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ARTIGO
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA
RESUMO
Objetivos: Verificar a existência de relação entre praxia motora oral, ao nível das bochechas, lábios e língua, o tipo e duração da
amamentação e o tempo de exposição a hábitos orais nocivos. Métodos: Estudo observacional-descritivo, de metodologia trans-
versal. Foi utilizado um questionário para recolher informações sobre o desenvolvimento das crianças e o software Motrisis para
recolha da informação sobre praxia motora oral. Resultados: Foram analisadas 175 crianças (53.1% do sexo masculino), entre os
dois e cinco anos e seis meses, que frequentavam instituições do concelho da Covilhã. A maioria (54.3%) teve amamentação mista
(peito e biberão) com uma média de duração de 7.9 meses para a amamentação artificial e 26.6 para a amamentação natural. Os
hábitos nocivos mais frequentes foram a chupeta (72.6%) e o biberão (69.7%), com exposição média de 29.9 meses para a chupeta
e 26.7 meses para o biberão. A relação entre a praxia motora oral e a amamentação (tipo e tempo) é estatisticamente significativa
(p<0.05). Entre a praxia oral e os hábitos orais nocivos também se observou associação significativa, sendo o bruxismo o que mais
terá comprometido a praxia das bochechas. Conclusão: Na criança em idade pré-escolar, a amamentação (natural e artificial e
tempo de exposição) relaciona-se com a praxia oral e com os hábitos orais nocivos, embora os resultados apresentados não sejam
todos estatisticamente significativos.
PALAVRAS-CHAVE: Tipo de amamentação, Tempo de amamentação, Hábitos orais e Praxias orais.
ABSTRACT
Objectives: To verify the existence of a relation between oral motor praxis, at the level of the cheeks, lips and tongue, with the
type and length of breastfeeding and the time of exposure to harmful oral habits. Methods: An observational, descriptive study
with cross-sectional methodology. A survey was used to gather information related to the development of children and “Motrisis”
software was used to gather information about the oral motor praxis. Results: 175 children were analyzed (53.1% male), be-
tween two and five years and six months, attending local institutions of Covilhã. The majority (54.3%) were mixed feeding (breast
and bottle), with a median duration of 7.9 months of artificial feeding and 26.6 months to breast feeding. The most common
harmful habits were a pacifier (72.6%) and the bottle (69.7%) with a mean exposure of 29.9 months for the pacifier and 26.7
months for the bottle. The relationship between oral motor praxis and breastfeeding (type and time) is statistically significant
(p<0.05). Between oral motor praxis and harmful oral habits it also was established a significant association with bruxism what
else committed the praxis of the cheeks. Conclusion: In children in preschool age, breastfeeding (natural and artificial and expo-
sure time) relates to oral praxis and harmful oral habits, although the results presented are not all statistically significant.
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por mais de dois anos. Os autores justificam esta ocor- Um estudo que envolveu 330 crianças, refere que
rência pelo facto do desenvolvimento estomatognáti- 183 apresentam outros hábitos de sucção para além
co ter origem multifatorial ou pela amostra reduzida da chupeta (103), que é a mais descrita na literatura,
pois envolveu apenas 52 crianças, com idades entre os 27 apresentavam bruxismo, 22 sucção do dedo e 31
cinco e os oito anos. Segundo os mesmos autores3, até onicofagia, entre outros10.
aproximadamente aos dois anos de idade não origina O desenvolvimento do desempenho motor oral
alterações significativas, o mesmo não se verifica até inicia-se por volta dos dois anos e termina aos 12 anos
aproximadamente aos quatro anos. Caso as crianças quando os movimentos se mostram mais finos, efi-
mantenham hábitos de sucção até aproximadamente cientes e coordenados27.
os três anos, pode ser indicativo de perturbação do O objetivo traçado para este estudo, foi verificar a
foro psicológico6. Verificaram ainda que crianças com existência de relação entre praxia motora oral ao nível
três anos têm mais hábitos de sucção do que crian- das bochechas, lábios e língua, com tipo e duração da
ças com quatro e cinco anos, ou seja com a idade há amamentação natural e artificial e o tempo de expo-
uma redução desses hábitos. Outro estudo20 refere sição dos hábitos orais nocivos, em crianças entre os
que após os três anos de idade qualquer hábito pode dois anos e os cinco anos e seis meses, que frequen-
causar prejuízo orofacial. A duração dos hábitos de tam instituições do concelho da Covilhã.
