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Os doze trabalhos de Hércules, uma narrativa da aventura humana.

Este é um trabalho muito importante sobre os mistérios da natureza humana que pode ser lido
como um livro, mas também pode ser seguido como um curso de 12 aulas consecutivas. Cada
Trabalho traz uma lição a ser aprendida e uma experiencia a ser realizada. Se você é um
buscador de conhecimento e tem afinidade com a linguagem simbólica da mitologia e da
astrologia, certamente você encontrará neste trabalho muitas informações preciosas para o
seu aprimoramento. Se for assim, estude com calma cada um dos trabalhos e se desejar
compartilhe conosco através dos comentários sobre seus aprendizados e suas dúvidas.

O Mito de Hércules simboliza a alma humana na sua eterna busca pela evolução e cada um dos
doze trabalhos de Hércules simboliza os aprendizados em cada um dos signos do zodíaco,
como escadas de um evolução ascendente, lembrando que estes signos são experiencias
vividas por todos nós, independente do nosso signo. A medida que a Terra gira, a natureza
repete estas influências diariamente, mensalmente e anualmente formando um ciclo
permanente de evolução, iluminando nossas fraquezas e nos dando oportunidade para
trabalhar estes aspectos dentro de nós.

As experiencias e ensinamentos de cada trabalho podem ser aproveitados pelo estudante para
desenvolver as suas virtudes internas e compreender melhor suas fraquezas. As orientações
do mestre devem ser estudadas atentamente porque mostram o caminho do trabalho que
deve ser realizado para enfrentar estes desafios que poderão então se tornar experiencias.

Cada trabalho representa simbolicamente um estágio ou aspecto da evolução humana, que


pode ser facilitada pela compreensão e aplicação na vida cotidiana dos ensinamentos que cada
trabalho proporciona. Embora o estudo utilize uma linguagem simbólica, o estudante deve
procurar traduzir o significado deste simbolismo para sua própria vida prática e como pode
utiliza-lo no cotidiano da vida.

O objetivo deste curso é fornecer material para reflexão e aplicação prática para aqueles que
desejam cooperar com sua própria evolução. No final de cada estudo há um espaço para que
o estudante possa fazer suas reflexões ou enviar suas dúvidas. Responderemos na medida do
possível o mais breve que pudermos.

1º  Trabalho As Éguas Devoradoras de Homens ÁRIES

2º  Trabalho O Touro da Ilha Sagrada TOURO


3º  Trabalho Colhendo as Maçãs de Ouro GEMEOS

4º  Trabalho A Captura da Corça CANCER

5º  Trabalho A Morte do Leão de Neméia LEÃO

6º  Trabalho Apoderando-se do Cinto da União VIRGEM

7º  Trabalho A Captura do Javali de Erimanto LIBRA

8º Trabalho Erguendo a Hidra de Lerna ESCORPIÃO

9º Trabalho Os Pássaros Devastadores SAGITÁRIO

CAPRICÓRNI
10º Trabalho A Morte de Cérbero
O

11º Trabalho Limpando Estábulos de Áugias AQUÁRIO

12ºTrabalho Conduzindo o Gado Vermelho PEIXES

Material utilizado

1. Livro de Trigueirinho : HORA DE CRESCER INTERIORMENTE, EDITORA PENSAMENTO.

2. Livro de Alice A. Bailey: OS TRABALHOS DE HÉRCULES, editado pela FUNDAÇÃO


CULTURAL AVATAR.

Metodologia

1. Cada trabalho simbolizando um signo totalizando os doze meses meses do ano.

2. Pode-se começar este processo a qualquer momento, porém o mais adequado é seguir
a sequência cronológica dos Doze Trabalhos.

3. Sugere-se que o exercício seja cumulativo. Ao começar o exercício do segundo mês,


continua-se a fazer o do primeiro mês; ao começar o do terceiro mês, continua-se a fazer o do
primeiro e o do segundo mês; e assim sucessivamente.

As Personalidades Sete nos remetem ao primeiro trabalho de Hercules. O SETE nos fala de
Iniciacao em uma longa caminhada interior em busca de si mesmo, mergulhando no universo
oculto da mente subjetiva. Esta caminhada precisa ser voluntária e consciente e oferece ao
viajante uma serie de obstáculos a serem vencidos.

Este obstaculos estao representados na historia mitológica de Hercules, que representa a Alma
Humana em sua trajetória evolutiva, e os doze trabalhos são as doze etapas a serem vencidas
ou os doze signos do zodíaco.

O Primeiro trabalho é domar as eguas reprodutoras e devoradoras que assolam uma cidade.
As eguas destriuiam rapidamente tudo que se plantava, tudo que se criava pois nao paravam
de se procriar rapidamente. Nao adiantava prender umas ou outras, era preciso reunir todo o
bando em um celeiro e deixa-las sob absoluto controle.

Pois bem, o cavalo na mitologia grega representa o Pensamento, e as éguas, representam este
pensamento produtivo, fertil, inquieto que assola a mente, impedindo que termine aquilo que
se começou e que se colha os frutos do que se plantou. Esta confusão mental dificulta ou
impede uma visão clara e limpida da realidade interior.

Este pensamento criativo, reprodutor e inquieto é um reflexo de almas ou com forte


predominacia do elementor criativo, o TRES. A ofeito da Personalidade SETE seja
justamente aquietar, harmonizar e silenciar a MENTE objetiva, para que a realidade no fundo
do lago possa transparecer. Exatamente como acontece com um lago agitado, de deixarmos a
agua paradinha podemos ver o fundo. E lá no fundo da mente, encontraremos nós mesmos e
as licoes que precisamos aprender para seguir em frente na caminhada.

Penso que o erro, ou exagero do SETE seria pensar que este lugar secreto seja o fim da
caminhada, desejando permanecer nele indefinidamente. Na verdade é apenas um início, um
novo começo de uma jornada. Após beber desta fonte e aprender a penetrar no universo
interior, Hercules deverá seguir em frente e continuar a jornada.

Agora que aprendeu a penetrar neste recinto, poderá voltar nele, ou permanecer nele, sempre
que desejar. O Homem que aprendeu verdadeiramente a meditar, será capaz de meditar
mesmo diante dos maiores ruidos da cidade, mesmo dentro um metrô lotado.

Ha uma passagem de Buda onde ele pede ao seu discipulo para buscar agua em um rio, mas
este rio está com agua barrenta porque havia passado uma manada de elefantes
recentemente. O mestre pede para esperar até a agua ficar limpida novamente e aconselha
que não mergulhe na agua. Va lá pegue a agua e volte.

PRIMEIRO TRABALHO DE HÉRCULES

A Captura das Éguas Antropófagas


De quando em quando, deparamo-nos com um grande portal, isto é, ficamos diante de um
novo ciclo de nossa vida, na superfície da Terra ou em outros níveis de existência. É inútil,
entretanto, forçar a entrada nesses portais: cabe-nos atravessá-los, se quisermos, quando
estão abertos diante de nós, o que só acontece quando realmente estamos prontos para a
nova etapa. Aplica-se aqui o mesmo princípio que se observa nas leis imutáveis, segundo o
qual “quando o discípulo está pronto, o Instrutor aparece”. Por conseguinte, os portais
mencionados neste livro simbolizam sempre a possibilidade de ingresso em novas fases da
vida, em novos campos de experiência. Nas histórias aqui mencionadas, encontraremos
também Mestres, Instrutores e outros símbolos igualmente vitais para a nossa evolução e para
a da humanidade como um todo. Coloquemo-nos diante de tudo isso com simplicidade, para
não confundirmos as etapas percorridas por Hércules em nível de personalidade com as
outras, que dizem respeito ao Hércules consciente, com sua alma já liberta das influências da
vida material. Dizemos, genericamente, que há três tipos de indivíduos e que, por intermédio
deles, podemos distinguir também três estágios evolutivos das almas. O primeiro tipo é o dos
que ainda não despertaram para a existência da alma, ou eu superior; o segundo é o dos que
estão abertos para essa realidade e se comportam como seres em evolução; e o terceiro é o
dos que vivem conscientemente à luz dessa alma e sabem, portanto, que são seres
reencarnantes.

As histórias que se seguem têm seu início na fase em que podemos tornar-nos “luzes
vacilantes”, isto é, quando não somos mais seres humanos meramente instintivos, “centelhas
obscuras”. Nessa etapa, já autoconscientes, podemos desenvolver a vontade de evoluir e
controlar nossa natureza terrestre ou humana. Como veremos, todas essas histórias partem do
princípio de que Hércules, que representa cada um de nós, concorda em submeter a própria
natureza humana a uma harmonização com a parte mais profunda de seu ser. Daí por diante, a
evolução não permanece mais em seu ritmo natural, como o da vida que as pessoas, em sua
maioria, comumente levam. Ao contrário, ocorre uma espécie de reviravolta: passamos a
assumir as crises como aulas, como fatores de aprendizagem, e não mais como situações
indesejáveis das quais gostaríamos de, em vão, esquivar-nos. Tendo claras essas premissas,
entremos sem receios pelo portal que se apresenta aberto diante de nós. Posso testemunhar
que são inúmeras as ajudas interiores que recebemos durante todo o trajeto. Se vivermos cada
uma dessas histórias conscientemente, fazendo ao Instrutor que está sempre disponível no
centro de nossa consciência todas as perguntas necessárias, e se no decorrer delas não
desperdiçarmos energia em chorar ou em rememorar fatos passados, experimentaremos
grandes transformações em nós mesmos.

AS ÉGUAS DEVORADORAS DE HOMENS

Diante da alma de Hércules, o primeiro grande portal está aberto. Desafiante, a voz do
Instrutor incita-o a seguir em frente a que ingresse no caminho. Isso significa o início de uma
série de encarnações sobre a Terra, após tantas outra, de obscuridade, em nível
semiconsciente. Agora, um novo ciclo começa, com Hércules já desperto para a evolução. O
herói precipita-se com coragem, sem esconder uma vaidosa confiança e a certeza de sair-se
bem.

Nas terras pantanosas além do portal, um estranho ser, temido por todos, exerce grande
domínio. É perigoso caminhar por ali, uma vez que tal ser cria cavalos e éguas selvagens,
extremamente violentos. Todos temem esses animais, porque dizimam o que vêem pela
frente, não poupando nem mesmo pessoas. Eles matam e destroem todo o trabalho realizado
com o esforço humano. As crias desses animais nascem cada vez mais fortes, selvagens e
maléficas, e aquele senhor prepotente nada faz para desenvolver nelas qualidades menos
agressivas. Quando Hércules inicia essa encarnação, primeira de uma série ainda caracterizada
por graus elevados de ilusão, o Instrutor encarrega-o de capturar as éguas e de pôr fim àqueles
atos maléficos. A ordem que ele recebe é a de libertar aquelas terras e os que nelas vivem.
Hércules tem um amigo, até então inseparável, e conta com ele para ajudá-lo a realizar essa
tarefa. De fato, o amigo fiel segue-lhe os passos por onde quer que vá, e, juntos, arquitetam
um plano inteligente — os animais, por mais fortes que sejam, não têm a inteligência do
homem. Desse modo, acabam encurralando as éguas e, após laçá-las uma a uma, o herói
festeja alegremente o sucesso alcançado. Chega, então, o momento de conduzi-las a um lugar
onde se tornem inofensivas, libertando aquela região de tantas ameaças e desastres. A essa
altura, Hércules acredita que sua tarefa esteja praticamente resolvida, sendo de somenos
importância o restante a ser feito. Chama seu ajudante, encarrega-o de conduzir os animais
selvagens para além do portal e, com visível orgulho pelo que realizara, afasta-se dali. O amigo,
atendendo-o prontamente, dá início àquela última fase, considerada por Hércules como a mais
simples. Ele, porém, não tem a mesma força do herói. Pelo contrário, é frágil e de pouca
agilidade. Além do mais, teme a tarefa, embora não o demonstre; na verdade, não tem a
mesma capacidade de Hércules para prender as éguas, amarrá-las e conduzi-las a seu destino.
Assim, quando tenta transportar os animais capturados, estes, em conjunto, se voltam contra
ele, matando-o. Em seguida, mais ferozes do que nunca, espalham-se pelas terras de onde
estavam sendo retirados. O Trabalho volta, então, à estaca zero.

De fato, Hércules aprende uma grande lição e torna-se um pouco mais sábio e humilde. Um
tanto desencorajado pelo impacto da morte do amigo, recomeça a busca das éguas.
Novamente consegue capturá-las, conduzindo-as a um local de onde não podem escapar.
Resta, no entanto, o corpo sem vida do amigo como testemunha de uma ação irrefletida. O
Instrutor vem em seu auxílio. Examinando a situação, envia os animais capturados para um
lugar de paz; o povo dá graças a Hércules e o tem como um libertador, enquanto o corpo do
amigo fiel jaz ali, bem à vista de todos. Tristeza e entusiasmo são próprios daquelas terras e
daqueles pântanos. “Aproveite a lição desta tarefa”, diz o Instrutor, depois de tudo passado.
Hércules ouve-o atentamente, pois começa a ter consciência do serviço a ser prestado aos
homens em geral. Por essa amostra, vê o que o espera no futuro. Mas a experiência não
termina ali. Em seguida, o Instrutor diz-lhe que “O Trabalho, sim, foi feito” — perceber o
empenho com que Hércules se dedicara — “porém, malfeito”. As palavras do Instrutor calam
fundo na alma do herói, e é nessa situação que a voz interna volta a ser ouvida — desta vez
para dizer que ele prosseguisse, que não parasse por causa do acontecido. Impulsionando-o, a
voz indica-lhe o segundo portal onde um novo Trabalho o aguarda. Antes, porém, de partir,
Hércules põe-se a refletir sobre a tarefa recentemente concluída.

Na história de Hércules, o pântano, dominado pelo prepotente senhor, simboliza a mente


humana, que a esta altura do processo começa a desenvolver-se enquanto elemento que
pensa, que raciocina. Não nos esqueçamos de que ela absorveu durante várias encarnações o
egoísmo, a crítica, a crueldade e a tendência à tagarelice. As éguas devastadoras equivalem a
tais aspectos dessa mente, aspectos que dão origem aos conceitos, às teorias e às idéias mais
concretas e óbvias do homem, de modo especial às que se encaixam e se afinam com a
mentalidade vigente na sociedade organizada, enfim com o mundo das terras pantanosas —
terras que podem tornar-se férteis e saudáveis quando libertas de suas imperfeições. Essas
éguas, que existem em todos nós e correspondem a aspectos mentais que implicam
devastação e crítica, são passíveis de transmutação e de desenvolvimento, quando inspiradas
pelo “lugar de paz”— para onde devem ser levadas. De fato, no final do episódio, o Instrutor
envia os animais para lá.

Durante épocas seguidas, as éguas estiveram soltas: a mente foi cruel e devastadora por não
ter ainda contato com o lugar pacífico que existe além dela, o da sabedoria. Ela levou o
homem a devastar primeiro seu próprio corpo físico com hábitos inadequados, e depois a
própria Natureza terrestre. Levou-o a devastar seus relacionamentos, por meio,
principalmente, das “éguas” da tagarelice. Todavia, a mente superior, com sua visão conjunta,
inclusiva e amorosa, é mais potente do que o poderio da separatividade e da crítica,
simbolizado nessa primeira história pelo senhor das terras pantanosas, mencionado no
começo da descrição do Trabalho. Esse senhor equivale ao princípio mental humano, ainda
não evoluído.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE, Trigueirinho.

Diomedes, o filho de Marte, o deus da guerra, possui um grande número de éguas


reprodutoras. Estas andavam à solta, devastando os campos, causando grandes danos e
alimentando-se da carne dos seres humanos. Ninguém estava a salvo delas e o terror instalara-
se pela vizinhança. Além disso, estas éguas estavam procriando um vasto número de cavalos
de batalha, e Diomedes estava muito preocupado com as conseqüências dessa situação.
Euristeu, o Rei, ordenara a Hércules que as capturasse. Muitas tentativas haviam sido feitas
com esse propósito, mas as éguas escapavam sempre depois de matar os cavalos e homens
enviados contra elas. Mas Hércules, tendo aprisionado as éguas, confiou-as a Abderes para
que as contivesse, enquanto ele, pavoneando-se, seguia adiante, sem se dar conta da força das
éguas ou de sua selvageria. Antes que pudesse tomar medidas para evitá-lo, as éguas
voltaram-se contra Abderes e o pisotearam até a morte, e mais uma vez escaparam, e
novamente devastaram os campos. Assim, Hércules teve que recomeçar seu trabalho, e depois
de denodados esforços, mais uma vez conseguiu capturar as éguas. Este primeiro trabalho,
portanto, começou com um fracasso parcial, como acontece tão freqüentemente ao aspirante
inexperiente e impetuoso. Assim é a história: breve, dramática e encorajadora.

Referências nos livros de simbologia nos dão conta de que o cavalo representa a atividade
intelectual. O cavalo branco simboliza a mente iluminada do homem espiritual; por isso
encontramos no Livro das Revelações que o Cristo aparece montado num cavalo branco.
Cavalos negros representam a mente inferior, com suas idéias falsas e errôneos conceitos
humanos. As éguas reprodutoras, como encontradas no primeiro trabalho, indicam o aspecto
feminino da mente dando nascimento a idéias, teorias e conceitos. O pensamento-forma
fazendo a tendência da mente é aqui simbolizado, manifestando as idéias concebidas e que
são deixadas à solta sobre o mundo, devastando destruindo quando emanadas da mente
inferior, mas construindo e salvando quando vindo da alma.
O significado da prova está agora evidente. Hércules tinha que começar no mundo do
pensamento para obter o controle mental. Há muito tempo as éguas do pensamento vinham
produzindo cavalos guerreiros e, através do pensamento errado, da palavra errada e de idéias
errôneas devastam os campos. Uma das primeiras lições que todo principiante tem que
aprender é o tremendo poder que ele exerce mentalmente, e a extensão do mal que ele pode
causar no meio que o circunda através das éguas reprodutoras de sua mente. Ele tem, pois,
que aprender o uso correto de sua mente e a primeira coisa a fazer é capturar o aspecto
feminino da mente e providenciar par a que não mais cavalos guerreiros sejam gerados.
Qualquer um com pretensões a tornar-se um Hércules pode facilmente provar ser possuidor
destas devastadoras éguas reprodutoras: basta que dedique um dia inteiro a prestar cuidadosa
atenção aos seus pensamentos e às palavras que profere, as quais são sempre resultado do
pensamento. Rapidamente descobrirá que o egoísmo, a maldade, o amor ao falatório e à
crítica constituem grande parte do seu pensamento e que as éguas de sua mente estão
constantemente sendo fertilizadas pelo egoísmo e ilusão. Em lugar destas éguas darem
nascimento a idéias e conceitos originados no reino da alma, e em lugar de serem fertilizadas a
partir do reino espiritual, tornam-se eles os geradores do erro, da falsidade e da crueldade,
que têm sua origem nos aspectos inferiores da natureza humana. Hércules compreendeu o
mal que as éguas estavam causando. Galantemente correu em socorro de sua vizinhança.
Estava determinado a capturar as éguas reprodutoras, mas superestimou-se. Ele realmente
conseguiu cercá-las e capturá-las mas não percebeu a potência e a força que elas possuíam,
tanto que as entregou a Abderes, o símbolo de seu eu inferior pessoal para guardar. Porém,
Hércules, a alma, e Abderes, a personalidade, em uníssono eram necessárias para guardar
esses devastadores cavalos. Sozinho, Abderes não tinha força suficiente, e o que vinha
acontecendo às pessoas das redondezas, aconteceu a ele: foi morto. Este é um exemplo da
grande lei: pagamos em nossas próprias naturezas o preço pelas palavras incorretamente
proferidas e pelas ações mal-julgadas. Novamente a alma, na pessoa de Hércules, teve que
lidar com o problema do pensamento errôneo, e somente quando ele se torna um aspirante
unidirecionado no signo de sagitário e nesse signo mata os Pássaros Devoradores de Homens,
é que consegue realmente atingir o controle total dos processos de pensamentos de sua
natureza. O significado prático do poder do pensamento nos é muito bem, transmitido pelas
palavras de Thackeray: “Semeai um pensamento e colhereis uma ação. Semeai uma ação e
colhereis um hábito. Semeai um hábito e colhereis o caráter. Semeai o caráter e colhereis o
destino”.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

Sugestão para aplicação prática desse estudo:

A – Trabalho com a humildade: durante a realização de cada tarefa, procurar perceber se ela
está sendo bem feita ou de que forma poderia ser melhor realizada; procurar também
descobrir uma forma nova de realizar a tarefa.

B- Trabalho com o pensamento: vigiar continuamente os pensamentos egoístas, maldosos e


críticos e “conduzi-los para um lugar de paz”, ou seja, substitui-los por pensamentos que
representem a virtude oposta , isto é, pensamentos altruístas, amorosos e construtivos.

Questões surgidas a propósito do estudo do 1º e do 2° Trabalho de Hércules

PERGUNTA: O feriado do carnaval dificultou a execução do exercício proposto no primeiro


trabalho de Hércules. Não seria melhor recomeçarmos a partir de agora?
RESPOSTA: Se o feriado atrapalhou a execução do estudo, significa que tal “coincidência” foi
muito oportuna. Quando decidimos conscientemente buscar a vida interior e o crescimento
interno, as circunstâncias externas e os fatos, passam a ter um papel significativo no
desenvolvimento desse potencial. Tais fatos começam a ser “atraídos” fornecendo situações
ideais para que cada um individualmente possa desenvolver o seu trabalho da forma mais
eficaz. As dificuldades que esses fatos proporcionam fornecem condições ideais para que
identifiquemos os pontos falhos no estudo e que precisam ser resolvidos. E vão ser. A decisão
sincera da busca torna todos os fatos aproveitáveis. Se o carnaval atrapalhou o estudo significa
que ele foi o fato mais adequado para mostrar ao estudante onde está a falha. Se não fosse
assim e o estudante talvez tivesse conseguido fazer a proposta, porém o sucesso seria parcial,
pois ele não foi tentado, testado. Além disso, a sensação do considerado fracasso, de uma
certa forma pode ampliar a consciência. O fracasso mostra a limitação e a limitação mostra o
ponto em que você está, facilitando que você veja claramente o trabalho que precisa ser feito.
Permite que se possa fazer o exercício ainda mais conscientemente . A proposta para o estudo
dos trabalhos de Hércules é cumulativa, isto é, os exercícios propostos para o primeiro
trabalho devem continuar sendo desenvolvidos após entrarmos no exercício do segundo
Trabalho e assim sucessivamente. Dessa forma, a oportunidade de aproveitarmos a
consciência do fracasso no primeiro trabalho fica proporcionada.

PERGUNTA: Os exercícios propõem que tenhamos idéias novas para atuarmos em nossas
vidas. Essa idéia nova provém do pensamento?

RESPOSTA: O pensamento, já sabemos, não é capaz de sugerir caminhos novos. Ele pode ser
um ótimo processador, organizador de tarefas, memorizador, mas não está qualificado para
desenvolver uma nova atuação, ou melhor, para fornecer a intuição, objetivo dessa proposta.
A inspiração, a intuição é a ponte com o ser interno. Essa é que devemos buscar. É claro que a
inspiração não ocorre por acaso. Ela é conseqüência do aquietamento, e aquietamento se
consegue através de exercícios, de uma prática. Quem já experimentou sabe que não adianta
se dar uma ordem para que venha uma intuição; o artista sabe que não adianta ele querer
para que imediatamente surja-lhe a inspiração de uma obra de arte. A aspiração e busca
constantes são fundamentais para a sua manifestação que pode ocorrer a qualquer momento,
freqüentemente, nos momentos mais inesperados. O pensamento pode e deve ser usado para
reconhecer a intuição. Neste momento, surge uma questão: como reconhecer se a intuição
tem origem verdadeiramente no mundo interno ou se vem do plano mental mesmo? Essa é
uma dúvida pertinente e que não necessariamente precisa ser respondida de imediato. O que
realmente importa é a sinceridade de querer utilizar a inspiração para satisfazer as
necessidades grupais e não a sua própria, é a tentativa de tornar o ambiente mais harmonioso
a partir de si próprio. No início, é possível que algumas idéias venham do plano mental, mas o
que importa é o uso que se faz dela, da sua aplicação. Se a aplicamos de forma desinteressada,
sem querer nada para si próprio, nós elevamos o seu nível, é um bom começo.
Posteriormente, a propostas internas terão cada vez mais facilidade de se manifestar pois o ser
interno saberá com que propósito ela será utilizada. Podemos também fazer algumas
perguntas para facilitar o reconhecimento da origem da inspiração: 1-Espero benefícios
pessoais com essa proposta? 2-Ela é uma proposta amorosa? 3-Um ser de Luz agiria dessa
forma se estivesse em meu lugar? Se a resposta for não para a primeira questão e sim para as
restantes, é provável que a proposta venha de seu interior.

