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DESCRIÇÃO

A fisiologia do sistema urinário e seu papel na homeostase do organismo.

PROPÓSITO
Compreender a organização morfofuncional e o papel regulatório do sistema urinário, uma
ação importante para construir um entendimento completo do funcionamento do organismo.

OBJETIVOS

MÓDULO 1
Identificar a estrutura renal, sua função, o processo de
hemodinâmica renal e sua regulação

MÓDULO 2

Identificar a função tubular renal, os segmentos tubulares


renais e os mecanismos de
transporte de água e soluto em cada um deles

MÓDULO 3

Relacionar a fisiologia do sistema urinário com os outros


sistemas do organismo

MÓDULO 1

 Identificar a estrutura renal, sua


função, o processo de hemodinâmica renal e sua
regulação

INTRODUÇÃO
A partir de agora, você conhecerá a organização estrutural renal e verificará que
estrutura e
função estão correlacionadas no sistema urinário. Além disso, terá a
compreensão do processo
de filtração renal. É importante observar que não é o sangue
total que é filtrado nos rins, como
se imagina, mas apenas a fração plasmática.

ESTRUTURA DO SISTEMA URINÁRIO


Os rins possuem diversas funções, como regulação do volume de água do organismo, controle
do balanço eletrolítico, regulação do equilíbrio ácido-base, conservação de nutrientes,
excreção
de resíduos metabólicos, regulação da hemodinâmica sistêmica, regulação da
pressão arterial,
produção de
hormônios, gliconeogênese e produção de vitamina D.

São órgãos retroperitoneais pareados, localizados lateralmente à coluna vertebral, um de


cada
lado. O polo renal superior se localiza na 12ª vértebra torácica, e o inferior, na
terceira vértebra
lombar. O rim direito normalmente está posicionado mais abaixo, em
relação ao esquerdo,
devido à posição do fígado durante o período de embriogênese. Seu
comprimento varia entre
11 e 12cm, sua largura, entre 5 e 7,5cm, e sua espessura, entre
2,5 e 3cm (BRENNER &
RECTOR, 2012).

PRODUÇÃO DE HORMÔNIOS

Além do hormônio renina, que será descrito posteriormente, os rins produzem o hormônio
eritropoietina, que estimula a produção de hemácias na medula óssea. Podemos dizer,
então,
que os rins também estão envolvidos na produção de hemácias.


SAIBA MAIS

O peso de cada rim varia entre homens e mulheres. No


homem adulto, pesa entre 125 e 170g,
enquanto na mulher adulta, entre 115 e
155g.

Observe a anatomia renal na figura a seguir. Cada rim possui duas bordas, sendo uma
convexa e outra côncava, assumindo forma semelhante a um grão de feijão. Na borda
côncava, está o hilo renal, região que contém os vasos sanguíneos, os vasos linfáticos,
os
nervos e a pelve renal. Recobrindo o rim, encontramos uma fina cápsula fibrosa,
resistente e
inextensível, que está ligada frouxamente ao parênquima renal.
 Visão
anatômica do rim.

Podemos ver que o rim é dividido em uma região mais pálida e externa, o
córtex, e uma
região
mais escura e mais interna, a medula. Em humanos, a medula
contém de 10 a 18
estruturas
cônicas, denominadas pirâmides de Malpighi. A base das pirâmides se encontra
na junção
corticomedular, e o ápice se aprofunda na medula até a pelve renal, originando
a papila renal.
O ápice de cada papila, denominado área cribriforme, está voltado para o
interior dos cálices e
apresenta pequenos orifícios chamados ductos de
Bellini. Estes
ductos, na realidade, são a
extremidade final dos ductos coletores papilares. A região
que engloba uma pirâmide renal e
seu córtex correspondente constitui um lobo
renal
(AIRES, 2012).

Cada papila renal é envolta por uma extensão da pelve renal, formando os cálices menores.
Vários destes cálices se unem, constituindo os cálices maiores, que desembocam na pelve
renal, de onde saem os ureteres, que se direcionam para a bexiga.
A partir da bexiga, a
urina
é eliminada através da uretra (AIRES, 2012). Note estas estruturas na figura.
 Os
rins,
ureteres, a bexiga e uretra.

URETERES

Os cálices, a pelve e os ureteres são envoltos por musculatura lisa que impulsiona a
urina em
direção à bexiga através de peristalse.

NÉFRON
O néfron constitui a unidade funcional do rim e é formado pelo corpúsculo renal e pelos
túbulos
renais. Os ductos coletores não são considerados parte do néfron devido
às suas
diferentes
origens embriológicas, porém estão envolvidos na formação da urina eliminada.
Observe a
estrutura do néfron na figura a seguir.
 Estrutura do néfron.

Uma das classificações dos néfrons se refere à posição do corpúsculo renal no córtex, a
saber:

NÉFRONS CORTICAIS

Possuem o corpúsculo renal localizado na região mais superficial do


córtex.Possuem o
corpúsculo renal localizado na região mais superficial do
córtex.

NÉFRONS JUSTAMEDULARES

Ficam perto da junção corticomedular.

NÉFRONS MEDICORTICAIS

Estão situados na região medial do córtex.


CORPÚSCULO RENAL
O corpúsculo renal é formado pelo glomérulo e pela cápsula de
Bowman. A cápsula de
Bowman
tem forma de cálice, possuindo dois tipos de paredes:

PAREDE EXTERNA
PAREDE INTERNA
A parede externa da cápsula é um epitélio pavimentoso simples, que forma o
revestimento do
corpúsculo renal.

A parede interna da cápsula de Bowman possui células denominadas podócitos, que fazem
parte da estrutura de filtração do plasma.

 ATENÇÃO

No rim de indivíduos saudáveis, o corpúsculo renal está


sempre localizado no córtex.

Entre estas, existe o espaço de Bowman, ou espaço urinário, que será ocupado pelo chamado
filtrado glomerular, tópico que discutiremos posteriormente.

 Estrutura do corpúsculo renal.


O glomérulo é um enovelado capilar que participa da filtração de grande
quantidade de
plasma
e promove a retenção de proteínas na circulação. O endotélio glomerular é
descontínuo, com
suas fenestras medindo cerca de 60-80 nm de diâmetro.

COMO OS LEUCÓCITOS E AS HEMÁCIAS SÃO


MAIORES QUE
AS FENESTRAS, ELES NÃO SÃO
FILTRADOS; LOGO, PODEMOS DIZER QUE O PLASMA,
E NÃO O SANGUE,
É FILTRADO PELOS RINS.

As células endoteliais glomerulares são recobertas por um glicocálix, que é uma camada
hidratada composta de glicoproteínas e proteoglicanos, responsáveis por conferir carga
negativa à estrutura, dificultando a filtração de moléculas com a mesma carga, como a
albumina e as demais proteínas com carga negativa. Tanto alterações na estrutura do
glicocálix
quanto sua remoção permitem a passagem de macromoléculas através do endotélio
fenestrado.

Os capilares glomerulares estão apoiados em uma membrana basal formada por uma rede de
macromoléculas, como fibras de colágeno e laminina. Também são recobertos por
proteoglicanos, principalmente heparan sulfato, que lhe conferem eletronegatividade. Em
vez
de fenestras, como no endotélio, possuem os chamados poros funcionais, que limitam a
filtração de moléculas acima de 50 Å de diâmetro, como a albumina. A membrana basal
glomerular possui três camadas: duas lâminas raras externas e uma lâmina densa interna.
 Glomérulo
de um rim humano corado com tricrômio de Masson.

As membranas basais
glomerulares aparecem com manchas

muito proeminentes na cor azul.

 Estruturas
da barreira de filtração glomerular. Em vermelho,

o endotélio
fenestrado. Em
azul-claro, a membrana

basal glomerular. Em azul-escuro, o podócito e


seus

prolongamentos (pedicélios).
Sobre a membrana basal dos capilares glomerulares, estão as células da parede interna da
cápsula de Bowman, os podócitos, que são células formadas por um corpo celular com
diversos prolongamentos primários e secundários, denominados pedicélios. Estes se
interpenetram, formando fendas de filtração, com cerca de 43 nm de diâmetro, que reduzem
a
passagem de moléculas com peso molecular acima de 70 kD. São conectados por uma
membrana proteica denominada membrana diafragmática, composta por diversas proteínas
estruturais e moléculas de adesão. Devido à sua arquitetura celular, os podócitos
participam da
sustentação dos capilares glomerulares aos quais estão relacionados.

O endotélio fenestrado do capilar glomerular, a membrana basal glomerular e os pedicélios


formam a barreira de filtração glomerular, ou barreira de ultrafiltração, que deve ser
atravessada pelo plasma para que ele alcance a estrutura tubular renal. Observe as
barreiras
de filtração nas figuras a seguir.

 Esquema
da filtração através da barreira de filtração glomerular.

Em diversas doenças, alterações apresentadas na estrutura da barreira de


filtração
glomerular
estão intimamente relacionadas com a presença de proteínas na
urina.

 ATENÇÃO

É importante ressaltar que existe, normalmente, perda


urinária de proteínas, majoritariamente
de baixo peso molecular (menores que a
albumina – 65 kD). Dentre as proteínas de alto peso
molecular perdidas na urina,
a albumina serve como marcador de lesão renal. Porém, é
incorreto afirmar que
não existe albumina na urina. A excreção de até 30 mg desta proteína por
dia é
considerada normal.

Dentro do glomérulo, existem também as células mesangiais. Estas células promovem a


sustentação das alças capilares e possuem diversas outras funções. Contêm elementos que
se
contraem, fagocitam agregados de moléculas retidos na parede capilar durante a
filtração
glomerular e possuem receptores para diferentes hormônios com papel na
regulação da
hemodinâmica intraglomerular. Elas também produzem a matriz extracelular
glomerular ou
matriz mesangial intraglomerular, que sustenta as alças dos capilares
glomerulares, e fatores
de crescimento, que permitem a renovação celular normal.


SAIBA MAIS

Sob alguns tipos de estresse, como inflamação glomerular,


as células se proliferam
exacerbadamente e alteram seu fenótipo, adquirindo
características de miofibroblastos, com
produção de alfa-actina de músculo liso
e fibras colágenas intersticiais em abundância,
alterando a fisiologia do
glomérulo.

 Visão
interna do glomérulo.

