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QUÍMICA E FÍSICA APLICADA À DOCUMENTOSCOPIA

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de em-


presários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Gradua-
ção e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade
oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua forma-
ção contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, ci-
entíficos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de for-


ma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma
base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das ins-
tituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação
tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário

1 – INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4
2-DA UTILIZAÇÃO DA QUÍMICA FORENSE EM TRABALHOS
ENVOLVENDO PAPILOSCOPIA .......................................................................... 7
3- EXAMES EM DROGAS ..................................................................................... 10
4- BALÍSTICA .......................................................................................................... 13
5- ALCOOLEMIA.................................................................................................... 15
6- O LAUDO PERICIAL NA FORMAÇÃO DA CONVICÇÃO NA JUSTIÇA 20
7- ANÁLISE QUÍMICA FORENSE ...................................................................... 26
8- ALGUMAS TÉCNICAS E EQUIPAMENTOS NA ROTINA FORENSE .... 29
8.1- Espectrometria de Massas (MS) ...................................................................... 29
8.2- Cromatografia ................................................................................................... 31
8.3- Testes Colorimétricos ........................................................................................ 32
9-REFERÊNCIAS .................................................................................................... 42

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1 – INTRODUÇÃO

Na área de investigação criminal diversas áreas do conhecimento científico são


utilizadas, entre elas está a Química, que quando aplicada a Perícia, é deno-
minada de Química Forense.

Para o perito criminal com formação em química a cromatografia e a espectro-


metria de massas são importantes instrumentos de análise para elucidação de
crimes, tais como assassinatos, roubos, envenenamentos; averiguação de
abuso de drogas como o álcool, cocaína e maconha; análise de cédulas de
dinheiro e documentos; análise de resíduos de disparos de tiros, dentre outros.

A química forense consiste na junção de conhecimentos da própria química e


toxicologia (estudos de composição tóxica), no intuito de auxiliar a investigar e
compreender como determinados crimes ocorreram. Trata-se de um ramo sin-
gular das ciências químicas uma vez que sua prática e investigação científica

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devem conectar duas áreas distintas, a científica (química e biologia) e a hu-
manística (sociologia, psicologia, direito).

O trabalho de um químico forense é voltado para a análise de amostras colhi-


das por investigadores, oriundas dos locais de crimes e ocorrências. Junto a
perícia, sua atividade principal se destaca em identificar materiais e conhecer a
natureza de cada prova relacionada a um crime.

O profissional dessa área lida com grandes variedades de provas e amostras e,


por essa razão, precisa ter conhecimentos em vários segmentos da química
orgânica e bioquímica, já que terá, com frequência, de analisar fluidos de ori-
gem biológica.

O químico forense é ainda o responsável por decidir que tipo de análise será
feita e quais substâncias/materiais serão necessários para chegar às pro-
vas. Entre os principais campos de atuação, destaca-se o trabalho como perito
para as polícias civis de todos os estados brasileiros e para a Polícia Federal.

As principais análises realizadas pela química forense são: análise de resíduos


de armas de fogo, análise de manchas de sangue, identificação de adultera-
ções em veículos e vários outros exames.

Apesar de as investigações criminais serem o aspecto mais conhecido da quí-


mica forense, ela não se limita a ocorrências policiais. Esse especialista tam-
bém pode dar seu parecer em:

-Decisões de natureza judicial;


-Atuar em questões trabalhistas, como determinar se uma atividade é perigosa
ou insalubre;
-Detecção de adulterações em combustíveis e bebidas;
- Uso de drogas ilícitas;
-Fazer perícias em alimentos e medicamentos;
-Investigar o doping esportivo, etc.

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A análise da cena de um crime envolve a participação de peritos criminais de
várias áreas de formação, tais como: física, química, biologia, farmácia, enge-
nheira, odontologia, contabilidade, geologia e informática. Frisa-se que a Quí-
mica Forense é o ramo da Química responsável pela análise de vestígios e
produção de provas científicas conclusivas de interesse judiciário. Essa ciência
estuda a identificação de sangue em locais de crime, impressões digitais e fi-
bras, vidros, resíduo de arma de fogo, e outros tipos de resíduos; análise de
drogas, medicamentos bebidas, suplementos alimentares e venenos; análise
de resíduos em incêndios e análise em combustíveis, mencionado acima.

Segundo Bruni e colaboradores, pode-se destacar alguns delitos nos quais a


química é indispensável para se encontrar uma solução, a saber:

Crimes contra o patrimônio: na modelagem de gesso para avaliação de mar-


cas e pegadas;

Crimes contra a vida: análise de resíduos de disparo de arma de fogo. No


caso de diferenciação entre o aborto e o homicídio utilizando fluidos corporais;

Crimes contra a dignidade sexual: na análise de fluidos corporais;

Crimes contra a administração pública: a química contribui para a diferenci-


ação de papéis e tintas de documentos;

Crimes ambientais: na análise de água, solo e ar que podem estar poluídos;

Crimes em relação à Lei de Drogas: na análise, identificação e caracteriza-


ção de Drogas.

Acidentes de trânsito: na metodologia para a toxicologia forense em análise


de álcool no organismo humano, análise de vidros e tintas.

Fraudes diversas: nas fraudes de medicamentos, suplementos alimentares,


bebidas, alimentos e combustíveis (BRUNI; VELHO; OLIVEIRA, 2012).

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Para tanto, a química forense utiliza pós ou reagentes para revelar impressões
digitais em local de crime, instrumentação analítica para caracterização e iden-
tificação de drogas, reagentes e instrumentos analíticos para detecção de resí-
duos de disparo de arma de fogo.

O presente estudo visa a contribuir com a disseminação de conhecimentos na


área de química forense para os envolvidos com provas periciais. Além de for-
necer suporte técnico e científico para os operadores do Direito que podem
utilizar essas informações em Tribunais. Para o juiz é fundamental ter noções
sobre Química Forense para melhor avaliar a verdade dos fatos, analisando as
pericias realizadas, para poder julgar.

2-DA UTILIZAÇÃO DA QUÍMICA FORENSE EM TRABALHOS EN-


VOLVENDO PAPILOSCOPIA

A Papiloscopia é a ciência
que estuda as impressões
digitais com fins de identifica-
ção humana. Os primeiros
relatos de marcas das mãos
foram encontrados em caver-
nas pré-históricas, com data-
ção de mais de 1500 anos.
Diversos cientistas lutaram
para ter seus trabalhos sobre
impressões digitais reconhe-
cidos.

Dentre eles podemos citar: Marcelo Malpighi (1628-1694) descobriu as papilas


dérmicas; Alphonse Bertillon (1853-1913) criou o método Antropométrico, que
consiste em realizar medidas corporais para fins de identificação. Nessa época,
a Papiloscopia começava a dar resultados positivos; Juan Vucetich Kovacevich

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(1858-1925) classificou os desenhos papilares em: arco, presilha interna, presi-
lha externa e verticilo; Edmond Locard (1877-1966) foi considerado o pai da
Criminalística e descobriu que o número ideal de minúcias numa impressão
digital deve ser 12. (CABALLERO, 2012).

A Papiloscopia pode ser classificada quanto ao objeto de estudo em:

 Datiloscopia: é o processo de análise dos desenhos formados pelas


papilas dos dedos das mãos e suas impressões (impressões digitais);

 Quiroscopia: é o processo de identificação humana por meio das im-


pressões da palma da mão, classificada em três regiões: tênar, hipotê-
nar e superior.

 Podoscopia: é o processo que trata dos desenhos das papilas da planta


e dos dedos dos pés, impressões plantares (VELHO; GEISER; ESPIN-
DULA, 2012).

