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COMUNICAÇÃO E

EXPRESSÃO

Daisy Batista Pail


Elaboração de
respostas subjetivas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a natureza intencional e dialógica dos discursos.


 Reconhecer as marcas de subjetividade inseridas no discurso.
 Avaliar a importância da subjetividade para a compreensão e a pro-
dução de textos.

Introdução
Neste capítulo, você estudará o que é subjetividade no texto, com que
outros conceitos ela se relaciona, quais são as suas características. Ao se
falar em subjetividade, não se trata de “tudo é válido”, mas da forma como
o locutor se projeta em seu enunciado, expressando seu ponto de vista
sobre algo, seja por meio de expressões como “eu gosto de”, “eu acho”,
“eu concordo com”, seja por meio de argumentos.
Na primeira seção, são discutidas as noções sobre discurso, diálogo,
enunciação e intencionalidade. A seguir, são demonstrados alguns mo-
dos de se marcar e identificar a subjetividade. Por fim, verifica-se qual a
relação e a importância desta para a produção e a compreensão textual.

Discurso
A comunicação é um fenômeno heterogêneo envolvendo elementos de na-
tureza variada, tais como situação, intenção, conhecimento de mundo, meio,
conhecimento linguístico, entre tantos outros. Ela, em sentido amplo, envolve
qualquer forma de troca de informações, desde a comunicação entre máquinas
até a comunicação humana. Esta pode ser comunicação não verbal (i.e., por
meio de imagens, de sons, do corpo) ou verbal (i.e., por meio de palavras).
2 Elaboração de respostas subjetivas

É na comunicação verbal que se encontra o discurso. Em uma acep-


ção ampla, o discurso é uma manifestação linguística em que se expõe
de forma metódica determinado assunto. Discurso, entretanto, pode ser
entendido não só como manifestação linguística para fins comunicativos,
mas também como manifestação linguística que sustenta e é sustentada
pela visão de mundo, ou ideologia, de um grupo ou de uma instituição
(FOUCAULT, 1996). Nessa acepção, o discurso apresenta uma relação com
poder social, permitindo que se diga discurso jurídico, discurso acadêmico,
discurso religioso, discurso de direita, discurso de esquerda, etc. Por essa
mesma razão, essa noção de discurso se liga a noções como subjetividade
(ainda que esteja mais ligada à instituição, podendo ser representada por
indivíduo) e intencionalidade.

Diálogo
Como todo e qualquer discurso é destinado a alguém, ele pode integrar um
diálogo, isto é, uma troca comunicativa. De acordo com Walton (2008, p.
4), [...] um diálogo é sequência de mensagens ou atos de fala entre dois (ou
mais) participantes”. Entendido dessa forma, será considerado diálogo não
apenas aquele realizado face a face em tempo real (acepção tradicional), mas
também aquele que ocorre por intermédio de outros meios (por exemplo,
cartas, mensagens de textos, mensagens de voz, áudios, etc.), em tempo real
ou com diferença temporal.
Ligada à noção de diálogo, há a enunciação. “A enunciação é vista como
um processo, um ato pelo qual o locutor mobiliza a língua por sua própria
conta” (BARBISAN, 2006, p. 28). Ao fazer isso, ele se introduz, enquanto
aquele que fala (locutor), na sua fala, isto é, no enunciado (produto desse ato).
Ainda de acordo com essa autora, as características linguísticas do enunciado
serão estabelecidas pelas relações entre língua e locutor. Também é por meio
desse processo que ele [...] enuncia sua posição com marcas linguísticas”
(BARBISAN, 2006, p. 28), implantando o outro (alocutário, interlocutor).
Em cada enunciado, como centro de referência interna, “[...] emergem marcas
de pessoa (relação eu-tu), de ostensão, de espaço e de tempo, em que eu é o
centro da enunciação” (BARBISAN, 2006, p. 28), assim como o ele, a não-
-pessoa, aquilo ou aquele sobre o que/quem se fala.
Essas noções também estão presentes na escrita, seja pela enunciação, seja
pelo estabelecimento de diálogo por meio dela, seja pelo discurso. Quando se
Elaboração de respostas subjetivas 3

pensa na comunicação escrita, há principalmente uma relação tríplice, conforme


Koch e Elias (2006), autor, texto e leitor, envolvida na construção do sentido.
O sentido, de acordo com as autoras, é construído na relação entre esses
três, não dependendo apenas do autor (o que ele quis dizer), nem do texto
(o que está codificado), nem do leitor (o que ele entendeu). Essa relação é a
fundação da compreensão do texto, porém outros fatores são intervenientes,
como contexto e qualidade do material (letra pequena ou ilegível, tinta muito
fraca, etc.).
Assim como o eu que fala se projeta no enunciado falado, também
o faz na escrita, de modo mais ou menos intenso. Pode-se perceber essa
projeção por meio de algumas marcas ou características, como será visto
na próxima seção.

Intencionalidade discursiva
Toda produção oral ou textual tem uma intencionalidade por trás, que pode
ser, por exemplo, de divulgar, informar a convencer, comover. Devido a isso,
a imparcialidade é impossível, assim como a objetividade e a neutralidade,
“pois a linguagem é sempre carregada dos pontos de vista, da ideologia, das
crenças de quem produz o texto” (FIORIN, 2015, p. 45). A parcialidade é uma
questão de gradação, do declaradamente parcial ao de efeito praticamente
nulo, isto é, aquele cuja parcialidade não é percebida facilmente. Esse é caso,
por exemplo, de artigos científicos, em que, em uma situação ideal, a subje-
tividade será percebida na ordem como uma frase é estruturada, no uso de
modalizadores, etc.; elementos que permitirão ao leitor perceber para quais
informações se quis chamar mais atenção. Já nos declaradamente parciais, não
só a opinião será expressa, como também emoções e sentimentos por meio
de palavras que os expressem, como “amar/amor”, “odiar/ódio”, expressões
pejorativas, entre outros.
De acordo com Koch (2015, p. 51, grifo nosso), “[...] a intencionalidade
refere-se aos diversos modos como os sujeitos usam os textos para conseguir
realizar suas intenções comunicativas, mobilizando, para tanto, os recursos
adequados à concretização dos objetivos visados”. De modo mais restrito,
pode ser entendida como o desejo (intenção) do locutor de se manifestar lin-
guisticamente de modo coeso e coerente ou não para provocar certos efeitos
sobre a audiência.
4 Elaboração de respostas subjetivas

Essa intenção está presente nos atos de fala, isto é, ações que são reali-
zadas por meio das palavras (AUSTIN, 1975; SEARLE, 1976), tais como
dar uma ordem, fazer um pedido, expressar emoções. Ela estará presente
no que o locutor expressa ou deixa a entender, assim como no efeito que
quer causar no outro. Veja o quadro “Exemplos”, a seguir, para maior
compreensão.

Considere o seguinte contexto: duas O ato locucionário é a forma como


pessoas assistindo a um filme. A pessoa algo é dito, isto é, o enunciado.
A é um ótimo cozinheiro, a B, não. O ato ilocucionário atribui ao pri-
B comenta com A: Bah, que fome! meiro uma determinada força, por
exemplo, um pedido por uma refei-
ção. Este pode ser indireto, quando
fica subentendido (como no exemplo),
ou direto, quando é dito (Cozinha para
a gente).
O ato perlocucionário é o efeito que
o locutor quer causar no interlocutor,
por exemplo, levar A a fazer a comida.

Posteriormente, Searle (1976) estabeleceu outros atos de fala. O ato as-


sertivo consiste em dizer a alguém como algo é (fazer uma asserção); o ato
diretivo, na tentativa de levar o outro a fazer algo por meio de convite a
ordens; o ato expressivo, em expressar emoções e atitudes; o Ato comissivo,
em provocar uma mudança ao agenciar outros; e, por fim, o ato declarativo
consiste na possibilidade de causar um mudança por meio da linguagem.
Elaboração de respostas subjetivas 5

Ato Exemplo Explicação

Assertivo Vai chover no fim de É feita uma afirmação sobre algo


semana

Diretivo Doure o alho an- Apresenta uma orientação


tes dos demais
ingredientes

Expressivo Me desculpe por Expressa uma atitude do locutor


esquecer teu
aniversário

Comissivo #TodosPelaVida Essa hashtag pretendia envolver pessoas e


instituições em uma corrida para arrecada-
ção de fundos para a sede do Instituto de
Câncer Infantil em Campo Bom

