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Vivo num pr�dio em que boa parte das pessoas n�o d� bom dia. Nem mesmo um
grunhido. Nada.
Fora o resto. Na semana passada, abrimos o porta-malas do carro para retirar as
compras do supermercado, bem ao lado do elevador. Duas mulheres puxaram a porta
antes que consegu�ssemos alcan��-la, para n�o ter de dividir o elevador. Puxaram a
porta, porque se ela tivesse fechado naturalmente teria dado tempo de entrarmos.
D� para acreditar? Claro que d�. Volta e meia cruzo no p�tio, indo ou vindo, com
gente que vai ou vem � e abaixa rapidamente a cabe�a para n�o cruzar os olhos e,
ent�o, ser obrigada a me cumprimentar. Essas pessoas n�o me conhecem, nem sabem se
sou bacana ou chata, logo, n�o � pessoal. At� o zelador, cujas atribui��es incluem
dar bom dia, s� cumprimenta quando est� de bom-humor.
Ent�o, aconteceu.
Aquele vizinho, em especial, me irritava muito, porque ignorava solenemente meus
sonoros bom-dia e boa-noite. Ele simplesmente passava por mim � e por todo mundo
� numa marcha militar, olhos fixos em alguma movimenta��o de tropas no campo
advers�rio. Eu voltava da minha aula de pilates, na manh� de quarta-feira, toda
alongada
e saltitante, quando o vi avan�ando em passadas largas na minha dire��o. �Bom dia!
�, eu disse. Nada. Grilos. Cri, cri, cri.
Aquilo me irritou muito. Mas muito mesmo. N�o pensei. Simplesmente me virei,
marchei mais r�pido do que ele, postei-me na sua frente e gritei: �Bom dia! �
importante
dar bom dia para as pessoas!�. Ele ficou totalmente desconcertado. E o resto eu n�o
vi, porque marchei direto para o elevador, num passo t�o marcial como o dele.
Foi uma cena totalmente absurda. Eu fui absurda. At� � poss�vel reivindicar boa
educa��o � embora seja cada vez mais dif�cil. Mas � imposs�vel exigir gentileza.
E n�o � nada gentil obrigar algu�m a ser gentil. Eu fui o oposto de gentil gritando
diante do homem que ele deveria ser gentil.
Mas o epis�dio serviu para que eu pensasse nessa virtude t�o subestimada em nosso
mundo. Gentileza parece algo menor, descart�vel. Em alguns casos, at� meio ot�rio.
Ou fora de moda. At� para escrever essa coluna me pareceu prosaico demais. Pensei:
v�o achar que estou sem assunto. Ent�o, decidi correr o risco de soar piegas.