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Serviço Público Federal

Ministério da Educação
Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
FAALC - Curso de Letras

Acadêmico: Camila Medina Corselha


Lista de exercícios II - Questão 5 (Nota e presença) - Abordagem do texto

Segundo Tatit (2003, p. 187): "a passagem do estudo das frases ao estudo dos textos
requer significativa mudança de enfoque". Diante de tal afirmação, discorra sobre a
concepção de texto tal como entendida pela semiótica discursiva.

De acordo com Tatit, os estudos em torno dos textos iniciaram-se quando o lexicólogo
lituano Algirdas Julien Greimas fez sua indagação em torno do sentido construído no âmbito
do texto, chamando-a de "semântica estrutural" e, em seguida, "semiótica". Associando a
estrutura de um enunciado simples à estrutura de um espetáculo, lançou sua teoria
narrativa, possuindo elementos que demonstravam ser possível uma abordagem sintáxica
do texto integral.

Dessa maneira, ao realizar esse salto, Greimas percebeu que não estava mais lidando com
unidades linguísticas. Ou seja, ao invés de estar lidando com noções linguísticas, o autor
estava operando com noções semióticas. Assim sendo, a semiótica nunca deixou de
englobar a dimensão semântica dos textos em seus objetos de estudos; entretanto
encontrava dificuldade para extrair o valor sintático dos elementos do texto.

Luiz Tatit no livro "Introdução à Linguística" faz uma análise do texto concreto de Chico
Buarque: "Com açúcar, com afeto", identificando três etapas distintas: manipulação, ação e
julgamento. A manipulação pode ser definida como uma relação de sobremodalização entre
dois actantes, o destinador e o destinatário-sujeito, sendo o principal objetivo do primeiro
fazer o segundo fazer. Lembramos também dos aspectos da "sedução", da "tentação", da
"provocação" e da "intimidação" que podem ser relacionados com a etapa da manipulação.

No nível discursivo é possível distinguir os fatos que apresentam aquilo que o texto diz, das
categorias narrativas, que indicam como esses conteúdos estão organizados em funções,
direções e finalidades. No nível narrativo, encontram-se as dependências entre funções
actanciais; as operações de manipulação, ação e sanção; as oposições que criam
embaraços ao desenvolvimento narrativo; as interações modais e o universo passional do
sujeito.

Retomando as etapas comentadas pelo autor, ainda fazendo uso do texto de Chico
Buarque, Tatit constata que as ações desenvolvidas pelo sujeito não correspondem ao
projeto inicial do destinatário, fracassando a manipulação do destinatário. Dessa forma, o
sujeito acaba empreendendo um fazer que se opõe de frente ao que é desejado pelo outro
actante, sendo esse um conjunto de ações que descrevem a segunda etapa antes
estabelecida como "ação". Em vista disso, a última etapa, denominada "julgamento" ou
"sanção", trata-se da continuação que só pode acontecer quando o destinatário confronta o
seu saber a respeito do percurso do sujeito destinatário com o critério de "verdade"
decorrente dos acordos estabelecidos entre os actantes implicados numa narrativa
específica. Surgindo assim uma oposição entre o que "é de fato" e o que "parece ser".
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Todos os conceitos, considerados pela semiótica até aqui, pressupõem categorias mais
abstratas, que resumem os percursos narrativos e discursivos de um texto em alguns
termos muitos gerais instituídos por operações de transformação. Em relação à enunciação,
no plano profundo, apenas por meio das escolhas de valores fóricos, pode-se saber do
enunciador geral do texto, enquanto que nos níveis narrativo e discursivo a entidade do
enunciador envia representantes, mas que não podem ser confundidas com ela.
Consequentemente, pode-se reconhecer a atividade do narrador no nível narrativo por meio
da disposição das funções atuais e pela distribuição entre elas dos atributos modais. Já no
nível discursivo, o enunciador simula maior ou menor distância do texto por meio dos
dispositivos conhecidos como debreagem e embreagem.

Sendo assim, quando é ultrapassado o nível das frases, a construção do sentido nos
sistemas verbais possui uma configuração que não está dentro do alcance dos modelos
linguísticos (gramaticais). Portanto, a semiótica, com conceitos expandidos para a
significação do texto, apresenta-se equipada para a análise do texto.

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