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Programa de Pós-Graduação em Perícia

Criminal e Ciências Forenses

INTRODUÇÃO À GRAFOSCOPIA
Docente Responsável: Prof. Alderly Santos do Nascimento
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
CAPÍTULO I – CONCEITOS ................................................................................................ 2
CAPÍTULO II – GRAFOSCOPIA: SURGIMENTO E ATUALIDADE ........................... 4
II.1 – PRIMEIRAS FALSIFICAÇÕES E LEIS 4
II.2 – PRIMEIROS EXAMES DOCUMENTOSCÓPICOS 5
II.3 – ESCRITA: CONHECIMENTO DE POUCOS 5
II.4 – A INFLUÊNCIA DO MERCANTISMO 6
II.5 – GRAFOSCOPIA NA ATUALIDADE 8
CAPÍTULO III – OS FUNDAMENTOS DA ESCRITA NA IDENTIFICAÇÃO DE
PESSOAS ................................................................................................................................ 10
III.1 – AS LEIS DA ESCRITA DE SOLANGE PELLAT 12
III.2 – PREMISSAS E COLORÁRIO RELACIONADOS À IDENTIFICAÇÃO DA
ESCRITA 13
III.3 – CARACTERÍSTICAS DE CLASSE E CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS 15
III.4 – ELEMENTOS DISCRIMINADORES DA ESCRITA 18
CAPÍTULO IV – O EXAME GRAFOSCÓPICO ............................................................... 37
IV.1 – PADRÕES GRÁFICOS 38
IV.2 – A METODOLOGIA DO EXAME GRAFOSCÓPICO 40
IV.1.1 – Análise dos manuscritos 41
IV.1.2 – Comparação das características observadas 42
IV.1.3 – Avaliação ou ponderação da significância das similaridades ou das diferenças
observadas 43
IV.1.4 – Formulação da conclusão 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 48

II
INTRODUÇÃO
Uma das maiores demandas de exames periciais são os exames grafoscópicos.
Como exemplo, no ano de 2011, essa área da perícia respondeu por quase 10% da casuística
das perícias criminais federais, demonstrando a importância do laudo de exame grafoscópico.
Mesmo com essa relevância para a prova pericial, nas principais instituições de
ensino superior no Brasil, a regra é a ausência de formação acadêmica em área correlata ao
exame grafoscópico, ficando a qualificação dos profissionais que estão em processo de
ingresso na carreira de perito oficial restrita aos cursos de formação de peritos criminais das
academias de polícia espalhadas pelo país. Os profissionais que atuam ou querem atuar como
peritos judiciais e assistentes técnicos na área da grafoscopia têm recorrido aos cursos de
especialização de perícia criminal e ciências forenses, os quais abrangem não somente a
grafoscopia como outras áreas da criminalística. Ademais, em um nível mais básico, tem
ocorrido uma oferta de cursos de curta duração na área de grafoscopia, possivelmente
impulsionada pela popularização da perícia através do “efeito CSI”.
Em relação às pesquisas científicas, no Brasil, também há poucos estudiosos
desenvolvendo trabalhos voltados para o aperfeiçoamento da grafoscopia, a exemplo do grupo
liderado pela Dra. Cinthia Freitas, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR
através do programa de Pós-graduação em Informática Aplicada, que vem realizando estudos
voltados para a verificação de autenticidade e determinação de autoria de manuscritos.
No que se refere a normas técnicas, da mesma maneira, não há publicação
referente ao assunto produzida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas. No âmbito da
Polícia Federal, até o mês de junho de 2006, quando foi publicada a Instrução Técnica n.°
005/2006–DITEC, também não havia qualquer normativo específico para o exame
grafoscópico.
Atualmente, na Polícia Federal, a Orientação Técnica n.° 006/2011-
DITEC/DPF disciplina os procedimentos para a realização de exames grafoscópicos,
juntamente com o Manual de Procedimentos Periciais para a Elaboração de Laudos de
Exames Grafoscópicos, este último editado em junho de 2010.

3
CAPÍTULO I – CONCEITOS
Documentoscopia é a parte da Criminalística ou da Ciências Forenses que
examina os documentos com o objetivo de verificar sua autenticidade e/ou determinar a sua
autoria. O termo documentoscopia é uma composição formada pela união da palavra de
origem latina documento (documentum) e do sufixo grego scopia (skopéó), o qual significa
olhar atentamente, considerar, observar, examinar; visar a, ter como objetivo.
A autenticidade de um documento está relacionada com a sua origem e
preparação e também com a sua história. Assim, o conceito inclui a exigência da sua emissão
legítima e a inexistência de alterações ou manipulações fraudulentas. Conforme o dicionário
Houaiss, autêntico é o “que se pode dar fé; que está dentro das formalidades legais e é tido
como legítimo ou verdadeiro”.
O termo autenticidade refere-se à veracidade ou legitimidade de um documento
(autenticidade documental), ou de um lançamento gráfico impresso ou manuscrito
(autenticidade gráfica).
Mas o que é um documento?

Documento pode ser entendido, em sentido amplo, como qualquer material que
contenha marcas, símbolos ou sinais que possuam algum significado ou que
transmitam alguma mensagem ou informação;

Assim, são considerados documentos uma folha de papel com textos impressos
ou manuscritos, a porta de um elevador com palavras difamatórias contra o síndico do prédio,
um espelho com uma frase escrita com batom, uma pichação em uma parede ou mesmo um
corpo sobre o qual o assassino escreveu uma mensagem.
Porém, são considerados documentos questionados apenas aqueles suspeitos de
serem fraudulentos ou cuja fonte ou história não estão muito claras, sendo estes, portanto, os
objetos de estudo da Documentoscopia, ou seus vestígios.

A fraude documental ocorre quando não se constata a autenticidade documental


ou a autenticidade gráfica. A fraude documental refere-se a toda conduta que
tenha por finalidade criar um documento inautêntico, assim como, a partir de um
documento autêntico, introduzir nele elementos que não condizem com a verdade,
inclusive grafismos.

4
O principal objetivo da Documentoscopia é identificar a autenticidade ou
inautenticidade de grafismos, mecanografias e documentos. Assim, as áreas que compõe a
Documentoscopia podem ser divididas em três:
1. Estabelecimento de autenticidade ou falsidade documental, são os
exames em documentos de segurança, como, por exemplo, os
exames de moeda (cédulas e moedas metálicas), em passaportes,
carteiras de identidade, cruzamento de traços, entre outros; também
estão inclusos os exames em documentos sem elementos de
segurança;
2. Confronto grafoscópico, com vistas à identificação de autoria de
lançamentos gráficos; e
3. Exames mecanográficos e em impressos eletrônicos, com vistas a
identificar ou eliminar determinado equipamento de impressão. Os
equipamentos de impressão devem ser entendidos de forma
abrangente, englobando não apenas máquinas de escrever e
impressoras, mas também carimbos, cópias e fax.
Neste módulo do nosso curso de especialização estudaremos a Grafoscopia,
definida conforme segue:
A Grafoscopia é a área da Documentoscopia que tem por objetivo verificar a
autenticidade ou identificar a autoria de manuscritos. Pode ser conceituada
também como o exame de manuscritos com o objetivo de identificar pessoas,
detectar falsificações ou provar a autenticidade de documentos.

Salienta-se que o termo grafotecnia também é utilizado como sinônimo de


grafoscopia.

5
CAPÍTULO II – GRAFOSCOPIA: SURGIMENTO E
ATUALIDADE

II.1 – PRIMEIRAS FALSIFICAÇÕES E LEIS


Antes de discorrer sobre a evolução histórica da grafoscopia, é necessário
reportar-se à origem das primeiras fraudes em documentos, haja vista a grafoscopia fazer
parte de uma área de conhecimento bem mais ampla, na qual estão inseridos diversos tipos de
exames em documentos, entendendo-se como documento todo meio físico que contenha uma
mensagem.
Referências históricas indicam que a prática de falsificação e fraudes
envolvendo documentos evoluiu quase tão cedo quanto o desenvolvimento da escrita. Nesse
sentido, as notícias a respeito das falsificações mais antigas das quais se tem comprovação
dão conta de que no Egito, por volta do ano 3.000 a.C., alguns reis que haviam sido
derrotados em uma primeira batalha, mas vitoriosos em uma segunda, mandavam alterar
hieróglifos comemorativos da primeira batalha e apoderavam-se da glória dos que tinham
erguido o monumento comemorativo.
No que se refere à falsificação de documento público, alguns historiadores
defendem que aconteceu primeiro na Grécia, mais precisamente em Atenas, no século V a.C.,
o que é prontamente rebatido por outros, haja vista que existem evidências de que essa
modalidade delituosa ocorreu em época bastante anteiror.
É provável que com o surgimento das primeiras fraudes, surgiram as primeiras
normas jurídicas para coibir a prática, pois onde há sociedade, há direito constituído, a fim de
regulamentar as relações interpessoais.
Com a revolução agrícola e consequente fixação do homem à terra, surgem os
primeiros agrupamentos sociais e consequentemente as normas decorrentes do contrato
social1, o que justifica a existência de leis tão antigas quanto a sociedade. Nesse momento,
surgiram as primeiras leis cogentes que tratavam das falsificações.
Exemplo disso verifica-se no Código de Hamurabi, no qual é regulada uma
conduta que pode ser entendida como falsificação, em seus artigos 266 e 288. No primeiro, ao
estabelecer o corte das mãos como pena para quem imprimisse a marca de inalienável em um
escravo, sem o consentimento do seu dono, e, no segundo, pena de morte para aquele escravo

1
O contrato social é um acordo real ou hipotético realizado pelos membros de um grupo social, no qual
se estabelecem relações de direito, deveres e cidadania.
6
que enganasse um comerciante ou fizesse em si próprio a marca de inalienabilidade, isso entre
os séculos XXII e XVIII a.C.

II.2 – PRIMEIROS EXAMES DOCUMENTOSCÓPICOS


Uma vez que foram criadas leis para regrar a conduta humana, o que se refere
às falsificações, surgiu também a necessidade de se examinar e atestar a autenticidade do que
se suspeitava ser falso, dando margem ao aparecimento do exame em documentos.
A primeira citação a respeito de perícia se deve a Marcus Fabius Quintilianus,
no ano 88, quando ele recomenda normas de orientação ao perito em sua obra “ A Instituição
Oratória”. Além disso, leis datadas da época do Império Romano possibilitavam o testemunho
de peritos a respeito de documentos.
Como se vê, dada a antiguidade do exame em documentos, Huber and
Headrick (1999, p.3) afirmam que o exame em manuscritos questionados pode ser
considerado o progenitor das Ciências Forenses.
Esse crédito é dado ao exame em documentos por ser ele uma das poucas
disciplinas que nasceram pela necessidade imposta pelas Ciências Forenses. Não foi uma
disciplina inicialmente desenvolvida em um meio próprio e depois utilizada em tarefas
forenses.
Sem dúvida, o exame em manuscritos é uma prática antiga, mas o
desenvolvimento de seu caráter científico se deu de forma lenta, e ainda hoje se discute o
tema em decorrência de diversos fatores. Dentre eles, destaca-se o motivo de não existirem
métodos de comprovada eficácia, cujos resultados probabilísticos cheguem a percentuais
satisfatórios, como é o caso do exame de DNA, sobretudo quando é usado para exclusão de
compatibilidade. Tanto que, apesar de haver leis que admitam a atuação do perito na época do
Império Romano, em países de língua inglesa essa prática só foi acolhida muitos séculos
depois.

