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Recebido em 16 abr. 2010. Aprovado em 2 jun.

2010

Estado nutricional e padrões


de aleitamento em crianças
acometidas por doenças
respiratórias no Sul do Brasil*
Nutritional status and milk feeding standards in children with
respiratory diseases in the South of Brazil

Vagner de Souza Vargas1; Maria Cristina Flores Soares2


1
Mestre em Ciências da Saúde – FURG.
2
Profa Dra Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências Fisiológicas e Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Saúde - FURG.

Endereço para correspondência


Vagner de Souza Vargas
Av.Cidade de Lisboa 623, apto. 214.
96045-010 – Fragata – Pelotas/RS.
vagnervarg@yahoo.com.br

Resumo
Objetivo: O objetivo desse estudo foi investigar as principais características de
aleitamento até o sexto mês de vida de crianças de 0 a 59 meses que apresenta-
ram infecção respiratória e seu estado nutricional atual. Método: Esse estudo foi
realizado por meio da comparação de dois estudos transversais, de base popula-
cional, na cidade do Rio Grande/RS, em 1995 e 2004. No segundo estudo, houve
um aumento significativo na proporção de crianças com déficit de altura/idade.
Resultados: As curvas de amamentação exclusiva e amamentação predominante
mostraram uma queda progressiva dessa prática até o sexto mês, sendo o aleita-
mento misto predominante na prática de alimentação infantil, mais comum entre
as crianças com doenças respiratórias dessa cidade. Conclusão: Portanto, apesar
da difusão dos benefícios da amamentação exclusiva, essa prática é pouco utili-
zada em Rio Grande/RS.
Descritores: Alimentação; Amamentação; Crianças; Infecção respiratória

Abstract
Objective: The aim of this study was to investigate the main breast feeding char-
acteristics to the sixth month of under five aged children who presented respi-
ratory infection and their current nutritional status. Method: This study was
accomplished through the comparison of two cross sectional population based
studies, made in Rio Grande/RS’s, in 1995 and 2004. In the second study, there
was a significant increase in the children’s proportion with height/age deficit.
Results: The curves of exclusive breast-feeding and predominant breast-feeding
showed a progressive fall of this practice to the sixth month, being the predomi-
nant mixed breast feeding the practice more common in infantile feeding among
the children with respiratory diseases in this city. Conclusion: So, in spite of the
diffusion of the benefits of the exclusive breast-feeding, this practice is little used
in Rio Grande/RS.
Key words: Breast feeding; Children; Respiratory infection; Feeding

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Vargas VdeS, Soares MCF

Introdução A nutrição adequada durante a infância


é fundamental para o desenvolvimento do po-
As doenças respiratórias, durante os pri- tencial humano de cada criança, tanto que já
meiros anos de vida, podem vir a comprometer está amplamente difundido que o período entre

Editorial
a maturação e o funcionamento do trato respira- o nascimento e os 2 anos de vida é uma “jane-
tório1. Isso se deve ao comprometimento do seu la crítica” para a promoção do crescimento, da
crescimento e desenvolvimento, levando a alte- saúde e do desenvolvimento comportamental
rações como disfunções mecânicas, de parede ótimos7. As consequências imediatas de uma
torácica e dificuldade no controle respiratório1. nutrição pobre durante esses anos de formação
Nos países em desenvolvimento, as infecções resultam no aumento das taxas de morbidade e
respiratórias são responsáveis por um terço das mortalidade7. Uma alimentação complementar

Ciências
básicas
mortes e pela metade das hospitalizações em ótima depende não apenas do que é ingerido,
menores de cinco anos2. Nesse sentido, tem sido mas como, quando, onde e por quem a criança é
observado que a maior ocorrência de doenças alimentada7. Somando-se a isso, se observa que
respiratórias em crianças de menor idade parece uma introdução precoce de alimentos pode fa-
estar relacionada a diversos fatores, entre eles, vorecer ao desencadeamento de deficiências de
o peso ao nascer, o estado nutricional e o tipo macro e micronutrientes, promovendo condi-
ções imunológicas deficitárias que permitiriam
de alimentação ofertada3. Embora ainda existam

aplicadas
Ciências
o desenvolvimento do mecanismo fisiopatológi-
resultados controversos quanto a esses achados,
co de determinadas doenças, como por exemplo,
acredita-se que crianças com baixo peso ao nas-
as infecções respiratórias6,8,9.
cer, apresentem um sistema imunitário menos
Nesse sentido, a Organização Mundial de
eficiente, pré-dispondo-as à ocorrência de infec-
Saúde (OMS) recomenda que os bebês sejam
ções respiratórias3.
amamentados exclusivamente ao seio materno
O leite materno provém de uma combina-
até o sexto mês de vida, não sendo necessário
ção única de proteínas, lipídios, carboidratos,

de casos
Estudos
ingerir outros alimentos, líquidos, fluidos ou
minerais, vitaminas, enzimas e anticorpos ao
água durante esse período2,10,11. Além disso, a
bebê 4,5. O conteúdo do leite humano possui a
OMS recomenda que o aleitamento materno se
proporção exata de nutrientes para o bom de-
prolongue por 2 anos ou mais, mesmo que a in-
sempenho do cérebro humano, diferentemente,
trodução de alimentos complementares seja ne-
do leite de outros mamíferos 4,6. Além disso, o cessária, quando a amamentação por si só não
leite humano é um complexo fluido biológi- puder atingir às necessidades da criança, em

de literatura
co específico dessa espécie, adaptado à exis-

Revisões
razão de seu rápido crescimento, maturação e
tência humana, satisfazendo perfeitamente as desenvolvimento2,10,11. Entretanto, segundo es-
necessidades nutricionais e imunológicas do sas recomendações, alimentação complementar
recém-nascido, estando adaptado ao termo, mo- é definida como o processo iniciado quando o
mento da mama, situação fisiológica e idade da leite materno sozinho não for suficiente para
criança4,6. A partir disso, constata-se que o lei- suprir às necessidades nutricionais dos bebês,
para os autores

te materno não passa de uma simples fonte de sendo necessário introduzir paulatinamente ou-
Instruções

nutrientes, rico em hormônios, fatores de cres- tros alimentos e líquidos, conjuntamente ao leite
cimento, citocinas, células imunocompetentes materno, por volta dos seis meses de vida 2,10,11.
e etc..., atribuindo-lhe propriedades biológicas Sob esse prisma, práticas errôneas de ali-
inimitáveis, aportando, assim, um pool de subs- mentação infantil, principalmente nos primeiros
tâncias e células que, por suas ações diretas e meses de vida, são ocasionadores de inadequa-
indiretas, contribuem, de maneira eficaz, à pre- ções nutricionais maiores que a não ingestão de
venção de infecções em crianças 6. certos alimentos2,6,10,11. Sendo assim, o objetivo

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Estado nutricional e padrões de aleitamento em crianças acometidas por doenças respiratórias no Sul do Brasil

desse estudo foi investigar as principais carac- Desse modo, para escolher os indivíduos que
terísticas de aleitamento até o sexto mês de vida fariam parte desses estudos, dividiu-se o total
de crianças de 0 a 59 meses que apresentaram de setores disponíveis (172), pelo desejado (58),
infecção respiratória e seu estado nutricional resultando num número muito próximo a três.
atual, no intuito de caracterizar os hábitos ali- Sendo assim, o primeiro setor foi escolhido ale-
mentares dessa população. Esse estudo foi ela- atoriamente e os demais adicionando-se três ao
borado por meio da comparação de dois estudos sorteado anteriormente. Quarteirões e esquinas
transversais, de base populacional, realizados foram numerados e escolhidos de forma aleató-
na cidade do Rio Grande/RS, com a finalidade ria. Segundo o IBGE/UNICEF, havia uma crian-
de avaliar possíveis mudanças e permanências ça menor de cinco anos a cada quatro domicílios
ao longo do período de tempo compreendido en- desse município12. Dessa forma, para alcançar o
tre os dois estudos. número desejado de crianças (340) nos 58 setores
escolhidos, seria necessário visitar 28 domicílios
por setor. Em cada residência, eram aplicados
Metologia dois questionários, um sobre saúde materna e
características familiares e outro fornecendo in-
O município do Rio Grande abriga uma formações sobre a criança, ambos respondidos
população de cerca de 195 000 habitantes12. A pelas mães, ou responsáveis legais pelas crian-
economia é caracterizada por acentuada pre- ças. Para cada criança menor de cinco anos, em
dominância do setor secundário, numa ampla cada domicílio, era aplicado um questionário
interação com o sistema viário, liderado pelas que continha informações sobre a introdução de
instalações portuárias, seguido pelas indústrias certos alimentos à dieta da criança, amamenta-
pesqueiras e de produtos químicos12. A maioria ção e etc... O total de perdas foi de 2,1% e 4,4%,
da população riograndina apresenta níveis ade- em 1995 e 2004, respectivamente.
quados de educação, condições habitacionais e Para a realização desses dois estudos, fo-
sanitárias12. Este estudo foi desenvolvido por ram recrutados, de forma voluntária, 12 entre-
meio da comparação de dois estudos transver- vistadores acadêmicos dos cursos de Medicina
sais de base populacional realizados de janeiro à e Enfermagem e Obstetrícia da Fundação
março de 1995 e de novembro à maio de 2004, na Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
área urbana da cidade do Rio Grande/RS. Esses entrevistadores foram treinados em técni-
Em ambos os estudos, as estimativas para cas de entrevista e medidas antropométricas por
o cálculo do tamanho amostral foram calculadas 40 horas, no período de uma semana. O estudo
com base nas prevalências esperadas para indi- piloto foi feito num setor não incluído na amos-
cadores, tais como baixo peso ao nascer, doenças tra, com o objetivo de reproduzir exatamente as
infecciosas, entre outros, baseando-se num erro tarefas a serem executadas durante o trabalho
alfa de 0,05 e erro beta de 0,20, com exposições de campo, assim como testar os instrumentos
e desfechos variando de 20% a 60%, risco relati- a serem utilizados. O controle de qualidade foi
vo de 2,0 e erro amostral máximo de 5,5 pontos efetuado por meio da revisão dos questioná-
percentuais13. Além disso, foram acrescidos 10% rios, repetição de parte das entrevistas e digita-
a esses valores para eventuais perdas e 15% para ção dupla dos dados no software Epi Info 6.0413.
controle de potenciais fatores de confusão13. A Primeiramente, foi feita uma análise estatística
partir desses parâmetros, cada um dos estudos descritiva geral, posteriormente, foram calcula-
deveria incluir pelo menos 340 crianças me- das as proporções entre os dois estudos, para a
nores de cinco anos. Com o objetivo de atingir obtenção da significância estatística entre eles.
esse número de crianças, optou-se por visitar Todas essas análises foram feitas utilizando-se
um terço dos setores censitários dessa cidade. o pacote estatístico STATA 8.0 (Statacorp, 2001).