Declarativo Eu o batizo Pedro Um padre, por exemplo, ao dizer isso muda


a realidade da criança, não apenas pelo
nome, mas também pelo rito religioso

Marcas de subjetividade
Subjetividade é a forma como um sujeito experiencia algo. Quando se fala em
texto (oral ou escrito), é a forma como o locutor transparece sua atitude, sua
opinião sobre algo. Ela pode ser expressa de modos mais ou menos diretos,
mais ou menos passionais. Para Bakhtin, “[...] a subjetividade é constituída
pelo conjunto de relações sociais de que participa o sujeito” (FIORIN, 2016,
p. 60), o que implica que, ao mesmo tempo que o locutor se constitui discur-
sivamente, ele apreende [...] as vozes sociais que compõem a realidade em que
está imerso, e, ao mesmo tempo, suas inter-relações dialógicas”.
6 Elaboração de respostas subjetivas

São consideradas marcas de subjetividade expressões e palavras que


permitem ao locutor expressar sua perspectiva sobre algo. Essas marcas podem
ser mais ou menos discretas, dependendo do gênero textual e do contexto.
É comum se associar à subjetividade o uso dos pronomes eu e nós, assim
como verbos como achar, acreditar, crer, palavras pejorativas (palavrões e
xingamentos), adjetivos qualitativos ( fácil, difícil, furtivo); porém não são a
única forma de se marcar a subjetividade.
Em qualquer produção linguística, oral ou escrita, é possível fazer uso de
indicadores modais, isto é, meios linguísticos para apresentar modalidade. “A
modalização tem o papel de exprimir a posição do enunciador em relação a
aquilo que diz” (FIORIN, 2000, p. 171, grifo nosso), aumentando ou diminuindo
a força de um enunciado (em uma perspectiva mais lógica). De acordo com
Koch (2010), os principais tipos modalizadores são: necessário/possível; certo/
incerto, duvidoso; obrigatório/facultativo. Há muitas formas de expressar a mo-
dalidade: algo é [modalizador adjetivo], é [modalizador adjetivo] algo; advérbios
e locuções adverbiais, como talvez, provavelmente, possivelmente, certamente;
verbos auxiliares modais, como poder, dever, precisar; construção de auxiliar
+ infinitivo (ter de + infinitivo, precisar + infinitivo); orações modalizadoras,
como não tenho dúvida de que, todos sabem que (KOCH, 2010).
No exemplo a seguir, foram destacados trechos em que ocorrem modali-
zação. Nesses trechos, você perceberá que o autor usa modalizadores para dar
mais força às afirmações e, consequentemente, expressa seu ponto de vista
quando ao assunto. Tenha em mente que esse mesmo tipo de modalizadores
podem aparecer em leis e manuais, e, nesses casos, não se trata de expressão
de subjetividade. O autor deste texto fala sobre as alterações no Art. 149º do
Código Penal e argumenta sobre o seu ponto de vista acerca do assunto.

Texto 1

As alterações do Art. 149º do Código Penal foram um importante


passo para aprimorar a legislação, fechando o cerco à prática do traba-
lho escravo e das condutas que reduzem o trabalhador à condição de
escravo. Mas, para alcançar essa boa finalidade, [1] é necessário que
haja uma correta aplicação da lei, que não dê margens a abusos.
Elaboração de respostas subjetivas 7

Se é certo que toda a escravidão deve ser exemplarmente punida,


não se pode equiparar à escravidão qualquer descumprimento da
lei trabalhista. São coisas muito diferentes, com gravidades distintas,
e que, portanto, [2] devem produzir efeitos jurídicos diversos. De
outra forma, haveria uma criminalização das relações trabalhistas, que,
em última análise, seria extremamente prejudicial ao trabalhador.

Fonte: O Estado de São Paulo.

No trecho do exemplo acima, foram destacados dois trechos que apresentam


modalização. Em [1], algo é indicado como sendo necessário, ao passo que,
em [2], como obrigatório. A modalização, como nesses casos, pode ser uma
indicação de subjetividade, isto é, da atitude do sujeito (locutor) frente a algo
(diferente de enunciados como “para ferver a água é necessário elevar sua
temperatura até atingir 100°C”).
Outra forma de se identificar/expressar a subjetividade é pelo uso dos
chamados indicadores de atitude, ou estado psicológico do locutor frente
a seu enunciado. Segundo Koch (2010, p. 53), “[...] a atitude subjetiva do
locutor em face de seu enunciado pode traduzir-se também numa avaliação
ou valoração dos fatos, estados ou qualidades atribuídas a um referente”, por
meio, principalmente, de formas intensificadoras e adjetivos.

