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1
Com base no que foi mencionado na seção 1.2.4, uma das formas fundamentais de variação
linguística é aquela que ocorre no nível lexical, mas não é a única. Avançamos que, neste trabalho, e
uma vez focados no campo terminológico, quando falamos de variação, nos referimos à variação
lexical terminológica, fenômeno denominado quase exclusivamente como sinonímia na bibliografia.
Na seção 1.4, apresentamos algumas precisões denominativas e conceituais em torno da variação
terminológica, variação denominativa, variação conceptual e sinonímia.
perspectiva social, entendendo, por exemplo, a variação linguística como
inerente aos sistemas linguísticos." (Boix i Vila, 1998:25)
2
O ideal da biunivocidade terminológica da TGT ainda é defendido em vários manuais e trabalhos de
terminologia; são trabalhos que, de pontos geograficamente muito dispersos, seguem e reproduzem a
doutrina wüsteriana, o que nos informa sobre a ressonância internacional dessa teoria. Assim, por
exemplo, Fedor de Diego afirma em seu manual de terminologia: 'A sinonímia, ou seja, a atribuição
de dois ou mais termos da mesma língua a um único conceito, é o fenômeno menos bem visto na
terminologia, pois é o que pode gerar mais problemas de ambiguidade no momento da comunicação,
já que o uso de dois termos pode sugerir a existência de dois conceitos diferentes.' (Fedor de Diego,
1995:58).
permanente e dedica a primeira parte à univocidade da adscrição. Mais adiante, no
mesmo capítulo, ele dedica um subtítulo à variação linguística:
Embora seja verdade que o tratamento dado à sinonímia pela TGT (Teoria
Geral da Terminologia) é coerente e defensável em um contexto de padronização,
onde não se pretende descrever, mas gerenciar as unidades sinônimas, é
importante destacar que esse contexto vai muito além em suas proposições.
Frequentemente, afirma-se que a sinonímia não existe na terminologia5 (e não
apenas que não deveria existir) e que a univocidade é uma característica
fundamental do termo.
Essas afirmações, que contradizem a realidade do uso, são possíveis apenas a
partir de uma visão idealista e reducionista da terminologia, como foi a TGT. Esse
reducionismo e idealismo são visíveis nos tipos de funções atribuídas à terminologia,
nos tipos de comunicações consideradas e, especialmente, na compreensão dos
conceitos.
5
Wüster aceita implicitamente a variação dos termos ao classificar os signos e apresenta as
distinções entre abreviação e termo não abreviado, sigla e termo desenvolvido, etc.
ser muito superior ao número de raízes disponíveis) do que à sinonímia6. A
polissemia, assim, torna-se um mal a ser assumido, enquanto a sinonímia, por outro
lado, é um problema a ser corrigido.
6
A terminologia exige que um conceito seja atribuído a um termo e vice-versa. Portanto, nem termos
homônimos (termos com mais de um significado) nem termos sinônimos (termos diferentes com o
mesmo significado) são desejáveis. Essa regra não pode ser estritamente aplicada, uma vez que o
número de conceitos excede em muito (cerca de 1000 vezes) o número de raízes (Felber, 1981:82).
7
Como não pretendemos aqui apresentar a escola soviética de terminologia, mas apenas o
tratamento da variação, remetemos ao volume Selected Readings in Russian Terminology Research
(TERMNET, 1993) e, particularmente, ao artigo de Grinev "Terminology Research in the USSR"
(1993a: 3-13), para uma visão geral bem estruturada dos diferentes estágios, escolas e especialistas
em pesquisa terminológica nos países soviéticos.
polissemia, a sinonímia e a imprecisão, em particular, dificultam a realização
da função comunicativa mencionada acima, impedindo a comunicação entre
os especialistas. Isso cria problemas para o progresso científico e técnico
(Kulebakin, V. S.; Klimovitskii, Ya. A., 2001:618).
É importante observar, entretanto, que Lotte e muitos dos autores dessa escola
têm uma atitude realista em relação à falta de univocidade que os termos podem
apresentar.
