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ISBN: 978-65-81704-00-1
• O esôfago é uma estrutura tubular muscular com a função básica de transporte do alimento da boca até o estômago,
de forma progressiva e unidirecional, ou seja, sem permitir o retorno do conteúdo deglutido. Ademais, impede a
deglutição de ar, aerofagia, durante a respiração.
• A manutenção dessas funções se dá através do íntimo ajuste entre peristalse efetiva e relaxamento dos esfíncteres
esofagianos superior (EES) e inferior (EEI) durante a deglutição. Para evitar a aerofagia e o refluxo, depende de um
efetivo tônus do EES e EEI, respectivamente.
• O EES e o EEI são as duas estruturas anatômicas responsáveis por evitar o refluxo alimentar:
− O EES localiza-se na junção faringo-esofagiana e é formado, principalmente, pelo músculo cricofaríngeo.
− Já o EEI, localizado na junção esofagogástrica, é formado por um componente intrínseco representado pelas fibras
musculares do esôfago e um componente extrínseco formado pelo diafragma. Perceba que em casos de hérnias de
hiato esofágico, há a perda de um desses mecanismos, o componente extrínseco, facilitando a ocorrência de refluxo
gastroesofágico (Figura 1).
• Possui um comprimento médio de 25 cm, com início imediatamente após a faringe (na altura da cartilagem cricoide
e da vértebra C6) e término no estômago, na altura da cárdia, após entrada no hiato esofagiano (altura da vértebra
T11) (Figuras 2 e 3).
• Atravessa todo o mediastino posterior entre o coração (íntima relação com o átrio esquerdo) e a coluna vertebral. No
cruzamento com hiato esofagiano, percorre 5-8cm no abdome antes de se unir ao estômago (Figuras 2 e 3).
Cervical
Torácico
Diafragmático
• Trajeto:
− Esôfago cervical: Estende-se da junção faringo-esofagiana até o nó supraesternal. Em seu trajeto posterior e em íntima
relação com a traqueia, encontra-se deslocado para a esquerda (entenda e memorize, esse é o motivo pelo qual o acesso
cirúrgico do esôfago cervical geralmente é feito através de uma cervicotomia esquerda).
− Esôfago torácico: Estende-se do nó supraesternal ao diafragma. Deslocando-se, em seu trajeto torácico, para a direita
devido ao arco aórtico na altura da carina (mais uma vez uma dica cirúrgica, acessos cirúrgicos ao esôfago torácico
geralmente se fazem através de toracotomia ou videotoracoscopia direita).
− Esôfago abdominal: Estende-se do diafragma à cárdia. Retoma sua lateralidade esquerda no hiato esofagiano em sua
entrada no abdome.
Conceito Cirúrgico: Tópico recorrente em provas, perceba que o trajeto esofagiano nos diz, por si só,
quais as vias de acesso utilizadas de forma geral para abordagens cirúrgicas do esôfago. Entender
esse trajeto (esquerda -> direita -> esquerda), nos chama a atenção para a via de abordagem a ser
empregada. Esse entendimento será importante, principalmente quando discutirmos neoplasias do
esôfago. Não perca questões por não dominar assuntos de anatomia básica.
• Camadas do Esôfago:
− Mucosa: epitélio escamoso, exceto nos 1-2cm distais, onde há epitélio colunar juncional (linha “Z”).
− Submucosa: espessa e rica em gordura, contém glândulas de muco, vasos sanguíneos e linfáticos, além do plexo de
Meissner.
− Muscular: formada por duas camadas musculares, circular interna e longitudinal externa. Entre essas camadas encontra-
se o plexo de Auerbach.
− Adventícia: camada mais externa, constituída por tecido fibroalveolar frouxo.
Figura 6 – Camadas do esôfago.
Fonte: https://www.vencerocancer.org.br/tipos-de-cancer/cancer-de-esofago-tipos-de-cancer/cancer-de-esofago-o-que-e-2/
Conceito Cirúrgico: Perceba que a ausência da camada serosa em sua composição torna o esôfago
um órgão mais suscetível à disseminação local dos tumores, ou seja, possibilidade de encontrarmos
formas mais avançadas do estadiamento T.
• Musculatura do Esôfago:
− Musculatura do terço superior, faringe e EES: musculatura estriada. Responsável pela fase oral ou voluntária da
deglutição.
