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EXPRESSÃO
Introdução
Neste capítulo, você estudará o que é subjetividade no texto, com que
outros conceitos ela se relaciona, quais são as suas características. Ao se
falar em subjetividade, não se trata de “tudo é válido”, mas da forma como
o locutor se projeta em seu enunciado, expressando seu ponto de vista
sobre algo, seja por meio de expressões como “eu gosto de”, “eu acho”,
“eu concordo com”, seja por meio de argumentos.
Na primeira seção, são discutidas as noções sobre discurso, diálogo,
enunciação e intencionalidade. A seguir, são demonstrados alguns mo-
dos de se marcar e identificar a subjetividade. Por fim, verifica-se qual a
relação e a importância desta para a produção e a compreensão textual.
Discurso
A comunicação é um fenômeno heterogêneo envolvendo elementos de na-
tureza variada, tais como situação, intenção, conhecimento de mundo, meio,
conhecimento linguístico, entre tantos outros. Ela, em sentido amplo, envolve
qualquer forma de troca de informações, desde a comunicação entre máquinas
até a comunicação humana. Esta pode ser comunicação não verbal (i.e., por
meio de imagens, de sons, do corpo) ou verbal (i.e., por meio de palavras).
2 Elaboração de respostas subjetivas
Diálogo
Como todo e qualquer discurso é destinado a alguém, ele pode integrar um
diálogo, isto é, uma troca comunicativa. De acordo com Walton (2008, p.
4), [...] um diálogo é sequência de mensagens ou atos de fala entre dois (ou
mais) participantes”. Entendido dessa forma, será considerado diálogo não
apenas aquele realizado face a face em tempo real (acepção tradicional), mas
também aquele que ocorre por intermédio de outros meios (por exemplo,
cartas, mensagens de textos, mensagens de voz, áudios, etc.), em tempo real
ou com diferença temporal.
Ligada à noção de diálogo, há a enunciação. “A enunciação é vista como
um processo, um ato pelo qual o locutor mobiliza a língua por sua própria
conta” (BARBISAN, 2006, p. 28). Ao fazer isso, ele se introduz, enquanto
aquele que fala (locutor), na sua fala, isto é, no enunciado (produto desse ato).
Ainda de acordo com essa autora, as características linguísticas do enunciado
serão estabelecidas pelas relações entre língua e locutor. Também é por meio
desse processo que ele [...] enuncia sua posição com marcas linguísticas”
(BARBISAN, 2006, p. 28), implantando o outro (alocutário, interlocutor).
Em cada enunciado, como centro de referência interna, “[...] emergem marcas
de pessoa (relação eu-tu), de ostensão, de espaço e de tempo, em que eu é o
centro da enunciação” (BARBISAN, 2006, p. 28), assim como o ele, a não-
-pessoa, aquilo ou aquele sobre o que/quem se fala.
Essas noções também estão presentes na escrita, seja pela enunciação, seja
pelo estabelecimento de diálogo por meio dela, seja pelo discurso. Quando se
Elaboração de respostas subjetivas 3
Intencionalidade discursiva
Toda produção oral ou textual tem uma intencionalidade por trás, que pode
ser, por exemplo, de divulgar, informar a convencer, comover. Devido a isso,
a imparcialidade é impossível, assim como a objetividade e a neutralidade,
“pois a linguagem é sempre carregada dos pontos de vista, da ideologia, das
crenças de quem produz o texto” (FIORIN, 2015, p. 45). A parcialidade é uma
questão de gradação, do declaradamente parcial ao de efeito praticamente
nulo, isto é, aquele cuja parcialidade não é percebida facilmente. Esse é caso,
por exemplo, de artigos científicos, em que, em uma situação ideal, a subje-
tividade será percebida na ordem como uma frase é estruturada, no uso de
modalizadores, etc.; elementos que permitirão ao leitor perceber para quais
informações se quis chamar mais atenção. Já nos declaradamente parciais, não
só a opinião será expressa, como também emoções e sentimentos por meio
de palavras que os expressem, como “amar/amor”, “odiar/ódio”, expressões
pejorativas, entre outros.
