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Secretaria Municipal de Saúde de São José dos Campos

Departamento de Políticas de Saúde


Núcleo de Saúde Bucal

Protocolo para Referência em Frenectomia Lingual e Labial

1 – Objetivo Geral:

Promover a Saúde Bucal, o mais precocemente possível, estabelecendo


uma educação continuada, de forma a transferir conhecimentos básicos, orientar
e estimular os pais ou seus responsáveis, enfocando a importância da
prevenção e manutenção da saúde bucal, como parte da saúde geral da criança.

2 – Objetivo Específico:

Tendo como meta o incentivo a amamentação e a prevenção de


maloclusões dentárias em crianças, este protocolo visa orientar o cirurgião
dentista quanto à indicação dos procedimentos de frenectomia lingual e labial,
descrição dos passos operatórios e orientação sobre o fluxo de encaminhamento
ao serviço referenciado.

3 – Revisão da Literatura:

Freio Lingual
O frênulo da língua é uma prega mediana de túnica mucosa que conecta
a língua ao assoalho da boca, permitindo a parte anterior desse órgão mover-se
livremente. No recém-nascido o frênulo lingual é posicionado do ápice da língua
até a base do processo mandibular alveolar. Na medida em que existem
desenvolvimento e crescimento ósseo, com prolongamento lingual e erupção
dentária, o frênulo migra para posição central até ocupar a sua fixação definitiva
com erupção dos segundos molares decíduos. Na literatura são encontradas
classificações diferentes de frênulos: mucoso curto, mucoso longo de fixação
mandibular e hipertrófico fixado na crista do rebordo alveolar. A anquiloglossia,
vulgarmente conhecida como língua-presa, é uma anomalia congênita incomum,
mas não rara caracterizada por um freio lingual curto e grosso, resultando em
limitações nos movimentos da língua. Estudos apontam predisposição maior em
meninos do que em meninas. (Braga LAS et al., 2009).

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Os fonoaudiólogos encontram muitos pacientes com queixas diversas que
levam à hipótese de que o frênulo da língua pode apresentar alguma alteração,
sendo o causador, ou pelo menos, agravante dos problemas verificados. Os
problemas mais comuns estão relacionados às dificuldades de articulação da
fala. O falante poderá apresentar limitações ao realizar movimentos articulatórios
mais amplos e elaborados, o que reduz a abertura de boca e seus grupos
consonantais. Outros sons da fala que podem ser afetados englobam os fones
[t], [d], [z], [s], [r], [tz], [l]. Movimentos de protrusão, elevação, retrusão,
lateralização e vibração também se encontram prejudicados. Estas alterações,
geralmente surgem na infância e se mantém na vida adulta caso não sejam
tratadas. Outra alteração citada na literatura refere-se à alimentação
principalmente durante a fase de amamentação. Os principais sintomas
associados à anquiloglossia na amamentação são dor no mamilo da mãe,
dificuldade na ordenha e sucção, que resultam em desmame precoce e perda de
peso. (Braga LAS et al., 2009)
O frênulo anteriorizado tende a limitar os movimentos da língua, sendo
que quanto mais anteriormente o frênulo estiver fixado, maior será a chance de
ocorrência de alteração na fala. Frênulos curtos não causam no geral alterações
de fala ou mesmo de mobilidade da língua. Clinicamente observa-se que línguas
que têm frênulos curtos mantêm-se baixas, no assoalho da boca, o que aumenta
a possibilidade de uma fala imprecisa. Desta forma, as implicações mencionadas
trazem repercussões ainda maiores em um frênulo curto e anteriorizado, já que
este é associação dos dois tipos de frênulo. Como cada tipo de frênulo
apresenta características peculiares, a abordagem clínica fonoaudiológica é
variável e específica para cada caso. No caso de frênulos curtos, como estes
não apresentam alterações funcionais importantes, indica-se fono terapia por
dois a três meses, se esta não for efetiva, a cirurgia é indicada. Em frênulos
anteriorizados, a indicação da cirurgia depende da fixação, quanto mais
anteriormente fixado, maior será indicação cirúrgica, caso contrário, a
fonoterapia é a conduta adotada. Nos frênulos curtos e anteriorizados a cirurgia
é sempre indicada devido a implicações na fala, mobilidade, mastigação e
deglutição. (Braga LAS et al., 2009)
Bebês com frênulo da língua alterado podem ter problemas na pega da
mama, complicando a retirada do leite e interferindo no ganho de peso. A

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liberação cirúrgica do frênulo, quando criteriosamente indicada, promove
melhora dessa função. A correção da anquiloglossia numa idade precoce reduz
o risco de complicações aos lactentes, e a frenectomia deve ser executada
quando há interferência na deglutição e na fala. O pediatra, o clínico geral e o
cirurgião dentista são os profissionais capacitados para detectar anormalidades
na boca de recém-nascidos, lactentes e crianças. Cabe ao primeiro o diagnóstico
das manifestações presentes na boca dos bebês no início da vida. O segundo,
geralmente, examina as crianças a partir do período da erupção dos dentes
decíduos (por volta dos 6 meses de idade). Com o advento da Odontologia
para bebês, a atenção precoce antes do nascimento dos dentes tornou possível
o diagnóstico de alterações bucais, como dente neonatal, pré-natal e
anquiloglossia. (Melo NSFO et al., 2011).

Frenectomia Lingual
A frenectomia lingual consiste na remoção cirúrgica do freio lingual. Em
casos de crianças compreendidas entre uma faixa etária entre 0 e 2 anos é
permitido somente a remoção do freio sem a divulsão das fibras musculares.

Técnica Cirúrgica
● Anestesia
● Remoção do freio
● Divulsão
● Sutura

Freio Labial
O freio labial é uma prega de membrana mucosa ricamente vascularizada,
tem o tecido conjuntivo coberto por epitélio (Caremello, 1953), e contém uma
quantidade variável de tecido fibroso; o seu tamanho varia de indivíduo para
indivíduo, mas não deve ser denominado de “músculo” ou “ligamento”
(Dewel,1943). Na fase pré-dental, e na dentição decídua o freio está inserido na
superfície (região palatal do rebordo alveolar na linha mediana) e se estende
para cima, em direção à superfície interna do lábio superior, de maneira que uma
tração do lábio superior promoverá um tensionamento dos tecidos lingualmente
localizados aos incisivos centrais superiores. À medida que o desenvolvimento

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da dentição e da oclusão acontece a inserção palatal, gradualmente, “sobe ou
migra” em direção do labial e na dentição permanente o freio encontra-se,
normalmente, inserido a cerca de 0,5mm, acima da margem gengival
(Taylor,1939). Frequentemente, o freio labial está confinado a uma faixa estreita
e não é forte o suficiente para impedir o posicionamento correto dos incisivos.
Portanto, em alguns pacientes o freio apresenta-se firme, tenaz, forte e atuando
como uma barreira à migração mesial dos incisivos durante a erupção,
mantendo um considerável diastema (Graber,1972). A erupção dos
incisivos centrais superiores com diastemas e em graus variados ocorre em 97%
dos casos. É uma condição normal, uma vez que estão separados pela sutura
palatina mediana. (Lewis, in Taylor,1939). Com a erupção dos incisivos laterais o
diastema pode manter-se ou até diminuir parcialmente e com a erupção dos
caninos em direção à linha de oclusão (Angle, 1907), o diastema fechar
completamente. Durante a erupção dos incisivos centrais superiores
permanentes, observa-se um espaço entre esses dentes, iniciando a fase do
“patinho feio” que, na maioria dos casos, persiste por um tempo de 3 ou 4 anos,
e o seu fechamento não ocorre antes da erupção dos caninos permanentes
(Broadbent,1941), é o chamado diastema fisiológico, normal no contexto do
desenvolvimento da dentição e da oclusão.
Muitas frenectomias ainda são realizadas sem que nenhum diagnóstico
diferencial seja realizado, algumas vezes por desconhecimento das etiologias
dos diastemas em outras por falta de paciência para “dar tempo ao tempo”. Nos
casos de dúvidas, deve-se aguardar até a erupção total dos caninos para
preconizar se estritamente necessária, a frenectomia.

Frenectomia Labial
A frenectomia labial consiste na remoção cirúrgica do freio labial atípico,
com objetivo de reposicioná-lo mais apicalmente. Indicado em casos de Freio
largo, em leque ou fibroso, com inserção baixa, presença de diastema
interincisal com paralelismo do longo eixo dos incisivos centrais e falta de
coalescência da rafe palatina. Indicado também como favorecimento do
tratamento ortodôntico.

Momento Ideal Para Indicação da Frenectomia Labial:

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● Após o irrompimento dos Incisivos Centrais permanentes, mas antes dos
Incisivos laterais;

● Pode ser feito também após o irrompimento dos caninos permanentes;

● Raramente indicado na dentição decídua.

Técnica Cirúrgica:

● Anestesia;

● Liberação do freio;

● Remoção da inserção original do freio;

● Curetagem até o periósteo;

● Proteção da fenda;

● Sutura;

● Cimento cirúrgico.