− Musculatura dos 2/3 inferiores e EEI: musculatura lisa. Responsável pela fase esofágica ou involuntária, regulada pelo
sistema nervoso autônomo.
Figura 7 – Camadas do esôfago. Ênfase a trajetos nervosos e disposição das camadas musculares.
Fonte: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/acp-medicine/5041/disturbios_esofagicos_–_michael_f_vaezi.htm
• Correlação clínica: Relembre que pacientes com síndrome de CREST, forma limitada da esclerose sistêmica (calcinose,
fenômeno de Raynaud, dismotilidade esofágica, esclerodactilia e telangiectasias) apresentam dismotilidade esofagiana do
tipo disfagia de transmissão, o famoso entalo: o acometimento muscular é de fibras musculares lisas. Portanto, musculatura
do terço médio, distal e EEI. Viu como fica fácil?
OBS.: O esfíncter esofagiano inferior possui duas localizações: uma endoscópica e uma manométrica. A localização
endoscópica corresponde à supracitada linha Z, local de transição do epitélio colunar ao escamoso. Já a localização
manométrica situa-se 3cm abaixo da localização endoscópica.
➔
Figura 8 – Localização endoscópica e manométrica do EEI. Fontes: https://www.todamateria.com.br/esofago/ ; https://www.msdmanuals.com/pt-
pt/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/dist%C3%BArbios-esof%C3%A1gicos-e-de-degluti%C3%A7%C3%A3o/anel-esof%C3%A1gico-inferior
• Irrigação e Drenagem:
− Terço superior: Irrigado por ramos das artérias tireoidianas inferiores e artérias brônquicas. Drena para veias tireoidianas
inferiores que desembocam nas jugulares internas.
− Terço médio: Irrigado por ramos esofagianos e brônquicos da artéria aorta. Drena diretamente para o sistema ázigo.
Além dele, a drenagem se dá para veias brônquicas e intercostais.
− Terço inferior: Irrigado por ramos da artéria gástrica esquerda e artérias frênicas inferiores. Amplo plexo venoso
submucoso, com drenagem direta para veia cava inferior e para o sistema porta através da veia gástrica esquerda. É a
partir desse plexo que são formadas as varizes de esôfago.
As artérias frênicas superiores e inferiores são ramos diretos da artéria aorta. A veia frênica direita
drena diretamente para a veia cava, enquanto a veia frênica esquerda drena para a veia renal
esquerda (a exemplo da veia gonadal esquerda).
• Drenagem Linfática:
− Terço superior: Linfonodos cervicais profundos.
− Terço médio: Linfonodos mediastinais posteriores.
− Terço inferior: Linfonodos gástricos esquerdos.
Figura 10 – Drenagem linfática e inervação esofágica.
Fonte: https://jorgesitalan.wordpress.com/2017/10/16/anatomia-y-fisiologia-de-esofago-y-estomago-y-otras-patologias/
Figura 11 – Inervação do esôfago. Destaque para trajeto do nervo vago. Fonte: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/esofago.
• A disfagia ou “dificuldade em engolir alimentos” é o sintoma clássico da síndrome disfágica (diferentemente da odinofagia,
que é a dor ao deglutir). A disfagia pode ocorrer no início da deglutição, ou seja, na transferência do alimento à boca (fase
orofaríngea) ou no momento da condução do bolo alimentar ao estômago (fase esofágica).
• Principais causas:
− Obstrução mecânica:
✓ Alterações da coluna vertebral;
✓ Divertículos;
✓ Bócio;
✓ Anéis e membranas;
✓ Compressão cardiovascular (aneurisma de aorta, aumento do átrio esquerdo - AE -, artéria subclávia direita
aberrante);
✓ Estenose péptica;
✓ Abscessos, massas retrofaríngeas e tumores.
− Distúrbios motores:
✓ Acalasia;
✓ Esclerodermia;
✓ Espasmo esofagiano difuso.
• A disfagia pode se apresentar para sólidos e líquidos e pode ser intermitente ou progressiva. Lembre-se que no caso de
distúrbios motores do esôfago, por exemplo, ou em casos de obstruções da luz esofagiana de forma mais importante, o
paciente experimentará disfagia para sólidos e líquidos. Já no caso de obstruções exclusivamente mecânicas (tumores,
compressão extrínseca), geralmente o quadro apresenta-se como disfagia apenas para sólidos, inicialmente, e de forma
progressiva.
