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UNIVERSIDADE NILTON LINS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURSO DE FONOAUDIOLOGIA

A CONTRIBUIÇÃO DA FONOAUDIOLOGIA
NA QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO.

MANAUS-AM

2018
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FELIPE BORGES GUIMARÃES

A CONTRIBUIÇÃO DA FONOAUDIOLOGIA
NA QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de


Fonoaudiologia da Universidade Nilton Lins, como requisito para
obtenção de nota na Avaliação Institucional.

Orientador de TCC: Prof. Me. Felipe da Costa Negrão. Orientadora


de conteúdo: Prof.ª Esp. Nathalie Farias de Oliveira Reynaldo.

MANAUS-AM

2018
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A CONTRIBUIÇÃO DA FONOAUDIOLOGIA NA QUALIDADE DE VIDA DO


IDOSO.

Felipe Borges Guimarães1


Felipe da Costa Negrão 2
3
Nathalie Farias de Oliveira Reynaldo

RESUMO

O crescimento vertiginoso da população idosa é um problema com o qual pesquisadores de sociologia vêm se
defrontando. O fenômeno, mundial, é tão intenso que tem provocado grande crise socioeconômica e política,
com repercussão em todos os setores, principalmente no de saúde. Por sua relevância e abrangência, não poupa
países ricos, pobres e vem sendo sistematicamente debatido em fóruns, congressos, seminários, bem como em
artigos, periódicos, literatura especializada, acadêmica e científica. O presente trabalho pretende fazer uma
explanação sobre o papel do profissional de fonoaudiologia na promoção da melhoria na qualidade de vida do
idoso. Procura demonstrar quais são os problemas acarretados na saúde pelo processo de envelhecimento, assim
como quais os desafios a serem enfrentados em ação conjunta com os demais profissionais de saúde na
proficiência de uma melhor assistência ao público idoso.

Palavras-chave: Envelhecimento. Envelhecimento ativo. Gerontologia. Terceira Idade.


Fonoaudiologia. Qualidade de Vida.

INTRODUÇÃO

De acordo com as estimativas populacionais descritas no último documento oficial das


Nações Unidas, elaborada pela Divisão de População do Departamento de Desenvolvimento
Econômico e Assuntos Sociais, o número de pessoas com 60 anos pode chegar a estimativas
de 2,4 bilhões em 2050, altura pela qual o número de pessoas idosas deverá ultrapassar o
número de jovens (indivíduos dos 0 aos 14 anos de idade) (UNITED NATIONS
POPULATION FUND, 2011, apud MARTINHO, 2013, p.20).
Esta mudança na composição etária da população do planeta vem sendo causada pelo
aumento da expectativa de vida e pela redução das taxas de mortalidade, que traduzem um
aumento significativo na qualidade de vida e na saúde da população mundial de uma maneira
geral (OMS 2012).

1 Acadêmico do curso de Fonoaudiologia da Universidade Nilton Lins. E-mail:turiel.fb@gmail.com


2 Mestre em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Professor de Trabalho de Conclusão de Curso. E-
mail: felipe.unl@hotmail.com
3Orientadora Graduada em Fonoaudióloga, Professora da Universidade Nilton Lins (UNL). E-mail:
nath_reynaldo@hotmail.com
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A saúde do idoso é um dos problemas que mais tem preocupado os países, ricos ou
pobres. A Organização Mundial de Saúde, OMS, foi criada com o objetivo de desenvolver
políticas públicas que melhorem a qualidade de vida. A saúde foi definida em 1948 por essa
organização, como sendo não somente a ausência de patologia, mas, também, como a
resultante das condições de vida do indivíduo em suas interações com a sociedade. Logo,
verifica-se que a qualidade de vida está diretamente relacionada com as condições
socioeconômicas, com o espaço geográfico e cultural.
A Fonoaudiologia é uma área de atuação também em Saúde Pública. De espectro
amplo, atende a uma diversidade de grupos sociais e assume, em particular, papel sensível e
significativo sobre as ações que podem resultar na qualidade de vida da população idosa,
acima dos 60 anos, quando levados em consideração os impactos que o processo de
envelhecimento pode acarretar sobre esta faixa etária, levando a distúrbios como dificuldades
de comunicação e a deterioração dos processos mnemônicos essenciais à manutenção da
linguagem, os quais demandam cuidados especializados (MARCOLINO– GALLI &
FONSECA, 2016).
A definição de qualidade de vida é difícil, por se tratar de um constructo subjetivo e
determinado por inúmeras variáveis interligadas ao longo da vida (life-span), inclusive no
processo de envelhecimento humano. Compreender o envelhecimento como um processo
sociovital multifacetado e se conscientizar de que se trata de um fenômeno irreversível é de
suma importância para que todos, profissionais da saúde, governo, sociedade em geral e os
próprios idosos, vejam a velhice não como finitude, mas como um momento do ciclo da vida
que requer cuidados específicos, o qual pode e deve ser desfrutado com qualidade (Witter &
Buriti, 2011, apud DAWALIBI et al., 2013, p.395).
Esse trabalho propõe uma nova postura reflexiva, acerca do tema envelhecimento no
âmbito da fonoaudiologia para que se busque a excelência na qualidade da assistência à saúde,
propiciando novos valores que venham melhorar o atendimento desta crescente população,
desde o nível da atenção básica a promoção do envelhecimento com qualidade.

