
imagens, cujo destino é oferecer aos nossos olhos, de maneira sistemática ou
problemática – inclusive poética, com risco de ser errática, ou ainda surrealista
– toda uma multiplicidade de coisas reunidas por afinidades eletivas, como diz-
ia Goethe. […] No âmbito das artes visuais, o atlas de imagens, Atlas Mnemosyne,
composto por Aby Warburg entre 1924 e 1929, que ficou inacabado, constitui
para qualquer historiador da arte – e para todo artista hoje – uma obra de
referência e um caso absolutamente fascinante”. (DIDI-HUBERMAN, 2011a,
p. 13, tradução nossa)
10 Segundo Agamben (2009, p. 132), Warburg “durante toda sua vida conservou
‘franca repulsa’ pela ‘história de arte estetizante’ e pela consideração puramente
formal da imagem”.
22 “Aquilo que experimentamos a cada dia com as imagens que nos rodeiam apa-
renta ser uma combinação de coisas novas e ‘sobrevivências’ vindas de muito
longe na história da humanidade; assim como imagens de nosso passado mais
profundo podem afetar nosso sonho da noite anterior. […] Os artistas, filóso-
fos e historiadores também existem para isso: para nos fazer entender que só
vivemos nosso presente através dos movimentos conjugados das montagens de
nossas memórias (gestos que realizamos em direção ao passado) e desejos (gestos
que realizamos em direção ao futuro)”. (DIDI-HUBERMAN, 2013b)
30 “Não existe anacronismo. Mas existem modos de conexão que podemos chamar
positivamente de anacronias: acontecimentos, noções, significações que tomam
o tempo de frente para trás, que fazem circular sentido de uma maneira que es-
capa a toda contemporaneidade, a toda identidade do tempo com ‘ele mesmo’.
Uma anacronia é um palavra, um acontecimento, uma sequência significante
saídos do ‘seu’ tempo, dotados da capacidade de definir direcionamentos tem-
porais inéditos, de garantir o salto ou a conexão de uma linha de temporalidade
com outra. E é através desses direcionamentos, desses saltos, dessas conexões
que existe um poder de ‘fazer’ a história. A multiplicidade das linhas de tempo-
ralidades, dos sentidos mesmo de tempo incluídos em um ‘mesmo’ tempo, é a
condição do agir histórico. Levá-lo efetivamente em conta deveria ser o ponto
de partida da ciência histórica, menos preocupada com sua respeitabilidade
científica e mais preocupada com o que quer dizer ‘história’”. (RANCIÉRE
2011, p. 49)
31 “[…] worin das Gewesene mit dem Jetzt blitzhaft zu einer Kostellation zusam-
mentritt” (Das passagen-Werk, Gesammelte Schiften, 1982). A tradução bra-
sileira da frase completa, que usamos em tradução livre a partir das versões em
francês e alemão, troca a expressão “como um relâmpago” (blitzhaft, dans un
éclair) por “lampejo”: “Não é que o passado lança sua luz sobre o presente ou
que o presente lança sua luz sobre o passado; mas a imagem é aquilo em que o
ocorrido encontra o agora num lampejo, formando uma constelação”.
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