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Técnicas Exploradas pela Nutrição Comportamental
em Estratégias de Educação Alimentar e Nutricional
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Técnicas Exploradas pela Nutrição
Comportamental em Estratégias de
Educação Alimentar e Nutricional
• Introdução;
• Conceitos de Nutrição Comportamental;
• Aconselhamento Nutricional;
• Modelo Transteórico na Promoção de Mudanças
no Comportamento Alimentar;
• Empowerment como Estratégia de Comunicação;
• Entrevista Motivacional.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender a prática do aconselhamento nutricional e a forma multidisciplinar de se tra-
tar a construção de recomendações e determinação de metas, para subsidiar e potencializar
as ações educativas em alimentação e nutrição;
• Conhecer estratégias motivacionais que podem ser utilizadas no aconselhamento nutricional.
UNIDADE Técnicas Exploradas pela Nutrição Comportamental
em Estratégias de Educação Alimentar e Nutricional
Introdução
Você já deve ter ouvido ou feito esta pergunta para você mesmo: “Por que comemos?”
Deslocamento, nas teorias da Psicanálise, é o mecanismo pelo qual os afetos e desejos são
ligados a diferentes ideias que não são as ideias que lhe deram origem de fato, mas estão
associadas a elas de alguma forma.
Se, mais uma vez, modificarmos a pergunta para: “O que você deseja comer?”, serão
acionadas experiências e representações do inconsciente, podendo estar associadas à
figura materna ou outras experiências de tensão e alívio, de prazer e desprazer.
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O ponto crucial é “conscientização”. É preciso que a pessoa se torne consciente de
seus desejos e de sua vontade. Ela precisa compreender de onde emergem esses de-
sejos e vontade, para que então, possa associá-los à alimentação (MOTTA; MOTTA;
FERRETTI, 2017).
Agora, você deve estar se questionando: “Como o nutricionista poderia fazer isso?
Essa função não seria de um psicólogo ou psicanalista?”
O nutricionista pode auxiliar nesse processo, e é isto que trabalharemos nesta Unida-
de, na qual serão abordadas algumas técnicas utilizadas na nutrição comportamental.
A pergunta que norteia os estudos sobre este tema seria: como podemos estimular
as pessoas a se expressarem por intermédio da fala e de que forma o nutricionista pode
ter uma escuta empática e respeitosa, para utilizar e ampliar a prática clínica como um
espaço educativo?
Preparado(a)? Vamos lá!
Importante!
Na nutrição comportamental o prazer de comer e o equilíbrio andam lado a lado.
Significa que a importância dada a ambos deve ser equivalente.
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Aconselhamento Nutricional
Em seu sentido etimológico, aconselhar significa “com unidade”, “com união”. Em
seu sentido amplo da atividade interpessoal (de duas ou mais pessoas), aconselhar está
voltado para a consideração de algo, ou seja, uma relação face a face, na qual uma pes-
soa é ajudada a resolver dificuldades e a utilizar melhor seus recursos pessoais.
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• Foco também em como se come;
• Intervenções de longo prazo;
Modelo do • Educação alimentar presente, mas não é o componente principal;
aconselhamento • Relacionamento intenso entre o terapeuta nutricional e o indiví-
duo, que por si só já é parte do tratamento;
nutricional • Plano de ação (geralmente na forma de metas e planos alimenta-
res) é muito individualizado, desenvolvendo-se a partir e ao longo
de várias consultas e evolui com o tempo.
Fonte: Adaptada de ULIAN et al., 2015, p. 166
Quando o profissional estimula o paciente a perguntar a si “do que se tem fome” ou,
“de onde vem essa fome”, a pessoa pode acessar como respostas os desejos insatisfeitos
e relatar isso ao profissional durante os encontros. Caberá ao profissional acolher o que
lhe é narrado, mesmo que o conteúdo sejam os conflitos domésticos, as frustrações, as
mágoas e prazeres mais antigos, entendendo que tudo, nesse momento, fala sobre a
“fome” ou sua ausência, em seu sentido mais amplo.
Uma das bases teóricas do aconselhamento nutricional está pautada na clínica am-
pliada e compartilhada. Assim, entende-se que as diferentes abordagens profissio-
nais se completam e se complementam para a compreensão ampliada do processo
saúde-doença em oposição a intervenções pontuais e isoladas, procurando promover a
autonomia e protagonismo dos participantes (ULIAN et al., 2015).
Para ajudar a pessoa a tomar consciência de seus desejos, é preciso que o profissio-
nal da nutrição se aproprie de conhecimentos das áreas da Psicologia e da Psicaná-
lise, mesmo que sua ação, no processo, restrinja-se à sensibilização para a busca de
cuidados específicos de profissionais dessas áreas. A transdisciplinaridade, nesse
caso, é de fundamental importância, dada a complexidade do comportamento alimentar
(MOTTA; MOTTA; FERRETTI, 2017).
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Vale enfatizar que não é o trabalho do TN lidar com as projeções das pessoas que
ele atende, no entanto, o reconhecimento do processo pode ser útil para o tratamento.
Importante!
O TN deve ter seus limites bastante claros e não os ultrapassar, entrando na área de outro
profissional. Se o TN começar a fazer o papel de psicoterapeuta, poderá prejudicar a
pessoa atendida, deixando-a mais vulnerável, escolhendo uma abordagem inadequada
ou impedindo que ela busque atendimento com um profissional da área.
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Quadro 2 – Estágios de mudança, suas características e estratégias
Significado
A mudança comportamental ainda não foi considerada pelo indivíduo ou não foram realizadas alterações no
comportamento e não há intenção de adotá-las num futuro próximo (seis meses). Pode ser decorrente da falta
de informações corretas sobre as consequências de seu comportamento ou o indivíduo já realizou diversas ten-
tativas frustradas de alterar suas atitudes e atualmente não acredita mais em sua capacidade para modifica-
-las de forma efetiva. Reconhece a solução, mas não reconhece o problema. Apresentam maior resistência,
1. Pré- pouca motivação e são classificados como não prontos para os programas de promoção de saúde. Em relação
contemplação ao comportamento alimentar, este estágio corresponde àqueles que não reconhecem suas práticas alimenta-
res inadequadas ou não dispõem da motivação necessária para alterá-las.
Estratégia de Ação
• Identificar os problemas e fazer aconselhamento com base no encorajamento e nas vantagens e des-
vantagens de mudar;
• Reduzir os “contras” da mudança e começar a pensar em metas.
Significado
O indivíduo começa a considerar a mudança comportamental. Pretende alterar o comportamento no futu-
ro, mas ainda não foi estabelecido um prazo. O indivíduo reconhece que o problema existe, está seriamente
decidido a superá-lo, mas ainda não apresentam um comprometimento decisivo. Nesse estágio, há conheci-
mentos dos benefícios da mudança, mas diversas barreiras são percebidas, as quais impedem a ação desejada
(ambivalência = há motivos para mudar, mas também á motivos para não mudar). Ex.: o indivíduo reconhece
que tem um padrão alimentar pouco saudável, mas acredita que a falta de tempo, o preço ou o sabor desagra-
2. dável de alimentos tidos como saudáveis não possibilitam a adoção de um dieta adequada.
Contemplação
Estratégia de Ação
• Construir uma base, estabelecer um relacionamento e
limitar confrontos;
• Investigar e estimular a motivação;
• Incentivar maior consciência sobre a decisão de mudar;
• Aumentar a percepção do paciente sobre os riscos e probelmas
do comportamento atual.
Significado
O indivíduo pretende alterar seu comportamento num futuro próximo, como no próximo mês. Geral-
mente, após ter superado tentativas anteriores frustradas, são realizadas pequenas mudanças e um
plano de ação é adotado, ainda sem assumir um compromisso sério com o mesmo. Ex.: expressão carac-
terística desse estágio: “na próxima segunda-feira, começarei a dieta”.
3. Decisão ou Estratégia de Ação
Preparação • Estruturar um plano para mudança;
• Construir autoeficácia (acreditar em sua capacidade);
• Oferecer ajuda para que a pessoa encontra uma estratégia de mudança ou um objetivo que seja aceitá-
vel, apropriado e realizável;
• Proporcionar treino e assistência.
• Identificar passos e habilitações necessárias para mudança gradual.
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Significado
Indivíduos que alteraram de fato seu comportamento, suas experiências ou seu ambiente de modo a superar
as barreiras antes percebidas. Tais mudanças são visíveis e ocorreram recentemente, como nos últimos seis
meses. Exige grande dedicação e disposição para evitar recaídas. Ex.: um indivíduo que reduziu seu consumo
de alimentos gordurosos, visando a melhora do perfil lipídico, passa a reconhecer os primeiros benefícios da
modificação de suas práticas anteriores.
4. Ação
Estratégia de Ação
• Provocar uma mudança na área do problema;
• Desenvolver plano de ação e compromisso de mudança: assistir, reforçar, encorajar, trabalhar a solução
de problemas;
• Se necessário, revisar o planejamento.
Significado
O indivíduo já modificou seu comportamento e o manteve por mais de seis meses. O foco é prevenir recaí-
das e consolidar os ganhos obtidos durante a ação. Não se trata de um estágio estático, tendo em vista que
há uma continuação da mudança de comportamento iniciada no estágio anterior. Ex.: adulto que adotou
uma dieta saudável há mais de um ano.
Empowerment como
Estratégia de Comunicação
O empowerment, ou empoderamento, é um conceito complexo construído por re-
flexões de diversos campos de conhecimento. No campo das ações em saúde, esse con-
ceito passou a ser aplicado ao ser lançada a Carta de Ottawa, na Primeira Conferência
Internacional sobre Promoção da Saúde, em 1986, quando se definiu promoção da saú-
de como o processo pelo qual os indivíduos e a comunidade são capacitados a ter
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maior controle sobre sua própria saúde, mobilizando recursos pessoais e sociais,
que vão além desse setor (Figura 1).
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O empoderamento possui dois sentidos: psicológico (ou individual) e social (ou comunitário):
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Figura 2 – Empoderamento
Fonte: Getty Imgens
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A seleção das necessidades de aprendizado deverá ser feita pelo
Educação para as cliente. Se uma pessoa quiser ter o poder para alcançar o sucesso,
precisa receber as informações pertinentes. Quando esclarecidas,
escolhas informadas as pessoas ficam mais confiantes e competentes, e sentem-se
motivadas a seguir as recomendações.
Os planos tornam-se das pessoas somente quando elas mesmas trabalham ne-
les. Quando os planos são traçados pelos indivíduos responsáveis pelo agir, os objetivos
e a motivação estão completamente internalizados, e a implementação (ação) torna-se
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Entrevista Motivacional
A Entrevista Motivacional (EM) é uma abordagem de tratamento que auxilia o indiví-
duo no reconhecimento de um problema e possíveis ambivalências para a mudança de
comportamentos; é um meio de comunicação colaborativa entre profissional da saúde
e paciente, que propicia um ambiente favorável para que o sujeito possa identificar
suas motivações intrínsecas e promover resultados mais positivos no tratamento.
Para tanto, o profissional da saúde evoca e explora as próprias razões do paciente para
a mudança, dentro de uma atmosfera de aceitação e empatia, e pode ser aplicada nas
diferentes especialidades da saúde (SOUZA; MEYER; OLIVEIRA, 2019).
Figura 3 – Motivação
Fonte: Getty Images
Motivação é um impulso, um sentimento que faz com que as pessoas ajam para
atingir seus objetivos; ninguém é capaz de motivar o outro. Muito é dito sobre motivar o
paciente ou cliente, mas a motivação é um aspecto individual. Cada indivíduo tem a
capacidade de se motivar ou desmotivar, conhecida como automotivação, ou motivação
intrínseca (autônoma), que ocorre por meio de uma força interior, e pode mudar ao
longo do tempo e sofrer influências internas e externas. A motivação intrínseca envolve
uma sensação de prazer e satisfação que pode ser vivenciada de três formas:
1. Ao aprender, explorar ou tentar compreender algo novo;
2. Ao tentar realizar uma tarefa, o desafio de criar algo ou se superar;
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3. Pelo estímulo das sensações prazerosas associadas às mudanças (inclusive esté-
ticas) que influenciam os sentidos.
Assim, se alguém come de maneira saudável porque sente que é bom para seu corpo
e sua vida, e faz bem em geral, é intrinsecamente motivado.
Comer algum alimento apenas por acreditar que faz bem para a
Regulação Identificada saúde, mesmo que este não desperte nenhum prazer - por uma
recomendação nutricional, por exemplo.
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A escuta é produto do silêncio. Esse silêncio não significa a ausência de ruídos com a
boca, mas uma diminuição de ruídos interiores. Somente é possível ouvir as verda-
des do outro quando me silencio.
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As habilidades do profissional ao usar a EM estão relacionadas basicamente à ca-
pacidade de fazer perguntas abertas direcionadas, fazer afirmações positivas que
reforçam habilidades e comportamentos do indivíduo, escutar sem julgamento e
interrupção e, por fim, resumir e refletir sobre as informações. O esquema apresen-
tado na Figura 5 resume as etapas de condução de uma EM:
Até a próxima!
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Instituto Nutrição Comportamental
https://bit.ly/3eT8M0Z
Vídeos
A nutrição amorosa de Marcia Daskal | minidocumentário
https://youtu.be/2fp8aLYSMuc
Leitura
Alterações comportamentais e alimentares em obesos após grupo de intervenção
https://bit.ly/3cMbwKV
Repensar a Carta de Ottawa 30 anos depois
https://bit.ly/38WZHQU
Comportamento alimentar em obesos e sua correlação com o tratamento nutricional
https://bit.ly/2Qnot6k
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Referências
BIAGIO, L. D.; MOREIRA, P.; AMARAL, C. K. Comportamento alimentar em obesos
e sua correlação com o tratamento nutricional. J. Bras. Psiquiatr., Rio de Janeiro, v. 69,
n. 3, p. 171-178, jul. 2020. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0047-20852020000300171&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 05/12/2020.
RYAN, R. M.; DECI, E. L. Intrinsic and extrinsic motivations: classic definitions and
new directions. Contemporary Educational Psychology, San Diego, USA, v. 25, p.
54-67, 2000.
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