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Os quatro fundamentos da Papiloscopia são:

 Perenidade: A impressão digital faz parte da fisiologia do ser humano e


é formada completamente durante a gestação (aproximadamente no
sexto mês de gestação) e permanecem iguais até a completa putrefação
cadavérica;

 Imutabilidade: é a propriedade que possuem os desenhos papilares de


não perderem a forma original;

 Variabilidade: é a propriedade que possuem as papilas dérmicas de se-


rem variáveis de dedo para dedo e entre pessoas, não se repetindo,
nem mesmo entre gêmeos univitelinos.

 Classificabilidade: é a propriedade que tem as impressões papilares de


serem reunidas, permitindo uma pesquisa (VELHO et al., 2012).

No início da perícia criminal no local do crime as impressões digitais não são


visíveis, sendo chamadas de vestígios latentes. Após o tratamento com pós
químicos essas impressões se tornam visíveis, tornando-se vestígios visíveis.
É nessa hora que entra em ação a química forense, com substâncias e reagen-
tes os quais permitem a revelação e o decalque das impressões para serem
analisadas em laboratórios nos Institutos de Criminalística-IC.

No local do crime, os objetos devem ser avaliados de forma independente.


Atualmente, as impressões digitais podem ser extraídas e reveladas dos mais
diversos materiais, tais como: superfícies lisas, superfícies rugosas, papel,
plásticos, isopor, borracha, couro, fitas adesivas, metal, madeira, tecidos
e manchas de sangue (VELHO et al., 2012).

Após a coleta dos fragmentos de impressão digital, essas são levadas para o
laboratório onde são confrontadas com as impressões que estão no banco de
dados do sistema de identificação automática de impressões digitais (Automa-
ted Fingerprint Identification System-AFIS). A impressão digital é colocada no

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sistema computadorizado e esse mostra os possíveis autores do crime. Um
caso que ganhou repercussão em Brasília foi o de uma professora que estava
em um Shopping no centro da cidade. A polícia não tinha suspeitos, mas após
a perícia papiloscópica realizada nos objetos que estavam no carro e no pró-
prio veículo os peritos chegaram ao autor do delito. A polícia em menos de 28
horas prendeu o suspeito do crime (SOUSA, 2013).

Frisa-se na dissertação de mestrado do Barros foi estudado o lapso temporal


entre a produção e a coleta de vestígios papilares (idade da impressão digital)
encontrados em locais de crime. Foi verificado que ao longo de 30 dias, o gru-
po estudado apresentou diminuição da largura das cristas papilares e no per-
centual de cristas visíveis no material estudado. O estudo mostra que diversos
fatores podem afetar a morfologia das cristas, dentre eles podemos citar: umi-
dade relativa do ar, temperatura, incidência de luz, circulação de ar, vento e
fatores ambientais (BARROS, 2013). Com estudos futuros nessa área chega-
remos ao dia que as perícias em impressões digitais poderão determinar se o
autor do ilícito esteve no local do fato na data em que ocorreu o delito.

3- EXAMES EM DROGAS

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Várias investigações sobre narcóticos são realizadas em regiões de fronteiras
ou locais inóspitos distante dos grandes centros urbanos onde não há Institutos
de Criminalística com laboratório de Química Forense. Diante desse problema
o legislador criou o laudo preliminar que está na Lei 11.343/2006 artigo 50 diz
(VELHO et al., 2012):

“Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judici-


ária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-
lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministé-
rio Público, em 24 (vinte e quatro) horas.
§ 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabe-
lecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constata-
ção da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na
falta deste, por pessoa idônea.”

Os testes preliminares são rápidos, baratos, de fácil manipulação, geram pou-


cos resíduos e são apresentados na forma de pequenos Kits que podem ser
operados por qualquer policial com um pequeno treinamento. Existe um teste
específico para cada grupo de Drogas e esses mudam ou não de cor na pre-
sença de determinados grupos funcionais. Essa mudança de cor é causada por
reações químicas que mostram, mediante a mudança de cor, se naquela amos-
tra há ou não o grupo funcional característico de algumas drogas. Esse teste
por ser preliminar e qualitativo não pode ser usado isoladamente para garantir
que determinado material tem uma Droga (VELHO et al., 2012).

Segundo Messias e colaboradores, os testes colorimétricos, ensaio preliminar,


para identificação dos Canabinoides da Maconha (Cannabis sativa L.) podem
dar falso positivo para drogas vegetais interferentes nesse teste. No estudo foi
utilizado dois reagentes colorimétricos para Canabinoides, Fast Blue (FB) e
Duquenóis-Levine (DL). O FB demonstrou uma maior seletividade, pois apre-
sentou menor quantidade de falso positivo. Um vegetal que apresentou falso
positivo tanto para o FB quanto para o DL foi o Guaraná. Segundo o estudo
“Para o teste de Duquenóis-Levine, dentre as 40 drogas vegetais analisadas,

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apresentaram resultados positivos as drogas vegetais boldo do Chile (Peumus
boldus Molina), calêndula (Calendula offcinalis L.), chapéu de couro (Echinodo-
rus grandiflorus (Cham. & Schltdl.) Micheli.), embaúba (Cecropia hololeuca
Miq.), erva cidreira (Melissa offcinalis), erva doce (Pimpinella anisum L.), gua-
raná (Paulinia cupana Kunth.), jaborandi (Pilocarpus jaborandi Holmes.) e louro
(Laurus nobilis L.). Esse estudo demonstra que há limitações para o teste colo-
rimétrico, sendo necessário outro método mais específico para concluir o laudo
pericial (BORDIN et al., 2012).

Depois de realizado o teste preliminar o laudo definitivo será elaborado em 10


dias segundo o Código de Processo Penal art.160, “Parágrafo único. O laudo
pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser
prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.”

Em 2006, em Taubaté, uma mãe levou sua filha, de um ano, que passava mal
para o hospital e chegando lá os médicos suspeitaram de um pó branco que
havia na boca da menina. Foi realizado um laudo preliminar no Instituto Médico
Legal-IML, da cidade onde a menina morreu, que deu positivo para cocaína e a
mãe ficou presa por 37 dias. Logo após o laudo definitivo deu negativo para
cocaína (CASEMIRO; GLOBO). Esse exemplo mostra a necessidade de reali-
zação do exame definitivo.

A legislação Brasileira só considera Droga uma substância elencada na Porta-


ria 344/1998 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária-ANVISA. Logo, uma
substância que foi modificada quimicamente e não se encontra na lista da Por-
taria 344 não pode ser considerada Droga. É nessa hora que entra o trabalho
dos químicos forenses, eles irão analisar, identificar e classificar a nova droga
em uso no país. Diante dessas informações, os grandes traficantes de drogas
investem na síntese de novas drogas, pois assim quando essa substância for
identificada e caracterizadas pelos peritos criminais eles não poderão ser en-
quadrados na Lei 11.343/2006.

De acordo com MOELLER (1998 apud; MAGALHÃES, 2012) para detecção de


drogas, diversas matrizes biológicas são utilizadas em toxicologia forense, tais

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como: urina e sangue (soro/plasma) como matrizes clássicas, cabelo, suor,
fígado, saliva e mecônio.

A urina pode ser utilizada como matriz biológica para a diferenciação entre ho-
micídio ou suicídio. Para BELL (2001apud; CUNHA, 2013) em um caso de sui-
cídio, foi encontrado um teor de 1,2 µg/mL de fenproporex, anfetamina, na uri-
na, sugerindo uma ingestão dessa substância pela vítima, em grande quanti-
dade.

