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UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DO CENTRO MARANHENSE – UNICENTRO

FACULDADE DO CENTRO MARANHENSE – FCMA


BACHARELADO EM DIREITO
DIREITO PENAL

EVOLUÇÃO EPISTEMOLÓGICA DO DIREITO PENAL


ESCOLA TÉCNICO-JURÍDICA

BARRA DO CORDA – MA
2022
ANTÔNIO MATHEUS DA SILVA MUNIZ
CIRO RICARDO INÁCIO DOS SANTOS VIANA
DEIVID LUCAS OLIVEIRA DE BRITO
GILGLEY SILVA DE SOUSA
MARCOS EDUARDO LIMA DOS SANTOS
RYAN AUGUSTO LIMA NEPOMUCENO
SAULO RODRIGUES FERREIRA

EVOLUÇÃO EPISTEMOLÓGICA DO DIREITO PENAL


ESCOLA TÉCNICO-JURÍDICA

Trabalho apresentado como requisito parcial para


obtenção de nota na disciplina de Direito Penal I do
Curso Bacharel em Direito da UNICENTRO/FCMA.
Professora da Disciplina: Esp. Jessica Caroline Silva de
Almeida

BARRA DO CORDA – MA
2022
1. INTRODUÇÃO
O Direito Penal sempre esteve presente na humanidade, sempre se moldou
conforme a sociedade. Mesmo antes do aparecimento da escrita, ele sempre se fez
presente em meio as sociedades esparsas. Dessa forma, o permanente estado de
agrupamento social que o ser humano viveu desde os primórdios em busca do
atendimento de suas necessidades básicas, anseios, conquistas e satisfação,
caminham lado a lado com a violação das regras de convivência, tornando assim,
necessária a aplicação de uma punição. De acordo com Magalhães Noronha em um
de seus textos:

“[...] o Direito Penal tem evoluído junto com a


humanidade, saindo dos primórdios até penetrar a
sociedade hodierna. Diz-se, inclusive, que "ele surge
como homem e o acompanha através dos tempos, isso
porque o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se
afastou".

Desta maneira, desde a pré-história, existe a ideia de violência, de conflitos em que


as sociedades esparsas, na aplicação de punições ao descumprimento das regras
de convivência, eram guiadas por costumes, pelas suas próprias normas não
normatizadas até que houve a necessidade da criação de sistemas de leis penais
para regular o convívio social.

Mais adiante, passada as fases da vingança penal, conhecida como “Era de


Vinganças”, que teve início nos tempos primitivos, passado o direito romano,
germânico e canônico, surgiu no século XVIII os primeiros estudos, os primeiros
conhecimentos teóricos, as primeiras doutrinas e princípios acerca do direito penal.
Quer dizer, após o iluminismo, pós revolução francesa, se iniciou uma fase de
grande avanço, de constante estudo e desenvolvimento intelectual. Até então, nos
períodos citados acima, não se era possível estudar ou discutir o direito, inclusive
sob pena de morte. Isso porque na época do absolutismo, o soberano era quem
tinha o poder, a caneta na mão, isso quer dizer que quem contrariasse os interesses
destes, poderiam acabar sentenciados à morte. Não mais se tratou desse cenário
quando no iluminismo, pós revolução francesa vários doutrinadores se debruçaram
sobre o direito penal e passam a estudar questões como por exemplo, finalidade da
pena, a intenção da pessoa, o objetivo de punir, etc. É nesse momento que surge as
Escolas Penais – doutrinas baseadas em fundamentos de variadas naturezas que
estudam o fenômeno do crime, bem como o sistema penal e os objetivos do direito
penal. Assim sendo, com advento desses estudos, o objetivo era esclarecer o que
era o direito penal que até então era restrito a poucas pessoas e essas decidiam o
futuro de todos que eram submetidos a um regime jurídico. Nesse sentido, vários
foram os doutrinadores que partem de pontos de vistas morais, éticos, filosóficos,
direitos e se utilizam desses pontos de vista de natureza diversas para fundamentar
um posicionamento em relação a explicação do direito penal. Por fim, a saber,
acerca da divisão das escolas 1, do ponto de vista histórico, temos as escolas
Clássica e a Positiva. Existe algumas outras, como por exemplo, a que intitula e será
daqui para frente objeto de estudo do presente artigo, a Escola Técnico-Jurídica.

2. DESENVOLVIMENTO
Em 1905, na Itália, durante a célebre aula magna, na Universidade de
Sassari, proferida por Arturo Rocco – o principal expoente do pensamento técnico-
jurídico –, abordando o problema do método no estudo do Direito Penal, Rocco, por
sugestão, apresentou as linhas gerais do que passou a se chamar de Escola
Técnico-Jurídica. Ou seja, diante da insatisfação as conclusões a que chegaram os
teóricos da escola clássica e positiva, surge a escola técnico-jurídica. No que diz
respeito à Escola Técnico-Jurídica, temos como alguns dos mais importantes
defensores: Rocco, Manzini, Massari, Delitala, Vannini, Conti e Nelson Hungria,
brasileiro. Além disso, no que tange ao tecnicismo jurídico, ele se inicia na
Alemanha, com os estudos do grande jurista Karl Binding.

A escola técnico-jurídica foi uma reação a essa verdadeira confusão


metodológica criada pela Escola Positiva, ou seja, os positivistas tinham uma
excessiva preocupação com os aspectos antropológicos e sociológicos do crime, em
prejuízo do jurídico. Era considerada inaceitável a intromissão de setores
absolutamente estranhos ao direito no desenvolvimento da ciência jurídico-penal.
Como dispõe BITENCOURT:

“Os positivistas pretendiam utilizar no Direito Penal o


método positivo das ciências naturais, isto é, realizar os
estudos jurídico-penais através da observação e

1
A divisão das Escolas Penais muda conforme à doutrina. Escola Clássica e Positiva são chamadas
de puras, pois apresentam posturas lógica e filosoficamente bem definidas. As demais se apresentam
como uma fusão destas anteriores e são chamadas de intermediárias, mistas ou ecléticas.
verificação da realidade, além de sustentarem que a
pessoa do delinquente deveria ser posta no centro da
ciência penal, pois, segundo Ferri, o juiz julga o réu e
não o crime. Em outros termos, os positivistas, num
primeiro momento, confundiam os campos do Direito
Penal, da Política Criminal e da Criminologia." (p. 264)

Segundo Nelson Hungria, principal expoente do pensamento técnico-jurídico


no brasil, em um dos seus textos:

“A ciência do direito penal não pode ter por objeto a


indagação experimental em torno ao problema da
criminalidade, mas tão somente a exegese do direito
positivo, a pesquisa e formulação dos respectivos
princípios gerais e a dedução lógica das consequências.
Assim sendo, os postulados de outras ciências sobre a
delinquência como fenômeno biopsicossociológico não
se integram na ciência do direito objetivo, cujo único
método possível é o dedutivo, lógico abstrato, o técnico-
jurídico."

Assim sendo, os adeptos do tecnicismo jurídico, especialmente Arturo Rocco,


entendiam que a ciência do Direito Penal deveria ter por objeto, apenas e tão
somente, o estudo sistemático do Direito Penal vigente, ou seja, do direito positivo.
Não existiria, portanto, outro direito que não aquele expresso na legislação do
Estado, assim como seria absolutamente inadmissível um direito penal filosófico,
ideal ou natural, posto que consistiria em meras abstrações.

