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REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA

Submetido: 16 de maio de 2016


Aceite: 24 de julho de 2016
Online: 30 de Julho de 2016

ARTIGO
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA

REVISTA PORTUGUESA DE TERAPIA DA FALA VOLUME 5 - ANO IV - 2016

Praxia oral, amamentação e hábitos orais nocivos


em crianças de idade pré-escolar do concelho da Covilhã

Oral praxis, breastfeeding and harmful oral habits


in preschool children from Covilhã
Catarina Maria Pinto de Oliveira1; Maria João Azevedo2; Silvia Hitos3 e Sara Nunes4
1
Terapeuta da fala, Mestre em Terapia da Fala, na Área de Motricidade Orofacial e Disfagia, Escola Superior de Saúde do Alcoitão
2
Terapeuta da fala, Mestre em Cuidados Paliativos na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
3
Fonoaudiologa, Doutorada em Ciências da Saúde pela Unifesp, Professora da Faculdade Metropolitanas Unidas, Brasil
4
Professora no Instituto Politécnico de Castelo Branco, Doutorada em Estatística na Universidade de Salamanca, Espanha.

RESUMO
Objetivos: Verificar a existência de relação entre praxia motora oral, ao nível das bochechas, lábios e língua, o tipo e duração da
amamentação e o tempo de exposição a hábitos orais nocivos. Métodos: Estudo observacional-descritivo, de metodologia trans-
versal. Foi utilizado um questionário para recolher informações sobre o desenvolvimento das crianças e o software Motrisis para
recolha da informação sobre praxia motora oral. Resultados: Foram analisadas 175 crianças (53.1% do sexo masculino), entre os
dois e cinco anos e seis meses, que frequentavam instituições do concelho da Covilhã. A maioria (54.3%) teve amamentação mista
(peito e biberão) com uma média de duração de 7.9 meses para a amamentação artificial e 26.6 para a amamentação natural. Os
hábitos nocivos mais frequentes foram a chupeta (72.6%) e o biberão (69.7%), com exposição média de 29.9 meses para a chupeta
e 26.7 meses para o biberão. A relação entre a praxia motora oral e a amamentação (tipo e tempo) é estatisticamente significativa
(p<0.05). Entre a praxia oral e os hábitos orais nocivos também se observou associação significativa, sendo o bruxismo o que mais
terá comprometido a praxia das bochechas. Conclusão: Na criança em idade pré-escolar, a amamentação (natural e artificial e
tempo de exposição) relaciona-se com a praxia oral e com os hábitos orais nocivos, embora os resultados apresentados não sejam
todos estatisticamente significativos.
PALAVRAS-CHAVE: Tipo de amamentação, Tempo de amamentação, Hábitos orais e Praxias orais.

ABSTRACT
Objectives: To verify the existence of a relation between oral motor praxis, at the level of the cheeks, lips and tongue, with the
type and length of breastfeeding and the time of exposure to harmful oral habits. Methods: An observational, descriptive study
with cross-sectional methodology. A survey was used to gather information related to the development of children and “Motrisis”
software was used to gather information about the oral motor praxis. Results: 175 children were analyzed (53.1% male), be-
tween two and five years and six months, attending local institutions of Covilhã. The majority (54.3%) were mixed feeding (breast
and bottle), with a median duration of 7.9 months of artificial feeding and 26.6 months to breast feeding. The most common
harmful habits were a pacifier (72.6%) and the bottle (69.7%) with a mean exposure of 29.9 months for the pacifier and 26.7
months for the bottle. The relationship between oral motor praxis and breastfeeding (type and time) is statistically significant
(p<0.05). Between oral motor praxis and harmful oral habits it also was established a significant association with bruxism what
else committed the praxis of the cheeks. Conclusion: In children in preschool age, breastfeeding (natural and artificial and expo-
sure time) relates to oral praxis and harmful oral habits, although the results presented are not all statistically significant.

KEYWORDS: Type of breastfeeding, Length of breastfeeding, Oral habits, Oral praxis.

Autor correspondente: Catarina Oliveira catarinampo@gmail.com DOI:dx.doi.org/10.21281/rptf.2016.05.08

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INTRODUÇÃO pode amamentar, opta-se pelo método artificial, sen-