METODOLOGIA
Este trabalho é de natureza qualitativa com apuramento de dados primários e
secundários para, mediante o cruzamento e interação deles, chegar aos parâmetros
conclusivos que levem à proposições de melhores padrões de atendimento fonoaudiológicos.
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Serão analisados todos os dados pertinentes ao processo de senescência, assim como, a


correlação deste, com a intervenção fonoaudiológica por meio de uma revisão sistemática de
literatura.
Este artigo pauta-se na pesquisa bibliográfica onde:

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já


analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos
científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma
pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou
sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente
na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo
de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do
qual se procura a resposta (SILVA, 2014, p. 318).

Para tanto, buscou-se referências em bases de dados eletrônicos, sites e revistas


eletrônicas como: Medline, Revista CEFAC, OMS, PubMed, Scielo e Google Acadêmico na
língua portuguesa e inglesa. Além disso, as revisões sobre o tema e as referências de todos os
artigos considerados relevantes foram consultadas em busca de novos meios para inclusão.
Esta pesquisa foi realizada no site Oásisbr e motores de busca do Google Acadêmico. Foram
pesquisadas palavras chaves da composição dessa pesquisa num período de 2017 a 2018.
Inicialmente em 2017 houve consultas de fontes oficiais como IBGE e relatórios da OMS
com finalidades de dimensionamento da pesquisa. Em 2018 foram achados 27 trabalhos por
meio das palavras-chaves: Envelhecimento. Envelhecimento ativo. Gerontologia. Terceira
Idade. Fonoaudiologia. Qualidade de Vida. Foram selecionados 18 trabalhos dos 27 na
composição deste trabalho, sendo 13 artigos, 4 dissertações, 1 monografia, e mais literatura
especializada que foi consultada na biblioteca Aderson Dutra.

REFLEXÕES SOBRE FONOAUDIOLOGIA E GERONTOLOGIA


O processo de envelhecimento da população brasileira está crescendo continuamente e
de modo bastante acelerado de tal forma que a transição demográfica cristalizou-se conforme
constado no último censo demográfico brasileiro de 2010. Os idosos - pessoas com mais de
60 anos – somam mais de 14 milhões de pessoas (IBGE, 2010, apud MACHADO, 2015,
p.18).
A pesquisa em fonoaudiologia no Brasil relacionada com a linguagem do indivíduo
idoso ainda está muito voltada para afasias e demências, e são poucos os estudos voltados
para a linguagem no envelhecimento sadio que apontem para ações preventivas em busca de
maior qualidade de vida (BILTON et al.,2016).
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A atuação em Fonoaudiologia dentro de uma equipe multidisciplinar se apoia no


conceito de Saúde Coletiva. Isso significa proporcionar saúde, assegurando meios que
ampliem o bem-estar do indivíduo, intervindo especialmente em situações de risco,
redimensionando e dirigindo o foco para a qualidade de vida e não mais apenas para o
tratamento de doenças (SOUZA e SOUZA, 2012, p.39).
Um estudo demonstrativo referente à autoria dos artigos publicados na Revista
Brasileira de Geriatria e Gerontologia, num período de 2006 a 2013, revelaram que das 5
regiões do país, dentre elas a sudeste, foi a que obteve um resultado de quase metade do
percentual nacional 43,4% das quais se soma mais um percentual não aplicável do estudo de
4,8% seguida da região sul com 26,8% e a região com menos publicações a região norte com
1,9% desse total (ROIG et al.,2014, p.663).

