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Introdução
A proposta deste trabalho é a análise do discurso que têm como foco fenômeno
da enunciação, e o uso dos embreantes de pessoa, espaço e tempo, os quais são
condições para a enunciação (é o ato de produção do discurso), que interferem na
criação do sentido do enunciado produto da enunciação. Esse mesmo sentido seria
decifrado por um receptor que dispõe do mesmo código, a mesma língua. O sentido
estaria de alguma forma inscrito no enunciado, e sua compreensão dependeria
essencialmente de um conhecimento do léxico e da gramática da língua; o contexto
desempenharia um papel periférico, fornecendo dados que permitem desfazer as
eventuais ambigüidades dos enunciados e para que haja interação social como nos
mostra Bakhtin (Estética da criação verbal 1995, p.127), dá-se por meio de processos de
enunciação (dados em interações verbais), que por sua vez são estruturas de mecanismos
puramente sociais. É comum ouvir de docente que o aluno sabe fazer uma enunciação e
não compreende um enunciado, pois falta coesão e nem coerência textual, ou seja, não
existe interação aluno/texto. Enquanto alguns alunos justificam-se dizendo que muitas
vezes o texto é “chato”, a linguagem é difícil de ser compreendida, estes fatos criam
lacunas a serem preenchidas (para compreender o que é solicitado e o que fazer diante
de um enunciado). E entre o que o professor descreve sobre o aluno e este que pensa
sobre o texto há a escola com a fundação teórica explicita pressa a um determinado tipo
de gênero, que geralmente são escolhidos pelos os livros de didáticos para trabalhar a
significação enunciação e enunciado, enquanto poderia utilizar as diversidades de
gêneros que fazem parte da realidade do estudante tais como notícia, editorias de
esporte, propaganda, contos, uma crônica de jornal, com o objetivo de entrelaçar e
envolver o aluno e o texto.
Então, por que não trabalhar o gênero charge para entender a enunciação e seus
embreantes? Apresentaremos a possibilidade de trabalhar os embreantes enunciativos
através deste gênero na sala de aula com a finalidade que o aluno perceba as condições
para a construção de enunciados (ou atos de fala), bem como verificar as condições de
enunciação, os efeitos e as formações discursivas que envolvem tais enunciados, pois
compreendemos a visão de Bakhtin que na conversa mais desenvolta, moldamos nossa
fala às formas precisas de gêneros, às vezes padronizados e estereotipados, às vezes mais
maleáveis, mais práticos e mais criativos. Sendo a charge um gênero de estrutura curta,
constituída em balões, para representar a “fala” de personagem, destaca-se que nessa
composição o imbricamento(posições diferentes do sujeito) entre verbal e não verbal
poderá facilitar a comunicação aluno/texto.
No corpus são charges retiradas da internet aleatoriamente, pois tratam de temas
atuais da sociedade e os alunos utilizam esta ferramenta frequentemente.
2. Fundamentação teórica
O ato enunciativo(que se pode agir por meio da linguagem não é uma ideia nova)
será o suporte para análise de nosso corpus, compreendemos, de antemão, a concepção
de que as condições de produção desse enunciado fazem parte da sua significação. A
área de ensino de língua materna tem passado por mudanças pragmáticas acentuadas, e,
atualmente, encontra-se confusa com relação à sua função na práxis educativa. “A
pragmática tem sido considerada de modo mais amplo, muitas vezes incluindo a
enunciação, a argumentação e o discurso” (Orlandi, 2002:91).
Segundo Maingueneau (2008:58), do ponto de vista sintático, alguns linguistas
opõem enunciado à frase. O enunciado é definido como a unidade de comunicação
elementar, uma seqüência verbal investida de sentido e sintaticamente completa; a frase,
como um tipo de enunciado, é aquela que se organiza em torno do verbo: “Leandro está
doente”, “Oh!”, “Que mulher!” seriam, todos enunciados, embora apenas o primeiro
poderia ser considerado uma frase.
Do ponto de vista da Pragmática, a frase é uma estrutura tomada fora do uso que
corresponde a uma infinidade de enunciados em contexto: chama-se frequentemente
uma sucessão de palavras organizadas conforme a sintaxe. Já o enunciado é uma
realização de uma frase em uma determinada situação. Nota-se, assim, que diferentes
enunciados de uma frase têm, em geral, sentidos completamente diferentes. O enunciado
tornar-se um equivalente de frase-ocorrência. Nesse caso, associa-se frequentemente a
significação à frase e o sentido ao enunciado. A fonte do sentido é a formação discursiva
a que o enunciado pertence.