II.3 – ESCRITA: CONHECIMENTO DE POUCOS


No caso específico dos exames em manuscritos, além das dificuldades
intrínsecas às características deste tipo de exame, durante longo tempo a escrita e a literatura
eram prática de poucos, na realidade, praticamente exclusiva dos eclesiásticos2, fazendo com

2
Para HARRIS (2009, P. 9), após o fim do Império Romano do Ocidente, “o elo de comunicação mais
importante entre as diferentes nações era a Igreja Cristã, que mantinha acesa a chama da cultura e do
conhecimento”.
7
que os documentos manuscritos levassem um pouco mais de tempo para ganharem
importância, reduzindo a possibilidade de fraudes, as quais se alastraram com a invenção da
imprensa e a popularização da literatura.
Adicionalmente, uma vez que a maioria das pessoas não dominava as
habilidades de ler e escrever por algum tempo deu-se margem para que a escrita fosse tratada
como uma coisa mágica.
Para ilustrar o caráter mágico da escrita, Spenser (apud VELÁSQUEZ
POSADA, 2004, p. 41) narra a história de um aborígene australiano, a quem foi dada a tarefa
de levar pães ao companheiro de um missionário. Acompanhando a encomenda, havia uma
carta descrevendo o seu conteúdo e quantidade. Acontece que no meio do caminho, o
indígena aproveitou para saciar sua fome e comeu um dos pães, o que foi descoberto pelo
destinatário ao ler a indigitada carta. De outra feita, tentando evitar que a carta “visse” a
ocorrência, o mesmo nativo, incumbido de missão semelhante, antes de comer um pão,
colocou a carta embaixo de uma pedra, certo de que não seria delatado pela correspondência,
quando ela fosse lida.
No caso do uso de assinaturas como forma de identificação, sua popularização
ocorreu com um pouco mais de atraso em relação à escrita, em decorrência do largo uso de
selos à cera gravados com motivos pessoais, colados às extremidades de uma fita de tecido, a
qual era colada através de uma fenda no papel.
Esse período histórico em que a assinatura passa a ser usada com maior
intensidade é resumido por Velásquez Posada (2004, p. 48), ao afirmar:

Es sólo a finales de la Edad Media, sin embargo, cuando se comienza a


legislar en firme sobre la falsedad documental, ante el progresivo incremento
del ilícito. Un auge provocado, sin duda, por el frenético dessarollo de los
pueblos y la expansión de las transacciones comerciales. La firma autógrafa
empieza poco a poco a sustituir el sello y va ganando terreno como elemento
de identificación personal.

II.4 – A INFLUÊNCIA DO MERCANTISMO


Ainda na Idade Média, o caráter elitista e místico da escrita anunciou o seu fim.
A força do mercantilismo fez com que diversas cidades surgissem a partir da atividade
comercial, cujas ligas e corporações, formadas por comerciantes, passaram a influenciar
politica e militarmente essa pólis, ao ponto de estatutos comerciais confundirem-se com os
das próprias cidades.

8
Como não poderia ser de outra maneira, devido ao seu poder econômico, os
comerciantes tiveram influência em diversas áreas do conhecimento, seja pelo mecenato ou
pelas suas necessidades laborais, como é o caso da escrita. É nesse momento que os
manuscritos ganharam distinção e importância econômica, pois era o meio utilizado para a
comunicação entre comerciantes, nas diversas cidades que surgiram durante o crescente
comércio no final da Idade Média, além de ser o meio de se registrar a contabilidade do
comércio, como se fez largamente até poucas décadas atrás, antes do surgimento e da
popularização da informática.
Com toda essa pujança, a atividade mercantil precisaria de pessoas para redigir
cartas e realizar anotações de forma adequada e rápida, a fim de que o comerciante tivesse
controle sobre os seus negócios, havendo dessa forma a necessidade de que a escrita fosse
difudida.
Por mais paradoxal que possa parecer, “a grande popularidade da escrita só
veio depois dos livros manuscritos terem sido suplantado por trabalhos impressos”, por volta
do século XV com o aperfeiçoamento dos tipos por Nicholas Jenson de Veneza (HARRIS,
2009, p. 90).
Sendo assim, se em tempos remotos a prática da escrita era tafera atribuída a
poucos, já pelos fins do século XVII, a crescente prática literária e as demandas comerciais
criaram a necessidade de que professores passassem a se dedicar exclusivamente ao ensino da
escrita.
Diante da necessidade do comércio e da literatura, os escribas e calígrafos
passaram a perseguir uma escrita que fosse de fácil leitura e de execução rápida, surgindo,
assim, a escrita copperplate3 derivada da escrita itálica, tornando-se a primeira a ter todas as
letras de uma palavra ligadas.
A importância da escrita copperplate reside em ter sido ela a escrita escolar em
vários países e fonte inspiradora de muitos calígrafos ao desenvolverem os seus sistemas de
escrita, sobrevivendo, até os dias atuais, sua característica mais particular e de relevante
importância para o exame de manuscritos, diferenciando-a da escrita sincopada, qual seja: a
ligação entre caracteres.
A vida longa e a importância dessa escrita é mencionada por Harris (2009, p.
103), conforme segue:
3
“Em 1574, um manual de instrução para a escrita itálica foi impresso a partir de um texto que foi
gravado em folha de cobre com um instrumento pontudo, conhecido como buril. A escrita desenvolvida por este
método de gravação, combinada com uma pena muito estreita e uma letra inclinada, que os escribas começaram
a favorecer, levou à emergência de uma nova escrita: a Copperplate” (HARRIS, 2009, p. 102).
9
No século 19, a Copperplate era a escrita escolar padrão da Europa e
dos Estados Unidos e os estudantes eram avaliados igualmente pela
sua escrita e pelo conteúdo de seus trabalhos. Esta ênfase na técnica
prevaleceu durante o século 20, quando a pena da Copperplate foi
usurpada pela caneta esferográfica, pela datilografia e pelo
processador de texto.

II.5 – GRAFOSCOPIA NA ATUALIDADE


Um dos grandes desafios da grafoscopia está em sua aceitação como uma
disciplina científica. Muitos estudiosos da área têm se empenhado em definir parâmetros
objetivos que possam lhe servir de embasamento teórico. Sabe-se que disciplinas
fundamentadas no método científico caracterizam-se por procurar constantemente a
objetividade por meio da ordenação de seus conhecimentos de forma lógica e sistemática.
Ademais, a aceitação e o consenso entre os pares quanto aos princípios básicos, leis e teorias
são uma premissa básica para qualquer ciência.
O FBI (Federal Bereau of Investigation) define, em seu handbook, que o
exame e a comparação de manuscritos podem determinar a origem ou a autenticidade de
lançamentos questionados, embora nem todos os grafismos possam ser identificados ou
relacionados a um escritor específico. O handbook esclarece que características como idade,
sexo e personalidade não podem ser determinadas pelo exame grafoscópico.
Considerando que a Grafoscopia, conforme conceito da seção anterior, trata do
exame de manuscritos com o objetivo de identificar pessoas, seria esta área da
Documentoscopia um tipo de identificação biométrica?
Considerando que a identificação ou a autenticação biométrica seria a
identificação automática ou a verificação da identidade de um indivíduo baseada em
características fisiológicas ou comportamentais, a resposta seria não. Porém, observa-se nos
últimos tempos uma grande aproximação entre a pesquisa nessa área tecnológica, com o
desenvolvimento de sistemas computacionais específicos para a identificação de manuscritos,
e a Grafoscopia. A Figura 1 a seguir ilustra um tablet Wacom Intuos2 utilizados para coleta de
manuscritos.

10
Figura 1 – Tablet Wacom Intuos2 utilizado
para a coleta de manuscritos. Obtido no sítio do
Center for Biometrics and Security Research
disponível no endereço www.cbsr.ia.ac.cn.

Nesse sentido, os manuscritos seriam uma característica biométrica


comportamental (ativa – muito variável), assim como a voz, o modo de andar, de teclar, e de
movimentar os lábios. Em contraste com características biométricas fisiológicas (passivas –
mais estáveis), como, por exemplo, as impressões digitais, a íris, a retina, a face e a mão.
Ainda com relação aos avanços na área da informática, há discussões
acalouradas sobre o futuro da escrita, e, nesse contexto, insere-se a grafoscopia, em um
mundo cada vez mais digital, com uma transição dos lançamentos manuscritos para a escrita
virtual. Diante desse quadro, poderá haver uma diminuição da importância da análise
grafoscópica?

11
CAPÍTULO III – OS FUNDAMENTOS DA ESCRITA NA
IDENTIFICAÇÃO DE PESSOAS
Escrever é uma atividade motora consciente que utiliza alguns materiais para
sua execução (como, por exemplo, papel e caneta). É também uma atividade física realizada
no espaço tridimensional, a qual requer habilidades linguísticas4 e cognitivas5, e que se torna
gradualmente automatizada inserindo-se no conjunto de comportamentos subconscientes da
pessoa.
A escrita, por sua vez, é o produto desse padrão comportamental adquirido,
que depende, inicialmente, da intenção do escritor e que sofre diversas influências
situacionais. É, portanto, o resultado material desse complexo comportamento
psicofisiológico que se materializa na forma de um traçado de tinta depositado sobre o papel
(FRANKE, 2005).
O movimento natural que produz a escrita é contínuo e não uma sequência de
traços interrompidos como se poderia imaginar. Existem aparentes interrupções desse fluxo
contínuo do movimento entre as letras ou entre as palavras (comumente denominadas de
momentos gráficos, quando são identificadas no interior de uma palavra), mas na realidade a
mão continua movimentando a caneta na direção estabelecida pela memória motora, embora o
traço não fique claramente registrado no papel.
Os exames de confronto grafoscópico baseiam-se no princípio de que a escrita,
como fenômeno psicomotor, é individual e possui um conjunto de características passíveis de
serem observadas. Desse princípio deduz-se que duas pessoas diferentes não podem escrever
da mesma maneira, sendo, portanto, potencialmente possível identificar a autoria ou
autenticidade de um manuscrito comparando-o com um padrão.
No início, na fase de aprendizagem, o ato de escrever é consciente e
deliberado, etapa em que o indivíduo concentra sua atenção no movimento da escrita,
copiando um modelo caligráfico, repetidas vezes, até que seu cérebro assimile todos os
movimentos necessários para execução de cada uma das letras e das ligações entre elas.
Essa é a fase em que os primeiros hábitos gráficos vão se estabelecendo até
que o indivíduo não mais necessite dos modelos de caligrafia. Após essa etapa, com a prática,

4
Linguística: a ciência da linguagem. O estudo da linguagem, da gramática das diferentes línguas, de
sua história, bem como da aplicação dos resultados obtidos na solução de problemas práticos (AURÉLIO).
5
Relativo à cognição, ou ao conhecimento. Aquisição de um conhecimento. Percepção. O conjunto dos
processos mentais usados no pensamento, na percepção, na classificação, reconhecimento, etc. (AURÉLIO).
12
os movimentos vão se tornando cada vez mais automáticos e a atenção volta-se para o
conteúdo do que se escreve, ficando em segundo plano o movimento do instrumento escritor.
Os hábitos são consolidados ou alterados na medida em que o gesto gráfico
amadurece ao longo do tempo e na proporção em que aumenta a habilidade do escritor. O
aspecto final que os grafismos assumem é, portanto, uma combinação entre os padrões
caligráficos utilizados e as características que fogem a esses padrões, as quais são
incorporadas como consequência das peculiaridades da idiossincrasia de cada indivíduo,
convertendo-se em hábitos por força do continuado exercício da escrita, tornando esta última
única.
Tais características, que possibilitam a diferenciação entre manuscritos de
pessoas diferentes, bem como a verificação de unidade de punho entre grafismos de uma
mesma pessoa, são chamadas de elementos identificadores ou discriminadores da escrita.
Huber e Headrick (1999) definem os elementos discriminadores, ou
identificadores da escrita, como sendo elementos da escrita, relativamente discretos, que
variam, de maneira observável ou mensurável, conforme seu autor, contribuindo de forma
confiável para a identificação de escritas advindas de pessoas diferentes ou originárias de um
mesmo indivíduo.
Essa definição é muito interessante, pois realça questões fundamentais para os
exames grafoscópicos. Primeiro, a possibilidade de se observar ou mensurar os distintos
elementos da grafia e, segundo, a confiabilidade das avaliações.
Apesar de ainda não haver um pleno convencimento do ponto de vista
científico, é razoável pensar que o gesto gráfico, originado por um processo complexo de
impulsos nervosos e movimentos musculares, contém em si especificidades que o torna
individual. Ademais, a experiência ao longo dos anos na área da grafoscopia tem corroborado
com esta assertiva.
Essas peculiaridades se fazem presentes no gráfico desenhado sobre o suporte
através de seus vestígios, os quais devem ser observáveis ou mensuráveis para atender à
finalidade das técnicas grafoscópicas. Por outra parte devem proporcionar a confiabilidade
necessária a fim de formar a convicção do perito. Neste ponto, cabe ao técnico avaliar o peso
que cada elemento verificado terá para a formação de sua conclusão.