Texto 2

Em Bohemian Rhapsody, conhecemos não só a jornada de sucesso


da banda Queen, mas toda a trajetória do grupo. O filme nos retrata
cada detalhe, a formação da banda, a composição das músicas
mais famosas, as gravações de discos, e, claro, os altos e baixos
do grupo, principalmente do vocalista, Freddie Mercury. Contar
a história de uma banda que foi tão importante para o cenário
mundial da música não é uma tarefa fácil, o diretor Bryan Singer
conseguiu construir uma narrativa que envolve e emociona os fãs
8 Elaboração de respostas subjetivas

da banda que assistem ao filme. Além do filme como um todo ser


excepcional, é preciso destacar a atuação de Rami Malek como
Freddie Mercury, o ator se entregou completamente ao papel,
sendo o verdadeiro destaque da história, assim como previsto, já
que estava no papel de da banda. Apesar de “longo” (2h 15min),
o filme não se torna cansativo em nenhum momento, você se
envolve em cada segundo da narrativa, conhecer de perto e por
outros ângulos a história do Queen foi uma experiência única e
emocionante.

Fonte: Crítica feita por usuária no site Adoro Cinema.

Nessa crítica, foram destacados alguns trechos que deixam clara a opinião
da expectadora sobre o filme. Entre estes, estão alguns exemplos de indicadores
de atitude e opinião. A sua atitude com relação ao filme é positiva, isto é,
aberta ao que o filme se propõe. É diferente do que seria uma crítica feita por
alguém, por exemplo, homofóbico (que tenderia a ver como algo negativo). Os
trechos destacam sua opinião sobre o filme, uma vez que enfoca sua recepção
e visão sobre a obra. Observe que a autora da crítica não fez uso de primeira
pessoa gramatical (eu e nós) e ainda se percebe que é a avaliação dela sobre
o filme. Isso porque, para se indicar subjetividade, não é necessário usar eu
ou nós, inclusive é possível escrever artigos científicos e acadêmicos usando
essas pessoas gramaticais sem torná-los subjetivos.

O papel da subjetividade
A subjetividade permite, do ponto de vista do locutor, expressar sua opinião, sua
perspectiva sobre algo; ao passo que, do ponto de vista do interlocutor, possibilita
a identificação e a compreensão destes, sem, no entanto, significar concordância.
Ela estará presente em diferentes tipos de produção textual, inclusive em
respostas. Uma resposta subjetiva, por exemplo, se diferencia de uma objetiva.
Respostas objetivas trazem informações pontuais ou factuais. Assim, ao citar
uma lei (ou artigo desta, como no texto completo do exemplo) ou responder que
horas são, quem é o presidente, quantos continentes há, se está fazendo uso de
informações factuais e pontuais. Entretanto, ao se atribuir uma interpretação
ou avaliação (que não quantitativa) a estas, passa-se para o âmbito subjetivo.
Elaboração de respostas subjetivas 9

Dependendo do objetivo da produção, certas formas de expressar a subje-


tividade serão mais produtivas que outras, pois demonstrarão mais domínio
e preparo. Ao se pensar em respostas a questões subjetivas, é preciso ter em
mente que não significa que qualquer resposta é válida. É importante apresentar
argumentos que reforcem ou comprovem seu ponto de vista. Esse tipo de questão
é comum em provas com questões dissertativas, lembrando que suas respostas
terão de apresentar argumento(s) que suportem sua posição, perspectiva, tese.
Para ajudá-lo a elaborar suas respostas, seguem a seguir dicas sobre como
escrever um parágrafo, o que é esperado na resposta a partir do verbo usado na
ordem da questão, links com dicas, ferramentas úteis e dispositivos retóricos.
Um parágrafo é estabelecido por sua unidade e coerência entre as frases.
Quando parte de um texto maior, cada parágrafo sustentará a ideia central.
Dessa forma, é importante ter em mente qual é o seu argumento, sua tese, isto
é, aquilo que você irá defender. Essa definição permite que você mantenha
uma relação coerente entre as partes e não se perca escrevendo, seja um texto
com múltiplos parágrafos ou apenas um.
Há diferentes formas de se organizar um parágrafo. A seguir, no Quadro 1,
você verá algumas formas possíveis de se fazer isso.

