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APRESENTAÇÃO
Bons estudos.
DESAFIO
Mulher de 59 anos, ao ser atendida na Emergência relata dor intensa na porção superior do
abdome. Relata dor estomacal sentida há meses, mas no dia de hoje, após o almoço, sentiu uma
dor perfurante que se espalhou para o quadrante abdominal esquerdo. Vomitou um conteúdo
escuro, como borra de café, depois de ter ficado enjoada a tarde toda. No momento sente dor no
ombro esquerdo e no abdome. No exame físico da paciente foram observados defesa muscular
das partes superior e anterolateral da parede abdominal, sons intestinais hipoativos e epigástrio e
hipocôndrio esquerdo hipersensíveis à palpação. O exame de raio x indicou pneumoperitônio
sob a cúpula do diafragma esquerdo.
Para responder às questões, você terá de fazer uma pesquisa a partir dos dados do caso clínico
apresentado.
a) Qual a relação entre estes três fatores: defesa muscular observada no exame físico,
pneumoperitônio e vômito em borra de café?
b) A paciente foi submetida ao exame de endoscopia, mas suponha que você não teve acesso ao
laudo. Com base nos dados relatados e na pesquisa que você realizou, a paciente apresenta
gastrite, úlcera duodenal ou úlcera gástrica perfurante? Justifique sua resposta.
INFOGRÁFICO
CONTEÚDO DO LIVRO
No capítulo Doenças Gastrintestinais da obra Genética e Patologia, você vai conhecer quais são
os principais distúrbios do trato gastrintestinal que afetam as funções de motilidade, secreção,
digestão e absorção. Também aprenderá sobre algumas doenças que afetam o esôfago, o
estômago, o intestino delgado e grosso e entenderá como ocorre a formação da gastrite, da
úlcera gástrica perfurante e da úlcera duodenal.
Boa leitura.
GENÉTICA E
PATOLOGIA
Introdução
Com o intuito de suprir as necessidades materiais e energéticas do orga-
nismo, os alimentos necessitam ser ingeridos, processados e degradados
através da digestão para, posteriormente, serem absorvidos pelo intes-
tino. Ao longo de todo o trato gastrintestinal (TGI), existem mecanismos
específicos para a digestão e absorção de cada categoria de nutriente.
A interligação das funções dos diversos órgãos constituintes do sistema
permite que a absorção ocorra de maneira adequada. Qualquer etapa
desse processo que possa estar prejudicada por alguma doença pode
afetar significativamente a nutrição e a homeostase do organismo.
Neste capítulo, você aprenderá a identificar os distúrbios gerais do TGI,
como as situações que prejudicam a motilidade, a secreção, a digestão
e a absorção. Também conhecerá as doenças que afetam o esôfago, o
estômago, o intestino delgado e o intestino grosso. Por fim, será capaz
comparar as formas de apresentação da gastrite, da úlcera gástrica per-
furante e da úlcera intestinal.
Distúrbios de motilidade
A motilidade do TGI é uma função essencial baseada na contração da muscu-
latura lisa, que está sob controle do sistema nervoso e do sistema endócrino.
Os distúrbios da motilidade, portanto, podem envolver lesões na musculatura
lisa, na enervação, distúrbios endócrinos ou a combinação destes. Podemos
observar uma lesão muscular nos casos de estenose esofágica por ingestão
de agentes cáusticos ou por refluxo de ácido do estômago. Um exemplo de
lesão neural é a acalasia esofágica (alteração hipertônica, com ausência de
relaxamento da musculatura). Os distúrbios de motilidade esofágica costumam
causar disfagia e odinofagia. Outro caso de problema neural é a doença de
Hirchsprung, caracterizada por uma ausência de neurônios mioentéricos no
colo distal, causada por um defeito na migração das células nervosas a partir
da crista neural durante a gestação. Essa doença é descoberta já no início da
vida e pode causar constipação grave (HAMMER; MCPHEE, 2016).
