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1.

Introdução

A proposta deste trabalho é a análise do discurso que têm como foco fenômeno
da enunciação, e o uso dos embreantes de pessoa, espaço e tempo, os quais são
condições para a enunciação (é o ato de produção do discurso), que interferem na
criação do sentido do enunciado produto da enunciação. Esse mesmo sentido seria
decifrado por um receptor que dispõe do mesmo código, a mesma língua. O sentido
estaria de alguma forma inscrito no enunciado, e sua compreensão dependeria
essencialmente de um conhecimento do léxico e da gramática da língua; o contexto
desempenharia um papel periférico, fornecendo dados que permitem desfazer as
eventuais ambigüidades dos enunciados e para que haja interação social como nos
mostra Bakhtin (Estética da criação verbal 1995, p.127), dá-se por meio de processos de
enunciação (dados em interações verbais), que por sua vez são estruturas de mecanismos
puramente sociais. É comum ouvir de docente que o aluno sabe fazer uma enunciação e
não compreende um enunciado, pois falta coesão e nem coerência textual, ou seja, não
existe interação aluno/texto. Enquanto alguns alunos justificam-se dizendo que muitas
vezes o texto é “chato”, a linguagem é difícil de ser compreendida, estes fatos criam
lacunas a serem preenchidas (para compreender o que é solicitado e o que fazer diante
de um enunciado). E entre o que o professor descreve sobre o aluno e este que pensa
sobre o texto há a escola com a fundação teórica explicita pressa a um determinado tipo
de gênero, que geralmente são escolhidos pelos os livros de didáticos para trabalhar a
significação enunciação e enunciado, enquanto poderia utilizar as diversidades de
gêneros que fazem parte da realidade do estudante tais como notícia, editorias de
esporte, propaganda, contos, uma crônica de jornal, com o objetivo de entrelaçar e
envolver o aluno e o texto.

Então, por que não trabalhar o gênero charge para entender a enunciação e seus
embreantes? Apresentaremos a possibilidade de trabalhar os embreantes enunciativos
através deste gênero na sala de aula com a finalidade que o aluno perceba as condições
para a construção de enunciados (ou atos de fala), bem como verificar as condições de
enunciação, os efeitos e as formações discursivas que envolvem tais enunciados, pois
compreendemos a visão de Bakhtin que na conversa mais desenvolta, moldamos nossa
fala às formas precisas de gêneros, às vezes padronizados e estereotipados, às vezes mais
maleáveis, mais práticos e mais criativos. Sendo a charge um gênero de estrutura curta,
constituída em balões, para representar a “fala” de personagem, destaca-se que nessa
composição o imbricamento(posições diferentes do sujeito) entre verbal e não verbal
poderá facilitar a comunicação aluno/texto.
No corpus são charges retiradas da internet aleatoriamente, pois tratam de temas
atuais da sociedade e os alunos utilizam esta ferramenta frequentemente.
2. Fundamentação teórica

