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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE – UNICENTRO

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – SEHLA.


DEPARTAMENTO DE LETRAS – DELET
LETRAS PORTUGUÊS E LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – TCC

NORMA CULTA OU NORMA-PADRÃO? EIS A QUESTÃO:


UMA METAPESQUISA SOBRE OS TERMOS EM ARTIGOS DE LINGUÍSTICA
ALOCADOS NA SCIELO

Jeferson Ueliton da Silva1


Roziane Keila Grando (orientadora)2
Linha de pesquisa: Língua Portuguesa e Ensino
Resumo: O presente estudo tem como objetivo tecer algumas considerações a respeito do uso e da
aplicação dos termos Norma Culta e Norma-padrão em artigos publicados no campo da linguística,
observando se os termos também influenciam o ensino de língua materna. Para isso tomou-se como
base os estudos feitos por pesquisadores tais como: Carlos Alberto Faraco e Marcos
Bagno. Entendendo-se por norma culta a língua de uma determinada cultura, de um povo, em que
cada comunidade de fala possui sua própria norma e norma-padrão, como um o conjunto de
preceitos normativos preestabelecidos, que visa estabelecer uma padronização da língua, sendo ela
necessária em algumas situações, tais como Vestibulares e o ENEM, por exemplo. Trata-se de uma
metapesquisa, de caráter qualitativo, pautada na análise desses dois termos em artigos coletados na
plataforma Scielo. Faz-se um recorte temporal, buscando os artigos publicados nos últimos quatro
anos, a fim de verificar a presença e aplicação dos termos “Norma Culta” e “Norma-Padrão” nesses
artigos da área de linguística. Os resultados mostram que o termo norma culta, na maioria dos
artigos, é utilizado com o sentido não real, isto é, utilizado no sentido de preceito normativo, enquanto
o termo norma-padrão, em todos os artigos em que aparece, possui o sentido de normatização da
língua, que visa uniformizá-la. Portanto, norma-culta vem sendo utilizada pelos autores, da mesma
forma como a população em geral a utiliza (no lugar de norma-padrão). Assim sendo, é possível dizer
que esses dois termos ainda carecem de discussão, debate e pesquisa na área.

Palavras-chave: Norma Culta; Norma-Padrão; Linguística; Metapesquisa.

Introdução

No presente estudo buscaremos tecer algumas considerações a respeito da


utilização dos termos “Norma Culta” e “Norma-Padrão”, pois apesar de muitas
pessoas utilizarem estes termos como sinônimo um do outro, eles carregam sentido
bem diferentes entre si.

1
Graduando do curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa, coordenado pelo
Núcleo de Ensino a Distância (NEAD), Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO.
jefersonueliton@hotmail.com
2
Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2019).
Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2011). Graduação em
Letras Português e literaturas de Língua Portuguesa (UNICENTRO). Atualmente, é professora
substituta do Curso de Letras Português e Literatura Portuguesa da Universidade Estadual do Centro-
Oeste (Unicentro). Tem experiência na área de linguística, com ênfase em linguística aplicada,
atuando nos seguintes temas: formação de professores, novos e multiletramentos, TIC e Educação a
distância. E-mail: rgrando@unicentro.br
Este tema tem se tornado muito recorrente nas análises e estudos de
diversos linguistas, que tentam desatrelar e, ao mesmo tempo, mostrar as diferenças
existentes entre o uso e a aplicação desses termos.
É preciso pontuar que a língua não pode nunca ser caracterizada como algo
homogêneo, pois não é. A heterogeneidade da língua explica as diversas variedades
linguísticas existentes, a língua é parte integrante do sujeito, é por meio dela que ele
estabelece seu lugar dentro do grupo, sem língua não existe indivíduo capaz de
manter suas relações, é por meio dela que seu lugar no mundo é definido.
Além de buscar a definição de cada um dos termos já apresentados,
propomo-nos também a analisar sua aplicação em resumos de artigos da área de
linguística disponíveis na biblioteca da Scielo, observando se os termos também
influenciam no ensino de língua materna.
Brevemente, tratamos neste estudo sobre a questão do ensino de língua
portuguesa e a variação linguística, partindo do pressuposto de que cada indivíduo
possui relação direta com a língua que fala, e que embora no Brasil a língua
portuguesa seja nossa língua oficial, existe dentro dela inúmeras variedades que
precisam ser pensadas e levadas em consideração pelo professor na hora de se
ensinar a “norma-padrão”.
Num primeiro momento apresentamos a definição e os conceitos dados aos
termos “Norma Culta” e “Norma-Padrão”, pautando-se em estudiosos e
pesquisadores tais como: Carlos Alberto Faraco, Marcos Bagno, entre outros, além
da apresentação desses conceitos, destinamos uma seção para tratar do ensino de
língua portuguesa e a variação linguística. Em seguida partimos para a
apresentação dos dados coletados durante a busca pelos termos “Norma Culta,
“Norma-Padrão” e “Variação Linguística”.
Os dados coletados foram tabelados de acordo com a presença dos termos
tanto em separado quanto juntos, essa separação foi feita no intuito de facilitar a
percepção da análise. Na tabela encontram-se o código do artigo, o ano de
publicação, o título e o link do mesmo.