Quanto à motilidade do estômago, exemplos de problemas observados são
a gastroparesia, que é uma possível complicação decorrente do diabetes melito,
e a dismotilidade, observada após cirurgias gástricas e também causada pela
vagotomia. A vagotomia é uma cirurgia de transecção do nervo vago, que
impede a secreção de ácido induzida por essa inervação e também diminui
Doenças gastrintestinais 3
Distúrbios de secreção
Os problemas que afetam a secreção do TGI estão associados à produção de
ácido, muco e fator intrínseco pela mucosa gástrica, à produção de enzimas
e bicarbonato pelo pâncreas, à produção de bile pelo fígado e à produção
de água e eletrólitos pelo intestino delgado. Uma complicação comum é a
úlcera péptica, originada tanto pelo excesso da produção de ácido quanto pela
diminuição na produção de muco protetor.
As úlceras são regiões de erosão na mucosa. As úlceras geradas por ácido
podem ocorrer no estômago ou nas porções iniciais do intestino delgado. A
lesão mais difusa por ácido, que não chega a formar uma úlcera, pode ocorrer
desde o esôfago até o duodeno. No intestino delgado e colo, observa-se pro-
blemas de secreção como causadores de diarreias e constipações (HAMMER;
MCPHEE, 2016).
4 Doenças gastrintestinais
Hipermotilidade
120 mmHg), que aparecem entremeadas por contrações normais. Pode estar
associado a distúrbios musculares e nervosos. Sua causa, geralmente, envolve
estímulos como o refluxo do ácido estomacal, a ingestão de alimentos com
temperatura muito alta ou muito baixa, o estresse, além de poder ser desenca-
deado por estímulos olfativos. Os principais sintomas observados são cólicas
esofágicas (dores fortes e intermitentes) e disfagia para alimentos sólidos e
líquidos. O diagnóstico diferencial envolve a angina cardíaca. O exame mais
indicado para o seu diagnóstico é a manometria esofágica. O tratamento envolve
a adoção de medidas comportamentais, a redução do estresse psicológico
e a psicoterapia. Podem ser utilizadas de forma adjuvante as medicações
para o relaxamento da musculatura lisa (isossorbida ou nifedipina) e alguns
antidepressivos tricíclicos, conforme cada caso (FOCHESATTO FILHO;
BARROS, 2013).
Hipomotilidade
Câncer de esôfago
Doença acidopéptica
Gastroparesia
Diarreia
Diarreia aguda — Mais de 90% dos casos são causados por agentes infecciosos
acompanhados por vômitos, febre e dor abdominal. Os restantes são causados
por medicamentos, intoxicações, isquemias e outras patologias. As diarreias
infecciosas podem ser transmitidas pela via fecal-oral ou pela ingestão de
alimentos ou água contaminados. Em indivíduos imunocompetentes, a flora
bacteriana normal raramente é causadora de diarreias, inclusive serve como
barreira protetora, auxiliando a proteção contra microrganismos invasores.
O uso de antibióticos pode causar diarreia pela geração de um desequilíbrio
na flora bacteriana normal, permitindo que agentes patogênicos se multipli-
quem. Outras medicações que podem causar diarreia são os antiarrítmicos,
anti-hipertensivos, anti-inflamatórios não esteroides, alguns antidepressivos,
quimioterápicos, broncodilatadores, antiácidos e laxativos (LONGO; FAUCI,
2015).
Outras situações causadoras de diarreia aguda, associada a outros sinto-
mas sistêmicos, são intoxicações por inseticidas organofosforados, Amanita
e outros cogumelos, arsênico, toxinas ambientais e de frutos do mar, bem
como na reação anafilática aguda a determinados alimentos. As indicações
para avaliação da diarreia aguda são: diarreia profusa com desidratação, fezes
sanguinolentas, febre maior que 38,5°C, com duração maior que 48 horas sem
melhora, uso recente de antibióticos, surtos comunitários, dor abdominal grave
em maiores de 50 anos de idade e pacientes imunocomprometidos.