do o biberão o mais comum.
O bebé apresenta, desde o nascimento, uma neces- Com o uso do biberão, mesmo com orifício peque-
sidade inerente à realização da sucção, a qual pode no localizado na parte superior do bico17, observa-se
ser satisfeita através da sucção nutritiva e não-nutriti- geralmente ingestão muito rápida do leite, não exi-
va. A sucção nutritiva fornece nutrientes alimentares, gindo da musculatura o esforço que ocorre no seio
através da amamentação natural ou artificial1. materno. Uma vez que a criança não se esforça para
A amamentação natural deve, segundo alguns au- sugar, não exercita a musculatura o suficiente para
tores, ser exclusiva até aos seis meses de idade, sendo cessar a necessidade de exercitação e a sucção não nu-
complementada com alimentos próprios para a idade tritiva instala-se, levando o bebé a sugar o que estiver
até aos dois anos ou mais2-8. Esta graduação, que tra- ao seu alcance, p. ex. o seu dedo16. A amamentação ar-
duz uma evolução na exigência alimentar, dá conti- tificial origina deglutição atípica, alteração da postura
nuidade ao desenvolvimento da praxia motora oral, em repouso dos lábios e língua, alteração na oclusão,
iniciada pela amamentação. Contrariamente, outros sucção inadequada, compensações e hábitos de suc-
autores9 referem que a amamentação deve ser exclu- ção não nutritivos, pois o bebé tem necessidade de
siva até aos quatro meses e que após esse período, a exercitar a musculatura. A sucção é considerada como
exposição a diversos alimentos têm benefícios para a hábito nutritivo até aos três anos de idade e nocivo
saúde do bebé, nomeadamente em termos de alergia, após esta idade18, visto que a partir daí pode provocar
imunologia e para a prevenção de doenças cardiovas- inúmeras alterações. Os hábitos orais nocivos podem
culares. Outros estudos10 verificaram que há associa- ser de sucção ou de morder. Entre os mais comuns
ção entre amamentação natural exclusiva e doenças descritos na literatura podem destacar-se: morder
da primeira infância, como alergias e doenças respi- os lábios, onicofagia, morder objetos, perturbações
ratórias. funcionais (p. ex. bruxismo diurno e noturno, aper-
Para além dos benefícios que a amamentação natu- tamento dentário e respiração predominantemente
ral proporciona ao bebé, também favorece a respiração oral), biberão, uso de chupeta e sucção digital7. Ape-
predominantemente nasal e favorece a coordenação sar de serem utilizados com o mesmo objetivo cau-
entre sucção e deglutição. Esta função é fundamental sam alterações diferentes19.
para o desenvolvimento facial adequado e para pre- Geralmente os hábitos de sucção não nutritivos es-
venção de problemas nas vias aéreas superiores. Pro- tão associados a uma curta duração da amamentação
move harmonia, sincronia e estabilidade funcional, natural e são considerados nocivos porque podem
resultando no equilíbrio do sistema estomatognático comprometer as estruturas do sistema estomatogná-
e mantendo as funções orais adequadas: lábios fecha- tico, alterando a oclusão e padrão normal de cresci-
dos, postura correta da língua e padrão respiratório mento facial20. A prevalência de hábitos de sucção não
nasal11-13. Outro estudo refere ainda que a amamenta- nutritiva em crianças pré-escolares situa-se em torno
ção pelo método natural influencia positiva e signifi- de 17 a 50% 21-22.
cativa a mobilidade das estruturas orofaciais14. Um estudo10 verificou que, de 330 crianças, entre os
A amamentação deve ser incentivada e o padrão três e os seis anos, 46.7% não apresentavam hábitos
de sucção adequado pois funciona como suporte na orais nocivos e 53.3% apresentavam esses hábitos. É
prevenção de alterações ao nível da fala, uma vez que importante referir que 70.5% das crianças que apre-
envolve o sistema motor oral15. sentavam hábitos orais nocivos não tiveram ama-
Entretanto, sabe-se que por diversos motivos, o mentação exclusiva até aos seis meses. O estudo re-
aleitamento natural, tem apresentado um declínio na fere ainda que crianças amamentadas exclusivamente
sua prática, o que pode ocasionar prejuízo no desen- pelo método natural até aos seis meses têm menor
volvimento infantil em várias instâncias, de entre elas probabilidade de ter respiração predominantemen-
para o crescimento e desenvolvimento craniofacial. te oral, hábitos orais nocivos e doenças na primeira
Existem diferenças na dinâmica muscular entre a infância. Quando os hábitos se tornam nocivos pro-
amamentação natural e artificial, sendo mais vantajo- vocam alterações na estrutura óssea e na função dos
sa a alimentação natural, pois exige um trabalho mais músculos23.
intenso da musculatura ao nível dos músculos pteri- Outra pesquisa3 mostra que não existe relação entre
góideus laterais e mediais, masséteres e temporais, o o tempo e o tipo de amamentação, ou seja, não provo-
que favorecerá a mastigação de alimentos mais duros ca alterações no modo respiratório, nem deglutição,
e a fala12,16. Mesmo ao considerar a importância da com exceção da mastigação. Constataram que o tipo
amamentação, quando por alguma razão a mãe não de amamentação foi artificial em 71.2% das crianças

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por mais de dois anos. Os autores justificam esta ocor- Um estudo que envolveu 330 crianças, refere que
rência pelo facto do desenvolvimento estomatognáti- 183 apresentam outros hábitos de sucção para além
co ter origem multifatorial ou pela amostra reduzida da chupeta (103), que é a mais descrita na literatura,
pois envolveu apenas 52 crianças, com idades entre os 27 apresentavam bruxismo, 22 sucção do dedo e 31
cinco e os oito anos. Segundo os mesmos autores3, até onicofagia, entre outros10.
aproximadamente aos dois anos de idade não origina O desenvolvimento do desempenho motor oral
alterações significativas, o mesmo não se verifica até inicia-se por volta dos dois anos e termina aos 12 anos
aproximadamente aos quatro anos. Caso as crianças quando os movimentos se mostram mais finos, efi-
mantenham hábitos de sucção até aproximadamente cientes e coordenados27.
os três anos, pode ser indicativo de perturbação do O objetivo traçado para este estudo, foi verificar a
foro psicológico6. Verificaram ainda que crianças com existência de relação entre praxia motora oral ao nível
três anos têm mais hábitos de sucção do que crian- das bochechas, lábios e língua, com tipo e duração da
ças com quatro e cinco anos, ou seja com a idade há amamentação natural e artificial e o tempo de expo-
uma redução desses hábitos. Outro estudo20 refere sição dos hábitos orais nocivos, em crianças entre os
que após os três anos de idade qualquer hábito pode dois anos e os cinco anos e seis meses, que frequen-
causar prejuízo orofacial. A duração dos hábitos de tam instituições do concelho da Covilhã.
sucção também influencia a mobilidade da língua14. Do interesse por este estudo surge a questão: O
Ao considerar hábitos como automatismos adqui- tipo e tempo de amamentação e tempo de exposição a
ridos e realizados de modo inconsciente e frequen- hábitos orais nocivos influenciam o desempenho das
te24, tornam-se deletérios, ou seja, nocivos à saúde, praxias motoras orais (bochechas, lábios e língua)?
de acordo com a duração, frequência e intensidade
que são realizados, podendo promover alterações MÉTODOS
em todo o sistema estomatognático e em destaque na
musculatura da face. Existe conformidade em diver- Este estudo foi do tipo observacional-descritivo,
sos estudos quando os hábitos são prolongados por transversal. Descreve o que é observado nas praxias
muito tempo. motoras orais das bochechas, lábios e língua, em cada
Diversos estudos referem que os hábitos orais mais faixa etária, relacionando com hábitos orais nocivos.
frequentes são o uso da chupeta e a sucção digital. A
chupeta, hábito de sucção não nutritivo, tem um pa- Participantes
pel importante na sucção, estimulando o desenvolvi- Elegeu-se como idade mínima dois anos, pois a
mento favorável da arcada dentária superior e do pa- compreensão e o desempenho motor apresentam-se
lato até à erupção dos dentes5. Acredita-se que, para mais desenvolvidos, e por se tratar da idade em que
que haja um efeito positivo sobre o desenvolvimento, se prevê o abandono total dos hábitos orais. A idade
a escolha do tipo de chupeta é fundamental, sendo máxima de cinco anos e seis meses, foi delimitada por
as ortodônticas mais aconselhadas do que as comuns, ausência de hábitos orais e porque a fala da criança
pois possuem um formato mais adequado à cavidade deve estar completamente desenvolvida, o que reme-
oral, por serem mais semelhantes ao mamilo mater- te a um bom desenvolvimento práxico verbal27.
no, minimizando possíveis alterações nas estruturas Foram excluídas do estudo crianças diagnostica-
orofaciais. das pelo médico especialista por alterações auditivas,
Outros estudos porém mostram haver relação in- neurológicas, psicológicas evidentes, cognitivas e de
versamente proporcional entre o tempo de amamen- compreensão; crianças cujos pais não autorizaram a
tação natural e o uso da chupeta. A persistência dos sua participação e as que não colaboraram no mo-
hábitos de sucção é considerada prejudicial ao desen- mento de avaliação. Isto aconteceu essencialmente
volvimento dos ossos da face6,10 à oclusão dentária com crianças de idades entre os dois e os três anos,
e às funções de respiração, mastigação, deglutição e perfazendo um total de 36 crianças.
fala25.
A sucção digital pode ser iniciada no período in- Instrumentos
trauterino (dado comprovado em ecografias) e, no Foi elaborado, com base na literatura28 um questio-
máximo, aos seis ou sete anos, o hábito deve ser eli- nário composto por 29 questões objetivas relacionadas
minado para reduzir totalmente alteração nas estru- com o desenvolvimento das crianças. Além da identifi-
turas. Quando a sucção do polegar se prolonga, as cação da criança, questionou-se: (i) Problemas de saúde
características que provoca são semelhantes ao uso e medicação; (ii) Problemas respiratórios: constipações
da chupeta26. frequentes, problemas de garganta, amigdalite, asma,

