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PREVENDO, PREVENINDO E SOLUCIONANDO PROBLEMAS DE

MALOCLUSÃO ATRAVÉS DE AJUSTES OCLUSAIS E PISTAS DIRETAS


PLANAS SEGUNDO A RNO

Para prevenir é necessário conhecimento, é necessário antecipar-se. Quem sabe, previne.


quem sabe menos, trata e cura. Quem não sabe, corta e retira. ( E. Lloyd , DuBrul 1991 ).
A Reabilitação Neuro Oclusal ( RNO ) foi criada e introduzida na prática clínica
odontológica, pelo médico estomatologista Pedro Planas, há mais de 50 anos com este
propósito.
Assim como Newton, Planas observando o desenvolvimento fisiológico das bocas,
determinou Leis de Desenvolvimento do Sistema Estomatognático 17, que hoje estão sendo
comprovadas por autoridades da comunidade científica.
Claude Bernard, célebre fisiologista, pensando e filosofando, percebeu o princípio
biológico, de que “a função faz o órgão e que o órgão proporciona a função”.
Planas pôs em prática a RNO baseada nesse princípio.
Bernardino Landete, professor de Planas, ensinou-o a raciocinar, contagiou-o com seu
autodidatismo e sua forma de ensinar a diagnosticar. Bernardino ensinava os alunos a
contestar três por quês 10.
Pensando nisso, Planas começou a contestar:
Por que os dentes não cabem na boca ?
Porque falta espaço.
Por que falta espaço ?
Porque não houve desenvolvimento ósseo adequado.
Por que não houve desenvolvimento ósseo adequado? Vamos pensar...
Os dentes tem como uma de suas funções, a mastigação. Se esta não é realizada
corretamente, os dentes deixam de cumprir o seu papel. Sem função normal, não há órgão
normal.
Sabe-se que a partir do nascimento, estímulos paratípicos normais como amamentação e
respiração nasal, serão fundamentais para o desenvolvimento adequado da boca.
Em contrapartida, estímulos paratípicos anormais como mamadeiras de forma
inadequada, uso prolongado de chupeta, chupar o dedo, respiração bucal e etc, poderão
propiciar um desenvolvimento inadequado da mesma.
Uma das coisas mais importante no primeiro ano de vida, é que se mantenham os circuitos
nasais bem estimulados. Quando uma criança está sendo amamentada corretamente, entre
inúmeras outras coisas, a respiração nasal está sendo reforçada.
Amamentação correta, do ponto de vista ortodôntico, significa dizer que o
posicionamento e a pega 3 do peito da mãe devem ser feitos adequadamente, pois se isto
não acontecer, o estímulo que a amamentação proporcionaria não será eficiente. Quando
uma criança nasce, ela não sabe respirar de outra maneira a não ser pelo nariz (exceto em
casos de alguma patologia neonatal). Através dos movimentos de ordenha, que só podem
ser perfeitamente realizados no peito da mãe e nunca numa mamadeira, a chamada
distoclusão fisiológica ( normal em recém nascidos e que pode chegar até a 12mm *) será
corrigida .
Se por algum motivo (resfriados, gripes ou qualquer coisa que faça com que o nariz da
* Marcos N. Gribel – comunicação pesoal
criança seja obstruido ), essa respiração se tornar bucal, logo que o motivo que causou isso
desapareça, a criança deve ser estimulada a voltar a respirar pelo nariz. Isso deve ser feito
durante todo o primeiro ano de vida, para que os receptores nasais sejam perfeitamente
estimulados e numa idade mais avançada, essa respiração possa automaticamente mudar
de bucal para nasal . Se isso não for feito , muito provavelmente, essa criança
permanecerá respirando pela boca, já que assim é muito mais fácil respirar. Se o circuito
de respiração bucal se instalar, uma “bola de neve” de problemas surgirão como
consequência.
Segundo Rocabado**, a primeira coisa que a criança deverá aprender após o nascimento,
será sustentar a cabeça sobre o seu corpo e conseguir mantê-la horizontal em relação ao
solo. A cabeça e o pescoço pesam em média 10% do peso do corpo e por isso devem estar
muito bem “equilibrados” sobre a coluna cervical. Se isso não acontece, algumas
alterações compensatórias estruturais deverão ocorrer para que a cabeça continue
“equilibrada” sobre o corpo.(figura – 1 ).

Fig.1 – Seqüência de eventos que se formam em decorrência da respiração bucal


Essa forma de compensação pode levar, a longo prazo, desde alterações no
posicionamento dos maxilares até a dores na cabeça, pescoço e articulações (ATM) 5,23,24,26.

* Marcos N.Gribel – comunicação pessoal


O grande problema, é que tudo isso passa desapercebido para as pessoas, principalmente
pela falta de informação. Assim, a criança segue o seu desenvolvimento, só que agora, com
comprometimentos que só serão percebidos mais tarde.
Essa criança está no chamado “estado degenerativo progressivo”, o que não se sabe é, por
quanto tempo essa ela permanece assim até que isso se transforme em dor. Alguns sinais
clínicos de pré dores** na cabeça são: coceira nos olhos e coceira nos ouvidos.
Diversos autores 6,7,8,17,22,23,26 concordam que a respiração bucal ou a falta de respiração
nasal levam a problemas de maloclusão. Conhecendo os Estágios de Desenvolvimentos 21
respeitando os Níveis de Prevenção 21 e aplicando os princípios da RNO pode-se
diagnósticar e intervir muito precocemente.
O aparelho mastigatório, necessita de uma grande quantidade de estímulos paratípicos
para um desenvolvimento normal, sendo inclusive, o único órgão que troca de material
( dentes ) para continuar se desenvolvendo 17. Assim, temos duas dentições : a decídua e a
permanente.
Para a RNO o equilíbrio oclusal 10 da dentição decídua e depois da permanente, é o ser ou
não ser da função mastigatória. É também, ponto fundamental no processo de eliminação
da célebre frase “É preciso esperar”e é categórica em afirmar que constatado o problema e
feito o diagnóstico, devemos atuar de imediato.
Devemos pensar que, quando descobrimos uma má posição dentária aos 6 ou 12 anos, é
que já estão faltando estímulos de desenvolvimento há 6 ou 12 anos, e que deveríamos ter
aplicado uma terapêutica profilática muito antes.27
Planas preconiza a intervenção na dentição decídua como prevenção à problemas na
dentição permanente.Um dos exames clínicos mais importantes a serem feitos, para
observar o grau de equilíbrio oclusal presente na dentição decídua é o do Ângulo Funcional
Mastigatório Planas ( AFMP ).17
Esse exame consiste em pedir ao paciente que execute, movimentos de lateralidade
mandibular. Com o conhecimento das Leis Planas referidas, diagnosticaremos qual o lado
de predominância mastigatório e o que essa predominância possa eventualmente causar ou
ter causado ao Sistema Estomatognático (desvio da linha média, crescimento
assimétrico,etc).
Feito o diagnóstico, interviremos com o ajuste oclusal que poderá ser por acréscimo
( Pistas Diretas 2 , figura – 2 ) ou por desgaste ( figura – 3 à 5 ) seguido de orientação
mastigatória.

Fig. 2 – Mordida cruzada corrigida com auxílio de Pistas Diretas Planas


** Mariano Rocabado – comunicação pessoal

Fig. 3 – constatação do AFMP menor do Fig.4 – um ano após o desgaste seletivo no


lado D e de alguns supranumerários. ladoE e remoção dos supranumerários.

fig. 5 – 7 anos após realizado o ajuste oclusal

Assim devolveremos ao paciente uma mastigação bilateral e alternada 17, com ângulos
funcionais mastigatórios iguais dos dois lados, contato do maior número de dentes no lado
de trabalho e apenas um suave toque das cúspides palatinas dos dentes superiores contra a
vertente interna das cúspides vestibulares dos dentes inferiores, no lado de balanceio.
Isso facilitará o esfregamento oclusal 17 e resultará em crescimento de ambas as arcadas tão
necessário, segundo Van der Linden 25 , para abrigar os dentes decíduos e os germes dos
dentes permanentes, já que eles serão distribuídos conforme o espaço disponível .
Sabe-se que uma criança com mordida cruzada unilateral 4, na maioria das vezes, mastiga
pelo lado cruzado, sabe-se também que, as curvas de erupção 18 dos dentes permanentes
sofrem influência da mastigação e do desenvolvimento dos maxilares, logo, se a
mastigação for unilateral alterações de desenvolvimento no andar médio e inferior da face
com desvios na forma e conseqüentemente na função poderão ocorrer, se isso não for
corrigido precocemente.
Com o auxílio dos desgastes seletivos, podemos inverter o lado mastigatório e, assim,
anular esse estimulo paratípico anormal. Podemos assim reorientar o crescimento do
sistema mastigatório de forma equilibrada.
Mesmo quando não há um problema tão aparente quanto o da mordida cruzada lateral,
pode haver impedimento dos movimentos de lateralidade por interferência cuspídea o que
impedirá o estímulo adequado dos maxilares e consequentemente o desenvolvimento
correto dos mesmos.
O importante é que os quatro conceitos chaves da RNO 20 sejam cumpridos:
Conceito chave 1 – Movimentos mandibulares látero-protusivos e impacto oclusal
adequados são condições essenciais para a adaptação contínua às demandas
funcionais.*****
Conceito chave 2 – Uma das condições da estabilidade oclusal é mastigar dos dois lados,
um de cada vez, e protruir durane a incisão.
Conceito chave 3 - As propriedades mecânicas da comida, isto é, alimentos consistentes,
provocam desgaste e movimento dos dentes que produzem a oclusão dinâmica equilibrada..
Conceito chave 4 - Os ossos da mandíbula e da maxila são estruturalmente diferentes e
obedecem leis de desenvolvimento diferentes.
Um outro recurso a ser utilizado é o das Pistas Diretas Planas 2,9,10,21, ou seja, porções de
resinas fotopolimerizável colocadas sobre os dentes decíduos ( exclusivamente ). Estas tem
inclinações específicas que promoverão mudanças no posicionamento mandibular
devolvendo as condições fisiológicas necessárias para que haja uma retomada no
desenvolvimento do sistema estomatognático.
O objetivo tanto dos desgastes seletivos quanto das pistas diretas, é o de conseguir um
Plano Oclusal 19 no final da dentição decídua o mais horizontal possível, com os longo
eixos dos dentes, perpendiculares a plano e sem inclinação dos incisivos.
Assim, teremos a certeza de que o esfregamento oclusal, tão importante para que as Leis
Planas se cumpram, seja conseguido. Com isso teremos como resultado, uma boca bem
desenvolvida e pronta para receber os dentes permanentes; nunca se esquecendo que
quanto antes se atuar melhores serão os resultados.

BIBLIOGRAFIA
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21- SIMÕES, W.A. - Ortopedia Funcional dos Maxilares através da Reabilitação


Neuro-Oclusal vol.1, Artes Médicas, 282-313, 331-346, 2003.

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head posture. AM. J. Orthod. 77: 258-268, 1980

27- INTERNET – www.google.com.br. Ortopedia Funcional dos Maxilares e RNO

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