Adentrando nas características desta escola, sabe-se que por ser uma escola
mista, ela tentou pegar o que tinha de melhor na escola clássica e na escola positiva
e buscou devolver ao direito penal uma ciência técnica porque o direito penal é uma
ciência normativa. Dito isto, Pode-se destacar que, em primeiro lugar, o crime é
puramente uma relação jurídica de conteúdo individual e social; A pena é uma
reação e uma consequência da conduta delituosa (tutela jurídica), com função de
prevenção geral e especial; A medida de segurança preventiva deve ser aplicada
aos inimputáveis; Podemos citar também a responsabilidade moral decorrente da
vontade livre; Utiliza-se o método técnico-jurídico de pesquisa, ou seja, seu método
próprio; Por fim, recusa-se a aplicação da Filosofia no campo do Direito Penal, ou
seja, é tida como uma ciência autônoma e independente das demais ciências.
É de suma importância destacarmos também que o fenômeno jurídico
importante para a Ciência Penal – o crime, era definido por meio do método próprio
chamado lógico-abstrato. Isso significa dizer que são postulados valores fixos sobre
o que é crime, pois para os defensores dessa corrente, não há sociedade sem
dogmas, e essas referências, elaboradas pela sociedade e reguladas pelas normas
instituídas pelos legisladores, são interpretadas e aplicadas pelos juízes. Todavia,
sabe-se que todo texto é lacunoso, é necessário criar regras de interpretação, com a
intenção de reduzir a zero possíveis distorções do que está posto nas leis. Surgindo
assim a Jurisprudência, criando um espectro mínimo e máximo para área de
interpretação, aumentando assim, a segurança jurídica. Dessa forma, o estudo da
ciência penal, por meio do método técnico-jurídico ou lógico-abstrato, dar-se-ia em
três fases: exegese, em que há a interpretação gramatical do texto da lei; dogmática,
em que há uma organização do conteúdo normativo; e, por fim, a crítica, que era o
máximo espaço para discussão da norma, mas recusa o emprego de demais
interpretações penal.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Escola Técnico-jurídica teve por base a ideia de que o Direito deveria ser
vislumbrado meramente sob a perspectiva do próprio Direito positivado, isto é,
sustentava que as concepções externas e as indagações consideradas estranhas e
alheias a ele não deveriam influir em sua interpretação e aplicação. Renunciavam a
utilização de qualquer outra ciência e critério, que não o jurídico, para análise da lei,
o que inclui a filosofia e a sociologia, vez que defendiam que os juristas deveriam
servir-se apenas da letra da lei. Entretanto, o tecnicismo não desprezava
completamente as ciências causal-explicativas. Ao contrário, admitia a importância
das pesquisas dessas ciências sobre o crime. Contudo, entendia que elas não
poderiam ser usadas de modo a afastar os juristas do critério propriamente jurídico
na análise da ciência do Direito Penal. Fato é que, a importância de os olhos do
jurista se voltarem para o que diz a lei, para o que está escrito nos códigos, não é
menor do que a importância de a lei ser lida em consonância com as expectativas
sociais. Por fim, o tecnicismo jurídico teve grande relevância na construção da
dogmática jurídico-penal como é conhecida atualmente influenciando até mesmo a
formulação do nosso código penal brasileiro de 1940, bem como foi de suma
importância por fazer com que o direito penal voltasse a ser uma ciência técnica,
trazendo assim, uma renovação metodológica no direito penal.

REFERÊNCIAS

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral (arts. 1º a


120). 24. ed. rev. ampl. atual. 2. tir. São Paulo, SP: Saraiva, 2018. 1032 p. (v. 1).

PEDRO LENZA. Direito Penal Esquematizado - Parte Geral. 11. ed. São Paulo,
2022. 2548 p.

GOMES, Mariângela Gama de Magalhães. O tecnicismo jurídico e sua


contribuição ao Direito Penal. Instituto Brasileiro de Ciências Criminais –
IBCCRIM. Disponível em:
https://www.ibccrim.org.br/media/posts/arquivos/20/historia.pdf . Acesso em: 21 ago.
2022.

DUARTE, Maércio Falcão. Evolução histórica do Direito Penal. Disponível em:


https://jus.com.br/artigos/932/evolucao-historica-do-direito-penal . Acesso em: 20
ago. 2022.

KULTIVI. Direito Penal – Escolas Penais. YouTube. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=rOKL6Q9U7ek&t=1469s . Acesso em: 21 de
agosto de 2022.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 14. ed. rev. atual. ampl. Rio
de Janeiro, RJ: Forense, 2018. 1257 p.

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