Existe, ainda, uma outra classificação para disfagia, conhecida como pseudodisfagia ou “globus
histericus”. Essa condição está relacionada a estresse emocional e distúrbios psiquiátricos, com relato
do paciente de “bolo na garganta” ou sensação de aperto na garganta. Geralmente esse sintoma está
presente não só às refeições e o paciente consegue deglutir os alimentos apesar dos sintomas.
(UNICAMP 2011) Homem, 50a, refere dificuldade para deglutir há 10 anos, inicialmente para
alimentos sólidos, com piora progressiva até alimentos líquidos e perda de 5 kg nos últimos 4
anos. Acompanham sintomas noturnos de tosse e falta de ar. Exame físico: bom estado geral e
emagrecido (+/4+). ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A. A hipótese diagnóstica é de uma estenose orgânica e o exame a ser solicitado é a endoscopia
digestiva alta.
B. A hipótese diagnóstica é de alteração motora primária do esôfago e o exame a ser solicitado é a
radiografia contrastada do esôfago.
C. Independente da hipótese diagnóstica, o primeiro exame a ser solicitado é a endoscopia digestiva
alta e o uso de procinéticos está indicado.
D. A hipótese diagnóstica é de disfagia funcional e o exame a ser solicitado é a eletromanometria do
esôfago.
COMENTÁRIO: Lembre-se que apesar da facilidade atual em realização de EDA, o primeiro exame
a ser solicitado na investigação de um quadro disfágico é o esofagograma baritado. O fato de o
enunciado sugerir um distúrbio funcional (tempo arrastado de doença, perda de peso pouco
significativa, progressividade dos sintomas) só corrobora com a solicitação desse exame. A EDA
e a manometria serão solicitadas conforme a investigação avance. RESPOSTA: Letra B.
• A acalasia (A = sem; Calásia = relaxamento) é o principal distúrbio motor do esôfago, geralmente característico de pacientes
adultos jovens (acometimento principalmente antes dos 40 anos).
• É resultante da degeneração dos corpos celulares dos neurônios do plexo de Auerbach (Acalasia -> Auerbach), situados
entre as camadas musculares, resultando em perda da coordenação motora do esôfago. Essa dismotilidade é resultante da
perda de neurônios inibitórios responsáveis pela secreção de oxido nítrico e, progressivamente também, há a perda de
neurônios colinérgicos.
• Esse acometimento resulta em três alterações fisiológicas características:
− Déficit de relaxamento do EEI (Característica principal - Atenção!);
− Hipertonia do EEI (P > 35 mmHg - Não está presente em todos os pacientes);
− Peristalse anormal ou aperistalse.
• Tipos:
− Primária: idiopática (causa mais comum). Ocorre por destruição do plexo de Auerbach.
− Secundária: no Brasil, representada pela doença de Chagas. A infecção pelo T. cruzi é capaz de degenerar os plexos de
Auerbach e Meissner (informação MUITO importante). Essa é uma típica manifestação crônica da doença de Chagas.
Algumas fontes não consideram essa doença como acalasia, pelo fato deste distúrbio ser secundário.
Apesar da Doença de Chagas ser endêmica no Brasil, a principal causa de acalasia em nosso país
também é primária ou idiopática. O diagnóstico da acalasia chagásica, que geralmente acomete
indivíduos na fase crônica da doença, é sorológico através do método Elisa (padrão ouro) ou da reação
de Machado Guerreiro.
• O quadro clínico é resultante do represamento do bolo alimentar no esôfago. Disfagia de condução, sensação de
entalo ou desconforto retroesternal, regurgitação e em alguns casos broncoaspiração dos alimentos. Os pacientes
podem apresentar tosse crônica, episódios frequentes de broncoespasmo e pneumonias de repetição devido à
regurgitação de alimento não digerido.
• Esses pacientes frequentemente ingerem grandes quantidades de líquidos para ajudar a esvaziar o esôfago (aumento
do peso da coluna de alimentos).
• A perda de peso é marcante e instala-se de forma progressiva, em meses ou anos, de forma menos intensa que no
acometimento por neoplasia.
• Vale ressaltar que a estase alimentar intensa resulta em uma inflamação crônica na mucosa esofágica, gerando
metaplasia e posteriormente displasia. Portanto, a acalasia predispõe ao aparecimento do carcinoma escamocelular
no esôfago, complicação presente em até 10% dos pacientes, se instalando de 15 a 30 anos após o início do quadro.