A análise de amostras de sangue vem ganhando destaque em relação a urina,


pois a vantagem daquela é a detecção após a ingestão da droga em seu esta-
do inicial antes da substância ser metabolizada. O sangue apresenta uma boa
correlação entre as doses administradas e a detecção instrumental (MOELLER,
1998 apud MAGALHÃES,2012). Ou seja, o sangue apesar de precisar de um
maior pré-tratamento da amostra, para remoção de interferentes da matriz bio-
lógica, para extração e/ou concentração da substância a ser analisada requer
métodos mais sensíveis.

Para analise post-mortem órgãos como rim e fígado são eleitos para aplicações
forenses quando o sangue não está disponível. Como o metabolismo dos me-
dicamentos ocorre no fígado, esse conterá tanto a substância inicial quanto
seus metabólitos, em altas concentrações (MARGALHO, 2011 apud MAGA-
LHÃES,2012).

4- BALÍSTICA

A Balística Forense é o ramo da Criminalística que estuda as armas de fogo,


sua munição, os resíduos do disparo e os efeitos dos tiros por elas produzidos,
visando a provar e esclarecer sua ocorrência em infrações penais (TOCCHET-
TO, 2006).

O cartucho de munição das armas de fogo é formado pelo estojo, espoleta,


mistura iniciadora, pólvora e projetil. O estojo é a parte externa do cartucho. Já

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a espoleta é uma pequena cápsula que contém a mistura iniciadora. Todas as
espoletas da Companhia Brasileira de Cartuchos-CBC utilizadas no carrega-
mento dos cartuchos empregam mistura Antioxid®, não mercúrica e não corro-
siva. A pólvora é constituída de Nitrocelulósica de base simples (sem fumaça).
Os projéteis, atualmente, são encamisados por cobre, estanho ou uma mistura
com cobre mais estanho. Projéteis totalmente encamisados apresentam maior
penetração do que os projéteis de chumbo ou ponta de chumbo, podendo
transfixar alvos com facilidade (CBC, 2016). A CBC lançará, agora em fevereiro
de 2017, uma nova linha de munições, chamada Bonded®.

Essa munição já foi lançada nos Estados Unidos, passou em todos os protoco-
los do FBI, e no Brasil será restrita apenas para os agentes de segurança pú-
blica. A diferença nessa munição é que o encamisamento é soldado ao núcleo
evitando a perda de massa. Isso faz com que a munição ao entrar em contato
com um objeto mais denso, como a porta de um veículo, o projetil se expande
menos aumentando o poder de penetração. Agora se o alvo apresentar uma
menor densidade, corpo humano, o projetil se expande mais, aumentando o
poder de parada- Stopping Power (CBC, 2017).

A combustão da pólvora gera vários gases que se expandem e realizam o dis-


paro da arma de fogo expelindo o projetil. Esse lançamento arrasta partículas
do cano da arma, traços do projetil e resíduos da combustão. Os resíduos de
nitrito, resíduos amarelados, que são gerados após a combustão se depositam
no interior do cano da arma de fogo e essa substância química pode fornecer o
lapso temporal que foi efetuado o último disparo, pois o íon nitrito tem uma vida
de 7 dias. Caso seja encontrado nitrito no cano de uma arma de fogo podemos
ter indícios que essa arma efetuou um disparo nos últimos 7 dias (VELHO et
al., 2012). Esse resultado positivo para nitritos não significa que tais nitritos se-
jam oriundos de disparo, pois podem ter como origem a urina, cinzas ou fertili-
zantes (TOCCHETTO, 2006).

As perícias balísticas que buscavam resíduos de projéteis e pólvora pratica-


mente não são mais realizadas, pois nessas pericias havia a procura pelos se-
guintes elementos químicos: Chumbo, Bário e Antimônio. Como os projéteis,

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atualmente, são encamisados e praticamente não existe projétil feito somente
de chumbo, esse elemento não é encontrado nos exames periciais para deter-
minar se aquela pessoa disparou uma arma de fogo. Na espoleta também ha-
via Chumbo na forma de trinitroresorcinato de chumbo, mas atualmente a CBC
usa a espoleta CleanRange® que é isenta de metais pesados. Na deflagração
da pólvora as micropartículas se volatilizam e ao se condensarem formam mi-
cropartículas. Nessas havia Chumbo, Bário e Antimônio formado uma microes-
fera que podia ser visualizada por um Microscópico Eletrônica de Varredura-
MEV com Raio X acoplado para análise morfológica da partícula e caracteriza-
ção dos metais. Outro fator que determinou a não realização de pericias nas
mãos de possíveis atiradores é o fato do exame colorimétrico com Rodizonato
(exame preliminar para Chumbo) poder dar um falso positivo, pois se o suspei-
to for um mecânico de automóveis esse teste dará um falso positivo. Como es-
se profissional mexe com várias partes metálicas do carro, em sua mão pode
conter alguns desses elementos químicos.

5- ALCOOLEMIA

A dosagem do teor alcoólico em vivos pode ser realizada em indivíduos envol-


vidos em acidente de trânsito ou em operações de fiscalização. No teste de
bafômetro é utilizado etilômetros portáteis, esse instrumento deve ter passado
pela vistoria de um órgão regulador e os profissionais devem estar aptos para
manusear tais equipamentos. Quando ocorre um atropelamento com vítima
fatal o motorista pode se submeter ao exame clínico de alcoolemia, mas o fato
que ocorre na maioria dos Estados Brasileiros é que esse autor de homicídio
culposo demora muito tempo para ser levado ao Instituto Médico Legal-IML.

Tal fato, prejudica a analise real da quantificação de álcool no sangue do moto-


rista, pois com o passar do tempo o teor alcoólico no sangue decai de acordo
com a curva de alcoolemia deixando a perícia prejudicada. Segundo França,
essa curva tem um pico ascendente quando ocorre a ingestão de bebidas al-
coólicas, dura cerca de 30 a 60 minutos, e uma linha descendente (curva de
eliminação do álcool) que tem forma regular e gradativa. Essa curva descen-
dente demonstra o processo de desintoxicação em que predomina reações de

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oxidação. Pode ocorrem também reações de oxidação que transformam álcool
etílico em aldeído, ácido acético, gás carbônico e água (FRANÇA, 2011). Com
as mudanças no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), Lei Nº9.503/97, o moto-
rista que se recusar a fazer o teste de alcoolemia será autuado pelo Art. 277
§3º combinado com o Art. 165-A, do CTB, desde que não haja outra forma que
permita certificar influência de álcool. Caso seja possível identificar a presença
de álcool, será autuado pelo Art. 165.

Em se tratando do teste do etilômetro, a RESOLUÇÃO Nº 432, de 23 de janeiro


de 2013, do DENATRAN, disciplina que caso a medição realizada seja igual ou
superior a 0,34 miligramas de álcool por litro de ar alveolar expirado (0,34
mg/L), além da seara administrativa, responderá penalmente pelo crime previs-
to no Art. 306, do CTB. Caso seja inferior a 0,34 mg/L e superior a 0,04 mg/L
(erro máximo admitido), responderá apenas administrativamente pelo Art.165,
do CTB. Cabe ressaltar que é direito do cidadão não produzir provas contra si
mesmo.

“Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em acidente de


trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito poderá ser submeti-
do a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que, por meios
técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo Contran, permita cer-
tificar influência de álcool ou outra substância psicoativa que determine
dependência. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 1o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 2o A infração prevista no art. 165 também poderá ser caracterizada


mediante imagem, vídeo, constatação de sinais que indiquem, na for-
ma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora ou
produção de quaisquer outras provas em direito admitidas. (Re-
dação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 3º Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas esta-


belecidas no art. 165-A deste Código ao condutor que se recusar a se

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submeter a qualquer dos procedimentos previstos no caput deste arti-
go.

Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra subs-


tância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei
nº 11.705, de 2008)

Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)

Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12


(doze) meses. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e re-


tenção do veículo, observado o disposto no § 4o do art. 270 da Lei no
9.503, de 23 de setembro de 1997 - do Código de Trânsito Brasilei-
ro. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput em caso


de reincidência no período de até 12 (doze) meses

Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia


ou outro procedimento que permita certificar influência de álcool ou ou-
tra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277: (In-
cluído pela Lei nº 13.281, de 2016)

Infração - gravíssima; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)

Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12


(doze) meses; (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)

Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e re-


tenção do veículo, observado o disposto no § 4º do art. 270. (In-
cluído pela Lei nº 13.281, de 2016)

Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput em caso


de reincidência no período de até 12 (doze) meses (Incluído pela Lei
nº 13.281, de 2016)

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Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora al-
terada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoa-
tiva que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 12.760, de
2012)

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou


proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor.

Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência


entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do
crime tipificado neste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído


pela Lei nº 12.760, de 2012)

I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de


sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar al-
veolar; ou (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)

II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração


da capacidade psicomotora. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante


teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal
ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à
contraprova. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante


teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova
testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado
o direito à contraprova. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de
2014) (Vigência)

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§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes
de alcoolemia para efeito de caracterização do crime tipificado neste
artigo. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)

§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes


de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime
tipificado neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de
2014) (Vigência)”

No cadáver o teor alcoólico pode ser medido no sangue, utilizando para isso a
veia femoral, desde que não tenha ocorrido os processos de putrefação.
Quando começa as reações de putrefação o sangue não é indicado para de-
terminar a dosagem alcoólica, pois nessa fase a putrefação gera álcool e subs-
tâncias redutoras.

Outro exame que é determinante para caracterizar o estado de embriaguez é o


clínico, pois cada indivíduo possui uma taxa diferenciada de metabolização al-
coólica e pessoas com uma maior tolerância aos efeitos do álcool podem não
apresentar sintomas da embriaguez com quantidades de álcool acima do es-
pecificado em Lei como embriaguez. Além disso, massa corporal, idade e sexo
podem influenciar na embriaguez do indivíduo. Portanto, dizer que uma deter-
minada concentração alcoólica no sangue ou no bafômetro é suficiente para
relatar que uma pessoa está embriagada é uma falácia, pois cidadãos com
uma quantidade inferior de álcool no organismo ao determinado por Lei podem
apresentar sintomas de embriaguez (FRANÇA, 2011).

Segundo Vanrell, “todos os produtos-fumos e névoas (inalantes)-examinados,


mesmo sem ter qualquer conteúdo alcoólico, nem mesmo droga, nem como
excipiente, podem produzir leituras falso-positivas no alcoolímetro para ar expi-
rado (bafômetro), durante os primeiros 10 minutos após o seu uso” (VANRELL,
2000). Por isso, é fundamental o exame clínico realizado por um perito oficial
para complementar o laudo do IC.

19
De acordo com o Código de Processo Penal: Art. 182. O juiz não ficará adstrito
ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.

Dessa forma, a prova testemunhal pode invalidar o exame positivo de dosagem


alcoólica (JTACrimSP, 11:180).

A estabilidade do etanol nas amostras coletadas in vitro é um fator determinan-


te para diminuir ou aumentar a concentração desse álcool. Dentro do frasco de
coleta pode ocorrer formação de etanol pela ação de microorganismos. Tam-
bém pode ocorrer diminuição do álcool etílico pelo consumo de bactérias ou
pela evaporação do álcool dentro do frasco ocorrendo o escape para a atmos-
fera quando o frasco for aberto (BRUNI et al., 2012).

6- O LAUDO PERICIAL NA FORMAÇÃO DA CONVICÇÃO NA JUSTI-


ÇA

Sabemos que a perícia oficial de natureza criminal é uma atividade prevista no


Código de Processo Penal de fundamental importância e indispensável para
elucidação de crimes, abrangendo desde a avaliação de materiais até a eluci-
dação da dinâmica criminosa, através da observação e análise de vestígios
encontrados no local de um crime. O resultado do exame pericial assim como
as considerações dos peritos criminais acerca do fato averiguado é disposto
em documento oficial destinado a orientar a formação da convicção das autori-
dades judiciárias: o laudo pericial.

O laudo pericial constitui uma peça escrita, fundamentada, na qual os peritos


expõem as observações e estudos que fizeram no local, nele registrando as
conclusões do exame pericial sobre um determinado fato. No laudo pericial são
documentados os fatos ocorridos, as operações realizadas e as conclusões
devidamente fundamentadas.

Conforme observa José Frederico Marques, o laudo pericial é a exposição da


perícia e de seu resultado. Nele devem constar as conclusões do perito sobre a
perícia levada a efeito, procedidas da respectiva fundamentação probatória.

20
O laudo é um documento apresentado por escrito onde se expõe a atividade
desenvolvida pelo perito, quando a prova do fato depender de conhecimento
técnico ou científico.

O laudo pericial apresenta o resultado dos exames, pesquisas, investigações e


diligências realizadas pelo perito, que, enquanto auxiliar da administração da
Justiça, busca oferecer elementos materiais seguros que permitam ao juízo
formar a convicção sobre um determinado evento, através do laudo pericial.

Segundo ensina J.L. Zarzuela, laudo pericial é a exposição minunciosa, cir-


cunstanciada, fundamentada e ordenada das apreciações e interpretações rea-
lizadas pelo perito, com a pormenorizada enumeração e caracterização dos
elementos materiais encontrados no local do fatos, no instrumento do crime, na
peça de exame e na pessoa física, viva ou morta.

O perito emite juízo de valor sobre os fatos que aprecia, além de interpretar e
exteriorizar impressões objetivas sobre a dinâmica do evento que se quer elu-
cidar. O laudo pericial representa um meio instrumental técnico-opinativo fun-
damentador da sentença judicial, constituindo um meio instrumental pela sim-
ples razão de que é elaborado com destino ao órgão judiciário para oferecer-
lhes os elementos concretos do fato e permitir ao juiz que forme, firme ou re-
formule sua convicção sobre os fatos. É um excepcional meio de prova, que na
maioria das vezes esclarece o fato, proporcionando ao juiz garantias para uma
segura e consciente convicção.

O laudo pericial, enquanto peça técnica e formal, é o meio adequado para a


apresentação dos resultados dos exames periciais. Nele deve ser relatado tudo
o que fora objeto dos exames levado a efeito pelos peritos, assim, constitui o
documento técnico-formal que exprime apresenta o resultado de uma perícia e
expõe trabalho do perito. Dentre as várias peças técnicas existentes, pode-se
dizer que o laudo pericial é o documento mais completo, em razão de sua ori-
gem, que é uma requisição exarada pelas autoridades competentes, a ser le-
vado a cabo pelo peritos. Assim, vale destacar, sob o enfoque técnico-jurídico,

21
que um exame pericial pressupõe um trabalho técnico-científico da maior
abrangência possível em uma coalisão de saberes multidisciplinares. A perícia,
é portanto, um trabalho técnico-científico de natureza multidisciplinar levado a
efeito por peritos oficiais ou por peritos ad hoc enquanto especialistas no tema
dos exames que estão a realizar, cuja obrigação é dar a maior abrangência
possível ao exame requisitado pela autoridade. Sabemos que um exame peri-
cial deve se pautar pela mais completa constatação dos fatos, análise e inter-
pretação e, como resultado final, a opinião de natureza técnica-científica sobre
os fatos examinados. Os peritos não devem se restringir ao que lhes foi per-
guntado nos quesitos da requisição, mas sim devem estar atentos aos fatos
que possam surgir no transcorrer do exame. Dessa forma, a partir desse amplo
e completo exame, a peça técnica capaz de exprimir o universo abarcado pela
perícia é o laudo pericial. O laudo pericial é, portanto, o resultado final de um
completo e detalhado trabalho técnico-científico, levado a efeito por peritos,
cujo objetivo é subsidiar a Justiça em assuntos que dependam de prova mate-
rial ou ensejam dúvidas no processo.