A Captura do Touro de Creta

SEGUNDO TRABALHO:
O herói vai e, então, ingressa em uma nova etapa. Solitário e triste após a experiência anterior
com as éguas malfeitoras, mesmo assim ele envereda pelos caminhos de uma nova fase. Vê,
de imediato, uma formosa ilha, onde um labirinto, que confunde os homens, seduz todos com
promessas de gozo. Procurando atravessar o oceano em busca de tal ilha, Hércules tem como
meta capturar um touro, tido como sagrado, que nela habita. Chegando lá, procura-o
pacientemente, percorrendo vários locais, numa longa peregrinação. Sozinho desta vez em sua
busca, Hércules prossegue e é atraído pelo brilho de uma luz. Trata-se de uma estrela que
fulgura na testa desse touro. Tal brilho não mais permite que o animal continue escondido em
regiões escuras, sem ser identificado. Então Hércules chega ao esconderijo do touro. Mesmo
sem poder contar com mais ninguém, captura-o e monta-o, como se fora um cavalo. Assim
montado, Hércules atravessa o mar, deixando atrás de si a ilha formosa, e volta para o
continente levando consigo o touro. Três seres portadores de um único olho no centro da
testa aguardam Hércules no continente. De maneira misteriosa, eles também vinham
observando seus progressos, principalmente sua façanha de atravessar as ondas do oceano.
Logo que chega a terra firme, Hércules é recebido pelas três criaturas, que seguram o touro
recém-capturado e liberam o herói desse encargo. Esses seres, irradiando grande poder e
sabedoria, como que testando Hércules, fazem-lhe algumas indagações. Perguntam-lhe, por
exemplo, qual o motivo de sua estada ali no continente. O herói responde-lhes, de modo
decidido, que queria ter o touro sob o seu controle. Em seguida, informa-lhes que o rei da ilha,
que até então mantivera o touro prisioneiro, tencionava conquistar esse animal. Se isso
acontecesse, segundo Hércules, seria uma espécie de morte. As três criaturas perguntam-lhe
também quem o mandara buscar o touro e salvá-lo daquele rei e daquela ilha. Hércules
demostra-se consciente do seu caminho, respondendo que foi dentro de si mesmo que sentiu
a necessidade de capturar o animal e que, para tanto, tinha sido guiado por uma luz sagrada
no momento de encontrá-lo. Diante disso, aqueles seres de um olho só disseram-lhe que
seguisse em paz e que considerasse completada a tarefa. O Instrutor, que acompanhava
aquela cena, faz-se então visível. Aproximando-se, observa com alegria que o guerreiro está de
mãos vazias: voltara da tarefa sem contar vitória, dizendo apenas que o touro fora resgatado e
que estava sob a guarda dos três seres. Depois de tudo isso, Hércules pôde, então, repousar
sobre um tapete de relva. O Instrutor afirmou-lhe que a tarefa estava concluída e que fora um
trabalho relativamente fácil. A ausência de dificuldades pode-se dever ao fato de que Hércules
jamais estipulara um preço como recompensa e nunca fora menos solícito, embora nada
esperasse da façanha.

Enquanto no primeiro Trabalho a parte humana de Hércules é equipada com a mente e sua
tarefa é adequar essa mente às necessidades reais, no segundo a sua parte humana, já
equipada com o desejo bem robustecido, precisa ser trabalhada e transformada. O touro que
figura neste Trabalho simboliza o sexo em todos os seus aspectos: desde a energia criativa até
o desejo animal. A ilha com seu labirinto representa a grande ilusão, o eu separado, o universo
do desejo; o continente onde Hércules leva o touro domado, a consciência do eu superior, da
alma.
Neste episódio, nesta etapa do desenvolvimento da alma, Hércules é ainda a unidade que
percebe a si mesma separada, dividida do continente pelo mundo da ilusão (o oceano), com o
qual ainda se envolve. Montar o touro significa, aqui, controlar o sexo. Note-se que este não é
massacrado, nem morto, mas montado e guiado sob a maestria do homem.

Os que vivem no continente simbolizam o uso correto da energia. Na sua natureza animal,
Hércules é o Touro e na sua natureza superior corresponde a esses seres corretamente
polarizados e que, por isso, têm um único olho. Os seres são três, porque cada um
corresponde a determinado aspecto divino da alma: vontade espiritual, amor-sabedoria e
inteligência ativa.

O continente, como vimos, simboliza a consciência superior não separatista. Controlar o touro
e conduzi-lo até lá só é possível depois que o homem se torna solitário, isto é, quando assume
a própria evolução sem esperar que outros decidam por ele. Somente depois de provas duras
é que ele estará em condições de controlar a energia sexual. Antes disso, essa energia apenas
alimenta e atrai os seus desejos. O labirinto da ilha é vencido quando o homem já perdeu uma
série de ilusões, pois então as promessas de gozo não mais o atraem tanto. Observe-se que a
primeira tarefa, com o seu “fracasso”, foi de capital importância para criar essa receptividade
em Hércules.

Este segundo episódio mostra-nos, pois, que o relacionamento de um indivíduo com a energia
sexual depende de seu grau evolutivo. A educação, a atitude e a aprendizagem do homem, ao
confrontar-se com essa energia, estão diretamente ligadas à consciência que ele já pode
atingir. Em seu Notebooks, Paul Brunton esclarece melhor o assunto, apresentando quatro
etapas correspondentes à evolução do homem em relação à energia sexual sintetizados no
quadro a seguir:

Homem comum Aspirante inicial Aspirante avançado Indivíduo realizado

ularm ente Usa uma disciplina Busca atingir o Tem total controle
interessado em sexual moderada. mais alto padrão da energia sexual.
mais que uma boa Tem ritmo em suas possível de Não tem mais
vida. Permanece práticas sexuais. autocontrole. É desejos nem
nas aspirações capaz de paixões.
convencionais. Não Compreende a abstinência total
procura orientação quando não ligado Não necessita de
natureza da força
alguma de ninguém a alguém.
regras de disciplina.
no campo do sexo. sexual.
a não ser para ter Procria se
mais prazer e bem- Procria quando
Impõe-se limites necessário, porém
estar.
de modo qualitativo necessário a título
neste campo.
e não quantitativo. de serviço: prover

Quando ao uso da corpos físicos para

energia, aceita ou Neste caso, cabe almas evoluídas.

não orientação de eventualmente


alguém mais orientação por parte
Nenhum conselho e
nenhuma
de alguém mais orientação externa é
experiente.
experiente. cabível ao
indivíduo deste
nível

O Significado do Trabalho

Apesar de um parcial fracasso inicial, Hércules havia dado o seu primeiro passo. De acordo
com a lei universal ele dava início ao seu trabalho no plano mental. No desenrolar do plano
criativo, o impulso-pensamento é seguido pelo desejo. Ao estado de consciência a que
chamamos mental, sucede-se o estado de sensibilidade, e este segundo trabalho trata do
mundo do desejo e da potência do desejo. É um dos trabalhos mais interessantes, e que nos é
contado nos mínimos detalhes. Alguns dos relatos das várias provas a que Hércules foi
submetido são extremamente sucintos e de descrição sumária, porém as provas realizadas em
Touro e Gêmeos, em Escorpião e Peixes, são detalhadamente narradas. Elas eram drásticas na
sua aplicação e testavam cada uma das partes da natureza do aspirante. A chave para o
trabalho em Touro é a correta compreensão da lei da Atração. Esta é a lei que governa aquela
força magnética e aquele princípio de coesão que constrói as formas através das quais Deus,
ou a alma, se manifesta. Produz a estabilidade demonstrada pela persistência da forma por
todo o seu ciclo de existência, e diz respeito à inter-relação entre aquilo que constrói a forma e
a forma propriamente dita; entre os dois pólos, positivo e negativo; entre espírito e matéria;
entre o Eu e o não-Eu; entre macho e fêmea, e portanto, entre os opostos.

Natureza das Provas

A grande lição a ser aprendida neste signo é alcançar a correta compreensão da lei da Atração
e o correto uso e controle da matéria. Assim, figurativamente falando, a matéria é elevada ao
céu, e pode iniciar sua correta função, que é tornar-se um meio de expressão e um campo de
esforço para o Cristo que o habita, ou alma. O aspirante, portanto, é testado de duas
maneiras: primeiro, quanto ao calibre de sua natureza animal e aos motivos que subjazem à
sua utilização; segundo, quanto à atração que a grande ilusão pode exercer sobre ele. Maya,
ou a grande ilusão, e o sexo, são apenas dois aspectos da mesma força, a de atração; um, ao
manifestar-se no plano físico, e o outro, ao expressar-se no campo da natureza do desejo
emocional.

O Discípulo e o Sexo

Um aspirante ao discipulado tem no sexo um problema real a enfrentar. A auto-indulgência e o


controle do ser humano por qualquer parte do seu organismo são sempre inevitavelmente
errados. Quando a mente de um homem está totalmente voltada para as mulheres, ou vice-
versa; quando ele vive principalmente para satisfazer um desejo animal; quando ele se vê
impotente para resistir ao apelo do pólo oposto, então ele é vítima do aspecto mais inferior de
sua natureza, o animal, e por ele é controlado. Mas quando o homem reconhece suas funções
físicas como uma herança divina, e seu equipamento como algo que lhe foi dado para o bem
do grupo, e para ser corretamente usado para o benefício da família humana, então veremos
um novo impulso motivador subjacente à conduta humana no que diz respeito ao sexo. (…)

Nos antigos mitos, montar um animal significa controlar. O Touro não é sacrificado, ele é
montado e dirigido, sob o domínio do homem. (…) Há um perigo no método de muitos
aspirantes em inibir ou eliminar totalmente a expressão sexual. Fisicamente podem conseguí-
lo, mas a experiência de psicólogos e mestres revela que quando a inibição e drástica
supressão são impostas ao organismo, o resultado é uma ou outra forma de complexo nervoso
ou mental. (…) Que o aspirante se lembre que o touro tem que ser montado para atravessar as
águas até o continente. Isto significa que todo o problema do sexo será solucionado quando o
discípulo subordina seu “eu-pessoal-ilha-separada” ao propósito e esforço do grupo, e começa
a dirigir sua vida pela pergunta: “O que é melhor para o grupo com o qual estou associado?”
Este é o modo de cavalgar o touro até o continente. (…) Celibato significa “solteiro”, mas o
significado geralmente dado à palavra é de abster-se da relação marital. (…) Mas não terá sido
o verdadeiro celibato definido para nós nas palavras de Cristo quando disse: “Se teu olho é um
só (único), todo o teu corpo será luz”? Não será o verdadeiro celibato a recusa da alma em
continuar a identificar-se com a forma? O verdadeiro casamento — do qual a relação no plano
físico é apenas um símbolo — não será a união da alma e da forma, do aspecto positivo
(espírito), e do negativo (a mãe-matéria) ? Por meio do correto uso da forma e correta
compreensão do propósito, por meio da correta orientação para a realidade e o uso correto da
energia espiritual, a alma agirá como o fator controlador e o corpo todo se encherá de luz.
Através do controle, do uso do senso comum, da correta compreensão do celibato, e da
identificação com o propósito grupal, o discípulo libertar-se-á do controle do sexo.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

Sugestão para aplicação prática desse estudo:

TRABALHO COM O DESEJO:

• Entregar constantemente o desejo através de invocação e aspiração. Desejar


conscientemente elevar a todo momento a qualidade dos desejos, tornando-os cada vez mais
grupais e menos pessoais.

• Vigiar a qualidade dos desejos que brotam na consciência. Manter um controle estável
dos desejos pode ser proporcionado com a vigilância.

• Elevar a qualidade da energia sexual. A energia sexual é uma energia criativa. Portanto,
pode-se elevar a qualidade dessa energia através de soluções criativas que venham a gerar
frutos que proporcionem harmonia e/ou bem grupal. “O touro não é sacrificado, ele é
montado e dirigido, sob o domínio do homem”.

Pergunta surgida a partir do segundo Trabalho

Pergunta: Foi compreensível a sugestão para aplicação prática do primeiro Trabalho. Já para o
segundo foi mais difícil. Seria possível esclarecer melhor como aplicar soluções criativas que
venham a gerar frutos que proporcionem harmonia e/ou bem grupal?

Resposta: A dúvida é pertinente uma vez que trabalhar o pensamento é mais objetivo do que
trabalhar com o desejo pois este é mais “volátil”. Para tentar esclarecer, descreverei uma
vivência de um amigo que estava tentando fazer este exercício do segundo Trabalho.
Chamaremos este amigo de A . A foi colocado numa situação tal que lhe exigiu entrar em
contato com um amigo de infância que chamaremos de B. B era um rico banqueiro e estava
envolvido em escândalos financeiros. A, a princípio, não conseguia entender o motivo de a
vida ter-lhe obrigado a se envolver com aquela situação . Ele, naquele momento, estava
buscando um caminho ascensional, evolutivo. A começou então a refletir. Logo percebeu que
se ele estava disposto a fazer um trabalho de amadurecimento interior a partir do estudo do
Mito, tudo o que lhe viesse a ocorrer na vida seria para ajudá-lo a exercitar a sua proposta. Se
ele foi colocado naquela circunstância era porque ela seria a melhor vivência para que ele
aplicasse a proposta de exercício do segundo Trabalho. Tendo esta compreensão em mente,
Alembrou-se de que B foi um ser muito bondoso na infância, que tinha sido uma criança
preocupada com as necessidades de pessoas carentes. A resolveu usar essa lembrança. A
contou a B que tinha contato freqüente com pessoas que tinham dificuldades de
sobrevivência. A sugeriu que teria grande prazer em ser intermediário de B se este pudesse
fazer doações para aquelas pessoas carentes. B considerou a idéia muito boa e combinaram a
forma de fazer estas doações de forma rotineira.

Acreditamos que A encontrou uma forma inteligente de numa situação rotineira, utilizar a
proposta do exercício para adotar uma solução criativa para proporcionar harmonia e bem
grupal.

TERCEIRO TRABALHO:

Colhendo as Maçãs de Ouro

Cheio de confiança, pois que indiferente ao sucesso ou fracasso, Hércules pôs-se a caminho,
seguro de si, de sua sabedoria e de sua força. Passou pelo terceiro Portão, em direção ao
norte. Percorreu a terra à procura da árvore sagrada, mas não a encontrou. Perguntava a
todos os homens que encontrava, mas nenhum pôde guiá-lo no caminho; nenhum conhecia o
lugar. O tempo passava e ele ainda procurava, vagando de um lado para outro,
freqüentemente retornando sobre os próprios passos ao Terceiro Portão. Triste e
desencorajado, ainda assim procurava por toda parte. O Mestre, observando de longe, enviou
Nereu para ver se ele podia auxiliar. Vezes sem conta ele se aproximou, sob formas várias e
diferentes palavras de verdade, mas Hércules não reagia a elas nem sequer o reconheceu
como o tipo de mensageiro que era. Apesar de seu discurso habilidoso e dono da profunda
sabedoria de um filho de Deus, Nereu fracassou, pois Hércules estava cego. Não reconheceu a
ajuda tão sutilmente oferecida. Finalmente, retornando com tristeza ao Mestre, Nereu falou
sobre o fracasso. “Terminou a primeira das cinco provas menores”, replicou o Instrutor, “e o
fracasso é a marca desta etapa. Que Hércules prossiga.” Não encontrando a árvore sagrada no
caminho norte, Hércules retornou em direção ao sul e, no lugar da escuridão, continuou sua
busca. Primeiro sonhou com rápido sucesso, mas Anteu, a serpente, atravessou-se-lhe no
caminho e lutou com ele, vencendo-o a cada investida. “Ela guarda a árvore”, disse Hércules,
“isto me disseram, portanto a árvore deve estar por perto. Preciso derrubar sua guarda e
assim, destruindo-a, vencê-la e arrancar os frutos.” Contudo, lutando com todas as forças, ele
não a vencia. “Onde está o meu erro?” dizia Hércules. “Por que Anteu pode vencer-me?
Mesmo quando infante destruí uma serpente em meu berço. Com minhas próprias mãos a
estrangulei. Por que fracasso agora?” Lutando novamente com todo o seu poder, ele agarrou a
serpente em suas mãos e levantou-a ao ar, longe do chão. E viva! Realizara o feito: Anteu,
vencida, falou: Virei novamente com diferente disfarce à entrada do oitavo Portão. Prepara-te
para a nova luta”. (…)

Feliz, confiante, seguro de si e com renovada coragem, Hércules continuou em sua busca.
Agora voltou-se para o ocidente, e tomando essa direção, encontrou o fracasso. Ele atirou-se
ao terceiro grande teste sem pensar e por muito tempo o fracasso atrasou seus passos. Pois lá
ele encontrou Busiris, o grande arqui-enganador, filho das águas, parente próximo de
Poseidon. Seu trabalho é trazer a ilusão aos filhos dos homens através de palavras de aparente
sabedoria. Ele afirma conhecer a verdade e rapidamente eles acreditam. Ele diz belas palavras:
“Eu sou o mestre. A mim é dado o conhecimento da verdade. Aceita o meu modo de vida. Só
eu sei, ninguém mais. Minha verdade é correta. Qualquer outra verdade é errônea e falsa.
Atenta para minhas palavras; fica comigo e salva-te.” E Hércules obedeceu; e a cada dia
enfraquecia em seu anterior caminho (a terceira prova), não mais procurando a árvore
sagrada. Sua força estava minada. Ele amava, adorava Busiris, e aceitava tudo que ele dizia.
Tornou-se cada vez mais fraco, até que chegou o dia em que o seu amado mestre o amarrou a
um altar e lá o manteve um ano inteiro. Repentinamente, um dia, quando lutava por se
libertar, e lentamente começava a perceber quem Busiris realmente era, as palavras proferidas
por Nereu há muito tempo vieram-lhe à mente: “A verdade está dentro de ti mesmo. No teu
interior há um poder mais elevado, força e sabedoria. Volta-te para o teu interior e evoca a
força que existe, o poder que é a herança de todos os homens que são filhos de Deus.”
Silencioso, ele permaneceu prisioneiro sobre o altar, acorrentado aos quatro cantos, um ano
inteiro. Então, com a força que é a força de todos os filhos de Deus, ele rompeu as suas
amarras, agarrou o falso mestre (aquele que parecera tão sábio) e prendeu-o ao altar em seu
lugar. Não disse uma palavra, apenas deixou-o lá para que aprendesse. O Instrutor que de
longe observava, notou o momento da libertação, e voltando-se para Nereu disse: “A terceira
grande prova está encerrada. Tu lhe ensinaste a enfrentá-la e no devido tempo ele aproveitou
a lição. Deixa-o prosseguir no Caminho e aprende o segredo do sucesso”.

“` Mais contido, embora ainda cheio de indagação, Hércules percorreu longas distâncias sem
rumo certo, prosseguindo em sua busca. Aprendera muito durante o ano que passara preso ao
altar, e agora percorria o caminho com maior sabedoria. Subitamente ele se deteve: um grito
de profundo desespero atingira seus ouvidos. Alguns abutres voando em torno de uma rocha
distante chamaram-lhe a atenção, e a seguir novamente ouviu o grito. Deveria prosseguir o
seu caminho, ou procurar aquele que parecia necessitar de ajuda e assim retardar os seus
passos? Ele refletiu sobre o problema do atraso; um ano já havia sido perdido; sentia a
necessidade de apressar-se. Mais uma vez ouviu-se um grito, e Hércules, em passos rápidos,
acorreu em socorro de seu irmão. Encontrou Prometeu acorrentado à rocha, sofrendo terríveis
agonias de dor que os abutres que lhe comiam o fígado lhe causavam, e lentamente o
matavam. Ele quebrou as cadeias e libertou Prometeu, perseguiu os abutres até sua distante
toca, e cuidou do doente até ver curados seus ferimentos. Então, após longo tempo perdido,
novamente pôs-se a caminho. O Mestre, que de longe observava, falou ao discípulo que se
dedicava à busca, estas claras palavras, as primeiras palavras a ele dirigidas desde que
encetara sua busca: “A quarta etapa no caminho para a árvore sagrada terminou. Não houve
retardamento. A regra que acelera todo o sucesso na Senda escolhida é: APRENDE A SERVIR.”
Aquele Que Presidia, no interior da Câmara do Conselho do Senhor, comentou: “Ele se saiu
bem. Continuai com as provas”.

Por todos os caminhos a busca prosseguiu; de norte a sul, de leste a oeste foi procurada a
árvore, mas não encontrada. Até que um dia, esgotado pelo medo e pela longa viagem, ele
ouviu, de um peregrino que passava no caminho, rumores de que, perto de uma montanha
distante a árvore seria encontrada, a primeira afirmação verdadeira que lhe fora feita até
então. Assim, ele retrocedeu sobre seus passos em direção às altas montanhas do leste, e num
certo dia, brilhante e ensolarado, ele viu o objeto de sua busca e então apressou o passo.
“Agora tocarei a árvore sagrada” , gritou em meio à sua alegria, “montarei o dragão que a
guarda; verei as belas renomadas virgens; e colherei as maçãs” . Mas novamente foi detido por
um sentimento de profunda tristeza. À sua frente estava Atlas, cambaleante sob o peso dos
mundos às suas costas. Sua face estava vincada pelo sofrimento; seus membros vergados pela
dor; seus olhos cerrados em agonia; ele não pedia auxílio; ele não viu Hércules; apenas lá
estava curvado pela dor, pelo peso dos mundos. Trêmulo, Hércules observava e avaliava o
quanto havia de peso e de dor. E esqueceu sua busca. A árvore sagrada e as maçãs
desapareceram de sua mente; ele só pensava em como ajudar o gigante e isso sem demora;
correu para ele e animadamente retirou a carga dos ombros de seu irmão, passou-a para suas
próprias costas, agüentando ele mesmo a carga dos mundos. Cerrou os olhos, enrijecendo os
músculos sob o esforço, então eis que a carga se desprendeu e lá estava ele livre, tal com
Atlas. Diante dele, as mãos estendidas num gesto de amor, o gigante ofereceu a Hércules as
maçãs de ouro. Era o fim da busca. As três irmãs trouxeram mais maçãs de ouro e também as
depositaram em suas mãos, e Aegle, a bela virgem que é a glória do sol poente, disse-lhe ao
pôr em suas mãos uma maçã: “O Caminho que traz a nós é sempre marcado pelo serviço. Atos
de amor são sinalizações no Caminho” . Então, Eritéia, a guardiã do portão que todos devem
atravessar antes de se apresentarem sós diante do grande Ser Que Preside, deu-lhe uma maçã
na qual estava inscrita em luz a palavra de ouro SERVIÇO. “Lembra-te disto”, disse ela “jamais
te esqueças”. Por último veio Héspero, a maravilha da estrela vespertina, que com clareza e
amor disse: “Vai e serve, e a partir de hoje e para sempre, palmilha o caminho de todos os
servidores do mundo”. Essa mensagem é tão forte, que provoca no herói uma metamorfose:
agora ele está disposto a entregar as maçãs tão cobiçadas a quem quer que as esteja
sinceramente procurando.