13
III.1 – AS LEIS DA ESCRITA DE SOLANGE PELLAT
Em países de língua latina, a grafoscopia reverencia a obra do francês Edmond
Solange Pellat, que formulou as chamadas “Leis da Escrita”. Embora Pellat fosse um
grafólogo6, seus ensinamentos são muito difundidos entre os Examinadores Forenses de
Documentos (EFDs) latino-americanos, justificando assim uma atenção especial sobre eles.
Em sua obra, Les Lois de L’écriture (1927), Pellat apresenta quatro leis fundamentais,
denominadas “as primeiras leis da escrita”, e antes delas um princípio inicial, que, conforme o
autor “é conhecido por todos”.
Princípio inicial: as leis da escrita são independentes dos alfabetos
empregados.
Ou seja, elas são válidas tanto no mundo ocidental como em qualquer país do
oriente, independentemente do tipo de alfabeto (sistema de escrita) empregado. Em outras
palavras, quem escreve está sujeito às leis da escrita, independentemente do idioma ou
alfabeto utilizado.
Primeira lei: o gesto gráfico está sob a influência imediata do cérebro. Sua
forma não é modificada pelo órgão escritor se este funciona normalmente e se encontra
suficientemente adaptado à sua função.
De fato, o verdadeiro órgão escritor é o cérebro. Mão, dedos, braços (e, por
vezes, pés, boca) são instrumentos controlados pelo cérebro para executar a tarefa de escrever,
mas as ordens, tanto em relação ao conteúdo quanto à forma da escrita, dependem do cérebro.
A expressão “suficientemente adaptado” significa que se alguém
repentinamente resolve escrever com a outra mão, por exemplo, certamente enfrentará
dificuldades, mas tenderá a evoluir em habilidade e, possivelmente, depois de muito tempo e
esforço, sua escrita se tornará semelhante ao que era originalmente. Assim, embora o cérebro
seja o órgão escritor, o uso de um membro que não está “suficientemente adaptado” ao ato de
escrever pode gerar várias alterações na escrita produzida, muitas vezes dificultando ou
impossibilitando o reconhecimento de sua autoria.
Em suma, essa lei regula a subordinação do gesto gráfico ao cérebro.
Segunda lei: Quando se escreve, o “eu” está em ação, mas o sentimento quase
inconsciente de que o “eu” age, passa por alternâncias de vigor e enfraquecimento. Ele está

6
A grafologia estuda a escrita com o propósito de identificar traços psicológicos no comportamento do
escritor, ou seja, estudar a sua personalidade. Apesar de ter propósito completamente diferente, a grafoscopia
considera muitas características gráficas que também são objeto de análises grafológicas e, em parte, deve sua
origem ao trabalho dos grafólogos.
14
em seu máximo de intensidade onde há um esforço a fazer, i.e., nos inícios, e em seu mínimo
onde o movimento escritural é facilitado pelo impulso adquirido, isto é, nas terminações.
A escrita não é uma ação totalmente inconsciente, pois sofre certa influência da
consciência (o “eu”). Esta influência pode ser maior ou menor, dependendo das dificuldades
enfrentadas pelo escritor. Um instrumento (caneta) em boas condições, o conhecimento da
ortografia da palavra a ser produzida, a habituação com o ato de escrever, entre outros fatores,
possibilitam uma ação mais espontânea e inconsciente.
Terceira lei: Não se pode modificar voluntariamente em um dado momento
sua escrita natural sem registrar no seu traçado a marca do esforço que foi feito para obter a
modificação.
Ao tentar modificar a própria escrita, o escritor realiza um esforço cujas marcas
restaram presentes no traçado produzido na forma de paradas anormais, tremores e lentidão.
Quarta lei: O escritor que age em circunstâncias em que o ato de escrever é
particularmente difícil traça instintivamente outras formas de letras que lhe são mais
costumeiras, ou letras de formato mais simples, de um esquema fácil de ser construído.
A pessoa que escreve em condições adversas (um texto muito longo, com
extrema rapidez, em posição inadequada, com a mão enfaixada, etc.) tende a simplificar sua
escrita ou a usar um modelo mais simples, caso domine mais de um. Essa lei preside a
simplificação do gesto gráfico – lei do menor esforço.
Essas leis foram formuladas por um grafólogo, com base em observações e
experiências realizadas em suas atividades profissionais, e precisam ser aplicadas com alguma
cautela na grafoscopia. Ainda que estejam essencialmente corretas, elas não traduzem toda a
realizade de uma análise grafoscópica. Além disso, é importante lembrar que grafólogos em
geral trabalham com um grande volume de manuscritos produzidos por seus pacientes.
Examinadores Forenses de Documentos - EFDs por vezes são questionados a respeito de
alguns poucos traços.

15
III.2 – PREMISSAS E COROLÁRIO RELACIONADOS À IDENTIFICAÇÃO DA
ESCRITA
Para Huber e Headrick, o que possibilita a identificação de manuscritos são
duas premissas7 ou princípios8 e um corolário9, as quais constituem a base do processo de
identificação.
Um dos méritos do trabalho de Huber e Headrick está em revisar e consolidar
de forma sistemática, metódica e organizada os princípios teóricos da grafoscopia, além de
apresentar uma quantidade imensa de dados experimentais relacionados à área e que foram
publicados no decorrer do século XX, os quais servem para fundamentar as afirmações
teóricas por eles expressas.
A primeira premissa é habituação10. Pela repetição frequente dos mais
variados atos as pessoas adquirem seus hábitos, entre os quais a escrita. Essa pode ser
considerada uma coleção de hábitos hierarquizados em pelo menos três níveis: o nível das
letras, o das palavras e o das frases, que se caracterizam por um controle crescente dos
processos mentais sobre os musculares. Quanto mais complexo o grafismo (considerado como
unidade), maior a prevalência dos processos de pensamento sobre a ação de escrever.
Os hábitos de escrever não são instintivos, nem hereditários, mas são processos
complexos e que se desenvolvem gradualmente. O ato de escrever é um comportamento
neuromuscular que se desenvolve como uma habilidade perceptual motora adquirida, a qual
envolve e integra estágios sucessivos de complexidade dos procedimentos de aprendizagem.
Nesse sentido, palavras curtas, de ocorrência frequente e que pouco contribuem
para a formação do sentido dos textos, tais como artigos, conjunções, preposições e pronomes
apresentam menor grau de consciência em sua execução e, consequentemente, maior grau de
individualidade. Para pessoas habituadas a escrever, tais palavras podem ser consideradas
símbolos, pois não são colocadas no papel como uma sucessão de letras, mas são executadas
como uma unidade, o que permite entender melhor o raciocínio da hierarquia e hábitos
expostos acima.

7
Ponto ou ideia de que se parte para armar um raciocínio (HOUAISS); fato ou princípio que serve de
base à conclusão de um raciocínio (AURÉLIO).
8
Proposição lógica fundamental sobre a qual se apoia o raciocínio (HOUAISS).
9
Proposição que deriva, em um encadeamento dedutivo, de uma asserção precedente, produzindo um
acréscimo de conhecimento por meio da explicação de aspectos que, no enunciado anterior, se mantinham
latentes ou obscuros; verdade que decorre de outra, que é sua consequência necessária ou continuação natural
(HOUAISS).
10
Ato ou efeito de habituar-se: fazer adquirir ou adquirir (uma maneira de agir, sentir, pensar ou uma
aptidão); acostumar (-se); exercitar (-se); familiarizar (-se) (HOUAISS). É o desenvolvimento de um padrão fixo
de respostas a uma determinada situação, o qual se torna rápido e automático.
16
Por isso, nos exames grafoscópicos, letras, combinações de letras, palavras ou
frases devem ser consideradas, analisadas e comparadas como conjuntos unitários e não como
uma sucessão de letras individuais. Na escrita cada letra pode influenciar na formação e na
estrutura das letras que a antecedem e das que a sucedem. Ou seja, o aspecto das letras pode
variar de acordo com a posição que elas ocupam na escrita. Conforme ilustrado na Figura 2 a
seguir.

Figura 2 – Os detalhes ilustram as diferentes configurações de construção do alógrafo “d”


presentes numa mesma escrita. Observa-se a inversão do movimento que forma o traço inicial
do corpo da letra “d”: quando ela faz parte da palavra “Alvarinda” o ataque é feito à direita e
no outro caso, à esquerda.

A segunda premissa é a individualidade ou a heterogeneidade da escrita.


Acredita-se que a escrita seja única e que isso possibilite identificar um indivíduo, desde que a
quantidade de grafismos seja suficiente para registrar seus hábitos individuais.
O corolário que deriva do princípio da heterogeneidade da escrita, sendo sua
consequência necessária ou continuação natural, é a capacidade discriminativa do processo
de identificação.
A confiabilidade ou a capacidade discriminativa do processo de identificação
está relacionada com a precisão ou exatidão das avaliações e dos julgamentos que o perito faz
das amostras de escritas de diferentes pessoas, incluindo aquelas que são simulações,
independentemente do processo de imitação empregado, bem como aquelas que são
distorcidas.

17
III.3 – DESENVOLVIMENTO DOS GRAFISMOS
Os desenvolvimentos dos grafismos normais compreendem três grandes
períodos:
- Evolução;
- Maturidade; e
- Involução gráfica.
Assim, observa-se que a escrita não se mantém imutável durante toda a vida da
pessoa.
“Os tributos componentes da personalidade humana, afirma Del Picchia, se
transformam constantemente, e a escrita, uma das formas de exteriorização dessa
personalidade, acompanha essas variações”.
Na fase da evolução, distinguem-se dois tipos de escritas, a saber:
Escrita Canhestra ou Rústica – A escrita é leta e indecisa, haja vista
que o escritor não domina a execução dos modelos caligráficos
(figura 3).
TIPOS
Escrita Primária ou Escolar – A escrita é vagarosa e as formas
reproduzem os modelos caligráficos, com alguma automação (figura
4).

Figura 3 – Lançamento manuscrito de indivíduo com escrita canhestra.

Figura 4 – Lançamento manuscrito de indivíduo com escrita primária.

A fase da maturidade só é adquirida quando o indivíduo atinge o automatismo


da escrita, de modo que os gestos gráficos se sucedem com naturalidade, apresentando
personalização e velocidade (figura 5).