Quadro 1. Formas de organização do parágrafo

Forma de organização Dica de como fazer

Narração Conte uma história, seguindo a ordem cronológica


dos eventos

Descrição Dê detalhes específicos sobre a aparência de algo


ou alguém, procure incluir informações, quando
for o caso, que envolvam outros sentidos, como
tato, paladar, audição e olfato. Organize essas in-
formações por ordem de surgimento, pela disposi-
ção espacial ou por tópico

Processual Explique como algo funciona, passo a passo

Classificação Separe em grupos e explique as diferentes partes


do tópico

Ilustração Dê exemplos e explique como eles servem como


suporte para o tópico

Fonte: Adaptado de The Writing Center (2018).


10 Elaboração de respostas subjetivas

Um parágrafo bem organizado terá introdução, desenvolvimento e con-


clusão. Na introdução, você apresenta qual a ideia central, um tópico dele.
Todas as sentenças do parágrafo devem estar relacionadas com o tópico. No
desenvolvimento, você expõe evidências e informações para dar suporte ao
tópico. Por fim, há a conclusão, que pode ser para encerrar o tópico ou para
introduzir o próximo parágrafo.

Cinco passos para construir um parágrafo:


Passo 1 — Defina sua tese e escreva a frase tópico, que ajudará a manter a coerência
do parágrafo. Às vezes, pode ser necessário mais uma frase para estabelecer a tese.
Passo 2 — Explique sua tese, fazendo uso de um operador lógico ou explanação.
Passo 3 — Dê um exemplo (ou vários), isto é, apresente uma evidência que suporte
o que disse nos passos anteriores.
Passo 4 — Explique o(s) exemplo(s) dado(s) e a relevância deste(s) para o tópico do parágrafo.
Passo 5 — Complete a ideia do parágrafo ou faça a transição para o próximo. Esse passo
se trata de não deixar nós soltos e lembrar ao leitor a importância da(s) informação(s)
desse parágrafo. Ele também pode ser sobre introduzir o tópico do próximo.

No exemplo a seguir, é analisado um parágrafo do texto “O Morro dos Ventos


Uivantes”: quando a literatura é do tamanho da vida, sobre o livro Morro dos
Ventos Uivantes, de Emily Brontë.

Texto 3

Fonte: Nestarez (2018, documento on-line).


Elaboração de respostas subjetivas 11

O parágrafo acima não traz exemplos, mas apresenta introdução (em azul),
desenvolvimento (em vermelho e verde) e conclusão (em amarelo). Lembre-se
de que os passos dados para elaborar são dicas, mas não a única forma de
organizar um parágrafo.
É comum em avaliações com questões dissertativas (aquelas em que se deve
escrever um texto) que se peça a resposta em um único parágrafo. Também
é comum que você tenha de expor seu ponto de vista sobre o assunto. Por
ser subjetiva, há também um risco maior para não se apresentar argumentos,
evidências que sejam válidas e sustentem sua tese. Outro risco, e este para
qualquer questão ou atividade pedida, é a má interpretação. Para poder elaborar
uma boa resposta, é preciso primeiro entender o que está sendo pedido e, para
tal, é fundamental ler atentamente. No Quadro 2 são apresentados alguns
verbos, o que deve ser feito e exemplos.

Quadro 2. Verbos e ordem de questão

Verbos O que é esperado Exemplo de questão

Redigir Significa expor por escrito, (BRASIL, 2017a) A partir das


(elaborar, e por si só é muito vago. É informações apresentadas,
escrever, importante que se observe REDIJA um texto acerca do
discorrer) outras informações, como tema: Epidemia de sífilis con-
tema e textos motivadores. gênita no Brasil e relações de
É possível que seja, nesse gênero. Em seu texto ABORDE
caso, pedido que se aborde OS SEGUINTES ASPECTOS:
um ou mais aspectos e con- - a vulnerabilidade das mulhe-
ceitos. Nesse caso, atente se res às DSTs e o papel social dos
é pedido para que se faça homens em relação à preven-
isso com um dos tópicos ou ção dessas doenças;
se com o conjunto deles. - duas ações especificamente
voltadas para o público mas-
culino a serem adotadas no
âmbito das políticas públicas
de saúde ou de educação, para
reduzir o problema.