O ato enunciativo(que se pode agir por meio da linguagem não é uma ideia nova)
será o suporte para análise de nosso corpus, compreendemos, de antemão, a concepção
de que as condições de produção desse enunciado fazem parte da sua significação. A
área de ensino de língua materna tem passado por mudanças pragmáticas acentuadas, e,
atualmente, encontra-se confusa com relação à sua função na práxis educativa. “A
pragmática tem sido considerada de modo mais amplo, muitas vezes incluindo a
enunciação, a argumentação e o discurso” (Orlandi, 2002:91).
Segundo Maingueneau (2008:58), do ponto de vista sintático, alguns linguistas
opõem enunciado à frase. O enunciado é definido como a unidade de comunicação
elementar, uma seqüência verbal investida de sentido e sintaticamente completa; a frase,
como um tipo de enunciado, é aquela que se organiza em torno do verbo: “Leandro está
doente”, “Oh!”, “Que mulher!” seriam, todos enunciados, embora apenas o primeiro
poderia ser considerado uma frase.
Do ponto de vista da Pragmática, a frase é uma estrutura tomada fora do uso que
corresponde a uma infinidade de enunciados em contexto: chama-se frequentemente
uma sucessão de palavras organizadas conforme a sintaxe. Já o enunciado é uma
realização de uma frase em uma determinada situação. Nota-se, assim, que diferentes
enunciados de uma frase têm, em geral, sentidos completamente diferentes. O enunciado
tornar-se um equivalente de frase-ocorrência. Nesse caso, associa-se frequentemente a
significação à frase e o sentido ao enunciado. A fonte do sentido é a formação discursiva
a que o enunciado pertence.
Benveniste diz que a frase não representa simplesmente um degrau a mais na
extensão do segmento considerado. Com a frase transpomos um limite, entramos num
novo domínio. Esse novo é o critério que determina esse tipo de enunciado.
A base da teoria austiniana está na descoberta da existência de um tipo particular
de enunciados, os enunciados performativos, que têm a propriedade de poder e, em
certas condições, realizar o ato que eles denotam, isto é, "fazer” qualquer coisa pelo
simples fato do “dizer”: enunciar “Eu te prometo que venho”, é, ipaso facto, realizar um
ato, de prometer.(Charaudeau 2008:72)
A enunciação é o ato de produção do discurso, é uma instância pressuposta pelo
enunciado (produto da enunciação). Ao realizar-se, a enunciação deixa marcas no
discurso (pronomes pessoais e possessivos, adjetivos e advérbios apreciativos, dêiticos
temporais e espaciais, verbos performativos). O ato de enunciação é fundamentalmente
assimétrico: a pessoa que interpreta o enunciado reconstrói seu sentido a partir de
indicações presentes no enunciado produzido, mas nada garante que o que ela reconstrói
coincida com as representações do enunciador.
A teoria dos atos de fala indica outros aspectos de análise, como os cinco modos
pelos quais um enunciado pode relacionar-se com o mundo: o ponto ilocucional
assertivo (indicação de um estado de coisas como real), o comissivo (comprometimento
do falante em exercer uma ação futura), o diretivo (tentativa em levar o ouvinte a
executar alguma coisa), o declarativo (promoção de mudanças no mundo em
conseqüência da enunciação) e o expressivo (expressão de sentimentos e atitudes do
falante a propósito de um estado de coisas). (Vanderveken 1985: 175)
O enunciado é compreendido como elemento da comunicação em relação
indissociável com a vida. Neste sentido, o enunciado concreto é um evento social e não
pode ser reduzido a abstrações. A enunciação concreta é a realização exterior da
atividade mental orientada por uma orientação social mais ampla, uma mais imediata e,
também, a interação com interlocutores concretos.
Na escola, é comum ouvir que os alunos não leem, não interpretam e não
possuem mínimas habilidades de leitura e escrita. Há uma distância entre a língua que os
alunos falam e a língua ensinada pela escola e, além disso, as propostas de escrita
apresentadas, ora pelo professor ora pelos livros didáticos, são descontextualizadas e
vazias de significado para os estudantes, pois ainda se constroem textos a partir das
conhecidas tipologias textuais: descrição, narração e dissertação, não se levando em
consideração outros aspectos importantes na produção de textos escritos, como, por
exemplo: o conhecimento fora do contexto escolar, a criatividade... . Ou, quando não, os
enunciados que ocorrem fora de qualquer contexto: os exemplos de gramática são
categóricos. Esses enunciados se interpretam sem contexto para ilustrar um ou vários
fenômenos da língua, como por exemplo: se um verbo é transitivo ou copulativo, ou se
há concordância entre o artigo e o substantivo. Parece haver uma indefinição com
relação aos conteúdos que devem ser priorizados na disciplina de língua portuguesa
(LP), e a pedra no sapato do professor acaba sendo a produção textual.
O professor para trabalhar a produção textual utiliza o texto literário como
exemplo de perfeição de texto; temos consciência de que o texto literário deve ser
considerado como o texto por excelência, em função das potencialidades criativas da
linguagem que se inscrevem neste tipo de texto. No entanto, alguns professores não o
abordam outros tipos de gêneros textuais que podem aproximar do mundo do alunado.
As diversidades de textos geralmente são instrumentos para práticas pedagógicas se
inscrevem em um quadro em que o aluno deve ser guiado e não incitado, a avaliação
deve ser centrada na correção gramatical, e o texto é avaliado tão somente enquanto
produto e não processo. Tais práticas estão ainda muito enraizadas na disciplina de LP,
quando a produção de sentidos, nas práticas de linguagem, deveria ser concebida como a
unidade básica do ensino em detrimento ao plano gramatical. Koch cita que o contato
com os textos da vida cotidiano exercita a nossa capacidade metatextual para construção
e intelecção de textos com base no que escreve Bakhtin:

