Você está na página 1de 32

Fisiologia renal

APRESENTAÇÃO

Todo alimento, após ser digerido, é transportado pelo sangue e pela linfa para todas as células
do corpo humano. Depois que as células utilizam os nutrientes necessários para sua manutenção,
os detritos devem ser eliminados para que não prejudiquem o funcionamento do organismo com
substâncias tóxicas.

Os rins produzem a urina, que, por meio dos ureteres, chega à bexiga, onde é armazenada.
Depois disso, a urina passa pela uretra chegando ao meio externo. Para a produção de urina, três
processos fundamentais ocorrem no néfron (unidades funcionais do rim): filtração glomerular,
reabsorção e secreção tubular. Nesses processos, substâncias de interesse corporal retornam ao
sangue circulante (glicose, proteínas, etc.), e algumas são eliminadas na urina (ureia, ácido
úrico, amônia, etc.).

Nesta Unidade de Aprendizagem, tendo em vista a importância do sistema renal para o


equilíbrio do meio interno, você irá saber mais sobre as estruturas anatômicas, macroscópicas e
microscópicas e suas principais funções fisiológicas.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar a anatomia do sistema urinário.


• Descrever os aspectos fisiológicos da função renal.
• Relacionar os fatores reguladores da função renal.

DESAFIO

A eliminação urinária é uma das mais importantes funções do organismo, sendo dependente das
funções dos rins, dos ureteres, da bexiga e da uretra. As anormalidades que ocorrem no sistema
urinário podem provocar diversos distúrbios, como modificações no ato da micção.

Com isso em mente, acompanhe o caso descrito a seguir:


Agora, responda:

a) Quais as explicações anatômica e fisiológica para a incontinência urinária?

b) Qual é o tipo de incontinência urinária que a paciente apresenta? Justifique.

INFOGRÁFICO

A gravidez consiste de um processo fisiológico natural compreendido pela sequência de


adaptações ocorridas no corpo da mulher a partir da fertilização. A preparação do corpo para a
gestação envolve ajustes dos mais variados sistemas. Muitas mudanças mecânicas e hormonais
ocorrem no sistema urinário para favorecer o desenvolvimento do feto.

No Infográfico, você vai saber mais sobre as alterações anatômicas e fisiológicas e as


consequências no metabolismo da mãe.
CONTEÚDO DO LIVRO

Todas as células do corpo humano, em suas atividades metabólicas, produzem detritos e


excretas. Portanto, o excesso desse metabolismo deve ser eliminado, já que essas substâncias
podem ser prejudiciais ao organismo. Assim, a ação do sistema urinário no corpo humano está
relacionada com a excreção de produtos nitrogenados, que contêm ureia na composição. O
sistema urinário é composto por dois rins e pelas vias urinárias, formada por dois ureteres, a
bexiga urinária e a uretra. A unidade básica de filtragem do sangue é chamada néfron, que é
formada pelos glomérulos, pela cápsula glomerular e pelo túbulo renal. Todos esses
componentes macro e microscópicos ligam os sistemas urinário, circulatório e excretor.

No capítulo Fisiologia renal, da obra Fluidos biológicos, que é base teórica desta Unidade de
Aprendizagem, você vai estudar a funcionalidade anatômica e fisiológica, assim como os fatores
reguladores da função renal.
FLUIDOS
BIOLÓGICOS

Gessiane Ceola
Fisiologia renal
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a anatomia do sistema urinário.


„„ Descrever os aspectos fisiológicos da função renal.
„„ Relacionar os fatores reguladores da função renal.