LINGUAGEM EM FONOAUDIOLOGIA GERONTOLÓGICA: CONCEITOS E


REFLEXÕES
A Fonoaudiologia tem ampliado seu campo de trabalho e áreas de atuação, também
junto ao idoso, atuando em pesquisa, prevenção, avaliação, assessoria, consultoria, perícia,
diagnóstico, terapia, ensino, orientação, promoção de saúde e aperfeiçoamento nas áreas da
Linguagem, Voz, Audiologia, Motricidade Orofacial e Saúde Coletiva (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2006, apud SOUZA e SOUZA, 2012, p.39).
As mudanças que constituem e influenciam o envelhecimento são complexas, não
sendo de natureza lineares ou consistentes, e são apenas vagamente associadas à idade de uma
pessoa em anos. Em nível biológico, o envelhecimento é associado ao acúmulo de uma
grande variedade de danos moleculares e celulares. Com o tempo, esse dano leva a uma perda
gradual nas reservas fisiológicas, um aumento do risco de contrair diversas doenças e um
declínio geral na capacidade intrínseca do indivíduo (OMS, 2015).
Em especial, a atuação na Saúde Coletiva, recomenda um novo modo de organização
do processo de trabalho do fonoaudiólogo ao ressaltar a importância da promoção da saúde,
da prevenção de riscos e agravos, da reorientação da assistência a doentes, e da melhoria da
qualidade de vida, privilegiando modificações nos modos de vida e nas relações sociais entre
todos os sujeitos envolvidos no cuidado (NERI, 2001, apud SOUZA e SOUZA, 2012, p.39).
Então se a idade cronológica não diz com precisão algo sobre a velhice, o que define
uma pessoa velha? Para esta pergunta, poderemos buscar subterfúgio partindo daquilo que é
socialmente aceito como determinante do que é ser velho, então, encontraremos alguns
marcos que nos darão indícios a este respeito. Contudo, o real do corpo por meio dos sinais
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que se manifestam, como as rugas, os cabelos brancos, a dificuldade no caminhar, as falhas de


memória, algumas doenças, entre outras, apontam para esta realidade de maneira que
podemos de alguma forma retrata-la (ROSA, 2014).
Portanto, se o idoso não corresponde a uma certa demanda acaba sofrendo com as
modificações no processo social e, começa a sentir que os infortúnios próprios da vida o
desqualificam, e que os possíveis conflitos decorrentes de suas relações interpessoais
precisam ser devidamente denegados, pois, muitas vezes, encarar a realidade pode ter um
preço muito alto a pagar, sendo necessário aceitar a demência, bem como outras doenças
psíquicas, como tentativa de defesa contra o sofrimento decorrente de sua condição atual,
sendo este ocasionado pelo abandono social e/ou familiar (ROSA, 2014).
Desta forma, o conceito de qualidade de vida está relacionado à autoestima, ao bem-
estar pessoal e abrange uma série de aspectos como a capacidade funcional, o estado
emocional, a interação social, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o
próprio estado de saúde, o estilo de vida, a satisfação com atividades diárias, as expectativas,
as preocupações e o ambiente em que se vive. A qualidade de vida do idoso, portanto, é
intensamente marcada por sua capacidade de conservar autonomia e independência (SOUSA e
SOUSA, 2012, p.38).
Teorias do desenvolvimento sugerem que todos os indivíduos devam executar certas
tarefas ao longo do processo de desenvolvimento. Fletcher (2011) refere duas perspectivas:
Clark e Anderson consideram que os indivíduos continuam a ajustar-se e adaptar-se através da
definição das limitações, redefinição do espaço de vida, alternativas para a satisfação das
necessidades, avaliação de si mesmo e reintegração dos objetivos de vida (FLETCHER, 2011,
apud MARTINHO, 2013, p.19).
O envelhecimento ativo é descrito numa relação de interdependência entre o equilíbrio
e o declínio natural das diversas capacidades individuais, mentais e físicas e da obtenção dos
objetivos desejados. Como componentes do envelhecimento saudável podemos considerar:

 A prevenção de doenças, atrasando o seu aparecimento ou diminuindo a sua


gravidade;
 A prevenção do isolamento social e da solidão das pessoas idosas;
 A atividade social, o convívio, o sentir-se útil à família e/ou à comunidade se
relacionando com a qualidade de vida, o bem-estar e a manutenção da função
cognitiva.
(MARTINHO, 2013, p.22)
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Desta forma, o envelhecimento é descrito como processo global em que há perda das
reservas orgânicas e consequente degeneração das várias funções executivas que, ao passar
dos anos intensifica a sua atuação no corpo e mente das pessoas idosas (CARDOSO 2009).
A Fonoaudiologia, então, aprofunda-se a cada dia na discussão e no aprimoramento
de técnicas para o tratamento dessas patologias características do envelhecimento, ao mesmo
tempo que inicia diversas reflexões sobre a prevenção das mesmas. Sendo que as mais
decorrentes alterações de linguagem, dentre elas as afasias, são adquiridas pelos acidentes
vasculares encefálicos (AVE), os quais alteram, a forma e o uso da linguagem e de seus
processos cognitivos subjacentes, tais como percepção e memória. Então, o fonoaudiólogo,
acaba por atuar como ponte nos processos de reabilitação e manutenção da linguagem oral
e/ou gestual do afásico ligando familiares e cuidadores a uma adaptação gradativa ao processo
de interação, que vai se modificando na medida da progressão da doença. Todavia quando
ocorrem alguns discursos de alguns pacientes com lesões neurológicas difusas, como nos
quadros demenciais, são descritos grande número de termos indeferidos e frases sem sentido
no escopo de sua mensagem, além de ausência de elementos importantes para a compreensão
do interlocutor, o que, muitas vezes gera angústia nos familiares e cuidadores. Portanto, o
objetivo da manutenção da linguagem é desenvolver e manter o senso de identidade,
transmitir e receber informações para o autocuidado, criar estratégias para a comunicação,
amenizar dificuldades de compreensão e/ou de produção de linguagem por meio de
estratégias orais e visuais que incentivem o idoso a se adaptar às mudanças. A intervenção
nesses casos deve possibilitar o desenvolvimento de estratégias, paliando e compensando a
deterioração linguística que acompanha o envelhecimento (BILTON et al., 2016, p.1355).

ASPECTOS VOCAIS NO ENVELHECIMENTO


O envelhecimento natural da voz é denominado presbifonia, uma decorrência das
mudanças anatomofisiológicas que afetam as pregas vocais e outras estruturas relacionadas
com a produção vocal (BILTON et al, 2016, p.1356).
Mudanças da voz em decorrência da presbifonia, como: tremor, diminuição da
intensidade, alteração da frequência, instabilidade, fadiga vocal, entre outros, são resultantes
do envelhecimento da laringe, ou presbilaringite (RODRIGUES, 2017, p.2). As mudanças
anatomofisiológicas são caracterizadas pelo envelhecimento da laringe, em que ocorre fenda
glótica pela ação da diminuição da capacidade respiratória que junto com a atrofia muscular
dão origem a voz rouca (SOARES et al., 2007, p.225). Dentre outros fatores anatômicos e
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fisiológicos que estão envolvidos no envelhecimento laríngeo, dois tipos de alterações


anatômicas são mais destacados: a calcificação e ossificação gradual das cartilagens laríngeas,
que causam diminuição da mobilidade laríngea e redução na excursão das cartilagens
aritenóides. Num estudo realizado por Benninger e Abitbol (2006) com imagens
laringoscópicas, foi observado que a maior parte da musculatura das pregas vocais diminui
caracterizada pela atrofia dos músculos intrínsecos da laringe, redução da espessura da prega
vocal e alterações na qualidade de contração muscular (MIRANDA et al., 2011, p.444).
Exercícios vocais têm sido propostos para favorecer o fechamento glótico, aumentar a
pressão subglótica e a intensidade da voz, estabilizar a qualidade vocal e a frequência
fundamental, e proporcionar melhoria global no sistema funcional da fala, e estudos apontam
que a maioria dos pacientes se beneficia com a terapia vocal (MAU, JACOBSON e
GARRET, 2010, apud BILTON, 2016, p.1356).
A reabilitação pode melhorar a qualidade vocal e minimizar as características
presbifônicas e, principalmente, interferir na integração social do idoso, proporcionando-lhe a
realização de atividades que eram impedidas pela presbifonia, como por exemplo, participar
de corais religiosos. Portanto, ações preventivas têm demonstrado sucesso, como apontado
num estudo realizado por Soares et al. (2007), no qual idosos que receberam orientação vocal
apresentaram menor frequência de hábitos inadequados e sintomas vocais quando comparados
a idosos sem orientação, o que indica que orientações sobre saúde vocal em grupos de terceira
idade são eficazes (BILTON, 2016, p.1356).

ASPECTOS AUDITIVOS NO ENVELHECIMENTO


Os componentes do sistema auditivo são três: condutivo (composto pela orelha externa
e média) e sensorial (cóclea) que transforma o impulso sonoro em elétrico, e neural. Os dois
primeiros componentes, condutivo e sensorial, fazem parte do sistema periférico, e o neural,
responsável pela atividade central, faz parte do sistema nervoso. A atividade periférica tem a
função de detecção e transmissão dos sons, e a atividade central tem a função de
discriminação, localização, reconhecimento do som, compreensão, atenção seletiva e memória
auditiva (GUIDA et al.,2007, apud BUSS, 2009).
As principais modificações anatômicas e fisiológicas periféricas que ocorrem com o
envelhecimento no sistema auditivo são:
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 Orelha externa: diminuição da elasticidade do tecido epitelial e da tonicidade


muscular, aumento da produção de cerume e da quantidade de pelos, que causam a
diminuição na sensibilidade auditiva;
 Orelha média: perda da elasticidade da membrana timpânica e calcificação dos
ligamentos e dos ossículos, o que compromete a transmissão dos sons;
 Orelha interna: são as estruturas que mais sofrem efeitos da degeneração.
(BILTON et al., 2016, p.1357)

A perda auditiva que acomete o indivíduo idoso em função da idade denomina-se


presbiacusia e, é um sério fator de limitação do indivíduo (MONDELLI; SOUZA, 2012).
Para que a comunicação ocorra é necessário que ambas as funções, audição e voz,
funcionem em reciprocidade, sendo que a audição muitas vezes monitora a produção vocal. E
portanto, o monitoramento dessa produção vocal se torna fundamental para um bom
desempenho na comunicação devido a capacidade do sistema auditivo em regular os
parâmetros vocais de intensidade, extensão e frequência. Sendo assim, entre os sentidos
humanos, a audição é o mais propício a apresentar perdas funcionais, advindas, da ação do
tempo, associada à exposição do ouvido a ruídos intensos, ao uso indiscriminado de
medicamentos, à tensão diária e às doenças de forma geral, que contribuem para perda de
sensibilidade auditiva, gerando déficits auditivos.
A literatura internacional apontada a presbiacusia como a principal causa de deficiência
auditiva nos idosos, com uma incidência de cerca de 30% na população com mais de 65 anos
de idade, ocorrendo na maioria das vezes bilateralmente e acometendo frequência altas (tons
agudos) e gerando dificuldades no reconhecimento da fala, com incidência maior no sexo
masculino. Estudos tem demonstrado ainda, que idosos com alguma deficiência auditiva, se
comparados com sujeitos mais jovens, possuem plasticidade cerebral mais concentrada nas
áreas associativas gerando modificações nas funções periférica e central em relação a
indivíduos mais novos. Há também uma diminuição do neurotransmissor GABA (ácido
gama-aminobutírico) que funciona de modo inibitório em ambientes ruidosos para auxílio do
foco atencional da audição seletiva, que no idoso, se torna rebaixada. Ser um idoso
presbiacúsico, portanto, vai além do fato de não ouvir bem, mas, gera implicações
psicossociais sérias para a vida do indivíduo, pois, a necessidade de ser bem-sucedido na
compreensão da mensagem gera tensão, ansiedade e grande possibilidade de frustação.
Assim, o idoso afasta-se das situações de comunicação cotidianas e, dessa forma, segrega-se
do seu ambiente familiar e social, que por sinal, muitas vezes acaba sendo descrito por
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familiares como confuso, distraído, não comunicativo e não colaborador. Assim os efeitos da
presbiacusia podem ser minimizados por meio da adaptação de aparelhos de amplificação
sonora individual, com resultados positivos na qualidade de vida do paciente (BILTON et al.,
2016, p.1356 e 1357).
Por meio de testes comportamentais e eletrofisiológicos o treinamento auditivo tem
demonstrado ser capaz de provocar mudanças na representação neural em situação de ruídos,
melhorando a velocidade e capacidade de codificação do som resultando em benefícios reais
para a comunicação do dia a dia (ANDERSON et al., 2013; MORAES, 2015, p.100 e 101).

