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PROPÓSITO
Compreender a organização morfofuncional e o papel regulatório do sistema urinário, uma
ação importante para construir um entendimento completo do funcionamento do organismo.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar a estrutura renal, sua função, o processo de
hemodinâmica renal e sua regulação
MÓDULO 2
MÓDULO 3
MÓDULO 1
INTRODUÇÃO
A partir de agora, você conhecerá a organização estrutural renal e verificará que
estrutura e
função estão correlacionadas no sistema urinário. Além disso, terá a
compreensão do processo
de filtração renal. É importante observar que não é o sangue
total que é filtrado nos rins, como
se imagina, mas apenas a fração plasmática.
PRODUÇÃO DE HORMÔNIOS
Além do hormônio renina, que será descrito posteriormente, os rins produzem o hormônio
eritropoietina, que estimula a produção de hemácias na medula óssea. Podemos dizer,
então,
que os rins também estão envolvidos na produção de hemácias.
SAIBA MAIS
Observe a anatomia renal na figura a seguir. Cada rim possui duas bordas, sendo uma
convexa e outra côncava, assumindo forma semelhante a um grão de feijão. Na borda
côncava, está o hilo renal, região que contém os vasos sanguíneos, os vasos linfáticos,
os
nervos e a pelve renal. Recobrindo o rim, encontramos uma fina cápsula fibrosa,
resistente e
inextensível, que está ligada frouxamente ao parênquima renal.
Visão
anatômica do rim.
Podemos ver que o rim é dividido em uma região mais pálida e externa, o
córtex, e uma
região
mais escura e mais interna, a medula. Em humanos, a medula
contém de 10 a 18
estruturas
cônicas, denominadas pirâmides de Malpighi. A base das pirâmides se encontra
na junção
corticomedular, e o ápice se aprofunda na medula até a pelve renal, originando
a papila renal.
O ápice de cada papila, denominado área cribriforme, está voltado para o
interior dos cálices e
apresenta pequenos orifícios chamados ductos de
Bellini. Estes
ductos, na realidade, são a
extremidade final dos ductos coletores papilares. A região
que engloba uma pirâmide renal e
seu córtex correspondente constitui um lobo
renal
(AIRES, 2012).
Cada papila renal é envolta por uma extensão da pelve renal, formando os cálices menores.
Vários destes cálices se unem, constituindo os cálices maiores, que desembocam na pelve
renal, de onde saem os ureteres, que se direcionam para a bexiga.
A partir da bexiga, a
urina
é eliminada através da uretra (AIRES, 2012). Note estas estruturas na figura.
Os
rins,
ureteres, a bexiga e uretra.
URETERES
Os cálices, a pelve e os ureteres são envoltos por musculatura lisa que impulsiona a
urina em
direção à bexiga através de peristalse.
NÉFRON
O néfron constitui a unidade funcional do rim e é formado pelo corpúsculo renal e pelos
túbulos
renais. Os ductos coletores não são considerados parte do néfron devido
às suas
diferentes
origens embriológicas, porém estão envolvidos na formação da urina eliminada.
Observe a
estrutura do néfron na figura a seguir.
Estrutura do néfron.
Uma das classificações dos néfrons se refere à posição do corpúsculo renal no córtex, a
saber:
NÉFRONS CORTICAIS
NÉFRONS JUSTAMEDULARES
NÉFRONS MEDICORTICAIS
PAREDE EXTERNA
PAREDE INTERNA
A parede externa da cápsula é um epitélio pavimentoso simples, que forma o
revestimento do
corpúsculo renal.
A parede interna da cápsula de Bowman possui células denominadas podócitos, que fazem
parte da estrutura de filtração do plasma.
ATENÇÃO
Entre estas, existe o espaço de Bowman, ou espaço urinário, que será ocupado pelo chamado
filtrado glomerular, tópico que discutiremos posteriormente.
As células endoteliais glomerulares são recobertas por um glicocálix, que é uma camada
hidratada composta de glicoproteínas e proteoglicanos, responsáveis por conferir carga
negativa à estrutura, dificultando a filtração de moléculas com a mesma carga, como a
albumina e as demais proteínas com carga negativa. Tanto alterações na estrutura do
glicocálix
quanto sua remoção permitem a passagem de macromoléculas através do endotélio
fenestrado.