A matriz mesangial também está presente fora do glomérulo (mesângio


extracelular),
contínuo
à intraglomerular. As células mesangiais ali presentes possuem gap
junctions,
que formam uma
conexão entre as células arteriolares, a mácula densa e o mesângio
intraglomerular. Desta
forma, estas estruturas estão intimamente relacionadas,
auxiliando na regulação da
hemodinâmica renal.

 Aparelho justaglomerular.

TÚBULOS RENAIS
Contínuos ao corpúsculo renal, encontram-se os túbulos renais, estruturas já vistas
anteriormente. A membrana das células tubulares possui dois polos com diferentes
permeabilidades e propriedades de transporte: a membrana apical ou luminal, que separa a
célula da luz tubular, e a membrana peritubular ou basolateral, que separa a célula do
interstício e dos capilares peritubulares.

Agora, vamos conhecer cada segmento dos túbulos renais.

TÚBULO PROXIMAL

A primeira porção dos túbulos renais é o túbulo proximal, que pode ser segmentado em
convoluto (ou contorcido) e reto. Seu epitélio é cúbico simples, com núcleo redondo,
localizado
na porção basal da célula. O citoplasma possui muitas mitocôndrias que se
distribuem
perpendicularmente à membrana basal.

 Microscopia
eletrônica da célula do túbulo proximal convoluto

mostrando o núcleo no
canto superior esquerdo da imagem e muitas

mitocôndrias (estruturas
eletrondensas e arredondadas).

 Histologia
do túbulo proximal convoluto mostrando o núcleo

arredondado (azul),
citoplasma abundante e as microvilosidades

apicais formando a borda em


escova (rosa).

A membrana apical da célula do túbulo proximal apresenta inúmeras microvilosidades, a


chamada borda em escova, o que aumenta a área de superfície da célula. Por essas
características, dizemos que o túbulo proximal realiza grande quantidade de transporte
ativo,
devido à geração de ATP nas mitocôndrias abundantes e que pode transportar grande
quantidade de moléculas, devido à sua extensa área de superfície.

A membrana das células proximais adjacentes é conectada por junções do tipo tight e
junções
intermediárias, que
formam um cinturão contínuo em volta das células. Algumas
junções do
tipo gap permitem a passagem de íons e pequenas
moléculas de uma célula para
outra
adjacente.

Baseado em diferenças anatômicas e funcionais, o túbulo proximal é dividido em três


segmentos:

S1
Até aproximadamente metade da porção convoluta.

S2
Com a parte final da porção convoluta e metade da reta.

S3
Corresponde à metade final da parte reta.

Estes segmentos têm similaridade nos mecanismos de transporte semelhantes, mas diferenças
em sua estrutura. Por exemplo, a borda em escova é mais densa, e o número de
mitocôndrias
é maior em S1 do que em S3.

ALÇA DE HENLE

O próximo segmento tubular renal é a alça de Henle, dividida nos ramos fino descendente,
fino
ascendente e espesso ascendente (ou túbulo distal reto).

O comprimento destes ramos varia conforme a localização do néfron no córtex, sendo que os
néfrons justamedulares possuem uma alça fina mais longa, com a porção espessa presente
tanto na medula como no córtex renais.
 Histologia
mostrando três ductos coletores medulares com

células colunares altas e


numerosos vasos e alças de Henle

entre eles, em cortes transversais.

 VOCÊ
SABIA

Quanto mais longa for a alça de Henle, maior será a


capacidade de o néfron concentrar urina,
conforme veremos posteriormente. Por
este motivo, animais que vivem no deserto e precisam
reter água costumam
apresentar número muito mais elevado de alças de Henle longas do que
curtas.

As células dos ramos finos são delgadas, exceto na região do núcleo, com poucas
mitocôndrias e raras microvilosidades, enquanto o epitélio do ramo espesso ascendente
tem
uma única camada de células cúbicas, com raros microvilos, mitocôndrias largas e
alongadas e
região basal apresentando pregas que se encaixam nas células vizinhas,
formando complexos
canais paracelulares.
 Histologia
mostrando túbulos proximais convolutos à direita

da imagem e túbulos
distais
convolutos à esquerda.

TÚBULO DISTAL CONVOLUTO

Após a alça de Henle, está o túbulo distal convoluto, com células cúbicas, pouca
microvilosidade na região apical e muitas mitocôndrias largas no citoplasma.

Sua porção final tem menos mitocôndrias, e elas são menores e com dobras basolaterais
menos profundas.

A porção inicial do túbulo distal convoluto de cada néfron fica em contato íntimo com seu
glomérulo correspondente e suas arteríolas aferente e eferente, formando o chamado
aparelho
justaglomerular.

No aparelho justaglomerular, a camada média da arteríola aferente é modificada e contém


células granulares no lugar de músculo
liso. A parede do túbulo distal convoluto dessa
região
apresenta células colunares altas, que são as células da mácula densa. Estas
projetam seu
citoplasma para o interior das células granulares, e acredita-se que elas
atuem como um
sincício, envolvidas pelo mesângio extraglomerular. As células da mácula
densa detectam a
variação na quantidade de cloreto de sódio presente no fluido tubular
distal e enviam essas
informações às células granulares da arteríola aferente.
CÉLULAS GRANULARES

Estas células possuem tal nomenclatura por apresentarem em seu citoplasma grânulos que
contêm renina.

TÚBULO DE CONEXÃO

Após o túbulo distal, está o túbulo de conexão, com células de conexão, que produzem
calicreína, interpostas com células intercalares, descritas no ducto coletor.

Os ductos coletores corticais apresentam células epiteliais cuboides e passam a


apresentar
células colunares com maior diâmetro à medida que caminham pela medula em
direção à
papila.

 Histologia
do ducto coletor medular mostrando um epitélio

colunar simples (setas


vermelhas). Entre os ductos coletores,

estão cortes transversais de


vasos
(setas verdes) e

alças de Henle (setas azuis).

O epitélio do ducto coletor possui dois tipos celulares:

CÉLULAS PRINCIPAIS OU CLARAS


Correspondem a 70% do total, com citoplasma elétron-lúcido, responsáveis pela
reabsorção de
sódio e secreção de potássio.

CÉLULAS INTERCALARES OU ESCURAS


Correspondem a 30% do total, com citoplasma elétron-denso, devido às suas muitas
mitocôndrias.

Existem, ainda, duas apresentações das células intercalares:

TIPO Α

Com secreção ativa eletrogênica de H+.

TIPO Β

Pode apresentar secreção de bicarbonato.

Podemos observar, então, que o filtrado glomerular percorre as estruturas tubulares,


passando
a se chamar fluido tubular, que vai sendo modificado por processos de
transporte em cada um
destes seguimentos até originar a urina final, a qual será
encaminhada dos ductos coletores
até a pelve renal, os ureteres, a bexiga e uretra.
 Vascularização renal.

VASCULARIZAÇÃO RENAL
A artéria renal é originada da artéria aorta abdominal superior e, quando atinge o hilo
renal,
divide-se em um ramo dorsal e um ventral. Estes ramos originam as artérias
interlobares, que
são encontradas nas margens de cada lobo renal. Quando alcançam o
limite entre as zonas
medulares e corticais, elas se tornam as artérias arqueadas.
Perpendicularmente a estas, em
direção ao córtex renal, estão as artérias
interlobulares, cujos pequenos ramos perpendiculares
constituem as arteríolas aferentes
dos glomérulos. Devemos lembrar que as arteríolas
aferentes originarão os capilares
glomerulares, que, depois, formam a arteríola eferente, saindo
do glomérulo (AIRES,
2012).

As arteríolas eferentes originam uma rede capilar peritubular que está intimamente
associada
ao túbulo proximal convoluto dos néfrons superficiais. Já as arteríolas
eferentes dos néfrons
justamedulares originam um ramo que forma uma rede capilar no
córtex profundo e na medula
externa e a outro ramo que origina os vasos retos
descendentes medulares.

É interessante observar um sistema porta arterial no rim, com duas capilarizações em


série no
mesmo trajeto vascular, sendo que os capilares glomerulares são puramente
arteriais.
O sistema venoso acompanha o trajeto do sistema arterial e a veia renal, que sai do rim e
desemboca na veia cava inferior.

INERVAÇÃO RENAL
O rim é inervado por ramos do nervo simpático toracolombar, provenientes dos segmentos
entre a quarta vértebra dorsal e a quarta vértebra lombar. As fibras simpáticas se
distribuem
pelas artérias, arteríolas e pelos túbulos proximais. Não apresenta inervação
parassimpática
(AIRES, 2012).

VOCÊ SABE POR QUE ALGUÉM QUE TEM CÁLCULO


RENAL SENTE TANTA
DOR?

Isso ocorre porque a cápsula que envolve o rim é altamente inervada e inextensível. Com a
obstrução do fluxo da urina dentro do rim, em razão do cálculo, o parênquima renal não á
capaz de eliminar a urina produzida, aumentando de volume. Com a expansão do tecido em
direção à cápsula inervada, sem que essa se estenda da mesma forma, ocorre compressão
das terminações nervosas e dor.
No parênquima renal, os principais efeitos da inervação simpática são:

Vasoconstrição através da ação das catecolaminas.

Aumento da reabsorção de Na+ no túbulo proximal.

Estimulação intensa da secreção de renina pelas células granulares do


aparelho
justaglomerular.

A inervação renal também inclui fibras sensoriais aferentes, que conduzem impulsos com
origem em receptores de pressão e receptores químicos com origem
renal. Se há aumento da
pressão de perfusão renal, por exemplo, ocorre estímulo de barorreceptores renais. Por
outro
lado, modificando a composição do fluido intersticial, ocorre estímulo de
quimiorreceptores
renais, que, provavelmente, deflagrarão modificações no fluxo
sanguíneo dos capilares
glomerulares.

HEMODINÂMICA RENAL E FILTRAÇÃO


GLOMERULAR
Fluxo sanguíneo é o volume de sangue que percorre uma estrutura por unidade de tempo. O
fluxo
sanguíneo renal corresponde a 20-25% do débito cardíaco, tornando os
rins um dos
órgãos mais bem perfundidos do organismo. A distribuição do sangue é feita na seguinte
proporção:

CÓRTEX RENAL

Recebe 90% do sangue que chega aos rins pela artéria renal, em um fluxo
maior.

MEDULA

Recebe a menor quantidade (10%) em um fluxo menor. Neste caso, o baixo fluxo
ocorre pela
alta resistência dos vasos retos longos, o que reduz a lavagem
do interstício medular,
favorecendo a concentração da urina.
Os métodos de medida do FSR que dependem da determinação do fluxo urinário aplicam o
princípio da conservação (princípio de Fick), que compara a quantidade de uma substância
X
que é removida ou adicionada à circulação por um órgão específico com a diferença das
concentrações desta substância no sangue arterial e venoso que irrigam esse órgão.