Kulebakin e Klimovitskii afirmam que uma abordagem realista da terminologia
regerá o trabalho de Lotte e de outros autores dessa escola:
8
No presente artigo, analisamos os trabalhos para a elaboração da terminologia científico-técnica da
antiga União Soviética, com uma ênfase especial nos trabalhos de Lotte. Além disso, realizamos uma
análise específica sobre as bolas de futebol produzidas por Lotte durante esse período.
A. M. Sokolova enfatiza que 'a sinonímia na terminologia é um fenômeno
bastante natural que prova a existência da assimetria do termo como um
signo linguístico em sua função específica. A presença desse fenômeno na
esfera da terminologia reafirma a conexão entre o vocabulário terminológico
e o vocabulário da LGP (Kurysko9, 1993: 104).
9
O colega Kurysko reconhece a existência da sinonímia a partir de um ponto de vista contextual. Ele
afirma: "Assim, consideramos que, na esfera do vocabulário terminológico, há palavras que podem
ser substituídas umas pelas outras no contexto" (Kurysko, 1993:105).
10
I Drozd continua: "Os terminólogos alemães têm uma piada contra a intolerância em questões
terminológicas. Eles dizem que 'um professor alemão prefere usar a escova de dentes de seu colega
do que seus termos'. No entanto, os terminólogos têm que ser tolerantes". (Drozd, 1981: 116-117)
entender, mais precisas e, portanto, mais precisas e, portanto, mais
proveitosas (Duchacek, 1979: 118).
11
O livro "La synonymie en langues de spécialité: étude du problème en terminologie" de
DUQUET-PICARD, D. (1986) aborda o tema da sinonímia em línguas de especialidade, com um foco
particular no estudo do problema na área de terminologia. Publicado em Quebec pela GIRSTERM, a
obra examina questões relacionadas ao uso de termos técnicos e especializados, explorando as
nuances da sinonímia nesse contexto específico. Se precisar de mais informações ou
esclarecimentos sobre algum ponto específico, estou à disposição.
12
DUQUET-PICARD, D. (ed.) (1983) Problèmes de la définition et de la synonymie en terminologie.
Anais do simpósio internacional de terminologia. Université Laval (Québec), 23-27 de maio de 1982.
Quebec: GIRSTERM
Nesse contexto, a gestão da sinonímia busca um difícil ponto de equilíbrio
entre o respeito pelos diferentes usos terminológicos e a redução sinonímica. Assim,
por exemplo, Auger (1994b)13 situa a terminologia em um contexto de variação
linguística e centra sua análise nos usos terminológicos das empresas. Ele parte do
pressuposto de que não é realista pretender impor um modelo terminológico único
nesse contexto e que é necessário um modelo terminológico variacionista a partir da
identificação dos diferentes estratos discursivos e das necessidades geradas
conforme os tipos de comunicação que ocorrem. Em outros trabalhos, Auger
defende o respeito pela variação dos termos para favorecer sua implantação.
13
Em um artigo de base variacionista intitulado "Pour un modèle variationniste de l'implantation
terminologique dans les entreprises au Québec".
fortemente enraizada nos trabalhos de terminologia que se assemelha a
uma batalha sem fim, onde o único sobrevivente será a manifestação da lei
do mais forte e da razão de intervir (Boulanger, 1983:322).
14
E a encontramos também, com mais ou menos contundência, em outros autores: "A operação de
normalização visa eliminar frequentemente os sinônimos para se aproximar do ideal: um termo, uma
noção (Dubuc, 1983:201).
15
Trata-se de um artigo elaborado a partir do trabalho de Lavigne, orientado por Boulanger:
LAVIGNE, G. (1992). Le vocabulaire de l’acupuncture: recherche terminographique et analyse
linguistique. Mémoire M.A. École des gradués, Université Laval.
Ela corresponde a uma necessidade real de expressão, pois permite variar
à escolha dos termos ou porque ilustra a hesitação dos autores que não têm
certeza se devem usar uma forma específica não têm certeza se devem
usar uma forma específica para transmitir sua mensagem (Boulanger e
Lavigne, 1994:32).
16
Em 1996, ele direciona a tradução para o catalão de uma seleção de textos de Wüster
(Terminologia. Selecció de textos d’E. Wüster).
