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Entre essas concepções, destacamos aqui três delas que exerceram (e ainda exercem)

influências no ensino:

• 1º, a concepção de linguagem como expressão do pensamento;


• 2º, a concepção de linguagem como instrumento de comunicação; e
• 3º, a concepção interacionista e dialógica da linguagem. Vejamos alguns aspectos que
caracterizam cada uma delas

1- A concepção inicial via a linguagem como uma expressão do pensamento, influenciada pela
tradição gramatical grega, idealismo inatista e Gestalt.

- Acreditava-se que a linguagem era um talento individual, aprendido por "insights" ou


descobertas repentinas, sugerindo que se alguém não falasse bem, era devido a uma deficiência
no pensamento
- Enfatizava-se a clareza e precisão na fala como indicadores de pensamento racional, com a
crença de que as habilidades linguísticas eram geneticamente determinadas.

- Essa visão implicava que as diferenças sociais eram consequências da herança genética.

- No ensino de línguas, predominava a abordagem gramatical normativa, com pouca ênfase em


atividades de leitura e escrita contextualizadas.

- Na alfabetização, os métodos sintéticos eram comuns, começando com a aprendizagem de


letras, sílabas e palavras de forma isolada, sem contexto significativo para as crianças.

2..A segunda concepção da linguagem a encara como um instrumento de comunicação, onde a


língua é vista como um código de signos que seguem regras para transmitir mensagens ao
receptor.

A linguagem é vista como um código de comunicação.

- Ênfase na estruturação da linguagem e domínio pelo falante.

-Foco unilateral no ponto de vista do locutor.

- Ensino gramatical desconectado do uso prático da língua.

- Métodos analíticos na alfabetização resultam em leitura mecânica.


-. Combinação de abordagens sintéticas e analíticas no ensino.

-. Abordagem descontextualizada limita a compreensão crítica.

-. Mudança na compreensão da aquisição da escrita pela criança com estudos de Piaget.

- Práticas pedagógicas enfatizam a construção do conhecimento pela criança.

-. Abordagem pedagógica desconsidera o contexto social e político da linguagem.


3. A terceira perspectiva conceitual considera a linguagem como um processo de interação social.

-. A interação social é mediada pela linguagem, organizando relações sociodiscursivas.

-. Abordagem interacionista e dialógica baseada nos estudos de Bakhtin.

-. Essa concepção guia as abordagens de ensino de línguas e alfabetização.

-. O dialogismo refere-se ao diálogo entre diferentes discursos.

-. Relações dialógicas estão ligadas ao contexto histórico, político e cultural.

- A linguagem é concebida como um empreendimento coletivo influenciado por contextos


socioculturais.

-. A linguagem (re)produz relações entre indivíduos e o mundo.

-. Na interação verbal, novos discursos são produzidos configurando gêneros do discurso.

-. Compreender o aspecto extraverbal da linguagem é fundamental devido ao contexto histórico,


social e cultural.

-. A língua transcende a relação entre significante e significado, sendo ideológica, social e


interacional.

-. Escolhas linguísticas são influenciadas pelo desejo do locutor e pelas condições sociopolíticas
e culturais.

-. Cada palavra reflete a interação entre locutor e ouvinte, expressando uma relação entre eles.

Os usos da língua são influenciados tanto pela natureza linguística quanto pela dimensão social,
moldados pelo contexto histórico e pelos participantes envolvidos na interação. À medida que a
sociedade evolui, a língua se adapta para atender às novas demandas, refletindo as
necessidades emergentes. Os discursos são construídos em contextos sociais específicos e
socializados na relação com interlocutores situados ideologicamente. O sujeito é influenciado pela
situação social, os interlocutores, o gênero escolhido e a intenção do discurso. Bakhtin destaca
que os usos da língua derivam das vivências e da situação social imediata, refletindo as
necessidades de interação. A alfabetização baseada no letramento vai além da decodificação de
letras, enfatizando a habilidade de interagir socialmente por meio da linguagem em diversos
gêneros discursivos. Bakhtin também ressalta que toda atividade humana é mediada pela
linguagem, expressa por meio de enunciados-textos em diferentes gêneros discursivos. O
discurso reflete as condições e finalidades dos contextos sociais e institucionais que o geram,
sendo a própria língua em sua integridade concreta e viva. A interação linguística é
intrinsecamente dialógica, transcende a natureza linguística do texto e considera seu contexto
extraverbal. Os textos-enunciados são organizados a partir de outros discursos anteriores,
reelaborados pelo sujeito nas condições sócio-históricas do momento. Os gêneros do discurso
são veiculados em textos, desempenhando diversas funções sociais e refletindo a diversidade
das interações linguísticas. A seleção de um gênero discursivo é determinada pelo propósito do
locutor, considerando a esfera de circulação do discurso, o conteúdo a ser transmitido e os
interlocutores envolvidos.

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