Nos rins, em uma situação de equilíbrio, se observamos uma substância que não é
sintetizada
nem metabolizada no tecido renal, a quantidade desta substância que entra no
rim através da
artéria renal, em determinada unidade de tempo, deve ser igual à soma da
quantidade desta
substância que sai do rim na mesma unidade de tempo, seja pela veia
renal, seja pelo ureter.

A quantidade de substância que entra no órgão corresponde ao FSRa multiplicado


pela Ax. A
quantidade da substância que sai do rim pela veia renal equivale ao FSRv multiplicado
pela Vx.
Da
mesma forma, a quantidade da substância que sai do rim pela urina equivale à
Ux
multiplicada
pelo V. Então, temos:

Para uma forma mais fácil de medir o FSR, é necessário que o rim excrete grande
quantidade
da substância x, gerando uma diferença significativa entre suas concentrações
na artéria e na
veia renais.

O maior limitante deste método é a obtenção de amostra de sangue venoso renal. Para
resolver esta questão, é utilizada uma substância exógena denominada para-amino-hipurato
de
sódio (PAH) na dosagem do FSR, uma vez que as células renais conseguem remover 90% do
PAH do sangue que se destina à veia renal. Apenas o sangue que circula pela medula
renal,
bem como o que irriga a cápsula renal e as estruturas renais não parenquimatosas,
não é
depurado de PAH.
DESTA FORMA, O PAH É UTILIZADO PARA MEDIR O
FSR
CORTICAL, CORRESPONDENDO A 90% DO
TOTAL.

O valor máximo do FSR é atingido entre 20 e 30 anos de idade e declina gradualmente ao


longo da vida. Os valores normais do FSR são, aproximadamente, 1200 ml/min (cerca de 600
ml/min de plasma). Destes, 600 ml/min de plasma, cerca de 20%, são filtrados no
corpúsculo
renal.

A filtração glomerular é o início da formação da urina; trata-se de um processo que


depende da
integridade estrutural do glomérulo e, mais especificamente, da barreira de
filtração glomerular.
Pelas características desta barreira, apresentadas anteriormente,
podemos observar que
apenas o plasma sanguíneo é passível de filtração glomerular. Desta
forma, o filtrado formado
é um fluido que possui uma composição semelhante à do plasma,
diferenciando-se
principalmente pela sua baixa concentração de proteínas e outras
macromoléculas, sendo o
grande tamanho destas substâncias o fator limitante de sua
filtração.

A filtração glomerular é um processo hemodinâmico, que depende do balanço entre as


pressões hidrostática e oncótica
transcapilares. A relação entre as pressões
responsáveis pela
ultrafiltração glomerular é chamada pressão efetiva de ultrafiltração
(Puf) e é dada pela
seguinte relação:

Em virtude de a concentração de proteínas no ultrafiltrado presente no espaço urinário


ser
desprezível em relação à concentração de proteínas no plasma, a pressão oncótica do
espaço
urinário se torna desprezível.
 ATENÇÃO

Este fato não é verdadeiro caso haja uma lesão na


barreira de filtração glomerular que
comprometa sua integridade, pois é possível
que haja maior permeabilidade de suas estruturas
às proteínas, permitindo a
passagem destas e acúmulo no espaço urinário.

O principal componente do gradiente pressórico que rege a filtração glomerular é a


pressão
hidrostática dentro do capilar, oriunda do coração. Como a parede capilar tem
uma seletividade
alta na barreira de filtração glomerular, com poucas proteínas sendo
filtradas, a ultrafiltração do
plasma concentra as proteínas plasmáticas, aumentando
gradualmente a pressão oncótica
capilar ao longo dos capilares glomerulares, conforme a
filtração vai ocorrendo. Como a
pressão oncótica intracapilar se opõe à pressão
hidrostática intracapilar, há redução
progressiva da pressão efetiva de ultrafiltração
conforme o plasma vai percorrendo os capilares
até a arteríola eferente.


SAIBA MAIS

Em algumas espécies, como no rato, a soma das pressões


que se opõem à filtração glomerular
se iguala à pressão hidrostática no capilar
glomerular antes de atingir a extremidade final da
arteríola eferente
glomerular. Esse ponto de igualdade de pressões é denominado pressão de
ultrafiltração de equilíbrio e, quando atingida, cessa a filtração glomerular.
Em humanos, este
ponto de equilíbrio não é alcançado.

É importante notar que ПCG nunca supera a diferença de pressão hidrostática entre o
capilar
glomerular e o espaço urinário, pois esta é praticamente constante. Além disso,
com o
equilíbrio da filtração atingido, não há mais aumento de ПCG. Por este motivo, o
ultrafiltrado
não retorna para o capilar, ocorrendo apenas filtração.

QUANTO MAIOR A CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS


NO
PLASMA, MAIS PRECOCEMENTE É ATINGIDA A
PRESSÃO DE EQUILÍBRIO AO LONGO DO CAPILAR
GLOMERULAR, DIMINUINDO A ÁREA DA SUPERFÍCIE
EFETIVA DE FILTRAÇÃO UTILIZADA PARA A
ULTRAFILTRAÇÃO.

Não ocorre filtração glomerular além do ponto onde a pressão de equilíbrio for alcançada,
e
ПCG se torna constante. Por outro lado, com baixa concentração de proteínas no plasma,
e
consequente desequilíbrio na pressão de ultrafiltração, ocorre ultrafiltração em toda
a extensão
dos capilares glomerulares.


SAIBA MAIS

A extensão do capilar glomerular que não está sendo


utilizada para filtração após este ponto de
equilíbrio é denominada reserva
funcional.

A filtração glomerular pode ser alterada pelo coeficiente de filtração (Kf) e pelo
gradiente de
pressão ao longo dos vasos. O Kf é resultante do produto entre a superfície
total disponível
para filtração e a permeabilidade dos capilares. Normalmente, o Kf é
relativamente constante,
sendo a Puf o fator determinante para a filtração glomerular. O
gradiente de pressão ao longo
dos vasos renais é um ponto de regulação da filtração
glomerular – isso será abordado
posteriormente.

A taxa de filtração glomerular (TFG) é a medida da filtração glomerular e da função


renal, e
seus valores médios normais são de cerca de 90 ml/min. Pode ser influenciada
por diversos
outros fatores, como:

Vasodilatação

Aumento da concentração de angiotensina II

Hiperglicemia

Aumento primário da reabsorção de fluidos através dos túbulos renais

A função renal também deve ser avaliada a partir da proteinúria, em conjunto com a TFG. A
principal proteína avaliada na urina é a albumina, que tem uma taxa de excreção
considerada
normal em até 30 mg/dia. Com taxas diferentes, temos um quadro patológico
que
pode ser:

MICROALBUMINÚRIA
Taxa de excreção de 30 a 299mg/dia.

MACROALBUMINÚRIA

Taxa de excreção acima de 300mg/dia.

Para determinar a TFG, precisamos saber a quantidade de determinada substância filtrada


no
glomérulo por unidade de tempo e a sua concentração no filtrado glomerular. Para ser
usada
como forma de medir a TFG, esta substância deve ser livremente ultrafiltrada,
fisiologicamente
inerte e não tóxica, mostrar clearance constante e ser fácil e
precisamente determinada no
plasma e na urina. Ao mesmo tempo, não pode se ligar a
proteínas plasmáticas nem ser
reabsorvida ou secretada, produzida, metabolizada ou
armazenada nos rins.

CONSIDERANDO QUE ESTA SUBSTÂNCIA PRECISA


SER
LIVREMENTE ULTRAFILTRADA, ASSUMIMOS QUE
SUA CONCENTRAÇÃO NO FILTRADO GLOMERULAR É
IGUAL
À PLASMÁTICA.

Por não ser secretada, reabsorvida, metabolizada ou produzida ao longo do néfron, sua
quantidade filtrada é igual à excretada na urina (AIRES, 2012).
Na prática clínica, utiliza-se a creatinina para medir a TFG por ser uma molécula
endógena
(resultante do metabolismo da creatina muscular) e liberada no plasma em uma
taxa
relativamente constante. A desvantagem em usar a creatinina é que ela é secretada
pelo
túbulo proximal. No entanto, seu uso persiste pelo fato de existirem no plasma e na
urina
(principalmente no plasma) compostos que reagem colorimetricamente da mesma forma
que a
creatinina, quando esta é dosada por método colorimétrico. Assim, este resultado
plasmático
superestimado compensa os valores urinários superestimados devido à sua
secreção tubular,
permitindo o cálculo
estimado da TFG a partir desta substância.

Apesar do uso rotineiro da creatinina, a substância mais adequada para medir a TFG é a
inulina, um polissacarídeo polímero da frutose, extraído das raízes da dália. Apesar de
precisar
ser infundida no indivíduo por ser uma molécula exógena, a inulina é livremente
filtrada sem
ser metabolizada, produzida, reabsorvida ou secretada pelos túbulos renais,
gerando um
resultado preciso, e não aproximado, como acontece com o uso da creatinina.

CÁLCULO ESTIMADO

Existem alguns cálculos baseados em estudos populacionais que permitem calcular a TFG
apenas com o valor de creatinina sérica.

Em indivíduos saudáveis, pode ser calculada por:

eTFG = 141 x min (SCr/κ, 1)α x max(SCr /κ, 1)-1,209 x 0,993 idade x 1,018 [se mulher] x
1,159
[se negro], sendo SCr (creatinina sérica) = mg/dL;

κ = 0,7 (mulheres) ou 0,9 (homens);

α = -0,329 (mulheres) ou -0,411 (homens); min = o mínimo da SCr/κ ou 1; max = o máximo da


SCr/κ ou 1.

Em indivíduos com doença renal crônica, usa-se a fórmula MDRD:

TFG = 175 × (Scr)-1,154 × idade-0,203 × (0,742 se mulher) × (1.212 se negro).

REGULAÇÃO DO FSR E DA TFG


O gradiente de pressão ao longo dos vasos renais é um fator importante para a regulação
do
FSR e da TFG. As maiores reduções da pressão hidrostática ocorrem nas arteríolas
aferente e
eferente, sendo estas as regiões de maior resistência ao FSR e principais
responsáveis pelo
seu controle. Como os capilares glomerulares se encontram entre essas
duas regiões de
elevada resistência, sua pressão hidrostática intracapilar é mantida
relativamente elevada,
proporcionando também um mecanismo de íntimo controle tanto da
pressão quanto do fluxo
sanguíneo no capilar.