O art. 158 do Código de Processo Penal evidencia de forma direta a importân-


cia e a relevância que a perícia representa no contexto probatório, referindo-se
à sua indispensabilidade. A falta de perícia nos crimes que deixam vestígios
implica em nulidade processual, de acordo com o art. 564, III, b, do mesmo di-
ploma legal.

“Art. 158 - Quando a infração penal deixar vestígios, será indispensável


o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a
confissão do acusado.

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo


de delito quando se tratar de crime que envolva:
I - violência doméstica e familiar contra mulher;
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com de-
ficiência.

22
Art. 564 – A Nulidade ocorrerá nos seguintes casos:

III- por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:

b) O exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, res-


salvando o disposto no art. 167.”

Chegando ao local dos fatos, o perito fará o exame de corpo de delito para
constatar se efetivamente houve ou não uma infração penal. Em caso afirmati-
vo, o perito analisará as características desta infração penal a fim de qualificá-
la e procederá a colheita dos elementos que possibilitem a identificação do
criminoso e a demonstração de sua culpabilidade, ou seja, a comprovação da
autoria e da materialidade. Após a análise de todos os elementos encontrados
no local do crime, o perito então expressará o seu juízo de valor através do
laudo pericial. Os indícios materiais colhidos serão apresentados no laudo peri-
cial e suscetíveis de serem utilizados como prova, de modo a assegurar o seu
valor em juízo como peça de convicção no rol probatório. Assim, o laudo mate-
rializa e perpetua o local dos fatos e seus vestígios, assim como tudo que foi
visto e descoberto pelo perito.

O exame de corpo de delito é de extrema importância, pois através dele prova-


se a existência da infração penal pelo apontamento dos vestígios e permite a
indicação do autor da infração.

A perícia não constitui simplesmente uma modalidade de meio probatório. Ape-


sar da legislação brasileira não estabelecer uma hierarquia das provas e permi-
tir ao juiz que se decida sobre aquela que lhe pareça mais em concordância
com os fatos, é necessário dizer a importância da perícia dentro do conjunto
probante. A perícia constitui a “rainha das provas”, porque delas emanam de-
clarações de ciência, afirmações de juízos, apreciações e interpretações de
especialistas no assunto examinado. O que se observa é que a prova pericial é
produzida a partir da fundamentação científica dos elementos materiais deixa-
dos pela ação delituosa, enquanto que as chamadas provas subjetivas depen-
dem do testemunho ou da interpretação de pessoas, podendo ocorrer uma sé-

23
rie de erros, desde a simples falta de capacidade da pessoa em relatar deter-
minado fato, até a situação de má-fé, em que exista a intenção de distorcer os
fatos para não se chegar à verdade.

O laudo pericial com destino à Justiça Criminal tem como suporte uma série de
formalidades e de regulamentos emanados principalmente do Código de Pro-
cesso Penal, que o diferencia em vários aspectos daqueles destinados à Justi-
ça Cível. A principal característica do laudo pericial criminal é que todas as par-
tes integrantes do processo dele se utilizam, pois é uma peça técnica-pericial
única, determinada à partir do artigo 159 do Código de Processo Penal (os
exames de corpo de delito e as outras perícias serão feitas por dois peritos ofi-
ciais). Só a figura do perito oficial para fazer a perícia criminal, cujo laudo pode-
rá ser utilizado desde a fase de investigação policial até o processo penal, nes-
te, tanto pelo magistrado, promotor ou pelas partes representadas pelos advo-
gados. Como se vê, qualquer necessidade de perícia no âmbito da Justiça
Criminal, deve ser feita por peritos oficiais, que são aqueles profissionais de
nível superior ingressos no serviço público (Institutos de Criminalísticas ou Ins-
titutos médico-legais) mediante concurso público, com a função específica de
fazer perícias.

Em razão de ser uma prestação jurisdicional emanada do Estado, reveste-se


da oficialidade e publicidade, sendo o laudo oficial do inquérito policial e do
processo criminal. Assim, teremos o laudo oficial oriundo das perícias realiza-
das por peritos criminais e por peritos legistas, que são chamados peritos ofici-
ais. Por ser uma obrigação do Estado prestar os serviços de perícia na esfera
da justiça criminal, os peritos oficiais devem ser funcionários públicos com a
função especifica de fazer perícia, não havendo qualquer remuneração direta
aos peritos signatários do laudo pericial.

Apesar do juiz não estar vinculado necessariamente às conclusões contidas no


laudo pericial (art. 183 do Código de Processo Penal), podendo afastá-la no
todo ou em parte, podendo inclusive, requisitar a realização de um novo exame
pericial, ao rejeitar uma prova pericial, entretanto, o juízo deverá justificar for-
malmente. O livre consentimento não se confunde com puro capricho ou mero

24
arbítrio na apreciação das provas materiais. O juiz está livre de preconceitos
legais na apreciação das provas, podendo formar sua convicção com outros
elementos probatórios contidos nos autos, mas não pode abstrair-se ao conte-
údo do laudo pericial sem motivar isso em sua sentença.

A linguagem do laudo pericial deve ser clara, capaz de ser inteligível a todas as
pessoas que deverão ou poderão apreciá-lo e sua terminologia não deve con-
ter expressões dúbias de modo a exigir um segundo exame pericial. Como tra-
balho técnico, o laudo pericial se caracteriza pela clareza, concisão e rigoro-
sa propriedade vocabular, uma vez que se destina a informar e esclarecer pes-
soas leigas inclusive. Quando obscuro, ambíguo, impreciso e omisso, o laudo
pericial dará margem a autoridade requerer sua reformulação, conforme dispõe
o artigo 181, caput Código de Processo Penal.

“Art.181 No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de


omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária man-
dará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo.”

Somente mediante análise sistemática do local do fato, do instrumento do cri-


me, da peça de exame, de pessoa física, viva ou morta, é que os peritos pode-
rão oferecer subsídios de ordem técnica científica aos destinatários do laudo
pericial, devendo em suas diligências proceder às pesquisas necessárias para
a fundamentação do trabalho. A lei processual não determina expressamente
que o laudo pericial seja fundamentado, porém essa exigência se faz presente,
a fim de que o juiz possa avaliar a procedência do conteúdo probatório do lau-
do pericial. A sentença judicial, que traduz ato de autoridade, deve ser funda-
mentada. Mais ainda deve ser o laudo pericial, uma vez que é o instrumento no
qual o juiz se apoia para proferir sua sentença.

É de suma importância a documentação de todos os procedimentos realizados


na peça de exame, desde sua coleta, acondicionamento, transporte, armaze-
namento, possibilitando o rastreamento de todas as operações com finalidade
de estabelecer a cadeia de custódia, afim de dar credibilidade e robustez ao

25
laudo pericial. Assim, cadeia de custódia, como já estudado em conteúdo ante-
rior, é o registro administrativo que confere rastreabilidade da prova, desde a
coleta no local dos fatos até o seu exame e armazenamento final, visando for-
necer evidências defensáveis quanto à preservação da peça de exame, garan-
tia de confidencialidade e validade dos resultados, constituindo prova escrita do
ocorrido entre a coleta e a emissão do resultado da perícia.

Um aspecto significativo para o valor probatório da prova por indício é, sem


dúvida, o caráter de autenticidade que deve envolver os indícios, ou seja, a
legalização dos mesmos, especialmente no que se refere ao surgimento e a
origem de cada um deles trazidos ao bojo nos autos. Isto implica na afirmativa
de que deve sempre e invariavelmente haver plena certeza jurídica e proces-
sualística ao se julgar e considerar cada elemento de prova, principalmente
tendo em vista que se encontra em jogo a segurança da sociedade, a honra, a
liberdade, e o patrimônio das pessoas.

A descrição minunciosa, circunstanciada e fundamentada contida no laudo pe-


ricial dos elementos materiais examinados pelo perito, permitirá ao membro do
Ministério Público enquadrar o fato ilícito como crime, como contravenção pe-
nal ou simplesmente como irrelevante penal. O perito deve ter a exata noção
do enquadramento e direcionamento jurídico que o resultado do seu trabalho
terá no contexto investigatório judicial, sendo de inegável relevância o laudo
pericial para o processo criminal. O laudo pericial poderá ser a peça principal e
fundamental para condenar ou inocentar um réu, daí decorre a grande respon-
sabilidade do perito em realizar um trabalho bem feito e idôneo.

7- ANÁLISE QUÍMICA FORENSE

A utilização de conhecimentos científicos em auxílio a questões judiciais teve


seu início registrado na antiga Grécia, com certa contribuição da química para
assuntos da medicina. Na Roma antiga a química se mostrou decisiva para
esclarecer casos de mortes por envenenamento, que tornara corriqueiros, prin-
cipalmente de figuras públicas. Este foi o primeiro grande indicio de que havia

26
a necessidade de promover conhecimento que auxiliassem a justiça contra tais
crimes.

Mathieu-Joseph Bonaventura Orfila, natural da Espanha e crescida na França


(1787- 1853), considerado o pai da toxicologia, foi também um dos pioneiros na
fase moderna da ciência forense. Atuou certa vez como perito em um caso de
suspeita de assassinato por envenenamento, o qual conseguiu provar a intoxi-
cação por arsênio recolhendo amostras do corpo exumado da vítima e através
de análises que o mesmo não advinha do solo onde o corpo havia sido enter-
rado. Orfila trabalhou em fazer das análises químicas, uma parte da rotina da
medicina forense, havendo estudado os efeitos de asfixia, exumação e decom-
posição de corpos. De todos seus estudos, Orfila deixou para a ciência forense
um Tratado de Medicina Legal (FARIAS,2010).

Na mesma época, outra importante figura aparece, o químico inglês James


Marsh (1794-1846). O temível arsênio continuava a fazer suas vítimas, pois até
então era praticamente indetectável; as análises químicas eram precárias e
seus sintomas se assemelhavam aos sintomas da cólera, doença muito comum
naquele tempo. Marsh propôs um método de detecção para o arsênio, onde se
borbulha sulfeto de hidrogênio em uma solução onde supostamente acredita-se
ter o agente intoxicante, onde o positivo se observa quando a solução assume
um tom amarelado. Porém tal método não foi considerado confiável pelas auto-
ridades na época, pois não era possível ver o arsênio na forma metálica. Esse
desafio fez Marsh desenvolver um teste, o qual leva o seu nome, onde se adi-
ciona zinco metálico e ácido sulfúrico à amostra.

Identificar o agente intoxicante foi uma grande vitória da ciência, porém tam-
bém se fazia necessário à identificação do criminoso.

Desde os primórdios das civilizações, os homens desenvolveram métodos pró-


prios de identificação daqueles que transgrediam as leis e a ordem. Ações co-
mo infringir cicatrizes, tatuagens, marcas e até mesmo mutilações de membros
eram utilizadas, que também serviam como inibidores de qualquer infração.
Tais métodos foram abandonados em um modo geral com o avanço das civili-

27
zações e do reconhecimento de direitos humanos. Contudo, não foi abandona-
da a ideia de identificação humana, e a descoberta de tendências únicas das
impressões digitais em cada indivíduo foi tomada como padrão neste intuito.
Francis Galton, primo de Charles Darwin, em 1892 público um livro intitulado
“Impressões Digitais”, o qual incluía o primeiro sistema de classificação destas
impressões. Surgia a datiloscopia.

A ideia daquilo que estava por trás de um crime e do criminoso por ele cometi-
do sempre foi discutida desde a antiguidade. Nos tempos mais remotos, os
crimes eram entendidos como manifestações sobrenaturais, havendo forte li-
gação com a religião, onde o criminoso apresentava personalidade demoníaca.
Essa relação crime e criminoso foi sendo analisada e ganhando novas explica-
ções como: certas características físicas de um indivíduo com a predisposição
às ações transgressoras; ao estado mental deficiente, onde o indivíduo não
assimilaria a ordem, a lei; a desorganização social e a pobreza, entre outros.

A criminologia, ou o termo desenvolvido por Hans Gross (1847 – 1915), “crimi-


nalística”, é o pensamento moderno a respeito de toda atmosfera em volta ao
crime, não somente o estudo dos vestígios concretos materiais do crime, mas
também o exame dos indícios abstratos, psicológicos do criminoso, na medida
em que esta ciência pode ser distraída da psicologia geral, considerando que a
investigação judiciária, para a descoberta do autor de um crime. Gross (que era
professor) foi um dos primeiros a compreender a importância de agregar outras
diversas áreas do conhecimento (química, física, botânica, toxicologia, geolo-
gia, etc) no auxílio à questões judiciais, tendo ele estudado essas diversas
áreas para ter uma maior compreensão de suas interligações. Por tais conside-
rações que ele é tido como o fundador da criminologia

Um dos maiores nomes da ciência forense é Edmond Locard (1877 – 1966),


francês, nascido em uma família rica e culta, dedicou sua vida a medicina legal
e a estudos de criminalística, devido às formações em medicina e direito, influ-
enciadas por seu pai e sua mãe, respectivamente. Com sua principal ajuda, foi
construído o primeiro laboratório cientifico da polícia em Lyon, o qual levou o
nome de Laboratório de Polícia Técnica de Lyon. Locard publicou um tratado

28
de criminalística, e é dele a frase “todo contato deixa um rastro”, enunciada
como “princípio da troca”. Tornou-se conhecido pelos seus feitos, e chamado
“Sherlock Holmes francês”.

O desenvolvimento das áreas de papiloscopia e datiloscopia, as quais promo-


vem a identificação de impressões deixadas nas cenas dos crimes, a funda-
mentação da criminologia (que visa o ato criminoso em todas suas partes), a
descoberta do luminol (composto que revela vestígios de sangue, reagindo
com estes, dando origem a um azul fosforescente) e também o desenvolvimen-
to tecnológico e procedimental, promoveram a aliança definitiva entre ciência e
justiça.

8- ALGUMAS TÉCNICAS E EQUIPAMENTOS NA ROTINA FORENSE


8.1- Espectrometria de Massas (MS)

A espectrometria de massas é uma técnica usada para o estudo das massas


de átomos, moléculas ou fragmentos de moléculas. Para se obter um espectro
de massa, as moléculas no estado gasoso ou espécies dessorvidas a partir de
fases condensadas são ionizadas (HARRIS, 2003). Trata-se de uma técnica
destrutiva, ou seja, necessita-se de alíquotas das amostras que serão destruí-

29
das no decorrer da análise, porém é uma técnica com bastante sensibilidade,
sendo amplamente utilizada em diversas aplicações.

A partir do reservatório do sistema de amostragem, moléculas neutras são in-


seridas no espectrômetro, o qual apresenta feixes de elétrons responsáveis
pela ionização dessas moléculas. Placas aceleradoras e de focalização man-
dam esses íons na direção de um tubo analisador, porém antes passam por um
campo magnético, para que pela diferença de suas cargas e massas, sofram
diferença na trajetória. O campo separa os íons em um padrão chamado es-
pectro de massas. A leitura dos espectros possibilita conhecer ou comparar
com espectros de bancos de dados, a identidade das espécies-problema.

Existem diferentes tipos de espectrômetros, suas escolhas dependem especifi-


camente do tipo de analito que está sendo trabalhado, quanto a sua quantida-
de e sensibilidade, por exemplo. Uma técnica utilizada pela polícia cientifica no
Brasil, é o Easy Ambient Sonic-spray Ionization Mass Spectometry (EASI-MS),
desenvolvida por uma equipe do Instituto de Química da Universidade de
Campinas (UNICAMP) (BRITO, 2010). No EASI-MS o processo de ionização é
feito por um spray (metanol acidificado) sônico, não havendo a necessidade de
alta voltagem (fonte de elétrons), nem alta temperatura. O spray sônico passa
por um tubo, arrastado por ar comprimido, atingindo assim a amostra, onde
ocorre uma dessorção e sua ionização. Tais íons são transferidos para o es-
pectrômetro de massa, para que ocorra a identificação das espécies. A técnica
EASI-MS está ganhando muito espaço devido ao seu simples procedimento e
também por ser considerada uma técnica não destrutiva. A técnica pode ser
utilizada na identificação de drogas ilícitas e na análise de documentos falsifi-
cados, por exemplo.

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8.2- Cromatografia

A cromatografia é um método físico-químico de separação. Ela está fundamen-


tada na migração diferencial dos componentes de uma mistura, que ocorre de-
vido a diferentes interações (DEGANI et al. 1998). De um modo geral, a sepa-
ração por cromatografia se deve uma fase estacionária e uma fase móvel, onde
passa a mistura, havendo interações diferentes entre seus componentes (solu-
to) com as respectivas fases. A fase estacionária é fixa (se a separação for fei-
ta em coluna, a fase estacionária fica fixada a coluna), sendo um material poro-
so, sólido ou líquido viscoso. Já a fase móvel pode ser líquida ou gasosa, a
qual se move através da coluna.

Os diferentes tipos de cromatografia se devem aos diferentes tipos de intera-


ções possíveis entre os solutos e as fases estacionárias e móveis, podendo ser
realizadas em uma coluna ou de forma planar. A cromatografia líquida se dá
quando a fase móvel é líquida, enquanto a fase estacionária é sólida, havendo
interação soluto-fase estacionária, como na cromatografia de adsorção, onde
um soluto tem mais facilidade em ser adsorvido por poros na fase estacionária,
levando mais tempo para se deslocar.

A cromatografia gasosa se dá quando a fase móvel é gasosa, enquanto a fase


estacionária é líquida ou sólida. A fase móvel é um gás de arraste, o qual leva
os componentes da mistura analisada (no estado gasoso), e a fase estacioná-
ria exerce atração sobre um dos componentes, retardando o tempo de eluição
e promovendo assim a separação das espécies.

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Através do cálculo do tempo de retenção de um determinado analito sobre um
determinado tipo de cromatografia, é possível comparar e chegar à identidade
da espécie presente na mistura analisada. Existe a possibilidade também da
junção dos cromatógrafos e de espectrômetros, os quais juntos potencializam o
trabalho, levando a resultados mais rápidos nas análises realizadas.

8.3- Testes Colorimétricos

O uso de teste de cor talvez seja a forma de análise mais comum e utilizada
para se determinar a presença de certa substância em uma amostra, se tratan-
do unicamente de uma técnica qualitativa.

Devido ao baixo custo de reagentes, fácil reprodução, a qual por uma reação
química simples revela resultados que podem ser interpretadas a olho nu, as
técnicas colorimétricas ainda hoje são utilizadas largamente em rotina de labo-
ratórios de química analítica. Até mesmo quem não é químico por formação
pode utilizar os testes de cor sem larga experiência, como o exemplo de polici-
ais em procedimentos de rotina, na busca de substâncias ilícitas, sem a neces-
sidade de um laboratório.

O desenvolvimento de uma cor pode indicar a presença de uma droga ou de


uma determinada classe de drogas. Uma vez que mais de um composto pode
dar o mesmo resultado, os testes de cor não são específicos e não identificam
conclusivamente a presença de um composto (LINCK, 2008). Devido a esse
fato, o uso do teste colorimétrico entra como uma técnica primária, servindo

32
para identificar a presença do possível grupo alvo na amostra, para posterior-
mente passar por uma técnica analítica mais sofisticada, determinando o teor e
a composição da amostra problema.

A utilização de conhecimentos científicos, em especial conhecimentos quími-


cos, como ferramenta decisiva na investigação de questões referentes ao judi-
ciário vem sendo retratada há tempos e a evolução de tais conhecimentos se-
lou essa união de forma definitiva. Isso também se deve a clareza com que
métodos e técnicas atuais chegam a resultados em suas análises, assim como
o dever ético do poder judiciário em julgar de maneira a não prejudicar inocen-
tes e beneficiar criminosos.

O conhecimento forense traz consigo o papel inibidor, importante no que tange


a manutenção de uma sociedade livre de questões que ferem o direito de cida-
dãos (lembrando que sua aplicação é muito mais ampla do que ocorrências
policiais), reforçando a ideia de que não há crime sem solução.

Existe no Brasil uma necessidade de divulgação e ampliação de trabalhos cien-


tíficos na área de Química Forense, visto que ainda é escasso o número de
materiais consultáveis a respeito desse tema. A ampliação de pesquisas na
área implica em um maior desenvolvimento de técnicas e métodos analíticos
(como os testes de cor, por exemplo) específicos para tratar de vestígios repor-
tados como provas de um possível crime, facilitando o trabalho empregado por
peritos e agentes de campo.

O ensino de Física tornou-se maçante e pouco atrativo para estudantes de en-


sino básico e médio nas escolas brasileiras. Isso deve-se, principalmente, ao
fato desse ensino ser feito fora de contexto, sem ligação com os elementos que
motivam a existência da própria ciência. Com tão pesada influência e com uma
abordagem tão focada, na maioria dos livros didáticos, as aulas de Física ten-
dem a se tornarem aulas de matemática aplicada, com equações abstratas que
não possuem significação conceitual para a maioria dos estudantes. Nesse

33
contexto, direcionar o Ensino de Física de modo a tornar esse conhecimento
útil ao usuário por meio de vínculos com temas relevante torna-se imperativo.

A perícia criminal entrou no cotidiano dos brasileiros, em especial do público


jovem, por meio da popularização de seriados de TV relacionados à área, co-
mo por exemplo o CSI: Crime Scene Investigation. Além disso, temas relacio-
nados à perícia criminal se apresentam quase que diariamente nas manchetes
de jornais e revistas. Em ambos os casos, os crimes proporcionam, em geral,
temas instigantes para despertar o interesse de alunos (Dias Filho & Antedo-
menico, 2010). Os conhecimentos de Criminalística aplicados à perícia criminal
tornam-se, nesse contexto, uma importante ferramenta de para estimular a in-
terdisciplinaridade no ensino de Ciências Naturais.

Teixeira (2003) já alertava para a nítida visão distorcida sobre o conhecimento


científico, como se não tivesse raízes sociais e ideológicas, como se não res-
pondesse a motivações políticas ou instrumentais, ou como se não tratasse de
temas atuais e relevantes socialmente. Se essa é a visão que a sociedade tem
da ciência, o ensino de ciências também acaba comprometido (MENEZES,
1997). O movimento de ensino de ciências com enfoque CTS se iniciou na dé-
cada de 70 como uma tendência de crítica ao modelo econômico desenvolvi-
mentista até então praticado (SANTOS, 2008). Hofstein, Aikenhead e Riquarts
(1988, apud Santos, 2008), caracterizam o ensino com enfoque CTS como
aquele onde ocorre a integração entre educação científica, tecnológica e social,
onde os conteúdos científicos são abordados junto com a discussão dos as-
pectos moral, social e ético deles.

De acordo com Palácios, Otero, Garcia (1996, apud Pinheiro, Silveira e Bazzo,
2007), na educação podem ser classificadas três modalidades de enfoques
CTS: enxerto CTS, onde os temas são introduzidos nas aulas de ciências,
abrindo discussões e questionamentos do que seja ciência e tecnologia; Ciên-
cia e Tecnologia por meio de CTS, onde o conteúdo científico se estrutura por
meio do CTS; e CTS puro, onde se ensina ciência, tecnologia e sociedade por
intermédio do CTS, no qual o conteúdo científico tem papel subordinado. Esse
referencial não compactua com a ideia de salas de aula arrumadas onde todos

34
devem ouvir uma só pessoa transmitindo as informações eleitas como impor-
tantes, que são acumuladas nos cadernos para futura reprodução desse co-
nhecimento (MARTINS, 2003).

Para verificar essa hipótese, um grupo de estudantes foi submetido a uma se-
quência de seis aulas, onde foi abordado o tema “Radiação Eletromagnética”,
estruturado em torno do tema social “Perícia Forense e suas tecnologias”.

Foi introduzida a relação entre Polícia e Ciência, por meio do trabalho da perí-
cia e do ramo de investigação conhecido como Ciência Forense. Motivação da
escolha do tema: O profissional forense utiliza-se de métodos científicos para
confirmar ou descartar a autoria ou envolvimento de suspeitos a objetos, bem
como descrever a provável dinâmica dos acontecimentos durante a ação crimi-
nosa.

Questões não abordadas no ensino de Física foram também trazidas ao deba-


te, como os aspectos jurídicos da prova, inseridos no Código de Processo Pe-
nal. Os fenômenos da Fluorescência, da Luminescência e da Fosforescência
são amplamente utilizados nos laboratórios de criminalística, bem como no
próprio local de crime, para a identificação de vestígios não visíveis ao olho
humano. A aplicação dessas técnicas, no entanto, demanda o conhecimento a
respeito dos reagentes químicos utilizados, da natureza e energia da radiação
utilizada em cada processo, pois diferentes comprimentos de onda são aplica-
dos em função do reagente demandado, seja para a revelação de uma impres-
são digital latente numa superfície, para a identificação de fluidos corporais
com o uso do Luminol, por exemplo, identificação de fios de cabelo e fibras,
hematomas e ferimentos padrões, coleta de fragmentos de ossos, exame de
documentos questionados, dentre outros.

Para qualquer das aplicações, faz-se necessário entender a natureza e a ener-


gia da radiação, as possíveis interações, os fenômenos físicos e químicos en-
volvidos, transição eletrônica.

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Resultados alcançados: O incremento de conhecimento dos alunos foi medido
por meio de um teste, aplicado antes e depois das aulas temáticas. Em geral,
houve um aumento do entendimento dos alunos acerca do tema “Radiação
Eletromagnética” com a utilização da abordagem proposta por esse trabalho.
Ademais, a recepção da proposta pelos alunos foi muito positiva, fato atestado
por um questionário de opinião.

”Física Forense é a parte da Física destinada à observação, análise e interpre-


tação dos fenômenos físicos - naturais - de interesse judiciário. Dentre estes se
destacam os relativos aos acidentes de trânsito. Tais fenômenos podem ser
vistos como parte da dinâmica dos corpos rígidos, sob certas condições, e as-
sim têm sido tratados por especialistas na área.”

Ao lermos estas explicações, logo nos lembramos dos filmes e seriados norte
americanos baseados em investigações criminais, onde os peritos trabalham
em laboratórios com equipamentos de última geração e supercomputadores
capazes de fazer coisas incríveis. Porém, veremos que apenas a Física básica
ensinada no ensino médio é suficiente na resolução de alguns casos envolven-
do acidentes de trânsito, por exemplo.

Imagine que você está andando tranquilamente com o seu carro e, quando vai
atravessar uma rua, um motorista apressado que vinha pela rua perpendicular
não consegue parar, colidindo então com o seu veículo.

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O motorista afirma para os policiais que sua velocidade era compatível com a
via, porém, se isto fosse verdade ele provavelmente teria conseguido parar o
carro antes da colisão.

Para saber a real velocidade do veículo, os peritos utilizam o conceito de con-


servação da Quantidade de Movimento. Vemos em Física que esta grandeza é
obtida através do produto entre a massa e a velocidade de um móvel, ou seja:

onde P é quantidade de movimento, m a massa e v a velocidade do móvel.


Como temos a conservação da quantidade de movimento, dizemos que Pinici-
al é igual a Pfinal:

Considerando agora um sistema envolvendo os dois carros, temos:

onde v é a velocidade inicial e u a velocidade final dos carros.


Considere que após a colisão, os automóveis seguem nas direções conforme a
figura a seguir:

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Chamamos de αa e αb os ângulos antes da colisão e βa e βb os ângulos de-
pois da colisão.

Neste caso, manipulando a equação acima e considerando estes ângulos te-


mos as seguintes equações para as velocidades iniciais dos carros:

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Note que nestas duas equações precisamos saber as velocidades dos veículos
após a colisão. Para isso, novamente utilizamos a Física básica.

O perito irá verificar a marca dos pneus deixada pelos carros no asfalto, me-
dindo então a distância que eles percorreram até parar completamente. Como
o pneu está deslizando sobre o asfalto, temos então uma força de atrito envol-
vida e, sabendo disso, podemos encontrar a velocidade final dos automóveis.

Para isso precisamos então da equação de força de atrito:

Como estamos lidando com forças, precisamos relembrar também a segunda


Lei de Newton:

Igualamos então as duas equações e evidenciamos a aceleração:

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onde μ é o coeficiente de atrito entre o pneu e o asfalto e g a aceleração da
gravidade.

O valor do coeficiente de atrito depende dos materiais envolvidos. Para saber


os valores basta consultar uma tabela, como a mostrada a seguir:

Possuímos então os valores da aceleração e da distância percorrida, medida


pelo perito no local do acidente.

Como estamos querendo encontrar o valor da velocidade, usaremos a equa-


ção de Torricelli:

Onde v é a velocidade final (igual a zero pois os carros param), v0 a velocidade


inicial (que estamos querendo saber) e D é a distância percorrida até parar.

Basta agora substituir a equação de aceleração e evidenciar a velocidade inici-


al. Fazendo isto obtemos:

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Tendo agora o valor das velocidades finais de cada um dos carros, podemos
encontrar a velocidade de cada um antes da colisão e saber se o motorista do
outro carro estava em velocidade compatível com a via antes de colidir com o
seu.

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9-REFERÊNCIAS

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