Benveniste diz que a frase não representa simplesmente um degrau a mais na
extensão do segmento considerado. Com a frase transpomos um limite, entramos num
novo domínio. Esse novo é o critério que determina esse tipo de enunciado.
A base da teoria austiniana está na descoberta da existência de um tipo particular
de enunciados, os enunciados performativos, que têm a propriedade de poder e, em
certas condições, realizar o ato que eles denotam, isto é, "fazer” qualquer coisa pelo
simples fato do “dizer”: enunciar “Eu te prometo que venho”, é, ipaso facto, realizar um
ato, de prometer.(Charaudeau 2008:72)
A enunciação é o ato de produção do discurso, é uma instância pressuposta pelo
enunciado (produto da enunciação). Ao realizar-se, a enunciação deixa marcas no
discurso (pronomes pessoais e possessivos, adjetivos e advérbios apreciativos, dêiticos
temporais e espaciais, verbos performativos). O ato de enunciação é fundamentalmente
assimétrico: a pessoa que interpreta o enunciado reconstrói seu sentido a partir de
indicações presentes no enunciado produzido, mas nada garante que o que ela reconstrói
coincida com as representações do enunciador.
A teoria dos atos de fala indica outros aspectos de análise, como os cinco modos
pelos quais um enunciado pode relacionar-se com o mundo: o ponto ilocucional
assertivo (indicação de um estado de coisas como real), o comissivo (comprometimento
do falante em exercer uma ação futura), o diretivo (tentativa em levar o ouvinte a
executar alguma coisa), o declarativo (promoção de mudanças no mundo em
conseqüência da enunciação) e o expressivo (expressão de sentimentos e atitudes do
falante a propósito de um estado de coisas). (Vanderveken 1985: 175)
O enunciado é compreendido como elemento da comunicação em relação
indissociável com a vida. Neste sentido, o enunciado concreto é um evento social e não
pode ser reduzido a abstrações. A enunciação concreta é a realização exterior da
atividade mental orientada por uma orientação social mais ampla, uma mais imediata e,
também, a interação com interlocutores concretos.
Na escola, é comum ouvir que os alunos não leem, não interpretam e não
possuem mínimas habilidades de leitura e escrita. Há uma distância entre a língua que os
alunos falam e a língua ensinada pela escola e, além disso, as propostas de escrita
apresentadas, ora pelo professor ora pelos livros didáticos, são descontextualizadas e
vazias de significado para os estudantes, pois ainda se constroem textos a partir das
conhecidas tipologias textuais: descrição, narração e dissertação, não se levando em
consideração outros aspectos importantes na produção de textos escritos, como, por
exemplo: o conhecimento fora do contexto escolar, a criatividade... . Ou, quando não, os
enunciados que ocorrem fora de qualquer contexto: os exemplos de gramática são
categóricos. Esses enunciados se interpretam sem contexto para ilustrar um ou vários
fenômenos da língua, como por exemplo: se um verbo é transitivo ou copulativo, ou se
há concordância entre o artigo e o substantivo. Parece haver uma indefinição com
relação aos conteúdos que devem ser priorizados na disciplina de língua portuguesa
(LP), e a pedra no sapato do professor acaba sendo a produção textual.
O professor para trabalhar a produção textual utiliza o texto literário como
exemplo de perfeição de texto; temos consciência de que o texto literário deve ser
considerado como o texto por excelência, em função das potencialidades criativas da
linguagem que se inscrevem neste tipo de texto. No entanto, alguns professores não o
abordam outros tipos de gêneros textuais que podem aproximar do mundo do alunado.
As diversidades de textos geralmente são instrumentos para práticas pedagógicas se
inscrevem em um quadro em que o aluno deve ser guiado e não incitado, a avaliação
deve ser centrada na correção gramatical, e o texto é avaliado tão somente enquanto
produto e não processo. Tais práticas estão ainda muito enraizadas na disciplina de LP,
quando a produção de sentidos, nas práticas de linguagem, deveria ser concebida como a
unidade básica do ensino em detrimento ao plano gramatical. Koch cita que o contato
com os textos da vida cotidiano exercita a nossa capacidade metatextual para construção
e intelecção de textos com base no que escreve Bakhtin:
Todas as esferas da atividade humana, por mais variada que sejam, estão relacionadas
com a utilização da língua. (...) O enunciado reflete as condições específicas e as
finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo temático e por seu estilo
verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais,
fraseológicos e gramaticais – mas também, e sobretudo, por sua construção
composicional.