18
Figura 5 – Lançamento de indivíduo com escrita automatizada, representando a fase da
maturidade.

Por outro lado, na fase senil, as características da escrita resultam da


diminuição natural das energias individuais, o que perturba os movimentos involuntários dos
gestos gráficos e provoca o fenômeno da “regressão”. Há a ocorrência de tremores,
diminuição do calibre, morosidade e desalinhamento dos grafismos (figura 6).

Figura 6 – Lançamento de indivíduo com escrita senil.

III.4 – CARACTERÍSTICAS DE CLASSE E CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS


De um modo geral, podemos definir o termo características de classe como
um conjunto de qualidades que são compartilhadas por um grupo de indivíduos, podendo
inclusive ser usadas para identificar os membros desse grupo como pertencentes a ele, mas
não para distingui-los entre si. Já as características individuais são as qualidades ou
atributos pertencentes a um único indivíduo e que, por essa razão, permitem diferenciá-lo de
todos os demais, independentemente de pertencer ou não a algum grupo.
Na escrita, existem características que são comuns a muitos escritores, tendo
origem nos sistemas caligráficos adotados nas escolas – as características de classe. Em
contrapartida, outras são praticamente únicas e, por conseguinte, de grande valor para a
individualização do manuscrito questionado – as características individuais

19
Em geral, o processo de alfabetização consiste na realização de exercícios de
repetição de um conjunto padronizado de letras modelos, conforme preconizado por uma
cartilha de alfabetização, ver a Figura 7 a seguir.

Figura 7 – Traçados típicos da Cursiva Escolar e do Bastão Escolar (1950 – 2011). Fonte:
“O Ensino da Escrita Manual no Brasil publicado em 2010 por Fetter e colaboradores”.

Assim, tanto o formato quanto o modo de produção das letras, sílabas e


palavras são ensinados igualmente a todas as pessoas que forem alfabetizadas por uma
determinada cartilha e, por essa razão, espera-se que todas elas, em tese, desenvolvam escritas
muito semelhantes entre si, embora, na realidade, isso ocorra apenas parcialmente.
As características de classe (ou de sistema), também conhecidas por
“elementos de classe” são aqueles aspectos, elementos ou qualidades da escrita que colocam a
pessoa dentro de um grupo de escritores, ou que dão a um grafismo a identidade em um
grupo. São características comuns a um grupo ou a uma classe específica de escritores. A
quantidade de escritores em uma dada classe pode variar desde um pequeno número de
pessoas, como, por exemplo, um grupo de dois escritores, a populações continentais. No
conceito tradicional, características de classe dentro de um grafismo são aqueles hábitos ou
elementos que emanam de um método de escrita publicado ou prescrito, que é ensinado no
processo de aprendizagem (veja a Figura 7 acima). Mas pode também se originar de imitação
familiar (filhos podem copiar a escrita dos pais ou irmãos), de imitação de amigos ou de
hábitos relacionados a uma profissão, como, por exemplo, arquiteto ou desenhista (HUBER;
HEADRICK, 1999).
Já as características individuais (ou individualizadoras) são definidas com
sendo aqueles elementos discriminatórios que servem para diferenciar entre membros de um
grupo. Ordinariamente, características individuais são entendidas como aqueles aspectos
particulares do grafismo de um escritor específico. As características individuais ocorrem
20
quando uma letra foge do padrão normal estabelecido e são elas que constituem a base de toda
a identificação. Estas características, se consideradas em conjunto, dão à escrita o caráter de
única.
A individualidade é mais frequentemente exibida na escrita de letras que
apresentam forma mais complexa. Algumas letras requerem complexos movimentos de
execução, que muitos acham difícil de fazer, e como resultado usam letras de livros de
caligrafia, ou mesmo de imprensa, promovendo algumas modificações na estrutura, as quais,
sutis ou pronunciadas, são as características individuais do escritor, como exemplificado na
Figura 8 (HUBER; HEADRICK, 1999).

Figura 8 – Característica – individual da escrita – a letra “g” estilizada não é aprendida nos
livros de cópia, mas provem da imitação do caractere tipográfico “g” ().

Nesta discussão devemos levar em conta que, se por um lado, o ato de


escrever, automatizado pela prática, consolida hábitos característicos, os quais se repetem
com certa consistência ao longo dos lançamentos gráficos, por outro, a escrita de uma pessoa
sempre apresenta variações em sua execução, tanto entre manuscritos de épocas diferentes
como entre lançamentos contemporâneos, alterando em maior ou menor grau os elementos
gráficos a serem analisados. É oportuno ressaltar que dois manuscritos jamais podem ser
idênticos entre si, pois, caso contrário, um deles ou ambos são forjados (decalque ou
transplante). Estabelecer o espectro de variações possíveis dos elementos discriminadores do
grafismo de um indivíduo (variação natural) é outro desafio a ser resolvido quando se
pretende determinar a autenticidade/autoria de um lançamento manuscrito.

21
III.5 – ELEMENTOS DISCRIMINADORES DA ESCRITA
Neste momento, torna-se necessário abordar uma questão prática: quais são as
características discriminadoras da escrita? Os elementos discriminadores estão sempre
presentes em qualquer tipo de manuscrito?
As características consideradas para identificar ou eliminar uma autoria gráfica
são muitas, e algumas delas de difícil conceituação. Além disso, não há um consenso sobre
suas nomenclaturas e definições, havendo várias informações aparentemente desarmônicas na
literatura mundial.
Hubber e Headrick (1999, p.90) empregam o termo elementos discriminadores
definidos como “[...] características da escrita relativamente independentes entre si, que
variam conforme o seu autor e contribuem para a distinção de escritas produzidas por
diferentes pessoas ou evidenciam as semelhanças entre escritas de mesma autoria”.
Do ponto de vista do fenômeno físico da produção da escrita sobre o suporte,
podem-se utilizar os termos dinâmicos e estáticos para classificar os elementos
discriminadores. Os dinâmicos seriam aqueles, por definição, diretamente relacionados com
os diferentes aspectos e variáveis do movimento que dá origem ao sinal gráfico. Os elementos
estáticos, por outro lado, são analisados independentemente das variáveis dinâmicas do
movimento, embora sejam produtos delas.
Se por um lado qualquer classificação dos elementos discriminadores possa ser
questionável e arbitrária, por outro ela pode ser vista como tentativa de tornar o estudo da
escrita mais padronizado. Assim, sob essa ótica do fenômeno físico, podemos
alternativamente agrupar os elementos discriminadores da seguinte forma:

22
A seguir analisaremos cada elemento discriminador, a fim de compreender sua
definição e os meios para avalia-los em um confronto grafoscópico.

Elementos Dinâmicos da Escrita


1. Grafocinética
É o estudo da sequência e natureza dos movimentos automáticos comandados
pelo cérebro que dão origem aos traços, letras e vocábulos. A gênese gráfica, como também é
conhecida, na verdade, é um elemento discriminador que reúne em si, de forma intrínseca,
todos os demais elementos discriminadores, os quais, no estudo da grafocinética, são
analisados em conjunto. É o movimento gráfico a causa de todas as características de uma
escrita. Sendo assim, a gênese seria a grande síntese e, portanto, fundamental para a

23
identificação do punho escritor, uma vez que constitui um hábito normalmente estável e
arraigado da escrita.
Cada uma das letras de um alfabeto pode apresentar várias formas e ademais
vários esquemas de construção nos quais estão estabelecidas as sequências de movimentos
que dão origem aos símbolos gráficos sobre o papel (talvez por isso, na literatura de língua
inglesa a expressão “método de construção” seja comumente utilizada para se referir a esse
elemento da escrita). O estudo destes esquemas construtivos revela a grafocinética de um
lançamento manuscrito, aspecto que costuma ser muito individual e, por conseguinte, de
grande valor para as análises grafoscópicas.
Para analisar de forma mais aprofundada este tema, vamos inicialmente estudar
alguns conceitos da linguística que podem ajudar na adoção de uma terminologia mais clara e
precisa.
A letra é a unidade fundamental das palavras. É cada um dos caracteres do
alfabeto. No caso dos alfabetos fonéticos, as letras estão associadas a sons específicos que em
seu conjunto representam os sons da linguagem falada.
Cada uma das letras está associada a um grafema11, que em um sentido
abstrato, reúne em si todas as possibilidades de representação gráfica da letra correspondente.
Cada uma das formas possíveis com as quais um grafema pode ser
representado corresponde a um alógrafo12 e a variedade de alógrafos está definida pelos
padrões de caligrafia adotados nas escolas de cada região e país. A letra “a”, por exemplo,
pode ser graficamente representada em sua forma cursiva, desconectada (sincopada),
maiúscula ou minúscula, sendo que em cada um destes casos haverá um esquema construtivo
diferente que obedece a um padrão estabelecido pelos distintos sistemas caligráficos. A
constituição dos alógrafos deriva do grama que é o traço executado sem inversão do
movimento. Alguns alógrafos são formados por apenas um grama (a letra “c”) enquanto
outros são constituídos por dois ou mais gramas, a exemplo das letras “d” (dois gramas) e
“m” (três gramas).
Por fim a letra ganha seu aspecto final sobre o papel, o qual traz consigo, além
das características do alógrafo escolhido, as peculiaridades de execução de cada punho

11
Grafema é a unidade de um sistema de escrita que, na escrita alfabética, corresponde às letras (e
também a outros sinais distintivos, como hífen, o til, sinais de pontuação, os números etc.), e, na escrita
ideográfica, corresponde aos ideogramas (HOUAISS, 2010).
12
Alógrafo é qualquer uma das representações escritas ou formas com que se apresenta um grafema,
considerado este como elemento abstrato (por exemplo: as maiúsculas, a minúscula, a letra manuscrita e a de
imprensa são alógrafos de um mesmo grafema) (HOUAISS, 2010).
24
escritor como resultado dos hábitos incorporados ao gesto da escrita. Este é o grafe13, o
estágio final.
Em decorrência do exposto, percebem-se três níveis distintos, do mais abstrato
ao mais concreto, pelos quais a ação da escrita deve passar até que o símbolo gráfico final seja
cristalizado sobre o papel. Veja o esquema da Figura 9 abaixo.

Figura 9 – Três níveis distintos, do mais abstrato ao mais concreto, pelos quais a ação de
escrever deve passar até que o símbolo gráfico final seja depositado sobre o papel.

Assim, os hábitos gráficos em seu conjunto formam a individualidade da


escrita. No entanto existe uma variação natural cada vez que um dado lançamento é executado
sem que isso implique na perda das características fundamentais.
Para a análise grafocinética, interessa o último estágio, sem que com isso não
seja levado em consideração os estágios anteriores. Na verdade, no que se refere ao alógrafo,
pode-se concluir que a escolha de um ou de outro modelo gráfico irá definir uma série de
características comuns a vários escritores. Tais características comuns são as características de
classe, anteriormente mencionadas. Essas características, embora não se prestem sozinhas à
identificação do punho autor, podem ser úteis na análise preliminar dos grafismos e em alguns
casos de exclusão, já que cada manuscrito questionado poderá, com base nelas, ser
classificado em um ou em outro grupo determinado.