Introdução
O sistema urinário tem como principais componentes os rins, os ureteres,
a bexiga urinária e a uretra. Os rins de um humano filtram, em média,
180 litros de líquido por dia, por meio dos 1,25 milhões de néfrons que
são as unidades funcionais do sistema.
O sistema urinário tem nove funções, segundo Eaton e Pooler (2016):
excreção de produtos da degradação metabólica e de substâncias estra-
nhas para o organismo; regulação do equilíbrio hídrico e eletrolítico, do
volume do líquido extracelular, da osmolalidade plasmática, da produção
de eritrócitos, da resistência vascular, do equilíbrio ácido-base, da produ-
ção de vitamina D; e gliconeogênese.
Neste capítulo, você vai identificar a anatomia do sistema urinário,
bem como descrever os aspectos fisiológicos e os fatores reguladores
da função renal.
2 Fisiologia renal

Anatomia do sistema urinário

Rins
Os rins são um par de órgãos de coloração avermelhada em forma de fei-
jão (faseoliformes). Essa estrutura está localizada nos dois lados da coluna
vertebral, entre o peritôneo e a parede posterior da cavidade abdominal,
na altura da 12ª vértebra torácica e das três primeiras vértebras lombares.
Os pares da 11ª e da 12ª costela (costelas flutuantes) fornecem proteção para
a parte superior dos rins. O rim esquerdo é mais elevado do que o rim direito,
pois o fígado ocupa grande parte do quadrante superior e parte do quadrante
inferior direito do abdome (Figura 1).

Figura 1. Localização e estruturas do sistema urinário feminino.


Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 529).
Fisiologia renal 3

O rim de um adulto tem, aproximadamente, 12 cm de comprimento, 6 cm


de largura e 3 cm de espessura, e pesa cerca de 150 g, embora a variação desses
parâmetros seja extremamente comum. De forma externa, próximo à margem
medial, os rins apresentam um espaço chamado hilo renal, que liga o ureter,
as artérias, as veias renais e os nervos ao órgão. Na parte superior de cada rim,
estão localizadas as glândulas suprarrenais (sistema endócrino) (Figura 2).

Figura 2. Estruturas externas do rim.


Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 529).

Cada rim é envolvido por uma cápsula renal que é formada por tecido
conectivo e que protege os órgãos contra possíveis traumas. A cápsula adiposa
envolve a cápsula renal e fixa os rins na parte posterior do abdome (TOR-
TORA; DERRICKSON, 2016). No seu interior, os rins apresentam o córtex
renal (externo) e a medula renal (interna). Os néfrons (unidades funcionais)
estão localizados no córtex e na medula. A medula renal é caracterizada por
4 Fisiologia renal

8 a 15 pirâmides renais (separadas pelas colunas renais), que se estreitam no


ápice para formar a papila renal, onde a urina goteja no interior de um cálice
menor. Vários cálices menores formam um cálice maior, e vários cálices
maiores desembocam dentro da pelve renal (região dilatada proximal do
ureter) (Figura 3).

Figura 3. Estruturas internas do rim.


Fonte: Tortora e Derrickson (2017, p. 530).

A urina produzida pelos néfrons é drenada nos cálices menores, que se


unem para formar os cálices maiores, e estes, a pelve renal. A pelve renal drena
a urina para os ureteres e, em seguida, para a bexiga urinária. A urina, então,
é eliminada pelo corpo pela uretra. Essas são as estruturas responsáveis pelo
transporte, armazenamento e eliminação, que serão apresentadas a seguir.
Fisiologia renal 5

Ureteres
A função dos ureteres é o transporte da urina. O par de ureteres liga a pelve
renal dos rins até a bexiga urinária. Os ureteres são divididos da seguinte forma:

„„ porção abdominal — abdome;


„„ porção pélvica — dentro da cintura pélvica;
„„ porção intramural — atravessa a parede da bexiga para evitar o refluxo.

Essas estruturas estão localizadas alguns centímetros abaixo da bexiga, o


que provoca um efeito de compressão dos ureteres para esse órgão e, assim,
evita o refluxo da urina quando a pressão é acumulada nesse local durante a
micção. Esse mecanismo é considerado uma válvula fisiológica que, quando
não está em condições normais, pode causar inflamação na bexiga (cistite)
que pode migrar para os rins.
Os ureteres são formados pelas seguintes camadas/túnicas (DANGELO;
FATTINI, 2007):

„„ túnica mucosa (interna) — tem capacidade de distensão para acomodar


o trânsito de líquido;
„„ túnica intermediária — formada por músculo liso que promove as
contrações peristálticas;
„„ túnica superficial — composta por tecido conectivo que tem os vasos
sanguíneos, linfáticos e nervos.