Os capilares glomerulares estão apoiados em uma membrana basal formada por uma rede de
macromoléculas, como fibras de colágeno e laminina. Também são recobertos por
proteoglicanos, principalmente heparan sulfato, que lhe conferem eletronegatividade. Em
vez
de fenestras, como no endotélio, possuem os chamados poros funcionais, que limitam a
filtração de moléculas acima de 50 Å de diâmetro, como a albumina. A membrana basal
glomerular possui três camadas: duas lâminas raras externas e uma lâmina densa interna.
Glomérulo
de um rim humano corado com tricrômio de Masson.
As membranas basais
glomerulares aparecem com manchas
Estruturas
da barreira de filtração glomerular. Em vermelho,
o endotélio
fenestrado. Em
azul-claro, a membrana
prolongamentos (pedicélios).
Sobre a membrana basal dos capilares glomerulares, estão as células da parede interna da
cápsula de Bowman, os podócitos, que são células formadas por um corpo celular com
diversos prolongamentos primários e secundários, denominados pedicélios. Estes se
interpenetram, formando fendas de filtração, com cerca de 43 nm de diâmetro, que reduzem
a
passagem de moléculas com peso molecular acima de 70 kD. São conectados por uma
membrana proteica denominada membrana diafragmática, composta por diversas proteínas
estruturais e moléculas de adesão. Devido à sua arquitetura celular, os podócitos
participam da
sustentação dos capilares glomerulares aos quais estão relacionados.
Esquema
da filtração através da barreira de filtração glomerular.
ATENÇÃO
SAIBA MAIS
Visão
interna do glomérulo.
Aparelho justaglomerular.
TÚBULOS RENAIS
Contínuos ao corpúsculo renal, encontram-se os túbulos renais, estruturas já vistas
anteriormente. A membrana das células tubulares possui dois polos com diferentes
permeabilidades e propriedades de transporte: a membrana apical ou luminal, que separa a
célula da luz tubular, e a membrana peritubular ou basolateral, que separa a célula do
interstício e dos capilares peritubulares.
TÚBULO PROXIMAL
A primeira porção dos túbulos renais é o túbulo proximal, que pode ser segmentado em
convoluto (ou contorcido) e reto. Seu epitélio é cúbico simples, com núcleo redondo,
localizado
na porção basal da célula. O citoplasma possui muitas mitocôndrias que se
distribuem
perpendicularmente à membrana basal.
Microscopia
eletrônica da célula do túbulo proximal convoluto
mostrando o núcleo no
canto superior esquerdo da imagem e muitas
mitocôndrias (estruturas
eletrondensas e arredondadas).
Histologia
do túbulo proximal convoluto mostrando o núcleo
arredondado (azul),
citoplasma abundante e as microvilosidades
A membrana das células proximais adjacentes é conectada por junções do tipo tight e
junções
intermediárias, que
formam um cinturão contínuo em volta das células. Algumas
junções do
tipo gap permitem a passagem de íons e pequenas
moléculas de uma célula para
outra
adjacente.
S1
Até aproximadamente metade da porção convoluta.
S2
Com a parte final da porção convoluta e metade da reta.
S3
Corresponde à metade final da parte reta.
Estes segmentos têm similaridade nos mecanismos de transporte semelhantes, mas diferenças
em sua estrutura. Por exemplo, a borda em escova é mais densa, e o número de
mitocôndrias
é maior em S1 do que em S3.
ALÇA DE HENLE
O próximo segmento tubular renal é a alça de Henle, dividida nos ramos fino descendente,
fino
ascendente e espesso ascendente (ou túbulo distal reto).
O comprimento destes ramos varia conforme a localização do néfron no córtex, sendo que os
néfrons justamedulares possuem uma alça fina mais longa, com a porção espessa presente
tanto na medula como no córtex renais.
Histologia
mostrando três ductos coletores medulares com
VOCÊ
SABIA
As células dos ramos finos são delgadas, exceto na região do núcleo, com poucas
mitocôndrias e raras microvilosidades, enquanto o epitélio do ramo espesso ascendente
tem
uma única camada de células cúbicas, com raros microvilos, mitocôndrias largas e
alongadas e
região basal apresentando pregas que se encaixam nas células vizinhas,
formando complexos
canais paracelulares.
Histologia
mostrando túbulos proximais convolutos à direita
da imagem e túbulos
distais
convolutos à esquerda.