17
Vegeu Cabré 1998b
discursivos das unidades terminológicas. Para o nosso trabalho, o último dos
aspectos que Cabré considera afetado pelo reducionismo da TGT é especialmente
relevante.
18
GAUDIN, F.; ASSAL, A. (ed.) (1991) "Terminologie et Sociolinguistique." Cahiers de Linguistique
Sociale, 18.
19
GAMBIER, Y. (1987) "Problèmes terminologiques des pluies acides: pour une socio-terminologie".
Meta, 32, 3, 314-320.
20
GAUDIN, F. (1990) “Socioterminology and expert discourses”. In: CZAP, H.; NEDOBITY, W. (ed.)
(1990), 631-641; GUESPIN, L. (1990) “Socioterminology facing problems in standardization”. In:
CZAP, H.; NEDOBITY, W. (ed.) (1990), 642-647.
Em poucos anos (1993 e 1995), surgem mais dois monográficos em revistas de
diferentes pontos da francofonia dedicados exclusivamente a esta nova terminologia
social21. No mesmo ano de 1993, Gaudin publica sua tese de doutorado "Pour une
socioterminologie: des problèmes pratiques aux pratiques institutionnelles". Nesta
obra, que constitui a apresentação mais sistemática da Socioterminologia até o
momento, Gaudin traça as grandes linhas da evolução histórica da terminologia
moderna, realiza uma revisão crítica dos postulados fundamentais da terminologia
tradicional, oferece uma nova orientação e dedica uma extensa terceira parte do
livro à apresentação do que ele chama de "pistas para uma socioterminologia", ou
seja, as bases dos enfoques socioterminológicos com noções provenientes da
sociolinguística e de diversos campos disciplinares mais ou menos próximos,
principalmente da epistemologia comparada, da sociologia das ciências, da análise
da interação verbal, da praxemática e da glotopolítica.
No prefácio ao livro de Gaudin, Guespin refere-se ao termo "socioterminologia"
e afirma que essa nova terminologia social deveria ser chamada genericamente de
"terminologia", enquanto a terminologia (tradicional) deveria ser determinada por um
adjetivo ("terminologia normalizadora"), pois representa uma restrição da
terminologia genérica.
Faltam termos para falar de terminologia. Se reservarmos esse nome, o
mais simples, para a filha sexagenária de E. Wüster e da normalização
tecnológica, como designar o esforço dos Quebecois ao longo de 25 anos, a
reflexão histórica e social conduzida por Louis Guilbert sobre vocabulários
técnicos, e os trabalhos de política linguística empreendidos no mundo nas
últimas décadas? Essa terminologia diferente, preocupada com a
sociedade, François Gaudin escolheu, após outros, evocá-la sob o nome de
socioterminologia. É um tanto lamentável ter que atribuir à nossa prática
esse termo que a sobrecarrega, pois, afinal de contas, toda terminologia
deveria se preocupar com a sociedade, com o tecido mesmo onde nascem
e se trocam conceitos e termos. Na verdade, a prática pela qual o autor
milita mereceria ser chamada simplesmente de terminologia; é a vertente
wüsteriana que, constituindo uma prática restrita, deveria ser dotada de uma
determinação; trata-se, de fato, de uma terminologia normalizadora
(Guespin, 1993:9).
21
GAUDIN, F. (dir.) (1995) "Usages sociaux des termes: théories et terrains." Meta, 40, 2.; "Le
langage et l’homme" (1993), 28 (4) (especial Socioterminologie).
como uma terminologia fundamentada na observação do funcionamento da
linguagem e no estudo das condições de circulação dos termos.
A relação que a Socioterminologia mantém com o Corrente de normalização é
bastante evidente22, e é um fato explicitamente aceito pelos autores franceses e
quebequenses. Gaudin, por exemplo, afirma que a terminologia negligenciou a
linguística, que se evoluiu como teoria devido à pressão da prática, e que o trabalho
realizado no Quebec é um bom exemplo de como as necessidades sociais
obrigaram a modelar a teoria e torná-la mais "socioterminológica". O ponto de
encontro de ambos os cursos é a abordagem entre terminologia e sociedade,
levando em consideração a sociolinguística, tanto no aspecto teórico quanto no
metodológico.
