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Jaú - SP
2021
RAQUEL CASTANHASSI DE OLIVEIRA
Jaú - SP
2021
RESUMO
A depressão nos últimos anos, vem se tornando um problema de saúde pública
mundial. A doença atinge 4,4% da população mundial, sendo o Brasil o segundo
com maior número de depressivos nas Américas, com 5,8% da população. A
depressão é uma doença de múltiplas causas sua etiopatogenia está relacionada
desde o ambiente, a predisposição genética, alterações epigenéticas e eventos ao
longo do desenvolvimento, que levam a alterações estruturais e neuroquímicas do
sistema nervoso central com características relativamente estáveis.
Em relação aos fatores biológicos que podem estar envolvidos na patogênese do
distúrbio depressivo a microbiota intestinal demonstrou uma relação importante com
o desencadeamento desse distúrbio. Através da evolução tecnológica novos
conhecimentos surgiram sobre a composição da microbiota humana por meio
dessas tecnologias foi possível identificar biomarcadores presentes no intestino
relacionados a uma variedade de doenças metabólicas incluindo distúrbios do
sistema nervoso central. O distúrbio da homeostase da comunidade bacteriana
intestinal, a disbiose, demonstrou exercer um impacto negativo na saúde mental do
hospedeiro, podendo conduzir a patologias psiquiátricas como a depressão. Esse
papel modulador que este ecossistema exerce proporciona uma comunicação de
influência bidirecional no eixo denominado microbiota- intestino-cérebro,
concretamente, essa relação é fundamental para a vida se revelando um novo
potencial como terapêutica a favor da saúde mental. Nesta revisão, resumimos as
descobertas sobre a relação da microbiota intestinal com o distúrbio depressivo ,
incluindo a importância de vários fatores relacionados à disbiose, desequilíbrio,
determinar as substâncias produzidas pela microbiota envolvidas nesse processo e
correlacionar com o desenvolvimento da depressão.
INTRODUÇÃO
Estudos epidemiológicos mostram o aumento de pacientes com depressão
nos últimos anos, tornando um problema de saúde pública mundial (WHO, 2021). A
depressão é definida como uma doença psiquiátrica, de origem crônica, que causa
alterações de humor, definida por uma tristeza intensa e permanente, agregada à
dor, à desesperança, à culpa etc., com ou sem razão aparente (DEPRESSÃO.In:
DICIO,2021).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o transtorno depressivo é
caracterizado pelo sentimento de tristeza persistente e pela perda de interesse em
realizar atividades normalmente prazerosas, acompanhada pela incapacidade de
realizar atividades do dia a dia. A doença atinge 4,4% da população mundial, sendo
o Brasil o segundo com maior número de depressivos nas Américas, com 5,8% da
população. Essa doença é variável com níveis considerados desde leve, moderado
e grave até o caso de morte por suicídio. Durante pandemias e momentos de
crise,em situações que proporcionam o aumento de problemas sociais, financeiros,
desemprego, e dificuldades gerais o número de depressivos tende a aumentar. Um
estudo feito durante a pandemia da COVID19 constatou esse aumento em mães
brasileiras que devido a política de distanciamento necessária muitas mães sofrem
uma sobrecarga de tarefas. Foi constatado entre a pré-pandemia e a segunda onda
de coleta de dados, um aumento de 10 vezes na prevalência de depressão nas
mães (MOLA, 2021).
OBJETIVOS
Geral
Avaliar a influência da microbiota intestinal na fisiopatologia da depressão por
meio de revisão bibliográfica.
Específicos
Analisar as substâncias depressoras ou animadoras produzidas pela
microbiota e correlacionar com o desenvolvimento da depressão.
Estabelecer a possível relação entre a disbiose da microbiota com a
depressão.
MATERIAL E MÉTODOS
A revisão sistemática foi realizada no primeiro semestre de 2021, foram
reunidos artigos em português e inglês, utilizando as bases de dados do Google
Scholar, Scielo, Pubmed e a OMS para encontrar artigos publicados nos últimos 20
anos (2001 a 2021), utilizando o método descritivo com o intuito de englobar
achados de pesquisas relacionadas com a microbiota intestinal e a depressão. Os
artigos foram buscados fundamentados nos descritores: microbiota intestinal; eixo
microbiota e cérebro; disbiose; probióticos e microbiota; sistema nervoso central;
intestino; disbiose; depressão; sistema imune; ácidos graxos de cadeia curta;
serotonina; intestino-cérebro; probióticos e desordens psiquiátricas.
Considerações finais
Como descrito pela Organização mundial da saúde os Transtornos depressivos
pode ter sua origem relacionada a fatores não só extrínsecos. Os fatores
psicológicos e sociais muitas vezes são consequência e não causa da depressão.
Após os dados compilados da literatura fica claro que o SNE desempenha
papel essencial para o bom funcionamento do sistema como um todo, já que este
demonstrou influenciar e atuar nos demais sistemas, podendo agir de maneira
independente. Não pode ser ignorado o impacto que este exerce por outras vias de
comunicação, além de manter a comunicação, por sinapses, com o SNC, sendo
assim , ambos são capazes de influenciar a atividade um do outro através do “eixo
intestino-cérebro”.
O estado de disbiose parece causar uma mudança relevante na microbiota
causando o desequilíbrio entre os microorganismos, esse desequilíbrio altera o
ambiente que favorece a eliminação de bactérias benéficas ou permitindo o
crescimento de patobiontes quando há perda da homeostase imunológica ( Bloom et
al., 2011 ).
A serotonina apresenta-se como um importante neurotransmissor envolvido na
interação entre o SNC e o SNE, além de ser um dos neurotransmissores-chave
dentro do trato gastrointestinal, atua na sensação de motilidade e secreção intestinal
e principalmente atua na troca de informação com sistema nervoso central. Assim
como a serotonina o BDNF é um fator importante que influencia no desenvolvimento
neuronal e na neuroplasticidade , e o desequilíbrio deste pode ser associado a uma
série de distúrbios neurodegenerativos e psiquiátricos .
O direcionamento terapêutico da microbiota intestinal pode ser uma estratégia
de tratamento viável para distúrbios do eixo cérebro-intestino relacionados à
serotonina.
A produção microbiana de neurotransmissores representa um mecanismo
potencial para influenciar diretamente o cérebro e o comportamento. Porém a rota é
limitada porque a maioria dos neurotransmissores, incluindo serotonina, dopamina e
GABA, normalmente não são capazes de ultrapassar a barreira hematoencefálica
protetora (ABBOTT, RONNBACK e HANSSON, 2006).Outro maneira de ação
alternativa inclui a possibilidade de os neurotransmissores derivados de
microrganismos afetarem o cérebro através do nervo vago e de seus neurônios
aferentes (FORSYTHE, KUNZE,2013). Há também a opção de os precursores de
neurotransmissores atravessarem a barreira hematoencefálica e depois são
convertidos em neurotransmissores ativos, como exemplo as bactérias intestinais
que podem influenciar o metabolismo e a disponibilidade do triptofano precursor da
serotonina. Isso pode afetar a sinalização serotoninérgica no sistema nervoso
central, pois a concentração de triptofano no plasma sanguíneo demonstrou
correlação com os níveis cerebrais de serotonina (O`MAHONYet al.,2015).
Estudos populacionais indicam uma relação entre a qualidade da dieta
alimentar e a inflamação sistêmica que pode estar ligada à depressão. A maior
ingestão de vegetais e frutas, grãos integrais, peixes e legumes, foi associada a
concentrações plasmáticas reduzidas de marcadores inflamatórios, incluindo
proteína C reativa (PCR) e interleucina-6 (IL-6). Por outro lado, um padrão alimentar
nocivo conhecido como dieta hight fat diet ou dieta ocidental , rica em carnes
vermelhas e processadas, carboidratos refinados e outros alimentos processados,
foi associado ao aumento de marcadores inflamatórios, enquanto um padrão de
dieta mediterrânea estava associado a marcadores inflamatórios diminuidos
(LOPEZ-GARCIA et al.,2004).
Devido às conexões que a microbiota intestinal possui com muitas doenças
neurológicas e sua composição levouse iniciou um movimento que busca a melhora
da microbiota intestinal através de probióticos. Um crescente corpo de evidências
apoiam a ideia que certos probióticos podem impactar positivamente a patogênese
de distúrbios neurológicos (KIM et al,2018).
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