Todas as esferas da atividade humana, por mais variada que sejam, estão relacionadas
com a utilização da língua. (...) O enunciado reflete as condições específicas e as
finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo temático e por seu estilo
verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais,
fraseológicos e gramaticais – mas também, e sobretudo, por sua construção
composicional.

Bakthin caracteriza um gênero por: tipos relativamente estáveis de enunciados


presentes em cada esfera de troca: os gêneros possuem uma forma de composição, plano
composicional; distinguem-se pelo conteúdo temático e pelo estilo; trata-se de entidades
escolhidas tendo em vista as esferas de necessidade temática, o conjunto dos
participantes e a vontade enunciativa ou intenção do locutor.
Segundo Schneuwly(1994)(Koch, Desvendando os segredos do texto 2009:54 ) o
gênero pode ser considerado como ferramenta, na medida em que um sujeito – o
enunciador – age discursivamente numa situação definida – a ação - por uma série de
parâmetros, com a ajuda de um instrumento semiótico – o gênero. O autor desenvolve a
metáfora do gênero como “megainstrumento”, constituído de vários subsistemas
semióticos, para agir em situações de linguagem.
A seleção de um gênero não deve ser aleatoriamente, e sim visando um objetivo,
levando em conta o lugar social e os papeis dos participantes. Segundo Maingueneau um
texto não é um conjunto de signos inertes. Ele define cenas que envolvem uma
enunciação: a encenada (o rastro deixado por um discurso em que a fala); cena
englobante(é a que corresponde ao tipo de discurso); a cenografia ( não é diretamente
com o quadro cênico que se confronta o leitor); e a cena válida ( não reduz unicamente
ao seu conteúdo, sendo, antes, inseparável de sua encenação).
A cena da enunciação de um enunciado define seus próprios papéis: num
panfleto de campanha eleitoral, trata-se de um “candidato” dirigindo-se a “eleitores”;
numa aula, trata-se de professor dirigindo-se a alunos etc. (Maingueneau 2008:86). A
cena da enunciação levará a exercitar o conhecimento sobre o texto.
Quando a escola escolhe um gênero para comunicação, por conseguinte escolhe
também um objeto de ensino/aprendizagem, que muitas vezes termina limitado ao único
objetivo de ensinar. O objetivo escolar com escolha de gênero deve visar que o aluno
domine o gênero para a compreensão, o desenvolvimento, aprimoramento do enunciado
e poder transferir essa capacidade para outros gêneros. É importante a escolha de um
gênero o mais próximo possível da realidade para que tenha sentido e funcionamento na
comunicação do alunado.
Salienta-se que esta pesquisa não pretende ser totalizante no sentido de
apresentar a realidade do ensino de produção textual, contudo pode apresentar indícios
das concepções de produção textual inseridas no espaço escolar, como também refletir
sobre a elaboração dos enunciados e seus embreantes no gênero charge, conforme o
PCN de língua portuguesa é necessário contemplar nas atividades de ensino a
diversidade de textos e gêneros, e não apenas em função de sua relevância social, mas
também pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros: anúncios, poema,
bilhetes, artigos de jornais que são organizados de diferentes formas.
O gênero charge, cujo trabalharemos nesta pesquisa poderá trazer importantes
contribuições para os referentes envolvidos na enunciação.
3. A referência pela enunciação