Bexiga
A bexiga é um órgão muscular oco, localizado na cavidade pélvica que tem
como função armazenar a urina. Quando vazia, tem forma de um balão
distendido e, quando cheia, tem forma esférica. A sua estrutura é dividida
em ápice (anterior), corpo, fundo (posterior) e colo.
Esse órgão urinário é formado por túnicas, que são:

„„ túnica mucosa — contém pregas que permitem a expansão do órgão;


„„ túnica muscular — formada por músculo liso (músculo detrusor);
„„ túnica serosa — formada pelo peritônio;
„„ túnica fibrosa — formada por uma camada externa.
6 Fisiologia renal

A bexiga está localizada posteriormente à sínfise púbica. No homem, na parte inferior


dela, se encontra a próstata; já na mulher, ela é anteroinferior ao útero. A capacidade
da bexiga urinária varia entre 700 e 800 mL, sendo menor nas mulheres, porque o
útero ocupa o espaço logo acima desse órgão.

Na face interior, próximos da base da bexiga, estão localizados os óstios


dos ureteres, onde se dá a passagem da urina dos ureteres para o interior da
bexiga. Também na face interior, próximo ao colo, está localizado o óstio
interno da uretra, que faz a passagem da urina da bexiga para a uretra. Os
óstios dos ureteres e o óstio interno da uretra formam o trígono da bexiga
(Figura 4) (NETTER, 2015; DANGELO; FATTINI, 2007).

Figura 4. Bexiga urinária masculina.


Fonte: Sobotta (2000, p. 188).
Fisiologia renal 7

Uretra
A uretra é formada por um tubo que vai da base da bexiga até o exterior do
corpo e tem a função de eliminar a urina. Nas mulheres, a uretra tem, em
média, 4 cm e fica localizada diretamente atrás da sínfise púbica, ligada à
parede anterior da vagina. A abertura da uretra para o exterior, o óstio externo
da uretra, fica entre o clitóris e o óstio da vagina (Figura 5).

Figura 5. Pelve feminina.


Fonte: Sobotta (2000, p. 253).
8 Fisiologia renal

Nos homens, esse canal tem, aproximadamente, de 17 a 20 cm; passa pela


próstata (uretra prostática), pelo músculo transverso profundo do períneo (uretra
membranosa) e, finalmente, pelo pênis (uretra esponjosa). O óstio externo da
uretra fica na glande do pênis (Figura 6). Na mulher, a uretra permite apenas
a passagem de urina e, no homem, de urina e de sêmen (NETTER, 2015).

Figura 6. Pelve masculina.


Fonte: Sobotta (2000, p. 253).
Fisiologia renal 9

Fisiologia da função renal


O rim tem um papel exócrino que é a formação de urina e também desenvolve
suas funções endócrinas, por meio de células secretoras específicas. A função
homeostática do meio interno, que é a principal função desse órgão, é efetu-
ada pela formação de urina na unidade funcional básica, que é o néfron, um
conjunto de estruturas vasculares e renais que produzem urina (GUYTON;
HALL, 2002; NETTER, 2015).
Cada rim possui mais de um milhão de néfrons e os processos de filtragem,
reabsorção e parte da excreção ocorrem a partir das suas estruturas. Porém,
isso não significa que todos os néfrons funcionam ao mesmo tempo, pois essa
atividade varia de acordo com o ritmo da função renal (néfrons ativos e de
repouso), assim, existe uma reserva funcional para o rim, que será utilizada
em situação de sobrecarga renal (GUYTON; HALL, 2002).
A porção anatômica do néfron é formada por uma rede de túbulos, que
fazem o transporte do filtrado. Os túbulos são envolvidos por capilares san-
guíneos, que fazem a reabsorção de elementos importantes para o organismo,
por exemplo, a glicose e a água. A porção funcional do rim está no córtex
renal e a urina é produzida na medula. A filtragem inicia com a artéria renal,
que tem origem na artéria aorta abdominal, que penetra no rim a partir do hilo
e chega até o córtex pela arteríola aferente, que está conectada ao glomérulo
renal e apresenta sensibilidade ao fluxo sanguíneo, secretando a renina.
O glomérulo é uma estrutura abrigada na cápsula de Bowman formada
por muitos capilares enrolados uns aos outros, o que forma uma grande área
superficial para pouco espaço. A pressão sanguínea dentro do glomérulo
(60 a 80 mm/Hg) é maior do que a da circulação do corpo (13 mm/Hg). Essa
pressão vai comprimir a entrada do líquido nas estruturas tubulares do néfron.
A estrutura do néfron é distribuída entre o córtex e a medula renal e é
composta pelos seguines segmentos:

„„ cápsula de Bowman;
„„ túbulos contorcidos proximal e distal no córtex;
„„ alça de Henle;
„„ túbulo coletor na medula renal.
10 Fisiologia renal

A cápsula de Bowman participa do primeiro processo de filtragem, pois


o conteúdo do glomérulo é aspirado para a cápsula. O filtrado que é extraído
do tecido sanguíneo para o glomérulo é composto pelos seguintes elementos:

„„ água (H2O);
„„ cloro (Cl);
„„ sódio (Na);
„„ potássio (K);
„„ bicarbonato (HCO3);
„„ aminoácidos;
„„ glicose;
„„ creatinina;
„„ ureia.

Elementos maiores como glóbulos, plaquetas e proteínas plasmáticas não


entram na cápsula e saem pela arteríola eferente, permanecendo na corrente
sanguínea sem passar pelos néfrons. A arteríola eferente tem musculatura
lisa desenvolvida; porém as contrações, que estimulam o fluxo de líquidos,
ocorrem por influência de substâncias vasoativas ou sobre a ação do sistema
nervoso autônomo.
Todo conteúdo líquido que passa pela cápsula de Bowman e segue pelos
túbulos recebe o nome de filtrado glomerular. A primeira parte dos túbulos
chama-se túbulo contorcido proximal, que possui a forma de uma serpentina;
isso faz com que o filtrado passe devagar e permaneça mais tempo na estrutura,
assim é feita a primeira parte da reabsorção. Todos os aminoácidos e a glicose
(100%) serão reabsorvidos nessa etapa; além de HCO3 (90%), H2O, Na, Cl e K
(65–70%). O conteúdo reabsorvido sai do túbulo contorcido proximal, passando
por capilares sanguíneos, e segue para a arteríola eferente, retornando para a
circulação sanguínea. O túbulo contorcido proximal contém células epiteliais
com grande quantidade de mitocôndrias para sustentar os vigorosos processos
de transporte ativo. Nas bordas, esse segmento apresenta moléculas proteicas
transportadoras, que possibilitam o mecanismo de transporte de sódio ligado
a nutrientes orgânicos (aminoácidos e glicose).
Fisiologia renal 11

