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VOTO
“APELAÇÃO. ART. 121, § 2º, INC. V, C/C ART. 14, INC. II (DUAS
VEZES), N/F ART. 70 (JORGE ELIAS), E ART. 329 (LUIZ
GUSTAVO), TODOS DO CÓDIGO PENAL, E ART. 33, CAPUT, C/C
ART. 40, INCS. IV e VI, E ART. 35, CAPUT, TODOS DA LEI N.º
11.343/2006 (AMBOS OS RÉUS). RECURSO MINISTERIAL
PUGNANDO: 1) SEJA O RÉU LUIZ GUSTAVO SUBMETIDO A
NOVO JULGAMENTO, AO ARGUMENTO DE TER SIDO
MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS A
DESCLASSIFICAÇÃO DAS TENTATIVAS DE HOMICÍDIO
IMPUTADAS PARA O CRIME DE RESISTÊNCIA.
SUBSIDIARIAMENTE, POSTULA: 2) A EXASPERAÇÃO DAS
PENAS-BASES APLICADAS A AMBOS OS RÉUS; 3) A REDUÇÃO
DA FRAÇÃO DE DIMINUIÇÃO UTILIZADA POR FORÇA DA
TENTATIVA, NO CRIME DE HOMICÍDIO (JORGE); 4) O
RECONHECIMENTO DO CONCURSO MATERIAL OU FORMAL
IMPRÓPRIO ENTRE AS DUAS TENTATIVAS DE HOMICÍDIO
(JORGE); 5) A ELEVAÇÃO DA FRAÇÃO DE AUMENTO
ADOTADA PARA AS MAJORANTES DO TRÁFICO DE DROGAS;
6) A INCIDÊNCIA CONCOMITANTE DE TAIS MAJORANTES
IGUALMENTE SOBRE O CRIME DE ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO. RECURSO DEFENSIVO DO RÉU JORGE ELIAS
BUSCANDO: 1) SEJA DESIGNADO NOVO JÚRI, SOB O
ARGUMENTO DE MANIFESTA CONTRARIEDADE DO DECISUM
CONDENATÓRIO EM RELAÇÃO À PROVA DOS AUTOS.
SUBSIDIARIAMENTE, PLEITEIA: 2) A REDUÇÃO DAS PENAS-
BASES DOS CRIMES DE HOMICÍDIO TENTADO; 3) UMA MAIOR
REDUÇÃO DAS PENAS DOS DELITOS DE HOMICÍDIO, EM
RAZÃO DA TENTATIVA; 4) O RECONHECIMENTO DA
CONTINUIDADE DELITIVA ENTRE TAIS CRIMES, UTILIZANDO-
SE A FRAÇÃO MÍNIMA DE AUMENTO; 5) O AFASTAMENTO
DAS MAJORANTES DO ART. 40, INCS. IV E VI, DA LEI N.º
11.343/2006. APELO DEFENSIVO DO RÉU LUIZ GUSTAVO
POSTULANDO: 1) A ABSOLVIÇÃO DO ACUSADO, COM BASE
NO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO. SUBSIDIARIAMENTE,
BUSCA: 2) A EXCLUSÃO DAS CAUSAS DE AUMENTO DO
TRÁFICO DE DROGAS; 3) A APLICAÇÃO DO REDUTOR DO § 4º
DO ART. 33 DA LEI ANTIDROGAS. CONHECIMENTO DE TODOS
OS RECURSOS, COM O DESPROVIMENTO DO APELO
DEFENSIVO DO RÉU LUIZ GUSTAVO, DANDO-SE PROVIMENTO
AOS RECURSOS MINISTERIAL E DEFENSIVO DO ACUSADO
JORGE ELIAS.
Ab initio, é de se registrar que não se desconhece ter a Constituição446da
República consagrado, em seu artigo 5º, inciso XXXVIII, no Título “Dos
Direitos e Garantias Fundamentais”, a instituição do Tribunal do Júri,
atribuindo-lhe a competência para o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida e garantindo-lhe a soberania dos veredictos decorrentes. Por
isso que, em tese, revela-se impossível a identificação de quais provas
foram sopesadas, pelo Conselho de Sentença, com vias a se concluir pela
condenação ou pela absolvição dos acusados e, consequentemente, torna-
se inviável aferir se a decisão dos Jurados se baseou, exclusivamente, em
elementos coletados durante a investigação criminal, ou se foram
aquilatadas, também, as provas produzidas em Juízo.
No entanto, após a acurada análise do conjunto probatório, conclui-se
que assiste razão tanto ao membro do Parquet quanto à Defesa do réu
Jorge Elias, quando sustentam que a decisão proferida pelo Conselho de
Sentença merece ser desconstituída, por se afigurar manifestamente
contrária às provas amealhadas durante a instrução criminal.