O referente de unidades do enunciado pode se identificado na situação de


enunciação (embreantes), ou em outros elementos do enunciado (contexto).
As marcas de tempo e de pessoa, e também de determinante, os quais têm um
valor “dêitico”, ou seja, só pode ser interpretado em relação à situação de enunciação
específica na qual se inscreve. Um enunciado deve se situar em relação a alguma coisa.
Na linguagem humana, os enunciados têm como referência o próprio ato enunciativo e
como característica principal a situação de enunciação linguística.
Situação de enunciação lingüística é um sistema abstrato que envolve:
enunciador, co-enunciador, momento da enunciação e lugar da enunciação.
Há três tipos de referência: as referências baseadas na enunciação, as referências
baseadas no contexto, ou ainda as referências fora de contexto, isto é, as que não se
baseiam nem na enunciação, nem no contexto.
Quando lemos, por exemplo, um horóscopo, a situação da enunciação é para o
momento.
JORNAL O DIA/ QUINTA-FEIRA, 08/03/2011 (horóscopo – Mônica Horta)
ÁRIES - De manhã, você será movido pelo espírito aventureiro da Lua de
Sagitário. Mas a mudança da Lua para o clima sério de Capricórnio fará você
perceber como gosta e precisa ser respeitado.

Você - tem como referente o co-enunciador, quem lê o horóscopo no instante em


que lê; se outro leitor o ler, o referente de “você” mudou.

Gosta e precisa – verbos no presente do indicativo referem-se ao momento da


enunciação, ao dia da publicação do horóscopo. Podemos dizer que o mesmo
horóscopo lido no dia seguinte, continuará com sua enunciação no presente.

De manhã – também tem referência temporal, coincide com o dia da enunciação.

Se o esse texto for lido mais tarde, o enunciado não será mais válido: o presente
estará, com efeito, referindo-se a outro momento. A referência temporal opera-se
com ajuda do embreante (de manhã), que toma como ponto de referência o dia da
publicação.
(...)Algumas unidades linguísticas podem ser utilizadas tanto para a referência
enunciativa quanto para a referência contextual. Observemos o exemplo:
Pierre conseguiu; esse menino me surpreende. (referência = contexto).
Você viu esse menino? (referência = a situação de enunciação).
A referência pela enunciação de pessoa, tempo e espaço dará suporte para
interpretar a situação de enunciação.
4 A embreagem e os embreantes

Chama-se embreagem o conjunto das operações pelas quais um enunciado se


ancora na sua situação de enunciação, e embreantes (também chamados de “elementos
dêiticos”, “dêiticos”, ou, às vezes, “elementos indiciais”), os elementos que no
enunciado marcam essa embreagem. São os embreantes: de pessoa (os tradicionais
“pronomes” pessoais de primeira e segunda pessoas: eu, tu/você(s), nós,vós), os
determinantes: meu/teu, nosso/vosso,seu e suas formas femininas e plurais, os pronomes
o meu/o teu, o nosso/o vosso, o seu e suas formas no feminino e plural; de temporal: são
as desinências de modo tempo acrescentada ao radical, mas também há palavras e
grupos de palavras com valor temporal como: ontem, amanhã, hoje, há dois dias, dentro
de uma semana, que têm como referência o momento da sua enunciação; e embreantes
espaciais: eles se distribuem a partir do ponto de referência constituído pelo lugar (aqui,
lá, isso) onde se dá a enunciação, encontram-se também grupos nominais determinados
por este, esse (“esta estante”, “essa cidade”...) que associam uma embreagem este/esse e
um substantivo(“estante”, “cidade”) portador de significado independentemente da
situação de enunciação.
Os embreantes distinguem-se dos outros tipos de signos linguísticos pela maneira
como permitem ao co-enunciador identificar os referentes de tais embreantes. Um
embreante tem um significado estável (“eu”, por exemplo, designa sempre aquele que
fala), mas caracteriza-se pelo fato de que seu referente é identificado em relação ao
ambiente espaço-temporal de cada enunciação particular onde ele se encontra.
O embreante é utilizado para criar efeito de sentido. Quando se emprega a
terceira pessoa em lugar da primeira, cria-se um efeito de objetividade, porque se
ressalta um papel social e não uma subjetividade. Quando se usa o lá no lugar do aí, o
que se quer é retirar a pessoa com quem se fala do espaço enunciativo (aqui e aí, que
marcam os lugares de quem fala e daquele com quem se fala), para manifestar uma certa
distância. Quando se usa o presente no lugar do pretérito perfeito 2, o que se faz é
aproximar o que se disse do momento da enunciação, para, de certa forma, reviver os
fatos ( Fiorini,2009:74).
A categoria pessoa é fundamental para o processo enunciativo, pois ela
referencia as demais. Para alguns autores o lugar e tempo estão na dependência do eu,
que neles se enuncia. O aqui é o lugar do eu e o presente é o tempo em que coincide o
momento do evento descrito e o ato de enunciação que o descreve. Para Maingueneau,
“o discurso só é discurso enquanto remete a um sujeito, um eu, que se coloca como fonte
de referências pessoais, temporais, espaciais” (2005, p. 55).