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Vargas VdeS, Soares MCF

Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética pes de vitaminas, minerais e/ou medicamentos;
para Pesquisas na Área da Saúde da Associação Amamentação Predominante (AMP): quando o
Santa Casa de Misericórdia do Rio Grande, con- lactente recebe, além do leite materno, água ou
forme protocolo número 030/2006. bebidas a base de água, como sucos de frutas

Editorial
As variáveis utilizadas nesse estudo fo- e chás, não havendo a ingestão de outros tipos
ram definidas da seguinte forma: Doença de leite; Amamentação Parcial (AMPA): quando
Respiratória: quando a criança precisou passar além do leite materno, a criança recebe leite de
por uma consulta médica, em razão da infecção vaca ou artificial (fórmula láctea); Aleitamento
respiratória/pneumonia, ou infecção respirató- com Leite de Vaca Exclusivo (ALVE): quando a
ria aguda alta (gripe, otite, amigdalite, sinusite), criança for alimentada exclusivamente com lei-
nos três meses anteriores à entrevista, segundo te de vaca, sem receber leite materno, artificial,

Ciências
básicas
relato da mãe ou responsável; Peso ao nascer: chás, sucos e água; Aleitamento com Leite de
investigado por meio de informações fornecidas Vaca Predominante (ALVP): quando a criança
mãe sobre o peso da criança ao nascer, confir- for alimentada com leite de vaca, excluindo-se
mando esse dado por meio de documentação o aleitamento materno e artificial, porém ha-
do hospital onde o filho nasceu, considerando- vendo a ingestão de água, chás, sucos, ou outros
se baixo quando apresentar valor inferiores a fluidos à base de água; Aleitamento Artificial
2500g14; Peso atual da criança: aferido após a Exclusivo (ALAE): quando a criança for exclu-

aplicadas
Ciências
entrevista, em balança padronizada, calibrada sivamente alimentada com leites artificiais (lei-
com peso padrão, antes da execução da medida; tes em pó), não havendo a ingestão de outros
Comprimento/Estatura: crianças menores de 24 tipos de leite, sucos, chás e água suplementar,
meses foram medidas deitadas (comprimento), além da utilizada no preparo do leite em pó;
enquanto aquelas com 24 meses ou mais foram Aleitamento Artificial Predominante (ALAP):
medidas em pé (altura). Essas medidas foram quando a criança, além de receber leite em pó,
obtidas pelos entrevistadores após a entrevista; também consumir outros tipos de fluidos à

de casos
Estudos
Déficit peso/idade: para classificar as crianças base de água, como sucos e chás, não havendo
que apresentavam esse tipo de deficiência, fo- a ingestão de outros tipos de leite; Aleitamento
ram incluídas todas aquelas que apresentavam Misto Exclusivo (ALME): quando a criança inge-
indicador menor ou igual a – 2DP, de acordo com rir apenas leite artificial e/ou leite de vaca, não
o padrão do National Center for Health Statistics havendo a ingestão de leite materno, sucos, chás
(NCHS)14. Os demais foram classificados como e água, além da utilizada no preparo do leite em
eutróficos; Déficit peso/altura: para classifi- pó; Aleitamento Misto Predominante (ALMP):

de literatura
Revisões
car as crianças que apresentavam esse tipo de quando a criança ingerir apenas leite artificial
deficiência, foram incluídas todas aquelas que e/ou leite de vaca, não havendo a ingestão de lei-
apresentavam indicador menor ou igual a – 2DP, te materno, mas ocorrendo a ingestão de sucos,
de acordo com o NCHS14. Os demais foram clas- chás e água;
sificados como eutróficos; Déficit altura/idade:
para classificar as crianças que apresentavam
Resultados
para os autores

esse tipo de deficiência, foram incluídas todas


Instruções

aquelas que tinham indicador menor ou igual


a – 2DP, de acordo com o padrão do NCHS14. As informações relativas às características
Os demais foram classificados como eutróficos; nutricionais da população infantil estudada es-
Amamentação Exclusiva (AME): quando a crian- tão descritas na Tabela 1.
ça recebe somente leite materno, diretamente da Os índices de baixo peso ao nascer foram
mama, ou extraído e nenhum outro tipo de lí- semelhantes em ambos os estudos (1995: 13,0%;
quidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaro- 2004: 12,8%; p=0,96), mostrando que a maior par-

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Estado nutricional e padrões de aleitamento em crianças acometidas por doenças respiratórias no Sul do Brasil

Tabela 1: Estado nutricional das crianças 50


menores de 5 anos no município do Rio
Grande/RS. 40
Variável Crianças acometidas por infecção 30

%
respiratória
20
1995 2004
10
n % n % p
Baixo peso ao 0
nascer 1 2 3 4 até o 6.
Não 120 87,0 95 87,2 0,96 Idade (meses)
Sim 18 13,0 14 12,8
1995 2004
Presença de déficit
peso/idade Figura 1: Frequência de amamentação
Sim 9 6,5 11 10,1 0,30 exclusiva em menores de cinco anos
Não 129 93,5 98 89,9 acometidos por infecção respiratória no
Presença de déficit município do Rio Grande/RS **
peso/altura *p<0.05
Sim 20 14,5 12 11,0 0,41 ** p=0.65
Não 118 85,5 97 89,0
Presença de déficit de vida, embora tenha-se observado uma pro-
altura/idade
Sim 9 6,5 29 26,6 <0,01 porção maior dessa prática em todos os meses,
Não 129 93,5 80 73,4 no estudo de 2004, essa diferença só foi signifi-
cativa (p=0,05) no terceiro mês (1995: 5,8%; 2004:
te dessa população nasceu com peso adequado. 12,8%; p<0.05).
No que se refere à condição nutricional, verifi-
cou-se uma proporção maior de crianças com
100
déficit peso/idade no segundo estudo, embora
80
esses dados não tenham obtido significância es-
tatística (1995: 6,5%; 2004: 10,1%; p=0,30). Em con- 60
%

trapartida, observou-se uma menor proporção 40


de crianças com déficit de peso/altura em 2004, 20
embora esses dados também não tenham obtido 0
significância estatística (1995: 14,5%; 2004: 11,0%; 1 2 3 4 até o 6.
p=041). Com relação ao déficit altura/idade foi Idade (meses)
observado um aumento significativo desse índi- 1995 2004
ce entre as crianças que apresentaram doenças
Figura 2: Frequência de amamentação
respiratórias (1995: 6,5%; 2004: 26,6%; p<0,01).
predominante em menores de cinco anos que
No que se refere à amamentação exclu- foram acometidos por infecção respiratória
siva, também houve uma redução gradual nas no município do Rio Grande/RS**
porcentagens desse tipo de amamentação entre *p<0,05
** p= 0,08
o primeiro e o sexto mês, em ambos os estudos.
Esses dados podem ser visualizados no gráfico
da Figura 1. O gráfico da Figura 2 mostra que houve
Quando os dados que originaram essas uma redução gradual na proporção de crian-
duas curvas são comparados conjuntamente, ças submetidas à amamentação predominante
verifica-se que não há diferença significativa entre o primeiro e sexto mês de vida, não ten-
(p=0,65) entre os dados de 1995 e os de 2004. Já do sido verificada diferença significativa entre
quando comparados os dois estudos, em cada os estudos quando os dados foram analisados
uma das faixas etárias do primeiro ao sexto mês conjuntamente (p=0,08). No entanto, quando os

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dados são comparados a cada mês observam- 100


se porcentagens significativamente maiores de 80
amamentação predominante em 2004 no ter- 60

%
ceiro (1995: 23,9%; 2004: 38,5%; p=0,01), quarto
40

Editorial
(1995: 9,4%; 2004: 21,1%; p<0,01) e sexto mês de
20
vida (1995: 5,8%; 2004: 14,7%; p=0,01).
Os dados relativos aos padrões de aleita- 0

PA

VP

AP

P
mento no primeiro mês de vida estão descritos

AM

AM

M
AL
AM

AL

AL
na Figura 3.
1995 2004

100 Figura 4: Distribuição dos diferentes

Ciências
básicas
80 padrões de aleitamento: amamentação
exclusiva (AME), amamentação
60
predominante (AMP), amamentação parcial
%

40 (AMPA), aleitamento com leite de vaca


20 predominante (ALVP), aleitamento artificial
predominante (ALAP), aleitamento misto
0 predominante (ALMP), até o sexto mês de
AME AMP ALVE ALAE ALME vida em menores de cinco anos acometidas

aplicadas
por infecção respiratória no município do

Ciências
1995 2004 Rio Grande/RS. Os símbolos (*) representam
diferença significativa (p<0,05) entre os
Figura 3: Distribuição dos diferentes estudos de 1995 e 2004
padrões de aleitamento: amamentação
exclusiva (AME), amamentação
predominante (AMP), aleitamento com
Nesse período, o padrão de aleitamen-
leite de vaca exclusivo (ALVE), aleitamento
artificial exclusivo (ALAE), aleitamento to mais prevalente foi o misto predominan-

de casos
Estudos
misto exclusivo (ALME), no primeiro mês de te (ALMP= 1995: 63,8%; 2004: 54,1%). Quanto à
vida em menores de cinco anos acometidas amamentação exclusiva (AME) no sexto mês
por infecção respiratória no município do de vida, verificou-se que, embora se tenha uma
Rio Grande/RS proporção um pouco maior de crianças sendo
alimentadas dessa forma, no segundo estudo
Assim, observou-se uma proporção maior essa diferença não foi significativa (1995: 1,5%;
de crianças recebendo amamentação predomi- 2004: 4,6%; p=0,14). Além disso, a porcentagem

de literatura
Revisões
nante no segundo estudo (AMP=1995: 58,7%; de crianças com amamentação predominante
2004: 63,3%; p=0,46) e de amamentação exclusi- (AMP), aos seis meses de vida, foi significativa-
va (AME=1995: 25,5%; 2004: 34,9%; p=016), obser- mente maior no estudo de 2004 (1995: 5,8%; 2004:
vando-se, também, proporções menores de alei- 14,7%; p=0,01). Com relação à amamentação par-
tamento com leite de vaca exclusivo (ALVE=1995: cial (AMPA), no estudo de 2004 foi observada
2,2%; 2004: 0,9%; p=0,80) e de aleitamento mis- uma porcentagem significativamente maior de
para os autores

to exclusivo (ALME=1995: 28,3%; 2004: 4,6%; crianças submetidas a esse tipo de alimentação
Instruções

p=0,30), havendo manutenção das prevalências (1995: 8,0%; 2004: 22,0%; p<0,01). No que se re-
de aleitamento artificial exclusivo (ALAE = fere ao aleitamento predominante com leite de
10,1%) ao longo dessa década. Entretanto, essas vaca (ALVP) no sexto mês de vida, as porcenta-
diferenças não foram significativas. gens foram muito semelhantes nos dois estudos
Os dados relacionados aos padrões de alei- (1995: 33,3%; 2004: 33,9%; p<0,01). Quando ava-
tamento no sexto mês de vida estão descritos na liada a prática de aleitamento predominante
figura 4. com leite artificial (ALAP) no sexto mês, não foi

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Estado nutricional e padrões de aleitamento em crianças acometidas por doenças respiratórias no Sul do Brasil

observada diferença significativa (1995: 19,6%; em 2004. Apesar deste estudo não buscar relação
2004: 16,5%; p=0,80). Resultado semelhante foi causal, mas sim, descrever uma realidade, essas
verificado com relação à prática de aleitamento prevalências de déficits nutricionais devem ser
misto predominante (ALMP), não sendo veri- observadas com atenção, uma vez que represen-
ficada diferença significativa entre os estudos tam essas condições em crianças acometidas por
(1995: 63,8%; 2004: 54,1%; p=0,80). doenças respiratórias nessa cidade. A partir dis-
so, pode-se supor que o déficit estatural poderia
estar possibilitando a instalação de condições
Discussão orgânicas predisponentes ao desencadeamento
de patologias respiratórias, uma vez que esse
Embora não tenham sido observadas di- tipo de deficiência não se desenvolve em um
ferenças estatisticamente significativas entre espaço de tempo curto. Devido a isso, ao longo
os dois estudos, foi possível observar que a desse processo deficitário, supõe-se que pode-
maioria das crianças que apresentaram doen- riam estar ocorrendo mecanismos fisiopatológi-
ças respiratórias nasceram com peso adequado. cos favoráveis ao desenvolvimento de doenças
Entretanto, a proporção de crianças que nasce- respiratórias20-22.
ram com baixo peso manteve-se semelhante ao Como houve um aumento considerável des-
longo dessa década. Nesse sentido, alguns au- se déficit entre os dois estudos, seria necessário
tores têm investigado a associação entre baixo pesquisar que atributos estariam relacionados à
peso ao nascimento e a ocorrência de doenças ocorrência desse fato no nosso município em es-
respiratórias15-18. Esse fator de risco não deve ser tudos futuros. Os déficits estaturais costumam
relevado ao se pesquisar os determinantes rela- ocorrer em razão das privações nutricionais por
cionados com a ocorrência de doenças respirató- períodos prolongados, já que o próprio estado
rias, visto que as crianças que nascem com baixo fisiopatológico desse tipo de carência necessita
peso apresentam um sistema imunitário menos de sucessivas e prolongadas ingestões nutricio-
eficiente, podendo torná-las mais vulneráveis à nais inadequadas para afetarem o desenvolvi-
ocorrência dessas enfermidades3. No entanto, mento estatural do indivíduo20-22. Nesse sentido,
outros estudos observaram que as prevalências alguns estudos têm relatado um aumento de
de déficits nutricionais mostraram uma relação risco de 2 a 4 vezes no risco de hospitalização
inversa com o peso ao nascer, uma vez que hou- por pneumonia em menores de 5 anos desnutri-
ve uma redução nas prevalências de déficits nu- dos18. Além disso, tem sido observada uma redu-
tricionais posteriores em crianças que nasceram ção significativa na prevalência da desnutrição
com baixo peso19. Esses autores relatam que a ex- calórico-protéica em diversas partes do mundo,
plicação para esse fato seria atribuída ao maior incluindo o Brasil 23. Apesar disso, tal doença
aumento ponderal durante o primeiro ano de ainda se configura como importante problema
vida dessas crianças19. de saúde pública, especialmente em crianças
A análise dos resultados referentes à pre- menores de 5 anos23. De forma semelhante, em
sença de déficits de peso/idade mostrou que um estudo sobre a transição nutricional entre as
houve um aumento nestas prevalências, ao décadas de 1980 e 1990, no município de Pelotas/
compararem-se os dois estudos. Em contrapar- RS, também observou-se uma redução nos per-
tida, foram encontradas proporções menores de centuais de déficits de peso/idade e peso/altura,
crianças com déficit de peso/altura no segun- assim como aumentaram as prevalências para o
do estudo. Porém, a significância estatística só déficit altura/idade de uma década para a ou-
foi observada em relação à proporção maior de tra 24. Além disso, estudo longitudinal sobre as
crianças com déficit de altura/idade, eviden- tendências no perfil nutricional das crianças,
ciando-se uma proporção maior desta condição observou que, cerca de 50% das crianças com