Após a alça de Henle, está o túbulo distal convoluto, com células cúbicas, pouca
microvilosidade na região apical e muitas mitocôndrias largas no citoplasma.
Sua porção final tem menos mitocôndrias, e elas são menores e com dobras basolaterais
menos profundas.
A porção inicial do túbulo distal convoluto de cada néfron fica em contato íntimo com seu
glomérulo correspondente e suas arteríolas aferente e eferente, formando o chamado
aparelho
justaglomerular.
Estas células possuem tal nomenclatura por apresentarem em seu citoplasma grânulos que
contêm renina.
TÚBULO DE CONEXÃO
Após o túbulo distal, está o túbulo de conexão, com células de conexão, que produzem
calicreína, interpostas com células intercalares, descritas no ducto coletor.
Histologia
do ducto coletor medular mostrando um epitélio
TIPO Α
TIPO Β
VASCULARIZAÇÃO RENAL
A artéria renal é originada da artéria aorta abdominal superior e, quando atinge o hilo
renal,
divide-se em um ramo dorsal e um ventral. Estes ramos originam as artérias
interlobares, que
são encontradas nas margens de cada lobo renal. Quando alcançam o
limite entre as zonas
medulares e corticais, elas se tornam as artérias arqueadas.
Perpendicularmente a estas, em
direção ao córtex renal, estão as artérias
interlobulares, cujos pequenos ramos perpendiculares
constituem as arteríolas aferentes
dos glomérulos. Devemos lembrar que as arteríolas
aferentes originarão os capilares
glomerulares, que, depois, formam a arteríola eferente, saindo
do glomérulo (AIRES,
2012).
As arteríolas eferentes originam uma rede capilar peritubular que está intimamente
associada
ao túbulo proximal convoluto dos néfrons superficiais. Já as arteríolas
eferentes dos néfrons
justamedulares originam um ramo que forma uma rede capilar no
córtex profundo e na medula
externa e a outro ramo que origina os vasos retos
descendentes medulares.
INERVAÇÃO RENAL
O rim é inervado por ramos do nervo simpático toracolombar, provenientes dos segmentos
entre a quarta vértebra dorsal e a quarta vértebra lombar. As fibras simpáticas se
distribuem
pelas artérias, arteríolas e pelos túbulos proximais. Não apresenta inervação
parassimpática
(AIRES, 2012).
Isso ocorre porque a cápsula que envolve o rim é altamente inervada e inextensível. Com a
obstrução do fluxo da urina dentro do rim, em razão do cálculo, o parênquima renal não á
capaz de eliminar a urina produzida, aumentando de volume. Com a expansão do tecido em
direção à cápsula inervada, sem que essa se estenda da mesma forma, ocorre compressão
das terminações nervosas e dor.
No parênquima renal, os principais efeitos da inervação simpática são:
A inervação renal também inclui fibras sensoriais aferentes, que conduzem impulsos com
origem em receptores de pressão e receptores químicos com origem
renal. Se há aumento da
pressão de perfusão renal, por exemplo, ocorre estímulo de barorreceptores renais. Por
outro
lado, modificando a composição do fluido intersticial, ocorre estímulo de
quimiorreceptores
renais, que, provavelmente, deflagrarão modificações no fluxo
sanguíneo dos capilares
glomerulares.
CÓRTEX RENAL
Recebe 90% do sangue que chega aos rins pela artéria renal, em um fluxo
maior.
MEDULA
Recebe a menor quantidade (10%) em um fluxo menor. Neste caso, o baixo fluxo
ocorre pela
alta resistência dos vasos retos longos, o que reduz a lavagem
do interstício medular,
favorecendo a concentração da urina.
Os métodos de medida do FSR que dependem da determinação do fluxo urinário aplicam o
princípio da conservação (princípio de Fick), que compara a quantidade de uma substância
X
que é removida ou adicionada à circulação por um órgão específico com a diferença das
concentrações desta substância no sangue arterial e venoso que irrigam esse órgão.
Nos rins, em uma situação de equilíbrio, se observamos uma substância que não é
sintetizada
nem metabolizada no tecido renal, a quantidade desta substância que entra no
rim através da
artéria renal, em determinada unidade de tempo, deve ser igual à soma da
quantidade desta
substância que sai do rim na mesma unidade de tempo, seja pela veia
renal, seja pelo ureter.
