CONSUMIDOR/FNECDC, entidade que congrega e representa as associações civis de defesa do consumidor filiadas, representado neste ato por seu Presidente signatário, vem por meio da presente Nota Pública expressar a imperiosa necessidade de aprovação do PL 3514/2015, nos seguintes termos.
Desde logo, cabe referir a Ementa do citado Projeto de Lei:
“Altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código
de Defesa do Consumidor), para aperfeiçoar as disposições gerais do Capítulo I do Título I e dispor sobre o comércio eletrônico, e o art. 9º do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), para aperfeiçoar a disciplina dos contratos internacionais comerciais e de consumo e dispor sobre as obrigações extracontratuais”. O Brasil encerrou 2021 como o mercado com a segunda maior taxa de crescimento das vendas no comércio eletrônico (26,8%) no mundo, atrás apenas da Índia (27%), de acordo com os dados da empresa de pesquisa de mercado eMarketer. Sozinho, o Brasil representa quase um terço dos negócios no varejo online na América Latina, com um faturamento estimado em 20,8 bilhões de dólares em 2021. (https://www.insper.edu.br/noticias/brasil-fecha-o-ano-com-o-segundo-maior- crescimento-em-comercio-eletronico/).
Esses dados denotam a relevância do mercado eletrônico
no Brasil, especialmente acentuado em razão da pandemia do covid-19, razão pela qual imperioso tutelar-se adequadamente a parte vulnerável da relação de consumo: o consumidor.
Em apertada análise, o projeto visa inserir no Código de
Defesa do Consumidor a sessão VII relacionada aos contratos de comércio eletrônico e suas disposições, tratando diversos aspectos do tema, precipuamente no que tange ao comércio business-to-consumer. Merece realce inclusão dos incisos XI e XII, ao art. 6 o do CDC, nos seguintes termos:
Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:
XI – a privacidade e a segurança das informações e dados
pessoais prestados ou coletados, por qualquer meio, inclusive o eletrônico, assim como o acesso gratuito do consumidor a estes e a suas fontes;
XII – a liberdade de escolha, em especial frente a novas
tecnologias e redes de dados, vedada qualquer forma de discriminação e assédio de consumo; [...]
O PL 3514/2015 estabelece que as normas e os negócios
jurídicos devem ser observados e integrados da maneira mais favorável ao consumidor; dispor sobre normas gerais de proteção do consumidor no comércio eletrônico, visando preservar a segurança nas transações, a proteção da autodeterminação e da privacidade dos dados pessoais; normatizar as atividades desenvolvidas pelos fornecedores de produtos ou serviços por meio eletrônico ou similar; estabelecer critérios para contratação a distância e o direito de arrependimento e desistência. Com relação ao direito de arrependimento, assim manifestou Antônia Klee (https://www.conjur.com.br/2021-ago-25/garantias-consumo- necessaria-atualizacao-cdc-comercio-eletronico): “Sustenta-se que o direito de arrependimento não pode ser exercido, desde que previamente informado pelo fornecedor ao consumidor, em determinados casos: a) contrato de prestação de serviço, depois de o serviço ter sido integralmente prestado, caso a execução tenha iniciado com o consentimento expresso do consumidor; b) fornecimento de produto fabricado segundo a especificação do consumidor ou claramente personalizado, desde que a restrição ao direito de arrependimento esteja destacada no momento da contratação; c) fornecimento de disco, gravações de áudio ou de vídeo seladas, ou de programa informático selado de que tenha sido retirado o selo após a entrega ou que possam ser baixados (download) por meio eletrônico de acesso à internet; d) fornecimento de conteúdo digital, tais como arquivo de computador, gravações de áudio e vídeo, programa informático, que não sejam fornecidos em um suporte material e, sim, eletronicamente (streaming), se a execução tiver início com o consentimento expresso do consumidor, já que o conteúdo pode ser