artigo inédito

Relatos clínicos e de técnicas, investigações

científicas e revisões literárias

Mordida Construtiva para a

Confecção do Ativador
para Classe II Divisão 1,
com Sobremordida
Profunda

Este artigo discute os detalhes da mordida construtiva do ativador para a

correção da Classe II, divisão 1, com sobremordida profunda, nos três planos
do espaço e descreve um método para a sua obtenção.

Unitermos: Classe II divisão 1, ativador mandibular, ortopedia funcional

dos maxilares.

Renato Rodrigues de Almeida1

Guilherme dos Reis Pereira Janson2
Luiz Sérgio Carreiro3
Adilson Luiz Ramos4

REVISTA DENTAL PRESS DE ORTODONTIA E ORTOPEDIA MAXILAR VOLUME 1, Nº 2 NOVEMBRO / DEZEMBRO - 1996 72
INTRODUÇÃO
Para a obtenção correta da mordida
construtiva do ativador, deve-se
considerar o posicionamento mandibular
nos três sentidos do espaço: ântero
posterior, vertical e lateral. Devido às
diferentes características das más
oclusões, estes tópicos serão discutidos
separadamente, para facilitar a sua
compreensão.
ÂNTERO-POSTERIOR
A quantidade de avanço mandibular no
sentido ântero-posterior (AP) depende,
principalmente, da discrepância sagital
entre os arcos dentários. Quanto maior o
avanço mandibular, maiores serão as
forças musculares para restringir o
crescimento maxilar e para inclinar os
incisivos superiores para lingual.
10
PFEIFFER e GROBETY sugerem que,
para restringir o crescimento maxilar, o
avanço sagital deve ser de 2 a 3 mm
aquém do máximo deslocamento ântero-
posterior da mandíbula. Considera-se
que esta posição proporciona contração
isométrica suficiente dos músculos
retrusores para restringir o crescimento
maxilar. Pode-se encontrar diferentes
recomendações para a realização da
mordida construtiva no sentido ântero-
1, 2, 3, 5, 7, 9, 12, 14, 15, 16,
posterior
sistemática sugerida por PFEIFFER e
10
GROBETY é bastante prática e
confortável para o paciente. Além disso,
individualiza o avanço mandibular para
cada paciente. Aplicando-se esta regra,
obtém-se, em média um avanço de 7 mm.
Nos casos em que há um trespasse
horizontal acentuado, maior do que 7 mm
e, após uma correção parcial da má
oclusão, quando já ocorreram alterações
esqueléticas e dento-alveolares, instala-
se outro aparelho, avançando a
mandíbula por mais alguns milímetros até
a posição de topo entre os incisivos
superiores e inferiores.
Pode-se encontrar na literatura
recomendações para a realização do
avanço mandibular em etapas.
Entretando, DeVICENZO e WINN não
encontraram diferenças variáveis
ortopédicas ou ortodônticas entre os
grupos que foram tratados com um
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grande avanço e aqueles tratados com
pequenos avanços contínuos.
VERTICAL
10
PFEIFFER e GROBETY recomendaram
uma abertura vertical de 3 a 4 mm além
do espaço livre funcional. Nos casos de
sobremordida profunda deve-se deixar
um espaço para acomodar pelo menos 3
a 4 mm de espessura de acrílico entre os
incisivos. Neste aspecto também exite uma
certa variação em relação à quantidade
de abertura no sentido vertical.
1
ANDRESEN utilizava uma abertura
vertical entre os molares de 3 a 4 mm;
5
HARVOLD aumentou a dimensão vertical
para 9 a 11 mm, pois acreditava que um
aumento pequeno era ineficiente, porque
o espaço funcional livre normalmente
aumenta durante o sono, o que permitia
que a mandíbula se desalojasse do
aparelho. Para eliminar este problema,
ele passou a utilizar uma mordida
construtiva que aumentava a dimensão
vertical em 5 a 6 mm além dos 4 a 5 mm
da posição postural de repouso.
Posteriormente, HARVOLD e registro da mordida).
17
WOODSIDE aumentaram ainda mais a
abertura vertical, modificando em parte
o mecanismo de ação do ativador. A
maioria dos autores utiliza uma abertura
entretanto, a vertical seguindo a orientação de
5
HARVOLD por obter melhor controle do
desenvolvimento vertical dos dentes
anteriores e conforto para o paciente.
7
LUDER verificou que os aparelhos
confeccionados com uma mordida
construtiva maior no sentido vertical da
maxila e dos dentes posteriores
superiores em relação a aparelhos
confeccionados com uma mordida
construtiva menor no sentido vertical.
Portanto, uma abertura de 4 mm na
região anterior proporciona um bom
controle do desenvolvimento vertical dos
dentes anteriores e permite um menor
desenvolvimento vertical dos dentes
posteriores inferiores, propiciando
ainda, conforto para o paciente.
4
TRANSVERSAL
Na presença de uma má oclusão
assimétrica deve-se realizar uma análise
se há desvio da linha média inferior em
VOLUME 1, Nº 2
relação à superior. Não havendo desvio,
a mordida construtiva deve ser
confeccionada com as duas linhas médias
coincidentes. Na presença de desvio, este
pode ser de natureza esquelética ou
dentária unilateral no arco dentário.
11 13
SLAGSVOLD e VIG e VIG recomendam
que a mordida construtiva seja realizada
com as linhas médias coincidentes para
a correção de problemas esqueléticos
que apresentam um desvio de linha média
de até 3 mm. Se o desvio for maior, o caso
sera melhor tratado cirurgicamente.
Quando o desvio for dentário, a mordida
construtiva deve ser realizada mantendo-
se o desvio da linha média apresentado
em relação cêntrica. Evidências clínicas
comprovam um maior desenvolvimento
unilateral do côndilo, em casos
8
assimétricos tratados .
MATERIAL NECESSÁRIO
A - Lâmina(s) de cera n. 7,
B - Lamparina a álcool,
C - Espátulas abaixadoras de língua e
lapiseira (para a técnica alternativa de
Para ambos os métodos de obtenção
do registro da mordida construtiva, o
paciente deverá estar na posição supino.
MÉTODO CONVENCIONAL (Fig. 1 - 2)
A - Confeccionar um rolete de cera
aquecendo-se uma lâmina n. 7
B - Conduzir o rolete, em forma de “U”,
sobre o arco superior e pedir para o
paciente morder até a posição desejada
(neste caso, 4 mm no sentido vertical e 7
mm no ântero-posterior).
NOVEMBRO / DEZEMBRO - 1996 73
 Fig. 01. Fotos iniciais extrabucais,
intrabucais e dos modelos de um paci-
ente com Classe II Divisão 1.

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 Fig. 02. Fotos extrabucais, intrabu-
cais e dos modelos do paciente com a
mordida construtiva, obtida pelo
metodo convencional.

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MÉTODO ALTERNATIVO (Fig. 3)
No método alternativo para a obtenção
do registro da mordida construtiva,
utilizamos espátulas de madeira, como
orientação.
a) Unir duas espátulas abaixadoras de
língua, para se obter uma abertura de
aproximadamente 4 mm na região
anterior (já que a espessura de cada
espátula corresponde a 2mm);
b) demarca-se a linha média superior
e o contorno da borda incisal nas
mesmas e, em seguida, sem deslocar a
espátula, realiza-se o avanço mandibular
na posição desejada e demarca-se a linha
média inferior e o contorno da borda
incisal;
c) Inserir a espátula no rolete de cera,
levar à boca e seguir as demarcações
realizadas previamente, evitando assim,
qualquer problema de deslocamento
durante o registro. Esta técnica permite
um melhor controle do posicionamento
mandibular do paciente, pelo
profissional, nos três planos do espaço.

Fig. 03. Fotos extrabucais,

intrabucais e dos modelos do paciente
com a mordida construtiva obtida com
o método alternativo.

s s

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CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A mordida construtiva é fundamental
para a correta construção dos aparelhos
funcionais, pois é ela que determina o
grau de alteração, nos três planos do
espaço, que o paciente adotará com o
uso do aparelho.
A despeito das diversas técnicas e
conceitos de obtenção do registro da
mordida construtiva, apresentamos aqui
um método simples e rápido, além do
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1 - ANDRESEN, V. The Norwegian system of
functional gnatho-orthopedics. Acta
Gnathol., v. 1, n. 1, p. 5-36, 1936.
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3 - BJÖRK, A. The principle of the Andresen
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ray analysis of treated cases. Am. J.
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Dentofacial Orthop., v. 96, p. 181-
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5 - HARVOLD, E.P.; VARGERVIK, K.S.
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Dentofacial Orthop., v. 60, p. 478-
90, 1971.
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Am. J. Orthod. Dentofacial
Orthop., v. 48, p. 91-109, Fev. 1985.
REVISTA DENTAL PRESS DE ORTODONTIA E ORTOPEDIA MAXILAR
convencional, que garante um correto
posicionamento das bases ósseas, sem o
risco de qualquer tipo de desvios vertical,
horizontal e transversal, durante o
procedimento.
1
Professor Doutor do Departamento
de Ortodontia da Faculdade de
Odontologia de Bauru - USP e
Professor Titular da Faculdade de
Odontologia de Lins.
2
Professor Doutor da Disciplina de
7 - LUDER, H. V. Skeletal profile changes
related to two patterns of activator
effects. Am. J. Orthod. Dentofacial
Orthop., v. 81, p. 390-6, 1982.
8 - MELSEN, B., et al. The effect of treatment
with functional appliance on a
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condyle. Am. J. Orthod. Dentofacial
Orthop., v. 90, p. 503-12, 1986.
9 - PANCHERZ, H. A cephalometric analysis of
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10 - PFEIFFER, J.P.; GROBETY,D. A
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J. Orthod. Dentofacial Orthop., v.
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12 - VARGERVIK, K.; HARVOLD, E. P.
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Class II malocclusions. Am. J.
Orthod. Dentofacial Orthop., v.
88, p. 242-51, 1985.
VOLUME 1, Nº 2
Ortodontia da Faculdade de
Odontologia de Bauru - USP.
3
Mestre em Ortodontia pela Faculdade
de Odontologia de Bauru - USP,
Professor do Dep. de Odontologia da
Universidade Estadual de Londrina.
4
Mestre em Ortodontia pela Faculdade
de Odontologia de Bauru - USP,
Professor do Dep. de Odontologia da
Universidade Estadual de Maringá.
13 - VIG and VIG. Hybrid appliances. Am. J.
Orthod. Dentofacial Orthop., v.
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14 - WIESLANDER, L.; LAGERSTROM, L. The
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15 - WILLIAMS, S.; MELSEN, B. Condylar
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16 - WILLIAMS, S.; MELSEN, B. The interplay
between sagital and vertical growth
factors. An implant study of activator
treatment. Am. J. Orthod.
Dentofacial Orthop., v. 81, p.
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17 - WOODSIDE, D. G. Some effects of
activator treatment on the mandible
and the midface. Trans. Eur.
Orthodont. Soc., v. 26, p. 443-
447, 1973.
NOVEMBRO / DEZEMBRO - 1996 77