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1. Entender o Centro de Convivência do Idoso.

Entre as diversas modalidades de atendimento previstas na Política Nacional de Assistência Social e na Política
Nacional do Idoso, o Centro de Convivência caracteriza-se como um espaço destinado ao desenvolvimento de
atividades socioculturais e educativas, dando oportunidade à participação do idoso na vida comunitária, prevenindo
situações de risco pessoal e contribuindo para o envelhecimento ativo.

Tem por foco o desenvolvimento de atividades que contribuam no processo de envelhecimento saudável, no
desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio
comunitário e na prevenção de situações de risco social. A intervenção social deve estar pautada nas características,
interesses e demandas dessa faixa etária e considerar que a vivência em grupo, as experimentações artísticas,
culturais, esportivas e de lazer e a valorização das experiências vividas constituem formas privilegiadas de expressão,
interação e proteção social. Devem incluir vivências que valorizam suas experiências e que estimulem e potencialize a
condição de escolher e decidir.

Objetivos:

• Contribuir para um processo de envelhecimento ativo, saudável e autônomo.


• Assegurar espaço de encontro para os idosos e encontros intergeracionais de modo a promover a sua
convivência familiar e comunitária.
• Detectar necessidades e motivações e desenvolver potencialidades e capacidades para novos projetos de vida.
• Propiciar vivências que valorizem as experiências, estimulem e potencializem a condição de escolher e decidir,
contribuindo para o desenvolvimento da autonomia e protagonismo social dos usuários.

Serviço:

O acesso ao Centro de Convivência se dará por meio de procura espontânea do próprio idoso ou de sua família
no local de funcionamento do serviço, ou por encaminhamento da rede socioassistencial referenciada ao Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS), ou ainda por demanda de outras políticas públicas que atendam idosos em
situação de vulnerabilidade ou risco social. Além disso, a equipe poderá realizar uma busca ativa em seu território de
abrangência para identificar potenciais usuários para este serviço.

Atividades fornecidas:

Atividades sociossociais: b) Eventos/atividades comunitárias: incentivar a


participação dos usuários em atividades de caráter
a) Acolhimento;
coletivo no território.
b) Entrevista social.
c) Oficinas: artesanato, pintura, costura, dança.
Atividades socioeducativas: d) Palestras: sobre saúde principalmente.
e) Atividades físicas.
a) Reuniões Socioeducativas: fortalecimento de
laços.
FONTE: Guia de Orientações Técnicas CCI, Programa São Paulo Amigo do Idoso.

2. Entender o sistema imunológico no idoso.


Imunossenescência

O progressivo e fisiológico declínio da reserva funcional que ocorre em todos os sistemas biológicos ao longo da
vida também afetará o sistema de defesa, a função imune. A este fenômeno chamamos imunossenescência, que
corresponde ao envelhecimento imunológico traduzido por um conjunto de modificações tanto na resposta inata
quanto na adquirida. Tais modificações podem ocorrer em uma ou várias etapas do caminho de ativação celular, as
quais resultarão em menor eficiência do sistema de defesa aumentando a propensão e a gravidade de doenças
infecciosas, autoimunes e neoplásicas.
A marca do envelhecimento é o progressivo declínio dos três maiores sistemas de comunicação do corpo: o
imune, o endócrino e o nervoso. Entre as incontáveis variáveis relacionadas com o processo de envelhecimento, uma
das mais controversas é o perfil imunológico do indivíduo velho. Há um consenso de que ele se modifica, tornandose
menos eficiente. Embora tenha sido aceito por muito tempo que a imunidade inata fosse menos atingida com o
envelhecimento, os estudos mais recentes demonstram a existência de importantes alterações também nesta esfera
de defesa.

Entre os componentes da imunidade inata, os neutrófilos, que apresentam um papel importante na defesa
primária contra fungos e bactérias, e fazem parte das etapas de ativação (p. ex., liberação de enzimas proteolíticas)
são afetados no envelhecimento, reduzindo seu potencial microbicida como também sua interação com o sistema da
imunidade adquirida. A capacidade fagocitária e, em alguns estudos também a capacidade quimiotática estão
reduzidas, dando mais tempo à multiplicação bacteriana aumentando o dano tecidual (liberação de enzimas
proteolíticas).

As células dendríticas relacionam o sistema imune inato com o adquirido, tendo a capacidade de induzir tanto
uma potente resposta antigênico específica como também à tolerância. Iniciam e amplificam respostas, estando
distribuídas pelo corpo em regiões de contato com o meio externo como pulmões, trato digestivo e em extensa rede
a qual inclui outras células apresentadoras de antígenos. Com o envelhecimento, apresentam menor eficiência na
apresentação do antígeno, o que levará a menor estimulação de linfócitos T. Os monócitos/macrófagos,
componentes de alta mobilidade, parecem aumentar em número com o avançar da idade, entretanto sua função
(diferenciação) é reduzida.

Com relação às células NK importantes na defesa viral e oncológica, com o envelhecimento ocorre um aumento
quantitativo, porém à custa de células menos eficientes na produção de citocinas (responsáveis pela emissão do sinal
e regulação para a resposta imune). Há um aumento, porém, de células killer de menor competência. No campo da
imunidade adaptativa, sabemos que todas as células imunologicamente ativas podem exibir modificações idade-
relacionadas e isto inclui a imunidade celular (linfócitos T) e imunidade humoral (linfócitos B).

O declínio da atividade da célula T foi primeiramente descrito por Menon et al. em 1974, em camundongos, e em
humanos, por Weksler e Hutteroth. Este declínio é representado por um aumento na proporção das células de
memória (que já tiveram contato com um antígeno), em relação a células virgens (naïve), aquelas que ainda não
entraram em contato com um antígeno, o que resultará em uma diminuição do potencial de reatividade a novos
antígenos. Com a involução do timo, diminui o repertório de células T provenientes dele, inclusive aquelas com
capacidade supressora que impediriam a quebra do delicado equilíbrio entre estas e as efetoras, aumentando assim
a chance de fenômenos autoimunes. O envelhecimento é acompanhado por um progressivo aumento na proporção
de células T que atuam de forma disfuncional. O declínio da capacidade imune com a idade poderia ser atribuído à
prevalência de um linfócito T com fenótipo senescente. Suas células virgens apresentam defeitos funcionais, redução
dos telômeros, diminuição na produção de interleucina 2, prejuízo na expansão e diferenciação em célula efetora e
consequente redução na habilidade da resposta antigênica. Sua maior característica é a irreversibilidade da perda de
sua capacidade replicativa. O número de divisões celulares, nos quais a senescência é atingida, depende da espécie,
da idade e do conjunto genético do indivíduo. Assim, células de origem fetal ou neonatal são capazes de um número
maior de divisões do que as células de indivíduos velhos – limite de Hayflick. Com o avanço da idade, há um aumento
no número de células que parecem normais, mas falham em responder ao estímulo ativador.

Os linfócitos B, embora não demostrem alteração quantitativa importante, apresentarão a qualidade da função
de seus anticorpos prejudicada, o que se refletirá em respostas mais baixas às vacinas. Com o envelhecimento a
medula óssea tem reduzida a capacidade de expansão da população de linfócitos B. Estes linfócitos são estimulados
de forma menos eficiente, fazendo surgir uma população de linfócitos B de memória cada vez maior e de linfócitos
virgens (naïve) cada vez menor, reduzindo a capacidade de reconhecer novos antígenos. Enquanto os títulos de
anticorpos para partículas estranhas e a resposta imune secundária caem com a idade, os autoanticorpos aumentam.
Aumenta a frequência da autorreatividade que parece se originar na diminuição do potencial de regulação imune, ou
talvez pelo fato de que o sistema imune também preencha a função de remover material autólogo danificado.
Geralmente estes autoanticorpos são IgM e IgG de baixa afinidade A afinidade do anticorpo é crítica na resposta
imune, já que é ela quem determina a força e a especificidade com a qual o anticorpo se ligará ao antígeno.
Anticorpos com alta afinidade são capazes de se ligar mais avidamente, formando o chamado complexo imune,
tornando mais eficiente a eliminação do antígeno. Anticorpos de baixa afinidade, por sua vez, são pouco específicos
e pouco eficientes na eliminação do antígeno e apresentam, além disso, mais reações cruzadas com outros
antígenos. O declínio na resposta dos anticorpos e a diminuição de sua ligação (afinidade) com o antígeno
aumentarão o estado de anergia (não responsividade ao antígeno). O fato de os anticorpos produzidos pelo linfócito
B de indivíduos velhos serem de baixa afinidade se refletirá no menor percentual de eficácia na vacinação quando
comparados a jovens.

Além das células envolvidas em todo o processo de defesa, existem as proteínas mediadoras da resposta
imunológica, as citocinas, que afetam desde a proliferação e a diferenciação até o estágio final de morte celular
(apoptose). Entre as principais, destacamos as interleucinas (IL1, IL2 e IL6), a interferona γ (IFNγ), o fator de necrose
tumoral alfa (TNF-α), e o fator de crescimento tumoral (TGF). Estes mediadores apresentamse alterados com o
envelhecimento.

As interleucinas possuem, entre outras funções, a de ativação dos linfócitos e a indução da divisão de outras
células. Cada interleucina atua sobre um grupo limitado e específico de células que expressam receptores adequados
para elas. Com o envelhecimento, diminui a produção interleucina 2 (IL2), importante fator de crescimento para
linfócito T. Além disso, células de doadores velhos não expressam receptor para IL2 na mesma proporção. A
mobilização do cálcio e a ativação para a progressão do ciclo celular estão modificadas nas células de indivíduos
velhos. Enquanto algumas células podem não liberar interleucina 2 e interferona-γ adequadamente após a ativação,
elas liberam outros fatores, como o TNF-α, com propriedades inflamatórias, interleucina1, interleucina6, mais do que
os liberados por células de indivíduos jovens. A interleucina6 está relacionada com distúrbios inflamatórios crônicos,
e seus níveis parecem aumentar com a idade. Assim, existem perda da função celular, modificação na habilidade em
responder aos eventos de ativação e modificações da resposta aos eventos desta ativação.

FONTE: Tratado de Geriatria e Gerontologia, 4°ed.

3. Listar o calendário vacinal do idoso.


FONTE: Recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) – 2023/2024.

4. Identificar e definir os “Is” da geriatria.

As Grandes Síndromes Geriátricas (ou também conhecidas como “Os Grandes “I’s” da Geriatria”) contemplam
condições clínicas frequentes nos idosos, capazes de reduzir consideravelmente a qualidade de vida destes pacientes.
Conceitua-se que o surgimento de uma das Síndromes acontece após a perda da autonomia e/ou
da independência dos idosos. A autonomia refere-se à capacidade do idoso em tomar decisões por conta própria,
sendo ela dependente do humor e da cognição. Por outro lado, a independência se refere à capacidade de realizar
suas próprias atividades sem ajuda de outrem, esta depende do pleno funcionamento da mobilidade e
da capacidade comunicativa dessa população.

Incapacidade comunicativa

A população idosa é frequentemente acometida por condições que comprometem a comunicação, seja na
audição, na fala ou na compreensão. Estas seriam as principais condicionantes relacionadas à incapacidade
comunicativa.

Quando a incapacidade comunicativa se instaura, a tendência é de que o idoso se isole socialmente, por
encontrar dificuldade em interagir com os demais, o que pode representar riscos psicológicos importantes.

Insuficiência familiar

Dois pilares estão intrinsecamente relacionados a essa síndrome: baixo apoio social e relação familiar
prejudicada. Quando se trata de apoio social, considera-se a interação do idoso com familiares, amigos e vizinhos,
vínculos estes muitas vezes feitos ao longo de vários anos e que desempenham papel fundamental no aspecto
psicológico do paciente, pois este grupo pode estar presente em grupos religiosos, entidades não-governamentais ou
simplesmente constitui uma comunidade local. O apoio emocional é muito evidente nesse grupo e trabalha a
capacidade comunicativa e interpessoal do idoso.

No âmbito familiar – frequentemente representado pelos filhos -, deve ser considerada a atual transição
demográfica, com uma enorme queda na taxa de natalidade, além da inserção feminina no mercado de trabalho e a
tendência de mudança de cidade de residência dos familiares, resultando num apoio cada vez mais escasso.
Considera-se que a família é a principal fonte de apoio instrumental e financeiro, sendo esses aspectos os mais
fragilizados quando nota-se a insuficiência familiar.

Sendo assim, é notável idosos com insuficiência familiar se queixarem de falta de atenção da família,
apresentarem sinais de descuido com a saúde e aparência, além de claros sinais de ansiedade e possivelmente
depressão. É importante ressaltar o risco que estes pacientes têm de sofrerem quedas ou complicações de doenças
prévias devido à ausência de um cuidado que só poderia ser desempenhado por outra pessoa na redução da
independência dessa população.

Incapacidade cognitiva

A incapacidade cognitiva é a Síndrome mais conhecida da geriatria e o motivo mais comum de


encaminhamento à especialidade. Ela configura a perda de funções superiores do encéfalo (memória, função
executiva, linguagem, função visuoespacial, gnosia e apraxia). Observe que essas funções, quando prejudicadas,
podem estar relacionadas também a qualquer outra Grande Síndrome Geriátrica. Como mencionado, o humor
também é um fator relacionado à autonomia, sendo assim, quando prejudicado, também cursa com Incapacidade
cognitiva.
A investigação dessa Síndrome inclui a utilização de diversos testes como o Miniexame do Estado Mental
(“Mini-mental”), Teste de Fluência Verbal, Teste do Relógio, Escala de Depressão no Idoso, entre outros.

Esta é uma síndrome muito complexa, a qual apresenta espectro variável a depender do grau de gravidade,
da função superior prejudicada, da reversibilidade e da etiologia envolvida.

Instabilidade postural

Essa Síndrome Geriátrica é o estereótipo do idoso com histórico de quedas (independentemente da causa). É
importante lembrar que, ao investigar um idoso com quedas, o sistema musculoesquelético não é o único sistema a
ser observado, apesar de que as fraturas estão entre as principais complicações.

A acuidade visual, o funcionamento do sistema vestibular, capacidade respiratória e cardiovascular e a


avaliação ambiental (tradicionalmente o ambiente domiciliar) também são considerados. Nesse contexto, é
importante questionar a presença de comorbidades e condicionantes de risco para quedas (miopia, astigmatismo,
vertigem, insuficiência cardíaca e a presença de escadas em casa são alguns exemplos).

A avaliação da marcha é essencial no idoso. Um teste conhecido é o “Timed up and go”, o qual avalia o
tempo demandado pelo idoso para levantar-se de uma cadeira, percorrer 3 metros, voltar e sentar-se. Quando o
tempo é maior que 20 segundos, recomenda-se dar seguimento à avaliação em nível sensorial e motor que
justificaria a dificuldade em deambular, ou seja, um quadro de marcha anormal.

Imobilidade

Ainda há certa discordância quanto ao conceito dessa Síndrome. Entretanto, qualquer redução da mobilidade
do idoso deve ser investigada e tratada quando possível devido o potencial progressivo e o risco das complicações
advindas desse quadro.

Essa síndrome apresenta um espectro bastante variável tratando-se da gravidade. Em último grau – a
imobilidade completa – o paciente é absolutamente dependente.

A imobilidade é uma Síndrome com uma particularidade: ela pode causar problemas em praticamente
qualquer sistema do organismo: desde o sistema cardiovascular, passando pelo sistema genitourinário e
gastrointestinal, até complicações dermatológicas.

Incontinência esfincteriana

Essa Síndrome Geriátrica está entre as mais comuns, sobretudo na população feminina, as quais apresentam
mais fatores de risco para incontinência urinária (paridade e uretra menor em comparação a uretra masculina). Os
demais fatores de risco são o uso de diuréticos, obesidade, idade avançada e histórico familiar.

A incontinência fecal é menos comum, de modo que supõe-se que esta seja subdiagnosticada, sobretudo
devido ao constrangimento do paciente em relatar o quadro.

A vergonha, o constrangimento e a falsa crença de que a incontinência esfincteriana é um quadro “normal do


idoso” dificultam a abordagem, de modo que deve ser feita uma busca ativa com questionamento direto do
paciente. Ressalta-se a queda da qualidade de vida dos pacientes com essa Síndrome, os quais frequentemente se
isolam em casa para evitar episódios de perda de urina ou fezes fora do domicílio.

Iatrogenia

A iatrogenia se refere à intervenção médica de maneira patológica. No campo da geriatria, esse fenômeno
pode ocorrer em diversas fases: desde o subdiagnóstico durante a consulta, passando pelo excesso de solicitação de
exames (“cascata propedêutica”), excesso de medicamentos (polifarmácia), até a distanásia (prolongamento artificial
da vida sem perspectiva de reversão do quadro).

Com frequência os idosos procuram atendimento em diversas especialidades, de modo que os especialistas
tendem a se ater somente a sua área, prescrevendo os próprios medicamentos e solicitando exames específicos,
resultando na iatrofarmacogenia e na “cascata propedêutica”.
Outro aspecto incluído também na iatrogenia é a inabilidade de comunicação com o paciente e com a
família/acompanhantes, seja como ouvinte seja como responsável por comunicar um prognóstico desfavorável
(iatrogenia da palavra e a iatrogenia do silêncio).

Em última instância, a iatrogenia pode estar presente em situações de internações prolongadas, as quais
cursam com risco de surgimento de outras complicações como a imobilidade, infecções hospitalares e o delirium. A
iatrogenia é reconhecidamente tratável, entretanto, cabe ao médico reconhecer o quadro iatrogênico com um olhar
minucioso e atento.

FONTE: Tratado de Geriatria e Gerontologia, 4°ed.

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