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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS


CENTRO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO
LICENCIATURA EM LETRAS-PORTUGUÊS
TÓPICOS DO PORTUGUES BRASILEIRO
DR. LUÍS ISAÍAS CENTENO DO AMARAL

Alexandre Coelho Soares 19100562


Patrícia Fernandes dos Santos 19100569
Shaiane Araújo Nunes 19101253

TRABALHO ACADÊMICO AVALIATIVO:

“RESENHA”

NOVEMBRO/2022
Resenha

Artigo: BORGES, Paulo Ricardo Silveira. As dimensões sociais da mudança em peças de


teatro de autores gaúchos: uma contribuição para o estudo da inserção e da propagação
do pronome A gente no português brasileiro. In: Cadernos do IL, Porto Alegre, nº 59,
outubro. p. 71-88.

Resenhado por: Alexandre Coelho Soares¹, Patrícia Fernandes dos Santos², Shaiane Araújo
Nunes³.

O artigo do professor Paulo Borges nos convida a uma reflexão sobre a importância das
variáveis sociais no processo de mudança do português brasileiro, a partir do estudo sobre a
inserção e a propagação do pronome a gente em peças teatrais de autores gaúchos; as peças
objeto de análise correspondem a um período histórico de cem anos (1896 a 1995). Cabe
observar que o mesmo possui sólida formação profissional e acadêmica, sendo professor
associado da Universidade Federal de Pelotas. Também, possui doutorado e pós-doutorado
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Em termos gerais, o artigo de Borges nos apresenta um aporte teórico sobre as dimensões
sociais da mudança linguística na perspectiva de sua difusão e das evidências social, histórica
e linguística. A partir de uma amostra, composta por onze peças teatrais de autores gaúchos,
ele analisa os diálogos das referidas peças, como forma de investigar as mudanças nos textos,
enfatizando a forma expressa do pronome a gente em variação com o pronome nós.

O tópico 2- Concepções teóricas sobre variação linguística tem como escopo os estudos
da língua, nos seus diferentes estágios (sincrônico/diacrônico). Borges evidencia que o estágio
sincrônico da língua é resultado de um desenvolvimento passado que continua no presente.
No que tange à diacronia, Labov (1994, p.26) entende que o objetivo principal da utilização
de dados diacrônicos “é poder determinar o que ocorreu na história de uma língua ou de uma
família linguística”, levando-se em conta os aspectos sociais que contribuíram para a
ocorrência de determinadas mudanças. Também cita três pontos imprescindíveis dos quais
Labov (1972, p. 160-161) se refere aos problemas relacionados as mudanças na linguística:

¹Acadêmico do curso de Letras- Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.


²Graduada em Geografia pela UFPEL, Especialista em AEE pela Faculdade Dom Bosco, acadêmica do curso de
Letras – Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.
³Acadêmica do curso de Letras- Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.
(a) problema de transição que consiste em encontrar o ponto inicial em que ocorreu a
mudança linguística, ou seja, onde passou de etapa prévia para posterior; (b) problema de
encaixamento consiste em encontrara origem contínua do comportamento social que a
mudança linguística provoca; (c) problema de avaliação consiste em confrontar as atitudes
dos falantes em relação ao comportamento linguístico.

No tópico 3- As dimensões sociais da mudança linguística, Borges aborda a importância de


se tratar variação e mudança de forma conjunta, já que, sociolinguisticamente, são entendidas
como dois aspectos de um mesmo modelo linguístico. O autor coloca que: “deve-se levar em
consideração que os limites da difusão de determinada mudança coincidem com os limites
sociais e linguísticos dos próprios membros da comunidade envolvida”. Também, os trabalhos
de Labov (1996) e Kroch (1978) são modelos importantes para a descrição da distribuição
social de mudanças em andamento. Também destaca que o estado da mudança em progresso
tem se desenvolvido a partir de três tipos de evidência: a social, a histórica e a linguística.

Na primeira evidência, a social a idade seria um dos principais aspectos, pois diante de
alguns estudos de evidência em progresso falantes mais novos tendem a usar formas mais
atuais que os mais velhos. E ainda na evidência social alguns grupos sócios aceitam mais
rapidamente algumas formas inovadoras, enquanto outros tendem demorar mais para aceitar.

Já na segunda evidência, quem contempla a social e a histórica, entende a análise em


tempo real da mudança linguística, permite que se obtenha informações sobre o estágio inicial
da mesma.

A terceira evidência em conjunto com as evidências social e histórica, a evidência


linguística entende que a distribuição linguística de uma nova inovação, condiciona-se em
vários contextos.

No tópico 4- Os critérios para a escolha das obras: textos de teatro de autores gaúchos-
1896 até 1995, Borges esclarece que escolheu como ponto de partida para seu estudo o século
XIX (1896), já que esse período diz respeito à própria formação histórica do R.S, uma vez que
foi a partir de 1830 que as atividades culturais como a imprensa, a literatura e as artes teatrais
começaram a florescer, principalmente nos grandes centros como Porto Alegre, Rio Grande e
Pelotas. Segundo Borges: “os textos selecionados buscam refletir, da melhor forma possível, o

¹Acadêmico do curso de Letras- Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.


²Graduada em Geografia pela UFPEL, Especialista em AEE pela Faculdade Dom Bosco, acadêmica do curso de
Letras – Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.
³Acadêmica do curso de Letras- Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.
cotidiano de determinadas pessoas e grupos através de seus costumes. Um dos objetivos da
escolha do teatro [...] foi poder representar a linguagem mais informal utilizada pelas pessoas
comuns e seus afazeres cotidianos, aproximando-se o máximo possível do vernáculo”.

O tópico 5, intitulado A análise dos dados: o uso do pronome a gente nas peças de teatro,
traz uma análise dos resultados obtidos a partir do estudo. O professor Paulo Borges apresenta
um quadro com o nome das peças analisadas, bem como o período histórico correspondente a
cada uma dessas peças e também o número de ocorrências de nós e a gente. Na análise das
peças, foi encontrado um total de 712 ocorrências de nós e a gente. Conforme esclarece
Borges, os dados foram computados levando-se em conta as variantes selecionadas, as
ocorrências encontradas nas onze peças de teatro, o número de ocorrências e os percentuais
atribuídos a cada uma das formas utilizadas pelos personagens.

No tópico 6- As variáveis sociais e o uso de a gente nas peças de teatro, encontramos os


percentuais e pesos relativos para o uso de a gente nas onze peças de teatro analisados pelo
professor Paulo. Os resultados mostram que: (1) a forma inovadora a gente foi favorecida
pelas personagens femininas, tanto em percentual (56%) como em peso relativo (0,56); (2) os
personagens da faixa etária intermediária (de 26-49 anos) foram os que mais utilizaram a
gente (53%/ 0,54); (3) o uso de a gente é favorecido pelos personagens de classe baixa, com
percentual de 54% e peso relativo de 0,56. Quanto à variável gênero nas peças de teatro, os
resultados refletem o que também foi encontrado em outros trabalhos em tempo aparente
sobre o uso de a gente, como o de Seara (2000), Zilles (2002) e Borges (2004), nos quais
também as mulheres apresentam percentuais e pesos relativos superiores aos dos homens.

Finalizando o artigo, Borges traz no tópico 7 as Considerações finais. Segundo Borges, os


resultados do estudo demonstram que o processo de mudança em torno da inserção e da
propagação da forma inovadora a gente expressa no português gaúcho intensificou-se a partir
da década de 1960, com percentuais para o uso de a gente acima de 50%, indicando uma
mudança em curso. Também, as variáveis sociais gênero, faixa etária e classe social atuaram
para que este processo sócio-histórico-linguístico ocorresse.

A partir da análise do artigo de Borges, compreendemos que o mesmo traz grande


contribuição para os estudos de sociolinguística, já que trata, de maneira inovadora, do

¹Acadêmico do curso de Letras- Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.


²Graduada em Geografia pela UFPEL, Especialista em AEE pela Faculdade Dom Bosco, acadêmica do curso de
Letras – Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.
³Acadêmica do curso de Letras- Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.
processo de modificação e transformação que todas as línguas experimentam em geral, em
sua evolução histórica.

Trata-se de um artigo bem fundamentado teoricamente e também muito elucidativo no que


concerne à sua proposta de pesquisa. Entendemos que, mesmo para aqueles que gostam de
agregar conhecimentos gerais, a leitura do artigo pode ser bastante proveitosa.

Recomenda-se a leitura do artigo, já que o mesmo é bastante conciso e bem estruturado,


atendendo assim a necessidade de quem busca informações sobre esse tema. O público-alvo a
quem o artigo se direciona são: estudantes acadêmicos, docentes e quaisquer outros que
desejem agregar conhecimentos referentes ao tema abordado.

¹Acadêmico do curso de Letras- Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.


²Graduada em Geografia pela UFPEL, Especialista em AEE pela Faculdade Dom Bosco, acadêmica do curso de
Letras – Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.
³Acadêmica do curso de Letras- Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pela UFPEL.

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