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DIREITO PENAL I

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL

ESTEFAM, André; GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal esquematizado: parte geral.
São Paulo: Saraiva, 2012. Capítulo I. Página 39 – digital.

1. CONCEITO DE DIREITO PENAL

= O Direito Penal é o ramo do direito público


que se destina a combater os crimes e as contravenções penais,
por meio da imposição de uma sanção penal

= O Direito Penal é o ramo do Direito Público,


que se ocupa de estudar os valores fundamentais
sobre os quais se assentam as bases da convivência e da paz social,
os fatos que os violam e o conjunto de normas jurídicas (princípios e regras) destinadas a proteger tais valores,
mediante a imposição de penas e medidas de segurança

Objeto do Direito Penal: a totalidade dos fenômenos que constituem a tríplice: o fato, o valor e a norma.

A legitimidade do Direito Penal está fundamentada em três bases: o respeito à dignidade humana, à promoção dos
valores constitucionais e a proteção subsidiárias de bens jurídicos.

1.1. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL

FINALIDADE PREVENTIVA
= estabelece normas proibitivas e comina penas visando evitar a prática do crime

NORMATIVO
= tem como objeto a norma, é o direito positivo

VALORATIVO
= estabelece a sua própria escala de valores, ou seja, define quais são os delitos mais graves e comina sanções mais
rígidas

FINALISTA
= visa à proteção dos bens jurídicos fundamentais, como garantia da sobrevivência da ordem jurídica

SUBSIDIÁRIO
= pois não tutela todas as condutas

A proteção dada pelo Direito Penal é eminentemente subsidiária, pois resguarda apenas as situações em que a
proteção oferecida por outros ramos do direito não seja suficiente para inibia sua violação ou em que a exposição
a perigo do bem jurídico tutelado apresenta certa gravidade.

1.2. DIREITO PENAL OBJETIVO X SUBJETIVO

DIREITO PENAL OBJETIVO


= é o conjunto de normas em vigor, impostas pelo Estado

DIREITO PENAL SUBJETIVO


= é o direito que detém o Estado de punir o indivíduo que afronta o Direito Penal objetivo
1.3. DIREITO PENAL COMUM X ESPECIAL

DIREITO PENAL COMUM


= abrange as regras penas aplicáveis a todas as pessoas
Ex. Lei das drogas (L 11.343/2006)

DIREITO PENAL ESPECIAL


= aplica-se somente a pessoas que se enquadram em certas condições legalmente exigidas
Ex. Código Penal Militar

2. POSIÇÃO ENCICLIPÉDICA DO DIREITO PENAL

2.1. DOGMÁTICA PENAL


= disciplina que se ocupa da interpretação, sistematização e desenvolvimento dos dispositivos e das doutrinas no
âmbito do Direto Penal.
 Ciência normativa do direito penal

2.2. POLÍTICA CRIMINAL


= corresponde à maneira como o Estado deve enfrentar e combater a criminalidade por meio de políticas públicas
e da legislação penal
 Ciência política do direito penal

2.3. CRIMINOLOGICA
= constitui uma ciência empírica que busca, com base em dados e demonstrações fáticas, uma explicação causal do
delito como obra de uma pessoa determinada.
 Ciência empírica do direito penal

3. ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA

3.1. CRIMINOLOGIA CLÁSSIA


3.2. CRIMINOLOGIA POSITIVISTA
3.3. ESCOLAS SOCIOLÓGICAS DO CRIME
3.4. LABELLING APPROUCH
3.5. CRIMINOLOGIA CRÍTICA
3.6. CRIMINOLOGIA RADICAL
ESCOLAS PENAIS / SISTEMAS PENAIS

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, 1. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Capítulo IV – A evolução epistemológica do direito penal (p. 190 - digital)
Capítulo V – A evolução epistemológica do direito penal (p. 236 - digital)
Capítulo XII – A Evolução da teoria geral do delito (p. 554 - digital)

ESTEFAM, André; GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal esquematizado: parte geral.
São Paulo: Saraiva, 2012.
Capítulo V – Escolas Penais (p. 152 - digital)
Capítulo XII – Sistemas penais (p. 253 - digital)

Conceito de Escolas Penais


= a designação Escola Penal compreende um conjunto harmônico de teorias sobre alguns dos mais importantes
problemas penais, como a definição do crime, a finalidade da pena e a razão de ser do direto de punir do Estado,
por meio de um método científico.