• Diagnóstico:
− Radiografia de tórax: Traz poucos achados significativos. Pode mostrar ausência de bolha gástrica, massa mediastinal
paraórtica e presença de nível hidroaéreo mediastinal.
Figura 12 – Radiografia de tórax com evidência de alargamento de mediastino e nível hidroaéreo (setas branca e preta).
Fonte: https://www.uptodate.com/contents/achalasia-pathogenesis-clinical-manifestations-and-
diagnosis/print?search=acalasia&source=search_result&selectedTitle=1~104&usage_type=default&display_rank=1
− Esofagografia baritada: Deveria ser o exame inicial em pacientes com acalasia. Pode trazer achados como retardo do
esvaziamento gástrico, dilatação do corpo esofagiano, contrações esofagianas não peristálticas ou não formadora de
ondas propulsoras, e a imagem característica do sinal do “bico de pássaro” ou “chama de vela”, devido a importante
estreitamento na região do EEI.
Figura 13 – Esofagograma baritado com a clássica imagem em chama de vela ou bico de pássaro (seta branca).
Fonte: https://www.uptodate.com/contents/achalasia-pathogenesis-clinical-manifestations-and-
diagnosis/print?search=acalasia&source=search_result&selectedTitle=1~104&usage_type=default&display_rank=1
• O esofagograma baritado permite ainda classificar e estadiar a doença, peça importante para guiar o tratamento.
• Classificação de Mascarenhas e Rezende:
− Grau I: Calibre normal (diâmetro de até 4 cm) / Pequena retenção de contraste.
− Grau II: Pequeno a moderado aumento de calibre (4 – 7 cm); considerável retenção de contraste; presença de ondas
terciárias.
− Grau III: Grande dilatação (7 – 10 cm); grande retenção de contraste; atividade motora reduzida ou inaparente.
− Grau IV: Dolicomegaesôfago (> 10 cm); esôfago atônico, alongado e dobrado sobre o diafragma.
• Endoscopia digestiva alta: responsável por confirmar a dilatação do esôfago e excluir outras possíveis causas de
obstrução mecânica. Ainda, responsável por excluir condições malignas que sejam causa do quadro ou presentes de
forma concomitante.
Uma EDA com presença de refluxo gastroesofágico vai de encontro ao diagnóstico de acalasia.
• Esofagomanometria: É o exame padrão ouro. Possui importância ainda maior quando os demais exames são
inconclusivos ou limitados. Como achados, temos as alterações já descritas acima:
− Déficit de relaxamento do EEI (Característica principal - Atenção!);
− Hipertonia do EEI (P > 35 mmHg - Não está presente em todos os pacientes);
− Peristalse anormal ou aperistalse.
• Tratamento: tem como base o estadiamento da doença para guiar nossas opções terapêuticas.
Grau I Até 4 cm Estágios iniciais: Nitrato, Antagonistas do Canal de Cálcio, Sildenafil, Botox® (injeção de toxina botulínica no EEI).
Grau II De 4 a 7 cm Estágios mais avançados: Dilatação pneumática por balão. Resultados satisfatórios (resolução dos sintomas 60 - 80%).
Entretanto, existe um alto índice de recidiva (em até 50% dos pacientes), chance de perfuração esofágica (2 - 8%).
Novas dilatações podem ser realizadas.
Grau III De 7 a 10 cm Para estágios avançados ou recidiva: Cardiomiotomia a Heller (secção de ambas as camadas musculares, circular e
longitudinal) + Fundoplicatura (geralmente parcial anterior ou a Dor - 180 graus – com o objetivo de evitar doença do
refluxo). Taxas de efetividade 70 - 90% com menor recidiva.
Fig. 15.1
Fig. 15.2
Figura 15 – Opções de tratamento na acalasia: 15.1 - Melhora da Acalasia após injeção de Botox; 15.2 - Estratégia de dilatação do EEI com balão
pneumático. Fonte: https://medsimples.com/acalasia/
Dispõe-se, atualmente, de uma técnica de miotomia endoscópica conhecida como POEM (Miotomia
Endoscópica Perioral). Nesse procedimento endoscópico, é realizada uma abertura na mucosa do
esôfago e criado um túnel submucoso para a secção das fibras musculares circulares do EEI
(preservação de fibras longitudinais). Procedimento menos invasivo com bons resultados (sucesso em
até 90% dos casos). Opção terapêutica para pacientes com megaesôfago grau 3 com risco cirúrgico
proibitivo, porém ainda experimental e com resultados não completamente consolidados.