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bronquite, pneumonia, rinite, sinusite, obstrução na- cadoras de Infância. Nesta, solicitou-se colaboração
sal, prurido nasal, coriza, espirros em salva; (iv) Ama- para a entrega e recolha do consentimento informado
mentação: peito, biberão e duração; (v) Hábitos orais: aos tutores legais, dando a conhecer o objetivo do es-
chupeta, sucção digital, sucção de língua, humidificar tudo, pedindo autorização para os filhos participarem
os lábios, bruxismo, apertamento dentário, onicofagia, e se respondiam a um questionário estruturado, com
morder a mucosa oral e morder objetos, referindo a du- questões objetivas relacionadas com os seus filhos.
ração e em que situações ocorrem. As praxias foram avaliadas através da solicitação
O software Motrisis é, atualmente, o único instru- verbal de movimentos isolados associada ao feedback
mento de motricidade orofacial que permite a seleção visual oferecido por vídeos modelo do Motrisis respe-
e exemplificação dos movimentos dos órgãos fonoar- tivo para cada um dos 14 movimentos solicitados: (i)
ticulatórios e o registo em vídeo da sua execução. As Bochechas: inflar bilateral, inflar unilateral direita, in-
crianças foram avaliadas ao nível das praxias orais flar unilateral esquerda e sugar; (ii) Lábios: protrusão,
com recurso ao software Motrisis29. estiramento, estalos, lateralização direita em protru-
O requisito deste software é o sistema operacional são, lateralização esquerda em protrusão; (iii) Língua:
Windows XP ou Seven. Para isso foi necessário insta- protrusão, supra e infraversão externa, lateralização
lar o ParallelsDesktop num Macbook Pro Retina Apple. O externa direita/esquerda, afilar e alargar a língua e
software dispõe de três opções para selecionar os mo- estalos.
vimentos orofaciais, porém apenas o modo nomeado O tempo selecionado para cada exercício foi regis-
por “completo” permite escolher os movimentos pre- tado usando o cronómetro disponível no software. De-
tendidos e gravar em vídeo a realização dos mesmos terminou-se 20 segundos como tempo máximo para
pela criança, e por isso foi o escolhido. Optou-se pelo realização de cada movimento.
uso deste software pois a literatura evidencia a impor- Através da webcam, foram gravadas todas as crian-
tância do modelo visual para a avaliação das praxias ças durante a execução dos movimentos solicitados.
em crianças27,30-31.
Análise dos dados
Procedimentos Os critérios delineados pelo Motrisis29 e utilizados
Inicialmente foram contactados e informados os di- para a análise estão descritos na Tabela 1. Os movi-
retores das instituições do Concelho de Covilhã e uma mentos foram analisados e classificados como zero
vez autorizado, foi realizada uma reunião com as Edu- quando não são executados e como um quando o são.
Órgão Exercício Critérios de avaliação / Descrição do exercício
Inflar bilateral Inflar as bochechas captando o ar pelo nariz.
Inflar unilateral direita Captar o ar pelo nariz e inflar a bochecha direita.
Bochechas
Inflar unilateral esquerda Captar o ar pelo nariz e inflar a bochecha esquerda.
Sucção Sugar as bochechas e soltá-las.
Protrusão Manter os lábios projetados.
Estiramento Manter os lábios em estiramento.
Estalos Estalar os lábios.
Lábios Lateralização direita Fazer protrusão labial e lateralizar para a direita. Cuidados: movimentação associada
em protrusão de mandíbula para a esquerda e contrações de outros músculos compensatórios.
Lateralização esquerda em Fazer protrusão labial e lateralizar para a esquerda. Cuidados: movimentação asso-
protrusão ciada de mandíbula para a direita e contrações de outros músculos compensatórios.
Manter a língua para fora em ponta, reta, sem apoio em arcadas dentárias e/ou lá-
Protrusão
bios.
Supra e infraversão externa Elevar e baixar a ponta da língua evitando encostar nos lábios.
Língua para fora em movimento reto de um lado para o outro, evitando o contacto
Lateralização direita/esquerda
Língua com os dentes e lábios.
Com a língua para fora evitando encostar nos dentes, ou lábios, afilar e alargar a
Afilar e alargar
língua.
A língua deve ser pressionada fortemente contra o palato e em seguida deve ser
Estalo
eliminado este contacto resultando no estalo.
Tabela 1- Critérios de avaliação e descrição dos movimentos solicitados