ASPECTOS DA DEGLUTIÇÃO NO ENVELHECIMENTO


A deglutição é um processo bastante complexo, pelo qual o alimento é transportado da
boca até o estômago, e que envolve uma série de músculos e nervos, os quais devem
funcionar de forma coordenada e rápida. Compreende três fases: oral (preparatória e
transporte), faríngea e esofágica; e ocorre em relação a vários processos, como a alimentação,
a mastigação e a respiração (BILTON et al., 2016, p.1358).
A deglutição no envelhecimento se caracteriza por mudanças em todo processo de
deglutição, observadas em todas as suas fases, caracterizando a presbifagia por modificações
e adaptações que ocorrem pela degeneração fisiológica do mecanismo da deglutição, em
virtude do envelhecimento sadio das fibras nervosas e musculares (ACOSTA & CARDOSO
2010, p.152).
Durante o envelhecimento podemos encontrar, juntos ou separadamente, os seguintes
fatore:
 Problemas de mastigação por deficiência da arcada dentária ou por próteses
inadequadas;
 Diminuição do volume de saliva por uso de medicações e doenças associadas;
 Diminuição da força máxima da língua;
 Diminuição da pressão da parte oral da faringe;
 Redução do limiar de excitabilidade de deglutição;
 Penetração no vestíbulo laríngeo;
 Diminuição dos reflexos protetivos;
 Aumento da incidência de refluxo gastresofágico;
 Afecções associadas que comprometem a atividade motora visceral (neuropatias,
miopatias e diabetes);
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 Uso de medicamentos que, potencialmente, podem comprometer a atividade muscular


dos órgãos envolvidos na deglutição.
(VENITES et al.,2005, apud BILTON, 2016, p.1358)
As mudanças que ocorrem no mecanismo da deglutição devido aos efeitos do processo
de envelhecimento, ocorrem geralmente de forma isolada, não levando à disfagia, porém
podendo levar a um distúrbio de deglutição. Desta forma, entende-se distúrbio de deglutição
como um sintoma de uma síndrome de base, caracterizada por qualquer alteração no trânsito
do alimento da boca ao estômago, isentando o indivíduo aos riscos de aspiração pulmonar,
desnutrição e/ou desidratação. Já a disfagia contém as mesma descrições do distúrbio de
deglutição, quanto a sua etiologia, porém, expõe o indivíduo ao risco de aspiração pulmonar,
desnutrição e/ou desidratação. Além disso, pode tornar um hábito agradável em um desprazer,
tornar indivíduos dependentes de outras pessoas para a alimentação e afetar gravemente a
qualidade de vida (BILTON et al., 2016, p1358). A disfagia no idoso se caracteriza por
alterações na realização da função orofacial da deglutição, sendo a disfagia do tipo
orofaríngea um sintoma frequente associado ao aumento da duração da fase orofaríngea da
deglutição (ACOSTA e CARDOSO, 2010).
A prática clínica tem demonstrado que o idoso portador de distúrbio de deglutição
poderá, diante de um quadro de fragilização ou descompensação, evoluir para uma disfagia.
Para tanto é preciso fazer avalição clínica das estruturas que envolvem o exame físico da
cavidade oral, faringe, laringe e a verificação da mobilidade e tonicidade das estruturas
envolvidas na deglutição – essencialmente lábios, língua e bochechas (BILTON et al., 2016,
p.1358 e 1359).

Assim como na criança que nasce, e para alimentar-se, passa por um processo de
adaptação alimentar, o idoso passa a ter outras características naturais que dificultam
a alimentação. O fonoaudiólogo pode oferecer um trabalho de adaptação preventivo,
através das mudanças de consistências alimentares de forma a ajustar às
dificuldades, diminuindo os danos causados às funções orofaciais, ao mesmo tempo
em que viabiliza a adequação das estruturas e funções estomatognáticas (CARDOS
& BUJES, 2010, p.63).

Na avaliação clínica funcional ocorre a testagem de diferentes consistências


alimentares:
 Líquidos finos
 Líquidos engrossados
 Pastosos
 Sólidos macios
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 Sólidos secos
Durante avaliação de deglutição são usados recursos instrumentais para
monitoramento do funcionamento do corpo como o estetoscópio e o oxímetro de pulso, onde
o estetoscópio, é colocado em um dos lados da cartilagem tireoide para se auscultar os sons de
passagem do ar e da deglutição e, o oxímetro de pulso, usado para medir saturação de
oxigênio na hemoglobina, no qual nos permite monitorar pacientes que dessaturam em
consequência de aspiração traqueal. E para complementar a avaliação clínica, o
fonoaudiólogo pode lançar mão de exames de imagem para concluir seu diagnóstico. Os mais
utilizados são a endoscopia e a videofluoroscopia da deglutição, por onde, se é possível ter
uma ideia mais nítida da extensão da patologia (BILTON et al., 2016, p.1359 e 1360).
A prevenção em saúde no idoso deve se caracterizar por maior acesso às informações.
Uma proposta de orientação para a população de idosos em nosso país deve enfocar a
prevenção de afecções dentárias, pois a manutenção dos dentes garante um aporte nutricional
mais adequado podendo usufruir melhor das funções estomatognáticas, ao mesmo tempo em
que os exercícios orofaciais podem oferecer uma melhor adaptação das condições dessas
estruturas e funções, promovendo uma qualidade de vida favorável aos idosos (CARDOS &
BUJES, 2010, p.63).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fonoaudiologia em gerontologia possuí relevância impar no cenário atual em que
vivemos, marcados por mudanças no modo em que se vive e se enxerga a vida, num contexto
cada vez mais globalizado no que tange envelhecimento ativo, tema desta revisão
bibliográfica. Foram levantadas estratégias de tratamento fonoaudiológicas para as patologias
mais recorrentes do processo de senescência. Foram consultados trabalhos de outras áreas de
atuação em saúde como a psicologia e a enfermagem, porém, com o mesmo enfoque no tema
envelhecimento ativo.
Com relação à área de conhecimento envelhecimento, na produção científica da
SciELO 2010, a área que mais produziu sobre o tema foi Psicologia (26,1%), seguida de
Medicina (21,7%), Saúde Pública e Enfermagem (17,4% cada) e Psiquiatria (11,6%).
Fonoaudiologia, Fisioterapia, Odontologia e Educação Física contribuíram, apenas, com 1,4%
do total, cada uma. Em nenhum dos artigos foram abordados assuntos referentes à Nutrição
(DAWALIBI et al., 2013, p.398).
O fonoaudiólogo é o profissional chave para detectar alterações de linguagem, assim
como, realizar prevenção de patologias relacionadas ao envelhecimento juntamente com uma
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equipe interdisciplinar composta por psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas e médicos de


outras especialidades, nesta parcela da população cada vez mais crescente.
Com isso o estudo lança novas probabilidades na maior ênfase aos futuros trabalhos
científicos voltados para o controle das patologias da senescência, bem como, na sua
prevenção de modo a se estabelecer melhores condições de se viver a velhice com mais
qualidade.

REFERÊNCIAS
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BILTON T. L., SUZUKI H. S., SOARES L. T., VENITES J. P., Fonoaudiologia em


Gerontologia. In: FREITAS, E. V. & PY, L. de (org.). TRATADO DE GERIATRIA E
GERONTOLOGIA. 4°Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. P.1355- 1364.

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envelhecimento. Disponível em: http//: www.fdeportes.com/Revista Digital. Buenos Aires.
Año 13. N°130. Marzo de 2009.
BUSS L.H.; GRACIOLLI L.S.; ROSSI A.G.; Processamento auditivo em idosos:
implicações e soluções. Rev. CEFAC, São Paulo. 2009.

DAWALIBI N.W.; ANACLETO G.M.C; WITTER C.; GOULART R.M.M; AQUINO R.C.
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