sucção também influencia a mobilidade da língua14. Do interesse por este estudo surge a questão: O
Ao considerar hábitos como automatismos adqui- tipo e tempo de amamentação e tempo de exposição a
ridos e realizados de modo inconsciente e frequen- hábitos orais nocivos influenciam o desempenho das
te24, tornam-se deletérios, ou seja, nocivos à saúde, praxias motoras orais (bochechas, lábios e língua)?
de acordo com a duração, frequência e intensidade
que são realizados, podendo promover alterações MÉTODOS
em todo o sistema estomatognático e em destaque na
musculatura da face. Existe conformidade em diver- Este estudo foi do tipo observacional-descritivo,
sos estudos quando os hábitos são prolongados por transversal. Descreve o que é observado nas praxias
muito tempo. motoras orais das bochechas, lábios e língua, em cada
Diversos estudos referem que os hábitos orais mais faixa etária, relacionando com hábitos orais nocivos.
frequentes são o uso da chupeta e a sucção digital. A
chupeta, hábito de sucção não nutritivo, tem um pa- Participantes
pel importante na sucção, estimulando o desenvolvi- Elegeu-se como idade mínima dois anos, pois a
mento favorável da arcada dentária superior e do pa- compreensão e o desempenho motor apresentam-se
lato até à erupção dos dentes5. Acredita-se que, para mais desenvolvidos, e por se tratar da idade em que
que haja um efeito positivo sobre o desenvolvimento, se prevê o abandono total dos hábitos orais. A idade
a escolha do tipo de chupeta é fundamental, sendo máxima de cinco anos e seis meses, foi delimitada por
as ortodônticas mais aconselhadas do que as comuns, ausência de hábitos orais e porque a fala da criança
pois possuem um formato mais adequado à cavidade deve estar completamente desenvolvida, o que reme-
oral, por serem mais semelhantes ao mamilo mater- te a um bom desenvolvimento práxico verbal27.
no, minimizando possíveis alterações nas estruturas Foram excluídas do estudo crianças diagnostica-
orofaciais. das pelo médico especialista por alterações auditivas,
Outros estudos porém mostram haver relação in- neurológicas, psicológicas evidentes, cognitivas e de
versamente proporcional entre o tempo de amamen- compreensão; crianças cujos pais não autorizaram a
tação natural e o uso da chupeta. A persistência dos sua participação e as que não colaboraram no mo-
hábitos de sucção é considerada prejudicial ao desen- mento de avaliação. Isto aconteceu essencialmente
volvimento dos ossos da face6,10 à oclusão dentária com crianças de idades entre os dois e os três anos,
e às funções de respiração, mastigação, deglutição e perfazendo um total de 36 crianças.
fala25.
A sucção digital pode ser iniciada no período in- Instrumentos
trauterino (dado comprovado em ecografias) e, no Foi elaborado, com base na literatura28 um questio-
máximo, aos seis ou sete anos, o hábito deve ser eli- nário composto por 29 questões objetivas relacionadas
minado para reduzir totalmente alteração nas estru- com o desenvolvimento das crianças. Além da identifi-
turas. Quando a sucção do polegar se prolonga, as cação da criança, questionou-se: (i) Problemas de saúde
características que provoca são semelhantes ao uso e medicação; (ii) Problemas respiratórios: constipações
da chupeta26. frequentes, problemas de garganta, amigdalite, asma,
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bronquite, pneumonia, rinite, sinusite, obstrução na- cadoras de Infância. Nesta, solicitou-se colaboração
sal, prurido nasal, coriza, espirros em salva; (iv) Ama- para a entrega e recolha do consentimento informado
mentação: peito, biberão e duração; (v) Hábitos orais: aos tutores legais, dando a conhecer o objetivo do es-
chupeta, sucção digital, sucção de língua, humidificar tudo, pedindo autorização para os filhos participarem
os lábios, bruxismo, apertamento dentário, onicofagia, e se respondiam a um questionário estruturado, com
morder a mucosa oral e morder objetos, referindo a du- questões objetivas relacionadas com os seus filhos.