Para uma forma mais fácil de medir o FSR, é necessário que o rim excrete grande
quantidade
da substância x, gerando uma diferença significativa entre suas concentrações
na artéria e na
veia renais.
O maior limitante deste método é a obtenção de amostra de sangue venoso renal. Para
resolver esta questão, é utilizada uma substância exógena denominada para-amino-hipurato
de
sódio (PAH) na dosagem do FSR, uma vez que as células renais conseguem remover 90% do
PAH do sangue que se destina à veia renal. Apenas o sangue que circula pela medula
renal,
bem como o que irriga a cápsula renal e as estruturas renais não parenquimatosas,
não é
depurado de PAH.
DESTA FORMA, O PAH É UTILIZADO PARA MEDIR O
FSR
CORTICAL, CORRESPONDENDO A 90% DO
TOTAL.
SAIBA MAIS
É importante notar que ПCG nunca supera a diferença de pressão hidrostática entre o
capilar
glomerular e o espaço urinário, pois esta é praticamente constante. Além disso,
com o
equilíbrio da filtração atingido, não há mais aumento de ПCG. Por este motivo, o
ultrafiltrado
não retorna para o capilar, ocorrendo apenas filtração.
Não ocorre filtração glomerular além do ponto onde a pressão de equilíbrio for alcançada,
e
ПCG se torna constante. Por outro lado, com baixa concentração de proteínas no plasma,
e
consequente desequilíbrio na pressão de ultrafiltração, ocorre ultrafiltração em toda
a extensão
dos capilares glomerulares.
SAIBA MAIS
A filtração glomerular pode ser alterada pelo coeficiente de filtração (Kf) e pelo
gradiente de
pressão ao longo dos vasos. O Kf é resultante do produto entre a superfície
total disponível
para filtração e a permeabilidade dos capilares. Normalmente, o Kf é
relativamente constante,
sendo a Puf o fator determinante para a filtração glomerular. O
gradiente de pressão ao longo
dos vasos renais é um ponto de regulação da filtração
glomerular – isso será abordado
posteriormente.
Vasodilatação
Hiperglicemia
A função renal também deve ser avaliada a partir da proteinúria, em conjunto com a TFG. A
principal proteína avaliada na urina é a albumina, que tem uma taxa de excreção
considerada
normal em até 30 mg/dia. Com taxas diferentes, temos um quadro patológico
que
pode ser:
MICROALBUMINÚRIA
Taxa de excreção de 30 a 299mg/dia.
MACROALBUMINÚRIA
Por não ser secretada, reabsorvida, metabolizada ou produzida ao longo do néfron, sua
quantidade filtrada é igual à excretada na urina (AIRES, 2012).
Na prática clínica, utiliza-se a creatinina para medir a TFG por ser uma molécula
endógena
(resultante do metabolismo da creatina muscular) e liberada no plasma em uma
taxa
relativamente constante. A desvantagem em usar a creatinina é que ela é secretada
pelo
túbulo proximal. No entanto, seu uso persiste pelo fato de existirem no plasma e na
urina
(principalmente no plasma) compostos que reagem colorimetricamente da mesma forma
que a
creatinina, quando esta é dosada por método colorimétrico. Assim, este resultado
plasmático
superestimado compensa os valores urinários superestimados devido à sua
secreção tubular,
permitindo o cálculo
estimado da TFG a partir desta substância.
Apesar do uso rotineiro da creatinina, a substância mais adequada para medir a TFG é a
inulina, um polissacarídeo polímero da frutose, extraído das raízes da dália. Apesar de
precisar
ser infundida no indivíduo por ser uma molécula exógena, a inulina é livremente
filtrada sem
ser metabolizada, produzida, reabsorvida ou secretada pelos túbulos renais,
gerando um
resultado preciso, e não aproximado, como acontece com o uso da creatinina.
CÁLCULO ESTIMADO
Existem alguns cálculos baseados em estudos populacionais que permitem calcular a TFG
apenas com o valor de creatinina sérica.
eTFG = 141 x min (SCr/κ, 1)α x max(SCr /κ, 1)-1,209 x 0,993 idade x 1,018 [se mulher] x
1,159
[se negro], sendo SCr (creatinina sérica) = mg/dL;
A circulação renal tem uma estrutura peculiar, possuindo dois leitos capilares em série:
o
glomerular e o peritubular.
