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COELHO, I. Sociolinguística / Izete Coelho. – Florianópolis: LLV/CCE/ UFSC, 2010.

Unidade B
As dimensões interna e externa da
variação linguística

Dimensão interna: níveis de variação linguística


 [...]nós e a gente[...] essas variantes são alternativas de se dizer a mesma coisa, que
oferecem a mesma informação referencial; (p. 47)
 todos os falantes têm a habilidade de interpretar as duas formas e entender o
significado da escolha de uma forma em vez de outra.
 Foi no campo da fonética/fonologia que os estudos variacionistas começaram na
década de 60, com os trabalhos de Labov (p.48)
 que há dois requisitos para que as formas linguísticas sejam consideradas variantes de
uma mesma variável: (i) devem ter o mesmo significado e (ii) devem ser
intercambiáveis no mesmo contexto.

3.2 A variação interna


3.2.1 Variação lexical
 Os exemplos que costumam vir primeiro a mente dizem respeito ao vocabulário
(léxico), quase sempre associados a variação regional ou diatópica; (p. 52)
 Outras variações no nível lexical: Campo da alimentação: abobora, jerimum;
bergamota (ou vergamota), tangerina, laranja-cravo, mimosa; mandioca, aipim,
macaxeira;
 Outros campos: banheiro, toalete, w.c, coisa, troço, trem, estojo, penal
 os lexicais estão intimamente ligados a fatores extralinguísticos, de caráter
cultural, sobretudo etnográficos e históricos;

3.2.2 Variação fonológica


 Troca do fonema /l/ pelo /r/ nas palavras ‘filme’ e ‘Sílvio’, constituindo-se um
caso de variação fonológica. Esse fenômeno [...] se chama rotacismo; (p.53)
 Troca de <lh> por <i>. Fenômeno chamado de despalatalização, (<lh> passa
para <l>: palha > palia), seguida de iotacismo (evolução de um som para a vogal
/i/, ou para a semivogal correspondente: palia > paia; (p.54)
 Existe uma aproximação entre os pontos de articulação da palatal /./ e da
semivogal /y/, o que justifica linguisticamente essa variação;
 Ainda no âmbito da variação fonológica, encontramos: Síncope,
Monotongação, Alçamento das vogais médias, Epêntese vocálica,
Vocalização, Desnasalização, Palatalização e assimilação; (p. 55-56)

3.2.3 Variação morfofonológica, morfológica e morfossintática


 Morfema: unidade mínima significativa; (p. 58)
 Variação morfológica aquela alteração que ocorre num morfema da palavra;
 Cantano (por ‘cantando’), correno (por ‘correndo’), sorrino (por ‘sorrindo) [...],
esse morfema sofre uma redução para –no, com a queda do fonema /d/;
 Andá (por ‘andar’), supressão de –r, marca de infinitivo nos verbos. Trata-se,
pois, de um morfema verbal;
 Já em revolve (por ‘revólver’), por exemplo, a queda do –r é um fato apenas
fonológico, pois –r não é um morfema e sim parte do radical da palavra;
 tu anda (por tu ‘andas’) não-realização de –s é uma alternância morfêmica,
representa a segunda pessoa do discurso nos três verbos. Apenas o fonema
deixou de ser pronunciado. queda do–s é apenas fonológica. (p.59)
 variação parece atingir um morfema e depois um fonema ou um fonema e depois
um morfema. Quando está só no âmbito do fonema temos uma variação
fonológica.
 Quando vai para o âmbito do morfema temos uma variação morfofonológica,
uma vez que os morfemas que caem são também fonemas;
 Morfossintaxe- referência à segunda pessoa do singular em tu anda e a
referência à terceira pessoa do plural em eles anda é dada na relação que se
estabelece entre pronome e verbo.
 As menina bonita (por ‘As meninas bonitas’)? variação no campo da
morfossintaxe.
 Variação na concordância nominal e verbal mostram um mesmo
condicionamento linguístico: oposições mais salientes fonicamente entre
singular/plural, por serem mais perceptíveis, aumentam a probabilidade de
concordância nominal ou verbal; (p.60)
 Mais salientes como os anéis/os anel;
 Menos salientes como os meninos/os menino;
3.2.4 Variação sintática
 A variação na sintaxe, aqui no Brasil, tem sido estudada, em geral, com a adoção
de um outro quadro teórico [...] para explicar as hipóteses internas à língua: ou
de base gerativista ou de base funcionalista. (p.61)
 Variação sintática: Construções relativas, Preenchimento do sujeito anafórico,
Posição do clítico, Construções passivas versus índice de indeterminação do
sujeito; (p.62)
 Três construções ilustradas anteriormente estão em variação no PB e são
condicionadas principalmente por fatores extralinguísticos;
 Entrada de dois pronomes na língua: o você e o a gente [...] identificação da
pessoa do discurso se dá, nesses casos, pela presença do pronome-sujeito, já que
a desinência número-pessoal do verbo é zero; (p.63)
 Próclise (Eu o vi no cinema) é o padrão do PB, especialmente quando o sujeito
está anteposto ao verbo (seja ele nominal ou pronominal), e não a ênclise (Eu vi-
o no cinema;
 Mesmo em situações formais o padrão de uso mais frequente é o da não-
concordância entre verbo e sintagma nominal;
 É como se, com o tempo a ideia de que existe uma sentença passiva sintética no
português tivesse ficado obsoleta. (p.64)
 Alugam-se casas e Aluga-se casas (exemplificadas anteriormente), o sintagma
nominal casas não deve ser considerado o sujeito das sentenças e por isso não
precisaria concordar com o verbo. As duas sentenças são ativas, com sujeitos
indeterminados.