De acordo com Koch (2015, p. 51, grifo nosso), “[...] a intencionalidade
refere-se aos diversos modos como os sujeitos usam os textos para conseguir
realizar suas intenções comunicativas, mobilizando, para tanto, os recursos
adequados à concretização dos objetivos visados”. De modo mais restrito,
pode ser entendida como o desejo (intenção) do locutor de se manifestar lin-
guisticamente de modo coeso e coerente ou não para provocar certos efeitos
sobre a audiência.
4 Elaboração de respostas subjetivas
Essa intenção está presente nos atos de fala, isto é, ações que são reali-
zadas por meio das palavras (AUSTIN, 1975; SEARLE, 1976), tais como
dar uma ordem, fazer um pedido, expressar emoções. Ela estará presente
no que o locutor expressa ou deixa a entender, assim como no efeito que
quer causar no outro. Veja o quadro “Exemplos”, a seguir, para maior
compreensão.
Marcas de subjetividade
Subjetividade é a forma como um sujeito experiencia algo. Quando se fala em
texto (oral ou escrito), é a forma como o locutor transparece sua atitude, sua
opinião sobre algo. Ela pode ser expressa de modos mais ou menos diretos,
mais ou menos passionais. Para Bakhtin, “[...] a subjetividade é constituída
pelo conjunto de relações sociais de que participa o sujeito” (FIORIN, 2016,
p. 60), o que implica que, ao mesmo tempo que o locutor se constitui discur-
sivamente, ele apreende [...] as vozes sociais que compõem a realidade em que
está imerso, e, ao mesmo tempo, suas inter-relações dialógicas”.
6 Elaboração de respostas subjetivas
Texto 1
Texto 2
Nessa crítica, foram destacados alguns trechos que deixam clara a opinião
da expectadora sobre o filme. Entre estes, estão alguns exemplos de indicadores
de atitude e opinião. A sua atitude com relação ao filme é positiva, isto é,
aberta ao que o filme se propõe. É diferente do que seria uma crítica feita por
alguém, por exemplo, homofóbico (que tenderia a ver como algo negativo). Os
trechos destacam sua opinião sobre o filme, uma vez que enfoca sua recepção
e visão sobre a obra. Observe que a autora da crítica não fez uso de primeira
pessoa gramatical (eu e nós) e ainda se percebe que é a avaliação dela sobre
o filme. Isso porque, para se indicar subjetividade, não é necessário usar eu
ou nós, inclusive é possível escrever artigos científicos e acadêmicos usando
essas pessoas gramaticais sem torná-los subjetivos.
O papel da subjetividade
A subjetividade permite, do ponto de vista do locutor, expressar sua opinião, sua
perspectiva sobre algo; ao passo que, do ponto de vista do interlocutor, possibilita
a identificação e a compreensão destes, sem, no entanto, significar concordância.
Ela estará presente em diferentes tipos de produção textual, inclusive em
respostas. Uma resposta subjetiva, por exemplo, se diferencia de uma objetiva.
Respostas objetivas trazem informações pontuais ou factuais. Assim, ao citar
uma lei (ou artigo desta, como no texto completo do exemplo) ou responder que
horas são, quem é o presidente, quantos continentes há, se está fazendo uso de
informações factuais e pontuais. Entretanto, ao se atribuir uma interpretação
ou avaliação (que não quantitativa) a estas, passa-se para o âmbito subjetivo.
Elaboração de respostas subjetivas 9
Texto 3
O parágrafo acima não traz exemplos, mas apresenta introdução (em azul),
desenvolvimento (em vermelho e verde) e conclusão (em amarelo). Lembre-se
de que os passos dados para elaborar são dicas, mas não a única forma de
organizar um parágrafo.