• Conceito cirúrgico: Um algo a mais em relação às técnicas cirúrgicas para abordagem da acalasia. Existe uma técnica
cirúrgica, atualmente em desuso, mas já abordada em provas, conhecida como cirurgia de Thal-Hatafuku. Ela consiste em
uma miotomia transversa na região do EEI com posterior confecção de uma válvula antirrefluxo a Thal (fundoplicatura
anterior de 90 graus).
Antes de uma esofagectomia por acalasia, deve-se realizar EDA com cromatoscopia para exclusão de
lesões malignas ou pré-malignas esofágicas.
(SUS-PE 2011) Paciente jovem, com diagnóstico de megaesôfago chagásico, apresenta disfagia e
regurgitação. Estudo radiológico mostra esôfago com calibre de 5 cm. Eletromanometria revela
aperistalse do corpo esofágico e esfíncter inferior do esôfago com pressão aumentada e com
relaxamento incompleto. Qual a melhor conduta terapêutica?
A. Injeção de toxina botulínica no esfíncter inferior do esôfago.
B. Dilatação pneumática da cárdia.
C. Esofagectomia trans-hiatal videolaparoscópica.
D. Esofagocardiomiotomia e esofagogastrofundoplicatura parcial.
E. Esofagocardioplastia.
COMENTÁRIO: Observe que, apesar de o paciente do enunciado possuir classificação de Rezende grau
2, o autor enfatiza que se trata de um paciente jovem, com manometria que corrobora a aperistalse
esofágica e pergunta a respeito da melhor terapêutica para o tratamento. Apesar da possibilidade de
uso de toxina botulínica e dilatação pneumática, essas terapêuticas apresentam chances razoáveis de
recidiva. Portanto, quando estivermos diante de pacientes jovens, nossa tendência será a de operar
o paciente. Essa é a melhor terapêutica para pacientes que toleram a cirurgia, ou seja, possuem baixo
risco cirúrgico. RESPOSTA: Letra D.
(UFPE 2007) Sobre o megaesôfago chagásico e a acalasia idiopática, assinale a alternativa errada.
A. A dilatação apresenta maior recidiva tardia e menor refluxo que o tratamento cirúrgico.
B. Indica-se esofagectomia no dolicomegaesôfago chagásico devido ao risco de câncer.
C. Bloqueador do canal de cálcio diminui a pressão do esfíncter e do corpo esofágico, na acalasia.
D. Miotomia a Heller tem bom resultado em mais de 80% dos casos.
COMENTÁRIO: Apesar de a acalasia ser fator de risco para carcinoma escamocelular, a indicação da
esofagectomia é funcional. Ou seja, o dolicomegaesôfago é completamente desprovido de função e
com baixa resposta às demais terapêuticas. RESPOSTA: Letra B.
(UFPB 2013) A acalasia é um distúrbio neuromuscular do esôfago, onde a maioria dos pacientes
descreve o comer como um processo trabalhoso. Sobre a acalasia marque a alternativa CORRETA.
A. Em um período de 20 anos, o paciente terá até 50% de chance de desenvolver um carcinoma esofágico.
B. O adenocarcinoma é o tipo mais comum de carcinoma envolvido com esta patologia e tende a aparecer
no corpo do esôfago.
C. O esfíncter inferior do esôfago estará hipertenso com pressões em geral acima de 35 mmHg.
D. A adição de uma fundoplicatura parcial, como a Nissen, no procedimento de esofagomiotomia
cirúrgica, restaurará uma barreira antirrefluxo e diminuirá os sintomas no pós-operatório.
E. A esofagomiotomia cirúrgica elimina o risco de carcinoma.
COMENTÁRIO: Aproximadamente 10% dos pacientes com megaesôfago irão desenvolver carcinoma
espinocelular do esôfago. Apesar de redução do risco, pacientes submetidos à esofagomiotomia não
têm eliminado o risco do surgimento de neoplasias. O procedimento cirúrgico consiste em uma
cardiomiotomia (Heller) associada a uma fundoplicatura parcial.
A fundoplicatura à Nissen trata-se de uma fundoplicatura total. Encontramos pressões acima de
35mmHg no EEI em pacientes com essa patologia. RESPOSTA: Letra C.
• Definição: divertículos são “saculações” ou "bolsões” encontrados em qualquer parte do trato digestivo. Do ponto de
vista estrutural, os divertículos esofágicos podem ser classificados em:
− Verdadeiros: formados por toda as camadas da parede do órgão.
− Falsos: parede formada por camadas mucosa e submucosa (solução de continuidade na camada muscular).
− Intramurais: mucosa e submucosa, hérnia para dentro da camada muscular.
• O divertículo de Zenker é o mais comum dos divertículos esofagianos. É um falso divertículo, formado pela herniação
da mucosa e submucosa da hipofaringe.
• Ocorre numa área localizada na parede posterior da hipofaringe, numa região de fragilidade resultante da junção das
fibras oblíquas do músculo faríngeo inferior e as circulares do cricofaríngeo (EES), região conhecida como triângulo
de Killian.
• O mecanismo de formação resulta de pressões intraluminais aumentadas durante a deglutição, provavelmente por
ausência de relaxamento adequado do EES. O aumento da pressão, associada a uma região de fragilidade, resulta na
formação diverticular (mecanismo de pulsão).
• Quadro clínico: Geralmente assintomáticos, achados em 1% dos esofagogramas baritados, passam a esboçar
sintomatologia quando aumentam de volume. Seus sintomas decorrem justamente do aumento progressivo.
− Disfagia (divertículos volumosos geram compressão sobre o próprio esôfago).
− Halitose (retenção de alimento ou saliva).
− Deglutição “ruidosa”.
− Sensação de massa cervical.
− Regurgitação.
− Aspiração decorrente de regurgitação resultando em sintomas respiratórios como tosse, pneumonias de repetição e
crises de broncoespasmos (pouco comum).
• Diagnóstico: esofagografia baritada (confirma o diagnóstico). Diante da suspeita de divertículo de Zenker, devemos
evitar a endoscopia digestiva, para evitar o risco de perfuração e mediastinite.
Na suspeita de divertículo de Zenker, deve-se, além de evitar EDA, evitar também a passagem de
sondas e tubos devido ao risco de perfuração.
• Tratamento:
− < 2 cm (geralmente poucos sintomas ou assintomáticos) – miotomia do cricofaríngeo - boa efetividade na regressão dos
divertículos.
− ≥ 2 cm - Miotomia + Diverticulopexia (até 5 cm) ou diverticulectomia. Divertículos maiores que 5cm, em geral, devem
ser ressecados.
− Divertículos de 2 ou 3 a 5 cm - podem ser abordados por EDA através da abertura da parede posterior do esôfago,
comunicando a luz esofagiana com a luz verdadeira. Diverticulotomia (comunicação da luz do divertículo com a luz
esofágica) - procedimento de Dohlman.
Figura 20 – A + C: Luz esofagiana e divertículo. B + D: Aspecto após realização de diverticulotomia.
Fonte: https://www.uptodate.com/contents/zenkers-
diverticulum/print?search=zenker&source=search_result&selectedTitle=1~18&usage_type=default&display_rank=1
• Localizados no esôfago distal, próximo ao EEI. Representa um divertículo de pulsão, frequentemente associado a distúrbios
motores do esôfago e, por isso, deve-se realizar sempre esofagomanometria (elucidar se presença de distúrbio motor ou
disfagia devido ao divertículo).
• O tratamento consiste na correção do distúrbio motor e ressecção de divertículos volumosos.
• Definição: distúrbio de hipermotilidade mais comum do esôfago, acometendo ambos os gêneros e com distribuição similar
entre as faixas etárias. Neste caso, diferentemente do Espasmo Esofagiano Difuso (EED), as ondas peristálticas são eficazes,
porém, com alta amplitude.
• Alteração: ondas peristálticas eficazes e de altíssima amplitude.
• Quadro clínico:
− Disfagia;
− Cólica esofagiana / Dor retroesternal.
• Tratamento:
− Alimentos precipitantes devem ser excluídos da dieta;
− Bloqueadores de canal de cálcio e nitratos;
− Se houver DRGE associada, o tratamento desta pode melhorar os sintomas;
− Casos refratários: dilatação esofágica.