O restante do filtrado que não foi reabsorvido irá para a próxima estrutura,
a alça de Henle. Essa alça tem duas porções: a descendente, onde o filtrado
desce, e a ascendente, onde o filtrado sobe. Nesse segmento também ocorre o
processo de reabsorção (capilares e arteríola eferente). Na porção ascendente,
o NaCl (25%) é reabsorvido. Essa porção só é permeável ao cloreto de sódio.
A porção descendente, por sua vez, só é permeável à água e faz a sua reabsor-
ção (25%). Assim, pode-se dizer que a alça de Henle vai gerar um equilíbrio
químico, pois o excesso de NaCl em uma porção vai estimular a reabsorção
de água em outra, por meio da osmose.
O que não será absorvido na alça de Henle irá seguir para a próxima
estrutura, o túbulo contorcido distal, onde ocorre a reabsorção de NaCl e
H2O (5%) (capilares e arteríola eferente). O restante do filtrado que não for
reabsorvido será excretado; ou seja, o excesso de água, de cloreto de sódio,
de creatinina e de ureia, serão encaminhados para o túbulo coletor que é
conectado aos cálices renais (menores e maiores), à pelve renal e ao ureter.
O túbulo coletor também exerce certa capacidade de reabsorção de eletró-
litos e ureia participando dos processos de concentração e diluição da urina.
No túbulo coletor, são encontradas as células intercalares que secretam o íon
H+ ou HCO3 e conferem ao rim equilíbrio ácido-base; e as células principais,
que reabsorvem sódio e secretam potássio sob o controle dos hormônios
aldosterona e arginina vasopressina, que é o hormônio antidiurético (origem
na neuro-hipófise).
Observe, na Figura 7, a seguir, a estrutura e as funções do néfron.

A urina é formada por 95% de água, 2% de ureia e 3% de creatinina, fosfatos e nitratos,


entre outros elementos em menor quantidade, como, por exemplo, o ácido úrico. Os
rins filtram, em média, 180 L de sangue e produzem 1,5 L de urina por dia (EATON;
POOLER, 2016).
12 Fisiologia renal

Figura 7. Estruturas e funções do néfron.


Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 532).

A maior importância da fisiologia renal é a manutenção da homeostase do


meio interno, atividade realizada pelo rim e que envolve os seguintes passos:

„„ controle e manutenção do conteúdo de água corporal;


„„ manutenção da osmolaridade extracelular;
„„ manutenção da concentração de eletrólitos;
„„ manutenção da concentração de íons hidrogênio (pH);
„„ manutenção da concentração de metabólitos.
Fisiologia renal 13

Essa ação renal permite a manutenção e o controle da pressão arterial,


ocasionados por meio de processos de depuração plasmática renal, de absorção
e de reabsorção tubular de água, açúcares, vitaminas, sais minerais e, por fim,
de formação do produto final a ser excretado: a urina (GUYTON; HALL,
2002; EATON; POOLER, 2016).

A glicosúria renal é a excreção de glicose na urina, com níveis plasmáticos normais de


glicose. Leia o artigo “Doença renal do diabetes”, publicado pela Sociedade Brasileira
de Diabetes, que explora as relações do diabetes na saúde renal e o seu impacto na
saúde pública.

https://qrgo.page.link/eNqCp

Fatores reguladores da função renal


A funcionalidade renal é um dos fatores responsáveis por equilibrar o con-
teúdo de água e de sódio no corpo humano, o que influencia diretamente
no volume e na pressão arterial média do sangue. Os rins recebem 10% do
débito cardíaco em repouso; esse volume pode ser utilizado para manter a
circulação (encefálica e coronária) em condições críticas no caso de um choque
circulatório. O fluxo sanguíneo renal (FSR) é controlado pelo sistema nervoso
autônomo por rotas endócrinas e neurais.
Na rota neural, as arteríolas glomerulares são inervadas e ativadas quando
a pressão arterial média cai. Essa ativação aumenta a resistência vascular por
limitar o fluxo sanguíneo nos rins, causando constrição na arteríola eferente,
que reduz o FSR e mantém a taxa de filtração glomerular (TFG) em níveis que
asseguram a função renal. O estímulo neural intenso diminui o fluxo sanguíneo
nas arteríolas glomerulares e a formação de urina é interrompida. Em casos
de hemorragia severa, pode agravar a situação do suprimento sanguíneo das
arteríolas, podendo causar infarto e insuficiência renal.
14 Fisiologia renal