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déficit estatura/idade aos 12 meses, permane- alcançou índices superiores a 30% no estado
ceram com esse déficit até os 4 anos, apesar de de São Paulo, apesar de haver uma grande va-
ter havido uma redução de 25% nas prevalências riação dessas prevalências entre as cidades27.
desse índice durante o período19. Ademais, ou- Mesmo com boas condições de vida, campanhas

Editorial
tras pesquisas observaram que, nos últimos 25 de promoção ao aleitamento materno e à acei-
anos, a desnutrição em crianças (relação altura/ tabilidade à amamentação em locais públicos, é
idade) apresentou 72% de declínio cumulativo25. possível observar uma grande descontinuidade
Segundo esses autores, a última etapa da transi- desse tipo de alimentação até o sexto mês6,29-34.
ção nutricional no Brasil se configura na corre- A prática da amamentação exclusiva tem apre-
ção do déficit estatural 25. sentado prevalências distintas em diversos pa-
No que se refere ao aleitamento materno, íses como, por exemplo, na França, onde 58%

Ciências
básicas
salienta-se nesse estudo que, em ambos os ca- das crianças nascidas estavam sendo alimen-
sos, o declínio nas porcentagens de amamenta- tadas dessa forma até saírem da maternidade.
ção exclusiva foi muito semelhante, chegando a Entretanto, outros países apresentaram pre-
valores muito baixos no sexto mês de vida, in- valências ainda maiores para esse achado, é o
dependentemente do período em que os dados caso da Finlândia e Noruega (95%), Suécia (90%),
foram coletados, não atingindo às metas pro- Dinamarca e Alemanha (85%), Itália (75%) e
postas pela OMS2,10,11. Ao analisar as frequên- Reino Unido (70%)6,29-34. Outros estudos relatam

aplicadas
Ciências
cias de amamentação exclusiva até o sexto mês que a amamentação exclusiva por, pelo menos, 4
de vida, em crianças que apresentaram infecção meses reduz em um terço as hospitalizações por
respiratória no município do Rio Grande/RS, foi infecções respiratórias 5,6 . Além disso, outros
observado que, apesar de terem sido encontra- autores afirmam que a amamentação exclusiva
das prevalências maiores em 2004, houve um por menos de seis meses está associada com um
rápido declínio, do nascimento até os seis meses aumento de risco para a ocorrência de asma e
de vida, em ambos os estudos, apesar de não ter infecções do trato respiratório em crianças 35.

de casos
Estudos
sido estatisticamente significativo. Mesmo as- A análise das curvas de amamentação
sim, esses dados demonstram que a prática do predominante demonstrou proporções maiores,
aleitamento materno exclusivo até o sexto mês quando comparadas com as curvas de amamen-
de vida é muito pequena nessa cidade. Talvez tação exclusiva até o sexto mês de vida. Essa prá-
esse fato esteja relacionado aos altos percentuais tica poderia estar indicando que a introdução de
de crianças acometidas por infecção respiratória líquidos concomitantes com o aleitamento ma-
em Rio Grande, uma vez que poucas crianças es- terno é comum nessa população. Entretanto, al-

de literatura
Revisões
tariam expostas aos benefícios da amamentação guns autores têm investigado a prática de ama-
exclusiva até o sexto mês. Entretanto, esse es- mentação predominante, usualmente iniciada
tudo não visa buscar relações causais, mas sim muito cedo ao serem introduzidos sucos, água
descrever uma realidade local. Por esse motivo, e chás na alimentação dos bebês9,26,27,30. Esses fa-
são necessários novos estudos buscando os fato- tores devem ser observados com cautela, uma
res de risco para patologias respiratórias infan- vez que alguns estudos têm demonstrado haver
para os autores

tis que englobem as variáveis aqui investigadas. uma relação entre a amamentação predominan-
Instruções