13
Grafe é o menor segmento discreto numa sequência escrita. Ex.: t, T e t são grafes em sequências
escritas em português (AURÉLIO, 2004).
25
Investigar o esquema construtivo do grafe que define a sequência e natureza
dos movimentos do instrumento escritor é o objetivo do estudo da grafocinética, no qual
devem ser levados em consideração os aspectos relacionados ao alógrafo escolhido e as
características que foram acrescentadas, modificadas ou subtraídas de seu esquema original
por força dos hábitos individuais do autor. Vale ressaltar que estas últimas são de suma
importância para a comparação grafoscópica devido ao seu caráter discriminatório.
No estudo da grafocinética é imprescindível a determinação da direção do
traçado para conhecer de forma inequívoca o movimento que deu origem ao lançamento sob
investigação. Para tal finalidade é necessário se determinar o ponto de ataque e remate do
traço. Estes elementos só podem ser definidos de forma segura analisando-se em detalhe as
características do traço. Esta é a razão pela qual, geralmente, não se consegue definir com
total precisão o cinetismo gráfico de um manuscrito quando o mesmo é apresentado na forma
de cópia reprográfica. Na Figura 10 a seguir, observa-se no número 1 o movimento gráfico da
letra “t” que diverge do movimento da mesma letra na palavra “atender”, número 2. Abaixo
verifica-se o mesmo movimento e formação da letra “b”, números 3 e 4.

Figura 10 – Palavras exibindo alógrafos com construções semelhantes e divergentes.

Pode ser muito útil também na determinação do sentido do movimento a


análise das esquírolas, das falhas em inícios de traços e das estrias que estão presentes na
maioria dos traços feitos com canetas esferográficas. A esquírola é caracterizada pelo
acúmulo de massa de tinta em pontos do traçado situados imediatamente após uma inversão
do sentido da direção (por exemplo, em laçadas ascendentes ocorrem à esquerda, no início do
traço descendente). Esse fenômeno decorre do excesso de tinta que se acumula na parte
externa da ponta da caneta esferográfica originado do movimento de rotação da esfera. Após a

26
esquírola é comum observar uma falha na deposição da tinta, pois a superfície da esfera fica
com pouca massa para ser transferida para o papel antes de um novo giro para o interior do
receptáculo ou soquete. Por sua vez, as estrias são falhas na deposição da tinta que ocorrem
ao longo da linha do traçado e aparecem na forma de raias ou riscas (raiamento ou
estriamento). As estrias são mais bem visualizadas nos grafes circulares e são sempre
centrífugas, indicando dessa forma o sentido do movimento. Já as falhas em inícios de
traços, que ocorrem pela ausência de tinta na superfície da esfera da caneta, indicam o sentido
em que os ataques foram produzidos.

2. Pressão
É a força exercida em sentido vertical sobre o instrumento gráfico durante a
produção da escrita, fazendo com que ele seja comprimido contra o suporte. Sua ação garante
o contato e a deposição de tinta no suporte, bem como produz alterações na superfície deste
último. A Figura 11 ilustra esquematicamente a força de pressão quando da execução da
escrita.

Figura 11 – A seta vermelha indica a pressão


exercida pelo instrumento escritor no suporte.

Esta pressão pode ser mensurada em termos absolutos ou relativos. A medição


absoluta da pressão só é possível no momento em que a escrita está sendo produzida, através
do monitoramento, por sensores, da força exercida. É viável, então, por este método se saber o
valor da força exercida por unidade de área em cada ponto do traçado. Valores relativos da

27
pressão podem ser obtidos comparando-se os gramas14, trechos de momentos gráficos ou
lançamentos manuscritos distintos, verificando assim as zonas, bem como escritas de maior
ou menor pressão. Tal comparação, embora com menor precisão, poderia ser levada a efeito
em uma análise posterior ao lançamento do manuscrito, através do exame de alguns vestígios
relacionados com a grandeza em estudo; são eles: deposição de tinta sobre suporte e a
profundidade do sulco no suporte.
A análise dessas evidências deve ser cuidadosa, pois elas não dependem
exclusivamente da pressão exercida no ato da escrita, mas também podem ser influenciadas
pela velocidade do movimento do punho, pelo suporte utilizado e pelas características e
condições de funcionamento do próprio instrumento escritor.
A profundidade do sulco das esferográficas é a característica mais importante
neste tipo de avaliação, já que é consequência direta da força exercida em sentido normal ao
suporte, não sofrendo efeito da velocidade do movimento. No entanto há que se levar em
consideração a interferência, no resultado final, da resistência do suporte à deformação.
Suportes diferentes terão comportamentos diferentes quando submetidos a mesma pressão.
A deposição de tinta sobre o papel é função especial do binômio pressão-
velocidade, não sendo, portanto, idônea para a valoração destas grandezas isoladamente. A
relação da deposição de tinta sobre o suporte com a pressão é diretamente proporcional,
enquanto que com a velocidade e inversamente proporcional; quanto mais pressão, mais
deposição de tinta, quanto mais velocidade, menos deposição de tinta. Este vestígio presta-se
melhor para a avaliação conjunta da pressão e velocidade, quando se pretende verificar a
intensidade com a qual essas grandezas variam ao longo de um grafado, podendo-se aferir o
dinamismo de uma escrita e em parte seu ritmo.

3. Velocidade gráfica
É a velocidade de deslocamento do instrumento escritor sobre o suporte, no
momento em que se está realizando o gesto gráfico. Experimentos comprovaram que a
velocidade do gesto gráfico sofre variações ao longo dos diversos traços que compõem o
manuscrito; não guardando, necessariamente, nenhuma proporção com as dimensões e formas
dos mesmos. Na verdade, não só a velocidade varia como também, e principalmente, a
aceleração imprimida pelo punho ao instrumento escritor é variável ao longo do traçado,

28
tendo em vista a ação das forças horizontais exercidas pelo punho, as quais variam de direção
e intensidade a depender do movimento a ser executado (veja Figura 12 abaixo).

Figura 12 – As setas vermelhas indicadas


com as letras “F” e “-F” indicam as foças
horizontais responsáveis pelo deslocamento
horizontal do instrumento escritor sobre o
suporte.

As variações de velocidades do gesto gráfico na elaboração de cada grama é


um elemento muito peculiar de cada indivíduo, sendo, portanto, potencialmente capaz de
individualizar a escrita. Trata-se de um fenômeno produzido inconscientemente em
decorrência do hábito, algo dificilmente reproduzido de forma fraudulenta.
Infelizmente, mensurar de forma precisa essa grandeza em um grafismo já
produzido, ao que parece, é um objetivo difícil de ser atingido pelas razões já expostas. Ainda
assim, esta grandeza, quando considerada qualitativamente, pode trazer informações valiosas
para o confronto grafoscópico.
Quanto mais veloz o ato de escrever, mais inconsciente é o movimento e,
portanto, mais espontâneo. Escritas velozes apresentam normalmente predominância de
formas angulosas e intensas alternâncias de direção que podem ser detectados na forma do
traçado. É importante neste caso verificar se o traço está firme e natural, sem a presença de
tremores e hesitações, o que levantaria a suspeita de falsidade. Por meio dessas observações
pode-se distinguir uma escrita mais veloz de uma menos veloz, uma escrita espontânea de
uma artificial e desenhada.

29
4. Dinamismo gráfico
É o efeito combinado das variáveis velocidade e pressão, conferindo uma
característica de maior ou menor aceleração e variação dos movimentos geradores dos
lançamentos gráficos. Os grafados podem ser mais ou menos dinâmicos.

Figura 13 – À esquerda observa-se uma escrita com menor dinamismo gráfico em contraste com
os manuscritos à direita mais dinâmicos.

A Figura 13 acima mostra duas escritas apresentando diferente dinamismo. A da


esquerda apresenta mais curvas e mudanças de direção mais suaves. A deposição de tinta é mais
uniforme e os movimentos mais estáveis. Na da direita verifica-se formas mais angulosas,
inclinação acentuada para a direita, mudanças acentuadas de direção, constantes variações na
deposição de tinta apresentando alternâncias entre regiões claras e escuras.

5. Ritmo gráfico
Ritmo gráfico pode ser entendido como a cadência com a qual os movimentos
musculares são executados de modo a produzir uma uniformidade e coerência das
características dos elementos gráficos no espaço (está relacionado com os movimentos ou
ritmos de contração e relaxamento muscular). Tais elementos podem consistir na variação de
pressão e velocidade do traçado, proporção entre gramas e letras, espaçamentos interliterais e
intervocabulares, alinhamento com a linha de base, etc., conferindo ao grafismo um aspecto
visual mais ou menos harmônico, passível de ser apreciado e de certa forma mensurado. Sob
esta ótica o ritmo pode apresentar harmonia ou desarmonia de movimentos. As Figuras 14
(menor harmonia de ritmo) e 15 (maior harmonia de ritmo) a seguir ilustram grafismo
exibindo ritmos gráficos diferentes. A escrita da Figura 14 apresenta uma menor harmonia de
ritmo em comparação com aquela da Figura 15.

30
Figura 14 – Escrita apresentando menor harmonia de ritmo.

Figura 15 – Escrita apresentando maior harmonia de ritmo.

6. Grau de habilidade
Tem relação com o estágio evolutivo da escrita. Quanto mais inconsciente,
automático, veloz e complexo o gesto gráfico, mais hábil é considerado o punho escritor.

7. Ataque, remate e ligações


O ataque consiste na parte inicial do traço, enquanto que o remate, seu final. O
aspecto em que se apresentam estes pontos de início e término de cada um dos momentos
gráficos pode trazer consigo hábitos passíveis de avaliação, que contribuam para a
identificação do punho escritor. Na análise dos ataques e remates, o examinador deve-se
atentar ao formato, à posição e ao direcionamento. Abaixo, alguns exemplos ilustrativos de
ataques e remates (figura 16).

31
Figura 16 – As setas vermelhas ilustram os ataques e remates. Destaca-se a forma
peculiar do remate da letra “a”.

A ligações representam os traços de conexão entre as letras dos vocábulos


dentro do momento gráfico. As ligações entre as letras podem ocorrer de diferentes formas e
apresentar peculiaridades características do punho autor. O posicionamento destes traços de
ligação em relação às letras por eles conectadas, bem como o movimento para produzi-los
pode variar a depender dos grafes envolvidos e de sua posição relativa no momento gráfico
sob análise. Há também casos em que gramas de letras são suprimidos pelas conexões. A
Figura 17 abaixo ilustra traços de ligação.

Figura 17 – As setas vermelhas indicam traços de ligação interliterais.

Elementos Estáticos da Escrita


1. Forma gráfica
É o aspecto exterior da letra ou do grama. Sua aparência ou aspecto pictórico.
A forma gráfica é consequência da grafocinética. Este elemento está intimamente relacionado
com o alógrafo empregado e determina a aparência geral da escrita. É importante ressaltar que
leves variações nos traços das letras não constituem variações da forma, pois, como já foi
32
mencionado, devido a própria natureza da escrita, nenhum lançamento gráfico é exatamente
igual ao outro, sempre apresenta variações. No entanto, tais variações não interferem no
esquema geral da letra, que permanece o mesmo.
A forma gráfica é o elemento mais evidente e o que mais chama a atenção das
pessoas e dos falsários que tentam imitar a forma da escrita em suas fraudes. Letras e traços
de formas diferentes, em geral, terão gêneses diferentes, porém letras e traços de formas
iguais não terão necessariamente gêneses iguais. Duas letras de formas iguais podem diferir
no que diz respeito às direções dos traços que as compõem. Boas falsificações podem iludir
no que diz respeito ao seu aspecto pictórico, porém geralmente são detectadas quando da
análise grafocinética. A Figura 18 a seguir ilustra o alógrafo “A” apresentando diferentes
formas.

Figura 18 – Letra “A” grafada de diversas formas.

2. Dimensões
No que tange ao aspecto dimensional das letras que compõem um texto
manuscrito, variadas medidas podem ser levantadas para efeito de comparação. Estas medidas
podem ser absolutas ou relativas. No primeiro caso nos interessa simplesmente avaliar a
grandeza dos gramas e letras de um manuscrito em comparação com outro. No segundo, o
termo de comparação é a proporcionalidade entre os gramas de uma mesma letra ou entre as
letras dos vocábulos ou entre vocábulos diferentes.
Estas medidas podem ser verticais ou horizontais. Quando verticais, toma-se
como referência um eixo ortogonal à linha de base da escrita. Quando horizontais, um eixo
paralelo a linha de base. A seguir são definidos alguns elementos característicos de natureza
dimensional:

2.1. Calibre
Corresponde à altura das minúsculas não passantes. Ver a Figura 19 a seguir.

33
Figura 19 – Medição do calibre da escrita

2.2. Desenvolvimento lateral


Corresponde à extensão dos traços horizontais dentro e entre as letras que
compõem o vocábulo (figura 20).

Figura 20 – Medição do desenvolvimento lateral da escrita

2.3. Proporcionalidade gramática


Trata-se da relação entre o tamanho dos gramas de uma letra ou de letras entre
si. Maiúsculas em relação com as minúsculas. A altura das passantes superiores em relação à
das não passantes. A extensão das passantes inferiores em relação às não passantes. A relação
entre medidas verticais e horizontais de uma mesma letra e assim sucessivamente. Ver a
Figura 21 a seguir.

Figura 21 – Medições de proprocionalidade gramática. Na primeira imagem está


ilutrada a relação de altura entre as letras, enquanto que nas duas seguintes
comparam-se as dimensões entre dois gramas de uma mesma letra.

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Uma grande quantidade de medições relativas e absolutas pode ser realizada
nos gramas e letras de um texto manuscritos. Muitas vezes essas proporções revelam
peculiaridades da escrita do indivíduo que são de grande valor para a grafoscopia.
Por meio de recursos computacionais torna-se viável a investigação minuciosa
de todas estas relações de proporcionalidade e a associação a outros elementos
discriminadores mensuráveis que veremos mais adiante, tais como inclinação da escrita,
inclinação axial, alinhamento e espaçamento gráfico, buscando valores objetivos que de
alguma forma demonstrem não apenas qualitativamente, como também quantitativamente a
individualidade da escrita.

3. Valores angulares e curvilíneos


A escrita realiza-se em curvas ou ângulos, que podem ser assinalados e
medidos. A escrita pode ser mais curvilínea ou angulosa a depender da predominância de
curvas ou ângulos. A Figura 14 acima ilustra uma escrita com a predominância de valores
angulares e o texto da Figura 15 apresenta lançamentos gráficos mais arredondados.

4. Andamento gráfico
Segundo Del Picchia (2005), é o comportamento da escrita relativamente às
pausas procedidas, determinadas pelos levantamentos normais do instrumento gráfico. É,
portanto, o estudo e verificação dos momentos gráficos. Um momento gráfico é composto
pelo conjunto de gramas lançados de forma contínua sem que o instrumento escrevente perca
o contato com a superfície do suporte (figura 22). A quantidade e distribuição dos momentos
gráficos de um lançamento manuscrito definem seu andamento gráfico.
Existem múltiplas razões para ocorrerem estas interrupções na progressão do
traçado durante a grafia. Podem acontecer devido ao estilo de escrita do autor, podem estar
relacionadas à falta de habilidade motora da pessoa que escreve ou serem produtos do esforço
durante a imitação de uma grafia alheia. Trata-se de uma característica que pode apresentar
grande variação, mas, potencialmente, é uma informação de grande valia para as análises, pois
devido a sua sutileza, pode passar despercebida.

35
Figura 22 – A palavra “Atender” apresente três momentos
gráficos ilustrados pelas linhas vermelhas.

Observa-se que essas interrupções muitas vezes são aparentes, entretanto o


movimento natural que produz a escrita, em geral, é contínuo e não uma sequência de traços
interrompidos como às vezes pode parecer. As aparentes interrupções desse fluxo contínuo do
movimento entre as letras ou entre as palavras podem decorrer da ausência de contato
momentâneo entre a caneta e o papel, mas na realidade a mão continua conduzindo o
instrumento escritor na direção estabelecida pela memória motora, embora o traço não fique
claramente registrado no suporte.
Isso pode ser deduzido a partir da análise microscópica do traço quando a
caneta começa a se afastar suavemente do papel no remate de um grama e com o seu retorno
no início do grama seguinte (como um avião decolando, fazendo um vôo rasante e
aterrissando novamente – são as denominadas pontes aéreas). Mas a melhor forma de
demonstrar esse processo é com o uso de mesas digitalizadoras e programas computacionais
apropriados ao estudo da escrita.

5. Inclinação axial
É o ângulo de cada um dos eixos gramaticais em relação à linha de base da
letra (figura 23). A semelhança do que foi visto em itens anteriores, os ângulos dos eixos
gramaticais podem ser comparados entre si. Estas relações podem revelar hábitos gráficos
importantes. Podem ser também apreciados em conjunto, o que permite verificar a inclinação
global da escrita.
A inclinação da escrita costuma se tornar mais acentuada à medida que cresce a
velocidade de sua execução. Portanto é necessário discernir quando a diferença de inclinação
é decorrente do aumento da velocidade e quando representa uma divergência gráfica.

36
É importante salientar que um dos principais métodos de disfarce da própria
grafia é a inversão da inclinação da escrita, mais frequentemente da direita para esquerda. Tal
inversão pode provocar grandes alterações morfológicas nas letras, modificando
significativamente a aparência geral do manuscrito.

Figura 23 – Medição da inclinação axial da escrita.

6. Alinhamento gráfico
Este elemento avalia-se observando o alinhamento horizontal da escrita em
relação à linha de pauta, ou uma linha horizontal imaginária na ausência da primeira. O
manuscrito pode se apresentar descendente, ascendente, côncavo, convexo, com inclinações
variadas para cada vocábulo que o compõe.

7. Espaçamentos gráficos
Existem vários aspectos relacionados ao espaçamento gráfico que se tornam
hábitos individuais e, portanto, relevantes para o processo de identificação. Os espaçamentos
podem ser:
7.1. Interlineares - distância entre as linhas de um contexto (papel sem pauta);
7.2. Intervocabulares – distância entre as palavras;
7.3. Interliterais – distância entre as letras.

37
8. Arranjo do texto
Trata-se de um grupo de hábitos que são influenciados pelo senso de proporção
e instrução recebida pelo escritor. Tais hábitos se traduzem:

• Na forma como o texto é disposto ao longo da página, levando-se em


conta a dimensão e uniformidade das quatro margens.
• Espaços e paralelismo entre linhas.
• Recuos, espaços entre parágrafos, posições relativas entre os inícios e
terminações de linhas.
• Posicionamentos dos títulos, saudações, datas e assinaturas.
• Disposição e dimensões do endereço em um envelope

Nem todos os elementos do arranjo do texto estarão presentes em todos os


casos. O tipo de documento e a extensão do texto determinarão quais fatores poderão ser
considerados em um confronto.

9. Limitantes gramáticas
São pequenas linhas que delimitam as bases e topos dos gramas. Nas bases
estão as limitantes gramáticas inferiores; nos topos, as limitantes gramáticas superiores. Estas
linhas são traçadas a partir da base e do topo da primeira minúscula do vocábulo sob exame,
ligando-se as extremidades dos gramas e cortando-se as passantes.
O desenho das limitantes gramáticas realça vários elementos técnicos como a
proporcionalidade das minúsculas entre si, a ampliação ou redução de calibre de determinadas
letras, o comportamento dos gramas em relação à linha de pauta.
Na chamada escrita gladiolada, as limitantes superiores e inferiores fecham-se
progressivamente. Pode ser positiva, quando ocorre a diminuição do calibre à medida que o
autor escreve, e negativa, quando o calibre aumenta com a progressão da escrita.

10. Diacríticos15 e pontuação


Há situações em que os acentos e sinais de pontuação apresentam formas
particulares ou aparecem em posições específicas. Quando tais circunstâncias se apresentam

15
Sinal gráfico que serve para diferenciar letras ou palavras (ex.: os acentos, o til e a cedilha são
diacríticos).
38
de forma frequente, podem constituir-se em valiosos meios de identificação, especialmente se
forem sutis. Ver a Figura 24 a seguir.

Figura 24 – As setas vermelhas ilustram o pingo do “i” e os siais diacríticos


til e cedilha apresentando formas particulares que divergem do padrão
caligráfico.

11. Idiografismos
São elementos grafoscópicos que possuem aspecto muito particular, sendo
peculiar a cada escritor. Trata-se de um movimento habitual, não convencional e incomum,
que pode ocorrer na formação de um grama, na conexão entre letras, nos ataques e remates,
etc., variando em uma gama infinita de possibilidades.
A excepcionalidade dos idiografismos é extremamente relevante para a
individualização do gesto gráfico. Estes elementos, quando existentes, aliados às demais
características, permitem uma identificação segura.
Refletindo sobre os conceitos acima estabelecidos, conclui-se que nem sempre
a escrita apresentará elementos idiográficos e quando estes estiverem presentes em um
lançamento gráfico, demandará conhecimento técnico e certa experiência para poder
identificá-los. Portanto, é preciso cuidado para não confundir características de classe que são
pouco comuns, mas originadas de sistema caligráficos pouco usuais, com idiografismos, que
são considerados características individuais. Ver as Figuras 25.

Figura 25 – As setas vermelhas ilustram idiografismos da


letra “a”, nas sílabas “va” e “val”, observados nos
vocábulos “Carvalho” e “Durval”, ambos dos padrões
gráficos de uma mesma pessoa.

39
Figura 25 – Na palavra “Gonçalves” grafada duas vezes pela
mesma pessoa. A linha em vermelho na fotografia do lado esquerdo
indica formação peculiar da letra “g” em dois momentos gráficos,
constituindo em um idiografismo do autor.

40
CAPÍTULO IV – O EXAME GRAFOSCÓPICO
Considerado o princípio da individualidade da escrita seja verdadeiro, surgem algumas
questões acerca do exame grafoscópico:

1) A capacidade de avaliação e julgamento do perito e as condições de análise a ele


oferecidas são suficientes para conferir precisão necessária para discriminar
escritas?
2) Os elementos característicos da escrita que são selecionados e utilizados no
processo de identificação oferecem bases confiáveis e adequadas para realizar
discriminações sutis?
3) A metodologia empregada na análise permite determinar com precisão tais
elementos?
A prova indubitável da heterogeneidade da escrita depende de uma resposta afirmativa
às questões acima. Como se poderia definir que uma escrita é individual se não existe certeza
quanto à capacidade dos exames realizados de discriminar os grafismos de duas pessoas sem
exceção?
Numa tentativa de responder a tais indagações, Huber e Headrick apresentam alguns
trabalhos realizados no Reino Unido que demonstram a capacidade discriminativa da
grafoscopia na resolução de casos que envolveram milhares de escritores suspeitos. Um
desses casos realizou a análise da escrita de 100.000 pessoas e o outro 600.000. Outros casos
avaliaram amostra menores de 1.046 e 10.000 escritores.
Do mesmo modo, Huber fez um estudo em que conseguiu colecionar e analisar a
escrita de mais de 1.000 pessoas, constantes no endereçamento de envelopes de
correspondências recebidas por ele durante vários anos, que forneceu suporte adicional para
as hipóteses da individualidade e da capacidade discriminativa do processo de identificação,
quando se utiliza 21 elementos discriminadores sugeridos por ele.
Assim, embora ainda não existam dados experimentais em qualidade e quantidade
suficientes para satisfazer critérios científicos, é evidente que constatações, como as expostas
acima, e, principalmente, os novos estudos controlados e assistidos por sistemas
computacionais de reconhecimento de escrita, que tem se acumulado na última década,
acrescentam a cada dia novos elementos para consubstanciar esses que são os princípios
basilares da grafoscopia.

41
Por fim, Huber e Headrick destacam alguns estudos que demonstram a similaridade
observada em assinaturas ou escritas dos mesmos nomes, particularmente quando consistem
de apenas seis letras ou menos, bem como o fato de algumas letras apresentarem menor
variação em suas configurações e maior possibilidade de coincidências. Eles ressaltam ainda
um caso de semelhança entre as escritas de mãe e filha que somente se diferenciam em
detalhes sutis e que podem escapar de detecção em um exame pouco meticuloso e com texto
limitado.
Tais constatações não invalidam a hipótese da unicidade da escrita e nem da
capacidade discriminatória dos examinadores, pois todos os casos relatados foram
diferenciados, mas chamam atenção para o risco de se trabalhar com parâmetros restritos de
tempo e material. E também para o problema da inexistência de um conjunto consistente e
significativo de dados estatísticos sobre a ocorrência de tais casos.

IV.1 – DOCUMENTO QUESTIONADO


Também conhecido como peças questionadas, peças impugnadas, peças motivos,
peças incriminadas e outras designações, o documento questionado é o material que possui
lançamentos gráficos que serão submetidos a exame a fim de determinar quem os produziu.
Alguns cuidados devem ser tomados com o documento, tais como: evitar dobrar; não
riscar ou assinar sobre a peça; se estiver colado ou plastificado, verificar o método mais
simples que não possa destruir o documento; evitar grampear, após o exame, pois os grampos
produzem manchas ferruginosas no papel.
Por se tratar de peça de exame sobre a qual recai a prova material do delito, deverá
essa peça, portanto, ser apresentada em original. Entretanto, quando não possível obter o
documento original, pode ser utilizada a cópia com algumas ressalvas, nos casos em que
sejam viáveis. Em situações de cópias sem nitidez, o exame não será viável.
O alerta quanto ao uso de cópia se deve ao fato de alguns elementos gráficos não
serem reproduzidos, sobretudo gênese e qualidade do traçado, e devido à possibilidade de
montagem ou fabricação de novo documento.
Considerando as limitações, recomenda-se que a conclusão não seja categórica e que
fique registrado que as constatações apresentadas podem estar sujeitas à posterior
confirmação se o original for eventualmente disponibilizado.

42
IV.2 – PADRÕES GRÁFICOS
As análises grafoscópicas são realizadas mediante comparações entre
manuscritos dos quais se deseja identificar a autoria – os escritos questionados – e outros cuja
autoria seja conhecida, denominados padrões gráficos. Em linhas gerais, pode-se dizer que a
função desses escritos padrões é possibilitar a identificação dos hábitos gráficos de uma
determinada pessoa, de quem se suspeite a autoria dos escritos questionados. De posse desse
conhecimento (hábitos gráficos do suspeito), examina-se então a escrita questionada,
procurando identificar sinais relacionados com tais hábitos gráficos, ou sua ausência.
O sucesso de um exame grafoscópico depende de três fatores: as características
dos escritos questionados, a capacidade técnica do analista e a qualidade dos padrões gráficos.
Existem basicamente dois tipos de padrões gráficos: os padrões fornecidos sob
demanda (produzidos a pedido) e os padrões naturais16. Os padrões fornecidos sob demanda
são produzidos especificamente para a realização de uma perícia grafoscópica e normalmente
o seu fornecedor tem pleno conhecimento das razões que motivaram a sua produção. O ideal é
que se trabalhe com ambos os tipos de padrões.

Requisitos dos padrões gráficos


Para que exerçam satisfatoriamente a sua função, os padrões gráficos devem
atender aos seguintes critérios: autenticidade, adequabilidade, contemporaneidade,
espontaneidade e quantidade.
A autenticidade se refere à certeza de que os padrões empregados foram de
fato produzidos pela pessoa a quem eles são atribuídos. É preciso que se elimine totalmente a
possibilidade de eles terem sido feitos por um homônimo, um parente, ou mesmo por alguém
que esteja deliberadamente se passando pela pessoa que deveria tê-los fornecido.
A adequabilidade se refere às correspondências que deve haver entre padrões
gráficos e grafismos questionados. Escritos padrões devem conter as mesmas palavras que os
questionados – além de outras mais, de natureza diversa. Há quem acredite que o fornecedor
dos padrões não deve saber quais as palavras serão objeto de análise, pois isso poderia induzi-
lo a disfarçar sua escrita. Nada mais equivocado! Em primeiro lugar, quem está fornecendo
padrões gráficos certamente sabe muito bem as razões de estar ali, especialmente se estiver
cometido algum delito. Além disso, todo cidadão tem o direito de saber detalhes sobre
processos jurídicos que lhe envolvam, sejam processos, sejam criminais. É permitido até

16
Trata-se de quaisquer escritos sabidamente produzidos por uma determinada pessoa durante a sua vida
normal, muitas vezes antes mesmo de ela estar implicada com questões que motivaram a perícia a ser realizada.
43
mesmo recusar-se a fornecer material padrão. Mas, o motivo mais importante a ser
considerado é de natureza técnica, pois se os padrões não contiverem as mesmas palavras que
estão sendo questionadas, os exames poderão sofrer sérias limitações.
Para atendimento ao requisito da adequabilidade, deve-se considerar o
conteúdo da escrita questionada, o tipo de escrita empregado (cursiva, letra de fôrma), a
existência ou não de pautas, as dimensões do campo gráfico e, dentro do possível, o suporte e
o instrumento escritor empregado deverão reproduzir as mesmas condições do documento
questionado.
A contemporaneidade dos padrões gráficos implica em uma proximidade
temporal entre a data de sua produção e a data que, em tese, forma produzidos os manuscritos
questionados. Como a escrita da maioria das pessoas tende a sofre alterações ao longo da
vida, torna-se temerário confrontar manuscritos que tenham sido feitos em épocas muito
distantes entre si. No entanto, não é possível estipular um limite de aceitabilidade para essa
diferença de datas, pois há pessoas que alteram muito frequentemente seus hábitos gráficos,
mas há aquelas que praticamente não alteram sua escrita durante toda a vida. Não há regra
para se determinar a contemporaneidade, entretanto muitos autores usem, de modo totalmente
empírico, o valor de dois anos como limite da contemporaneidade.
A espontaneidade se relaciona com o ato natural de escrever, em que a
atenção do escritor se volta para o conteúdo do texto e não para o formato das letras e
palavras. Nessas condições, a escrita será uma ação quase que totalmente inconsciente, e os
manuscritos serão produzidos de forma natural e espontânea, refletindo os hábitos gráficos
normais do punho escritor.
O último requisito técnico dos padrões é a quantidade. Trata-se do número de
repetições dos textos que constituem os padrões gráficos. Deve haver uma quantidade de
padrões suficientemente alta para que possa ser identificada a faixa normal de variação da
escrita de seu fornecedor. É claro que não se pode falar em faixa de variação quando se tem
um único exemplar.
A quantidade mínima de exemplares padrões também é um valor difícil de
estabelecer e para o qual não existem fórmulas ou números unânimes. Há casos em que uma
quantidade menor pode perfeitamente atender às necessidades da perícia, e outros em que 20
execuções não serão suficientes.

44
IV.3 – A METODOLOGIA DO EXAME GRAFOSCÓPICO
O exame grafoscópico é essencialmente uma análise comparativa de
características da escrita consideradas identificadoras e discriminadoras, que é realizada entre
grafismos questionados e padrões. Em geral, essas características estão relacionadas à
aparência da escrita (aspectos pictóricos ou morfológicos), seu método de construção (gênese
ou grafocinética) – que compreendem os aspectos estruturais da escrita – e à qualidade do
traçado.
O método utilizado nesse exame pode ser didaticamente dividido em pelo
menos quatro fases:
1ª) Análise dos manuscritos;
2ª) Comparação das características observadas;
3ª) Avaliação ou ponderação da significância das similaridades e das diferenças
observadas; e
4ª) Formulação da conclusão.
É importante ressaltar que embora sejam utilizados equipamentos de ampliação
e de comparação analógicos ou digitais, como, por exemplo, lupas, estereomicroscópios e
comparadores espectrais de vídeo, o método de identificação ou discriminação de manuscritos
utiliza essencialmente processos perceptuais e cognitivos humanos, estando dessa forma
sujeito a variações naturais e interpretações pessoais que ocorrem em qualquer processo
discriminatório que utiliza essas mesmas habilidades humanas.
Antes de abordar detalhadamente as etapas do método, é importante destacar
que uma perícia grafoscópica não deve se restringir a análises de grafismos. Deverá abranger
o documento por inteiro, bem como as prováveis circunstâncias em que ele fora produzido.

IV.3.1 – Análise dos manuscritos


Nessa primeira etapa, verifica-se a natureza e a morfologia da escrita
questionada: se ela consiste em uma assinatura ou em textos diversos, se foi produzida em
estilo cursivo ou com letras desconectadas, se o seu campo gráfico é restrito ou não, etc. A
natureza e a importância do documento questionado podem indicar ao perito, entre outras
coisas, o quanto alguém estaria disposto a investir (em tempo, treinamento, esforço, e até
mesmo em dinheiro) para imitar ou disfarçar a escrita em questão.
Ainda no exame preliminar, comparam-se macroscopicamente os escritos
questionados e padrões, a fim de verificar se estes últimos são adequados e se atendem aos

45
demais critérios exigidos para um confronto grafoscópico, especialmente quanto a sua
quantidade e contemporaneidade.
Concluída a análise preliminar do documento, deve-se examinar
detalhadamente o traçado dos manuscritos questionados, buscando identificar a existência de
retoques, sinais de hesitação, de decalque ou de paradas da caneta. Nessa etapa, verifica-se
ainda o sentido de produção de todos os traços que constituem a escrita questionada,
procurando quaisquer peculiaridades em suas características, como a produção de uma
determinada letra em sentido contrário ao que é observado na população em geral.
Na etapa posterior, o estudo detalhado da escrita questionada buscará
identificar os seus elementos gráficos peculiares, isto é, aqueles capazes de individualizá-la
frente a outros grafismos. Este procedimento será realizado também com os lançamentos
padrões.
A fase de análise muitas vezes é realizada simultaneamente com a fase de
comparação e o objetivo dessas duas primeiras etapas é formar uma opinião inicial se os
grafismos questionados e padrões são similares ou dissimilares entre si. Observa-se que neste
primeiro momento não há uma definição sobre uma eventual autoria relacionada aos
grafismos objetos de exame.
As características discriminadoras ou identificadoras são elementos da escrita,
relativamente discretos, que variam de maneira observável ou mensurável, conforme o seu
autor, contribuindo de forma confiável para a identificação de escritas advindas de pessoas
diferentes ou originárias de um mesmo indivíduo. Os elementos dinâmicos e estáticos da
escrita foram estudados na Seção III.4 do capítulo anterior.