2
Norma culta x norma-padrão

A língua enquanto parte integral do sujeito, possui um papel social, e sua


atividade corresponde, segundo Castilho (2000) a:

um conjunto de usos concretos, historicamente situados, que envolvem


sempre um locutor e o interlocutor, localizados no espaço particular,
interagindo a propósito de um tópico conversacional previamente
negociado. [..] é um fenômeno funcionalmente heterogêneo representável
por meio de regras variáveis socialmente motivadas. (CASTILHO, 2000, p.
12)

Essa língua é parte constitutiva desse sujeito, sendo ela uma fração daquilo
que o indivíduo é, ou seja, intrínseca a sua identidade. A língua é, em seu uso, a
manifestação política e cultural de um povo. Ela, no entanto, apresenta diversas
particularidades, uma delas é a que nos dispomos a estudar, a utilização dos termos
“Norma Culta” e “Norma-Padrão”.

O termo norma

Muito se tem discutido nas últimas décadas sobre esses dois conceitos, que
são ao mesmo tempo tão próximos e ainda assim tão distantes um do outro. Esses
termos vêm sendo objeto de estudo de diversos linguistas que se propõem a
desatrelar um enquanto sinônimo ao outro.
De início, faz-se necessário conceituar o termo “norma”, de acordo com
Bagno, é possível encontrar nesse mesmo termo “dois conceitos diferentes, o
sentido de normal e o de normativo: o primeiro diz respeito a língua em seu uso
corrente, ou seja, a utilização que o sujeito faz da língua no seu dia a dia, já o
segundo termo diz respeito a um preceito preestabelecido. (BAGNO, 2003)
Neste sentido, apresentamos uma tabela, adaptada de Bagno (2003),
relacionada à obra “Norma Oculta: Língua e poder na sociedade brasileira”. Importa
destacar que nesse livro, o autor expõe claramente o termo norma, tanto no sentido
de normal quanto o relativo a normativo (BAGNO, 2003, p. 41).

3
Figura (1): Conceito de norma segundo Marcos Bagno (2003, p. 41)

Para Bagno (2003) o sentido de norma apresentado pela segunda coluna é


mais difundido na sociedade, evidenciando assim que o sentido da palavra norma
enquanto algo normal/real, frequente e de uso corrente fica esquecido, para tanto
sugerem-se então novas nomenclaturas, a fim de desvencilhar a norma desse
sentido normativo (de preceito linguístico).
De acordo com Faraco (2008, p. 31), “o conceito de norma, nos estudos
linguísticos, surgiu da necessidade de estipular um nível teórico capaz de captar,
pelo menos em parte, a heterogeneidade constitutiva da língua”.
Faraco, ao tratar do assunto, ainda acrescenta que não existe apenas uma
norma, tratando-se de um fenômeno plural e não singular, “a língua é um conjunto
de inúmeras variedades reconhecidas histórica, política e culturalmente como
manifestações de uma mesma língua por seus falantes” (FARACO, 2008, p. 32).
Faraco, ainda conceitua norma como:

[...] determinado conjunto de fenômenos linguísticos (fonológicos,


morfológicos, sintáticos e lexicais) que são correntes, costumeiros e
habituais numa dada comunidade de fala. Norma neste sentido se identifica
com normalidade, ou seja, com o que é corriqueiro, usual, habitual,
recorrente (“normal”) numa certa comunidade de fala. (FARACO, 2008, p.
35)

4
Nos estudos linguísticos, a designação norma é usada para definir um
conjunto de fenômenos linguísticos que são correntes, habituais, normais, em uma
determinada comunidade de fala, entretanto, no funcionamento monitorado da
língua, “a palavra norma é usada com o sentido de preceito, isto é, designa aquilo
que tem caráter normativo, que serve, no interior de um projeto político
uniformizador, para regular explicitamente os comportamentos dos falantes em
determinadas situações”. (FARACO, 2008, p. 74)
Como a amplificação da ideia de que diferenças linguísticas derivam de
diferenças sociais, há de se esperar que ocorra alguma forma de padronização.
Certas normas de comportamento social podem ser fixadas como mais apropriadas
em uma determinada comunidade cultural e o mesmo pode aplicar-se a normas de
comportamento linguístico. O que é necessário entender disso tudo, é que não
existe apenas uma norma e sim várias normas, deste modo cada comunidade de
fala possui sua própria norma linguística, como mostra Labov (1972):

A comunidade de fala não se define por nenhum acordo marcado quanto ao


uso dos elementos da língua, mas sobretudo pela participação num
conjunto de normas compartilhadas, tais normas podem ser observadas em
tipos de comportamento avaliativo explicito e pela uniformidade de padrões
abstratos de variação que são invariantes em relação a níveis particulares
de uso. (LABOV, 1972, p. 120-121)

Como parte constituinte da língua utilizada por sujeitos historicamente


situados, a norma culta não é homogênea, mas também está sujeita a variações e
mudanças.

