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Marchesan IQ. Relação entre sucção de chupeta e dedos. In: Moreira CC. (Org).

Pediatria com Psicologia. São Paulo: Santos; 1994. p.72-79

RELAÇÃO ENTRE SUCÇÃO DE CHUPETA E DEDOS

Dra. Irene Queiroz Marchesan


Diretora do CEFAC – Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica
Titulação: Doutor em Educação pela UNICAMP Universidade de Campinas
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Doutor - devo dar chupeta para o meu filho ou permitir que sugue o dedo? Quantas
vezes o médico pediatra ouve esta pergunta em seu consultório? Provavelmente muitas. E as
respostas? Acabam dependendo da formação do profissional que vai responder.
Este é um tema bastante intrigante, que tem despertado muitas discussões, pois as
opiniões variam não só de médico, como deste profissional para outros, como
fonoaudiólogos, dentistas, psicólogos. Portanto, cada caso deve ser avaliado pelo pediatra.
A criança nasce com reflexos diversos, entre eles o de sucção, que serve para obter
alimento e também para saciar o ato em si de sugar, que inicialmente é bastante forte e
normal. Ela suga o peito da mãe para obter alimento e, após estar satisfeita, continua
algumas vezes com a sucção sem retirada do alimento, apenas para saciar este ato.
O bebê pode sugar o dedo, até para ajudar na coordenação mão-boca. Porém,
quando este ato natural de sucção se torna um hábito de duração e freqüência prolongadas,
pode ocorrer má oclusão dentária, do tipo mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior,
classe II ou III, inclinação axial dos dentes superiores vestibularizada ou inferiores
lingualizada, dependendo de qual dedo e da posição em que a criança faça a sucção.
A sucção inadequada pode levar, também, a um tono inadequado dos órgãos
fonoarticulatórios. Este tono, em geral rebaixado, pode levar a uma má postura: a – de
mandíbula rebaixada, com masseter alongado; b – de lábios em geral evertidos, com
hipofunção; e c – de língua, que por estar com tono diminuído, acaba se posicionando na
arcada inferior, facilitando a abertura da boca e até propiciando um crescimento alterado dos
ossos da face.
Associado à má postura e tono alterado também podemos encontrar distúrbios na
aquisição dos fonemas, alterando a fala da criança.
Tudo isso como conseqüência daquele aparentemente inocente hábito de sucção
prolongada de dedo ou mesmo de chupeta.
Como não sabemos se o ato normal se tornará hábito e se este causará danos,
evitamos a sucção do dedo, sugerindo a introdução da chupeta ortodôntica, que pode ser
retirada sem grandes problemas, em torno dos dois anos.
Para se prevenir a ocorrência de problemas ortodônticos, a chupeta deve ser usada
para a criança adormecer e não durante todo o dia. A retirada pode ser feita após várias
conversas com a criança, explicando os porquês da mesma.
Quando há firmeza dos pais em relação a qualquer mudança que se julgue importante
para o filho, a chance de um possível trauma na supressão do hábito de sucção é pequena,
pois há por parte dos pais bastante tranqüilidade para suportar a frustração momentânea da
criança e, com isso, até favorecer o seu crescimento, deixando assim de ser um bebê.
Quando a saúde física e mental da criança está bem, ela suga dedo ou chupeta apenas
durante o período de sucção fisiológica, abandonando este ato sem necessidade de
tratamento ou repressões. Quando isso não acontece naturalmente, é sempre bom investigar
as possíveis causas da manutenção do hábito.
Enfim pode-se, reforçar que crianças com hábitos de sucção de dedo, chupeta e/ou
mamadeira acima de dois anos e meio, associada à manutenção de dietas pastosas, são
fortes candidatas aos consultórios de dentistas, ortodontistas e fonoaudiólogos.

Bibliografia
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2. Barret, R. H. & Hanson, M. L. Oral Myofunctional Disordes. Saint Louis, Mosby, 1978.
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4. Kudo, A. M. e Col. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional em Pediatria.
Monografias médicas Série “Pediatria”, volume XXXII, Sarvier, 1990.
5. Marchesan, I. Q. Motricidade Oral – Visão clínica do trabalho fonoaudiológico integrado
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em Tópicos de Fonoaudiologia, Lovise, 1994.
7. Sergovia, M.L. Interrelaciones entre la Odontoestomatologia y la Fonoaudiologia. La
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