Da mesma forma, existe uma grande va- te e a ocorrência de doenças respiratórias em


riação no período de aleitamento materno ex- crianças de 0 a 59 meses, ou seja, a introdução
clusivo entre as populações de diversos estu- precoce de água, chás e sucos à alimentação de
dos26-30. Resultados também observados em crianças menores de seis meses seria um fator
pesquisas que investigaram o aleitamento ma- de risco para o desenvolvimento de infecções
terno exclusivo nos primeiros quatro meses de respiratórias, mesmo que houvesse a ingestão
vida, evidenciando que essa prática raramente de leite materno concomitantemente36,37. A alta

ConScientiae Saúde, 2010;9(2):194-205. 201


Estado nutricional e padrões de aleitamento em crianças acometidas por doenças respiratórias no Sul do Brasil

prevalência de aleitamento materno predomi- alergias alimentares ao leite ocorrem devido a


nante no Brasil sugere um alerta às autoridades uma sensibilização precoce, havendo uma maior
de saúde para que subsidiem ações educativas probabilidade de desenvolvimento de eczemas
às mães, com informações sobre os efeitos no- em crianças que ingeriram outros tipos de leite
civos da administração de líquidos não nutriti- antes dos seis meses de vida6. Além disso, exis-
vos nos primeiros meses de vida da criança27,38. tem relatos da existência de um risco maior ao
Além disso, a complementação do aleitamento desenvolvimento de atopia, asma e eczemas em
materno com água, sucos e chás é desnecessária, crianças, com história familiar de atopia, ali-
pois o leite materno contém uma osmolaridade mentadas com leite de vaca 26,39.
similar ao plasma, mantendo a criança perfeita- Investigando o padrão alimentar de re-
mente hidratada4,9. Outro aspecto observado, se cém-nascidos, estudos evidenciaram que ape-
refere ao fato do leite de mães de bebês de baixo nas 0,5% dos bebês havia recebido leite de vaca
peso ao nascer conter maiores quantidades de antes dos 4 meses, mas 30,2% deles já estavam
IgA do que o leite de mães de nascidos a ter- recebendo esse alimento aos seis meses, indi-
mo, com peso adequado 4. Dessa forma, esse leite cando esse período como sendo o de maior in-
confere uma maior proteção durante o período clusão do leite de vaca à dieta dessas crianças29.
em que a criança está mais suscetível a infec- Uma das atribuições problemáticas à inserção
ções, reforçando a necessidade do seu consu- desse leite à alimentação de recém-nascidos se
mo 4. Essa constatação é reforçada pelo fato de refere à alta concentração osmolar do leite de
que nessa pesquisa também foi observado um vaca, inadequada à imaturidade renal dessas
aumento significativo em 2004 na porcentagem crianças 4. Segundo pesquisas, a introdução de
de crianças submetidas à amamentação parcial leite não materno talvez seja um dos principais
no sexto mês de vida, sugerindo que aumentou a iniciadores e aceleradores do processo de des-
ingestão de leite materno nessa população, mes- mame que leva ao fim do aleitamento materno,
mo quando associado à ingestão de outros tipos independentemente da introdução de outros
de leite. Dados semelhantes foram encontrados alimentos 40. Além disso, a introdução precoce
em estudos que observaram a prática da ama- de outro leite pode aumentar o risco de morbi-
mentação parcial até o sexto mês de vida9,29,30. dade e desnutrição, em razão da contaminação
No entanto, as proporções de crianças rio- da água e diluição excessiva do leite 6,40. Segundo
grandinas acometidas por infecção respiratória e pesquisas existe uma maior probabilidade de
que ingeriam leite artificial, de forma exclusiva, hospitalizações devido a infecções respiratórias
no primeiro mês de vida, foram semelhantes nos em crianças não amamentadas 4.
dois estudos, mostrando que a prática do aleita- A introdução de alimentos antes do sexto
mento artificial exclusivo ainda é frequente en- mês de vida é desnecessária e pode ser prejudi-
tre algumas crianças dessa cidade. Relacionado cial 2,10,11. Esse processo pode levar à diminuição
a isso, estudos observaram que 23% das mães da frequência e intensidade de sucção, reduzin-
inglesas alimentavam seus filhos exclusivamen- do a produção de leite materno 41. Há, também,
te com leite artificial até os 4 meses de vida, dos o risco de infecções pela contaminação de ma-
quais mais da metade das mães jovens alimen- madeiras e dos próprios alimentos 41. O conheci-
tavam seus filhos predominantemente com fór- mento de que a amamentação é o padrão a partir
mulas lácteas durante o mesmo período26. Nesse do qual todos os outros métodos de alimentação
sentido, pesquisas relatam que as crianças que infantil devem ser julgados está amplamente di-
receberam leite artificial ainda na maternidade fundido 42. Em razão disso, a detecção dos efeitos
apresentaram uma sensibilização posterior ao adversos a curto e longo prazo devem ser pes-
leite de vaca, independentemente do aleitamen- quisados ao se recomendar o uso de fórmulas
to ao seio materno 6. Desse modo, afirmam que lácteas 42. Essa situação de abandono progressi-