Norma culta

Segundo Bagno (2003, p. 42) “a palavra norma quase que sempre é seguida
por outra palavrinha, algum termo que tenta qualificá-la ou defini-la, sendo culta o
adjetivo mais comum”, ainda segundo ele, “a expressão norma culta é a que circula
livremente na sociedade, por meio dos jornais, internet, etc.”. Neste sentido seria
então fácil dizer que a norma culta é a maneira certa de se falar e escrever, não é?
Pois, bem. Até seria, se não houvesse no entorno desta expressão a mesma
ambiguidade existente ao termo norma.

5
Entendendo as palavras de Faraco (2008), Lucchesi (2012), a expressão
norma culta é usada para firmar o conjunto de variedades que constituem a
linguagem usada por sujeitos com amplo acesso a bens economicamente
favorecidos e com alto grau de escolaridade, isto é, com ensino superior completo.
Por tratar-se das variedades que, de fato, marcam a linguagem real dos referidos
sujeitos, a norma culta não deve ser confundida com a chamada norma-padrão.
Afinal, ao contrário da primeira, esta segunda expressão é usada para designar
aquilo que se denomina de norma normativa.
De acordo com Bagno (2003, p. 42), “estaria este termo ‘norma culta’, ligado
ao normal, ao corriqueiro, frequente e habitual, ou este termo refere-se ao aquilo que
deveria ser, o normativo, tido como regra”. O que seria então essa norma culta? E a
norma-padrão? Como definir cada um desses termos? As perguntas apresentadas
acima são até simples de se explicar e, para isso, apropriamo-nos das definições
apresentadas por Marcos Bagno, (2003) e Carlos Alberto Faraco (2008).
Para Bagno (2003), o termo norma-padrão tem sido utilizado por diversos
linguistas para designar um modelo de língua tida como “certa”, ainda de acordo
com o autor esta definição de língua não representaria nenhuma atividade linguística
regular, cabendo em sua definição a de “lei”, “uma regra imposta de cima para
baixo” (BAGNO, 2003, p. 63)
Dizer que há uma padronização da língua é, na visão do autor, “impor um
modelo arbitrário e artificial, forjados sob a ótica de uma única classe social, isolada
a um período e um determinado local” (BAGNO, 2003, p. 65).
Na visão de Faraco:

O qualificativo “culta”, tomado em sentido absoluto, pode sugerir que esta


norma se opõe as normas “incultas”, que seriam faladas por grupos
desprovidos de cultura. Tal perspectiva está, muitas vezes, presente no
universo conceitual e axiológico dos falantes da norma culta, como fica
evidenciado pelos julgamentos que costumam fazer dos falantes de outras
normas, dizendo que estes “não sabem falar”, “falam mal”, “falam errado”,
“são incultos”, “são ignorantes” etc. (FARACO, 2008, p. 54)

Entretanto, o autor acrescenta que não existe povo sem cultura, logo, existe a
necessidade de se trabalhar afinando este conceito apresentado acima para o
sentido de culta, ele aponta que é preciso estabelecer um limite e que o termo culta,
reflete sobre aquilo que é cultural, mais da cultura escrita propriamente dita. Deste
modo, “a expressão norma culta deve ser entendida como designando a norma
6
linguística praticada em determinadas situações, por aqueles grupos sociais que
estão mais relacionados com a cultura escrita”. (FARACO, 2008, p. 54)
Referindo-se à norma culta, sabemos que essa expressão é usada em grande
escala em diversas perspectivas das ciências da linguagem para referir-se ao
conjunto de variedades ou traços linguísticos que, de fato, tendem a ser usados por
sujeitos situados em esferas sociais mais abastadas economicamente e que, assim,
possuem maior e até mesmo amplo acesso a bens culturais favorecidos
economicamente e residentes em grandes centros urbanos. (FARACO, 2008)
A norma culta não pode ser considerada como modelo a ser seguido por
todos, pois ela indica e denomina a cultura letrada, mas como já visto e mencionado,
não existe grupo social sem organização linguística.

Norma-padrão

A norma-padrão é uma codificação abstrata, ou seja, serve como baliza tirada


do uso real da língua para ser utilizada como base, como referência (FARACO,
2008, p. 73).
A norma-padrão na visão de Bagno:
[...] exerce uma influência simbólica muito forte no imaginário de todos os
brasileiros, mas é uma influência que vai diminuindo progressivamente,
quanto mais a gente se afasta das camadas sociais privilegiadas. A norma-
padrão está intimamente ligada à escola, ao ensino formal, e como no Brasil
o acesso à educação é mais um elemento que contribui para a nossa triste
posição de campeões da desigualdade social, é fácil imaginar que a norma-
padrão tradicional tem poder de influência praticamente nulo sobre os
falantes das variedades mais estigmatizadas. (BAGNO, 2003, p. 69)

A norma-padrão, de acordo com Faraco (2002, p. 40), está rodeada de


preconceito em relação às outras variedades e relacionada à padronização da
língua, tendo o que é diferente como incorreto. Dessa forma, iniciou-se na Grécia
Antiga a elaboração da gramática tradicional. Segundo Bagno (2003), o
estabelecimento da norma-padrão foi operado diante de dois erros: o primeiro, a
supervalorização da escrita em detrimento da fala, e segundo, encarar as mudanças
linguísticas como ruína e corrupção da língua ao invés de simples mudanças. A
intenção da padronização era preservar a língua das mudanças pelas quais o grego,

7
e até o latim mais tarde, estava passando com o decorrer do tempo e dos lugares
em que era falada.
Em nosso país não foi diferente. Estabelecer a norma-padrão também tinha a
intenção de “neutralizar a variação e controlar a mudança” (FARACO, 2002, p. 40),
assim com a necessidade por parte de alguns integrantes letrados da burguesia,
surgiu no séc. XIX a norma-padrão brasileira, visto a intenção de torná-la singular e
homogênea, sem mudanças e variações, traçando um caminho totalmente ao
contrário do esperado.
Ao invés de experimentar a língua assim como era empregada pelos falantes
como padrão, determinou-se que a norma partiria da língua que era usada em textos
de escritores portugueses, sendo esse o idioma considerado apropriado e
verdadeiro para o uso dos brasileiros. Durante esse processo, além da tentativa de
atravancar a mudança da língua, surge mais um erro, considerando a norma
brasileira como a escrita de Portugal. Assim, a burguesia letrada brasileira poderia
se sentir mais perto da realidade europeia em uma tentativa de se nivelar a Portugal.

Essa visão influenciou o ensino de língua portuguesa, que desconsiderava as


diferentes variedades linguísticas que podem ser encontradas na imensidão do
território brasileiro, o que torna a língua portuguesa única, já que do ponto de vista
léxico, da pronúncia e dos sentidos construídos por meio das construções sintáticas,
para além do ponto de vista estritamente linguístico, a língua torna-se parte
integrante da identidade do indivíduo, fazendo com que as variedades linguísticas se
multipliquem pelos turnos da fala, de uma região ou até mesmo dentro de uma
mesma comunidade.

Já foram realizados diversos estudos sobre as variedades linguísticas


existentes no Brasil, neste aspecto diversos pesquisadores concordam e afirmam a
existência de pelo menos seis dimensões de variações linguísticas, sendo elas: a
territorial, a social, a de idade, a de sexo, a de geração e a de função. (TRAVAGLIA,
2000, p. 76)
A língua portuguesa se apresenta de diversas formas no seu uso aplicado
pelos falantes leitores, escritores e ouvintes e essas múltiplas variedades não
podem ser desconsideradas pelo professor, seja qual for o nível ou modalidade em
que ele atue.

8
De acordo com Antunes (2003), é preciso relevar “a perspectiva reducionista
do estudo da palavra e da frase descontextualizadas”, é preciso contextualizar
relacionando as palavras e seus usos com o cotidiano dos alunos (ANTUNES, 2003,
p.19).
Grande parte da origem do pensamento reducionista da língua às normas
gramaticais, encontra-se naquele velho jeito de se ensinar o português, valendo-se
sempre da gramática normativa e descontextualizada, que não ajuda os estudantes
a compreenderem o fato de que a língua portuguesa, em sua estrutura formal,
apresenta variedades linguísticas que devem ser aprendidas e colocadas em
práticas, mas isso tudo deve partir da contextualização, é preciso ensinar a partir do
cotidiano dos estudantes, daquilo que ele traz para a sala de aula. Acreditamos que
não se pode mais “empurrar” a gramática de forma impositiva, pois com isso, o efeito
é de que os alunos não gostam de estudar português.
É preciso que a escola seja o local onde o educando se prepare e se torne
capaz de ampliar suas percepções sobre a língua, nesse sentido Possenti (1996)
nos apresenta que “o objetivo da escola é, criar meios para que o português padrão
seja aprendido”. (POSSENTI, 1996, p. 17)
Entretanto é preciso que haja um preparo muito grande para se tratar de tal
assunto, haja vista que, o ensino do português padrão pode acabar por fechar, ao
invés de abrir portas. Para que seu real ensino aconteça, o professor precisa partir
da realidade em que seus alunos estão inseridos, para ai sim demonstrar que existe
uma variedade dita de “prestígio” e que em muitos locais essa variedade se
sobressai sobre as outras, sendo importante e necessário que ele a domine.
Para que haja uma mudança de postura, acreditamos que é preciso que o
professor de língua portuguesa mostre ao aluno que não existe alguma classificação
entre boa ou ruim, pois todos os sistemas linguísticos são constituídos com eficácia.
Isso é o que está preconizado nas diretrizes curriculares estaduais do ensino de
língua portuguesa do Estado do Paraná:

A sociolinguística não classifica as diferentes variações linguísticas como


boas ou ruins como melhores ou piores primitivas ou elaboradas pois
constituem sistemas linguísticos eficazes falares que atendem a diferentes
propósitos comunicativos dadas as práticas sociais e os hábitos culturais
das comunidades e seus falantes. (PARANÁ, 2008, p. 56)

Assim sendo, faz-se extremamente necessário que o ensino de língua


portuguesa seja pautado na contextualização, a fim de aproximar o falante da língua
9
a que ele faz uso constante, e não ao contrário, abrindo cada vez mais o
distanciamento já existente. O papel do professor de língua portuguesa é importante
e necessário neste cenário.

Percurso metodológico

Na presente pesquisa pautamo-nos na coleta de dados oriundos das análises


feitas em resumos da área de linguística, de artigos alocados na biblioteca eletrônica
Scielo. Para tanto resolvemos fazer um recorte temporal, focando nos
artigos/resumos publicados entre os anos de 2016/2020.
Optamos por chamar este estudo de metapesquisa, já que ela “pode ser
conceituada como pesquisa sobre pesquisas ou, ainda, pesquisa que busca explicar
o processo de pesquisa sobre um tema ou de uma área ou campo especifico”.
(MAINARDES, 2018, p. 305)
Ainda de acordo com Mainardes (2018), a metapesquisa “pode ser utilizada
para identificar características, tendências, fragilidades e obstáculos no
desenvolvimento de um campo ou temática de pesquisa. (MAINARDES, 2018, p.
306)
Inicialmente pensamos em analisar apenas os resumos que fossem oriundos
da pesquisa dos termos “norma culta e norma-padrão”, entretanto como os
resultados obtidos foram poucos (apenas cinco), optamos em realizar uma nova
pesquisa com o termo “variedade linguística” para verificar a presença dos termos
estudados em artigos dessa temática.
Como resultado da pesquisa pelo termo variedade linguística, obtivemos a
princípio 20 (vinte) resultados de artigos que tratavam do tema, entretanto, ao se
analisar a presença dos termos “Norma Culta e Norma-Padrão”, este número foi
reduzido, restando apenas 7 (sete) artigos que continham os termos
supramencionados em seu texto, destes, 3 apresentavam o termo Norma-Padrão,
em outros 2 o termo Norma Culta e mais 2 (dois) apresentaram os dois termos.
Os dados foram coletados e tabelados sendo que os mesmos foram
separados à medida que apresentavam separadamente os termos Norma Culta e
Norma-Padrão, bem como aqueles que apresentavam os dois termos juntos.

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Como resultado da busca no repositório Scielo, foram coletados ao final do
processo um total de onze artigos/resumos que, em sua redação, apresentavam os
termos a que nos dispomos a analisar, tal resultado evidencia que o assunto
abordado tem provocado pouca discussão no campo dos estudos linguísticos (diante
do recorte que fizemos), principalmente no que diz respeito à produção de
conhecimento acerca do tema. Vale destacar que dos onze arquivos encontrados,
seis não apresentavam em seus resumos os termos estudados, entretanto, ao se ler
o trabalho percebemos que os termos se encontravam distribuídos no corpo do
artigo, e para fins de aprofundamento, também foram captados por esta pesquisa.
Podemos observar na tabela abaixo uma sistematização dos resumos
encontrados, os quais trazem em sua redação os termos objetos desta pesquisa.
Catalogamos os artigos com um código a fim de auxiliar a nossa busca e
apresentação dos dados. Utilizamos as siglas NC para designar o termo Norma
Culta, NP para Norma-Padrão, sendo, portanto, NC e NP, respectivamente, Norma
Culta e Norma-Padrão.

Tabela 1: Dados coletados


Código Ano Título Link

1#NC 2016 Uso, crença e atitudes na variação na https://www.scielo.br/scielo.php?script


primeira pessoa do plural no Português =sci_arttext&pid=S0102-
Brasileiro 44502016000400889&lang=pt

2#NP 2016 Traduzir para ensinar a variação https://www.scielo.br/scielo.php?script


linguística nas formas de tratamento da =sci_arttext&pid=S2175-
língua 79682016000200066&lang=pt

3#NC e 2016 Normativismo linguístico em redes https://www.scielo.br/scielo.php?script


NP sociais digitais: uma análise da fanpage =sci_arttext&pid=S0103-
língua portuguesa no facebook 18132016000300731&lang=pt

4#NC 2017 Adults writing profile at the beginning of https://www.scielo.br/scielo.php?script


their reading and writing acquisition =sci_arttext&pid=S1516-
18462017000500620&lang=pt