Se o esse texto for lido mais tarde, o enunciado não será mais válido: o presente
estará, com efeito, referindo-se a outro momento. A referência temporal opera-se
com ajuda do embreante (de manhã), que toma como ponto de referência o dia da
publicação.
(...)Algumas unidades linguísticas podem ser utilizadas tanto para a referência
enunciativa quanto para a referência contextual. Observemos o exemplo:
Pierre conseguiu; esse menino me surpreende. (referência = contexto).
Você viu esse menino? (referência = a situação de enunciação).
A referência pela enunciação de pessoa, tempo e espaço dará suporte para
interpretar a situação de enunciação.
4 A embreagem e os embreantes
4.1 Pessoa
Quando nos referimos à pessoa da enunciação perceberemos que cada qual tem o
seu próprio estatuto. Haverá traços comuns na primeira e na segunda pessoa, que
diferenciará da terceira pessoa. Pois as duas 1ª e 2ª pessoas são participantes da
comunicação, enquanto a 3ª designa qualquer ser ou não ser nenhum. A terceira pessoa
não implica nenhuma pessoa, pode representar qualquer sujeito ou nenhum a esse
sujeito, expresso ou não, não é jamais instaurado como participante da situação de
enunciação. Diante das pessoas que participam e não participam da enunciação
Benveniste apresenta duas correlações: 1) a da pessoalidade, em que se opõem
pessoa(eu/tu) e não pessoa (ele), ou seja participantes da enunciação e elementos do
enunciados; 2) subjetividade e a segunda é pessoa não subjetiva.
Eu e tu são protagonistas da enunciação, contudo, diferenciam-se pela marca da
subjetividade, ou melhor, o eu é pessoa subjetiva e tu é não-subjetiva.
A marca do enunciador se encontra nas unidades eu, me. Se esse enunciador,
suporte do ato de enunciação, coincide com o sujeito da frase, ele é representado sob a
forma eu; se coincide com objeto direto, sob a forma me; após preposição, aparece com
mim etc. Portanto, o eu não é enunciador, mas apenas seu vestígio. Da mesma maneira,
“você” não é o co-enunciador, mas sim um vestígio desse co-enunciador, quando
coincide com o sujeito da frase. (Maingueneau:106)
ENUNCIADOR CO-NUNCIADOR
eu – sujeito você
me – objeto direto
Fonte:radioloandafm.wordpress.com
O enunciado da charge acima representa a fala tipicamente das pessoas ao dirigir
e falar no celular ao mesmo tempo quanto estão no trânsito. O enunciador coincide com
o sujeito da oração representado pela forma eu, este define o tempo mais tarde para
praticar o ato de falar no celular, porque o agora representa ação do momento que é
dirigir e o espaço no trânsito .
4.2 Tempo
4.3 Espaço
A categoria espaço é uma das menos estudadas por não ser, obrigatoriamente,
constitutiva da ação, que não pode ocorrer sem temporalidade ou sem atores. Ainda
assim, ela é fundamental para referenciar as ações não apenas espacialmente, mas dentro
de um contexto social. Suas relações com o narrador seguem a mesma lógica referencial
da categoria tempo. Contudo, as relações que podemos apontar a partir dos marcos
espaciais propostos na enunciação são de interioridade versus exterioridade, fechamento
versus abertura e fixidez versus mobilidade. O aqui ou o não-aqui constitui o espaço da
língua. Essa referência, além de situar e descrever o aqui, o ambiente onde se
desenvolve a ação, contextualiza o não-aqui, as noções de distância e, o uso de
expressões como perto, longe, atrás, à direita, etc.
O texto extraído da internet acima é exemplo de que para ter sentido do humor da
charge, precisamos conhecer os fatos ocorridos na época, espaço citado Afeganistão (um
país que vim em guerra constante por motivos religiosos), quem é embreante pessoa eu
do enunciado( terrorista Osama Bin Laden), ou seja, contextualizá-lo, pois os leitores
serão sempre diferentes e épocas diferentes.
7. Enunciação no contexto escolar