A circulação renal tem uma estrutura peculiar, possuindo dois leitos capilares em série:
o
glomerular e o peritubular.

Com a possibilidade de variação independente de resistência nas arteríolas aferente e


eferente, a estrutura capilar possibilita que o FSR e a TFG variem de forma paralela ou
oposta.

Se considerarmos que, ao longo de um vaso sanguíneo, não há alteração de fluxo, a pressão


hidrostática em um ponto 1 (anterior) será igual ao ponto 2 (posterior). Se entre estes
pontos
ocorre vasoconstrição, a pressão hidrostática aumenta no ponto 1 e reduz no ponto
2. Da
mesma forma, com vasodilatação entre os dois pontos, ocorre redução na pressão
hidrostática
no ponto 1 e aumento no ponto 2.

Se transpusermos esta noção para o sistema renal:


VASOCONSTRIÇÃO NA ARTERÍOLA AFERENTE

Reduziria a pressão hidrostática dentro do capilar glomerular e a TFG.

VASOCONSTRIÇÃO NA ARTERÍOLA EFERENTE

Aumentaria a pressão hidrostática dentro do capilar glomerular, o que


ocasionaria aumento da
TFG.

Nestes dois casos, a vasoconstrição reduz o FSR.

Seguindo o mesmo raciocínio:

VASODILATAÇÃO NA ARTERÍOLA AFERENTE

Ocasionaria aumento da pressão hidrostática dentro do capilar glomerular, com


aumento da
TFG.

VASODILATAÇÃO NA ARTERÍOLA EFERENTE

Geraria redução da pressão hidrostática dentro do capilar glomerular, com


diminuição da TFG.

Nestes dois casos, a vasodilatação aumenta o FSR.

Uma variedade de moléculas, incluindo hormônios, é capaz de promover vasoconstrição ou


vasodilatação nas arteríolas aferente e eferente, participando deste processo
regulatório – um
exemplo é a angiotensina II.
O fluxo de fluido tubular no túbulo distal também é capaz de modular a TFG, em um
processo
denominado balanço tubuloglomerular. Este tipo de
autorregulação ocorre pelo
aumento da
carga de cloreto de sódio na luz do túbulo distal, devido ao aumento de fluxo
ocasionado pelo
aumento primário da TFG. Devido ao co-transportador tríplice (NKCC2)
presente na membrana
luminal de células especializadas do túbulo distal, ocorre
transporte de cloreto para o interior
das células deste segmento tubular. A elevação da
concentração de cloreto nestas células
promove despolarização celular, gerando influxo
de cálcio através de canais de cátions não
seletivos.

O AUMENTO DE CÁLCIO INTRACELULAR PROMOVE


INIBIÇÃO
DA LIBERAÇÃO DE RENINA E
VASOCONSTRIÇÃO DA ARTERÍOLA AFERENTE E,
POR CONSEQUÊNCIA, A
DIMINUIÇÃO DA TFG. O
INVERSO OCORRE QUANDO HÁ DIMINUIÇÃO DA TFG
E DA CARGA DE CLORETO DE
SÓDIO NA LUZ DO
TÚBULO DISTAL.

Outra forma de autorregulação do FSR é o mecanismo miogênico, que envolve uma


propriedade
do músculo liso arterial de contrair ou relaxar devido ao aumento ou à queda da
tensão
da parede vascular. Com o aumento da pressão de perfusão, ocorre aumento do raio
vascular e do fluxo sanguíneo. Porém, com o estiramento do vaso, abrem-se canais de
cálcio
na membrana celular, promovendo contração muscular e vasoconstrição.

Vemos, então, que a hemodinâmica renal está intimamente relacionada à morfologia renal e
que ela é altamente regulável. Por meio de modificações na TFG, mudamos também a
quantidade de fluido que chega aos túbulos renais, refletindo na composição da urina.
Neste vídeo, a Professora Raquel Castiglione explica as
estruturas renais, assim como a sua
rede vascular e como ocorre o processo de
filtração.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

 Identificar a função tubular renal, os


segmentos tubulares renais e os mecanismos de
transporte de água e soluto em cada um
deles
INTRODUÇÃO
A partir de agora, estudaremos os mecanismos básicos de transporte de água e soluto ao
longo dos túbulos renais, gerando a urina final, e o mecanismo responsável pela
concentração
da urina.

REABSORÇÃO E SECREÇÃO TUBULARES


Após a filtração glomerular, o ultrafiltrado entra nos túbulos renais (túbulo proximal,
alças de
Henle, túbulo distal e ductos coletores), onde sua composição e seu volume vão
sendo
modificados através da reabsorção e secreção tubulares. Consequentemente, ocorre
variação
da quantidade de cada substância excretada na urina final.

A reabsorção tubular é o movimento de uma substância da luz tubular para o interstício


renal
por via transcelular ou paracelular
e deste para o interior dos vasos sanguíneos
adjacentes
(capilares peritubulares ou vasos retos), retornando à circulação sanguínea.

 Processos de formação da urina.

A secreção tubular é o movimento oposto, no qual uma substância se direciona do interior


dos
capilares peritubulares ou vasos retos para o interstício e deste para a luz tubular
por via
transcelular ou paracelular, sendo removida da circulação sanguínea.

Os processos de reabsorção e a secreção através do epitélio renal são realizados graças a


transportes específicos, passivos ou ativos, por canais ou transportadores localizados
nas
membranas das células tubulares. As características do transporte de alguns
eletrólitos e
algumas moléculas orgânicas serão descritas posteriormente.

O principal cátion no fluido extracelular é o Na+, um íon fundamental para a


manutenção
do
volume do fluido extracelular e, consequentemente, para a regulação da pressão
sanguínea.

Seu principal co-íon é o Cl-, que, por sua vez, é o ânion mais
abundante no
fluido extracelular.
Os transportadores de cloreto estão envolvidos em diversos
processos fisiológicos, como:

Regulação do volume e do pH intracelular

Acidificação de vesículas intracelulares


Transporte transepitelial

A MAIORIA DO CLORETO FILTRADO NOS RINS É


REABSORVIDA NOS TÚBULOS RENAIS

Contrabalanceando o sódio, o K+ é o cátion mais abundante do lado de fora da


célula. A
manutenção dos níveis de potássio é importante para vários processos fisiológicos, como:

Regulação de volume e pH intracelular

Atividade enzimática

Síntese de DNA e de proteínas

Apoptose

A reabsorção de sódio e cloreto é a principal geradora de gradientes osmóticos através do


epitélio tubular. Estes gradientes permitem a reabsorção passiva de água da luz tubular
para o
interstício renal, sendo posteriormente transportada para os vasos sanguíneos que
circundam
os túbulos renais. Esta reabsorção de água promove aumento na concentração dos
solutos no
fluido tubular, o que pode influenciar a reabsorção ou secreção tubular de
solutos, como a
glicose e os aminoácidos. Assim, fatores que modulam o transporte renal
de sódio, como
hormônios e algumas doenças, tal como diabetes mellitus, causam
alterações no transporte
renal geral.

A reabsorção de Na+ nas células renais só é possível em razão de um gradiente


de
concentração entre a luz tubular, com elevada concentração de sódio, e o interior
celular, com
menor concentração deste íon. Este gradiente é promovido pela atividade de
sódio/potássio

ATPase basolateral (Na+/K+ ATPase), uma enzima que


transfere a energia da
hidrólise de ATP
para o contratransporte ativo de sódio e potássio através da membrana.

 Funcionamento da
Na+/K+- ATPase.

O funcionamento desta enzima promove a reabsorção de três íons sódio do


interior celular
para o interstício renal e a entrada de dois íons potássio do interstício renal para o
interior
celular, e sua atividade pode ser alterada em doenças como o diabetes mellitus.
Neste caso, a
atividade da Na+/K+ ATPase se encontra aumentada nas
primeiras semanas do
diabetes
mellitus, diminuindo com o decorrer da doença.

REABSORÇÃO NO TÚBULO PROXIMAL


A porção inicial do túbulo proximal tem maior número de microvilosidades e mitocôndrias,
apresentando superior taxa de reabsorção de solutos. No total, o túbulo proximal
reabsorve
cerca de dois terços do ultrafiltrado glomerular, mesmo que haja alteração na
quantidade de

plasma filtrado. A energia para reabsorção proximal é derivada da


Na+/K+
ATPase que está
presente na membrana basolateral das células.

A reabsorção de solutos que ocorre no túbulo proximal possui duas fases, a saber:

FASE 1
Na primeira fase, no segmento S1, ocorre, principalmente, a reabsorção de
nutrientes
essenciais, como glicose, proteínas, aminoácidos, solutos
orgânicos neutros e bicarbonato de
sódio, juntamente a sódio e água. A
diferença de potencial (DP) transtubular neste segmento é
de -2 mV, sendo o
lúmen tubular mais negativo do que o interstício peritubular.

FASE 2
Na segunda fase, ocorre principalmente a reabsorção de cloreto junto a sódio
e água.

Cerca de 67% do sódio que foi filtrado é reabsorvido neste


segmento, acompanhado da maior
parte do cloreto. O transporte de potássio no
túbulo proximal é altamente afetado pelo
transporte de sódio e de água.

A maior parte do potássio filtrado é reabsorvida por via paracelular por meio
de arraste ou

eletrodifusão. O arraste de K+ ocorre com a água ao


longo de
todo o túbulo proximal. Já a
eletrodifusão ocorre nas porções finais do
túbulo proximal, onde a voltagem transepitelial é

positiva. Essa DP gera uma


força favorável à reabsorção de K+ por vias paracelulares de
baixa
resistência.

 Tipos de transporte celulares.

O túbulo
proximal também é capaz
de reabsorver água, tanto de forma
transcelular (via
aquaporinas) quanto
paracelular. A reabsorção de fluido
neste segmento é isosmótica ao
plasma, ou seja, aproximadamente 290 mOsm/L
H2O.

Neste segmento, temos também a reabsorção de solutos orgânicos,


como ureia, aminoácidos,
proteínas e glicose. A ureia é o principal produto do metabolismo proteico e
é a forma
de
excreção da maioria dos catabólitos nitrogenados que são gerados, mas não
são
utilizados
pelo organismo. Esta molécula compõe cerca de 50% dos solutos
excretados na
urina de um
indivíduo com uma dieta normal de proteínas.