A Lição do Trabalho

Toda esta história significa realmente a primeira lição que todos os aspirantes têm que
aprender a dominar, o que é impossível sem haverem passado pelas provas em Áries e em
Touro. Então, no plano físico, no campo do cérebro e consciência vigil, o discípulo tem que
registrar o contato com a alma e reconhecer-lhe as qualidades. Ele não mais pode ser o
visionário místico, mas tem que somar à realização mística o conhecimento oculto da
realidade. Os aspirantes freqüentemente esquecem-se disto. Contentam-se com a aspiração e
com a visão da meta celestial. Eles forjam no crisol da vida um equipamento que é
caracterizado pela sinceridade, desejo bom, caráter refinado e têm consciência da pureza do
motivo, uma disposição para cumprir as exigências, e a satisfação de terem alcançado certo
status de desenvolvimento que lhes permite prosseguir. (…) Eles acreditam no fato da alma, na
possibilidade da perfeição, no caminho que deve ser trilhado; porém esse “acreditar” ainda
não foi transmutado em conhecimento do reino espiritual e eles não sabem como chegar à
noite! Assim, eles, tal como Hércules, começam uma busca quíntupla. A primeira etapa dessa
busca estaria repleta de encorajamento para eles, fossem eles capazes de reconhecê-lo. Tal
como Hércules, eles encontram Nereu, símbolo do eu superior; e mais adiante na história do
discípulo, Nereu é o Mestre instrutor. Quando contatado, especialmente nas primeiras etapas
da busca, o eu superior manifesta-se como um lampejo de iluminação, e eis que desaparece!
Ele se foi como um súbito vislumbre da verdade, tão fugaz que, a princípio, o discípulo não
consegue apreendê-la; é como um indício sugestivo lançado na consciência em momentos de
atenção concentrada, quando se consegue estabilizar a mente e, temporariamente, as
emoções deixam de predominar. No caso de um discípulo mais avançado que já estabeleceu
contato com sua alma e que, portanto, supõe-se esteja pronto para a instrução de um dos
grandes Mestres da Humanidade, ver-se-á que o Mestre age exatamente como Nereu. Ele não
pode ser sempre contatado, e apenas ocasionalmente poderá o discípulo entrar em contato
com ele. Quando o faz, ele não precisa esperar pelas congratulações por seu maravilhoso
progresso, nem encontrará uma elucidação cuidadosa de seu problema, nem uma extensa
descrição do trabalho a ser feito. O Mestre lhe dará um indício e desaparecerá. Fará uma
sugestão e nada mais dirá. Cabe ao discípulo seguir a pista da melhor maneira que possa e
seguir a sugestão que lhe parecer mais sábia.

Hércules, o discípulo, conheceu o toque do eu superior, mas não o suficiente para permanecer
com Nereu. Assim, volta-se para o sul, isto é, volta-se para o mundo. Teve seu grande
momento quando transcendeu a consciência cerebral e conversou com sua alma. Mas isso não
dura muito, e ele cai de volta em sua consciência cerebral e inicia uma nova experiência. Ele
tem que lutar com Anteu, a serpente (ou gigante). Porém, desta vez é a serpente da miragem
astral e não primariamente a serpente do desejo. É com as miragens do psiquismo inferior que
ele tem que lutar, e estas, nas primeiras etapas, parecem inevitavelmente atrair o interesse
dos aspirantes. (…) A serpente pode tomar a forma do aspecto mais comum dos fenômenos
psíquicos. O aspirante interessa-se pela escrita automática, ou aprende a sentar-se e ouvir
“vozes”; torna-se astralmente clarividente ou clariaudiente, e soma à confusão do plano físico
e de seu próprio meio ambiente, a confusão ainda maior do plano psíquico, e cai assim nas
armadilhas e engodos da miragem. (…) Porém, de uma forma ou de outra, o aspirante que se
afastou de Nereu encontrará a serpente e com ela terá que lutar. Como diz o mito, durante
muito tempo Hércules não conseguiu vencê-la, porém quando a ergueu no ar, teve sucesso.
Há uma grande verdade por trás deste simbolismo. O ar foi sempre considerado o símbolo ou
o elemento relacionado ao plano do Cristo, chamado na terminologia teosófica e no oriente, o
plano búdico. O plano astral é o reflexo distorcido do plano búdico, e somente quando
trazemos a miragem para a clara luz da alma crística é que vemos a verdade tal como ela é, e
nos tornamos invencíveis. Da maneira mais solene eu conclamo os aspirantes a abandonar
qualquer interesse nos fenômenos psíquicos e a fechar a porta ao plano astral com tanta
firmeza quanto possam, até que tenham desenvolvido o poder da intuição e possam
interpretar suas intuições por meio de uma bem desenvolvida, bem equipada e bem treinada
mente. A etapa seguinte da busca de Hércules é igualmente aplicável à humanidade como um
todo. Ele caiu nas garras de Busiris, que se dizia um grande mestre que o escravizou por muito
tempo. (…) O verdadeiro Mestre é conhecido por sua vida e seus atos; está por demais
ocupado em servir à humanidade para encontrar tempo para fazer com que as pessoas se
interessem nele, se tornem seus escravos; e não pode fazer promessas, apenas pode dizer a
cada aspirante: “Estas são as antigas regras, este é o caminho que todos os santos e Mestres
de Sabedoria trilharam, esta é a disciplina a que a cada um tem que submeter-se; e se cada um
tentar e persistir e for paciente, seguramente alcançará a meta”. Mas hércules libertou-se,
como o fazem todos os que buscam com sinceridade; e tendo escapado do mundo da miragem
psíquica e pseudo-espiritual, começou a servir. Primeiro libertou-se sob o símbolo de
Prometeu, que significa Deus encarnado, livrando-o da tortura dos abutres do passado. O
plexo solar, o estômago e o fígado são as exteriorizações, se assim o posso expressar, da
natureza do desejo, e Hércules libertou-se dos abutres do desejo que por tanto tempo o
torturavam. Deixou de ser egoísta, deixou de satisfazer a si mesmo. Recebera duas amargas
lições neste signo e para este ciclo em particular estava relativamente livre. Prometeu, o Deus
interno, podia agora seguir para o serviço mundial e para aliviar Atlas de seu fardo. (…) Ao dar
início ao seu trabalho ele faz contato com sua alma, simbolizada como Nereu; ao término do
trabalho, tendo vencido muitas miragens, ele conquista uma visão muito ampliada de sua
alma, vendo-a em seus três aspectos, cada um contendo em si a potência dos três princípios
da divindade. Aegle simboliza a glória da vida e o esplendor do sol poente; a magnificência da
manifestação do plano físico. Ela oferece uma maçã a Hércules e diz-lhe: “O caminho até nós é
sempre através de atos de amor”. Eritéia guarda o portão, a alma, que é sempre aberto pelo
Amor-Sabedoria, e dá a Hércules uma maçã na qual está inscrita a palavra SERVIÇO. Héspero, a
estrela vespertina, a estrela da iniciação, personifica a Vontade. Ela diz a Hércules: “palmilha o
Caminho”. Corpo, alma e espírito; Inteligência, Amor e Vontade, visualizados e contatados pelo
aspirante desprendido por meio do SERVIÇO.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

Sugestão para aplicação prática desse estudo:

1. A. Buscar sempre a confirmação interna, intuitiva, para as decisões e escolhas. Para


ajudar, diante de uma escolha, pergunte a si próprio se existe algum interesse pessoal
envolvido, se obterá benefício unicamente pessoal.

2. B. Perguntar a si próprio se possui alguma atração por algo físico, ou por algum
sentimento, ou por alguma idéia, que o aprisione em cada situação vivida. Vigilância, cautela e
confirmação interna são essenciais para ultrapassar esta dificuldade.

3. C. Ajudar as pessoas ao seu redor que estejam buscando maior entendimento sobre o
Serviço.

O desenvolvimento obtido com a aplicação desta proposta e dos dois primeiros Trabalhos
fornece maior liberação ao indivíduo, e, conseqüentemente, seu potencial para o Serviço fica
ampliado.

Pergunta surgida a partir do segundo Trabalho

Pergunta: Foi compreensível a sugestão para aplicação prática do primeiro Trabalho. Já para o
segundo foi mais difícil. Seria possível esclarecer melhor como aplicar soluções criativas que
venham a gerar frutos que proporcionem harmonia e/ou bem grupal?

Resposta: A dúvida é pertinente uma vez que trabalhar o pensamento é mais objetivo do que
trabalhar com o desejo pois este é mais “volátil”. Para tentar esclarecer, descreverei uma
vivência de um amigo que estava tentando fazer este exercício do segundo Trabalho.
Chamaremos este amigo de A . A foi colocado numa situação tal que lhe exigiu entrar em
contato com um amigo de infância que chamaremos de B. B era um rico banqueiro e estava
envolvido em escândalos financeiros. A, a princípio, não conseguia entender o motivo de a
vida ter-lhe obrigado a se envolver com aquela situação . Ele, naquele momento, estava
buscando um caminho ascensional, evolutivo. A começou então a refletir. Logo percebeu que
se ele estava disposto a fazer um trabalho de amadurecimento interior a partir do estudo do
Mito, tudo o que lhe viesse a ocorrer na vida seria para ajudá-lo a exercitar a sua proposta. Se
ele foi colocado naquela circunstância era porque ela seria a melhor vivência para que ele
aplicasse a proposta de exercício do segundo Trabalho. Tendo esta compreensão em mente,
Alembrou-se de que B foi um ser muito bondoso na infância, que tinha sido uma criança
preocupada com as necessidades de pessoas carentes. A resolveu usar essa lembrança. A
contou a B que tinha contato freqüente com pessoas que tinham dificuldades de
sobrevivência. A sugeriu que teria grande prazer em ser intermediário de B se este pudesse
fazer doações para aquelas pessoas carentes. B considerou a idéia muito boa e combinaram a
forma de fazer estas doações de forma rotineira.

Acreditamos que A encontrou uma forma inteligente de numa situação rotineira, utilizar a
proposta do exercício para adotar uma solução criativa para proporcionar harmonia e bem
grupal.

Quarto Trabalho:

A Captura da Corça

Silencio profundo. Uma paisagem serena estende-se para além do portal. No horizonte
vislumbra-se um templo; a meia distância, sobre uma elevação, está a corça, jovem, esguia.
Hércules observa-a atentamente, procurando escutá-la. Imóvel e silencioso, ouve então uma
voz que vem dos arredores do templo e que afirma categoricamente: “Esta corça é minha. Fui
eu quem a alimentou durante todo esse tempo”. Logo a seguir, eleva-se outra voz,
competindo com a primeira: “Não, a corça é minha! Finalmente ela me poderá ser útil e,
portanto, ficarei com ela”. Hércules permanece atento, imparcial, ouvindo as duas vozes em
disputa. Agora, uma terceira voz, interna, é escutada pelo herói: “A corça não é de quem a está
reivindicando, mas sim do Deus do templo”. Muito decidida, assevera que Hércules é quem
deve capturar a corça, sem, todavia, entregá-la a ninguém e nem tampouco tomá-la para si,
mas conduzi-la ao templo mencionado. Hércules atravessa o portal, deixando, porém, para
trás vários presentes que recebera no passado. Este sinal de despego é importante, porque
prepara seu ser para a renúncia que deverá fazer a seguir. Artemísia, primeira voz que se fizera
ouvir, e Diana, que se expressara em seguida, estão, a esta altura, observando atentamente
todos os movimentos do herói. Empenham-se em desviá-lo da meta proposta, ao mesmo
tempo que vigiam a corça, que ambicionam. As duas começam, a partir daí, a tentar bloquear
os esforços de Hércules. Ele vai ao encalço da corça por todas as partes, e tem sua tarefa
dificultada pela presença e pela interferência possessiva de Artemísia e de Diana. Assim,
durante um ano, de montanha em montanha, escondendo-se pelas florestas, tenta capturar o
animal, sem o menor resultado. Mas o herói não desiste e consegue acompanhá-lo, ainda que
de longe. Finalmente, um dia a corça, cansada da fuga, estende-se na relva para dormir.
Hércules aproxima-se dela em passo silencioso, cautelosamente, sem nenhuma ansiedade, as
mãos prontas para apanhá-la, se for o caso de agarrá-la de imediato, e os olhos firmes sobre
ela. No momento oportuno, dono de si e dos seus movimentos, dispara uma flecha que lhe
atinge a pata. Impossibilitada de caminhar, a corça não se move quando Hércules se aproxima,
e ele, segurando-a nos braços, mantém-na firme, apoiada sobre o próprio coração. O herói dá,
então, por terminada a busca da corça, mas, em vez de levá-la ao templo, passa a lamentar-se,
relembrando todos os sacrifícios por que passara, dizendo, para que o Instrutor o ouça, que
buscara a corça por muitos lugares, que atravessara florestas, planícies, bosques… “Enfrentei a
natureza selvagem, os desertos, resisti aos obstáculos que dificultavam meu trabalho, esforcei-
me, enfim, persisti. Decididamente, a corça é minha!”, diz ele. “A corça é minha!”, repete.
“Você se engana”, ressoa a voz conhecida do Instrutor invisível. “A corça não pertence a
nenhum de vocês, mas deve ser conduzida ao templo onde moram todos os filhos de Deus.”
Hércules tenta esclarecer-se então sobre o assunto, já que parte do seu ser insiste na posse da
corça: “Mas, por quê?” E, tentando uma justificativa que poderia ser persuasiva, argumenta:
“Não vê que a seguro junto ao coração?” O Instrutor procura, então, transmitir-lhe algumas
verdades que sua mente conturbada não conseguia captar. Pondera procurando fazer com
que Hércules perceba que, como filho de Deus, deveria considerar aquele templo como sua
própria morada. “Se a corça estiver lá, vocês não estarão juntos? Ou você não irá morar lá?”,
pergunta-lhe. Hércules nada responde e o Instrutor acrescenta: “Por que você não compartilha
da vida dos filhos de Deus?” Isso porque os filhos de Deus vivem todos no templo, sem se
preocuparem em ter posses. Encontrando ressonância na mente de Hércules, amorosamente,
fala-lhe o Instrutor: “Deixe a corça no templo”. O herói acede. Leva o animal para dentro do
recinto e coloca-o bem no centro. No momento, porém, em que vê sua pata ferida, volta a
sentir-se com direitos sobre ele. ” A corça é minha”, insiste. Artemísia, que permanecera do
lado de fora do templo, ouve esta última frase e retruca que a corça é dela, pois que, afinal,
durante toda a vida vira seus reflexos na água dos rios e dos lagos e sempre seguira seu
caminhar pela Terra. Considerava-se ela dona de todas as formas… Tendo em vista esses fatos,
o Deus daquele templo resolve pronunciar-se definitivamente: ” A corça é minha. Todos os
espíritos repousam em meu seio — portanto esta corça também”. Voltando, então, o olhar
para fora, dirigiu-se às duas jovens: ” Artemísia, não entre neste templo. Você, Diana, pode
fazê-lo, mas somente por alguns instantes”. Diana, um pouco acanhada, entra e, ao ver a
corça, que lhe parece morta, é tocada pela cena e apela: “Por que não podemos estar no
templo, como ele?” O Deus responde-lhe que Hércules trouxera a corça amorosamente e que
a pousara sobre o próprio coração. Assim termina este teste, com a corça sob a tutela do Deus
do templo, mantida, pois, em lugar sagrado.

Indo-se dali, Hércules ouve do Instrutor a recomendação de olhar outra vez para o templo. Do
portal, ele divisa a paisagem que lhe é familiar e reconhece uma jovem corça andando sobre as
colinas. O herói permanece atônito, sem nada compreender, e, proveniente de um nível muito
elevado, ouve-se, a seguir, uma voz diferente de todas: “Pacientemente, é preciso buscar a
corça e levá-la como presente ao lugar sagrado. Isso é feito século após século, incontáveis
vezes, até que de lá ela não saia mais”. Silenciada a voz vinda do alto, Hércules prossegue sua
caminhada conforme orientação de seu Instrutor.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.

Câncer é o último do que poderíamos chamar dos quatro signos preparatórios. (…) Câncer é
um signo da massa, e as influências que dele fluem são consideradas por muitos esotéricos
como causadoras da formação da família humana da raça, da nação e da unidade familiar. (…)
Em Áries, o aspirante se apossa de sua mente e procura submetê-la às suas necessidades,
aprendendo o controle mental. Em Touro, ” a mãe da iluminação”, ele recebe o primeiro
lampejo daquela luz espiritual cujo brilho aumentará progressivamente à medida que ele se
aproxima de sua meta. Em Gêmeos, ele não só se apercebe dos dois aspectos de sua natureza,
como o aspecto imortal começa a crescer às custas do mortal. Agora, em Câncer, ele tem seu
primeiro contato com aquele sentido mais universal que é o aspecto superior da consciência
da massa. Equipado, pois, com uma mente controlada, com uma capacidade para registrar a
iluminação, habilidade para estabelecer contato com seu aspecto imortal e reconhecer
intuitivamente o reino do espírito, ele está agora pronto para o trabalho maior. (…) Três
palavras resumem a auto-percepção objetiva ou do aspecto consciente do ser humano em
evolução: instinto, intelecto e intuição. O signo que estamos agora estudando é o signo do
instinto; mas a sublimação do instinto é a intuição. Assim como a matéria tem que ser elevada
ao céu, o instinto igualmente tem que ser elevado, e quando é assim transcendido e
transmutado, ele se manifesta como intuição (simbolizado pela corça). O estágio intermediário
é o do intelecto. A grande necessidade de Hércules agora é desenvolver a intuição e
familiarizar-se com aquele reconhecimento instantâneo da verdade e realidade que é a alta
prerrogativa e o potente fator na vida de um liberto filho de Deus. (…) Entre as histórias esta é
uma das mais curtas, mas embora poucas coisas sejam ditas, este trabalho, quando refletimos
sobre ele, é de profundo interesse e da maior importância a lição que ele encerra. O aspirante
não obtém sucesso até que tenha transmutado instinto em intuição, nem há uso correto do
intelecto enquanto a intuição não está presente para interpretar e ampliar o intelecto e
produzir a realização. Então, o instinto estará subordinado a ambos.

Vimos que o gamo que Hércules procurava era sagrado para Artemísia, a lua, e também
disputado por Diana, a caçadora dos céus, e por Apolo, o deus-sol. Uma das coisas
freqüentemente esquecidas pelos estudantes de psicologia e por aqueles que investigam o
desabrochar da consciência do homem, é o fato de que não existem distinções nítidas entre os
vários aspectos da natureza do homem, mas que todas são fases de uma única realidade. As
palavras instinto, intelecto e intuição, são apenas aspectos variados da consciência e da
resposta ao meio e ao mundo no qual o homem se encontra. O homem é um animal, e como
qualquer outro animal, ele possui a qualidade do instinto e da resposta instintiva ao seu meio
ambiente. O instinto é a consciência da forma e da vida celular, o modo da forma estar
consciente, alerta, e portanto, Artemísia, a lua, a regente da forma, disputa o gamo sagrado.
Em seu próprio lugar, o instinto animal é tão divino quanto aquelas outras qualidades que
consideramos como mais estritamente espirituais. O homem, porém, é também um ser
humano; ele é racional; ele pode analisar, criticar, e ele possui aquilo a que nós chamamos a
mente e aquela faculdade de percepção e resposta intelectuais, que o distingue do animal, que
lhe abre um novo campo de consciência, de percepção, mas que, ainda assim, é simplesmente
uma extensão do seu aparelho de resposta e o desenvolvimento do instinto em intelecto. Por
intermédio de um, ele toma consciência do mundo dos contatos físicos e das condições
emocionais; através do outro ele percebe o mundo do pensamento e das idéias, e por isso é
um ser humano. Quando ele alcança aquele estágio de percepção instintiva e inteligente,
então “Euristeu” indica-lhe que há outro mundo do qual ele pode igualmente tornar-se
consciente, mas que tem seu próprio método de contato e seu próprio aparelho de resposta.
Diana, a caçadora, reclama a corça porque para ela a corça é o intelecto. Porém, o gamo
possuía uma outra forma, esta mais esquiva, e era esta a que Hércules, o aspirante, buscava.
Durante um ciclo de vida, ele caçou. Não era a corça, o instinto, que ele procurava; não era o
gamo, o intelecto, o objetivo de sua busca. Era algo mais, e por este algo mais ele passou um
ciclo de vida caçando. Finalmente capturou-o e levou-o para o templo, onde ele foi reclamado
pelo deus-sol, que reconheceu na corça a intuição espiritual, essa extensão da consciência,
esse altamente desenvolvido sentido de viva percepção que dá ao discípulo a visão de novos
campos de contato e lhe revela um novo mundo de ser. É-nos dito que a batalha continua
ainda entre Apolo, o deus-sol, que reconhece na corça a intuição, Diana, a caçadora dos céus,
que nele via o intelecto, e Artemísia, a lua, que julgava que ele fosse apenas o instinto. As duas
deusas reclamantes têm razão, e o problema de todos os discípulos é usar o instinto
corretamente, no seu devido lugar e de modo adequado. Ele tem que aprender a usar o
intelecto sob a influência de Diana, a caçadora, a filha do sol, e por meio dele entrar em
sintonia com o mundo das idéias e da pesquisa humanas. Ele tem que aprender a levar essa
capacidade que possui para o templo do Senhor e lá vê-la transmutada em intuição, e por
meio da intuição tomar consciência das coisas do espírito e daquelas realidades espirituais que
nem o instinto, nem o intelecto lhe podem revelar. E muitas e muitas vezes os filhos dos
homens, que são também filhos de Deus, têm que recapturar essas realidades espirituais, ao
longo do Caminho infinito.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

Sugestão para aplicação prática desse estudo:

Objetivo: desenvolver e reconhecer o intuitivo.

1-Reconhecer o nível de onde se originam os impulsos: instintivo, intelectual e intuitivo e


procurar optar pela mais sábia escolha.

2-Submeter o impulso instintivo ao controle do plano intelectual. Usar o intelecto segundo a


necessidade grupal de existência.

Quanto mais se usar o intelecto para as necessidades grupais mais se abre espaço para o plano
intuitivo, pois este reconhece o ser como um servidor em potencial.

Reflexões Sobre o Quarto Trabalho

Precisamos ter sempre em mente que se estamos sinceramente procurando o


desenvolvimento interior, passamos a emitir vibrações mais elevadas. Essas vibrações passam
a atrair fatos que nos propiciam executar o exercício a que nos propomos. Então, durante a
realização dos exercícios deste quarto Trabalho, se estivermos integralmente engajados na sua
elaboração, atrairemos fatos que nos permitam desenvolver a intuição. Quanto mais
enfocarmos os fatos com essa visão, mais circunstâncias favoráveis serão fornecidas, cada vez
mais significativas e proveitosas.

O objetivo deste quarto Trabalho é transmutar o impulso instintivo em impulso intuitivo. O


plano instintivo é o plano das massas. Estas se comportam instintivamente, freqüentemente
sem sabedoria e de forma previsível e, portanto, controlável . O quarto Trabalho desenvolve o
intuitivo a partir da elevação dos impulsos. Permite que o ser se destaque da massa instintiva,
que se individualize enquanto ser que busca a Luz e que se torne um servidor consciente. De
uma certa forma é uma separação da massa. Tal separação é relativa pois quanto maior for o
desenvolvimento intuitivo alcançado, maior será a percepção da necessidade de servir. Quanto
mais o indivíduo ampliar o alcance de seu serviço, mais facilmente perceberá que com o
serviço, ele volta a incluir-se nessa Grande Fraternidade que é a Humanidade. Já vimos que o
serviço é a ponte para a sua inclusão no Todo. Dessa maneira, o ser retorna a esse Todo que
aparentemente se separou ao deixar de ser meramente instintivo, só que no degrau seguinte
da infinita espiral evolutiva.

A sugestão de realizar os exercícios cumulativamente começa a ficar mais compreensível a


partir de agora. Para desenvolver a intuição é fundamental utilizar o amadurecimento
conseguido com a prática dos três primeiros Trabalhos. No primeiro Trabalho, elevamos a
qualidade do pensamento; no segundo, a qualidade do desejo, do emocional; no terceiro
construímos a ponte entre o mundo material e o imaterial; e para o quarto, precisamos aplicar
todos ao mesmo tempo, senão como receberemos uma intuição? Eles são pré-requisitos.

É necessário esclarecer, que o instinto é importante, ele possui uma função essencial. O
instinto mantém a integridade da forma através de seu impulso para que nos alimentemos,
para que tenhamos atitudes cautelosas, para que possamos reproduzir. A atitude humana é
que corrompeu o impulso instintivo quando exagera, quando gera a competição.O homem
quer as coisas só para si. Quer acumular bens materiais com medo que algo lhe falte ou para
que possa dominar aqueles que nada posuem. A causa desse distúrbio da percepção instintiva
é o distanciamento do homem para com sua verdade interna que sabe que todos somos
unidos, que todos pertencemos à mesma fraternidade. Suplantamos essa dificuldade quando
submetemos os impulsos instintivos ao controle do plano intelectual. O intelecto discerne e
usa o impulso preferencialmente quando este for direcionado para as necessidades grupais de
existência. Na medida em que abrimos mão desses impulsos mais primitivos e que assumimos
a condição de filhos de Deus, usando a intuição, passamos a pertencer ao Todo onde tudo
pertence a todos. “A corça é depositada no templo”.