5#NP 2017 Discursos dominantes de letramento em https://www.scielo.br/scielo.php?script


questões de vestibular =sci_arttext&pid=S1518-
76322017000300449&lang=pt

6#NP 2018 Concordância nominal variável de https://www.scielo.br/scielo.php?script


número e saliência fônica: um estudo =sci_arttext&pid=S0102-
experimental 44502018000200513&lang=pt

7#NC 2019 O emprego do modo subjuntivo nas https://www.scielo.br/scielo.php?script


orações adverbiais no português =sci_arttext&pid=S0102-
popular do interior do Estado da Bahia: 44502019000200410&lang=pt
um estudo sociolinguístico

11
8#NP 2019 Variação linguística e alemão como https://www.scielo.br/scielo.php?script
língua estrangeira: contribuições a partir =sci_arttext&pid=S1982-
da análise de dois livros didáticos 88372019000200331&lang=pt
9#NC e 2019 Norma-padrão, norma culta e hibridismo https://www.scielo.br/scielo.php?script
NP linguístico em traduções de artigos do =sci_arttext&pid=S2175-
New York Times 79682019000300111&lang=pt

10#NC e 2019 Regionalismo e variação linguística: https://www.scielo.br/scielo.php?script


NP uma reflexão sobre a linguagem caipira =sci_arttext&pid=S0020-
nos causos de Geraldinho 38742019000100063&lang=pt

11# NC 2020 Multiletramentos e ideologias https://www.scielo.br/scielo.php?script


linguísticas em práticas =sci_arttext&pid=S0103-
contemporâneas de leitura e escrita de 18132020000100353&lang=pt
fanfics

Fonte: o autor (2020)

Análise e síntese dos resultados

Concluída a parte de coleta de dados, partiremos agora para a análise.


Destacamos que este estudo se pautou na pesquisa quantitativa e qualitativa de
análise dos dados, dando mais importância a segunda que na visão de Ludke e
André (1986) “envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do
pesquisador com a situação estudada, enfatizando mais o processo do que o
produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”. (LUDKE;
ANDRÉ, 1986, p. 11)
Percebemos que nos textos coletados, os termos aparecem quase que em
igualdade, sendo quatro artigos que em seu texto apresentam a terminologia Norma-
Padrão (33,333%), quatro traziam em sua redação o termo Norma Culta (33,333%)
e, é importante destacar que em apenas três artigos coletados foi constatada a
presença dos dois termos (25%).
Cabe destacar que os termos estudados por esta pesquisa são utilizados nos
textos coletados, mas não tratam especificamente do tema em questão, mas sim de
outros temas que envolvem reflexões sobre os termos.
Excerto 1 – Nº 1 [...] partindo para o contexto de ensino de língua espanhola
no âmbito brasileiro, também é relevante o conhecimento acerca da
variação linguística nas formas de tratamento pronominais. Posto que a
maioria dos livros didáticos desta língua, utilizados no Brasil, por serem
provenientes da península, apresenta uma norma-padrão baseada nesta
variedade linguística. (2#NP, 2016, grifo meu)

12
Excerto 2- Nº 2 [...] tais resultados levam à covariação entre pronome e
concordância: seria uma oposição norma culta vs. norma popular, como
advogam, ou uma oposição perto/longe dos grandes centros? (1#NC, 2016,
grifo meu)

Dos trechos destacados acima, podemos perceber que os artigos coletados


nesta pesquisa, embora não tratem especificamente do tema abordado, e tampouco
apresentem uma definição clara dos termos, ajudaram-nos a perceber como eles
são empregados, destacando que na primeira transcrição, “Norma-padrão” é
percebida como uma variedade linguística, tratando propriamente das variações
linguísticas. No excerto 2, o termo Norma Culta é usado em oposição a norma
popular, entretanto essa oposição não existe, neste caso tanto o adjetivo culta,
quanto popular podem ser considerados como parecidos, pois designam o tipo
linguístico próprio de um determinado povo, um grupo cultural.
Destaca-se ainda o aumento significativo de publicações no ano de 2019, que
foi o ano em que mais encontramos artigos que traziam em sua redação os termos
objeto desta pesquisa, conforme gráfico abaixo.

Gráfico 1- Demonstração dos dados coletados


Fonte: o autor (2020)

Nossa busca mostra que, apesar de os estudos acerca dos termos Norma
Culta e Norma-Padrão não terem sido objeto de produção e pesquisa nos últimos
tempos, essa reallidade está em processo de mudança..