= o corpo orgânico de concepções contrapostas sobre a legitimidade do direito de punir, sobre a natureza do delito
e sobre o fim das sanções.

Sistemas Penais
= o sistema penal representa um conjunto de elementos,
cuja interação, segundo determinadas teorias e por meio de um conjunto de normas (princípios e regras),
forma o conceito analítico de crime.

1. ESCOLA CLÁSSICA

Marco teórico: Cesare de Beccaria, Dos Delitos e Das Penas (1764).


 Suas ideias serviram de fundamento básico para a Escola Clássica, que representou a humanização das
Ciências Penais.

Defendem a restauração da dignidade humana e do direito do cidadão perante o Estado.

O sistema clássico sofreu grande influência, em suas bases filosóficas, do positivismo científico (final do século XIX).
Portanto segue a linha do positivismo jurídico.

Final do século XIX e início do século XX

Principais pensadores: Liszt, Beling, Binding

Define o que é crime: é uma conduta humana típica, antijurídica, culpável e punível.

Elementos que compõem o crime (elementos definidos pela Escola Clássica, válida até hoje):
1. Tipicidade
2. Antijuridicidade
3. Culpabilidade
4. Punibilidade
2. NEOKANTISMO (NEOCLÁSSICO)

Baseada na filosofia de Kant

O neokantismo, diferentemente do naturalismo (filosofia inspiradora do sistema clássico), procurou dar


fundamento autônomo às ciências humanas (em vez de submetê-las ao ideal de exatidão das ciências naturais).

Dualismo metodológico: as ciências naturais utilizam o método empírico; enquanto as ciências do espírito
(humanas) utilizam o método valorativo.

Pensamento contrário à Escola Clássica e ao positivismo jurídico. Ou seja, não aceita o estudo do direito penal de
forma isolada, sem o estudo das ciências do espírito.

A ciência penal, por ser ciência do espírito, deve utilizar o método valorativo.

O direito penal é uma realidade referida a valores.

Valor último do direito penal é a Justiça

Início do século XX

Principais pensadores: Radbruch, Sauer, Mezger, Frank

Problemas do neokantismo
1. Dualismo metodológico rígido deixou o direito penal apenas no âmbito do dever ser
2. Relativismo axiológico: não se preocupou em definir quais os valores o Direito Penal deve se referir

A importância do neokantismo foi a introdução de análise material para os elementos que compõe o conceito de
crime. Portanto, o neokantismo quebrou a análise puramente formal, técnica, da Escola Clássica.

Nazismo: utilização da teoria neokantiana para fundamentar o pensamento jurídico-penal da época.

3. FINALISMO

Difundido a partir da década de 1930

Principal pensador: Hans Welzel


Criticava o método valorativa do neokantismo

Foi influenciado pelas vertentes da filosofia da Fenomenologia (estudo da essência dos fenômenos) e Ontologia
(estudo da essência do ser).

O sistema finalista aproxima-se filosoficamente das “doutrinas fenomenológico-ontológicas que buscavam dar
ênfase a leis estruturais do ser humano e torná-las o fundamento das ciências que se ocupam do homem

O finalismo foi a base para a edição do Código Penal Brasileiro.


Mudança da análise do dolo e da culpa. O dolo e a culpa passaram a integrar a tipicidade.
Obs: na escola clássica, dolo e culpa integravam a culpabilidade

Para esta escola, a finalidade é essencial, portanto, a existência de dolo ou culpa é fundamental para haver um
crime

Contribuição à ciência do direito penal: dolo e culpa integram a tipicidade.