Na rota endócrina, o FSR é regulado pela adrenalina e por um peptídeo


natriurético atrial (PNA). A liberação da adrenalina na circulação sanguínea
estimula as rotas de noradrenalina que apresenta suas principais ações no
sistema cardiovascular e está relacionada com o aumento do influxo celular
de cálcio, além disso, a noradrenalina mantém a pressão sanguínea em níveis
normais.
O PNA é liberado pelos átrios cardíacos quando eles apresentam estresse
por elevados volumes sanguíneos, resultando no aumento do FSR e da TFG
e na excreção de água e de sódio.
A regulação hormonal na reabsorção e na secreção de íons envolve a angio-
tensina II e a aldosterona. Nos túbulos contorcidos proximais, a angiotensina
II aumenta a reabsorção de Na+ e Cl–. Em adição, a angiotensina II estimula
a liberação de aldosterona pelo córtex suprarrenal, um hormônio que age nas
células tubulares da última porção do túbulo contorcido distal, estimulando-as
a reabsorverem Na e Cl e a secretarem mais K+. Quanto mais Na e Cl forem
reabsorvidos, mais água também é reabsorvida por osmose (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).
Na absorção de água, o hormônio atuante é o antidiurético (ADH), por
meio de retroalimentação negativa. Quando a concentração de água no sangue
diminui, osmorreceptores que estão no hipotálamo (encéfalo) estimulam a
neuro-hipófise a secretar o ADH, que irá agir nas células tubulares presentes
dos túbulos contorcidos distais e ao longo dos túbulos coletores. Quando não
há secreção do ADH, os túbulos têm pouca permeabilidade, portanto esse
hormônio aumenta a permeabilidade das células tubulares à água e, assim, a
água se move do líquido tubular para as células e, em seguida, para o sangue
(Figura 8).
Fisiologia renal 15

Figura 8. Regulação da absorção de água pelo ADH.


Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 538).
16 Fisiologia renal

Os rins produzem, aproximadamente, de 400 a 500 mL de urina concentrada


por dia, quando a concentração de ADH é máxima (durante uma desidratação
grave). No entanto, quando o nível de ADH diminui, os canais de água são
removidos das membranas. Os rins produzem um grande volume de urina
diluída quando o nível de ADH é baixo (EATON; POOLER, 2016).
O nível de cálcio no sangue abaixo do normal estimula as glândulas para-
tireoides a liberar o paratormônio (PTH), que estimula as células dos túbulos
contorcidos distais a reabsorverem mais cálcio no sangue. Além disso, esse
hormônio inibe a reabsorção de fosfato nos túbulos contorcidos proximais,
promovendo a excreção de fosfato.
Algumas teorias sugerem a autorregulação do sistema (GUYTON; HALL,
2002; EATON; POOLER, 2016), que podem ser observadas a seguir.

„„ Teoria da miogênica — o aumento da pressão arterial média provoca


estímulo na musculatura lisa da arteríola aferente levando à vaso-
constricção e à redução na filtração glomerular. Em contrapartida,
provoca relaxamento na musculatura da arteríola aferente, levando à
vasodilatação e aumentando a filtração glomerular.
„„ Teoria do metabolismo — indica que a redução do fluxo sanguíneo
provoca o acúmulo de substâncias vasodilatadoras (cininas, prosta-
glandinas) que, como consequência, provocam o aumento do fluxo
sanguíneo. O contrário também funciona, pois, um aumento de fluxo faz
com que ocorra uma rápida drenagem de substâncias vasodilatadoras,
diminuindo a vasodilatação e reduzindo o fluxo sanguíneo.
„„ Teoria da mácula densa — indica que, na porção final da alça de Henle,
existe uma porção chamada mácula densa. Ela capta as alterações na
concentração de sódio (quanto mais sódio, mais elevada é a TFG) e
envia estímulo para a arteríola aferente gerando vasoconstricção. Com
isso, diminui o fluxo sanguíneo e a TFG. Quando ocorre a diminuição
da concentração de sódio, acontece o inverso, há o aumento da TFG
Fisiologia renal 17

A síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIADH) é caracte-


rizada pela secreção contínua ou pelo aumento da atividade do hormônio arginina-
-vasopressina (AVP), também conhecido como ADH, que responde por 14 a 40% do
total de casos de hiponatremia. A síndrome está relacionada a uma extensa gama de
doenças, terapias medicamentosas e procedimentos cirúrgicos, sendo, muitas vezes,
subdiagnosticada. Leia o artigo de revisão “Síndrome da secreção inapropriada do
hormônio anti‑diurético” e saiba mais sobre o assunto.

https://qrgo.page.link/Ej3uS

DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia humana: sistêmica e segmentar. 3. ed. São


Paulo: Atheneu, 2007.
EATON, D.; POOLER, J. Fisiologia renal de Vander. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. (Lange).
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 10.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2002.
NETTER, F. H. Atlas de anatomia humana. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
SOBOTTA, J. Atlas de anatomia humana. 21. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

Leitura recomendada
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. Porto Alegre: Art-
med, 2017.
DICA DO PROFESSOR

A carambola (Averrhoa carambola L.) pertence à Família das Oxalidaceae. Encontrada nas
regiões tropicais, é originária da Ásia. Suas fatias cortadas transversalmente têm a forma de
estrela, o que lhe dá o nome, na literatura inglesa, de star fruit. Ela pode ser amarela ou
esverdeada, com sabor variando do ácido ao doce. Apesar de seus frutos serem amplamente
utilizados in natura, recomendam-se algumas restrições em relação aos sucos e produtos
derivados.

Na Dica do Professor, você vai aprender um pouco mais sobre a relação da carambola
com pacientes que têm doenças renais crônicas.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

EXERCÍCIOS

1) Os rins são um par de órgãos de coloração avermelhada em forma de feijão


localizados nos dois lados da coluna vertebral, na altura da 12a vértebra torácica e
das três primeiras vértebras lombares. O rim de um adulto, em geral, tem,
aproximadamente, 12cm de comprimento, 6cm de largura e 3cm de espessura,
pesando 150g.

Assinale a alternativa que corresponde à funcionalidade das estruturas internas


(corte macroscópico) do rim:

A) A medula renal apresenta pirâmides renais, separadas pelas colunas renais, que drenam o
sangue e a urina para a filtragem.

B) Os néfrons, que são as unidades funcionais dos rins, estão localizados no córtex e em parte
da medula renal.

C) Cada rim apresenta um córtex renal, e a medula renal e os néfrons estão localizados nos
cálices menores.

D) A medula renal tem de 8 a 15 pirâmides renais, que se estreitam para drenar a urina que
goteja para o interior da pelve renal.

E) Os cálices menores se unem para formar os cálices maiores, e estes, à pelve renal. A pelve
renal drena o sague para os ureteres.

2) A urina produzida nos rins é drenada para os ureteres, a bexiga urinária, e eliminada
do corpo pela uretra. São as estruturas responsáveis pelo transporte, pelo
armazenamento e pela eliminação de resíduos tóxicos.

Assinale a alternativa que corresponde à anatomia e à função dessas estruturas:

A) A função dos ureteres é o transporte da urina, e o par de ureteres liga a pelve renal dos rins
até a uretra.

B) O trígono da bexiga é formado pelos óstios dos ureteres e pelo óstio externo da uretra.

C) A uretra feminina tem o óstio externo da uretra localizado entre o clitóris e o óstio da
vagina

D) A uretra masculina é dividida em três segmentos e o óstio externo da uretra fica na porção
prostática.

E) Os ureteres passam alguns centímetros acima da bexiga, o que evita o refluxo da urina
quando a pressão acumula na bexiga durante a micção.

3) O rim tem um papel exócrino, que é relacionado à formação de urina. E também


desenvolve suas funções endócrinas por meio de células secretoras específicas. A
função homeostática do meio interno, que é a principal função do órgão, é efetuada
pela formação de urina nas unidades funcionais básicas do rim, que são os néfrons.
Assinale a alternativa que corresponde às estruturas e às funções dos néfrons:

A) A alça de Henle tem uma porção ascendente e outra descendente, que são responsáveis,
respectivamente, pela reabsorção de H2O e NaCl.