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Para assegurar a viabilidade e coerência dos resul- tar os dentes em 8.6%; morder mucosa oral em 8.0%,
tados, os vídeos também foram analisados por duas humidificar os lábios em 6.3%, sucção digital em 4.6%
terapeutas da fala independentes, que não participa- e sucção da língua em 2.9%.
ram na recolha de dados, e especializadas na área de A média de exposição à chupeta é de 29.9 meses
motricidade orofacial. Posteriormente, os dados, re- (variando entre os seis e os 64 meses, dp=12.0). De
sultantes da análise dos vídeos, fornecidos pelas duas um total de 127 crianças, cinco usaram chupeta no
terapeutas foram comparados e considerados conjun- primeiro ano de vida, 14 entre o primeiro e o segundo
tamente com os dados provenientes do questionário ano, 65 usaram dos 24 aos 36 meses, 43 crianças de-
respondido pelos pais. Visando facilitar o cruzamen- pois dos 36 meses ainda mantinham o seu uso.
to de dados sobre o tempo de amamentação natural O tipo de chupeta usado para as 122 crianças é a
e/ou artificial e tempo de exposição a hábitos orais comum para 92, a ortodôntica para 34 e ambas para
nocivos, as informações foram agrupadas em inter- uma criança.
valos de tempo, com a medida registada em meses. Quanto ao tempo de exposição a hábitos orais noci-
Para tratamento de dados foi utilizado o progra- vos importa realçar que, de entre os investigados, o uso
ma informático SPSS (Statistical Package for the Social da chupeta e biberão estiveram presentes pelo mesmo
Sciences), versão 21. Para averiguar relações entre as tempo de exposição, entre os 24 e 36 meses, em 65 e
variáveis foi utilizado o Teste de Qui-Quadrado, con- 50 crianças respectivamente. Depois dos 36 meses, 43
siderando-se os resultados significativos para p<0.05. crianças usaram chupeta e 32 usaram biberão. Os res-
tantes hábitos (bruxismo, morder objetos, onicofagia,
RESULTADOS apertar os dentes, morder mucosa oral, humidificar
os lábios, sucção digital e sucção de língua) estiveram
Caraterização da amostra presentes em 85.8% da amostra (N=136).
Foram analisadas 175 crianças, em idade pré-escolar,
sendo 93 do sexo masculino (53.1%) e 82 do sexo femi- Praxia oral
nino (46.9%). A idade das crianças variou entre os dois O Gráfico 1 mostra, que de entre os catorze mo-
anos e cinco anos e seis meses distribuídas por quatro vimentos solicitados os que foram mais executados
faixas etárias: 2-3 anos; 3-4 anos; 4-5 anos (cada uma (acima de 75%) foram ‘a lateralização da língua’
com 50 crianças) e superior a 5 anos (com 25 crianças). (97.1%), ‘estiramento máximo labial’ (94.9%), ‘manter
Quanto ao tipo de amamentação, das 175 crianças: lábios projetados’ (88%), ‘o bochecho de ar’ (86.8%),
47 (26.9%) receberam somente amamentação natural, ‘estalo de lábios’ (80.6%), ‘língua em ponta para fora’
27 (15.4%) alimentaram-se somente por biberão e 95 (78.3%).
(54.3%) por ambas (natural e artificial) e seis crianças A lateralização de lábios para a direita e a esquer-
(3.4%) não utilizaram nenhum destes métodos de ama- da, foram os movimentos labiais menos realizados,
mentação. 26.3% e 24.5% respetivamente.
A média de duração da amamentação natural é de Quanto aos movimentos da língua, verificou-
11.4 meses (dp=9.4), variando de um a 42 meses. Em -se que a lateralização, projeção da ponta para fora
142 crianças, o tempo de exposição à amamentação foram os mais realizados adequadamente, 97.1%
natural foi 65.4% no primeiro ano de vida, 16.2% en- (N=170) e 78.3% (N=137) crianças respetivamente; e
tre os 12 e os 24 meses e em 18.3% após dois anos. afilar e alargar a língua foi o menos realizado com
A média de duração da amamentação artificial é de 46.9 % (N=82).
26.7 meses (variando entre três a 58 meses, dp=12.0). Analisando o gráfico das praxias orais, verificou-
Observa-se que de 122 crianças, oito utilizaram este -se que os movimentos mais realizados pelas crianças
tipo de amamentação entre os zero e os 12 meses e 50 foram 97.1 % para a lateralização de língua (N=170),
crianças utilizam entre os 24 e os 36 meses. Verifica-se 94.9% estiramento labial (N=166) e 86,9% para bochecho
que 32 crianças utilizam amamentação mista entre os de ar (N=152).
12 e 24 meses e mais de 36 meses. A média da amamen- O número total de crianças que realizam os movi-
tação mista foi calculada tendo em conta o tempo de mentos solicitados das bochechas é de 55.7 %, de lá-
amamentação natural e artificial, com duração média bios é de 62.9% e de língua é de 73.8 %.
de 7.9 meses para a amamentação natural (dp=6.8) e
de 26.6 meses (dp=12.2) para a amamentação artificial. Praxia oral em relação à idade
Quanto aos hábitos nocivos a chupeta esteve pre- Os movimentos solicitados que foram agrupados
sente em 72.6% , biberão 69.7%, bruxismo em 24.0%, nas respetivas estruturas, bochechas, lábios e língua,
morder objetos em 16.0%, onicofagia em 15.4%, aper- e distribuídos pelas faixas etárias em estudo cada

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Gráfico 1- Caraterização das praxias orais

uma composta por 50 crianças com exceção da faixa dem a 55.7% e não executados a 44.3% da amostra;
etária acima dos cinco anos que só tem 25 crianças. 62.9% movimentos executados para os lábios para
As 175 crianças realizaram 14 movimentos (quatro 37.1% não executados e finalmente os movimentos
de bochechas, cinco de lábios e cinco de língua). No executados da língua foi de 73.8% e 26.2% equivale
Gráfico 2, observa-se o total dos movimentos reali- aos movimentos não executados.
zados para as bochechas (700) e para lábios e língua Pode observar-se, de uma forma geral, que à me-
(875 para cada estrutura). Estes movimentos foram dida que a idade avança, a execução do número de
agrupados em executados e não executados. Os mo- movimentos solicitados aumenta, havendo uma dife-
vimentos executados para as bochechas correspon- rença maior ao nível dos lábios e língua.