Vemos, então, que a hemodinâmica renal está intimamente relacionada à morfologia renal e
que ela é altamente regulável. Por meio de modificações na TFG, mudamos também a
quantidade de fluido que chega aos túbulos renais, refletindo na composição da urina.
Neste vídeo, a Professora Raquel Castiglione explica as
estruturas renais, assim como a sua
rede vascular e como ocorre o processo de
filtração.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Seu principal co-íon é o Cl-, que, por sua vez, é o ânion mais
abundante no
fluido extracelular.
Os transportadores de cloreto estão envolvidos em diversos
processos fisiológicos, como:
Atividade enzimática
Apoptose
Funcionamento da
Na+/K+- ATPase.
A reabsorção de solutos que ocorre no túbulo proximal possui duas fases, a saber:
FASE 1
Na primeira fase, no segmento S1, ocorre, principalmente, a reabsorção de
nutrientes
essenciais, como glicose, proteínas, aminoácidos, solutos
orgânicos neutros e bicarbonato de
sódio, juntamente a sódio e água. A
diferença de potencial (DP) transtubular neste segmento é
de -2 mV, sendo o
lúmen tubular mais negativo do que o interstício peritubular.
FASE 2
Na segunda fase, ocorre principalmente a reabsorção de cloreto junto a sódio
e água.
A maior parte do potássio filtrado é reabsorvida por via paracelular por meio
de arraste ou
O túbulo
proximal também é capaz
de reabsorver água, tanto de forma
transcelular (via
aquaporinas) quanto
paracelular. A reabsorção de fluido
neste segmento é isosmótica ao
plasma, ou seja, aproximadamente 290 mOsm/L
H2O.
TÚBULO PROXIMAL
O túbulo proximal é alvo dos diuréticos osmóticos, como o manitol, que aumentam a
osmolaridade na luz deste segmento tubular, inibindo a reabsorção de água. Este volume
que
deixa de ser reabsorvido não é inteiramente compensado no restante da estrutura
tubular,
fazendo com que mais água seja eliminada na urina.
AQUAPORINAS
Aquaporinas são canais localizados na membrana celular que conduzem moléculas de água
para dentro e fora da célula, ao mesmo tempo em que inibem a passagem de íons e outros
solutos. As aquaporinas aumentam a permeabilidade das membranas à água.
REABSORÇÃO DE PEPTÍDEOS E
PROTEÍNAS
A reabsorção acontece de forma diferente entre os peptídeos e as proteínas:
PEPTÍDEOS
Pequenos peptídeos que são filtrados podem sofrer a ação de peptidases na
borda em escova,
sendo hidrolisados a aminoácidos, que são, então,
reabsorvidos.
PROTEÍNAS
Este processo é mediado por um receptor multiligante formado pela associação das
proteínas
megalina e cubulina. Com a interação das
proteínas filtradas com o receptor
megalina-
cubulina, este complexo ligante-receptor é endocitado, dando origem a uma
vesícula endocítica
intracelular revestida por clatrina. Os receptores são reciclados
para a membrana tubular
luminal, enquanto as proteínas são degradadas enzimaticamente a
aminoácidos, e estes são
reabsorvidos através da membrana basal.
VOCÊ
SABIA
A carga filtrada de albumina chega a cerca de 1-2 gramas por dia em um indivíduo
saudável,
com excreção de até 30 mg na urina. Quando a carga filtrada de albumina excede
a
capacidade de reabsorção proteica do túbulo proximal, ocorre aumento da concentração
de
albumina na luz tubular e da sua excreção urinária (albuminúria).
SAIBA MAIS
REABSORÇÃO DE GLICOSE
A glicose, por sua vez, é altamente conservada pelos rins por ser um importante substrato
energético. Um exemplo disso é que sua carga filtrada é de 10 a 40 vezes maior que sua
utilização diária. É uma molécula livremente filtrada, ou seja, sua concentração do
espaço
urinário é igual à concentração plasmática.
SGLT2
O SGLT2 é um transportador de baixa afinidade e alta capacidade, ou seja, reabsorve a
maior
parte da glicose tubular (cerca de 90%).
SGLT1
O SGLT1 é um transportador de alta afinidade e baixa capacidade, responsável pela
reabsorção do restante de glicose intratubular (cerca de 10%).