• Distúrbio neurogênico da motilidade esofágica caracterizado por contrações simultâneas e autolimitadas que ocorrem,
principalmente, ao longo dos 2/3 inferiores do corpo do esôfago. O peristaltismo normal é substituído por intensas
contrações não propulsivas. Resulta do acometimento dos axônios de neurônios inibitórios do plexo de Auerbach e em
menor escala do acometimento do nervo vago.
• Patologia infrequente e de difícil diagnóstico, mais comum em mulheres com desordens psiquiátricas, como depressão ou
ansiedade.
• Quadro clínico:
− Cólica esofagiana / Precordialgia (OBS: Sempre fazer diagnóstico diferencial com IAM);
− Disfagia.
• Diagnóstico:
− Esofagografia baritada: imagem clássica de “esôfago em saca-rolhas” ou “em contas de rosário”.
− Padrão-ouro - Esofagomanometria: capaz de flagrar e medir as contrações vigorosas e simultâneas, não propulsivas e
não peristálticas, prolongadas (> 2,5s), de grandes amplitudes (>120 mmHg) que predominam nos terços inferiores.
• Tratamento:
− Nitratos; Antagonistas dos canais de cálcio / antidepressivos tricíclicos.
− Esofagomiotomia longitudinal.
• Definição: variante da acalasia. Aqui, diferentemente da acalasia (que tem um problema no relaxamento do esfíncter),
temos o contrário: o esfíncter já é hipertônico.
• Clínica:
− Disfagia;
− Cólica esofagiana (mais rara na acalasia).
• Diagnóstico: Esofagomanometria: esôfago distal com contrações de baixa amplitude e falha na condução superior.
• Tratamento: controlar a DRGE.
• Definição: anormalidade do arco aórtico (mais comum é a artéria subclávia esquerda aberrante) ou da artéria pulmonar. O
trajeto anômalo das artérias acaba comprimindo o esôfago e gerando disfagia.
• Em relação às compressões cardíacas, a mais associada a problemas esofagianos é o átrio esquerdo. Geralmente decorrente
de estenose mitral, o problema mais comum.
Figura 27 – Artéria subclávia aberrante com trajeto posterior ao esôfago (disfagia lusória) e artéria pulmonar aberrante.
Fonte: http://www.semg.es/lacoruna2015/dmdocuments/disfagia-lusoria.pdf ; & https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-3-540-
69837-1_23
• Benignos:
− Muito raros (1%).
− Mais comum: Leiomioma.
− Localização mais comum: 2/3 inferiores.
− Clínica: assintomáticos até 5 cm.
− Diagnóstico: EDA e esofagografia mostram mucosa íntegra com abaulamento extrínseco.
• Malignos (breve resumo introdutório uma vez que discutiremos esse assunto junto com as neoplasias do trato digestivo):
• Esofagite infecciosa:
Candidíase esofágica Imunidade baixa Candida albicans Lesões de aparência esbranquiçada Nistatina oral / Anfotericina B
Esofagite com CMV Imunidade baixa CMV Grande úlcera, plana e única Ganciclovir
✓ Townsend, Courtney M., R. Daniel Beauchamp, B. Mark Evers, and Kenneth L. Mattox. Sabiston Textbook of Surgery: The Biological
Basis of Modern Surgical Practice. 20th Edition. Philadelphia, PA: Elsevier Saunders, 2016;
✓ F. Charles Brunicardi, Dana K. Andersen, Timothy R. Billiar, David L. Dunn, John G. Hunter, Lillian Kao, Jeffrey B. Matthews, Raphael.
Pollock. Schwartz's Principles of Surgery. 11th Edition. New York, NY: McGraw-Hill, 201;
✓ https://jorgesitalan.wordpress.com/2017/10/16/anatomia-y-fisiologia-de-esofago-y-estomago-y-otras-patologias/
✓ http://www.medicinanet.com.br/conteudos/acp-medicine/5041/disturbios_esofagicos_–_michael_f_vaezi.htm
✓ https://medpri.me/upload/texto/texto-aula-966.html
✓ https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/esofago
✓ https://www.uptodate.com/contents/achalasia-pathogenesis-clinical-manifestations-and-
diagnosis/print?search=acalasia&source=search_result&selectedTitle=1~104&usage_type=default&display_rank=1
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