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do Desenvolvimento da Linguagem *
Abstract
A study aiming at assessing nominal agreement skills of SLI children speaking European
Portuguese was conducted with 8 SLI children, aged 4 to 8 years old, in a picture-selection
comprehension task and in an elicited production task using nouns and pseudo-nouns. The results show
that SLI children are globally, not only in production but also in comprehension, below their peers of the
same age, in spite of the patterns of performance being not homogeneous within the SLI group.
Correlation between the type of SLI and the skills on nominal agreement may be the answer for this
heterogeneous behaviour.
1. Introdução
As crianças com Perturbação Específica do Desenvolvimento da Linguagem
(PEDL) apresentam dificuldades em aspetos específicos da linguagem relativamente aos
seus pares com desenvolvimento típico, e estes podem centrar-se na componente
lexical, fonológica, morfo-sintática ou pragmática. Estas dificuldades têm sido
explicadas tanto por lacunas no conhecimento gramatical, atribuídas a uma maturação
tardia ou uma deficiente representação da linguagem, como por limitações em processos
especificamente linguísticos ou mais gerais, cognitivos ou linguístico-cognitivos, como
memória de trabalho e velocidade de processamento de informação (Schwartz, 2008).
No contexto clínico, independentemente das causas subjacentes a esta perturbação
da linguagem, tem-se procurado identificar marcadores clínicos, mais ou menos
linguísticos, que permitam caracterizar o desempenho dos sujeitos e contribuir para um
diagnóstico de PEDL.
Textos Seleccionados, XXVI Encontro da Associação Portuguesa de Linguística, Lisboa, APL, 2011,
pp. 111-124
*
Este estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior, Portugal) através dos Projectos “Técnicas Experimentais na Compreensão da Aquisição do Português
Europeu” (POCI/LIN/57377/2004) e “Dependências Sintácticas dos 3 aos 10” (PTDC/CLE-LIN/099802/2008).
Agradece-se às crianças, pais e educadores do Agrupamento Vertical de Escolas de Alcochete, do Colégio O Pequeno
Polegar, e do Externato O pinguim, assim como às terapeutas da fala Telma Pereira, Bruna Costa e Andreia de Melo.
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outros). Há também omissão de artigos nas primeiras produções, até por volta dos 3
anos (Freitas & Miguel, 1998; Soares, 1998; Corrêa, 2005; Castro, 2007; Corrêa,
Augusto & Castro, 2010). Sabe-se assim que as crianças com desenvolvimento típico
revelam uma precoce sensibilidade às propriedades fónicas e distribucionais das marcas
flexionais, e interpretam os traços gramaticais que estas veiculam, ainda que as omitam
ou dêem “erros” nas suas primeiras produções. A interpretação dos traços gramaticais
veiculados pelas marcas flexionais implica o processamento de concordância interna ao
sintagma nominal, sendo D o elemento essencial para a interpretação.
O objetivo deste estudo é verificar se, no português europeu (PE), as crianças com
PEDL apresentam mais alterações ao nível da concordância nominal, comparativamente
a crianças com desenvolvimento típico de linguagem, tal como se verifica noutras
línguas em que a morfologia flexional é “rica”, contribuindo para a identificação de
marcadores clínicos de PEDL.
Considerando todos estes aspetos, as questões de investigação deste estudo são:
(i) As crianças com PEDL apresentam mais alterações ao nível da concordância
nominal que os seus pares com desenvolvimento típico de linguagem?
(ii) As crianças com PEDL apresentam mais erros de concordância nominal na
produção ou na compreensão, em género ou em número, em nomes ou
pseudo-nomes?
(iii) As crianças com PEDL omitem o determinante no sintagma nominal, em
nomes e pseudo-nomes, mais que os seus pares com desenvolvimento típico
de linguagem?
As hipóteses são de que o desempenho das crianças portuguesas com PEDL é na
generalidade pior do que nas crianças com desenvolvimento típico; a proporção de erros
de concordância nominal é maior na produção que na compreensão; a proporção de
erros de concordância nominal é maior em pseudo-nomes que em nomes; a omissão do
determinante é mais frequente do que nas crianças com desenvolvimento típico e maior
em pseudo-nomes que em nomes.
2. Método
2.1. Participantes
A amostra foi constituída por dois grupos de crianças, de ambos os sexos, com
idades compreendidas entre os 4 e os 8 anos, falantes monolingues de PE e residentes
na região do Vale do Tejo. Todas as crianças frequentavam o jardim de infância ou o
primeiro ciclo do ensino básico, consoante a idade 1.