GLUT 1
O GLUT 1 é um transportador de glicose de alta afinidade e baixa capacidade e
saturável em
concentrações de glicose próximas da basal.
GLUT 2
O GLUT 2 é um transportador de baixa afinidade e alta capacidade, capaz de
transportar
glicose, frutose e galactose em diversas concentrações.
A reabsorção de glicose através dos SGLTs ocorre devido ao gradiente de concentração para
secreção de K+ e
sensibilidade ao
hormônio antidiurético, tornando-se permeável à água. De
modo geral, suas
demais características têm semelhança com as do ducto coletor.
NKCC2
Este transportador é alvo dos diuréticos de alça, como o medicamento furosemida. Com a
inibição da reabsorção de sódio, este se concentra na luz tubular, reduzindo a
tonicidade da
medula e, com isso, o gradiente necessário para a reabsorção de água pelo
ducto coletor na
presença de ADH (processo discutido posteriormente).
NCC
SÓDIO
O transportador de sódio ENaC presente neste segmento é alvo dos diuréticos poupadores de
CLEARANCE RENAL
O clearance de uma substância indica o volume virtual de plasma que fica livre da
substância
em determinada unidade de tempo. Para determinar o clearance renal, é
necessário medir a
sua quantidade absoluta excretada na urina e relacioná-la com sua
concentração no plasma:
NULO
MÁXIMO
CORRESPONDENTE À TAXA DE FILTRAÇÃO
GLOMERULAR DO INDIVÍDUO
Moléculas que sofrem filtração glomerular e não são secretadas pelos túbulos renais
não são
eliminadas na urina e têm clearance nulo, uma vez que não ocorre depuração
plasmática. Da
mesma forma, quando uma substância filtrada é totalmente reabsorvida
pelos túbulos renais,
sua carga excretada é zero. Desta forma, o plasma do indivíduo
não fica depurado da
substância (clearance zero). Como exemplo, temos os
aminoácidos.
Se uma substância for livremente filtrada, sem sofrer reabsorção nem secreção
tubular, sua
carga filtrada é igual à sua carga excretada, ficando o volume de
plasma filtrado virtualmente
livre dessa substância. Parte da substância que não foi
filtrada continua a percorrer os
capilares peritubulares sem ser secretada, voltando
à circulação sistêmica, que é o caso da
inulina, por exemplo. Desta forma, o
clearance desta substância corresponde à taxa de filtração
glomerular do indivíduo.
Substâncias que são reabsorvidas apenas em parte pelos túbulos renais possuem um
clearance menor que o daquelas que são apenas filtradas, pois parte delas retorna ao
sangue
após a filtração. Assim, seu clearance fracional (razão entre o clearance da
substância e o
clearance da inulina) é menor que 1:
Vale ressaltar que, quando a concentração plasmática de uma substância que é transportada
por um transportador saturável aumenta, ela passa a se comportar como se fosse apenas
filtrada, e seu clearance tende ao clearance da inulina.
A glicose e o PAH são dois exemplos deste mecanismo. No caso da glicose que é
reabsorvida,
com a saturação dos transportadores SGLT, o aumento da concentração
plasmática faz com
que seu clearance aumente, pois ela se acumula na urina, em vez de
retornar ao sangue.
Desta forma, sua fração reabsorvida torna-se desprezível, se
comparada com a excretada. O
PAH, por sua vez, é secretado e, quando atinge a secreção
máxima, um aumento posterior da
concentração plasmática diminui seu clearance, pois ela
se acumula no sangue.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Agora, estudaremos a conservação da hipertonicidade da medula renal e o mecanismo
contracorrente renal e conheceremos os principais mecanismos regulatórios renais, que
são a
regulação da tonicidade, do volume e do pH do fluido extracelular. Veremos que o
entendimento da estrutura, da hemodinâmica renal e do transporte de solutos ao longo do
néfron se relacionam com a função do organismo como um todo, integrando os sistemas
orgânicos.
O balanço de água ocorre através do ganho e da perda de água pelo organismo. Em uma
situação de equilíbrio:
Ingestão de água
Eliminação
Osmose.