TÚBULO PROXIMAL

O túbulo proximal é alvo dos diuréticos osmóticos, como o manitol, que aumentam a
osmolaridade na luz deste segmento tubular, inibindo a reabsorção de água. Este volume
que
deixa de ser reabsorvido não é inteiramente compensado no restante da estrutura
tubular,
fazendo com que mais água seja eliminada na urina.

AQUAPORINAS

Aquaporinas são canais localizados na membrana celular que conduzem moléculas de água
para dentro e fora da célula, ao mesmo tempo em que inibem a passagem de íons e outros
solutos. As aquaporinas aumentam a permeabilidade das membranas à água.

REABSORÇÃO DE PEPTÍDEOS E
PROTEÍNAS
A reabsorção acontece de forma diferente entre os peptídeos e as proteínas:

PEPTÍDEOS
Pequenos peptídeos que são filtrados podem sofrer a ação de peptidases na
borda em escova,
sendo hidrolisados a aminoácidos, que são, então,
reabsorvidos.

PROTEÍNAS

Proteínas de alto peso molecular (> 65 kD) eventualmente filtradas, como a


albumina, e as
proteínas de baixo peso molecular (< 65 kD) são reabsorvidas
por endocitose.

Este processo é mediado por um receptor multiligante formado pela associação das
proteínas
megalina e cubulina. Com a interação das
proteínas filtradas com o receptor
megalina-
cubulina, este complexo ligante-receptor é endocitado, dando origem a uma
vesícula endocítica
intracelular revestida por clatrina. Os receptores são reciclados
para a membrana tubular
luminal, enquanto as proteínas são degradadas enzimaticamente a
aminoácidos, e estes são
reabsorvidos através da membrana basal.

Devido à ação de bombas de próton, principalmente a H+-ATPase tipo V, o


interior destas
vesículas endocíticas é acidificado, causando a dissociação do ligante (proteínas) de
seu
receptor. Como estas bombas são eletrogênicas, as vesículas endocíticas teriam lúmen
com
voltagem positiva, o que inibiria gradativamente a acidificação vesicular. Uma
corrente
neutralizante proveniente do influxo de cloreto através de canais de cloreto da
família ClC,
como o ClC-5, permite acidificação eficiente da luz vesicular.

 VOCÊ
SABIA

Na doença de Dent, uma mutação no ClC-5 impede a


acidificação eficaz da vesícula
endocítica, impossibilitando a dissociação da
proteína com o complexo megalina-cubilina,
reduzindo sua recirculação. Desta
forma, menos proteína consegue ser reabsorvida no túbulo
proximal, acumulando-se
na luz tubular e ocasionando proteinúria.

A carga filtrada de albumina chega a cerca de 1-2 gramas por dia em um indivíduo
saudável,
com excreção de até 30 mg na urina. Quando a carga filtrada de albumina excede
a
capacidade de reabsorção proteica do túbulo proximal, ocorre aumento da concentração
de
albumina na luz tubular e da sua excreção urinária (albuminúria).


SAIBA MAIS

O excesso de albumina presente na luz tubular quando há


uma lesão na barreira de filtração
glomerular ou no mecanismo de reabsorção
tubular de proteínas é capaz de provocar lesão
tubular por ativação de
diferentes vias de sinalização, como aumento da inflamação local.

Por outro lado, a ausência de albumina na superfície das


células do túbulo proximal provoca
apoptose.

Vemos, então, que é necessária uma quantidade basal de


albumina na luz tubular proximal
para a sobrevivência das células desta porção
tubular.

REABSORÇÃO DE GLICOSE
A glicose, por sua vez, é altamente conservada pelos rins por ser um importante substrato
energético. Um exemplo disso é que sua carga filtrada é de 10 a 40 vezes maior que sua
utilização diária. É uma molécula livremente filtrada, ou seja, sua concentração do
espaço
urinário é igual à concentração plasmática.

A glicose filtrada é quase totalmente reabsorvida no túbulo proximal. Esta reabsorção é


mediada por cotransportadores apicais de sódio e glicose, os SGLTs,
conforme a seguir:

SGLT2
O SGLT2 é um transportador de baixa afinidade e alta capacidade, ou seja, reabsorve a
maior
parte da glicose tubular (cerca de 90%).

SGLT1
O SGLT1 é um transportador de alta afinidade e baixa capacidade, responsável pela
reabsorção do restante de glicose intratubular (cerca de 10%).

Com sua concentração no interior da célula do túbulo proximal, a glicose se difunde


passivamente para o espaço intersticial através dos transportadores basolaterais,
denominados
GLUT, conforme
a seguir:

GLUT 1
O GLUT 1 é um transportador de glicose de alta afinidade e baixa capacidade e
saturável em
concentrações de glicose próximas da basal.

GLUT 2
O GLUT 2 é um transportador de baixa afinidade e alta capacidade, capaz de
transportar
glicose, frutose e galactose em diversas concentrações.

A reabsorção de glicose através dos SGLTs ocorre devido ao gradiente de concentração para

sódio gerado pela Na+/K+ ATPase basolateral. O funcionamento da


Na+/K+ ATPase localizada
na membrana basolateral das células tubulares permite que a concentração intracelular de
sódio permaneça baixa devido à sua reabsorção para o espaço intersticial. O gradiente
eletroquímico gerado é responsável pelo movimento passivo de sódio da luz tubular para o
interior celular, favorece a reabsorção de sódio pelos SGLTs e, consequentemente, a
reabsorção de glicose.

Os SGLTs são transportadores saturáveis, ou seja, um aumento na concentração plasmática


de glicose permite que mais glicose seja filtrada no glomérulo, aumentando a quantidade
desta
molécula no interior dos túbulos renais e saturando os transportadores SGLT
presentes no
túbulo proximal, sendo possível detectar grande quantidade de glicose na urina. O aumento da
concentração plasmática e da excreção urinária de glicose pode ser
observado em diversas
doenças, sendo a mais importante o diabetes mellitus.
Neste vídeo, a Professora Raquel Castiglione demonstra como
se dá o processo de
reabsorção de peptídeos, proteínas e glicose.

SECREÇÃO NO TÚBULO PROXIMAL


O túbulo proximal secreta hidrogênio, íons orgânicos, amônia e creatinina. Ocorre
principalmente no segmento S2, cujo epitélio é rico em proteínas carregadoras. Além de
diferentes moléculas endógenas, também secreta uma variedade de substâncias exógenas,
como sacarina, furosemida, acetazolamida, penicilina G, morfina e para-amino-hipurato de
sódio, dentre outras.

TRANSPORTE DOS FLUIDOS


Veja como se dá o transporte em cada um dos segmentos a seguir:

TRANSPORTE NA ALÇA DE HENLE


Após o túbulo proximal reto, está o segmento fino descendente da alça de
Henle, altamente
permeável à água e pouco permeável a solutos. Como a medula
renal na qual ele está inserido
é hipertônica, ocorre reabsorção de água
neste segmento. Também observamos moderada
secreção passiva de sódio,
cloreto, potássio e ureia para a luz tubular. Com a entrada de soluto
e
saída de água da luz tubular, ocorre concentração do fluido tubular neste
segmento, podendo
chegar a 1400 mOsm/L H20 na dobradura da alça.

Saindo do segmento fino descendente, o fluido tubular percorre o


segmento fino ascendente da
alça de Henle. Este é pouco permeável à água e
altamente permeável a solutos. Como os
solutos estavam concentrados no
interior da alça fina descendente, ocorre alta reabsorção
passiva de NaCl. A
baixa permeabilidade à água e a reabsorção de solutos promovem a
diluição do
fluido tubular no segmento fino ascendente da alça de Henle

O próximo segmento tubular percorrido pelo fluido tubular é o


ramo grosso ascendente da alça
de Henle. Na membrana apical das suas
células, existe um transportador que se liga a dois
íons cloreto, um íon
sódio e um íon potássio (transportador tríplice, NKCC2), responsável pela
reabsorção destes íons. Cerca de 25% do sódio filtrado é reabsorvido nesta
porção tubular,
podendo esta quantidade ser maior caso o túbulo proximal
deixe de reabsorver os usuais 67%.

A resultante final do transporte de potássio neste segmento


tubular é a reabsorção deste íon;
porém, com a inibição do cotransportador
NKCC2, pode ocorrer secreção final de potássio.
Acompanhando o sódio, ocorre
grande reabsorção de cloreto neste segmento tubular.

O epitélio do ramo grosso ascendente da alça de Henle é


virtualmente impermeável a água,
mas não a cloreto de sódio. Ou seja, o
fluido tubular fica hipo-osmótico em relação ao
interstício que o cerca. A
hipertonicidade gerada pelo transportador tríplice no interstício
medular
renal é importante no mecanismo de reabsorção de água e ureia.

Neste segmento, a DP transepitelial resultante é cerca de +7 mV,


lúmen positivo. Isso promove

a difusão de Na+ através das


tight
junctions,
correspondendo a 50% da reabsorção de Na+

pelo ramo grosso


ascendente e
determina a reabsorção de K,+, Ca2+ e Mg2+
pela via
paracelular.

TRANSPORTE NO TÚBULO DISTAL CONVOLUTO


No túbulo distal convoluto, a reabsorção acoplada de sódio e cloreto ocorre
através do
cotransportador NCC basolateral, cuja
atividade é importante na
regulação da pressão
sanguínea e do balanço de sal do organismo. Neste
segmento, cerca de 5% do Na+ filtrado é
reabsorvido. Normalmente,
ocorre
maior secreção de potássio do que reabsorção, sendo este
segmento o
principal responsável pela secreção deste íon. O túbulo distal convoluto
reabsorve
soluto, mas é impermeável à água, diluindo o fluido intratubular,
que pode chegar a 100
mOsm/L H2O.

TRANSPORTE NO TÚBULO DISTAL FINAL


O túbulo distal final corresponde ao túbulo de conexão e à primeira porção do
ducto coletor

(anterior à primeira junção com outros coletores). Neste


segmento, ocorre reabsorção de Na+,

secreção de K+ e
sensibilidade ao
hormônio antidiurético, tornando-se permeável à água. De
modo geral, suas
demais características têm semelhança com as do ducto coletor.

TRANSPORTE NO DUCTO COLETOR


Ao deixar o túbulo distal final, o fluido tubular alcança o ducto coletor,
que reabsorve sódio e
água de acordo com a demanda do organismo, e não em
função da quantidade de sódio que
lhe é oferecida.