baixado (download) e/ou reproduzido imediatamente para uso permanente. O legislador brasileiro precisa incluir alguns dispositivos sobre os contratos de fornecimento de conteúdos digitais ou à prestação de serviços digitais no PL 3.514/2015, com o objetivo de reforçar a proteção do consumidor no meio eletrônico e estabelecer o equilíbrio entre o elevado nível de proteção do consumidor e a promoção da competitividade entre fornecedores”. Os artigos 45-B e 45-C, do projeto pretendem acrescentar ao CDC, compõem o conjunto de informações sobre o fornecedor que deverão ser disponibilizadas ao consumidor no meio virtual, inclusive os sítes e demais meios eletrônicos utilizados para ofertas de compras coletivas ou modalidades análogas de contratação, mediante a aplicação do princípio da boa-fé, de modo que o fornecedor deverá disponibilizar informações como seu endereço real e nome da empresa, o preço total do produto, as condições e especificações de possíveis ofertas e promoções, ou seja, os dados mínimos, para que o consumidor tenha acesso pleno ao fornecedor e aos produtos ou serviços que está contratando. Com relação aos artigos 45-D e 45-E, é possível asseverar que as exigências informacionais, que traz, traduzem o princípio da confiança, preservando os interesses do consumidor ao obrigar, dentre outros, à manutenção de serviço adequado de atendimento ao consumidor, à confirmação da comunicação do direito de arrependimento e ao acesso do consumidor a ferramentas que lhe permita identificar e corrigir erros na contratação. De outra banda, o art. 45-G, no sentido de tutelar a privacidade do consumidor, determina que somente será exigida, nas compras on-line, a prestação de informações indispensáveis para conclusão da contratação. Com relação aos direitos básicos previstos no CDC, aprofundados pelo PL 3514/2015, assim manifestaram-se Cláudia Lima Marques e Fernando Martins: (https://www.conjur.com.br/2022-fev-23/garantias-consumo- sociedade-digital-credito-responsabilidade-civil) “Na atualização do CDC futura, o PL 3514,2015 ainda aprofunda esses direitos básicos do artigo 6º do CDC e inclui na lista: "XI - a privacidade e a segurança das informações e dados pessoais prestados ou coletados, por qualquer meio, inclusive o eletrônico, assim como o acesso gratuito do consumidor a estes e a suas fontes; XII - a liberdade de escolha, em especial frente a novas tecnologias e redes de dados, vedada qualquer forma de discriminação e assédio de consumo" [14]. Mister reintroduzir, como está na LGPD, o direito de autodeterminação (que constava do PL 281/12 oriundo da comissão de juristas) e um direito especial frente aos serviços financeiros digitais: "XI- a proteção contra erros e fraudes na contratação à distância, contra atuação desleal dos intermediários e contra as instruções dadas pelo consumidor, em especial nos serviços à distância e digitais de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária". Os direitos básicos também se aplicados como "direitos objetivos", modal "dever-ser", importam em "deveres". São deveres que repercutem a todos no respeito à dignidade alheia [15]. Por isso, o fornecedor de crédito no exercício da atividade, independentemente da faculdade do consumidor, quando não observa os novos direitos básicos acima declinados pela recente legislação em vigor, imediatamente, já comete ilícito. E, nesse ponto, a despeito do ilícito já guardar ampla possibilidade de cessação ou remoção pelo sistema jurídico (CPC, artigo 497, parágrafo único), a simples repercussão da conduta sobre o interesse jurídico do consumidor (dano) guardará a necessária responsabilização nos termos do artigo 14 do CDC. Ante todo o exposto, o FÓRUM NACIONAL DAS ENTIDADES CIVIS DE DEFESA DO CONSUMIDOR/FNECDC, considerando a pertinência e relevância da matéria, vem manifestar-se pela APROVAÇÃO do PL 3514/2015. Porto Alegre, 29 de Agosto de 2022.
Dr. Cláudio Pires Ferreira
Presidente Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor