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Nutrigenômica
Conteudista
Prof. Dr. Anderson Sena Barnabe
Revisão Textual
Esp. Andressa Moreira
OBJETIVOS DA UNIDADE
• Apresentar a conceituação básica sobre os efeitos dos nutrientes na re-
gulação epigenética do genoma humano e na expressão gênica;
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Introdução
No decorrer dos anos, pela perspectiva da esfera da ciência e da saúde, a nutri-
ção passou por muitas transformações e evoluções, principalmente no período
entre 1914 e 1918, ressaltando a emergência da ciência da nutrição. Porém, no
Brasil, foi implantada entre os anos 1930 e 1940, quando houve o debate sobre
o conhecimento científico referente à alimentação humana, promovendo, entre
diversos países, a formação dos primeiros centros de estudo e investigação, os
primeiros cursos de formação especializada e os primeiros institutos a realizar
intervenções nutricionais (Garcia; Sbrisse; Godoy, 2023). Os autores afirmam que
outros acontecimentos importantes que ocorreram nas últimas duas décadas do
século XX devem ser ressaltados, como o frenético desenvolvimento científico-
-tecnológico nas áreas da comunicação e informática, da genética (mapeamento
do genoma humano) e das teorias referentes à sustentabilidade ecológica do
planeta Terra. Vasconcelos (2010) afirma que recentemente foi discutida a rele-
vância das interpelações da genética nutricional e da genômica nutricional, com
ênfase na era ou fase pós-genômica.
De acordo com Garcia, Sbrisse e Godoy (2023), a nova era da nutrição está se ade-
quando a um ciclo definido por um amplo avanço tecnológico. Na área agroin-
dustrial, por exemplo, os OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) são
classificados como um grande avanço na cadeia produtiva de alimentos, pois
o mecanismo genético que é empregado em sua produção consiste na altera-
ção do material genético do organismo alvo (como uma planta). Dessa forma,
os genes de outras plantas, animais ou microrganismos podem ser inseridos
no genoma da espécie receptora, conferindo a ela novas características para
otimizar a produção de alimentos, medicamentos e outros produtos industriais
(Moratoya et al., 2013).
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como os alimentos atuam nos genes e como o metabolismo responde a essa
interação proporcionou um novo campo de ação para a nutrição: a genômica
nutricional (Ferguson et al., 2016).
Ferguson et al. (2016) afirmam que a ciência da nutrição assume uma importante
base no cuidado da saúde humana, não sendo somente “one-size-fits-all” (uma re-
ceita geral para todos), e passa a compreender o que cada pessoa deve consumir
para que seus genes atuem e respondam de forma adequada à sua saúde por
meio de uma nutrição personalizada.
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Tanto a nutrigenética quanto a nutrigenômica possuem um potencial facilitador
na prevenção de doenças crônicas: a primeira de forma individualizada na con-
duta dietética e a segunda por meio da resposta da expressão dos genes em
relação ao consumo de nutrientes (Corthésy-Theulaz, 2005).
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Choi e Friso (2010) apontam que a moderna nutriepigenética objetiva seus estu-
dos nas intervenções nutricionais específicas atribuídas à reversão de alterações
epigenéticas que poderiam ter um importante impacto na prevenção e trata-
mento de doenças crônicas humanas.
Saiba Mais
A metabolômica é definida como o estudo do conjunto de me-
tabólitos (produto do metabolismo de uma determinada molé-
cula ou substância) de um determinado sistema biológico.
Afman e Müller (2006) ressaltam que diversas patologias crônicas, como obesida-
de, diabetes mellitus tipo 2 (DMT2), doenças cardiovasculares (DCV) e síndrome
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metabólica (SM), têm sua patogenia compatível com aspectos ambientais e gené-
ticos. Dos aspectos ambientais, podemos incluir a dieta, que tem a possibilidade
de favorecer na incidência e na gravidade dessas doenças crônicas (Steemburgo;
Azevedo; Martinez, 2009). Em contrapartida, Gillies (2003) afirma que os itens da
dieta podem possuir um efeito modulador nos fenótipos dependentes da varia-
ção genética, denominado como interação entre gene e nutriente.
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personalizada objetiva prevenir e gerenciar doenças crônicas, ajustando
intervenções ou recomendações dietéticas ao aspecto genético de uma pessoa,
perfil metabólico e exposições ambientais. Wang e Hu (2018) apontam que os
progressos atuais em tecnologias de genômica, metabólica e da microbiota
intestinal, por exemplo, ofereceram possibilidades e desafios no uso dessa
nutrição na prevenção e gerenciamento da diabetes tipo 2.
Polimorfismos Genéticos
As variações genéticas que acontecem no DNA (ácido desoxirribonucleico)
entre seres da mesma espécie são denominadas polimorfismos. Isso ocorre
devido a uma mutação silenciosa que abrange uma mudança (troca, deleção
ou inserção) de um ou mais nucleotídeos (bases nitrogenadas) na sequência de
um gene. Corella e Ordovas (2005) afirmam que esta variação pode ser encon-
trada em pelo menos 1% da população, e não induz a patologias, podendo ser
considerada normal.
Nutrição Personalizada
A nutrição personalizada pode ser definida, de acordo Ordovas e Mooser (2004),
como:
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A personalização é alicerçada na concepção de que a individualização nutricional
é mais eficiente do que uma intervenção genérica e pode ser utilizada por pesso-
as saudáveis ou com uma doença específica. Segundo Ordovas e Mooser (2004),
ela é construída a partir dos seguintes parâmetros:
Nutrigenômica
A nutrigenômica objetiva precisar a influência que os nutrientes ou componen-
tes bioativos encontrados nos alimentos têm na expressão genética e como essa
variação influencia na origem de diversas respostas em um indivíduo (Moreira,
2016). Conforme Afman e Müller (2006) afirmam, é a combinação de nutrição
molecular e genômica.
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As notáveis variações na resposta individual aos diversos nutrientes ou com-
ponentes bioativos estão gerando amplas contradições na área da nutrição, o
que fez com que muitos pesquisadores se questionassem sobre o que fomenta-
ria essas disparidades e se haveria alguma forma de alterá-las e/ou preveni-las
(Moreira, 2016). Essas variações foram ligadas às diversas genéticas individuais,
porém, somente após o sucesso do projeto do genoma humano, o registro dos
polimorfismos de nucleotídeo simples e a evolução da nutrição molecular é que
foi possível determinar essa ligação (Subbiah, 2008).
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Figura 3 – Componentes bioativos
Fonte: Adaptada de MOREIRA, 2016
#ParaTodosVerem: oito círculos brancos com descrições em preto com letras em destaque escuro,
interligadas com traço preto, fazendo a união entre os círculos. Toda imagem está sobre um fundo branco.
Fim da descrição.
Moreira (2016) afirma que há muitas pesquisas que ressaltam que os micronu-
trientes possuem a capacidade de interagir com o genoma, alterando a expres-
são gênica ou atuando no processo de replicação e reparação do DNA, dado
que agem como cofatores ou substratos nestes mecanismos moleculares. Além
disso, a concentração certa de micronutrientes que auxiliam na prevenção ao
dano no genoma depende dos polimorfismos genéticos que estão ligados a cer-
tos genes, como o MTHFR, por exemplo (Gillies, 2003; Subbiah, 2008).
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Nutrigenética
Moreira (2016) explica que a nutrigenética tem como foco o entendimento de
como a constituição genética individual sistematiza a resposta à dieta devido aos
polimorfismos genéticos presentes, relacionando essas mudanças com o risco
de desenvolver doenças. A referida autora ainda completa que:
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Assim, não apenas o genótipo, como também os elementos externos, são
autores da formação de um certo fenótipo por causa de outro, sendo a
dieta um desses elementos externos que atua como fator desencadeador
(Penders et al., 2007).
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O desenvolvimento de modelos dietéticos, nutracêuticos e suplementos alimen-
tares, delineados para aprimorar o manejo do genoma humano, pode contribuir
positivamente para uma novo plano de saúde com base em um tratamento nu-
tricional personalizado.
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patentes de fragmentos de cromossomos pelos laboratórios. Dessa forma, a di-
vulgação para a comunidade científica fica impossibilitada.
Segundo Ghosh et al. (2007) e Subbiah (2008), outra situação relacionada com os
testes nutrigenômicos é o custo, pois a possibilidade de acesso à medicina genô-
mica em áreas mais pobres do planeta é muito limitada.
Ghosh et al. (2007) acreditam que os grandes anseios são a privacidade e a ética
na utilização e intervenção de dados genéticos, pois a passagem de informação
genética a outros (intencional ou não) pode resultar em estigmatização social e
práticas discriminatórias; integração de tecnologias genéticas modernas na prá-
tica clínica e problemas na pesquisa genética e educação pública e profissional.
Contudo, é plausível que a nutrigenômica siga as linhas da farmacogenômica,
com foco na confidencialidade paciente-médico.
Dessa forma, tanto o grupo ELSI (Ethical, Legal, And Social Issues), como a European
Nutrigenomics Organisation, possuem papéis importantes (Moreira, 2016). O
grupo ELSI é uma comunidade orientada para o impacto do Projeto do Genoma
Humano na inserção de novos testes clínicos, com a finalidade de determinar
quem terá acesso à constituição genética de um indivíduo e definir métodos
para educar tanto os profissionais de saúde como o público em geral sobre de-
talhes genéticos. Castle e Ries (2007) ressaltam que a European Nutrigenomics
Organisation desenvolveu uma guideline de bioética com a finalidade de padroni-
zar “éticas de pesquisa humana”, incluindo questões-chave na pesquisa genética,
como a conquista do consentimento informado dos participantes (tanto para es-
tudos genéticos, como para biobanking), gestão de biobancos e utilização e troca
de dados e amostras.
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MATERIAL COMPLEMENTAR
Vídeos
CASTLE, D.; RIES, N. M. Ethical, legal and social issues in nutrigenomics: the challen-
ges of regulating service delivery and building health professional capacity. Mutation
Research/Fundamental and Molecular Mechanisms of Mutagenesis, v. 622, n. 1-2, p.
138-143, 2007.
CHOI, S. W.; FRISO, S. Epigenetics: a new bridge between nutrition and health. Advances
in nutrition, v. 1, n. 1, p. 8-16, 2010.
LUIS, D. A. de et al. Cardiovascular risk factors and insulin resistance after two hypoca-
loric diets with different fat distribution in obese subjects: effect of the rs10767664 gene
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171, 2018.
FERGUSON, L. R. et al. Guide and position of the international society of nutrigenetics/
nutrigenomics on personalised nutrition: part 1-fields of precision nutrition. Journal of
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Circulation, v. 106, n. 18, p. 2315-2321, 2002.
SHIMANO, H. et al. Elevated levels of SREBP-2 and cholesterol synthesis in livers of mice
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STRACHAN, T.; READ, A. Human molecular genetics. New York: Garland Science, 2018.
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7814, 2004.