No ducto coletor, são encontrados três diferentes tipos


celulares: células
principais, células
intercalares tipo α e células intercalares tipo β.

Na presença do hormônio antidiurético (ADH), a reabsorção de


água ocorre
através de
aquaporinas constitutivas da membrana basolateral (aquaporinas
AQP-3 e AQP-4). Além disso,
uma vez que o ADH se liga ao seu receptor V2
basolateral, ocorre acoplamento com uma
proteína Gs/adenilato ciclase, e a
geração de AMPc intracelular é estimulada. O aumento nos
níveis de AMPc
ativa a PKA, que estimula a translocação das vesículas intracelulares
contendo
AQP-2 para a membrana apical da célula e a inserção de canais de
ureia também na
membrana apical. Na presença de um interstício medular
hipertônico, ocorre reabsorção de
água neste segmento tubular.

A osmolalidade do fluido tubular no ducto coletor pode variar de


50 mOsm até
1.400 mOsm em
resposta à reabsorção de água estimulada por ADH.

NKCC2

Este transportador é alvo dos diuréticos de alça, como o medicamento furosemida. Com a
inibição da reabsorção de sódio, este se concentra na luz tubular, reduzindo a
tonicidade da
medula e, com isso, o gradiente necessário para a reabsorção de água pelo
ducto coletor na
presença de ADH (processo discutido posteriormente).

A diminuição da atividade do NKCC2 leva à menor reabsorção de potássio neste segmento


tubular, acumulando o mesmo na luz do túbulo e aumentando sua excreção na urina final,
provocando hipocalemia.

NCC

Este transportador é alvo dos medicamentos diuréticos tiazídicos, como a


hidroclorotiazida. A
redução da reabsorção de sódio neste segmento aumenta a
osmolaridade no interior da luz
tubular, fazendo com que menos água seja reabsorvida
neste segmento na presença de ADH.

SÓDIO

O transportador de sódio ENaC presente neste segmento é alvo dos diuréticos poupadores de

K+, como o amiloride. Com inibição da entrada de sódio na célula, a atividade


da Na+/K+

ATPase é reduzida, havendo menor secreção de K+ para a luz tubular, evitando


sua perda
na
urina.

CLEARANCE RENAL
O clearance de uma substância indica o volume virtual de plasma que fica livre da
substância
em determinada unidade de tempo. Para determinar o clearance renal, é
necessário medir a
sua quantidade absoluta excretada na urina e relacioná-la com sua
concentração no plasma:

Dessa forma, o clearance pode ser:

NULO
MÁXIMO
CORRESPONDENTE À TAXA DE FILTRAÇÃO
GLOMERULAR DO INDIVÍDUO
Moléculas que sofrem filtração glomerular e não são secretadas pelos túbulos renais
não são
eliminadas na urina e têm clearance nulo, uma vez que não ocorre depuração
plasmática. Da
mesma forma, quando uma substância filtrada é totalmente reabsorvida
pelos túbulos renais,
sua carga excretada é zero. Desta forma, o plasma do indivíduo
não fica depurado da
substância (clearance zero). Como exemplo, temos os
aminoácidos.

Em casos em que a substância é filtrada e totalmente secretada pelos túbulos (não


aparecendo
no sangue que sai do rim pela veia renal), o seu clearance é máximo e
corresponde ao fluxo
plasmático renal, uma vez que todo plasma que chega ao rim é
depurado da substância. Um
exemplo de uma substância que é quase eliminada pelo rim
em sua totalidade é o PAH. É por
isso que seu clearance é usado clinicamente para
indicar uma medida aproximada do fluxo
plasmático renal.

Se uma substância for livremente filtrada, sem sofrer reabsorção nem secreção
tubular, sua
carga filtrada é igual à sua carga excretada, ficando o volume de
plasma filtrado virtualmente
livre dessa substância. Parte da substância que não foi
filtrada continua a percorrer os
capilares peritubulares sem ser secretada, voltando
à circulação sistêmica, que é o caso da
inulina, por exemplo. Desta forma, o
clearance desta substância corresponde à taxa de filtração
glomerular do indivíduo.

Substâncias que são reabsorvidas apenas em parte pelos túbulos renais possuem um
clearance menor que o daquelas que são apenas filtradas, pois parte delas retorna ao
sangue
após a filtração. Assim, seu clearance fracional (razão entre o clearance da
substância e o
clearance da inulina) é menor que 1:

A depuração plasmática de uma substância parcialmente secretada corresponde ao processo


de filtração e secreção, sendo maior que o volume de plasma depurado de inulina (apenas
filtrada) no mesmo intervalo de tempo. Seu clearance fracional é maior que 1:

Vale ressaltar que, quando a concentração plasmática de uma substância que é transportada
por um transportador saturável aumenta, ela passa a se comportar como se fosse apenas
filtrada, e seu clearance tende ao clearance da inulina.
A glicose e o PAH são dois exemplos deste mecanismo. No caso da glicose que é
reabsorvida,
com a saturação dos transportadores SGLT, o aumento da concentração
plasmática faz com
que seu clearance aumente, pois ela se acumula na urina, em vez de
retornar ao sangue.
Desta forma, sua fração reabsorvida torna-se desprezível, se
comparada com a excretada. O
PAH, por sua vez, é secretado e, quando atinge a secreção
máxima, um aumento posterior da
concentração plasmática diminui seu clearance, pois ela
se acumula no sangue.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 3

 Relacionar a fisiologia do sistema


urinário com os outros sistemas do organismo

INTRODUÇÃO
Agora, estudaremos a conservação da hipertonicidade da medula renal e o mecanismo
contracorrente renal e conheceremos os principais mecanismos regulatórios renais, que
são a
regulação da tonicidade, do volume e do pH do fluido extracelular. Veremos que o
entendimento da estrutura, da hemodinâmica renal e do transporte de solutos ao longo do
néfron se relacionam com a função do organismo como um todo, integrando os sistemas
orgânicos.

REGULAÇÃO DA TONICIDADE DO FLUIDO


EXTRACELULAR
BALANÇO DE ÁGUA E OSMOSE

Uma das principais funções do sistema renal é a regulação da tonicidade do meio


extracelular,
pelo controle do balanço corpóreo de água, sendo fundamental para a
manutenção do volume
celular.

O balanço de água ocorre através do ganho e da perda de água pelo organismo. Em uma
situação de equilíbrio:

Ingestão de água

Incluindo a gerada pelo metabolismo.


Eliminação

Somatório da perda pela urina, evaporação na


pele, respiração, pelas fezes e pelo suor.

O princípio da osmose é o movimento de difusão da água através de uma membrana


semipermeável do compartimento com a menor concentração de soluto para o compartimento
com maior concentração. Para a osmose ocorrer, é necessário haver diferença de
osmolaridade entre os dois compartimentos, ou seja, no somatório das concentrações de
todas
as moléculas e íons livres dentro de uma solução aquosa.

 Osmose.

O movimento de água que ocorre na osmose pode ser contrabalançado por uma pressão
hidrostática, denominada pressão osmótica. A pressão osmótica efetiva
(ou tonicidade)
leva
em consideração não somente as moléculas dissolvidas em uma solução, mas também a
membrana que separa os compartimentos. Apenas os solutos efetivos plasmáticos são
capazes de determinar se uma solução é:

HIPERTÔNICA
Uma solução é dita hipertônica quando apresenta pressão
osmótica efetiva
maior que aquela
de uma célula viva. Se a célula estiver em solução
hipertônica, a água se deslocará do interior
celular para a solução, até
ocorrer o equilíbrio entre as tonicidades. Neste caso, ocorre a
crenação da
célula, na qual ela perde volume, comprometendo sua integridade e
funcionalidade.

 Hipertônico.

HIPOTÔNICA
Uma solução hipotônica tem pressão osmótica efetiva menor
que a célula. Neste
caso, a água
se deslocará da solução, com menor concentração de soluto, para
o interior celular, até ocorrer
o equilíbrio entre as tonicidades.
Dependendo da diferença de tonicidade entre os meios, a
célula pode receber
água suficiente para promover sua ruptura. De qualquer forma, a célula
edemaciada tem suas propriedades físico-químicas alteradas, comprometendo
seu
funcionamento normal.

 Hipotônico.

ISOTÔNICA
Se colocarmos uma célula em solução isotônica, com a mesma
tonicidade que seu
interior,
não haverá diferença na concentração de solutos entre os
compartimentos e,
consequentemente, não haverá movimento excedente de água
entre eles.

 Isotônico.

 ATENÇÃO

Um paciente com aumento de 56mg/dl de ureia nitrogenada


no sangue terá uma elevação da
osmolaridade plasmática em 20 mOsm/L
H2O, mas a
tonicidade permanecerá normal, uma vez

que a ureia se distribuirá


proporcionalmente entre o FIC e o FEC. Por outro lado, um paciente

com aumento
plasmático de 10 mEq/L de Na+ também tem uma elevação de 20 mOsm/L de
H2O na
osmolaridade plasmática, uma vez que este íon deve ser balanceado com um aumento

equivalente de ânions no plasma. Porém, neste caso, a tonicidade do FEC também


será 20

mOsm/L de H2O maior, uma vez que o Na+ e seus


co-ânions (principalmente
o Cl-) ficam

majoritariamente retidos no FEC.


No nosso organismo, 55-65% do nosso peso corpóreo é de água, distribuída em dois grandes
compartimentos corpóreos:

INTRACELULAR

EXTRACELULAR

O compartimento extracelular inclui o plasma, o líquido intersticial e os


líquidos trancelulares
(como os espaços sinovial, peritoneal, pericárdico e
intraocular e o fluido cerebrospinal).

Apesar de possuírem a mesma osmolaridade quando em equilíbrio, a composição do fluido


extracelular (FEC) e do fluido intracelular (FIC) é bastante distinta devido ao sistema
de

transporte de solutos de cada célula. Por exemplo, a Na+/K+


ATPase mantém a
concentração
de sódio baixa dentro da célula e a de potássio alta. O interior das
células também possui
grande quantidade de magnésio, fosfato e proteínas, enquanto o FEC
possui alta concentração
de cálcio, cloreto e bicarbonato. Apesar destas diferenças, a
pressão osmótica no FIC e no
FEC é semelhante.

SEDE E AÇÃO DO ADH


O valor normal da osmolaridade plasmática (Posm) é de cerca de 290 mOsm/L de
H2O.

Alterações de apenas 1 a 2% modificam o balanço de água no organismo.

O organismo responde à sobrecarga de água, reduzindo a


secreção de hormônio antidiurético
e a sede, promovendo redução da reabsorção de água no ducto coletor e na excreção
urinária
do excesso de água.

Quando ocorre hiperosmolalidade plasmática, ou seja, baixa proporção de água no sangue ou


excesso de soluto, excesso de ingestão de sódio, são necessárias a ingestão e a retenção
renal de água exógena. Isto é conseguido através do aumento da sede e da secreção de
hormônio antidiurético, respectivamente.

O mecanismo da sede pode ser deflagrado com o aumento da Posm ou com a redução do
volume
e/ou pressão sanguíneos.

DESSES ESTÍMULOS, A HIPEROSMOLALIDADE


PLASMÁTICA
É O MAIS POTENTE, POIS O AUMENTO
DE APENAS 2 A 3% DA POSM CAUSA FORTE SEDE,
ENQUANTO É
NECESSÁRIA UMA REDUÇÃO DE 10 A
15% DE VOLUME OU PRESSÃO PARA PRODUZIR O
MESMO EFEITO.

A liberação de ADH ocorre pelo estímulo de osmorreceptores hipotalâmicos, sensíveis à


osmolaridade plasmática, ou de barorreceptores no átrio esquerdo, arco aórtico e seio
carotídeo, sensíveis à pressão sanguínea. O ADH é sintetizado pelos núcleos supraópticos
e
paraventricular hipotalâmicos, transportados pelos axônios até a neurohipófise e
secretados na
circulação sanguínea nas terminações do axônio na neurohipófise. A
secreção de ADH pode
ser modificada por diferentes fatores, como narcóticos e nicotina,
que aumentam sua secreção,
enquanto álcool e cafeína reduzem-na.

O ADH tem diferentes funções nos rins:

Causa contração das células mesangiais no glomérulo, diminuindo a TFG.

Aumenta a atividade do transportador tríplice na alça espessa de Henle.

Promove a inserção de aquaporinas na membrana apical das células do ducto


coletor, aumenta
a permeabilidade destas células à água.

Aumenta a permeabilidade das células do ducto coletor medular interno à


ureia.

MECANISMO DE CONCENTRAÇÃO
URINÁRIA E SISTEMA CONTRA CORRENTE
O acúmulo de NaCl no interstício medular e o transporte de ureia entre diferentes
segmentos
do néfron são responsáveis pela existência de um interstício medular
hipertônico, necessário
para que ocorra reabsorção de água pelo ducto coletor e
concentração da urina.

A alça de Henle é considerada um sistema contracorrente, pois, enquanto a alça


descendente
concentra o fluido tubular, as alças ascendentes diluem esse fluido. Assim,
a atividade do
transportador tríplice é dita como o efeito unitário do sistema
contracorrente, através do qual
acontece a formação da hipertonicidade da medula, e que
corresponde a um gradiente de
aproximadamente 200 mOsm entre a luz do túbulo e o
interstício adjacente.

A alça de Henle forma dois gradientes (efeito multiplicador do sistema contracorrente):

GRADIENTE HORIZONTAL

GRADIENTE VERTICAL

QUANTO MAIS LONGA FOR A ALÇA DE HENLE,


MAIOR O
GRADIENTE VERTICAL COM ALTA FORÇA
OSMÓTICA DO NACL QUE ESTÁ NO INTERSTÍCIO
MEDULAR,
PROPICIANDO GRANDE REABSORÇÃO DE
ÁGUA NA PORÇÃO INICIAL DO DUCTO COLETOR
MEDULAR NA
PRESENÇA DE ADH.

A conservação da hipertonicidade da medula é importante para que esta não seja diluída
com
a água que está sendo reabsorvida, cessando a reabsorção. Este processo é mediado
pelo
ciclo renal da ureia. Com a reabsorção de água do ducto coletor na presença de ADH,
ocorre a
concentração de ureia na luz do ducto coletor medular. As células da porção
final do ducto
coletor possuem transportadores apicais de ureia, denominados UTA-1, que
são dependentes
de ADH e possibilitam a reabsorção de ureia neste segmento frente ao
gradiente de
concentração de ureia estabelecido nos segmentos anteriores ao ducto
coletor.
A ureia reabsorvida para o interstício medular renal pelo ducto coletor é secretada para
as
alças finas de Henle de forma passiva a partir de transportadores UTA-2 apicais,
possibilitando
sua recirculação renal.

 ATENÇÃO

O ciclo renal da ureia é responsável pela conservação da


hipertonicidade medular.

No segmento fino descendente de Henle, a água é conjuntamente reabsorvida, mas através de


aquaporinas AQP1.

A reabsorção de água no ducto coletor reflete a capacidade que o rim tem de concentrar
urina
e depende dos níveis de ADH nos rins, da reabsorção de cloreto de sódio e ureia e
da
formação da hipertonicidade medular.

O transporte de ureia e de água ao longo do néfron pode ser afetado pela quantidade de
proteína ingerida pelo indivíduo, já que a ureia é o principal produto do metabolismo
proteico.
Assim, o aumento na ingestão
proteica leva ao crescimento da concentração
plasmática e
urinária de ureia, e o aumento da excreção urinária de ureia promove
diurese induzida pelo
aumento da osmolalidade urinária.

INGESTÃO PROTEICA

Além de elevar a concentração plasmática de ureia, um aumento na ingestão de proteínas


pode regular também a expressão dos transportadores de ureia, favorecendo o aumento no
transporte desta para o interstício medular através de seus transportadores celulares.
Assim, o
crescimento da reabsorção de ureia, o consequente aumento da hipertonicidade
medular e a
reabsorção de água no ducto coletor funcionam como mecanismos compensatórios
para
prevenir a perda de ureia e água na urina, a fim de preservar a osmolalidade do
interstício
medular e a capacidade de concentração urinária do indivíduo.
REGULAÇÃO DO VOLUME DO FLUIDO
EXTRACELULAR

O Na+, juntamente ao Cl- e HCO3-, é o


principal constituinte osmótico do FEC, favorecendo
o

movimento de água. O conteúdo corporal total de Na+ e seu balanço pelo organismo é o
principal determinante do volume do FEC.

As variações de volume de FEC permitem ao organismo excretar quantidades de sódio de


acordo com as variações na sua ingestão.

Os barorreceptores localizados principalmente na árvore circulatória torácica são os


sensores
de volume circulatório efetivo. Nas arteríolas aferentes renais, também são
encontrados
barorreceptores, que geram diferentes sinais hormonais ou neurais.

SINAL HORMONAL
SINAL NEURAL
O primeiro sinal hormonal envolve a ativação do sistema
renina-angiotensina-aldosterona
(SRAA) devido à queda do volume circulatório
efetivo, e o segundo envolve a liberação do
peptídeo atrial natriurético devido ao
aumento do volume circulatório efetivo e estiramento da
parede atrial.

O primeiro sinal neural é o estímulo da inervação simpática, o que reduz o fluxo


sanguíneo

renal e a excreção renal de Na+. O segundo é a secreção de ADH


e retenção
renal de água
quando ocorre queda de 15-20% do volume circulatório efetivo.

SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-
ALDOSTERONA
A ativação do SRAA se inicia nas células granulares da arteríola aferente, secretora da
enzima
renina, que cliva o angiotensinogênio em angiotensina I. Esta é convertida em
angiotensina II
pela enzima conversora de
angiotensina localizada no endotélio vascular,
sendo abundante
nos pulmões. A ECA renal produz angiotensina II suficiente para promover
efeitos vasculares
locais, atuando diretamente nas arteríolas aferente e eferente.

SAIBA MAIS

Os medicamentos utilizados no controle da pressão


arterial podem ter diferentes mecanismos
de ação. Enquanto o captopril impede a
conversão da ANGI a ANGII, através do bloqueio da
ECA, a losartana é antagonista
do receptor de ANGII.

A estimulação de receptores β-adrenérgicos e da inervação simpática renal, juntamente à


redução no estiramento da parede da arteríola aferente, percebida por receptores
sensíveis ao
estiramento durante a queda de pressão de perfusão renal, cAMP intracelular
e a baixa
concentração de cloreto de sódio nas células da mácula densa, são capazes de
estimular a
produção e a liberação de renina.

A ANG II possui diferentes efeitos sistêmicos e renais; reduz o FSR e aumenta a pressão
hidrostática no capilar glomerular, prevenindo a queda da TFG através de vasoconstrição
arteriolar. Apesar de agir nas duas arteríolas, sua ação é mais potente na arteríola
eferente.

Outros efeitos renais da ANG II são:

Aumento na ingestão e retenção de água por estímulo da sede e liberação de


ADH por
redução do fluxo sanguíneo medular, o que ocasiona maior acúmulo de
ureia na medula renal
e maior tonicidade medular.

Aumento da resistência periférica total por ação vasoconstritora.

Aumento da retenção de sódio e água por efeito em diferentes


transportadores de sódio
presentes nos túbulos renais e por estímulo da
secreção de aldosterona pelas células do córtex
da glândula adrenal.

A aldosterona atua principalmente nas células principais e intercalares tipo α do ducto


coletor.
Nas células principais, estimula a reabsorção de sódio através do aumento da
síntese e/ou da
incorporação de canais de sódio na membrana e do suprimento de energia
pela mitocôndria. O

aumento da permeabilidade ao Na+ estimula a


Na+/K+ ATPase e ocasiona
secreção de K+,
com perda na urina. Já nas células intercalares tipo α, a
aldosterona
estimula a secreção de

hidrogênio por uma H+-ATPase na membrana luminal.

Veja, na figura a seguir, o esquema de funcionamento do SRAA.

 Esquema
de funcionamento do SRAA.
PEPTÍDEO ATRIAL NATRIURÉTICO (PAN)
Diferentemente do SRRA, que é ativado durante uma queda do volume circulatório e/ou
pressão, o PAN é liberado com o estiramento atrial que ocorre com o aumento do volume de
sangue circulante, normalizando a volemia e a pressão sanguínea por:

Vasodilatação generalizada.

Aumento da permeabilidade vascular à água,


favorecendo sua saída para o interstício.

Vasodilatação renal, aumentando o FSR.

Aumento da TFG por vasodilatação da arteríola


aferente e relaxamento do mesângio, o que
provoca aumento da
superfície disponível para filtração.

Diurese e natriurese por inibição dos efeitos de


ANG II, redução da liberação de renina,
aldosterona e ADH e por
vasodilatação medular, com redução da hipertonicidade da medula.