B) A porção anatômica do néfrons é formada por uma rede de túbulos, que fazem o transporte
de filtrado glomerular. Estes são envolvidos por capilares sanguíneos, que fazem a
excreção.

C) O túbulo contorcido proximal é responsável pela reabsorção e está localizado no final da


alça de Henle, próximo ao túbulo coletor.

D) O filtrado não reabsorvido pela rede de túbulos dos néfrons será excretado através da sua
passagem pela alça de Henle.

E) Os capilares enrolados uns aos outros, e que formam o glomérulo, ficam abrigados na
cápsula de Bowman.

4) A principal importância da fisiologia renal é a manutenção da homeostase do meio


interno.

Sobre a fisiologia dos processos que ocorrem no néfron, é correto afirmar que:

A) O túbulo contorcido proximal tem forma de serpentina e faz a reabsorção de 100% da água
e a glicose.

B) O que não é absorvido no túbulo contorcido distal segue para a filtragem na porção
descendente na alça de Henle.

C) As estruturas da cásula de Bowman, o túbulo contorcido proximal e o túbulo contorcido


distal fazem a excreção do ultrafiltrado.
D) O túbulo contorcido distal é responsável pela reabsorção de água e aminoácidos (5%).

E) Elementos maiores como glóbulos, plaquetas e proteínas plasmáticas não entram na


cápsula de Bowman e saem pela arteríola eferente, ficando retidos no sangue, em
condições fisiológicas.

5) O rim tem a capacidade de equilibrar o conteúdo de água e sódio no corpo humano, o


que influencia diretamente o volume e a pressão arterial média do sangue.

Assinale a alternativa que corresponde à regulação da função renal:

A) Ao diminuir a concentração de água no sangue, o ADH irá agir nos túbulos contorcidos
distais e ao longo dos túbulos coletores, aumentando a permeabilidade à água.

B) O alto nível de Ca no sangue estimula a liberação do PTH pela tireoide, estimulando os


túbulos contorcidos distais.

C) A angiotensina II aumenta a reabsorção de Na e Cl nos túbulos contorcidos distais.

D) Quando a concentração de água no sangue aumenta, osmorreceptores no hipotálamo


estimulam a neuro-hipófise a secretar o ADH.

E) O PNA faz parte da rota de regulação endócrina e é liberado pelos átrios cardíacos em
estresse de baixo volume cardíaco.

NA PRÁTICA

Os rins são essenciais ao funcionamento do organismo, pois contribuem para a manutenção da


homeostase. Suas principais funções são a eliminação de resíduos, o controle dos fluídos
corporais e da pressão arterial, a regulação do equilíbrio hidroeletrolítico e de ácido-base, a
síntese e a regulação de hormônios. A doença renal crônica (DRC), caracterizada pela
deterioração progressiva da função renal, é um problema crescente na comunidade e que arrasta
potenciais consequências para a saúde pública.

Veja, em Na Prática, o que pode ser feito para prevenir, diagnosticar e tratar corretamente a
doença renal crônica.
SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Doença Renal Crônica

Muitas doenças podem danificar ou lesionar os rins de forma irreversível, como diabetes melito
e pressão arterial alta. Assista ao vídeo, que explica os aspectos fisiológicos e médicos da
doença.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Rins e ureteres

O sistema urinário é constituído pelos órgãos uropoéticos, incumbidos de elaborar a urina e


armazená-la temporariamente até a oportunidade de ser eliminada para o exterior. Assista ao
vídeo sobre a anatomia do sistema urinário com peças anatômicas naturais.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Transplante de rim - Entrevista

Nesta entrevista, o médico Elias David Neto, especialista em Nefrologia, explica como acontece
o transplante de rim e desmistifica o medo da doação do órgão.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Quando os rins envelhecem: um ensaio em nefro-geriatria

Leia o artigo de revisão, que explica o aspecto anatômico, fisiológico e bioquímico de como os
rins manifestam o processo de envelhecimento por perda constante de néfrons e uma diminuição
correspondente na taxa de filtração glomerular (TFG) a partir dos 30 anos.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Você também pode gostar