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Analisando os termos utilizados nos artigos coletados, percebemos que o
sentido em que eles são empregados coincidem com as definições já apresentadas
na revisão teórica, evidenciando que ao longo dos anos os termos “Norma Culta” e
Norma-Padrão”, vem sendo utilizados para impor uma série de normas a serem
seguidas, normas essas que pertencem às variedades tidas como de prestigio em
uma sociedade.
Prosseguindo com a análise, os termos “Norma-Padrão” e “Norma Culta”
estão presentes em quatro artigos cada um (2#NP; 5#NP; 6#NP; 8#NP e 1#NC;
4#NC; 7#NC e 11#NC). Já os dois termos juntos, apareceram em apenas três
artigos (3#NCeNP; 9#NCeNP e 10#NCeNP).
Os trabalhos que apresentaram os termos Norma Culta e Norma-Padrão
separados mostram que eles foram utilizados como sinônimos, para definir a
variedade de prestígio, utilizada pela classe de pessoas com maior nível de
formação acadêmica, ou seja, pelos ditos “letrados”.
Já os trabalhos que apresentaram os dois termos no mesmo artigo, buscaram
definir um e outro, quase unanime foi a definição de Norma Culta como sendo a
língua utilizada de modo natural e normal, e o termo norma-padrão para definir o
amontoado/conjunto de normas e preceitos linguísticos, utilizados como padrão em
detrimento das variedades linguísticas das classes menos abastadas. Vejamos os
trechos que evidenciam essa nossa análise:

Excerto 3 - Nº 1: [...] os resultados denotam a necessidade de realização de


um trabalho focado na aquisição do princípio alfabético, o qual permite a
escrita inicial pela rota fonológica e também para a necessidade de se
trabalhar a diferença entre a norma culta da língua e aquela
coloquialmente utilizada no cotidiano. (4#NC, 2017, grifo meu)

Excerto 4 -Nº 2: [...] encontramos, ao final, que os discursos de letramento


subjacentes às questões analisadas reforçam visões naturalizadas sobre a
escrita e a norma-padrão, afetando as identidades dos indivíduos em
relação ao uso que fazem de variedades linguísticas nessa modalidade.
(5#NP, 2017, grifo meu)

Excerto 5- Nº 3: [...] há uma diferença entre a norma-padrão e a norma


culta, sendo a primeira aquela que reúne regras que prescrevem formas
linguísticas a serem seguidas de acordo com um modelo idealizado de
língua, mas difícil de ser seguido pela maioria dos usuários; e a segunda,
aquela que reúne o conjunto de formas linguísticas que são, de fato,
empregadas por muitos escreventes, sendo, portanto, mais acessíveis
intuitivamente, embora não aceitas pela tradição gramatical conservadora

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representada pela norma-padrão, comumente divulgada em compêndios
gramaticais e manuais de estilo. (9#NP e NC, 2019, grifos meus)

As transcrições acima foram retiradas dos artigos coletados. Na primeira


(excerto 3) podemos perceber que o uso do termo norma culta tem o sentido de
normativo, ou seja, assume o papel de conjunto de normas preestabelecidas, que
servem de parâmetro a ser seguido. O mesmo acontece no excerto 4, mas, neste
caso, o termo utilizado para definir o conjunto de regras gramaticais foi “norma-
padrão”. O sentido atribuído a esses termos nos trechos transcritos, os definem
como o modo de falar e escrever considerado “ideal”, usado por uma parcela da
população que possui um grau de formação maior, ou seja, o modo de falar dentro
das variedades de prestígio. Neste sentido, constatamos que nos excertos 3 e 4 os
termos são usados como sinônimos, embora seja diferente um do outro.
Já o nº 3 - excerto 5 - busca apresentar os termos como diferentes um do
outro, colocando norma-padrão como um conjunto de regras prescritas a serem
seguidas e, a norma culta, como sendo o conjunto de formas linguísticas, ou seja, o
uso comum da língua, o modo mais acessível, ressaltamos que esse artigo utiliza-se
dos conceitos de Faraco (2008) e Bagno (2003) para distinguir um termo do outro,
assim como nós apresentamos em nossa fundamentação teórica.
Quando utilizamos o termo “Variedade Linguística” em nossa pesquisa,
obtivemos resultados que ajudaram a compreender a visão que algumas pessoas
têm sobre o significado embutido à Norma Culta e à Norma-Padrão.

Excerto 6 - Nº 1: a linguagem das classes sociais mais baixas da chamada


norma culta, usada pela elite letrada. O fato de grande parte dos membros
dessas classes mais baixas serem descendentes diretos dos africanos
escravizados e dos índios aculturados ao longo do período de formação da
sociedade brasileira e que se mantêm em um nível muito baixo de
letramento até os dias de hoje explica o caráter das mudanças que afetaram
o que tem sido denominado português popular brasileiro (PPB). (7# NC
2019, grifo meu)

Excerto 7 - Nº 2: Muitas vezes, instituições escolares e políticas


supervalorizam a norma-padrão, raramente reconhecendo a legitimidade
da variação linguística. Entretanto, a variação (histórica, geográfica, social
ou estilística), sendo inerente a todas as línguas, não pode ser ignorada. (8#
NP, 2019, grifo meu)