22
Nesse sentido, é notável que Boulanger tenha se tornado o especialista a quem foi confiada a
introdução de diversas publicações sobre Socioterminologia (Boulanger, 1991 e 1995).
23
Os fragmentos a seguir são um apelo para uma socio-terminologia, urgente a ser definida diante da
formalização relacionada à informatização e diante do idealismo da teoria. A problemática é
complexa: a terminologia deve acompanhar uma demanda, senão pode cair em uma utopia
fantástica, de se juntar a cometa das línguas inventadas; construídas sobre uma impecável
racionalidade ou envolvidas nos delírios do imaginário. Ela não pode ser uma 'máquina de sonhar'
onde despejar fantasias e nostalgia por uma língua esotérica, polida, totalitária. Ela não pode ser
também uma 'máquina de brincar' sem objeto referencial nem sujeitos sociais (Gambier, 1991b: 8).
sistema de noções): portanto, seu objetivo tornou-se normalizador,
ignorando os funcionamentos sociodiscursivos dos termos. Essa atitude
redutora talvez sirva atualmente ao desenvolvimento da Biblioteconomia;
certamente, prejudica os esforços de planejamento terminológico
confrontados com as realidades sociolinguísticas (Gambier, 1991a: 4924).
24
Gambier leva essa crítica ainda mais longe e afirma que por trás da terminologia se observa uma
concepção totalitária da língua, uma obsessão normativa, etc.: "Por trás desses preconceitos surge o
sonho de uma língua límpida, expressa um voluntarismo idealista... que às vezes serve ao dirigismo,
à obsessão normativa de certas organizações terminológicas, integradas às engrenagens do Estado.
Empurrada ao extremo, essa visão leva a uma concepção totalitária da língua e de seu
funcionamento, norma fixa, sob controle único, cega para a evolução e a interpenetração dos
saberes, para a rivalidade das escolas, dos atores sociais, para a competição internacional, para o
lugar e a posição reais das ciências e técnicas em uma sociedade dada. Além disso, as afirmações
teóricas da terminologia, seu idealismo racional, sua mística objetivista, estão em contradição com
sua metodologia, sua prática que deve lidar com os termos em contexto, as ambiguidades
definicionais, com fontes documentais mais ou menos confiáveis, com o problema espinhoso da
classificação dos 'domínios', etc (Gambier, 1987:320).
Isso é, do nosso ponto de vista, uma das contribuições mais interessantes e bem
fundamentadas da Socioterminologia25.
25
Vê-se, especialmente, Gaudin, 1991; Guespin, 1991; Gambier, 1991a. Também Baudet, 1991, que
desenvolve a noção de editologia (''Poderíamos dizer ainda que a terminologia estuda as estruturas
presentes no discurso científico (no interior), enquanto a editologia estuda aquelas que conectam
entre si (no exterior do discurso) os emissores desse discurso.'' (Baudet, 1991:86)
analisa as causas ideológicas que levaram Wüster a defendê-lo, e destaca as
consequências:
26
No ano de 1982, durante o colóquio internacional Problemas da definição e sinonímia em
terminologia, Sager fez uma intervenção oral defendendo a posição de que "A liberdade de variação
sinonímica é desejável e até necessária em certos tipos de discurso, porque ajuda a esclarecer os
pensamentos, aproximando-se de encontrar a expressão certa para o fenômeno que se deseja
descrever, explicar ou até mesmo nomear. É quase como brincar com palavras". Ele recebeu uma
resposta automática de profundo desacordo de Felber, que afirmou: "Se eu entendi corretamente o
Sr. Sager, ele estava dizendo que os especialistas estão brincando com palavras. Eu nunca vi um
cientista brincar com palavras. Eles querem ter uma ferramenta adequada para a ciência e tecnologia.
O mesmo vale para a padronização". A totalidade da discussão está registrada nos anais do colóquio
(DUQUETPICARD, D. (ed.), 1983:354-355).
humano, em constante mudança e movimento, que acompanha e reflete. No estudo
terminológico das ciências sociais, Riggs27 também abordou a variação. Destacamos
aqui sua reflexão sobre a possibilidade e a hipotética necessidade de aplicar a
terminologia normativa às ciências sociais, uma área à qual Wüster e seus
seguidores não prestaram atenção. Riggs justifica a desnecessidade do controle
normativo devido à resistência dos cientistas sociais à "legislação" sobre o uso
linguístico:
27
Riggs foi um dos membros mais importantes do Comitê de Análise Conceitual e Terminológica
(COCTA), criado principalmente nos últimos anos.