Em casos suspeitos de diarreia aguda infecciosa grave, pode-se realizar o
exame microbiológico das fezes e, em diarreias persistentes não caracterizadas,
sigmoidoscopia, colonoscopia ou tomografia computadorizada abdominal
para excluir doença inflamatória intestinal, colite isquêmica ou obstrução
intestinal parcial (LONGO; FAUCI, 2015). O tratamento é feito com reposição
hidroeletrolítica e, possivelmente, com agentes antissecretores e antimotilidade.
Esses medicamentos devem ser evitados em casos acompanhados de febre,
pois podem prorrogar a infecção. O uso criterioso de antibióticos pode ser
útil em situações específicas (LONGO; FAUCI, 2015).
Diarreia crônica — A maioria dos casos de diarreia crônica não tem origem
infecciosa. Se a duração for maior que quatro semanas, é indicado avaliar para
excluir patologias graves. As causas da diarreia crônica podem ser divididas
conforme descrito a seguir (LONGO; FAUCI, 2015).
Constipação
Início recente
Medicações
Crônicas
Gastrite
A gastrite (inflamação da mucosa gástrica) pode ser dividida conforme descrito
a seguir (SILBERNAGL; LANG, 2016).
Gastrite crônica ativa, não erosiva — De modo geral, fica restrita ao antro.
Sua principal causa é a colonização por Helicobacter pylori e pode ser tratada
com o uso de antibióticos. Essa infecção bacteriana produz uma diminuição
na proteção da mucosa ao mesmo tempo em que estimula a liberação de
gastrina, aumentando a secreção de suco gástrico na região do fundo gás-
trico, permitindo que evolua para uma úlcera crônica, caso não seja tratada
(SILBERNAGL; LANG, 2016).
Figura 2. Fatores de risco para a formação de úlcera gástrica, como a infecção por H. pylori,
o aumento na secreção de suco gástrico, a diminuição na liberação de bicarbonato e a
redução no fluxo sanguíneo e na renovação celular.
Fonte: Silbernagl e Lang (2016, p. 157).
Úlcera intestinal
As úlceras intestinais são mais comuns no duodeno, ocorrendo com maior
frequência em sua porção inicial (95%). Em torno de 90% dos casos, elas
ocorrem em até 3 cm de distância do piloro. Seu tamanho pode variar de < 1
cm (mais frequentes) a até 6 cm de diâmetro (úlcera gigante) (Figura 3). A base
da úlcera costuma ser formada por uma área de necrose eosinofílica circundada
por fibrose. A probabilidade de malignização das úlceras duodenais é muito
baixa. Na maioria dos casos, elas são geradas por H. pylori ou por lesão pelo
uso de AINEs (LONGO; FAUCI, 2015).
Figura 3. Imagem de endoscopia mostrando (a) úlcera duodenal benigna e (b) úlcera
gástrica benigna.
Fonte: Longo e Fauci (2015, p. 107).
FOCHESATTO FILHO, L.; BARROS, E. (org.). Medicina interna na prática clínica. Porto
Alegre: Artmed, 2013.
HAMMER, G. D.; MCPHEE, S. J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina
clínica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
LONGO, D. L.; FAUCI, A. S. Gastrenterologia e hepatologia de Harrison. 2. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2015.
RAFF, H.; LEVITZKY, M. Fisiologia médica: uma abordagem integrada. Porto Alegre:
AMGH, 2012.
SILBERNAGL, S.; LANG, F. Fisiopatologia: texto e atlas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
DICA DO PROFESSOR
EXERCÍCIOS
A) Doença de Hirschsprung.
B) Colelitíase.
C) Uso de nitroglicerina sublingual.
D) Doença ácido-péptica.
NA PRÁTICA
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor: