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O homem na língua: o dialeto

como índice de subjetividade e


identidade cultural
Daniele dos Santos Lima*
Isabela Rêgo Barros**

Resumo Introdução
A teoria traçada neste trabalho gira
O sentido de uma palavra ou expres-
em torno do axioma enunciativo de
Benveniste (2005, 2006, 2014): enun- são linguística traz consigo aspectos
ciação é o colocar em funcionamento subjetivos, uma vez que o entendimento
a língua por um ato individual de reside no instante em que o locutor in-
utilização. Com base em uma pesqui- terage com o alocutor, ou seja, o sentido
sa qualitativa do tipo estudo de caso,
realizada em duas capitais nordesti-
de um enunciado está no contexto da
nas, Recife e Salvador, baseada nas ação comunicativa. Além disso, a marca
orientações de Cardoso (2010) e nos cultural do sujeito, o espaço, o tempo e a
estudos de Benveniste (2005, 2006), pessoa são os itens que definirão o sen-
identificamos nuances que permeiam
tido do item lexical usado pelo falante.
a fala de dois espaços próximos, mas,
ao mesmo tempo, com características O que dificulta o entendimento de
socioculturais distintas. Nosso obje- sentido de um item lexical é a pluralida-
tivo é revelar que a enunciação tem
valores semióticos e semânticos, que
marcam o sujeito no discurso, desta- *
Mestra em Ciências da Linguagem pela Unicap (2016).
cando o dialeto não apenas como traço Graduada em Letras. Professora da Rede Estadual de
linguístico de uma comunidade, mas Pernambuco e professora executora e tutora da Univer-
sidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). E-mail:
carregado de sentido para os usuários danlima02@hotmail.com
da língua, que, ao mesmo tempo, rea- **
Doutora em Letras pela Universidade Federal da Pa-
firma a sua identidade cultural. raíba (UFPB) (2011). Professora do Programa de Pós-
-Graduação em Ciências da Linguagem da Universidade
Católica de Pernambuco e do departamento de Letras
Palavras-chave: Enunciação. Forma. da mesma instituição. E-mail: ibelabarros@gmail.com
Identidade cultural. Sentido. Subje-
tividade.
Data de submissão: mar. 2017 – Data de aceite: mar. 2017
http://dx.doi.org/10.5335/rdes.v13i1.6799

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de de significados que as formas adqui- traço linguístico de uma comunidade,
rem no sintagma da língua no momento mas carregado de sentido para os usu-
da fala. Assim, um item lexical pode ários da língua e lugar de reafirmação
ter vários sentidos, a depender daquele da identidade cultural. Conforme Ben-
que fala, com quem ou para quem fala, veniste, “[...] a língua fornece o instru-
quando e como fala. Somado a isso, a mento linguístico que assegura o duplo
cultura em que o falante está inserido, funcionamento subjetivo e referencial
a naturalidade, a faixa etária, o grau do discurso” (2006, p. 101). Além disso,
de escolaridade e o gênero influenciam o autor explicita que a língua é uma
o significado de uma palavra, pois tais identidade diante das diversidades in-
fatores contribuem na constituição das dividuais. Segundo o linguista, a língua
marcas linguísticas do sujeito. não muda, o que pode mudar são os va-
Quando investigamos os dialetos de lores das designações das formas que se
duas comunidades distintas como Recife multiplicam ou substituem no discurso,
e Salvador, percebemos que os verbos, os na relação intersubjetiva.
sinônimos e as mudanças de classes das
palavras indicam as transposições de Aspectos semânticos e
sentido dos itens lexicais. Para Marques,
“[...] as palavras evocam, pela natureza
semióticos circunscritos
de seu significado, as condições sociocul- à enunciação
turais dos falantes” (2011, p. 65). Elas
relembram sua origem sociocultural. A enunciação, em seu sentido lin-
Torna-se mais fácil o entendimento do guístico, parte da dicotomia língua/fala
enunciado quando localizamos o indiví- discutida por Ferdinand de Saussure,
duo que fala e identificamos sua origem, ainda que não possa ser totalmente asso-
pois a sua procedência será ponto de ciada a ela. O princípio teórico do axioma
referência para que o outro o entenda. benvenistiano da Teoria da Enunciação
Dessa forma, a identidade cultural expõe é explicado pelo próprio Benveniste: “[...]
o sujeito que se encontra marcado na a enunciação é este colocar em funciona-
língua ao fazer referência a si e ao seu mento a língua por um ato individual de
povo ao utilizar, por exemplo, uma forma utilização” (2006, p. 82). Conforme o lin-
dialetal no seu discurso. guista, a relação do sujeito falante com a
Com base nesse pressuposto, par- língua mostra os caracteres linguísticos
timos da Teoria Enunciativa de Émile da enunciação. Para o autor, devemos
Benveniste e propomos discutir os valo- considerar a enunciação “como o fato do
res semânticos e semióticos da enuncia- locutor, que toma a língua por instru-
ção que marcam o sujeito no discurso, mento, e nos caracteres linguísticos que
destacando o dialeto não apenas como marcam esta relação” (BENVENISTE,
2006, p. 82). Flores (2013) afirma que o

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homem está na língua e estar na língua formal da entidade que chamamos de
é a enunciação. signo, e o sentido diz respeito às relações
Assim, a enunciação inclui no seu de oposições com os outros signos da lín-
escopo a língua e a fala, isto é, o ato que gua, pois, no semiótico, ser distintivo e
um sujeito realiza ao comunicar os seus significativo é a mesma coisa. Já o modo
pensamentos. semântico está relacionado à atividade
É a semantização da língua que está no do locutor e necessita a construção da re-
centro deste aspecto da enunciação, e ela ferência no sintagma da língua. Assim, a
conduz à teoria do signo e à análise da signi- semiótica constitui uma propriedade da
ficância (BENVENISTE, 2006, p. 83).
língua e a semântica, uma propriedade
Segundo Benveniste (2006), há dois do locutor.
modos de significação da língua. O modo Dessa maneira, podemos dizer que as
semiótico, que está organizado por rela- noções de forma e sentido, anteriormente
ções paradigmáticas e internas à língua, disjuntas (semiótico, para a forma dos
em que cada signo é significativo em signos e semântico, para o sentido das
relação à sua diferença com os demais e palavras na frase), emanam de um lo-
o modo semântico que está organizado cutor e são efetuadas em uma instância
por operações sintagmáticas no nível da de discurso, que atinge um ouvinte e
frase, através da colocação da língua em suscita uma enunciação de retorno. É
ação por um locutor. o sujeito que se encontra marcado na
O modo semiótico da língua está ligado ao língua ao fazer referência a si e ao seu
sistema de signos cuja significação se esta- povo ao utilizar uma forma dialetal no
belece intrassistema, mediante distinção.
seu discurso.
O modo semântico, por sua vez, está ligado
à atividade do locutor e implica construção Trois argumenta que esse englo-
de referência e agenciamento sintagmático bamento, proposto por Benveniste, do
(FLORES et al., 2009, p. 207). nível de significação é produzido pela
Para Benveniste, “dizer que a língua articulação semântica,
é feita de signos é dizer antes de tudo [...] onde o sentido é definido pela mensagem,
que o signo é a unidade semiótica” (2006, que é organizada pelas palavras que por sua
vez, são determinadas pelo contexto de situ-
p. 224, grifo do autor). Enquanto isso,
ação de discurso (TROIS, 2004, p. 36).
Trois informa que “o signo depende da
consideração semiótica da língua” (2004, O autor acrescenta que é isso que
p. 36), e explica ao leitor que o signo é possibilita o desenvolvimento teórico da
limitado pela significação, o conceito de categoria de pessoa e dos conceitos de
significação subordina o de signo. intersubjetividade e de enunciação.
De acordo com Benveniste (2005, O indivíduo faz uso das palavras, sem
2006), no semiótico, a forma diz respeito parar para pensar nelas, sem ter a cons-
ao significante, entendido como o aspecto ciência do seu ato, de sua enunciação. De
acordo com Benveniste (2005), ao tomar

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a língua, o homem apresenta-se como dições necessárias da enunciação” (2006,
“eu”, em sua individualidade, em oposi- p. 83-84). Assim, antes da enunciação, a
ção ao “tu”, estabelecendo uma relação língua emana de um locutor e é efetuada
intersubjetiva em meio à sociedade. em uma instância de discurso, que atinge
Caem assim as velhas antinomias do ‘eu’ e um ouvinte e suscita outra enunciação
do ‘outro’, do indivíduo e da sociedade. Dua- de retorno.
lidade que é ilegítimo e errôneo reduzir a um Mais adiante, Benveniste (2006) ex-
só termo original, que esse termo único seja
eu, que deveria estar instalado na própria plica que, a partir do momento que ele
consciência para abrir-se então à do ‘próxi- se declara locutor e assume a língua, au-
mo’, ou seja, ao contrário, a sociedade, que tomaticamente, insere o outro diante de
preexistiria como totalidade ao indivíduo e
da qual este só se teria destacado à medida
si, qualquer que seja o grau de presença
que adquirisse a consciência de si mesmo. que ele atribua a esse outro.
É uma realidade dialética que englobe os Ao enunciar, o indivíduo não pode
dois termos e os defina pela relação mútua
voltar a falar do mesmo jeito que acabou
que se descobre o fundamento linguístico da
subjetividade (BENVENISTE, 2005, p. 287). de proferir o enunciado, pois as funções
enunciativas são irrepetíveis. Na subje-
Através da relação de intersubjetivi-
tividade, o que vale é o tempo presente,
dade que ocorre na estrutura do diálogo,
pois o presente mostra a intenção do
percebemos a subjetividade do sujeito
sujeito falante: “o presente formal não
falante, ou seja, a subjetividade ocorre
faz se não explicitar o presente ineren-
quando o locutor se apresenta como
te à enunciação, que se renova a cada
sujeito:
produção de discurso” (BENVENISTE,
Uma dialética singular é a mola da subje- 2006, p. 86), ou seja, é na enunciação
tividade. A língua provê os falantes de um
mesmo sistema de referências pessoais
que o presente do próprio ser se delimita,
de que cada um se apropria pelo ato da por referência interna, entre o que vai
linguagem e que, em cada instância de seu se tornar presente e o que não o é mais.
emprego, assim que é assumido por seu
Logo, “cada enunciação é um ato que
enunciador, se torna único e sem igual, não
podendo realizar-se duas vezes da mesma serve o propósito direto de unir o ouvinte
maneira (BENVENISTE, 2006, p. 69). ao locutor por algum sentimento, social
O autor, nessa perspectiva, informa ou de outro tipo” (BENVENISTE, 2006,
que o locutor se apropria do aparelho for- p. 90), pois a linguagem, nessa função,
mal da língua e enuncia sua posição de age não como um instrumento de refle-
locutor por meio de índices específicos,1 xão, mas como um modo de ação.
de um lado, e por meio de procedimentos Dessa maneira, podemos verificar
acessórios,2 de outro. Benveniste escla- que a enunciação é um evento único,
rece que: “[...] o ato individual pelo qual que não se repete e que está repleto de
se utiliza a língua introduz em primeiro significados, isto é, a enunciação possui
lugar o locutor como parâmetro nas con- valores semióticos e semânticos. Para

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analisarmos o sentido semântico e se- constitui sujeito na linguagem e pela
miótico do enunciado, devemos levar em língua” (2013, p. 98, grifo do autor).
consideração o contexto da interação, do O contato com pessoas de outras loca-
diálogo, da enunciação. lidades em viagens de lazer, assim como
o acesso à escola e ao trabalho, contribui
Linguagem e identidade para que mudanças ocorram no sujeito.
A linguagem tem um papel importante,
cultural uma vez que confere ao indivíduo uma
Língua e cultura possuem símbolos identidade, fazendo com que seja possí-
específicos pelos quais cada sociedade se vel identificarmos a sua procedência (se
identifica e diverge entre si. No entanto, é recifense, soteropolitano, cearense, ala-
a linguagem é o elo que une o homem goano, etc.), o grupo ao qual o indivíduo
à língua e à cultura. Benveniste, nesse faz parte, ou seja, a classe social, a faixa
ínterim, define a linguagem da seguinte etária, o nível de escolaridade e o sexo.
forma: Destarte, a linguagem tem como
função reconhecer a pessoa como sujeito
A linguagem é para o homem um meio, na
verdade, o único meio de atingir o outro através de suas marcas linguísticas e
homem, de lhe transmitir e de receber enunciativas. De acordo com Benvenis-
dele uma mensagem. Consequentemente, te (2006), essa função da linguagem de
a linguagem exige e pressupõe o outro. A
constituir a pessoa como sujeito falante é
partir deste momento, a sociedade é dada
com a linguagem. Por sua vez, a sociedade o fator diferencial, visto que esse sujeito
só se sustenta pelo uso comum de signos de é marcado pela linguagem.
comunicação. A partir deste momento, a Os aspectos socioculturais e históri-
linguagem é dada com a sociedade. Assim,
cada uma destas duas entidades, linguagem cos influenciam a construção cultural
e sociedade, implica a outra (2006, p. 93). de uma determinada região, visto que
a língua utilizada por uma região espe-
Conforme Benveniste, “é na lingua-
cífica dá a ela características próprias,
gem e pela linguagem que o homem
facilitando a identificação do sujeito
se constitui como sujeito; porque só a
falante. De modo que a língua, por ser
linguagem fundamenta na realidade, na
social, possui aspectos socioculturais,
sua realidade que é a do ser, o conceito
pelos quais é influenciada.
de ego” (2005, p. 286). Flores faz algumas
A esse respeito, Preti, referente à lín-
discussões que derivam dessa passagem
gua falada, informa que ela representa
e explica que talvez não fosse absurdo
“uma das mais imediatas marcas de
considerar que: “quando Benveniste
identidade social [...] e a fala se incorpora
utiliza a construção pela linguagem,
à identidade das pessoas, trazendo-lhes
esteja pensando em língua. Nesse caso,
maior ou menor prestígio, no contexto
poder-se-ia concluir que o homem se
social em que se envolvem” (2003, p. 49).