4.1 Pessoa

Quando nos referimos à pessoa da enunciação perceberemos que cada qual tem o
seu próprio estatuto. Haverá traços comuns na primeira e na segunda pessoa, que
diferenciará da terceira pessoa. Pois as duas 1ª e 2ª pessoas são participantes da
comunicação, enquanto a 3ª designa qualquer ser ou não ser nenhum. A terceira pessoa
não implica nenhuma pessoa, pode representar qualquer sujeito ou nenhum a esse
sujeito, expresso ou não, não é jamais instaurado como participante da situação de
enunciação. Diante das pessoas que participam e não participam da enunciação
Benveniste apresenta duas correlações: 1) a da pessoalidade, em que se opõem
pessoa(eu/tu) e não pessoa (ele), ou seja participantes da enunciação e elementos do
enunciados; 2) subjetividade e a segunda é pessoa não subjetiva.
Eu e tu são protagonistas da enunciação, contudo, diferenciam-se pela marca da
subjetividade, ou melhor, o eu é pessoa subjetiva e tu é não-subjetiva.
A marca do enunciador se encontra nas unidades eu, me. Se esse enunciador,
suporte do ato de enunciação, coincide com o sujeito da frase, ele é representado sob a
forma eu; se coincide com objeto direto, sob a forma me; após preposição, aparece com
mim etc. Portanto, o eu não é enunciador, mas apenas seu vestígio. Da mesma maneira,
“você” não é o co-enunciador, mas sim um vestígio desse co-enunciador, quando
coincide com o sujeito da frase. (Maingueneau:106)

quem fala com quem se fala

ENUNCIADOR CO-NUNCIADOR

eu – sujeito você
me – objeto direto

mim – após preposição

Quando se diz “Eu afirmo que o quadro da hipotenusa é igual à soma do


quadrado dos catetos”, o enunciador coloca o sujeito da enunciação (eu) e o ato de
enunciar (afirmo) no interior do enunciado. Quando se diz “O quadrado da hipotenusa é
igual à soma do quadro dos catetos”, deixa-se fora do enunciado o simulacro do ato de
enunciar. ...(Fiorin,2009:55)
Chama-se de não-pessoa a tradicional “terceira pessoa”, a fim de assinalar que
ela se encontra numa esfera bem diferente de que é ocupada pelos co-enunciadores EU-
VOCÊ.
A pessoa do enunciado será a responsável pela organização do tempo e do espaço
na enunciação, ou seja, é o que dará sentido a enunciação.

Fonte:radioloandafm.wordpress.com
O enunciado da charge acima representa a fala tipicamente das pessoas ao dirigir
e falar no celular ao mesmo tempo quanto estão no trânsito. O enunciador coincide com
o sujeito da oração representado pela forma eu, este define o tempo mais tarde para
praticar o ato de falar no celular, porque o agora representa ação do momento que é
dirigir e o espaço no trânsito .