ração e em que situações ocorrem. As praxias foram avaliadas através da solicitação
O software Motrisis é, atualmente, o único instru- verbal de movimentos isolados associada ao feedback
mento de motricidade orofacial que permite a seleção visual oferecido por vídeos modelo do Motrisis respe-
e exemplificação dos movimentos dos órgãos fonoar- tivo para cada um dos 14 movimentos solicitados: (i)
ticulatórios e o registo em vídeo da sua execução. As Bochechas: inflar bilateral, inflar unilateral direita, in-
crianças foram avaliadas ao nível das praxias orais flar unilateral esquerda e sugar; (ii) Lábios: protrusão,
com recurso ao software Motrisis29. estiramento, estalos, lateralização direita em protru-
O requisito deste software é o sistema operacional são, lateralização esquerda em protrusão; (iii) Língua:
Windows XP ou Seven. Para isso foi necessário insta- protrusão, supra e infraversão externa, lateralização
lar o ParallelsDesktop num Macbook Pro Retina Apple. O externa direita/esquerda, afilar e alargar a língua e
software dispõe de três opções para selecionar os mo- estalos.
vimentos orofaciais, porém apenas o modo nomeado O tempo selecionado para cada exercício foi regis-
por “completo” permite escolher os movimentos pre- tado usando o cronómetro disponível no software. De-
tendidos e gravar em vídeo a realização dos mesmos terminou-se 20 segundos como tempo máximo para
pela criança, e por isso foi o escolhido. Optou-se pelo realização de cada movimento.
uso deste software pois a literatura evidencia a impor- Através da webcam, foram gravadas todas as crian-
tância do modelo visual para a avaliação das praxias ças durante a execução dos movimentos solicitados.
em crianças27,30-31.
Análise dos dados
Procedimentos Os critérios delineados pelo Motrisis29 e utilizados
Inicialmente foram contactados e informados os di- para a análise estão descritos na Tabela 1. Os movi-
retores das instituições do Concelho de Covilhã e uma mentos foram analisados e classificados como zero
vez autorizado, foi realizada uma reunião com as Edu- quando não são executados e como um quando o são.
Órgão Exercício Critérios de avaliação / Descrição do exercício
Inflar bilateral Inflar as bochechas captando o ar pelo nariz.
Inflar unilateral direita Captar o ar pelo nariz e inflar a bochecha direita.
Bochechas
Inflar unilateral esquerda Captar o ar pelo nariz e inflar a bochecha esquerda.
Sucção Sugar as bochechas e soltá-las.
Protrusão Manter os lábios projetados.
Estiramento Manter os lábios em estiramento.
Estalos Estalar os lábios.
Lábios Lateralização direita Fazer protrusão labial e lateralizar para a direita. Cuidados: movimentação associada
em protrusão de mandíbula para a esquerda e contrações de outros músculos compensatórios.
Lateralização esquerda em Fazer protrusão labial e lateralizar para a esquerda. Cuidados: movimentação asso-
protrusão ciada de mandíbula para a direita e contrações de outros músculos compensatórios.
Manter a língua para fora em ponta, reta, sem apoio em arcadas dentárias e/ou lá-
Protrusão
bios.
Supra e infraversão externa Elevar e baixar a ponta da língua evitando encostar nos lábios.
Língua para fora em movimento reto de um lado para o outro, evitando o contacto
Lateralização direita/esquerda
Língua com os dentes e lábios.
Com a língua para fora evitando encostar nos dentes, ou lábios, afilar e alargar a
Afilar e alargar
língua.
A língua deve ser pressionada fortemente contra o palato e em seguida deve ser
Estalo
eliminado este contacto resultando no estalo.
Tabela 1- Critérios de avaliação e descrição dos movimentos solicitados
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Para assegurar a viabilidade e coerência dos resul- tar os dentes em 8.6%; morder mucosa oral em 8.0%,
tados, os vídeos também foram analisados por duas humidificar os lábios em 6.3%, sucção digital em 4.6%
terapeutas da fala independentes, que não participa- e sucção da língua em 2.9%.
ram na recolha de dados, e especializadas na área de A média de exposição à chupeta é de 29.9 meses
motricidade orofacial. Posteriormente, os dados, re- (variando entre os seis e os 64 meses, dp=12.0). De
sultantes da análise dos vídeos, fornecidos pelas duas um total de 127 crianças, cinco usaram chupeta no
terapeutas foram comparados e considerados conjun- primeiro ano de vida, 14 entre o primeiro e o segundo
tamente com os dados provenientes do questionário ano, 65 usaram dos 24 aos 36 meses, 43 crianças de-
respondido pelos pais. Visando facilitar o cruzamen- pois dos 36 meses ainda mantinham o seu uso.