28
Por essa razão, preferiram apresentá-lo fora desse mercado.
individual. Esses ideais contribuem para garantir um conhecimento
tecno-científico um pouco mais matizado, completo, objetivo e aplicável. A
delimitação de conceitos e a estruturação de terminologias devem respeitar
os objetivos de um conhecimento multifacetado e não suprimir nuances
relevantes (Kocourek, 1983:257-258).
29
Infelizmente, não tenho acesso direto ao conteúdo específico de referências bibliográficas como o
trabalho de Kocourek (1991b) e seus respectivos capítulos. No entanto, se você tiver perguntas
específicas sobre os conceitos discutidos nos capítulos 1.2 "Dichotomies et variations linguistiques" e
1,3 "La diversification cognitive de la spécialité et la langue" (páginas 25-39), ficarei feliz em tentar
ajudar com base no meu conhecimento geral em Biblioteconomia, Terminologia e Linguística.
partindo da existência da variação devido ao caráter polifuncional das unidades
léxicas — "A polifuncionalidade da unidade lexical, no discurso científico ou no
discurso técnico, pode produzir mais de um registro ou mais de um conceito para o
mesmo termo." (Faulstich, 1997:1) —, ela reivindica uma interpretação variacionista
da terminologia, levando em consideração as diferentes dimensões de uso do termo
e as diferentes relações entre especialistas e usuários, aspectos que podem ser
abordados, segundo a autora, com os recursos oferecidos pela etnografia da
comunicação.
31
Vegeu Cabré (1998a).
32
Payrató (1998b:22).
33
Cabré (1998a) também relaciona o tom com o grau de abstração que se deseja transmitir na
informação e distingue um tom especializado e um tom divulgativo.
A etnografia da comunicação se situa na confluência da antropologia e da
linguística (especificamente a pragmática) e concentra-se no estudo do contexto
(Gumperz e Hymes, 1972), especialmente das normas culturais que regem a fala
(Saville-Troike, 1982). A etnografia da comunicação descreve o comportamento
comunicativo a partir de três noções: a situação comunicativa, o evento de fala e o
ato de fala (Hymes, 1972), e para analisar os eventos de fala, propõe a grade de oito
elementos SPEAKING34.
A aplicação terminológica da abordagem etnográfica é evidente em trabalhos
recentes de diversos autores; Auger (1994b), por exemplo, a adota para estudos da
implantação das terminologias nas empresas, e também Tway (1975), que analisa a
variação léxica em uma fábrica entendida como uma comunidade de fala e conclui:
34
Consulte Boix i Vila (1998) para uma apresentação das noções básicas da etnografia da
comunicação. Os autores adotam para o catalão a tradução francesa PARLANTT do acrônimo inglês
SPEAKING (participantes, atos, razões ou resultados, local, agentes, normas de interação e
interpretação, tom e tipo de discurso).
A utilização dos conceitos de dialogismo, polifonia e pluriacentuação do
signo nos levará a reencontrar as análises conduzidas no campo da
epistemologia comparada, mas também da sociologia das ciências. (...)
Nosso objetivo nos levará a retomar essas preocupações constantes que
constituem, para uma linguística atenta em estabelecer a covariância dos
fatos linguísticos e sociais, os problemas da norma, da neologia, da
individuação e da negociação. Buscaremos estabelecer a validade de
conceitos como 'camadas culturalmente hegemônicas', 'locutor coletivo',
'estrutura de sociabilidade', 'doador de sentido', para citar alguns (Gaudin,
1993:18).
Definimos a variação denominada (VD) como "o fenômeno pelo qual uma
mistura de nomes corresponde a diversas denominações35". Como vimos nos
capítulos anteriores, a terminologia denominou sinonímia esse fenômeno, pois se
trata de uma falha na relação semântica que mantém as unidades em variação,
denominações diretamente sinônimas ou termos sinônimos36.