3.2.5 Variação e discurso


 Na função de encadear trechos discursivos, ou seja, desempenhando o papel de
conectores, tanto na fala como na escrita. (p.65)
 Itens e, aí, daí e então na função de ‘coordenação em relação de continuidade e
consonância’, estabelecendo uma relação coesiva entre uma informação
precedente e outra subsequente;
 Função/significação, eles são intercambiáveis [...] variantes que constituem uma
mesma variável linguística [...] se vistos isoladamente, dificilmente diríamos que
seriam variantes; (p.66)
 Seria feita a seguinte classificação e =conjunção coordenativa; aí, daí = advérbio
de lugar; então = advérbio de tempo. Isso mostra o quanto é importante se
considerar o contexto real de ocorrência dos dados que queremos analisar;
 Expressões de caráter discursivo como ‘mas bah!’, ‘pô, cara, aí...’, ‘orra meu!’,
‘pronto’, que são facilmente associadas a falantes gaúchos, cariocas, paulistas e
nordestinos, respectivamente, constituindo-se em variantes regionais. (p.68)

A dimensão externa da variação linguística


 essa classificação por tipos não quer dizer que eles ocorram separadamente, e
nem que sejam independentes da dimensão interna da variação. (p.71)
 Na dimensão externa da variação, estudamos os fatores extralinguística [...]
encontram-se fora da estrutura da língua;
4.1 Breve retrospectiva
 fatores extralinguísticos foram o alvo do estudo pioneiro de Labov, realizado na
ilha de Martha’s Vineyard, Massachusetts, em 1962;
 Labov foi, então, em busca de explicações para a variação fonética que
observou; (p.72)
 procurou dados dos ditongos /ay/ e /aw/ em diferentes situações: na fala casual,
através da observação da interação entre falantes na rua, em bares etc;
 na fala com acento emocional [...] fala cuidada [...] leitura- ler uma história em
voz alta;
 Labov controlou, também, a ocupação dos informantes;
 considerou, além dos fatores sociais, os seguintes fatores linguísticos: ambiente
fonético, fatores prosódicos, influência estilística, considerações lexicais; (p.73)
 centralização dos ditongos/ay/ e /aw/ estava atrelada à estratificação social dos
informantes, muito mais do que aos fatores linguísticos;
 fator ‘idade’- faixa etária que mais favoreceu a centralização dos ditongos /ay/
e /aw/ foi a dos 31 aos 45 anos;
 fator ‘etnia’, foram os descendentes de ingleses que se destacaram;
 prática da pesca, uma atividade tradicional, vinha decaindo e a atividade turística
crescendo, invadindo a ilha não só espacialmente como também culturalmente;
(p. 74)
 de um lado- preservar sua cultura e identidade, reagiram negativamente à
atividade turística. Do outro, aqueles que reagiram positivamente ou não se
importaram com as mudanças, buscando integração com a nova atividade
econômica e com as diferenças culturais trazidas por ela;
 contribuição desse estudo foi mostrar a grande influência que os fatores
condicionadores extralinguísticos podem ter sobre a língua;
4.2.1 Variação regional ou diatópica

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