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INTRODUÇÃO
O câncer de boca e orofaringe pode ser tratado com cirurgia,
radioterapia e/ou quimioterapia. Cada modalidade de tratamento
ocasiona diferentes alterações na mastigação e na deglutição, sendo
algumas reversíveis, e outras não. Segundo o INCA (Instituto Nacional do
Câncer) a cirurgia radical do câncer de boca evoluiu sobremaneira, com
incorporação de técnicas de reconstrução imediata, permitindo largas
ressecções e uma melhor recuperação do paciente. As deformidades,
porém, ainda são grandes e o prognóstico dos casos, intermediário.
Muitas das sequelas alimentares isolam o paciente do convívio familiar e
social durante as refeições. O ato prazeroso passa a ser realizado com
privação.
A desnutrição e a desidratação são manifestações que toda equipe
multiprofissional procura evitar que ocorram. O paciente submetido ao
tratamento oncológico de boca e orofaringe, pode vivenciar dificuldades
em uma ou mais fases da deglutição (preparatória, oral e faríngea). A
localização do tumor e o tipo de tratamento é que vão determinar quais
serão os comprometimentos funcionais.
No caso da cirurgia, além da região, a extensão exata e o tipo de
reconstrução vão influenciar na habilidade da mastigação e deglutição. O
processo de reabilitação deve ser executado por uma equipe
multiprofissional, atuando de forma interdisciplinar. Todos os esforços e
conhecimentos devem ser aplicados em favor da reintegração social do
paciente com qualidade de vida apropriada.
Com finalidade didática as sequelas de alimentação decorrentes do
tratamento cirúrgico são apresentadas a partir da localização do tumor.
Entretanto, vale lembrar que o câncer pode acometer mais de uma
estrutura sendo necessária a exérese de outras regiões e,
consequentemente, a disfagia orofaríngea será de acordo com a
intervenção realizada.
Lábios: de acordo com o INCA, o Brasil apresenta uma alta incidência de
câncer de lábio, uma vez que se trata de um país tropical que sustenta
também em sua economia atividades rurais nas quais os trabalhadores
ficam expostos de forma continuada à luz solar.
É essa a razão para o câncer de lábio inferior ser mais ocorrente que
o superior. Ressecções parciais dos lábios não comprometem o ato de
alimentação. O mesmo não é verdade para ressecções completas dos
lábios superior e inferior. A ausência de mobilidade da região ressecada e
reconstruída impossibilita a continência salivar e alimentar. A falta de
pressão dos lábios dificulta a retirada do alimento do talher. O
comprometimento do selamento labial inviabiliza a manutenção do bolo
alimentar na cavidade bucal durante a mastigação. Além disso, o paciente
apresenta dificuldade para a protrusão e diminuição na tonicidade
importantes para a sucção. Os alimentos de consistência líquida são os de
pior contenção para esses pacientes.
INTERVENÇÃO FONOAUDIOLÓGICA
O fonoaudiólogo deve atuar já na fase pré-operatória, orientando,
esclarecendo e conscientizando o paciente e seus familiares sobre a
terapêutica a ser empregada e sobre as consequentes alterações de
comunicação oral e alimentação.
As cirurgias de cavidade da boca e orofaringe podem ocasionar
prejuízos mínimos a bastante importante, devendo os esclarecimentos
serem fornecidos de acordo com a extensão exata da cirurgia e do tipo de
reconstrução. No pós-operatório recente, o paciente deve ser submetido a
avaliação das suas funções orais. Atenção deve ser dada à extensão
cirúrgica e ao aspecto da reconstrução, investigando a motricidade e
sensibilidade das estruturas da boca e a habilidade do paciente em
deglutir espontaneamente a saliva. É importante lembrar que nesse
período é comum ocorrer edema da região manipulada dificultando a sua
mobilidade.
Tais informações são fundamentais para se definir as estratégias
fonoterápicas e para se confirmar ou adequar os esclarecimentos
fornecidos no pré-operatório ao paciente. A reabilitação da disfagia deve
iniciar imediatamente após a liberação médica para alimentação por via
oral, geralmente por volta do 15° dia de pós-operatório
Para os tumores de boca e orofaringe tratados cirurgicamente, é
necessária a realização de exercícios oromotor preparatórios
(LOGEMANN, 1983) para que se possa melhorar o controle muscular
durante a mastigação e a deglutição.
São indicados os exercícios isotônicos com as estruturas do sistema
estomatognático e de sensibilidade intrabucal, como a estimulação
térmica no pilar palatoglosso para o reflexo de deglutição. Durante a
terapia com alimentos, estratégias terapêuticas devem ser aplicadas de
acordo os dados obtidos da avaliação pós-operatória.
São elas:
Modificações nas características da dieta: (consistência, textura e volume).
Nas ressecções completas de lábios e da região do mento, o paciente
apresenta maior facilidade na contenção alimentar quando este está na
consistência pastosa ou sólida.
Para a retirada de alimento do talher, um volume maior facilita a
sua introdução para a cavidade da boca. Para os casos em que a
mobilidade de língua está ausente ou bastante limitada, as consistências
líquidas engrossadas e pastosas finas são as mais indicadas, precavendo-se
que a dieta líquida não cause aspiração antes da deglutição. Alimentos
muito viscosos devem ser evitados, uma vez que a higiene oral com a
língua é precária ou inexistente, podendo ocasionar aspiração após a
deglutição.
A alternância da consistência alimentar durante a refeição favorece
a propulsão do bolo alimentar e a retirada dos resíduos na cavidade da
boca, valécula e seios piriforme. Um maior volume de alimento, por vezes,
pode ajudar no reflexo de deglutição e na passagem do bolo da boca para
o esôfago. No entanto essa é uma particularidade que deve ser bem
investigada para cada caso.
Posicionamento da dieta na cavidade bucal: introduzir o alimento sobre a
língua é uma excelente opção para as ressecções completas de lábios. Nas
mandibulectomias, nas cirurgias retromolares e nas glossectomias
menores que 50%, a dieta deve ser posicionada no lado contralateral à
ressecção.
Já os pacientes submetidos a cirurgias que ocasionem uma
movimentação lingual muito alterada, se beneficiam da introdução do
alimento na porção posterior da cavidade da boca.
Manobras posturais de cabeça: os paciente que não apresentam um bom
controle do bolo alimentar e/ou apresentam dificuldades para a propulsão
do bolo alimentar, podem posicionar a cabeça levemente para trás.
Entretanto, se ocorrer aspiração antes da deglutição tal posição
deve ser evitada. Inclinar a cabeça para o lado em que as estruturas da
boca e da orofaringe estão íntegras, promove uma mastigação e
deglutição mais satisfatória.
Múltiplas deglutições: é indicado para o paciente que apresenta higiene
oral ruim durante a refeição, visando a não manutenção do bolo na
cavidade bucal e prevenindo aspirações tardias.
Deglutição dura: para os pacientes com ressecção da base da língua, essa
manobra maximiza o movimento da estrutura remanescente e contribui
para a limpeza alimentar da valécula.
Manobra de Masako: Os pacientes com ressecções oncológicas da
orofaringe, se favorecem de tal estratégia, desenvolvendo compensações
com a faringe, uma vez que a manobra aumenta a movimentação da
parede posterior da faringe durante a deglutição.
A combinação de duas ou mais estratégias acima mencionadas,
permite ao paciente adaptações ou compensações satisfatórias,
viabilizando a reabilitação funcional. Vale relembrar que os exercícios
isotônicos são igualmente importantes no processo terapêutico do
paciente com câncer de boca e orofaringe. Para os pacientes que
apresentam aspiração antes, durante ou após a deglutição são indicadas
estratégias de proteção da via aérea inferior, tais como a deglutição
supraglótica, a super-supraglótica e manobra de Mendelsohn.