Podemos também perguntar: como distinguir entre uma intuição verdadeira e uma idéia do
pensamento? Primeiramente, precisamos ter humildade para reconhecer que no início
teremos alguma dificuldade, e isso é compreensível. Mas qualquer amadurecimento requer
prática, conseqüentemente, é necessário praticar. Praticar insistentemente,
determinadamente. O “cervo” é imprevisível, não se captura com facilidade, ele tende a
escapar. É necessário persegui-lo constantemente. Para facilitar o reconhecimento, avaliemos
a repercussão que o “impulso” ocasionará, se for implantado. A quem ele atenderá. Se ele só
atender a nós mesmos, possivelmente ele se originou no plano mental, mas se sua proposta
tiver alcance amplo, fraterno, amoroso, possivelmente terá vindo do mundo interno. Ainda
que tenha se originado no mental, se ele objetivar ser altruísta, já terá sido um ótimo passo no
sentido intuitivo e uma comprovação de nossa intenção. A persistência dessa intenção na vida
cotidiana é importante para sinalizar ao plano interno o destino que queremos dar às nossas
vidas. Ciente disso, o interno passa a enviar as intuições adequadas pois saberá que suas
mensagens serão corretamente utilizadas, que não serão desperdiçadas.

Quinto Trabalho:

A Morte do Leão de Neméia

Em um Conselho de Grandes Seres, no qual está presente o Instrutor de Hércules, é mostrado


o Plano que diz respeito a todos os filhos de Deus. Enquanto o guerreiro descansa de suas
tarefas, todos os seus pensamentos são observados. É que se inicia agora uma importante fase
de sua evolução, fase esta muito trabalhosa e árdua, para a qual Hércules deve ser preparado.
Segundo os Grandes Seres, um teste muito difícil se aproxima. Quem se sai bem nele torna-se
verdadeiramente útil à humanidade e, por essa razão, o Conselho está reunido. O
acontecimento tem conseqüências importantes para um grande grupo. O herói, sentindo-se
corajoso e forte, não imagina que experiências o esperam. Seu potencial de serviço foi
aumentado pelo fato de a corça, agora, atender aos seus chamados, sempre que necessário.
Com certa facilidade, pusera ele o animalzinho perto de seu coração e o conduzira ao interior
do templo repetidas vezes. Com isso, Hércules pode descansar tranqüilamente, o que não
ocorre com os homens que não passaram pela experiência da captura da própria corça. Ei-lo,
então, diante do quinto portal, sob o olhar dos Seres que o observam. Vendo-se coberto de
troféus e armas que recebera pelos trabalhos anteriores (mesmo sem almejá-los), pergunta a
si próprio: “Para que todas essas armas?” Nenhuma resposta, interna ou externa, lhe vem.
Aguarda um pouco. De repente, tudo fica claro: do povo de Neméia, além do quinto portal,
chega-lhe um clamor de profunda angústia. Como Hércules se tornara famoso e sua força
conhecida, a população pede-lhe que mate o leão devastador de terras e de vidas que ameaça
o local. “Vá e domine o leão”, diz-lhe o Instrutor. Os habitantes da cidade devastada pela fera
vivem escondidos, fechados atrás das portas, quase sem sair das casas. Estão paralisados os
trabalhos nos campos, não se ara mais a terra, nem se semeia. O medo predomina. É grave a
situação e o Conselho dos Grandes Seres observa. Durante a noite, o rugido ameaçador do
leão não dá tréguas, e, por isso, nem no sono os homens têm paz. Hércules assume a tarefa,
deixando, no entanto, atrás de si todas as armas e troféus. Leva apenas um instrumento que
ele fabricara com as próprias mãos. Compreende que as armas, naquele caso, só o
sobrecarregariam, retardando, assim, os seus passos. Ele pressente que o leão não será
conquistado com elas, mas com algo mais direto e potente. Começa, pois a sua busca.
Assustadas, as pessoas confiam pouco, porque vêem o guerreiro partir sem armas,
praticamente indefeso, no seu entender. As informações sobre o paradeiro do Leão são
desencontradas. Uns o viram na montanha, outros no vale. Sorrateiro, traiçoeiro, o animal
surge em diferentes caminhos e em variadas situações. Todos sabem que ele tem um covil e,
assim, o guerreiro parte para lá. Sucedem-se dias e noites, até que Hércules, finalmente, se
defronta com a fera. O animal urra, furioso. As árvores são sacudidas por tão pesada vibração.
O herói decide, então, apanhar um arco e flecha e atira, atingindo o ombro da fera. Apesar de
chegar direto ao alvo, a flecha cai no chão, tão dura é a carne do animal. São usadas todas as
flechas disponíveis, sem que nenhuma delas consiga ferir realmente o leão, prostrado ali,
bloqueando a passagem do herói. Intocada, fremente de raiva e desprovida de medo, a fera
vem em direção de Hércules, que, atirando o arco ao chão, se arremessa contra ela com gritos
bravios. O herói avança e, diante disso, o animal recua e foge. Entrando numa moita ali por
perto, desaparece por algum tempo. Silencioso, Hércules recomeça a procurá-lo e,
pacientemente, prossegue em sua corajosa empresa. De repente, vê-se diante de uma caverna
de onde ouve sair um terrível rugido, que lhe parece dizer “Ou você fica aí fora, ou vai perder a
vida”. O herói, entretanto, não se deixa amedrontar e entra na caverna escura. Passo a passo,
atravessa toda a sua extensão. Nada. Ali dentro, não vê leão algum. “Que mistério é esse?”,
pergunta-se Hércules. Dá-se conta, a seguir, de que ali há duas aberturas e que, enquanto ele
entra por uma delas, o leão sai pela outra. Como apanhar, então, o animal? Auxiliado por uma
tênue luz situada na saída da caverna, Hércules descobre pilhas de madeiras e varas em
quantidade suficiente para fechar uma das entradas. Rapidamente, ele intercepta a dos fundos
e fica diante da outra, não deixando o leão sair. Furioso, o animal urra. De modo inesperado,
Hércules salta para junto dele e agarra-o firme pela garganta. Olhando-o bem nos olhos,
consegue transmitir-lhe sua decisão de não soltá-lo. Mantém-se pois ali, sem tirar as mãos do
pescoço do animal e, apertando-o, vê que o inimigo começa a perder as forças. Os urros vão-se
tornando cada vez mais baixos. Enquanto o leão se afunda em sua fraqueza, Hércules mantém-
se firme, segurando-o, sufocando-o. E assim o mata, sem armas, valendo-se apenas das mãos
e de sua própria força. Retira a pele do animal morto e mostra-a ao povo de Neméia, que
agora pode voltar a cultivar as terras e a viver em paz. Com uma alegria contagiante, as
pessoas gritam o nome de Hércules, aclamando-o seu salvador. O guerreiro segue adiante,
apresentando-se ao Instrutor logo após cumprida a tarefa e coloca-lhe aos pés a pele do leão.
“O povo não tem mais medo, está livre.” O instrutor, considerando-o vencedor, olha-o bem
nos olhos: “Saiba, porém, que os leões devem ser mortos várias vezes”. Relata, então, o feito
de Hércules ao Grande Ser que preside ao Conselho, que desta vez o espera bem no centro da
sala secreta. Ali, ouve-se uma voz que diz: “Eu sei”.

Este Quinto Trabalho simboliza um momento fundamental na caminhada de todos os


indivíduos: o domínio da personalidade. Somente a partir dessa conquista é que o homem
consegue ser realmente útil ao mundo e à humanidade. Antes de ser iluminada pela alma, a
personalidade prossegue agindo por conta própria e produz mais distúrbios do que equilíbrio.
O homem nela polarizado não conhece o Plano Evolutivo, nem tampouco o papel que lhe cabe
desempenhar dentro dele; ou seja, nada sabe do trabalho verdadeiramente criativo que tem a
fazer. Mesmo com boa vontade, boa disposição e boa intenção, erra mais do que ajuda,
destrói mais do que constrói. Quando os aspirantes dão início ao trabalho de alinhamento da
personalidade com a alma, eles ainda não estão completamente esquecidos de si e entregues
às energias superiores. Esse processo evolui a partir do momento em que a alma não tem mais
sede de experiências no mundo; estando nele, inicia-se um ciclo em que ela vive muitos
conflitos. Estando no mundo inicia-se um ciclo em que a alma vive muitos conflitos. Enquanto
a forma atrai por demais a alma, o trabalho de purificação e de transformação pode ocorrer,
porém de modo limitado. Na verdade, ele só ganha um ritmo acelerado e a luz dos níveis
superiores do ser chega com mais rapidez ao eu consciente, a partir do momento em que tem
início o trabalho efetivo de domar a personalidade. Se não experiencia uma transformação
definitiva, conduzida pela alma, a personalidade torna-se devastadora quando consegue que
seus corpos estejam alinhados entre si. O mental, o emocional e o físico, juntos, somam
grande força, e podemos ter então um indivíduo destrutivo, se ainda não guiado pela alma.
Portanto, uma personalidade cujos corpos estejam bem coordenados, mas não iluminados
pela alma, pode ser muito mais destrutiva do que se estivesse descoordenada. Eis por que, à
medida que se constrói a ligação entre os próprios corpos, buscando integrá-los, deve-se
trabalhar principalmente o aperfeiçoamento do caráter, a purificação e o controle dos vícios
Por vícios entendemos forças da Terra mal canalizadas, ou seja, fora de lugar, mas que
encontram guarida nos indivíduos que não despertaram para o seu real destino. O homem
comum vive praticamente em meio a essas forças, sem o perceber, porque esse convívio é,
nessa fase, o seu estado normal. Quando decide assumir a tarefa de cooperar
conscientemente com a evolução, e não mais caminhar no ritmo natural, percebe claramente
a situação viciosa e desarmônica em que vive. O momento em eu o indivíduo decide
transcender definidamente as forças terrestres, representadas pela sua própria personalidade,
é simbolizado, no mito em estudo, pelo episódio em que Hércules assume a tarefa de matar o
leão de Neméia.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.

É no signo de Leão que encontramos as últimas provas do caminho probatório. Quando o


trabalho deste signo termina, começa o treinamento específico da iniciação, em Capricórnio.
Uma certa medida de controle do pensamento foi conseguida em Áries, e um certo poder de
transmutar o desejo foi alcançado em Touro. As maçãs da sabedoria foram colhidas em
Gêmeos. E a distinção entre sabedoria e conhecimento foi, até certo ponto, compreendida em
Câncer, assimilando a necessidade de transmutar instinto e intelecto em intuição e levar
ambos para o Templo do Senhor.

Dois pensamentos, colhidos na Bíblia, resumem a lição deste trabalho. Na Epístola de São
Pedro encontramos estas palavras: “Seu adversário, o diabo, como um leão rugindo, se
movimenta, procurando a quem possa devorar”, e em Revelações 5:5, encontramos as
palavras, “Eis que o Leão da tribo de Judah, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus
sete selos. Hércules, o aspirante, a alma, simbolizou o leão, o príncipe, o rei, o regente e por
isso ele simbolicamente revestiu-se da pele do leão. O leão de Neméia representa
essencialmente a personalidade coordenada, dominante, pois o aspirante sempre tem de ser
um indivíduo altamente desenvolvido. Com os tríplices aspectos do eu pessoal inferior
fundidos e, portanto, potentes além da média, o aspirante muitas vezes se torna uma pessoa
até certo ponto cansativa e difícil. Ele tem uma mente e dela faz uso. Suas emoções são
controladas ou, pelo menos estão a tal ponto fundidas com suas reações mentais que se
apresentam excepcionalmente poderosas; daí ele ser excessivamente individual, muitas vezes
bastante agressivo, auto-confiante e auto-satisfeito, e sua personalidade ser, portanto, uma
força devastadora do grupo familiar, na sociedade ou organização à qual possa estar ligado.
Portanto, o aspirante, o Leão de Judah, tem de matar o leão de sua personalidade. Tendo
emergido da massa, e desenvolvido a individualidade, ele tem então de matar aquilo que ele
criou; ele tem de tornar útil aquilo que fora o grande agente protetor até o tempo atual. O
egoísmo, o instinto de auto-proteção, tem de dar lugar ao altruísmo, que é literalmente a
subordinação do ego ao todo. O leão de Neméia simboliza a poderosa personalidade, correndo
de maneira selvagem e ameaçando a paz dos campos.

O fato interessante sobre o período no qual agora vivemos é que ele assinala um
desenvolvimento único na raça humana. (…) Toda nação produziu aspirantes altamente
desenvolvidos que seguem o rastro do leão da personalidade até a caverna e lá o dominam.
Mas, relativamente, em relação com as miríades de unidades humanas, constituíram-se numa
pequena minoria. Agora temos um mundo cheio de aspirantes; a próxima geração, em todas
as nações, produzirá seus milhares de discípulos e já dezenas de milhares estão em busca do
Caminho. As pessoas não são muito individuais, o mundo está cheio de personalidades e o
tempo virá quando o Leão da tribo de Judah prevalecerá sobre o leão do eu pessoal. Nós não
estamos sozinhos nesta luta, como Hércules estava, mas formamos parte de um grande grupo
de deuses-solares, que estamos lutando com as provas preparatórias da iniciação, e com os
problemas que trarão à luz os plenos poderes da alma.

No simbolismo das escrituras mundiais, os acontecimentos mais importantes são


representados em um de dois lugares: na caverna ou na montanha. O Cristo nasceu na
caverna; a personalidade é dominada na caverna; a voz do Senhor é ouvida na caverna; a
consciência do Cristo é nutrida na caverna do coração. Mas depois das experiências da caverna
é escalado o monte da transfiguração, o monte da crucificação é conquistado, para finalmente
ser seguido pelo monte da ascensão.

A hipófise, com seus dois lobos, simboliza a caverna com duas aberturas, uma das quais
Hércules teve de fechar antes que pudesse controlar a personalidade pela mente superior.
Pois só depois de haver bloqueado a abertura das emoções pessoais, depois de haver jogado
fora até sua confiável clava, depois de haver simbolicamente recusado a continuar a levar uma
vida pessoal e egoísta, foi que, entrando pela abertura representada pelo lobo anterior ele
pode subjugar o leão da personalidade na caverna. Essas correlações são tão exatas que
apresentam, no pequeno e no grande, um tremendo testemunho da perfeita integridade do
Plano. “Assim em cima como em baixo.” Uma surpreendente correlação entre as verdades
biológicas e espirituais.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

Sugestão para aplicação prática desse estudo:

• Após reconhecer a intuição, possibilitada a partir do desenvolvimento obtido no


Quarto Trabalho, colocá-la em prática. Utilizar o mental para planejá-la, o emocional para
ajustá-la e o físico para executá-la.

Reflexões sobre o Quinto Trabalho

Como já referi anteriormente, o objetivo desta divulgação é fornecer material para


entendimento e aplicação prática a partir deste mito. Para isso, ao estudar o mito nos textos
apresentados (Trigueirinho e Alice Bailey), procurava encontrar dentro dele a aplicação
prática. Explicando melhor, lia todo o texto nos dois livros e tentava encontrar como aplicá-lo.
Depois disso, voltava aos capítulos de cada obra e selecionava os trechos que seriam os mais
adequados para ilustrar a aplicação elegida. Até o Quarto Trabalho, isto vinha sendo feito com
certa facilidade. Mas, agora no Quinto, encontrava alguma dificuldade. Fato compreensível
uma vez que a tendência é de as lições se tornem progressivamente mais sutis.

Com o estudo ainda indefinido, solicitei, antes de adormecer, que me fosse mostrada uma
forma de encaminhar o trabalho.

Sonhei que minha agenda do consultório havia desaparecido. Não é preciso explicar o
transtorno que significa ter uma agenda médica sumida. Sem saber o que o sonho estava
querendo me mostrar, a princípio, comecei a fazer a proposta do Quarto Trabalho, pois era o
exercício do momento. E me perguntei: o que minha intuição diria deste sonho? Qual sua
mensagem segundo a percepção intuitiva? Neste momento, percebi a resposta que queria,
não para decifrar o sonho, mas para solucionar o entrave do Quinto Trabalho, motivo da
solicitação interior na noite anterior. Entendi que sempre deveria encontrar um caminho
intuitivo e buscar sua realização usando as três ferramentas que possuímos: o mental, o
emocional e o corpo físico. Por exemplo, a agenda sumiu, a intuição mostra o que fazer para
resolver o problema, o mental planeja a execução do que foi intuído, o emocional auxilia com
sua inclusividade e sensibilidade e o físico executa.

O ensinamento do Quinto Trabalho visa aplicar o que já foi desenvolvido na personalidade a


partir dos Trabalhos anteriores, isto é, disponibilizar os serviços da personalidade à Luz da
alma.

Mesmo que essa aplicação não seja a melhor para este Trabalho, tenho certeza de que é a
mais adequada para o grupo que se dispuser a fazê-lo, pois foi a solução que se apresentou
neste momento. Quando nos dispusermos a desenvolver o estudo com intenção sincera de
realizá-lo no dia-a-dia, seremos alertados para corrigir possíveis equívocos na metodologia.

A caverna pode representar o local onde se encontra a glândula hipófise, pois esta é
responsável pelo controle das glândulas do corpo, conseqüentemente, gerencia o
funcionamento do corpo e também o seu crescimento. Permitir que a alma exerça o controle
da personalidade é o mesmo que a hipófise faz com o corpo físico; é permitir que a alma
gerencie o crescimento do indivíduo.
Um dado interessante é que a hipófise se localiza dentro do crânio, no encontro de duas linhas
imaginárias: a primeira penetra perpendicularmente entre os dois olhos e a segunda penetra
verticalmente no centro da superfície superior da cabeça. A hipófise se encontra envolvida
quase completamente por uma estrutura óssea chamada cela turca, estrutura essa que possui,
em forma estilizada, duas saídas.

O alinhamento do corpo físico, do emocional e do mental fornece grande poder ao indivíduo.


Por isso, é fundamental que nesse momento, o indivíduo seja controlado pela alma para que
esse poder seja guiado pelas leis superiores, pois esta direcionará o ser para o caminho do
amor, do altruísmo e da fraternidade. Caso contrário, esse poder será direcionado para a
obtenção de conquistas pessoais. Historicamente conhecemos vários indivíduos que utilizaram
esse poder para o controle das massas e seus trágicos resultados. Nesses casos, o alinhamento
conseguido foi utilizado para exercer poder pessoal em detrimento do interesse de todo o
grupo.

O Quinto Trabalho corresponde ao signo de Leão, que representa o regente, ou seja, neste
trabalho o indivíduo pode decidir quem reinará: sua personalidade egoísta alinhada ou seu ser
interno, sua alma.

Sexto Trabalho:

Apoderando-se do Cinto da União

Após a experiência marcante com o leão de Neméia, Hércules está mais seguro de si, e o
grande Ser do Conselho Secreto aprova sua nova incursão nos fatos da vida. Este grande Ser é
um dos membros da Hierarquia, o qual, como tantos vela constantemente pela evolução dos
universos.

Diz-nos o mito que, numa região litorânea, existe uma rainha que lidera bravas guerreiras.
Nenhum homem habita aquele insólito reino. As mulheres oferecem, diariamente, sacrifícios
ao seu Deus, a quem erigiram um grande templo. Como seres do sexo masculino não entram
naquele reino, uma vez por ano as guerreiras vão à aldeia vizinha, onde há homens, para se
fecundarem. Certa vez, depois de voltarem de tal aldeia, a rainha lhes anuncia uma visita
inusitada: Hércules está vindo. Dos degraus do altar, conta ela às guerreiras que, em
obediência a uma ordem de Deus, deverá entregar ao herói o cinto simbólico que ela
costumava usar. ”Devemos mesmo cumprir a ordem e entregar o cinto, ou não?”, pergunta
ela, em tom firme, às guerreiras. Enquanto estas refletem sobre a resposta a ser dada à rainha,
Hércules chega, antes da hora combinada, sem que elas, juntas, pudessem manifestar-se.
Buscando o precioso cinto, vai direto à rainha e com ela empreende uma luta. O debate
impede que Hércules escute as palavras gentis que a rainha tenta transmitir-lhe. Ele acaba
puxando com violência o cinto, supondo que ela se estivesse negando a entregar-lho. Só
depois é que descobre que, na verdade, ela já estava vindo ao seu encontro para fazê-lo. Tarde
demais! Tamanha foi a violência ao arrancar o cinto, que Hércules provoca a morte da
governante guerreira. Um pouco sem jeito, o herói apanha o cinto e, sem dizer palavra, toma o
caminho de volta. Atrás de si ficam as guerreiras, pesarosas por terem perdido sua rainha.
Agora, sem a direção que sempre tiveram, vão sentir falta do amor que ela lhes dedicava. Na
verdade, o cinto simboliza aqui a unidade e o amor. Paradoxalmente, Hércules sacrifica
justamente aquela que vem oferecer-lhe o que está buscando. Essa é uma situação
desconcertante, que, no entanto, costuma acontecer na vida de todos nós, ainda que
envolvendo fatos e graus diferentes para cada um. “Por que se mata o que está próximo e é
querido? Por que se mata o que é tão necessário?” Essas perguntas são feitas a Hércules,
subjetivamente, pelo seu Instrutor. “Por que você mata aquilo que ama?”, pergunta-lhe este.
Não há resposta. Parece que Hércules não compreende, ainda, certo sentido da vida. Com isso,
a tarefa, neste ponto do seu desenvolvimento, é considerada um fracasso. Então, é pedido a
ele que se redima do fato, sob pena de não mais voltar a ouvir seu Instrutor. Com essas
palavras ressoando em seu ouvido interno, Hércules caminha pelo litoral. Cabeça baixa, passos
lentos, o tempo parece não passar. Esse é um daqueles momentos nos quais o indivíduo se
sente numa espécie de limbo. Ao aproximar-se de uma escarpa, o herói vê um monstro, vindo
das profundezas, que traz presa em sua enorme boca uma jovem que se debate, sem poder
soltar-se. Ele pode ouvir os seus gritos de dor e os seus pedidos de socorro. Esquecendo-se de
si mesmo e do arrependimento que lhe corrói o peito, rapidamente caminha para junto do
monstro, tentando alcançar-lhe a boca. Contudo, a jovem é engolida pelo animal, resvalando
pela sua garganta alongada, que mais parece uma caverna sem fim. O herói não hesita:
penetra na boca do monstro e desce por sua garganta estreita. Chegando ao ventre, encontra
a jovem ainda viva. Com um braço, segura-a bem junto de si e, com o outro, abre a barriga do
monstro, usando de uma espada. Desse modo, ambos retornam à luz do dia: a moça está
salva. Nesse momento, para surpresa de Hércules, a voz do Instrutor faz-se ouvir novamente,
pois com essa façanha ele equilibra sua ação anterior em que eliminara a rainha das
guerreiras. Tudo isso nos mostra que cada um de nossos atos se reflete até os confins do
universo, movendo vibrações em todos os níveis de consciência. A prática de atos contrários à
desarmonia equilibra uma ação anterior não-harmônica. No caso em questão, Hércules matara
quem o recebera bem. Agora, salva alguém que precisava de liberdade. Amadurecido para
compreender melhor os caminhos que no fundo são um só apesar de terem nomes diferentes,
o herói pode agora descansar em paz por certo tempo.

As partes mais elevadas da consciência do indivíduo vêm ao encontro das demais, fazendo-se
sentir por meio de provas específicas (no caso de Hércules, a de matar a quem mais ama, para
depois reconhecer esse acontecimento como algo a ser definitivamente redimido e superado).
Nessa fase do processo da alma do herói, o eu consciente é colocado de modo bem claro
diante do antagonismo e, assim, sente o impacto da separatividade básica a ser resolvida, a
partir do plano físico. Isso será feito, porém, com a ajuda das energias mais elevadas do ser,
para as quais tal problema não é tão agudo.

Este sexto Trabalho de Hércules sugere também que reflitamos sobre o que é,
verdadeiramente, a maternidade. Como já dissemos, o antagonismo entre as polaridades
existe por desconhecermos o real significado de um estado pelo qual homens e mulheres,
indistintamente, passam: a gestação, no íntimo do ser, da realidade espiritual interna, até
então oculta. Quando esta se torna finalmente consciente e manifestada, eis aí nosso
verdadeiro nascimento; tudo o que antes ocorreu em nossa vida nada mais foi do que mera
preparação para a esse acontecimento. Começamos então a viver, pois passamos a ser úteis
ao Plano Evolutivo. Tal processo de gestação e nascimento não depende do tipo de corpo físico
no qual nos encontramos encarnados. O reconhecimento do próprio ser interno que habita
mundos sutis é para ser aperfeiçoado continuamente, unificando-se, assim, as polaridades.
Conforme mencionamos, o cinto, na história de Hércules que também é a nossa, é símbolo da
união das duas polaridades, a masculina e a feminina. Tanto o comportamento da rainha como
o das guerreiras e o de Hércules revelam pontos de crise diante da energia amorosa e
manifestam atitudes a serem mudadas na mentalidade corrente. Vejamos, então esse assunto.
A rainha, ao dispor-se a entregar o cinto, não o faz espontaneamente, movida por uma decisão
interna, própria, mas sim porque recebeu uma ordem para isso. Ela obedece, o que já é uma
boa qualidade, a essa altura do processo evolutivo. Todavia, quando estamos dentro da pura
energia, não mais obedecemos, ou tampouco seguimos alguma sugestão; ao contrário, somos
o próprio amor, porque já nos tornamos inclusivos. Devido à sua limitação, a rainha,
simbolicamente, morre, deixando as guerreiras sem liderança. Observe-se que aquelas
mulheres vivem numa comunidade à parte, indo regularmente à aldeia dos homens com a
finalidade de serem fecundadas. Fazem isso por uma razão utilitária. Esse é o comportamento
que normalmente temos diante do amor. Na realidade, o amor não tem utilidade nem
explicações mas é, em si, o seu próprio motivo. Neste episódio, há o interesse de reprodução
da espécie. Isso explica o fato de as guerreiras passarem por uma situação causada por alguém
do sexo oposto (no caso, Hércules): a morte de sua governante. E o herói? Que atitude sua
precisa ser revista, a fim de estar preparado para fases posteriores da vida de sua alma?
Matando sem necessidade, também ele não pode compreender profundamente sua própria
tarefa diante do sexo. Essa forma ainda inconsciente de agir é para ser subordinada à vontade
e à sabedoria daquilo que deve nascer em nós: a nossa realidade interna. Mas, se o homem se
julga um forte, um corajoso, um impulsivo, e não se equilibra com as qualidades femininas que
também tem ocultas dentro de si, o resultado é a ação instintiva e subconsciente, contrária ao
nível de clareza que ele já atingiu em sua evolução.

Já nos níveis de existência onde nossa alma habita, a diferença de polaridades não é percebida
como antagonismo. Enquanto, como personalidade, buscamos a complementação em outro
indivíduo (nosso pólo oposto), como alma, buscamos a nossa realidade mais profunda, onde a
totalidade é conhecida e não mais são necessárias complementações. Nesse nível, portanto,
vai-se ao encontro da essência, que tem, incluído, o aspecto oposto àquele que está mais
evidente. Assim, uma alma não busca outra alma, como alguns pensam, mas o próprio centro,
onde encontra a presença de todas as outras almas.

Este sexto Trabalho oferece-nos, também, importante esclarecimento sobre o processo de


equilíbrio cármico. Clareando pontos cármicos que estejam obscuros, abrandamos o
antagonismo. À medida que o carma é equilibrado em cada ser, as polaridades também se
equilibram, inexplicavelmente.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.

O cinturão é um símbolo da unidade conquistada através da luta, do conflito, da aspiração, um


símbolo da maternidade e da sagrada Criança para quem toda a vida humana está
verdadeiramente voltada. Diz o Tibetano: “a simbologia de Virgem concerne ao inteiro
objetivo do processo evolutivo, o qual é proteger, nutrir e finalmente revelar a oculta
realidade espiritual. Esta, toda forma encobre, mas a forma humana está equipada e ajustada
para manifestá-la de maneira diferente de qualquer outra expressão da divindade e assim
tomar tangível e objetivo aquilo para quê todo o processo criativo foi destinado” .

Assim a guerra entre os sexos é de antiga origem; na verdade, está inerente na dualidade da
humanidade e do sistema solar. A este fato nossas cortes de divórcio dão alto testemunho; e a
competição surge tanto nos negócios quanto no lar. Há pequenos mas importantes pontos na
história, que não devem ser desprezados. Em que a rainha Hipólita contribuiu para o erro?
Talvez nisso: ela ofereceu a Hércules o cinturão da unidade, que lhe fora dado por Vênus,
porque ela ouvira que o Ser Que Presidia lhe houvera assim ordenado, e não porque ela
sentisse a unidade. Teria ela agido assim sob compulsão mas não por amor? E assim ela
morreu. Ainda assim, dizem-nos que o mal deve vir, mas ai daqueles através de quem ele vem,
e assim Hércules não conseguiu compreender sua missão espiritual, embora houvesse obtido o
que buscava.

O Tibetano diz: “o mau uso da substância e a prostituição da matéria para maus fins é um
pecado contra o Espírito Santo”. Foi este pecado, o maior de toda a sua peregrinação, que
Hércules cometeu em Virgem, quando ele não compreendeu que a rainha das Amazonas devia
ser redimida pela unidade, não morta. O Tibetano seguidamente dá ênfase ao fato de que é
“através da humanidade que uma consumação de luz efetivamente ocorrerá que tornará
possível a expressão do todo”. Ainda cometemos o erro de Hércules, quando esquecemos que
o triângulo da Trindade é um triângulo equilátero com todos os ângulos sendo de igual
importância, para a consumação do Plano (astrologia Esotérica, pp 558 e seguinte). É em
Virgem, após completa individualização em Leão, que o primeiro passo para a missão do
espírito e a matéria é dado, “a subordinação da vida da forma à vontade do Cristo que nela
habita”.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

• Sugestão para aplicação prática desse estudo:

1. Reconhecer os aspectos masculinos e femininos dentro de si.

2. Buscar o auto-aperfeiçoamento através do equilíbrio entre as polaridades, superando


uma característica negativa por meio do desenvolvimento da positiva equivalente na
polaridade oposta.

• O esquema apresentado a seguir facilita a identificação destas características.

Positivas Negativas Positivas Negativas

Masculinas Masculinas Femininas Femininas

Coragem Dureza de coração Compaixão Timidez Falta de


Capacidade de Cinismo Modéstia confiança em si
decisão
Grosseria Suavidade Insinceridade
Caráter direto

Impetuosidade Prudência Inconstância


Firmeza

rodigalidade Economia Inclinação a


Magnanimidade
devaneios
Impaciência Paciência
Sinceridade Retraimento
Primitivismo Sensibilidade
Generosidade Mesqinharia

Positivas Negativas Positivas Negativas

Masculinas Masculinas Femininas Femininas

Insensibilidade
mental Deduções Falta de lógica
sem base Contradição e
Abertura intuitiva confusão mental
Lógica Exatidão
Análise cuidadosa
Falta de senso de
Verbosidade, falta
Concisão de realidade Criatividade prática
de clareza
expressão

Orgulho mental Consciência dos


Incapacidade de
Pensamento
limites do intelecto
pensamento
filosófico Afirmações só
abstrato
teóricas Flexibilidade
Avaliação subjetiva
mental
Subjetivismo no
Inflexibilidade
Retidão de pensamento
mental Rapidez de
pensamento
compreensão
Retraimento
Cristalização,
Astúcia mental
formalismo

Nota: Estas características foram apresentadas por G. O. Mebes, ocultista eslavo que escreveu
OS ARCANOS MENORES DO TARÔ, Editora Pensamento, 1984. Observe que as características
negativas de uma polaridade são opostas às positivas da outra polaridade, o que é chave para
a aplicação proposta.

Reflexões sobre o Sexto Trabalho

A cada novo Trabalho fica mais evidente a necessidade de se estar fazendo todos os Trabalhos
ao mesmo tempo, cumulativamente. Existe uma intrínseca relação entre os Trabalhos e sua
seqüência. Para desenvolver o alinhamento do corpo físico, do emocional e do mental, com a
vontade intuitiva, objetivo do Quinto Trabalho, é preciso ter desenvolvido o intuitivo, objetivo
do Quarto Trabalho. Para receber uma intuição, o mental precisa estar elevado (Primeiro
Trabalho), o emocional encaminhado (Segundo Trabalho) e o físico qualitativamente ativado
(Terceiro Trabalho).

Se o estudante não está conseguindo desenvolver as propostas dos Trabalhos, significa que
alguns aspectos dos ensinamentos dos Trabalhos anteriores não foram vivenciados,
assimilados integralmente. É preciso ter humildade para compreender que essa assimilação
está relacionada com todo um ciclo de existência, que ela ocorre desde o início da vida e ganha
impulso especial quando é feita conscientemente. De modo que as facilidades e dificuldades
encontradas em cada Trabalho estão relacionadas ao que já foi exercitado nos momentos
anteriores da existência de cada um. Se você não está tendo sucesso em efetivar o Trabalho do
momento atual, deve voltar a aplicar o(s) Trabalho(s) anterior(es), em especial, aquele(s) em
que você ainda encontra dificuldades, aquele(s) em que você ainda não consegue vivenciar
amplamente. Volte e pratique-o(s) por mais algum tempo e torne a voltar ao Trabalho atual.
Você perceberá resultados quando houver mudança real no enfoque das situações cotidianas
e na transformação da sua atitude frente às dificuldades pessoais corriqueiras.

A partir do sexto Trabalho, que está relacionado ao signo de Virgem, onde se iniciam as
ampliações mais profundas se consciência (nasce a consciência da Criança Sagrada), fica
evidente a dificuldade de perceber mentalmente toda a profundidade do ensinamento contido
nos Trabalhos, pois doravante estaremos no nível intuitivo. Por isso, agora não teremos
comprovação clara do que estamos realizando porque sua verificação direta não é mais
possível facilmente. A aplicação prática dos próximos Trabalhos será entendida como
representação simbólica do que ocorre na essência do referido Trabalho. No Mito “As Éguas
Devoradoras de Homens” desenvolve-se o pensamento atuando diretamente nele, através da
troca, por exemplo, de um pensamento crítico, destrutivo, por outro oposto — construtivo. Já
no Mito “Apoderando-se do Cinto da União” por intermédio de um trabalho nas polaridades
busca-se a unidade que representa a perfeição da condição humana, e que não é tão
diretamente compreensível para nós,.

A característica do signo de Virgem é, pelo senso comum, a rotina, é o que se faz na vida
metodicamente; do ponto de vista mais sutil, mais interno, é a busca da perfeição, essência
deste sexto Trabalho. É zelar, cuidar atentamente da evolução superior, da “criança humana”.

Dessa forma, a aplicação prática possível é cuidar metodicamente do aperfeiçoamento


humano por meio da substituição das dificuldades humanas pelas virtudes opostas. Quando
Hércules mata a rainha, ele mostra uma determinada dificuldade humana devidamente
compensada pela atitude seguinte onde ele pratica a virtude oposta: retirou a vida da rainha e
salvou depois a vida de Hesione.

Em função da aplicação prática sugerida para o Trabalho atual, é importante que já se tenha
desenvolvido certos aspectos da sexualidade, uma vez que será necessário praticar aspectos
positivos masculinos em seres femininos e positivos femininos em seres masculinos, o que em
síntese é unir as polaridades.

Sétimo Trabalho:

A CAPTURA DO JAVALI DE ERIMANTO


“Outro trabalho deve ser feito. De equilíbrio ele precisa e do julgamento justo, de uma
preparação para um teste importante e um futuro serviço à humanidade. Que ele se prepare
para isso com cuidado”. Pensou O Grande Ser Que Presidia. E o Instrutor, anotando em suas
tábuas o propósito da prova seguinte, dirigiu-se a Hércules e lhe disse: “Vai, meu filho, e
captura o javali selvagem; salva uma terra assolada, contudo, guarda um tempo para que te
alimentes”. E Hércules partiu. E Hércules cruzou o sétimo Portão. O poder do sétimo portão
passou através dele. Ele não sabia que estava sendo submetido a uma prova dual, a prova da
amizade rara e da coragem destemida. O Instrutor lhe havia recomendado que procurasse um
javali e Apolo lhe dera um arco novo em folha para usar. Disse Hércules: “Eu não o levarei
comigo neste trabalho, pois temo matar. Desta vez não farei isso. Deixo aqui o arco”. E assim
desarmado, a não ser com a sua fiel clava, ele escalou a montanha, procurando pelo javali e
encontrando um espetáculo de medo e terror por toda parte. Mais e mais ele subia. E então
encontrou um amigo. Ele se encontrou com Pholo s, que fazia parte de um grupo de
centauros, conhecidos dos deuses. Eles pararam e conversaram e por algum tempo Hércules
esqueceu-se do objetivo de sua busca. E Pholos convidou Hércules para furar um barril de
vinho, que não era dele. Ao grupo de Centauros pertencia o grande barril. Os deuses que
haviam aquinhoado os centauros com o barril avisaram que este jamais devia ser furado, a não
ser quando os centauros estiverem todos presentes. O barril pertencia ao grupo. Mas Hércules
e Pholos o abriram na ausência de seus irmãos, convidando Cherion, um outro sábio centauro,
para se juntar a ambos. Assim ele fez, e todos os três beberam, e festejaram e se
embebedaram e fizeram muito ruído. Este ruído os outros centauros ouviram, de pontos
distantes. Enraivecidos eles vieram, e uma feroz batalha então ocorreu e apesar das sábias
resoluções, Hércules tornou-se mensageiro da morte e matou seus amigos, a dupla de
centauros com quem ele havia bebido. E, enquanto os demais centauros com altos lamentos
choravam suas perdas, Hércules escapou novamente para as altas montanhas e recomeçou
sua busca.

Até os limites das neves ele avançou, seguindo as pegadas do feroz javali; até as alturas e o
amargo frio ele o seguiu, e contudo não o encontrava. E a noite se aproximava, e uma a uma
as estrelas surgiam, e ainda o javali se distanciava dele. Hércules meditava sobre sua tarefa e
buscava dentro de si mesmo uma habilidade sutil. Ele colocou um armadilha com habilidade,
cuidadosamente oculta, e então esperou numa sombra escura pela chegada do javali. As horas
se passavam, e ainda ele esperava, até surgir a aurora. De sua toca, o javali emergiu,
procurando alimento levado por fome antiga. O javali caiu na armadilha e no devido tempo
Hércules libertou a fera selvagem, tornando-a prisioneira de sua habilidade. Ele lutou com o
javali e o domesticou, e fê-lo fazer o que lhe determinava e seguir para onde Hércules
desejava. Do pico nevado da alta montanha Hércules desceu, regozijando-se no caminho,
levando adiante de si, montanha abaixo, o feroz, contudo domesticado javali. Pelas duas
pernas traseiras ele conduziu o javali, e todos na montanha se riram ao ver o espetáculo. E
todos na cidade riram ao ver o espetáculo. E o Grande Ser comentou: “A lição do verdadeiro
equilíbrio foi aprendida. Falta ainda uma lição. No nono Portão, o centauro deve ser
novamente encontrado, conhecido e corretamente compreendido”. E o Instrutor disse: “O
sétimo trabalho foi completado, o sétimo Portão ultrapassado. Medita sobre as lições do
passado, reflete sobre as provas, meu filho. Por duas vezes mataste a quem amavas. Aprende
por quê”. E Hércules permaneceu no centro dos portões da cidade e lá se preparou para aquilo
que mais tarde iria ocorrer, a prova suprema.

Alice Bailey Antes que Hércules capturasse o javali, ele se sentou à mesa de Pholos e bebeu até
que o vinho lhe subisse à cabeça. Nessa ocasião ele era a alma da jovialidade, buscando e
encontrando prazer. Para Hércules, como para todos os que assumem o trabalho que deve ser
realizado em Libra, a fumaça do prazer deve ser dissipada antes que a tarefa maior do auto-
domínio, por exemplo, a captura do javali, possa ser cumprida. Deve-se notar que o tragar do
vinho por Hércules leva a uma tragédia, a morte de Pholos. Esta súbita ocorrência de uma
catástrofe para aquele que vive em busca do prazer é uma necessidade para o crescimento da
alma. Sem tais tragédias, as potencialidades de Libra permanecem adormecidas. Hércules não
usa a força bruta ao capturar o javali. Ele arma uma armadilha, espera até a fera cair nela por
si mesma.(…)

(…) Contam-nos que Hércules agarra as patas traseiras do javali e o compele a descer a
montanha em suas patas dianteiras, e que este espetáculo excita o riso de todos que o
testemunham. Neste incidente nós observamos a habilidade de Libra para encontrar soluções
incomuns e perceber o valor do incongruente. A percepção das incongruências é uma das
maiores armas dadas à humanidade em sua perpétua luta contra a ilusão. É a fonte do riso que
explode pretensões e destrói instituições obsoletas. Este é o único trabalho que termina numa
explosão de riso. Não só Hércules cumpre com a tarefa que lhe fora atribuída, mas também faz
do feroz javali um objeto de ridículo. Por uma perspectiva levemente alterada, muitas das
terríveis experiências da vida podem ser transformadas em um benéfico senso de humor.
Muitas coisas que as pessoas encaram com grave seriedade têm decididamente ridículos
aspectos. A imagem de Hércules conduzindo o javali por suas patas traseiras é uma
representação simbólica da alma dirigindo o desajeitado corpo. Libra caminha pesando e
equilibrando todas as coisas. Essa atitude freqüentemente torna o ser hesitante e indeciso.
Sabendo que há inúmeras graduações entre o branco e o preto, raramente estará inclinado a
ser um extremista. (…)

(…)A busca da verdade, então, se transforma no desenvolvimento do discernimento. Em um


sentido, a verdade não existe para os seres humanos, porque todas as verdades são apenas
frações de outras maiores. A busca desses conceitos mais inclusivos é de importância maior do
que a insistência em um fragmento isolado de um segmento estreito, separatista. A meio
caminho entre o céu e a terra, Libra aguarda. Olhando para cima, vê a visão, a brilhante aurora
dourando um cume elevado; olhando para baixo, aprecia os pantanais e atoleiros, por onde os
filhos dos homens passam. De um lado, o ser se identifica com elevados ideais; do outro, os vê
repudiados. Nesse ponto do meio do caminho deve permanecer e trabalhar. Se ele se eleva
em direção ao mundo ideal, ele perde o contato com as coisas comuns; se descer ao nível da
atividade materialista, perde as preciosas percepções que são a razão de ser de sua existência.
Entre esses dois mundos se posiciona para que possa novamente ganhar compreensão; uma
compreensão que inclui o mais elevado e o mais baixo, o bom e o mau, o valioso e o
insignificante. Isto é compaixão. (…) (…)Libra não tem inclinação para fanatismo ou tirania.
Procurando persuadir, em vez de compelir, compreende a arte do compromisso espiritual; isto
envolve uma decisão de não se prender aos pontos não-essenciais, e uma compreensão de
que o céu é alcançado por uma série de passos separados, e não por um único salto selvagem.
Servir aos demais requer uma avaliação justa de suas capacidades; esperar destes o que eles
são incapazes de dar, é tanto frustrante quanto imprudente. A ajuda dada a uma pessoa deve
encontrar expressão no contexto de suas limitações. Se isto não for feito, a ajuda pode
transformar-se em impedimento. Uma cuidadosa distinção deve ser feita entre uma grande
ajuda e uma muito pequena; se for dada muita, o indivíduo não se sentirá encorajado a usar
seus próprios recursos, enquanto que uma ajuda demasiado pequena poderá levá-lo a se
afundar num mar de desespero. Em outras palavras, a ajuda deve ser ajustada
cuidadosamente às necessidades do indivíduo envolvido. Em muitos casos, a ajuda poderia ser
apenas um estorvo; portanto, é muitas vezes melhor deixar uma pessoa modelar suas certezas
espirituais a partir de seus próprios amargos conflitos. O constante dimensionamento tão
característico de Libra tem um fim; o estabelecimento do ponto de equilíbrio. O mundo é
sustentado por esse ponto de equilíbrio. Na verdade, as leis de causa e efeito podem ser
consideradas como atividades equilibradoras que impedem a continuidade de uma condição
desequilibrada. As catástrofes que se abatem sobre um homem são destinadas, não a punir,
mas a restaurar esse ponto de equilíbrio em sua natureza. Quem estabelecer este ponto de
equilíbrio em sua própria vida não será obrigado a tê-lo imposto sobre si por uma
circunstância severa, ameaçadora. Os pratos da balança de Libra são facilmente osciláveis para
cada lado, mas o ponto do meio no qual o equilíbrio repousa permanece inalterado. Este é o
ponto de apoio, o retiro secreto que as sombras flutuantes das sublevações e catástrofes
terrenas jamais podem ameaçar. Dever-se-ia assinalar que o ponto de equilíbrio, como aqui
concebido, é uma condição dinâmica, não estática. Um sistema balanceado de energias
poderia ser uma definição mais adequada; se quiséssemos enunciá-lo de maneira diferente,
poderia ser chamado de um arranjo ordenado de energias dirigidas e controladas por uma
abrangente vontade-para-o-bem. O homem plenamente desenvolvido ou iniciado, poderia
talvez ser descrito em tais termos, também. Em meio à dissonância, Libra acalenta o sonho de
harmonia; no país distante, lembra-se da casa do Pai. Em memória disso, procura ser um ponto
de paz num mundo de forças que se chocam. Esta é a meta, mas nem sempre a conquista.
Contudo, este anseio pela harmonia fortalece o desejo de promover a paz. Nesse ponto, pode-
se habitualmente compreender ambos os lados de uma questão, e ter habilidade para torna-se
um bom mediador e árbitro. As energias que emprega são a persuasão, a cortesia e a
cooperação; quando estas falham, desdenha métodos mais grosseiros. Libra é naturalmente
inclinado ao trabalho grupal, e é atraído por todos os programas de ação que promovem a
fraternidade e a unidade.

Os dois bons centauros que Hércules matou são conhecidos com Cherion (bom pensamento) e
Pholos (força física). Esse teste foi para demonstrar o controle da natureza astral, emocional,
do desejo, seja qual for a forma assumida. Não se consegue controlar ou guiar a natureza do
desejo somente pela força física ou pelo pensamento. Pode-se ter êxito, durante certo tempo,
mas depois ele ressurge dominante outra vez. A única resposta é levar o javali do desejo para
as altas montanhas. É nos cumes das altas montanhas que todas as revelações ocorrem, onde
as névoas do vale desaparecem e a iluminação chega…

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

Outro aspecto desta história serve-nos de profundo estímulo: de um ponto de vista superior
(como o do Ser Que Preside) e não do corriqueiro, os fatos e acontecimentos não têm tanta
importância, mas sim o crescimento e a ampliação da consciência do homem ao vivenciá-los, e
as transformações que faz em si por meio deles. É claro que as intenções positivas nem sempre
correspondem às nossas possibilidades reais. Podemos ter o propósito de não matar, de não
nos embriagarmos (não nos iludirmos); porém se o javali ainda não foi domesticado, nada
podemos garantir. Os Seres que nos presidem sabem de tudo isso, e o que conta para Eles é
que não fiquemos estagnados no ponto que já alcançamos, mas que sigamos adiante no
processo evolutivo.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.

Sugestão para aplicação prática desse estudo:

1. Trabalho com o desejo: Aspirar elevar a qualidade dos desejos

2.Trabalho com o discernimento e com o equilíbrio:

Utilizar o trabalho já conscientizado e desenvolvido com os opostos no Sexto Trabalho para


buscar o caminho do meio, a união/harmonização dos opostos. O caminho do meio será
alcançado ao enfrentar as situações conflitantes com soluções sábias, criativas. Soluções que
estejam acima do nível do confronto, num plano superior e de forma inusitada. O caminho do
meio é a procura de uma atitude neutra, isenta, uma vez que cada lado, mesmo que não seja
conflitante, é apenas uma fração da verdade.

Reflexões Sobre o Sétimo Trabalho de Hércules

Convém lembrar que o estudante que tiver encontrado dificuldade de assimilar o estudo de
algum Trabalho anterior, deve continuar a tentar aplicá-lo por mais algum tempo, o tempo que
for necessário e procurando praticá-lo com uma atenção especial.

Este Sétimo Trabalho propõe desenvolver o desejo, e outros aspectos também. O desejo já foi
tema do segundo Trabalho porém agora num outro nível, num outro patamar. Neste
momento, sua transformação será fundamental para que se alcance a neutralidade, o
equilíbrio e a sabedoria. O caminho da necessidade da resolução do desejo é enunciado logo
no início do Mito quando o Instrutor adverte para que Hércules se alimente bem. Caminho
confirmado posteriormente quando o javali, que simboliza o desejo, cai na armadilha “levado
por fome antiga”. Sintetizando: o desejo leva o ser a cair nas armadilhas e é necessário
transcendê-lo, que é simbolizado pelo herói alimentado, para que se possa alcançar a
equilibrada neutralidade.

O desejo não é extinto mas elevado, o javali não é morto, mas habilidosamente capturado. A
esta altura do desenvolvimento do ser, após ter apreendido os ensinamentos anteriores, o
desejo/javali já pode ser domesticado.

A cada Trabalho fica mais evidente a complementaridade entre eles. A consciência dos
aspectos opostos desenvolvida no Sexto será essencial para conseguirmos alcançar o ponto de
equilíbrio, o caminho do meio entre os opostos proposto no Sétimo Trabalho.

O caminho do meio é atingido por Hércules quando ele resolve o dilema, que é a ameaça do
javali, por meio de uma solução habilidosa. O herói não enfrenta o javali diretamente, ele
constrói uma armadilha e o captura. Além disso, não o mata, mas sim, o domestica e de forma
inusitada. O riso provocado não é do javali mas do desejo que ele representa. Simboliza a
infantilidade do desejo e como podemos e devemos rir de nossas próprias infantilidades para
aprendermos. No Mito, a palavra habilidade aparece várias vezes se contrapondo ao desejo
pelo vinho.
O lado negativo de Libra, representante deste Trabalho, é alternar entre os extremos ou não
decidir por nenhum, o chamado “em cima do muro”. O positivo é poder encontrar o caminho
do meio que nos coloca acima dos extremos.

A neutralidade é alcançada pelo não envolvimento direto no conflito, é ficando acima dele
utilizando uma solução sábia, pois as partes são, evidentemente, frações da totalidade. Se
“tomamos partido” nos tornamos restritos no respectivo setor, seremos sectários. Um
exemplo que elucida fielmente essa idéia é a história do Rei Salomão. Conhecido por sua
grande sabedoria, foi procurado para decidir com quem ficaria um bebê cuja maternidade era
reclamada por duas senhoras distintas. Como não chegavam a um acordo, o rei decidiu
repartir a criança ao meio e reparti-la entre as duas. De imediato, a verdadeira mãe abriu mão
da sua parte o que provou a todos quem era a verdadeira mãe. Nesta história, Salomão ficou
acima dos lados, não tomou partido e adotou uma solução inusitada.

Outro exemplo igualmente ilustrativo ocorreu com um estudante quando tentava aplicar o
ensinamento deste Sétimo Trabalho. Ele estava muito ocupado e atrasado com suas tarefas
quando o telefone tocou. Era uma simpática vendedora de cartão de crédito dizendo que ele
era um sujeito de grande sorte pois tinha sido escolhido para ser contemplado com o cartão
que representava. O estudante sentiu um início de irritação pois estava ciente da dificuldade
que teria para convencer a jovem de que não necessitava daquele produto, e que deveria
conseguir seu intento de forma gentil e educada. Lembrou-se do Sétimo Trabalho e respondeu
que aceitaria o cartão oferecido. Assim que a vendedora demonstrou seu contentamento, ele
acrescentou: “mas com uma condição; que eu fique isento da anuidade!” Nesse momento, ela
começou a rir espontaneamente sendo correspondida pelo estudante, e ela compreendendo,
esportivamente encerrou a ligação. Aqui também percebemos uma forma inusitada de
enfrentar um conflito e de forma neutra.

OITAVO TRABALHO

Erguendo a Hidra de Lerna

Depois de certo tempo, ei-las sem vida; somente a última cabeça, que é imortal, permanece
bem visível como se enfrentasse o guerreiro. Com seu olhar penetrante, ela parece dizer-lhe
que, por mais terrível que seja um acontecimento, ele sempre encerra uma jóia de grande
valor.

É inútil, porém, tentar descobrir o seu significado antes de morta a hidra. Hércules decepa-lhe,
então, a cabeça imortal, colocando-a em seguida sob uma grande pedra, onde ela fica, inerte e
reluzente.

A pedra, sob a qual o herói deposita aquela cabeça, representa a vontade persistente de
vencer a hidra. Sob a pedra, o pedaço de monstro torna-se uma fonte de poder a ser usado de
maneira completamente nova.
O Instrutor, recebendo Hércules após a tarefa, considera-o vitorioso, uma vez que ele acaba de
desenvolver em si as qualidades da humildade, da coragem e do discernimento. Ter humildade
é ser capaz de colocar-se na posição correta diante de uma situação de vida; ter coragem é
decidir não se desviar do que está acontecendo no momento, isto é, não se dispersar em
conjecturas ou imaginações; possuir discernimento é poder ver o que é para ser feito no
presente, sem fantasias sobre o futuro ou evocações sobre o passado.

Ressalte-se, no entanto, que a luz dessas três qualidades só pode brilhar quando o homem
está concentrado no aqui-e-agora.

O mito nos ensina também que não deve haver ansiedade por matar a hidra, pois é a
aspiração, e não a luta, a principal arma a ser usada. É a decisão de permanecer com firmeza
na posição correta que traz a vitória sobre a mente portadora da semente do verdadeiro poder
do homem, que é o de conquistar-se a si mesmo.

E é o ar puro, que vem do infinito, somado à decisão clara do homem, que determina a sorte
da hidra. Esse ar é necessário para que o bem existente em todas as coisas e em todos os seres
finalmente se manifeste.

Nada existe (nem mesmo a hidra) que não contenha a essência benéfica da vida cósmica
imortal. Portanto, até um monstro de nove cabeças, que vive no fétido pântano do
subconsciente do homem, contém a jóia da vida eterna.

O indivíduo, quando é lúcido, pode perceber todas as suas reações diante da hidra. Através da
aspiração, mantém-se firme na entrega total de si às energias superiores, enquanto a
suspende no ar. Renunciando à própria vida, com coragem, ganha vida mais ampla.

Expor a hidra à luz do dia e ao vento fresco corresponde ao que os antigos instrutores
ensinaram: “Ao entrar em um quarto escuro, não se debata com as trevas”. Realmente, de
nada valeria mover os braços ou dar pontapés, pois tais movimentos não dissolveriam a
escuridão. Para tanto, basta apenas acender uma lâmpada, que a luz surgirá. É assim,
renunciando a combater diretamente a obscuridade, que se lida com o subconsciente.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.

REFLEXÕES DE ALICE BAILEY

Profundamente alojada nas regiões subterrâneas do subconsciente, ora calma, ora explodindo
em tumultuado frenesi, a fera estabelece morada permanente. Não é fácil descobrir sua
existência. Muito tempo se passa antes que o indivíduo se dê conta de que ele está nutrindo e
sustentando uma criatura tão feroz. Os dardos ardentes da aspiração flamejante devem ser
disparados antes que sua presença se revele. Hércules faz três coisas: ele reconhece a
existência da hidra, procura pacientemente por ela, e finalmente a destrói. É necessário ter
discernimento para reconhecer sua existência; coragem e paciência para descobrir sua toca;
humildade para trazer lodosos fragmentos do subconsciente à superfície, e expô-los à luz da
sabedoria.

A cabeça imortal, separada do corpo da hidra, é sepultada sob uma rocha. Isto implica que a
energia concentrada que cria um problema ainda permanece, purificada, redirecionada, e
aumentada após a vitória ter sido conquistada. Tal poder deve então ser corretamente
canalizado e controlado. Sob a rocha da vontade persistente, a cabeça imortal se torna uma
fonte de poder.
As Nove Cabeças da Hidra

A tarefa atribuída a Hércules tinha nove facetas. Cada cabeça da hidra representa um dos
problemas que assaltam a pessoa corajosa que busca conquistar o domínio de si mesma. Três
dessas cabeças simbolizam os apetites associados com o sexo, conforto e dinheiro. A trinca
seguinte diz respeito às paixões do medo, ódio e desejo de poder. As últimas três cabeças
representam os vícios da mente não iluminada: orgulho, separatividade e crueldade.

O Combate à Hidra

Uma consideração dos nove problemas com que se defronta a pessoa nos dias atuais ao
procurar matar a Hidra poderia lançar luz nas estranhas forças em atuação nesse barril de
explosivos, a mente humana. 1. Sexo(…) A transmutação das energias humanas abre um
campo de especulação e experimentação. Na ciência física, a energia do movimento pode ser
transformada em eletricidade, e a do calor em movimento. Até que ponto, então, podem ser
redirecionadas as energias humanas? Antes de tudo, a energia da matéria, representada pelo
alimento, é obviamente usada para produzir a energia do movimento. Poderá a
impulsionadora energia das emoções ser, por analogia, recanalizada para a atividade do
pensamento? Poderá a energia das agitadas paixões encontrar expressão como uma
aspiração? Poderão os impulsos e compulsões da natureza humana ser de tal maneira
transmutados que se possam transformar em forças benéficas? Poderá a energia que produz o
pensamento ser utilizada como o poder de síntese que resulte em um senso de identificação
com todas as coisas vivas? (As considerações sobre os outros oito problemas se encontram nas
páginas 149, 150, 151, 152 do livro Os Trabalhos de Hércules)

Hércules tinha de ver a hidra como um monstro, não como uma fera com nove diferentes
cabeças. Enquanto ele procurou decepá-las uma a uma, ele continuou a lutar sem êxito.
Quando, finalmente, ele lidou com o monstro como uma unidade, conquistou a vitória.

Individualmente estamos tão profundamente ocupados com a nossa própria evolução que nos
esquecemos de uma visão mais abrangente. Se pretendermos escalar até o topo da montanha
em Capricórnio, precisamos perder de vista a personalidade e começar a atuar como almas.

Ao estudarmos Hércules, nós nos vemos. Lembrem-se de que há três coisas que o estudante
tem de fazer em Escorpião. Ele tem de demonstrar, não para a Hierarquia, não para o
observador, mas para si próprio, que ele tem de superar a grande ilusão; que a matéria, a
forma, não mais pode detê-lo. Hércules tinha de demonstrar para ele que a forma era
simplesmente um canal de expressão pelo qual ele contataria um grande campo de
manifestação divina. Lendo alguns livros sobre a religião poder-se-ia chegar à conclusão de que
a forma, a emoção e a mente são coisas más, indesejáveis, das quais nos deveríamos livrar. É
fundamental reter o pensamento que se eu me livrar da forma física, fico sem meios de
contato com a expressão divina, porque Deus está em meu próximo, no mundo físico, tangível,
no qual eu vivo, e se eu não tiver forma, nenhum dos meus cinco sentidos, eu me isolo de
Deus em uma forma. A personalidade não é para ser morta, nem pisoteada; ela deve ser
conhecida como um triplo canal de expressão para três aspectos divinos. Tudo depende de se
nós usamos a tríplice personalidade para fins egoístas ou divinos. A grande ilusão é a utilização
da personalidade para fins egoístas. Em Escorpião, o Ego está determinado a matar o
pequenino ego para ensinar-lhe o significado da ressurreição.

Escorpião, o Signo da Magia


Magia não significa fazer coisas curiosas; a verdadeira magia é a expressão da alma através da
forma: A magia negra é o uso da forma para alcançarmos o que quisermos para a forma. A
magia negra é o egoísmo sem adulteração, A magia branca é o uso da alma para fins de
elevação da humanidade, utilizando a personalidade. Por que Escorpião é o signo da magia?
Um antigo livro diz: “Virgem é a feiticeira, ela prepara os ingredientes que são pesados nos
pratos da Balança, e em Escorpião o trabalho mágico é desenvolvido”. Em termos dos
aspirantes isso significa que em Virgem eu terei descoberto o Cristo em mim mesmo, que no
passar do tempo minha natureza forma alimentou um Cristo; na Balança eu flutuo entre os
pares de opostos, a forma e a natureza crística, até que conquisto o equilíbrio, e o Cristo e a
matéria se acham num estado de equilíbrio; em Escorpião eu sou testado para ver quem vai
triunfar, a forma ou o Cristo, o Eu Superior ou o eu inferior, o real ou o irreal, a verdade ou a
ilusão. Isto é o que está embutido na história de Escorpião.

Sugestão para aplicação prática desse estudo:

A- Trabalho com a transmutação, utilizando a humildade , a coragem e o discernimento:

• a humildade para reconhecer a sua real condição;

• a coragem e a ousadia para não temer resultados;

• o discernimento para decidir sabiamente o caminho a seguir.

Este é um caminho de serviço. Serviço possibilitado pelo desenvolvimento obtido nos


Trabalhos anteriores. Tal prática fica interessante se o serviço for realizado com o material
amadurecido no Sexto e Sétimo Trabalhos: os defeitos transformados e o caminho do meio
descoberto. Onde você for chamado a servir, procurar usar a característica positiva
desenvolvida no Sexto Trabalho.

Reflexões Sobre o Oitavo Trabalho

O Alquimista. Desenho de Sergio Rodrigues.

O Oitavo Trabalho nos traz a reflexão uma chave para lidar de forma efetiva com os setores
negativos de nossa personalidade, de nosso subconsciente. No Mito, quando Hércules decepa
uma das cabeças da Hidra, duas outras assumem seu lugar demonstrando que nossos aspectos
obscuros ganham força quando o enfrentamos diretamente e queremos destruí-los. Por quê
isso ocorre?

Podemos entender essa questão de duas maneiras:

a- Quando nos revoltamos, pensamos, analisamos ou vivemos esses “defeitos”, nós


energizamos esses setores obscuros de nossa personalidade. Os defeitos alimentam este setor
obscuro do subconsciente.

b- Quando enfrentamos nosso obscuro — nosso subconsciente —ficamos em seu nível, fator
que o energiza também.

O ideal é nos elevarmos em consciência ao nível da Luz, como nos é ensinado simbolicamente
no Mito — Hércules suspende a Hidra e a mantém na Luz e no ar puro. Manter a consciência
elevada faz com que a cada vez que um ponto obscuro nos chega, ele seja automaticamente
dissolvido na Luz. Isto já é possível a Hércules porque ele já ultrapassou os oito portais. Fato
comprovado quando o Instrutor afirma que a luz de Hércules já está unificada com a Luz do
Oitavo Portal (no texto da Alice B.).
É evidente que esse desenvolvimento exige que tenhamos trabalhado os opostos como no
Sexto Trabalho e desenvolvido o caminho do meio feito no Sétimo.

A aplicação prática sugere que busquemos a elevação através do serviço preferencialmente


nos setores desenvolvidos no Sexto Trabalho como forma de aprofundar ainda mais o
amadurecimento da consciência. Por exemplo, no sexto Trabalho, ao identificar a
mesquinharia como característica negativa do polo feminino, a proposta era desenvolver o
oposto masculino positivo, ou seja, a generosidade. Portanto, a sugestão é que se sirva onde
for necessário aplicar a generosidade. É importante também não esquecer a necessária
aspiração simbolizada pelos dardos atirados no interior da caverna.

O signo correspondente a este capítulo é escorpião que simboliza um grande processo de


transformação entendido por muitos estudiosos com o signo da morte. Plutão, regente deste
signo, aponta para uma descida às profundezas por meio de vivências intensas, por vezes
dolorosas, de situações traiçoeiras, pantanosas.

O material do subconsciente é tanto profundo quanto obscuro. É necessário já ter algum


desenvolvimento, como o já oferecido até aqui por Hércules, para purificá-lo pois trata-se de
um material perigoso e corre-se o risco de reforçá-lo.

NONO TRABALHO

OS PÁSSAROS DEVASTADORES

… E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.

João 8.32.

Os pântanos não terminaram. Agora há outro diante de Hércules, desta vez com sua enorme
quantidade de estranhos pássaros que provocam grandes devastações. Expulsá-los parece
tarefa impossível, mas, segundo a voz do Instrutor interno, para além da mente uma luz
indicará a direção segura.

A terrível presença dos pássaros faz-se notar por seu coro de vozes, que, ameaçador e
dissonante, é ouvido por toda parte. Seus bicos de ferro assemelham-se a uma espada; suas
penas são como lâminas de aço, e as garras, instrumentos de destruição.

Percebendo que o guerreiro se aproxima, três pássaros atiram-se sobre ele, tentando atacá-lo.
Hércules consegue desvencilhar-se e acaba atingindo depois um deles. Surpreendentemente,
algumas das pontiagudas penas do pássaro alvejado fixam-se no chão, provocando uma
vibração sonora aterradora. Em vista disso, os outros pássaros afastam-se por um tempo, mas
Hércules sabe que voltarão.

Ali, diante do pântano, ele procura descobrir um meio de libertar o local de aves tão
atemorizantes. Tenta usar flechas. Inútil. Os pássaros são milhares e, quando voam aos
bandos, chegam a cobrir o Sol e a escurecer o dia. O herói tem, então, a idéia de colocar
armadilhas dentro do pântano, do mesmo modo que fez com o javali. Todavia, quando tenta
pisar naquele solo, seus pés afundam-se — é quando constata que uma solução, por ter sido
boa no passado, nem sempre é adequada para o momento presente, que apresenta outras
características.

Faz uma pausa. Concentra-se e agora pode lembrar-se das palavras do Instrutor: “Além da
mente há uma luz que indicará a direção segura”. Consegue, assim, ficar quieto, olhando para
além da mente, ainda acostumada aos seus mecanismos dedutivos. Voltando-se para o centro
de sua consciência, faz com que a mente olhe a si mesma. Vem-lhe, então, uma idéia nova:
toma dois enormes címbalos de bronze, que emitem um som sobrenatural do qual não se
encontra similar neste mundo. Perturbador e áspero, o som é capaz de penetrar o plano astral,
um dos níveis sutis da Terra e dos indivíduos. Para o próprio Hércules, que conhece agora
vibrações sonoras mais elevadas, aquele barulho é intolerável. Cobrindo os ouvidos com
tampões, ele toca os címbalos.

É hora do pôr-do-sol. O pântano está denso pela presença de um sem-número de pássaros.


Hércules faz soar de maneira potente os címbalos, repetidas vezes. Uma dissonância
assustadora, nunca ouvida naquela região, confunde as aves, que, desesperadas pelo rumor,
confusas pela vibração, escapam depressa para jamais retornar. Já estão distantes, mas os
címbalos ainda batem, vigorosamente.

Em seguida o silêncio invade o pântano. Os pássaros horrendos desapareceram. Hércules


ouve, então, as palavras do Instrutor que o segue internamente: “Você expulsou os pássaros
mortíferos. O Trabalho está concluído”.

QR

Os três pássaros que se destacam dos demais têm um significado especial: o primeiro
representa a tagarelice que se pratica inconscientemente durante vidas; o segundo, as
informações reveladas aos que não estão prontos ainda para escutá-las; o terceiro, o falar
continuamente de si próprio, egoisticamente, para enaltecer-se ou valorizar-se em detrimento
de outros. Esses hábitos são destrutivos como os referidos pássaros, sendo a tagarelice, pela
perda de energia que acarreta, um homicídio sutil. Nem todos sabem quão grande é o poder
do som e que possibilidades têm as palavras que o homem pronuncia.

É necessário, pois, transformarmos e elevarmos a nossa palavra, para que mais tarde
possamos ouvir os sons que existem dentro de nós. Conforme se sabe, os homens têm outros
sentidos além dos físicos. São os sentidos internos (entre os quais a audição interior) que se
abrem somente quando o uso da palavra externa chega a ser relativamente controlado.

Além do controle e seleção das palavras, o homem vai aprendendo, com o tempo, a
inofensividade ao pronunciá-las. O címbalo, nessa história, representa o uso adequado do
som, a inofensividade que nada tem a ver com passividade, mas com ação correta, de caráter
construtivo. Aquele que afugenta os pássaros é inofensivo, pois está construindo o que eles,
assim como são, não permitiriam.

A primeira etapa desse processo de transformação e elevação é o autocontrole. Cortando pela


metade o número de palavras pronunciadas diariamente, tornamo-nos aptos a refletir antes
de falar, pois só assim, evitando o palavreado meramente compulsivo, temos tempo para
pensar. A segunda etapa é a da reflexão. Nela fazemos um belíssimo trabalho em nosso ser,
pois chegamos a “ouvir”, antecipadamente, o que vamos falar. Selecionamos então a palavra e
passamos a construir, inteligentemente, por meio do som. A partir daí inicia-se uma fase ainda
mais importante para o desenvolvimento da consciência, a terceira etapa, em que
colaboramos com o clareamento do nosso próprio carma e do carma planetário. Isso é feito à
medida que a palavra é controlada e precedida da reflexão, o que nos possibilita interromper
uma frase ou modificá-la se, antes de sair pelo espaço e pelo éter, for considerada destrutiva
ou supérflua. No caso de se ter emitido um som fora desse controle, uma reflexão imediata
pode recuperá-lo a tempo. A produção posterior de um som de qualidade oposta restaura o
equilíbrio dentro do universo das energias.

Sem a seleção da palavra, o indivíduo não pode ter a visão clara da meta interna e externa da
vida. A energia para se caminhar na direção correta vem do fato de se aprimorar esse controle
cada vez mais.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.

Sagitário é o signo preparatório para Capricórnio e em alguns livros antigos é chamado “o


signo do silêncio”. Nos antigos mosteiros o irmão recém-admitido tinha de se sentar em
silêncio, não era autorizado a caminhar nem a falar. Não se pode entrar no quinto reino da
natureza, o reino espiritual, nem escalar a montanha de Capricórnio enquanto houver não
houver controle da fala e do pensamento. Esta é a lição de Sagitário: restrição da fala através
do controle do pensamento. Isso nos manterá ocupados, porque depois de abandonar o uso
das formas comuns da fala, tais como o falar da vida alheia, então será preciso aprender a
silenciar sobre as coisas espirituais. Você terá de aprender sobre o quê não dizer sobre a vida
da alma, muita conversa sobre coisas para as quais pessoas podem não estar preparadas.

O reto uso do pensamento, o calar-se, e a conseqüente inofensividade no plano físico,


resultam na libertação; pois nós somos conservados na unidade humana, estamos
aprisionados ao planeta, não por alguma força externa que nos mantenha ali, mas pelo que
nós mesmos teremos dito e feito. No momento em que não mantivermos mais relações
erradas com as pessoas pelas coisas que dissermos, porque deveríamos ter ficado calados; no
momento em que paramos de pensar sobre as pessoas, sobre coisas que não deveríamos
pensar, pouco a pouco aqueles laços que nos prendem à existência planetária são rompidos,
ficamos livres e escalamos a montanha como o bode em Capricórnio.

Perguntou-se: “Será que nunca deveremos criar carma para nós mesmos, ou fazer qualquer
coisa que nos prenda a qualquer ser humano, porque na medida em que nos ligamos a
qualquer ser humano, teremos de continuar a nos reencarnarmos?” Bem, eu vou me ligar à
humanidade pelo serviço, pelo amor, pelo pensamento desinteressado. Isso tem alguma
significação. Mas não vou me prender pelo pensamento crítico, pelos pensamentos de auto-
piedade, pelo falatório, pelas palavras que não deveria dizer. Não vou ter como motivo minha
própria libertação. Uma precaução: não sejam bons, não sejam inofensivos, não sirvam apenas
para se afastar de tudo, que é o que muitos fazem. Fiquem com a humanidade como o Cristo
faz, ou como aquela grande Vida Que, segundo nos é dito, ficará em Seu lugar indicado até que
o último peregrino encontre seu caminho de casa.

O verdadeiro ser que trabalha a qualidade de Sagitário é uma pessoa muito potente; potente
porque é o signo do silêncio; potente porque é o signo da direção definida e a meta é vista
pela primeira vez com a devida clareza; potente porque é o período que precede
imediatamente o nascimento do Cristo. Dizem-nos que Sagitário é o espírito de verdade; soma
de toda Verdade brotando da revelação individual.
Em Sagitário, o primeiro dos grandes signos universais, vemos a verdade como o todo quando
usamos as flechas do pensamento corretamente. Eu direi, isto é para mim, minha formulação
de verdade, porque ela me ajuda a viver. Outros grupos usam outras terminologias e somente
me é possível ver a visão na medida em que posso alcançar a maneira pela qual meu irmão
encara a verdade. Todas as várias verdades formam uma Verdade; é disso que se dá conta em
Sagitário e você não poderá cruzar o portão no sopé antes de ver onde a sua pequenina
porção da verdade forme parte do mosaico grupal.

Sagitário tem o dom do poder. Você se sente capaz de ter o poder? Não conheço ninguém que
possa ser confiável ao manipular o poder, enquanto não tiver ainda aprendido a calar-se,
enquanto o controle do pensamento não for conseguido e a alma ainda não for
suficientemente potente. Quando amamos bastante, podemos ter o poder. Quando amamos
bastante e somos bastante inofensivos, então os portões do paraíso e do inferno serão postos
em nossas mãos, mas não antes.

Os pântanos simbolizam a mente com a emoção. Hércules descobriu que embora ele possa ser
um aspirante e possa ter triunfado em Escorpião, ele ainda possui uma natureza emocional, e
ele verifica que os pássaros de Estinfalo, especialmente três deles, são de uma espécie
antropófaga e que ele tem de fazer algo a respeito. Tentem visualizar esta reação, o
conquistador descobrindo que possui uma força devastadora; que por suas palavras e
pensamentos, ele está fazendo mal. Lembrem-se disso, quanto mais vocês avançam no
caminho de volta, e quanto mais atuarem com uma entidade espiritual, mais potentes se
tomarão e maior mal poderão fazer. Vocês são esforçados, vocês manipulam o poder. Vocês
serão provavelmente o centro de seu grupo. Se forem um aspirante, um discípulo, o
pensamento e a atividade da palavra serão sua principal empresa. Vocês pesarão seus
pensamentos porque há poder por trás de seus pensamentos, e quando pensarem de maneira
errada, o mal que vocês fazem é muito mais potente do que o mal feito por uma pessoa
menos evoluída. Precisamos remover os pássaros dos pântanos para o ambiente claro, onde
possamos vê-los e derrotá-los.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

Sugestão para aplicação prática desse estudo:

A- Trabalho com a humildade e a inofensividade: Reconhecer cada parte da verdade em todas


as pessoas

B- Trabalho com a descoberta da Verdade Buscar, por meio das “setas”da vida, a sua verdade.

Identificada a sua verdade, construí-la por meio do som. Pode ser com o uso sintético das
palavras, do canto ou da oração.

Reflexões Sobre o Nono Trabalho

O nono Trabalho nos aprofunda no conhecimento e desenvolvimento do Som, que é o Verbo,


que nos leva à Verdade.

Os próximos quatro Trabalhos serão de caráter mais sutil, de modo que é aconselhável que
aqueles que ainda não conseguiram absorver alguns dos aspectos dos Trabalhos anteriores
deveriam continuar mais algum tempo a praticá-lo antes de começar o nono.

Os quatro primeiros Trabalhos se caracterizaram por atuarem na formação e desenvolvimento


dos corpos do homem: o corpo mental, o emocional, o físico e o intuitivo.
Os quatro seguintes, na tentativa de resolução dos conflitos humanos que culminaram no
oitavo quando nos é proposto resolver o pântano do subconsciente. Essa resolução atinge o
auge quando se elevou a Hidra no oitavo Trabalho onde o material espúrio ali contido foi
purificado.

E agora, nos quatro próximos, prepara-se o destino espiritual do homem. Já agora no nono, a
elevação é fundamental para se perceber a Verdade e emitir o som adequado. Observemos
que apesar de também haver um pântano no mito, o herói não necessita fazer movimento
ascencional para escapar da sujeira, mas apenas ficar em silêncio e intuir. Por isso, é
necessário que o ensinamento do oitavo Trabalho já tenha sido absorvido pelo estudante.

O primeiro, o quinto e agora, o nono Trabalho também guardam relação entre si. Os três
trabalham aspectos do plano mental, cada um num determinado nível de amplitude. No
primeiro enfoca-se a mente inferior, no quinto, a mente superior e no nono, a Mente
Universal.

Notemos que os pássaros ameaçam com seu coro de vozes dissonantes, barulhentas. Atitude
correspondente aos nossos pensamentos maledicentes e nossas falas supérfluas e geradoras
de intrigas. A saída é encontrada no silêncio que Hércules assume antes de perceber que um
som supra-humano de címbalos é capaz de desvitalizar a dissonância dos pássaros.

A humildade também é chave neste momento pois, sem ela, não há como reconhecer a
Grande Verdade. A humildade também é requisito fundamental para perceber que a Verdade
se encontra distribuída na multiplicidade das formas, de modo que cada ser possui também
uma parte dela. O estudante pode pesquisar esse material em cada ser com quem se
relaciona, respeitosamente. A maioria dos conflitos humanos seria resolvida com essa
proposição. O herói torna-se inofensivo. Lembremos que inofensividade não significa
submissão assim como silêncio não é mutismo. Silêncio é o som da Verdade e inofensividade
requer grande determinação.

Sagitário, signo correspondente, é representado por um centauro com arco e flecha. A flecha
que aponta a direção e esta direção é a luz como nos ensina o mito. Ao seguirmos esta direção
proposta, encontraremos a Verdade libertadora. Júpiter rege Sagitário e simboliza a Grandiosa
Verdade apontada pela flecha.

A aplicação prática sugerida propõe a busca da verdade por meio da identificação das
orientações, das setas da vida. Procurar, com atenta observação externa e interna, o caminho
para onde a vida quer nos levar e usar o silêncio e o som para empreendê-lo. Silêncio, ou som
sintético, nos orientam para uma economia de palavras desenvolvendo a objetividade na fala e
na atitude, o que nos protege dos desvios indesejados do caminho.

A oração pela aspiração para que a verdade de nossa vida nos seja mostrada são essenciais.

Silêncio e som. Som como silêncio na medida certa e sábia, ou a utilização da palavra justa, da
manifestação da verdade através das palavras. O Verbo na fala. Purificamos a qualidade do
som à medida que buscamos a Verdade.

Décimo Trabalho

A MORTE DE CÉRBERO

Madre Teresa entre os mais pobres dos pobres


“A luz da vida deve agora brilhar num mundo de trevas”, declarou o Grande Ser Que Presidia.
O Instrutor compreendeu. “O filho do homem que é também o filho de Deus deve passar pelo
décimo Portão”, ele disse. “Dentro desta hora Hércules deve aventurar-se” . Quando, Hércules
ficou face a face com aquele que o guiava, este falou: “Enfrentaste com êxito mil perigos, oh
Hércules”, disse o Instrutor, “e muitas conquistas foram feitas. A sabedoria e a força te
pertencem. Farás uso delas para salvar alguém em angústia, uma presa de imenso e infindável
sofrimento?” O instrutor gentilmente tocou a fronte de Hércules. Diante do seu olho interno,
surgiu uma visão. Um homem jazia sobre uma rocha e gemia como se seu coração fosse partir-
se. Suas mãos e pés estavam acorrentados; as fortes correntes que o prendiam estavam
ligadas a anéis de ferro. Um abutre, feroz e audacioso, mantinha-se bicando o fígado da vítima;
em conseqüência, uma corrente de sangue jorrava do seu flanco. O homem elevava suas mãos
acorrentadas e clamava por socorro; mas suas palavras ecoavam em vão na desolação e eram
engolidas pelo vento. A visão desapareceu. Hércules estava, como antes, ao lado de seu guia.

“Aquele que viste acorrentado se chama Prometeu”, disse o Instrutor. “Ele sofre assim há
muito tempo, e contudo, sendo imortal, não pode morrer. Do céu ele roubou o fogo; por isso
foi punido. O lugar de sua morada é conhecido como Inferno, o reino de Hades. Pede-se que
sejas o salvador de Prometeu, oh Hércules. Desce até as profundezas, e de lá liberta-o do
sofrimento”.

Tendo ouvido e compreendido, o filho do homem que era também filho de Deus, partiu para
aquele novo desafio e passou pelo Portão décimo.

Ele encetou sua viagem descendo, descendo sempre através das ligações dos mundos da
forma. A atmosfera se tornava cada vez mais pesada, a escuridão crescia sempre. E contudo
sua vontade estava firme. Essa íngreme descida continuou por longo tempo. Sozinho, e
contudo não absolutamente só, ele vagueava, pois quando ele procurava em seu íntimo ele
ouviu a voz prateada da deusa da sabedoria, Athena, e as palavras encorajadoras de Hermes.

Por fim ele chegou a um rio escuro, envenenado, um rio que as almas dos mortos tinham de
cruzar. Um óbulo ou moeda tinha de ser pago a Charonte, o barqueiro, para que ele as levasse
ao outro lado. O sombrio visitante da terra assustou Charonte e este, esquecendo-se de
cobrar, levou o estrangeiro para o outro lado. Hércules finalmente penetrou o Hades, uma
nevoenta e escura região.

Quando Hércules percebeu Medusa, seu cabelo encaracolado com serpentes sibilantes, ele
tomou da espada e a procurou atingir, mas não bateu senão no ar vazio.

Através de caminhos labirínticos ele prosseguiu em sua caminhada até chegar à corte do rei
que governava o mundo subterrâneo, Hades. Este último, inflexível e severo, com semblante
ameaçador, sentava-se rigidamente em seu negro trono quando Hércules se aproximou.

“Que procuras, um mortal vivo, em meus reinos?” Hades o interpelou. Hércules disse,
“procuro libertar Prometeu”.
“O caminho está guardado pelo monstro Cérbero, um cão com três grandes cabeças, cada uma
com serpentes enroladas em torno”, replicou Hades. “Se puderes derrotá-lo com tuas mãos
vazias, um feito que ninguém jamais realizou, poderás libertar o sofredor Prometeu”.

Satisfeito com esta resposta, Hércules prosseguiu. Logo viu o cão de três cabeças e ouviu seu
feroz latido. Rosnando, ele avançou sobre Hércules. Agarrando a primeira garganta de
Cérbero, Hércules reteve-a em seu abraço. Enfurecido, o monstro debatia-se. Finalmente, sua
força cedeu.

Isso feito, Hércules continuou e encontrou Prometeu. Em uma laje de pedra ela jazia, em dores
agonizantes. Rapidamente Hércules partiu as cadeias e libertou o sofredor.

Voltando sobre seus passos, Hércules regressou por onde viera. Quando mais uma vez
alcançou o mundo dos vivos, lá encontrou seu Instrutor. “A luz agora brilha no mundo das
trevas”, disse o Instrutor. “O trabalho está feito. Agora descansa, meu filho”.

Há dois portões de importância dominante: Câncer, que erroneamente chamamos portão da


vida, e Capricórnio, o portão para o reino espiritual. Capricórnio, é o portão através do qual
nós finalmente passamos quando não mais nos identificamos com o lado forma da existência,
mas nos tornamos identificados com o espírito. É isto que significa ser iniciado.

Este é o signo do bode; é um signo supra-humano, um signo universal e impessoal. Todos os


trabalhos de Hércules até aqui estiveram relacionados com a sua própria libertação. Agora
entramos nos três signos que não têm relação com suas conquistas pessoais. Ele está livre. Ele
é um iniciado, um discípulo mundial. Ele passou pelo Zodíaco várias vezes, aprendeu todas as
lições dos signos e escalou a montanha da iniciação; ele se transfigura; ele está perfeitamente
livre e assim pode ocupar-se universalmente nos trabalhos que já não têm qualquer ligação
consigo mesmo. Ele trabalha como um ser supra-humano em um corpo humano. A
impessoalidade está baseada numa conquista fundamental da personalidade. Isso é um
paradoxo, mas não há conquista em ser impessoal, se não houver a tentação de ser pessoal. A
impessoalidade que devemos desenvolver é uma expansão do amor pessoal que nós temos
por um indivíduo, por nossa família, nosso círculo de amigos, até exatamente a mesma atitude
pela humanidade, mas nada tem a ver com o sentimentalismo. Podemos amar toda a
humanidade porque conhecemos o significado do amor pessoal e devemos oferecer a todos
este mesmo amor, que déramos aos que nos eram próximos. A impessoalidade não é nos
fecharmos em nós próprios; é amar a todos porque nos tornamos capazes de ver as pessoas
como elas realmente são, com suas faltas, seus fracassos, suas conquistas, tudo que irá fazê-
los ser o que eles são e, vendo-os com clareza, amá-los da mesma maneira. Aquilo que temos
de desenvolver não vem pelo endurecimento do coração. O discípulo mundial faz não só o que
Hércules fez, descer ao inferno para vencer Cérbero, mas ele trabalha entre os homens o
tempo todo, interessado em seus semelhantes. Ele é impessoal. Pergunto-me se essa
impessoalidade não se refere a nós mesmos em vez de a outras pessoas. Falamos em sermos
impessoais em nosso procedimento. Se fôssemos bem impessoais ao lidar conosco mesmos,
nossas reações para com nossos semelhantes seriam perfeitamente corretas.

Cérbero, o cão de três cabeças, com um forte latido, com serpentes crescendo em todo o seu
corpo e uma outra como rabo, era guardião do Hades. As três cabeças simbolizam a sensação,
o desejo as boas intenções. É o amor às sensações que leva a humanidade de um lado para
outro para satisfazer à fome no mundo econômico ou para satisfazer o desejo de felicidade em
um mundo de prazer. Os violento impactos da sensação são buscados para manter a mente
ocupada. Hércules buscou atingir em primeiro lugar a cabeça central porque ela era a mais
importante, uma vez que o desejo subjaz a todas as sensações; é o que o desejo procura
expressar e assim ganhar satisfação no mundo exterior. A terceira cabeça é a das boas
intenções que não passam da intenção. Assim, tem-se no centro o desejo, em um lado a
sensação exemplificando todos os impactos, e do outro lado a terceira cabeça, das boas
intenções jamais concretizadas, pelo que, desde há muito se diz que: “O inferno está cheio de
boas intenções”. O rabo feito de serpentes representa todas as ilusões que impedem o
progresso da vida espiritual; o materialismo que nos detém no nível inferior da existência; a
natureza psíquica inferior, que causa tanta destruição; o medo, sob qualquer manifestação; o
medo do fracasso, que impede tantos de agirem, criando somente a inércia.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

Em trabalhos anteriores, vimos que Hércules passara pelo seu inferno pessoal, simbolizado
pelos diferentes pântanos. Neste, ele ingressa no inferno coletivo. Tendo aprendido a lidar
com o próprio subconsciente, tem condições agora de servir em âmbito maior. Essa ampliação
de sua capacidade de prestar serviço é uma verdadeira realização, do ponto de vista da alma.
Não se pode aprender por “ouvir dizer”, mas apenas por meio da vivência. As três cabeças de
Cérbero, guardião do Inferno, simbolizam a sensação, o desejo e as boas intenções, A cabeça
central, o desejo, é logo atacada por Hércules, porque é a principal delas, a que motiva e dirige
as outras. Todos sabemos que as boas intenções da criatura humana quase nunca
correspondem à sua verdadeira necessidade ou à de outrem; elas têm origem no desejo, e por
isso permanecem em nível ilusório, como que lutando contra moinhos de vento. Quanto às
sensações, sempre deixam a mente ocupada, quando esta deveria estar livre.

No Trabalho relativo às maçãs de ouro, pudemos ver que Prometeu também estava presente,
simbolizando o próprio eu superior de Hércules acorrentado à matéria. Neste décimo
Trabalho, o herói encontra-o novamente, porém em outra etapa de sua história evolutiva: aqui
a situação de Prometeu representa a situação de toda a humanidade, que só pode ser
libertada por Hércules depois que ele próprio tenha deixado de ser prisioneiro. Na verdade, à
medida que nos libertamos das cadeias que nos prendem e que nos tornamos aptos a ajudar o
próximo é que passamos a ser cada vez mais úteis ao Plano Evolutivo.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.

Sugestão para aplicação prática deste estudo:

A- Trabalho para liberar a humanidade do desejo que tem pela matéria:

Identificar as setas da vida desenvolvidas no Nono Trabalho e assumir os serviços impessoais


correspondentes. Dar atenção especial ao coletivo, aos desconhecidos.

Reflexões Sobre o Décimo Trabalho

Um dos primeiros aspectos interessantes a considerar por aqueles que pretendem seguir as
orientações contidas no mito é que para poder participar deste Décimo Trabalho é necessário
ter identificado as setas que a vida nos oferece, proposta do Nono Trabalho. As “setas”
características de Sagitário nos mostram o caminho a seguir para que agora possamos subir a
“montanha” característica do bode de Capricórnio.

Alguns aspectos observados no mito:

1. O Instrutor adverte que força e sabedoria serão necessárias, exatamente as


características de Capricórnio.
2. A espada de Hércules não atinge a Medusa, ao contrário da Hidra no Oitavo Trabalho.
Ou seja, no oitavo, o herói resolve o próprio subconsciente, a Hidra está dentro dele próprio.
Agora, Hércules não consegue atingir a Medusa pois esta simboliza o subconsciente coletivo,
não é pessoal, individual. O rio de almas dos mortos também já indica um trabalho para o
coletivo.

3. Hércules é orientado para estar com as mãos vazias para derrotar Cérbero. Uma vez
que o conflito humano é um dos principais alimentadores da negatividade do subconsciente e
que o desejo humano é o principal alimentador do conflito, mãos vazias simboliza
esvaziamento do desejo pessoal, das aspirações pessoais. O estudante que deseja participar da
aplicação deste Trabalho estará contribuindo para a libertação dos desejos pessoais da
humanidade.

Alice B., em seu texto, sugere que a impessoalidade deve ser buscada primariamente consigo
próprio antes de praticá-la com as demais pessoas. Para isso, é necessário aplicar o padrão
ético, o nível de consciência que já se atingiu, ser fiel a ele e evitar fazer concessões nos
avanços já alcançados.

Diante de uma situação conflitante, cada um sabe, segundo seu nível de consciência, qual é a
atitude correta a tomar, a forma correta de proceder. A impessoalidade consigo próprio está
em não fazer concessões ao próprio critério ético já alcançado.Por exemplo: suponhamos que
o seu nível de consciência já percebe que não se deve comer além do necessário. Que comer
mais do que requer a própria nutrição diária pode significar deixar de distribuir alimento para
pessoas carentes. Então, esta pessoa estará praticando a vida impessoal se respeitar a ética já
alcançada e não comer unicamente para sentir prazer. Portanto, buscar uma conduta
impessoal implica em não fazer concessões aos avanços que sua consciência já alcançou.

É importante perceber que para descer ao inferno do subconsciente coletivo e prestar um


serviço eficaz requer um grande amadurecimento evolutivo do servidor. Ele necessitará já ter
suplantado o desejo pelas atrações da matéria. Sabemos que esta é uma condição de poucos
indivíduos neste momento, porém podemos trabalhar, podemos buscar e desejar esse avanço
evolutivo. Podemos respeitar um padrão ético que nos permita crescer na impessoalidade
paulatinamente.

A partir deste trabalho fica bem mais difícil falar de aplicação prática, contudo sugerimos que
fiquemos atentos aos sinais que a vida nos oferece e possamos assumir as respectivas tarefas
grupais e, quem sabe, aquelas tarefas que visem ao bem grupal, às pessoas desconhecidas.

Décimo Primeiro Trabalho:

LIMPANDO OS ESTÁBULOS DE ÁUGIAS

“Os homens só alcançam as alturas quando ajudam outros homens a alcançá-las.”

Hércules vive agora uma experiência que determina uma grande e definitiva mudança em sua
vida: tendo acendido em si a própria lâmpada por meio do serviço altruísta e do alinhamento
com os níveis superiores de sua consciência, ele deverá levar essa luz até os demais seres.
Aqueles que acompanham sua evolução estão muito atentos ao seu desenvolvimento, porque
é a partir do momento em que essa luz se acende que o homem não tem mais possibilidade de
retorno à completa ilusão. De agora em diante, Hércules será co-criador consciente, e não
mais poderá voltar atrás em suas intenções interiores.

É, portanto, convocado a ir ao encontro de um “farol”, e não mais de uma incerta e pequenina


luz. Esse farol, que também está dentro dele, faz parte da mesma luz, mas apresenta muito
menos véus. Hércules precisa agora mudar o sentido de seus passos; em vez de prestar tanta
atenção a si mesmo, deve voltar as costas ao que construiu e ir ao encontro dos que caminham
nas trevas, dos que não acenderam, ainda, a própria lâmpada. O Instrutor faz-lhe, então, a
proposta de dirigir-se ao reino de Áugias, território que precisa ser limpo de um mal ancestral.

Um insuportável mau cheiro começa a se fazer sentir, à medida que Hércules se encaminha
para lá . A imensa Região onde Áugias é rei simboliza o senso da propriedade, arraigado no
homem desde tempos imemoriais.

Esse reino existe há eras, e o seu mau cheiro provém de excrementos acumulados por séculos
e séculos. Durante todo esse tempo em que seu gado defecou nos estábulos, jamais houve
limpeza alguma. Também os antigos campos, originalmente destinados à agricultura, estão
completamente cobertos de dejetos, e nenhuma vegetação é possível ali. Há tanto estrume
amontoado nessa imensa propriedade de Áugias, que uma epidemia começa a alastrar-se por
todo o reino, dizimando centenas de vidas humanas.

Hércules segue para o palácio do rei. “Sou o dono de tudo”, diz-lhe Áugias, logo que o vê
diante de si. “Sempre fui o dono, e nestas terras só acontece o que eu permito”. O herói não
lhe inspira confiança, principalmente porque não lhe está pedindo recompensa alguma pelo
trabalho que se propõe realizar.

“Só um incompetente se disporia a limpar os estábulos da minha propriedade sem receber


recompensa alguma”, afirma. Sem se importar com o que o soberano diz, Hércules,
serenamente, insiste em realizar a tarefa.

“Pois bem”, diz o rei, “não tenho confiança em quem se diz desprendido. Você deve ter um
plano oculto, deve ser um astucioso que visa usurpar meu reino, minhas terras e meu bois. No
fundo, o que você quer é ficar com o meu trono. Uma questão de jogo de poder. Mas, enfim,
vou fazer uma concessão e permitir que você trabalhe aqui”.

O rei nunca ouvira falar de homens que procuram servir ao mundo sem qualquer interesse.
Isso para ele, grande proprietário, era uma novidade, mas a necessidade de limpeza era tão
grande, que ele disse aceitar a presença de qualquer idiota disposto a empreendê-la.

Faz então um trato com Hércules, porque, segundo ele, “ficaria desmoralizado se não tomasse
precaução contra aventureiro tão excêntrico”. Para não ser censurado por seus milhões de
súditos e para não ser considerado um rei imbecil, propõe que o guerreiro limpe todos os
estábulos num só dia. “Se conseguir fazê-lo, receberá a décima parte do meu imenso rebanho,
mas, se falhar, será morto”, afirma ele.

O guerreiro aceita.

Deixa o rei com sua descrença e caminha um pouco pelas terras malcheirosas e pestilentas.
Carroças passam por ele, carregando pilhas de cadáveres, vítimas da epidemia e da sujeira
generalizada. Mais um pouco e o mundo todo estaria envolvido nesse ambiente de morte. É
preciso, pois, impedir isso já . Hércules fecha os olhos e procura concentrar-se. Minutos
depois, quando os abre, constata que ali por perto há dois rios que correm calmamente. De
pé, na margem, ele vê as águas passarem. Vem-lhe então à mente, oriunda dos níveis elevados
de sua Consciência, uma idéia clara e definitiva: a de desviar o curso dos rios, o que pode ser
feito em poucas horas, e deixar que as águas passem pelos estábulos. As correntes, ao fluírem,
carregarão consigo toda a sujeira das fezes acumuladas há séculos.

E assim faz: desvia o curso das águas e fica assistindo à limpeza das terras. Em pouco tempo, o
reino é lavado e, num único dia — conforme o trato feito com o rei — a tarefa está pronta.
Agora, respira-se outro ar. As terras, desobstruídas, começam a criar vida nova. Hércules,
vendo o resultado, volta à presença do rei.

Áugias esbraveja, muito agressivo: “Não foi você que limpou as terras. Impostor que é, você
valeu-se de um truque, utilizando as águas dos rios que aqui correm, a fim de dar
cumprimento a tarefa que lhe cabia”. Completamente irado, por fim, o rei vocifera: “Você
armou um complô com tudo isso, para se tornar querido entre meus súditos e roubar-me o
trono. Saia daqui o quanto antes, se não quiser que eu lhe corte a cabeça”. Sem nada
responder, o guerreiro retira-se. Algo lhe diz que a tarefa está cumprida e que deve prestar
contas aos Seres que tudo presidem, e não ao governante daquelas terras. E, assim, volta-se
para o seu Instrutor, de quem ouve esta frase: “Agora você se transformou em um ser a
serviço do mundo.”

Algumas características marcam um ser já evoluído, como o Hércules deste penúltimo


Trabalho. O serviço desinteressado é a primeira delas, e é feito quando a consciência não está
mais centrada no ego humano, nas suas pseudonecessidades e expectativas. Agora, trabalha-
se indo ao encontro das reais necessidades dos outros. Isso, porém, é realizado sem qualquer
sentimento de estar perdendo algo em benefício de terceiros. Nenhum pensamento ou
sentimento desse gênero passa por Hércules; ele simplesmente serve, sem sentir-se subtraído
em nada. Não há esforço algum nessa sua doação. A segunda característica do ser a serviço do
mundo é a capacidade de trabalhar em grupo. Nesta história, porém, à primeira vista o herói
parece executar a tarefa sozinho. O que significa, então, trabalhar em grupo, no ponto
evolutivo já alcançado por ele? Esquecido de si mesmo, diante da tarefa em prol da
humanidade, concentra-se no centro da própria consciência; assim, fica internamente unido a
todos os seus semelhantes, formando, na realidade, um grupo. Dessa consciência integrada à
humanidade como um todo flui uma energia especial, capaz de remover montanhas. A terceira
característica é a pureza, que implica estar mais alinhado com os próprios níveis superiores de
consciência. O trabalho de um ser a serviço nem sempre parece importante aos olhos dos
outros. Geralmente ele tem o mesmo caráter de simplicidade que tem a tarefa de limpar
estábulos, tida por todos como de somenos importância. Qualquer que seja a forma que esse
trabalho assuma (lidar com excrementos, promover a higiene de um local), esse serviço não
visa ao benefício próprio de quem o executa, mas ao benefício geral. Seja qual for a sua
natureza, ou o grau de evolução de quem o realiza, o que conta são a vida e o amor
empregados na tarefa. Importa executá-la e, em seguida, retirar-se de cena, pois os resultados
não pertencem a quem serve.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.


Hércules, sendo o iniciado, deveria fazer três coisas, que podem ser resumidas como as
características principais de todos os verdadeiros iniciados. Se não estiverem presentes em
alguma medida, o homem não é um iniciado.

1. Serviço impessoal. Este não é o serviço que prestamos porque nos dizem que o serviço
é um caminho de libertação, mas o serviço prestado porque nossa consciência não é mais
centrada em nós mesmos. Não estamos mais interessados em nós mesmos, pois, sendo nossa
consciência universal, nada há a fazer, a não ser assimilar os problemas de nossos semelhantes
e ajudá-los. Para o verdadeiro Mestre de Aquário isso não representa esforço.

2. Trabalho grupal. Isto é alguma coisa sobre a qual ainda pouco sabemos. O mundo está
cheio de organizações e sociedades, fraternidades que ficam felizes em dar oportunidade de
treinamento a pessoas ambiciosas. Não quero dizer para não serem bondosos, mas minha
experiência com o grupo comum é que ele é um canteiro de ciúmes, de pessoas tentando
impressionar as outras com a quantidade de conhecimento e a maravilha de suas vidas de
auto-sacrifício. Isto não é trabalho grupal. O trabalho grupal é permanecer sozinho
espiritualmente na manipulação dos assuntos pessoais, esquecendo completamente de si
mesmo e se inserir no bem-estar do segmento da humanidade ao qual se está associado. O
servidor nega a ambição; ele nega o progresso vertical em qualquer loja ou organização; ele
nega qualquer pretensão a assumir prerrogativas oficiais.

Não penso que os novos grupos terão quaisquer administradores burocratizados, mas
trabalharão automaticamente devido ao intercâmbio espiritual institucional entre as mentes
das unidades nos grupos. Nada sabemos a respeito disso, por enquanto. Vocês serão capazes
de pensar em um grupo tão unido em níveis espirituais que cartas, panfletos, livros, etc.,
possam ser eliminados; que a intercomunicação entre as mentes dos membros do grupo seja
perfeita? Esse é o grupo Aquariano, e ele não está conosco por enquanto.

3. Auto-sacrifício. O significado do auto-sacrifício é tornar o ego sagrado. Isto lida com o


ego do grupo e o ego do indivíduo; esse é o trabalho do iniciado.

Do topo da montanha em Capricórnio, Hércules tem de descer, literalmente até a sujeira da


matéria e limpar as estrebarias de Áugias. Quero dar-lhes uma idéia de sua psicologia. Ele
havia escalado até o cume da montanha. Ele havia passado por todos os grandes testes,
passando de Capricórnio para o reino espiritual e conheceu algo do significado do êxtase
místico, e naquele elevado estado espiritual, recebeu a palavra para descer e limpar os
estábulos. Que anti-clímax! Nenhum grande trabalho mundial, mas limpar estábulo!

O objeto do teste pode ser resumido desta maneira: Hércules tinha de ajudar na limpeza do
mundo pela direção certa das forças da vida através desse mundo.

Primeiro, Hércules derrubou a parede que cercava os estábulos, depois ele fez dois grandes
buracos em seus lados opostos e fez com que dois rios corressem através deles. Ele não tentou
varrer e limpar, como outros haviam feito, mas rompeu as barreiras usando dois rios. Sem
esforço de sua parte, os estábulos foram limpos.

Quais foram as duas coisas que Hércules fez? Ele rompeu todas as barreiras. Essa é a primeira
coisa que tem de acontecer na era de Aquário. Estamos apenas começando a fazê-lo. Estamos
apenas começando a pensar em termos amplos, a deixar de sermos exclusivos. Emergindo no
mundo estão grupos de homens e mulheres, em toda parte, que estão se empenhando para
serem inclusivos em seus pensamentos, porque na era de Aquário, as nações, tal como as
conhecemos, terão de desaparecer. Nações lutando umas contra as outras e pelo que elas
querem, nações lutando só para si próprias, o cultivo do patriotismo que é freqüentemente o
cultivo do ódio, desaparecerão. Temos de ensinar às pessoas que elas são seres humanos com
certas responsabilidades, sim, mas podemos começar a obter um quadro maior, a desenvolver
a consciência da humanidade como um todo.

Cultivemos o espírito de Aquário da não-separatividade, do amor, da compreensão, da


inteligência, livres da autoridade, buscando tirar de cada ser humano com quem nos
deparamos, o melhor que neles existir. E se não souberem fazê-lo, não os culpem e sim a si
próprio. Essa é a verdade. Se alguém interpretar vocês erradamente, é porque vocês não terão
sido claros. A referência a si próprios é sempre necessária em Aquário, mas não a consciência
pessoal que agora conhecemos. Quando tivermos rompido as barreiras da separatividade,
então deixaremos entrar os dois rios, a água da vida e o rio do amor. Não posso falar sobre
esses dois rios porque não sei o que eles são. Muitos falam sobre a vida e o amor; eles usam
palavras. Eu não sei o que é a vida e nós certamente ignoramos o que seja o amor.

Quando você tiver feito todo o possível para romper as paredes e expressar a vida e o amor,
ajudado pela própria alma cuja natureza é amor-sabedoria, não espere por reconhecimento;
não o receberá.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

Sugestão para aplicação prática deste estudo:

A- Trabalho com o rompimento de barreiras. Reconhecer dentro de si as atitudes que levam à


separatividade e procurar transformá-las.

B- Trabalho com o aprofundamento do serviço. No trabalho grupal, resgatar de cada ser


humano o melhor que nele existir.

Reflexões sobre o Décimo Primeiro Trabalho

Este décimo primeiro Trabalho nos apresenta a fraternidade. E o mito mostra o maior
obstáculo para a sua aplicação e desenvolvimento: o senso de propriedade evidenciado pelo
temor demostrado pelo rei de que seu trono seja roubado.

Esse apego faz também com que o rei não acredite que o herói possa executar um trabalho em
suas terras de forma gratuita, desinteressada. E, quando Hércules executa a tarefa, o rei se
volta contra ele, e nesta situação, duas evidências são reveladas:

1. Que é necessário que aqueles que avançam em consciência se voltem para auxiliar na
purificação de todos.

2. Que o serviço desinteressado será questionado e confrontado pelos que ainda não
atingiram esse estágio de desenvolvimento de consciência.

Além disso, o confronto também ocorre pelo receio do rei ser considerado imbecil pelos seus
súditos, ou seja, pelos que também pensam como ele. Porém a essa altura do
desenvolvimento o ser que esteja no nível do décimo primeiro Trabalho não espera
recompensas no plano material.

É interessante perceber a relação entre o nono Trabalho, onde a meta espiritual é claramente
visualizada, identificada; o décimo, onde depois de visualizada, se é alcançada, o que
possibilita a limpeza do subconsciente coletivo; e agora neste décimo primeiro, onde o
buscador “volta” ao plano material para colaborar com sua purificação. Hércules desce da
montanha que havia subido, simbolicamente representada pelo signo de Capricórnio, e vai
limpar estábulos.

Devemos nos atentar que apesar de ter que limpar os estábulos que jamais foram limpos, o
herói o executa sem se contaminar com os dejetos, mas sim encontrando uma solução
intuitiva que o faz aproveitar os rios para a lavagem dos estábulos malcheirosos. São dois os
rios utilizados mostrando a união pelas polaridades com o objetivo de purificação.

Alice Bailey nos ensina que a fraternidade aquariana aqui proposta ainda não existe entre nós.
Ela permitiria que cooperássemos sem a utilização de comunicações que existem no plano
material como cartas, panfletos ou livros. Porém ela será futuramente alcançada quando
automatizarmos inteligentemente o nosso mental. Mantendo as devidas proporções, essa
comunicação cooperativa já existe entre as abelhas e as formigas.

O signo de Aquário simboliza a fraternidade e a genialidade entendida como o aspecto novo,


original. São dois os rios do Mito, assim como são duas as vertentes do vaso invertido no signo
de Aquário. O rio do amor está relacionado com a fraternidade interna e o rio da vida é a
genialidade que se consegue quando os limites são dissolvidos, ou seja, quando nada pode
impedir a manifestação da Vida.

A sugestão para aplicação cotidiana objetiva aperfeiçoar a harmonia entre as pessoas por meio
da quebra dos limites identificando e transformação dos confrontos e aperfeiçoamento do
serviço. Serviço que já foi amplamente praticado nos Trabalhos anteriores, mas que aqui
adquire uma nova sutileza. Buscar o que há de melhor nos outros requererá uma grande
abnegação e amor ao próximo e uma conseqüente união.

Décimo Segundo Trabalho

CONDUZINDO O GADO VERMELHO

0 guerreiro é mandado para Eritréia, onde a grande ilusão mundial ainda domina e onde
Gerião, monstro de três cabeças e três corpos, é senhor. Gerião mantém, ilegalmente, sob seu
poder uma manada de gado vermelho-escuro. A tarefa proposta a Hércules é conduzir esse
rebanho do seu lugar de origem até a Cidade Sagrada, que, em parte, ele já conhece de
trabalhos anteriores.

0 Instrutor interno faz ressoar dentro dele a recomendação de que tenha cuidado com o
pastor Euritião e com o seu cão de duas cabeças. Segundo o Instrutor, para lidar com ambos é
necessário invocar a ajuda de Hélius, que só é encontrado nos planos interiores da vida. Trata-
se, aqui, portanto, de uma tarefa das mais sutis.

Dentro de si, Hércules se oferece a Hélius, tido na mitologia como o deus do fogo, que habita o
interior do Sol. Um conhecimento interno lhe revela que, em certa etapa da evolução da
consciência humana, foi necessária a ajuda de determinada substância, vinda do centro do
Sistema Solar, para que um núcleo de consciência superior fosse criado dentro do nosso ser.
Com esse núcleo, feito de vibrações solares, nasceu a alma (o eu superior) nos homens e,
assim, pôde haver uma síntese, ou seja, a integração da consciência cósmica com a consciência
terrestre.

Apelar para esse ser solar que existe em nós é imprescindível, quando se trata de enfrentar
tarefas que exigem qualidades especiais. Hércules volta-se para o centro da sua própria
consciência e, desse modo, no interior de sua essência, contata essência ainda mais vasta.
Após sete dias de recolhimento, uma dádiva lhe é concedida: um cálice de ouro cai diante de
seus pés. Esse objeto brilhante, nunca visto, vai capacitá-lo a atravessar mares e desertos. Sob
a proteção segura do cálice de ouro e com as recomendações do seu Instrutor interno, o
salvador Hércules navega até Eritréia e lá desembarca.

Depois de caminhar durante algum tempo, chega a uma pastagem onde um gado de cor
vermelha se alimenta, sob a guarda de Euritião e o seu cão de duas cabeças. Este, ao ver
Hércules aproximar-se, investe contra ele, mas acaba sendo morto com um golpe certeiro do
herói. Amedrontado, o pastor Euritião percebe o poder daquele ser e implora-lhe que lhe
poupe a vida. O herói acata-lhe o pedido e começa a conduzir o gado cor-de-sangue em
direção à Cidade Sagrada.

Esta tarefa de transportar o rebanho exige muita paciência e uma vontade férrea. Assim, o
guerreiro iluminado pela alma volta definitivamente sua face para a meta empreendida e não
tira sua atenção de lá. Entretanto, inesperadamente, o monstro de três cabeças e três corpos,
chamado Gerião, alcança Hércules no caminho e ataca-o. Este, numa reação instantânea, com
uma só flechada, perfura-lhe os três corpos.

Novas dificuldades aguardam Hércules durante o trajeto: um feroz lutador ameaça-o e um


gigante atira-lhe uma pedra de várias toneladas. Mas de tudo isso ele escapa. Tem a proteção
do cálice de ouro, dádiva do Sol, e nada é impossível para essa essência extraterrestre.

Por várias ocasiões o herói tem de abandonar o rebanho para ir buscar alguma rês desgarrada;
no decorrer do caminho, em sua última tarefa, Hércules às vezes perde a direção (dado que
ainda não é um ser perfeito), mas sempre a retoma com a ajuda interna do seu Instrutor.
Assim, segue por altas montanhas e caminhos estreitos e perigosos.

Embora o gado se distraia, constantemente atraído por acontecimentos externos, o equilíbrio


é mantido e o rebanho todo conduzido para o esperado destino.

Eis a reta final dos Trabalhos. As luzes da Cidade Sagrada estão ficando cada vez mais
próximas, e lá o gado vermelho deverá entrar, para finalmente transformar-se. O poder
transformativo é típico desse local extraordinário.

“Seja bem-vindo! Agora você sabe que é imortal”, diz-lhe o Instrutor, à porta da Cidade. No
decorrer dos doze Trabalhos, Hércules conquistara seu próprio lado humano e assumira sua
essência divina. Agora, tudo isso convive dentro dele, aguardando uma unificação ainda mais
perfeita em um ciclo futuro. Na Cidade Sagrada, que é sua próxima morada, ele poderá ficar
por algum tempo, até que chegue a hora de partir para esferas de existência mais amplas.

O Instrutor continua transmitindo-lhe idéias. Diz-lhe que seu nome está escrito no firmamento,
que sempre estivera lá ao lado das estrelas mais gigantescas, mas era preciso que ele o
identificasse. A Via-láctea, que agora Hércules vê constantemente diante de si, é símbolo do
destino imortal de todos os seres humanos que decidem caminhar como ele.
Dos símbolos apresentados neste mito, Gerião, monstro que Hércules mata, representa a
humanidade não-iluminada. Os três corpos do monstro simbolizam a consciência física,
emocional e mental humanas, unidas contra as energias evolutivas. Através do orifício feito
com a flecha em cada um desses corpos, penetra no seio da humanidade uma nova corrente
de vida. Ao ser “morta” poderá revelar o que realmente é: manifestação da vida divina.

O pastor Euritião representa a mente humana, e o cão de duas cabeças, sua natureza dual. A
mente (que depois se torna uma colaboradora) à princípio é o cão de duas cabeças e depois é
Euritião, o pastor. Todas essas figuras simbólicas nos dizem a mesma coisa, em diferentes
graus A ilusão mental apresenta-se sob diversas formas, porque, assim, de alguma maneira
consegue prender o homem que ainda está na escuridão. À medida, porém, que a
personalidade se vai elevando, a luz ilumina-lhe o caminho, e ele finalmente vê.

Lembrando-nos da morte da rainha guerreira e dos centauros, em Trabalhos anteriores,


caberia aqui uma indagação: como pôde Hércules matar, neste estágio evolutivo em que se
encontra? Não havia ele decidido jamais fazer isso? Na verdade, a noção de matar pertence ao
mundo da mente comum; quando transcende o nível onde tempo e espaço são tidos como
finitos, o homem ingressa em um estado de consciência no qual nem a morte nem o
nascimento existem, assim como nós os concebemos; nesse estado, o tempo é uma
eternidade e o espaço, multidimensional. Nesses níveis superiores ninguém morre. Aquele que
acaba de desencarnar na Terra é tido aí como um recém-nascido — pois está chegando ao
níveis sutis após um estágio nos planos mais densos da vida, que são o físico, o emocional e o
mental. Portanto, em termos do ponto evolutivo já alcançado pela consciência de Hércules
não existe matar, mas eventualmente servir de instrumento para que uma vida que estava
prisioneira da matéria se liberte e tenha a oportunidade de vivenciar outros planos de
existência.

Extraído do livro HORA DE CRESCER INTERIOMENTE. Trigueirinho.

Ouvimos sobre o fracasso do Cristianismo. Não vejo fracasso em lugar algum no Grande Plano.
Talvez lentidão, mas vocês sabem quão desastroso seria se a evolução fosse muito rápida,
quão perigoso seria se as pessoas fossem super-estimuladas antes de estarem prontas? Todos
os instrutores conhecem os perigos da super-estimulação, os desastres que ocorrem quando
se fazem certos contatos antes que o mecanismo esteja devidamente sintonizado. Os
salvadores mundiais têm de trabalhar lentamente, mas o tempo nada significa para eles. i

O termo salvador mundial esteve até agora associado com o pensamento da emergência de
um grande filho de Deus oriundo da casa do Pai, chamado pela necessidade da humanidade de
fazer um grande trabalho. Eles sempre vieram através dos tempos, habitaram corpos
humanos, agiram através de uma natureza emocional e se mostraram extraordinariamente
inteligentes. Por suas vidas, deram um exemplo a fim de que pudéssemos seguir seus passos;
por suas palavras, entoaram a nota, a mensagem que a humanidade necessitava para dar o
passo imediatamente seguinte. Em suas ações, deram uma demonstração de serviço, andaram
pelo mundo fazendo o bem, e seus nomes ficaram conosco através dos séculos. É preciso ser
uma figura muito dominante para permanecer nas mentes dos homens por milhares de anos.
A maior parte de nós todos é esquecida em vinte anos.

Como pode vir o Salvador Mundial? Ele poderia vir, como já veio antes, em forma física, com
sua eventuais desvantagens. Há, emergindo no mundo de hoje, novas faculdades que não se
demonstravam quando ele veio antes. Somos muito mais sensíveis; estamos muito abertos,
uns aos pensamentos dos outros, e se um pensador potente, como o Cristo, seja lá o que
queiramos dizer por essa palavra, está em relação com os assuntos mundiais, quer-me parecer
que ele poderia tentar outro método.

Em cada país encontram-se aqueles que sabem; não digo aqueles que dizem saber. Mas há um
grupo de seres humanos, integrando-se agora, que não fazem ruído, que não se ocupam
consigo mesmos. Estão iniciando movimentos que contêm a nova vibração, estão dizendo
coisas que são universais, estão enunciando princípios que são cósmicos, inclusivos e não
exclusivos, que não se importam com a terminologia que se use; insistem que o homem
manterá a sua própria estrutura interna da verdade para si próprio e não a imporá sobre
ninguém mais; eles se reconhecerão onde quer que se encontrem, falam uma língua universal,
demonstram a luz universal, são servidores e não alimentam interesses egoístas.

Peixes rege os pés e daí a idéia de trilhar o Caminho e alcançar a meta ter sido a revelação
espiritual subjacente à era de Peixes.

Peixes é também o signo da morte sob vários aspectos. A morte do corpo, algumas vezes, ou
talvez alguma velha tolice tenha chegado ao fim, a devoção a alguma forma religiosa de
pensamento que reteve o aspirante agora talvez acabe e este emergirá, pondo os pés em um
novo caminho. É o signo da morte da personalidade.

Extraído do livro OS TRABALHOS DE HÉRCULES. Alice Bailey

Sugestão para aplicação prática desse estudo:

A-Procurar fazer o que for melhor para o Grupo.

Essa sugestão pode ser melhor aproveitada na unificação das propostas dos três últimos
Trabalhos:

1. Buscar e construir por meio das “setas” da vida, a sua verdade. Reconhecer cada parte
da verdade em todas as pessoas.

2. Assumir os serviços impessoais identificados pelas setas da vida.

3. Resgatar de cada ser humano o melhor que nele existir.

Reflexões sobre o Décimo Segundo Trabalho

Este décimo segundo Trabalho é um dos mais simples de ser compreendido, apesar de sua
enorme profundidade no que se refere ao nível de consciência que ele propõe. Inicialmente, o
Mito sugere que o grande conflito humano é a ilusão dos três níveis da personalidade, o físico,
o emociona e o mental, representado por Gerião, monstro de três cabeças e três corpos que
mantém presa a humanidade.

Euritião, o pastor, representa a mente de cada um, que não precisa e não deve ser destruída,
basta que sua dualidade seja resolvida por meio da eliminação do cão de duas cabeças, ou
seja, o equilíbrio das polaridades. Esse equilíbrio é favorecido quando não emitimos
julgamento quando nos encontramos diante de qualquer situação em nossa vida, quando não
tomamos partido, quando não consideramos cada vivência como boa ou ruim. O Mito ensina
que para não se envolver com as polaridades é necessário obter ajuda dos planos internos, da
alma. Dela recebe o Cálice de Ouro que lhe permitirá ser protegido pois com o Cálice pode
receber os ensinamentos/instruções provenientes da alma.
A mente utilizará o Cálice para receber a Verdade, por isso não deve ser destruída, a mente é
um intermediário entre o impulso interno e sua realização no mundo material. A mente
possibilita a que possamos fazer o processo evolutivo conscientemente, ao contrário do reino
animal e do reino vegetal que evoluem inconscientemente, segundo ciclos cósmicos. Nosso
trabalho é disponibilizar nossa mente para obediência aos desígnios internos. A mente de cada
um é uma pequena parte da Mente do Mundo.

A recepção da Verdade com o Cálice nos torna Salvadores da humanidade. O décimo segundo
Trabalho nos mostra que dentro do Reino humano atingimos o último degrau evolutivo
quando nos tornamos Salvadores do mundo, quando assume sua essência divina e que a
continuação do processo evolutivo se dará em um próximo ciclo.

Na Astrologia aprendemos que o signo de Peixes representa a dissolução da personalidade


individual na personalidade coletiva como nos cardumes de peixes onde não se distingue cada
componente individualmente, mas sim todo o grupo.

A sugestão para aplicação prática nos convida a buscar encontrar soluções cotidianas para que
o grupo em que nos encontramos evolua, se eleve e se harmonize a cada momento. Para isso,
será adequado utilizar as sugestões do nono, décimo e décimo primeiro Trabalhos.

A proposta inicial deste estudo foi de procurarmos acumular a prática de todos os Trabalho
nesses últimos doze meses. Portanto, já possuímos a capacidade de continuar indefinidamente
esse estudo por meio da automatização, em nosso cotidiano, de todos os ensinamentos
contidos nos Trabalhos. Tal automatização nos proporcionará avanços de consciência.

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