Nesse caso, prefiro utilizar a nossa proposta de variabilidade denominada37,
mas em outros artigos de revisão bibliográfica tendemos, como já vimos, a falar de
sinonímia, pois é a forma exclusivamente utilizada pelos autores dos diferentes
correntes terminológicas.
A análise da variação que afeta os conceitos não podem ser abordada pela
terminologia clássica, pois parte de uma compreensão do conceito que impede a
própria existência desse fenômeno: se os conceitos preexistem, são universais,
isolados e estáveis, não estão sujeitos a variação. Se, ao contrário, partirmos do
pressuposto de que os conceitos têm (ou podem ter, dependendo dos tipos de
conceitos) limites difusos e que podem ocupar espaços semânticos diferentes
segundo os contextos de aparecimento, então a variação conceptual é um fenômeno
possível e provável.
O estudo dessa variação pode ser abordado a partir de diversas análises, e
neste trabalho nos aproximamos dela a partir do reflexo denominativo que possui.
35
A noção de denominação é, por enquanto, muito complicada e difícil de definir para cada teste
concreto. Para esse trabalho, eu o coloquei no capítulo de metodologia
36
A teoria terminológica normalmente distingue sinônimos e variantes (veja o apartado 2.4).
37
Freixa (1998a)
Assim, variação conceptual significa para nós variação em um mesmo conceito:
acreditamos que no processo de denominação, um mesmo conceito pode ser
abordado de maneiras diferentes e que, por essa razão, podem surgir
denominações diferentes. E, como mencionamos, essas denominações para um
mesmo conceito têm a virtude de permitir observar a parte (ou as partes) do
conteúdo conceptual que adquiriu mais relevância em um contexto específico.
Também se fala, no entanto, de variação conceptual em outros sentidos. Na
seguinte citação, Cabré (1998c) refere-se à variação conceptual que advém de
diferentes conceptualizações e que resulta em conceitos distintos para um mesmo
referente da realidade.
Nesta abordagem, nossa ideia inicial é que a ontologia não precisa coincidir
com a conceptologia, ou seja, que a 'mesma' realidade pode ser percebida
de maneiras muito diferentes e, portanto, conceptualizada de maneira
diversa. É nessa possibilidade de diferenciação entre várias
conceptualizações que nossa hipótese se concentra. O conhecimento
especializado é uma das possíveis vias de conceptualização da realidade.
Além disso, a partir da perspectiva precisa das disciplinas especializadas,
uma mesma realidade pode ser conceptualizada de maneira diferente, e
essa diferenciação pode apresentar diferentes graus de realização,
admitindo, assim, que entre dois conceitos referentes à mesma realidade ou
objeto pode haver uma percepção diferente (Cabré, 1998c:186).
Fixem-nos que Cabré não está tratando do fenômeno pelo qual é possível
abordar de maneiras diferentes um único conceito em uma mesma especialização,
mas sim refere-se a percepções diferentes de uma mesma realidade que levam a
processos de conceituação distintos e, portanto, levaram a diferentes conceitos.
Esse fenômeno pode ocorrer entre diferentes especialidades ou entre uma
conceituação especializada e uma não especializada.
Normalmente, no entanto, os autores que abordam a variação conceitual
analisam, a partir de perspectivas bastante diferentes, a variação de um mesmo
conceito, denominado com a mesma forma, frequentemente com o estudo
semântico das diferentes ocorrências do conceito em contextos diversos, ou das
diferentes definições que ele recebe. Assim, Condamines e Rebeyrolle (1997)
enfatizam a noção de ponto de vista, Bowker e Meyer (1993) na
multidimensionalidade, explicando que os conceitos podem ser explicados a partir
das diferentes dimensões que possuem. Ciapuscio (1999), de uma perspectiva
textualista, relaciona a VC com o grau de especialização38 dos textos, e também
38
Ciapuscio utiliza a forma de grau de especialidade no mesmo sentido que nós utilizamos o grau de
especialização neste trabalho.
Kostina (em preparação) realiza uma análise minuciosa dos contextos imediatos de
um mesmo conceito para determinar a variação de conteúdo.
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