É comum em avaliações com questões dissertativas (aquelas em que se deve
escrever um texto) que se peça a resposta em um único parágrafo. Também
é comum que você tenha de expor seu ponto de vista sobre o assunto. Por
ser subjetiva, há também um risco maior para não se apresentar argumentos,
evidências que sejam válidas e sustentem sua tese. Outro risco, e este para
qualquer questão ou atividade pedida, é a má interpretação. Para poder elaborar
uma boa resposta, é preciso primeiro entender o que está sendo pedido e, para
tal, é fundamental ler atentamente. No Quadro 2 são apresentados alguns
verbos, o que deve ser feito e exemplos.
https://bit.ly/2zbxhAS
(Continua)
12 Elaboração de respostas subjetivas
(Continuação)
(Questão 3 de componente
específico da prova do ENADE
do curso de Arquitetura e
urbanismo)
Leia a questão completa em:
https://bit.ly/2zbxhAS
https://bit.ly/2K8TxQ8
Veja ferramentas para ajudar na produção textual (por exemplo, arquivo em nuvem,
transcrição de áudio, preparação de slides, site para pesquisa acadêmica, referência
on-line, busca de plágio) no link:
https://glo.bo/2RVbrbx
https://bit.ly/2Q06n8y
https://bit.ly/2FrUowt
https://bit.ly/2K7ecnz
https://bit.ly/2PYqeoF
https://bit.ly/2BaSnAR
6. Cuidado com expressões como “eu acho”, “na minha opinião”, “eu acredito”, “do
meu ponto de vista”. Expressões desse tipo podem enfraquecer seu argumento,
pois elas funcionam como modalizadores que diminuem a força do que é dito.
Além disso, se é resposta subjetiva, só pode ser sua opinião, do que contrário há
de se dizer de quem é.
7. Dê preferência para palavras e estruturas frasais simples e com as quais esteja
familiarizado. Usar palavras e estruturas que você desconhece pode levar ao uso
inadequado e/ou soar artificial, piegas.
8. Dê preferência para estruturas frasais não muito longas e de ordem não marcada
(sujeito, verbo, complemento verbal, adjunto adverbial).
9. Atenção ao tom emocional. Na medida certa, pode ser um recurso positivo, mas
facilmente pode enfraquecer seu ponto de vista.
10. Revise a resposta antes da entrega. Tenha certeza de que abordou o que foi pedido,
de que abordou o que deseja e precisa para defender seu ponto de vista, de que
sua resposta tem uma frase tópico e um encerramento.
AUSTIN, J. L. How to do things with words. 2. ed. Cambridge: Harvard University, 1975.
BARBISAN, L. O conceito de enunciação em Benveniste e Ducrot. Letras, n. 33, p. 23-
35, 2006. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/letras/article/view/11921/7342>.
Acesso em: 13 dez. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. ENADE 2017: Arquitetura e urbanismo. SINAES, 2017a.
Disponível em: <https://bit.ly/2zbxhAS>. Acesso em: 13 dez. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. ENADE 2017: Ciências biológicas. SINAES, 2017b. Dis-
ponível em: <https://bit.ly/2K8TxQ8>. Acesso em: 13 dez. 2018.
FIORIN, J. L. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2015.
FIORIN, J. L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
FIORIN, J. L. Modalização: da língua ao discurso. ALFA: Revista de Linguística, v. 44, p.
171-192, 2000. Disponível em: <https://bit.ly/2Qey7Dg>. Acesso em: 13 dez. 2018.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.
KOCH, I. V. A inter-ação pela linguagem. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
KOCH, I. V. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. 2. ed. São Paulo:
Contexto, 2015.
KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.
16 Elaboração de respostas subjetivas
Leituras recomendadas
FIORIN, J. L. Semiótica e retórica. Gragoatá, v. 12, n. 23, p. 9-26, 2007.
FIORIN, J. L. As figuras de pensamento: estratégia do enunciador para persuadir o
enunciatário. ALFA: Revista de Linguística, v. 32, 1988.
KOCH, I. G. V. Lingüística Textual: retrospecto e perspectivas. ALFA: Revista de Linguística,
v. 41, 1997.
THE WRITING CENTER. Tip and tools - Paragraphs. University of North Carolina at Chapel
Hill. 2018. Disponível em: <https://writingcenter.unc.edu/tips-and-tools/paragraphs/>.
Acesso em: 13 dez. 2018.
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