IV.3.2 – Comparação das características observadas


Quando o perito estiver familiarizado com ambas as escritas, questionada e
padrão, realizará o confronto sistemático entre elas, procurando identificar similaridades
(convergências) ou dissimilaridades (divergências) entre os grafismos, levando em conta suas
variações naturais.
Para realizar o confronto, o perito poderá contar com o auxílio de um
estereomicroscópio e de lupas de pequeno e médio aumento. As comparações também podem
ser feitas na tela de um monitor, possibilitado a realização de ampliações nas imagens dos
manuscritos e a marcação de características de maior relevância.
Pode-se iniciar o confronto pelas características macroscópicas, como
inclinação, alinhamento, espaçamentos, proporções, etc. Características menos evidentes
46
como a gênese e o andamento gráficos e as formas e posições dos ataques e remates pode ser
comparada com o auxílio de instrumento óptico de ampliação, como uma lupa ou um
estereomicroscópio. Outras características devem ser avaliadas tanto em grande como em
pequeno aumento, e mesmo a olho nu, como a pressão, (identificando-se as regiões de maior e
menor pressão), o dinamismo, (verificando-se também as “regiões de dificuldade gráfica”, em
que o dinamismo se apresenta muito diminuído em relação ao restante do traçado), a
velocidade e os diacríticos, entre outras.
O método descrito é o da comparação visual entre imagens gráficas que são
equivalentes entre si (ou que são comparáveis graficamente). Embora se utilizem
equipamento de ampliação e iluminação adequados, o processo em si é realizado pelo sistema
visual e cognitivo do examinador, que analisa, compara e julga o que ele considera similar ou
dissimilar de acordo com a ilustração que ele visualiza, sem o auxílio de técnicas
quantitativas.
Ressalta-se que a decisão sobre o que similar ou dissimilar envolve todos os
elementos da imagem da escrita analisada como a construção dos alógrafos, a qualidade do
traçado e os aspectos morfológicos.
Nesse contexto, define-se que amostras de grafismos questionados e padrões
são consideradas similares quando apresentam as mesmas características morfológicas,
grafocinéticas e de qualidade do traçado. Essas similaridades podem ser observadas na
fluência dos traços, na forma como eles são conectados dentro de um alógrafo e entre
diferentes alógrafos, na formação das palavras e no posicionamento relativo das imagens no
papel.
Por outro lado, define-se que amostras de grafismos questionados e padrões são
consideradas dissimilares quando apresentam diferentes características nos mesmos elementos
descritos acima. O critério para que as dissimilaridades sejam consideradas significantes é que
elas sejam geralmente repetidas e fundamentais para o aspecto pictórico e estrutural do
grafismo. Dissimilaridades consideradas menos significantes estão muitas vezes relacionadas
às variações normais do grafismo e normalmente não envolvem diferenças na sequência e
direção do traçado.
Durante a avaliação da significância das dissimilaridades é importante levar em
conta que além das variações naturais, existem também os acidentes da escrita. Estes podem
ser definidos como digressões isoladas, breves ou temporárias (às vezes únicas) da escrita do

47
indivíduo. Geralmente são formas ou movimentos não usuais, quebra no traçado ou mesmo
duplicação de letras ou partes de letras que não possuem uma explicação plausível.
Em algumas circunstâncias, o perito encontrará nesta fase do exame uma
combinação de convergências e divergências que não permitiram avaliar com segurança qual
seria a hipótese mais plausível para o caso e o resultado da análise poderá ser um exame
inconclusivo.

IV.3.3 – Avaliação ou ponderação da significância das similaridades ou das diferenças


observadas
Nesta etapa do exame o perito deverá ponderar a significância da convergência
ou divergências constatadas diante das hipóteses possíveis para cada situação e determinar se
as evidências encontradas permitem escolher uma das hipóteses propostas em preferência às
outras, além de avaliar qual o nível de certeza de que essas evidências oferecem para a
hipótese escolhida.
Caso os grafismos questionados e padrões sejam considerados similares, pelo
menos as seguintes hipóteses podem ser propostas:

1) Os materiais foram escritos pela mesma pessoa;


2) Os materiais foram escritos por pessoas diferentes, entretanto uma delas
simulou a escrita da outra sem deixar vestígios do processo de
simulação;
3) Os materiais foram escritos por pessoas diferentes, porém são similares
ao acaso.

Caso os grafismos questionados e padrões sejam considerados dissimilares,


pelo menos as seguintes proposições ou hipóteses podem ser propostas:

1) Os materiais foram escritos pela mesma pessoa, porém as amostras de


grafismos (questionado e/ou padrão) não são representativas dos
hábitos gráficos do escritor. Isso pode ocorrer por diversas razões
como, por exemplo, doenças, posição ou condição não usual de escrita,
amostragem não representativa temporalmente (não contemporânea) ou
alteração proposital da escrita (disfarce);
2) Os materiais foram escritos por pessoas diferentes.

48
Na formação desse juízo ele deverá considerar a qualidade dos padrões, a
existência de documentos não originais, de assinaturas ou rubricas muito simplificadas com
reduzido campo gráfico para análise, de grafismos de letra de forma desconectado.

Fraudes relacionadas à escrita


Nesta fase do exame, em que o perito está avaliando a significância dos
achados, é importante que ele tenha em mente os tipos mais comuns de fraudes envolvendo
escritas.
Em razão de sua óbvia importância na autenticação ou validação de
documentos, uma quantidade significativa dessas fraudes está relacionada a assinaturas.
Porém, as fraudes aqui tratadas podem ser extrapoladas para quaisquer espécies de
manuscritos. Em muitos casos o fraudador nem se preocupa em imitar ou simular a assinatura
de alguém. Ele simplesmente escreve o nome da pessoa que será a vítima da fraude ou então
inventa um tipo qualquer de lançamento gráfico que não apresenta qualquer relação com a
assinatura da verdadeira pessoa. Alguns autores costumam denominar esse tipo de fraude
como sendo uma falsificação simples ou falsificação sem imitação.
Por outro lado, quando o fraudador tenta imitar a assinatura da vítima ocorre
uma simulação17 (também denominada falsificação por imitação ou simplesmente
falsificação). Neste caso o falsário precisa conhecer a assinatura e copiá-la de alguma forma.
Em geral, munido de uma assinatura autêntica como modelo o falsário poderá copiá-la
desenhando a mão livre ou, de modo alternativo, ele poderá usar o modelo para fazer o
decalque da assinatura.
O decalque é um processo de simulação em que as características pictóricas do
grafismo a ser copiado são transferidas de um modelo traçando-se cuidadosamente as linhas
do original. O processo de produção dele pode ser de forma direta (sobre uma mesa de vidro
utilizando luz transmitida a partir do verso do papel que possui o modelo, formando assim
uma transparência e seguindo com a caneta as linhas do original) ou indireta (formando
esboços prévios (debuxos) utilizando papel carbonado ou mesmo uma caneta para calcar as
linhas que serão posteriormente recobertas para formar a assinatura simulada).
As falsificações à mão livre normalmente produzem resultados melhores,
especialmente quando o falsário tem habilidade e controle motor adequado e treina sobre o

17
Considera-se simulação a tentativa de copiar, desenhar ou imitar as características de um manuscrito
ou de uma assinatura.
49
modelo que está simulando. No caso do decalque a cópia tende a ser mais rústica e a
qualidade do traçado pode ficar bem comprometida.
Por fim, existem as fraudes em que a pessoa assina um documento e depois
nega que tenha assinado. Nesses casos ela pode assinar normalmente com a sua escrita
habitual ou então pode tentar modificar de alguma forma o lançamento para dificultar a sua
identificação (seria uma espécie de disfarce ou, como alguns denominam, uma
autofalsificação).

IV.3.4 – Formulação da conclusão


Após finalizar os exames o perito deve definir qual a melhor forma de
expressar os resultados obtidos ou como emitir sua conclusão. Para isso deve considerar a
natureza qualitativa do trabalho que está sendo executado, compreendendo que a análise, a
comparação e a avaliação dos materiais estão baseadas, essencialmente, em processos
perceptuais e cognitivos.
Além disso, não se pode deixar de considerar as limitações apresentadas pelo
caso concreto, como, por exemplo, materiais não originais, grafismos de baixa complexidade,
padrões não adequados ou não contemporâneos, bem como o fato de que as observações são
realizadas sobre produtos do comportamento humano (a escrita manual), os quais estão
sujeitos a um grande número de variáveis.
Considerando que, em geral, o exame grafoscópico tem por objetivo esclarecer
se a pessoa que forneceu o material gráfico padrão produziu ou não o grafismo questionado,
as escalas de probabilidades podem variar desde conclusões definitivas de identificação ou de
eliminação, passando por probabilidades intermediárias e por resultados não conclusivos.
Algumas escalas podem apresentar até nove níveis de respostas como, por
exemplo, a da ASTM E 1658 (identificação, forte probabilidade, provável, indicações, não
conclusivo, indicações que não, provavelmente não, forte probabilidade que não, eliminação).
Neste caso temos quatro níveis de cada lado de um resultado inconclusivo.
Uma frase com uma resposta baseada nesta escala utilizando o nível
“provável” poderia ser: “Conclui-se que X, fornecedor do material padrão, provavelmente
escreveu o material questionado”.
Na Tabela 1 a seguir são apresentadas diversas escalas de probabilidade de
conclusão em grafoscopia propostas por diversos autores.

50
Tabela 1 – Escalas de probabilidade de conclusão em grafoscopia.
Autor Níveis Características Expressões da Escala
Simétrica Identificação categórica
Forte probabilidade de identificação
(TOTTY, 1991) Expressões Pequena probabilidade de identificação
7
taxativas Exame inconclusivo
Pequena probabilidade de eliminação
Forte probabilidade de eliminação
Eliminação categórica
Assimétrica Muitíssimo provável
Expressões não Muito provável
taxativas Provável
(HOLLER; VILLELA, 2005, p. 17) 7 Possível
Polícia Judiciária Não concluir
de Portugal Provável não
Muito provável não
Autoria Identificação
Assimétrica Alto grau de probabilidade
Baixo grau de probabilidade
(ELLEN, 2006, p. 76) 5 Expressões
Nenhuma conclusão com valor pode ser
taxativas
dada
Conclusão negativa
Autenticiadade Certeza de autenticidade
Simétrica Probabilidade de autenticidade
(ELLEN, 2006, p. 76) 5 Expressões Total incerteza
taxativas Probabilidade de simulação
Certeza de simulação
5 Simétrica O grafismo questionado foi escrito por
Expressões Há moderado suporte para a proposição de
taxativas que o grafismo questionado foi escrito por
Não se pode expressar nenhuma opinião
(FOUND and ROGERS, 2006) Há moderado suporte para a proposição de
que o grafismo questionado não foi escrito
por
O grafismo questionado não foi escrito por

Continuação da Tabela 1
Autor Níveis Características Expressões da Escala
Simétrica Identificação
Expressões Alta probabilidade
taxativas Probabilidade
Indicações
(ASTM E 1658-08, 2008) 9 Sem conclusão
Indicações negativas
Probabilidade negativa
Alta probabilidade negativa
Eliminação
Simétrica Identificação
Expressões Indicação de que as amostras comparadas
taxativas foram feitas pelo mesmo escritor
(HARRISON et al., 2009, p. 8) 5
Nenhuma conclusão
Indicação de que as amostras comparadas
não foram feitas pelo mesmo escritor
Simétrica Identificação
Expressões Indicação positiva
(OT 6/11 DITEC/DPF, 2011) 5 taxativas Não conclusivo
Indicação negativa
Eliminação

51
Nos casos em que é possível concluir de forma categórica geralmente as
respostas não costumam causar confusão no leitor do laudo, porém quando se utilizam
respostas intermediárias, o risco de interpretação equivocada é maior.
Por fim, é importante destacar que o extremo negativo de uma escala, a
eliminação do escritor, é uma determinação bastante difícil, particularmente quando se
trabalha apenas com materiais colhidos e não naturais, que podem não representar
adequadamente todo o conjunto de habilidades gráficas do escritor. Por isso esse nível de
resposta deve ser usado com muito cuidado e apenas nos casos em que os materiais
disponibilizados forem adequados e suficientes para fundamentar esse grau de confiança,
demonstrando claramente que as divergências são significativas, repetidas e consistentes e
que não restam dúvidas quanto à incapacidade motora da pessoa em escreve com aquele nível
de habilidade gráfica.

52
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