(Questão 1 de formação geral


da prova do ENADE do curso de
Arquitetura e urbanismo)
Leia a questão completa em:

https://bit.ly/2zbxhAS

(Continua)
12 Elaboração de respostas subjetivas

(Continuação)

Quadro 2. Verbos e ordem de questão

Verbos O que é esperado Exemplo de questão

Explicar Significa que você deverá (BRASIL, 2017a) Considerando


dizer o que algo é, como os dois modelos apresentados,
algo funciona, ou como elabore um texto que EXPLIQUE
ocorre, ou por que ocorre duas consequências relacionadas
(organização processual). à qualidade do espaço urbano
ou à infraestrutura urbana.

(Questão 3 de componente
específico da prova do ENADE
do curso de Arquitetura e
urbanismo)
Leia a questão completa em:

https://bit.ly/2zbxhAS

Descrever Significa que você deve dar (BRASIL, 2017b) Considerando a


detalhes específicos sobre temática presentada nos textos,
algo, alguém ou algum faça o que se pede nos itens a
fenômeno, evento. seguir.
- Descreva dois possíveis efeitos
da ampliação das unidades
de conservação sobre a
biodiversidade.
- Apresente três exemplos de
ações que integrem o reco-
nhecimento e a valorização do
contexto sociocultural com a
conservação da biodiversidade.

(Questão 3 de componente es-


pecífico da prova do ENADE do
curso de Ciências biológicas)
Leia a questão completa em:

https://bit.ly/2K8TxQ8

No primeiro exemplo, é especificado nos tópicos o que se espera da


questão. Uma resposta bem elaborada teria na primeira frase a tese relacio-
Elaboração de respostas subjetivas 13

nada ao tema (incluindo o primeiro aspecto). No desenvolvimento, seriam


defendidos argumentos ou evidências que sustentem a tese. Já na conclusão,
seria possível fazer a proposta de duas soluções em vista ao problema do
tema. Uma resposta ao segundo teria uma organização diferente, o que não
significa que são dispensáveis introdução, desenvolvimento e conclusão.
Na primeira frase, seria importante declarar o tema e/ou a tese (as duas
consequências sobre as quais se falará) na introdução, de modo a ser o fio
condutor do desenvolvimento em que explicará duas consequências. Ao
final, retomar o tema e apresentar a relevância ou potencial do que abordou.
O exemplo 3 pode ser respondido seguindo os 5 passos. Deveria ser dito
sobre o que irá se falar, seguido da descrição dos efeitos. O ideal seria que
os exemplos dados estivessem ligados com os efeitos descritos e que isso
fosse explicado.

Veja ferramentas para ajudar na produção textual (por exemplo, arquivo em nuvem,
transcrição de áudio, preparação de slides, site para pesquisa acadêmica, referência
on-line, busca de plágio) no link:

https://glo.bo/2RVbrbx

No próximo link, veja ferramentas on-line e gratuitas para ajudar na organização


para a escrita:

https://bit.ly/2Q06n8y

São importantes na escrita coesão e coerência. A coesão permite as ligações


entre as partes de uma frase, entre frases e entre parágrafos. Nela, entra o
uso de pronomes para retomar o que já foi dito e conjunções que estabelecem
relações lógicas e de dependência entre si, entre outros. Já a coerência garante
que o interlocutor poderá interpretar o que foi dito ou está escrito. Entretanto,
não são as únicas características importantes. Também o são as figuras de
retórica. Figuras de retórica são estratégias que o locutor ou escritor emprega
para convencer seu interlocutor. Confira nos links a seguir mais informações
sobre esse assunto.
14 Elaboração de respostas subjetivas

Leia artigos interessantes sobre figuras, disponíveis nos links a seguir.