1
Todas as crianças do grupo experimental estavam no ano escolar correspondente à sua idade, à exceção de uma,
(PEDL7), que estava numa turma de 2º ano, embora esteja ao nível do 1º ano.
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2
Do grupo experimental f , com diagnóstico,
efetuado por um terapeuta da fala, ou suspeita de Perturbação Específica do
Desenvolvimento da Linguagem (PEDL) 3, e com avaliação psicológica que assegurasse
um desempenho não-verbal adequado à faixa etária. Constituíram-se, assim, como
critérios de exclusão para o grupo experimental todos os que excluem o diagnóstico de
PEDL: défices sensoriais; défices cognitivos; problemas neurológicos e
psicopatológicos; problemas emocionais e comportamentais; e estimulação ambiental
inadequada - Schwartz (2008), entre outros.
2
A distribuição não uniforme por géneros espelha a maior incidência desta patologia de linguagem em crianças do
género masculino - Schwartz (2008), entre outros.
3
A tipologia de PEDL usada na maioria dos diagnósticos é a proposta por Allen & Rapin (1983): (i) apraxia ou
dispraxia do discurso; (ii) défice de programação fonológica; (iii) surdez verbal ou agnosia auditiva; (iv) défice
fonológico-sintático; (v) défice sintático-lexical; e (vi) défice semântico-pragmático. No entanto, a tipologia de
Friedmann & Novogrodsky (2008) é também usada. Esta tipologia pressupõe uma modularização das áreas da
linguagem: Sintaxe, Fonologia, Léxico e Pragmática e define os défices linguísticos de acordo com isso. Uma das
crianças do grupo experimental tem um diagnóstico de PEDL fonológica.
4
A todas as crianças do grupo de controlo foi aplicado um dos seguintes testes de rastreio da linguagem: Teste de
Avaliação da Linguagem na Criança – TALC (Sua Kay & Tavares, 2008), a crianças de idade pré-escolar; e Grelha
de Observação da Linguagem - Nível Escolar (Sua Kay & Santos, 2003) a crianças de idade escolar.
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Na conceção do estudo, e como tal na preparação do instrumento de recolha de dados, considerou-se congruência de
nome como uma variável. Contudo, essa variável não será aqui analisada.
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carro”. No caso de alvos de mais que um objeto (plurais) foi utilizada a instrução: “Aqui
estão algumas denhas e algumas bafes.”
3. Resultados
Os resultados dos desempenhos de cada uma das crianças com PEDL, nas tarefas
de compreensão e produção, distinguindo nomes e pseudo-nomes, são os apresentados
na Tabela 2. Nesta tabela, podem ver-se também os desempenhos médios do respetivo
grupo de controlo, da mesma faixa etária das crianças do grupo experimental.
Nas crianças com PEDL, o desempenho é pior do que nas crianças com
desenvolvimento típico, com exceção de 3 sujeitos, os PEDL5, 6 e 8, que apresentaram
um desempenho igual ou melhor que os seus pares com desenvolvimento típico.
Por outro lado, não há efeito geral de desenvolvimento no grupo de controle – só
parcial na compreensão (H(4) = 22.364, p=.000), nos grupos dos 5 e 6 anos (U = 16.5,
p=.009) 6.
6
A análise estatística foi realizada com recurso ao software SPSS 17.0 e os testes usados foram os testes não-
paramétricos Kruskal Wallis e Mann-Whitney.
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4. Discussão
Neste estudo, o desempenho das crianças com PEDL revela alguma
heterogeneidade, tanto no que diz respeito ao modo de expressão mais afetado
(compreensão ou produção) como à categoria gramatical mais afetada (género ou
número).
Quanto ao modo de expressão, os resultados não são conclusivos, uma vez que há
variabilidade nos desempenhos individuais no grupo experimental. Contudo, observa-se
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5. Conclusões
Este estudo exploratório pretendeu descrever os desempenhos de um conjunto de
crianças portuguesas diagnosticadas com PEDL em tarefas que envolvem concordância
nominal em género e número e produção de determinantes, no sentido de os identificar
como potencial marcador clínico para esta patologia. Observou-se que os desempenhos
das crianças com PEDL, ainda que não correspondendo a um padrão unificado, são
piores que os dos seus pares, da mesma idade, com desenvolvimento típico da
linguagem. Fica em aberto a questão de estas construções poderem ser um marcador
fiável de PEDL em geral, ou de PEDL gramatical em particular. Um alargamento da
amostra bem como a correlação com outros marcadores clínicos, de natureza mais ou
menos linguística, poderá contribuir para a resposta a esta questão.
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