202 ConScientiae Saúde, 2010;9(2):194-205.


Vargas VdeS, Soares MCF

vo do aleitamento materno e a sua substituição análise multivariada, relacionando todos os fa-


pelo aleitamento artificial é apontada como um tores de risco possíveis e o desfecho em questão,
dos fatores responsáveis pela alta morbi-morta- estava muito aquém do necessário para efetuar
lidade no primeiro ano de vida nos países em esses cálculos, com poder estatístico suficiente

Editorial
desenvolvimento 41. para atribuir relação causal.
Esses fatos demonstram que a maioria das Portanto, com esse estudo observamos que
crianças que apresentaram infecção respiratória a prática da amamentação exclusiva até o sexto
durante esses períodos foram privadas dos be- mês de vida foi pouco frequente entre as crianças
nefícios fornecidos pela amamentação exclusiva. que apresentaram infecção respiratória. A cria-
Os motivos que determinam o comportamento ção das diversas categorizações de aleitamento
alimentar de uma população são diversos e re- visou identificar qual era a forma de alimentação

Ciências
básicas
sultam de uma série de fatores, conforme rela- infantil mais empregada nessas crianças. Nesse
tado por alguns autores citados anteriormente. sentido, identificamos que o aleitamento misto
Porém, esses dados reafirmam a necessidade de mostrou as maiores prevalências no sexto mês,
uma maior ênfase nas campanhas direcionadas indicando uma alternância entre a utilização de
à promoção do aleitamento materno exclusivo leite artificial e leite de vaca, sem a ingestão de
até os seis meses, posto que, o aleitamento ma- leite materno. Porém, a descrição desses resulta-
terno é visto como uma prática íntima, na qual a dos se propôs a evidenciar uma realidade local

aplicadas
Ciências
escolha recai sobre as mães, uma prática cultural até então desconhecida, para que, em estudos de
que tem atravessado a história da nossa socie- base populacional futuros, se disponham a in-
dade. Por isso, é um dever proteger e encorajar. vestigar relações causais, esses fatores sejam in-
Sendo assim, uma questão de saúde pública. O cluídos para o cálculo do tamanho de amostras,
aleitamento materno protege mãe e filho contra sendo a descrição dos resultados aqui apresenta-
certos malefícios, mas, além disso, permite um dos relevante para a caracterização dos padrões
prazer afetivo que perdurará por toda a vida. de aleitamento, até o sexto mês de vida, encontra-

de casos
Estudos
Para discutir os resultados dessa pesqui- dos nas crianças que tiveram infecções respirató-
sa, precisamos ter em mente que existem limi- rias nessa cidade, posto que, ao evidenciar essa
tações nesse trabalho. Uma delas diz respeito ao realidade pode-se traçar metas e estratégias para
delineamento transversal aqui utilizado, uma futuras ações de saúde com vistas a enfatizar a
vez que mede exposição e doença num mesmo importância da amamentação exclusiva e tentar
momento, comprometendo a medida da relação descobrir onde há a quebra entre o conhecimento
de causalidade. Entretanto, a opção por esse tipo científico e a prática dessa população.

de literatura
Revisões
de delineamento foi feita em razão de seu baixo
custo, rapidez e facilidade de execução. Outro
aspecto a ser analisado, refere-se ao viés de Referências
memória, uma vez que as informações forneci-
1. Long SS, Pickering LK, Prober CG. Principles and
das pelos entrevistados referiam-se ao início da
practice of pediatric infectious diseases. Second
incorporação de determinados alimentos à ali-
Edition. Philadelphia.PA.USA. 2003
para os autores

mentação dessas crianças. Além disso, os episó-


Instruções

2. World Health Organization (WHO). Working group


dios de doença respiratória também se referiam
on breast feeding: science and society. Pontif Acad
a fatos transcorridos nos três meses anteriores à
Sci Doc,1995;20:1-33.
entrevista. Ademais, esse estudo foi realizado a
3. Cernadas JMC, Noceda G, Barrera L, Martinez AM,
partir de dados já coletados, o que determinou
Garsd A. Maternal and perinatal factors influencing
certas limitações no que se refere às possibili- the duration of exclusive breastfeeding during the
dades de análise, uma vez que o número de in- first 6 months of life. Journal of Human Lactation.
divíduos necessários para a realização de uma may.2003;19(2):133-44.

ConScientiae Saúde, 2010;9(2):194-205. 203


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