Legenda: (NE): não executa; (E): executa o movimento.

Gráfico 2- Distribuição das praxias orais pelas faixas etárias da amostra

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Praxia oral em relação ao sexo mente na lateralização do lábio para a esquerda, ele-
Observou-se associação significativa (p<0.05) em var e baixar a ponta da língua e estalos de língua,
algumas praxias relativamente ao sexo, nomeada- como se pode observar na tabela 2.

Lateralização lábio para a Elevar e baixar a ponta da


Estalos de língua
Sexo N esquerda língua
NE E NE E NE E
Masculino 93 76 17 31 62 37 56
Feminino 82 56 26 16 66 20 62
Tabela 2- Relação entre sexo e praxias orais

Relação entre praxia oral e amamentação (tipo e tempo) impacto nas praxias. A análise estatística direcionou-
Na relação entre praxia oral (bochechas, lábios -se para os hábitos de biberão e chupeta, sendo os
e língua) e tipo de amamentação (nenhum, natural, mais frequentes na amostra em estudo.
artificial e mista) verificou-se associação significativa Quanto maior é a duração de exposição ao bibe-
(p<0.05) para o movimento de afilar e alargar a lín- rão denotam-se mais dificuldades na execução dos
gua. Embora não se tenha observado mais resultados movimentos solicitados. De uma forma geral os mo-
com significância, verificou-se que crianças amamen- vimentos solicitados no tempo de exposição dos 24
tadas exclusivamente pelo método natural e misto aos 36 são melhores do que depois dos 36 meses. Os
executaram mais movimentos solicitados. movimentos com pior desempenho dos 24 aos 36 me-
Quanto ao tempo de amamentação natural ses foram: inflar bochecha direita (N=31), e esquerda
(N=47) e artificial (N=27) consideram-se 95 crianças (N=31), sucção de bochechas (N=30), lateralização
que foram amamentadas pelo método misto. Ape- direita (N=34) e esquerda (N=39) e afilar e alargar a
sar de não se verificar diferença estatisticamente língua (N=26).
significativa no tempo de exposição à amamenta- Embora a relação entre as variáveis praxia oral e
ção natural, verifica-se que crianças que estão ex- tempo de exposição à chupeta também não sejam
postas por mais de 24 meses à amamentação natu- estatisticamente significativos, pode observar-se que
ral obtêm um melhor desempenho nos movimentos o tempo de exposição à chupeta diminui o número
solicitados. de movimentos executados dos 24 aos 36 meses e de-
Observou-se que o tempo de exposição ao biberão pois dos 36 meses. Os movimentos solicitados mais
influencia alguns movimentos quando utilizado dos comprometidos entre os 24 e 36 meses foram inflar
24 aos 36 meses: 31 crianças não executam o movi- bochecha direita (N=39) e esquerda (N=38), sucção
mento inflar bochecha direita, 31 para inflar bochecha de bochechas (N=38) e lateralização direita (N=50)
esquerda, 30 para sucção de bochechas, 34 para late- e esquerda (N=49) e no movimento afilar e alargar a
ralização direita e 39 para lateralização esquerda. língua (N=34).
Relação entre praxia oral e hábitos orais nocivos Nos restantes hábitos (Tabela 3), apenas se faz re-
Apesar de não se observarem resultados com signi- ferencia aos resultados com associação significativa
ficância em todos os hábitos orais nocivos que foram (p<0.05) sendo eles humidificar os lábios, bruxismo,
identificados por questionário, verificou-se que têm apertar os dentes e morder a mucosa oral.

Hábito oral Praxias orais P-value


NE E NE E
Humidificar lábios Lateralização lábio direita 5 1 4 1 0,020
Bruxismo Sucção das bochechas 11 9 12 10 0,001
Apertar os dentes Lateralização lábio esquerda 6 2 5 2 0,024
Morder mucosa oral Lateralização lábio direita 4 2 5 3 0,026
Legenda: (NE): não executa; (E): executa o movimento.
*Significância estatística pelo Teste Qui-Quadrado (p<0,05)

Tabela 3- Relação entre tempo de exposição dos outros hábitos orais nocivos com praxias orais (N=136)

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DISCUSSÃO a língua pioram com o tempo de exposição ao bibe-


rão.
O presente estudo mostra que crianças amamen- Ao comparar os movimentos executados pelas
tadas pelo método natural, mesmo que permaneçam crianças expostas por período semelhante à chupeta
por um período intercalado à amamentação artifi- e ao biberão, verifica-se que a chupeta é mais preju-
cial, apresentam melhor desempenho nos movimen- dicial visto que um grande número de crianças não
tos solicitados. O tempo de exposição à amamenta- executou os movimentos solicitados. Tanto no bibe-
ção natural influencia positivamente o desempenho rão como na chupeta os movimentos inflar bochecha
dos movimentos solicitados e que ao considerar o direita/esquerda, sucção de bochechas, lateralização
mesmo período de exposição nos primeiros 12 me- direita/esquerda e afilar e alargar a língua pioram
ses de vida, crianças amamentadas pelo método na- com o tempo de exposição, contudo o número de
tural obtiveram melhor desempenho nos movimen- crianças que não executa os movimentos é superior
tos solicitados, do que crianças amamentadas pelo para o uso da chupeta.
método artificial. Nos restantes hábitos orais, verificou-se rela-
Isto vem de encontro à literatura que refere que ção estatisticamente significativa e inversamente
o tipo de amamentação pode interferir no desen- proporcional em humidificar os lábios, bruxismo,
volvimento estomatognático, nomeadamente nos apertar os dentes e morder a mucosa oral para al-
padrões miofuncionais12 e que existe relação entre a guns movimentos, ou seja, há menor movimentação
amamentação artificial e a mobilidade das estrutu- quando o tempo de exposição aos hábitos foi maior.
ras orofaciais14. Como a literatura indica, os hábitos orais depen-
Vários estudos2,3,5-6 e a Organização Mundial de dem da duração, frequência e intensidade. Neste
Saúde4, sugerem a amamentação exclusiva até aos estudo a intensidade não foi analisada, contudo ve-
seis meses, o que se verificou em 22 crianças da rificou-se um número reduzido de crianças expostas
amostra. Ou seja, a maioria das crianças foram ex- aos hábitos após os três anos de idade. Os resultados
postas ao método natural até aos seis meses ou mais, obtidos poderiam ser mais significativos, caso a du-
originando melhor desenvolvimento do sistema ração, frequência e intensidade do hábito oral fosse
estomatognático e consequentemente das praxias mais prolongado, com maior frequência e mais in-
orais. tensivo13. Segundo outro autor também depende da
Contrariamente ao que encontramos na literatu- força, o número de dedos sugados e o tipo de chu-
ra, o desempenho dos movimentos solicitados foi peta, bem como a posição do dedo ou chupeta na
maior em todos os tempos de exposição ao biberão, cavidade oral20.
destacando-se o tempo de exposição dos 24 aos 36 Também o aspeto odontológico pode interferir no
meses. A maioria dos estudos revelam a importân- desenvolvimento da praxia motora oral ainda mais
cia da exposição à amamentação natural e salientam se associada a problemas respiratórios. Porém, isto
ainda que os hábitos nocivos provocam alterações não foi considerada nesta pesquisa.
na função dos músculos14,23. Importa ressaltar que a Por fim, embora tenhamos seguido a recomen-
amostra relativa ao uso de biberão foi composta por dação que afirmou ser a execução de exercícios por
crianças que só usaram biberão ou foram amamen- feedback visual mais facilitador do que por solicita-
tadas de forma mista (natural e artificial) o que pode ção verbal em qualquer faixa etária30, verificou-se
ter interferido nos resultados, pois das 122 crianças que algumas crianças com idades entre os dois e três
que foram amamentadas com biberão, 47 crianças anos se distraíam com as suas imagens refletidas no
foram amamentadas pelo método misto, o que pode computador.
ter favorecido o desenvolvimento das praxias orais e Apesar de não fazer parte dos objetivos em estu-
influenciado nos resultados. do, verificou-se que as praxias orais estão relaciona-
Também devemos considerar que a maior parte das com o aumento da idade. Como foi referido, as
das crianças que foram expostas ao biberão o utiliza- habilidades motoras iniciam-se por volta dos dois
ram dos 24 aos 36 meses. De acordo com a literatura, anos e passam a ser mais precisos e diferenciados
os hábitos devem ser abandonados entre dois e três conforme o desenvolvimento27,30.
anos, pois após esta idade qualquer hábito pode pro- Foram enfrentadas algumas dificuldades estrutu-
vocar alterações orofaciais20. rais no decorrer da recolha da amostra. Primeiramente
Fica bastante claro que alguns movimentos como: várias instituições exigiram que as avaliações fossem
inflar bochecha direita/esquerda, sucção de boche- realizadas na própria sala de aula na presença da edu-
chas, lateralização direita/esquerda e afilar e alargar cadora levando a que várias crianças se distraíssem.

