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2011 doi:
Artigo de Revisão
celular, promove o catabolismo e a apoptose de central tanto produz quanto contribui para o pool
células musculares (ROUBENOFF, 2003). Outro de citocinas periféricas (KRABBE et al., 2004).
fator possível fator associado à sarcopenia é a Entretanto, é importante ressaltar que elevações
redução da sinalização Notch (sinalização centrais nos níveis de citocinas em pacientes com
justácrina advinda do contato físico entre células DA e DV não implicam em modelo de causalidade
adjacente) nas células musculares ao longo do para estes processos patológicos.
processo de envelhecimento (CONBOY et al.,
Um crescente número de pesquisadores tem
2003).
investigado a associação de polimorfismos de
A função da IL-6 na sarcopenia é ainda citocinas com o desenvolvimento de demência,
controversa. Embora estudos epidemiológicos particularmente DA. Porém, os resultados são
apontem forte associação entre a IL-6 e a perda ainda contraditórios (KRABBE et al., 2004). Por
de massa muscular, trabalhos experimentais não exemplo, resultados de estudos abordando o
confirmam esta relação (KRABBE et al., 2004). polimorfismo promotor – 174 G/C do gene IL – 6
Entretanto, é importante ressaltar que a produção sugerem tanto reduzida incidência de DA para
das citocinas IL-6 e TNF-α são intimamente portadores do alelo C (FALTRACO et al., 2003;
relacionadas, o que talvez apenas permita a POLA et al., 2002) quanto elevada incidência para
observação do efeito produzido por uma citocina o referido alelo (LICASTRO et al., 2003).
em contexto de co-expressão da outra Entretanto, é provável que estas divergências
(PETERSEN; PEDERSEN, 2005; FEBBRAIO; estejam relacionadas com diferenças observadas
PEDERSEN, 2002). na distribuição do alelo C entre as populações de
pacientes com DA e grupos controle (KRABBE et
Por outro lado, a adoção do estilo de vida mais
al., 2004).
ativo e a realização de exercícios físicos parece
contribuir com a reversão parcial da sarcopenia. Recentemente, foi descrita a associação entre
Especula-se que a contração muscular induz a o polimorfismo promotor – 308 G/A do gene TNF
produção e liberação de IL-6 na circulação e e a demência senil em idosos centenários. O
contribui com a redução na produção de TNF-α genótipo G/A foi associado à menor prevalência
(NICKLAS; BRINKLEY, 2009; STRAUB et al., de demência senil quando comparado ao
2008; FEBBRAIO; PEDERSEN, 2002). Em genótipo G/G (BRUUNSGAARD et al., 2004a).
recente estudo, verificou-se que níveis de TNF Entretanto, resultado de estudo transversal
foram inversamente relacionados com a força abordando pacientes com DA (60 – 97 anos) e
muscular em idosos com fragilidade após 12 indivíduos de mesma faixa etária e
semanas de treinamento resistido aparentemente saudáveis sugeriu que portadores
(BRUUNSGAARD et al., 2004b). do alelo apresentam maior risco em relação aos
não portadores (ALVAREZ et al., 2002). É
Em conjunto, resultados de estudos sugerem
provável que esta divergência seja resultado de
que a atividade física é importante fator para a
diferenças na idade dos participantes e/ou no tipo
prevenção e tratamento da sarcopenia. No
de delineamento adotado.
entanto, é imperativo que novos estudos utilizem
desenhos que contemplem tanto a variabilidade Apesar da associação entre inflammaging e a
polimórfica dos genes de marcadores redução do desempenho cognitivo, diversos
inflamatórios quanto os hábitos alimentares dos estudos sugerem efeito protetor do exercício
participantes do estudo. frente ao declínio cognitivo. Neste sentido, as
revisões de Packer et al. (2010) e Pitkala et al.
Desempenho cognitivo (2010) ressaltam que o exercício físico é fator de
Mecanismos inflamatórios são associados proteção contra a demência, além de auxiliar na
tanto em processos que resultam em declínio reabilitação em indivíduos que possuem
cognitivo, incluindo a doença de Alzheimer (DA) e disfunção cognitiva. Voss et al. (2010) verificaram
a demência vascular (DV) (HOFMAN et al., 1997), que o exercício aeróbio contribui para a maior
quanto em sintomas de depressão em população plasticidade neural em idosos. Já em mulheres
geriátrica (PENNINX et al., 2003). Nesta linha, pós-menopausa, Eskes et al. (2010) evidenciaram
elevados níveis dos mediadores IL – 6 e proteína que a preservação das funções cognitivas está
C-reativa (PCR) foram associados a fraco diretamente associada ao nível de aptidão física.
desempenho cognitivo e maior risco de declínio No entanto, estes benefícios não são observados
na cognição (YAFFE et al., 2003). Estudos em adaptações induzidas por exercícios de alta
epidemiológicos também descrevem associações intensidade, uma vez que este proporciona
entre níveis de TNF–α e DA (TARKOWSKI et al., incremento na produção de citocinas pró-
2000; TARKOWSKI et al., 2003). Em conjunto, inflamatórias e radicais livres. Cabe destacar que,
estes resultados sugerem que o sistema nervoso para intervenções cognitivas de sucesso, a
variação das modalidades de exercício é mais tecido de origem passam a ser denominadas
importante do que a duração da sessão. adipocinas. IL-6 e TNF-α são exemplos de
adipocinas secretadas ativamente pela massa
Com bases nesses dados, verifica-se a
gorda, em concentrações fisiológicas capazes de
estreita ligação entre processos inflamatórios
modular a resposta imunitária (COPPACK, 2001).
crônicos relacionados ao envelhecimento e a
preservação das funções cognitivas. Entretanto, Sendo assim, faz-se necessário que estudos
mais estudos são necessários com o propósito de imunogerontológicos tenham a preocupação
estabelecer a possível natureza destas relações, metodológica de avaliar os sujeitos da pesquisa
bem como de propor estratégias ou intervenções quanto à sua condição antropométrica
que sejam efetivas para o tratamento ou a (eutrofia/sobrepeso/desnutrição) e composição
reversão deste cenário (KRABBE et al., 2004). corporal (relação massa magra/massa gorda) a
fim de que a amostra de indivíduos possa ser
Relação do sistema imunitário e o estado harmonizada e, por conseqüência, a interferência
nutricional. pelo estado nutricional possa ser dirimida.
Quanto aos aspectos nutricionais envolvendo
o organismo idoso, sabe-se que tanto a Efeitos de prevenção e terapêuticos do
manutenção de um estado nutricional adequado exercício físico
quanto a alimentação equilibrada estão O envelhecimento é descrito como uma
associadas ao envelhecimento saudável. No complexa remodelagem do organismo, em que
entanto, muitas são as causas apontadas para alguns parâmetros imunes diminuem enquanto
explicar as modificações no estado nutricional outros permanecem inalterados ou se acentuam.
freqüentemente encontrada neste grupo etário. A imunossenescência compreende o fenômeno
Idosos podem apresentar alterações sensoriais, denominado inflammaging, que é uma regulação
digestivas, sociais e afetivas que, em conjunto, positiva da resposta inflamatória por modificação
produzem graves prejuízos nutricionais com no perfil de citocinas pró-inflamatórias, e que vem
conseqüências ponderais (HARRIS; HABOUBI, sendo relacionado com doenças crônico-
2005). O envelhecimento per se pode vir degenerativas e com o envelhecimento (GIUNTA,
acompanhado de mudanças na ingestão de 2006). Em outras palavras, há evidências de que
alimentos, com conseqüente deficiência de alguns o envelhecimento humano é acompanhado pela
nutrientes ou excesso de outros. Assim surgem elevação dos níveis séricos de diferentes
quadros de baixo peso e desnutrição ou de mediadores inflamatórios, o que se postula como
sobrepeso e obesidade, frequentes no idoso, com contribuinte para as enfermidades consideradas
alterações importantes nos parâmetros lipêmicos típicas do envelhecimento (hipertensão, diabetes,
e glicêmicos (GARIBALLA; SINCLAIR, 1998). Em sarcopenia, fragilidades, etc) (NICKLAS;
estudo realizado com diferentes grupos sócio- BRINKLEY, 2009).
econômicos, verificou-se que os idosos
Por outro lado, resultados de estudos
apresentaram o mesmo padrão alimentar que
observacionais evidenciam correlação negativa
outros grupos populacionais no tocante aos
entre o volume de atividade física e níveis de
alimentos energéticos, porém, diferiram quanto
mediadores inflamatórios circulantes (NICKLAS;
aos protéicos e reguladores, os quais ingeriam
BRINKLEY, 2009; STRAUB et al., 2008), ou seja,
em menor quantidade (NAJAS et al., 1994).
quanto mais ativo fisicamente o indivíduo menor a
Pesquisas costumam salientar que a ingestão chance dos efeitos indesejáveis de citocinas pró-
de carboidratos aumenta com a idade, já que inflamatórias. Sugere-se que ajustes adaptativos
provém de alimentos de baixo custo e mais observados em fibras musculares e sistema
populares (pães e cereais), no entanto, idosos imunitário inato ao exercício regular contribuem
frequentemente sofrem de problemas com a redução dos níveis basais de citocinas pró-
mastigatórios (FRANK; SOARES, 2002). Em inflamatórias, incluindo o TNF-α, IFN-γ e IL-1β
relação aos micronutrientes, a população idosa na (NICKLAS; BRINKLEY, 2009; PETERSEN;
dieta habitual apresenta consumo inadequado dos PEDERSEN, 2005). Embora o mecanismo pelo
mesmos, principalmente, de vitamina A e cálcio qual o treinamento físico modifica a resposta
(VELASQUES-MELENDEZ et al., 1997). imunitária seja desconhecido, acredita-se que a
liberação aguda de citocinas (miocinas) derivadas
O cenário exposto pelos trabalhos acima
de fibras musculares, particularmente IL-6, regule
revela grande heterogeneidade na ingestão
a produção de mediadores inflamatórios liberados
calórica, o que pode interferir diretamente no perfil
por células mononucleares periféricas (NICKLAS;
imunitário da população. Esta interferência pode
BRINKLEY, 2009) e, indiretamente, por ação no
decorrer, por exemplo, do fato da gordura visceral
metabolismo de tecidos e órgãos (PEDERSEN;
produzir e secretar diversas citocinas, que pelo
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