4. FUNCIONALISMO

Discute qual é a função do direito penal e qual é a função de cada elemento que compõe o crime

Para Roxin, trata-se da proteção subsidiária de bens jurídicos (funcionalismo racional-teleológico). Para Jakobs, a
função do deito penal é a garantia da vigência (eficácia) da norma

As duas correntes mais relevantes do funcionalismo são:

FUNCIONALISMO TELEOLÓGICO RACIONAL (CLAUS ROXIN)


Segue a filosofia de Kant

Função do direito penal = é a proteção de bens jurídicos

Bens jurídicos = valores ou interesses que a sociedade selecionou para o Direito Penal proteger

Ex. de bens jurídicos: vida, liberdade, propriedade, saúde, meio ambiente

Os bens jurídicos selecionados para proteção do Direito Penal estão na CF88 e na Declaração Universal dos
Direitos Humanos

Valor último para o qual o direito penal se refere: dignidade da pessoa humana.

FUNCIONALISMO (NORMATIVISMO) RADICAL (GÜNTHER JAKOBS)


Segue a filosofia de Hegel

Função do direito penal = é a proteção da vigência da norma (portanto, a proteção do próprio direito)

Crime para Jakobs = é a negação de um direito

Pena para Jakobs = é a afirmação de um direito (é a negação da negação de um direito)


CESARE DE BECCARIA – DOS DELITOS E DAS PENAS (1764)

http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8695

Cesare de Beccaria, Dos Delitos e Das Penas (1764)


 Inspirado nos ideais Iluministas defendidos por Montesquieu, Rousseau, Voltaire e Locke.
 Os postulados formulados por Beccaria marcam o início definitivo do Direito Penal moderno, da Escola
Clássica de Criminologia, bem como o da Escola Clássica de Direito Penal.
 Adepto do contratualismo: “Desta forma, os homens se reúnem e livremente criam uma sociedade civil, e
a função das penas impostas pela lei é precisamente assegurar a sobrevivência dessa sociedade.”
 Defendia a proporcionalidade da pena e a sua humanização.
 O objetivo preventivo da pena, segundo Beccaria, não precisava ser obtido através do terror, como
tradicionalmente se fazia, mas com a eficácia e certeza da punição.

Qual é a origem das penas, e qual o fundamento do direito de punir?

Origem das penas e do direito de punir

Adapto ao contratualismo, Beccaria aponta que os indivíduos abrem mão de uma pequena parte da sua liberdade
para viver em sociedade.

Para o autor, é o conjunto de todas essas pequenas porções de liberdade é o fundamento do direito de punir. Todo
exercício do poder que se afastar dessa base é abuso e não justiça; é um poder de fato e não de direito; é uma
usurpação e não mais um poder legítimo.

Consequências deste princípio:


1. Só as leis podem fixar as penas de cada delito e que o direito de fazer leis penais não pode residir senão
na pessoa do legislador, que representa toda a sociedade unida por um contrato social.
2. O soberano, que representa a própria sociedade, só pode fazer leis gerais, às quais todos devem submeter-
se; não lhe compete, porém, julgar se alguém violou essas leis. É o magistrado que deve se pronunciar se
há um delito ou se não há. Separação dos poderes.
3. As penas de cruéis são inúteis para o fim de impedir os crimes e devem ser consideradas contrárias a toda
justiça e à própria natureza do contrato social.

Princípio da legalidade

O sistema penal vigente ao tempo de Beccaria tinha como característica a ausência de uma sistemática e de uma
tipificação dos delitos, posto que vigorava a casuística.

Assim, os juízes dispunham de grande margem de arbítrio na aplicação da lei.

Beccaria condena esse sistema, propondo o princípio da legalidade, ainda que sem intitulá-lo assim.

Como decorrência do contrato social firmado pelos indivíduos para o convívio em sociedade, somente as leis
podem fixar as penas de cada delito e que o direito de fazer leis penais não pode residir senão na pessoa do
legislador, que representa toda a sociedade unida por um contrato social.

Dessa forma, procura limitar o poder arbitrário do magistrado, que jamais poderá extrapolar — “sob qualquer
pretexto de zelo ou de bem público” — os limites legais.

Ademais, preconiza que a lei deve ser abstrata e genérica —portanto, não casuística — e que a um terceiro órgão
(ao magistrado), caberá a análise da subsunção do fato a norma. Nesse tema, é nítida a influência de Montesquieu,
com sua teoria da separação dos poderes.
Beccaria aponta a necessidade de cuidado com a interpretação arbitrária das leis, assim como a sua obscuridade.
Para que se evite a incerteza do direito e o arbítrio, ao juiz caberia apenas um “silogismo perfeito”, de dizer se há
adequação entre a conduta e a lei geral e abstrata.

Pena de morte e proporcionalidade da pena

A pena de morte é combatida, por Beccaria, por três razões: ilegitimidade, inutilidade e desnecessidade.

1. ILEGITIMIDADE
Para sustentar a ilegitimidade da pena de morte, Beccaria baseia-se na teoria do contrato social. Se para
viver em sociedade, o homem cede uma cota de sua liberdade individual, renuncia um direito natural, o
homem não poderia renunciar aquele direito essencial que é a vida. A pena, desse modo, poderia,
unicamente, atingir aqueles direitos renunciáveis, dos quais não faz parte a vida.

2. INUTILIDADE
Não lhe convém dizer que a crueldade dos suplícios e da execução é injusta, mas sim que é inútil,
desnecessária, não cumprindo qualquer função social.

3. DESNECESSIDADE
Ainda estava presente a ideia, oriunda da Idade Média, de que a pena significava a retribuição do mal pelo
mal. A pena confundia-se com a ideia religiosa de expiação, os suplícios tinham a finalidade de expurgar o
pecado do condenado. O autor defende a ideia de que a pena deve ter um caráter preventivo.

Proporcionalidade

A pena de morte era aplicada para uma vastidão de delitos. Por isso, Beccaria ataca a desproporção entre a pena e
o crime. Se houver a previsão de uma mesma pena de morte para delitos de lesividades diversas, não será feita
distinção, pela população, entre a gravidade de tais delitos.

O legislador deve estabelecer divisões principais na distribuição das penas proporcionadas aos delitos e que,
sobretudo, não aplique os menores castigos aos maiores crimes.

Entre as penas, e na maneira de aplicá-las proporcionalmente aos delitos, é mister, pois, escolher os meios que
devem causar no espírito público a impressão mais eficaz e mais durável, e, ao mesmo tempo, menos cruel no
corpo do culpado.

Tortura

O autor insiste que a possibilidade de se atormentar um inocente é frequente e inevitável, tendo em vista que, se
a maior parcela da população é cumpridora da lei, maior é a chance de se atormentar um inocente.

Logo, Beccaria combate a tortura demonstrando, racionalmente, sua inutilidade, sua ineficácia para a obtenção da
verdade
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, 1. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Capítulo II – Princípios Limitadores do Puder Punitivo Estatal (p. 86 – digital)

ESTEFAM, André; GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal esquematizado: parte geral.
São Paulo: Saraiva, 2012.
Capítulo 4.4.2 – Princípios constitucionais em espécie (p. 98 - digital)

1. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A dignidade da pessoa humana é fundamento da RFB, conforme estabelece o art. 1º da CF88.

Trata-se de outorgar ao Estado Democrático de Direito uma dimensão antropocêntrica, considerando o ser humano
como o fim último da atuação estatal

A jurisprudência do STF e do STJ apresenta diversos julgados em que o princípio da dignidade da pessoa humana
foi aplicado:

a) prisão domiciliar concedida a paciente em grave estado de saúde


b) consumo de pequena quantidade de substância entorpecente
c) proibição do recolhimento de preso em contêiner

2. LEGALIDADE

Art. 5º, XXXIX, CF88


Não há crime sem lei anterior que o defina,
nem pena sem prévia cominação legal;

Art. 1º, CP
Não há crime sem lei anterior que o defina.
Não há pena sem prévia cominação legal

Art. 22, CF88


Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito penal...

O princípio da legalidade reside na exigência de perfeita subsunção entre a conduta realizada e o modelo abstrato
contido na lei penal.

Trata-se de princípio indispensável à segurança jurídica e à garantia da liberdade das pessoas

O princípio da legalidade, desse modo, desdobra-se em quatro subprincípios:


1. Anterioridade da lei
2. Reserva legal
3. Proibição de analogia in malam partem
4. Taxatividade da lei

2.1. ANTERIORIDADE DA LEI


A anterioridade da lei penal é corolário da legalidade. É a proibição da retroatividade da lei penal.

A lei penal produz efeitos a partir de sua entrada em vigor.

Não pode retroagir, salvo para beneficiar o réu


Art. 5º, XL, CF88
A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

2.2. RESERVA LEGAL


Somente a lei em sentido formal pode ser a fundamentação do crime ou da pena

O direito consuetudinário não tem força cogente para embasar a existência de infrações penais ou mesmo agravar
o tratamento conferido àquelas previstas em lei anterior.

2.3. PROIBIÇÃO DE ANALOGIA IN MALAM PARTEM


A proibição do emprego da analogia in malam partem: isto é, aquela prejudicial ao agente, por criar ilícitos penais
ou agravar a punição dos já existente

A analogia constitui método de integração do ordenamento jurídico, em que se aplica uma regra existente para
solucionar caso concreto semelhante, para o qual não tenha havido expressa regulamentação legal.

2.4. TAXATIVIDADE DA LEI


É necessário, então, que a lei penal seja taxativa, descrevendo claramente o ato criminoso, de modo claro,
específico e prévio

Legislação penal deve ser: escrita, estrita, prévia.

Conceito formal de crime.

Em função do princípio da taxatividade da lei penal, são inconstitucionais os tipos penais vagos.

3. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE

Não há pena sem culpabilidade. Somente se pode condenar, em sentença penal, quando se reconhecer a
culpabilidade do agente; portanto: não há pena sem culpabilidade

Art. 5º, LVII, CF88


Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória

Pode-se dizer que o princípio da culpabilidade produz as seguintes consequências:


1. Proibição da responsabilidade penal objetiva, ou seja, aquela em que a pena é imposta sem que tenha o
fato sido praticado dolosa ou culposamente (princípio da responsabilidade penal subjetiva);

2. Proibição da imposição da pena sem os elementos da culpabilidade (imputabilidade, potencial consciência


da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa);

A culpabilidade constitui-se de um juízo de reprovação, que recai sobre o autor de um fato típico e
antijurídico, presente sempre que o agente for imputável (arts. 26 a 28 do CP), puder compreender
o caráter ilícito do fato (art. 21 do CP) e dele se puder exigir conduta diversa (art. 22 do CP).

Partindo-se, então, da concepção legal, o princípio da culpabilidade deve ser reconhecido como a
necessidade de aferição, como condição necessária à imposição da pena, dos seguintes elementos:
1. Imputabilidade;
2. Possibilidade de compreender o caráter ilícito do fato (ou potencial consciência da
ilicitude);
3. Exigibilidade de conduta diversa.

3. Graduação da pena segundo o nível de censurabilidade do fato praticado.

Art. 59, CP
O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente,
aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:

DIREITO PENAL DO FATO DIREITO PENAL DO AUTOR


Regime político democrático Regime político totalitário
O indivíduo é processado e condenado O indivíduo é processado e condenado
de acordo com a FATO que praticou de acordo com a PESSOA que ele é
Art. 59, CP, é resquício do direito penal
do auto

4. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (OU DA BAGATELA)

As condutas causadoras de danos ou perigos ínfimos aos bens penalmente protegidos são consideradas
materialmente atípicas. Trata-se, portanto, de causa de exclusão da tipicidade (material) da conduta.

Vetores da insignificância segundo o STF:


1. a mínima ofensividade da conduta;
2. a ausência de periculosidade social da ação;
3. o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
4. a inexpressividade da lesão jurídica provocada.

FURTO x ROUBO

Furto, pode caber aplicação do princípio da insignificância,


Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Roubo, não cabe aplicação do princípio da insignificância. É firme a jurisprudência no sentido da impossibilidade de
se considerar insignificantes condutas que configurem crime de roubo (art. 157 do CP), uma vez que se cuida de
delito complexo, ofensivo não só ao patrimônio, senão também à integridade física ou psíquica da vítima.
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou
depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

5. PRINCÍPIO DA ALTERIDADE

De acordo com o princípio, fatos que não prejudiquem terceiros, apenas o próprio agente, são irrelevantes penais.
O direito penal somente pode incriminar comportamentos que produzem lesões a bens alheios.

Portanto, ninguém pode ser punido por causar mal apenas a si próprio.

6. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE

Para ocorrer a intervenção do Direito Penal a conduta tem que apresentar uma significativa ofensividade, uma
lesividade ao bem jurídico protegido.

Portanto, não há crime sem lesão efetiva ou ameaça concreta ao bem jurídico tutelado

7. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA

O direito penal como ultima ratio


O Direito Penal deve ser a última fronteira no controle social, uma vez que seus métodos são os que atingem de
maneira mais intensa a liberdade individual.

7.1. SUBSIDIARIEDADE
A subsidiariedade é o reflexo imediato da intervenção mínima. O Direito Penal não deve atuar senão quando diante
de um comportamento que produz grave lesão ou perigo a um bem jurídico fundamental para a paz e o convívio
em sociedade.

7.2. FRAGMENTARIEDADE
Significa que cabe ao Direito Penal atribuir relevância somente a pequenos fragmentos de ilicitude. Existem, assim,
inúmeros comportamentos cujo caráter ilícito é conferido pelo ordenamento jurídico, mas somente uma pequena
parcela interessa ao Direito Penal, notadamente a que corresponde aos atos mais graves, atentatórios dos bens
mais relevantes para a vida em comum.

8. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL

O princípio da adequação social possui dupla função:


1. A primeira é a de restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele
excluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas. Portanto, não se pode reputar
criminosa uma conduta tolerada pela sociedade, ainda que se enquadre em uma descrição típica.
Ex: Lesões corporais em lutas esportivas.
Ex: Mãe que autoriza a enfermeira a furar a orelha da filha recém-nascida para colocar um brinco.

2. A segunda função é a de orientar o legislador quando da seleção das condutas que deseja proibir ou impor
pena, com a finalidade de proteger bens jurídicos considerados mais importantes

9. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM

O princípio do ne bis in idem proíbe a dupla condenação por fato único.

10. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

Proporcionalidade entre crime e pena

O princípio da proporcionalidade desdobra-se em:


1. Adequação (idoneidade da medida adotada)
2. Necessidade (exigibilidade do meio adotado)
3. Proporcionalidade em sentido estrito (comparação da restrição imposta com a ofensa praticada)

11. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE DAS PENAS

Princípio da humanidade

As normas penais devem sempre dispensar tratamento humanizado aos sujeitos ativos de infrações penais,
vedando-se a tortura, o tratamento desumano ou degradante (CF, art. 5º, III), penas de morte, de caráter perpétuo,
cruéis, de banimento ou de trabalhos forçados (CF, art. 5º, XLVII).

Art. 5º, III, CF88


III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
Art. 5º, XLVII, CF88
Não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;

e) cruéis;

12. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA (PERSONALIDADE OU INDIVIDUALIDADE)

Art. 5º, XLV, CF88


nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
até o limite do valor do patrimônio transferido

13. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA

Art. 5º, XLVI, CF88


A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

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