No caso, verifica-se que a imputação veiculada na exordial acusatória,
devidamente confirmada e estabilizada em sede de pronúncia, descreve
fatos penais que se amoldam à prática, em tese, de dois crimes de
tentativa de homicídio qualificado, um delito de tráfico de drogas
majorado e uma associação para o tráfico igualmente majorada, sendo
certo que, mesmo se considerarmos que tal adequação típica estaria
sujeita a alteração por parte do Corpo de Jurados, enquanto Juízes
naturais da causa, soberanos para atribuir definição jurídica diversa ao
fatos narrados na denúncia, não se vê, por certo, compreendida na
competência constitucional do Júri o poder de fracionar a homogeneidade
subjetiva das imputações que se lhe apresentam, tendo em vista que todas
as condutas imputadas aos acusados, no caso concreto, assim o foram
segundo a perfeita comunhão e unidade de ações e desígnios,
característica do concurso de agentes retratado na peça inicial.
Com efeito, não se vislumbra nos autos elemento algum de prova que
pudesse amparar a conclusão alcançada pelos Jurados – sendo, inclusive,
difícil de imaginar tal conjuntura, diga-se de passagem –, no sentido de
que, em meio aos disparos de arma de fogo que restaram efetuados por
ambos os acusados (bem como pelo menor infrator, T. S. dos S.) contra
os policiais militares ofendidos, Alex Carneiro da Silva e Alexandre de
Oliveira Moreira, somente o réu Jorge Elias é que estaria imbuído do
animus necandi, elementar ao crime de homicídio, enquanto o corréu,
Luiz Gustavo, encontrar-se-ia movido simplesmente pela intenção de
resistir à sua prisão em flagrante, assim como à de seus comparsas.
Nesse diapasão, é de se mencionar que ambos os brigadianos nominados,
ao prestarem suas declarações em Plenário, na qualidade de vítimas das
tentativas de homicídio, em tese, e testemunhas dos delitos de tráfico e
associação para o tráfico, foram firmes e uníssonos em relatar que,
durante operação policial na Comunidade do Caramujo, foi efetuado um
cerco tático, no qual a viatura blindada adentrou por um lado, enquanto
os ofendidos incursionaram com uma guarnição a pé pelo outro lado,
oportunidade em que se depararam com os acusados, Jorge Elias e Luiz
Gustavo, e o adolescente, T. S. dos S., os quais estavam empreendendo
fuga da viatura e, ao darem de frente com os brigadianos que vinham em
sentido contrário, passaram a efetuar inúmeros disparos de arma de fogo
contra esta guarnição, dando início a uma breve troca de tiros, a qual
cessou tão logo os réus perceberam que estavam cercados e em grande
desvantagem numérica, ocasião em que restaram presos em flagrante, 447
tendo sido apreendido, em poder do réu Jorge Elias, um revólver calibre
.38, com capacidade para oito munições, contendo três cartuchos
deflagrados e cinco íntegros, enquanto, na mão do corréu, Luiz Gustavo,
foi arrecadada uma pistola calibre 9mm, com capacidade para quinze
munições, contendo nove cartuchos intactos, evidenciando, assim, que
Luiz Gustavo teria efetuado, contra os policiais, o dobro de disparos
(seis) que Jorge Elias (três), além de terem sido encontradas com o
menor, T., uma segunda pistola calibre 9mm, com capacidade para trinta
cartuchos, contendo quatorze munições não deflagradas, e uma mochila,
contendo uma balança de precisão, 174 (cento e setenta e quatro) sacolés
de maconha e 227 (duzentos e vinte e sete) unidades de cocaína.
Como dito alhures, os depoimentos dos brigadianos são contundentes e
coesos, inexistindo nos autos dados seguros que autorizem deles descrer-
se, encontrando-se respaldados por outras provas do processo, pelo que
há de se tomá-los como verdadeiros, fazendo por incidir o enunciado 70
da súmula deste Egrégio Tribunal de Justiça. Precedentes do S.T.F., do
S.T.J. e desta Egrégia Câmara.
De outra parte, tendo os acusados, em sede de interrogatório, se
reservado no direito constitucional ao silêncio, conquanto tal estratégia
defensiva não possa ser interpretada em desfavor dos mesmos, não se
pode olvidar que os réus optaram por abrir mão do direito à autodefesa,
enquanto corolário do contraditório e ampla defesa, de tal sorte que não
foram capazes de agregar aos autos elemento algum que fosse apto a
infirmar a versão dos fatos entoada, em uníssono, pelos policiais
militares, no sentido da unicidade do elemento subjetivo do tipo
verificado entre os agentes.
Diante dessa realidade, não obstante a desclassificação operada pelos
Jurados, o que se percebe do quadro fático que exsurge dos autos, e ora
se descortina aos olhos desta Relatoria, é que estamos diante de clássica
modalidade de coautoria, na qual se mostra irrelevante conhecermos o
ânimo daqueles que atiraram contra os policiais, considerando-se que, no
conjunto da obra, ambos os agentes (e o menor) envolvidos nesse fato
específico se prestaram, em verdade, a corporificar os muitos braços da
máquina que se engendrou para a consecução de uma única espécie
delitiva, seja a resistência ou as tentativas de homicídio.
De fato, sob o enfoque da teoria do domínio funcional do fato, revela-se
cristalina a coautoria dos acusados, tanto na prática dos crimes de tráfico
de drogas e associação para o tráfico quanto para aquele consistente nos
disparos realizados contra os brigadianos (só o Júri poderá dizer se foi
um crime de resistência ou dois homicídios tentados, porém jamais os
dois tipos penais juntos), porquanto, além da mera aquiescência ou
previsibilidade de ambos os réus quanto ao risco criado pelo fato sub
examen, vislumbra-se, facilmente, a mais, a efetiva prática da mesma
conduta típica pelos agentes, de forma que suas atuações – consistentes
em efetuar disparos de arma de fogo contra os policiais – mostraram-se
indissociáveis no âmbito da ação criminosa, fazendo transparecer a plena
convergência de vontades, dirigida ao resultado almejado pela decisão
comum, a qual formou o liame subjetivo entre os respectivos sujeitos
ativos.
Nesse contexto, conclui-se que a decisão proferida pelo Conselho de
Sentença mostra-se inteiramente inviável aos olhos da Teoria Monista,
adotada pelo nosso Estatuto Repressivo pátrio, conforme consagrada em
seu artigo 29, segundo a qual o crime, ainda que praticado por várias 448
pessoas, em colaboração, continua sendo uno e indivisível.
Nessa senda, embora não se olvide do princípio constitucional da
soberania dos vereditos, este só deverá prevalecer quando a decisão
prolatada estiver apoiada em uma das versões resultantes da prova
produzida em Juízo, situação esta que não se vislumbra nos autos, uma
vez que não há o mínimo de lastro probatório a amparar a tese
reconhecida pelo Conselho de Sentença, no sentido de que restaria
cindido o liame subjetivo que uniu, a priori, os acusados sob uma mesma
imputação.
(...)
Pelo exposto, é de se determinar a submissão de ambos os acusados,
Jorge Elias Carmo da Silva e Luiz Gustavo Ribeiro, a novo julgamento
pelo Tribunal do Júri, devolvendo-se ao Juiz natural da causa toda a
matéria originalmente tratada na decisão de pronúncia, devendo a
Magistrada de piso atentar para a correta quesitação relativa aos crimes
da Lei Antidrogas, fazendo-se incidir as majorantes do art. 40, incs. IV e
VI, da Lei n.º 11.343/2006 sobre ambos os delitos (tráfico e associação
para o tráfico), restando, assim, prejudicados todos os demais pleitos
recursais, ora veiculados pelas partes.
CONHECIMENTO DE TODOS OS RECURSOS, COM O
DESPROVIMENTO DO APELO DO RÉU LUIZ GUSTAVO, E O
PROVIMENTO DOS RECURSOS MINISTERIAL E DO ACUSADO
JORGE ELIAS.”
Confira-se:
“Habeas corpus. Roubo. Condenação. 2. Pedido de afastamento da
reincidência, ao argumento de inconstitucionalidade. Bis in idem. 3.
Reconhecida a constitucionalidade da reincidência como agravante da
pena (RE 453.000/RS). 4. O aumento pela reincidência está de acordo
com o princípio da individualização da pena. Maior reprovabilidade ao
agente que reitera na prática delitiva. 5. Ordem denegada.”
STF: Tribunal Pleno. HC 93815/RS. Relator Min. Gilmar Mendes. DJe
083, publ.06.05.2013.
(...)
(...)
(...)
“(...) no que tange ao dano moral, seu arbitramento requer análise mais
complexa das consequências do crime para o ofendido e seus familiares,
para tanto se fazendo necessário processo cognitivo, na esfera cível.”
(Apelação criminal nº. 2009.050.03873. Quinta Câmara Criminal. Relatora
Des. Leony Maria Grivet Pinho. Julgamento em 02/08/2010.)
Súmula nº 279
Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.
Súmula nº 280
Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.
Súmula nº 281
É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na justiça
de origem, recurso ordinário da decisão impugnada.
Súmula nº 282
É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na
decisão recorrida, a questão federal suscitada.
Súmula nº 283
461
É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida
assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.
Súmula nº 284
É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia.
Súmula nº 286
Não se conhece do recurso extraordinário fundado em divergência
jurisprudencial, quando a orientação do plenário do Supremo Tribunal Federal já
se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.
Súmula nº 322
Não terá seguimento pedido ou recurso dirigido ao supremo
tribunal federal, quando manifestamente incabível, ou apresentado fora do prazo,
ou quando for evidente a incompetência do tribunal.
Súmula nº 399
Não cabe recurso extraordinário, por violação de lei federal, quando
a ofensa alegada for a regimento de tribunal.
Súmula nº 400
Decisão que deu razoável interpretação à lei, ainda que não seja a
melhor, não autoriza recurso extraordinário pela letra "a" do art. 101, III, da
Constituição Federal.
Súmula nº 735
Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida
liminar.
Súmula nº 7
A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso
especial.
Súmula nº 83 463
Súmula nº 126
É inadmissível recurso especial, quando o acordão recorrido assenta
em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por
si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário.
Súmula nº 187
É deserto o recurso interposto para o superior tribunal de justiça,
quando o recorrente não recolhe, na origem, a importância das despesas de remessa
e retorno dos autos.
Súmula nº 203
Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de
segundo grau dos Juizados Especiais.
Súmula nº 211
Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da
oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.