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FRENECTOMIA LINGUAL – TÉCNICA CIRURGICA

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FRENECTOMIA LABIAL – TÉCNICA CIRURGICA

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4. Critérios de Inclusão no Encaminhamento dos Pacientes as Referências:

Considerando-se a revisão da literatura, número de profissionais que se


dispõem a realizar o procedimento cirúrgico de frenectomia lingual e labial em
bebês e ao mesmo tempo a demanda de atendimento clínico das UBS’s
referenciadas, surgiu a necessidade de se determinar criitérios na inclusão dos
pacientes a serem encaminhados às Referências Odontológicas descritas a
seguir:
 Frenectomia lingual: serão priorizadas crianças numa faixa etária
compreendida entre 0 e 24 meses, inseridas no Programa de
Atenção Odontológica para bebês do Município ou acompanhadas
na Puericultura das UBS’s.
 Frenectomia labial: raramente se indica frenectomia labial na
dentição decídua, principalmente numa faixa etária compreendida
entre 0 e 24 meses. Casos extremos onde há prejuízo comprovado
de desenvolvimento das arcadas podem ser encaminhados a
referencia para avaliação.

Segundo Guedes-Pinto (1997) o primeiro surto de crescimento em


lateralidade ocorre do nascimento até os 2 anos de idade. Durante os primeiros
anos de idade, o crescimento do processo alveolar será mais acentuado no
sentido vertical, de tal forma que os germes dentários sejam envolvidos pela
cripta óssea, ocorrendo também um ganho na dimensão vertical do terço inferior
da face.
Sillman (1964) acompanhou o crescimento dos arcos de 65 recém-
nascidos até os 25 anos de idade. Em relação ao crescimento mandibular, o
autor concluiu que o maior aumento da largura intercanina ocorreu do
nascimento até os 2 anos de idade (3,5mm). Os 2 aos 6 anos quase não houve
evidencia de mudança. Em relação ao comprimento, o maior aumento do
segmento que inclui incisivos e canino, ocorreu do nascimento até os 2 anos de
idade. Dos 2 aos 6 anos não houve evidência de mudança significativa.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) o aleitamento materno
deve ser estimulado pelos profissionais de saúde. O aleitamento materno deve
ser exclusivo de 0 aos 6 meses de vida, sendo complementar até os 2 anos de

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idade. Um freio lingual curto pode prejudicar o aleitamento materno, cabendo ao
profissional de saúde a responsabilidade de proporcionar a possibilidade de que
isso aconteça.

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4. Referências Bibliográficas:

1. GUEDES-PINTO, A. C. Odontopediatria. 6.ed. Sao Paulo: Santos, 1997.


P. 70- 77.
2. SILLMAN, I. H. Dimension changes of the dental arches: longitudinal study
from birth to 25 years. Am. J. Orthodontics, St Louis, v. 50, n. 11, p. 824-
841, Nov., 1964.
3. BRAGA LAS, SILVA J, PANTUZZO CL, MOTTA AR. Prevalência de
alteração no frênulo lingual e suas implicações na fala de escolares. Rev
CEFAC, v.11, Supl3, 378-390, 2009
4. MELO NSFO, LIMA AAS, FERNANDES A, SILVA RPGVC.
Anquiloglossia: relato de caso. RSBO. 2011 Jan-Mar;8(1):102-7
5. CEREMELLO, P. J. The superior labial frenum and the midline. Am. J.
Orthod., St. Louis, v. 39, p.120-137, 1953.
6. DEWEL, B. F. The normal and abnormal labial frenum. JADA., v. 33, p.
318-329, 1946.
7. GRABER. T. M. Orthodontics. Principles and Practice. 3. ed.
Philadelphia,W. B. Saunders Co. p. 627-708, 1972.TAYLOR,J.E. Clinical
Observation relating to the normal and abnormal frenum labii superioris.
Am. J. Orthod., St. Louis, v. 25, n. 7, p. 646-650, July. 1939.
8. TAYLOR,J.E. Clinical Observation relating to the normal and abnormal
frenum labii superioris. Am. J. Orthod., St. Louis, v. 25, n. 7, p. 646-650,
July. 1939.
9. ANGLE, E. H. Treatment of Malocclusion of the Teeth. 7. ed. Philadelphia:
S.S. White Co. 1907. 628p.
10. BROADBENT, B. H. Ontogenic development of occlusion. Angle Orthod.,
Appleton, v. 41,n.  m p. 223-241, Oct. 1941.

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