Excerto 8 - Nº 3: [...] conflito causado por tais avaliações pode contribuir


para a manutenção ou para o desaparecimento de traços linguísticos, o que
torna tais questões sempre atuais e significativas para aqueles que se
dedicam aos estudos sociolinguísticos. O foco de nossa investigação está
no falar caipira, uma variante comumente rotulada como inadequada e
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associada a indivíduos ditos “sem cultura”, distantes dos padrões
estabelecidos pela norma culta. [...] a norma-padrão é preestabelecida
para a escrita, sendo impossível alguém utilizar somente ela numa
conversação, principalmente quando se compreende que essa norma não
está apenas ligada à sintaxe, como demonstram estudos dialetológicos.
Mesmo assim, existem variações de prestígio na língua falada. (10# NC e
NP, 2019, grifos meus)

No que diz respeito à utilização dos termos “Norma Culta e Norma-Padrão”,


nos excertos 6 e 7, aliados à concepção de variedade linguística, percebemos que,
mais uma vez, os termos “Culta” e “Padrão” são usados como sinônimos de uma
língua homogênea, padronizada em um conjunto de elementos linguísticos que
unificam o jeito de falar e escrever em um determinado grupo (Como pode ser visto
em nº 1 e nº 2 – excertos 6 e 7 respectivamente.). No excerto 8, nº 3 percebemos a
referência feita do termo culta ao uso popular daquele sujeito que desvia o uso da
norma-padrão, e por isso, é considerado “sem cultura”. Como no artigo analisado,
sabemos, com base em Faraco (2008) e Bagno (2003) que não existe povo sem
cultura, tampouco indivíduo sem povo. Pois isso desconsidera o caráter dinâmico e
multicultural que constitui uma língua.

Conclusão

Durante muito tempo os termos Norma Culta e Norma-Padrão foram usados


como sinônimos, um atrelado ao outro, mas esta pesquisa mostrou que os termos
supramencionados possuem diferenças consideráveis entre si.
O presente estudo fez um apanhado sobre os termos e apresentou suas
definições, que foram baseadas em estudiosos da área que se propuseram a
estudar sobre o tema e mais: deixam claro que esses termos possuem significados
bem distintos entre si. A Norma Culta pode ser entendida como a língua da cultura
do povo, ou seja, aquela que cada um de nós aprende quando criança, que é
carregada de significados e faz parte da cultura de cada povo, nesta dita Norma
Culta podemos enquadrar as diversas variedades linguísticas presentes no território
brasileiro.
A Norma Culta, muitas vezes, é utilizada no sentido de cultuar a linguagem
literária, utilizada na língua escrita pelos grandes escritores considerados cânones

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literários. Entretanto a utilização deste termo, nessa circunstância, não seria
adequada, pois dizer que uma pessoa não sabe utilizar a norma culta, é dizer que
ela não possui cultura, sendo isto inconcebível, uma vez que não existe povo sem
cultura e muito menos, sujeito sem língua.
A Norma-Padrão então seria uma forma de padronização da língua, essa é
definida por um conjunto de normas linguísticas que são responsáveis pelo ato de
“escrever bem”, com concordância e coerência. É inegável que essa escrita mais
robusta, utilizando corretamente as normas gramaticais é necessária, pois em
diversos momentos de nossa vida utilizamos essa linguagem, seja em uma redação
do vestibular ou Enem, seja em um trabalho de conclusão de curso. Pensamos que
essa padronização da língua não pode ser utilizada como parâmetro de avaliação
das variedades de menor prestígio bem como não pode ser tomada como preceito
para que se cometa o preconceito linguístico.
Assim sendo, outra questão importante é a do ensino de língua materna, que
também figura parte da discussão proposta nesta pesquisa. Aqui refletimos sobre a
influência que os termos têm no ensino de língua materna, e como o ensino tem
papel fundamental na mudança de vida dos alunos, sobretudo das escolas públicas,
sobre como os professores podem atuar para desmistificar o pensamento de que
existe um padrão de língua que todos devem seguir. A língua, conforme
apresentado ao longo da pesquisa, é algo heterogêneo e o que existe são formas
diferentes de falar, não esquecendo que a variedade de prestígio deve sim ser
ensinada na escola, visto que o aluno dependerá dela em diversos momentos de
sua vida.
Deste modo, concluímos que a pesquisa na área de linguística é
extremamente necessária e nosso tema apresenta grande relevância, porque ao
propormos a análise do uso dos termos em artigos fixados na Scielo, o estudo
apontou que eles ainda têm sido usados como sinônimos um do outro, em grande
maioria, valendo-se do sentido de norma enquanto regras gramaticais que regem a
língua portuguesa.
Vale destacar que os registros encontrados não foram muitos, isso evidencia
que o tema não tem recebido muita atenção ou não tem sido investigado, e carece
de ser explorado e ampliado para a compreensão dos falantes e dos estudantes de
língua portuguesa.

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Referências

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Editorial, 2003.

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