4.2 Tempo

Segundo Benveniste há três tempos para situar um acontecimento: o tempo


cronológico, o tempo físico e o tempo linguístico. Observemos o gráfico abaixo para
entendermos está visão: Tempo cronológico ( tempo dos acontecimentos, o tempo do
calendário); tempo físico(movimento dos astros, que determina a existência de dias,
anos, etc.) e tempo linguístico(está ligado ao exercício da fala, pois ele tem seu centro no
presente da instância da fala).
Quando o falante toma a palavra, instaura um agora, momento da enunciação.
Em contraposição ao agora, cria-se um então. Esse agora é, pois, o fundamento das
oposições temporais da língua. O tempo presente indica a contemporaneidade entre o
evento narrado e o momento da narração.
O agora é reinventado a cada vez que o enunciador enuncia, é a cada ato de fala
um tempo novo vivido, ainda não vivido.
O agora gerado pelo ato de linguagem constitui um eixo que ordena a categoria
da concomitância versus não concomitância. A não concomitância, por sua vez, articula-
se em anterioridade versus posterioridade. Assim, todos os tempos estão intrinsecamente
relacionados à enunciação.
Nós temos três momentos de referência: presente, passado e o futuro. O presente
é um agora, pois coincide com o momento da enunciação. O momento do passado
indica uma anterioridade ao momento da enunciação; o futuro, uma posterioridade a esse
momento. Os momentos de referências passado e futuro precisam ser marcados no
enunciado ( Em 1988, No ano que vem, Na década passada, etc)
O tempo é, pois, a categoria lingüística que marca se um acontecimento é
concomitante, anterior ou posterior a cada um dos momentos de referência (presente,
passado e futuro), estabelecidos em função do momento da enunciação.
Utilizamos um exemplo retirado da internet do embreante “Agora é Hora!” para
representar a forma de tempo.

Fonte: http://elementocomunicacao.wordpress.com/2010/06/18/embreantes enunciativas/


A charge tem como o momento da referência o presente que é o mesmo da
enunciação representado por agora.

4.3 Espaço

A categoria espaço é uma das menos estudadas por não ser, obrigatoriamente,
constitutiva da ação, que não pode ocorrer sem temporalidade ou sem atores. Ainda
assim, ela é fundamental para referenciar as ações não apenas espacialmente, mas dentro
de um contexto social. Suas relações com o narrador seguem a mesma lógica referencial
da categoria tempo. Contudo, as relações que podemos apontar a partir dos marcos
espaciais propostos na enunciação são de interioridade versus exterioridade, fechamento
versus abertura e fixidez versus mobilidade. O aqui ou o não-aqui constitui o espaço da
língua. Essa referência, além de situar e descrever o aqui, o ambiente onde se
desenvolve a ação, contextualiza o não-aqui, as noções de distância e, o uso de
expressões como perto, longe, atrás, à direita, etc.

Fonte:polemicasecuriosidades.blogspot.com – charge 300708

O embreante aqui representa o espaço que pela a imagem imaginamos alguma


comunidade do Rio de Janeiro, o local que geralmente só é freqüentado pelos os
políticos na época de eleições.
5. Outros elementos do enunciado

É o contexto linguístico que nos permite aceder ao significado de uma palavra.