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Isto é, a identidade de um indivíduo vai favorece as construções de visões de
depender do meio em que ele vive e com mundo, como defendido por Santana:
quais pessoas ele se relaciona. A intera- [...] quando essa identidade é linguistica-
ção social desse sujeito será, portanto, mente construída e determinada, e muitos
um aspecto importante na comunicação. grupos humanos compartilham do mesmo
grau de complexidade linguístico e conse-
O modo de falar representa a maneira quentemente identitário, em face da cultura
de pensar de cada grupo e as palavras que integram, se estabelece um novo cenário
utilizadas por esses grupos estão re- (SANTANA, 2012, p. 51).
lacionadas à realidade de cada região. Sendo assim, entendemos que a iden-
Sendo assim, a maneira de falar mostra tidade é algo construído no decorrer do
a cultura na qual aquele indivíduo está tempo, ou seja, “ela permanece sempre
inserido. Para Carvalho, a cultura é: incompleta, está sempre ‘em processo’,
transmitida pela língua, sendo também seu sempre ‘sendo formada’” (HALL, 2015,
resultado, o meio para operar e a condição p. 24). Dessa maneira, podemos deduzir
da subsistência dessa cultura. [...] as dife-
renças culturais [...] podem ser regionais e que a identidade cultural está relaciona-
até grupais (2014, p. 38-39). da ao sujeito que reside em determinada
região, neste estudo, em Salvador ou
A presença de índices carregados de
Recife, pois esse indivíduo está sempre
cultura na fala do indivíduo pode mos-
em processo de formação, interagindo
trar a sua origem.
com o meio em que vive para sobreviver e
Em outras palavras, o indivíduo pode agir,
formar laços que são fortalecidos através
atribuindo maior ênfase ao fato de ser
jovem, ou de ser feminino ou pertencer à da língua, com os seus descendentes.
classe média (PAIM, 2013, p. 93). Concernente à língua, Benveniste
Pertencer a um grupo social está (2006, p. 94) explica que ela é o espelho da
relacionado ao conhecimento que os in- sociedade, refletindo na estrutura social
divíduos têm das convenções locais, que suas particularidades e variações. O autor
servem para construir as identidades ainda afirma que a língua é uma identida-
através de exibições de atos. de em meio às diversidades individuais.
Consequentemente, podemos inferir que
Assim, a identidade social é concebida como
um significado social complexo que pode o sujeito é marcado na linguagem através
ser destilado do significado dos atos que a da língua e das expressões linguísticas
constitui (PAIM, 2013, p. 20). que usa, e isso inclui o dialeto:
Quando faz parte de uma determina- Tudo que dizemos tem um ‘antes’ e um ‘de-
da comunidade linguística, o indivíduo pois’ – uma margem’ na qual outras pessoas
podem escrever. O significado é inerente-
apresenta traços culturais daquele meio. mente instável: ele procura o fechamento
Dessa forma, a cultura parece ter um (a identidade), mas ele é constantemente
fator determinante na identidade desses perturbado (pela diferença). Ele está cons-
tantemente escapulindo de nós (HALL,
sujeitos falantes. A identidade cultural 2015, p. 26).

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Quando consideramos o princípio de e se constitui na relação com o outro e com
que é possível encontrar a identidade a língua, revelando, assim, a sua identida-
cultural nos traços linguísticos do falan- de cultural através da língua. Em termos
te, é porque verificamos que os traços teóricos, podemos dizer que a identidade
linguísticos formam a identidade, e que cultural pertence à esfera do discurso.
são esses mesmos traços que marcam o Desse modo, a função identitária
sujeito na linguagem. Por isso, propomo- mostra o discurso sobre a cultura e a
-nos a examinar as marcas do sujeito na identidade cultural do falante, ou seja,
língua, a partir dos verbos e das expres- “a ideia de identidade cultural revela
sões verbais dialetais, relacionando o um construto de práticas históricas e
sentido definido de verbos e expressões conjunção/dispersão de discursos sobre a
verbais como índice cultural. cultura e sobre a identidade” (FREITAS,
Benveniste (2006) afirma ser a enun- 2010, p. 322). É o sujeito que se encontra
ciação o ato individual de colocar a marcado na língua ao fazer referência a
língua em funcionamento. Esse aspecto si e ao seu povo ao utilizar uma forma
aproxima, em nossas discussões, a afir- dialetal no seu discurso.
mação do linguista à identidade cultural, Gandini (2007, p. 54), tratando da
pois o homem é um ser que vive em so- relação discurso e cultura, explica que
ciedade e, ao enunciar, pode utilizar-se nem sempre a expressão cultural dialoga
de marcas linguísticas características de de modo consensual, às vezes é também
sua região. Dessa forma, ao considerar conflituoso. Para o autor,
a possibilidade de o sujeito enunciar-se [...] a origem da referência cultural faz men-
ao se apropriar do dialeto e utilizá-lo, ção ‘a pelo menos três elementos históricos
percebemos a identidade cultural do que instituem a vida social: experiência/
sobrevivência, imitação e imaginação. Essas
sujeito falante, tendo em vista a relação três dimensões não se processam de modo
estabelecida entre a língua e o sujeito isolado, mas cruzam e dialogam, de forma
na enunciação. complementar ou mesmo contraditória’
(GANDINI, 2007, p. 54).
Benveniste menciona, ainda, que a
sociedade é dada com a linguagem. “As- Dessa maneira, a identidade cultural
sim, cada uma destas duas entidades, vai se firmando com suas características
linguagem e sociedade, implica a outra” próprias e definindo o povo. A identidade
(2006, p. 93). Um exemplo disso são cultural expõe o sujeito que se encontra
os sotaques, a variação linguística que marcado na língua ao fazer referência
marca o sujeito no discurso e indica a a si e ao seu povo quando utiliza uma
sua origem. forma dialetal no seu discurso. Ou seja,
Percebemos que o sujeito traz na sua é através das marcas enunciativas que
fala a identidade cultural. Por meio das é possível reconhecer a identidade do
marcas linguísticas, o sujeito se estabelece sujeito falante.