Fiorin fala sobre figuras do pensamento.

https://bit.ly/2FrUowt

Fiorin fala sobre figuras de retórica e retórica argumentativa.

https://bit.ly/2K7ecnz

Koch fala linguística textual, da qual fazem parte coesão e coerência.

https://bit.ly/2PYqeoF

Daniele Fernanda Feliz Moreira fala sobre figuras de linguagem.

https://bit.ly/2BaSnAR

Como visto, há diferentes formas de se expressar subjetividade, do pessoal


à argumentação para defender seu ponto de vista. No âmbito acadêmico e
profissional, somente o segundo é válido. A seguir, são apresentadas 10 dicas
para ajudar em suas respostas.

Dez dicas para respostas subjetivas:


1. Leia com atenção o que a questão pede e sobre o que se trata.
2. Faça um plano para sua resposta. Defina sobre o que irá falar, estabeleça argu-
mentos ou evidências que sustentem seu ponto de vista, retome a relevância do
que foi dito e encerre.
3. Siga uma relação lógica no desenvolvimento.
4. Evite expressões vagas ou que limitem a temporalidade de seu texto (p. ex., aqui,
hoje, atualmente). Opte por expressões específicas, como nome do lugar, data,
período.
5. Cuidado com adjetivos, dê informações para ajudar seu leitor (p. ex., descreva as
características de alguém ou algo), mas sem excessos.
Elaboração de respostas subjetivas 15

6. Cuidado com expressões como “eu acho”, “na minha opinião”, “eu acredito”, “do
meu ponto de vista”. Expressões desse tipo podem enfraquecer seu argumento,
pois elas funcionam como modalizadores que diminuem a força do que é dito.
Além disso, se é resposta subjetiva, só pode ser sua opinião, do que contrário há
de se dizer de quem é.
7. Dê preferência para palavras e estruturas frasais simples e com as quais esteja
familiarizado. Usar palavras e estruturas que você desconhece pode levar ao uso
inadequado e/ou soar artificial, piegas.
8. Dê preferência para estruturas frasais não muito longas e de ordem não marcada
(sujeito, verbo, complemento verbal, adjunto adverbial).
9. Atenção ao tom emocional. Na medida certa, pode ser um recurso positivo, mas
facilmente pode enfraquecer seu ponto de vista.
10. Revise a resposta antes da entrega. Tenha certeza de que abordou o que foi pedido,
de que abordou o que deseja e precisa para defender seu ponto de vista, de que
sua resposta tem uma frase tópico e um encerramento.

AUSTIN, J. L. How to do things with words. 2. ed. Cambridge: Harvard University, 1975.
BARBISAN, L. O conceito de enunciação em Benveniste e Ducrot. Letras, n. 33, p. 23-
35, 2006. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/letras/article/view/11921/7342>.
Acesso em: 13 dez. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. ENADE 2017: Arquitetura e urbanismo. SINAES, 2017a.
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FIORIN, J. L. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2015.
FIORIN, J. L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
FIORIN, J. L. Modalização: da língua ao discurso. ALFA: Revista de Linguística, v. 44, p.
171-192, 2000. Disponível em: <https://bit.ly/2Qey7Dg>. Acesso em: 13 dez. 2018.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.
KOCH, I. V. A inter-ação pela linguagem. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
KOCH, I. V. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. 2. ed. São Paulo:
Contexto, 2015.
KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.
16 Elaboração de respostas subjetivas

NESTAREZ, O. O Morro dos Ventos Uivantes: quando a literatura é do tamanho da


vida. Revista Galileu, 20 out. 2018. Disponível em: <https://glo.bo/2zcPfmn>. Acesso
em: 13 dez. 2018.
SEARLE, J. R. Speech acts: essay in the philosophy of language. Londres: Cambridge
University, 1976.
WALTON, D. Informal logic: A pragmatic approach. New York: Cambridge University
Press, 2008.

Leituras recomendadas
FIORIN, J. L. Semiótica e retórica. Gragoatá, v. 12, n. 23, p. 9-26, 2007.
FIORIN, J. L. As figuras de pensamento: estratégia do enunciador para persuadir o
enunciatário. ALFA: Revista de Linguística, v. 32, 1988.
KOCH, I. G. V. Lingüística Textual: retrospecto e perspectivas. ALFA: Revista de Linguística,
v. 41, 1997.
THE WRITING CENTER. Tip and tools - Paragraphs. University of North Carolina at Chapel
Hill. 2018. Disponível em: <https://writingcenter.unc.edu/tips-and-tools/paragraphs/>.
Acesso em: 13 dez. 2018.
Conteúdo:

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