Mas existem outros aspectos do significado que não são determináveis apenas pela
composição das expressões ou frases, pois para além de compreender o significado das
palavras de um interlocutor tentamos também aceder à compreensão daquilo que ele nos
quer dizer e que constitui a função primeira do seu enunciado. Daí a distinção entre frase
(unidade estrutural do sistema de organização de uma língua, ligada estritamente ao
conhecimento linguístico) e enunciado (ostentando características de uma enunciação
individual espaço-temporalmente demarcada, pertence ao domínio da produção, sendo
uma unidade de discurso, e não uma unidade de sintaxe como a frase). A mesma frase
pode estar na origem de tantos enunciados quantas as situações em que é usada, e
sequências de uma ou mais frases podem constituir por si só um enunciado. Para Koch
(2008:21) não parece possível no momento apresentar uma definição única, precisa,
técnica de contexto e, talvez, tivéssemos de admitir que tal definição nem é mesmo
possível. O termo significa coisas bastante diferentes em paradigmas alternativos de
pesquisa e mesmo no interior de tradições particulares, pelo uso do contexto para
trabalhar com problemas analíticos específicos do que definição formal.
Se a enunciação depende da interação entre sujeitos em contextos espaços-
temporais precisos, os discursos também se materializam e se plasmam com marcas:
sujeitos; espaço e tempo, que viabilizam as práticas discursivas. Esses traços
constitutivos dos processos enunciativos, perceptíveis nos enunciados, são denominados
dêiticos, ou seja, os elementos que, dão o funcionamento semântico-referencial (seleção
da codificação para a interpretação na decodificação).
O contexto engloba todos os tipos de conhecimentos arquivados na memória dos
actantes(é quem realiza ou o que realiza o ato) sociais, que necessitam ser mobilizados por
ocasião do intercâmbio verbal: o conhecimento linguístico propriamente dito, o
conhecimento enciclopédico, quer declarativo, quer episódico (frames, scripts), o
conhecimento da situação comunicativa e de suas “regras” (situacionalidade), o
conhecimento superestrutural (tipos textuais), o conhecimento estilístico (registros,
variedades de língua e sua adequação às situações comunicativas) o conhecimento sobre
os variados gêneros adequados às diversas práticas sociais, bem como o conhecimento
de outros textos que permeiam nossa cultura (intertextualidade), de (Koch, 2009:24).
Fonte:www.humordomo.com.br

O texto extraído da internet acima é exemplo de que para ter sentido do humor da
charge, precisamos conhecer os fatos ocorridos na época, espaço citado Afeganistão (um
país que vim em guerra constante por motivos religiosos), quem é embreante pessoa eu
do enunciado( terrorista Osama Bin Laden), ou seja, contextualizá-lo, pois os leitores
serão sempre diferentes e épocas diferentes.
7. Enunciação no contexto escolar

O nosso interesse é ampliar as condições para o aluno perceber a construção dos


enunciados (ou atos de fala) em outro tipo de gênero a charge, bem como verificar as
condições de enunciação e as formações discursivas que envolvem tais enunciados.
Temos, pois, como objetivo de contribuir para os estudos do discurso que privilegiam a
linguagem como uma prática social. Para tal serão utilizados pressupostos teórico-
metodológicos da Teoria dos Atos de Fala, da Teoria da Enunciação e da Análise do
discurso.
Antes das análises de corpus, explicitemos nosso posicionamento em relação a
dois termos básicos desse estudo: enunciado e enunciação. Do termo enunciado, nós o
consideraremos, aqui, segundo a Teoria da Enunciação, como o produto da enunciação.
Quanto ao termo enunciação, ele tem sido definido, após Benveniste, como a colocação
em funcionamento da língua por um ato individual de utilização, mas outras perspectivas
da Análise do Discurso levam-nos a refletir mais sobre essa definição. Apesar de o ato
individual pelo qual o locutor utiliza a língua o introduzir em primeiro lugar como
parâmetro nas condições necessárias da enunciação, conforme diz BENVENISTE,
(1976:), acreditamos que a enunciação deve ser entendida também, de acordo com
Bakhtin, como um processo social o qual tem tudo a ver com o interdiscurso não sendo
apenas um processo individual ou intencional, mas também histórico e social. Assim
sendo, apresentaremos um conjunto de charges para exemplificação do estudo de
enunciados e embreantes para o contexto escolar.
O enunciador é marcado pelo o embreante de pessoal eu, representa a fala de um
brasileiro comum diante o planalto, enquanto eles não estejam explícitos no texto
entende-se que seja o senado(políticos), devido a imagem apresentada. Podemos
exemplificar para o alunado a importância do uso dos embreantes de pessoa para saber
quem estão presente no enunciado. A caricatura da charge facilitará o aluno prestar
atenção da fala do personagem e ajudá-lo a desenvolver a capacidade de interpretação e
de conhecimento de mundo.
Fonte: http://www.cartolafc.com.br/

Temos na próxima charge exemplos dos embreantes de pessoa eu. O aluno


perceberá embreante eu e minha estão no campo da subjetividade, excitará a refletir
sobre a visão de alguns políticos e até mesmo alguns eleitores na época de eleição.
Fonte: blogdadantop.blogspot.com

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