INERVAÇÃO SIMPÁTICA
As terminações nervosas simpáticas renais liberam norepinefrina, que tem como efeito
renal a
retenção de Na+ e o aumento do volume circulatório. Isto ocorre através de:

Vasoconstrição, reduzindo FSR e a TFG, com posterior aumento da reabsorção de


sódio e
redução da sua excreção.

Estímulo da liberação de renina pelas células granulares da arteríola


aferente.

A baixa estimulação simpática ativa receptores α-adrenérgicos das células


tubulares renais,

para que ocorra maior reabsorção de Na+, sem depender de


um efeito hemodinâmico.

REGULAÇÃO DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE


Um ácido tem o pH menor que 7,0, e uma base tem o pH maior que 7,0, enquanto 7,0 é um pH

neutro. O pH é calculado através do logaritmo negativo da concentração de íons


H+ livres
em
solução:
A maioria dos produtos do metabolismo, bem como os alimentos, é de natureza
ácida. O pH
intracelular é 7,0, que corresponde a uma concentração de aproximadamente 100 mmol/L de

H+ livre. No entanto, se observarmos o pH do fluido extracelular,


particularmente do
sangue,

vemos que seu valor é 7,4, correspondendo a uma concentração de 40 mmol/L de


H+
livre. O
FIC é mais ácido que o FEC por causa de mecanismos que evitam a acidificação do
sangue.

 ATENÇÃO

Lembre-se de que a manutenção do pH em níveis estreitos


(7,35 – 7,45) é importante para a
conformação correta de proteínas, manutenção
da permeabilidade de membrana celular e
conformação da célula, além do
funcionamento de enzimas e manutenção da concentração de
íons no FEC e no FIC.

Dentre os mecanismos de controle do pH do FEC, temos as moléculas tamponantes, como a

hemoglobina, o fosfato e o bicarbonato (HCO3-), através do sistema


CO2/HCO3-. Moléculas

tamponantes são capazes de atenuar modificações no pH de uma solução através da

combinação com H+ livre.

O sistema CO2/HCO3- é responsável pelo tamponamento de 2/3 do


sangue. Somando as

equações
(1) e (2) a seguir, temos que:

Simplificando a equação (3), temos:

O HCO3- em meio aquoso se conjuga ao H+ livre, formando ácido


carbônico (H2CO3),
retirando

o H+ livre da solução e deixando-a menos ácida. Caso seja


necessário
acidificar a solução, o

H2CO3 se dissocia, liberando o


H+ novamente na solução. A
manutenção de níveis adequados

de HCO3- é feita pelo sistema renal,


responsável pela
excreção de H+ livre em excesso na

urina.

A acidificação urinária ocorre através de diferentes mecanismos, como:


Secreção de hidrogênio

Reabsorção de bicarbonato

Eliminação de ácidos livres

Excreção de sais ácidos e sais de amônio

O pH da urina varia normalmente entre 5,5 e 7,0 e depende da dieta do indivíduo.

O HCO3- filtrado no glomérulo, quando alcança a luz tubular, reage com o


H+ secretado,

formando H2CO3, que é dissociado em CO2 e


H2O através da ação da anidrase carbônica. O

CO2, por ser um gás, consegue se difundir para o interior celular, enquanto a
água entra
na

célula através de aquaporinas. No interior celular, o processo inverso ocorre, com


CO2 e H2O

originando ácido carbônico por ação da anidrase


carbônica e se dissociando
novamente em H+

e HCO3-. O H+ é secretado para a luz


tubular, acidificando a urina,
enquanto o HCO3- é

reabsorvido, retornando para o sangue e realizando o


tamponamento
plasmático.

PARA CADA H+ SECRETADO PARA A LUZ


TUBULAR,
UMA
MOLÉCULA DE HCO3- É REABSORVIDA. DESTA

FORMA, A REABSORÇÃO DE
HCO3- É O PROCESSO
MAIS
IMPORTANTE PARA A ACIDIFICAÇÃO URINÁRIA.

Em condições normais, praticamente todo o bicarbonato filtrado é reabsorvido nos túbulos

renais de forma indireta, ou seja, a molécula de HCO3- que sai da luz tubular
não é a
mesma

encontrada no sangue. Isso acontece porque o bicarbonato que vai para o sangue
peritubular é
derivado da dissociação do H2CO3 ou da água dentro
da célula, enquanto o
bicarbonato

filtrado é removido do fluido tubular na forma de CO2 e


H2O.

A reabsorção do bicarbonato se divide da seguinte forma:


80%

Pelo túbulo proximal

10%

Pela alça espessa ascendente de Henle

10%

No túbulo distal e na célula intercalar α do ducto coletor

Vale lembrar que as células intercalares β secretam bicarbonato para a luz tubular e

reabsorvem H+ quando necessário.


O H+ que é secretado para a luz tubular não pode ser

tamponado pelo
HCO3-, uma vez que
este é reabsorvido. O tamponamento urinário é

denominado acidez titulável, e o principal


tampão urinário é o fosfato.

 ATENÇÃO

Normalmente, metade dos ácidos provenientes do


metabolismo são eliminados como acidez
titulável e a outra metade na forma de
sal de amônio, principalmente cloreto de amônio
(NH4Cl).

O pH do FEC pode ser modulado diretamente pela concentração de K+ no sangue.


Isso ocorre

porque, no túbulo proximal, a hipopotassemia estimula a síntese de NH3 e


secreção de
NH4+,

além de levar à estimulação do trocador


Na+/H+ na membrana apical e do
co-transportador

Na+/HCO3- na membrana basolateral, aumentando a


secreção de H+, que é
estimulada nas

células intercalares α do ducto coletor cortical pelo estímulo da


K+/H+-ATPase, na tentativa de

promover a retenção de
K+.
Uma alta concentração de potássio no sangue gera acidose metabólica
devido à redução na

excreção de NH4+ tanto pela diminuição da produção de


NH3 no túbulo proximal quanto pela

diminuição do transporte da luz da alça espessa de Henle para o interstício medular, o


que
gera menos NH3 a ser difundido para o interior da luz do ducto coletor
medular,
reduzindo a

excreção de NH4+.

Os distúrbios do equilíbrio ácido-base são divididos em:

ACIDOSE

Quando o pH do FEC está abaixo de 7,35.

ALCALOSE

Quando o pH do FEC está acima de 7,45.

Também podem ser classificados em metabólicos ou respiratórios.


Os distúrbios metabólicos

têm alterações primárias na concentração de HCO3-


extracelular, e os distúrbios respiratórios

têm origem na pressão de CO2 do


FEC.

Para entender estes distúrbios e seus mecanismos compensatórios, devemos ter em mente

que
o pH é uma função tanto da concentração de HCO3- quanto da pressão parcial de
CO2 em

um
sistema fechado:

Agora, vamos compreender melhor os distúrbios do equilíbrio ácido-base.

ACIDOSE METABÓLICA
Tem origem em uma redução da concentração de HCO3- no sangue,
causada por
fatores como

adição de ácidos não voláteis ao corpo, a exemplo de


cetoacidose diabética, ingestão de
ácidos, insuficiência dos rins na
excreção de ácido e/ou reabsorção de bicarbonato e perda de
bases
(diarreia).

A compensação da acidose metabólica ocorre através do


tamponamento do H+ no
FEC e no
FIC dos pulmões (hiperventilação, reduzindo a pCO2) e,
quando
possível, dos rins (aumento da

excreção de ácidos, da reabsorção de


bicarbonato filtrado e da excreção de amônio).

ACIDOSE RESPIRATÓRIA
Tem origem no aumento na pCO2 no sangue, ocasionada por fatores
como danos no
tecido

pulmonar (tuberculose), edema pulmonar – o que impede a troca gasosa


alveolar –, paralisia
dos músculos respiratórios, insuficiência respiratória
induzida (narcóticos) e reduzida
mobilidade de caixa torácica.

A compensação da acidose respiratória ocorre através do


tamponamento do H+ no FEC e no
FIC e dos rins com os mesmos
mecanismos da
acidose metabólica.

ALCALOSE METABÓLICA
Aumento da concentração de HCO3- no sangue por fatores como perda
de ácidos
não voláteis

(vômito), contração de volume por hemorragia e adição de bases


não voláteis (ingestão de
antiácidos).

A compensação ocorre por meio do tamponamento do H+


no FEC e no
FIC, hipoventilação

(aumentando a pCO2), aumento da excreção de


HCO3- (menor
reabsorção tubular e ativação

da célula intercalar β) e redução da excreção


de amônio e de H+ livre.

ALCALOSE RESPIRATÓRIA
Trata-se da redução da pCO2 no sangue, ocasionada pelo aumento da
troca
gasosa alveolar

em virtude do aumento da frequência respiratória


(narcóticos, altitude, ansiedade e distúrbios
do sistema nervoso central).

A compensação ocorre por tamponamento do H+ no FEC e


no FIC e
redução da excreção de
ácidos, amônio e da reabsorção de bicarbonato. Várias
horas ou muitos dias são necessários
para uma resposta renal total à redução
crônica de pCO2 sanguínea.
Neste vídeo, a Professora Raquel Castiglione resume os
assuntos vistos neste módulo.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abordamos os principais pontos de entendimento do funcionamento da fisiologia do sistema
urinário, correlacionando-os com a estrutura renal, explorando a hemodinâmica renal, os
mecanismos de transporte ao longo dos túbulos renais e o papel regulatório renal na
tonicidade, no volume e no pH do fluido extracelular, assim como os tópicos de
fisiologia
integrada com outros sistemas, como o cardiovascular e o respiratório.

 PODCAST

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
AIRES, M. M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

COSTANZO, L. S. Fisiologia. 5. ed. Lippincott: Williams & Wilkins, 2011.

YU, A.; CHERTOW, G.; LUYCKX, V.; MARSDEN, P.; SKORECHI, K.; TAAL, M. Brenner &
Rector’s The Kidney. 9. ed. Saunders: Elsevier, 2012.

EXPLORE+
Vejam as figuras e os esquemas ilustrativos do material apresentado sob outra perspectiva
nos
seguintes livros de Fisiologia:
Berne & Levy. Fisiologia.

Tratado de Fisiologia Médica, de John E. Hall.

Fisiologia Humana – uma abordagem integrada, de Dee


Unglaub Silverthorn.

Histologia, de Johannes Sobotta.

Histologia básica, de L. C. Junqueira e José Carneiro.

CONTEUDISTA
Raquel Carvalho Castiglione

 CURRÍCULO LATTES

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