to de dados sobre o tempo de amamentação natural O tipo de chupeta usado para as 122 crianças é a
e/ou artificial e tempo de exposição a hábitos orais comum para 92, a ortodôntica para 34 e ambas para
nocivos, as informações foram agrupadas em inter- uma criança.
valos de tempo, com a medida registada em meses. Quanto ao tempo de exposição a hábitos orais noci-
Para tratamento de dados foi utilizado o progra- vos importa realçar que, de entre os investigados, o uso
ma informático SPSS (Statistical Package for the Social da chupeta e biberão estiveram presentes pelo mesmo
Sciences), versão 21. Para averiguar relações entre as tempo de exposição, entre os 24 e 36 meses, em 65 e
variáveis foi utilizado o Teste de Qui-Quadrado, con- 50 crianças respectivamente. Depois dos 36 meses, 43
siderando-se os resultados significativos para p<0.05. crianças usaram chupeta e 32 usaram biberão. Os res-
tantes hábitos (bruxismo, morder objetos, onicofagia,
RESULTADOS apertar os dentes, morder mucosa oral, humidificar
os lábios, sucção digital e sucção de língua) estiveram
Caraterização da amostra presentes em 85.8% da amostra (N=136).
Foram analisadas 175 crianças, em idade pré-escolar,
sendo 93 do sexo masculino (53.1%) e 82 do sexo femi- Praxia oral
nino (46.9%). A idade das crianças variou entre os dois O Gráfico 1 mostra, que de entre os catorze mo-
anos e cinco anos e seis meses distribuídas por quatro vimentos solicitados os que foram mais executados
faixas etárias: 2-3 anos; 3-4 anos; 4-5 anos (cada uma (acima de 75%) foram ‘a lateralização da língua’
com 50 crianças) e superior a 5 anos (com 25 crianças). (97.1%), ‘estiramento máximo labial’ (94.9%), ‘manter
Quanto ao tipo de amamentação, das 175 crianças: lábios projetados’ (88%), ‘o bochecho de ar’ (86.8%),
47 (26.9%) receberam somente amamentação natural, ‘estalo de lábios’ (80.6%), ‘língua em ponta para fora’
27 (15.4%) alimentaram-se somente por biberão e 95 (78.3%).
(54.3%) por ambas (natural e artificial) e seis crianças A lateralização de lábios para a direita e a esquer-
(3.4%) não utilizaram nenhum destes métodos de ama- da, foram os movimentos labiais menos realizados,
mentação. 26.3% e 24.5% respetivamente.
A média de duração da amamentação natural é de Quanto aos movimentos da língua, verificou-
11.4 meses (dp=9.4), variando de um a 42 meses. Em -se que a lateralização, projeção da ponta para fora
142 crianças, o tempo de exposição à amamentação foram os mais realizados adequadamente, 97.1%
natural foi 65.4% no primeiro ano de vida, 16.2% en- (N=170) e 78.3% (N=137) crianças respetivamente; e
tre os 12 e os 24 meses e em 18.3% após dois anos. afilar e alargar a língua foi o menos realizado com
A média de duração da amamentação artificial é de 46.9 % (N=82).
26.7 meses (variando entre três a 58 meses, dp=12.0). Analisando o gráfico das praxias orais, verificou-
Observa-se que de 122 crianças, oito utilizaram este -se que os movimentos mais realizados pelas crianças
tipo de amamentação entre os zero e os 12 meses e 50 foram 97.1 % para a lateralização de língua (N=170),
crianças utilizam entre os 24 e os 36 meses. Verifica-se 94.9% estiramento labial (N=166) e 86,9% para bochecho
que 32 crianças utilizam amamentação mista entre os de ar (N=152).
12 e 24 meses e mais de 36 meses. A média da amamen- O número total de crianças que realizam os movi-
tação mista foi calculada tendo em conta o tempo de mentos solicitados das bochechas é de 55.7 %, de lá-
amamentação natural e artificial, com duração média bios é de 62.9% e de língua é de 73.8 %.
de 7.9 meses para a amamentação natural (dp=6.8) e
de 26.6 meses (dp=12.2) para a amamentação artificial. Praxia oral em relação à idade
Quanto aos hábitos nocivos a chupeta esteve pre- Os movimentos solicitados que foram agrupados
sente em 72.6% , biberão 69.7%, bruxismo em 24.0%, nas respetivas estruturas, bochechas, lábios e língua,
morder objetos em 16.0%, onicofagia em 15.4%, aper- e distribuídos pelas faixas etárias em estudo cada
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uma composta por 50 crianças com exceção da faixa dem a 55.7% e não executados a 44.3% da amostra;
etária acima dos cinco anos que só tem 25 crianças. 62.9% movimentos executados para os lábios para
As 175 crianças realizaram 14 movimentos (quatro 37.1% não executados e finalmente os movimentos
de bochechas, cinco de lábios e cinco de língua). No executados da língua foi de 73.8% e 26.2% equivale
Gráfico 2, observa-se o total dos movimentos reali- aos movimentos não executados.
zados para as bochechas (700) e para lábios e língua Pode observar-se, de uma forma geral, que à me-
(875 para cada estrutura). Estes movimentos foram dida que a idade avança, a execução do número de
agrupados em executados e não executados. Os mo- movimentos solicitados aumenta, havendo uma dife-
vimentos executados para as bochechas correspon- rença maior ao nível dos lábios e língua.
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Praxia oral em relação ao sexo mente na lateralização do lábio para a esquerda, ele-
Observou-se associação significativa (p<0.05) em var e baixar a ponta da língua e estalos de língua,
algumas praxias relativamente ao sexo, nomeada- como se pode observar na tabela 2.
Relação entre praxia oral e amamentação (tipo e tempo) impacto nas praxias. A análise estatística direcionou-
Na relação entre praxia oral (bochechas, lábios -se para os hábitos de biberão e chupeta, sendo os
e língua) e tipo de amamentação (nenhum, natural, mais frequentes na amostra em estudo.
artificial e mista) verificou-se associação significativa Quanto maior é a duração de exposição ao bibe-
(p<0.05) para o movimento de afilar e alargar a lín- rão denotam-se mais dificuldades na execução dos
gua. Embora não se tenha observado mais resultados movimentos solicitados. De uma forma geral os mo-
com significância, verificou-se que crianças amamen- vimentos solicitados no tempo de exposição dos 24
tadas exclusivamente pelo método natural e misto aos 36 são melhores do que depois dos 36 meses. Os
executaram mais movimentos solicitados. movimentos com pior desempenho dos 24 aos 36 me-
Quanto ao tempo de amamentação natural ses foram: inflar bochecha direita (N=31), e esquerda
(N=47) e artificial (N=27) consideram-se 95 crianças (N=31), sucção de bochechas (N=30), lateralização
que foram amamentadas pelo método misto. Ape- direita (N=34) e esquerda (N=39) e afilar e alargar a
sar de não se verificar diferença estatisticamente língua (N=26).
significativa no tempo de exposição à amamenta- Embora a relação entre as variáveis praxia oral e
ção natural, verifica-se que crianças que estão ex- tempo de exposição à chupeta também não sejam
postas por mais de 24 meses à amamentação natu- estatisticamente significativos, pode observar-se que
ral obtêm um melhor desempenho nos movimentos o tempo de exposição à chupeta diminui o número
solicitados. de movimentos executados dos 24 aos 36 meses e de-
Observou-se que o tempo de exposição ao biberão pois dos 36 meses. Os movimentos solicitados mais
influencia alguns movimentos quando utilizado dos comprometidos entre os 24 e 36 meses foram inflar
24 aos 36 meses: 31 crianças não executam o movi- bochecha direita (N=39) e esquerda (N=38), sucção
mento inflar bochecha direita, 31 para inflar bochecha de bochechas (N=38) e lateralização direita (N=50)
esquerda, 30 para sucção de bochechas, 34 para late- e esquerda (N=49) e no movimento afilar e alargar a
ralização direita e 39 para lateralização esquerda. língua (N=34).
Relação entre praxia oral e hábitos orais nocivos Nos restantes hábitos (Tabela 3), apenas se faz re-
Apesar de não se observarem resultados com signi- ferencia aos resultados com associação significativa
ficância em todos os hábitos orais nocivos que foram (p<0.05) sendo eles humidificar os lábios, bruxismo,
identificados por questionário, verificou-se que têm apertar os dentes e morder a mucosa oral.
Tabela 3- Relação entre tempo de exposição dos outros hábitos orais nocivos com praxias orais (N=136)
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