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Além disso, a execução desta pesquisa evidenciou CONFLITO DE INTERESSES


o quão difícil é a pesquisa da relação entre praxias
orais e tempo/tipo de amamentação e tipos de hábi- As autoras declaram não terem tido compensações
tos orais, pois ficou claro que os problemas respira- financeiras ou interesses que possam ter interferido
tórios são comuns e frequentes na primeira infância. nos resultados do estudo.
Quase que a totalidade da amostra referiu apresen-
tar algum comprometimento respiratório e por ve- REFERÊNCIAS
zes mais do que um. As alterações respiratórias que
ocasionam obstrução nasal (20% da amostra) podem 1. Albuquerque SSL, Duarte RC, Cavalcanti, AL, Beltrão
resultar em longos períodos de respiração oral, o EM. A influência do padrão de aleitamento no desen-
que prejudica a musculatura facial em tónus e mo- volvimento de hábitos de sucção não nutritiva na pr
imeira infância. Ciência & Saúde Coletiva 2010; 15(2):
bilidade e pode influenciar o desempenho nos movi- 371-8.
mentos solicitados.
Além disso pudemos observar quantas são as so- 2. Albuquerque RCV. Fonoaudiologia e alimentação no
breposições de fatores: diferentes tipos de amamen- bebê [monografia de especialização em motricidade
tação, por tempos variados associados a um ou mais orofacial]. Brazil: CEFAC - Centro de Especialização
em Fonoaudiologia Clínica: Motricidade Oral; 1998.
tipo de hábitos orais nocivos, com diferentes tipos
de exposição. Acredita-se que não se tenha obtido 3. Neu AP, Silva AMT, Mezzomo CL, Busanello-Stella AR,
dados com significância estatística, pois para tama- Moraes AB. Relação entre o tempo e o tipo de amamen-
nha variedade de aspetos a serem controlados, a tação e as funções do sistema estomatognático. Centro
de Especialização em Fonoaudiologia Clínica; 2011.
amostra foi relativamente pequena.
Foram apresentadas várias limitações no decorrer 4. Organización Mundial de la Salud. Lactancia ma-
do estudo, entre elas, a falta de conhecimento pré- terna [periodo na internet]. 2014 [consultado em
vio das crianças pela avaliadora, contacto prévio das 13/08/2014]. Disponível em http://www.who.int/
topics/breastfeeding/es/.
crianças com o computador e com o software, execu-
ção da avaliação que nem sempre foi em sala isola- 5. Rodrigues JA, Bolini PDA, Minarelli-Gaspar AM. Há-
da, consideração sobre a condição odontológica das bitos de sucção e suas interferências no cres­cimento e
crianças e a verificação dos aspetos da frequência e desenvolvimento craniofacial da criança. Odontologia
2006; 5(4): 257-260.
intensidade dos hábitos orais.
Este tema pertence a uma área muito abrangen- 6. Santos SA, Holanda ALF, Sena MF, Gondim LAM, Fer-
te e pouco investigada em Portugal. Sugere-se que reira MAF. Hábitos de sucção não nutritiva em crianças
sejam realizados outros trabalhos relacionando pra- pré-escolares. Jornal de Pediatria 2009; 85(5): 408-14.
xias orofaciais, tipo/tempo amamentação e hábitos 7. Trawizki LVV, Anselmo-Lima WT, Melchior MO, Gre-
orais nocivos, considerando as limitações do estudo cbi TH, Valera FCP. Aleitamento e hábitos orais deleté-
e comparando um grupo de crianças amamentadas ricos em respiradores orais e nasais. Revista Brasileira
de Otorrinolaringologia 2005; 71(6): 747-51.
exclusivamente por peito e outro grupo de crianças
amamentadas por biberão, para que se possa com- 8. 
Organização Pan-Americana. Semana Mundial do
parar cada grupo com as praxias orais e fala. Aleitamento Materno 2012. Entendendo o passado-
-planejando o futuro. Comemorações dos 10 anos
de Estratégia Global da OMS/UNICEF para Ali-
CONCLUSÕES mentação de Lactentes e Crianças na Primeira In-
fância. [period na Internet]. 2012 [consultado em
As hipóteses foram testadas e independentemente 13/08/2014]; 1-9. Disponível em http://www.paho.
de serem obtidos poucos resultados estatisticamen- org/bra/index.php?option=com_docman&task=doc_
te significativos, foi possível analisar relação entre view&gid=1445&Itemid=423.
as variáveis. Crianças amamentadas pelo método 9. Elenberg Y, Shaoul R. The role of infant nutrition in
natural por um maior período apresentam melhor the prevention of future disease [periodo na inter-
desempenho nas praxias orais. Quando os hábitos net]. 2014 [consultado em 07/08/2014]. Disponível
em http://journal.frontiersin.org/Journal/10.3389/
orais permanecem após os três anos de idade as pra- fped.2014.00073/full.
xias ficam comprometidas, sendo que a chupeta é a
que acarreta mais prejuízo nos movimentos solicita- 10. Moimaz SAS, Rocha NB, Garbin AJI, Saliba O. Relação
dos em comparação com o biberão. entre aleitamento materno e hábitos de sucção não nu-
tritivos. Faculdade de Odontologia de Araçatuba, Uni-
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