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Sucção Comportamento A sucção é aqui abordada por tratar-se de uma

função primária do sistema estomatognático. A alimentação dos recém-nascidos


humanos, bem como de outros mamíferos, se dá por meio da sucção. Assim, têm início
os movimentos funcionais de lábio, mandíbula e língua, contudo, mesmo antes do
nascimento, tais movimentos rítmicos já são realizados, como foi observado em fetos de
28 a 33 semanas de idade78 .
A sucção é primariamente controlada por um gerador de padrão central, isto
é, uma rede neural localizada na formação reticular221, de onde são enviados impulsos
motores para a realização da função. Como o gerador de padrão é influenciado por
impulsos aferentes (Figura 1), podemos dizer que os estímulos provocados pela
amamentação natural ou artificial, o tipo do bico, a quantidade de leite escoado
fornecem informações sensórias diferenciadas que podem resultar também em
comandos motores diferenciados.
Isso sugere que os movimentos realizados para sugar quando a
amamentação é natural, materna, não é semelhante àqueles realizados quando a
amamentação é artificial. Supõe-se também, a partir da análise do comportamento, que
a sucção nutritiva (ingestão de alimentos) e a não-nutritiva (chupeta, dedo) envolvem
dois padrões 2 2 motores funcionalmente distintos com, presumivelmente, diferentes
mecanismos de controle nervoso central80 .
Ao ser amamentado no peito, o bebê exercita as estruturas envolvidas,
estimula o crescimento ósseo, a superação do retrognatismo47 e o início da
remodelação das articulações temporomandibulares, que nesta fase são planas e não
possuem eminência articular71, além de coordenar a sucção com as funções de
respiração e deglutição. A língua apresenta movimentos no sentido póstero-anterior e
somente após o momento da sucção é que eleva o seu terço anterior em direção à porção
mais anterior do palato duro116. Ela é volumosa em relação ao espaço da cavidade oral
e sua posição entre os coxins gengivais permite uma postura adequada para a sucção. O
sulco longitudinal que se forma na língua durante a sucção é semelhante ao que se
forma no adulto no ato da deglutição. Movimentos periféricos mais delicados dos
lábios, que coincidem com a maturação da língua, são observados na medida em que a
sucção vai sendo substituída por outras formas de alimentação97 .
Contudo, alguns fatores como comprometimentos neurológicos do bebê,
exposição ao álcool e aos narcóticos no ambiente intra-uterino e intubação orotraqueal
do recémnascido por longo tempo podem levar a uma desorganização do
comportamento motor de sucção, isto é, fraqueza na sucção intra-oral, compressão
reduzida pela mandíbula e movimentos arrítmicos que comprometem a função e a
nutrição. Principalmente nos casos em que se utiliza a sonda, a estimulação por meio da
sucção não-nutritiva pode contribuir para a organização do padrão de sucção60, que
deve ser realizada, de preferência, nos momentos em que a alimentação é fornecida,
para que haja uma associação entre o ato de sugar e a obtenção de alimentos.
De acordo com Jacintho95, assim que se inicia a sucção não-nutritiva, cujo
objetivo é estabelecer a coordenação entre sucção-respiração e deglutição, solicita-se a
mudança da sonda orogástrica para a nasogástrica. Atingindo tal coordenação, será
iniciada a estimulação da sucção nutritiva artificial e posteriormente a materna.
Nutritiva e Não-Nutritiva Em muitos estudos têm sido destacados os efeitos benéficos
da amamentação natural47, 29, dentre eles sobre o crescimento e desenvolvimento dos
componentes do sistema estomatognático. Mas, torna-se importante apontarmos que não
é apenas o tipo de amamentação que conta, mas sim o quanto esta se prolonga no
tempo.
A sucção é uma forma apropriada para a obtenção de alimentos, enquanto o
sistema não está preparado para a mastigação. Mas, como explicou Carvalho27, a
erupção dos primeiros dentes sinaliza que a criança precisa começar a mastigar.
Geralmente, o prolongamento da alimentação por meio da sucção se dá pela utilização
da mamadeira, a qual leva a maior tendência de hábitos de sucção nãonutritiva. Serra-
Negra, Pordeus e Rocha Jr.186 constataram que 86,1% das crianças que não
apresentavam hábitos bucais deletérios foram amamentadas no seio por seis meses ou
mais, enquanto as que não foram, ou receberam a amamentação materna apenas por um
mês, apresentavam sete vezes mais hábitos. Ainda, 57,4% das crianças que usaram
mamadeira por período superior a um ano, apresentavam hábitos deletérios.
Diretamente, estes fatores afetam a musculatura oral e perioral e a conformação óssea e
dentária.
A sucção de polegar e a interposição de língua podem movimentar os dentes
e o osso alveolar para locais indesejáveis com relação ao processo de crescimento 3 3
normal44. De acordo também com Serra-Negra et al.186, as crianças com hábitos
deletérios apresentavam quatro vezes mais mordida cruzada posterior, 14 vezes mais
mordida aberta anterior e 3,6 vezes mais sobressaliência do que aquelas sem hábitos.
Além disso, associada aos hábitos muitas vezes existe uma infantilização, favorecida
pelos pais, que leva ao consumo preferencial de alimentos macios.
Com isso, a função mastigatória não se torna efetiva, levando à hipofunção
dos músculos elevadores da mandíbula e prejuízos no desenvolvimento e crescimento
do sistema estomatognático, pela somatória de fatores mecânicos negativos e
exercitação inadequada. Embora os hábitos de sucção exerçam influências negativas
desde idades precoces, a fase da dentição mista é bastante crítica, portanto é importante
que os hábitos sejam interrompidos até o início desta
. Boni21 verificou que, após a remoção dos hábitos de sucção em crianças
de 4 a 6 anos, ocorreu redução da mordida aberta anterior, reduções significativas nas
medidas cefalométricas 1.NA (ângulo formado pela intersecção da linha NA e o longo
eixo do incisivo superior), 1-NA (distância entre a linha NA e o longo eixo do incisivo
superior), sobressaliência e aumento do ângulo interincisivo, no período estudado de 37
a 54 dias. No referido estudo foram realizadas sessões de orientação com os pais e as
crianças pela fonoaudióloga, mas nenhum aparato mecânico foi utilizado para a
remoção do hábito ou correção ortodôntica. Como explicaram Enlow e Hans44 , se os
fatores deletérios extrínsecos forem removidos, o equilíbrio normal das relações
intrínsecas funcionais trabalhará no sentido de um retorno maior ou menor à posição
normal, de acordo com os limites anatômicos naturais do campo de crescimento.
Todavia, se os hábitos são mantidos, não somente serão necessárias
medidas de orientação aos pais e crianças, como também tratamento ortodôntico e
fonoaudiológico. Assim, a prevenção das má-oclusões inicia-se com a divulgação dos
conceitos funcionais e de como estes atuam positivamente sobre o crescimento e
desenvolvimento, bem como sobre as influências negativas, quando há disfunções
intrínsecas ou provocadas por fatores extrínsecos. Embora algumas unidades de saúde
tenham equipes especializadas para a orientação de gestantes sobre o aleitamento
materno, essa ação ainda é limitada a poucos locais. Seria necessário que as autoridades
compreendessem o papel da amamentação na promoção de saúde e prevenção de
doenças e assim favorecessem a existência e fortalecimento de equipes compostas por
médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, cirurgiões-dentistas e outros profissionais. Numa
ação preventiva, além da sucção, o desenvolvimento de outros aspectos, incluindo a
linguagem, poderia ser orientado. Por exemplo, mães que amamentam seus filhos
assistindo televisão, dirigem-lhes menos o olhar, falam menos com estes, deixando
então de realizar ações que estão no “seio” da construção e do desenvolvimento da
linguagem e fala. Como escreveu Dussel41 “a cultura, assim como a língua materna, é
mamada”
Fases mecânicas do ciclo mastigatório
Quando o indivíduo já se encontra com uma mastigação madura, irá realizar,
segundo Douglas (2002), três fases distintas que passo a descrever:
I. Incisão – é a colocação do alimento na cavidade oral, onde ocorre a
movimentação da mandíbula para abrir e fechar a boca até o alimento ser cortado. A
língua, com o auxílio das bochechas, vai localizando o alimento entre as superfícies
oclusais dos dentes (pré molares e molares) que, pelas suas características anatómicas,
realizam as etapas seguintes.
II. Trituração – é a transformação dos alimentos em pedaços menores,
ocorrendo principalmente nos dentes pré molares. Das três fases, esta é a mais longa.
III. Pulverização – é a moagem das partículas pequenas, transformando as
ainda em partículas menores. Não há resistência por parte das superficiais oclusais ou da
mucosa bucal.
É de notar que as ultimas duas fases não podem ser separadas abruptamente.

Idade Tipo de Desenvolvimento oral


alimento e
consistência

0-4 Liquido – A língua deve realizar movimentos para a frente e para trás atrav
meses através da mama e/ou s da sucção da mamã e/ou biberão.
biberão

4-6 Líquidos e Realiza movimentos de sucção na colher e realiza movimentos d


meses pastosos (purés) – transferência de alimento na língua.
através da mama e/ou
biberão e colher

6-8 Purés e Já consegue realizar alguns movimentos de mastigação,


meses alimentos moles puxar o puré com o lábio superior e língua.

8-12 Alimentos Realiza o fechamento labial quando come pela colher e usa
meses triturados, esmagados os lábios para puxar o alimento da mesma, consegue trincar
e/ou pequenos pedaços uma bolacha e os movimentos de laterização do alimento são
mais precisos.

12-18 Alimentos Consegue mastigar com os lábios fechados e levar o alimento de


meses dos adultos em pequenos um lado para o outro.
pedaços.

18-24 Carne, Os movimentos de mastigação são rotativos.


meses vegetais e frutos crus

> 24 Alimentos Os movimentos rotativos são realizados com o encerramento


meses dos adultos labial associado.

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