O movimento de água que ocorre na osmose pode ser contrabalançado por uma pressão
hidrostática, denominada pressão osmótica. A pressão osmótica efetiva
(ou tonicidade)
leva
em consideração não somente as moléculas dissolvidas em uma solução, mas também a
membrana que separa os compartimentos. Apenas os solutos efetivos plasmáticos são
capazes de determinar se uma solução é:
HIPERTÔNICA
Uma solução é dita hipertônica quando apresenta pressão
osmótica efetiva
maior que aquela
de uma célula viva. Se a célula estiver em solução
hipertônica, a água se deslocará do interior
celular para a solução, até
ocorrer o equilíbrio entre as tonicidades. Neste caso, ocorre a
crenação da
célula, na qual ela perde volume, comprometendo sua integridade e
funcionalidade.
Hipertônico.
HIPOTÔNICA
Uma solução hipotônica tem pressão osmótica efetiva menor
que a célula. Neste
caso, a água
se deslocará da solução, com menor concentração de soluto, para
o interior celular, até ocorrer
o equilíbrio entre as tonicidades.
Dependendo da diferença de tonicidade entre os meios, a
célula pode receber
água suficiente para promover sua ruptura. De qualquer forma, a célula
edemaciada tem suas propriedades físico-químicas alteradas, comprometendo
seu
funcionamento normal.
Hipotônico.
ISOTÔNICA
Se colocarmos uma célula em solução isotônica, com a mesma
tonicidade que seu
interior,
não haverá diferença na concentração de solutos entre os
compartimentos e,
consequentemente, não haverá movimento excedente de água
entre eles.
Isotônico.
ATENÇÃO
com aumento
plasmático de 10 mEq/L de Na+ também tem uma elevação de 20 mOsm/L de
H2O na
osmolaridade plasmática, uma vez que este íon deve ser balanceado com um aumento
INTRACELULAR
EXTRACELULAR
O mecanismo da sede pode ser deflagrado com o aumento da Posm ou com a redução do
volume
e/ou pressão sanguíneos.
MECANISMO DE CONCENTRAÇÃO
URINÁRIA E SISTEMA CONTRA CORRENTE
O acúmulo de NaCl no interstício medular e o transporte de ureia entre diferentes
segmentos
do néfron são responsáveis pela existência de um interstício medular
hipertônico, necessário
para que ocorra reabsorção de água pelo ducto coletor e
concentração da urina.
GRADIENTE HORIZONTAL
GRADIENTE VERTICAL
A conservação da hipertonicidade da medula é importante para que esta não seja diluída
com
a água que está sendo reabsorvida, cessando a reabsorção. Este processo é mediado
pelo
ciclo renal da ureia. Com a reabsorção de água do ducto coletor na presença de ADH,
ocorre a
concentração de ureia na luz do ducto coletor medular. As células da porção
final do ducto
coletor possuem transportadores apicais de ureia, denominados UTA-1, que
são dependentes
de ADH e possibilitam a reabsorção de ureia neste segmento frente ao
gradiente de
concentração de ureia estabelecido nos segmentos anteriores ao ducto
coletor.
A ureia reabsorvida para o interstício medular renal pelo ducto coletor é secretada para
as
alças finas de Henle de forma passiva a partir de transportadores UTA-2 apicais,
possibilitando
sua recirculação renal.
ATENÇÃO
A reabsorção de água no ducto coletor reflete a capacidade que o rim tem de concentrar
urina
e depende dos níveis de ADH nos rins, da reabsorção de cloreto de sódio e ureia e
da
formação da hipertonicidade medular.
O transporte de ureia e de água ao longo do néfron pode ser afetado pela quantidade de
proteína ingerida pelo indivíduo, já que a ureia é o principal produto do metabolismo
proteico.
Assim, o aumento na ingestão
proteica leva ao crescimento da concentração
plasmática e
urinária de ureia, e o aumento da excreção urinária de ureia promove
diurese induzida pelo
aumento da osmolalidade urinária.
INGESTÃO PROTEICA
movimento de água. O conteúdo corporal total de Na+ e seu balanço pelo organismo é o
principal determinante do volume do FEC.
SINAL HORMONAL
SINAL NEURAL
O primeiro sinal hormonal envolve a ativação do sistema
renina-angiotensina-aldosterona
(SRAA) devido à queda do volume circulatório
efetivo, e o segundo envolve a liberação do
peptídeo atrial natriurético devido ao
aumento do volume circulatório efetivo e estiramento da
parede atrial.
SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-
ALDOSTERONA
A ativação do SRAA se inicia nas células granulares da arteríola aferente, secretora da
enzima
renina, que cliva o angiotensinogênio em angiotensina I. Esta é convertida em
angiotensina II
pela enzima conversora de
angiotensina localizada no endotélio vascular,
sendo abundante
nos pulmões. A ECA renal produz angiotensina II suficiente para promover
efeitos vasculares
locais, atuando diretamente nas arteríolas aferente e eferente.
SAIBA MAIS
A ANG II possui diferentes efeitos sistêmicos e renais; reduz o FSR e aumenta a pressão
hidrostática no capilar glomerular, prevenindo a queda da TFG através de vasoconstrição
arteriolar. Apesar de agir nas duas arteríolas, sua ação é mais potente na arteríola
eferente.
Esquema
de funcionamento do SRAA.
PEPTÍDEO ATRIAL NATRIURÉTICO (PAN)
Diferentemente do SRRA, que é ativado durante uma queda do volume circulatório e/ou
pressão, o PAN é liberado com o estiramento atrial que ocorre com o aumento do volume de
sangue circulante, normalizando a volemia e a pressão sanguínea por:
Vasodilatação generalizada.
INERVAÇÃO SIMPÁTICA
As terminações nervosas simpáticas renais liberam norepinefrina, que tem como efeito
renal a
retenção de Na+ e o aumento do volume circulatório. Isto ocorre através de:
ATENÇÃO
equações
(1) e (2) a seguir, temos que:
urina.
Reabsorção de bicarbonato
CO2, por ser um gás, consegue se difundir para o interior celular, enquanto a
água entra
na
FORMA, A REABSORÇÃO DE
HCO3- É O PROCESSO
MAIS
IMPORTANTE PARA A ACIDIFICAÇÃO URINÁRIA.
renais de forma indireta, ou seja, a molécula de HCO3- que sai da luz tubular
não é a
mesma
encontrada no sangue. Isso acontece porque o bicarbonato que vai para o sangue
peritubular é
derivado da dissociação do H2CO3 ou da água dentro
da célula, enquanto o
bicarbonato
10%
10%
Vale lembrar que as células intercalares β secretam bicarbonato para a luz tubular e
tamponado pelo
HCO3-, uma vez que
este é reabsorvido. O tamponamento urinário é
ATENÇÃO
promover a retenção de
K+.
Uma alta concentração de potássio no sangue gera acidose metabólica
devido à redução na
excreção de NH4+.
ACIDOSE
ALCALOSE
Para entender estes distúrbios e seus mecanismos compensatórios, devemos ter em mente
que
o pH é uma função tanto da concentração de HCO3- quanto da pressão parcial de
CO2 em
um
sistema fechado:
ACIDOSE METABÓLICA
Tem origem em uma redução da concentração de HCO3- no sangue,
causada por
fatores como
ACIDOSE RESPIRATÓRIA
Tem origem no aumento na pCO2 no sangue, ocasionada por fatores
como danos no
tecido
ALCALOSE METABÓLICA
Aumento da concentração de HCO3- no sangue por fatores como perda
de ácidos
não voláteis
ALCALOSE RESPIRATÓRIA
Trata-se da redução da pCO2 no sangue, ocasionada pelo aumento da
troca
gasosa alveolar
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abordamos os principais pontos de entendimento do funcionamento da fisiologia do sistema
urinário, correlacionando-os com a estrutura renal, explorando a hemodinâmica renal, os
mecanismos de transporte ao longo dos túbulos renais e o papel regulatório renal na
tonicidade, no volume e no pH do fluido extracelular, assim como os tópicos de
fisiologia
integrada com outros sistemas, como o cardiovascular e o respiratório.
PODCAST
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AIRES, M. M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
YU, A.; CHERTOW, G.; LUYCKX, V.; MARSDEN, P.; SKORECHI, K.; TAAL, M. Brenner &
Rector’s The Kidney. 9. ed. Saunders: Elsevier, 2012.
EXPLORE+
Vejam as figuras e os esquemas ilustrativos do material apresentado sob outra perspectiva
nos
seguintes livros de Fisiologia:
Berne & Levy. Fisiologia.
CONTEUDISTA
Raquel Carvalho Castiglione
CURRÍCULO LATTES