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Procedimentos relativas à classe gramatical dos verbos,
para trazer os verbos como indicadores
metodológicos e análise de subjetividade. Objetivamos, com isso,
investigar as possíveis diferenças de
A metodologia usada neste trabalho
sentido entre os verbos dos recifenses
foi baseada em uma pesquisa de campo
e dos soteropolitanos, demonstrando
do tipo estudo de caso, realizada nas
uma provável relação subjetiva estabe-
cidades de Recife e Salvador, na qual
lecida no uso dos verbos em cada região
discutimos a relação de sentido e as pos-
campo da pesquisa, pois os verbos, para
síveis marcas do sujeito encontradas no
Benveniste, estão relacionados “à dêixis:
discurso de indivíduos entrevistados em
formas disponíveis na língua cujo empre-
escolas, igrejas, shoppings, bibliotecas,
go remete à enunciação” (2005, p. 288).
feiras e estabelecimentos comerciais. O
Esclarecemos que a escolha do perfil
intuito era compor o perfil dos sujeitos,
e da faixa etária dos informantes segue
baseando-se nas orientações de Cardoso
as normas adotadas pelo ALIB, que, con-
(2010) para a construção do Atlas Lin-
forme Cardoso (2010), já estabeleceu que
guístico do Brasil (ALIB),5 fundamenta-
não há mudanças linguísticas significa-
das em um tripé básico: a rede de pontos
tivas na faixa etária entre 30 e 50 anos.
(a área a ser submetida à investigação
Nas entrevistas, utilizamos um ques-
dialetal), os informantes e os questioná-
tionário adaptado de acordo com a reali-
rios, que podem ser adaptados de acordo
dade de cada região investigada (Recife
com as diferentes perspectivas teóricas
e Salvador) referente aos verbos. Para
e os objetivos da pesquisa.
isso, também nos espelhamos no Ques-
Optamos por catalogar respostas com
tionário Morfossintático (QMS) do ALiB.
o registro de verbos proferidos em Sal-
Foram entrevistados quarenta in-
vador e em Recife por falantes de dois
formantes: vinte sujeitos entrevistados
grupos (grupo 1: recifenses e grupo 2: so-
em cada capital, distribuídos em duas
teropolitanos), com o intuito de verificar
faixas etárias: de 18 a 30 anos e de 50 a
a relação cultural e de sentido dos verbos
65 anos. Além da seleção da faixa etária,
nos sujeitos falantes entrevistados, uma
os entrevistados foram selecionados por
vez que o sujeito marca a forma que for
escolaridade, nas seguintes divisões: até
seu lugar na cultura ou no próprio dis-
o 5º ano ou curso superior completo
curso sobre a cultura (FREITAS, 2010).
Antes das entrevistas, todos os infor-
Seguindo a proposta do ALIB, utiliza-
mantes assinaram o termo de consenti-
mos o questionário com transcrição gra-
mento livre e esclarecido. Depois, foram
femática e direta, que foram efetuadas
preenchidas as fichas do informante con-
no ato da entrevista, na qual solicitamos
forme modelo do ALIB, disponibilizado
que os sujeitos respondessem questões
por Cardoso (2010).

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Em Recife, foram entrevistados dez te das mudanças na administração pú-
mulheres e dez homens, sendo nove blica brasileira voltadas para a educação
mulheres com ensino superior e uma nos últimos dez anos.
com até o 5º ano do ensino fundamental. Todos os informantes entrevistados
Dessas, seis mulheres na faixa etária de são nascidos nos dois pontos de inqué-
18 a 30 anos e quatro mulheres na faixa ritos e seus pais também são nativos,
etária de 50 a 65 anos. Foram entrevis- tendo saído poucas vezes da localidade.
tados dez homens com nível superior, Além disso, os sujeitos entrevistados
sendo que um homem pertence à faixa não apresentaram problemas articula-
etária de 50 a 65 anos e nove homens tórios (gagueira, falta de dentes, desvios
pertencem à faixa etária de 18 a 30 anos. fonéticos e fonológicos), que poderiam
Em Salvador, foram entrevistados dificultar a coleta dos dados.
quinze mulheres e cinco homens, sendo Vale ressaltar que, quando o pesqui-
sete mulheres com ensino superior e oito sador se detém a analisar o português
mulheres com até o 5º ano do ensino fun- falado em cada região do Brasil, pode ve-
damental, cinco mulheres na faixa etária rificar que o falante pode criar, durante
de 50 a 65 anos e dez na faixa etária de a conversa informal, novas maneiras de
18 a 30 anos. Referente aos homens, falar e de referir-se à determinada ques-
foram entrevistados três com ensino su- tão, provocando movimentos singulares
perior, sendo dois homens na faixa etária de transposição de sentido na linguagem.
de 18 a 30 anos e um homem na faixa O fato é que a linguagem confere ao ho-
etária de 50 a 65 anos; e dois homens com mem e à comunidade linguística da qual
até o 5º ano do ensino fundamental, com ele faz parte características peculiares
a faixa etária de 18 a 30 anos. de observar o mundo ao seu redor. Cada
Em cada ponto da pesquisa (Recife e comunidade linguística faz sua leitura de
Salvador), consideramos as dimensões: mundo, que é influenciada pelos aspectos
diagenérica (homens e mulheres), diage- socioculturais e históricos.
racional (18 a 30 anos e 50 a 65 anos) e Por isso, concordamos com Benvenis-
diastrática (até o 5º ano do ensino funda- te: “língua e sociedade não se concebem
mental e com curso superior completo). uma sem a outra” (2005, p. 31), ou seja,
Pela rigidez do critério definido pelo poderíamos deduzir que, ao mencionar
ALiB para a seleção dos indivíduos en- “língua e sociedade”, o autor aponta
trevistados, o quantitativo de homens e para cultura.
mulheres entrevistados não foi igual nas Para compreender melhor as nuances
duas cidades, haja vista, principalmente, que permeiam a fala dos dois pontos de
a dificuldade em encontrar pessoas que inquérito, as cidades de Salvador e Recife,
tenham cursado apenas até o 5º ano do que, embora próximas geograficamente,
ensino fundamental. Fato esse resultan- apresentam características sociocultu-

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rais distintas, apresentamos, a seguir, as marcas do sujeito ao utilizar os verbos
alguns dados que confirmam o sentido e dialetais face à variação dos itens lexicais.

Questão 1: Como se chama a ação do homem (ou mulher) que pega muitas mulheres (ou homens)?

Gráfico 1 – Designações para ‘nigrinhar/galinhar’

Fonte: elaboração das autoras.

As respostas para a questão 1 que os no uso dos verbos foi mais acentuada.
falantes forneceram foram variadas. Em Constatamos também que muitos não
Recife, encontramos: ‘galinhar’, ‘ligeiro’, sabem o que é um verbo, pois indicaram
‘pegador’, ‘puta’, ‘quengar’, ‘pegadora’, palavras que não pertencem a essa clas-
‘ficar’, ‘garanhão’, ‘prostituir’ e ‘pegar’. Em se gramatical, mas que indicam aquele
Salvador, percebemos também muitos dia- ato de ‘pegar muitas pessoas’. Para
letos para caracterizar a ação do homem Bernardino, ‘quengar’ significa “procurar
ou da mulher que pega muitas mulheres parceiro sexual” (2002, p. 162), para La-
ou homens: ‘pegador’, ‘pegadora’, ‘galinha’, riú (1991, 2013, não paginado) ‘piriguete’
‘periguetar’, ‘galinhar’, ‘piriguete’, ‘piri- significa “mulher fácil, que está a fim de
gueto’, ‘miserável’ e ‘mulherengo’. qualquer coisa; cerveja em lata pequena,
Verificamos que, dependendo da ida- à venda nos estádios e nas festas de rua”.
de, do gênero e da profissão, a variação Outra curiosidade observada foi a forma

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masculina dada para designar a palavra fazendo associação ao feminino ‘pros-
‘piriguete’, ou seja, o homem que pega tituta’, mas foi utilizado ‘pirigueto’.
muitas mulheres em Salvador também A palavra ‘piriguete’ é uma gíria, 3 e
pode ser chamado de ‘pirigueto’. também podemos considerá-la como um
Nas gramáticas normativas da língua neologismo, pois a lexia é utilizada pelas
portuguesa, os substantivos masculinos pessoas jovens e chama bastante atenção
terminados em e trocam o e por a, em das pessoas mais velhas, que acabam
sua versão feminina. Mas, no caso da inserindo-a em suas falas, o novo chama
única resposta proferida por uma en- atenção.
trevistada com nível superior, o dialeto Conforme Messias (2013), a lexia ‘pi-
‘piriguete’ assumiu a forma feminina, riguete’ surgiu nas favelas de Salvador e
enquanto a masculina acresceu o artigo a mesma é tida como uma gíria marginal.
masculino o, transformando-se em ‘pi- Segundo o autor, o item lexical ‘piriguete’
rigueto’. O sujeito, ao enunciar-se, cor- é um neologismo formado da junção das
rompeu a norma culta da língua, talvez palavras: ‘perigosa e girl’. De acordo com
influenciado por uma questão cultural: Messias, ‘perigosa’ transformou-se em
‘piriguete’ está relacionado à prostitui- ‘pirigosa’ e, para não ficar estranha a
ção, que, no Brasil, é considerada uma pronúncia, as pessoas passaram a utili-
profissão feminina. zar o guete, ficando ‘piriguete’.
Os falantes têm o hábito de designar a Ainda, se levarmos em consideração
pessoa que se prostitui como ‘prostituta’, que o item lexical ‘piriguete’ surgiu nas
mas não designam ‘prostituto’ para se favelas de Salvador, podemos inferir a
referir ao homem que se prostitui. Para criação da lexia pela junção de: perigo
nomear o homem que mantém relações + gueto, ou seja, uma composição por
sexuais em troca de dinheiro, o termo usa- aglutinação, pois o significado de ‘perigo’
do é ‘garoto de programa’. Assim, consta- pode ser uma gíria: “sem dinheiro, em
tamos que a forma ‘garoto de programa’ situação de risco ~ perigar” (HOUAISS;
é mais polida do que a forma prostituta. VILLAR, 2009, p. 387). Já a lexia ‘gueto’
O vocábulo ‘prostituta’ transforma a mu- significa: “bairro onde, por imposição
lher em objeto. De outro modo, o vocábulo econômica e/ou racial, são confinadas
‘garoto de programa’ torna mais suave certas minorias” (HOUAISS; VILLAR,
a expressão. A mulher vista como pro- 2009, p. 387).
fissional do sexo, conforme o Dicionário Além disso, verificamos que alguns
Houaiss, é a “mulher que ganha dinheiro indivíduos mais velhos analisam o item
para manter relações sexuais, meretriz” lexical novo antes de usá-lo, na tentativa
(HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 611). de encontrar um sentido que justifique
Destacamos que nenhum entrevis- seu uso. Esses sujeitos preferem usar
tado mencionou o vocábulo ‘prostituto’, o termo arcaico ‘prostituir’, conforme

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constatado na fala de VML, 55 anos, o sentido para a pesquisadora. Dessa
sexo feminino e com ensino superior, um forma, constatamos uma forma de tabu
termo polido em comparação ao léxico linguístico, aspecto bem discutido pela
‘piriguete’. semântica histórica. Para Guérios, “o
Os itens lexicais ‘pegador’ e ‘pegadora’ tabu linguístico é a proibição de dizer
também são considerados como neologis- qualquer expressão imoral ou grosseira”
mos e gírias. Além disso, no item lexical (1979, p. 5). O fato de o sujeito falante es-
‘pegador’, constatamos a enunciação do tar sendo entrevistado por uma mulher o
falante e uma transferência de significa- deixou ‘constrangido’ para denominar a
do, pois ‘pegador’ pode ser aquele objeto ação da mulher que pega muitos homens.
que usamos para pendurar a roupa no Aqui, verificamos a marca cultural do ho-
varal. Para Navarro (2013, p. 516), ‘pe- mem nordestino, recifense, poderíamos
gador’ significa armador. Contudo, define dizer ‘machista’, preocupado com o uso
‘armador’ como: de determinada palavra diante de uma
[...] armador de rede, pegador, pegadouro, mulher que estava entrevistando-o.
peça de madeira ou de ferro (gancho) em que Identificamos, também, as marcas
se prende, numa parede, por tal ou outra culturais e enunciativas do sujeito ao
superfície firme, o punho da rede de dormir
(2013, p. 68). usar a designação: ‘miserável’. Apesar de
essa palavra não ser um verbo, em Salva-
Nos dicionários de Houaiss e Villar dor, significa o homem que pega muitas
(2009), de Bernardino (2002) e de Lariú mulheres, ou seja, é um regionalismo.
(1991, 2013), não encontramos o signi- O dialeto ‘miserável’ é preferível para
ficado da palavra ‘pegador’. Também o baiano, pois, em Salvador, é comum
analisamos o modo feminino da forma as pessoas falarem ‘miserável, miséria’.
‘pegador’: a mulher que pega muitos No dicionário de Baianês (1991, 2013,
homens pode ser chamada de ‘pegadora’ não paginado), encontramos: ‘misera/
na cidade baiana. miserê’, “vocativo geral (‘Digaê misera!
Diferentemente das regras gramati- Fala, miserê!’)”; ‘miseravão’ “cara reta-
cais que foram aplicadas no caso ‘pire- do,4 alguém bom em alguma coisa, que
guete/pirigueto’, em ‘pegador’, identifica- resolve qualquer parada (Feminino; mi-
mos que houve uma derivação imprópria seravona)”. Provavelmente, para RWL,
do verbo ‘pegar’, que foi transformado 25 anos, o valor semântico do item lexical
em um substantivo. Outro fato a ser ‘miserável’ é: o cara retado que pega
observado é a resposta dada por um re- muitas mulheres, ou seja, significa ser
cifense, RAFS, 27 anos, sexo masculino homem bom de papo, sedutor.
e com ensino superior, que considerou o As derivações de ‘galinhar e gara-
homem como ‘pegador’ e não informou o nhão’ vêm da palavra ‘galinha’. Em Hou-
significado para a mulher, pois disse que aiss e Villar, ‘galinha’ é: “fêmea do galo,
a palavra é chula e não poderia informar

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que(m) varia de parceiros amorosos com O item lexical ‘quengada’, conforme
frequência” (2009, p. 369). Já ‘garanhão’ Castro (2005), refere-se ao grupo de pros-
é definido como: “(cavalo) destinado à re- titutas, estruturando-se por: quenga + o
produção; (homem) mulherengo” (2009, sufixo –ada. Através da etimologia e da
p. 370). Podemos relacionar o sentido aplicação histórica, podemos compreen-
usado da palavra ‘garanhão’ como ín- der o uso do termo. Segundo Mendonça:
dice de identificação cultural, pois esse Língua e raça formam dois elementos que
vocábulo caracteriza o homem: ‘ligeiro, têm evolução paralela a ponto de serem
miserável, pegador’, e foi usado por vá- muitas vezes confundidos. Como o negro
fundiu com o português e do consórcio re-
rios sujeitos falantes para caracterizar sultou o mestiço, pareceria lógico que este
o ‘homem mulherengo’. mestiço falasse um dialeto crioulo. [...] O
A resposta dada pela informante negro influenciou sensivelmente a nossa
língua popular. Um contato prolongado de
recifense NR, 24 anos, chama a ação duas línguas sempre produz em ambas fe-
de ‘pegar’ muitos homens de: ‘quengar’. nômenos de osmose. Ao lado da contribuição
Esse item lexical pode ser considerado genérica e imprecisa que deu o africano para
o alongamento das pretônicas e a elocução
em desuso, pois só é falado por pessoas
clara e arrastada, deixou sinais bem seus
mais velhas. Isso talvez justifique o fato nos dialetos (1973, p. 60-61).
de essa jovem ter contato com pessoas da
Um aspecto que deve ser destacado é
tipificação etária de mais idade, que uti-
que o item lexical ‘nigrinhar’ não foi men-
lizam esse item lexical. No dicionário de
cionado pelos soteropolitanos. Podemos
pernambuquês, ‘quengar’ significa “bus-
afirmar que essa lexia está em processo
car parceiro sexual” (2002, p. 162). No
de mudança em Salvador e que, pela
dicionário de baianês (1991, 2013, não
força do intercurso mencionada por Saus-
paginado), ‘quengar’ tem três formas de
sure ([1916] 2006), perdeu o seu espaço
utilização: “mulher feia; caso de alguém,
para o dialeto ‘piriguete’. Para Castro,
‘puta’”. Já no dicionário do Nordeste,
‘nigrinha’ significa: “mulher desvergo-
‘quenga’ é “prostituta da zona do porto,
nhada, sirigaita, alguém de baixo nível,
‘fubana’, ‘penica’, do baixo meretrício”
de mau comportamento. Ver nigrinha-
(2013, p. 555).
gem. Cf. Port. negrinha” (2005, p. 297).
De acordo com Castro (2005), a pala-
A linguista explica que ‘nigrinhagem’ é
vra ‘quenga’ tem origem na Bahia, sig-
uma palavra da Bahia que representa
nificando: guisado de galinha e quiabo,
“safadeza, atitude de nigrinha”.
mas também é um verbete da linguagem
Preti, referente à língua falada, infor-
popular regional brasileira, que pode
ma que essa representa:
significar: “cuia, vasilha feita da metade
da casca do coco; o conteúdo da vasilha” [..] uma das mais imediatas marcas de iden-
tidade social [...] a fala se incorpora à iden-
(2005, p. 320). tidade das pessoas, trazendo-lhes maior ou
menor prestígio, no contexto social em que
se envolvem (2003, p. 49).

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Isto é, a identidade de um indivíduo Forma e sentido estão profundamente
vai depender do meio em que ele vive e ligados. Um não anda sem o outro, mas
com quais pessoas ele se relaciona, a in- essa ligação não pode ser inteiramente
teração social do sujeito será um aspecto contingente. Se nos preocuparmos em
importante na hora da comunicação. descrever atentamente as formas, des-
O modo de falar representa a maneira cobrimos que é o sentido que dá a razão
de pensar de cada grupo e as palavras de suas diferenças, até mesmo de suas
utilizadas por esses grupos estão relacio- anomalias. Os sujeitos entrevistados
nadas à realidade de cada região. Sendo posicionaram-se de diferentes maneiras,
assim, a maneira de falar mostra a cultu- ratificando a visão enunciativa de que o
ra na qual o indivíduo está inserido. Para sentido pode ser semântico e semiótico.
Carvalho, a cultura é: “transmitida pela De acordo com as análises das res-
língua, sendo também seu resultado, o postas dos informantes recifenses e
meio para operar e a condição da subsis- soteropolitanos, percebemos índices
tência dessa cultura. [...] as diferenças enunciativos dos sujeitos no sentido
culturais [...] podem ser regionais e até dado aos signos dialetais. Para que um
grupais” (2014, p. 38-39). signo exista, é necessário que ele seja
A presença de índices carregados de aceito e que se relacione, de uma ma-
cultura na fala do indivíduo mostra a sua neira ou de outra, com os demais signos.
origem. Além disso, a intenção comuni- Segundo Benveniste (2006), significar
cativa dependerá de aspectos relativos é ter sentido, nada mais. É no uso da
à faixa etária, à classe social, ao sexo e língua que um signo tem existência; o
à profissão do indivíduo. A marca cultu- que não é usado não é signo; fora do
ral do sujeito falante, o espaço, o tempo uso, o signo não existe. A depender de
e a pessoa são os itens que irão definir quem seja o sujeito falante, o signifi-
o sentido do item lexical usado em um cado será visto no ato da enunciação.
determinado contexto enunciativo. De Para Cruz, Menezes e Pinto, “as mani-
acordo com Cançado: festações culturais são representativas
O sentido é o modo no qual a referência é da voz social” (2008, p. 4). Em Recife e
apresentada, ou seja, o modo como uma ex- Salvador, é perceptível que as manifes-
pressão linguística nos apresenta a entidade tações culturais mostram as interações
que ela nomeia [...] o sentido tem relação
direta com o conceito que temos sobre as ex- e oposições no tempo e no espaço. Essa
pressões linguísticas, podemos acrescentar, força identitária valoriza e fortalece os
ainda, que o sentido refere-se ao sistema de dialetos de cada localidade.
relações linguísticas que um item lexical
contrai com outros itens lexicais, ou que o
sentido de uma expressão é o lugar dessa
expressão em um sistema de relações se-
mânticas com outras expressões da língua
(2005, p. 83).

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Questão 2: Como se chama a ação de pedir desconto sempre que vai comprar algo à vista ou que
já esteja com desconto?
Gráfico 2 – Designações para ‘pechinchar’

Fonte: elaboração das autoras.

Os itens lexicais apontados pelos são ou intensidade menor; reduzir o mé-


recifenses para a questão 2 foram: nego- rito, (valor)” (2009, p. 251). E ‘chorar’ é:
ciar, pechinchar, pirangueirar, diminuir, “derramar lágrimas, servir choro, dose;
chorar. Em Salvador, as respostas foram: queixar-se de, geralmente com lágrimas,
chorar, pechinchar, barganhar, pedir um lastimar; pedir redução de preço (de);
abatimento. pechinchar” (2009, p. 156).
De acordo com Houaiss e Villar, o Na visão dos entrevistados, parece
termo ‘pechinchar’ significa: “pedir re- que ‘pechinchar, barganhar, negociar,
dução do (de) preço; barganhar” (2009, diminuir e chorar’ são sinônimos. Mas é
p. 565), e ‘barganhar’ é: “pedir redução conveniente analisar o duplo sentido da
do (de) preço; pechinchar” (2009, p. 90). palavra ‘chorar’, pois, além de ser usada
Já o vocábulo ‘negociar’ é: “fazer transa- como ‘pechinchar’, pode significar ‘derra-
ção comercial de (mercadoria e serviço) mar lágrimas, servir choro’. O sentido de
[com pessoa, empresa]; comerciar” (2009, ‘chorar’ só vai ser constatado quando o
p. 525). A palavra ‘diminuir’ representa: sujeito apropriar-se da língua e expor a
“reduzir(-se) a uma quantidade, dimen- sua enunciação. Isso vai depender de seu

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conhecimento de mundo e da cultura na char’, seguido de ‘chorar’ e da derivação
qual ele está inserido. Segundo Benve- ‘chorando’. Como foi mencionado ante-
niste, “[...] a cultura define-se como um riormente, só entenderemos o sentido de
conjunto muito complexo de represen- ‘chorar’ quando o sujeito apropriar-se da
tações, organizadas por um código de língua. É perceptível a derivação sufixal
relações de valores: tradições, [...] Pela (–ando) da forma do verbo no gerúndio
língua o homem assimila a cultura, a da palavra ‘chorar’. A expressão ‘pedir
perpetua ou a transforma” (2005, p. 32). um abatimento’ é um sinônimo de pedir
Com os verbos citados, podemos exa- um desconto, uma redução de valor.
minar as marcas do sujeito na língua. O
verbo, segundo Azeredo, “é a espécie de Considerações finais
palavra que ocorre nos enunciados sob
distintas formas (vocábulos morfossintá- Na perspectiva enunciativa de Benve-
ticos) para a expressão das categorias de niste, investigamos os sentidos semân-
tempo, aspecto, modo, número e pessoa” tico e semiótico dos verbos nos dialetos
(2008, p. 180). Além disso, em todas as soteropolitano e recifense. Essa relação
suas categorias (aspecto, tempo, pessoa, foi possível, pois entendemos que a for-
gênero), o verbo apresenta um modo de ma dialetal traz um sentido para aquele
significação subjetivo ou um modo de que fala. A noção de sentido, na teoria
significação objetivo, sendo parte de um enunciativa de Benveniste, não pode
discurso contendo eu ou contendo ele, ser entendida sem que seja relacionada
respectivamente. Além da categoria de à noção de forma, pois, segundo o autor,
pessoa, as categorias de tempo e espaço há na língua, duas maneiras de ser lín-
partilham do mesmo status linguístico e gua: no sentido e na forma, sendo essa
figuram como pertencentes ao discurso. a capacidade que tem o sistema de se
‘Pirangueirar’ é uma derivação sufi- dividir nas unidades da frase e aquele a
xal, pois ocorreu um acréscimo do sufixo capacidade das unidades de se integrar
–‘ueirar’ à palavra ‘pirangar’, que só é re- na frase.
conhecida pelo dicionário de pernambu- Através dos verbos, examinamos as
quês. Bernardino explica que ‘pirangar’ marcas do sujeito na língua. Consta-
significa: “mendigar, pedir emprestado; tamos que o verbo, em todas as suas
pedir desconto” (2002, p. 154). O item categorias (aspecto, tempo, pessoa, gêne-
lexical ‘pirangar’ é marca dialetal recifen- ro), apresenta um modo de significação
se, uma vez que nenhum soteropolitano subjetivo ou um modo de significação
mencionou essa forma para se referir à objetivo, quando faz parte de um discur-
ação da pessoa que pede desconto. so contendo eu ou contendo ele, respecti-
De outro modo, em Salvador, foi detec- vamente. Ou seja, além da categoria de
tada a predominância do verbo ‘pechin- pessoa, as categorias de tempo e espaço

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partilham do mesmo status linguístico e que a língua descreve, conceitua e inter-
figuram como pertencentes ao discurso. preta a experiência de uma sociedade,
Verificamos o sentido da língua, isso assegura o seu caráter subjetivo e
considerando a forma dialetal e a iden- referencial na enunciação.
tidade cultural, pois o sujeito revela-se Após a análise dos resultados, com-
e revela a sua identidade através da provamos que as formas dialetais re-
língua. Como percebemos, o sentido de gistradas pelos informantes de Recife e
um enunciado se estabelece em uma Salvador são dotadas de sentido, o que
relação subjetiva entre os interlocutores nos permite concluir que as relações de
dentro do contexto da ação comunicati- sentido perpassam por quem faz uso da
va. A marca cultural do sujeito falante, linguagem e que a relação do sujeito
somada aos aspectos dêiticos tratados com a língua é refletida pela questão
por Benveniste (2005, 2006), o espaço, da identidade do povo. A enunciação,
o tempo e a pessoa são os itens que entendida como a colocação da língua em
definem o sentido do item lexical usado funcionamento por um ato individual de
pelo sujeito em um determinado contexto utilização, possibilita que identifiquemos
enunciativo. o dialeto como marca enunciativa do
Quando consideramos esse princípio, sujeito falante.
encontramos a identidade cultural nos
traços linguísticos do falante. Os traços The man in the language: the
linguísticos formam a identidade e mar- dialect as an index
cam o sujeito na linguagem. A sociedade of subjectivity and
é suscetível ao modo como o sujeito se
cultural identity
estabelece e se constitui na relação com
o outro e com a língua. Dessa maneira, Abstract
em nossas discussões, constatamos que
The theory drawn in this work revol-
o sujeito (re)afirma sua identidade cul-
ves around the enunciative axiom of
tural através da língua em uso. Quando Benveniste (2005, 2006, 2014): enun-
nos referimos aos sujeitos falantes de ciation is to put the language into
duas regiões distintas como Recife e Sal- operation by an individual act of use.
Based on a qualitative study of the
vador, percebemos que o dialeto marca o
case study, conducted in two Northe-
sujeito e assume o sentido de formador astern capitals, Recife and Salvador,
de identidade. based on the guidelines of Cardoso
Entretanto, o que dificulta o entendi- (2010) and the studies of Benvenis-
mento de sentido de um item lexical é a te (2005, 2006), we identified sig-
nals that permeate the speech of two
pluralidade de significado que as formas spaces but with different social and
adquirem no sintagma da língua no mo- cultural characteristics at the same
mento da fala. Além disso, verificamos time. Our aim is to reveal that the
enunciation has semiotic and seman-

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tic values, which mark the subject in ______. Problemas de linguística geral II.
the discourse, highlighting the dia- Trad. Eduardo Guimarães et al. 2. ed. Cam-
lect not only as a linguistic trait of a pinas: Pontes, 2006.
community but loaded with meaning ______. Últimas aulas no Collège de France.
for the users of the language, which Trad. Daniel Costa da Silva et al. São Paulo:
at the same time reaffirms its iden- Editora Unesp, 2014.
tity cultural.
BERNARDINO, Bertrando. Minidicionário
Keywords: Enunciation. Form. Cultu- de pernambuquês. 3. ed. Recife: Bagaço,
ral identity. Sense. Subjectivity. 2002.
CANÇADO, Márcia. Manual de semântica:
Notas noções básicas e exercícios. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2005.
1
Segundo Flores, índices específicos são: “recur- CARDOSO, Suzana Alice. Geolinguística:
sos linguísticos, previstos no aparelho formal tradição e modernidade. São Paulo: Pará-
da língua, cuja função é colocar o locutor em bola, 2010.
relação constante e necessária com sua enun-
ciação e que permitem ao locutor enunciar a sua CARVALHO, Nelly. O texto publicitário na
posição de locutor. São as categorias de pessoa, sala de aula. São Paulo: Contexto, 2014.
tempo e espaço” (2013, p. 177).
2
Para Flores, procedimentos acessórios são: ______. Princípios básicos de lexicologia.
“recursos linguísticos, previstos no aparelho 2. ed. Recife: Editora Universitária da UFPE,
formal da língua, cuja função é colocar o locutor 2011.
em relação constante e necessária com a enun-
ciação. São todos os mecanismos linguísticos
CASTRO, Yeda Pessoa de. Falares africanos
que, embora não específicos, servem para o na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro.
locutor enunciar a sua posição” (2013, p. 177). 2. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2005.
3
Segundo Carvalho, a gíria é um neologismo e, CRUZ, Mércia Socorro Ribeiro; MENEZES,
em suas palavras, “para designar neologismos
Juliana Santos; PINTO, Odilon. Festas cul-
populares, a palavra mais abrangente é gíria”
(2011, p. 51). turais: tradição, comidas e celebrações. In:
4
O soteropolitano fala retado e o recifense fala EBECULT– FACOM/UFBA, 1, 2008. Anais...
arretado, no sentido de coisa boa. Ex.: A casa é Salvador, BA: Editora da UFBA 2008. p. 1-36.
retada.
FLORES, Valdir do Nascimento et al. Di-
5
ALIB. Disponível em: <http://twiki.ufba.br/
twiki/bin/view/Alib/WebHome>. Acesso em: 24 cionário de linguística de enunciação. São
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FLORES, Valdir do Nascimento. Introdução
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